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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA
CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

GABRIEL DE SOUZA GOMES

ARQUITETURA SOCIAL PARA VALORIZAÇÃO DO


PATRIMÔNIO CULTURAL DE MOITA VERDE
Projeto de um Centro Comunitário para comunidade quilombola em
Parnamirim/RN

NATAL, RN
2022
GABRIEL DE SOUZA GOMES

ARQUITETURA SOCIAL PARA VALORIZAÇÃO DO


PATRIMÔNIO CULTURAL DE MOITA VERDE
Projeto de um Centro Comunitário para comunidade quilombola em
Parnamirim/RN

Trabalho Final de Graduação apresentado ao


Curso de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
como requisito para obtenção do grau de
Arquiteto e Urbanista.

Orientadora: Profª.Drª Eunádia Silva


Cavalcante

Co-Orientador: Prof°. Dr.José Clewton do


Nascimento

NATAL, RN
2022
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Prof. Dr. Marcelo Bezerra de Melo Tinôco - DARQ - -CT

Gomes, Gabriel de Souza.


Arquitetura social para valorização do patrimônio cultural de
Moita Verde: projeto de um centro comunitário para comunidade
quilombola em Parnamirim/RN / Gabriel de Souza Gomes. - 2022.
143f.: il.

Monografia (Graduação) - Universidade Federal do Rio Grande do


Norte, Centro de Tecnologia, Departamento de Arquitetura. Natal,
RN, 2022.
Orientadora: Eunádia Silva Cavalcante.
Coorientador: José Clewton do Nascimento.

1. Comunidades quilombolas - Monografia. 2. Arquitetura


social - Monografia. 3. Moita Verde - Monografia. 4. Centro
comunitário - Monografia. 5. Racionalização construtiva -
Monografia. I. Cavalcante, Eunádia Silva. II. Nascimento, José
Clewton do. III. Título.

RN/UF/BSE15 CDU 72:39(=414)

Elaborado por Ericka Luana Gomes da Costa Cortez - CRB-15/344


GABRIEL DE SOUZA GOMES

ARQUITETURA SOCIAL PARA VALORIZAÇÃO DO


PATRIMÔNIO CULTURAL DE MOITA VERDE
Projeto de um Centro Comunitário para comunidade quilombola em
Parnamirim/RN

Trabalho Final de Graduação apresentado ao


Curso de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
como requisito para obtenção do grau de
Arquiteto e Urbanista.

Orientadora: Profª.Drª Eunádia Silva


Cavalcante

Co-Orientador: Prof°. Dr.José Clewton do


Nascimento

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________________
Eunádia Silva Cavalcante – Professora Orientadora

_______________________________________________
George Alexandre Ferreira Dantas – Examinador Interno

_______________________________________________
Andréa Virgínia Freire Costa – Examinadora Externa

Aprovação em 15 de julho de 2022.


AGRADECIMENTOS

Ao encerrar essa longa jornada através desse trabalho, se faz necessário


ressaltar a importância das pessoas que fizeram parte dessa caminhada. De
modo mais forte ou mais superficial, cada um de vocês teve um impacto nessa
conquista tão almejada que é a graduação no curso de Arquitetura e Urbanismo.

Agradeço primeiramente à Deus, por ter me dado as forças, condições e


a capacidade de realizar toda essa árdua trajetória até aqui. Me mostrando como
o esforço, aliado à fé e à dedicação, podem fazer a diferença na realidade.

Sou eternamente grato aos meus pais, Ângela e Diniz, por sempre
colocarem a nossa educação em primeiro plano, fazendo o possível e o
impossível para que sempre pudéssemos ter o melhor acesso ao conhecimento,
amo vocês, obrigado por serem os apoios de qualquer escalada que pude fazer
na vida. Aos meus irmãos Nathália e Lucas, pelo companheirismo, pelas
alegrias e resenhas vivenciadas diariamente que só vocês proporcionam.

Agradeço à toda minha família de modo geral, aos avós, numerosos tios
e tias e aos primos e primas mais numerosos ainda, que sempre me acolheram
e participaram de forma tão marcante da minha criação.

Agradeço em especial à minha falecida avó materna, Vovó Basta, que


partiu inclusive na metade dessa graduação. Nunca esqueceremos da senhora.

Aos meus amigos, agradeço primeiramente ao colega de turma, dupla dos


vários trabalhos, Kelvin. Ao longo dessa graduação vivenciamos muita coisa
juntos, sem você não tenho dúvidas de que ela teria sido muito menos
proveitosa. Você é um verdadeiro irmão que ganhei e vou levar para a vida.

Agradeço demais aos meus amigos do IFRN, 9 anos de amizade que


diariamente trazem as mais diversas alegrias, conhecimentos e histórias
vivenciadas: Luiz, Lucas, Luighi, Júlia e Leo. Vocês são pessoas incríveis,
saibam o quanto eu os admiro e considero muito mais que simples amigos.

À toda minha turma 2017.2 da UFRN, vocês sem dúvida proporcionaram


a melhor graduação possível e algumas das melhores experiências da minha
vida. Aprendi muito com cada um de vocês e suas características tão únicas.
Agradeço em especial aos amigos Enderson, Thales, Leo Sindeaux e Yago
pelas incontáveis resenhas e conhecimentos compartilhados.

Agradeço muito à Beatriz Azevedo pela disponibilidade, esclarecimentos


e contribuições no trabalho, principalmente na busca por informações sobre a
comunidade de Moita Verde.

Agradeço ainda à coordenação do curso de Arquitetura e Urbanismo da


UFRN, sempre muito atenta e disposta a nos ajudar. Sou muito grato também
aos professores do curso, em especial à Amíria, Renato, Marizo, Eugênio e
Aldomar pelo que cada um de vocês agregou na minha formação desde os
períodos mais iniciais.

Por fim, agradecimentos especiais à minha orientadora Eunádia


Cavalcante, por ter topado essa jornada junto comigo, pela paciência, pelas
considerações sempre precisas e assertivas, bem como pela gentileza e
compreensão. Não menos importante, agradeço ainda ao meu co-orientador,
José Clewton, sempre com uma ideia, um croqui e uma piada à mão. Vocês
são incríveis juntos e sem dúvidas me inspiraram muito a desenvolver um
trabalho muito melhor do que eu esperava.
RESUMO:

A questão sobre os diversos grupos étnicos e culturais existentes é uma temática que
ainda necessita de visibilidade, principalmente no Brasil como país notavelmente
miscigenado, com origem colonizada na qual se utilizaram sistemas escravocratas cujas
consequências são notáveis até os dias atuais. As comunidades de remanescentes
quilombolas aparecem como exemplos desses grupos que ainda seguem batalhando
nos dias atuais na defesa de seus territórios, modos de vida, costumes e cultura. A
comunidade quilombola de Moita Verde, sobre a qual se debruça este estudo,
apresenta-se como uma dentre as várias existentes no estado e no país, que ainda
enfrentam problemas que se estendem desde as atividades econômicas, infraestrutura
e reconhecimento das terras. O presente trabalho trata do desenvolvimento de um
projeto arquitetônico de um Centro Comunitário focado em convívio, educação e cultura,
bem como na eficiência do processo construtivo. Para tal, através de pesquisas
documentais e entendimento da comunidade, tem-se por objetivos mostrar como a
arquitetura possui potencial de promover transformações socioespaciais, principalmente
em locais de vulnerabilidade social. Somado a isso, também visa entender as principais
necessidades da comunidade e demandas que podem ser auxiliadas por um
equipamento do tipo. Busca-se ainda aplicar as principais vantagens oferecidas por
diretrizes projetuais ligadas ao conceito da racionalização construtiva, com intenção de
se obter um projeto mais eficiente, durável, com baixa necessidade de manutenção e
consumo reduzido de recursos materiais, energéticos e temporais. Nesse sentido, a
principal motivação surge enquanto morador da cidade, de poder desenvolver uma
proposta de qualidade e eficiência que possa contribuir nas diversas necessidades
existentes da comunidade. Como resultado tem-se o projeto de uma edificação com
espaços dispostos de modo a respeitar as condicionantes do terreno, funcionalidade e
materialidade, permitindo a realização de diversas atividades culturais e educacionais,
além de proporcionar ambientes de qualidade para o convívio da comunidade, visando
a valorização de suas culturas e trazendo luz para mais oportunidades de
desenvolvimento.

Palavras-Chave: Arquitetura Social; Comunidades Quilombolas; Moita Verde; Centro


Comunitário; Racionalização Construtiva.
ABSTRACT:

The issue of the various existing ethnic and cultural groups is a theme that still needs
visibility, especially in Brazil as a notably miscegenated country, with a colonized origin
in which slavery systems were used, the consequences of which are still evident today.
The communities of remaining quilombolas appear as examples of these groups that are
still fighting today in defense of their territories, ways of life, customs, and culture. The
quilombola community of Moita Verde, which is the focus of this study, is one of many in
the state and in the country that still face problems ranging from economic activities,
infrastructure, and land recognition. The present work deals with the development of an
architectural project for a Community Center focused on conviviality, education and
culture, as well as on the efficiency of the construction process. To this end, through
documentary research and community understanding, it aims to show how architecture
has the potential to promote socio-spatial transformations, especially in places of social
vulnerability. Added to this, it also aims to understand the main needs of the community
and demands that can be helped by an equipment of this type. It also seeks to apply the
main advantages offered by design guidelines linked to the concept of constructive
rationalization, with the intention of obtaining a more efficient and durable project, with
low maintenance needs and reduced consumption of material, energy and time
resources. In this way, the main motivation arises as a city dweller, to be able to develop
a proposal of quality and efficiency that can contribute to the diverse needs of the
community. As a result, we have the project of a building with spaces arranged in a way
that respects the conditions of the terrain, functionality and materiality, allowing for
several cultural and educational activities, as well as providing quality environments for
the community to live in, aiming to value their cultures and bringing light to more
development opportunities.

Key words: Social Architecture; Quilombola Communities; Moita Verde; Community


Center; Constructive Rationalization.
LISTA DE FIGURAS

Figura 01 – Número de comunidades quilombolas reconhecidas por região no Brasil............ 27


Figura 02 – Processos de titulação em aberto no Nordeste e em andamento no Rio Grande do
Norte...........................................................................................................................................28
Figura 03 – Habitantes de uma comunidade quilombola em atividade cultural.........................30
Figura 04 – Exemplo de oficina de artesanato realizada em comunidade quilombola..............31
Figura 05 – Vista da cidade colombiana de Medellín................................................................35
Figura 06 – Sistema de teleféricos utilizado em Medellín..........................................................36
Figura 07 – Vista das escadas rolantes da cidade colombiana de Medellín.............................36
Figura 08 – Bibliotecas em Medellín..........................................................................................37
Figura 09 – Localização do Arena do Morro e espacialização das intervenções propostas pelo
plano urbano...............................................................................................................................39
Figura 10 – Espaço interno do Arena do Morro..........................................................................40
Figura 11 – Arena do Morro inserido na comunidade.................................................................41
Figura 12 – Fórmula para cálculo do índice de compacidade....................................................46
Figura 13 – Aumento dos custos das fachadas com base no formato da edificação................47
Figura 14 – Gráficos de comparação de variação de custos em função do aumento do isolamento
(a) e consumo de energia em função do isolamento (b) ...........................................................50
Figura 15 – Principais causas das patologias nas edificações..................................................51
Figura 16 – Localização do Arena do Morro e demais intervenções propostas........................57
Figura 17 – Vista aérea do Arena do Morro..............................................................................58
Figura 18 – Plantas baixas do Arena do Morro e zoneamento dos ambientes do programa...59
Figura 19 – Vista inferior do formato da cobertura do Arena do Morro.....................................60
Figura 20 – Cobogós em concreto e as diferentes permeabilidades........................................61
Figura 21 – Espaços internos do Arena do morro em utilização..............................................63
Figura 22 – Localização do projeto da Escola no terreno do campus......................................64
Figura 23 – Vista frontal/aérea da escola.................................................................................65
Figura 24 – Planta baixa, cortes e zoneamento do projeto......................................................66
Figura 25 – Sistema construtivo utilizado em perspectivas explodidas....................................67
Figura 26 – Perspectivas do pátio central e das salas de aula.................................................68
Figura 27 – Segunda pele da edificação em varetas de madeira de eucalipto........................69
Figura 28 – Esquadrias e estratégias de conforto utilizadas na escola....................................70
Figura 29 – Vista aérea e entrada principal do Museu..............................................................71
Figura 30 – Plantas baixas dos pavimentos térreo e superior do Museu..................................72
Figura 31 – Vistas dos ambientes internos da edificação.........................................................73
Figura 32 – Painel artístico localizado em trecho da fachada frontal........................................73
Figura 33 – Quadro Síntese dos Estudos de Referência..........................................................74
Figura 34 – Localização de Parnamirim no Rio Grande do Norte.............................................76
Figura 35 – Bairros e distritos do município de Parnamirim......................................................78
Figura 36 – Localização do recorte de estudo no bairro de Vida Nova.....................................78
Figura 37 – Dona Nazaré em sua casa, ao completar 100 anos de idade................................79
Figura 38 – Mapa das Legislações incidentes sobre o território de Moita Verde.......................81
Figura 39 – Mapa de uso do solo dentro dos sítios quilombolas...............................................83
Figura 40 – Fotografias de 2019 dos sítios quilombolas de Moita Verde..................................84
Figura 41 – Sequência de etapas previstas para o Programa de Urbanização Integrada de Moita
Verde..........................................................................................................................................86
Figura 42 – Localização do terreno selecionado na época e imagem dos estudos projetuais
desenvolvidos pela equipe.........................................................................................................87
Figura 43 – Quadro geral com linha do tempo dos ocorridos desde o início do Programa de
Urbanização Integrada de Moita Verde.....................................................................................88
Figura 44 – Mapa Geral do entorno da região de estudo em 2022.........................................90
Figura 45 – Mapa de uso do solo do entorno...........................................................................91
Figura 46 – Mapa de gabarito do entorno.................................................................................92
Figura 47 – Mapas de hierarquia viária e pavimentação do entorno........................................92
Figura 48 – Localização do terreno na área de estudo............................................................95
Figura 49 – Áreas com legislações incidentes sobre o terreno................................................96
Figura 50 – Quadro de prescrições urbanísticas para AEIA II.................................................97
Figura 51 – Gráfico de temperaturas e precipitações médias de Parnamirim (2022) .............99
Figura 52 – Rosa dos ventos e Carta Solar para Parnamirim sob o terreno............................99
Figura 53 – Brainstorming de palavras feito para elaboração do conceito..............................103
Figura 54 – Painel Conceito.....................................................................................................104
Figura 55 – Significados da palavra costura............................................................................104
Figura 56 – Zoneamento inicial 01, croqui feito à mão............................................................105
Figura 57 – Zoneamento inicial 02, croqui feito à mão............................................................107
Figura 58 – Zoneamento inicial 03, croqui feito à mão............................................................108
Figura 59 – Partido Arquitetônico adotado..............................................................................109
Figura 60 – Zoneamento volumétrico final do projeto com setores e condicionantes.............110
Figura 61 – Planta de Locação e Cobertura............................................................................111
Figura 62 – Planta Baixa do Pavimento Térreo.......................................................................113
Figura 63 – Recorte da Planta Baixa do Pavimento Térreo....................................................114
Figura 64 – Planta Baixa do Pavimento Superior....................................................................116
Figura 65 – Recorte da Planta Baixa do Pavimento Superior.................................................117
Figura 66 – Trechos dos Cortes BB e Corte CC do projeto....................................................118
Figura 67 – Fachada Frontal do Centro Comunitário..............................................................119
Figura 68 – Trechos das Fachadas Lateral direita e Posterior do Centro Comunitário...........120
Figura 69 – Corte esquemático volumétrico mostrando a ventilação sobre as esquadrias …122
Figura 70 – Modelos base das janelas e portas venezianas utilizadas no projeto..................123
Figura 71 – Exemplo de modelo de porta camarão a ser utilizada..........................................124
Figura 72 – Simulações de insolação para as fachadas Frontal e Lateral Direita...................124
Figura 73 – Simulações de insolação para as fachadas Posterior e Lateral Esquerda...........125
Figura 74 – Perspectiva do sistema estrutural do Centro Comunitário....................................127
Figura 75 – Pintura sugerida para paginação do piso do Pátio Central...................................129
Figura 76 – Moodboard com especificações gerais dos materiais utilizados no projeto..........130
Figura 77 – Perspectiva Realista 01 do Centro Comunitário de Moita Verde...........................131
Figura 78 – Perspectiva Realista 02 do Centro Comunitário de Moita Verde...........................131
Figura 79 – Perspectiva Realista 03 do Centro Comunitário de Moita Verde...........................132
Figura 80 – Perspectiva Realista 04 do Centro Comunitário de Moita Verde...........................132
Figura 81 – Perspectiva Realista 05 do Centro Comunitário de Moita Verde...........................132
Figura 82 – Perspectiva Realista 06 do Centro Comunitário de Moita Verde...........................133
Figura 83 – Perspectiva Realista 07 do Centro Comunitário de Moita Verde...........................133
Figura 84 – Perspectiva Realista 08 do Centro Comunitário de Moita Verde...........................133
Figura 85 – Perspectiva Realista 09 do Centro Comunitário de Moita Verde...........................134
Figura 86 – Perspectiva Realista 10 do Centro Comunitário de Moita Verde...........................134
LISTA DE TABELAS

Tabela 01 – Programa e Pré-dimensionamento Setor Serviço..................................................101

Tabela 02 – Programa e Pré-dimensionamento Setor Cultura e Educação...............................102

Tabela 03 – Programa e Pré-dimensionamento Setor Convivência...........................................102

Tabela 04 – Programa e Pré-dimensionamento Setor Alojamentos..........................................102

Tabela 05 – Resumo total das áreas previstas para o projeto no pré-dimensionamento..........103

Tabela 06 – Quadro de áreas finais e prescrições urbanísticas...............................................126


LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas


ACQMV – Associação Comunitária Quilombola de Moita Verde
AEIA II – Área Especial de Interesse Ambiental II
AEIS – Área Especial de Interesse Social
BRT – Bus Rapid Transit (tradução: sistema de ônibus de trânsito rápido)
CEU – Centro de Artes e dos Esportes Unificados
CONTRAN – Conselho Nacional de Trânsito
CRAS – Centro de Referência da Assistência Social
DARQ – Departamento de Arquitetura da UFRN
EDU – Empresa Municipal de Desenvolvimento Urbano
FCP – Fundação Cultural Palmares
GEHAU – Grupo de estudos sobre Habitação, Arquitetura e Urbanismo
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IDH – Índice de Desenvolvimento Humano
INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Regularização Fundiária
NBR – Norma Brasileira Técnica
OMS – Organização Mundial da Saúde
PIB – Produto Interno Bruto
PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
PUI – Projeto Urbano Integrado
RMN – Região Metropolitana de Natal
SEHAB – Secretaria Municipal de Habitação e Regularização Fundiária
SEMOP – Secretaria Municipal de Obras Públicas e Saneamento
SEPPIR – Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial
UBS – Unidade Básica de Saúde
UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte
ZPA I – Zona de Proteção Ambiental I
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 17
2. A ARQUITETURA E SUA FUNÇÃO SOCIAL ............................................................ 21
2.1. COMUNIDADES QUILOMBOLAS: AS BATALHAS NA HISTÓRIA E NA
ATUALIDADE ......................................................................................................... 25
2.1.1 O potencial existente: culturas, práticas e saberes ..................................... 29
2.2. TRANSFORMAÇÕES SOCIAIS EM COMUNIDADES ATRAVÉS DA
ARQUITETURA: ..................................................................................................... 33
2.2.1 O exemplo da cidade de Medellín - Colômbia ............................................. 33
2.2.2 O caso do Arena do Morro .......................................................................... 39
2.3. A RACIONALIZAÇÃO CONSTRUTIVA NA ARQUITETURA .......................... 42
2.3.1. Contextualização e Conceitos .................................................................... 42
2.3.2. Decisões de projeto e estratégias que influenciam uma edificação a tornar-
se mais econômica/racional ................................................................................. 47
3. EQUIPAMENTOS COMUNITÁRIOS ................................................................................ 54
3.1. ESTUDOS DE REFERÊNCIAS ........................................................................ 57
3.1.1. Arena do Morro .......................................................................................... 57
3.1.2. Escola Secundária Lycee Schorge............................................................. 63
3.1.3. Museu Violeta Parra .................................................................................. 71
4. MOITA VERDE: UM DIAGNÓSTICO ............................................................................... 76
4.1. A Comunidade Quilombola de Moita Verde ...................................................... 79
5. A PROPOSTA ...................................................................................................................... 95
5.1. O Terreno: Localização e Condicionantes Externos ......................................... 95
5.2. Programa de Necessidades e Pré-dimensionamento ..................................... 100
5.3. O Conceito ..................................................................................................... 103
5.4. Evolução Formal e Partido arquitetônico ........................................................ 105
5.5. Implantação e Planta de Cobertura ................................................................ 109
5.6. Plantas baixas ................................................................................................ 113
5.7. Cortes e Fachadas ......................................................................................... 117
5.8. Soluções de Conforto e Esquadrias ............................................................... 122
5.9. Quadro de Áreas ............................................................................................ 126
5.10. Sistema construtivo e Especificações gerais ................................................ 126
5.11. Volumetria final............................................................................................. 131
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................. 136
REFERÊNCIAS ...................................................................................................................... 138
APÊNDICES ........................................................................................................................... 143
17

1. INTRODUÇÃO

No Brasil como país notavelmente miscigenado, as questões que


envolvem os diversos grupos étnicos e culturalmente diferenciados existentes no
território se estendem desde séculos atrás. Por possuir origens associadas ao
sistema de colonização e forte adesão da prática escravista que perdurou até
pouco mais de um século atrás, nosso país possui consequências dessa história
que se estendem até os dias atuais e se rebatem sobre diversos grupos da
sociedade, principalmente sobre aqueles que mais sofreram com esse passado
sombrio.
As comunidades de remanescentes quilombolas são exemplos de
importantes grupos étnicos que possuem origens tão antigas quanto a desses
sistemas mencionados. Essas populações diretamente descendentes dos
negros escravizados, indígenas e demais minorias possuem características
culturais específicas que se estendem desde seus modos de vida, relações com
as terras, costumes e cultura própria.
No entanto, a existência desses grupos nos dias atuais se configura
como verdadeiro símbolo de resistência, uma vez que sobrevivem aos diversos
fatores que desestimulam qualquer crescimento social, havendo uma falta de
conscientização mútua entre o Estado, a sociedade e as próprias comunidades
acerca da existência dos seus direitos. As consequências dessa situação se
rebatem no grau de vulnerabilidade apresentado por essas populações; que, de
acordo com Azevedo (2019), apresentam mais de 70% dos indivíduos na classe
de extrema pobreza.
Essa situação se alarma ainda mais quando destacamos um tópico que
perdura até os dias atuais: o reconhecimento dos territórios desses povos. Dos
quais apesar de serem certificadas pela Fundação Cultural Palmares (FCP),
quase metade das comunidades quilombolas reconhecidas oficialmente ainda
aguardam até hoje pela titulação de suas terras. Atribuindo um sério risco a estas
que seriam um dos mais importantes instrumentos para a manutenção da
existência desses grupos. Os quais diariamente já convivem com problemas que
se estendem desde o nível de infraestrutura física presente nas suas moradias
e territórios, às atividades econômicas desempenhadas e ao acesso a serviços
essenciais como saúde, lazer e segurança.
18

Para este produto, teremos como universo de estudo a comunidade de


Moita Verde, localizada no bairro de Vida Nova em Parnamirim/RN. Que se
apresenta como apenas mais uma dentre as várias existentes no estado, assim
como em todo o país que lidam com a manutenção informal desse estado
precário de vida de uma parcela da população tão rica culturalmente, mas que
não encontra oportunidades de crescimento socioeconômico em meio a tantas
dificuldades impostas pela realidade e consequentemente pela história.
Nesse raciocínio, se faz importante o seguinte questionamento: Quais
atributos um equipamento público destinado a convivência, educação e cultura
deve possuir para contribuir na reversão da situação de vulnerabilidade dos
moradores da comunidade quilombola de Moita Verde?
Desse modo, este trabalho possui como objeto de estudo os
equipamentos públicos comunitários e a importância da racionalização
construtiva para a otimização de recursos. Tendo como objetivo geral o
desenvolvimento do projeto de um centro comunitário de educação, cultura e
convívio, focado na eficiência do processo construtivo. Este objetivo se
destrincha em outros três de forma mais específica, sendo eles:
(I) Apresentar formas de utilização da arquitetura como elemento indutor
de transformações socioespaciais, especialmente em localidades de
interesse social.
(II) Identificar os pontos essenciais que necessitam ser englobados na
elaboração de um projeto de um equipamento comunitário, visando
auxiliar nas principais demandas da comunidade.
(III) Aplicar diretrizes projetuais focadas nos princípios e vantagens
oferecidas pela racionalidade construtiva, levando em consideração as
características do público destinado e da região onde o projeto será
inserido.
A motivação principal para investigar a referida temática parte da
aspiração pessoal do autor, como morador da cidade ao identificar uma
comunidade ainda em situação de abandono diante do poder público. Nesse
sentido, a intenção seria trazer maior visibilidade para a situação sócio-política
vivenciada por essas comunidades nos dias atuais, em busca de conseguir
contribuir de alguma forma para a reversão desse cenário precário, onde as
19

carências abrangem até mesmo a inexistência de um simples espaço adequado


para o convívio da população.
Outro importante ponto se refere à demanda da região por ambientes que
possibilitem atividades que promovam algum desenvolvimento socioeconômico,
cultural e educacional para a região, de modo a utilizar das diversas riquezas
culturais existentes como combustível para a mudança. Nesse sentido, a
proposta de um centro comunitário visa responder à boa parte dessas
necessidades da comunidade, por meio de uma ideia que faz uso dos princípios
da racionalização construtiva para desenvolver uma edificação eficiente, com
menor utilização de recursos, facilidade de execução e menor necessidade de
manutenção.
Além disso, há o desejo pessoal de poder utilizar dos conhecimentos
adquiridos ao longo da graduação para desenvolver uma proposta que poderia
mostrar como a arquitetura possui papel essencial para transformações sociais,
podendo auxiliar de modo notável na vida desses grupos historicamente
fragilizados na nossa sociedade.
Em vista do exposto, este trabalho se estrutura em três eixos principais,
sendo o primeiro deles composto pelo capítulo 2 e seus subitens, neste primeiro
momento será abordado sobre a arquitetura social e sua importância, seguido
por um panorama sobre as comunidades quilombolas, exemplos de
transformações sociais em comunidades e por fim as estratégias oferecidas pela
racionalização construtiva. No segundo eixo, composto pelos capítulos 3 e 4,
teremos uma breve introdução sobre os equipamentos comunitários e sua
relevância para a sociedade, seguido pelos estudos de referências projetuais
realizados. Em seguida será apresentado o universo de estudo, saindo do macro
ao micro e contextualizando o leitor sobre a comunidade em estudo. Por fim, no
terceiro eixo constituído pelos capítulos 5 e 6, serão apresentadas primeiramente
a proposta projetual do centro comunitário desenvolvido, justificando através dos
produtos gráficos e estudos realizados, as decisões projetuais e soluções
adotadas para o projeto em função das diversas condicionantes. O último
capítulo destina-se às conclusões resultantes com a realização do estudo, além
de sugestões adicionais que podem contribuir para a referida problemática.
20
21

2. A ARQUITETURA E SUA FUNÇÃO SOCIAL

Ao pensar sobre arquitetura, é natural que as primeiras imagens que


venham à mente das pessoas sejam de edifícios, casas modernas e luxuosas,
lojas e centros comerciais com suas fachadas mirabolantes, dentre outros.
Todos esses itens aqui mencionados envolvem sim arquitetura e necessitam
dela tanto para seu desenvolvimento, como para garantia do pleno
funcionamento. Entretanto, acaba ficando esquecido (ou pelo menos
subentendido) algo que todos estes possuem em comum, que é a ideia de
pertencerem a uma cidade.
Acontece, portanto, um clássico equívoco ao dissociar uma edificação de
todo o contexto e entorno em que essa se encontra inserida. Seria interessante
por parte do usuário ao pensar sobre as várias arquiteturas que observa se
questionar: Por que a cidade é dessa forma? Por que eu moro onde eu moro?
Por qual motivo meu trabalho está localizado em uma região tão diferente da que
eu moro? Por que algumas regiões parecem ser tão difíceis de se chegar?
De acordo com Moraes et. al (2008), o crescimento populacional
apresentado nas últimas décadas ocasionou um verdadeiro acúmulo de
problemas nas cidades, que não estavam preparadas para receber tal expansão
demográfica. A acelerada ampliação do perímetro urbano destas, associada à
ausência de planejamento adequado tende a resultar em diversas modificações
sociais no espaço urbano.
As respostas para as diversas perguntas e problemas mencionados estão
diretamente atreladas ao planejamento urbano que é feito para as nossas
cidades. Nesse aspecto, o arquiteto aparece como figura com papel decisivo na
busca por igualdade, democracia e justiça social em cidades que sejam
pensadas por todos e para todos.

Se existe uma função social do arquiteto no nosso país, ela sem dúvida
está na cidade. Isso implica que a arquitetura tem que ter um
compromisso com o espaço urbano e coletivo [...] (MARICATO, 2019).1

1
MARICATO, Ermínia. O papel social da arquitetura. [Entrevista concedida a] Alessandra
Soares, Arthur Maia e Pedro Rossi. Vitruvius, São Paulo, n. 078.01, p. 1-5, mai. 2019.
22

Ainda segundo a autora, é necessário também que estejamos atentos ao


espaço que vivemos, observando a importância de itens como o uso e ocupação
do solo e como tudo que está ou não construído possui um impacto fundamental
para a cidade. Pois, a garantia do funcionamento ideal desta se estende inclusive
para além da ideia do edificado, englobando itens que vão desde a preocupação
com as questões ambientais, como o saneamento básico e até a democratização
dos acessos aos espaços, através da mobilidade urbana.

Dados apresentados por Moraes et. al (2008) mostram que em menos de


40 anos (1960 a 2000) 80% da população brasileira passa a se concentrar nas
regiões urbanas. Resultando em diversos problemas relacionados com tópicos
como trânsito e transporte; precarização das moradias e oferecimento adequado
de serviços como educação e saúde.

Com isso, é possível refletir sobre a complexidade que envolve as


cidades, onde cada um dos itens mencionados possuem influência direta sobre
a qualidade de vida dos seus habitantes. De modo que alguns problemas, como
a ausência de determinados equipamentos nas proximidades de suas moradias,
se interligam com outros, como a dificuldade que um usuário possui para se
deslocar de uma região para outra no meio urbano.

Nesse raciocínio, Moraes et. al (2008) destaca o papel dos gestores nessa
situação, uma vez que estes possuem a missão de trazer melhorias e assegurar
o desenvolvimento das cidades. Aplicando corretamente os recursos públicos
com objetivo de auxiliar nas necessidades da população.

No entanto, tomando por exemplo o que aconteceu com o processo de


revisão do Plano Diretor da capital do Rio Grande do Norte, percebe-se uma
sequência de fatos que vão no sentido contrário aos que almejam testemunhar
uma cidade mais justa; preocupada com as causas sociais; com o que é
construído e com o papel que a terra possui sobre essas questões. Onde os
interesses dos gestores sobrepõem o planejamento e ignoram os cenários
alarmantes vivenciados pelos grupos mais carentes.

Como afirma Ataíde et. al (2021), o texto da minuta final do Plano Diretor
de Natal se apresenta como de difícil compreensão, contendo problemas de
coerência graves, contradições nos artigos, ineficácias, retrocessos no plano
23

social e riscos ao meio ambiente. Alertando ao Poder Público municipal e aos


diversos setores técnicos, sociedade civil e dos movimentos sociais, que a
proposta representa um grave risco para a manutenção da sustentabilidade
urbanística, ambiental e social da cidade.

Ressalte-se que grande parte das contestações foram relacionadas


aos equívocos do processo participativo, cuja forma impositiva não
observou os fundamentos básicos da gestão democrática da cidade.
Verificou-se pouca ou quase nenhuma transparência, além de
estratégias de comunicação e divulgação débeis, com cronograma
inadequado à disponibilidade de tempo dos interessados,
particularmente dos representantes dos segmentos populares.
(ATAÍDE et. al, 2021).

Nesse sentido, é possível perceber como a ocorrência de problemas


relacionados ao debate, transparência e a participação justa da sociedade nesse
processo, tendem a acarretar na supressão das opiniões da população e
consequentemente no favorecimento indevido dos interesses de determinados
grupos sociais, como ressalta a autora, tendendo a beneficiar “notadamente os
interesses do mercado imobiliário, do comércio e do turismo” (ATAÍDE et. al,
2021).

Desse modo, se faz importante destacar a opinião da população menos


favorecida através de documentos como: A Carta de Natal2, que foi resultado de
um seminário popular realizado em 2015 e que trazia como temática
“Desenvolvimento Local e Direito à Cidade”. Esse texto divulgado pelo
Observatório das Metrópoles, visava conceder visibilidade às pautas defendidas
pelas organizações comunitárias e dos diversos movimentos sociais dos bairros
de Natal. Clamando por ações por parte das autoridades de todas as esferas
governamentais que auxiliassem no desenvolvimento, qualidade de vida e
autonomia para os moradores dessas comunidades, que possuem baixa renda
e vivem em situações precárias.

Um dos pontos principais destacados pelo texto são os eixos necessários


para esse desenvolvimento, sendo eles: o planejamento local, a oferta de
equipamentos sociais estratégicos (destacando infraestrutura para atividades

2
DESENVOLVIMENTO Local e Direito à Cidade: A Carta de Natal. In: Observatório das Metrópoles.
Natal, 21 mar. 2015. Disponível em: https://www.observatoriodasmetropoles.net.br/desenvolvimento-local-
e-direito-cidade-carta-de-natal/. Acesso em: 13 mar. 2022.
24

culturais, desportivas e de lazer) somada a uma gestão participativa com controle


social desses equipamentos sugeridos.

De acordo com o documento, apesar de nos anos recentes deste século


terem ocorrido avanços em questões importantes para a inclusão social como
planos de distribuição de renda e equidade, a presença do poder público nessas
comunidades periféricas ainda se mostra ausente. Informando que as estruturas
existentes nessas regiões se apresentam na maioria das vezes como precária,
inadequada e que não estão de fato a serviço da comunidade, contribuindo para
a manutenção do processo de exclusão social.

É possível, portanto, perceber a partir de exemplos da nossa cidade


vizinha, que as diferentes formas de pensar a cidade impactam diretamente no
modo de vida da população e em como estes conseguem se desenvolver. Sendo
essencial a busca por um equilíbrio que leve em consideração todos os
participantes do meio urbano.

Segundo Maricato (2019), a maior parte da nossa população ainda não


possui acesso a uma moradia projetada por arquitetos, isso se reflete
diretamente nas políticas habitacionais que tendem a segregar e isolar cada vez
mais determinados grupos de pessoas para as regiões periféricas da cidade.
Simplesmente por não possuírem condições de fazer parte do jogo do mercado
imobiliário.

A arquitetura é muito importante para a sustentabilidade ambiental,


para a saúde das pessoas, para a racionalidade urbana, para a
economia de custos urbanos, para a melhoria das cidades e para as
vidas das pessoas. Há muito trabalho a ser feito, mas é maravilhoso e
prazeroso para quem acredita que a arquitetura é necessária.
(MARICATO, 2019).

A partir do apontamento da autora, se faz notório como a arquitetura


possui um papel decisivo em diversos itens. Conseguindo impactar diretamente
em tópicos do aspecto social, influenciando nas condições de saúde e qualidade
de vida dos habitantes, mas também especialmente no objetivo de tornar uma
cidade mais racional e econômica.

Nessa perspectiva, toda e qualquer forma de desperdício deve ser


combatido na construção, assim como, a utilização de recursos
empregados além do necessário à produção (MELO NETO 2019, apud
PINHO; LORDSLEEM JR, 2009)
25

Afinal, como visto nos dados apresentados, o aumento populacional e a


expansão dessas massas populacionais para as extremidades das cidades são
aspectos que demandam custos, tanto para o setor da construção civil, mas
principalmente para o meio ambiente.

2.1. COMUNIDADES QUILOMBOLAS: AS BATALHAS NA HISTÓRIA E NA


ATUALIDADE

Os quilombos ou comunidades quilombolas são importantes grupos


étnicos presentes na nossa sociedade há bastante tempo. Sua origem possui
relação direta com o processo escravagista que fez parte da história do nosso
país e que impacta na nossa cultura e modo de vida até os dias atuais.
De acordo com Giselma Maria Sacramento da Rocha (2014), desde o
século XVII existia um conceito predominante na historiografia sobre o que
seriam os chamados quilombos. Sendo estes definidos basicamente como
agrupamentos de negros escravos fugidos, indígenas e demais minorias,
constituindo grupos sociais localizados em regiões distantes e com acesso difícil.
É citado como exemplo o famoso quilombo dos Palmares, no estado de Alagoas.

Ainda de acordo com a autora, é necessário a libertação dessas


definições consideradas ultrapassadas, uma vez que mais de um século depois
da abolição da escravidão, a partir da nova Constituição em 1988, esses grupos
passam a adquirir reconhecimento enfatizando seu caráter étnico. O termo
quilombo passa então por um processo de ressignificação, recebendo agora a
devida conotação política e as devidas garantias de direitos por parte do Estado.

Com a ressemantização, entende-se por quilombo ou comunidade


quilombola, locais que foram ocupados, terras que foram compradas,
doadas ou herdadas, por grupos que apresentam características
culturais específicas, sejam no modo de se relacionar, de viver de
forma coletiva, de criar regras internas. (ROCHA, 2014, p.08).

Este é um passo considerado importante, pois ainda existem diversos


reflexos da escravidão, não apenas no nosso país como no mundo inteiro. Como
afirma Mariana Madureira (2018), o racismo estrutural se apresenta como
apenas um dentre os vários problemas deixados por esse sistema, que dentre
os cerca de 130 anos de “liberdade” após a promulgação da Constituição, ainda
26

não foram suficientes para promover uma vida de igualdade aos descendentes
dos 3,5 milhões de homens e mulheres prisioneiros que vieram do continente
africano.

Nesse sentido, esse novo significado estabelecido possui papel que se


estende não apenas no âmbito de melhor definição do que seriam esses grupos
como também na própria autoestima dos mesmos. “Ser negro ou índio passa a
ser motivo de orgulho” (ROCHA, 2014, p.08).

No entanto, a autora Beatriz Simões Brito de Azevedo (2019), enfatiza


sobre como mesmo após essas mudanças ao longo do tempo, ainda é notável
a perpetuação das condições de vulnerabilidade dos remanescentes
quilombolas no Brasil. Destacando dados como índices que ilustram as
condições de vida precárias dessas comunidades pelo país, onde das mais de
214 mil famílias (quase 1,2 milhões de pessoas) estimadas em 2013 pela extinta
Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR), cerca de
74,73% destes viviam em situação considerada como extrema pobreza.

Ainda de acordo com esses dados, apesar de 82% dos moradores


realizarem atividades econômicas como pesca artesanal, extrativismo ou
atividades relacionadas com agricultura, quase 80% destes ainda eram
dependentes do Programa Bolsa Família. Além disso, os problemas com
ausência de infraestrutura adequada se estendem a diversos aspectos, que vão
desde o abastecimento de água das moradias (44,79% com acesso), à ausência
de banheiros e/ou sanitários em casa (33,06% ainda não possuíam),
saneamento básico e até mesmo fornecimento de energia elétrica (79,29% das
moradias contempladas).

Os números apresentados refletem o cenário em que boa parte dos


quilombolas se deparam todos os dias – já que a maioria dos aspectos
vistos correspondem a cerca da metade dessa população – e, por
assim dizer, nos indica o grau de vulnerabilidade a que estão sujeitos.
As carências são encontradas em todos os âmbitos, seja na habitação
ou infraestrutura urbana escassa, como também no acesso a direitos
básicos como saúde, lazer, segurança e educação. (AZEVEDO, 2019,
p.08).

A autora faz ainda uma analogia bastante relevante ao comparar a


situação atual dessas comunidades com a realidade de séculos atrás vivida
pelos negros escravos recém libertos após a Lei Áurea (1888) os quais apesar
27

de livres não encontravam oportunidades para seu crescimento socioeconômico.


De modo que essas negligências e desrespeito mencionados, aliados à falta de
conscientização tanto da população de modo geral, como das próprias
comunidades em si resultam na perpetuação dessa situação de exclusão social
que se estende por gerações.

Por meio de dados de 2022 (Figura 01), obtidos através da Fundação


Cultural dos Palmares (FCP), conseguimos saber que atualmente existem ao
todo 3.495 comunidades quilombolas que possuem certificação no país,
espalhadas por quase 90% dos estados brasileiros. Concentrando-se
principalmente na região Nordeste que detém mais de 63,11% dos grupos, com
destaque para os estados da Bahia e do Maranhão com mais de 800 unidades
cada.

Figura 01 – Número de comunidades quilombolas reconhecidas por região no Brasil.

Fonte: Fundação Cultural dos Palmares (2022).

Outro âmbito de vulnerabilidade mencionado por Azevedo (2019), refere-


se à titulação dos territórios desses povos. Onde boa parte ainda passa por
longos processos de tramitação em busca do devido reconhecimento. Todo esse
conjunto forma uma realidade alarmante que ameaça uma das principais bases
para a garantia da existência dessa população, a manutenção de suas
características, costumes e modos de vida.

A partir desse contingente, faz-se necessário destacar ainda a burocracia


e lentidão no andamento dos processos de titulação das terras pertencentes a
28

estes grupos. Segundo dados disponibilizados pelo órgão que seria responsável
por esses processos de reconhecimento, o Instituto Nacional de Colonização e
Regularização Fundiária (INCRA), apontam em março de 2022 a existência de
1802 processos de titulação em aberto (Figura 02). Seguindo lógica proporcional
ao número de comunidades por região, o Nordeste aparece como a região com
maior número de processos aguardando andamento totalizando 1028
comunidades em espera e, portanto, em situação de instabilidade jurídica.

Como afirma Azevedo (2019), esse número elevado de quilombos


localizados nas áreas mais litorâneas do país possui relação direta com o destino
das atividades desenvolvidas pelos escravos nos grandes engenhos de cana-
de-açúcar, sendo sugerida a necessidade de políticas públicas e medidas de
desenvolvimento social concentradas especificamente nessas regiões com
número mais expressivo.

Figura 02 – Processos de titulação em aberto no Nordeste e em andamento no Rio Grande do


Norte.

Fonte: INCRA (2022); INCRA (2021); modificado pelo autor (2022).

Ao nos determos no estado do Rio Grande do Norte, de acordo com o


INCRA (2022), nos deparamos com um total de 23 processos de titulação das
terras em estado de pendência, dos quais até o ano de 2021 apenas 8 destes
estavam em andamento. Os demais grupos, incluindo a comunidade quilombola
de Moita Verde, a qual se debruça este trabalho, aguardam ainda até os dias
atuais o início da tramitação do processo de reconhecimento.

Assim, tornam-se bem-vindas alternativas e medidas que auxiliem esses


grupos a se manterem e evoluírem nos âmbitos sociais e econômicos, enquanto
aguardam sem previsão certa por maior estabilidade jurídica e apoio do Estado.
29

2.1.1 O potencial existente: culturas, práticas e saberes

De acordo com o Decreto N° 4887/2003, ficam definidos como


Comunidades quilombolas os grupos étnicos-raciais que segundo critérios de
auto-atribuição, detentores de trajetória histórica própria, possuidores de
relações territoriais específicas, com presunção de ancestralidade negra e
diretamente associados com a resistência à opressão sofrida ao longo da
história.
Ainda segundo essa legislação, são consideradas como terras ocupadas
por remanescentes quilombolas, aquelas que são utilizadas para a garantia da
reprodução física, social, econômica e cultural desses grupos.

De um modo geral, os territórios de comunidades remanescentes de


quilombos originaram-se em diferentes situações, tais como doações
de terras realizadas a partir da desagregação da lavoura de
monoculturas, como a cana-de-açúcar e o algodão, compra de terras,
terras que foram conquistadas por meio da prestação de serviços,
inclusive de guerra, bem como áreas ocupadas por negros que fugiam
da escravidão. (SEPPIR, 2013, p.13).

Nesse sentido, é notório o valor, o significado e a importância que as


terras possuem para esses grupos. Uma vez que estão diretamente atreladas à
sua história e existência, esses podem ser considerados como ambientes com
uma elevada carga cultural, que ligados aos saberes e conhecimentos desses
povos resultam em um verdadeiro patrimônio nacional que merece a devida
atenção e auxílio das diversas áreas da sociedade.

As relações que as comunidades quilombolas mantêm também estão


interligadas diretamente com o conhecimento tradicional, as vivências
e valores compartilhados coletivamente. Nas terras quilombolas é
possível verificar a difusão dos conhecimentos através do plantio e
colheita dos alimentos, nas práticas da cura por meio das plantas
medicinais que envolvem reza e benzimentos, nas festas religiosas e
nas organizações comunitárias, sociais e jurídicas para a manutenção
da vida. (CORREIA 2019; VIEIRA et. al, 2021, p.19).

Portanto, todos esses itens associados à riqueza cultural dessas


comunidades, são elementos que podem ser utilizados a favor do
desenvolvimento dessas regiões. Como afirma Vieira (2021), estes podem
incorporar seus conhecimentos e práticas através de atrativos culturais e roteiros
que podem atender à algumas demandas como o lazer e o turismo.

Nesse raciocínio, o chamado turismo comunitário pode aparecer


justamente como uma solução positiva que segundo Madureira (2018), além de
30

servir de incentivo à manutenção e valorização da existência dessas


comunidades, pode se tornar uma atividade que gera renda, movimentando a
economia local de maneira sustentável e atrativa para turistas nacionais e
estrangeiros.

Como colocam Vieira et. al (2021) e Brasil (2006), o turismo em áreas


quilombolas engloba atividades que envolvem os bens culturais, as memórias e
identidade de seus povos, bem como manifestações populares como
gastronomia, artes visuais, músicas e danças, artesanato local, dentre várias
outras. Desse modo, essa atividade aparece com o objetivo não de se aproveitar
ou capitalizar recursos em cima disso, mas sim de essencialmente preservar os
legados étnicos, saberes e fazeres desses grupos.

Figura 03 – Habitantes de uma comunidade quilombola em atividade cultural.

Fonte: Rota da Liberdade-Bahia /Divulgação.

É apontado ainda que o turismo pode, portanto, funcionar como elemento


de restauração de alguns costumes e práticas que se perderam com o passar
do tempo (AGUIAR, 2017; VIEIRA et. al, 2021).

Um dos estados brasileiros que pode ser citado como verdadeiro exemplo
da utilização desse potencial existente é a Bahia, que como mencionado
anteriormente, possui um dos números mais elevados de comunidades
quilombolas reconhecidas do país. Esses grupos se utilizam do turismo como
meio de valorização e reconhecimento das culturas e costumes, bem como uma
estratégia para produção de renda extra.

De acordo com a pesquisa realizada por Vieira et. al (2021), observa-se


no estado 12 iniciativas organizadas focadas no turismo nessas comunidades, a
31

maior parte localizadas na região do Recôncavo Baiano. Os turistas podem


interagir com as comunidades, participar de seu cotidiano e ter contato com
múltiplos conhecimentos tradicionais e ancestrais. Por meio de diversos tipos de
atividades e práticas que estão diretamente associadas com vivências e
produções, permitindo aos visitantes terem experiências únicas e ricas através
das tradições desses povos.

Figura 04 – Exemplo de oficina de artesanato realizada em comunidade quilombola.

Fonte: Quilombo do Campinho da Independência.

Ainda segundo os autores, dentre as principais práticas e conhecimentos


apresentados nesses roteiros, alguns foram identificados entre quase todas as
comunidades, dentre eles destacam-se a culinária local, terapias de cura e saúde
e o samba de roda. Sendo apresentado na pesquisa ainda oficinas que envolvem
atividades como produção de artesanato, modos de produção agrícola, aulas de
capoeira e maculelê, dentre vários outros exemplos.

No entanto, a realização de tais experiências necessita de uma


infraestrutura adequada que forneça o devido suporte às atividades e aos
visitantes. Este é um ponto necessário a ser destacado; uma vez que, como
mencionado no item anterior, essas comunidades ainda sofrem com a
precariedade em diversos aspectos. O turismo aparece então como mais um
elemento que evidencia o potencial dessas comunidades e que pode expor ainda
mais a situação em que se encontram, frisando suas claras demandas por itens
como educação, saneamento básico, saúde, e essencialmente o direito às suas
terras.
32

A situação de abandono por parte do Estado, aliada a burocracia e


lentidão do andamento de ações que favoreçam as comunidades quilombolas,
são fatores que quando associados à ausência de oportunidades implicam
diretamente nas atividades que essas populações realizarão para conseguir
sobreviver. Como afirmam Oliveira e Müller (2016, p.322):

[...] os quilombolas desempenham as atividades mais desgastantes e


sem a garantia de direitos trabalhistas; em alguns casos, a
dependência de pessoas não quilombolas para sobreviver os coloca
em uma relação de dominação que beira uma espécie de escravidão
moderna. Seus recursos naturais, principalmente a água, são
disputados e poluídos por pessoas do entorno de seus territórios, em
total desrespeito ao uso, prático e simbólico, que a coletividade faz
deles (apud AZEVEDO, 2019, p. 41).

Nesse sentido, a arquitetura também pode aparecer como elemento de


suporte ao desenvolvimento socioeconômico desses grupos étnicos. A presença
de equipamentos públicos que oferecem espaços adequados para a realização
de suas práticas comunitárias e suas atividades econômicas, pode ser um fator
decisivo para contribuir na manutenção da existência dessas comunidades. Esse
raciocínio dialoga com as ideias defendidas por Moraes et. al (2008), que afirma
que a presença de tais equipamentos associados aos demais usos da cidade
refletem diretamente não apenas na ordenação do território, como também no
bem-estar social e desenvolvimento econômico da região.

Com isso, é possível estabelecer uma reflexão sobre as diversas


alternativas existentes que podem ser incorporadas para auxiliar na mudança de
vida e resgate dessas populações quilombolas. O turismo cultural aparece como
apenas uma dentre estas, portanto, não pode ser visto como a única solução e
deve ser pensado com o cuidado de buscar levar em consideração esses povos
e suas realidades, atentando sempre para que esse tipo de atividade deve
responder primordialmente à demanda das comunidades e não de setores da
economia. Além disso, ações desse tipo devem ser encaradas principalmente
pelo poder público, não apenas como de caráter urgente e necessário, mas
também como de dívida histórica e social, em busca do equilíbrio, da igualdade
em uma sociedade com mais oportunidades para todos.
33

2.2. TRANSFORMAÇÕES SOCIAIS EM COMUNIDADES ATRAVÉS DA


ARQUITETURA:

Tendo em vista as várias dificuldades enfrentadas por essas


comunidades, somadas à um cenário carente de oportunidades, vimos que a
arquitetura pode aparecer como elemento chave que faltava para estimular a
mudança dessas duras realidades.

Desse modo, esse item visa apresentar exemplos de transformações


sociais ocorridas em comunidades que passaram por um conjunto de
intervenções urbanas e especialmente arquitetônicas que desempenharam
papel essencial para a mudar a história desses locais, que antes (assim como a
comunidade quilombola estudada) se encontravam em grave situação de
vulnerabilidade social.

2.2.1 O exemplo da cidade de Medellín - Colômbia

A cidade colombiana de Medellín ficou famosa mundialmente ao longo da


história devido sua relação com o tráfico de drogas e a violência. De acordo com
Angiollilo (2019), por volta dos anos de 1980 e 1990 a cidade atinge seu ápice
no índice de violência, contando com 381 casos de homicídio para cada 100 mil
habitantes. Para se ter uma dimensão do problema, a OMS (Organização
Mundial da Saúde) considera como “violência epidêmica” índices acima de 10
homicídios para 100 mil habitantes.

Esses números altamente elevados estão diretamente relacionados com


os conflitos armados entre as facções criminosas ligadas ao tráfico de drogas.
Contribuindo para desenvolver um cenário de terror vivenciado pela cidade, onde
os moradores que não se adequavam à situação estavam sujeitos a sequestros,
homicídios encomendados e estupros.

Ainda segundo Angiollilo (2019), recentemente em 2017, esses índices de


homicídios caíram para 22 a cada 100 mil habitantes. Ao questionar o arquiteto
e urbanista Carlos Mario Rodríguez, que atuou como gerente de desenho
urbanístico da Empresa Municipal de Desenvolvimento Urbano (EDU), a autora
34

obteve o relato de que logo no início dos anos 2000 ficou diagnosticado
claramente que faltavam serviços institucionais básicos como educação, saúde
e cultura para a região.

Dessa forma, ao longo de 2004 a 2011, Medellín passa por uma


transformação social e espacial que se utiliza bastante da arquitetura e
urbanismo; e como sugere a autora, mostrou ao mundo como ações que
melhoram a qualidade de vida dos habitantes dessas regiões periféricas podem
fornecer influência direta sobre os níveis de violência.

Ao longo desses anos foram pensadas para a cidade políticas públicas


focadas em reduzir as desigualdades sociais intraurbanas e democratizar o
acesso da população a essa gama de serviços públicos que eram oferecidos
apenas nos bairros de classe média. O ex-prefeito da cidade, Sergio Fajardo,
explicou durante uma entrevista sobre os elementos que nortearam as ideias
aplicadas em Medellín:

A estratégia da transformação esteve baseada em três questões:


implementação de um sistema de transporte público e de
acessibilidade eficiente e qualificado, provisão de serviços públicos de
qualidade para toda a população e planejamento urbano e territorial de
longo prazo. (GHIONE, 2014).

Nesse sentido, Medellín apresentava mais um desafio, devido a sua


localização geográfica. A cidade que se iniciou primeiro ao longo do vale do rio
homônimo, passa a partir da década de 1950 a sofrer um aumento populacional
que resulta na expansão desta para as áreas de encostas das montanhas
(Figura 05) que a cercam (ANGIOLLILO, 2019).
35

Figura 05 – Vista da cidade colombiana de Medellín.

Fonte: Archdaily.

Assim como acontece no Brasil e em outras cidades sul-americanas, o


território é formado por uma região central mais rica e plana, cercada pelos
bairros mais periféricos onde estão os indivíduos de menor renda, construindo
de modo irregular nas regiões montanhosas. Desse modo, essa ocupação que
ocorre sem planejamento urbano algum está sujeita a diversos problemas como
a falta de espaços públicos, vias de circulação adequadas e até infraestruturas
básicas como fornecimento de água, energia elétrica e rede de esgoto.

Portanto, para resolver essas questões foram exigidas soluções que


promovessem a integração entre esses bairros. Para isso, Medellín contou com
investimentos em sistemas de transporte com soluções adequadas à topografia
local como os famosos “Metrocables”, que como afirma Angiolillo (2019), foram
“a espinha dorsal do processo”, por se constituírem de um sistema de teleféricos
que agora fazem a conexão entre estações de metrô e diversas áreas antes
segregadas.
36

Figura 06 – Sistema de teleféricos utilizado em Medellín.

Fonte: Archdaily.

Somado a isso, de acordo com Ghione (2014), a cidade conta ainda com
outras estratégias inovadoras como as escadas rolantes que se mostraram como
solução bastante original para o acesso às favelas (Figura 07). Além de outros
modais como o sistema de trens elevados, ônibus BRT e micro-ônibus que
acessam as regiões mais distantes dos bairros.

Figura 07 – Vista das escadas rolantes da cidade colombiana de Medellín.

Fonte: Archdaily.

Paralelamente às intervenções mais focadas em mobilidade como a


própria qualificação do sistema viário existente, também foram implantados
diversos equipamentos públicos focados em auxiliar as necessidades da
população local, como escolas e postos de saúde.

A base da estratégia em Medellín foi “colocar todas as ferramentas de


desenvolvimento de maneira simultânea no território; não fazer uma
escola aqui e um ginásio acolá, mas escolher um determinado local
37

para começar e, nele fazer tudo o que fosse possível, dentro do que se
chamou PUI, Projeto Urbano Integrado. (ANGIOLILLO, 2019).

Dentre essas obras em diferentes escalas, o destaque em questão vai


para as intervenções arquitetônicas chamadas de “Parques Bibliotecas”. Estes
edifícios são constituídos por três blocos com estética e materialidade
chamativa, interligados por um espaço público aberto (Figura 08). Localizados
em áreas específicas pelo histórico notável de violência, abrigam atividades e
serviços diversos, voltadas para educação, convivência e cultura. Possuem
qualidade arquitetônica notável, uma vez que foram frutos de concursos públicos
de projetos, objetivando assegurar com que as experiências obtidas pelos
moradores fossem as melhores possíveis.

Figura 08 – Parques Bibliotecas em Medellín.

Fonte: Archdaily.

Esses Parques Biblioteca contam com vários recursos além dos livros em
meio físico, com materiais em formato digital como vídeos e outras formas de
conteúdo. Somado a isso, os edifícios contam ainda com diversos programas
que disponibilizam à população cursos de artes, informática, idiomas e até
administração de pequenos negócios. Ficando assim expressa a importância
destes para a inclusão dessas comunidades em práticas que podem auxiliar sua
inserção no cenário econômico, bem como possuem efeito notável até na
educação da população desses bairros, devido a ampla gama de programas
culturais e a facilidade de acesso à computadores e internet (CAPILLÉ, 2017).
38

Dessa forma, fica clara a intenção destes projetos arquitetônicos que


visaram minimizar as desigualdades sociais existentes na região. Essas
edificações passam a assumir portanto um papel de marco referencial, ao
possuírem valor simbólico no renascimento dessas áreas antes fragilizadas e
abandonadas.

A população local que antes padecia perante à situação da violência,


passa então a fazer parte do processo de transformação do espaço urbano em
que vive. A arquitetura possui papel fundamental nesse aspecto, uma vez que
esta influencia não apenas na disponibilidade de serviços antes ausentes, como
também na própria sensação de pertencimento desses moradores. Afetando
inclusive a autoestima desses indivíduos, por morarem em bairros que não mais
são conhecidos pelos cenários de decadência vivenciados.

A segunda estratégia utilizada pelo Projeto de


Parques Biblioteca refere-se à ideia de que os edifícios devem não só
representar mudança urbana através de suas monumentalidades
midiáticas, porém o mais importante é que devem produzi-la através
do arranjo de espaços que podem gerar um novo senso de
comunidade e cidadania por meio de coabitação e interação
informal. Como foi mencionado acima, o termo “Parque” no título do
projeto “vem em primeiro lugar precisamente devido ao fato de que
essas instalações são espaços públicos, em primeiro lugar” (CAPILLÉ,
2017).

Nesse sentido, é válido ressaltar novamente a importância do papel social


que a arquitetura assume nesses ambientes de maior vulnerabilidade social.
Fornecendo não só uma transformação dos espaços e suas características
estéticas, mas também uma mudança notável na forma como os indivíduos
interagem com estes locais.
39

2.2.2 O caso do Arena do Morro

O ginásio Arena do Morro é um projeto marcante desenvolvido pelo


renomado escritório suíço Herzog & de Meuron para o bairro de Mãe Luiza na
cidade de Natal, capital do Rio Grande do Norte. Sendo o primeiro de um
conjunto de intervenções elaboradas para uma proposta de plano urbano
denominado “Uma Visão Para Mãe Luiza” que teve início em 2009.
Mãe Luiza é uma das favelas mais conhecidas da capital, tendo seu
destaque atrelado principalmente à localização geográfica da comunidade, que
se encontra inserida justamente entre o Parque das Dunas e a Via Costeira.
Apesar da localização considerada privilegiada, o bairro e sua comunidade
sempre enfrentaram várias dificuldades ao longo dos anos. De acordo com os
estudos iniciais desenvolvidos pelo escritório em parceria com uma equipe local,
foram identificados vários espaços disponíveis com potencial, porém poucas
atividades desenvolvidas na região.
Desse modo, o plano proposto apresenta uma série de 11 intervenções
no espaço público, formando um grande eixo conectivo que cruza
perpendicularmente uma das principais vias do bairro e se estende em direção
à orla marítima.
Figura 09 – Localização do Arena do Morro e espacialização das intervenções
propostas pelo plano urbano.

Fonte: GADELHA (2021), HERZOG & DE MEURON (2012).


Como é possível ver através da figura 09, a proposta inclui a integração
entre atividades e espaços públicos como anfiteatro, quadra de esportes, lojas
para atividades comerciais, oficinas para atividades profissionalizantes, escola,
40

parque e percursos diversos. Além disso, como afirma Gadelha (2021), é notório
o aproveitamento das dinâmicas existentes, em especial da malha urbana atual
do bairro, o que serve como elemento de potencialização desses eixos que
fazem o contorno do morro de Mãe Luiza.
Figura 10 – Espaço interno do Arena do Morro.

Fonte: IWAN BAAN (2014).

O ginásio Arena do Morro se apresenta como o projeto pioneiro do plano,


que obteve uma repercussão bastante positiva devido a qualidade arquitetônica
do produto final. Passando a fornecer à comunidade local um equipamento
público de referência internacional, disponível para atividades diversas como
esporte, recreação, cultura e educação.

O ginásio é um edifício permeável, naturalmente ventilado, que


transforma e traduz o impacto do seu ambiente natural e urbano num
destino público e foco para atividades desportivas, culturais e de lazer.
(HERZOG & DE MEURON, 2016).

De acordo com Rheingantz et al. (2017), os textos divulgados sobre a


proposta traduzem o efetivo processo de concepção e de diálogo com a
comunidade, bem como com o seu entorno. Ainda segundo os autores, a
ausência de vandalismo, a conservação e a limpeza do local são um forte
indicativo da aprovação e apropriação desse espaço. Comprovando que os
arquitetos conseguiram traduzir com maestria e sensibilidade os desejos da
41

comunidade de Mãe Luiza, uma região periférica com diversas vulnerabilidades


sociais e carência de investimentos.

Figura 11 – Arena do Morro inserido na comunidade.

Fonte: IWAN BAAN (2014).

Desse modo, fica evidente que uma intervenção para uma comunidade
do tipo não deve ser pensada como uma simples edificação que visa custar o
mínimo possível e por isso possuirá baixa qualidade. O exemplo do Arena do
Morro, como colocam a equipe responsável pelo projeto Herzog & de Meuron
(2016), “Torna-se um símbolo para a comunidade”. Trazendo a reflexão de que
uma proposta que preza pela excelência em todos os aspectos e que responde
corretamente às necessidades dos usuários, tende a ser aprovada, utilizada e
zelada por estes.
42

2.3. A RACIONALIZAÇÃO CONSTRUTIVA NA ARQUITETURA

Por estarmos trabalhando com uma proposta arquitetônica que seria


voltada para um grupo socialmente vulnerável, além de imaginar um possível
financiamento advindo do poder público, alternativas que ofereçam redução de
custos e consumo de recursos se tornam muito bem-vindas, pois podem auxiliar
na justificativa de que a proposta possui um custo benefício viável.

Este capítulo abordará de forma mais detalhada sobre a temática da


racionalização construtiva, tal aprofundamento se faz necessário para que
possamos identificar de que modo é possível utilizar dos conceitos e diretrizes
existentes para alcançar melhores resultados, com finalidade de aplicar na
concepção do projeto que será desenvolvido para a comunidade visando torná-
lo mais eficiente.

2.3.1. Contextualização e Conceitos

Sabemos que a construção civil é um dos setores que possui destaque


devido ao seu crescimento notável ao longo das décadas e importância para
nossa economia. De acordo com dados da revista Exame (2021), o setor já
representa 7% do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro com alto índice de
crescimento e geração de novos empregos.

Todavia, Melo Neto (2019), afirma que são estimados que cerca de 20 a
50% dos nossos recursos naturais são consumidos pelo mercado da construção
civil. Por isso, nos dias atuais esse nicho se encontra em um processo constante
de transformação, estando sempre à procura de métodos e ações que otimizem
os processos construtivos através de maior produtividade e redução de custos.

No entanto, é notável que ao longo dos anos, a indústria da construção


civil no Brasil apresentou dificuldades quando se trata de investir em novas
tecnologias, melhoria de produtividade e da qualidade dos produtos finais. Visto
que, até o presente ano ainda é possível observar em nossas cidades a
execução de edificações do mesmo modo que se faziam a 30 ou 40 anos atrás.
43

O processo construtivo utilizado nessa indústria apesar de incorporar


inovações em algumas equipamentos e maquinário, nos dias atuais ainda se
apresenta bastante dependente, especialmente das técnicas atreladas aos
trabalhadores e à mão de obra tradicional.

Desse modo, de acordo com Vale (2006), as várias mudanças na situação


econômica e política do nosso país, associadas às mudanças na cultura da
população e na oferta de mão de obra disponível são fatores que têm
influenciado as empresas da construção civil a procurarem por alternativas
tecnológicas que fogem da linha de pensamento tradicional presente nesse
setor. Em função inclusive do quanto o público pode pagar atualmente por esses
produtos.

A economia nacional hoje está bastante diferente do que era há vinte


anos atrás, época em que o mercado da construção civil esteve bem
aquecido. Muitos investimentos foram feitos neste mercado, havia
facilidade de se conseguir recursos para a produção. Hoje estes
recursos são escassos. Para viabilizar seus empreendimentos as
empresas precisam buscar não só novas alternativas de
financiamento, como também a redução de seus custos. (VALE, 2006,
p. 28).

A competitividade também aparece como outro fator que estimula a busca


por soluções que otimizem esses processos. Uma vez que, ainda de acordo com
o autor, com a velocidade de se obter informações na atualidade e a globalização
mais presente da economia estimulam a concorrência entre as empresas. Estas,
por sua vez, necessitam com o passar do tempo estarem aptas a atender às
novas necessidades de seu mercado de atuação, que devido aos itens
mencionados, se torna cada vez mais exigente quanto a qualidade desejada
para esses produtos/serviços. A ideia de racionalização construtiva aparece
então como uma das ferramentas que podem auxiliar a atingir esses objetivos.

O conceito de racionalização na construção civil possui múltiplas


definições que foram discutidas por diversos autores ao longo do tempo. A
seguir, podemos observar e estabelecer relações a partir de alguns destes.

A racionalização construtiva de acordo com Rosso (1980), pode ser


definida como a aplicação dos recursos de forma mais útil e prestativa para se
obter um produto final com maior eficiência. O autor argumenta que arquitetos e
projetistas não devem se sentir responsáveis por apontar uma vasta gama de
44

soluções para o projeto, mas sim aquelas que de fato ofereçam melhor resposta
às necessidades reais dos usuários, sejam nos aspectos técnicos, econômicos
e principalmente funcionais.

Um raciocínio parecido é apresentado por Sabbatini (1989), ao conceituar


racionalização construtiva como um processo composto pelo conjunto de ações
que tem como objetivo a otimização da utilização dos recursos disponíveis na
construção em todas as suas fases, sejam estes materiais, humanos,
organizacionais, energéticos, temporais e financeiros.

Ambas as ideias acima também dialogam com a definição apontada por


Vale (2006), que afirma de modo mais sintetizado que podemos entender a
racionalização construtiva como um processo de produção ou conjunto de ações
reformadoras que tem por finalidade propor a substituição de práticas rotineiras
convencionais por métodos que estejam firmados em um raciocínio sistemático,
visando eliminar quaisquer casualidades nas decisões tomadas.

Desse modo, é possível observar que todos os conceitos e definições


apresentadas tendem a convergir para alguns pontos em comum, sendo o
primeiro deles a ideia de otimização e/ou melhora. O segundo ponto se refere a
todos mencionarem a racionalização como um conjunto de vários itens que
compõem uma estratégia. Ou seja, adotar apenas uma medida ou outra isolada
tenderá naturalmente ao insucesso.

Assim, entendemos que a racionalização aparece como um item que


busca solucionar uma série de problemas existentes na indústria da construção
civil. Isso vai de encontro inclusive com os interesses de várias empresas desse
setor e inclusive de órgãos públicos, pois como visto, visa utilizar os recursos
disponíveis de modo mais lógico.

Nesse sentido, quando falamos sobre como e por onde devemos começar
quando precisamos implementar essa estratégia, é inevitável mencionar que
esta começa ainda na fase do projeto de arquitetura. Como menciona Vale
(2006), a partir dele o processo se estende à diversas outras etapas, que vão
desde a análise dos itens e materiais a serem utilizados, execução e até mesmo
o desempenho do produto em uso.
45

Entretanto, sabe-se que o projeto é um dos principais vilões e/ou


culpados pela falta de procedimentos com relação à racionalização da
construção, além do favorecimento, ao aparecimento de algumas
patologias encontradas nas edificações. (VALE, 2006, p. 44).

O autor complementa ainda afirmando que diversos fatores vão contribuir


para essa distorção, apontando como o principal deles o desenvolvimento de
projetos sem levar em consideração o processo construtivo por trás.
Ressaltando que por meio de um “Projeto Integral” poderão ser definidos com
melhor precisão os requisitos da edificação, e dos seus componentes
intermediários. E será nesse momento que o arquiteto possuirá condições para
aplicar a sua capacidade de análise e síntese para identificar as melhores
soluções.

Dessa forma, os projetos passam então a serem vistos cada vez mais
como item com maior importância, uma vez que um acerto nessa etapa tende de
forma lógica e consequente a guiar as demais na direção correta para atender
às necessidades propostas. Promovendo assim maior qualidade e
consequentemente mais economia para quem deseja construir.

A preocupação com o projeto tornou-se mais evidente, por ser este


considerado como um dos principais fatores na busca da melhoria para
o desempenho do produto (edificação), diminuição dos custos de
produção, diminuição de ocorrência de falhas tanto no produto quanto
no processo e otimização das atividades de execução. (VALE, 2006, p.
49)

Adentrando mais a fundo na etapa do projeto arquitetônico é possível


identificar alguns itens que possuem influência notável quando se trata de tornar
uma edificação mais racional e eficiente.

De acordo com Mascaró (2010), tópicos como: os materiais, sistemas


construtivos e componentes empregados; o tamanho médio dos locais e a forma
dos compartimentos/grau de compacidade do edifício, são fatores que
condicionam bastante o custo total do edifício assim como possuem relação
direta com o formato da planta.

O autor ressalta que em grande parte dos casos quando buscamos reduzir
os custos da edificação, existe uma tendência à diminuição da qualidade do
mesmo através da escolha de materiais ou sistemas de execução mais baratos,
quando na verdade deveria existir um maior cuidado e atenção quanto a
dimensão e o formato dos ambientes.
46

Para avaliar se a forma do edifício em planta pode ser considerada


eficiente em relação aos custos, Mascaró (2010), apresenta uma metodologia
denominada “índice de compacidade”, exposta na Figura 12.

Figura 12 – Fórmula para cálculo do índice de compacidade.

Fonte: MASCARÓ (2010).

Nesse método é estabelecida uma relação entre o perímetro das paredes


externas do projeto e o perímetro de um círculo com área idêntica. O percentual
gerado deve ser comparado com os índices máximos de compacidade, que para
um círculo (considerado como a forma mais compacta) seria de 100%, já para o
quadrado é de 88,6%, um fato importante é que raramente as plantas dos
projetos chegam tão perto desse valor.

Quanto mais próximo desse número, menores serão os custos de


construção e menores também as perdas e ganhos térmicos
indesejáveis, com o que, consequentemente, tenderão a diminuir os
custos de manutenção e uso do edifício. (MASCARÓ, 2010, p.54)

Desse modo, conseguimos compreender que para um edifício ser


considerado como de baixo custo ele não necessariamente precisa possuir seu
índice de compacidade exatamente igual aos 88,6%, mas sim estar próximo a
este. Uma vez que, ao desenvolvermos um projeto arquitetônico sabemos que
devido a diversos fatores e variáveis que o compõem, seja estética ou mesmo
funcionalidade de acordo com o terreno disponível, poderemos adotar formatos
que levem a perder um pouco dessa compacidade. Porém, ao compararmos com
as vantagens obtidas para os usuários do projeto, esse leve aumento do custo
se torna válido.
47

Figura 13 – Aumento dos custos das fachadas com base no formato da edificação.

Fonte: MASCARÓ (2010).

Portanto, como visto anteriormente e ilustrado através da figura 13, para


alcançar esses parâmetros desejados o perímetro da edificação assumirá um
papel crucial para a redução de custos. Devemos então atentar para a presença
de múltiplos recortes e elementos que possam aumentar essas dimensões
externas totais. Como sugere Mascaró (2010) “Uma forma de criar menos
deseconomia pode ser simplesmente diminuir a profundidade de alguns desses
recortes, pois às vezes, o efeito estético é o mesmo”.

2.3.2. Decisões de projeto e estratégias que influenciam uma edificação a


tornar-se mais econômica/racional

Ainda atrelado ao momento de pensar sobre o projeto arquitetônico,


existem algumas decisões e caminhos lógicos a serem seguidos que podem
auxiliar a tornar uma edificação mais eficiente e aumentar seu custo-benefício.

Como foi visto, a ideia de racionalização não está relacionada apenas com
uma medida específica tomada, mas sim com um conjunto de estratégias.
Portanto, objetiva-se aqui exemplificar algumas decisões e medidas que ao
serem adotadas possam responder às necessidades dos usuários e ao mesmo
tempo obter uma otimização da utilização dos recursos nas mais diversas áreas,
sejam eles materiais, temporais, humanos.

A primeira delas está associada ao formato das paredes, como visto na


Figura 13 exposta ao final do item anterior, apesar dos círculos serem
considerados como a forma mais econômica quanto a sua compacidade, quando
48

se trata da execução de paredes com essa característica, existem critérios que


fazem com que exista uma dificuldade maior em atingir tal forma e por isso ocorre
um aumento no custo, que de acordo com Mascaró (2010), chegam a ser 50%
mais caros que um plano reto de dimensões equivalentes.

Relacionada a essa ideia das paredes e suas formas, é válido destacar a


coordenação modular visto que esta é uma das estratégias bastante utilizadas
quando o assunto é racionalização construtiva. Segundo Vale (2006), a
coordenação modular é um instrumento geométrico, físico e econômico que visa
compatibilizar as dimensões adotadas para todos os espaços de uma edificação.

Na arquitetura é fundamental o uso das proporções, afim de que se


defina a plasticidade do objeto construído. Com isso, a prática da
coordenação das dimensões dos componentes de construção em
projeto objetiva compatibilizar dimensionalmente e de forma racional,
os ambientes de uma edificação e seus invólucros. (VALE, 2006, p.65).

Com isso, para chegar a dimensões que forneçam uma melhor


padronização e torne os elementos mais proporcionais entre si, se faz necessário
chegar a um consenso de valores de medida que possam guiar o
desenvolvimento do projeto.

Vale (2006) afirma ainda que, a utilização de uma coordenação modular


necessita de um sistema que aliado a um ordenamento racional coordene as
dimensões do projeto e componentes da construção em suas partes e em seu
todo. Para tal, se faz uso de três princípios fundamentais, sendo eles: o Sistema
de Referência; o Módulo e o Ajuste Modular.

Ainda segundo o autor, o Sistema de Referência é definido como uma


trama espacial de referência para o projeto, que visa possibilitar posicionar e
dimensionar os itens do projeto através de um sistema de linhas guias. Na
sequência, o Módulo consistirá em uma unidade básica de medida para a
definição e organização das dimensões de todos os componentes e partes da
construção. Por fim, o Ajuste Modular fornece a união entre os componentes e o
sistema de referência definido.

Desse modo, fica claro que a coordenação modular representa uma


estratégia de conceber o projeto que leva em consideração um ordenamento de
dimensões que auxilia consideravelmente no processo construtivo e na
49

facilidade de execução. Visto que ao desenvolver uma proposta arquitetônica na


qual todas as medidas possuem uma relação, os ajustes e improvisações
tendem a diminuir, além de que existirá uma facilidade maior para realizar a
compatibilização com os projetos complementares.

Outro tópico importante a ser observado é o número de pavimentos, como


afirma Mascaró (2010), cada pavimento adicional presente no edifício é ainda
mais caro que o anterior, tornando o custo médio crescente. Isso acontece, pois,
diversos itens passam por modificações que possuem impacto financeiro notável
e vão desde a resistência da estrutura, a presença de elevadores, o custo das
instalações e até mesmo o tempo de duração da obra em si.

Na sequência, é essencial mencionar também a questão dos elementos


externos que compõem a envoltória do edifício, como cobertura e fachadas e
seus respectivos isolamentos térmicos. Em climas quentes-úmidos como o
nosso, essa envoltória assumirá funções essenciais que vão além da proteção
dos espaços interiores quanto à segurança e intempéries. Abrangendo também
a necessidade de auxiliar a tornar esses espaços eficientes no que diz respeito
às condições de conforto ambiental dos usuários.

Nesse sentido, Mascaró (2010) afirma que é nessa etapa onde vários
projetistas tendem a se enganar, acreditando que uma economia em
isolamentos, cobertura ou mesmo espessura das paredes estaria sendo útil,
quando na verdade ocorre o efeito reverso pois além do desconforto aos
usuários, estimulam a utilização dos equipamentos de refrigeração para “corrigir”
o clima desses ambientes, gerando ainda mais custos com instalações e
consumo de energia, algo que poderia ser evitado através de soluções bem
concebidas para esse envolvente externo.

Sendo o Brasil um país de climas predominantemente quentes, o


problema do ganho térmico através do envolvente do edifício será o
mais importante, predominando a correta solução das coberturas sobre
as fachadas, pela quantidade de radiação solar recebida em relação
às fachadas, especialmente em edifícios térreos [...] (MASCARÓ,
2010, p.124).

Desse modo, o autor ressalta ainda mais a importância da cobertura como


elemento fundamental para solucionar essa problemática do ganho térmico,
50

principalmente em edificações de baixo gabarito. Destacando inclusive que uma


cobertura com isolamento adequado apresenta resistência térmica duas vezes
maior do que uma não isolada, isso implica em dobrar o atraso do tempo que o
calor levaria para chegar em um ambiente. A figura 14 a seguir ilustra como o
isolamento possui um papel fundamental principalmente na questão dos custos.

Figura 14 – Gráficos de comparação de variação de custos em função do aumento do


isolamento (a) e consumo de energia em função do isolamento (b).

Fonte: MASCARÓ (2010).

O gráfico (a) demonstra a relação existente entre o custo das coberturas


e o custo gerado pelos aparelhos de ar condicionado. Através dele é possível
perceber como a medida que se investe um pouco mais em coberturas e seu
respectivo isolamento (eixo horizontal), o valor que seria destinado ao
condicionamento artificial (eixo vertical) tende a cair de forma drástica.

Já no gráfico (b) é apresentada a variação do consumo de energia em


função do isolamento térmico utilizado na cobertura, ficando nítido que à medida
que aumentamos o isolamento (eixo horizontal) o consumo de energia (eixo
vertical) também diminui disparadamente.

Sendo assim, se mostra essencial uma atenção especial para esses itens
que tratam do envolvente externo da edificação, uma vez que o desempenho
destes se rebate de forma direta e proporcional no consumo de energia do
edifício. Esse é um importante ponto pois, mostra que quando buscamos que um
projeto seja mais racional e econômico é necessário atentar não apenas para os
valores de construção em si, mas também para os valores atrelados ao uso diário
e de manutenção do edifício.
51

Nesse raciocínio, a manutenção também aparece como um dos itens que


também irá influenciar na quantidade de recursos (principalmente financeiros)
investidos para que a edificação possa funcionar corretamente. Segundo
Anversa (2019), existem basicamente 3 tipos de manutenção predial, sendo
elas: a preventiva, a preditiva e a corretiva.

Cada uma dessas é indicada para uma etapa do problema, as duas


primeiras como os nomes sugerem, tratam-se de inspeções periódicas que
buscam prevenir ou identificar respectivamente, o possível aparecimento dos
problemas. Já a última e bem mais comum, refere-se à uma intervenção imediata
sobre uma patologia já evidente.

De acordo com Vale (2006), as patologias em arquitetura e engenharia


consistem no estudo das anomalias das edificações, buscando identificar
através dos “sintomas” a origem, o nível e as soluções para o problema.

É possível que as causas da degradação das edificações possam ter as


mais diversas origens. Porém, como mencionado anteriormente, se imaginarmos
que o edifício está constantemente exposto ao meio externo e
consequentemente aos seus usuários diários, podemos afirmar que estes se
apresentam como fortes candidatos a agente causadores dessas patologias.

Figura 15 – Principais causas das patologias nas edificações.

Fonte: MOTTEAU (1987), BARRIENTOS (2004) in VALE (2006).

Através do gráfico apresentado na figura 15, é possível perceber vários


desses elementos causadores dos problemas. Sendo notável logo de imediato
52

a porcentagem correspondente ao projeto arquitetônico e consequentemente


sua construção. O que leva mais uma vez a refletir a respeito da importância
dessas etapas iniciais para todo o desenvolvimento do restante.

Ao analisar o restante da imagem não podemos deixar de mencionar as


fatias ocupadas por itens como os materiais e o uso. O que leva a uma
associação direta quanto à qualidade destes e sua exposição diária ao público.

Desta forma, podemos perceber que os materiais além de satisfazerem


as exigências dos clientes (usuários finais), ainda devem responder a
uma série de outras exigências, sejam elas de caráter mecânico,
propriedades térmicas, aparência, propriedades físicas, químicas entre
outras. (VALE, 2006, p.167).

Compreende-se então como o cuidado com a etapa de projeto e a escolha


de materiais pode influenciar no aparecimento de patologias e
consequentemente na vida útil da edificação. Sendo importante observar a
durabilidade desejada para os elementos do projeto como um todo, uma vez que
o quão mais rápido for a degradação desses itens e o aparecimento de
problemas, maior e mais frequente será o custo com possíveis ações de
manutenção.

O caso do Ginásio Arena do Morro mencionado no item anterior aparece


como um excelente exemplo de utilização de algumas dessas diretrizes. Como
será detalhado melhor no capítulo seguinte, o projeto se utiliza de materiais em
sua característica crua, evitando a necessidade de custos com acabamentos e
manutenções mais constantes para a renovação destes. Outro ponto importante
diz respeito às soluções de conforto adotadas, que como visto, se bem
solucionadas podem influenciar diretamente no consumo de recursos
energéticos pela edificação, fazendo com que o projeto se torne mais eficiente e
econômico.
53
54

3. EQUIPAMENTOS COMUNITÁRIOS

Como visto anteriormente, o planejamento urbano das cidades é um fator


decisivo para proporcionar uma cidade que esteja aliada à inclusão social de
todos os grupos que a compõem. Dentre os vários problemas urbanos existentes
nas nossas cidades nos dias atuais, Moraes et. al (2008) afirma que a ausência
dos equipamentos urbanos comunitários pode ser considerada como um dos
principais, pois estes se apresentam como um dos componentes físicos básicos
para a existência de uma localidade.

A existência destes componentes físicos é considerada como um fator


importante de bem estar social e de apoio ao desenvolvimento
econômico, bem como de ordenação territorial e de estruturação dos
aglomerados humanos. (MORAES et. al, 2008, p.99)

Essa colocação pode ser complementada pelo conceito apresentado por


Bonfim (2000), ao defender a ideia de que os equipamentos comunitários
constituem uma estrutura cujas ações ali desenvolvidas podem ser tão
diversificadas quanto as necessidades da população à que se destina. Desse
modo, estes passam a ser considerados como uma ferramenta integrada de
resposta social aos problemas das pessoas.

Ainda de acordo com a autora, um centro comunitário também tende a se


tornar um polo de desenvolvimento social e dinamizador das solidariedades
locais, podendo inclusive desempenhar papel fundamental para reforçar os laços
sociais existentes em diversos níveis, sejam estes de grupos, de localidades ou
mesmo do bairro.

As legislações e normas por sua vez apresentam definições mais


generalistas, mas que ainda assim traduzem bem o que estes equipamentos
representam. Tomando como exemplo a Associação Brasileira de Normas
Técnicas (ABNT), por meio da NBR 9284 considera-os como:

Todos os bens públicos ou privados, de utilidade pública, destinados à


prestação de serviços necessários ao funcionamento da cidade,
implantados mediante autorização do poder público em espaços
públicos ou privados. (NBR 9284, 1986, p. 1).

Nesse raciocínio, é possível perceber a dimensão dos impactos que a


presença desses itens proporciona ao meio urbano e principalmente à população
55

beneficiada. Como afirma Moraes et. al (2008), a existência de tais


equipamentos associados aos demais usos da cidade refletem diretamente não
apenas na ordenação do território, como também no bem-estar social e
desenvolvimento econômico da região. Portanto, a ausência dos mesmos tende
a exacerbar ainda mais as desigualdades sociais existentes.

O documento A Carta de Natal (2015), apresentado no primeiro item do


capítulo anterior também fornece algumas definições sobre os equipamentos
comunitários, de acordo com o documento estes são conceituados como
Equipamentos Sociais Estratégicos e fazem parte de um conjunto capaz de
materializar oportunidades, especialmente para as comunidades periféricas e
visam garantir melhores condições de vida a esses grupos.

São citados ainda alguns exemplos de edificações que se enquadram


nessa definição, como bibliotecas, teatros, ginásios poliesportivos, centros
culturais e até mesmo vias destinadas aos pedestres. Todos esses exemplares
são itens importantes que deveriam estar presentes nas comunidades de baixa
renda. Entretanto, o que se sabe sobre a realidade atual é que essas populações
continuam sofrendo diariamente com inúmeras dificuldades, elevadas ainda
mais pela ausência destes itens como apoio.

Para o devido funcionamento desses equipamentos, o texto citado


também fornece algumas recomendações aos diversos agentes envolvidos
nessa problemática. Primeiramente, quanto ao poder público, é sugerido que os
projetos desses itens possuam elevado padrão de qualidade para o projeto e
execução. Além disso, aos poderes legislativos e executivos municipais é
recomendada a mudança no foco dos financiamentos públicos, cujas prioridades
tendem na maioria das vezes se restringir às obras de grande porte como pontes
e viadutos, deixando em segundo plano a infraestrutura cultural, desportiva e de
lazer que seriam essenciais para as comunidades.

Outro importante ponto destacado pelo documento diz respeito à gestão


compartilhada desses equipamentos sociais estratégicos, onde através de
soluções como parcerias entre o Estado e as comunidades seria possível
construir uma equipe destinada ao gerenciamento adequado desses espaços,
visando garantir que estes respondam às necessidades que foram projetados.
56

Desse modo, também é válido destacar que para o funcionamento


adequado, os equipamentos comunitários devem estar articulados ao entorno
que se inserem, de modo a tornarem-se um elemento que se conecte e faça
parte do cenário local, como coloca Schafer (2012):

Já as edificações voltadas aos equipamentos comunitários precisam,


argumenta o autor [Aymonino, (1975)], transcender a questão da
tipologia e serem pensadas de acordo com o entorno, seja para resultar
em uma arquitetura que se destaque ou simplesmente se molde ao
existente, mas principalmente incorporando características culturais e
simbólicas da sociedade e do local. (SCHAFER, 2012, p. 68).

Esse é um ponto importante de ser destacado pois vimos que isso se


reflete não apenas nos exemplos de intervenções vistas no capítulo anterior,
onde a arquitetura inserida passa a se tornar um marco para a realidade local.
Como também oferece a reflexão sobre qual será a intenção do projeto que
queremos desenvolver para a comunidade em estudo. Moraes (2008),
complementa esse raciocínio ao afirmar que:

Assim, não basta implantar um equipamento urbano comunitário sem


observar o local de implantação, os projetos executivos, os materiais a
serem utilizados e os cuidados relativos à manutenção e conservação
destes. (MORAES 2008, p.100).

Esse pensamento é excelente, pois traduz com êxito a intenção desejada


para o projeto que será elaborado, onde os cuidados com as escolhas
construtivas e aspectos de durabilidade envolvem não apenas dialogar com o
entorno, mas também na capacidade para que a proposta possa se manter útil
por mais tempo para a região. Tais itens mencionados influenciaram inclusive
nas referências projetuais que foram escolhidas para serem analisadas no item
seguinte.
57

3.1. ESTUDOS DE REFERÊNCIAS

Este item irá tratar sobre os estudos de referências projetuais que foram
utilizadas para o desenvolvimento da proposta do Centro Comunitário. Nesse
sentido, foram selecionados projetos arquitetônicos com características que
poderiam ser aplicadas de modo a auxiliar na realidade da comunidade.

Sendo observados itens como: o programa de necessidades existente, o


sistema construtivo e as soluções de conforto adotadas, bem como as
características formais e de materialidade. Outro ponto importante observado foi
a relação existente com a comunidade e com a localidade em que a proposta
está inserida.

As referências estão divididas em uma local e duas estrangeiras, como


local temos o Ginásio Arena do Morro (Natal/RN), e as demais foram a Escola
Secundária Lycee Schorge (Burkina Faso) e o Museu Violeta Parra (Chile)
respectivamente.

3.1.1. Arena do Morro

Como discutido anteriormente, o ginásio Arena do Morro localizado na


Região Administrativa Leste de Natal/RN no bairro de Mãe Luiza, foi um projeto
desenvolvido pelo escritório suíço Herzog & De Meuron em parceria com uma
equipe de projetistas locais.
Figura 16 – Localização do Arena do Morro e demais intervenções propostas.

Fonte: HERZOG & DE MEURON (2012), modificado pelo autor (2022).


58

Fruto de parcerias entre o Governo do Estado do Rio Grande do Norte, a


Prefeitura Municipal e duas outras organizações como a Fundação Ameropa e
Centro Pastoral Nossa Senhora da Conceição, o projeto foi iniciado no ano de
2009 e finalizado em 2014, sendo a primeira de uma série de intervenções
propostas através de um plano urbano denominado “Uma visão para Mãe Luiza”.

a) O terreno e a implantação
O lote em que o projeto foi implantado possui pouco mais de 5000 metros
quadrados de área e um formato trapezoidal bem característico, o que em um
momento inicial pode ter limitado as soluções projetuais a serem adotadas, mas
ao final tiveram papel essencial rebatido inclusive na forma da edificação.
Localizado logo ao lado da existente Escola Estadual Dinarte Mariz, o
projeto que conta com uma área de quase 2000 metros quadrados, distribuídos
pelo formato alongado no sentido longitudinal acompanhando o terreno,
associado a um gabarito amigável de 11 metros de altura que proporciona o
diálogo com a predominância de edificações térreas do entorno local.
Figura 17 – Vista aérea do Arena do Morro.

Fonte: Arquitectura Viva (2021).


Ainda sobre o terreno é possível observar algumas vagas de
estacionamento localizadas na fachada frontal na Rua Camaragibe, onde se
localiza também a entrada principal da edificação.
59

Foi necessário ainda que o projeto se adequasse à topografia com declive


do lote. Sendo realizadas escavações no solo para a implantação da quadra em
um nível mais baixo, garantindo assim a altura necessária e a manutenção do
gabarito, que se apresenta limitado pela legislação local da cidade em 7,5
metros, pois a região se encontra dentro de uma Área Especial de Interesse
Social (AEIS). Somado a isso, o desnível também proporcionou a disposição de
um segundo pavimento sobre os banheiros, locando nesse espaço um terraço
com vista para a orla marítima.

b) O projeto, o programa e a cobertura


A partir da planta baixa apresentada na Figura 18, é possível observar que
o projeto conta com recuos apenas nas fachadas frontal e lateral esquerda,
ficando posteriormente rente ao limite do terreno e criando calçadas de formatos
sinuosos para os acessos e passeios que acompanham o formato da edificação.
Figura 18 – Plantas baixas do Arena do Morro e zoneamento dos ambientes do programa.

Fonte: Herzog & De Meuron (2012); GADELHA (2021); modificado pelo autor (2022).

Ao total, são 3 acessos que distribuem os fluxos de entrada e saída do


prédio, sendo todos eles localizados na fachada principal ao longo da Rua
Camaragibe. O projeto possui um programa arquitetônico simples, contando com
uma quadra abraçada por arquibancadas para um total de 420 pessoas, salas
multiuso, administração, depósitos, banheiros e vestiários. Além disso, no
pavimento superior foram dispostos o reservatório de água e o mirante com vista
para o mar.
60

Pelas plantas baixas também é possível perceber como todos esses


ambientes possuem paredes com formato curvo, que refinam a obra e quebram
um pouco a horizontalidade do grande volume de cobertura. Além de que
segundo os autores do projeto “Esses elementos circulares salientam o caráter
coletivo desses espaços e suas atividades” (HERZOG & DE MEURON, 2014).
A cobertura do ginásio foi uma solução original que consiste basicamente
em várias águas de telhas metálicas escalonadas, formando duas grandes
águas principais (formato tradicionalmente utilizado na região) com uma
cumeeira que segue o sentido do terreno/projeto. As telhas onduladas do tipo
“sanduíche” possuem isolamento térmico em poliuretano e são dispostas
sobrepostas e ao mesmo tempo com um leve espaçamento entre uma e outra.
Essa decisão projetual oferece um melhor desempenho nos quesitos
ventilação e iluminação da edificação. Uma vez que esse espaçamento e altura
adotada favorecem a entrada da ventilação e da luz solar. Além disso, a
cobertura ainda se estende sobre o limite das paredes externas, atuando como
beirais que contribuem mais ainda para o sombreamento destas. O sistema
adotado proporciona ainda a coleta da água pluvial através de um sistema de
calhas, bem como facilita a utilização de recortes nas peças, como foi aplicado
no projeto de modo a seguir o formato do terreno, como ilustrado pela Figura 19.
Figura 19 – Vista inferior do formato da cobertura do Arena do Morro.

Fonte: IWAN BAAN (2014).


61

A solução da cobertura mostrou-se tão funcional quanto ao aproveitamento


da luz solar que o espaço durante o período diurno não precisa utilizar de
iluminação artificial. Isso se mostra como um ponto bastante positivo, uma vez
que torna a edificação ainda mais racional através da economia de energia
elétrica.

A enormidade e a uniformidade da cor branca da cobertura, ancoram


e destacam o edifício dentro da colorida e irregular malha urbana da
Mãe Luiza. Como se fosse a peça que faltava no quebra-cabeça,
ocupando um grande terreno vazio às margens do bairro, ele completa-
o e define um novo e generoso espaço cívico visível a distância.
(HERZOG & DE MEURON, 2014).

c) Detalhes construtivos e materiais utilizados


A composição das paredes que fazem a envoltória de quase todos os
espaços do projeto é feita através da utilização de cobogós, elemento marcante
da arquitetura local do Nordeste. Essas peças feitas em concreto, moldadas “in
loco” exclusivamente para o projeto, oferecem uma experiência bastante
interessante ao usuário ao utilizar de alterações da permeabilidade visual.
Figura 20 – Cobogós em concreto e as diferentes permeabilidades.

Fonte: IWAN BAAN (2014); HERZOG & DE MEURON, (2014); modificado pelo autor (2022).
A solução adotada consiste em perfis diferentes que a depender do
posicionamento, conseguem oferecer mais ou menos privacidade ao ambiente
em questão. Dependendo do perfil utilizado e do ângulo do observador, este
62

consegue enxergar ou não o interior do edifício, o que traz mais uma forma de
interação do usuário com o espaço e promove o diálogo com o meio externo.
Além disso, a versatilidade desses elementos, facilitaram a plástica adotada aos
espaços curvos do edifício e surgem como mais uma importante contribuição
para o conforto ambiental desses locais. Ao passo que a permeabilidade das
peças também auxilia de forma notável na ventilação e na iluminação natural dos
espaços.
A materialidade da edificação é bem característica e se destaca pelo uso
da aparência crua dos materiais, em especial do cinza proveniente do concreto.
Essa paleta aparece em diversos elementos como nas vedações com os
cobogós, nos pilares e vigas estruturais, nas arquibancadas e nos pisos como
um todo.
É interessante ressaltar o uso do granilite como uma alternativa de custo-
benefício e alta resistência ao longo do tempo e vida útil da edificação. Somado
a isso, na quadra as demarcações em variações do tom de cinza como afirma
Dantas (2019), foram obtidas por meio de diferentes fornecedores de cimento,
cada um possuindo uma tonalidade específica, tornando necessário apenas
pigmentação da cor preta para alguns detalhes e demarcações.
Sobre os pilares é possível notar a estrutura metálica da cobertura, das
quais tanto a parte estrutural como as telhas possuem a coloração branca. A cor
utilizada contribui mais ainda para a eficiência do desempenho térmico da
edificação, visto que promove uma maior refletância da radiação solar e logo,
diminui o calor que seria transmitido aos espaços internos.
Ainda sobre os metais, foram utilizados em sua aparência prateada original
nos corrimãos das rampas, nos gradis que fazem o contorno do terreno e nos
guarda corpos.
63

Figura 21 – Espaços internos do Arena do Morro em utilização.

Fonte: IWAN BAAN (2014).


Desse modo, o Arena do Morro aparece como um exemplo notável de um
modo de conceber arquitetura de qualidade destinada a atender grupos sociais
em situação de vulnerabilidade, porém que leva em consideração todos os
aspectos existentes na região. Isso inclui desde a valorização da cultura e modo
de construir tradicional do local, até a topografia e pré-existência de outros itens.
Bem como o refinamento expresso através dos detalhes construtivos, que
demonstra que é possível associar arquitetura, eficiência e estética, sem deixar
de considerar as necessidades da população.

3.1.2. Escola Secundária Lycee Schorge

A escola secundária Lycee Schorge é um projeto inovador desenvolvido


pela Kéré Architecture entre os anos de 2014 e 2016. Localizada na cidade de
Koudougou, uma das maiores do país africano de Burkina Faso, a escola possui
1660 metros quadrados que buscam oferecer um novo modo de qualidade
educacional para a região.
Ao utilizar soluções que mesclam entre sistemas construtivos
vernaculares e tecnologias da arquitetura contemporânea, o projeto se torna
uma referência para outros projetos sociais que buscam pela sustentabilidade, a
redução de custos e o conforto ambiental.
64

Figura 22 – Localização do projeto da Escola no terreno do campus.

Fonte: KERÉ ARCHITECTURE (2021), modificado pelo autor (2022).


a) Implantação e o terreno
O terreno no qual a escola foi implantada faz parte de um campus que
contém diversos outros equipamentos como campo de futebol, quadras e
inclusive a instalação do Instituto de Tecnologia de Burkina, também projetado
pela Kéré Architecture e concluído mais recentemente no ano de 2021. A
intenção do conjunto do campus de acordo com os autores do projeto é fazer
com que ao concluírem o ensino médio na Escola Secundária, os alunos tenham
a oportunidade de dar continuidade aos estudos nas instalações do Instituto.
65

Figura 23 – Vista frontal/aérea da escola.

Fonte: IWAN BAAN (2016).


Sem muitas limitações quanto à topografia e aos limites do terreno, a
implantação do projeto se mostrou facilitada e foi resolvida através de nove
módulos interligados, dispostos em formato circular. Como mostra a figura 23, o
estacionamento de veículos, motos e bicicletas é feito de modo irregular ao longo
do contorno da edificação. No entorno não existem muitos edifícios próximos à
construção, sendo marcado pela forte presença de vegetação nativa. As
dimensões generosas do terreno auxiliam na disposição de todos os espaços
em um único pavimento térreo, o que permite um baixo gabarito que integra a
edificação ao entorno e se torna mais convidativo ao pedestre, em especial aos
alunos.
b) O projeto, o programa e a cobertura

A partir da planta baixa apresentada na Figura 24 é possível observar a


ausência de recuos muito marcados, deixando o projeto a cerca de 15 a 20
metros dos limites do terreno. É notável também a ausência de calçadas para
acesso ao edifício. Este conta com uma espécie de um grande piso único
formando uma plataforma em estilo radier de concreto elevado (cerca de 20 a 30
centímetros do solo), que se estende para além das salas e forma os espaços
de circulação.
66

Figura 24 – Planta baixa, cortes e zoneamento do projeto.

Fonte: KERÉ ARCHITECTURE (2016).


Quanto aos acessos, são definidos por duas entradas principais
localizadas nos trechos em que o formato circular é interrompido. Já para o
programa, o projeto abriga várias salas de aula, incluindo sala de informática,
espaços administrativos e uma clínica odontológica para atender tanto os alunos
da escola como a comunidade, os banheiros são locados em outro bloco fora da
edificação.
As paredes que compõem a envoltória são feitas utilizando um tipo de
rocha denominada laterita, extraída diretamente do solo da região. Esse material
consegue ser cortado com facilidade, permitindo a moldagem dos tijolos que
após secos ao sol e ar podem ser utilizados no sistema construtivo.
O formato circular é obtido através de paredes moduladas em linhas
ortogonais e inclinadas, este pode ser associado também à ideia de aldeia, onde
o pátio público central exerce a função comunitária de integração, permitindo
67

com que sejam realizados encontros informais, reuniões da escola e eventos


diversos voltados para toda a comunidade local.
Além disso, a edificação conta com uma espécie de estrutura de cinta de
amarração em concreto localizada acima das alvenarias, que recebe as cargas
dos forros e da estrutura de cobertura.
Figura 25 – Sistema construtivo utilizado em perspectivas explodidas .

Fonte: KERÉ ARCHITECTURE (2016), modificado pelo autor (2022).


A cobertura é composta por um sistema de telhas metálicas leves e
onduladas, associadas a um sistema estrutural de treliças também metálicas.
Como é possível observar através das figuras 25 e 26, uma decisão projetual
importante foi a de utilizar forros de gesso também de formato ondulado,
proporcionando um deslocamento e aberturas entre o gesso e a estrutura de
concreto, auxiliando na entrada de luz e ventilação natural para os ambientes
internos.
68

Também é válido ressaltar a criativa utilização de torres de ventilação


feitas em concreto, essas unidades dispostas em cada módulo permitem que o
ar quente seja removido das salas de aula. Somado a isso, o espaçamento
existente entre a cobertura metálica e os forros também contribui para reduzir
consideravelmente o calor que é transmitido para os espaços internos.
Figura 26 – Perspectivas do pátio central e das salas de aula.

Fonte: IWAN BAAN (2016); DANIEL SCHWARTZ (2016).

c) Detalhes construtivos e materiais utilizados

Outra solução empregada para auxiliar no sombreamento dos ambientes


e circulações se deu a partir da utilização de uma segunda pele no exterior da
edificação, composta basicamente por telas feitas utilizando varetas de madeira
de eucalipto (material também abundante na região e de crescimento rápido). A
disposição desses elementos forma quase que uma malha permeável que
69

protege as salas de aula não só da incidência direta da luz solar como também
das intempéries existentes na região como os ventos fortes e a poeira. Além
disso, o espaço sombreado gerado entre as salas e essa segunda pele permite
com que os alunos utilizem esses ambientes como local de espera entre as aulas
e para convivência.
Figura 27 – Segunda pele da edificação em varetas de madeira de eucalipto.

Fonte: IWAN BAAN (2016).


Quanto às esquadrias, o projeto conta com longas portas e janelas
coloridas também feitas em madeira, as cores conseguem transmitir uma maior
ludicidade ao ambiente escolar e contrastar com a presença marcante do tom da
pedra e do concreto. Além disso, os sistemas de esquadrias em veneziana
facilitam a ventilação e iluminação dos ambientes internos. Por fim, a solução
adotada ainda conta com um mecanismo locado no lado de fora das salas que
funciona com uma extensão da esquadria, onde abas de ripas de madeira,
associadas a uma estrutura de concreto/metal (dependendo do lado da sala),
transforma essas áreas em assentos locados nos corredores sombreados da
edificação.
70

Figura 28 – Esquadrias e estratégias de conforto utilizadas na escola.

Fonte: KÉRÉ ARCHITECTURE (2016); DANIEL SCHWARTZ (2016); modificado pelo


autor (2022).
Como ilustra a figura 28, as aberturas existentes nessa solução permitem
ainda a circulação do ar mais frio para dentro dos espaços internos. Outro
aspecto importante de ser destacado refere-se a cor branca utilizada para os
forros das salas que associado às aberturas adotadas contribui para a melhor
iluminação desses locais. Algo semelhante acontece com a cor adotada para
a cobertura, que fornece uma maior refletância da radiação solar, contribuindo
de forma notável para reduzir o calor que chegaria aos ambientes.
As sobras da estrutura metálica da cobertura foram utilizadas inclusive
para a montagem do mobiliário das salas de aula, combinando com restos de
madeira, foi possível criar mesas e cadeiras e economizar ainda mais com o
custo destinado à compra dos móveis.

Um dos principais objetivos do projeto é inspirar os alunos, professores


e a comunidade local. A arquitetura não deve ser apenas uma
construção na paisagem, ela também possui um papel didático sobre
como podemos nos apropriar dos materiais locais de forma criativa, e
através do trabalho coletivo, transformá-los em algo significativo e
duradouro. (KÉRÉ ARCHITECTURE, 2016).

Desse modo, a Escola Secundária Lycee Schorge mostra-se como um


exemplo notável de intervenção arquitetônica que se integra a toda a
comunidade. Tornando claro como a criatividade e soluções originais
adaptadas à realidade local, podem oferecer um projeto funcional com
identidade e qualidade.
71

3.1.3. Museu Violeta Parra

a) Implantação e o terreno
Localizado na cidade de Santiago, capital do Chile, o Museu Violeta Parra
foi projetado pelo Undurraga Deves Arquitetos e construído em 2015 para
homenagear uma das mais importantes mulheres para a arte e cultura chilena.
Como música, artista plástica, poeta e ceramista, Violeta Parra (1917-1967),
dominava as mais diversas artes e era uma forte defensora do povo.

O terreno utilizado pela edificação possui formato retangular com 44x95


metros e está localizado no bairro de San Borja, nas margens do centro histórico
de Santiago e próximo à um dos eixos estruturais do sistema viário da cidade.

Figura 29 – Vista aérea e entrada principal do Museu.

Fonte: Roland Halbe (2015).

O edifício possui como característica notável o comprimento e formato de


sua fachada principal, onde assim como acontece no Arena do Morro, esta passa
a ditar o formato do passeio dos pedestres. Porém, o diferencial nesse caso se
dá em função da alteração da largura do percurso, onde o acesso principal ao
Museu é marcado por uma área mais ampla cercada por duas mais estreitas nas
extremidades, fazendo um convite à entrada do usuário.
72

b) O projeto, o programa e a cobertura


A partir das plantas baixas dos pavimentos (Figura 30) conseguimos
perceber o formato sinuoso da edificação. Também é possível já ter uma noção
dos ambientes que compõem o projeto. Resultando em um programa composto
por diversos ambientes que incluem espaços como recepção, auditório, salas de
exibição, banheiros, cafeteria e o destaque vai para a presença do Pátio Central.

Figura 30 – Plantas baixas dos pavimentos térreo e superior do Museu.

Fonte: Archdaily (2015), modificado pelo autor (2022).

Os ambientes mais importantes foram dispostos nas extremidades do


Museu, do lado oeste localiza-se o auditório que comporta até 100 pessoas, já
no lado leste se encontram as salas de exibição. A circulação entre o térreo e o
pavimento superior é feita através de uma rampa interna ao centro. Nesse
segundo piso existem escritórios e arquivos, localizados mais à leste depois das
salas de exposição e workshop. É válido destacar também a presença de áreas
destinadas à extensão do jardim existente no pátio central, de acordo com os
projetistas, a intenção é de que a vegetação cresça e sobreponha a arquitetura,
de modo a exaltar a flora chilena amada por Violeta Parra. Quanto à cobertura,
diferentemente do utilizado nas referências anteriores, o edifício utiliza-se do
sistema de lajes de concreto e platibandas para auxiliar na manutenção da forma
mais minimalista.

c) Detalhes construtivos e materiais utilizados


73

O concreto utilizado no sistema construtivo composto por volumosas


vigas, pilares de formato circular e lajes ganha destaque na materialidade da
proposta. O vidro duplo utilizado em boa parte da fachada juntamente aos
tecidos de vime aplicados como segunda pele tornam o ambiente mais privativo
ao mesmo tempo que permitem que a luz solar seja filtrada e sejam geradas
texturas para as sombras. Além disso, a aparência da malha evidencia ao meio
externo a presença do artesanato do local e sua ligação com a artista.
Figura 31 – Vistas dos ambientes internos da edificação.

Fonte: Roland Halbe (2015).


Por fim, um destaque vai para o painel artístico utilizado no canto superior
em direção à lateral leste (figura 32), próximo ao início do percurso pela via
interna. Tal estratégia permite expor em ângulo de destaque a obra da artista e
ainda oferece um contraste com as tonalidades monocromáticas predominantes.

Figura 32 – Painel artístico localizado em trecho da fachada frontal.

Fonte: Lucas Alvarado (2015).


74

SÍNTESE DOS ESTUDOS DE REFERÊNCIA

Após as análises realizadas foi possível identificar vários pontos em


comum entre os projetos escolhidos, a partir disso foi desenvolvido um quadro
síntese com as informações consideradas relevantes para serem rebatidas na
elaboração do projeto do Centro Comunitário para Moita Verde.

Através desse quadro (Figura 33) é válido destacar alguns itens como a
presença de um pátio central presente em todas as edificações analisadas. Em
seguida, outro ponto a ressaltar diz respeito à materialidade crua e com materiais
que dialogam com a localidade, como aparecem no caso do Arena do Morro e
da Escola de Lycee Schorge. Quanto a esses dois, também é essencial o
destaque para a relação de apoio existente entre os espaços e a comunidade.

Figura 33 – Quadro Síntese dos Estudos de Referência.

Fonte: Elaborado pelo autor (2022).

Em termos de programa, o Arena do Morro foi o que mais teve influência


devido aos seus espaços multiuso e do mirante para as visuais. O Museu Violeta
Parra também contribuiu nesse momento por se tratar de um espaço
museográfico e em memória de uma personalidade feminina importante para a
região. Sobre soluções de conforto adotadas o Ginásio e o projeto africano se
destacam de forma mais notável em função de se localizarem em um clima
semelhante ao do nosso universo de estudo. Soluções como cobertura ventilada
e esquadrias que permitem iluminação e ventilação foram consideradas.
Somado a isso, a segunda pele em material local do Violeta Parra e a ideia de
um painel artístico também foram elementos bastante influentes para o projeto.
75
76

4. MOITA VERDE: UM DIAGNÓSTICO

A comunidade quilombola de Moita Verde encontra-se localizada no


município de Parnamirim/RN, distante 12km da capital. Atualmente, é a terceira
cidade mais populosa do estado, contando no ano de 2021 com cerca de
272.400 habitantes estimados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) e uma área de 124km² de extensão.

Figura 34 – Localização de Parnamirim no Rio Grande do Norte.

Fonte: Google Maps modificado pelo autor (2022).

Integrante da Região Metropolitana de Natal (RMN), a cidade possui um


notável crescimento econômico atrelado justamente ao fenômeno de
conurbação existente com a capital potiguar, o que inclusive de acordo com
dados de 2010 do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
(PNUD) lhe concedeu a posição de município com maior Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH) do estado.

De acordo com Peixoto (2003), o termo Parnamirim tem origem indígena


da língua tupi e vem da expressão “Paranã-mirim” que significaria algo como “rio
pequeno”. Acredita-se que essa nomeação estaria relacionada com os vários
rios e riachos existentes no município, como por exemplo os rios Pium e Pitimbu.
Porém, ainda de acordo com o autor, o mais provável é que o rio conhecido pelos
índios potiguares habitantes da época da colonização já tenha desaparecido.

Possuindo uma emancipação relativamente recente, a cidade tornou-se


independente apenas no ano de 1958 e adquiriu reconhecimento mundial pelos
77

acontecimentos históricos relacionados com a Segunda Guerra Mundial, após


tornar-se um ponto chave devido a sua localização estratégica, onde se localizou
uma importante base aérea americana denominada Parnamirim Field, abrigando
a saída de diversos voos com tropas para os continentes africano e europeu, a
servir como esse ponto de integração, fez com que a cidade ficasse conhecida
como “Trampolim da Vitória”. Desse modo, a economia local, a vida e a cultura
da cidade receberam influência dessa marcante movimentação de soldados
americanos na região.

Nos dias atuais, Parnamirim é conhecida também por possuir a primeira


base de lançamentos de foguetes do país, o Centro de Lançamento de Foguetes
da Barreira do Inferno, além de diversos pontos turísticos como o maior Cajueiro
do Mundo localizado na praia de Pirangi do Norte, que juntamente com a praia
de Cotovelo compõem o litoral da cidade. A cidade abriga ainda vários shows e
eventos, como a popular festa do Boi, que acontece anualmente.

De acordo com dados do último censo de 2010, Parnamirim possuía uma


densidade populacional de 1638,14 hab/km², contando com uma população
considerada como 100% urbana, composta 52,09% por mulheres e 47,91% por
homens. Entre os anos 2000 e 2010 a cidade apresentou um aumento
populacional de 62,4%, sendo estimado para o ano de 2020 um aumento de
cerca de 32%. A maior parte desses habitantes se encaixa nas faixas etárias de
jovens e adultos com aproximadamente 72% da população com idades entre os
15 e 64 anos e apenas 4,68% com 65 anos ou mais. No que diz respeito às
atividades econômicas desenvolvidas, os setores que se destacam são o de
serviços em primeira posição, seguido pela indústria e por fim pela agropecuária
como setor com menor participação.

O território do município atualmente divide-se em 22 bairros e 3 distritos,


como ilustra a figura 35, possuindo ainda algumas áreas não pertencentes a
nenhum bairro ou distrito, sendo consideradas área militar da base aérea e área
pertencente à Barreira do Inferno.
78

Figura 35 – Bairros e distritos do município de Parnamirim.

Fonte: Wikipédia modificado pelo autor (2022).

Ainda a partir da figura 35, é possível observar o destaque para o bairro


de Vida Nova, o qual se localiza o quilombo de Moita Verde, este é considerado
um bairro relativamente novo devido sua criação ter sido formalizada através da
Lei n°1316 apenas no ano de 2006 juntamente com os bairros de Bela
Parnamirim e Parque das Nações.

Figura 36 – Localização do recorte de estudo no bairro de Vida Nova.

Fonte: OpenStreetMap, modificado pelo autor (2022).


79

É importante também ressaltar que o bairro de Vida Nova teve sua área
de extensão reduzida após a criação do bairro de Encanto Verde em 2016
através da Lei n° 1786, o qual ficou com a porção do território posterior ao Rio
Pitimbu. Na figura 36 também é possível observar através do círculo tracejado
em destaque, o recorte de estudo onde iremos abordar mais detalhadamente os
aspectos físicos no item seguinte, no qual será tratado mais especificamente
sobre a comunidade.

4.1. A Comunidade Quilombola de Moita Verde

Como vinha sendo discutido até o momento, a comunidade de


remanescentes quilombolas de Moita Verde encontra-se localizada no bairro de
Vida Nova na Zona Oeste de Parnamirim. A Fundação Cultural dos Palmares
reconhece o quilombo desde 2006, porém de acordo com Rocha (2014) as
origens da comunidade remetem ao final do século XIX.

A autora Beatriz Simões Brito de Azevedo (2019), nos ajuda a entender


um pouco melhor sobre o surgimento do quilombo, pois teve a oportunidade de
entrevistar a ilustre Maria Nazaré Marques de Moura, mais conhecida como
Dona Nazaré3, era a moradora mais antiga do local e faleceu no ano passado
com 106 anos de idade, sendo conhecida como a matriarca da comunidade.

Figura 37 – Dona Nazaré em sua casa, ao completar 100 anos de idade.

3 Nascida em 23 de agosto de 1915 em uma comunidade quilombola conhecida como Capoeira dos Negros
localizada no município de Bom Jesus, Dona Nazaré teve papel de fundadora do quilombo de Moita Verde,
onde trabalhou como lavadeira e na agricultura, além de criar e educar seus 5 filhos.
80

Fonte: Tribuna do Norte (2015), modificado pelo autor (2022).

Segundo Azevedo (2019), Dona Nazaré informou que antes era moradora
do quilombo de Capoeiras e por volta de 1945 mudou-se para as terras até então
conhecidas como “Rio dos Negros” ao se casar com o senhor Moisés Crispiniano
da Silva. Ainda de acordo com relatos da mesma, a área era composta por muita
vegetação e as casas todas ainda em taipa, com plantações próximas a região
do Rio Pitimbu onde as terras eram bem mais férteis.

Outro fato interessante diz respeito à localização das moradias que antes
eram à oeste do rio e só depois passam ao cenário observado atualmente (à
leste). De acordo com Rocha (2014), a razão da mudança está atrelada às
cheias do rio que dificultava o acesso da população às feiras locais, além de
parte dos territórios terem sido ocupados por outras construções invasoras, o
que demonstra a vulnerabilidade jurídica dessas áreas.

Costa (2012) e Azevedo (2019) acrescentam ainda que as origens das


terras possuem relação com os primeiros moradores do local, que foram os avós
do marido de Dona Nazaré. O avô de Moisés, o senhor Manoel Jorge, teria sido
escravo por vários anos de um poderoso sócio de uma firma de destaque da
época, conhecido como Senhor Machado, onde após a Lei Áurea em 1888, teria
lhe retribuído com uma porção das suas terras ao antigo e fiel criado.

Com o passar dos anos, as terras foram repartidas em cinco sítios


originais entre os herdeiros de Manoel Jorge, que com o tempo foram se
desenvolvendo e aumentando a quantidade de habitantes e moradias conforme
as famílias cresciam. Após a morte do marido em 1960, Dona Nazaré aos 45
anos de idade decidiu não se casar novamente, optando por ficar sozinha e
trabalhar lavando roupas no rio e nas plantações da família, assim conseguiu
cuidar e educar os filhos, que ao crescerem constituíram suas famílias e
construíram casas ao lado dela, ao todo na família são 20 netos e 26 bisnetos
que ela se orgulha de ter ajudado a criar (TRIBUNA DO NORTE, 2015).

Através do mapa exposto na figura 38 é possível observar a poligonal


(linha verde) que define a área considerada como território quilombola, é notável
também que essa área se encontra inserida dentro de uma outra poligonal (linha
amarela) representando a Área Especial de Interesse Social (AEIS) de Moita
81

Verde. De acordo com o Plano Diretor de Parnamirim (2013) quanto à essas


áreas se faz necessário:

reconhecer, no planejamento do Município, os assentamentos


precários, as comunidades ou conjuntos de habitações subnormais e
loteamentos irregulares, implantados antes desta lei, como áreas
especiais de interesse social, priorizando programas ou projetos de
recuperação ambiental e regularização fundiária com aplicação do
recursos do Fundo Municipal de Urbanização e Conservação
Ambiental e Fundo de Habitação de Interesse Social; (PREFEITURA
MUNICIPAL DE PARNAMIRIM, Plano Diretor, 2013, Art. 44, inciso I).
Figura 38 – Mapa das Legislações incidentes sobre o território de Moita Verde.

Fonte: GEHAU (2012), modificado por AZEVEDO (2019).

Complementando esse raciocínio, Azevedo (2019) aponta como positivo


o fato da comunidade estar contida em uma AEIS, uma vez que esta passa a
receber suporte da legislação local e por isso pode mais facilmente ser
beneficiada por políticas públicas do município. Entretanto, um ponto negativo
existente é de que a área ainda não possui a devida regulamentação definida, o
82

que ainda segundo a autora seria um importante passo para a regularização do


território quilombola.

No quesito legislativo ainda é válido ressaltar que a figura apresentada


acima também destaca outras duas manchas importantes para a região em
estudo, sendo a primeira delas a área correspondente a Zona de Proteção
Ambiental I (ZPA I), que possui 120 metros de extensão para ambos os lados a
partir do eixo fluvial do rio. Essa faixa é a mais restritiva, nela fica proibida
qualquer atividade que possa alterar o meio ambiente local. Na sequência temos
a segunda mancha correspondente à Área Especial de Interesse Ambiental II
(AEIA II), esta por sua vez possui 180 metros de extensão e medidas mais
flexíveis que permitem a ocupação, mas com algumas restrições mais brandas,
visando ainda diminuir os impactos ambientais nas proximidades dos corpos
d’água. Somada com a anterior, as duas manchas formam a Área de
Preservação Permanente, regulamentada através da Lei Estadual n°
8.426/2003.

Atualmente, como coloca Azevedo (2019) o território encontra-se


organizado na forma de onze sítios independentes, oriundos do sistema de
divisão de terras de forma hereditária entre as famílias. Todos estes até os dias
atuais ainda mantêm suas características rurais, tendo como principais formas
de ocupação do solo além do uso residencial, as atividades econômicas de
agricultura para subsistência e a criação de animais.

Como ilustra o mapa exposto na Figura 39, além dessas atividades


mencionadas, é possível observar ainda a existência de algumas edificações
consideradas como uso misto, onde funcionam essencialmente os serviços de
lavanderia, ainda existentes até os dias atuais.
83

Figura 39 – Mapa de uso do solo dentro dos sítios quilombolas.4

Fonte: SEHAB; GEHAU/UFRN (2010).

Outro ponto interessante a ser ressaltado é que como ilustra o mapa


existem sítios atualmente considerados como não-quilombolas inseridos no meio
dos demais. Azevedo (2019) ressalta que isso se deve ao fato de que nem todos

4Mapa elaborado pelos estudos realizados para relatório do Programa de Urbanização Integrada de
Moita Verde, realizado através da parceria entre várias entidades, dentre elas a Secretaria Municipal de
Habitação e Regularização Fundiária (SEHAB) e Grupo de estudos sobre Habitação, Arquitetura e
Urbanismo (GEHAU/UFRN) em 2010.
84

os descendentes conseguiram manter a sucessão das terras, o que resultou em


possíveis vendas e trocas, introduzindo estranhos no território. Esse é um fator
que pode ter afetado de forma negativa a conexão entre os moradores,
influenciando inclusive nas demarcações e divisões de forma mais restritiva
utilizando cercas e/ou muros como é visto nos dias atuais.

Figura 40 – Fotografias de 2019 dos sítios quilombolas de Moita Verde.

Fonte: AZEVEDO (2019).

A partir da Figura 40, é possível notar algumas características do entorno


existente, primeiro nas habitações dos moradores da comunidade (fotos a e b),
vemos fachadas simples e cobertura de telhado cerâmico. Em seguida, também
aparecerem exemplos das atividades econômicas desempenhadas (fotos c e d)
como a criação de animais e lavanderia. Por fim tem-se exemplares das visuais
para vegetação do entorno (foto e) e de um dos sítios para o Rio Pitimbu (foto f).

Quanto à população residente na comunidade, dados apresentados pelos


estudos realizados pela SEHAB e pelo GEHAU/UFRN em 2010, demonstram
85

que temos uma população de 447 moradores ao total, com uma média de 3,8
pessoas por residência. Composta por mais mulheres (50,6%) do que homens
(49,4%), dos quais são majoritariamente jovens e adultos com 20 a 29 anos
(16,8%) e 30 a 39 anos (15,2%).

Quanto ao aspecto racial, 43,6% dos moradores são considerados como


negros, seguidos por 37,1% como pardos. Apesar desses dados apontarem para
uma população jovem e com força de trabalho disponível, existem outras
informações que preocupam e expõem o grau de vulnerabilidade desses grupos,
como o grau de escolaridade. Cerca de 19% dos moradores são analfabetos, e
outros 40% possuem o Ensino Fundamental incompleto. Quando comparamos
com a cidade de Parnamirim, é possível notar uma nítida diferença entre esses
valores, onde a taxa de alfabetização apontada pelo censo de 2010 do IBGE
indica 92,4% dos moradores como alfabetizados, com cerca de apenas 9% de
analfabetos. Moita Verde aparece, portanto, com quase o dobro da taxa de
pessoas analfabetas.

Essas características se rebatem diretamente nas atividades econômicas


desempenhadas pelos moradores, dos quais 65% não exercem atividades
remuneradas e 93% deles sobrevivem com renda mensal de até um salário
mínimo. Ao comparar novamente com as taxas da cidade é notável mais uma
vez a discrepância, uma vez que de acordo com o censo em Parnamirim apenas
35,5% da população possuía renda entre 1 a 2 salários mínimos.

Desse modo, como visto anteriormente, quase 80% das famílias


quilombolas no país a recorrerem a atividades mais autônomas e informais para
geração de renda como a agricultura, pequenas criações, pesca artesanal e o
extrativismo, além de permanecerem dependentes de programas sociais como
o extinto Bolsa Família. Portanto, fica evidente que nos dias atuais existe na
comunidade uma parcela da população disponível para atuação no mercado de
trabalho, mas que possui notável dificuldade de se inserir no mesmo devido ao
baixo grau de escolaridade e ausência de oportunidades.

Em função das várias dificuldades aqui expostas, a comunidade de Moita


Verde nas últimas décadas já passou por Programas que visavam trazer
melhorias para a infraestrutura local e principalmente das moradias. A
86

Associação Comunitária Quilombola de Moita Verde (ACQMV), existente desde


2006 após o reconhecimento pela Fundação Cultural dos Palmares, apresentou
à Prefeitura várias reivindicações em diversas áreas como moradia, saúde e
infraestrutura geral. O prefeito da época encaminhou as propostas ao Ministério
das Cidades e ao final de 2009 foi convocado para a assinar o contrato que daria
início ao Programa de Urbanização Integrada da Comunidade de Moita Verde.

Figura 41 – Sequência de etapas previstas para o Programa de Urbanização Integrada de


Moita Verde.

Fonte: AZEVEDO (2019); Acervo do GEHAU/DARQ/UFRN (2012).

De acordo com Azevedo (2019), o projeto contou com quatro etapas


principais, das quais nem todas foram concluídas. A equipe da SEHAB era a
responsável na época por administrar as ações dos diversos grupos que
estavam envolvidos no programa. Os estudos iniciais; contato com a
comunidade; projetos das melhorias para as habitações e da associação; e
regularização fundiária estaria encarregado à SEHAB com assessoria do
GEHAU/DARQ da UFRN. Enquanto as obras ligadas à infraestrutura como
construção de habitações, drenagem e pavimentação ficariam à cargo da
Secretaria Municipal de Obras Públicas e Saneamento (SEMOP).

Ainda de acordo com a autora, as obras das novas habitações se


iniciaram em 2010 e foram concluídas um ano depois. As obras de infraestrutura
tiveram início no ano de 2012 e estava prevista uma lagoa de captação para
87

auxiliar na drenagem, que deveria ter as águas escoadas através de tubulação


até o rio e urbanização em seu entorno. Entretanto, a lagoa foi construída, mas
essas etapas posteriores até os dias atuais ainda se encontram pendentes.

Outra importante etapa que se iniciou na mesma época, mas não foi
finalizada foi o projeto da sede da ACQMV, desenvolvido sob condução dos
docentes Prof. Dr. Rubenilson Teixeira e prof.ª Dr.ª Amadja Borges, além de uma
aluna da pós-graduação da UFRN, através de reuniões e oficinas colaborativas
com a população do quilombo. O terreno escolhido possuía cerca de 1400m² de
área e foi cedido pela Prefeitura de Parnamirim, localizando-se ao lado de onde
foi implantada a lagoa de captação. Este foi selecionado após conflitos com
tentativas de adquirir uma área de um dos sítios que não deram certo.

Figura 42 – Localização do terreno selecionado na época e imagem dos estudos projetuais


desenvolvidos pela equipe.

Fonte: Google Maps, modificado pelo autor (2022); Acervo do GEHAU/DARQ/UFRN, autoria do
estudo Prof. Dr. Rubenilson Teixeira, Profª. Drª. Amajda Borges e Drª Silvana Mameri. (2012).

Desse modo, como afirma Azevedo (2019), um ano após o início do


Programa ocorreram alguns fatores que afetaram de forma negativa o
88

andamento das etapas previstas. O primeiro deles foi a troca da gestão da


SEHAB, seguido por uma greve dos arquitetos e engenheiros da Prefeitura.
Houve então o afastamento da equipe do GEHAU/UFRN, a desistência da
empresa licitada para as reformas e o programa foi paralisado. Desse momento
em diante, o processo foi cada vez mais perdendo força, o quadro exposto
através da Figura 42 a seguir ajuda a compreender melhor a linha do tempo das
ações previstas e o rumo de cada uma delas.

Figura 43 – Quadro geral com linha do tempo dos ocorridos desde o início do
Programa de Urbanização Integrada de Moita Verde.

Fonte: AZEVEDO (2019).

Em resumo, o Programa prometeu diversos itens e devido aos vários


percalços envolvendo questões burocráticas, mudanças de gestão e
organização principalmente por parte do poder público, não conseguiu entregar
e desenvolver boa parte delas dentro do prazo estabelecido, o que resultou
inclusive na exclusão de algumas delas.
89

De acordo com a entrevista com Vinicius Albino, arquiteto da Prefeitura


de Parnamirim, ao fazer um balanceamento de tudo o que foi proposto
e executado, têm-se um resultado muito inferior ao esperado: das 113
casas destinadas à reforma, apenas 09 foram concluídas, a etapa de
drenagem ainda está pendente, não houve a construção da associação
e tampouco a recuperação ambiental, tendo concluído apenas a
pavimentação da rua e a construção das 46 novas UHs. (AZEVEDO,
2019, p.70).

Nesse sentido, desde então existe um sentimento de desconfiança muito


grande por parte dos moradores de Moita Verde em quaisquer novas medidas
ou ações, resultando em uma espécie de conformismo com o abandono
proveniente e receio de se disporem a novas colaborações, uma vez que
presumem logo que se trataria de mais uma iniciativa descontinuada e mais
promessas de mudanças.

Esse trabalho, portanto, busca oferecer através de uma proposta projetual


um novo material que possa servir de respaldo e incentivo para que a
comunidade possa seguir em busca dos seus direitos, sendo de suma
importância que estes continuem reivindicando o que outrora lhe foi prometido e
que pode ser de grande impacto para a mudança do cenário existente.

Desse modo, para um melhor entendimento da região e desenvolvimento


da proposta de modo mais integrado com as opiniões da comunidade, houve a
tentativa de aproximação através de um primeiro contato informal por aplicativos
de mensagens com uma representante, em seguida foi proposto um formulário
informal com 10 questões simples (disposto no Apêndice A) que foi repassado
para esta pessoa que era um dos membros da atual gestão da ACQMV. Porém,
em função das dificuldades de contato e aproximação, advindas justamente
dessa frustração existente após as parcerias sem resultados realizadas entre a
UFRN, a Prefeitura e a comunidade, não foram obtidas respostas dentro do
próprio tempo hábil para avançar com as etapas do estudo. Por isso, foram
utilizados como base principal os dados e informações extraídos dos relatórios
realizados na época do Programa de Urbanização Integrada em 2010.

ASPECTOS FÍSICOS DO ENTORNO

Para avançar no início do projeto, em um primeiro momento foi feita uma


breve análise quanto aos aspectos físicos da região nos dias atuais, o recorte
espacial definido para essas análises se deteve a um diâmetro de cerca de 500
90

metros do entorno do terreno escolhido para a proposta, que foi o mesmo


utilizado para os primeiros estudos desenvolvidos do prédio da associação em
2010, apresentado anteriormente na figura 42.

A figura 44 a seguir expõe um mapa com uma perspectiva de satélite mais


geral da região e nos possibilita entender um pouco sobre o contexto em que a
comunidade está inserida no ano atual. Sendo notável que esta se localiza um
pouco deslocada nas regiões da extremidade do bairro. É válido mencionar a
existência de condomínios residenciais fechados e conjuntos habitacionais
margeando o território quilombola, o que exemplifica diferentes padrões
aquisitivos coexistindo em áreas vizinhas, porém sem possuir relações. Como
afirma Azevedo (2019), além de se diferenciarem morfologicamente, contribui
ainda mais para o isolamento entre esses padrões.

Figura 44 – Mapa Geral do entorno da região de estudo em 2022.

Fonte: Elaborado pelo autor (2022), com base em Google Maps (2022) e AZEVEDO
(2019).

Como aspecto positivo pode ser apontada a existência de equipamentos


como Unidade Básica de Saúde (UBS) do bairro, Escola Municipal, um Centro
de Artes e dos Esportes Unificados (CEU) e um Centro de Referência da
Assistência Social (CRAS) destinado exclusivamente à comunidade de Moita
91

Verde. Ao nos determos mais especificamente sobre o raio de análise, foram


desenvolvidos mapas para auxiliar na compreensão das características físicas
desse entorno mais imediato.

Figura 45 – Mapa de uso do solo do entorno.

Fonte: Elaborado pelo autor (2022), com base em SEMUR (2010) e Google Maps
(2022).

Em primeiro lugar, o mapa de uso do solo exposto na Figura 45, possibilita


enxergar o que vinha sendo discutido anteriormente: a forte predominância do
uso residencial da região; seguido por apenas alguns exemplares de uso
comercial e misto, com edificações que abrigam mercadinhos e lavanderias, é
possível ainda observar apenas uma praça já ao fundo.

Já o mapa da figura 46 expõe outra importante informação: o gabarito


existente no entorno. Por sua vez este se configura com edificações
majoritariamente térreas, porém, sendo notável a existência de algumas
edificações com dois pavimentos. Esse é um fator que foi essencial para definir
inclusive a altura da edificação proposta, como será discutido no próximo
capítulo.
92

Figura 46 – Mapa de gabarito do entorno.

Fonte: Elaborado pelo autor (2022), com base em SEMUR (2010) e Google Maps
(2022).

Na sequência, na Figura 47 temos os mapas de hierarquia viária e de


pavimentação das vias do recorte de estudo. O primeiro destes expõe a
característica de via coletora da Rua Mar da Galiléia, via em que se localiza o
terreno do projeto, a lagoa de captação e que dá acesso à maior parte dos sítios
da comunidade.

Figura 47 – Mapas de hierarquia viária e pavimentação do entorno.


93

Fonte: Elaborado pelo autor (2022), com base em SEMUR (2010) e Google Maps
(2022).

O segundo mapa demonstra a forte presença da pavimentação em


calçamento de paralelepípedo, inclusive fruto das obras de infraestrutura
desenvolvidas durante o Programa de Urbanização Integrada. Sendo válido
ainda ressaltar a presença de vias sem pavimentação, das quais as que se
localizam dentro dos sítios foram requisitadas para serem mantidas com tal
característica rural por preferência dos moradores.

Nesse sentido, a partir do observado no entorno foi possível compreender


melhor sobre as características de ocupação do espaço nos dias atuais.
Fornecendo subsídio para a implantação de um projeto que dialogue com a
região e possa auxiliar nas lacunas identificadas. No capítulo a seguir,
abordaremos detalhadamente sobre a proposta desenvolvida e as soluções
propostas.
94
95

5. A PROPOSTA

Chegamos ao cerne do presente trabalho, que trata do desenvolvimento


de uma proposta de anteprojeto de arquitetura de um Centro Comunitário de
cultura, convívio e educação.
A seguir serão abordados os produtos gráficos e estudos elaborados para
cada uma das etapas, descrevendo de forma mais específica as decisões
projetuais tomadas e as justificativas adotadas para cada uma delas.

5.1. O Terreno: Localização e Condicionantes Externos

Como apresentado anteriormente, o terreno selecionado para a


elaboração da proposta encontra-se localizado na Rua Mar da Galiléia, ao lado
da Lagoa de Captação existente. O lote foi escolhido devido alguns motivos
específicos, sendo o primeiro deles relacionado com o fato do mesmo já ter sido
doado pela Prefeitura de Parnamirim para uma das ações do Programa de
Urbanização Integrado, consistindo no desenvolvimento da proposta de uma
sede para a Associação Comunitária Quilombola de Moita Verde (ACQMV), que
funcionaria como Centro Comunitário e possuiria diversos espaços que visavam
atender as necessidades identificadas nas oficinas desenvolvidas.

Figura 48 – Localização do terreno na área de estudo.


96

Fonte: Elaborado pelo autor (2022), com base em SEMUR (2010) e Google Maps (2022).

A figura 48 consegue ilustrar bem o segundo motivo da escolha do


terreno, que trata da equidistância existente entre ele e os sítios da comunidade,
uma vez que como visto anteriormente, existiu um conflito com a ideia de tentar
locar o projeto em um dos sítios específicos. Desse modo, nessa localização a
proposta fica de fácil acesso pela via mais frequentada pelos moradores e ainda
traria a intenção de estimular a urbanização ao redor da Lagoa de Captação com
calçadas e iluminação pública, que foi outra proposta não cumprida do
Programa.

A imagem também nos mostra as dimensões do mesmo, que conta com


testada de 58 metros e profundidade de 25,10 metros, totalizando uma área de
1455,80m². Área agora devidamente adaptada após o surgimento da lagoa de
captação, mas com valores praticamente idênticos aos do terreno utilizado nos
estudos desenvolvidos anteriormente em 2010.

CONDICIONANTES DE LEGISLAÇÃO

Quanto às condicionantes legais, a última imagem também mostra como


o lote se encontra margeando a área considerada como AEIS de Moita Verde.
No entanto, como é possível perceber através da figura 49 abaixo, está
localizado justamente dentro da Área Especial de Interesse Ambiental (AEIA II).

Figura 49 – Áreas com legislações incidentes sobre o terreno.


97

Fonte: GEHAU (2012); AZEVEDO (2019); modificado pelo autor (2022).

Como visto no capítulo anterior, a AEIA II em questão constitui a faixa de


180m mais externos da área de preservação permanente das águas do Rio
Pitimbu. Essa por sua vez é passível de ocupação, entretanto possui prescrições
urbanísticas diferenciadas que se encontram no quadro exposto na Figura 50.

Figura 50 – Quadro de prescrições urbanísticas para AEIA II.

Fonte: Quadro 03, Anexo 1 do Plano Diretor de Parnamirim (2013).

De acordo com esse material e juntamente ao Plano Diretor de


Parnamirim foi possível iniciar o projeto com algumas informações importantes
sobre o que poderia ser feito na área. Primeiramente é notável que para a
classificação não residencial temos uma área mínima de lote estabelecida em
450m², seguido por coeficiente de utilização básico de 0,8 valor abaixo do normal
no bairro (1,0). Quanto às calçadas, o Plano Diretor do município define como
dimensão mínima 1,50m.

Somado a isso temos a taxa de ocupação máxima para essa área


estabelecida em 50%, junto com a permeabilização mínima de 40% da área do
lote. Essas prescrições com valores bem diferentes dos aplicados no bairro (80%
de taxa de ocupação e 20% de permeabilidade) visam minimizar os impactos de
uma construção em área que pode oferecer danos ao meio ambiente. Isso
impactou diretamente na forma de conceber o projeto e nas soluções adotadas
como será discutido nos itens seguintes.
98

Para os recuos, o Plano Diretor de Parnamirim define que edificações de


até 2 pavimentos não necessitarão de recuos adicionais. Assim, para o projeto
ficam exigidos 3,00m de recuo frontal e 2,00m para recuos laterais e posterior.
Para os estacionamentos, a mesma legislação sugere que as vagas sejam
calculadas a partir da classificação definida de acordo com o uso da edificação,
para o projeto em questão foi utilizada a classe de “Serviços públicos em geral”.
Por possuir acesso em uma via coletora, ficam exigidos 1 vaga para cada 40m²
de área construída, reservando desse total 2% para vagas acessíveis e 5% para
vagas de idosos como sugere a resolução nº 304 do Conselho Nacional de
Trânsito (CONTRAN).

Foram utilizados ainda o Código De Segurança Contra Incêndio e Pânico


Do Rio Grande Do Norte, que estabelece de acordo com a classificação de
“ocupação reunião pública” algumas definições mais simples, tendo em vista que
a edificação final ficou área inferior aos 750m² e altura inferior aos 6 metros
acima da laje de piso do primeiro pavimento. Ficando exigidos apenas itens
como saída de emergência com 2,20m, larguras das escadas com 1,60m,
prevenção móvel com extintores, escada tipo convencional e sinalização de
emergência.

Por fim, teve-se o cuidado de observar as disposições da NBR-9050/20,


com finalidade de garantir com que o espaço seja acessível para todas as
pessoas. Medidas utilizadas nas aberturas e circulações, bem como banheiros
adaptados e plataforma elevatória foram analisadas para implementação em
projeto.

CONDICIONANTES DE CLIMA

Quanto às condicionantes climáticas da região em estudo, a cidade de


Parnamirim possui características muito semelhantes às encontradas em Natal,
devido à proximidade geográfica e por se tratar também de uma cidade litorânea,
a classificação de acordo com a Norma Brasileira de Desempenho Térmico nas
Edificações define ambas como integrantes da Zona Bioclimática 08, e direciona
estratégias específicas relacionadas ao clima quente e úmido.

Através do gráfico exposto na Figura 51 é possível observar as


temperaturas médias e precipitações para o município de acordo com o site
99

Meteoblue. Vemos, portanto, que em geral as mínimas variam entre os 20 e 23


graus Celsius e as máximas ficam entre os 26 a 30, o que configura uma baixa
amplitude térmica com temperaturas que não se alteram tanto ao longo do ano.

Figura 51 – Gráfico de temperaturas e precipitações médias de Parnamirim (2022).

Fonte: Meteoblue (2022).

É possível observar ainda a precipitação média, com chuvas que se


apresentam mais nos meses do primeiro semestre do ano e em seguida tendem
a diminuir conforme nos aproximamos do verão. Quanto à ventilação
predominante, pode-se apontar a direção sudeste como a que mais se destaca
durante o ano, seguida ainda pelas direções leste e sul com menor intensidade,
como ilustra a Figura 52.

Figura 52 – Rosa dos ventos e Carta Solar para Parnamirim sob o terreno.

Fonte: Elaborado pelo autor (2022) com base em SOL-AR e Google Maps (2022).
100

Dessa forma, é válido ressaltar que o lote escolhido se encontra em uma


situação bastante privilegiada quanto à ventilação, tanto por estar posicionado
com seus maiores lados praticamente perpendiculares à direção sudeste, quanto
por possuir uma grande área aberta sem construções barrando a entrada dessa
ventilação.

Também é possível através da imagem exposta entender como funciona


a insolação no terreno do projeto por meio da Carta Solar. Através da trajetória
ilustrada em amarelo é permitido aferir quais fachadas do terreno/projeto
receberam mais sol durante todos os períodos do ano, e o mais importante em
quais horários do dia. No caso em estudo, já foi possível identificar rapidamente
que a fachada Norte mais próxima da direção oeste seria a mais prejudicada por
receber o sol da tarde, horário mais quente. Tornando-se necessário pensar em
estratégias para combater essa característica.

5.2. Programa de Necessidades e Pré-dimensionamento

Para desenvolver um projeto para uma comunidade quilombola


específica, um dos principais desafios que aparece seria o de conseguir
compreender ao máximo as necessidades que poderiam ser respondidas pelo
projeto. Nesse sentido, a opinião da comunidade nos dias atuais sobre os
problemas que mais afligem o grupo e os espaços que eles considerariam úteis
se mostra de essencial valia para que a proposta fique adequada à realidade
local.

Como explicitado anteriormente, o formulário desenvolvido para


compreensão dos desejos atuais da comunidade não foi respondido a tempo
pelos representantes da associação da comunidade. No entanto, tendo em vista
o que foi analisado sobre o universo de estudo, foi possível aferir que como
várias das propostas anteriores não foram executadas, os problemas e anseios
de pouco mais de 10 anos atrás não seriam muito diferentes dos de hoje.
Principalmente em função do abandono que perdurou desde a paralisação do
Programa de Urbanização Integrada.
101

Os estudos para o projeto da sede da ACQMV possuíam um programa


com diversos ambientes voltados para atender e integrar a comunidade bem
como estimular a valorização da sua cultura e desenvolvimento. Possuindo
espaços para atividades que promovessem alguma geração de renda para os
moradores, além de ambientes adequados para o convívio e o lazer. Desse
modo, listando alguns desses espaços temos:

A proposta continha, dentre outros, auditório para reuniões e eventos,


pátio interno para apresentações, Casa da Cultura Africana, salas
multifuncionais, estacionamento, cozinha, varandas com armadores de
rede e secretaria. (AZEVEDO, 2019, p.63).

Nesse raciocínio, a partir dos estudos de referência desenvolvidos,


aliados a esses dados observados nos relatórios elaborados para o Programa
mencionado, foi possível desenvolver um Programa de Necessidades e um Pré-
dimensionamento contendo os seguintes itens expostos nas Tabelas a seguir.

Tabela 01 – Programa e Pré-dimensionamento Setor Serviço.

SETOR SERVIÇO
Ambientes Atividades Quant Área(m²) Área
. total(m²)
Recepção e Recepcionar e 1 30 30
Hall de entrada identificar os usuários
do espaço. Expor
exemplos de produções
locais.
Administração Espaço para o 1 20 20
gerenciamento do
espaço, materiais,
eventos e pessoal.
Banheiros Masc. Blocos de banheiros 2 25 50
e Fem. e PNE com pias, boxes de
(Térreo) sanitários/mictório e
chuveiros
Banheiros Masc. Blocos de banheiros 2 25 50
e Fem. e PNE com pias, boxes de
(Superior) sanitários/mictório e
chuveiros
Depósito Armazenamento de 2 10 20
materiais em geral.
Cozinha Atividades geradoras 1 45 45
Comunitária de renda, eventos
internos.
ÁREA ÚTIL 215
SUBTOTAL(m²)
Fonte: Elaborado pelo autor (2022).
102

Tabela 02 – Programa e Pré-dimensionamento Setor Cultura e Educação.

SETOR CULTURA E EDUCAÇÃO


Ambientes Atividades Quant. Área(m²) Área
total(m²)
Sala Multiuso A Atividades diversas, 1 40 40
Sala Multiuso B oficinas, cursos, 1 40 40
Sala Multiuso C eventos 1 45 45
ÁREA ÚTIL 125
SUBTOTAL (m²)
Fonte: Elaborado pelo autor (2022).

Tabela 03 – Programa e Pré-dimensionamento Setor Convivência.

SETOR CONVIVÊNCIA
Ambientes Atividades Quant. Área(m²) Área
total(m²)
Memorial Dona Exposição de 1 45 45
Nazaré materiais e
fotografias,
artefatos que
homenageiam a
matriarca local.
Mirante Espaço para 1 45 -
contemplação do
entorno e das
atividades do pátio
Pátio Central Convivência, 1 135 135
(Área Coberta) eventos e festas,
Pátio Central reuniões, práticas 1 165 -
(Área recreativas ou
Descoberta) religiosas.
Terraço pav. Armar redes e 1 60 60
superior (Área contemplação das
coberta) atividades do pátio.
ÁREA ÚTIL 240
SUBTOTAL (m²)
Fonte: Elaborado pelo autor (2022).

Tabela 04 – Programa e Pré-dimensionamento Setor Alojamentos.

SETOR ALOJAMENTOS
Ambientes Atividades Quant. Área(m²) Área
total(m²)
Dormitório A Abrigar visitantes de 1 15 15
Dormitório B outras comunidades 1 30 30
Dormitório C em eventos. 1 30 30
Dormitório D 1 50 50
ÁREA ÚTIL 125
SUBTOTAL (m²)
103

Fonte: Elaborado pelo autor (2022).

Tabela 05 – Resumo total das áreas previstas para o projeto no pré-dimensionamento.

ÁREAS TOTAIS DOS SETORES


SETOR Área
total(m²)
SERVIÇO 215

CULTURA E EDUCAÇÃO 125


CONVIVÊNCIA 240
ALOJAMENTOS 125
ÁREA TOTAL (m²) 705
Fonte: Elaborado pelo autor (2022).

Desse modo, após essa etapa de estimativas de ambientes necessários


e suas respectivas áreas, foi possível chegar a uma previsão da área construída
do projeto e consequentemente do número de vagas de estacionamento que
seriam necessárias dispor no terreno e área necessária para tais. Essa foi uma
etapa decisiva para avançar no projeto, pois permitiu ter uma noção da
quantidade de área que cada setor ocuparia no zoneamento, sendo válido
também ressaltar que com o desenvolvimento do projeto algumas das
dimensões previstas foram modificadas em função de vários fatores, como
recuos do terreno, estrutura ou ligação entre ambientes.

5.3. O Conceito

Para o desenvolvimento do projeto também foi pensado um conceito que


conseguisse refletir a ideia de todo o estudo que veio sendo elaborado. Para
isso, foi feito um brainstorming com palavras que poderiam exemplificar a
intenção da proposta. A figura 53 a seguir mostra as palavras selecionadas.

Figura 53 – Brainstorming de palavras feito para elaboração do conceito.

Fonte: Elaborado pelo autor (2022).


104

A partir dessa etapa, foi possível chegar a uma palavra final que mescla
todas as mencionadas acima e permite traduzir a ideia proposta. Ficando,
portanto, definido como conceito do projeto a palavra “Costura”.

Figura 54 – Painel Conceito.

Fonte: Elaborado pelo autor (2022), com imagens do site Pinterest.

De acordo com as definições apresentadas pelos dicionários Oxford


Languages e Infopédia, o termo costura possui significados que vão desde o
simples ato de unir duas partes através de um fio/pontos, até atividade de
medicina e construção como mostra a Figura 55.

Figura 55 – Significados da palavra costura.

Fonte: Elaborado pelo autor (2022), com base em Oxford Languages e Infopédia.
105

Nesse sentido, a definição escolhida para o projeto permeia essas ideias


e surge tanto no sentido da proposta buscar unir a comunidade entre si e unir-
se com o meio em que está inserida, como também no significado de reparar,
principalmente os efeitos causados pela negligência ao longo do tempo. Além
disso, algumas definições subjetivas intencionadas pelo autor também visam
justificar a escolha do termo. Sendo elas:

• Quilombolas como fios que tecem o tecido da história da comunidade;


• A importância, o significado e a identidade dos tecidos na cultura
africana;
• A costura como atividade comunitária, algo que uma pessoa faz para
alguém;
Por fim, o conceito elaborado também possui relação com o partido
arquitetônico adotado como será especificado no item seguinte.

5.4. Evolução Formal e Partido arquitetônico

A forma da edificação evoluiu a partir de alguns zoneamentos iniciais,


feitos em função do pré-dimensionamento e das áreas listadas no programa.

Figura 56 – Zoneamento inicial 01, croqui feito à mão.

Fonte: Elaborado pelo autor (2022).


106

Esses zoneamentos, como mostra a Figura 56, foram desenvolvidos


primeiramente em croquis feitos à mão pelo autor e permitiram ilustrar as ideias
inicias de onde ficaria cada um dos setores no terreno. A partir do primeiro
zoneamento feito, já era possível identificar a intenção de dispor um pátio central
do setor de convivência com os outros setores dispostos aos seus lados, além
de que a partir das condicionantes mencionadas anteriormente, nesse momento
já surge a necessidade de se trabalhar com uma edificação com 2 pavimentos,
pois as dimensões dos ambientes seriam bastante prejudicadas para solucionar
todos os setores em um pavimento térreo com apenas 50% de ocupação
disponível, além dessa decisão possibilitar um melhor zoneamento e distribuição
dos espaços.

Nessa primeira ideia também já conseguimos entender a justificativa


inicial de posicionar os setores com ambientes de maior permanência
localizados de modo a receber a ventilação predominante. Além disso, no
desenho aparece ainda a trajetória do nascer e pôr do sol, que também afetou
onde locar alguns setores como o de serviço nas fachadas que receberiam mais
o sol da tarde.

Contudo, após análises e discussões foram identificados alguns pontos


negativos na ideia apresentada. O primeiro deles refere-se à posição do espaço
do Memorial, que foi colocado no pavimento superior, o que foi considerado
como uma decisão que dificultaria o acesso. Em seguida, o setor de alojamentos
com os dormitórios dispostos no térreo afetaria a privacidade e ainda ocuparia
parte considerável do espaço útil desse pavimento. Por fim, também foi
observado que o estacionamento posicionado na fachada frontal prejudicaria a
estética e a caminhabilidade da região frontal da edificação.
107

A partir dessas considerações, foram desenvolvidos outros zoneamentos


no mesmo estilo buscando solucionar esses pontos discutidos. A ideia 02,
apresentada na Figura 57, já demonstra evolução em alguns aspectos.

Figura 57 – Zoneamento inicial 02, croqui feito à mão.

Fonte: Elaborado pelo autor (2022).

A primeira mudança notável é de que a ideia do pátio central permanece,


porém agora com os ambientes dispostos no lado oposto. Essa modificação
permite com que a ventilação ainda entre e permeie todos os espaços e o pátio,
ao mesmo tempo que confere mais privacidade às atividades ocorridas nele.

Outras mudanças notáveis foram as seguintes: o memorial passa para o


pavimento térreo, tornando-se mais acessível; os dormitórios passam todos para
o pavimento superior numa área mais privativa; o estacionamento é movido para
a lateral do terreno, deixando a fachada frontal mais livre; por fim, o mirante
passa para uma área mais próxima do centro do pátio acima do memorial e ao
lado da circulação vertical, permitindo melhor interação com o mesmo.

Em um terceiro momento após novas análises feitas sobre a proposta


anterior, chegou-se ao zoneamento final. Dessa vez, apenas algumas questões
mais pontuais foram solucionadas como ilustra a figura 58:
108

Figura 58 – Zoneamento inicial 03, croqui feito à mão.

Fonte: Elaborado pelo autor (2022).

Nesse momento, os setores de Serviço e Alojamentos permanecem


basicamente com a mesma configuração. A mudança acontece mais
especificamente no setor de Cultura e Educação, que passa a ter as Salas
Multiuso unidas lado a lado na lateral. Além disso, surge a ideia de posicionar
uma árvore no pátio central, juntamente com a criação de um terraço superior
sobre a mesma. A função desse novo ambiente seria primeiramente de fornecer
uma área coberta e sombreada para o pátio, bem como para armar redes
próximas aos dormitórios e ter um segundo espaço contemplativo das atividades
que acontecem no pátio central.

Desse modo, esses zoneamentos iniciais desenvolvidos já ilustram o


partido arquitetônico adotado, definido como “dois blocos de alturas diferentes
que são costurados por um pátio central” trazendo também a intenção de
materializar na forma do projeto o conceito adotado, ilustrado de forma
volumétrica através da Figura 59 a seguir.
109

Figura 59 – Partido Arquitetônico adotado.

Fonte: Elaborado pelo autor (2022).

5.5. Implantação e Planta de Cobertura

A partir dos zoneamentos e estudos volumétricos desenvolvidos


chegamos à implantação final do projeto, que seguiu a lógica da última proposta,
sofrendo apenas algumas pequenas modificações que serão discutidas
conforme serão apresentados os desenhos das plantas e elevações. Por esse
motivo, para uma melhor compreensão e visualização das soluções adotadas, a
partir desse momento recomenda-se a leitura do trabalho acompanhado das
pranchas do projeto. Ainda assim, a seguir serão colocadas figuras com recortes
e legendas de acordo com cada etapa que está sendo abordada para ilustrar o
que está sendo dito no texto.

Para entender melhor a implantação do projeto, a figura 60 apresenta o


zoneamento final dos ambientes em 3D (sem cobertura), juntamente com as
condicionantes ambientais.
110

Figura 60 – Zoneamento volumétrico final do projeto com setores e condicionantes.

Fonte: Elaborado pelo autor (2022).

Ao nos determos à implantação final adotada, é possível perceber que a


disposição da edificação de modo mais longitudinal visa aproveitar melhor as
dimensões maiores do terreno. Como foi mencionado, os setores dispostos de
tal forma ainda permitem o melhor aproveitamento da ventilação e insolação.
Também é válido relembrar que a edificação foi pensada para ter 2 pavimentos
principalmente devido à taxa de ocupação máxima permitida (máx. 50%), que
dificultaria a locação de todos os ambientes em um único pavimento sem que
estes acabassem ficando com área bastante reduzida, afetando sua qualidade.

A partir da planta de locação e cobertura, conseguimos observar em


primeiro lugar a disposição do estacionamento com acesso pela lateral, as 18
vagas foram dispostas em 2 lances principais com 9 vagas de cada lado e faixa
de sentido duplo de direção ao centro para facilitar embarque e desembarque. O
piso do estacionamento é em concreto 100% drenante, visando auxiliar em outra
prescrição urbanística local, que exige o mínimo de 40% de área permeável do
lote. Além disso, foi proposto o sombreamento desse espaço e da outra lateral
da edificação utilizando vegetação de médio e pequeno porte, uma vez que esse
é um espaço bastante pavimentado, se faz necessário auxiliar na proteção
contra a radiação solar direta, além de proteger os veículos estacionados.
111

Figura 61 – Planta de Locação e Cobertura.

Fonte: Elaborado pelo autor (2022).

Na planta exposta na Figura 61, também vemos o sistema de cobertura


utilizado, que no caso foi o de Telhado Cerâmico Colonial, utilizando
madeiramento com terças, caibros, ripas e tesouras também em madeira para
apoio estrutural e garantia da inclinação de 30% adotada. Para coletar e
direcionar as águas pluviais foi adotado o sistema de calhas em alumínio para
todas as águas que se direcionam aos espaços internos e de utilização do
público. Para as demais calhas localizadas diretamente sobre as lajes, fica
sugerida a utilização de calhas em concreto.

Somado a isso, é importante mencionar aqui o reservatório superior, que


foi dimensionado a partir do cálculo da estimativa da quantidade de pessoas e
consumo diário por pessoa, utilizando a metodologia proposta por Creder (2006).
Definida a classificação por aproximação de “museus e bibliotecas” foi estimada
em função da área, uma população de 131 pessoas para o edifício.

Após saber a população, através do tipo de uso definido como “Alojamentos


provisórios” por abrigar dormitórios, foi estimado o consumo diário por habitante,
definido como 80 litros. Totalizando assim 10480L para a edificação. Tendo em
vista, que o recomendado é armazenamento por pelo menos 2 dias, temos como
capacidade final do reservatório 20960 litros. Devido ao elevado volume, o
112

reservatório foi dividido em duas partes, um inferior e um superior, resultando na


seguinte distribuição:

 Reservatório inferior (60% da capacidade) = 12000L


 Reservatório superior (40% da capacidade) = 9000L

Desse modo, para suprir a demanda foram utilizadas no superior 3 caixas


de fibrocimento de 3000 litros de capacidade cada, e para o inferior 4 caixas de
3000 litros cada, com utilização de bomba de recalque. A justificativa para tal
escolha se dá pela possibilidade de reduzir a altura necessária para os
reservatórios, além da facilidade de manutenção.

Por fim, o reservatório superior foi disposto imediatamente sobre os


blocos dos banheiros com objetivo de racionalizar os custos com instalações
hidrossanitárias, já o inferior foi disposto um pouco à esquerda abaixo do
estacionamento na intenção de facilitar o acesso, bem como de não atrapalhar
as instalações de esgoto dos banheiros.
113

5.6. Plantas baixas

PAVIMENTO TÉRREO
Figura 62 – Planta Baixa do Pavimento Térreo.

Fonte: Elaborado pelo autor (2022).

No pavimento térreo começaremos destacando os acessos do projeto,


sendo os principais localizados na Rua Mar da Galiléia. O estacionamento teve
papel fundamental para a definição desses acessos, uma vez que o Acesso
Principal da edificação ficou próximo ao dele, visando encurtar deslocamentos
realizados. Esse acesso nessa posição também se torna mediado pela recepção
e possui um maior controle de fluxos de circulação, fornecendo mais segurança
para o local e para a comunidade. O Acesso de Serviço também é feito a partir
do estacionamento, localizando-se nas proximidades do recuo posterior.
Somado a isso, tem-se também um acesso de pedestres para um passeio
localizado no recuo frontal da edificação, esse percurso tem objetivo de chamar
os usuários a se aproximar do prédio, aliado aos mobiliários e jardins locados
nesses trechos busca-se conseguir trazer mais urbanidade ao entorno.

Quanto aos ambientes, nesse pavimento temos como primeiro espaço


depois do acesso principal a Recepção e o Hall de entrada que visa fazer o
controle dos usuários que entram na edificação, além de prestar informações,
possuir local para espera e para exposição de produções artísticas da
comunidade. Em seguida, ao adentrar no projeto temos de um lado os blocos de
Banheiros Masculino e Feminino, além de um banheiro acessível para pessoas
114

com deficiência. Seguindo temos a Cozinha Comunitária que visa servir de


espaço para a produção de produtos que podem servir de geração de renda
como comidas típicas locais, além de possibilitar a realização de cursos e
eventos.

Na sequência temos ainda os depósitos finalizando o Setor de Serviços,


chegando na área coberta do Pátio Central e logo à frente temos a região
descoberta. O Pátio aparece como uma característica marcante do projeto por
ser o elemento central, este funciona como articulador de todos os ambientes
que o envolvem, fazendo a “costura” como sugere o conceito.

A intenção é de que essas áreas livres espaçosas, presentes na cultura


africana sejam utilizadas para o convívio da comunidade, bem como para a
realização de eventos, reuniões, festividades e práticas recreativas de um modo
geral. Com a intenção de trazer mais ainda essa cultura local para o projeto,
optou-se pela ideia de inserir nesse pátio uma Jurema (Mimosa hostilis), árvore
típica da região nordestina.5

Figura 63 – Recorte da Planta Baixa do Pavimento Térreo.

Fonte: Elaborado pelo autor (2022) imagem da árvore (Embrapa, 2010).

Outro destaque dessa área vai para a paginação de piso proposta,


dialogando com a paleta de cores e resgatando elementos geométricos da

5Também conhecida como catimbó, possui uma carga de significados por estar culturalmente associada às
comunidades indígenas e demais comunidades de origem africana, como o candomblé e a umbanda. É
considerada em algumas dessas crenças como árvore sagrada. Utilizada em cerimônias com fins religiosos
e terapêuticos, o consumo da Jurema é feito através de fumo com cachimbo ou bebida preparada a partir
das cascas da planta. Fonte: Revista História Viva, vol.6 – Cultos afros.
115

cultura africana, o cinza do piso em intertravado de concreto recebe uma nova


aparência através de uma pintura simples, que vem recheada de significados.
Serão especificados maiores detalhes sobre este no item de especificações.

No outro lado do térreo temos ainda a administração, local onde poderá


funcionar a gerência do espaço, bem como servir de espaço administrativo para
ACQMV. Seguida pela Circulação Vertical que é composta por uma escada
convencional em formato de L, somada a um espaço para locação de uma
plataforma elevatória. O formato adotado para escada busca tirar partido dos
elementos permeáveis dispostos na fachada principal do prédio, como cobogós
e brises verticais. Estimulando o usuário enquanto se desloca ter contato com o
meio externo além de sombras e luzes com formatos diferenciados,
enriquecendo essa zona de transição entre os pavimentos.

O próximo ambiente é o Memorial Dona Nazaré, espaço considerado


como o coração do projeto, por isso sua localização direta no centro de todos os
setores, conectado ao pátio central de fácil acesso. Nesse local pretende-se
desenvolver um espaço museográfico, contando com fotografias, artefatos e
objetos que homenageiam a matriarca local e a história da comunidade.

Por fim, temos as Salas Multiuso, com 3 tamanhos diferentes, podendo


se conectar entre si e com o Pátio Central. Nesses espaços a ideia é que sejam
utilizados para atividades diversas, sejam estas oficinas, cursos, eventos,
palestras, filmes dentre outros. A intenção é de que esses ambientes sejam
versáteis a ponto de responder a qualquer outra demanda da comunidade que
carece de espaços adequados até mesmo para fazer simples reuniões.

PAVIMENTO SUPERIOR

No segundo pavimento temos os setores dos Alojamentos, Serviços e


também de Convivência. O acesso a esses espaços se dá através da Circulação
Vertical que possui um portão na entrada para controle de quando esses
espaços podem ou não ser acessados e garantir mais de segurança ao edifício.
A Figura 64 ilustra a distribuição desses locais.
116

Figura 64 – Planta Baixa do Pavimento Superior.

Fonte: Elaborado pelo autor (2022).

Quanto aos ambientes, após a Circulação Vertical temos um mezanino


que faz a conexão entre todos os espaços do pavimento. Primeiramente à direita
temos o Mirante, a intenção foi conceder a esse local uma função dupla: ao
mesmo tempo que de sua altura é possível observar a Rua Mar da Galiléia, parte
dos sítios da comunidade e o horizonte da vegetação em direção ao Rio Pitimbu,
também deseja-se utilizá-lo como vista privilegiada para assistir as atividades
que estiverem sendo realizadas no Pátio Central.

Na sequência chegamos ao primeiro bloco de Dormitórios com um bloco


de Banheiros Masculino, Feminino e acessível, exatamente como os do
Pavimento térreo, porém contendo internamente mais chuveiros, visando
atender às necessidades dos usuários dos dormitórios. Estes que por sua vez
seriam destinados aos grupos de visitantes de outras comunidades, informação
vista ao analisar o programa da proposta de 2010, onde nas oficinas realizadas
foi relatada a preferência dos moradores por esse tipo de espaço para quando
fossem realizados eventos ou festividades, os membros terem onde se
hospedar, sem necessidade de recorrer a gastos com hotéis ou se afastar da
comunidade.

Para esses dormitórios foi pensado ainda layouts com várias camas das
quais várias poderiam ser do tipo beliche e/ou treliche para abrigar o maior
número possível de pessoas. Como outra demanda relatada pelos moradores
117

na época, foi requisitado um espaço para se armar redes, prática bastante


atrelada à cultura local. Para atender a essa questão foi pensado em propor o
Terraço Superior justamente para complementar essa função, com armadores
de rede que poderiam ser instalados nas paredes, elementos estruturais como
vigas, pilares e até mesmo na laje do teto, tanto do terraço superior como da
área sombreada gerada logo abaixo no pavimento térreo.

Figura 65 – Recorte da Planta Baixa do Pavimento Superior.

Fonte: Elaborado pelo autor (2022).

A partir da Figura 65, é possível observar ainda alguns pontos importantes


sobre esse pavimento: o primeiro deles trata dos vários elementos com função
estética e de proteção como os brises verticais retráteis que protegem os
dormitórios nas Fachadas Frontal e Lateral. A eficiência desses elementos será
demonstrada mais à frente nos estudos realizados. Somados a eles temos ainda
os cobogós em concreto próximos ao Mirante e os painéis artísticos que se
localizam na Fachada Frontal.

5.7. Cortes e Fachadas

Através dos cortes e fachadas conseguimos perceber a melhor a


aparência desses ambientes, sendo possível primeiramente destacar o pé direito
de 3,00m adotado para ambos os pavimentos. Essa escolha possui a justificativa
de tornar esses espaços mais confortáveis, uma vez que na maioria das vezes
seriam utilizados por várias pessoas, o pé direito mais elevado proporciona maior
118

sensação de amplitude ao espaço. Além disso, contribui com as questões de


conforto térmico, ao permitir com facilidade a instalação de esquadrias maiores
e de forros de gesso em todos esses ambientes.

Figura 66 – Trechos dos Cortes BB e Corte CC do projeto.

Fonte: Elaborado pelo autor (2022).

Através da figura 66 também é possível perceber o posicionamento dos


reservatórios, em especial do inferior, que como mencionado anteriormente, foi
locado bem próximo aos banheiros e ao reservatório superior para facilitar o
bombeamento. Sendo válido ressaltar também que essa disposição busca evitar
conflitos com as tubulações das instalações de esgoto previstas para ficar logo
abaixo dos banheiros.

É notável ainda a posição da escada em concreto com guarda corpos em


aço, alinhada com a plataforma elevatória. Sendo possível também observar
melhor as vedações permeáveis com os cobogós e brises que fazem o
fechamento desse espaço de circulação.

O corte CC mostra algumas áreas interessantes como o Memorial de


Dona Nazaré, com destaque para a parede onde é indicado que seja proposto
um grande mural fotográfico em homenagem à matriarca da comunidade.
Somado a isso conseguimos ainda ver os trechos cobertos e descobertos do
119

Pátio Central, bem como o terraço superior e o mezanino que faz a ligação entre
os ambientes desse segundo pavimento. Por fim, é exposto ainda o
madeiramento do telhado com seus componentes dispostos sobre as tesouras
que se apoiam sobre a laje.

Quanto às fachadas, trataremos primeiramente sobre a Frontal que por


estar localizada às margens da via frequentada pelos moradores, seria o primeiro
contato do usuário com o edifício. Desse modo, foi pensado para o projeto uma
área de destaque nessa região, que marcasse o acesso principal, estimulasse a
curiosidade e convidasse o usuário a se aproximar da edificação. Para isso,
utilizou-se dos próprios elementos estruturais como as lajes, pilares, paredes e
platibandas formando uma moldura para a linguagem que desejaria ser
destacada. Como ilustra a figura 67, é através da combinação entre os brises
verticais e o painel artístico na região superior da fachada que conseguimos
obter a ênfase para essa entrada.

Figura 67 – Fachada Frontal do Centro Comunitário.

Fonte: Elaborado pelo autor (2022).

A arte do painel artístico proposto para o canto superior direito foi


desenvolvida pelo autor com objetivo de trazer um pouco mais da identidade
africana para o projeto. Utilizando de cores marcantes aliadas às figuras negras
em situações festivas e ao mesmo tempo do cotidiano, buscam ilustrar também
um pouco das atividades e do público cujo espaço abrigaria. O trecho do painel
mais à direita se encontra em uma parede chanfrada (ver Perspectiva Realista
02 em prancha ou item final) e tem por objetivo justamente ser ainda mais visível
e chamativo ao usuário que está caminhando na rua em frente. Para maior
durabilidade essa região estaria protegida pelas marquises geradas pela laje e
ainda assim recomenda-se que a instalação seja feita utilizando adesivo plástico
com verniz para conferir maior resistência às intempéries.
120

É notável ainda o uso de esquadrias com peitoril mais elevado, a


justificativa para tal escolha se dá em função de garantir maior privacidade a
esses espaços internos, bem como pela decisão de utilizar da própria fachada
como limite, evitando a utilização de muros ou cercas nessa área frontal. Por
isso temos ainda duas outras paredes com aberturas limitadas, sendo uma delas
a que possui apenas a porta de entrada principal e a outra completamente cega
por abrigar a área do ambiente museográfico, assim é possível obter um melhor
controle da iluminação que entra no local.

A linguagem utilizada na Fachada Frontal foi transmitida para a da Lateral


Direita na intenção de se manter uma maior unidade nessas fachadas que
seriam as mais visíveis do projeto. A Fachada Lateral Direita possui ligação
direta com o estacionamento da edificação, estando em contato com os usuários
que forem parar os veículos ou mesmo se deslocar até o acesso de serviço, além
de ser vista por quem vem no sentido de volta da Rua Mar da Galiléia. Por isso,
é possível visualizar através da Figura 68 que sua aparência também foi
trabalhada com as molduras em concreto, utilizando dos elementos estruturais
juntamente com os mesmos brises verticais retráteis em madeira utilizados na
Fachada Frontal.

Figura 68 – Trechos das Fachadas Lateral direita e Posterior do Centro Comunitário.

Fonte: Elaborado pelo autor (2022).


121

Nessa lateral também é notável o volume central que os blocos de


banheiros juntamente com o reservatório superior ocupam, para amenizar o
impacto dessa verticalidade foram utilizadas esquadrias mais largas com
objetivo de trazer mais horizontalidade. Além disso, as platibandas seguindo a
ideia da fachada principal escondem os telhados e também ajudam a disfarçar
esse volume.

A justificativa para utilização dos cobogós e brises está relacionada


principalmente com a incidência da radiação solar, pois como visto nos estudos
de condicionantes, essa é a fachada que mais recebe o sol da tarde e por isso
foi conferida proteção extra para melhor utilização dos ambientes de maior
permanência. Além de manter a linguagem material do concreto e dos elementos
permeáveis utilizados no projeto.

Já na fachada posterior como esta é a menos vista e que menos sofre


com as condicionantes climáticas (pois recebe apenas o sol da manhã), nota-se
a ausência da preocupação com uso demasiado dos elementos de proteção
utilizados nas demais. Ainda assim, nota-se a manutenção da linguagem visual
da proposta, com mesmos materiais e os elementos estruturais expostos na
região do terraço, uma nova moldura também é utilizada na área com mais
aberturas para auxiliar no sombreamento.

Por fim, nessa última também é válido destacar os telhados expostos, na


área dos ambientes térreos mais à leste, estes inclusive se conectam entre si
por meio da utilização de rincões e espigões. Além disso, contam com paredes
contendo sheds com venezianas, essa foi uma estratégia utilizada para melhor
aproveitamento da ventilação predominante e será melhor detalhada junto com
as esquadrias e demais estratégias de conforto no item seguinte.
122

5.8. Soluções de Conforto e Esquadrias

Como foi visto, a NBR 15220 que trata do Desempenho Térmico nas
Edificações define a cidade em que se localiza o projeto como integrante da Zona
Bioclimática 08, e por isso direciona à essa zona algumas estratégias
relacionadas com o clima quente e úmido como por exemplo: Utilizar paredes
leves e refletoras, grandes aberturas para ventilação dos ambientes e fazer o
sombreamento adequado destas. É citado ainda como estratégia de
condicionamento passivo a ventilação cruzada permanente dos espaços.

Para atender tais medidas, a Norma sugere o posicionamento de


aberturas em fachadas opostas e com atenção para a direção da ventilação
predominante. Esse foi um tópico importante que foi levado em consideração
para as esquadrias do projeto. Uma vez que, como visto nos desenhos expostos
e ilustrado através da Figura 69, a maior parte das aberturas da edificação está
inserida nas direções com maior intensidade da ventilação predominante. Além
disso, para promover um melhor desempenho da ventilação cruzada, sempre
que possível foram utilizadas aberturas com tamanhos diferentes e em fachadas
opostas nos ambientes de maior permanência.

Figura 69 – Corte esquemático volumétrico mostrando a ventilação sobre as esquadrias.

Fonte: Elaborado pelo autor (2022).

Além disso, também é válido mencionar que a utilização de esquadrias


com venezianas em madeira tanto nas folhas como nas bandeirolas auxilia na
123

ventilação permanente dos espaços, uma vez que mesmo que estas estejam
fechadas, o ar consegue continuar circulando através das frestas. As venezianas
escolhidas para esses elementos também ajudam na iluminação natural, pois as
frestas permitem a entrada indireta de luz mesmo com as folhas fechadas,
permitindo aos usuários controlar a iluminação do ambiente, sem que a
ventilação seja muito prejudicada.

Através do corte esquemático apresentado também é possível entender


melhor o funcionamento dos sheds com venezianas aplicados nos telhados.
Direcionados perpendiculares à ventilação predominante, esses elementos
buscam utilizar desta para criar um colchão de ar abaixo dos telhados, realizando
o que a norma considera como ático ventilado. Estratégia que tem como função
amenizar o calor absorvido pela cobertura que seria transmitido para o edifício.

Figura 70 – Modelos base das janelas e portas venezianas utilizadas no projeto.

Fonte: Elaborado pelo autor (2022).

As bandeirolas se encontram presentes inclusive sobre as portas de


quase todos os ambientes, permitindo assim que a ventilação cruzada continue
funcionando mesmo que as portas sejam mantidas fechadas. Ainda sobre as
portas é importante mencionar as escolhidas para as Salas Multiuso no térreo
(Figura 70). Todas elas contam com essas esquadrias que são do tipo pivotante,
cujas folhas podem ser abertas completamente, possibilitando assim uma maior
integração entre essas salas e as atividades realizadas no Pátio Central.

Somado a isso, o outro tipo de porta que merece destaque são as internas
existentes entre as salas, essas por sua vez são do tipo camarão em madeira
com metal e isolamento acústico (Figura 71). Desse modo, o isolamento auxilia
124

para que os ruídos produzidos em uma sala não afetem a outra em momentos
de atividades separadas. Já para facilitar a integração entre estas, a esquadria
escolhida permite com que ao dobrada possamos conectar as três salas entre
si, gerando um grande ambiente amplo e compartilhado que ainda pode se ligar
ao pátio caso necessário.

Figura 71 – Exemplo de modelo de porta camarão a ser utilizada.

Fonte: Allmad Portas e Pisos.

Quanto ao sombreamento das esquadrias do projeto, foram


desenvolvidos estudos utilizando o software Solar Tool para simular o
comportamento da luz solar ao longo dos períodos do ano e dos horários. Como
as fachadas Frontal e Lateral Direita são as que mais sofrem efeito da radiação
solar, foram feitos estudos mais aprofundados testando o desempenho sobre
uma esquadria utilizando: (a) Proteção apenas do beiral/marquise, (b) Protetores
horizontais, (c) Protetores verticais inclinados. A figura 72 mostra os resultados
obtidos para o solstício de inverno e solstício de verão para cada uma das
fachadas.

Figura 72 – Simulações de insolação para as fachadas Frontal e Lateral Direita.

Fonte: Elaborado pelo autor (2022) utilizando o Solar Tool.


125

A partir das análises realizadas, chegou-se à conclusão de que o melhor


tipo de proteção para as fachadas Frontal e Lateral Direita seriam os protetores
verticais inclinados. Esse estudo teve papel essencial para a definição do
formato dos brises, os horizontais apresentavam desempenho até melhor para
o sombreamento, porém ficariam quase fixos e deixariam uma fração de céu
visível muito pequena para o ambiente interno. Desse modo, optou-se pelo
modelo de brises verticais inclinados retráteis utilizados na proposta final, estes
funcionam de forma móvel com o auxílio de um trilho e estrutura metálica e
podem ser adequados conforme à necessidade do dia.

Por fim, para as fachadas Posterior e Lateral Esquerda como estas


recebem muito pouca insolação, se restringindo apenas ao período do início da
manhã, limitamos as análises apenas ao sombreamento proveniente do telhado,
como mostram os estudos na Figura 73.

Figura 73 – Simulações de insolação para as fachadas Posterior e Lateral Esquerda.

Fonte: Elaborado pelo autor (2022) utilizando o Solar Tool.

Portanto, foi possível concluir que apenas o sombreamento proveniente


dos beirais dos telhados/marquises seria suficiente para proteção do sol matinal
que essas áreas recebem, evitando assim gastos adicionais com protetores para
pouco ganho na efetividade.

Por fim, frisa-se aqui a importância da atenção quanto à essas questões


de conforto térmico do ambiente, de modo que ao conseguir adotar a melhor
solução analisando as condicionantes naturais de forma correta, é possível criar
126

espaços confortáveis para os usuários sem a necessidade de condicionamento


artificial e consequentemente maiores gastos com energia elétrica.

5.9. Quadro de Áreas

Tabela 06 – Quadro de áreas finais e prescrições urbanísticas

Fonte: Elaborado pelo autor (2022).

Quanto às áreas finais do projeto, é válido destacar primeiramente a área


construída total finalizada em 744,14m²; a qual se distribui com mais de 60%
desse valor para os ambientes pavimento térreo e o restante no superior. Graças
a essa divisão em dois pavimentos, foi possível permanecer dentro da taxa de
ocupação máxima com uma boa margem. Note-se também que foram
adicionados à proposta final apenas cerca de 40m² a mais do que o previsto no
pré-dimensionamento. No mais, são atendidas perfeitamente as demais
prescrições urbanísticas impostas pelo Plano Diretor de Parnamirim (2013).

5.10. Sistema construtivo e Especificações gerais

Visando facilitar o processo de construção da proposta e a racionalização,


foram selecionadas técnicas construtivas e materiais tradicionais disponíveis na
região do projeto. Desse modo, o sistema estrutural adotado foi o de sapatas,
127

pilares, vigas e lajes de concreto armado, devido sua ampla aplicação no cenário
local, os custos seriam mais acessíveis do que optar por um sistema construtivo
que precisasse adquirir matéria prima e mão-de-obra de outras localidades.
Além disso, o concreto se destaca por sua durabilidade elevada e possibilidade
de utilização sem revestimentos.

Figura 74 – Perspectiva do sistema estrutural do Centro Comunitário.

Fonte: Elaborado pelo autor (2022).

Além disso é valido ressaltar que para contribuir na racionalização do


projeto foi utilizada para o sistema estrutural uma malha de eixos estruturais
(exposta nas plantas de cobertura/térreo) possuindo uma modulação de 1,0m.
Desse modo, utilizando múltiplos do módulo ou mesmo metade de um módulo
facilitou o diálogo entre as medidas e principalmente o posicionamento dos
pilares estruturais.

A disposição estrutural e consequentemente o formato dos ambientes


também foi feita levando em conta a metodologia do índice de compacidade de
Mascaró (2010), explicitada anteriormente. Ao utilizarmos de formatos mais
ortogonais, com menos recortes e nos recortes utilizar pouca profundidade, é
possível conseguir um melhor índice e tornar o projeto mais racional. Ao realizar
o cálculo, obteve-se o índice de 80,9% para o edifício, tendo em vista que o ideal
de qualidade é se aproximar dos 88,6% (índice do quadrado), o projeto encontra-
se com um índice de compacidade altamente positivo, podendo ser apontado
como mais um fator que contribui para sua economia.

Quanto às vigas foi proposta a utilização de um modelo retangular de


concreto armado com dimensões de 18x55cm. Para as lajes de piso e teto do
pavimento superior, na área do mezanino, dormitórios e banheiros, serão
128

utilizadas lajes simples com vigotas de concreto pré-moldadas e tavelas


cerâmicas para auxiliar no tempo de execução. Para as lajes localizadas sobre
o memorial e salas multiuso fica proposto o mesmo sistema, porém com uma
camada de isolamento térmico de 5cm, em função da laje do memorial não
possuir cobertura e receber a radiação térmica direta.

A escada do projeto será em concreto do tipo moldada in loco, e obedece


tanto a proporção sugerida pela fórmula de Blondel como a normativa do Corpo
de Bombeiros do Estado do Rio Grande do Norte que orienta largura mínima de
1,60m para a ocupação de reunião pública. A plafatorma elevatória seria em aço
inoxidável revestida com paredes de gesso acartonado (drywall) por motivos de
auxiliar na conservação.

As paredes são em alvenaria tradicional utilizando tijolinho cerâmico


maciço, que ficará exposto em sua aparência mais rústica em várias paredes e
em outras será utilizado revestimento com massa corrida e pintura na cor cinza
claro. A cor foi escolhida visando atender a recomendação da Norma, que sugere
que essas vedações sejam refletoras.

Já para as esquadrias as janelas serão em madeira, seguindo as


especificações descritas nos quadros de esquadrias das pranchas. Onde
algumas delas são todas venezianas, outras possuem folhas com vidro, sendo
recomendado a ambas os tipos eucalipto ou maçaranduba. A mesma lógica
segue para as portas, todas seguem a mesma recomendação do tipo de
madeira, mudando apenas o tipo entre veneziana ou laminada e o mecanismo
entre giro, correr, pivotante ou camarão.

Os guarda corpos sugeridos são em aço inox devido à durabilidade e não


necessitarem de pinturas. Para os trechos com vedação em cobogó recomenda-
se a utilização destes em concreto e de acordo o padrão do exposto no
moodboard ao final deste item. Já os gradis e portões metálicos vazados serão
em aço pintado na cor preta.
129

Figura 75 – Pintura sugerida para paginação do piso do Pátio Central.

Fonte: Elaborado pelo autor (2022).

Quanto aos pisos, para o Pátio Central foi proposta a utilização do


intertravado de concreto colorido, esse padrão sugerido poderia ser aplicado
posteriormente à instalação do piso, ou mesmo através da pigmentação dos
blocos de modo a formar o desenho desejado, a Figura 75 expõe as medidas
sugeridas para a paginação da arte, que também foi desenvolvida pelo autor,
seguindo a paleta da proposta.

Somado a isso, assim como no painel da fachada frontal, a arte elaborada


também traz a intenção de trazer um pouco mais cultura africana para este
espaço que possui grande importância para o projeto por funcionar como
elemento articulador entre os espaços. Uma identidade visual utilizando padrões
geométricos similares aos encontrados nos tecidos africanos busca através de
uma solução de baixo custo refinar a aparência do local sem fugir da temática.

Para o restante do térreo, foi pensado na utilização de contrapiso de


concreto com piso cimentício com alta resistência ao tráfego, nível PEI-5 (como
granilite por exemplo), para as áreas das salas, recepção e administração,
cozinha, depósitos e memorial. Com exceção dos banheiros onde fica sugerido
piso em porcelanato branco antiderrapante e também resistente ao tráfego.

Já para os pisos do pavimento superior, ao mezanino e terraço ficam


sugeridos também o mesmo piso cimentício utilizado no térreo, para o mirante é
130

indicado o mesmo, porém na cor branca, nos dormitórios e para os banheiros


recomenda-se o mesmo porcelanato branco antiderrapante dos blocos do térreo.

Quanto ao revestimento interno das paredes, para as áreas molhadas é


recomendado também um porcelanato branco, além disso em ao menos uma
das paredes das salas multiuso, do memorial e da administração fica sugerido
manter o tijolinho aparente para se obter uma parede de destaque. Para as
demais é recomendada a pintura com tinta acrílica na cor cinza claro.

Por fim, para o teto dos ambientes recomenda-se a utilização de forro de


gesso tradicional para os ambientes secos, já para os ambientes molhados fica
sugerido o forro de gesso classe “RU” que possui maior resistência à umidade e
pode durar mais tempo que o comum nesses ambientes. Para fechar o raciocínio
e demonstrar melhor a ideia da materialidade, foi elaborado um moodboard
ilustrativo com as intenções propostas.

Figura 76 – Moodboard com especificações gerais dos materiais utilizados no projeto.

Fonte: Elaborado pelo autor com imagens do site Pinterest.


131

5.11. Volumetria final

Figuras 77 e 78 – Perspectivas Realistas 01 e 02 do Centro Comunitário de Moita Verde.

Fonte: Elaborado pelo autor (2022).


132

Figuras 79, 80 e 81 – Perspectivas Realistas 03,04 e 05 do Centro Comunitário de Moita


Verde.

Fonte: Elaborado pelo autor (2022).


133

Figura 82, 83 e 84 – Perspectivas Realistas 06,07 e 08 do Centro Comunitário de Moita Verde.

Fonte: Elaborado pelo autor (2022).


134

Figuras 85 e 86 – Perspectivas Realistas 09 e 10 do Centro Comunitário de Moita Verde

Fonte: Elaborado pelo autor (2022).


135
136

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após as informações apresentadas neste estudo, se esclarece um pouco


mais sobre a complexa problemática que envolve as comunidades quilombolas
no nosso país. O anteprojeto do Centro Comunitário de Moita Verde aparece,
portanto, como um exemplo de solução que poderia utilizar da função social da
arquitetura para contribuir na vida desses grupos.

Desse modo, tem-se uma proposta projetual com várias características


destacáveis, das quais ressaltamos o cuidado com a conciliação entre qualidade
final do produto e estratégias focadas na redução do consumo de recursos em
todos os sentidos. Ao passo que se priorizou também a manutenção de uma
identidade que dialogue com o cenário e com a história local, onde o autor como
artista plástico busca através da arte e do resgate da cultura africana, fazer com
que o projeto possa se tornar um marco para a comunidade.

Para construção do trabalho, também foram encontrados vários percalços


como a dificuldade no contato com a comunidade, aliada às condicionantes
legislativas restritivas, foram situações que exigiram soluções criativas dentro do
tempo disponível para o estudo. Além de levar a algumas reflexões sobre como
problemas administrativos no poder público podem afetar negativamente ações
que poderiam fazer a diferença na qualidade de vida dos habitantes.

Relacionado a isso, outro ponto importante que foi observado diz respeito
à situação de instabilidade existente quanto a regularização dos territórios das
comunidades quilombolas no Brasil. É feito, portanto, um apelo aos governantes
e ao Estado por maior atenção para esses povos, por velocidade do andamento
desses processos de tramitação, bem como por medidas que facilitem essa
regularização. Apontando também a necessidade de reação e posicionamento
da comunidade estudada para seguir em busca de seus direitos.

Por fim, acredita-se que os objetivos propostos para este trabalho foram
atendidos, visto que foi possível desenvolver um projeto que se utiliza dos
princípios da racionalização e da arquitetura social para criar um espaço de
qualidade que visa contribuir para integrar e acolher a comunidade, bem como
resgatar e valorizar o patrimônio cultural existente em Moita Verde.
137
138

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143

APÊNDICES

APÊNDICE A:
Formulário informal elaborado pelo autor utilizando a plataforma Jotform, o
material utilizado para entrar em contato com a comunidade.

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