Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
NATAL/RN
2020
GÉRSICA VASCONCELOS GOES
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO
CAMINHAR NO CENTRO DA CIDADE DE FORTALEZA-CE
O presente trabalho insere-se na linha de
pesquisa de HISTÓRIA DA ARQUITETURA,
DO URBANISMO E DO TERRITÓRIO, com
foco na apreensão das áreas patrimoniais,
dentro da área de concentração de Urbanização,
Projetos e Políticas Físico-Territoriais.
Orientador: Prof. Dr. José Clewton do
Nascimento
Aprovada em: 17 de abril de 2020.
BANCA EXAMINADORA
________________________________________________________________
Prof. Dr. José Clewton do Nascimento – PPGAU – UFRN
(Orientador)
________________________________________________________________
Prof. Dr. George Alexandre Ferreira Dantas – PPGAU – UFRN
(Examinador Interno)
_________________________________________________________________
Profa. Dra. Natália Miranda Vieira Araújo – PPGAU – UFRN
(Examinadora Interna)
________________________________________________________________
Prof. Dr. Emanuel Ramos Cavalcanti – DARQ-UFRN
(Examinador Externo ao Programa)
________________________________________________________________
Profa. Dra. Berenice Abreu de Castro Neves – UECE
(Examinadora Externa à Instituição)
________________________________________________________________
Prof. Dr. Clóvis Ramiro Jucá Neto – UFC
(Examinador Externo à Instituição)
NATAL/RN
2020
Aos meus maiores incentivadores a seguir no
caminho dos sonhos, meus pais, Glória e
Gerval.
AGRADECIMENTOS
ABSTRACT
The research analyzes the importance of the practice heritage education based on walking.
The study discusses how walking in historical areas of Fortaleza´s centre provides the
recognition of roughness of the historical tissue. The research followed some courses
organized by professors and professionals linked to History, Tourism, Architecture and
Urbanism. The hypothesis of the present study is that, despite the physical conditions and
the neglect of the patrimonial property of Fortaleza, it is possible to practice patrimonial
education activities that contribute to the legibility of the cultural heritage. The
theoretical-methodological framework is the theme of linking urban form and city
apprehension discussed by authors such as Gordon Cullen (2006), José Lamas (2011),
Kevin Lynch (2006) and Camillo Sitte (1992). Another aspect discussed in the thesis is
walking as an instrument for the recognition of the city, authors such as Paola Jacques
(2012a) and Francesco Careri (2013b) clarify these issues. The discussions about cultural
tourism and the proposition of meaningful itineraries for the participants were based on
the writings of Flávia Costa (2014), Hermínia Vargas and Ricardo Paiva (2016). The
study is based on bibliographic, documentary and field research to understand the heritage
perception of the central area of the city. As for the results, it was observed that the
followed tours were essentially informative character, corroborating little to the creation
of narratives with the place. Thus, the research aims to propose a route methodology
(course and procedures), so that it is possible to establish a narrative character, which
weaves links between participants with the city's history, providing a panorama of
apprehension of the “resistant” historical fabric in the central area.
Figura 1 - Mapa com a área de estudo da pesquisa de tese. Fonte: Base em Autocad
concedida para a disciplina Projeto Urbanístico 4 (DAUUFC) pelo professor Almir Farias
e trabalhada pela autora (2015). ..................................................................................... 26
Figuras 2, 3, 4, 5, 6, 7 e 8 - Imagens do folder elaborado pela SETFOR. Fonte: SETFOR,
2020. ............................................................................................................................. 101
Figura 9 - Mapa afetivo da Praia de Iracema do projeto Revista Mapa. Fonte: Autora
(2019). .......................................................................................................................... 102
Figura 10 - Mapa afetivo da Praia de Iracema do projeto Revista Mapa. Fonte: Autora
(2019). .......................................................................................................................... 103
Figuras 11 - Revista Mapa sobre o Centro de Fortaleza. Fonte: Autora (2019). ......... 103
Figura 12 - Revista Mapa sobre o Centro de Fortaleza. Fonte: Autora (2019). ........... 104
Figura 13 - Palestra da professora Jacqueline sobre a Praça dos Leões e edifícios do
entorno. Fonte: Autora (2018). ..................................................................................... 109
Figura 14 - Início do percurso, a professora apresenta o Palácio da Luz. Fonte: Autora
(2018). .......................................................................................................................... 111
Figura 15 - Professora apresenta as características do Palacete Ceará. Fonte: Autora
(2018). .......................................................................................................................... 112
Figura 16 - Grupo atravessa a rua e apreende a arquitetura do Edifício L´escale. Fonte:
Autora (2018). .............................................................................................................. 112
Figura 17 - Estudantes se dirigem à Praça do Ferreira. Fonte: Autora (2018). ............ 112
Figura 18 - Grupo apreende o conjunto arquitetônico da Praça do Ferreira. Fonte: Autora
(2018). .......................................................................................................................... 113
Figuras 19 e 20 - Grupo caminha em direção ao último ponto e em seguida observam um
dos marcos arquitetônicos de Fortaleza, o Museu do Ceará. Fonte: Autora (2018)..... 114
Figura 21 - Grupo chega no Museu do Ceará. Fonte: Autora (2018). .......................... 114
Figuras 22 e 23 - Professora mostra a organização dos espaços do Museu. Fonte: Autora
(2018). .......................................................................................................................... 115
Figuras 26, 27, 28 e 29 – Gráficos obtidos a partir das respostas dos questionários. Fonte:
Autora (2020). .............................................................................................................. 117
Figura 30 - Percurso proposto pela professora Jacqueline. Fonte: Autora (2019). ...... 118
Figura 31 - Caminhada vivenciada pelo grupo. Fonte: Autora (2019). ........................ 120
Figura 32 - Gráfico com os percentuais dos aspectos negativos da experiência. Fonte:
Autora (2020). .............................................................................................................. 122
Figura 33- Gráfico com os elementos que foram mais observados na experiência. Fonte:
Autora (2020). .............................................................................................................. 122
Figura 34 - Gráfico com os aspectos positivos da experiência. Fonte: Autora (2020). 123
Figuras 35 e 36 – Gráficos que abordam os mapas mentais elaborados. Fonte: Autora
(2020). .......................................................................................................................... 124
Figura 37 - Mapas mentais do primeiro momento do percurso da professora Jacqueline
Oliveira Fonte: Autora (2018). ..................................................................................... 125
Figura 38 - Gráfico com a adesão ao 2° Questionário. Fonte: Autora (2020). ............. 126
Figura 39 - Gráfico que traz os lugares do Centro de Fortaleza-CE presentes na memória
dos participantes. Fonte: Autora (2020). ...................................................................... 126
Figuras 40 e 41 – Gráficos que abordam os mapas mentais elaborados. Fonte: Autora
(2020). .......................................................................................................................... 128
Figura 42 - Mapas mentais do segundo momento. Fonte: Autora (2018). ................... 128
Figura 43 - Grupo esperando para iniciar a caminhada. Fonte: Autora (2018). ........... 131
Figura 44 - Grupo forma uma roda de apresentação. Fonte: Autora (2018). ............... 131
Figura 45 - Início do percurso. Fonte: Autora (2018). ................................................. 132
Figura 46 - Grupo realiza uma parada para analisar a pintura dos muros da Fortaleza de
Nossa Senhora da Assunção. ........................................................................................ 133
Figura 47 - Explanação sobre a importância histórica do lugar. Fonte: Autora (2018).
...................................................................................................................................... 134
Figura 48 - Vista do entorno da Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção com a Catedral
de Fortaleza ao fundo. Fonte: Autora (2018). .............................................................. 134
Figura 49- Apreensão do entorno do Mercado Central. Fonte: Autora (2018). ........... 135
Figura 48 – Grupo se encaminha para a Praça Dom Pedro II. Fonte: Autora (2018). . 136
Figura 49 - Grupo observa os detalhes da Catedral. Fonte: Autora (2018). ................. 137
Figura 50 - Guia explicando sobre a importância histórica da Catedral. Fonte: Autora
(2018). .......................................................................................................................... 137
Figura 53 - Participantes vão para a lateral da Catedral para observar os vitrais da
edificação. Fonte: Autora (2018). ................................................................................. 137
Figura 54 - Vitrais da Catedral de Fortaleza. Fonte: Autora (2018)............................. 138
Figura 55 - Entorno da Catedral, com o Palácio do Bispo (sede da Prefeitura Municipal)
ao fundo. Fonte: Autora (2018). ................................................................................... 139
Figura 56 - Apresentação do entorno da Travessa do Crato e foco para o Raimundo dos
Queijos. Fonte: Autora (2018). ..................................................................................... 140
Figura 57 - Trabalhadores pintando a Travessa do Crato. ............................................ 140
Figura 58 - Guia explicando sobre a história da Praça Carolina e dos edifícios do entorno.
Fonte: Autora (2018). ................................................................................................... 141
Figura 59- Participantes vão para o Centro Cultural Banco do Nordeste e analisam a linha
do tempo da cidade. Fonte: Autora (2018). .................................................................. 142
Figura 60 - Guias mostram por onde o grupo já passou. Fonte: Autora (2018). .......... 142
Figura 61 - Discussão sobre a solução arquitetônica do conjunto. Fonte: Autora (2018).
...................................................................................................................................... 143
Figura 62 - Intervenções artísticas nas caixas de ar condicionado. Fonte: Autora (2018).
...................................................................................................................................... 143
Figura 63 - Grupo se encaminhando para Praça dos Leões. Fonte: Autora (2018). ..... 144
Figura 64 - Pausa no trajeto para avaliar a escadaria da Praça. Fonte: Autora (2018). 145
Figuras 65 e 66 - Grupo percorrendo a calçada estreita que margeia a Praça dos Leões e
a situação do Passeio no entorno da Praça. Fonte: Autora (2018). .............................. 145
Figura 67 - Explicação sobre o Museu do Ceará. Fonte: Autora (2018). ..................... 147
Figura 68 - Guias contextualizando sobre a história da Praça e suas curiosidades. Fonte:
Autora (2018). .............................................................................................................. 147
Figura 69- Grupo percorrendo a Praça dos Leões. Fonte: Autora (2018). ................... 148
Figura 70 - Grupo observa a estátua da Rachel de Queiroz. Fonte: Autora (2018). .... 149
Figura 71 - Grupo segue para a Praça do Ferreira. Fonte: Autora (2018). ................... 149
Figura 72 - Participantes chegam à Praça do Ferreira. Fonte: Autora (2018). ............. 150
Figura 73 - Praça do Ferreira. Fonte: Autora (2018). ................................................... 151
Figura 74 - Guias contam sobre a importância histórica do lugar. Fonte: Autora (2018).
...................................................................................................................................... 151
Figura 75 – Cine Teatro São Luiz. Fonte: Autora (2018). ........................................... 152
Figura 76 - Guia José Otávio conta sobre algumas personalidades que fizeram parte da
história da Praça do Ferreira. Fonte: Autora (2018). .................................................... 153
Figura 77 - Escultura representando a cultura de Fortaleza pertencente à Exposição
Cowparade Fortaleza. Fonte: Autora (2018). ............................................................... 154
Figura 78 - Guia solicitou que o grupo ficasse mais próximo e evitasse a dispersão ao
longo da caminhada para o próximo ponto. Fonte: Autora (2018). ............................. 155
Figura 79 - Grupo caminhando pela Rua Guilherme Rocha. Fonte: Autora (2018). ... 156
Figura 80 - Grupo chega à Praça José de Alencar. Fonte: Autora (2018). ................... 157
Figura 81 - Situação precária de caminhabilidade na Praça José de Alencar, onde os
participantes andam na rua por conta do espaço público estar densamente ocupado por
feirantes. ....................................................................................................................... 157
Figura 82- Grupo chega ao Theatro José de Alencar. Fonte: Autora (2018). .............. 158
Figura 83 - Participantes percorrem os jardins do Teatro. Fonte: Autora (2018). ....... 158
Figura 84 - Grupo atravessa a Praça José de Alencar. Fonte: Autora (2018)............... 159
Figura 85 - Caminhantes seguem pela Rua General Sampaio em meio aos veículos e
barracas dos ambulantes. Fonte: Autora (2018). .......................................................... 160
Figura 86 - O caminhar nas calçadas do Centro de Fortaleza - a disputa com comércio
ambulante. Fonte: Autora (2018).................................................................................. 161
Figura 87 - Grupo se aproxima da Estação João Felipe. Fonte: Autora (2018) ........... 162
Figura 88 - Praça da Estação. Fonte: Autora (2018). ................................................... 162
Figura 89 - Estação João Felipe. Fonte: Autora (2018)................................................ 163
Figura 90 - EMCETUR. Fonte: Autora (2018). ........................................................... 163
Figura 91 - Guias explicam sobre a importância histórica da Antiga Cadeia Pública.
Fonte: Autora (2018). ................................................................................................... 164
Figura 92 - Guias apresentam a frente marítima da área histórica de Fortaleza e algumas
comunidades tradicionais do entorno. Fonte: Autora (2018). ...................................... 164
Figura 93 - Participantes caminham para o último ponto - Passeio Público. Fonte: Autora
(2018). .......................................................................................................................... 165
Figura 94 - Grupo se aproximando do Passeio Público. Fonte: Autora (2018). .......... 165
Figura 95 - Guias contextualizando a importância histórica do Passeio Público. Fonte:
Autora (2018). .............................................................................................................. 166
Figura 96 - Encerramento da vivência. Fonte: Autora (2018). ..................................... 167
Figura 97 - Participantes respondendo o questionário da pesquisa. Fonte: Autora (2018).
...................................................................................................................................... 167
Figuras 98, 99, 100 e 101 - Gráficos obtidos a partir das respostas dos questionários.
Fonte: Autora (2020). ................................................................................................... 169
Figura 102 - Mapa da vivência elaborado pelos guias antes da atividade. Fonte: Larissa
Muniz (2018). ............................................................................................................... 170
Figura 103 - Percurso caminhado pelos participantes do Free Walking Tour Fortaleza.
Fonte: Autora (2019). ................................................................................................... 172
Figura 104 - Gráfico com os aspectos negativos da vivência. Fonte: Autora (2020)... 174
Figura 105 - Gráfico com elementos que mais marcaram a experiência. Fonte: Autora
(2020). .......................................................................................................................... 175
Figura 106 - Gráfico com os aspectos positivos da experiência. Fonte: Autora (2020).
...................................................................................................................................... 175
Figuras 107 e 108 - Gráficos que abordam a elaboração dos mapas mentais. Fonte: Autora
(2020). .......................................................................................................................... 177
Figura 109 - Mapas mentais do primeiro momento do Free Walking Tour Fortaleza.
Fonte: Autora (2018). ................................................................................................... 177
Figuras 110 e 111 - Gráfico que aborda as respostas do segundo questionário. Fonte:
Autora (2020). .............................................................................................................. 178
Figuras 112 e 113 – Gráficos sobre os dados dos mapas mentais do segundo questionário.
...................................................................................................................................... 180
Figura 114 - Mapas mentais do percurso do Free Walking Tour no segundo momento.
Fonte: Autora (2018). ................................................................................................... 180
Figura 115 - Mapa com os bens tombados e de relevância patrimonial. Fonte: GOES
(2015). .......................................................................................................................... 188
Figura 116 - Mapa com o Roteiro proposto na Tese. Fonte: Monitora de Conservação
Integrada 2019.1, Thais Vieira (2019), adaptado a partir da dissertação de Gérsica Goes
(2015). .......................................................................................................................... 189
Figura 117 – Folder entregue aos participantes antes da vivência. Fonte: Monitora de
Conservação Integrada 2019.1, Thais Vieira (2019), adaptado a partir da dissertação de
Gérsica Goes (2015). .................................................................................................... 192
Figura 118 - Material utilizado na vivência do percurso proposto. Fonte: Autora (2019).
...................................................................................................................................... 194
Figura 119 - Passeio Público de Fortaleza. Fonte: Autora (2020)................................ 195
Figura 120 - Mapa atualizado da proposta de roteiro. Fonte: Porão Ateliê Criativo,
baseado em informações de Goes (2015). .................................................................... 196
Figura 121 - Mapa com o percurso vivenciado. Fonte: Porão Ateliê Criativo, baseado em
informações de Goes (2015). ........................................................................................ 197
Figura 122 - Participantes no primeiro ponto do percurso - Passeio Público. Fonte: Ana
Cecília Vasconcelos (2019). ......................................................................................... 198
Figura 123 - Imagem histórica do Passeio Público. Fonte: Fortaleza em Fotos -
http://www.fortalezaemfotos.com.br/2010/08/um-olhar-sobre-o-passeio-publico-
por.html. ....................................................................................................................... 200
Figura 124 - Sobrado José Lourenço. Fonte: Autora (2020). ....................................... 200
Figura 125 - Praça Waldemar Alcântara e entorno. Fonte: Autora (2020). ................. 201
Figura 126 - Imagem histórica do Mercado da Carne. Fonte: Museu da Imagem e do Som.
...................................................................................................................................... 202
Figura 127- Participantes discutindo sobre a história dos mercados em Fortaleza. Fonte:
Ana Cecília Vasconcelos (2019). ................................................................................. 202
Figura 128 - Apresentação sobre a arquitetura art déco do Palácio do Comércio. Fonte:
Ana Cecília Vasconcelos (2019). ................................................................................. 203
Figuras 129 e 130- Imagens da Praça dos Leões na atualidade. Fonte: Autora (2020).204
Figura 131 - Imagem histórica da Praça dos Leões. Fonte: Fortaleza em Fotos -
http://www.fortalezaemfotos.com.br/2014/02/apenas-uma-velha-praca-do-centro.html.
...................................................................................................................................... 205
Figura 132 - Discussão sobre a importância da Praça dos Leões - General Tibúrcio. Fonte:
Ana Cecília Vasconcelos (2019). ................................................................................. 206
Figura 133 - Praça do Ferreira na contemporaneidade. Fonte: Autora (2020). ............ 207
Figura 134 - Último ponto da caminhada - Praça do Ferreira. Fonte: Ana Cecília
Vasconcelos (2019). ..................................................................................................... 207
Figura 135 - Praça do Ferreira nos anos de 1930. Fonte: Museu da Imagem e do Som.
...................................................................................................................................... 209
Figuras 136 e 137 - Participantes inserindo suas percepções sobre a experiência e sobre o
Centro de Fortaleza. Fonte: Autora (2019). .................................................................. 210
Figura 138 - Mapa síntese da vivência. Fonte: Autora (2019). .................................... 210
Figura 139 - Folder do Circuito Cultural do Patrimônio no Centro de Fortaleza. Fonte:
Porão Ateliê Criativo a partir da dissertação de Gérsica Goes (2015). ........................ 215
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Quadro resumo com as etapas da tese. Fonte: Autora (2018). ..................... 39
Quadro 2 – Quadro com a estrutura da tese. Fonte: autora (2018). ................................ 42
Quadro 3 – Comparação entre os autores Bradshaw (1993), Santos (2003) e Speck (2016).
Fonte: Autora (2017). ..................................................................................................... 66
Quadro 4 – Quadro elaborado por Jan Gehl associando a qualidade física do lugar e as
atividades desenvolvidas, adaptada pela autora (GEHL, 2013b, p.19). ......................... 67
Quadro 5 - Comparativo entre roteiros mindful e mindeless. Fonte: Costa (ANO, p.89-
90). .................................................................................................................................. 86
Quadro 6 - Profissionais responsáveis pelos roteiros guiados no Centro de Fortaleza- CE.
Fonte: Autora (2018). ................................................................................................... 107
Quadro 7 - Análise da caminhabilidade do percurso das Disciplinas de História da Arte e
da Arquitetura. .............................................................................................................. 121
Quadro 8 - Análise do Roteiro das Disciplinas de História da Arte e da Arquitetura. . 129
Quadro 9 - Análise da caminhabilidade do percurso do Free Walking Tour Fortaleza.
...................................................................................................................................... 173
Quadro 10 - Análise do Roteiro do Free Walking Tour Fortaleza. .............................. 182
Quadro 11 - Proposta metodológica de caminhada cultural em áreas históricas. Fonte:
Autora (2020). .............................................................................................................. 216
LISTA DE SIGLAS
1. INTRODUÇÃO ............................................................................. 21
1.1 PROBLEMÁTICA ..................................................................................... 21
GERAL .............................................................................................................. 29
ESPECÍFICOS .................................................................................................. 29
1. INTRODUÇÃO
1.1 PROBLEMÁTICA
1
A autora trata sobre eventos de ruas no que tange à dinamicidade e a potencialidade dessas atividades para
a cidade.
22
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
2
O trabalho em questão foi defendido em abril de 2015 sob orientação do prof. Dr. José Clewton do
Nascimento. O estudo é integrante da linha de pesquisa História da Arquitetura, do Urbanismo e do
Território, do Programa de Pesquisa de Pós-graduação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(PPGAU-UFRN).
3
Este estudo acerca dos bens de valor patrimonial foi elaborado anteriormente na dissertação da
pesquisadora. O trabalho foi embasado na análise sequencial (CULLEN, 2006; PANERAI, 2014) onde
foram constituídos percursos no Centro de Fortaleza, que identificavam os valores patrimoniais existentes
na forma urbana (GOES, 2015).
4
Ressalta-se que passados cinco anos da conclusão da pesquisa de mestrado, alguns bens que foram
identificados à época da dissertação foram descaracterizados ou demolidos por conta do acelerado processo
de transformação e de pressão do mercado imobiliário em Fortaleza.
23
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
5
Apesar de Fortaleza ter sido alçada à categoria de Vila em 1726, se constituindo como sede administrativa
da Capitania do Ceará, ela não possuía uma relevância no quadro socioeconômico ao longo do século XVIII
(LEMENHE, 1991), havendo pouco investimento para a construção e manutenção de edificações
representativas da época. Isso pode ser um dos fatores que contribuíram para a escassez de bens que foram
preservados até os dias atuais.
6
Para um maior aprofundamento da temática recomenda-se a leitura do livro “Incorporação da metrópole:
transformações na produção imobiliária e do espaço na Fortaleza do século XXI”, de autoria da profa. Dra.
Beatriz Rufino (2016), objeto de sua tese de doutorado (FAUUSP).
24
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
7
O Plano Municipal de Caminhabilidade segue em elaboração. O grupo técnico teve os trabalhos iniciados
em 2017. A pesquisadora fez parte dos trabalhos durante o ano de 2018. Foram elaborados os produtos:
Cartilha “As calçadas que queremos”; Manual Técnico para calçadas; Caderno de Memórias; Caderno de
Estratégias; Caderno de Participação Social e Caderno de Financiamento. Atualmente, há uma portaria
regulamentando o trabalho do grupo técnico (PORTARIA SEUMA N° 10/2020) intitulado de Rede
Interdisciplinar e Intersetorial, vigente até dezembro de 2020.
8
O Fortaleza 2040 é um plano elaborado pelo Instituto de Planejamento de Fortaleza (IPLANFOR), cujo
objetivo é tornar a cidade mais justa e igualitária em 24 anos. O documento foi entregue em dezembro de
2016 e em janeiro de 2017 foram iniciadas as ações do plano. Nele há sete eixos, os quais o de
Desenvolvimento da Cultura e do Conhecimento. Na linha de ação “Patrimônio cultural e memória”, há
uma meta de criar roteiros históricos e culturais no Centro de Fortaleza até 2020. A Secretaria Municipal
do Turismo de Fortaleza (SETFOR) articulou com a Secretaria de Cultura de Fortaleza (SECULTFOR) e
o Centro Cultural Banco do Nordeste (CCBNB) para a consolidação dessa ação. A proposta é oficializar as
caminhadas culturais guiadas pelo turismólogo Gerson Linhares no bairro. Os roteiros propostos foram
transformados em folders e serão apresentados no quarto capítulo da tese.
25
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
Figura 1 - Mapa com a área de estudo da pesquisa de tese. Fonte: Base em Autocad concedida para a
disciplina Projeto Urbanístico 4 (DAUUFC) pelo professor Almir Farias e trabalhada pela autora (2015).
1.2 OBJETIVOS
GERAL
ESPECÍFICOS
1.3 JUSTIFICATIVA
ritmo do andar a pé é outro; é a chamada “arquitetura a 5km/h” defendida por Jan Gehl
(2013), ao compará-la com o tempo do carro ou com os demais modos de transporte. O
estudo vai ao encontro desse olhar, trabalhando na perspectiva da valorização do
caminhar, do pedestre e da percepção do patrimônio.
(Re)conhecer a representatividade do acervo patrimonial arquitetônico e
urbanístico na área histórica de Fortaleza é fundamental para que se estabeleçam
ferramentas para a preservação desse conjunto urbano. Constatou-se que, embora o bairro
possua esse acervo que ratifica a história urbana da cidade, não é mais possível que haja
a apreensão dessa região como um conjunto unificado, devido ao processo contínuo de
descaracterização e/ou destruição das edificações históricas.
Verificou-se que os percursos propostos pelos roteiros culturais são
estruturados a partir do sistema de espaços públicos que existem no setor. As praças e
parques atuam como subconjuntos articulados que possibilitam trilhar um circuito pela
Fortaleza antiga. Destaca-se esse caráter patrimonial do bairro, principalmente pela
legitimação dessas permanências através dos órgãos de proteção das três instâncias
governamentais, (municipal – Secretaria de Cultura de Fortaleza – SECULTFOR;
estadual – Secretaria de Estado de Cultura – SECULT; e federal – Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional – IPHAN), que se utilizaram do instrumento do
tombamento9 para a salvaguarda de diversas edificações e equipamentos localizados na
área.
9
O tombamento é uma ferramenta de proteção dos bens que possuem valor patrimonial. Foi instituído no
Brasil a partir do decreto federal nº 25/1937. Atualmente, pode ser aplicado nas esferas municipal, estadual
e federal. O principal objeto do tombamento é evitar a destruição parcial ou total do patrimônio cultural,
preservando-o para as gerações futuras (BRASIL, 1937).
33
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
realização dos roteiros, que visam (re) conhecer o Centro de Fortaleza. Quanto ao aporte
teórico, utilizou-se da morfologia urbana (com enfoque no estudo dos espaços para o
caminhar) e a percepção ambiental (para a compreensão da representatividade dos
espaços históricos), caracterizando dessa forma uma abordagem multimetodológica. A
seguir serão explicitados os passos metodológicos da pesquisa.
A pesquisa bibliográfica foi embasada a partir dos autores Margarida Andrade
(2019), Clóvis Ramiro Jucá Neto (2012) e Maria Auxiliadora Lemenhe (1991), no que
diz respeito à formação do patrimônio fortalezense. Gordon Cullen (2006), Maria
Kohlsdorf (1996), José Lamas (2011), Philippe Panerai (2013)/(2014), Aldo Rossi (2001)
e Camillo Sitte (1992), como contribuições da forma e narrativa urbana. Walter Benjamin
(1989), Henry-Pierre Jeudy (2010), Paola Jacques (2012a), Clewton do Nascimento
(2013) e Francesco Careri (2013b), como referências para a temática da apreensão urbana
através do caminhar. Jeff Speck (2016) e Roberto Ghidini (2011) são autores que
concedem uma abordagem sobre a caminhabilidade, conceituando-a e estabelecendo os
principais elementos para analisar um lugar. Zulmira Bomfim(2003), Gleice Elali et al.
(2011), Jan Gehl (2013a), Kevin Lynch (2006) e Denise Jodelet (2002) na construção do
referencial da percepção do espaço. As discussões quanto ao turismo cultural e a
proposição de roteiros significativos para os participantes foram fundamentadas e
apoiadas pelos escritos de Flávia Costa (2006), Hermínia Vargas e Ricardo Paiva (2016).
Françoise Choay (2006), Leonardo Castriota (2009), Flávio Carsalade (2014), Márcia
Sant´anna (2004), Salvador Muñoz Viñas (2005), Natália Vieira (2008), pela inserção no
estudo do patrimônio, dentre outros autores, que fornecem subsídios para aprofundar a
questão da preservação e da compreensão de áreas de valor patrimonial. Carmem Gil
(2014), Cecília Londres (2012), Jacqueline Moll (2009) e Flávia Costa (2014)
corroboraram com a fundamentação teórico-metodológica dos caminhos da educação
patrimonial, discutindo os aspectos práticos e acadêmicos do tema norteador do trabalho.
Quanto às etapas da pesquisa, inicialmente foram mapeados alguns grupos de
guias e professores dos cursos de Arquitetura e Urbanismo, Geografia, História, Turismo
e Psicologia Ambiental que organizam caminhadas com intuito de
34
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
compreender/apresentar aos participantes a área estudada (Etapa 01). Após essa fase de
catalogação de quem são esses profissionais, foram selecionados alguns circuitos para
captar se a forma urbana da área de estudo favorecia a realização dos percursos a pé (Etapa
02). Nessa etapa, foram observados os elementos da caminhabilidade10 que interferem
diretamente no proporcionar a experiência do caminhar.
Em seguida, foram identificadas as principais rotas traçadas e inferiu-se sobre
quais os motivos que justificam o delineio desses percursos, quais os métodos utilizados
nas caminhadas, qual o público alvo desses roteiros. O trabalho de Denise Alcantara
(2008) contribui significativamente nesse aspecto, pois na tese a autora fundamenta uma
técnica chamada de “abordagem experimental” e na “observação incorporada”, que
defende a inseparabilidade do observador da realidade. O objetivo dessa etapa foi
compreender qual a visão que se tem sobre a cidade como patrimônio cultural e suas
rugosidades na delimitação dos circuitos sobre a área (Etapa 03).
Após essa fase de identificação dos responsáveis pelos trajetos, iniciou-se a
próxima etapa do trabalho, cujo enfoque se deu nos participantes das experiências (Etapa
04). Objetivando apreender a percepção patrimonial dos caminhantes, a pesquisadora se
apresentou e aplicou um questionário semiestruturado, que continha a aplicação de mapas
mentais11. Ressalta-se que a metodologia da pesquisa estabelece que sejam empregados
dois questionários: o primeiro, logo após a vivência, visando capturar as impressões
iniciais da experiência; o segundo, cerca de dois meses depois para observar as
reminiscências da atividade que foram incorporadas na memória dos participantes.
Quanto às questões aplicadas aos respondentes, pensou-se em inserir
perguntas direcionadas ao tema do patrimônio cultural. O primeiro questionário
10
Esses elementos serão elucidados com maiores detalhes no tópico que aborda a temática da
caminhabilidade, mas em termos gerais nota-se que, para um ambiente ser seguro e incentivar a prática do
andar a pé, necessita principalmente de segurança na travessia do pedestre; calçadas adequadas; fachadas
ativas e conforto quanto às intempéries.
11
Consistem em instrumentos de análises em que estão expressas as inter-relações entre homem e ambiente.
No caso da presente pesquisa, eles foram aplicados visando à compreensão da percepção dos valores
patrimoniais.
35
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
Google Forms12 e este foi enviado para os contatos registrados pelos respondentes. Por
ser um aplicativo online, não foi solicitada a elaboração de mapas mentais aos
respondentes, a elaboração de mapas mentais.
A partir da aplicação dos mapas mentais acredita-se que foi possível verificar
se há representatividade do lugar para o indivíduo e qual resposta foi dada ao percurso
realizado. Em seguida, para apreender a imagem intersubjetiva13 do grupo, foram
superpostos os mapas mentais realizados e/ou resultados que atestem predominâncias de
incidências de determinados elementos (Etapa 05). Segundo Maria Elaine Kohlsdorf
(1996), “A comparação dos mapas mentais com aerofotos ou representações cartográficas
elaboradas da situação que se considera permite que se veja em quais aspectos coincidem
informações objetivas com aquelas consolidadas na imagem das pessoas”.
(KOHLSDORF, 1996, p.118).
A questão da experiência urbana foi tratada como um caráter multidisciplinar.
O método da tese se aproxima ao que foi utilizado no artigo “O corpo idoso nas ruas e
praças do Centro de João Pessoa: Experiências urbanas no espaço público requalificado”,
de Marcela Dimenstein e Jovanka Baracuhy Cavalcanti Scocuglia (2015). Na pesquisa,
as autoras analisaram como os idosos se apropriam do espaço da área central histórica de
João Pessoa. A metodologia do estudo foi pautada em:
[...] uma visão arquitetônico-urbanística, levando em consideração que este
campo é em si também abrangente e inclui não apenas suas construções físicas
concretas, mas a forma como a cidade é percebida pelo sujeito, como ela é
vivenciada. Todavia, faz interface com outras áreas do saber como a
sociologia, geografia, psicologia ambiental, antropologia e com recursos
metodológicos tais como fotografia, desenhos, observações de campo e
12
É um dos aplicativos disponíveis na plataforma Google que se caracteriza por produzir questionários,
que podem ser compartilhados para e-mails e aplicativo de mensagens (whatsapp).
13
O conceito de intersubjetividade pode ser compreendido a partir de três interpretações. A primeira possui
o sentido de convergência interpessoal, por exemplo, um grupo de pessoas que estão continuamente
exercendo atividades que se ajustam e sintonizam expressões e estados afetivos. O segundo entendimento
trata da relação entre os sujeitos e o objeto. O terceiro é definido pela apreensão da comunicação através
de elementos representativos, possibilitando conhecer, idealizar e inferir os chamados “estados mentais”
dos sujeitos (BRATEN, 1998 in NOGUEIRA et al., 2007). A última acepção corresponde ao alinhamento
da presente pesquisa.
37
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
A autora (1999) justifica que para a elaboração da pesquisa foi preciso utilizar a
abordagem de métodos qualitativos. Foram elaboradas entrevistas (gravadas e guiadas
por um roteiro semiaberto), além disso as reações dos entrevistados diante das perguntas
e reflexões acerca do tema. Portanto, risos e silêncios também fizeram parte da análise.
A entrevista tinha os seguintes questionamentos:
[...] quais lugares de João Pessoa podem ser pensados como os que dão o
caráter e a singularidade, a cara, enfim, da cidade? A pouca clareza e a
amplitude da questão, e a possível demanda por explicações, com a suscetível
exposição da pesquisadora, implicou na sua substituição por: ao receber um
visitante, a que lugares o levaria para mostrar a cidade? Esta última formulação
invencionou a facilitação de uma decodificação imediata pelos entrevistados,
não suscitando, como se verificou, maiores questões de entendimento.
(HONORATO, 1999, p.33).
serem convidados para falar sobre João Pessoa, tornou reconhecido o conhecimento que
os entrevistados possuem sobre a cidade, gerando um verdadeiro fascínio nos produtores
por terem sido identificados como potenciais informantes da história/memória da capital
paraibana. Nas palavras da autora:
Propriedade, como re-conquista da cidade que teme perder (e que se perca), ou
enquanto posse expressa. Não parece valer apenas ser da cidade; mas,
sobretudo, dela sendo, poder dela falar. Falar sobre pressupõe de certo modo o
conhecimento (conhecimento enquanto presença, testemunho - eu sei, eu
estava lá, eu sou de lá); o conhecimento derivado da empinai e caracterizando
uma propriedade. Ser meio dono senão totalmente. (HONORATO, 1999, p.39)
01 Mapear os grupos de guias e professores dos cursos Identificar os agentes dos percursos
de Arquitetura e Urbanismo, Geografia, História, culturais e selecionar quais serão os
Turismo e Psicologia Ambiental. acompanhados pela pesquisa.
02 Identificar quais as principais rotas traçadas e inferir Apreender metodologicamente
sobre os motivos que justificam o delineio desses sobre os percursos que acontecem
percursos, os métodos utilizados nas caminhadas e o na área de estudo.
público-alvo desses roteiros.
14
Essa prática de turismo será discutida de forma pormenorizada no referido capítulo. Em linhas gerais
caracteriza-se por ser uma vertente que visa apreender os aspectos socioculturais de um lugar.
41
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
Turismo cultural.
Erica Schenkel, Flávia Costa,
Heliana Vargas, Ricardo
Paiva.
[...] Necesitamos, por ejemplo, caminar, ver gente, estar con gente. Y la ciudad
debe tener características que propicien ese contacto con otros. Una ciudad
es sólo um médio para una manera de vivir (Enrique Peñalosa)15.
15
Enrique Peñalosa no Prólogo do livro “La humanización del espacio urbano – La vida social entre los
edifícios” de Jan Gehl (2013, p.7): “Necessitamos, por exemplo, caminhar, ver gente, estar com gente. E a
cidade deve ter características que propiciem esse contato com os outros. Uma cidade é só uma forma para
modo de vida.” (tradução da autora).
16
O termo urbanidade se refere às qualidades inerentes a uma cidade. Ela é uma condição que envolve
tanto o espaço físico quanto os comportamentos de seus cidadãos. Por uma boa urbanidade, subentendem-
se em espaços públicos agradáveis, pouca segregação socioespacial e uma dinâmica urbana com vitalidade
(HOLANDA, 2003 apud AGUIAR, 2012).
45
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
17
“Enquanto que na cidade medieval, com seu desenho e suas dimensões, congregava pessoas e eventos
nas ruas e praças, e estimulava a circulação do pedestre e de espaços no exterior, as zonas suburbanas e os
projetos de edificações funcionalistas faziam exatamente o contrário”. (tradução nossa)
46
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
18
A obra “Charles Baudelaire um lírico no auge do capitalismo” foi escrita entre os anos de 1937 e 1939.
O trabalho compilado e traduzido para o português tem a primeira edição em 1989.
19
João do Rio é um dos pseudônimos de João Paulo Barreto. A obra “A alma encantadora das ruas (1908)”
de João do Rio, concede suporte à presente pesquisa. O autor perfazia seus caminhos no Rio de Janeiro do
início do século XX. A capital fluminense e do Brasil encontrou na figura do prefeito Pereira Passos,
influenciado pelas transformações parisienses de Haussmann em meados do século XIX, a
operacionalização das modificações em seu traçado urbano.
47
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
estão à margem do sistema. Ressalta-se que a temática do presente estudo não se trata de
propor uma metodologia de práticas erráticas, mas sim de um caminhar orientado com
enfoque na discussão do patrimônio cultural. Parafraseando o arquiteto italiano Francesco
Careri (2017), o caminhar pode ser compreendido como uma atitude democrática de
reintegrar-se ao espaço público, ocupar a cidade, proporcionando de alguma maneira uma
revolução. A seguir, será elaborado um panorama abordando o percurso histórico da
questão do andar no espaço urbano.
A prática do caminhar nas cidades foi uma experiência que ocorreu ao longo
de todo o século XX. No ano de 1921, um movimento ligado ao dadaísmo organizou na
França um conjunto de “visitas-excursões” aos espaços mais triviais de Paris. Esse se
constitui o primeiro momento em que a arte rejeitou os espaços mais nobres da cidade e
foi ao encontro da alteridade urbana (CARERI, 2013b).
A temática adquiriu novos enfoques na década de 1950, no contexto da
Internacional Situacionista em 1957, onde se legitimou que a ação de “deambular-se e
perder-se” na cidade era uma possibilidade da antiarte e uma forma de subversão do
sistema capitalista do pós-guerra. Para eles, o caminhar sem rumo conduziria a uma
“construção consciente e coletiva de uma nova cultura” (CARERI, 2013b). Desse
movimento, surgiu um grupo que materializava a experiência do deambular através de
mapas psicogeográficos. Ressalta-se que essa cartografia não expressava a descrição
fidedigna dos percursos vivenciados, mas as emoções e sentimentos que o flanar suscitava
nos participantes (CARERI, 2013b).
Dessa forma, pode-se inferir a importância dessas experimentações para o
conhecer áreas da cidade que são objetos tradicionais de “repulsa e preconceito”; as trilhas
urbanas são estabelecidas a partir dos arquétipos do que seria o ideal ou a boa imagem do
lugar. Ao conduzir os caminhantes para espaços de alteridade (à deriva da cidade
tradicional), permite-se a construção de um novo olhar e compreensão do significado
dessas zonas para a cidade. Essa prática é conhecida como errância urbana.
Francesco Careri e Paola Jacques criticam o modelo do urbanismo
tradicional, em que o urbanista elabora estudos a partir de diagnósticos (desconsiderando
48
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
20
São representações cartográficas vistas de cima da superfície terrestre.
21
Rachel Thomas utiliza a expressão “faire corps, prendre corps, donner corps aux ambiances urbaines”
(Fazer corpo, pegar corpo, dar corpo às ambiências urbanas - tradução nossa), que significa trazer o
pesquisador/observador para o contato com o objeto de estudo. Para a autora, essa aproximação com a
pesquisa agrega outros valores, dentre os quais pode-se destacar a questão da percepção da ambiência
urbana.
49
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
O curso de Artes Cívicas pede aos estudantes e aos cidadãos que se encontram
ao longo do percurso de agir na cidade em escala 1:1, como ação física de seus
corpos no espaço. Tem o objetivo de reativar suas capacidades inatas de
transformação criativa, de lembrá-los que eles têm um corpo que lhes permite
se posicionar dentro da cidade; pés para caminhar e mãos para modificar o
espaço o espaço que habitam. Durante cada aula são percorridos cerca de dez
quilômetros, caminhando do almoço ao pôr do sol. De vez em quando paramos
para ler alguns textos, para comentar os espaços em que conseguimos penetrar,
para raciocinar sobre a cidade, sobre a arte e sobre a sociedade. (CARERI,
2017, p.102-103)
A errância urbana, além de ser uma das formas de apreender a cidade em uma
escala mais próxima, sentindo e afirmando suas qualidades e problemas, é uma maneira
de poetizar o urbano e de narrá-lo. Em outras palavras, significa trazer a temática da
cidade como uma narrativa, característica que está se perdendo com a pragmatização da
análise urbana utilizada nos métodos mais tradicionalmente trabalhados nos projetos e
estudos urbanos. Como afirma Tiago Carvalho no artigo “Errar é urbano. Para uma
hodologia em Lisboa (2014)”:
O caminhar confere um controlo relacionado com o ritmo natural em que a
paisagem atravessada se revela demoradamente. Este ritmo é mais ou menos a
velocidade para a qual os seres humanos estão sintonizados para aceder
experiencialmente as suas redondezas imediatas; esta condição preserva ainda
um sentido equilibrado de controlo de um indivíduo perante a realidade, quer
esteja na sua pequena esfera privada do lar ou do trabalho, ou na área mais
extensa de uma praça ou avenida familiares. (CARVALHO, 2014, p.114).
22
Desenhadores urbanos (tradução nossa). Em algumas das vivências acompanhadas na pesquisa foram
relatadas memórias associadas a eventos do USk no Centro de Fortaleza, especialmente na Praça dos Leões
(Praça General Tibúrcio).
52
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
Careri (2013a) alerta que essa atitude de afastamento do contato direto com a
realidade urbana, embora haja a justificativa dos problemas de violência nas cidades,
poderia acarretar um comprometimento da formação dos urbanistas. O autor argumenta
essa preocupação ao questionar sobre o tipo de cidade que esses futuros profissionais irão
propor, na medida em que não conhecem ou evitam a prática do caminhar. Careri defende
que “hoje, a única categoria com a qual se desenham as cidades é a da segurança. Pode
ser algo banal, mas o único modo para se ter uma cidade segura é que haja gente
caminhando pela rua.” (CARERI, 2013a, p.242).
Priscila Santos (2017) defende que, ao unir a prática do caminhar à reflexão
sobre a vivência do lugar, torna-se possível para o urbanista reconhecer quem são os
responsáveis por atuar no espaço, quais os desafios para execução do projeto, além de
possibilitar o desenvolvimento de um pensamento mais crítico sobre a cidade. O resultado
são propostas mais adequadas à realidade, com soluções que não se prendem à visão
homogeneizante sobre o modelo de cidade ideal, vista muitas vezes como um mercado,
um objeto de valor lucrativo, “[...] reproduzindo e consolidando desigualdades, num
urbanismo cenográfico e espetaculoso, cheio de marcos simbólicos visando o controle
social.” (SANTOS, 2017, p. 329 - 330).
Para além do papel do andar como instrumento de ensino, a experimentação
do espaço a partir do corpo é essencial para os demais cidadãos. Percorrer as ruas das
53
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
cidades é uma das ações capazes de reduzir o medo e desvelar a propaganda midiática da
insegurança (CARERI, 2013a). Nesses termos, Francesco Careri defende que se devem
reinventar as visões convencional e preconceituosa sobre cidade, arte, arquitetura e lugar
que se ocupa no mundo. Através desse novo olhar:
Ocorre a libertação de convicções postiças e começa-se a recordar que o espaço
é uma fantástica invenção com a qual se pode brincar, como as crianças. Um
mote que guia as nossas caminhadas é “quem perde tempo ganha espaço”. Se,
de fato, se quer ganhar “outros” espaços, é preciso saber brincar, sair
deliberadamente de um sistema funcional-produtivo e entrar num sistema não
funcional e improdutivo. É preciso aprender a perder o tempo, a não buscar o
caminho mais curto, a deixar-se conduzir pelos eventos, a dirigir-se a estradas
impraticáveis onde seja possível “topar”, talvez encalhar-se para falar com as
pessoas que se encontram ou saber deter-se, esquecendo que se deve agir.
Saber chegar ao caminhar não intencional, ao caminhar indeterminado.
(CARERI, 2013a, p.242-243)
conceito de tempo. Segundo Santos (2006) os tempos são relativos. Eles expressam as
ações que animam os objetos. Só há tempo rápido ao compará-lo ao tempo lento. Os
tempos (rápidos e lentos) se distribuem pelo território da cidade e por toda a sociedade ao
mesmo tempo. Desse modo, a cidade possui os dois tempos na sua realidade presente.
Enquanto o tempo rápido se relaciona com o tempo das instituições e indivíduos
hegemônicos, ao contrário do tempo lento, este corresponde aos hegemonizados.
Jan Gehl, autor de “Cidade para pessoas”, também faz uma reflexão sobre
essa velocidade nas cidades, embora com enfoque em outro viés, distinto dos escritos de
Milton Santos. Gehl analisa o dinamismo dos espaços em que há uma velocidade
reduzida. Ele defende que “[...] há mais vida nos bairros onde as pessoas se deslocam
lentamente” (GEHL, 2013, p.71). Para Gehl, elaborar cidades onde há áreas que permitem
e incentivam as pessoas caminhar ou a pedalar, acarretará uma maior vivacidade aos
espaços urbanos. A cidade será pensada para a escala das pessoas, ou seja, com ênfase no
tráfego lento, oferecendo uma experiência mais enriquecedora para os seus habitantes.
Adentrando na reflexão de Milton Santos acerca do debate das
temporalidades na cidade, destaca-se a noção de que na cidade atual está presente o
sentido de periodização. Essa demarcação de tempos é vista ao longo da história urbana,
pois cada período possui sua origem em características intrínsecas, relacionadas ao
contexto do momento. Santos (2001) defende que o espaço é formado por dois elementos:
a materialidade e as relações sociais. A materialidade se constitui por uma combinação
do passado com o presente e que:
[...] basta passear por uma cidade, qualquer que seja, e nos defrontaremos nela,
em sua paisagem, com aspectos que foram criados, que foram estabelecidos
em momentos que não estão mais presentes, que foram presentes no passado,
portanto atuais naquele passado, e com o presente do presente, nos edifícios
que acabam de ser concluídos, esse presente que escapa de nossas mãos. Na
realidade, a paisagem é toda ela passado, porque o presente que escapa de
nossas mãos, já é passado também. Então, a cidade nos traz, através de sua
materialidade, que é um dado fundamental da compreensão do espaço, essa
presença dos tempos que se foram e que permanecem através das formas e
objetos que são também representativos de técnicas. (SANTOS, 2001, p.21).
23
A metodologia utilizada por Fernandes (2016) consistiu na realização de itinerários pelo bairro histórico
do Bixiga (São Paulo-SP). No primeiro semestre foram elaborados trajetos mais alinhados ao flanar,
enquanto no segundo semestre foram propostos roteiros no formato mais tradicional e com temas
específicos. Os momentos das caminhadas da primeira metade do ano eram divididos em três: apresentação
do grupo, caminhada coletiva silenciosa (em um ritmo lento) e síntese gráfica (cartografia afetiva coletiva).
No segundo semestre, foram convidados pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), que tiveram
seus trabalhos transformados em roteiros tradicionais, cujas pesquisas foram transformadas em roteiros
urbanos formatados de um modo mais tradicional. Ao comparar as duas abordagens de caminhadas,
chegou-se às seguintes conclusões: a disposição inicial das pessoas para participar das atividades que
exigiam maior envolvimento, aos poucos e gradativamente, foi aumentando o interesse e envolvimento nas
dinâmicas. Em relação aos itinerários temáticos com formato mais tradicional mostraram muito pouco
interesse dos participantes (FERNANDES, 2016).
56
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
desses teóricos podem ser lidas a partir de um fio condutor, interligando o desdobramento
das obras de cada um. Há, dessa forma, um diálogo entre os textos e o enfoque da análise
da morfologia urbana. As abordagens seguidas por esses autores possibilitam a
construção de um embasamento teórico-metodológico para a compreensão do espaço
físico do Centro de Fortaleza, universo empírico do presente estudo, na proposição de
circuitos de apreensão da leitura da imagem do lugar como bem patrimonial. Os
elementos da composição do desenho urbano discutidos pelos autores supracitados são
essenciais na construção dos roteiros culturais, uma das ferramentas de educação
patrimonial.
Discutir a percepção e a leitura da imagem da cidade, requer incluir os escritos
de Kevin Lynch que, nos anos de 1960, publicou o livro “A imagem da cidade”. Este
trabalho representa um dos principais estudos sobre a compreensão da imagem urbana.
Lynch estabeleceu um conjunto de critérios e de elementos que compõem a compreensão
da estrutura da cidade. Para o autor, o bom entendimento da forma urbana era possível
quando se tinha uma clara visão dos elementos urbanos por parte dos usuários do espaço
(legibilidade) e quando, mesmo que não estivesse fisicamente no lugar, conseguisse
descrever ou se transpor mentalmente para o ambiente em questão (imaginabilidade).
Lynch (2006) parte de cinco componentes para entender a imagem da cidade.
São esses: bairros, limites, marcos, pontos nodais e vias. O autor defende que esses são
pontos fundamentais na forma urbana. Essa discussão foi aprofundada em um estudo
realizado posteriormente por Philippe Panerai.
Na obra “Análise Urbana (1999)”, Panerai (2014) utiliza o aporte teórico-
metodológico da literatura de Lynch (2006) para fundamentar a chamada análise
sequencial do espaço. Este é um método que possibilita o “[...] estudo das modificações
do campo visual de um percurso” (PANERAI, 2014, p.36). Nesse sentido, a paisagem
deve ser compreendida por meio de uma análise direta realizada no próprio local, a partir
de uma série de deslocamentos. Panerai (2014) emprega também o uso de cinco
componentes para o entendimento da paisagem urbana: setores, limites, marcos, pontos
nodais e percursos.
58
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
Bairros são espaços da cidade que têm características comuns entre si, que
tornam esses lugares representantes e identificados por esse conjunto de elementos
significativos do lugar (LYNCH, 2006). Panerai (2014) utiliza o termo “setores” para a
análise de uma porção do território, pois defende que ao aplicar a nomenclatura de
“bairro” o pesquisador fica restrito aos limites institucionais da área. Ao trabalhar com
“setores”, podem-se estabelecer alguns recortes que não são necessariamente
pertencentes a um mesmo bairro, mas que apresentam características em comum.
Ambos autores empregam a terminologia “limites” para se reportarem às
fronteiras entre duas unidades, onde ocorrem as rupturas que delimitam os contornos de
uma cidade, de um bairro, de uma área, ou seja, do tecido urbano.
Outro termo que é comum aos dois autores é o de “marcos”. Este é definido
como pontos de referência do espaço, que por sua forma ou importância histórico-cultural
se tornaram elementos caracterizadores daquele lugar.
Quanto ao conceito de “ponto nodal”, os autores estabelecem que são a
convergência de fluxos, posicionados em partes estratégicas da cidade, onde há a
concentração/distribuição dos deslocamentos, seja de pedestres ou de veículos
motorizados.
O último elemento da forma urbana elencado pelos autores é um ponto de
divergência. Lynch (2006) usa o conceito de “vias”, por onde o observador se desloca,
são os trajetos, em outras palavras é o sistema viário. Panerai (2014) defende o uso da
terminologia de “percursos” por considerá-la mais ampla. Ela proporciona uma expansão
das possibilidades para além do conjunto de vias, permitindo traçar rotas mais complexas
e distintas do que simplesmente seguir o curso da rua.
Para a leitura urbana é importante compreender que esses componentes não
podem ser analisados de modo isolado, é preciso entendê-los como um conjunto e que,
por vezes, há uma sobreposição entre eles. Desta forma, Lynch afirma que:
Os bairros são estruturados com pontos nodais, definidos por limites,
atravessados por vias e salpicados por marcos. A sobreposição e
interpenetração dos elementos ocorre regularmente. Se esta análise começa
pela diferenciação dos dados em categorias, deve terminar por sua reintegração
à imagem total. (LYNCH, 2006, p.54).
59
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
Para além desses pontos, Panerai defende que a qualidade da cidade provém
de um bom traçado urbano. Este é um dos principais responsáveis pela relação de
apropriação e vínculo afetivo com o lugar.
[...] O espaço constitui-se um sistema de marcos e referências cuja
permanência é tranquilizadora. A identificação da cidade, de suas partes e dos
itinerários que permitem o deslocamento nela vai além da “legibilidade” de
Kevin Lynch. Ela passa por uma soma de detalhes banais que facilitam a vida
cotidiana [...] Essas pequenas coisas fazem parte de uma cultura local que
caracteriza cada cidade e favorece o sentimento de pertencimento e a coesão
social. Nesse sentido, o mapa da cidade é um dos elementos da cidadania.
(PANERAI, 2014, p.162-163).
24
Esses elementos apontados na análise de Gordon Cullen foram incorporados no estudo realizado
anteriormente: “Um percurso sobre o patrimônio e a morfologia urbana do Centro de Fortaleza-CE” (2015),
sob orientação do prof. Dr. José Clewton do Nascimento pelo PPGAU-UFRN.
60
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
reações que o indivíduo pode ter em relação à posição no espaço em que se encontra. O
terceiro se relaciona às qualidades inerentes às diversas subseções da paisagem urbana
(cor, textura, escala, o seu estilo, a sua natureza, a sua personalidade e tudo o que a
caracteriza).
Tanto para a estruturação dos percursos culturais quanto para vivenciá-los foi
preciso utilizar a metodologia da análise sequencial do espaço. Ao longo das experiências
organizadas pelo guia e do circuito proposto na pesquisa foi possível observar a paisagem
urbana se apresentando de forma seriada e proporcionando distintas sensações e visadas.
Um dos pontos da morfologia urbana embasados na literatura do português
José Lamas (2011) e essencial para a concepção dos roteiros são as praças. A
conceituação de praça definida pelo autor (2011) é que ela possui vinculação aos vazios
urbanos, entretanto são espaços que possuem significado, onde ocorrem as práticas
sociais, manifestações culturais e da vida urbana e que possuem marcos arquitetônicos
que as caracterizam. Lamas (2011) assim como os demais autores já discutidos nesse
tópico, também discute acerca de elementos morfológicos da forma da cidade (o solo, os
edifícios, o lote, a fachada, o logradouro, o traçado - rua, a praça, o monumento, a
vegetação e o mobiliário urbano). O autor argumenta que a apreensão da paisagem urbana
deve ser feita simultaneamente em diferentes níveis e também por percurso e sequências.
A rede de espaços livres existente na área central de Fortaleza, bem como em
outros centros históricos brasileiros, é constituída a partir das praças públicas. Esse
elemento da forma urbana possui uma relação tão intrínseca com o desenho da cidade
portuguesa, que em suas Cartas Régias (documentos norteadores da criação de vilas
61
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
25
Espaços livres são um sistema complexo que envolve outros sistemas, tais como o de drenagem e de
transporte, mas que visam tecer relações de conexão e complementação com a preservação, a circulação,
atividades de lazer e convívio social. Eles se caracterizam por serem essencialmente: “Praças, ruas, jardins
e parques, em suas múltiplas funções, constituem o cerne do sistema de espaços livres das cidades, e neles
a sociabilidade não pode ser relegada a plano secundário, nem ofuscada pelas questões ecológicas e
ambientais, tema que pretende ser a tônica do momento.” (LEITE, 2011).
26
Recomenda-se a leitura do livro: “Primórdios da Urbanização no Ceará” (2012). A obra é fruto do
doutoramento do prof. Dr. Clóvis Ramiro Jucá Neto pelo PPGAU-UFBA. A pesquisa traz um conjunto de
documentos da época do Brasil Colônia e endossa a teoria do método do urbanismo português em ocupação
de “novos territórios”. Nas cartas apresentadas pelo pesquisador existiam recomendações que incluíam
desde a escolha do sítio (mais saudável e com provimento de água) até a delimitação da praça (onde seria
instalado o pelourinho), dela partindo ruas retilíneas para a instalação das casas e demais equipamentos
(Casa de Câmara e Cadeia, Igreja etc.).
62
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
propícios aos pedestres, é possível adaptar a forma urbana atual, tornando-a convidativa
à prática do andar a pé.
diferentes partes da cidade, garantido às crianças, aos idosos, às pessoas com dificuldades
de locomoção e a todos.” (GHIDINI, 2011, p.22).
Jeff Speck, na obra “Cidade caminhável” (2016), traz a chamada “Teoria
Geral da Caminhabilidade”. O autor parte do princípio que, para uma cidade ter boas
condições para a prática do andar, é preciso atender a quatro requisitos fundamentais: ser
proveitosa, segura, confortável e interessante. O autor ressalta que é primordial o alcance
desses pontos de forma integrada para que se tenha o resultado esperado. A seguir, tem-
se a explicação desses pontos:
Proveitosa significa que a maior parte dos aspectos da vida cotidiana está por
perto e são organizados de tal modo que uma caminhada atenda às
necessidades do morador. Segura significa que a rua foi projetada para dar aos
pedestres uma chance contra acidentes com automóveis: os pedestres não têm
apenas que estar seguros; precisam se sentir seguros, condição ainda mais
difícil de atender. Confortável significa que edifícios e paisagem conformam
as ruas como “sala de estar ao ar livre”, em contraste com os imensos espaços
abertos que, geralmente, não conseguem atrair pedestres. Interessante significa
que as calçadas são ladeadas por edifícios singulares agradáveis e com fartura
de sinais de humanidade. (SPECK, 2016, p.20-21).
Speck (2016) estabelece dez passos para que a caminhabilidade seja atingida.
São eles: pôr o automóvel em seu lugar; mesclar os usos; adequar o estacionamento;
deixar o sistema de transporte fluir; proteger o pedestre; acolher as bicicletas; criar bons
espaços; plantar árvores; criar faces de ruas agradáveis e singulares; e eleger suas
prioridades.
Visando estabelecer os pontos norteadores para o entendimento da
caminhabilidade do espaço urbano, utilizou-se um quadro comparativo com o estudo
elaborado por Roberto Ghidini e os dez passos propostos por Jeff Speck (Quadro 3).
Ghidini (2011) elaborou uma análise em que utilizou dois métodos (Chris Bradshaw -
1993 e Evandro C. dos Santos - 2003) para mensurar a caminhabilidade de uma área.
Ressalta-se que em cada um dos trabalhos determinaram dez quesitos para
averiguação das condições do caminhar nos espaços urbanos. A ordem elencada pelos
pesquisadores foi alterada para facilitar o cruzamento dos dados. Alguns pontos
necessitaram ser reagrupados por serem considerados semelhantes na temática. Nesse
ensejo, foram destacados em negrito os elementos que se superpõem aos estudos dos três
65
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
Condições do piso**
2 Segurança do bairro Segurança Proteger o pedestre
Estacionamento de veículos
permitido*
6 Disponibilidade de Mobiliário urbano Acolher as bicicletas
mobiliário urbano
10 * Iluminação ***
*Ponto do estudo de Bradshaw (1993) **Um elemento do estudo de Santos (2003). Um dos passos
determinados por Speck (2016). Cada um desses quesitos foi recolocado por conta da temática semelhante
com outro ponto.
Quadro 3 – Comparação entre os autores Bradshaw (1993), Santos (2003) e Speck (2016). Fonte: Autora
(2017).
Atividades opcionais
Atividades sociais
Quadro 4 – Quadro elaborado por Jan Gehl associando a qualidade física do lugar e as atividades
desenvolvidas, adaptada pela autora (GEHL, 2013b, p.19).
Retomando aos estudos de Jeff Speck (2016), o autor encerra o livro alertando
que seguir todos os dez passos da caminhabilidade seria essencial para tornar a maioria
dos motoristas em caminhantes. Entretanto, ao mesmo tempo, segui-los em sua
completude iria quebrar a maior parte das cidades, pois elas estão delineadas para atração
do grande fluxo e escoamento de veículos. Por isso, é preciso eleger suas prioridades e
que tipo de desenvolvimento urbano se deseja para a cidade. O último tópico do texto
enfatiza a importância de trabalhar primeiramente com a caminhabilidade nas áreas
centrais. Speck afirma que:
27
Gehl (2013b) define as atividades em três tipos: necessárias, opcionais e sociais. As necessárias são na
maioria das vezes, aquelas ações obrigatórias (ir ao colégio, trabalho, supermercado etc.). A este grupo
pertence a maioria da prática do caminhar e o meio físico exerce pouca influência no desenvolvimento das
mesmas, pois elas devem ocorrer independente da qualidade do entorno. O segundo caso são ações que só
ocorrem quando os fatores externos são adequados, ou seja, quando o lugar propicia a realização dessas
atividades. O terceiro grupo compreende toda a movimentação que depende da presença de outras pessoas
nos espaços públicos, incluem jogos de grupo, conversas, cumprimentos, dentre outras práticas
comunitárias.
68
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
[...] O centro é a única parte da cidade que pertence a todos. Não importa onde
você more; o centro também é seu. Investir no centro da cidade é a única forma,
baseada em um local, de beneficiar todos os cidadãos de uma só vez. E tem
mais. Cada decisão de se mudar [...] é feita com a imagem de um lugar em
mente. [...] Boa ou ruim, essa imagem é difícil de ser abalada. E, com raras
exceções, reflete o centro da cidade. (SPECK, 2016, p.226).
Em resumo, para que uma cidade seja caminhável e com uma boa vitalidade
urbana, a sua forma física precisa ser compatível e agradável para os seus habitantes e
frequentadores. Speck (2016, p.223) estabelece algumas dicas para a inserção de espaços
mais caminháveis na cidade:
Em primeiro lugar, estudo cada rua com chance de se tornar caminhável e lhe
dou uma classificação em termos de qualidades urbanas. Ignoro as
características de tráfego, já que são fáceis de serem reformuladas e observo
apenas o conforto e o interesse: definição espacial e presença de frentes de ruas
agradáveis. Este esforço produz um mapa no qual as ruas são coloridas – de
28
Jan Gehl (2013b) concorda com Jeff Speck (2016) quanto à distância considerada aceitável para andar a
pé. Segundo Gehl há vários estudos que indicam um intervalo de 400-500m como aceitável para caminhar.
Entretanto, o autor destaca que para as crianças, idosos e pessoas com alguma deficiência, a distância
aceitável é consideravelmente inferior. Além disso, para Gehl, o mais importante, além da medida física
tida como real, é levar em consideração a chamada distância experimentada, pois esta envolve fatores mais
subjetivos e relacionados às características do lugar.
69
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
Dessa forma, seria possível dar maiores incentivos para que a população
possa caminhar mais, tomar contato com a história da cidade, compartilhar novas
experiências de caminhadas, além de criar memória afetiva com os espaços e lugares.
“[...] sem saber onde estivemos, é difícil saber para onde estamos indo. O
passado é o fundamento da identidade individual e coletiva; objetivos do
passado e presente cria um sentido de sequência para o caos aleatório e, como
a mudança é inevitável, um sistema estável de sentidos organizados nos
permite lidar com a inovação e a decadência. O impulso nostálgico é um
importante agente do ajuste à crise, é o seu emoliente social, reforçando a
identidade nacional quando a confiança se enfraquece ou é ameaçada.
(HEWISON, 1987 apud HARVEY, 1989, p.85)
tecido urbano. Essas marcas sobrepõem “[...] o desenho oficial da cidade: às vezes rompe
com ele, outras vezes o segue,, outras ainda não tem alternativa senão adequar-se”
(Magnani, 2013, p.13 apud Lisboa, 2016, p.166).
Além disso, a cidade não é campo exclusivo de um setor ou de uma formação
profissional isolada, ela é sentida e vivenciada por todos. Portanto, é interessante
conhecer, discutir e apresentar os diversos olhares sobre a cidade, tecendo uma visão
ampliada sobre o objeto do espaço urbano. Rossana Honorato (1999) reforça acerca da
relevância do papel das pessoas na construção da cidade e de sua história. Para a autora é
essencial o envolvimento de todos na atividade, inclusive para gerar os sentimentos de
pertença com o lugar, de responsabilidade e posse.
A cidade não é área de conhecimento de estudo de ninguém
isoladamente…Dificilmente se vai conseguir conversar com um advogado, ou
com um psicólogo, ou com um dono da banca de revista ao lado, ou com um
padeiro ou um lixeiro que não tenha alguma opinião sobre a sua cidade. Se
moradia pressupõe a escolha do lugar em que se quer morar, é porque há toda
uma relação de identidade aí construída. Se se quer participar da construção
desse lugar é porque se tem em vista ações para preservar aquilo que entende
essencial preservar e transformar aquilo que quer ver transformado, sem perder
de vista o referencial da natureza das pessoas que vivem na cidade. Por isso, a
reflexão é sem dúvida a melhor ação nesse exercício de aprender a viver junto,
cujo locus, a cidade, cada vez mais preferida e determinada para o exercício da
vida em comum, é a base da experiência urbana cotidiana. (HONORATO,
1999, p.218-219).
intangíveis), é preciso evidenciar que um grupo não anula o outro, mas se complementam.
O patrimônio cultural necessita de vetores materiais para se expressar, seja na música,
gastronomia, festas, danças etc., bem como todo bem material possui a dimensão
imaterial que lhe concede significado e valor (MENESES, 2012).
O patrimônio cultural está presente no cotidiano das pessoas (nos lares, nas
ruas, nas praças, nas músicas, ritmos, danças, artes etc.), ele se constitui nas
representações, documentações, realizações e expressões da formação da história e
cultura de um lugar (TOLENTINO, 2013). Ele faz parte do “[...] ser o que somos,
individualmente ou em grupo.” (TOLENTINO, 2013, p. 7).
Compreender a abrangência do patrimônio e sua conexão com o cotidiano é
essencial para que não sejam reconhecidos somente os aspectos da monumentalidade,
arquitetura, técnica, contribuindo para a chamada “fetichização do patrimônio”. Esse
fenômeno representa o processo de desvinculação do bem cultural da conjuntura em que
ele foi desenvolvido, esquecendo das relações conflituosas e de controle que permearam
a sua história de construção, passando a enxergá-lo como algo isolado, idolatrado e
independente (SCIFONI, 2012). Ao dessacralizar o patrimônio e considerá-lo como
resultado das práticas sociais de um lugar em um momento histórico, as gerações do
presente e futuro poderão ressignificá-lo e reconhecê-lo, iniciando um caminho para a
efetiva preservação (LONDRES, 2012).
Um dos estudos que discute esse olhar é a tese de Denise Alcantara intitulada
de “Abordagem experiencial e revitalização de centros históricos: os casos do Corredor
Cultural no Rio de Janeiro e do Gaslamp Quarter em San Diego”. A pesquisa trabalha
articulando a relação da apreensão dos usuários dos centros históricos com o patrimônio
cultural. O foco de Alcantara (2008) são os espaços que tinham sido alvos de projetos de
revitalização. Além disso, a autora argumenta que a abordagem experimental contribui
no sentido de revelar descobertas e significâncias subjetivas da percepção dos usuários
dos lugares históricos, contribuindo para a análise crítica dos projetos de intervenção no
patrimônio cultural urbano. Na tese, para que a autora conseguisse captar as informações
das pessoas, foram elaboradas entrevistas com questionários semiestruturados e croquis
77
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
que expressassem um mapa do lugar com os principais atributos da área. Para a conclusão
do trabalho, há uma confrontação do olhar técnico da pesquisadora com o cognitivo-
experiencial dos usuários do lugar (ALCANTARA, 2008).
Considerar a visão dos usuários para a compreensão do conceito de
patrimônio cultural é uma questão contemporânea. No início da trajetória da
institucionalização do patrimônio, mais precisamente a fundação do IPHAN, tinha-se
como base para a tomada de decisões o parecer técnico bastante focado nos aspectos
monumentais e artísticos da arquitetura colonial, que por vezes não incorporava os
significados da imaterialidade do popular e do cotidiano.
Esse paradigma foi aos poucos sendo modificado a partir dos anos de 1970.
Destaca-se o papel do Centro Nacional de Referência Cultural (CNRC) na abrangência
da conceituação. O CNRC tinha seus trabalhos dedicados ao tema da “cultura viva”, a
partir do saber popular, no intento de torná-la mais nacional e universal perante a cultura
do país (FONSECA, 1996). Cecília Fonseca (1996, p.156) esclarece:
O trabalho realizado pelo CNRC (integrado, a partir de 1979, à Fundação
Nacional Pró-Memória) representou, sem dúvida, um passo importante no
sentido de ampliar a noção de patrimônio cultural no Brasil e, menos
perceptivelmente - porque era um trabalho feito “nas bordas” da instituição
oficial - de aproximar-se das demandas de setores até então marginalizados das
políticas culturais (indígenas, negros, populações rurais e da periferia urbana
etc.).
A iniciativa que marca a entrada das Nações Unidas nas discussões sobre o
turismo foi a organização da United Nations Conference on International
Travel and Tourism, também conhecida como o primeiro congresso sobre
turismo internacional, realizado em Roma, entre 21 de agosto e 5 de setembro
de 1963. A adoção das resoluções dessa Conferência foi recomendada pelo
Conselho Econômico e Social das Nações Unidas às organizações que lhe eram
ligadas. Como resultado dessa recomendação, a UNESCO começou a estudar
como abordar o tema no ano seguinte e a OEA promoveu o encontro que
resultou na elaboração das Normas de Quito, em 1967. (PEREIRA, 2012,
p.30).
29
Um fenômeno amplo, complexo e multidisciplinar, que se relaciona com forças econômicas,
psicológicas, sociais, naturais, culturais, tecnológicas, legais, políticas (tradução nossa).
80
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
30
Segundo Flávia Costa (2014, p.52): “Turista é toda pessoa que se desloca para fora de seu lugar de
residência permanente por mais de 24 horas, efetuando pernoite, sem a intenção de fixar residência ou
exercer atividade remunerada, realizando gastos de qualquer espécie com renda auferida fora do local
visitado.”
81
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
31
Esse conjunto de princípios foi definido na Carta ICOMOS para interpretação e apresentação de sítios
de patrimônio cultural de 2008. No documento estão estabelecidos sete princípios fundamentais para a
interpretação e apresentação dos sítios históricos. São eles: 1. Acesso e compreensão; 2. Fontes de
informação; 3. Atenção ao entorno e ao contexto; 4. Preservação da autenticidade; 5. Plano de
sustentabilidade; 6. Preocupação com a inclusão e com a participação e 7. Importância da pesquisa, da
formação e da avaliação (ICOMOS, 2008).
85
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
MINDFUL MINDLESS
CARACTERÍSTICAS Aberto ao aprendizado; Utilização de rotinas já existentes;
Atenção às circunstâncias; Pouca atenção às circunstâncias;
Desenvolvimento de novas rotinas. Sem aprendizado.
CONDIÇÕES Novas e diferentes circunstâncias; Circunstâncias familiares;
Situações variadas e em mudança; Situações repetitivas;
Controle e poder de decisão; Pouco controle, poucas escolhas;
Relevância pessoal. Sem relevância pessoal.
RESULTADOS Aprendizado e recordação; Sem aprendizado; recordações pobres;
Sentimento de controle; Sentimento de desamparo;
Habilidade para lidar com Pouca habilidade em lidar com
problemas; problemas;
Sentimentos de realização; Sentimento de incompetência;
86
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
utilizam-se atividades voltadas à visita aos bens culturais como uma das formas de
garantir a experimentação e apreensão da memória do lugar (COSTA, 2014).
Por Educação Patrimonial entende-se que:
A Educação Patrimonial se constitui de todos os processos educativos formais
e não formais que têm como foco o patrimônio cultural apropriado socialmente
como recurso para a compreensão sócio-histórica das referências culturais em
todas as suas manifestações com o objetivo de colaborar para o seu
reconhecimento, valorização e preservação. Considera ainda que os processos
educativos de base democrática devem primar pela construção coletiva e
democrática do conhecimento, por meio do diálogo permanente entre os
agentes culturais e sociais e pela participação efetiva das comunidades
detentoras e produtoras das referências culturais onde convivem noções de
patrimônio cultural diversas. (FLORÊNCIO, 2014 apud IPHAN, 2015, p. 24).
Oferece aos indivíduos ferramentas para dar sentido ao que veem e experimentam,
para entender melhor seu próprio ambiente e os novos locais visitados;
Desenvolve um senso de conexão pessoal com outras pessoas em outros tempos
e lugares;
Ensina a apreciação e o respeito e estimulam a “apropriação” de lugares e objetos;
Incentiva a tomada consciente de decisões sobre o futuro pela demonstração de
como as decisões tomadas no passado têm consequências diretas sobre as
possibilidades vindouras;
Mostra aos indivíduos como eles podem estar envolvidos em suas comunidades,
como voluntários e defensores dos bens patrimoniais, e influenciar o presente e o
futuro de sua comunidade e de outras regiões;
Apresenta aos indivíduos, principalmente aos mais jovens, novas opções de
carreiras profissionais, como arquitetura, planejamento urbano, museologia e
pesquisa histórica e arqueológica.
A autora (2014) sugere algumas práticas de Educação Patrimonial que
envolvem inserir os participantes em contato direto com os bens culturais. São elas:
caminhadas e passeios orientados, trilha interpretativa e história viva. O primeiro grupo
se refere a atividades que englobam deslocamento a pé em áreas históricas e de valor
patrimonial, em que os participantes são guiados por um responsável que apresenta fatos
simbólicos da região e realiza algumas paradas estratégicas ao longo do passeio. O guia
deve estar atento ao ambiente para realizar seus apontamentos e inserções. A segunda
prática difere-se da primeira na questão do tempo e do percurso; esta é bem mais rápida
e possui um trajeto menor, com uma temática central definida e paradas planejadas para
o desenvolvimento da interpretação por parte do grupo. A terceira tipologia tem por
objetivo recriar a história do lugar através de vivências, palestras, conversações e possui
um embasamento na interação do sítio histórico, o guia ou o responsável e o visitante.
Esse conjunto de experiências educativas em áreas históricas despertam
curiosidade e um novo olhar sobre a cidade em residentes, que não tiveram a oportunidade
de vivenciá-la sob o aspecto da história.
91
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
(Planta da Villa e Porto da Fortaleza) foi consolidado por Adolfo Herbster (1859-1888),
que a este acrescenta três boulevards (atuais avenidas Dom Manuel, Duque de Caxias e
Imperador), a funcionarem como os vetores de expansão e os limites da cidade
(ANDRADE, 2019).
Os antigos boulevards representam os limites do chamado centro histórico de
Fortaleza. Esse traçado oitocentista é uma das principais características da estrutura viária
atual do Bairro Centro. Ele conforma o conjunto de praças e equipamentos urbanos que
são as rugosidades presentes na contemporaneidade. A região passou por um processo de
esvaziamento e mudança na dinâmica socioeconômica ao longo do século passado.
Atualmente ela é bem caracterizada pelo comércio (formal e informal), mas também há
iniciativas de diversificação das funções, a partir do retorno do centro administrativo
municipal para a área, a existência de algumas secretarias e instituições estaduais e
federais, além de atividades e equipamentos culturais. O bairro é uma das principais
referências para se estudar e compreender o processo de formação da capital cearense.
Dessa forma, entende-se que, a partir das reminiscências do passado presentes
na estrutura urbana contemporânea, estuda-se a vinculação de compreender e apreender
as questões patrimoniais através de roteiros culturais. A cidade pode se tornar uma sala
de aula expandida.
A articulação do caminhar com a apreensão da cidade também é tema de
estudo de diversas áreas, como a geologia, arquitetura, psicologia, geografia, turismo,
dentre outras. A partir da realização de uma pesquisa bibliográfica acerca da questão dos
roteiros culturais, encontrou-se uma quantidade significativa de estudos ligados à
geologia, que por meio de roteiros previamente estruturados no acervo patrimonial das
cidades, permitem traçar uma leitura dos materiais utilizados na composição dos
monumentos e edificações de valor patrimonial. Buscando elucidar essas estratégias
metodológicas de estruturação de roteiros culturais, serão apresentadas algumas vivências
realizadas em outras cidades brasileiras, culminando em experiências ocorridas em
Fortaleza.
95
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
Eliane Aparecida Del Lama (2011), o “Roteiro geoturístico no centro da cidade de São
Paulo”. O estudo focou somente em esculturas localizadas na área central: foram cerca
de quinze monumentos onde seria permitido fazer um circuito a pé por entre eles. Os
autores reafirmam as características da durabilidade e da resistência do material pétreo
utilizado nas construções, que as torna um testemunho palpável da “[...] evolução
histórica e econômica da cidade, ao estilo arquitetônico de cada época e à adequabilidade
de cada rocha nas várias utilizações da construção civil.” (AUGUSTO e LAMA, 2011,
p.29)
Ainda sobre Natal, mas saindo desse enfoque da geologia, há um livro,
“Centro histórico de Natal: guia para turistas e moradores”, cujo objetivo é proporcionar
a valorização e o aumento do número de visitas ao sítio histórico da capital. O trajeto
desenvolve-se pelos dois bairros mais tradicionais da cidade que constituem o núcleo
urbano tombado pelo IPHAN: Cidade Alta e Ribeira. Para as autoras:
Ele destina-se aos moradores da cidade que desejam redescobrir os seus
lugares de memória, bem como ao turista, para que possa conhecer outra faceta
da capital potiguar, diferente daquela de sol e mar, amplamente divulgada pelo
setor turístico (COSTA e AMARAL, 2014, p.8).
32
Esses nomes foram concedidos por uma servidora da SETFOR à pesquisadora durante uma das reuniões
da Câmara Setorial de Cultura e Patrimônio, instância institucional da Prefeitura de Fortaleza para
acompanhar as ações do Plano de Cultura e Patrimônio, um dos documentos do Plano Fortaleza 2040. A
pesquisadora é uma das representantes do IPLANFOR na referida Câmara. Na proposta final do folder, os
roteiros perderam os títulos e apenas dois foram incorporados ao texto do documento: “bater perna” e
“bicicletando por aí”.
99
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
33
Os mapas afetivos estão disponibilizados em dimensões maiores como anexos ao final da tese.
102
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
memória. O primeiro mapa lançado foi o da Praia de Iracema (Figuras 9 e 10), em 2017.
Rodrigo Lima conseguiu um apoio institucional das secretarias de cultura, SECULT e
SECULTFOR. Em 2019 foi o lançamento da Revista Mapa nº 2 (elaborada pela arquiteta
e artista visual Luciene Lobo), disponibilizada em alguns equipamentos culturais do
Centro (Figuras 11 e 12). O mapa possui ilustrações com composições atrativas, que
despertam a curiosidade dos leitores. Ele se apresenta como: “um convite à caminhada, a
estar com o corpo na rua, atentos e atentas ao contorno da cidade. Este projeto vai
cartografar a cidade de Fortaleza, pensando as particularidades de cada bairro”.
Inicialmente foram pensados em cinco mapas afetivos; os próximos serão sobre o
Benfica, Meireles e Varjota. Futuramente, almeja-se expandir o projeto para outros
bairros menos turísticos.
Figura 9 - Mapa afetivo da Praia de Iracema do projeto Revista Mapa. Fonte: Autora (2019).
103
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
Figura 10 - Mapa afetivo da Praia de Iracema do projeto Revista Mapa. Fonte: Autora (2019).
34
Atualmente, a capital cearense completou 294 anos. A data é celebrada a partir de 13 de abril de 1726.
105
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
esses percursos também em outras áreas da cidade, como nos bairros Benfica,
Jacarecanga, Messejana, Barra do Ceará e Parangaba (mediante a solicitação de 20
pessoas). Linhares também faz passeios com estudantes da rede pública de ensino,
fomentando a educação patrimonial na cidade.
Os passeios mais frequentes são aqueles realizados na área central histórica
de Fortaleza. Há uma parceria de Linhares com o Banco do Nordeste do Brasil S.A.
(BNB) para realizar as caminhas históricas semanalmente. A atividade é gratuita e inicia
à tarde, com saída da sede do Centro Cultural Banco do Nordeste Fortaleza, localizada
no Antigo Mercado Central, mais precisamente na Rua Conde d’Eu, n°560. As
caminhadas podem ocorrer ao longo da semana e nos três turnos, permitindo a
dinamização do fluxo de pessoas no lugar. Os principais bens visitados durante a
caminhada incluem: igrejas, prédios, palacetes, monumentos, praças e logradouros de
significativa importância para o desenvolvimento sociocultural do fortalezense
(RODRIGUES, 2013).
Atualmente o projeto conta com seis temas diferentes para as caminhadas na
área de estudo. São estes:
Roteiro praças e monumentos;
Caminhada cultural ao centro antigo;
Visita aos museus do Centro;
Circuito cultural;
Programa história passo a passo;
Circuito de turismo religioso.
A pesquisadora já participou de alguns dos percursos guiados por Gerson
Linhares35; à época não tinha autorização do Comitê Ético de Pesquisa (CEP) para a
35
É necessário esclarecer que após o exame de qualificação intitulado de pré-defesa, a pesquisadora
conversou com o turismólogo solicitando informações sobre as próximas caminhadas do Projeto Fortaleza
A Pé, entretanto, nos últimos meses de conclusão da tese, estava ocorrendo principalmente o Projeto Trem
da História, em que os grupos divididos em crianças e adultos com horários diferenciados fazem um passeio
gratuito pelo Centro da cidade guiado por Gerson Linhares em um veículo intitulado de “Trem da Alegria”.
Portanto, apesar da atividade ser de educação patrimonial, ela não se enquadra na metodologia da pesquisa
106
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
que é o caminhar, andar a pé. Linhares retomou às caminhadas culturais no mês de fevereiro de 2020 e
entrou em contato com a pesquisadora. Infelizmente, não havia tempo hábil para analisar a experiência
como estudo de caso. Dessa forma, não foi possível incluir uma vivência do Projeto Fortaleza A Pé na tese.
107
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
36
O Free Walking Tour Fortaleza é um projeto inspirado em experiências internacionais homônimas, que
teve início em novembro de 2018, com um passeio-piloto (acompanhado pela pesquisadora e inserido na
tese) e que desde de dezembro do mesmo ano segue sistematicamente oferecendo caminhadas pela história
e cultura da capital Cearense. Possui percursos a pé pelo Centro Histórico (duração de 3h) e também pela
Costa Leste da cidade. Há intenção de em breve lançarem mais uma opção de passeios em um dos parques
urbanos fortalezenses, o Parque do Cocó (FREEWALKFORTALEZA, 2018).
109
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
Figura 13 - Palestra da professora Jacqueline sobre a Praça dos Leões e edifícios do entorno. Fonte: Autora
(2018).
110
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
Figura 14 - Início do percurso, a professora apresenta o Palácio da Luz. Fonte: Autora (2018).
Posteriormente, ela conduziu a turma pela Rua Guilherme Rocha, uma via
pedonal que conecta à Praça do Ferreira. No caminho ela chamou a atenção para duas
edificações ecléticas: os palacetes Ceará e L´escale. As observações manifestadas pela
professora começaram pelo Palacete Ceará (Figura 15) que, segundo a docente, ele se
constitui como um dos mais importantes expoentes do ecletismo na cidade, projeto do
arquiteto João Saboia Barbosa. Ela teceu mais considerações sobre a trajetória histórica
da edificação, destacando a beleza da carga decorativa.
Em seguida, ela solicitou ao grupo que atravessasse a rua de pedestres para
apreenderem as características da arquitetura do Edifício L´escale (Figura 16). O bem,
inicialmente uma residência, corresponde à virada dos séculos XIX e XX. A professora
mostrou alguns detalhes que comprovam que ele sofreu alterações nas esquadrias do
térreo de influência art nouveau. Ela encerrou a análise convidando os alunos a
conhecerem o restaurante, um dos melhores e mais tradicionais do Centro. A necessidade
de mudar de ponto para que sejam analisados os edifícios ocorre devido à pouca distância
112
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
Figura 18 - Grupo apreende o conjunto arquitetônico da Praça do Ferreira. Fonte: Autora (2018).
Figuras 19 e 20 - Grupo caminha em direção ao último ponto e em seguida observam um dos marcos
arquitetônicos de Fortaleza, o Museu do Ceará. Fonte: Autora (2018).
Figuras 22 e 23 - Professora mostra a organização dos espaços do Museu. Fonte: Autora (2018).
116
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
01 Mapear os grupos de guias e professores dos cursos Identificar os agentes dos percursos
de Arquitetura e Urbanismo, Geografia, História, culturais e selecionar quais serão os
Turismo e Psicologia Ambiental. acompanhados pela pesquisa.
02 Identificar quais as principais rotas que são traçadas e Apreender metodologicamente
inferir sobre quais os motivos que justificam o sobre os percursos que acontecem
delineio desses percursos, quais os métodos utilizados na área de estudo.
nas caminhadas, qual o público-alvo desses roteiros.
03 Captar se a forma urbana favorece a realização dos Compreender a caminhabilidade dos
percursos a pé. lugares por onde se desenvolvem os
roteiros.
04 Aplicar entrevista semiestruturada e mapas mentais. Captar a percepção dos participantes
quanto ao patrimônio cultural.
05 Sobrepor os mapas mentais realizados e as respostas Assimilar acerca da imagem
da entrevista que atestem predominâncias de intersubjetiva do grupo de
incidências de determinados elementos da área caminhantes e refletir sobre quais
estudada. bens e elementos do percurso foram
mais significativos para os
participantes.
Figuras 24, 25, 26 e 27 – Gráficos obtidos a partir das respostas dos questionários. Fonte: Autora (2020).
37
Todos os questionários e os mapas mentais produzidos encontram-se nos apêndices da tese.
118
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
ANÁLISE DA CAMINHABILIDADE
Qualidade dos passeios O percurso escolhido acontece em áreas em que os passeios
possuem uma razoável qualidade de dimensionamento e grau de
conservação, pois aconteceu prioritariamente entre duas praças.
Segurança Relativa segurança dos pedestres em relação aos automóveis.
Mobiliário urbano Sim.
Usos do entorno Uso predominantemente comercial e cultural. Áreas com um
número concentrado de bens e edificações de valor patrimonial,
contribuindo com a ambiência histórica.
Estacionamento Há oferta de vagas de zona azul, estacionamento particular e parada
de ônibus em frente.
Conectividade urbana O bairro possui conectividade com toda a cidade e diversidade de
modos de transporte: bicicletários, pontos de bicicleta
compartilhada, estações de metrô e paradas e terminais de ônibus.
Proteção contra intempéries Não há.
Quadro 7 - Análise da caminhabilidade do percurso das Disciplinas de História da Arte e da Arquitetura.
30). Portanto, recomenda-se que haja uma melhor distribuição do tempo destinado à
visitação/análise de cada patrimônio cultural edificado e grupos mais diminutos para que
todos possam assimilar o conteúdo exposto.
Figura 30 - Gráfico com os percentuais dos aspectos negativos da experiência. Fonte: Autora (2020).
Figura 31- Gráfico com os elementos que foram mais observados na experiência. Fonte: Autora (2020).
123
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
Figuras 33 e 34 – Gráficos que abordam os mapas mentais elaborados. Fonte: Autora (2020).
125
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
Figura 35 - Mapas mentais do primeiro momento do percurso da professora Jacqueline Oliveira Fonte:
Autora (2018).
Figura 37 - Gráfico que traz os lugares do Centro de Fortaleza-CE presentes na memória dos participantes.
Fonte: Autora (2020).
127
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
Figuras 38 e 39 – Gráficos que abordam os mapas mentais elaborados. Fonte: Autora (2020).
suas respostas foram mais centradas nos ensinamentos que esta concedeu. Eles também
possuíam menos narrativas com o bairro em relação aos alunos veteranos. Isso independia
da idade dos estudantes, estando mais vinculado ao amadurecimento e vivências
proporcionadas pela formação como arquitetos e urbanistas. Isso contribui para
corroborar com a hipótese do estudo de que ao reconhecer, estudar e experimentar a
importância do tecido histórico, afetos e memórias passam a ser construídos no
imaginário das pessoas (Etapa 07).
Um dos últimos aspectos que são ressaltados na análise da experiência
proporcionada pela professora, é a análise do tipo de roteiro cultural aplicado. Entende-
se que a vivência se caracteriza como um roteiro mais informativo do que narrativo.
Incluiu nessa tipologia por perceber que não houve muita oportunidade para os alunos
terem autonomia para compartilhar momentos e saírem do roteiro pré-estabelecido. A
liberdade de decisões, de informações a serem ditas, era controlada e administrada pela
professora. Esses atributos também correspondem ao roteiro do tipo mindless. Entretanto,
há aspectos do roteiro tipo mindful, seja pela particularidade de ser uma aula de campo
(houve um aprendizado acerca dos diversos conhecimentos passados pela docente), seja
pelas novas situações para os alunos que foram relatadas nos questionários (Quadro 8).
Material utilizado -
informações. Podem ser listadas como proposições: horário mais cedo, mais atividades
semelhantes, utilização de microfone, grupos menores e a inclusão de mais bens.
Acredita-se que esses pontos são bastante pertinentes e que devem ser considerados para
a composição de uma metodologia de percurso orientado com enfoque na educação
patrimonial.
Figura 44 - Grupo realiza uma parada para analisar a pintura dos muros da Fortaleza de Nossa Senhora da
Assunção.
Figura 46 - Vista do entorno da Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção com a Catedral de Fortaleza ao
fundo. Fonte: Autora (2018).
135
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
Figura 48 – Grupo se encaminha para a Praça Dom Pedro II. Fonte: Autora (2018).
38
A Catedral de Fortaleza atual é a terceira igreja erigida no lugar. A primeira versão é de 1795. Justificaram
sua demolição por razões de integridade cerca de 30 anos depois. No ano de 1854 construíram um novo
edifício religioso, a Igreja de São José. Esta foi igualmente demolida sob alegações de problemas
estruturais, apesar dos protestos e contestações de parte dos fortalezenses. A Sé de Fortaleza teve sua
construção iniciada nos anos 1940, tendo suas obras concluídas em 1978. Ela possui dimensões
desproporcionais para o lote em que está inserida. Quanto às suas feições arquitetônicas, representa uma
tentativa de composição formal ao neogótico tardio (GOES, 2015).
137
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
Figura 49 - Grupo observa os detalhes Figura 50 - Guia explicando sobre a importância histórica da
da Catedral. Fonte: Autora (2018). Catedral. Fonte: Autora (2018).
Figura 51 - Participantes vão para a lateral da Catedral para observar os vitrais da edificação. Fonte: Autora
(2018).
138
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
Figura 53 - Entorno da Catedral, com o Palácio do Bispo (sede da Prefeitura Municipal) ao fundo. Fonte:
Autora (2018).
Figura 54 - Apresentação do entorno da Travessa do Crato e foco para o Raimundo dos Queijos. Fonte:
Autora (2018).
Figura 56 - Guia explicando sobre a história da Praça Carolina e dos edifícios do entorno. Fonte: Autora
(2018).
Logo na entrada do CCBN havia exposto um mural com uma linha do tempo
da história de Fortaleza, fotos históricas e um mapa da área central, atraindo a curiosidade
dos visitantes e questionamentos sobre qual traçado já havia sido percorrido e onde estava
o Riacho Pajeú (Figuras 57 e 58). Um dos participantes contou acerca da importância
histórica do corpo hídrico e da sua relação com a cidade, que nos primórdios se
configurava como uma barreira para expansão ao leste.
142
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
Figura 57- Participantes vão para o Centro Cultural Banco do Nordeste e analisam a linha do tempo da
cidade. Fonte: Autora (2018).
Figura 58 - Guias mostram por onde o grupo já passou. Fonte: Autora (2018).
responderam que era protegido pelo Estado. Entretanto, ressalta-se que essa informação
é incorreta. Apesar da importância do imóvel, ele não se encontra salvaguardado em
nenhuma das esferas.
Por fim, sugeriram que os visitantes pudessem conhecer com mais calma as
exposições do centro cultural e todos partiram em direção à Praça dos Leões (Figura 61).
144
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
É interessante pontuar que a edificação possui duas entradas em ruas distintas: General
Bezerril e Conde D’Eu. Dessa forma, a caminhada se torna mais envolvente, pois traz
surpresas para os participantes devido aos novos caminhos e possibilidades que surgem.
Figura 61 - Grupo se encaminhando para Praça dos Leões. Fonte: Autora (2018).
transeuntes (Figuras 63 e 64). Além disso, não possui uma fachada ativa, já que é limitada
pela muralha da Praça dos Leões.
Figura 62 - Pausa no trajeto para avaliar a escadaria da Praça. Fonte: Autora (2018).
Figuras 63 e 64 - Grupo percorrendo a calçada estreita que margeia a Praça dos Leões e a situação do
Passeio no entorno da Praça. Fonte: Autora (2018).
146
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
39
O animal histórico da cultura fortalezense foi trazido à cidade por um retirante da seca de 1915 e vendido
à empresa Rosbach Company. Ele foi um andarilho e boêmio na Fortaleza do início do século XX, muito
popular e querido pelos cidadãos daquela época, durante um período em que se discutia e controlava o
asseio e aformoseamento urbano. Tinha trânsito livre em qualquer ponto da cidade. Foi eleito vereador em
1922 e após sua morte em 1931, foi empalhado e doado para fazer parte do acervo do Museu do Ceará
(PONTE, 2010). Passados quase 90 anos do seu falecimento, o bode segue sendo uma figura popular da
cultura cidade e já foi tema de livros, poesias e até de enredo de desfile da Escola de Samba do Rio de
Janeiro (Paraíso do Tuiuti – “O Salvador da Pátria”) em 2019.
147
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
Figura 66 - Guias contextualizando sobre a história da Praça e suas curiosidades. Fonte: Autora (2018).
148
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
Figura 67- Grupo percorrendo a Praça dos Leões. Fonte: Autora (2018).
Figura 72 - Guias contam sobre a importância histórica do lugar. Fonte: Autora (2018).
152
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
Figura 74 - Guia José Otávio conta sobre algumas personalidades que fizeram parte da história da Praça do
Ferreira. Fonte: Autora (2018).
guia, os moradores da cidade adoram os dias nublados, com dizeres do tipo: “Tá bonito
para chover” (sic).
o acesso ao Hotel Excelsior. No trajeto pela Rua Guilherme Rocha, foram observadas as
obras da Ação Novo Centro (mudança de paginação e travessia em nível). Além disso,
todas as árvores que concediam sombra ao passeio, foram retiradas, bem como os
ambulantes que se localizavam na porção central da via. A combinação da poeira e
entulho da construção mais a forte insolação, tornaram a caminhabilidade do trecho
bastante ruim (Figura 77).
Figura 76 - Guia solicitou que o grupo ficasse mais próximo e evitasse a dispersão ao longo da caminhada
para o próximo ponto. Fonte: Autora (2018).
156
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
Figura 77 - Grupo caminhando pela Rua Guilherme Rocha. Fonte: Autora (2018).
O andar pela Praça José de Alencar não era possível, pois havia uma elevada
concentração de barracas e tendas de comércio informal. Dessa forma, o grupo precisou
ir para o leito da via, se arriscando, pois estavam dividindo o espaço com motos, carros e
ônibus; alguns outros participantes tentaram caminhar pela Praça, por entre as tendas,
mas se perderam dos guias por alguns instantes (Figuras 78 e 79). O grupo conseguiu se
reunir nas proximidades do Theatro José de Alencar. Portanto, esse trecho foi outro ponto
em que os conflitos de caminhabilidade foram elevados, tornando a caminhada
desagradável e acarretando em dispersão da turma.
157
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
Figura 79 - Situação precária de caminhabilidade na Praça José de Alencar, onde os participantes andam
na rua por conta do espaço público estar densamente ocupado por feirantes.
158
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
Figura 80- Grupo chega ao Theatro José de Alencar. Fonte: Autora (2018).
Figura 83 - Caminhantes seguem pela Rua General Sampaio em meio aos veículos e barracas dos
ambulantes. Fonte: Autora (2018).
161
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
Figura 84 - O caminhar nas calçadas do Centro de Fortaleza - a disputa com comércio ambulante. Fonte:
Autora (2018).
Panorama Arte, o Hotel Marina Park e o Navio encalhado Mara Hope (Figura 90). Por
último, chamaram a atenção para o Arraial Moura Brasil e o Pirambu, dois tradicionais
bairros populares da cidade, e sua vinculação com os chamados “campos de
concentração” na história de Fortaleza. Encerrada a explanação o grupo seguiu para o
último e primeiro ponto da vivência, o Passeio Público (Figuras 91 e 92).
Figura 89 - Guias explicam sobre a importância histórica da Antiga Cadeia Pública. Fonte: Autora (2018).
Figura 90 - Guias apresentam a frente marítima da área histórica de Fortaleza e algumas comunidades
tradicionais do entorno. Fonte: Autora (2018).
165
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
Figura 91 - Participantes caminham para o último ponto - Passeio Público. Fonte: Autora (2018).
Figura 93 - Guias contextualizando a importância histórica do Passeio Público. Fonte: Autora (2018).
167
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
01 Mapear os grupos de guias e professores dos cursos Identificar os agentes dos percursos
de Arquitetura e Urbanismo, Geografia, História, culturais e selecionar quais serão os
Turismo e Psicologia Ambiental. acompanhados pela pesquisa.
02 Identificar as principais rotas traçadas e inferir sobre Apreender metodologicamente
quais motivos que justificam o delineio desses sobre os percursos que acontecem
percursos, quais os métodos utilizados nas na área de estudo.
caminhadas, qual o público-alvo desses roteiros.
03 Captar se a forma urbana favorece a realização dos Compreender a caminhabilidade dos
percursos a pé. lugares por onde se desenvolvem os
roteiros.
04 Aplicar entrevista semiestruturada e mapas mentais. Captar a percepção dos participantes
quanto ao patrimônio cultural.
05 Sobrepor os mapas mentais realizados e as respostas Assimilar acerca da imagem
da entrevista que atestem predominâncias de intersubjetiva do grupo de
incidências de determinados elementos da área caminhantes e refletir sobre quais
estudada. bens e elementos do percurso foram
mais significativos para os
participantes.
06 Refletir sobre análise dos dados. Compreender se as atividades de
reconhecimento da cidade a partir
das caminhadas estão contribuindo
para a apreensão da área percorrida
como patrimônio cultural.
O percurso foi orientado pelos arquitetos Larissa Muniz e José Otávio, ambos
arquitetos e responsáveis pelo Projeto Free Walking Tour Fortaleza. A atividade fez parte
de uma das oficinas oferecidas pelo COURB. O perfil dos participantes era composto por
pessoas entre 19 e 44 anos, metade estudantes e metade composta por profissionais
graduados. Participaram da pesquisa 40 cerca de 46% do grupo (Figura 96). A maioria dos
participantes que responderam o questionário não morava em Fortaleza, sendo
proveniente de Aracaju, Brasília, Crato, Juazeiro e São Leopoldo. Quase todos nunca
haviam vivenciado passeios guiados pelo bairro e apenas um relatou que não gostaria de
participar de mais caminhadas com o mesmo intuito em Fortaleza (Figuras 97 e 98). A
maior parte dos respondentes teve como motivação para participar da atividade conhecer
a história de Fortaleza (Figura 99).
Figuras 96, 97, 98 e 99 - Gráficos obtidos a partir das respostas dos questionários. Fonte: Autora (2020).
40
Ressalta-se que todos os questionários e os mapas mentais respondidos pelos participantes foram
colocados nos apêndices da tese.
170
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
O roteiro proposto pelos guias tinha como ponto inicial o Passeio Público
(mas sem adentrar a história do espaço, pois seria trabalhada ao final) e parada nos pontos:
Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção, Mercado Central, Praça Pedro II, Catedral de
Fortaleza, Travessa Crato, Praça dos Correios, Centro Cultural Banco do Nordeste, Praça
dos Leões, Praça do Ferreira, Rua Guilherme Rocha, Praça José de Alencar, Theatro José
de Alencar, Lord Hotel, IPHAN, Igreja do Patrocínio, Praça da Estação, EMCETUR e
encerramento no Passeio Público (Figura 100).
Figura 100 - Mapa da vivência elaborado pelos guias antes da atividade. Fonte: Larissa Muniz (2018).
Figura 101 - Percurso caminhado pelos participantes do Free Walking Tour Fortaleza. Fonte: Autora
(2019).
passeio que este tinha sido o primeiro no projeto do Free Walking Tour Fortaleza. Passado
mais de um ano desse momento, a pesquisadora pôde observar o amadurecimento da
proposta dos arquitetos-guias, o aumento no número de guias, a abrangência de roteiros
e de pessoas que se sentiram estimuladas a participar (inclusive de outros países,
consequentemente em outro idioma).
Retomando a análise da vivência, um dos problemas mais abordados nos
questionários foi o pouco tempo de pausa nos locais, o que não permitiu a imersão e a
possibilidade de sentir a ambiência. Alguns também se queixaram do fluxo intenso de
veículos e de pessoas e do horário da vivência. Além disso, muitos apontaram que a
atividade foi bastante longa (“o que causava uma certa pressa e pouco
aprofundamento”), em um horário inapropriado para as condições climáticas da cidade e
dificuldade de escutar as informações. (Figura 102).
Figura 102 - Gráfico com os aspectos negativos da vivência. Fonte: Autora (2020).
esse tópico foi destoante e ao mesmo tempo interessante para a pesquisa, pois o
participante respondeu: "Os sons e conversas das pessoas que não estavam na
caminhada, elementos novos nas praças e prédios que nunca havia reparado",
demonstrando que essa pessoa tinha um olhar mais ampliado para além da vivência
(Figura 103).
Figura 103 - Gráfico com elementos que mais marcaram a experiência. Fonte: Autora (2020).
Figura 104 - Gráfico com os aspectos positivos da experiência. Fonte: Autora (2020).
176
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
Figuras 105 e 106 - Gráficos que abordam a elaboração dos mapas mentais. Fonte: Autora (2020).
Figura 107 - Mapas mentais do primeiro momento do Free Walking Tour Fortaleza. Fonte: Autora (2018).
googledoc). O retorno foi baixo, apenas 50% dos respondentes anteriores contribuíram
nessa fase (Figura 108). A partir da análise das respostas, foram obtidas as seguintes
conclusões: os lugares que mais marcaram a memória dos participantes em relação ao
Centro foram a Catedral e as praças do Ferreira e dos Mártires (Figura 109).
Figuras 108 e 109 - Gráfico que aborda as respostas do segundo questionário. Fonte: Autora (2020).
No que se refere aos mapas mentais, teve-se uma baixa adesão. Acredita-se
que isso tenha sido consequência das poucas respostas obtidas do segundo questionário,
bem como grande parte dos participantes não era de Fortaleza e teriam de responder pelo
formulário online (Figura 110). Os mapas mentais elaborados no segundo momento
podem ser distribuídos em três tipologias: desenhos dos elementos mais representativos,
textos indicando a sequência da caminhada e mapas esquemáticos. O ponto mais
lembrado pelos participantes foi a Praça do Ferreira, indicando a força simbólica dessa
área do bairro que, mesmo não sendo protegida pelas instâncias de preservação do
patrimônio cultural, é um dos principais marcos patrimoniais da cidade. Outros elementos
foram lembrados: Fonte da Praça Pedro II, Passeio Público com a Fortaleza pintada em
tons diferentes, Theatro José de Alencar e seus jardins, CCBNB, Paço Municipal, Buraco
da Gia, Praça da Estação, Praça dos Mártires (Figuras 111 e 122).
180
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
Figuras 110 e 111 – Gráficos sobre os dados dos mapas mentais do segundo questionário.
Figura 112 - Mapas mentais do percurso do Free Walking Tour no segundo momento. Fonte: Autora
(2018).
181
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
são necessários menos pontos de visitação e mais tempo em cada parada, além de ouvir
os participantes e vincular as suas experiências anteriores ao momento presente.
Esse panorama apresentado conduz o estudo para o próximo capítulo, onde
se tem a proposição de uma metodologia de percurso orientado, que possibilite uma
experiência mais significativa para a apreensão do patrimônio cultural de uma cidade.
186
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
do patrimônio cultural. Ressalta-se que alguns41 possuem duplo tombamento, ou seja, têm
duas instâncias protetivas (Figura 113).
Figura 113 - Mapa com os bens tombados e de relevância patrimonial. Fonte: GOES (2015).
Embora haja esse padrão de bens culturais nas adjacências dos espaços livres,
há uma preferência pelos conjuntos das praças supracitadas. Isso pode ocorrer por alguns
motivos: a importância das mesmas ainda na contemporaneidade; a sua presença na
memória e no cotidiano de muitos dos entrevistados; o estado de conservação dessas
praças; e a ambiência patrimonial do entorno ser elevada. Além disso, a distância física
entre os espaços é razoavelmente curta (cerca de 1km o percurso completo),
proporcionando a elaboração de um roteiro interessante, compacto e que permite interagir
com os participantes.
41
São exemplos de bens que possuem dupla proteção institucional: Antigo Hotel do Norte, Cine Teatro São
Luiz, Colégio Marista e Passeio Público.
189
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
Figura 114 - Mapa com o Roteiro proposto na Tese. Fonte: Monitora de Conservação Integrada 2019.1,
Thais Vieira (2019), adaptado a partir da dissertação de Gérsica Goes (2015).
alunos, uma convidada, outro professor que também ministrava a mesma disciplina e a
pesquisadora.
Ao final da atividade, foi possível perceber que tanto a duração do percurso
quanto o trajeto escolhido mostraram-se adequados à proposta de reconhecimento do
patrimônio cultural edificado a partir do caminhar, e acredita-se que tenha sido possível
criar narrativas. A pesquisadora teve o cuidado de estimular o diálogo com os
participantes, buscando extrair as memórias e os vínculos com o lugar. Cerca de quatro
alunos não eram de Fortaleza, alguns do interior do estado e outros dois do Maranhão e
do Pará. Muitos relataram que nunca haviam estado nos equipamentos vistos e que a
faculdade os ajudou a conhecer a cidade e a história de Fortaleza. Fez-se questão de frisar
que há outros bens e espaços para serem visitados e ao final, os alunos agradeceram aos
professores por essa dedicação com a educação patrimonial. Um dos estudantes comentou
que iria repetir a vivência com os filhos. Estes depoimentos engrandeceram a atividade e
corroboraram com a discussão acerca da pertinência do tema da pesquisa.
Ressalta-se que havia outros professores responsáveis por níveis escolares
(básico, médio e superior) conduzindo suas turmas aos equipamentos culturais e que,
mesmo diante da situação crítica de conservação desses bens, existe um esforço desses
profissionais em apresentar a história para os estudantes.
A partir desse teste com o percurso, pôde-se aprimorar a proposta de roteiro
cultural, inserindo outros componentes para enriquecer a experiência e possibilitar uma
atividade que proporcionasse a construção de narrativas com o lugar. Foi incorporada
uma atividade de finalização da experiência que pudesse sintetizar as informações
apreendidas. Além disso, ao longo do percurso foram acrescentados momentos para a
apresentação de textos e imagens antigas.
Em resumo, a metodologia do percurso está delineada nos seguintes pontos:
Grupos com cerca de 15 participantes, que podem incluir moradores,
estudantes ou visitantes;
Distribuição de material de apoio (folder com mapa e uma síntese de
informações acerca dos principais bens do entorno) (Figura 115);
191
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
Figura 115 – Folder entregue aos participantes antes da vivência. Fonte: Monitora de Conservação
Integrada 2019.1, Thais Vieira (2019), adaptado a partir da dissertação de Gérsica Goes (2015).
193
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
42
O grupo de pesquisa foi iniciado em 2016, cujo objetivo é documentar (através de desenhos e fotografias)
residências históricas na cidade de Fortaleza.
194
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
Figura 116 - Material utilizado na vivência do percurso proposto. Fonte: Autora (2019).
Facundo e depois o trajeto seguiria para a Praça Waldemar Falcão, retomando ao que foi
planejado inicialmente (Figura 119).
Figura 118 - Mapa atualizado da proposta de roteiro. Fonte: Porão Ateliê Criativo, baseado em informações
de Goes (2015).
197
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
Figura 119 - Mapa com o percurso vivenciado. Fonte: Porão Ateliê Criativo, baseado em informações de
Goes (2015).
Figura 120 - Participantes no primeiro ponto do percurso - Passeio Público. Fonte: Ana Cecília Vasconcelos
(2019).
Esse ponto foi uma adaptação ao roteiro por conta das atividades da Feira da
Sé. Nesse trecho os alunos compartilharam as lembranças que a edificação despertava
neles. Foram relatadas memórias sobre trabalhos acadêmicos que envolviam o Sobrado,
bem como semelhanças com imóveis do sítio histórico de Aracati (sítio histórico cearense
distante quase 170km de Fortaleza). A professora Ana Cecília reforçou a semelhança do
bem com o conjunto histórico de Aracati e juntamente com a pesquisadora, teceu
comentários acerca da importância do imóvel para a capital cearense. Em seguida, todos
seguiram pela Rua Senador Alencar em direção à Praça Waldemar Falcão.
Ao alcançarem o lugar (Figura 123), um dos participantes mencionou que o
ambiente remetia à imagem de um centro da cidade. Então a guia iniciou a discussão
sobre a história daquele espaço, conectando ao seu passado vinculado ao comércio de
feira livre e de mercados públicos, ilustrando através de imagens antigas (Figuras 124 e
125). O entorno do lugar é marcado por um conjunto art déco e protomoderno e a
pesquisadora aproveitou para apresentá-lo ao grupo (Figura 126). Os alunos ficaram
curiosos sobre segundo estilo arquitetônico mencionado e tanto a guia quanto a professora
esclareceram as diferenças entre ambos.
Figura 124 - Imagem histórica do Mercado da Carne. Fonte: Museu da Imagem e do Som.
Figura 125- Participantes discutindo sobre a história dos mercados em Fortaleza. Fonte: Ana Cecília
Vasconcelos (2019).
203
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
Figura 126 - Apresentação sobre a arquitetura art déco do Palácio do Comércio. Fonte: Ana Cecília
Vasconcelos (2019).
Figuras 127 e 128- Imagens da Praça dos Leões na atualidade. Fonte: Autora (2020).
205
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
Figura 129 - Imagem histórica da Praça dos Leões. Fonte: Fortaleza em Fotos -
http://www.fortalezaemfotos.com.br/2014/02/apenas-uma-velha-praca-do-centro.html.
206
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
Figura 130 - Discussão sobre a importância da Praça dos Leões - General Tibúrcio. Fonte: Ana Cecília
Vasconcelos (2019).
Figura 132 - Último ponto da caminhada - Praça do Ferreira. Fonte: Ana Cecília Vasconcelos (2019).
208
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
Figura 133 - Praça do Ferreira nos anos de 1930. Fonte: Museu da Imagem e do Som.
Figuras 134 e 135 - Participantes inserindo suas percepções sobre a experiência e sobre o Centro de
Fortaleza. Fonte: Autora (2019).
havia tratado como uma praça e foi interessante e triste saber que já foi tão
importante”.
43
O produto está inserido em sua formatação e apresentação adequadas no APÊNDICE F.
215
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
Figura 137 - Folder do Circuito Cultural do Patrimônio no Centro de Fortaleza. Fonte: Porão Ateliê
Criativo a partir da dissertação de Gérsica Goes (2015).
216
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
Quadro 11 - Proposta metodológica de caminhada cultural em áreas históricas. Fonte: Autora (2020).
Ressalta-se que essa estrutura pode ser aplicada em outros sítios de relevância
patrimonial, mas devem ser adaptados à realidade da região de forma a construir uma
vivência que permita a construção de narrativas.
218
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
cearense, portanto, não se pode negligenciar esse viés. Provavelmente uma das
estratégias de redução desses conflitos entre os feirantes, ambulantes e os caminhantes
seja a redução sistemática de veículos na porção mais histórica do Centro. A Prefeitura
de Fortaleza implementou algumas ações em 2019, que caminham na direção do chamado
traffic calming (trânsito calmo): adaptando calçadas, introduzido faixas elevadas e
reduzindo a caixa viária de algumas ruas, entretanto é preciso expandir ainda mais, tornar
o Centro das pessoas e dos caminhantes.
Fortaleza, uma cidade relativamente jovem, com 294 anos de fundação, tem
em sua morfologia urbana da área central, o desenho de uma cidade tradicionalmente
oitocentista (GOES, 2015). O Centro é um dos principais espaços da capital cearense em
que é possível perceber a ambiência patrimonial (VIEGAS, 2018), sobretudo em alguns
pontos da rede de praças da região.
Articular a prática da caminhada em espaços de caráter patrimonial permitiu
compreender a relevância do objeto da cidade como um espaço de aprendizagem, ou seja,
a cidade como uma sala de aula de dimensões ampliadas. Nela é possível aprender e
apreender acerca do processo contínuo de transformação que incide na sociedade e vice-
versa. Isso traz múltiplas linguagens e olhares sobre o espaço urbano. Dessa forma, o
tema é inesgotável, pois há muitas camadas a serem descortinadas e discutidas junto à
sociedade. Isto posto, professores e educadores devem ser incentivados a utilizar essa
ferramenta de ensino em suas atividades. Todavia, é preciso estar atento que, pelo caráter
dinâmico da cidade, adaptações, surpresas e algumas interferências externas poderão
suceder, mas ao invés de serem vistas como problemas, pode-se trabalhá-las como
desafios e potencialidades para que cada vivência na cidade seja única. É impossível
repetir a mesma experiência, seja por conta dos participantes que são distintos, seja pelos
novos conhecimentos do guia, seja pelo trajeto, seja pela cidade que não é a mesma de
um dia anterior. E essa é a verdadeira riqueza da prática educativa no espaço urbano.
Independente da qualidade da caminhabilidade da área central de Fortaleza, é
possível discutir a história de sua formação urbana por meio da educação patrimonial,
utilizando as “pedras da cidade” e suas rugosidades. Além disso, foi possível
220
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
compreender que para que haja uma construção de memórias e narrativas com a “sala de
aula” em questão, é preciso dar tempo e espaço aos participantes da vivência, para que
estes possam elaborar vínculos com o lugar e com as informações que lhes foram
repassadas. Portanto, por meio do trabalho de campo realizado foi possível aferir e
comprovar a hipótese do estudo: “Apesar das condições físicas e do descaso com os bens
patrimoniais fortalezenses, é possível exercer atividades de educação patrimonial que
contribuem para a legibilidade do patrimônio cultural”. Sim, é possível e devem ser
sistematicamente incentivadas as atividades que envolvam o corpo no objeto de estudo;
a formação educacional tanto formal quanto informal dos indivíduos deve passar por
atividades que incentivem a experiência de andar na cidade, conhecê-la e vivenciá-la. Tal
como um turista descortinando um novo lugar, os habitantes da cidade também devem
ser impelidos a viajar pelos limites da sua terra, estreitando os vínculos com o lugar, ou
seja, o place attachment (ELALI e MEDEIROS, 2011).
A partir dos percursos acompanhados foi possível compreender que eles
estavam essencialmente ancorados na perspectiva de um roteiro do tipo mindless, apesar
de também conterem elementos da tipologia mindful (COSTA, 2014). Entretanto, o
aspecto informativo da experiência estava bastante evidente, portanto, seria mais
interessante canalizar as atividades de educação patrimonial para abordagens mais
narrativas. Ressalta-se que, independentemente do formato dos roteiros, é indiscutível a
contribuição desses guias para a educação patrimonial na cidade. É louvável o esforço de
discutir e formar indivíduos sobre a história de Fortaleza, tornando-os, talvez, futuros
agentes de preservação e/ou difusão do conhecimento aprendido.
O estudo possibilitou um aprofundamento no entendimento da relevância da
ambiência patrimonial para a construção de atividades educativas para a preservação do
acervo cultural de uma cidade. O patrimônio cultural está presente no cotidiano das
pessoas e, para enxergá-lo, é preciso algumas vezes um olhar mais atento sobre o mesmo.
Sendo assim, defende-se que para valorizá-lo requer-se o fortalecimento da dimensão
cotidiana dos seus habitantes, pois ele passará a ser um elemento intrínseco às práticas
221
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
REFERÊNCIAS
ALLIS, T. Projetos Urbanos e Turismo em grandes cidades: o caso de São Paulo. 2012.
Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo) - Programa de Pós-graduação em
Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012. In: VARGAS,
H. C.; PAIVA, R. A. (org.). Turismo, arquitetura e cidade. Barueri, SP: Manole, 2016.
BRITO, J. P. de. Desenhar para ver. Catálogo da exposição "Desenhar para ver: o
encontro de Bárbara Assis Pacheco com as galerias da Amazónia". Lisboa: Museu
Nacional de Etnologia, 2009. In: KUSCHNIR, K. Desenhando cidades. SOCIOLOGIA
E ANTROPOLOGIA, Rio de Janeiro, v. 02, p. 295-314. 2012. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/sant/v2n4/2238-3875-sant-02-04-0295.pdf. Acesso em: 10 jan.
2020.
CARERI, F. Walkscapes: o caminhar como prática estética. 1ª ed. São Paulo: G. Gili,
2013b.
COSTA, A.; AMARAL, P. Centro histórico de Natal: guia para turistas e moradores.
Natal: IFRN, 2014.
GEHL, J. La humanización del espacio urbano – La vida social entre los edifícios.
Barcelona: Reverté, 2013b.
HOLANDA,F. et al. Arquitetura e Urbanidade. São Paulo: Pro Editores, 2003. In:
AGUIAR, D. Urbanidade e a qualidade da cidade. Arquitextos, São Paulo, ano 12, n.
141.08, Vitruvius, mar. 2012.
https://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/12.141/4221. Acesso em: 01 mai.
2020.
JACOBS, J. Morte e vida de grandes cidades. 2 .ed. São Paulo: Editora WMF Martins
Fontes, 2009.
LEITE, M.A.F.P. Um sistema de espaços livres para São Paulo. Estudos Avançados,
São Paulo, v.25, n. 71, Janeiro/Abril 2011. Disponível em:
https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142011000100011.
Acesso em: 01 mai. 2020.
LISBOA, V. S. Eventos de rua, espaço público e gestão urbana. In: VARGAS, H. C.;
PAIVA, R. A. (org.). Turismo, arquitetura e cidade.Barueri, SP: Manole, 2016.
MEDEIROS, M.R. de; WITT, N.B.; POSSAMAI, Z.R. Leituras da cidade: aprendendo a
olhar Porto Alegre. In: GIL, C.Z. de V.; TRINDADE, R.T.Z. Patrimônio cultural e
ensino de história. 1. ed. Porto Alegre, RS: Edelbra, 2014.
MENESES, U.T.B de. A Cidade como Bem Cultural: Áreas envoltórias e outros dilemas.
equívocos e alcance na preservação do patrimônio ambiental urbano. In: MORI, V.H.
Patrimônio: atualizando o debate. São Paulo: IPHAN, 2006.
OEA. Normas de Quito. In: CURY, I. (Org.). Cartas Patrimoniais. 3. ed.rev. aum. Rio
de Janeiro: IPHAN, 2004.
235
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
O PÃO. ...da Padaria Espiritual. No. 2. 17 de julho de 1892. In: O PÃO...da Padaria
Espiritual. Edições UFC/ Academia Cearense de Letras/ Prefeitura Municipal de
Fortaleza, 1982.
PROJETO CIRCULAR. Circular chega ao final do ano com resultados. Belém. 2019.
Disponível em: https://www.projetocircular.com.br/2019/11/circular-chega-ao-final-do-
ano-com-resultados/. Acessado em: 27 de janeiro de 2020.
RIO, J. D. A alma encantadora das ruas: crônicas. 2. ed. São Paulo: Martin Claret,
2013.
RODRIGUES, L. G. Redescobrindo o centro histórico de Fortaleza: uma análise do
Projeto Fortaleza a Pé. Fortaleza. 2013. Monografia (Graduação em Turismo). Faculdade
Cearense, Fortaleza, 2013.
SANTOS, M. Coleção Documentos, série Estudos sobre o Tempo. São Paulo: USP,
2001.
SEGALA, L. Turismo Cultural nos antigos centros urbanos: uma tendência nacional?,
[2008]. Disponível em: https://docente.ifrn.edu.br/isabeldantas/producao-
cultural/memoria-e-patrimonio-cultural/turismo-cultural-nos-antigos-centros-urbanos-
uma-tendencia-nacional-segala-luiziane-viana-1/view Acesso em: 20 jan. 2020.
SITTE, C. A construção das cidades segundo seus princípios artísticos. Ática, 1992.
THIBAUD, J.-P. A cidade através dos sentidos. CADERNOS PROARQ, Rio de Janeiro,
v. 18, p. 1-16, 2012. Disponível em:
239
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
http://cadernos.proarq.fau.ufrj.br/public/docs/Proarq18_ACidade_JeanThibaud.pdf.
Acesso: 20 out. 2016.
THOMAS, R. Oficina “Fazer corpo, tomar corpo, dar corpo às ambiências urbanas” –
Cresson. REDOBRA, Salvador, v. 10, p. 86-93, 2012.
URRY, J. O olhar do turista. São Paulo: Editora Studio Nobel, 2001 [1990]. In:
FAGERLANDE, S. M. R. A CONSTRUÇÃO DA IMAGEM EM CIDADES
TURÍSTICAS. Tematização e cenarização em colônias estrangeiras no Brasil. Rio de
Janeiro: 2 AB editora. 1a edição, 2015.
ZAKARIA, J.; UJANG, N. Comfort of Walking in the City Center of Kuala Lumpur.
Procedia Social and Behavioral Sciences, v. 170, p. 642 – 652. 2015.
242
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
MOMENTO)
7. O que mudou para você em relação ao patrimônio cultural após a realização desse
roteiro?
Ocupação______________________________Nível de escolaridade______________
Faixa etária_____________________________Sexo___________________________