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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO


ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: URBANIZAÇÃO, PROJETOS E POLÍTICAS
FÍSICO-TERRITORIAIS
LINHA DE PESQUISA: HISTÓRIA DA ARQUITETURA, DO URBANISMO E DO
TERRITÓRIO
NÍVEL: DOUTORADO
ORIENTADOR: PROF. DR. JOSÉ CLEWTON DO NASCIMENTO

PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO


CAMINHAR NO CENTRO DA CIDADE DE FORTALEZA-CE

[GÉRSICA VASCONCELOS GOES]

NATAL, ABRIL DE 2020


Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de
Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Prof. Dr. Marcelo Bezerra de Melo Tinôco -
DARQ - - CT

Goes, Gersica Vasconcelos.


Percursos urbanos: a educação patrimonial a partir do
caminhar no centro da cidade de Fortaleza-CE / Gersica
Vasconcelos Goes. - Natal, RN, 2020.
366f.: il.

Tese (Doutorado) - Universidade Federal do Rio Grande do


Norte. Centro de Tecnologia. Departamento de Arquitetura e
Urbanismo.
Orientador: José Clewton do Nascimento.

1. Educação patrimonial - Tese. 2. Caminhabilidade - Tese. 3.


Roteiros culturais de Fortaleza - Tese. 4. Percepção do patrimônio
cultural - Tese. I. Nascimento, José Clewton do. II. Universidade
Federal do Rio Grande do Norte. III. Título.

RN/UF/BSE15 CDU 719

Elaborado por Ericka Luana Gomes da Costa Cortez - CRB-15/344


GÉRSICA VASCONCELOS GOES

PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR


NO CENTRO DA CIDADE DE FORTALEZA-CE

Tese apresentada ao Programa de Pós-


graduação em Arquitetura e Urbanismo da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
como requisito para obtenção da aprovação no
exame de defesa de Doutorado em Arquitetura
e Urbanismo

Orientador: Prof. Dr. José Clewton do


Nascimento

NATAL/RN
2020
GÉRSICA VASCONCELOS GOES
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO
CAMINHAR NO CENTRO DA CIDADE DE FORTALEZA-CE
O presente trabalho insere-se na linha de
pesquisa de HISTÓRIA DA ARQUITETURA,
DO URBANISMO E DO TERRITÓRIO, com
foco na apreensão das áreas patrimoniais,
dentro da área de concentração de Urbanização,
Projetos e Políticas Físico-Territoriais.
Orientador: Prof. Dr. José Clewton do
Nascimento
Aprovada em: 17 de abril de 2020.
BANCA EXAMINADORA

________________________________________________________________
Prof. Dr. José Clewton do Nascimento – PPGAU – UFRN
(Orientador)
________________________________________________________________
Prof. Dr. George Alexandre Ferreira Dantas – PPGAU – UFRN
(Examinador Interno)
_________________________________________________________________
Profa. Dra. Natália Miranda Vieira Araújo – PPGAU – UFRN
(Examinadora Interna)
________________________________________________________________
Prof. Dr. Emanuel Ramos Cavalcanti – DARQ-UFRN
(Examinador Externo ao Programa)
________________________________________________________________
Profa. Dra. Berenice Abreu de Castro Neves – UECE
(Examinadora Externa à Instituição)
________________________________________________________________
Prof. Dr. Clóvis Ramiro Jucá Neto – UFC
(Examinador Externo à Instituição)
NATAL/RN
2020
Aos meus maiores incentivadores a seguir no
caminho dos sonhos, meus pais, Glória e
Gerval.
AGRADECIMENTOS

Aos professores Clewton do Nascimento, George Dantas e Natália Miranda,


que contribuíram de forma substancial para minha formação profissional e acadêmica
desde 2013, especialmente na temática da preservação do patrimônio cultural. Além deles,
agradeço às professoras Edja Trigueiro e Gleice Elali por toda a contribuição ao longo da
tese, principalmente nos primeiros passos, que foram fundamentais para não me desviar
do rumo. Sou grata pela oportunidade de ter compartilhando novos olhares sobre a
Arquitetura e o entusiasmo pela carreira docente com vocês. Agradeço especialmente ao
querido Prof. Clewton, que soube me conduzir de forma exímia, tranquila, mas ao mesmo
tempo firme, apontando caminhos e posicionamentos, que não esperava no começo da
jornada. Aos professores da banca, Berenice Abreu, Clóvis Jucá e Emanuel Cavalcanti que
enriqueceram com suas palavras, conhecimentos e incentivos o desenvolvimento da
pesquisa, contribuindo significativamente com as temáticas da educação patrimonial e da
cultura fortalezense.
A todos os professores, guias dos percursos e participantes da pesquisa: sem
eles não teria sido possível construir esta pesquisa. Foi uma jornada bastante gratificante
poder compartilhar memórias e vínculos afetivos com a história de Fortaleza. Ao longo
desta caminhada foi possível conhecer centenas de pessoas que estavam dispostas a
contribuir com o estudo. Agradeço a todos em nome dos profissionais Ana Cecília
Vasconcelos, Gerson Linhares, Jacqueline Oliveira, José Otávio, Larissa Muniz, Marcelo
Capasso e Renato Pequeno.
Aos colaboradores que contribuíram impecavelmente para o desenvolvimento
da tese. Os trabalhos incluíram a elaboração dos mapas finais, a programação visual do
caderno e a revisão textual. Agradeço aos escritórios Porão Ateliê Criativo, Kazullo
Arquitetos e Lorena Santana.
Ao Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte (PPGAU-UFRN) por ter concedido a oportunidade de
realizar esta pesquisa, tendo seus funcionários, em especial Nicolau Silva, que sempre de
forma solícita me auxiliado de forma solícita nas atividades requeridas durante quatro
anos.
Aos amigos cearenses e potiguares que tornaram esse processo mais aprazível,
que sempre alegram, apoiam e confortam a cada reencontro. Agradeço especialmente a
Monique, minha parceira desde a época do Mestrado e que concedeu tanto apoio logístico
para me abrigar em Natal, quanto emocional para nos conduzirmos nessa empreitada do
doutorado.
À Universidade de Fortaleza (UNIFOR), em nome da professora Camila
Girão, que me concedeu a oportunidade de lecionar sobre patrimônio cultural e aplicar os
conhecimentos adquiridos. Obrigada a todos os alunos e colegas professores, com quem
pude compartilhar as descobertas da tese e que sempre se mostraram entusiastas do tema
e prontos a colaborar com a pesquisa.
Ao Instituto de Planejamento de Fortaleza (IPLANFOR), que me acolheu
durante a caminhada do doutorado e possibilitou a conclusão desse sonho. Agradeço em
especial aos meus colegas da Diretoria de Articulação e Integração de Políticas (DIART),
que sempre proporcionaram um apoio incondicional para a construção da tese,
participando da pesquisa e possuindo uma compreensão ímpar nos momentos que tive de
me ausentar para o desenvolvimento dos estudos. Muito obrigada pessoal!
Encerro com um agradecimento em especial à minha família (Vasconcelos e
Braga), que me apoiou incondicionalmente no alcance deste objetivo. Muito obrigada aos
meus pais Gerval e Glória, ao meu irmão George (e companheiro de doutorado), ao
Thiago, meu esposo, ao meu filho Gustavo (um presente da vida e que iluminou o caminho
na reta final), por todo o incentivo emocional, profissional e logístico nesta empreitada.
Conseguimos!
O caminhar produz lugares.
Francesco Careri
RESUMO
O trabalho analisa a importância da prática da educação patrimonial a partir do caminhar.
No estudo discute-se como o andar a pé em áreas históricas do Centro de Fortaleza
proporciona o reconhecimento de rugosidades do tecido histórico. A pesquisa
acompanhou alguns percursos organizados por professores e profissionais vinculados à
História, Turismo, Arquitetura e Urbanismo. A hipótese do presente estudo é que, apesar
das condições físicas e do descaso com os bens patrimoniais fortalezenses, é possível
exercer atividades de educação patrimonial que contribuem para a legibilidade do
patrimônio cultural. Tem-se como referencial teórico-metodológico a temática da
vinculação forma urbana e apreensão da cidade discutida por autores como Gordon
Cullen (2006), José Lamas (2011), Kevin Lynch (2006) e Camillo Sitte (1992). Outro
aspecto discutido na tese é o caminhar como instrumento para o reconhecimento da cidade
- autores como Paola Jacques (2012a) e Francesco Careri (2013b) elucidam essas
questões. As discussões quanto ao turismo cultural e a proposição de roteiros
significativos para os participantes foram fundamentadas nos escritos de Flávia Costa
(2014), Hermínia Vargas e Ricardo Paiva (2016). O estudo está embasado em pesquisas
bibliográficas, documental e de campo para o entendimento da percepção patrimonial da
área central da cidade. Quanto aos resultados, observou-se que os roteiros acompanhados
tinham um caráter essencialmente informativo, corroborando pouco para a criação de
narrativas com o lugar. Diante disso, a pesquisa tem como objetivo propor uma
metodologia de percurso (roteiro e procedimentos), para que seja possível o
estabelecimento de um roteiro narrativo, que tece vínculos entre os participantes com a
história da cidade, concedendo um panorama de apreensão do tecido histórico “resistente”
na área central.

Palavras-chave: Educação patrimonial, caminhabilidade, roteiros culturais de Fortaleza,


percepção do patrimônio cultural.

ABSTRACT
The research analyzes the importance of the practice heritage education based on walking.
The study discusses how walking in historical areas of Fortaleza´s centre provides the
recognition of roughness of the historical tissue. The research followed some courses
organized by professors and professionals linked to History, Tourism, Architecture and
Urbanism. The hypothesis of the present study is that, despite the physical conditions and
the neglect of the patrimonial property of Fortaleza, it is possible to practice patrimonial
education activities that contribute to the legibility of the cultural heritage. The
theoretical-methodological framework is the theme of linking urban form and city
apprehension discussed by authors such as Gordon Cullen (2006), José Lamas (2011),
Kevin Lynch (2006) and Camillo Sitte (1992). Another aspect discussed in the thesis is
walking as an instrument for the recognition of the city, authors such as Paola Jacques
(2012a) and Francesco Careri (2013b) clarify these issues. The discussions about cultural
tourism and the proposition of meaningful itineraries for the participants were based on
the writings of Flávia Costa (2014), Hermínia Vargas and Ricardo Paiva (2016). The
study is based on bibliographic, documentary and field research to understand the heritage
perception of the central area of the city. As for the results, it was observed that the
followed tours were essentially informative character, corroborating little to the creation
of narratives with the place. Thus, the research aims to propose a route methodology
(course and procedures), so that it is possible to establish a narrative character, which
weaves links between participants with the city's history, providing a panorama of
apprehension of the “resistant” historical fabric in the central area.

Keywords: Heritage education, walkability, cultural courses of Fortaleza, perception of


cultural heritage.
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Mapa com a área de estudo da pesquisa de tese. Fonte: Base em Autocad
concedida para a disciplina Projeto Urbanístico 4 (DAUUFC) pelo professor Almir Farias
e trabalhada pela autora (2015). ..................................................................................... 26
Figuras 2, 3, 4, 5, 6, 7 e 8 - Imagens do folder elaborado pela SETFOR. Fonte: SETFOR,
2020. ............................................................................................................................. 101
Figura 9 - Mapa afetivo da Praia de Iracema do projeto Revista Mapa. Fonte: Autora
(2019). .......................................................................................................................... 102
Figura 10 - Mapa afetivo da Praia de Iracema do projeto Revista Mapa. Fonte: Autora
(2019). .......................................................................................................................... 103
Figuras 11 - Revista Mapa sobre o Centro de Fortaleza. Fonte: Autora (2019). ......... 103
Figura 12 - Revista Mapa sobre o Centro de Fortaleza. Fonte: Autora (2019). ........... 104
Figura 13 - Palestra da professora Jacqueline sobre a Praça dos Leões e edifícios do
entorno. Fonte: Autora (2018). ..................................................................................... 109
Figura 14 - Início do percurso, a professora apresenta o Palácio da Luz. Fonte: Autora
(2018). .......................................................................................................................... 111
Figura 15 - Professora apresenta as características do Palacete Ceará. Fonte: Autora
(2018). .......................................................................................................................... 112
Figura 16 - Grupo atravessa a rua e apreende a arquitetura do Edifício L´escale. Fonte:
Autora (2018). .............................................................................................................. 112
Figura 17 - Estudantes se dirigem à Praça do Ferreira. Fonte: Autora (2018). ............ 112
Figura 18 - Grupo apreende o conjunto arquitetônico da Praça do Ferreira. Fonte: Autora
(2018). .......................................................................................................................... 113
Figuras 19 e 20 - Grupo caminha em direção ao último ponto e em seguida observam um
dos marcos arquitetônicos de Fortaleza, o Museu do Ceará. Fonte: Autora (2018)..... 114
Figura 21 - Grupo chega no Museu do Ceará. Fonte: Autora (2018). .......................... 114
Figuras 22 e 23 - Professora mostra a organização dos espaços do Museu. Fonte: Autora
(2018). .......................................................................................................................... 115
Figuras 26, 27, 28 e 29 – Gráficos obtidos a partir das respostas dos questionários. Fonte:
Autora (2020). .............................................................................................................. 117
Figura 30 - Percurso proposto pela professora Jacqueline. Fonte: Autora (2019). ...... 118
Figura 31 - Caminhada vivenciada pelo grupo. Fonte: Autora (2019). ........................ 120
Figura 32 - Gráfico com os percentuais dos aspectos negativos da experiência. Fonte:
Autora (2020). .............................................................................................................. 122
Figura 33- Gráfico com os elementos que foram mais observados na experiência. Fonte:
Autora (2020). .............................................................................................................. 122
Figura 34 - Gráfico com os aspectos positivos da experiência. Fonte: Autora (2020). 123
Figuras 35 e 36 – Gráficos que abordam os mapas mentais elaborados. Fonte: Autora
(2020). .......................................................................................................................... 124
Figura 37 - Mapas mentais do primeiro momento do percurso da professora Jacqueline
Oliveira Fonte: Autora (2018). ..................................................................................... 125
Figura 38 - Gráfico com a adesão ao 2° Questionário. Fonte: Autora (2020). ............. 126
Figura 39 - Gráfico que traz os lugares do Centro de Fortaleza-CE presentes na memória
dos participantes. Fonte: Autora (2020). ...................................................................... 126
Figuras 40 e 41 – Gráficos que abordam os mapas mentais elaborados. Fonte: Autora
(2020). .......................................................................................................................... 128
Figura 42 - Mapas mentais do segundo momento. Fonte: Autora (2018). ................... 128
Figura 43 - Grupo esperando para iniciar a caminhada. Fonte: Autora (2018). ........... 131
Figura 44 - Grupo forma uma roda de apresentação. Fonte: Autora (2018). ............... 131
Figura 45 - Início do percurso. Fonte: Autora (2018). ................................................. 132
Figura 46 - Grupo realiza uma parada para analisar a pintura dos muros da Fortaleza de
Nossa Senhora da Assunção. ........................................................................................ 133
Figura 47 - Explanação sobre a importância histórica do lugar. Fonte: Autora (2018).
...................................................................................................................................... 134
Figura 48 - Vista do entorno da Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção com a Catedral
de Fortaleza ao fundo. Fonte: Autora (2018). .............................................................. 134
Figura 49- Apreensão do entorno do Mercado Central. Fonte: Autora (2018). ........... 135
Figura 48 – Grupo se encaminha para a Praça Dom Pedro II. Fonte: Autora (2018). . 136
Figura 49 - Grupo observa os detalhes da Catedral. Fonte: Autora (2018). ................. 137
Figura 50 - Guia explicando sobre a importância histórica da Catedral. Fonte: Autora
(2018). .......................................................................................................................... 137
Figura 53 - Participantes vão para a lateral da Catedral para observar os vitrais da
edificação. Fonte: Autora (2018). ................................................................................. 137
Figura 54 - Vitrais da Catedral de Fortaleza. Fonte: Autora (2018)............................. 138
Figura 55 - Entorno da Catedral, com o Palácio do Bispo (sede da Prefeitura Municipal)
ao fundo. Fonte: Autora (2018). ................................................................................... 139
Figura 56 - Apresentação do entorno da Travessa do Crato e foco para o Raimundo dos
Queijos. Fonte: Autora (2018). ..................................................................................... 140
Figura 57 - Trabalhadores pintando a Travessa do Crato. ............................................ 140
Figura 58 - Guia explicando sobre a história da Praça Carolina e dos edifícios do entorno.
Fonte: Autora (2018). ................................................................................................... 141
Figura 59- Participantes vão para o Centro Cultural Banco do Nordeste e analisam a linha
do tempo da cidade. Fonte: Autora (2018). .................................................................. 142
Figura 60 - Guias mostram por onde o grupo já passou. Fonte: Autora (2018). .......... 142
Figura 61 - Discussão sobre a solução arquitetônica do conjunto. Fonte: Autora (2018).
...................................................................................................................................... 143
Figura 62 - Intervenções artísticas nas caixas de ar condicionado. Fonte: Autora (2018).
...................................................................................................................................... 143
Figura 63 - Grupo se encaminhando para Praça dos Leões. Fonte: Autora (2018). ..... 144
Figura 64 - Pausa no trajeto para avaliar a escadaria da Praça. Fonte: Autora (2018). 145
Figuras 65 e 66 - Grupo percorrendo a calçada estreita que margeia a Praça dos Leões e
a situação do Passeio no entorno da Praça. Fonte: Autora (2018). .............................. 145
Figura 67 - Explicação sobre o Museu do Ceará. Fonte: Autora (2018). ..................... 147
Figura 68 - Guias contextualizando sobre a história da Praça e suas curiosidades. Fonte:
Autora (2018). .............................................................................................................. 147
Figura 69- Grupo percorrendo a Praça dos Leões. Fonte: Autora (2018). ................... 148
Figura 70 - Grupo observa a estátua da Rachel de Queiroz. Fonte: Autora (2018). .... 149
Figura 71 - Grupo segue para a Praça do Ferreira. Fonte: Autora (2018). ................... 149
Figura 72 - Participantes chegam à Praça do Ferreira. Fonte: Autora (2018). ............. 150
Figura 73 - Praça do Ferreira. Fonte: Autora (2018). ................................................... 151
Figura 74 - Guias contam sobre a importância histórica do lugar. Fonte: Autora (2018).
...................................................................................................................................... 151
Figura 75 – Cine Teatro São Luiz. Fonte: Autora (2018). ........................................... 152
Figura 76 - Guia José Otávio conta sobre algumas personalidades que fizeram parte da
história da Praça do Ferreira. Fonte: Autora (2018). .................................................... 153
Figura 77 - Escultura representando a cultura de Fortaleza pertencente à Exposição
Cowparade Fortaleza. Fonte: Autora (2018). ............................................................... 154
Figura 78 - Guia solicitou que o grupo ficasse mais próximo e evitasse a dispersão ao
longo da caminhada para o próximo ponto. Fonte: Autora (2018). ............................. 155
Figura 79 - Grupo caminhando pela Rua Guilherme Rocha. Fonte: Autora (2018). ... 156
Figura 80 - Grupo chega à Praça José de Alencar. Fonte: Autora (2018). ................... 157
Figura 81 - Situação precária de caminhabilidade na Praça José de Alencar, onde os
participantes andam na rua por conta do espaço público estar densamente ocupado por
feirantes. ....................................................................................................................... 157
Figura 82- Grupo chega ao Theatro José de Alencar. Fonte: Autora (2018). .............. 158
Figura 83 - Participantes percorrem os jardins do Teatro. Fonte: Autora (2018). ....... 158
Figura 84 - Grupo atravessa a Praça José de Alencar. Fonte: Autora (2018)............... 159
Figura 85 - Caminhantes seguem pela Rua General Sampaio em meio aos veículos e
barracas dos ambulantes. Fonte: Autora (2018). .......................................................... 160
Figura 86 - O caminhar nas calçadas do Centro de Fortaleza - a disputa com comércio
ambulante. Fonte: Autora (2018).................................................................................. 161
Figura 87 - Grupo se aproxima da Estação João Felipe. Fonte: Autora (2018) ........... 162
Figura 88 - Praça da Estação. Fonte: Autora (2018). ................................................... 162
Figura 89 - Estação João Felipe. Fonte: Autora (2018)................................................ 163
Figura 90 - EMCETUR. Fonte: Autora (2018). ........................................................... 163
Figura 91 - Guias explicam sobre a importância histórica da Antiga Cadeia Pública.
Fonte: Autora (2018). ................................................................................................... 164
Figura 92 - Guias apresentam a frente marítima da área histórica de Fortaleza e algumas
comunidades tradicionais do entorno. Fonte: Autora (2018). ...................................... 164
Figura 93 - Participantes caminham para o último ponto - Passeio Público. Fonte: Autora
(2018). .......................................................................................................................... 165
Figura 94 - Grupo se aproximando do Passeio Público. Fonte: Autora (2018). .......... 165
Figura 95 - Guias contextualizando a importância histórica do Passeio Público. Fonte:
Autora (2018). .............................................................................................................. 166
Figura 96 - Encerramento da vivência. Fonte: Autora (2018). ..................................... 167
Figura 97 - Participantes respondendo o questionário da pesquisa. Fonte: Autora (2018).
...................................................................................................................................... 167
Figuras 98, 99, 100 e 101 - Gráficos obtidos a partir das respostas dos questionários.
Fonte: Autora (2020). ................................................................................................... 169
Figura 102 - Mapa da vivência elaborado pelos guias antes da atividade. Fonte: Larissa
Muniz (2018). ............................................................................................................... 170
Figura 103 - Percurso caminhado pelos participantes do Free Walking Tour Fortaleza.
Fonte: Autora (2019). ................................................................................................... 172
Figura 104 - Gráfico com os aspectos negativos da vivência. Fonte: Autora (2020)... 174
Figura 105 - Gráfico com elementos que mais marcaram a experiência. Fonte: Autora
(2020). .......................................................................................................................... 175
Figura 106 - Gráfico com os aspectos positivos da experiência. Fonte: Autora (2020).
...................................................................................................................................... 175
Figuras 107 e 108 - Gráficos que abordam a elaboração dos mapas mentais. Fonte: Autora
(2020). .......................................................................................................................... 177
Figura 109 - Mapas mentais do primeiro momento do Free Walking Tour Fortaleza.
Fonte: Autora (2018). ................................................................................................... 177
Figuras 110 e 111 - Gráfico que aborda as respostas do segundo questionário. Fonte:
Autora (2020). .............................................................................................................. 178
Figuras 112 e 113 – Gráficos sobre os dados dos mapas mentais do segundo questionário.
...................................................................................................................................... 180
Figura 114 - Mapas mentais do percurso do Free Walking Tour no segundo momento.
Fonte: Autora (2018). ................................................................................................... 180
Figura 115 - Mapa com os bens tombados e de relevância patrimonial. Fonte: GOES
(2015). .......................................................................................................................... 188
Figura 116 - Mapa com o Roteiro proposto na Tese. Fonte: Monitora de Conservação
Integrada 2019.1, Thais Vieira (2019), adaptado a partir da dissertação de Gérsica Goes
(2015). .......................................................................................................................... 189
Figura 117 – Folder entregue aos participantes antes da vivência. Fonte: Monitora de
Conservação Integrada 2019.1, Thais Vieira (2019), adaptado a partir da dissertação de
Gérsica Goes (2015). .................................................................................................... 192
Figura 118 - Material utilizado na vivência do percurso proposto. Fonte: Autora (2019).
...................................................................................................................................... 194
Figura 119 - Passeio Público de Fortaleza. Fonte: Autora (2020)................................ 195
Figura 120 - Mapa atualizado da proposta de roteiro. Fonte: Porão Ateliê Criativo,
baseado em informações de Goes (2015). .................................................................... 196
Figura 121 - Mapa com o percurso vivenciado. Fonte: Porão Ateliê Criativo, baseado em
informações de Goes (2015). ........................................................................................ 197
Figura 122 - Participantes no primeiro ponto do percurso - Passeio Público. Fonte: Ana
Cecília Vasconcelos (2019). ......................................................................................... 198
Figura 123 - Imagem histórica do Passeio Público. Fonte: Fortaleza em Fotos -
http://www.fortalezaemfotos.com.br/2010/08/um-olhar-sobre-o-passeio-publico-
por.html. ....................................................................................................................... 200
Figura 124 - Sobrado José Lourenço. Fonte: Autora (2020). ....................................... 200
Figura 125 - Praça Waldemar Alcântara e entorno. Fonte: Autora (2020). ................. 201
Figura 126 - Imagem histórica do Mercado da Carne. Fonte: Museu da Imagem e do Som.
...................................................................................................................................... 202
Figura 127- Participantes discutindo sobre a história dos mercados em Fortaleza. Fonte:
Ana Cecília Vasconcelos (2019). ................................................................................. 202
Figura 128 - Apresentação sobre a arquitetura art déco do Palácio do Comércio. Fonte:
Ana Cecília Vasconcelos (2019). ................................................................................. 203
Figuras 129 e 130- Imagens da Praça dos Leões na atualidade. Fonte: Autora (2020).204
Figura 131 - Imagem histórica da Praça dos Leões. Fonte: Fortaleza em Fotos -
http://www.fortalezaemfotos.com.br/2014/02/apenas-uma-velha-praca-do-centro.html.
...................................................................................................................................... 205
Figura 132 - Discussão sobre a importância da Praça dos Leões - General Tibúrcio. Fonte:
Ana Cecília Vasconcelos (2019). ................................................................................. 206
Figura 133 - Praça do Ferreira na contemporaneidade. Fonte: Autora (2020). ............ 207
Figura 134 - Último ponto da caminhada - Praça do Ferreira. Fonte: Ana Cecília
Vasconcelos (2019). ..................................................................................................... 207
Figura 135 - Praça do Ferreira nos anos de 1930. Fonte: Museu da Imagem e do Som.
...................................................................................................................................... 209
Figuras 136 e 137 - Participantes inserindo suas percepções sobre a experiência e sobre o
Centro de Fortaleza. Fonte: Autora (2019). .................................................................. 210
Figura 138 - Mapa síntese da vivência. Fonte: Autora (2019). .................................... 210
Figura 139 - Folder do Circuito Cultural do Patrimônio no Centro de Fortaleza. Fonte:
Porão Ateliê Criativo a partir da dissertação de Gérsica Goes (2015). ........................ 215
LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Quadro resumo com as etapas da tese. Fonte: Autora (2018). ..................... 39
Quadro 2 – Quadro com a estrutura da tese. Fonte: autora (2018). ................................ 42
Quadro 3 – Comparação entre os autores Bradshaw (1993), Santos (2003) e Speck (2016).
Fonte: Autora (2017). ..................................................................................................... 66
Quadro 4 – Quadro elaborado por Jan Gehl associando a qualidade física do lugar e as
atividades desenvolvidas, adaptada pela autora (GEHL, 2013b, p.19). ......................... 67
Quadro 5 - Comparativo entre roteiros mindful e mindeless. Fonte: Costa (ANO, p.89-
90). .................................................................................................................................. 86
Quadro 6 - Profissionais responsáveis pelos roteiros guiados no Centro de Fortaleza- CE.
Fonte: Autora (2018). ................................................................................................... 107
Quadro 7 - Análise da caminhabilidade do percurso das Disciplinas de História da Arte e
da Arquitetura. .............................................................................................................. 121
Quadro 8 - Análise do Roteiro das Disciplinas de História da Arte e da Arquitetura. . 129
Quadro 9 - Análise da caminhabilidade do percurso do Free Walking Tour Fortaleza.
...................................................................................................................................... 173
Quadro 10 - Análise do Roteiro do Free Walking Tour Fortaleza. .............................. 182
Quadro 11 - Proposta metodológica de caminhada cultural em áreas históricas. Fonte:
Autora (2020). .............................................................................................................. 216

LISTA DE SIGLAS

ACL - Academia Cearense de Letras


BNB- Banco do Nordeste do Brasil S.A.
CCBNB - Centro Cultural Banco do Nordeste
CEP – Comitê Ético de Pesquisa
CNRC - Centro Nacional de Referência Cultural
COURB - Instituto de Urbanismo Colaborativo
CPC - Centro de Preservação Cultural da Universidade de São Paulo
EMCETUR - Centro de Turismo do Ceará
HUOL - Hospital Universitário Onofre Lopes
IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
IPLANFOR – Instituto de Planejamento de Fortaleza
MBA - Master in Business Administration
PDP – Plano Diretor Participativo
PET - Programa de Educação Tutorial
PPGAU-UFRN - Programa de Pesquisa de Pós-graduação da Universidade Federal do
Rio Grande do Norte
RFFSA - Rede Ferroviária Federal S.A
SECULT – Secretaria de Estado de Cultura
SECULTFOR – Secretaria da Cultura de Fortaleza
SETFOR - Secretaria Municipal do Turismo do Município de Fortaleza
SEUMA – Secretaria de Urbanismo e Meio Ambiente de Fortaleza
UECE - Universidade Estadual do Ceará
UFC - Universidade Federal do Ceará
UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul -
UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
UNI7 – Centro Universitário 7 de Setembro
UNIFOR – Universidade de Fortaleza
ZEIS - Zonas Especiais de Interesse Social
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................. 21
1.1 PROBLEMÁTICA ..................................................................................... 21

1.2 OBJETIVOS ............................................................................................... 29

GERAL .............................................................................................................. 29

ESPECÍFICOS .................................................................................................. 29

1.3 JUSTIFICATIVA ...................................................................................... 29

1.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS............................................ 32

2. A CIDADE COMO NARRATIVA – O CAMINHAR COMO


INTERVENÇÃO URBANA............................................................. 44
2.1 O CAMINHAR COMO FORMA DE APROPRIAÇÃO DA CIDADE 46

2.2 O DESENHO DA CIDADE: FORMA E IMAGEM ............................... 56

2.3 CAMINHABILIDADE: AS ESTRATÉGIAS PARA O CAMINHAR NA


CIDADE............................................................................................................. 61

3. ASPECTOS DA EDUCAÇÃO PATRIMONIAL: A


PERCEPÇÃO DO LUGAR A PARTIR DO TURISMO
CULTURAL ...................................................................................... 72
3.1 O TURISMO CULTURAL E A APREENSÃO DA CIDADE ............... 78

3.2 A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL COMO INSTRUMENTO DE


PRESERVAÇÃO .............................................................................................. 86

4. A PRÁTICA DO CAMINHAR EM ROTEIROS CULTURAIS –


ÁREA CENTRAL DE FORTALEZA ............................................ 93
4.1 ROTEIRO DISCIPLINAS DE HISTÓRIA DA ARTE E DA
ARQUITETURA ............................................................................................ 109

4.1.1 Análise do roteiro .................................................................................. 116

4.2 ROTEIRO FREE WALKING TOUR FORTALEZA ........................... 130


4.2.1 Análise do roteiro .................................................................................. 168

4.3 SÍNTESE DOS ROTEIROS ................................................................... 182

5. HÁ APREENSÃO DO PATRIMÔNIO CULTURAL A PARTIR


DO CAMINHAR? – PROPOSIÇÃO DE UMA METODOLOGIA
DE PERCURSO CULTURAL PARA (RE) CONHECER A
CIDADE ........................................................................................... 186
5.1 Experiência-teste do percurso ................................................................. 189

5.2 Caminhos percorridos: a experimentação da Vivência ........................ 193

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................... 218

REFERÊNCIAS .............................................................................. 224

APÊNDICE A – ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA (1º


MOMENTO) ................................................................................... 242

APÊNDICE B – ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA (2º


MOMENTO) ................................................................................... 244

APÊNDICE C – ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA (2º


MOMENTO) – FORMULÁRIO ONLINE................................... 245

APÊNDICE D – QUESTIONÁRIOS PERCURSO HISTÓRIA DA


ARQUITETURA (PROFa JACQUELINE HOLANDA) ........... 246

APÊNDICE E – QUESTIONÁRIOS PERCURSO FREE


WALKING TOUR FORTALEZA .................................................. 320

APÊNDICE F – FOLDER CIRCUITO CULTURAL DO


PATRIMÔNIO NO CENTRO DE FORTALEZA ...................... 361

ANEXO A – MAPA AFETIVO 01 (PRAIA DE IRACEMA) .... 363

ANEXO B – MAPA AFETIVO 02 (CENTRO) ........................... 365


21
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

1. INTRODUÇÃO

1.1 PROBLEMÁTICA

Os estudos sobre a cidade, suas relações e percepções continuam se


expandindo e ampliando o horizonte, pois, concordando com Rossana Honorato (1999)
em seu livro “Se essa cidade fosse minha...”, a vida cotidiana acontece na cidade. É nela
que as pessoas podem viver de forma plena, além de ter acesso às transformações
contemporâneas em escala mundial, através da teia global em que as cidades se encontram
conectadas por meio da comunicação e tecnologia. Adentrando ainda mais
especificamente nos espaços de vivência da cidade, Virgínia Santos (2016, p.165) destaca
o papel da rua para a vivacidade citadina1, defendendo a importância desse elemento não
somente pelo viés da circulação, mas sobretudo: “[...] como lugar e suporte de
sociabilidade, ainda que por um tempo determinado, tende a deixar de ser o meio entre a
partida e o destino para se tornar o fim, o lugar do acontecimento”. Portanto, a cidade, a
rua, ou seja, o tecido urbano é de fundamental importância ao se tentar compreender a
formação cultural de um lugar.
Percorrer a malha oitocentista da área central de Fortaleza possibilita (re)
conhecer as reminiscências do patrimônio cultural edificado, por vezes esquecido, numa
cidade que possui a prática de valorizar o novo em detrimento do antigo. Parafraseando
João do Rio (1908) em “A alma encantadora das ruas”, a rua tem alma, portanto,
apreender os significados desses espaços na perspectiva dos que os vivenciam é uma das
inquietações surgidas após a conclusão da dissertação “Um percurso sobre o patrimônio

1
A autora trata sobre eventos de ruas no que tange à dinamicidade e a potencialidade dessas atividades para
a cidade.
22
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

e a morfologia urbana do Centro de Fortaleza-CE2”. Sendo assim, partiu-se desse estudo


anterior para tentar captar a contribuição dos percursos guiados a pé, que possuem a
perspectiva da educação patrimonial, enfocando no olhar dos caminhantes/participantes.
Em outros termos, procurou-se obter, através da escala do pedestre, a percepção da
dinâmica e historicidade dos espaços que propiciam a prática do caminhar no centro
histórico.
A área central de Fortaleza, mesmo descaracterizada como um conjunto
histórico por conta das pressões para a sua “modernização”, possui rugosidades em seu
tecido urbano, ou seja, há camadas históricas que manifestam as transformações ocorridas
no território e que são perceptíveis no tempo presente, contendo uma diversidade
tipológica de contribuições arquitetônicas integrantes da paisagem3 (GOES, 2015).
A dissertação verificou o quadro4 de bens de interesse patrimonial,
compreendendo edificações significativas de Fortaleza, tais como: a arquitetura civil
militar portuguesa, na Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção; o estilo eclético e art
nouveau do Theatro José de Alencar; a diversidade de exemplares do art déco como o
Cine São Luiz (um dos principais representantes), culminando na arquitetura modernista
do Edifício Raul Barbosa (Fórum Presidente Castello Branco).
Somado a esse patrimônio edificado, percebeu-se a herança do traçado urbano
delineado no século XIX, cuja presença foi consolidada no desenho das ruas e praças do
bairro. No rol desse conjunto urbano de valor patrimonial destaca-se a produção

2
O trabalho em questão foi defendido em abril de 2015 sob orientação do prof. Dr. José Clewton do
Nascimento. O estudo é integrante da linha de pesquisa História da Arquitetura, do Urbanismo e do
Território, do Programa de Pesquisa de Pós-graduação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(PPGAU-UFRN).
3
Este estudo acerca dos bens de valor patrimonial foi elaborado anteriormente na dissertação da
pesquisadora. O trabalho foi embasado na análise sequencial (CULLEN, 2006; PANERAI, 2014) onde
foram constituídos percursos no Centro de Fortaleza, que identificavam os valores patrimoniais existentes
na forma urbana (GOES, 2015).
4
Ressalta-se que passados cinco anos da conclusão da pesquisa de mestrado, alguns bens que foram
identificados à época da dissertação foram descaracterizados ou demolidos por conta do acelerado processo
de transformação e de pressão do mercado imobiliário em Fortaleza.
23
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

arquitetônica e urbanística do período do final do século XIX e as primeiras décadas do


século XX5. Foi durante esse espaço temporal que o núcleo urbano adquiriu importância
(GOES, 2015).
Fortaleza possui um contexto de crescimento urbano alinhado aos interesses
do mercado imobiliário. O foco dos investimentos se concentrou até os anos 1970,
predominantemente na área situada mais a leste da cidade, acompanhando o
direcionamento da ocupação das camadas mais altas da sociedade. Esse deslocamento
atraía também a implantação dos principais equipamentos urbanos (instituições, centros
comerciais e serviços). Enquanto isso, as demais regiões à margem desse perímetro
estavam aquém do investimento financeiro tanto do setor público quanto do privado. Nas
décadas seguintes, a dinâmica da produção espacial da capital sofreu algumas
modificações na questão da porção territorial6, mas sempre seguindo a lógica do setor
imobiliário (RUFINO, 2016).
Percebe-se que a maior parte dos recentes projetos de infraestrutura urbana
(Viadutos Aguanambi, Celina Queiroz, Governador Raul Barbosa, Túneis Antônio
Bandeira, Barros Pinho, Prefeito Dr. Juraci Magalhães Sérgio Nogueira) implementados
pela administração municipal durante os dois períodos da gestão do Prefeito Roberto
Cláudio (2013–2016; 2017-2020) caracteriza-se pela valorização da circulação do
automóvel em relação ao pedestre. Sendo assim, os caminhantes estão perdendo espaço
no contexto urbano. Na tentativa de mitigar os efeitos desse processo construído desde

5
Apesar de Fortaleza ter sido alçada à categoria de Vila em 1726, se constituindo como sede administrativa
da Capitania do Ceará, ela não possuía uma relevância no quadro socioeconômico ao longo do século XVIII
(LEMENHE, 1991), havendo pouco investimento para a construção e manutenção de edificações
representativas da época. Isso pode ser um dos fatores que contribuíram para a escassez de bens que foram
preservados até os dias atuais.
6
Para um maior aprofundamento da temática recomenda-se a leitura do livro “Incorporação da metrópole:
transformações na produção imobiliária e do espaço na Fortaleza do século XXI”, de autoria da profa. Dra.
Beatriz Rufino (2016), objeto de sua tese de doutorado (FAUUSP).
24
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

meados do século XX, iniciou a construção do Plano Municipal de Caminhabilidade7,


cuja pesquisadora fez parte do grupo técnico de elaboração do documento.
Portanto, diante do quadro de transformação e permanência intrínseco à
dinâmica urbana, a pesquisa partiu do pressuposto que o patrimônio cultural localizado
na área central possui relevância para a formação territorial da cidade, podendo ser
incorporado como fonte de aprendizado e educação no campo do patrimônio. Dessa
forma, coloca-se a seguinte questão de pesquisa: Qual a contribuição da prática do
caminhar através de percursos orientados, para o (re) conhecimento do acervo patrimonial
na área histórica de Fortaleza?
Observou-se a existência de roteiros históricos realizados por profissionais
das mais diversas áreas de atuação (turismo, professores universitários e da educação
básica, instituições públicas, dentre outras), que sistematicamente oferecem passeios com
o intuito de promover caminhadas de reconhecimento da área central histórica de
Fortaleza e de seu acervo de valor patrimonial. Além disso, o Plano Fortaleza 20408
recomenda em uma de suas linhas de ações, o desenvolvimento de percursos guiados na
área histórica da cidade, proporcionando a apreensão de parte da cultura fortalezense.
A pesquisa parte da hipótese que apesar das atuais condições físicas e do
descaso com o patrimônio cultural da cidade, ainda é possível construir narrativas e

7
O Plano Municipal de Caminhabilidade segue em elaboração. O grupo técnico teve os trabalhos iniciados
em 2017. A pesquisadora fez parte dos trabalhos durante o ano de 2018. Foram elaborados os produtos:
Cartilha “As calçadas que queremos”; Manual Técnico para calçadas; Caderno de Memórias; Caderno de
Estratégias; Caderno de Participação Social e Caderno de Financiamento. Atualmente, há uma portaria
regulamentando o trabalho do grupo técnico (PORTARIA SEUMA N° 10/2020) intitulado de Rede
Interdisciplinar e Intersetorial, vigente até dezembro de 2020.
8
O Fortaleza 2040 é um plano elaborado pelo Instituto de Planejamento de Fortaleza (IPLANFOR), cujo
objetivo é tornar a cidade mais justa e igualitária em 24 anos. O documento foi entregue em dezembro de
2016 e em janeiro de 2017 foram iniciadas as ações do plano. Nele há sete eixos, os quais o de
Desenvolvimento da Cultura e do Conhecimento. Na linha de ação “Patrimônio cultural e memória”, há
uma meta de criar roteiros históricos e culturais no Centro de Fortaleza até 2020. A Secretaria Municipal
do Turismo de Fortaleza (SETFOR) articulou com a Secretaria de Cultura de Fortaleza (SECULTFOR) e
o Centro Cultural Banco do Nordeste (CCBNB) para a consolidação dessa ação. A proposta é oficializar as
caminhadas culturais guiadas pelo turismólogo Gerson Linhares no bairro. Os roteiros propostos foram
transformados em folders e serão apresentados no quarto capítulo da tese.
25
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

vínculos com a área histórica fortalezense, a partir da participação em percursos culturais


a pé, com enfoque na prática educativa.
A educação na perspectiva do patrimônio cultural é um tema fundamental
para a tese, pois se defende que através de ações formativas é possível conscientizar as
pessoas da importância de preservar a cultura e memória do lugar, construindo vínculos
e possibilitando que se tornem agentes responsáveis pelo patrimônio cultural de suas
raízes (ALBUQUERQUE, 2012).
Ademais das razões acima expressadas acerca da relevância da educação no
âmbito do patrimônio, as atividades formativas são essenciais para aproximar o
patrimônio da realidade cotidiana dos indivíduos, contribuindo para desconsagrar os bens
culturais que, por terem sido historicamente enaltecidos e alçados à categoria de
monumentos nacionais, foram distanciados da vida de grande parte dos cidadãos daquele
lugar. Esse afastamento traz a reboque a falta de conexão e, por conseguinte, o não
reconhecimento daquele bem como parte integrante e necessária para a cultura daquelas
pessoas. Na medida em que são trabalhadas atividades educativas para o tema do
patrimônio, corrobora-se com a dessacralização dos bens patrimoniais, enxergando-os
como consequência das práticas sociais de um determinado momento histórico do lugar,
ressignificando-os e reconhecendo-os como parte integrante da cultura. Dessa forma,
tece-se uma solução mais efetiva para preservação (SCIFONI, 2012; LONDRES, 2012).
O universo do presente estudo é a área central da capital cearense, marco da
formação da cidade, cujo espaço mantém o traçado urbano oitocentista e onde se encontra
a maior quantidade de exemplares de relevância patrimonial na contemporaneidade.
Pretende-se ampliar a poligonal de análise para o chamado “centro expandido”, visando
incluir outros sistemas de espaços públicos (Figura 1) como a Praça do Colégio Militar
(Bandeira), Praça Pelotas, Praça Verde (Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura), Praça
José Bonifácio e a Praça do Liceu (Gustavo Barroso).
26
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Figura 1 - Mapa com a área de estudo da pesquisa de tese. Fonte: Base em Autocad concedida para a
disciplina Projeto Urbanístico 4 (DAUUFC) pelo professor Almir Farias e trabalhada pela autora (2015).

O projeto da pesquisa está alinhado com a Área de Concentração Arquitetura


e Urbanismo, na linha de pesquisa História da Arquitetura, do Urbanismo e do Território.
No que se refere aos conceitos que são estruturantes para a pesquisa, têm-se
as seguintes terminologias: caminhante, valor patrimonial, ambiência, mapas mentais,
legibilidade, imaginabilidade, caminhabilidade, rugosidade e percurso.
O conceito que se aproxima ao do “caminhante” a ser estudado é o de Jacques
(2012). A autora defende que esse “caminhante” é o sujeito que se debruça sobre a cidade,
visando apreender as transformações urbanas pelas quais o espaço está passando.
O termo “valor patrimonial” no qual foi ancorada a pesquisa é o estabelecido
por Natália Vieira (2008), que significa a representação materializada da identidade
cultural, da memória de um lugar que está presente nos bens histórico-culturais de
determinada área. Complementa-se esse olhar com o de Cecília Fonseca (2009), que
estabelece o valor patrimonial como a institucionalização do valor cultural por parte dos
27
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

órgãos preservacionistas. Entende-se dessa forma que ao salvaguardar um elemento de


cunho histórico, considerando-o representativo da cultura do lugar, está se atribuindo o
valor patrimonial. Na contemporaneidade, os bens considerados passíveis de preservação
são aqueles que documentam o processo de consolidação da formação urbana de uma
determinada região.
Quanto à ambiência, concorda-se com a conceituação estabelecida pela
Recomendação de Nairóbi de 1976, que consiste “[...] no quadro natural ou construído
que influi na percepção estética ou dinâmica desses conjuntos, ou a eles se vincula de
maneira imediata no espaço, ou por laços sociais, econômicos ou culturais” (UNESCO,
2004, p.220). Defende-se que a ambiência em um conjunto histórico ou tradicional deve
ser considerada como uma unidade: “[...] como um todo coerente, cujo equilíbrio e caráter
específico dependem da síntese dos elementos que o compõem e que compreendem tanto
as atividades humanas como as construções, a estrutura espacial e as zonas circundantes.”
(UNESCO, 2004,p. 220). Aprofundando a definição de ambiência, tem-se o trabalho de
Cintia Viegas (2018) estabelecendo o conceito de “ambiência histórica” que, segundo a
autora, corresponde à:
[...] harmonia na integração de um bem cultural entre suas partes e seu
entorno, independente da escala, entendendo esta harmonia como algo que
envolve dimensões históricas, de uso, sociais, econômicas, culturais, entre
outras, e que também se vincula a formas urbanas materiais e sensibilidades,
percebidas durante as interações pessoa-ambiente. Entendemos também que a
composição essencial de uma ambiência em contexto patrimonial é a
historicidade local. (VIEGAS, 2018, p.52, grifo da autora).

Entende-se por “imaginabilidade e legibilidade” os conceitos trabalhados por


Kevin Lynch na obra “A imagem da cidade (1960)”. Para o autor, legibilidade refere-se
à clareza com que os habitantes ou visitantes têm em estruturar e identificar o espaço.
Isso facilita sua orientação no lugar e quando se obtém essa qualidade, indica que o espaço
é bem delimitado, definido. Quanto ao termo “imaginabilidade”, alude-se à capacidade
de, mesmo distante fisicamente do lugar, o indivíduo conseguir descrever o sítio,
transportando-se mentalmente para ele.
A quarta terminologia utilizada na pesquisa é a dos chamados “mapas
afetivos” ou “mapas mentais” que, segundo Zulmira Bomfim (2003), são instrumentos
28
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

elaborados a partir de imagens ou representações que simbolizam a relação do indivíduo


com um determinado lugar. Para a autora, eles podem ser elaborados através de mapas
cognitivos, mas objetivam perceber acerca da: “[...] apropriação (pertencer ou não
pertencer a um lugar), apego (vinculação incondicional a um lugar) e de identidade social
urbana (conjunto de valores, representações, atitudes que tomam parte da identidade do
indivíduo no lugar).” (BOMFIM, 2003, p.212). Eles significam uma síntese dos afetos,
se constituindo como recursos para a compreensão da dialética subjetividade/objetividade
na cidade.
Por caminhabilidade tem-se o aporte dos estudos de Roberto Ghidini (2011)
e Naja Noriza et al (2013), que definem o conceito como a acessibilidade do caminhante
às diversas partes da cidade, ou seja, o quão amigável e convidativo o espaço é para a
realização de deslocamentos a pé.

O termo “rugosidades” utilizado na pesquisa se refere ao conceito definido


por Milton Santos (2006), como sendo os resultados impressos na paisagem e no espaço
construído que representam o processo de acumulação, realização, ou seja, as
transformações sociais e técnicas do passado e que possibilitam no tempo presente o
reconhecimento e aprendizado desses momentos de outrora. Nas palavras do autor:
Chamemos rugosidade ao que fica do passado como forma, espaço construído,
paisagem, o que resta do processo de supressão, acumulação, superposição,
com que as coisas se substituem e acumulam em todos os lugares. As
rugosidades se apresentam como formas isoladas ou como arranjos. É dessa
forma que elas são uma parte desse espaço-fator. Ainda que sem tradução
imediata, as rugosidades nos trazem os restos de divisões do trabalho já
passadas (todas as escalas da divisão do trabalho), os restos dos tipos de capital
utilizados e suas combinações técnicas e sociais com o trabalho. Em cada
lugar, pois, o tempo atual se defronta com o tempo passado, cristalizado em
formas. (SANTOS, 2006, p.92).

O último conceito essencial da pesquisa é o de percurso. Philippe Panerai


(2014) define que este é um elemento da análise urbana e compreende os espaços por
onde o observador se desloca, são os trajetos e os deslocamentos, possibilitando o traçado
de caminhos mais complexos e distintos pelo espaço urbano.
Acredita-se que esses termos representam a estruturação do quadro conceitual
da tese desenvolvida.
29
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

1.2 OBJETIVOS

GERAL

Propor uma metodologia de percursos orientados para serem realizados na


área central de Fortaleza, para a construção de narrativas que permitam
reconhecer e valorizar o patrimônio cultural, a partir de análise e reflexão
crítica acerca dos procedimentos e estratégias empregados pelos guias
culturais para a estruturação e realização dos roteiros utilizados.

ESPECÍFICOS

 Discutir à luz da literatura que trata sobre a construção da imagem da cidade,


como se constituem os espaços que proporcionem a prática do caminhar;
 Apreender sobre a importância do patrimônio como um elemento síntese do
espaço urbano e um dos responsáveis pela formação de vínculos com lugar;
 Abordar a temática do turismo cultural e o processo pedagógico de formação
de percursos guiados, com enfoque nos tipos de abordagens metodológicas
dos roteiros/percursos e a relevância da educação patrimonial para a
concepção da atividade;
 Compreender a representatividade dos bens patrimoniais para a formação
da imagem do lugar e da construção de narrativas sobre o bairro;
 Refletir criticamente acerca da percepção urbana do Centro de Fortaleza a
partir dos resultados das análises dos roteiros acompanhados.

1.3 JUSTIFICATIVA

A temática acerca do patrimônio cultural cearense se faz presente na trajetória


da formação profissional e acadêmica da pesquisadora. O vínculo com a questão
patrimonial vem sendo traçado desde o curso de graduação em Arquitetura e Urbanismo
da Universidade Federal do Ceará (UFC). Neste período, a partir da monitoria na
30
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

disciplina de História da Arte, da Arquitetura e do Urbanismo no Brasil I, bem como


durante estágio realizado no IPHAN-Ceará, foi permitido o aprofundamento do interesse
pela história urbana de Fortaleza, especificamente sobre a questão da preservação do
patrimônio edificado na cidade, a problemática do bairro Centro e os dilemas
principalmente de ordem econômica enfrentados pelos profissionais ligados a essa
temática patrimonial.
Encerrada a graduação foi realizado o curso de Master in Business
Administration (MBA) em Gestão de Projetos Integrados, cujo tema do trabalho de
conclusão foi “A intervenção no patrimônio cultural sob o olhar da sustentabilidade”. No
estudo percebeu-se como o papel da criatividade do arquiteto é essencial para solucionar
duas questões: a sustentabilidade e a preservação de edifícios históricos.
No ano de 2013, iniciou-se o curso de Mestrado Acadêmico em Arquitetura
e Urbanismo. O ciclo de dois anos do mestrado que incluiu a participação nas disciplinas
de Intervenções em Áreas de Valor Patrimonial, Gestão de Sítios Históricos, Teoria da
Arquitetura e Arquitetura e Cidade no Brasil, foram essenciais para a compreensão das
vicissitudes existentes na área da profissão que a pesquisadora escolheu para se
especializar. A dissertação, defendida em abril de 2015, representou o encerramento de
um período, surgindo novas inquietações como desdobramentos para aprofundamento do
tema, tornando-se uma prerrogativa para os próximos caminhos a serem trilhados.
Como docente de Arquitetura e Urbanismo, houve uma busca pelo
aprofundamento do estudo sobre o patrimônio cultural cearense junto aos alunos do curso,
especialmente os discentes da disciplina de Conservação Integrada, Patrimônio e
Restauro da Universidade de Fortaleza (UNIFOR), que foram continuamente instigados
a refletir acerca dos conjuntos urbanos de valor patrimonial e como é necessário
(re)conhecer para valorizar e assim serem preservados.
A pesquisadora é arquiteta e urbanista do Instituto de Planejamento de
Fortaleza (IPLANFOR), cujo um dos trabalhos compreende o monitoramento da
implementação do Plano Fortaleza 2040. As atividades incluem a articulação entre os
órgãos executores das ações do campo de Cultura e Patrimônio (Plano de Cultura e
31
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Patrimônio integrante do Plano Fortaleza 2040), participação na formulação do Plano de


Caminhabilidade Municipal e a regulamentação das Zonas Especiais do Plano Diretor
Participativo (PDP) de Fortaleza de 2009, mais especificamente as Zonas Especiais de
Interesse Social (ZEIS).
Os percursos propostos na dissertação foram vivenciados em aulas de campo
e visitas técnicas na disciplina lecionada, como forma de proporcionar reflexões acerca
da temática da educação patrimonial junto aos alunos e que os conhecimentos adquiridos
no mestrado e no doutorado tese pudessem ser divulgados e vivenciados por um público
externo à instituição (UFRN).
O tema de estudo em patrimônio cultural apresenta relevância nos contextos
nacional e local, ao se considerar a carência de investimentos no setor e a necessidade de
uma maior produção acadêmica vinculada ao estudo de preservação patrimonial;
principalmente no caso de Fortaleza, em que somente em agosto de 2015 foi inaugurado
o mestrado em Arquitetura e Urbanismo e Design pela UFC, fomentando a produção de
pesquisas voltadas ao patrimônio cultural do Ceará. No entanto, o Programa não possui
perspectivas em médio prazo para abrir turmas de doutorado, o que limita a elaboração
de trabalhos mais aprofundados sobre a questão.
Intenta-se, portanto, retornar ao universo de estudo – Centro de Fortaleza – e
ampliá-lo a partir da ótica dos caminhantes, os percursos traçados no trabalho de
dissertação visando compreender o olhar de quem se desloca no tempo lento ao longo do
bairro, para dessa forma perceber a “imagem da cidade” nos pressupostos da obra
homônima de Kevin Lynch de 1960. Sentiu-se a necessidade de incorporar na pesquisa,
outros sujeitos além da pesquisadora para o (re)conhecimento do quadro de bens
patrimoniais.
Outro aspecto a ser ressaltado para justificar o estudo está na originalidade
em propor uma metodologia de percursos orientados para áreas históricas. A pesquisa se
debruça sobre a temática da percepção do patrimônio cultural por meio dos caminhantes
do lugar. Essa relação do caminhar, parar, observar, apreender e retornar à caminhada
pode permitir a construção do diálogo entre o sujeito caminhante e o patrimônio, pois o
32
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

ritmo do andar a pé é outro; é a chamada “arquitetura a 5km/h” defendida por Jan Gehl
(2013), ao compará-la com o tempo do carro ou com os demais modos de transporte. O
estudo vai ao encontro desse olhar, trabalhando na perspectiva da valorização do
caminhar, do pedestre e da percepção do patrimônio.
(Re)conhecer a representatividade do acervo patrimonial arquitetônico e
urbanístico na área histórica de Fortaleza é fundamental para que se estabeleçam
ferramentas para a preservação desse conjunto urbano. Constatou-se que, embora o bairro
possua esse acervo que ratifica a história urbana da cidade, não é mais possível que haja
a apreensão dessa região como um conjunto unificado, devido ao processo contínuo de
descaracterização e/ou destruição das edificações históricas.
Verificou-se que os percursos propostos pelos roteiros culturais são
estruturados a partir do sistema de espaços públicos que existem no setor. As praças e
parques atuam como subconjuntos articulados que possibilitam trilhar um circuito pela
Fortaleza antiga. Destaca-se esse caráter patrimonial do bairro, principalmente pela
legitimação dessas permanências através dos órgãos de proteção das três instâncias
governamentais, (municipal – Secretaria de Cultura de Fortaleza – SECULTFOR;
estadual – Secretaria de Estado de Cultura – SECULT; e federal – Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional – IPHAN), que se utilizaram do instrumento do
tombamento9 para a salvaguarda de diversas edificações e equipamentos localizados na
área.

1.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Em termos metodológicos buscou-se inicialmente compreender quais os


procedimentos e estratégias empregados pelos guias culturais para a estruturação e

9
O tombamento é uma ferramenta de proteção dos bens que possuem valor patrimonial. Foi instituído no
Brasil a partir do decreto federal nº 25/1937. Atualmente, pode ser aplicado nas esferas municipal, estadual
e federal. O principal objeto do tombamento é evitar a destruição parcial ou total do patrimônio cultural,
preservando-o para as gerações futuras (BRASIL, 1937).
33
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

realização dos roteiros, que visam (re) conhecer o Centro de Fortaleza. Quanto ao aporte
teórico, utilizou-se da morfologia urbana (com enfoque no estudo dos espaços para o
caminhar) e a percepção ambiental (para a compreensão da representatividade dos
espaços históricos), caracterizando dessa forma uma abordagem multimetodológica. A
seguir serão explicitados os passos metodológicos da pesquisa.
A pesquisa bibliográfica foi embasada a partir dos autores Margarida Andrade
(2019), Clóvis Ramiro Jucá Neto (2012) e Maria Auxiliadora Lemenhe (1991), no que
diz respeito à formação do patrimônio fortalezense. Gordon Cullen (2006), Maria
Kohlsdorf (1996), José Lamas (2011), Philippe Panerai (2013)/(2014), Aldo Rossi (2001)
e Camillo Sitte (1992), como contribuições da forma e narrativa urbana. Walter Benjamin
(1989), Henry-Pierre Jeudy (2010), Paola Jacques (2012a), Clewton do Nascimento
(2013) e Francesco Careri (2013b), como referências para a temática da apreensão urbana
através do caminhar. Jeff Speck (2016) e Roberto Ghidini (2011) são autores que
concedem uma abordagem sobre a caminhabilidade, conceituando-a e estabelecendo os
principais elementos para analisar um lugar. Zulmira Bomfim(2003), Gleice Elali et al.
(2011), Jan Gehl (2013a), Kevin Lynch (2006) e Denise Jodelet (2002) na construção do
referencial da percepção do espaço. As discussões quanto ao turismo cultural e a
proposição de roteiros significativos para os participantes foram fundamentadas e
apoiadas pelos escritos de Flávia Costa (2006), Hermínia Vargas e Ricardo Paiva (2016).
Françoise Choay (2006), Leonardo Castriota (2009), Flávio Carsalade (2014), Márcia
Sant´anna (2004), Salvador Muñoz Viñas (2005), Natália Vieira (2008), pela inserção no
estudo do patrimônio, dentre outros autores, que fornecem subsídios para aprofundar a
questão da preservação e da compreensão de áreas de valor patrimonial. Carmem Gil
(2014), Cecília Londres (2012), Jacqueline Moll (2009) e Flávia Costa (2014)
corroboraram com a fundamentação teórico-metodológica dos caminhos da educação
patrimonial, discutindo os aspectos práticos e acadêmicos do tema norteador do trabalho.
Quanto às etapas da pesquisa, inicialmente foram mapeados alguns grupos de
guias e professores dos cursos de Arquitetura e Urbanismo, Geografia, História, Turismo
e Psicologia Ambiental que organizam caminhadas com intuito de
34
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

compreender/apresentar aos participantes a área estudada (Etapa 01). Após essa fase de
catalogação de quem são esses profissionais, foram selecionados alguns circuitos para
captar se a forma urbana da área de estudo favorecia a realização dos percursos a pé (Etapa
02). Nessa etapa, foram observados os elementos da caminhabilidade10 que interferem
diretamente no proporcionar a experiência do caminhar.
Em seguida, foram identificadas as principais rotas traçadas e inferiu-se sobre
quais os motivos que justificam o delineio desses percursos, quais os métodos utilizados
nas caminhadas, qual o público alvo desses roteiros. O trabalho de Denise Alcantara
(2008) contribui significativamente nesse aspecto, pois na tese a autora fundamenta uma
técnica chamada de “abordagem experimental” e na “observação incorporada”, que
defende a inseparabilidade do observador da realidade. O objetivo dessa etapa foi
compreender qual a visão que se tem sobre a cidade como patrimônio cultural e suas
rugosidades na delimitação dos circuitos sobre a área (Etapa 03).
Após essa fase de identificação dos responsáveis pelos trajetos, iniciou-se a
próxima etapa do trabalho, cujo enfoque se deu nos participantes das experiências (Etapa
04). Objetivando apreender a percepção patrimonial dos caminhantes, a pesquisadora se
apresentou e aplicou um questionário semiestruturado, que continha a aplicação de mapas
mentais11. Ressalta-se que a metodologia da pesquisa estabelece que sejam empregados
dois questionários: o primeiro, logo após a vivência, visando capturar as impressões
iniciais da experiência; o segundo, cerca de dois meses depois para observar as
reminiscências da atividade que foram incorporadas na memória dos participantes.
Quanto às questões aplicadas aos respondentes, pensou-se em inserir
perguntas direcionadas ao tema do patrimônio cultural. O primeiro questionário

10
Esses elementos serão elucidados com maiores detalhes no tópico que aborda a temática da
caminhabilidade, mas em termos gerais nota-se que, para um ambiente ser seguro e incentivar a prática do
andar a pé, necessita principalmente de segurança na travessia do pedestre; calçadas adequadas; fachadas
ativas e conforto quanto às intempéries.
11
Consistem em instrumentos de análises em que estão expressas as inter-relações entre homem e ambiente.
No caso da presente pesquisa, eles foram aplicados visando à compreensão da percepção dos valores
patrimoniais.
35
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

inicialmente afere sobre a participação do indivíduo em atividades de percursos guiados


na cidade. Em seguida, busca-se compreender quais as razões que os motivaram a
vivenciar aquele tipo de prática e se gostariam de repetir a experiência. Posteriormente,
indaga-se sobre quais pontos mais chamaram a atenção dos participantes, bem como os
aspectos positivos e negativos do roteiro e quais sugestões para aprimorá-lo. O primeiro
questionário ainda busca entender quais impressões tinham do Centro de Fortaleza antes
da caminhada e o que modificou em relação ao patrimônio após a vivência. Finalmente,
faz-se perguntas vinculadas à proveniência do grupo, além de questões pessoais tais como
ocupação, escolaridade, faixa etária e gênero. O segundo questionário, aplicado
aproximadamente dois meses após o percurso, trata sobre as memórias da caminhada e
da área central. A primeira pergunta se refere a qual lugar do bairro está presente na
lembrança do respondente e que recordações ele possui sobre o mesmo. Por último,
questiona-se sobre o que mudou no participante em relação à história de Fortaleza após a
caminhada.
Um outro instrumento de pesquisa aplicado ao grupo foram os mapas mentais.
Os mapas foram elaborados por meio de desenhos ou textos esquemáticos em que os
entrevistados apontaram os elementos que se configuravam como marcos do percurso.
Os mapas geraram informações que puderam ser analisadas a partir de desenhos,
significados e sentimentos que a experiência proporcionou. Ao final, a pesquisadora
analisou e interpretou os dados (BANDEIRA et al., 2012).
Destaca-se que, assim como os questionários, os mapas mentais também
foram solicitados em dois momentos do estudo (um após a experiência e outro foi
aplicado cerca de dois meses depois). Salienta-se que devido ao método proposto de
abordar os participantes em dois momentos distintos, houve uma baixa adesão em
responder os questionários do segundo momento. Dessa forma, a pesquisadora precisou
buscar uma ferramenta online para extrair essas respostas. O instrumento utilizado foi o
36
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Google Forms12 e este foi enviado para os contatos registrados pelos respondentes. Por
ser um aplicativo online, não foi solicitada a elaboração de mapas mentais aos
respondentes, a elaboração de mapas mentais.
A partir da aplicação dos mapas mentais acredita-se que foi possível verificar
se há representatividade do lugar para o indivíduo e qual resposta foi dada ao percurso
realizado. Em seguida, para apreender a imagem intersubjetiva13 do grupo, foram
superpostos os mapas mentais realizados e/ou resultados que atestem predominâncias de
incidências de determinados elementos (Etapa 05). Segundo Maria Elaine Kohlsdorf
(1996), “A comparação dos mapas mentais com aerofotos ou representações cartográficas
elaboradas da situação que se considera permite que se veja em quais aspectos coincidem
informações objetivas com aquelas consolidadas na imagem das pessoas”.
(KOHLSDORF, 1996, p.118).
A questão da experiência urbana foi tratada como um caráter multidisciplinar.
O método da tese se aproxima ao que foi utilizado no artigo “O corpo idoso nas ruas e
praças do Centro de João Pessoa: Experiências urbanas no espaço público requalificado”,
de Marcela Dimenstein e Jovanka Baracuhy Cavalcanti Scocuglia (2015). Na pesquisa,
as autoras analisaram como os idosos se apropriam do espaço da área central histórica de
João Pessoa. A metodologia do estudo foi pautada em:
[...] uma visão arquitetônico-urbanística, levando em consideração que este
campo é em si também abrangente e inclui não apenas suas construções físicas
concretas, mas a forma como a cidade é percebida pelo sujeito, como ela é
vivenciada. Todavia, faz interface com outras áreas do saber como a
sociologia, geografia, psicologia ambiental, antropologia e com recursos
metodológicos tais como fotografia, desenhos, observações de campo e

12
É um dos aplicativos disponíveis na plataforma Google que se caracteriza por produzir questionários,
que podem ser compartilhados para e-mails e aplicativo de mensagens (whatsapp).
13
O conceito de intersubjetividade pode ser compreendido a partir de três interpretações. A primeira possui
o sentido de convergência interpessoal, por exemplo, um grupo de pessoas que estão continuamente
exercendo atividades que se ajustam e sintonizam expressões e estados afetivos. O segundo entendimento
trata da relação entre os sujeitos e o objeto. O terceiro é definido pela apreensão da comunicação através
de elementos representativos, possibilitando conhecer, idealizar e inferir os chamados “estados mentais”
dos sujeitos (BRATEN, 1998 in NOGUEIRA et al., 2007). A última acepção corresponde ao alinhamento
da presente pesquisa.
37
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

entrevista semiestruturada, pois se compreende que são ferramentas


importantes e contribuem de forma significativa ao campo da arquitetura e
urbanismo. (DIMENSTEIN; SCOCUGLIA, 2015).

No artigo, as autoras se utilizaram da observação de campo e da aplicação de


entrevista semiestruturada para captarem como os idosos se apropriam das praças
históricas da cidade.
Outro trabalho que contribuiu com a metodologia da pesquisa foi o de
Rossana Honorato (1999), que em seu livro “Se essa cidade fosse minha... A experiência
urbana na perspectiva dos produtores culturais de João Pessoa”, buscou captar as
impressões e percepções dos produtores culturais acerca da cidade de João Pessoa. Na
obra, a autora apresentou dados históricos entre depoimentos dos produtores sobre a
cidade de outrora e a do presente, que se encontram mescladas nas falas dos entrevistados.
É possível captar o saudosismo da imagem do passado e um certo orgulho do patrimônio
cultural que ainda resiste. Segundo Honorato (1999, p.27):
Interessa aqui refletir sobre o poder de comunicação urbana, através da
multiplicidade de suas vozes. O que significa metodologicamente não se deixar
reduzir a dados aparentemente objetivos, mas inventariar os elementos
subjetivos dos atores, através de um olhar antropológico desejado “lúcido e
penetrante” [...] É descrição e interpretação”, expressas no olhar segmentado e
fragmentado dos produtores de cultura.

A autora (1999) justifica que para a elaboração da pesquisa foi preciso utilizar a
abordagem de métodos qualitativos. Foram elaboradas entrevistas (gravadas e guiadas
por um roteiro semiaberto), além disso as reações dos entrevistados diante das perguntas
e reflexões acerca do tema. Portanto, risos e silêncios também fizeram parte da análise.
A entrevista tinha os seguintes questionamentos:
[...] quais lugares de João Pessoa podem ser pensados como os que dão o
caráter e a singularidade, a cara, enfim, da cidade? A pouca clareza e a
amplitude da questão, e a possível demanda por explicações, com a suscetível
exposição da pesquisadora, implicou na sua substituição por: ao receber um
visitante, a que lugares o levaria para mostrar a cidade? Esta última formulação
invencionou a facilitação de uma decodificação imediata pelos entrevistados,
não suscitando, como se verificou, maiores questões de entendimento.
(HONORATO, 1999, p.33).

Honorato (1999) afirma que quando os entrevistados eram requisitados a


refletir sobre a cidade, eles potencializavam o sentimento de pertença ao lugar. O fato de
38
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

serem convidados para falar sobre João Pessoa, tornou reconhecido o conhecimento que
os entrevistados possuem sobre a cidade, gerando um verdadeiro fascínio nos produtores
por terem sido identificados como potenciais informantes da história/memória da capital
paraibana. Nas palavras da autora:
Propriedade, como re-conquista da cidade que teme perder (e que se perca), ou
enquanto posse expressa. Não parece valer apenas ser da cidade; mas,
sobretudo, dela sendo, poder dela falar. Falar sobre pressupõe de certo modo o
conhecimento (conhecimento enquanto presença, testemunho - eu sei, eu
estava lá, eu sou de lá); o conhecimento derivado da empinai e caracterizando
uma propriedade. Ser meio dono senão totalmente. (HONORATO, 1999, p.39)

Ao pensarem sobre a cidade, os entrevistados refletiram acerca de si próprios,


fazendo-os sentirem-se presentes na cidade que vislumbram (HONORATO, 1999).
Ainda nos mapas mentais foi possível identificar quais os bens e lugares a que
os participantes dos roteiros mais remeteram ao descrever a imagem de seus percursos
pelo bairro. Após essa avaliação, tem-se a questão central da tese: as atividades de
reconhecimento da cidade a partir de caminhadas estão contribuindo para a apreensão da
área percorrida como patrimônio cultural e, por conseguinte, na reflexão e nas ações
acerca da temática da educação patrimonial (Etapa 06).
O último ponto se refere à contribuição da tese, ou seja, a proposição de uma
metodologia de vivência que possibilite a construção de narrativas e memórias com a
cidade. A estrutura metodológica tecida na tese consiste em estabelecer alguns pontos de
parada dentro de um percurso na área central histórica, para que sejam discutidas as
relações dos participantes com o lugar, bem como a apresentação de imagens históricas,
textos de jornais e livros que retratam a formação do espaço. O roteiro contempla uma
parte do centro histórico, requer um grupo pequeno de participantes e uma duração de
cerca de 2 horas para que se possa discutir e dialogar sobre as rugosidades e afetividades
da história de Fortaleza (Etapa 07).
A seguir, tem-se delineado o quadro resumo com as etapas da pesquisa
(Quadro 1):
39
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

ETAPA DESCRIÇÃO OBJETIVO

01 Mapear os grupos de guias e professores dos cursos Identificar os agentes dos percursos
de Arquitetura e Urbanismo, Geografia, História, culturais e selecionar quais serão os
Turismo e Psicologia Ambiental. acompanhados pela pesquisa.
02 Identificar quais as principais rotas traçadas e inferir Apreender metodologicamente
sobre os motivos que justificam o delineio desses sobre os percursos que acontecem
percursos, os métodos utilizados nas caminhadas e o na área de estudo.
público-alvo desses roteiros.

03 Captar se a forma urbana favorece a realização dos Compreender a caminhabilidade dos


percursos a pé. lugares por onde se desenvolvem os
roteiros.
04 Aplicar entrevista semiestruturada e mapas mentais Captar a percepção dos participantes
quanto ao patrimônio cultural.
05 Sobrepor os mapas mentais realizados e as respostas Assimilar acerca da imagem
da entrevista que atestem predominâncias de intersubjetiva do grupo de
incidências de determinados elementos da área caminhantes e refletir sobre os bens
estudada. e elementos do percurso mais
significativos para os participantes.
06 Refletir sobre a análise dos dados Compreender se as atividades de
reconhecimento da cidade a partir de
caminhadas estão contribuindo para
a apreensão da área percorrida como
patrimônio cultural.
07 Proposição de uma metodologia de percurso cultural Contribuir na prática da educação
patrimonial através do caminhar,
vivenciar e dialogar sobre os
espaços patrimoniais de uma cidade.
Quadro 1 - Quadro resumo com as etapas da tese. Fonte: Autora (2018).

A tese se apresenta com a seguinte estrutura: o primeiro capítulo é a


introdução da pesquisa aqui delineada, onde foi apresentado o contexto da problemática
do tema, os objetivos, a metodologia e os conceitos fundamentais para a compreensão do
estudo.
O segundo capítulo discute sobre a cidade. Foram tratados os aspectos que
permeiam a construção da cidade como narrativa. Além disso, a temática do caminhar foi
apresentada, bem como as particularidades da caminhabilidade que foram utilizadas para
a análise dos roteiros percorridos na área central de Fortaleza.
40
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

No terceiro capítulo discorreu-se sobre o papel da educação patrimonial na


preservação do acervo cultural do lugar. Nesse sentido, discutiu-se sobre como o turismo
cultural14 pode se constituir como uma prática educativa do patrimônio, articulando a
percepção e a representatividade dos bens com os participantes de roteiros e caminhadas
por circuitos históricos.
No capítulo seguinte tem-se a análise dos roteiros de caminhadas estruturados
para conhecer a área central histórica de Fortaleza. Inicialmente são apresentados outros
tipos de roteiros pedagógicos que se utilizam da prática do caminhar para discutir e
aprender o patrimônio cultural e/ou natural. No capítulo foram evidenciados os principais
agentes responsáveis por propiciar as andanças pelo bairro, contando elementos da
história da formação urbana fortalezense.
O último capítulo possui o enfoque na discussão dos dados levantados no
capítulo cinco e propõe uma estrutura metodológica que possibilite uma melhor
apreensão do patrimônio cultural na área central histórica da cidade. O roteiro sugerido
terá como objetivo apresentar os setores históricos do bairro e discutir os vínculos e
narrativas dos participantes com o lugar, compreendendo que a cidade também pode ser
uma fonte de conhecimento, transformando-a em uma “grande sala de aula”.
A seguir encontra-se um quadro com o resumo dos capítulos e os autores-
chave para a pesquisa (Quadro 2):

ESTRUTURA CONTEÚDO AUTORES CENTRAIS

CAPÍTULO 1 Apresentação da tese: problemática,


INTRODUÇÃO objeto, justificativa, objetivos,
procedimentos metodológicos e
conceitos.
CAPÍTULO 2 A cidade como narrativa. Camillo Sitte, João do Rio,
Walter Benjamin, Henri-Pierre
Jeudy, Rossana Honorato.

14
Essa prática de turismo será discutida de forma pormenorizada no referido capítulo. Em linhas gerais
caracteriza-se por ser uma vertente que visa apreender os aspectos socioculturais de um lugar.
41
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

O caminhar como uma forma de Francesco Careri, Gordon


reconhecer a cidade e o seu patrimônio Cullen, Kevin Lynch, Paola
cultural. Jacques, Philippe Panerai,
Rachel Thomas.

Aspectos da caminhabilidade para a


construção de espaços para as pessoas. Jeff Speck, Raja Noriza et al.,
Roberto Ghidini.
CAPÍTULO 3 Educação patrimonial e a relação com Flávia Costa, Jaqueline Moll,
roteiros culturais. IPHAN, Cecília Londres e
Carmem Gil.

A percepção e afetividade x patrimônio


cultural: a importância da apreensão do Denise Jodelet, Denise
patrimônio como formação da memória Alcantara, Flávio Carsalade,
urbana e da preservação. Jean-Thibaud, Kevin Lynch,
Leonardo Castriota.

Turismo cultural.
Erica Schenkel, Flávia Costa,
Heliana Vargas, Ricardo
Paiva.

A construção de roteiros. Leitura sobre o


processo pedagógico de formação de Erica Schenkel, Flávia Costa,
percursos guiados. Tipos de abordagens John Urry, Sergio Fagerlande.
metodológicas dos roteiros/percursos.
CAPÍTULO 4 Leitura sobre experiências pedagógicas Ana Carla Sabino Fernandes et
de percursos guiados. al., André Giannotti Stern,
Gabriel de Andrade Fernandes,
Leila Grasiele Rodrigues,
Márcia Maria Bezerra de
Sousa, Marcos Antônio Leite
do Nascimento, Matheus
Lisboa Nobre da Silva,
Zelândio Ferreira Dantas.
O patrimônio de Fortaleza – percursos Guias: Jacqueline Oliveira,
orientados. Trajetos percorridos no José Otávio e Larissa Muniz.
Centro histórico da capital.
CAPÍTULO 5 Proposição de uma metodologia prática
de percurso que proporcione a criação de
narrativas com o patrimônio cultural.
CONSIDERAÇÔES Síntese dos resultados captados e
FINAIS discutidos ao longo do trabalho.
Estabelecimento de novos horizontes da
pesquisa.
42
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

REFERÊNCIAS Autores utilizados nas referências no


corpo da pesquisa.
Quadro 2 – Quadro com a estrutura da tese. Fonte: autora (2018).
44
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

2. A CIDADE COMO NARRATIVA – O CAMINHAR COMO


INTERVENÇÃO URBANA

[...] Necesitamos, por ejemplo, caminar, ver gente, estar con gente. Y la ciudad
debe tener características que propicien ese contacto con otros. Una ciudad
es sólo um médio para una manera de vivir (Enrique Peñalosa)15.

A cidade é naturalmente o lugar do encontro, é nela em que as pessoas são


possibilitadas a desenvolverem suas atividades e conhecerem umas às outras. Ao
contrário de outras tipologias de ocupação humana, é no espaço urbano que convivem
pessoas com pensamentos distintos, conflitos de interesses, realidades opostas, mas que
compartilham da mesma cidade para vivenciar essas contradições (HONORATO, 1999).
Essas relações só podem ocorrer nos espaços pedonais, onde as características das áreas
públicas dos pedestres são determinantes para a análise da qualidade urbanística do lugar
(PEÑALOSA, 2013). Portanto, quando há uma grande dinamicidade de pessoas nas ruas,
caminhando, observando, compartilhando experiências, é porque se tem uma boa
urbanidade16.
Neste capítulo serão discutidos os aspectos teórico-metodológicos que
abordam a cidade como uma narrativa, reafirmando o seu papel de protagonista como um
meio de experimentação urbana, por onde majoritariamente as pessoas desenvolvem suas
relações; bem como, serão compreendidos os elementos que tratam o caminhar como uma
intervenção na cidade, a importância do corpo no objeto de análise e para tanto também

15
Enrique Peñalosa no Prólogo do livro “La humanización del espacio urbano – La vida social entre los
edifícios” de Jan Gehl (2013, p.7): “Necessitamos, por exemplo, caminhar, ver gente, estar com gente. E a
cidade deve ter características que propiciem esse contato com os outros. Uma cidade é só uma forma para
modo de vida.” (tradução da autora).

16
O termo urbanidade se refere às qualidades inerentes a uma cidade. Ela é uma condição que envolve
tanto o espaço físico quanto os comportamentos de seus cidadãos. Por uma boa urbanidade, subentendem-
se em espaços públicos agradáveis, pouca segregação socioespacial e uma dinâmica urbana com vitalidade
(HOLANDA, 2003 apud AGUIAR, 2012).
45
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

serão articulados os elementos que proporcionam o andar, o apreender a cidade em um


“tempo mais lento” (SANTOS, 2006).

A temática da cidade como objeto de investigação, assim como as suas


transformações em sua forma urbana tem como referência a obra de Camillo Sitte “A
construção das cidades segundo seus princípios artísticos (1889)”. Nos escritos de Sitte,
é elaborado um panorama sobre a modificação do desenho urbano da cidade antiga e
como o desenho urbano possuía um traçado que proporcionava e valorizava a apreensão
estética do lugar. Essa reflexão da qualidade do desenho urbano da época medieval
permanece com rebatimento nos escritos atuais. Jan Gehl, arquiteto e urbanista
dinamarquês, salienta que:
Mientras que la ciudad medieval, com su diseño y sus dimensiones,
congregaba personas y acontecimientos em calles y plazas, y fomentaba la
circulación peatonal y las estancias en el exterior, las zonas suburbanas y los
proyectos de edificación funcionalistas hacían exatamente lo
contrario.”(GEHL, 2013b, p.55)17

O traço homogeneizante das transformações modernas na virada do século


XIX para o XX alterava essas relações, visava à fluidez e a higienização dos espaços,
retirando, dessa maneira, a surpresa e os pontos focais trabalhados no passado. A cidade
deveria ser projetada de acordo com os princípios artísticos e isto incluía uma visão
arquitetônica do conjunto e o respeito pela história urbana (SITTE, 1992).

Destaca-se que, para além dos aspectos artísticos explicitados, é preciso


considerar o dimensionamento dos espaços da cidade para albergar as suas funções, bem
como proporcionar a qualidade de vida dos moradores e frequentadores do lugar (SITTE,
1992; GEHL, 2013).
A metamorfose pela qual as cidades estavam passando durante a segunda
metade do século XIX e o início do século XX para se tornarem mais aformoseadas,
conectadas e higienizadas, desencadeou um conjunto de escritos que mesclavam reflexão

17
“Enquanto que na cidade medieval, com seu desenho e suas dimensões, congregava pessoas e eventos
nas ruas e praças, e estimulava a circulação do pedestre e de espaços no exterior, as zonas suburbanas e os
projetos de edificações funcionalistas faziam exatamente o contrário”. (tradução nossa)
46
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

e um sentimento de nostalgia pela perda do traçado antigo. Os textos de Baudelaire em


Walter Benjamin 18 (1989) e os de João do Rio 19 (2013) são exemplos desse momento.
Os autores trazem o tema do caminhar e apreender a cidade utilizando o flanar como
forma de percorrer as pedras do passado das cidades Paris (Baudelaire) e Rio de Janeiro
(João do Rio) e irem ao encontro desse tempo de outrora que estava se perdendo nas
marcas tangíveis da história urbana.

Francesco Careri no livro “Caminhar e Parar (2017)” discute o lema


elaborado pelos flâneurs parisienses do período do final do século XIX: “Perder Tempo
significa Ganhar Espaço”. Para Careri, “[...] é só perdendo tempo que se ganham Espaços
Outros.” (p.117).
A partir desses escritos, destaca-se o valor imagético da rua para a cidade: “A
rua é a civilização da estrada. Onde morre o grande caminho começa a rua e, por isso, ela
está para a grande cidade como a estrada está para o mundo”. (RIO, 2013, p.30).
Ampliando a escala de análise, chega-se ao elemento morfológico que se constitui como
um agrupamento de várias ruas, a praça. Elas são as correntes da história urbana do lugar
(BENJAMIN, 2000).

A seguir serão discutidos os aspectos teóricos e práticos que possibilitam o


retorno do caminhar como a principal forma de reconhecer a cidade.

2.1 O CAMINHAR COMO FORMA DE APROPRIAÇÃO DA CIDADE

Esse tópico tece, a partir de um conjunto de autores, a importância do andar


a pé, fazer-se presente na cidade, expandir os horizontes, ir ao encontro daqueles que

18
A obra “Charles Baudelaire um lírico no auge do capitalismo” foi escrita entre os anos de 1937 e 1939.
O trabalho compilado e traduzido para o português tem a primeira edição em 1989.
19
João do Rio é um dos pseudônimos de João Paulo Barreto. A obra “A alma encantadora das ruas (1908)”
de João do Rio, concede suporte à presente pesquisa. O autor perfazia seus caminhos no Rio de Janeiro do
início do século XX. A capital fluminense e do Brasil encontrou na figura do prefeito Pereira Passos,
influenciado pelas transformações parisienses de Haussmann em meados do século XIX, a
operacionalização das modificações em seu traçado urbano.
47
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

estão à margem do sistema. Ressalta-se que a temática do presente estudo não se trata de
propor uma metodologia de práticas erráticas, mas sim de um caminhar orientado com
enfoque na discussão do patrimônio cultural. Parafraseando o arquiteto italiano Francesco
Careri (2017), o caminhar pode ser compreendido como uma atitude democrática de
reintegrar-se ao espaço público, ocupar a cidade, proporcionando de alguma maneira uma
revolução. A seguir, será elaborado um panorama abordando o percurso histórico da
questão do andar no espaço urbano.
A prática do caminhar nas cidades foi uma experiência que ocorreu ao longo
de todo o século XX. No ano de 1921, um movimento ligado ao dadaísmo organizou na
França um conjunto de “visitas-excursões” aos espaços mais triviais de Paris. Esse se
constitui o primeiro momento em que a arte rejeitou os espaços mais nobres da cidade e
foi ao encontro da alteridade urbana (CARERI, 2013b).
A temática adquiriu novos enfoques na década de 1950, no contexto da
Internacional Situacionista em 1957, onde se legitimou que a ação de “deambular-se e
perder-se” na cidade era uma possibilidade da antiarte e uma forma de subversão do
sistema capitalista do pós-guerra. Para eles, o caminhar sem rumo conduziria a uma
“construção consciente e coletiva de uma nova cultura” (CARERI, 2013b). Desse
movimento, surgiu um grupo que materializava a experiência do deambular através de
mapas psicogeográficos. Ressalta-se que essa cartografia não expressava a descrição
fidedigna dos percursos vivenciados, mas as emoções e sentimentos que o flanar suscitava
nos participantes (CARERI, 2013b).
Dessa forma, pode-se inferir a importância dessas experimentações para o
conhecer áreas da cidade que são objetos tradicionais de “repulsa e preconceito”; as trilhas
urbanas são estabelecidas a partir dos arquétipos do que seria o ideal ou a boa imagem do
lugar. Ao conduzir os caminhantes para espaços de alteridade (à deriva da cidade
tradicional), permite-se a construção de um novo olhar e compreensão do significado
dessas zonas para a cidade. Essa prática é conhecida como errância urbana.
Francesco Careri e Paola Jacques criticam o modelo do urbanismo
tradicional, em que o urbanista elabora estudos a partir de diagnósticos (desconsiderando
48
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

valores culturais e especificidades locais), mapas zenitais20, zoneados e estáticos. Há uma


proposição do método deambulatório. Este é uma metodologia mais participativa, pois se
trata de “[...] relato fenomenológico evolutivo, descrito de um ponto de vista horizontal,
colocado em movimento graças ao caminhar por entre as dobras da cidade: o survey
walk.”(CARERI, 2017, p.102). Entretanto, Jacques (2012) esclarece que a errância não
substitui a forma tradicional de intervir nas cidades, ela seria uma atualização do tema,
ou seja, um outro olhar sobre a cidade, complementando a visão urbanística de
planejamento urbano. Ainda nessa reflexão, o caminhar seria um fio condutor para o
desenvolvimento de projetos de cidades vivas e democráticas (SANTOS, 2017).
Mais recentemente, observou-se que há uma inquietação por parte de alguns
pesquisadores em retornar ao campo de estudo, não se afastando do objeto empírico, mas
indo ao encontro dele, ou seja, “colocar o corpo em campo” 21(THOMAS, 2012).
E uma das formas de ter esse resultado é retomar o caminhar como
metodologia de apreensão da cidade, tornando-se uma espécie de “sala de aula de maiores
proporções”. Na perspectiva de compreender a relação da cidade como uma sala de aula,
é preciso refletir a priori sobre qual a área adequada para a elaboração de uma atividade
de campo, qual o espaço interessante para proporcionar a relação com o Outro. Entender
que o “parar” e “andar” não são funções divergentes, mas estão dentro do mesmo
processo/percurso, ou seja: “[...] parar é, de fato, uma grande oportunidade para continuar
a agir com o mesmo espírito do andar, mas num espaço do estar” (CARERI, 2017, p.113).
Francesco Careri, na disciplina de Artes Cívicas do curso de Arquitetura, da
Universidade Roma Tre, na Itália conduz os estudantes a ter contato com a cidade,

20
São representações cartográficas vistas de cima da superfície terrestre.

21
Rachel Thomas utiliza a expressão “faire corps, prendre corps, donner corps aux ambiances urbaines”
(Fazer corpo, pegar corpo, dar corpo às ambiências urbanas - tradução nossa), que significa trazer o
pesquisador/observador para o contato com o objeto de estudo. Para a autora, essa aproximação com a
pesquisa agrega outros valores, dentre os quais pode-se destacar a questão da percepção da ambiência
urbana.
49
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

permitindo a reapropriação dos espaços, modificando pessoalmente a cidade. Careri


(2017) aprofunda mais a questão, afirmando que:

O curso de Artes Cívicas pede aos estudantes e aos cidadãos que se encontram
ao longo do percurso de agir na cidade em escala 1:1, como ação física de seus
corpos no espaço. Tem o objetivo de reativar suas capacidades inatas de
transformação criativa, de lembrá-los que eles têm um corpo que lhes permite
se posicionar dentro da cidade; pés para caminhar e mãos para modificar o
espaço o espaço que habitam. Durante cada aula são percorridos cerca de dez
quilômetros, caminhando do almoço ao pôr do sol. De vez em quando paramos
para ler alguns textos, para comentar os espaços em que conseguimos penetrar,
para raciocinar sobre a cidade, sobre a arte e sobre a sociedade. (CARERI,
2017, p.102-103)

A errância urbana, além de ser uma das formas de apreender a cidade em uma
escala mais próxima, sentindo e afirmando suas qualidades e problemas, é uma maneira
de poetizar o urbano e de narrá-lo. Em outras palavras, significa trazer a temática da
cidade como uma narrativa, característica que está se perdendo com a pragmatização da
análise urbana utilizada nos métodos mais tradicionalmente trabalhados nos projetos e
estudos urbanos. Como afirma Tiago Carvalho no artigo “Errar é urbano. Para uma
hodologia em Lisboa (2014)”:
O caminhar confere um controlo relacionado com o ritmo natural em que a
paisagem atravessada se revela demoradamente. Este ritmo é mais ou menos a
velocidade para a qual os seres humanos estão sintonizados para aceder
experiencialmente as suas redondezas imediatas; esta condição preserva ainda
um sentido equilibrado de controlo de um indivíduo perante a realidade, quer
esteja na sua pequena esfera privada do lar ou do trabalho, ou na área mais
extensa de uma praça ou avenida familiares. (CARVALHO, 2014, p.114).

No que se refere ao método errático, Paola Jacques afirma que: “A


experiência de errar pela cidade pode ser uma ferramenta de apreensão da cidade, mas
também, de ação urbana, ao possibilitar microrresistências dissensuais que podem atuar
na desestabilização de partilhas hegemônicas e homogêneas do sensível” (JACQUES,
2012b, p.192). Para a autora, o caminhar é uma forma de resistência urbana, pois vai ao
encontro da alteridade (o Outro urbano), esta que é constante alvo dos planos urbanos que
visam à assepsia, controle, limpeza social (gentrificação) da cidade, especialmente no
contexto de grandes eventos (Copa do Mundo de 2014 e Olimpíadas do Rio de Janeiro
de 2016) em que recentemente o Brasil se encontrou (JACQUES, 2012b).
50
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Francesco Careri na obra “Walkscapes: o caminhar como prática estética” vai


ao encontro de Paola Jacques ao afirmar que o caminhar é útil à prática da arquitetura
como uma metodologia de cognição de projeto, pois é uma forma de “[...] se reconhecer
dentro do caos das periferias uma geografia e como meio através do qual inventar novas
modalidades de intervenção nos espaços públicos metropolitanos, para pesquisá-los, para
torná-los visíveis” (CARERI, 2013b, p.32). O autor defende que o método errático é
capaz de narrar e transformar os espaços urbanos, que possuem lugares a serem analisados
e “[...] preenchida de significados, antes que projetada e preenchida de coisas”.
(CARERI, 2013b, p.32).
Outra ferramenta soma-se ao caminhar como metodologia: o desenho a mão
livre. Um observador atento à forma urbana é capaz de perceber no espaço às
contradições, permanências e modificações pela qual a cidade passa (NASCIMENTO,
2013). A elaboração de croquis sobre um lugar faz com que o desenhista possa apreender
a cidade a um tempo mais lento, possibilitando compreender e expressar texturas, cores,
escalas, elementos construídos etc. (BAPTISTA, 2015, KUSCHNIR, 2012).
O desenho carrega em seus traços a intencionalidade do seu autor, em que se
busca enfatizar algum objeto e conduzir através do seu olhar e de seu conhecimento a
construção de novas narrativas e registros documentais do lugar, corroborando com a
“ampliação das chaves de leitura acerca da história cultural de nossas cidades” [...].
(NASCIMENTO, 2017, p.3). Todo desenho é único, apesar de que o elemento
representado permaneça apto para outras experimentações e interpretações, concordando
com Joaquim Brito (2009): “Cada olhar tem a sua própria história, feita de construção
intelectual, experiência, sensibilidade e do próprio devaneio em que procura os seus
limites” (Brito, 2009, p. 4-5 in Kuschnir, 2012, p.296).
Os croquis podem se constituir como um documento histórico e contribuir
para o conhecimento da cultura e das transformações urbanas ocorridas em diversos
tempos históricos. Mesmos com os avanços tecnológicos ao longo do século XX e a
praticidade de registrar o momento, atualmente o desenho de observação da cidade possui
novos significados (KUSCHNIR, 2012). Nesse sentido, destacam-se o trabalho e as
51
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

experimentações do grupo Urban Sketchers (USk).22 Este consiste em um grupo


internacional de desenhadores, que visa registrar pontos específicos de uma cidade a partir
da observação in loco.

Ao reconhecer o método errático como uma maneira de ensino e prática de


formação de urbanistas, pode-se compreender que o caminhar, apesar de não ser
propriamente uma intervenção física na área, conduz à mudança de percepção do espaço
e de sua significância, ou ainda:
A presença física do homem num espaço não mapeando – e o variar das
percepções que daí ele recebe ao atravessá-lo – é uma forma de transformação
da paisagem que, embora não deixe sinais tangíveis, modifica culturalmente o
significado do espaço e, consequentemente, o espaço em si, transformando-o
em lugar. O caminhar produz lugares. (CARERI, 2013b, p.51, grifo nosso).

O autor entende que os lugares de alteridade possuem sentidos distintos para


as pessoas. Para os sedentários, esses espaços são simplesmente vazios, sem significado.
Para os nômades, esses “vazios” não são tão vazios, pois possuem traços invisíveis, para
eles: “[...] toda deformidade é um evento, é um lugar útil para orientar-se e com o qual
construir um mapa mental desenhado com pontos (lugares específicos), linhas (percursos)
e superfícies (territórios homogêneos) que se transformam no tempo”. (CARERI, 2013b,
p.42).
A experiência do caminhar pela cidade é vista como uma atividade de um
afastamento voluntário do que é rotineiro em busca do esquecido. Essa ferramenta de
apreensão urbana está paulatinamente se perdendo nas cidades. Para o autor italiano, nas
cidades sul-americanas essa experiência é mais complexa, pois caminhar representa
enfrentar diversos medos.
Na América do Sul, caminhar significa enfrentar muitos medos: medo da
cidade, medo do espaço público, medo de infringir as regras, medo de
apropriar-se do espaço, medo de ultrapassar barreiras muitas vezes inexistentes
e medo dos outros cidadãos, quase sempre percebidos como inimigos
potenciais. Simplesmente, o caminhar dá medo e, por isso, não se caminha

22
Desenhadores urbanos (tradução nossa). Em algumas das vivências acompanhadas na pesquisa foram
relatadas memórias associadas a eventos do USk no Centro de Fortaleza, especialmente na Praça dos Leões
(Praça General Tibúrcio).
52
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

mais; quem caminha é um sem-teto, um mendigo, um marginal. Ali o


fenômeno antiperipatético e antiurbano é mais claro que na Europa, onde me
parece que está apenas em via de formação: nunca sair de casa a pé, nunca
expor o próprio corpo sem um envoltório, protegê-lo dentro de casa ou no
carro, sobretudo não sair depois do anoitecer, encerrar-se [...].(CARERI,
2013a, p.242-243).

Esse “medo do outro” ou esse “medo da cidade”, de uma forma geral, é um


reflexo dos problemas urbanos e ocasiona o efeito de indiferença discutido por Georg
Simmel em “A metrópole e a vida mental (Die Großstädte und das Geistesleben)” de
1903. Jacques (2012b) destaca que Simmel conceitua o chamado “homem blasé”, ou seja:
[...] aquele que para se proteger da vida urbana nas grandes cidades [...] se torna
blasé, distanciado, anônimo - o oposto daquele habitante dos vilarejos, onde
todos se conhecem, onde todos tem nome e sobrenome, possuem uma
“identidade” e um rosto próprio.” (JACQUES, 2012b).

Careri (2013a) alerta que essa atitude de afastamento do contato direto com a
realidade urbana, embora haja a justificativa dos problemas de violência nas cidades,
poderia acarretar um comprometimento da formação dos urbanistas. O autor argumenta
essa preocupação ao questionar sobre o tipo de cidade que esses futuros profissionais irão
propor, na medida em que não conhecem ou evitam a prática do caminhar. Careri defende
que “hoje, a única categoria com a qual se desenham as cidades é a da segurança. Pode
ser algo banal, mas o único modo para se ter uma cidade segura é que haja gente
caminhando pela rua.” (CARERI, 2013a, p.242).
Priscila Santos (2017) defende que, ao unir a prática do caminhar à reflexão
sobre a vivência do lugar, torna-se possível para o urbanista reconhecer quem são os
responsáveis por atuar no espaço, quais os desafios para execução do projeto, além de
possibilitar o desenvolvimento de um pensamento mais crítico sobre a cidade. O resultado
são propostas mais adequadas à realidade, com soluções que não se prendem à visão
homogeneizante sobre o modelo de cidade ideal, vista muitas vezes como um mercado,
um objeto de valor lucrativo, “[...] reproduzindo e consolidando desigualdades, num
urbanismo cenográfico e espetaculoso, cheio de marcos simbólicos visando o controle
social.” (SANTOS, 2017, p. 329 - 330).
Para além do papel do andar como instrumento de ensino, a experimentação
do espaço a partir do corpo é essencial para os demais cidadãos. Percorrer as ruas das
53
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

cidades é uma das ações capazes de reduzir o medo e desvelar a propaganda midiática da
insegurança (CARERI, 2013a). Nesses termos, Francesco Careri defende que se devem
reinventar as visões convencional e preconceituosa sobre cidade, arte, arquitetura e lugar
que se ocupa no mundo. Através desse novo olhar:
Ocorre a libertação de convicções postiças e começa-se a recordar que o espaço
é uma fantástica invenção com a qual se pode brincar, como as crianças. Um
mote que guia as nossas caminhadas é “quem perde tempo ganha espaço”. Se,
de fato, se quer ganhar “outros” espaços, é preciso saber brincar, sair
deliberadamente de um sistema funcional-produtivo e entrar num sistema não
funcional e improdutivo. É preciso aprender a perder o tempo, a não buscar o
caminho mais curto, a deixar-se conduzir pelos eventos, a dirigir-se a estradas
impraticáveis onde seja possível “topar”, talvez encalhar-se para falar com as
pessoas que se encontram ou saber deter-se, esquecendo que se deve agir.
Saber chegar ao caminhar não intencional, ao caminhar indeterminado.
(CARERI, 2013a, p.242-243)

Recomenda-se, portanto, que se deve:


Flanar. Perambular sem destino certo. Perceber os passos e as sensações do
caminhar. Parar. Deter-se não por ter alcançado o destino final, não existe o
fim, mas sim devido a uma folha que cai no trajeto. Perceber o tempo lento.
(LIMA, 2013,p. 202, grifo nosso).

Francesco Careri (2017, p.113) pondera sobre a contribuição do parar na


atividade do caminhar: “estamos acostumados a raciocinar sobre um espaço ‘enquanto
parados’, sem a consciência que naquele ‘estar parado’ encontra-se sempre uma relação
instável com o andar. Se estamos parados, é porque antes estávamos andando”.
O caminhar “despreocupado” que Eduardo Lima (2013) aborda na passagem
anterior remete ao flâneur de Walter Benjamin que, no livro “Charles Baudelaire, um
lírico no auge do capitalismo”, mostra o errante urbano indo ao encontro do outro,
entrando em conflito consigo mesmo, diante das transformações urbanas impostas pela
modernidade no desenho das antigas ruas medievais. O errante urbano, portanto, ao
contrário da maioria que tende a se proteger do contato direto com o “caos urbano”, está
constantemente em busca da experiência do contato com a alteridade (JACQUES, 2012a).
O termo “tempo lento” a que Lima (2013) se refere na passagem acima é
remetido aos estudos do geógrafo Milton Santos. Santos (2006), no livro “A natureza do
espaço (2006)”, defende que na cidade existe dois tempos: o acelerado e o lento. O autor
parte da proposta de Fernand Braudel (tempo rápido e tempo acelerado) para definir o seu
54
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

conceito de tempo. Segundo Santos (2006) os tempos são relativos. Eles expressam as
ações que animam os objetos. Só há tempo rápido ao compará-lo ao tempo lento. Os
tempos (rápidos e lentos) se distribuem pelo território da cidade e por toda a sociedade ao
mesmo tempo. Desse modo, a cidade possui os dois tempos na sua realidade presente.
Enquanto o tempo rápido se relaciona com o tempo das instituições e indivíduos
hegemônicos, ao contrário do tempo lento, este corresponde aos hegemonizados.
Jan Gehl, autor de “Cidade para pessoas”, também faz uma reflexão sobre
essa velocidade nas cidades, embora com enfoque em outro viés, distinto dos escritos de
Milton Santos. Gehl analisa o dinamismo dos espaços em que há uma velocidade
reduzida. Ele defende que “[...] há mais vida nos bairros onde as pessoas se deslocam
lentamente” (GEHL, 2013, p.71). Para Gehl, elaborar cidades onde há áreas que permitem
e incentivam as pessoas caminhar ou a pedalar, acarretará uma maior vivacidade aos
espaços urbanos. A cidade será pensada para a escala das pessoas, ou seja, com ênfase no
tráfego lento, oferecendo uma experiência mais enriquecedora para os seus habitantes.
Adentrando na reflexão de Milton Santos acerca do debate das
temporalidades na cidade, destaca-se a noção de que na cidade atual está presente o
sentido de periodização. Essa demarcação de tempos é vista ao longo da história urbana,
pois cada período possui sua origem em características intrínsecas, relacionadas ao
contexto do momento. Santos (2001) defende que o espaço é formado por dois elementos:
a materialidade e as relações sociais. A materialidade se constitui por uma combinação
do passado com o presente e que:
[...] basta passear por uma cidade, qualquer que seja, e nos defrontaremos nela,
em sua paisagem, com aspectos que foram criados, que foram estabelecidos
em momentos que não estão mais presentes, que foram presentes no passado,
portanto atuais naquele passado, e com o presente do presente, nos edifícios
que acabam de ser concluídos, esse presente que escapa de nossas mãos. Na
realidade, a paisagem é toda ela passado, porque o presente que escapa de
nossas mãos, já é passado também. Então, a cidade nos traz, através de sua
materialidade, que é um dado fundamental da compreensão do espaço, essa
presença dos tempos que se foram e que permanecem através das formas e
objetos que são também representativos de técnicas. (SANTOS, 2001, p.21).

Retoma-se, portanto, a questão da rugosidade definida por Milton Santos


(2006). O conceito faz-se presente quando se trata de apreensão da cidade, pois a
55
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

“rugosidade” consiste nessa herança do passado impressa na materialidade do tempo


presente. Isto permite o (re) conhecimento das técnicas construtivas, características da
sociedade, dentre outras reminiscências da história da cidade.

Dialogando nessa perspectiva de leitura das rugosidades de uma cidade, pode-


se aliar o instrumento metodológico do caminhar como forma de reconhecer o patrimônio
cultural. Nesse viés, discute-se o artigo, “Urbanos como prática patrimonial no CPC:
relato da experiência de 2015” (2016), de autoria de Gabriel de Andrade Fernandes. O
23
estudo aproxima-se metodologicamente do que se pretende analisar na presente
pesquisa. O artigo é fruto de itinerários elaborados por um grupo do Centro de
Preservação Cultural da Universidade de São Paulo (CPC), em que a partir de caminhadas
com roteiros estruturados discutiu-se “a respeito dos potenciais, limites e problemas do
ato de caminhar como experiência inserida no processo de patrimonialização de bens
culturais” (FERNANDES, 2016, p. 174).
Fernandes (2016) defende que a caminhada urbana possibilita o contato mais
profundo e diversificado com as referências culturais que são vivenciadas no cotidiano
da cidade, ao contrário das visões tradicionais, que reconhecem como patrimônio somente
os monumentos e documentos isolados ou conjuntos urbanos homogêneos. Em outras
palavras, “Tais reflexões permitem inclusive vislumbrar possibilidades de fruição do
patrimônio que ultrapassem a problemática cisão entre as dimensões material e imaterial

23
A metodologia utilizada por Fernandes (2016) consistiu na realização de itinerários pelo bairro histórico
do Bixiga (São Paulo-SP). No primeiro semestre foram elaborados trajetos mais alinhados ao flanar,
enquanto no segundo semestre foram propostos roteiros no formato mais tradicional e com temas
específicos. Os momentos das caminhadas da primeira metade do ano eram divididos em três: apresentação
do grupo, caminhada coletiva silenciosa (em um ritmo lento) e síntese gráfica (cartografia afetiva coletiva).
No segundo semestre, foram convidados pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), que tiveram
seus trabalhos transformados em roteiros tradicionais, cujas pesquisas foram transformadas em roteiros
urbanos formatados de um modo mais tradicional. Ao comparar as duas abordagens de caminhadas,
chegou-se às seguintes conclusões: a disposição inicial das pessoas para participar das atividades que
exigiam maior envolvimento, aos poucos e gradativamente, foi aumentando o interesse e envolvimento nas
dinâmicas. Em relação aos itinerários temáticos com formato mais tradicional mostraram muito pouco
interesse dos participantes (FERNANDES, 2016).
56
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

consagradas pelas categorias institucionalizadas de preservação.” (FERNANDES, 2016,


p.178).
Do exposto, compreende-se que a errância é uma das formas de experimentar
a cidade. Qualquer pessoa pode praticá-la. O errante urbano, nas palavras de Jacques
(2012):
[...] é aquele que busca um estado de corpo errante, que experimenta a cidade
através das errâncias, que se preocupa mais com as práticas, ações e percursos,
do que com as representações, planificações ou projeções. O errante não vê a
cidade somente de cima, em uma representação do tipo mapa aéreo, mas a
experimenta de dentro. Esta postura crítica e propositiva com relação à
apreensão e compreensão da cidade, por si só, já constitui uma forma de
resistência tanto aos métodos mais difundidos da disciplina urbanística – como
o tradicional “diagnóstico” [...]. (JACQUES, 2012b,p. 197).

Esse conjunto de autores tece um quadro conceitual sobre a narrativa urbana,


a partir da articulação do caminhar e apreender a cidade. Reforça-se que o objeto do
presente trabalho não se dará sob a ótica do flanar, mas sim, do caminhar e do percurso
orientado ou parcialmente estruturado.

2.2 O DESENHO DA CIDADE: FORMA E IMAGEM

Compreender a relação da forma urbana com a sua apreensão por parte de


seus visitantes e moradores é um tema discutido por diversos autores. No tópico anterior,
viu-se como o caminhar é uma importante ferramenta de leitura da cidade e que o desenho
das cidades antigas possibilitava a experiência do andar de maneira mais plena.
Ressalta-se que a cidade é: “fruto da simbiose entre morfologia urbana e
sociedade, logo são portadoras de um legado histórico, representativo da identidade das
mesmas.” (BAPTISTA, 2015, p.3). Dessa forma, a complexidade e a riqueza da forma
urbana estão conectadas com os processos transformadores dos diversos desenhos
urbanos ao longo da história. É interessante perceber que as cidades não são estruturas
estáticas, incluindo os centros históricos, que são capazes de conciliar com as
necessidades contemporâneas (BAPTISTA, 2015).
A leitura do espaço urbano trabalhada na pesquisa é fruto dos estudos de
autores como Kevin Lynch, José Lamas, Philippe Panerai e Gordon Cullen. As obras
57
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

desses teóricos podem ser lidas a partir de um fio condutor, interligando o desdobramento
das obras de cada um. Há, dessa forma, um diálogo entre os textos e o enfoque da análise
da morfologia urbana. As abordagens seguidas por esses autores possibilitam a
construção de um embasamento teórico-metodológico para a compreensão do espaço
físico do Centro de Fortaleza, universo empírico do presente estudo, na proposição de
circuitos de apreensão da leitura da imagem do lugar como bem patrimonial. Os
elementos da composição do desenho urbano discutidos pelos autores supracitados são
essenciais na construção dos roteiros culturais, uma das ferramentas de educação
patrimonial.
Discutir a percepção e a leitura da imagem da cidade, requer incluir os escritos
de Kevin Lynch que, nos anos de 1960, publicou o livro “A imagem da cidade”. Este
trabalho representa um dos principais estudos sobre a compreensão da imagem urbana.
Lynch estabeleceu um conjunto de critérios e de elementos que compõem a compreensão
da estrutura da cidade. Para o autor, o bom entendimento da forma urbana era possível
quando se tinha uma clara visão dos elementos urbanos por parte dos usuários do espaço
(legibilidade) e quando, mesmo que não estivesse fisicamente no lugar, conseguisse
descrever ou se transpor mentalmente para o ambiente em questão (imaginabilidade).
Lynch (2006) parte de cinco componentes para entender a imagem da cidade.
São esses: bairros, limites, marcos, pontos nodais e vias. O autor defende que esses são
pontos fundamentais na forma urbana. Essa discussão foi aprofundada em um estudo
realizado posteriormente por Philippe Panerai.
Na obra “Análise Urbana (1999)”, Panerai (2014) utiliza o aporte teórico-
metodológico da literatura de Lynch (2006) para fundamentar a chamada análise
sequencial do espaço. Este é um método que possibilita o “[...] estudo das modificações
do campo visual de um percurso” (PANERAI, 2014, p.36). Nesse sentido, a paisagem
deve ser compreendida por meio de uma análise direta realizada no próprio local, a partir
de uma série de deslocamentos. Panerai (2014) emprega também o uso de cinco
componentes para o entendimento da paisagem urbana: setores, limites, marcos, pontos
nodais e percursos.
58
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Bairros são espaços da cidade que têm características comuns entre si, que
tornam esses lugares representantes e identificados por esse conjunto de elementos
significativos do lugar (LYNCH, 2006). Panerai (2014) utiliza o termo “setores” para a
análise de uma porção do território, pois defende que ao aplicar a nomenclatura de
“bairro” o pesquisador fica restrito aos limites institucionais da área. Ao trabalhar com
“setores”, podem-se estabelecer alguns recortes que não são necessariamente
pertencentes a um mesmo bairro, mas que apresentam características em comum.
Ambos autores empregam a terminologia “limites” para se reportarem às
fronteiras entre duas unidades, onde ocorrem as rupturas que delimitam os contornos de
uma cidade, de um bairro, de uma área, ou seja, do tecido urbano.
Outro termo que é comum aos dois autores é o de “marcos”. Este é definido
como pontos de referência do espaço, que por sua forma ou importância histórico-cultural
se tornaram elementos caracterizadores daquele lugar.
Quanto ao conceito de “ponto nodal”, os autores estabelecem que são a
convergência de fluxos, posicionados em partes estratégicas da cidade, onde há a
concentração/distribuição dos deslocamentos, seja de pedestres ou de veículos
motorizados.
O último elemento da forma urbana elencado pelos autores é um ponto de
divergência. Lynch (2006) usa o conceito de “vias”, por onde o observador se desloca,
são os trajetos, em outras palavras é o sistema viário. Panerai (2014) defende o uso da
terminologia de “percursos” por considerá-la mais ampla. Ela proporciona uma expansão
das possibilidades para além do conjunto de vias, permitindo traçar rotas mais complexas
e distintas do que simplesmente seguir o curso da rua.
Para a leitura urbana é importante compreender que esses componentes não
podem ser analisados de modo isolado, é preciso entendê-los como um conjunto e que,
por vezes, há uma sobreposição entre eles. Desta forma, Lynch afirma que:
Os bairros são estruturados com pontos nodais, definidos por limites,
atravessados por vias e salpicados por marcos. A sobreposição e
interpenetração dos elementos ocorre regularmente. Se esta análise começa
pela diferenciação dos dados em categorias, deve terminar por sua reintegração
à imagem total. (LYNCH, 2006, p.54).
59
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Para além desses pontos, Panerai defende que a qualidade da cidade provém
de um bom traçado urbano. Este é um dos principais responsáveis pela relação de
apropriação e vínculo afetivo com o lugar.
[...] O espaço constitui-se um sistema de marcos e referências cuja
permanência é tranquilizadora. A identificação da cidade, de suas partes e dos
itinerários que permitem o deslocamento nela vai além da “legibilidade” de
Kevin Lynch. Ela passa por uma soma de detalhes banais que facilitam a vida
cotidiana [...] Essas pequenas coisas fazem parte de uma cultura local que
caracteriza cada cidade e favorece o sentimento de pertencimento e a coesão
social. Nesse sentido, o mapa da cidade é um dos elementos da cidadania.
(PANERAI, 2014, p.162-163).

Panerai et al. (2013), no livro “Formas urbanas: a dissolução da quadra”


traduz a relação entre o espaço e a história urbana. Estão intrinsecamente conectados aos
“[...] costumes ou conjuntos de disposições que são típicos das formas de sociabilidade
que dependem das peculiaridades sociais e das culturas regionais ou nacionais. O espaço,
portanto, tem sua história” (PANERAI et al., 2013, p.157, grifo nosso). Desta forma,
através do espaço, torna-se possível identificar as permanências e transformações dos
tempos passados materializados nas quadras, nos bairros e nos percursos.
A obra de Panerai (2014) também está articulada a uma pesquisa anterior,
contemporânea aos estudos de Kevin Lynch nos anos de 1960, a do inglês Gordon Cullen.
Em “Paisagem Urbana (1971)”, Cullen defende que ao estudar a cidade, é preciso
percorrer a malha urbana e ao longo dessa caminhada, apreender uma sucessão de novas
perspectivas, visuais e surpresas a serem captados pelos transeuntes. Para Cullen (2006),
isso seria a chamada “visão serial”, um dos aspectos da leitura sequencial defendido por
Panerai, aproximando os trabalhos de ambos os autores.
Cullen designa outros pontos a serem identificados ao realizar um estudo
morfológico de uma área: óptico, local e conteúdo24. O primeiro está diretamente
relacionado à visão serial, já mencionada anteriormente. O segundo se refere às diferentes

24
Esses elementos apontados na análise de Gordon Cullen foram incorporados no estudo realizado
anteriormente: “Um percurso sobre o patrimônio e a morfologia urbana do Centro de Fortaleza-CE” (2015),
sob orientação do prof. Dr. José Clewton do Nascimento pelo PPGAU-UFRN.
60
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

reações que o indivíduo pode ter em relação à posição no espaço em que se encontra. O
terceiro se relaciona às qualidades inerentes às diversas subseções da paisagem urbana
(cor, textura, escala, o seu estilo, a sua natureza, a sua personalidade e tudo o que a
caracteriza).
Tanto para a estruturação dos percursos culturais quanto para vivenciá-los foi
preciso utilizar a metodologia da análise sequencial do espaço. Ao longo das experiências
organizadas pelo guia e do circuito proposto na pesquisa foi possível observar a paisagem
urbana se apresentando de forma seriada e proporcionando distintas sensações e visadas.
Um dos pontos da morfologia urbana embasados na literatura do português
José Lamas (2011) e essencial para a concepção dos roteiros são as praças. A
conceituação de praça definida pelo autor (2011) é que ela possui vinculação aos vazios
urbanos, entretanto são espaços que possuem significado, onde ocorrem as práticas
sociais, manifestações culturais e da vida urbana e que possuem marcos arquitetônicos
que as caracterizam. Lamas (2011) assim como os demais autores já discutidos nesse
tópico, também discute acerca de elementos morfológicos da forma da cidade (o solo, os
edifícios, o lote, a fachada, o logradouro, o traçado - rua, a praça, o monumento, a
vegetação e o mobiliário urbano). O autor argumenta que a apreensão da paisagem urbana
deve ser feita simultaneamente em diferentes níveis e também por percurso e sequências.
A rede de espaços livres existente na área central de Fortaleza, bem como em
outros centros históricos brasileiros, é constituída a partir das praças públicas. Esse
elemento da forma urbana possui uma relação tão intrínseca com o desenho da cidade
portuguesa, que em suas Cartas Régias (documentos norteadores da criação de vilas
61
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

portuguesas no Brasil) havia recomendações explícitas2526 de delimitação das praças ao


se pensar no arruamento das vilas portuguesas no Brasil Colônia. A praça era o elemento
síntese das vilas, responsável pelo desenho de todo o arruamento do conjunto urbano
proposto em terras brasileiras (JUCA NETO, 2012). É interessante notar que a herança
colonial de desenho urbano se manteve e se consolidou na forma urbana dos centros
históricos brasileiros e que na rede de espaços livres é onde resiste a ambiência
patrimonial.
Na próxima passagem serão discutidos os componentes que possibilitam a
construção de cidades caminháveis e o significado da caminhabilidade para apreensão da
imagem e forma urbana.

2.3 CAMINHABILIDADE: AS ESTRATÉGIAS PARA O CAMINHAR NA


CIDADE

Ao longo do capítulo, discutiu-se como o desenho urbano pode possibilitar o


andar em um tempo mais lento na cidade, bem como a importância dessa experiência para
conhecer os lugares, tanto como método de ensino formal, quanto como meio de
apreensão dos seus citadinos ou visitantes. Este tópico discute sobre quais os elementos
que são fundamentais para uma boa vivência do caminhar. Dessa forma, apesar das
transformações ocorridas nas cidades contemporâneas, perdendo-se espaços mais

25
Espaços livres são um sistema complexo que envolve outros sistemas, tais como o de drenagem e de
transporte, mas que visam tecer relações de conexão e complementação com a preservação, a circulação,
atividades de lazer e convívio social. Eles se caracterizam por serem essencialmente: “Praças, ruas, jardins
e parques, em suas múltiplas funções, constituem o cerne do sistema de espaços livres das cidades, e neles
a sociabilidade não pode ser relegada a plano secundário, nem ofuscada pelas questões ecológicas e
ambientais, tema que pretende ser a tônica do momento.” (LEITE, 2011).

26
Recomenda-se a leitura do livro: “Primórdios da Urbanização no Ceará” (2012). A obra é fruto do
doutoramento do prof. Dr. Clóvis Ramiro Jucá Neto pelo PPGAU-UFBA. A pesquisa traz um conjunto de
documentos da época do Brasil Colônia e endossa a teoria do método do urbanismo português em ocupação
de “novos territórios”. Nas cartas apresentadas pelo pesquisador existiam recomendações que incluíam
desde a escolha do sítio (mais saudável e com provimento de água) até a delimitação da praça (onde seria
instalado o pelourinho), dela partindo ruas retilíneas para a instalação das casas e demais equipamentos
(Casa de Câmara e Cadeia, Igreja etc.).
62
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

propícios aos pedestres, é possível adaptar a forma urbana atual, tornando-a convidativa
à prática do andar a pé.

O crescimento urbano ocorrido nas cidades de uma forma geral, além de


terem diminuído as possibilidades de trajeto para os pedestres, limitou os usos culturais e
sociais do espaço urbano: “A tradicional função do espaço da cidade como local de
encontro e fórum social para os moradores foi reduzida, ameaçada ou progressivamente
descartada.” (GEHL, 2013a, p.3). Esse fenômeno pode ser considerado um ponto comum
em quase todas as cidades do mundo, independente de localização geográfica, condições
socioeconômicas e desenvolvimento, que pedestres/caminhantes estão cada vez mais
maltratados e com seu espaço reduzido (GEHL, 2013). Como consequência, tem-se que:
[...] deterioram-se as condições para pedestres e ciclistas. Gradualmente,
calçadas estreitas foram ficando pontilhadas de placas de sinalização,
parquímetros, postes, luminárias de rua e outros obstáculos colocados de modo
a “não ficar no caminho”. Entenda-se, “no caminho do tráfego motorizado”,
que é o que importa. Aos obstáculos físicos, juntem-se as frequentes
interrupções no ritmo da caminhada causadas pelas longas paradas em
semáforos, difíceis cruzamentos de ruas, passagens elevadas para pedestres e
túneis subterrâneos desertos. Todos esses exemplos de organização da cidade
têm um objetivo: proporcionar mais espaço e melhores condições para os
carros. Como consequência, caminhar ficou mais difícil e menos atrativo.
(GEHL, 2013a, p.91).

Isso é um reflexo da priorização dos espaços urbanos para a circulação de


automóveis, que passaram a possuir áreas com melhores condições para o fluxo veicular
em detrimento de lugares para o caminhar, que se tornou mais complicado e pouco
atrativo (GEHL, 2013).
Gehl (2013) observa que normalmente as cidades podem até possuir áreas
adequadas e voltadas para uma caminhada confortável, mas elas são restritas, não estão
difundidas em todo o seu perímetro. A questão da escala humana também é abordada pelo
autor, que defende a importância da paisagem humana, de haver a experimentação do
lugar a partir das pessoas, ao nível dos olhos, onde não importam os grandes e
espetaculares edifícios ou as linhas gerais da cidade, mas sim com a apreensão dos
usuários, a arquitetura a 5km/h.
63
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Nos anos 1960, os escritos de Jane Jacobs sobre o urbanismo norte-americano


modernista trouxeram reflexões sobre a necessidade de mudança desse modelo de cidade.
Os subúrbios estadunidenses contribuíram para o esvaziamento dos centros urbanos e
consequentemente outras problemáticas foram surgindo nesse contexto. Como forma de
reverter esse quadro, a autora defendia que os espaços públicos poderiam ser um caminho
para diminuição dos problemas urbanos. O caminhar/andar na cidade permite “olhos nas
ruas”. Quanto mais o desenho urbano proporcionar essa “vigilância” por parte dos
usuários no espaço, menor será a sensação de insegurança e maior será a atração de novos
caminhantes (JACOBS, 2009). Concordando com Jacobs (2009), Jan Gehl (2013a)
reforça a importância das pessoas caminhando e permanecendo nos espaços urbanos “A
presença de ‘outros’ indica que um lugar é considerado bom e seguro.” (GEHL, 2013a,
p.99). O autor ainda estabelece um paralelo de valorização do espaço urbano e a presença
de usuários: “Uma cidade viva se torna uma cidade valorizada e, assim, uma cidade
também mais segura.” (GEHL, 2013a, p.99).
Nesse contexto de reversão ou mitigação de perda dos espaços caminháveis,
surge uma literatura que objetiva compreender e defender a presença nas cidades
(independente do seu porte), a possibilidade do andar e da escala humana. Diante desse
quadro, tem-se o âmbito da caminhabilidade. Este é um conceito que trata da qualidade
dos espaços caminháveis, concedendo uma escala de o quanto um ambiente é favorável
ao andar a pé (GHIDINI, 2011; NORIZA et al., 2013). Dessa forma, a qualidade do
espaço para os pedestres, condições das vias, uso do solo, segurança e conforto são
considerados elementos fundamentais para uma caminhada aprazível (NORIZA et al.,
2013). Juriah Zakaria e Norsidah Ujang (2015) destacam que tanto a forma urbana quanto
a estrutura das edificações do entorno também contribuem para a implantação de espaços
caminháveis. Portanto, as fachadas que envolvem o percurso seriam um dos itens
analisados para captar as condições do andar em um lugar.
É importante salientar que para um espaço ser considerado com boa
caminhabilidade ele prescinde de um desenho universal, assegurando acessos: “[...] às
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PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

diferentes partes da cidade, garantido às crianças, aos idosos, às pessoas com dificuldades
de locomoção e a todos.” (GHIDINI, 2011, p.22).
Jeff Speck, na obra “Cidade caminhável” (2016), traz a chamada “Teoria
Geral da Caminhabilidade”. O autor parte do princípio que, para uma cidade ter boas
condições para a prática do andar, é preciso atender a quatro requisitos fundamentais: ser
proveitosa, segura, confortável e interessante. O autor ressalta que é primordial o alcance
desses pontos de forma integrada para que se tenha o resultado esperado. A seguir, tem-
se a explicação desses pontos:

Proveitosa significa que a maior parte dos aspectos da vida cotidiana está por
perto e são organizados de tal modo que uma caminhada atenda às
necessidades do morador. Segura significa que a rua foi projetada para dar aos
pedestres uma chance contra acidentes com automóveis: os pedestres não têm
apenas que estar seguros; precisam se sentir seguros, condição ainda mais
difícil de atender. Confortável significa que edifícios e paisagem conformam
as ruas como “sala de estar ao ar livre”, em contraste com os imensos espaços
abertos que, geralmente, não conseguem atrair pedestres. Interessante significa
que as calçadas são ladeadas por edifícios singulares agradáveis e com fartura
de sinais de humanidade. (SPECK, 2016, p.20-21).

Speck (2016) estabelece dez passos para que a caminhabilidade seja atingida.
São eles: pôr o automóvel em seu lugar; mesclar os usos; adequar o estacionamento;
deixar o sistema de transporte fluir; proteger o pedestre; acolher as bicicletas; criar bons
espaços; plantar árvores; criar faces de ruas agradáveis e singulares; e eleger suas
prioridades.
Visando estabelecer os pontos norteadores para o entendimento da
caminhabilidade do espaço urbano, utilizou-se um quadro comparativo com o estudo
elaborado por Roberto Ghidini e os dez passos propostos por Jeff Speck (Quadro 3).
Ghidini (2011) elaborou uma análise em que utilizou dois métodos (Chris Bradshaw -
1993 e Evandro C. dos Santos - 2003) para mensurar a caminhabilidade de uma área.
Ressalta-se que em cada um dos trabalhos determinaram dez quesitos para
averiguação das condições do caminhar nos espaços urbanos. A ordem elencada pelos
pesquisadores foi alterada para facilitar o cruzamento dos dados. Alguns pontos
necessitaram ser reagrupados por serem considerados semelhantes na temática. Nesse
ensejo, foram destacados em negrito os elementos que se superpõem aos estudos dos três
65
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

autores e podem ser considerados essenciais para a apreensão da caminhabilidade, são


eles: qualidade dos passeios, segurança (nos aspectos da violência urbana e viária),
mobiliário urbano, usos do entorno, estacionamento e proteção contra intempéries. Dessa
forma, acredita-se que através desses fatores é possível captar o quão favorável é o
ambiente para proporcionar a caminhada. Esses pontos irão ser observados na análise da
área central de Fortaleza.

CHRIS BRADSHAW - 1993 EVANDRO C. DOS SANTOS JEFF SPECK - 2016


(OTTAWA, CANADÁ) - 2003 (CURITIBA, BRASIL) (USA)

1 Situação das calçadas Largura das calçadas Criar bons espaços

Condições do piso**
2 Segurança do bairro Segurança Proteger o pedestre

3 Sensibilidade do serviço do Travessia (faixa de Pôr o automóvel em seu


trânsito no local pedestres, semáforos) lugar

4 Marcos urbanos do bairro Uso lindeiro Criar faces de ruas


agradáveis e singulares
Mesclar os usos ***
5 Capacidade de ** Adequar o
estacionamentos na região estacionamento

Estacionamento de veículos
permitido*
6 Disponibilidade de Mobiliário urbano Acolher as bicicletas
mobiliário urbano

7 Densidade das pessoas nas Proteção das intempéries Plantar árvores


calçadas

8 Oportunidade de relações Obstáculos Deixar o sistema de


sociais transporte fluir
9 Idade que as pessoas Nivelamento do passeio Eleger suas prioridades
começam a andar sozinha
66
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

10 * Iluminação ***

*Ponto do estudo de Bradshaw (1993) **Um elemento do estudo de Santos (2003). Um dos passos
determinados por Speck (2016). Cada um desses quesitos foi recolocado por conta da temática semelhante
com outro ponto.

Quadro 3 – Comparação entre os autores Bradshaw (1993), Santos (2003) e Speck (2016). Fonte: Autora
(2017).

Outros pontos que contribuem para a qualidade da caminhada e não foram


discutidos nos estudos acima são: as dimensões das quadras (quanto menor e com mais
interseções, menor é a velocidade e maior é a circulação de pedestres), o relevo e as
condições físicas dos caminhantes (LARRAÑAGA et al. (2009). As cidades em que os
quarteirões são menores, possuem uma melhor caminhabilidade, havendo uma maior
vitalidade urbana. Gehl (2013a) aponta dois motivos que geram essa dinamicidade nas
quadras mais diminutas: o primeiro é que quanto mais quarteirões, mais espaços
interessantes serão criados (praças, lojas, cafés, instituições), tornando o andar mais
interessante e convidativo; em segundo lugar, quanto mais quarteirões uma cidade
possuir, ruas maiores serão geradas e menos convidativa será o caminhar.
Na bibliografia analisada foi observado o quanto a qualidade física da cidade
é fundamental para que haja um interesse na prática do caminhar. É preciso que haja uma
estrutura urbana coesa, possibilitando curtas caminhadas, espaços interessantes, seguros
e agradáveis. Em outras palavras,
Outro fator muito importante é a qualidade física do espaço urbano.
Planejamento e projetos podem ser usados para influenciar o alcance e o
caráter de nossas atividades ao ar livre. Convites para uma atividade ao ar livre
que vá além de uma simples caminhada incluem proteção, segurança, um
espaço razoável, mobiliário e qualidade visual. (GEHL, 2013a, p.21).

Jan Gehl (2013a) defende a importância do uso de convivência e congregação


nas praças. Esses espaços não seriam apenas de passagem, mas para permanência, para
troca de vivências e para trazer uma dinamicidade à vida urbana. Segundo o autor, se o
objetivo é ter cidades vivas e atrativas, é preciso analisar as: “[...] atrações e as
oportunidades de permanência”. (GEHL, 2013a).
67
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

A seguir, tem-se o quadro (Quadro 4) elaborado por Gehl (2013b), em que o


autor relaciona a característica do espaço com as atividades realizadas27, demonstrando
que quanto melhor a qualidade física de um lugar, mais ações não obrigatórias ocorrem,
ou seja, há uma maior vitalidade nos espaços da cidade.
Qualidade física do entorno
Baixa Alta
Atividades necessárias

Atividades opcionais

Atividades sociais

Quadro 4 – Quadro elaborado por Jan Gehl associando a qualidade física do lugar e as atividades
desenvolvidas, adaptada pela autora (GEHL, 2013b, p.19).

Retomando aos estudos de Jeff Speck (2016), o autor encerra o livro alertando
que seguir todos os dez passos da caminhabilidade seria essencial para tornar a maioria
dos motoristas em caminhantes. Entretanto, ao mesmo tempo, segui-los em sua
completude iria quebrar a maior parte das cidades, pois elas estão delineadas para atração
do grande fluxo e escoamento de veículos. Por isso, é preciso eleger suas prioridades e
que tipo de desenvolvimento urbano se deseja para a cidade. O último tópico do texto
enfatiza a importância de trabalhar primeiramente com a caminhabilidade nas áreas
centrais. Speck afirma que:

27
Gehl (2013b) define as atividades em três tipos: necessárias, opcionais e sociais. As necessárias são na
maioria das vezes, aquelas ações obrigatórias (ir ao colégio, trabalho, supermercado etc.). A este grupo
pertence a maioria da prática do caminhar e o meio físico exerce pouca influência no desenvolvimento das
mesmas, pois elas devem ocorrer independente da qualidade do entorno. O segundo caso são ações que só
ocorrem quando os fatores externos são adequados, ou seja, quando o lugar propicia a realização dessas
atividades. O terceiro grupo compreende toda a movimentação que depende da presença de outras pessoas
nos espaços públicos, incluem jogos de grupo, conversas, cumprimentos, dentre outras práticas
comunitárias.
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PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

[...] O centro é a única parte da cidade que pertence a todos. Não importa onde
você more; o centro também é seu. Investir no centro da cidade é a única forma,
baseada em um local, de beneficiar todos os cidadãos de uma só vez. E tem
mais. Cada decisão de se mudar [...] é feita com a imagem de um lugar em
mente. [...] Boa ou ruim, essa imagem é difícil de ser abalada. E, com raras
exceções, reflete o centro da cidade. (SPECK, 2016, p.226).

Um aspecto relevante das áreas centrais é o dimensionamento adequado


desses espaços para o caminhar. Geralmente a maioria dos centros urbanos mede em torno
de 1km², o que significa que grande parte dos serviços necessários aos pedestres estará
disponível em uma caminhada de menos de um quilômetro (GEHL, 2013a). Alguns
estudos indicam a distância de 500 m28 como minimamente adequada para o andar a pé
confortavelmente. Esse intervalo é variável, pois envolve a capacidade física do pedestre,
como pode-se observar na passagem a seguir:
A distância aceitável de caminhada é um conceito relativamente fluido.
Algumas pessoas andam felizes por muitos quilômetros, enquanto para alguns
idosos, deficientes ou crianças, mesmo curtas caminhadas são difíceis. A
maior parte das pessoas está disposta a percorrer cerca de 500 metros. A
distância aceitável, porém, também depende da qualidade de percurso. Se o
piso for de boa qualidade e se o trajeto for interessante, aceita-se uma
caminhada mais longa. Por outro lado, a vontade de caminhar cai
drasticamente se o trecho foi desinteressante e, assim, parecer cansativo. Nesse
caso, uma caminhada de 200 a 300 metros parecerá muito longa, mesmo que
leve menos de cinco minutos. (GEHL, 2013a, p.121, grifo nosso).

Em resumo, para que uma cidade seja caminhável e com uma boa vitalidade
urbana, a sua forma física precisa ser compatível e agradável para os seus habitantes e
frequentadores. Speck (2016, p.223) estabelece algumas dicas para a inserção de espaços
mais caminháveis na cidade:
Em primeiro lugar, estudo cada rua com chance de se tornar caminhável e lhe
dou uma classificação em termos de qualidades urbanas. Ignoro as
características de tráfego, já que são fáceis de serem reformuladas e observo
apenas o conforto e o interesse: definição espacial e presença de frentes de ruas
agradáveis. Este esforço produz um mapa no qual as ruas são coloridas – de

28
Jan Gehl (2013b) concorda com Jeff Speck (2016) quanto à distância considerada aceitável para andar a
pé. Segundo Gehl há vários estudos que indicam um intervalo de 400-500m como aceitável para caminhar.
Entretanto, o autor destaca que para as crianças, idosos e pessoas com alguma deficiência, a distância
aceitável é consideravelmente inferior. Além disso, para Gehl, o mais importante, além da medida física
tida como real, é levar em consideração a chamada distância experimentada, pois esta envolve fatores mais
subjetivos e relacionados às características do lugar.
69
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

verde, amarelo ou vermelho – de acordo com seu potencial de atrair pedestres.


Desse mapa surge um padrão, no qual certas ruas, suficientemente boas,
reúnem-se para formar uma clara rede de caminhabilidade. Complemento esta
rede com ruas adicionais, necessárias para conectá-las aos pontos-chave, às
âncoras, que essa rede quase alcança, incluindo outros trechos da mesma rua.

No contexto atual em que o discurso de sustentabilidade e de cidades mais


compactas está se tornando mais evidenciado, a caminhabilidade faz parte desse quadro,
sendo uma considerada um dos principais fundamentos para que se tenha a vitalidade
urbana e cidades mais sustentáveis (SHAMSUDDIN et al., 2012).

Soma-se a essas discussões apresentadas, a articulação da caminhabilidade


com o potencial do patrimônio cultural atrair e gerar vitalidade na cidade. Há um conjunto
de iniciativas, especialmente depois dos anos de 1980, que demonstram como é positivo
aliar a preservação do patrimônio a partir da criação de espaços e rotas caminháveis
(SONI e SONI, 2016 in BRANDÃO, 2018; PAIVA, 2017). Um desses exemplos são as
chamadas “Jornadas do Patrimônio”, envolvendo um conjunto de cidades europeias que,
durante o mês de setembro, oferece roteiros a diversos equipamentos históricos,
facilitando o acesso dos visitantes à história do lugar. Consequentemente, além da
possibilidade de se experimentar o caminhar na cidade, são construídos vínculos afetivos
com os espaços e lugares (PAIVA, 2017).

Dessa forma, seria possível dar maiores incentivos para que a população
possa caminhar mais, tomar contato com a história da cidade, compartilhar novas
experiências de caminhadas, além de criar memória afetiva com os espaços e lugares.

Um dos elementos essenciais para que se desenvolva a apreensão dos bens


patrimoniais é a qualidade dos passeios. Estes são os meios por onde os visitantes se
deslocam para descortinarem as atrações culturais (BOULLÓN, 2002 in VIEIRA et al.,
2017) ou, ainda, modificar os espaços tradicionais de veículos e torná-los voltados para
os pedestres, ou seja, que ocorra a chamada “pedestrianização”. Esta pode ser entendida
como uma “[...] restrição ou eliminação de tráfego em vias, tornando-as de uso limitado
a pedestres por período temporário ou permanente” (HASS-KLAU, 1993 in BRANDÃO,
2018, p.20). Os pontos positivos desse processo de tornar as áreas voltadas para os
70
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

caminhantes abrangem desde a melhoria da infraestrutura física dos espaços urbanos,


passando pela redução da poluição do ar e sonora, até a preservação do patrimônio (SONI
e SONI, 2016 in BRANDÃO, 2018).

Compreende-se, portanto, a partir do que foi exposto no capítulo, que o


desenho urbano das cidades passou por transformações ao longo dos séculos,
modificando a noção da escala urbana, que propiciava a prática do andar a pé. Foi
apresentado no texto como diversos autores reforçam a necessidade do retorno da
caminhada como um modo de retomar a presença das pessoas nas cidades, seja como
estudantes de arquitetura e urbanismo, seja como cidadãos do lugar. Ter áreas
caminháveis para além de uma questão de garantir a urbanidade, é uma maneira de mitigar
alguns dos mais sérios problemas urbanos, como por exemplo, a violência. Os autores
defendem o caminhar como uma forma de apropriação do espaço, consequentemente
aumenta gradativamente o pertencimento das pessoas com o ambiente em que vivem.
No capítulo a seguir, será articulada, a partir da perspectiva da educação
patrimonial, a relação da percepção do patrimônio cultural através da prática do turismo
cultural. Nesse sentido, o patrimônio se estabelece como um fio condutor para a
construção de afeto, pertencimento e conhecimento do lugar.
72
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

3. ASPECTOS DA EDUCAÇÃO PATRIMONIAL: A


PERCEPÇÃO DO LUGAR A PARTIR DO TURISMO
CULTURAL

“[...] sem saber onde estivemos, é difícil saber para onde estamos indo. O
passado é o fundamento da identidade individual e coletiva; objetivos do
passado e presente cria um sentido de sequência para o caos aleatório e, como
a mudança é inevitável, um sistema estável de sentidos organizados nos
permite lidar com a inovação e a decadência. O impulso nostálgico é um
importante agente do ajuste à crise, é o seu emoliente social, reforçando a
identidade nacional quando a confiança se enfraquece ou é ameaçada.
(HEWISON, 1987 apud HARVEY, 1989, p.85)

A passagem acima se refere ao pensamento de Robert Hewison, discutido por


David Harvey na obra “Condição Pós-moderna” (1992), em que o autor defende a
importância do passado para a construção de um sentimento de pertença com o lugar, ao
mesmo tempo em que é essencial para o equilíbrio emocional do indivíduo, especialmente
diante das transformações às quais o homem contemporâneo está exposto.
A percepção do meio ambiente passa pela necessidade de estar em contato
direto com o lugar. Entende-se que dessa forma a inter-relação pessoa x ambiente torna-
se mais consistente. Atualmente, há um conjunto de novas publicações focadas em
estudos da percepção, na paisagem, no corpo e nas sensações, a partir de experiências dos
habitantes na/da cidade. Com esse novo olhar, corpo e sentidos são incorporados ao
estudo e amplia-se o campo de investigação (THIBAUD, 2012). Sobre o tema destaca-se
que:
[...] Ao estudar o encaixe entre o sensível e o social, atualizar os esquemas de
percepção cultural, escrever uma história das sensibilidades, tirar as medidas
do espaço vivido, desenhar uma arquitetura pelas sensações, revisitar o lugar
dos sentidos no pensamento filosófico ou fazer cair por terra a percepção
comum através da performance artística, sempre haverá referências à
experiência e se dará atenção especial aos registros sensoriais. (THIBAUD,
2012, p.3).
73
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Captar a ambiência do espaço, ou seja, a percepção do lugar assimilada


através dos sentidos, requer se desvencilhar dos padrões normativos. Em outras palavras:
“[...] ela enfatiza a atividade de percepção dos sujeitos e o papel das práticas sociais na
concepção sensível do ambiente construído, permitindo, dessa forma, que se preste maior
atenção às tonalidades afetivas da vida urbana”. (THIBAUD, 2012, p.9).
A vivência de forma sistemática em um ambiente permite que a “imagem do
lugar” possa ser estabelecida a partir dos vínculos afetivos, da memória e do
conhecimento imagético. Os estudos de Kevin Lynch (2006) na década de 1960
corroboraram com a questão, tornando-o referência no assunto. Nesse sentido,
considerou-se que a imagem da cidade simboliza o grau de representação que os
moradores possuem com o lugar. Para o autor “[...] potencialmente, a cidade é em si o
símbolo poderoso de uma sociedade complexa. Se bem organizada em termos visuais, ela
também pode ter um forte significado expressivo” (LYNCH, 2006, p.5).
São as práticas sociais que concedem forma, função e significado ao espaço
urbano, transformando-o em artefato. A cidade também é uma representação imagética.
Assim, compreender as imagens mentais dos habitantes e visitantes da cidade é essencial
para o entendimento do objeto cidade (MENESES, 2006). Ressalta-se que a cidade não é
uma leitura que se esgota em somente um primeiro olhar, ao contrário, ela requer
múltiplas abordagens, visões e interpretações (MEDEIROS et al., 2014).
Reconhecer a cidade através das memórias é um exercício que requer a
vivência do espaço. É uma forma de sistematizar e ressignificar o entendimento espaço-
temporal do lugar em que se habita ou se visita, estabelecendo outra maneira de
representar a cidade.
Só vou buscar imagens de cidades. Não pratico fotografia, não compro cartões
postais, não disponho de uma câmera de vídeo, volto apenas com imagens
mentais. A cidade não é mais que uma recordação de si mesma e sua realidade
se mede no poder de contágio das imagens que ela não cessa de engendrar [...].
(JEUDY, 2010, p.19).

A cidade não se impõe de forma uniforme e unânime aos seus moradores.


José Guilherme Magnani (2013, apud Lisboa, 2016) sugere que se observe a cidade
através do conjunto de rotinas e vivências cotidianas, que imprimem seus vestígios no
74
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

tecido urbano. Essas marcas sobrepõem “[...] o desenho oficial da cidade: às vezes rompe
com ele, outras vezes o segue,, outras ainda não tem alternativa senão adequar-se”
(Magnani, 2013, p.13 apud Lisboa, 2016, p.166).
Além disso, a cidade não é campo exclusivo de um setor ou de uma formação
profissional isolada, ela é sentida e vivenciada por todos. Portanto, é interessante
conhecer, discutir e apresentar os diversos olhares sobre a cidade, tecendo uma visão
ampliada sobre o objeto do espaço urbano. Rossana Honorato (1999) reforça acerca da
relevância do papel das pessoas na construção da cidade e de sua história. Para a autora é
essencial o envolvimento de todos na atividade, inclusive para gerar os sentimentos de
pertença com o lugar, de responsabilidade e posse.
A cidade não é área de conhecimento de estudo de ninguém
isoladamente…Dificilmente se vai conseguir conversar com um advogado, ou
com um psicólogo, ou com um dono da banca de revista ao lado, ou com um
padeiro ou um lixeiro que não tenha alguma opinião sobre a sua cidade. Se
moradia pressupõe a escolha do lugar em que se quer morar, é porque há toda
uma relação de identidade aí construída. Se se quer participar da construção
desse lugar é porque se tem em vista ações para preservar aquilo que entende
essencial preservar e transformar aquilo que quer ver transformado, sem perder
de vista o referencial da natureza das pessoas que vivem na cidade. Por isso, a
reflexão é sem dúvida a melhor ação nesse exercício de aprender a viver junto,
cujo locus, a cidade, cada vez mais preferida e determinada para o exercício da
vida em comum, é a base da experiência urbana cotidiana. (HONORATO,
1999, p.218-219).

Nessa discussão acerca das imagens mentais somadas à construção de


vínculos afetivos, surge outro tema: a cidade como elemento síntese dessa história urbana.
Há estudos que definem três maneiras de compreender-se a relação entre memória e
cidade, bem como os níveis de reminiscências que são desenvolvidos. Denise Jodelet
(2002) se dedicou à temática e define que:
Sendo a cidade portadora da história, podemos detectar três formas de
memória. No primeiro tipo de memória, a memória eventual, alguns lugares
são emblemáticos dos acontecimentos dos quais eles foram palco [...] que essa
memória eventual é lembrada constantemente pela existência dos lugares [...]
O segundo tipo de memória urbana é a memória coletiva dos grupos [...] Os
vestígios que nós podemos ler nas edificações ou nos lugares urbanos mantêm
uma certa ideia de seu povo e de seus costumes [...] O terceiro tipo de memória
carregada pela cidade é a memória monumental, quando as construções
guardam em si os vestígios do passado e estabelecem uma ligação com ele.
(JODELET, 2002, p.39).
75
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Relações e inter-relações vão sendo estabelecidas entre o homem e o


ambiente para a formação da memória do lugar, construindo-se o chamado “apego ao
lugar ou vínculo com o lugar” (place attachment). Esse é um dos objetos dos estudos da
Psicologia Ambiental, em que se observa a relação de afeto que os usuários possuem com
aquele território, seja emocionalmente ou culturalmente. Para a análise desse “apego ao
lugar” é preciso se ater às características da morfologia urbana da área e aos significados
que foram atribuídos pelos grupos sociais ou indivíduos que nele se encontram (ELALI
e MEDEIROS, 2011).
Seguindo essa perspectiva, a paisagem de uma cidade pode parecer trivial
para seus habitantes, mas a representatividade do lugar é distinta e individual, variando o
nível de sentimento de pertencimento entre os moradores. Para Thiago Allis (2012, apud
Vargas, 2016), na medida em que as pessoas se tornem “flâneurs”, caminhando pelo
tecido urbano, maior apropriação e apego elas terão. Esse entendimento vai ao encontro
do que se defende no presente estudo, em que se postula sobre a necessidade de ir a
campo, colocar o corpo na cidade e testemunhar a existência de rugosidades nas áreas
históricas, possibilitando ações educativas mais significativas e consequentemente mais
duradouras.
Para além da subjetividade da construção de vínculos e memórias afetivas, há
questões de ordem mais objetivas da vivência com o lugar, apontadas por Heliana Vargas
(2016). A autora reforça que os habitantes possuem percepções diversas que são
consoantes com “[...] o momento e a intenção com os quais a percorremos, o tempo
disponível, as condições climáticas e os dias da semana, entre outros condicionantes”
(VARGAS, 2016, p.160).
A partir do que foi explicitado, tem-se um outro fator que permeia a
construção de vínculos e memórias afetivas com a cidade: o patrimônio cultural. Defende-
se que a preservação e a percepção da herança cultural de um lugar são fundamentais para
o sentido de pertencimento. Através do patrimônio é possível construir vínculos do
indivíduo com o lugar (CARSALADE, 2014). Quanto à divisão técnica que agrupa em
dois ramos o patrimônio cultural em material (bens tangíveis) e imaterial (bens
76
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

intangíveis), é preciso evidenciar que um grupo não anula o outro, mas se complementam.
O patrimônio cultural necessita de vetores materiais para se expressar, seja na música,
gastronomia, festas, danças etc., bem como todo bem material possui a dimensão
imaterial que lhe concede significado e valor (MENESES, 2012).
O patrimônio cultural está presente no cotidiano das pessoas (nos lares, nas
ruas, nas praças, nas músicas, ritmos, danças, artes etc.), ele se constitui nas
representações, documentações, realizações e expressões da formação da história e
cultura de um lugar (TOLENTINO, 2013). Ele faz parte do “[...] ser o que somos,
individualmente ou em grupo.” (TOLENTINO, 2013, p. 7).
Compreender a abrangência do patrimônio e sua conexão com o cotidiano é
essencial para que não sejam reconhecidos somente os aspectos da monumentalidade,
arquitetura, técnica, contribuindo para a chamada “fetichização do patrimônio”. Esse
fenômeno representa o processo de desvinculação do bem cultural da conjuntura em que
ele foi desenvolvido, esquecendo das relações conflituosas e de controle que permearam
a sua história de construção, passando a enxergá-lo como algo isolado, idolatrado e
independente (SCIFONI, 2012). Ao dessacralizar o patrimônio e considerá-lo como
resultado das práticas sociais de um lugar em um momento histórico, as gerações do
presente e futuro poderão ressignificá-lo e reconhecê-lo, iniciando um caminho para a
efetiva preservação (LONDRES, 2012).
Um dos estudos que discute esse olhar é a tese de Denise Alcantara intitulada
de “Abordagem experiencial e revitalização de centros históricos: os casos do Corredor
Cultural no Rio de Janeiro e do Gaslamp Quarter em San Diego”. A pesquisa trabalha
articulando a relação da apreensão dos usuários dos centros históricos com o patrimônio
cultural. O foco de Alcantara (2008) são os espaços que tinham sido alvos de projetos de
revitalização. Além disso, a autora argumenta que a abordagem experimental contribui
no sentido de revelar descobertas e significâncias subjetivas da percepção dos usuários
dos lugares históricos, contribuindo para a análise crítica dos projetos de intervenção no
patrimônio cultural urbano. Na tese, para que a autora conseguisse captar as informações
das pessoas, foram elaboradas entrevistas com questionários semiestruturados e croquis
77
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

que expressassem um mapa do lugar com os principais atributos da área. Para a conclusão
do trabalho, há uma confrontação do olhar técnico da pesquisadora com o cognitivo-
experiencial dos usuários do lugar (ALCANTARA, 2008).
Considerar a visão dos usuários para a compreensão do conceito de
patrimônio cultural é uma questão contemporânea. No início da trajetória da
institucionalização do patrimônio, mais precisamente a fundação do IPHAN, tinha-se
como base para a tomada de decisões o parecer técnico bastante focado nos aspectos
monumentais e artísticos da arquitetura colonial, que por vezes não incorporava os
significados da imaterialidade do popular e do cotidiano.
Esse paradigma foi aos poucos sendo modificado a partir dos anos de 1970.
Destaca-se o papel do Centro Nacional de Referência Cultural (CNRC) na abrangência
da conceituação. O CNRC tinha seus trabalhos dedicados ao tema da “cultura viva”, a
partir do saber popular, no intento de torná-la mais nacional e universal perante a cultura
do país (FONSECA, 1996). Cecília Fonseca (1996, p.156) esclarece:
O trabalho realizado pelo CNRC (integrado, a partir de 1979, à Fundação
Nacional Pró-Memória) representou, sem dúvida, um passo importante no
sentido de ampliar a noção de patrimônio cultural no Brasil e, menos
perceptivelmente - porque era um trabalho feito “nas bordas” da instituição
oficial - de aproximar-se das demandas de setores até então marginalizados das
políticas culturais (indígenas, negros, populações rurais e da periferia urbana
etc.).

Leonardo Castriota corrobora com essa discussão no livro “Patrimônio


cultural: conceito, políticas e instrumentos” (2009). O autor defende a importância da
participação da população local para a identificação do acervo patrimonial, pois podem
acontecer divergências entre a visão da comunidade envolvida da perspectiva dos
técnicos dos órgãos de preservação. Portanto, entender a representatividade do conjunto
edificado para os usuários do lugar é pertinente para a proteção efetiva dos bens.
Para além das questões de representatividade em reconhecer o patrimônio
cultural a partir do campo popular, soma-se o fato de que esse é um caminho interessante
para que haja a efetiva preservação. Salvador Muñoz Viñas (2005), em sua obra
“Contemporary Theory of Conservation”, argumenta para que, se consolide a
preservação efetiva do acervo histórico remanescente na forma urbana, é necessária a
78
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

participação dos diversos envolvidos no processo de identificação e significação dos bens


de valor patrimonial. Ratifica-se, portanto, que a síntese das vivências dos diversos
sujeitos participantes desse processo, ou seja, a intersubjetividade é um dos elementos
essenciais para a valoração da representatividade do patrimônio cultural. Portanto,
defende-se atualmente que a conservação não deve se constituir como uma ação centrada
nos trabalhos somente dos técnicos, mas que possua o envolvimento de outros indivíduos
(NASCIMENTO e VIEIRA, 2012).
A partir do exposto, compreende-se a relevância do patrimônio na construção
de vínculos de pertencimento e apego ao lugar, bem como a importância dos diversos
olhares e saberes populares na valorização da história da cidade. No tópico a seguir, trata-
se sobre a conexão entre o turismo e a cidade a partir do viés cultural, buscando uma visão
conciliatória entre ambos.

3.1 O TURISMO CULTURAL E A APREENSÃO DA CIDADE

[...] Assim, todos os esforços para a conservação dos bens do patrimônio


cultural devem objetivar o incremento do entendimento daqueles que o visitam
ou que vivem em seu espaço físico de visitação ou que vivem em seu espaço
físico. O caminho mais efetivo para tornar estes valores conhecidos é a
experiência direta de visitação que pode ser conseguida por meio do turismo
cultural. (COSTA, 2014, p.81).

A valorização do patrimônio cultural de um lugar parte do reconhecer a sua


história e memória. Uma das formas que se pode proporcionar essa apreensão é através
de roteiros culturais. Esses percursos têm por base caminhadas que objetivam o
entendimento da cultura da região.
Há diversas razões que levam o visitante a conhecer as áreas históricas e a
vida cultural das cidades. Uma possibilidade é o anseio de vivenciar espaços e tradições
deste novo ambiente, que tenham sido apresentadas anteriormente por meio de guias
turísticos, notícias ou relatos de conhecidos. Outra hipótese é que, por vezes, o visitante
deseja compartilhar sensações históricas que são rememoradas diante de uma
experimentação no presente, permitindo a construção de memórias com o lugar que está
conhecendo (CASTELO, FORGIARINI, 2016).
79
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Uma das formas de conhecer o lugar que se está visitando é a partir da


apreensão do espaço urbano. Este se caracteriza como uma síntese dos processos de
formação do local e, dessa forma, ele por si próprio representa um relevante ponto de
atração para a atividade turística. Ricardo Paiva (2016) argumenta que não se deve reduzir
a relevância da cidade como elemento de apropriação do turismo e exemplifica sua
argumentação através das grandes metrópoles mundiais que se configuram como os
principais destinos turísticos. Segundo Paiva (2016, p.40), o turismo se constitui:
[...] como uma das atividades de maior repercussão espacial é o fato de que ele
se apropria tanto das formações espaciais pré-capitalistas (sítios arqueológicos,
cidades históricas, monumentos) como dos espaços resultantes da lógica de
produção (áreas centrais, indústrias, portos, etc.).

O turismo em si data do século XIX, a atividade surgiu em decorrência das


viagens de formação educacional para outros países da Europa dos jovens nobres e
aristocratas ingleses. Entretanto, somente em meados do século posterior é que surgiu a
necessidade de problematizar o tema. A partir dos anos de 1960 é que a questão inicia as
discussões internacionais sobre a temática:

A iniciativa que marca a entrada das Nações Unidas nas discussões sobre o
turismo foi a organização da United Nations Conference on International
Travel and Tourism, também conhecida como o primeiro congresso sobre
turismo internacional, realizado em Roma, entre 21 de agosto e 5 de setembro
de 1963. A adoção das resoluções dessa Conferência foi recomendada pelo
Conselho Econômico e Social das Nações Unidas às organizações que lhe eram
ligadas. Como resultado dessa recomendação, a UNESCO começou a estudar
como abordar o tema no ano seguinte e a OEA promoveu o encontro que
resultou na elaboração das Normas de Quito, em 1967. (PEREIRA, 2012,
p.30).

Em resumo, o turismo é por definição um “[...] un fenómeno amplio, complejo


y multidisciplinar, que se relaciona con fuerzas económicas, psicológicas, sociales,
naturales, culturales, tecnológicas, legales, políticas” 29(SCHENKEL, 2017, p.66).

29
Um fenômeno amplo, complexo e multidisciplinar, que se relaciona com forças econômicas,
psicológicas, sociais, naturais, culturais, tecnológicas, legais, políticas (tradução nossa).
80
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

É importante salientar que a ação de (re)conhecer o lugar não deve ser


exclusiva aos visitantes, incluindo dessa forma os moradores, pois estes são os principais
responsáveis para a preservação do patrimônio urbano.
Tal como foi destacado anteriormente, existem variações no grau de apego ao
lugar por parte dos residentes e quanto mais se conhece a história da cidade, maior se
torna a apropriação. Robert Maitland (2010, apud Allis, 2012) mostra que, por vezes, os
habitantes desconhecem a sua própria cidade, especialmente quando se refere a grandes
cidades, mesmo que dela usufruam em suas atividades cotidianas.
Nesse sentido, indaga-se: quem são esses participantes que buscam o turismo
urbano? São turistas? Moradores? Como se deve chamar esse tipo de visitante interessado
em apreender a história urbana? Heliana Vargas (2016) resume os sujeitos do turismo
urbano os chamando-os de “consumidores do lugar”, abrangendo, desta forma, os
residentes, os turistas30 e os visitantes que não pernoitam na cidade. A autora afirma que:

De qualquer forma, a imagem do turista urbano ou do consumidor do lugar


reporta-se ao conceito de flâneur, cunhado por Walter Benjamin (1983), que
define os indivíduos que têm prazer em se apropriar da cidade, que
perambulam distraídos e descomprometidos, que usufruem da cidade como
lazer, incluindo-se aí, além do turista, aquele usuário rotineiro (morador) que
se deixa levar nos caminhos da deriva urbana. (VARGAS, 2016, p.161)

Sergio Fagerlande, no livro “A construção da imagem em cidades turísticas”


(2015), contribui com a discussão da inserção dos habitantes dentro da prática do turismo
urbano. Ele utiliza o termo “usuários da cidade”, ampliando os possíveis participantes das
experimentações promovidas por essa tipologia de turismo.
Nesse sentido, defende-se que o participante do turismo urbano não sejam
somente as pessoas de outras localidades, mas que também se incluam os moradores que
possuam o interesse de compreender o seu passado apresentado nos vestígios no tempo

30
Segundo Flávia Costa (2014, p.52): “Turista é toda pessoa que se desloca para fora de seu lugar de
residência permanente por mais de 24 horas, efetuando pernoite, sem a intenção de fixar residência ou
exercer atividade remunerada, realizando gastos de qualquer espécie com renda auferida fora do local
visitado.”
81
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

presente. Ao tornar o residente em um “consumidor do lugar”, ele passa a estabelecer


mais laços afetivos (place attachment) e a ser um agente de preservação do patrimônio
cultural. Assim, a comunidade residente inserida em ações dessa tipologia é um “fator de
valorização, material e simbólica, de edifícios e lugares.” (SEGALA, [2008], p.97).
O turismo se caracteriza por ser uma prática social, vinculado ao processo de
desenvolvimento da sociedade (SCHENKEL, 2017). Uma das vertentes da atividade é o
segmento que objetiva a apreensão da cultura de um lugar. Essa tipologia é denominada
de turismo cultural. Em outras palavras:
[...] o turismo cultural pode ser compreendido como um segmento da atividade
turística que, por meio da apreciação, da vivência e da experimentação direta
de bens do patrimônio cultural, material e imaterial, e da mediação da
comunicação interpretativa, proporciona aos visitantes a participação em um
processo ativo de construção de conhecimentos sobre o patrimônio cultural e
sobre seu contexto sócio-histórico. Em última escala, esse processo auxiliará a
produção de novos conhecimentos e a conservação dos bens visitados.
(COSTA, 2014, p.190).

Essa vertente do turismo foi discutida na 14a Conferência Geral da UNESCO,


em 1966. Nela foram apontados os objetivos essenciais da atividade: trocas de
conhecimento entre culturas distintas, vetor de educação, mecanismo de
desenvolvimento, captação de recursos para a conservação dos bens patrimoniais
(PEREIRA, 2012).
Para se ter uma melhor compreensão do turismo cultural, é importante
conhecer quais os motivos que levam os visitantes a irem conhecer a história do local,
bem como as características desses turistas e do conjunto a ser apreendido, as vivências
anteriores e como interagem com o objeto de visitação (COSTA, 2014).
Heliana Vargas, no livro “Turismo, arquitetura e cidade” (2016), traz algumas
elucidações acerca das razões motivadoras de uma experiência turística, sendo uma delas
o estudo de Henry Peter Gray (1970), em que o autor defende que há dois principais
intuitos responsáveis por uma viagem: sunlust (prazer do sol) e wanderlust (prazer por
viajar, deambular). O primeiro se constitui como o desejo pelo descanso, privilegia
espaços naturais, enquanto o segundo está voltado a ambientes urbanos, cujo enfoque é
conhecer novas culturas, pessoas e ter novas experimentações.
82
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Normalmente, os viajantes do tipo wanderlust possuem características


profissionais de carreiras autônomas conectadas à área cultural. Flávia Costa (2014)
destaca que dentre as múltiplas tipologias que o setor da arte possui, cada profissional irá
buscar em suas incursões turísticas àquelas vinculadas à sua formação, como por
exemplo, especialistas da área do patrimônio cultural, quando estão de férias, em seus
destinos irão procurar, conhecer sítios históricos, museus, conjuntos patrimoniais,
enquanto que profissionais de artes visuais irão conhecer experiências conectadas ao seu
trabalho.
Sergio Fagerlande (2015) corrobora com o tema de definir e conhecer as
características do “consumidor do lugar”, apresentando a discussão de John Urry (1990)
acerca dos diferentes tipos de olhares do turista. Para a presente pesquisa, destaca-se o
olhar histórico/moderno. Este se caracteriza por ser uma possibilidade do visitante se
familiarizar com a história do local, observando como os usuários do lugar são induzidos
pelos aspectos culturais e temporais, especialmente quando se tratam de áreas imbuídas
de valores e marcas históricas. Para Urry (1990, p.16 apud FAGERLANDE, 2015,
p.130):
Não existe um único olhar do turista enquanto tal. Ele varia de acordo com a
sociedade, o grupo social e o período histórico. Tais olhares são construídos
por meio da diferença. Com isso quero dizer que não existe apenas uma
experiência universal verdadeira para todos os turistas, em todas as épocas.

A prática do turismo cultural muitas vezes é criticada por explorar os bens e


conjuntos históricos e degradá-los. Normalmente, quando as áreas de importância cultural
são utilizadas como fonte de renda para o lugar, deixa-se de lado o cuidado com a
preservação das mesmas. Entretanto, desde os anos de 1960, são discutidas formas de
promover o turismo em conjuntos patrimoniais, mas sem danificar os bens alvos de
visitação, ao contrário sendo um instrumento de preservação através da captação de
capital. Contudo, apesar da proposta da atividade turística poder ser um mecanismo de
atração de recursos, vê-se que a prática da requalificação de sítios e espaços históricos é
pensada essencialmente na consolidação da atividade do turismo, ao invés de priorizar a
valorização dos bens patrimoniais a partir do seu caráter cultural.
83
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Um dos documentos norteadores das práticas de preservação do patrimônio


cultural são as Normas de Quito de 1967, organizadas pela Organização dos Estados
Americanos (OEA), que se constituem em uma carta patrimonial fruto de uma reunião
sobre conservação e utilização de monumentos e sítios de interesse histórico. Elas
representaram uma resposta dos países americanos à questão da preservação do
patrimônio cultural, mais especificamente dos países latino-americanos.
O documento se posiciona a favor do turismo, visto que: “Os valores
propriamente culturais não se desnaturalizam nem se comprometem ao vincular-se aos
interesses turísticos [...]” (OEA, 2004, p.112). Segundo a carta, o reconhecimento por
parte dos visitantes de que o lugar possui relevância para ser conhecido, o torna ainda
mais significativo nacionalmente. As Normas de Quito ainda reforçam que a Europa devia
ao turismo cultural a preservação de grande parte de seus monumentos, portanto, os países
em desenvolvimento deveriam aprender como utilizar essa solução conciliatória para a
conservação dos vestígios de seu passado.
Mesmo quando há um entendimento da viabilidade da utilização do turismo
cultural em áreas históricas como fonte econômica, existe ainda um embate acerca do
controle do fluxo de visitantes aos locais. Há um conflito entre aqueles que apoiam a ideia
de incentivar a atração de mais turistas e os que defendem o controle do acesso das
pessoas, restringindo o curso de frequentadores e, com isso, diminuindo os impactos
causados pela atividade turística (COSTA, 2014).
Atualmente busca-se o meio-termo entre explorar turisticamente um conjunto
patrimonial e preservar as características da ambiência do lugar. Muitas vezes, torna-se
imprescindível que os conjuntos e sítios de valor histórico sejam autossustentáveis,
devido ao custo demandado para gerenciar e preservar esses lugares. Nesse sentido, os
administradores dessas áreas defendem o turismo como fundamental para garantir a
conservação do patrimônio. Todavia, o papel da educação patrimonial que deveria ser
somado à atividade turística é colocado em segundo plano e o enfoque dado aos bens
patrimoniais é simplesmente o de serem explorados pelo viés econômico, como fonte de
geração de receita (COSTA, 2014).
84
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Na carta patrimonial sobre o Turismo Cultural de 1999, documento elaborado


pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO),
ficou especificado que “[...] a educação patrimonial por meio do turismo é uma das
melhores formas de beneficiar tanto a comunidade receptora como os visitantes”
(UNESCO, 2004, p.66).
Por turismo cultural, concorda-se com o conceito definido por Maria Cristina
Simão (2006, in SEGALA, [2008], p.97), que esclarece:

O turismo cultural tem por objetivo promover edifícios e conjuntos urbanos,


além de ser uma das áreas que propicia uma influência altamente significativa
na divulgação dos bens culturais nacionais, exercendo uma importante função
social. A comunidade quando toma consciência de seu patrimônio, o valoriza,
gerando novos conhecimentos num processo contínuo de enriquecimento
individual e coletivo, além de incentivar sua participação por meio de
atividades sociais que desenvolvem um processo educativo, que ajuda na
compreensão de seus costumes e tradições, valorizando, assim, sua autoestima
(SIMÃO, 2000).

Portanto, para se ter uma melhor vivência das manifestações culturais de um


lugar, é importante ter essa apreensão e uma interpretação da formação do mesmo. A
partir da chamada “aplicação dos princípios interpretativos”31, a prática do turismo
cultural se tornou mais interessante e com possibilidades concretas de aprendizagem
sobre as práticas culturais daquele local. Segundo Flávia Costa (2014, p.191), a ausência
dos princípios interpretativos torna a experiência como apenas um entretimento ou ainda
um “mero recebimento de informações”, ambos sem gerar mudanças comportamentais.
Defende-se uma abordagem onde o turismo possa ser um instrumento de
educação, que possibilita uma transformação nos métodos de apropriação do conteúdo
vivenciado nas práticas da atividade como turista.

31
Esse conjunto de princípios foi definido na Carta ICOMOS para interpretação e apresentação de sítios
de patrimônio cultural de 2008. No documento estão estabelecidos sete princípios fundamentais para a
interpretação e apresentação dos sítios históricos. São eles: 1. Acesso e compreensão; 2. Fontes de
informação; 3. Atenção ao entorno e ao contexto; 4. Preservação da autenticidade; 5. Plano de
sustentabilidade; 6. Preocupação com a inclusão e com a participação e 7. Importância da pesquisa, da
formação e da avaliação (ICOMOS, 2008).
85
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Flávia Costa (20014) define que há dois tipos de comportamentos de roteiros


turísticos: mindless e mindful. O primeiro é mais comumente aplicado aos modelos
tradicionais. Eles se caracterizam por atividades previamente organizadas, normalmente
excursões, que são marcadas por serem práticas bastante previsíveis e cujo grau de
apreensão dos envolvidos é bastante diminuto. Nesses termos, esse formato de percurso
pouco contribui para a aprendizagem. É um padrão de transferência de informações: “[...]
vê-se aquilo que o guia declara que se está vendo”. (MENESES, 2012, p.28). A segunda
tipologia caracteriza-se por ter um outro formato, no qual os participantes se tornam
reativos às informações que são apresentadas, ou seja, são estimulados a serem mais
ativos ao longo do roteiro, contrariando o modelo mindless. No formato mindful as
pessoas estabelecem novas sensações, outras formas de apreensão do mundo e itinerários
mais comportamentais.
Para a autora (2014), os participantes passam a ter uma vivência mais
aprofundada quando a conjuntura é experimentada de forma mais significativa para o
indivíduo, se tornando relevante para o mesmo diante de situações novas e
acontecimentos dinâmicos. A seguir, tem-se um quadro resumo (Quadro 5) construído
por Costa (2014):

MINDFUL MINDLESS
CARACTERÍSTICAS Aberto ao aprendizado; Utilização de rotinas já existentes;
Atenção às circunstâncias; Pouca atenção às circunstâncias;
Desenvolvimento de novas rotinas. Sem aprendizado.
CONDIÇÕES Novas e diferentes circunstâncias; Circunstâncias familiares;
Situações variadas e em mudança; Situações repetitivas;
Controle e poder de decisão; Pouco controle, poucas escolhas;
Relevância pessoal. Sem relevância pessoal.
RESULTADOS Aprendizado e recordação; Sem aprendizado; recordações pobres;
Sentimento de controle; Sentimento de desamparo;
Habilidade para lidar com Pouca habilidade em lidar com
problemas; problemas;
Sentimentos de realização; Sentimento de incompetência;
86
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Sentimentos de satisfação. Sentimento de insatisfação.


Quadro 5 - Comparativo entre roteiros mindful e mindeless. Fonte: Costa (ANO, p.89-90).

Um dos elementos essenciais para possibilitar a realização de percursos


orientados são os chamados “fatores comunicacionais”. Eles representam os dispositivos
de linguagem que auxiliam a divulgação das informações do lugar aos visitantes. Fazem
parte desse conjunto: displays, visitas guiadas, placas de sinalização, mapas, palestras,
guias, folhetos e passeios ou caminhadas, dentre outros.
Segundo Costa (2014), o roteiro inserido na categoria de mindful é mais
facilmente apreendido quando há uma maior variedade dos meios informativos sobre o
lugar. Além disso, a autora reforça que quanto mais significativos forem esses
instrumentos para os participantes, mais relevante a experiência será, desencadeando a
construção de uma memória afetiva com o percurso. Para alcançar significância,
recomenda-se que os fatores comunicacionais possuam conteúdos inesperados, inusitados
e que o próprio usuário possa controlar as informações recebidas, caracterizando-se como
uma ferramenta interativa para os visitantes. Os roteiros alinhados ao estilo mindless
também se utilizam dos instrumentos de comunicação, entretanto sua abordagem é
diferenciada, pois evidenciam uma qualidade mais expositiva, repetitiva e efêmera,
impossibilitando uma interação e apropriação que torne o momento significativo para o
participante.
Portanto, defende-se que, para roteiros culturais que trabalham na perspectiva
de formação educativa para o estabelecimento de vínculos com o lugar, seja importante
incentivar a tipologia mindful, por acreditar que esta permite uma apropriação mais
qualitativa da memória da região. A seguir serão discutidos os aspectos que permeiam a
prática da educação patrimonial.

3.2 A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL COMO INSTRUMENTO DE


PRESERVAÇÃO

A questão da Educação Patrimonial é uma temática transversal entre diversos


saberes, tais como: políticas públicas culturais, turismo cultural, meio ambiente,
87
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

educação, saúde e desenvolvimento urbano. Além disso, ela é capaz de promover a


utilização de espaços públicos como um instrumento de educação (FLORÊNCIO, 2012).
Ela representa uma forma de saber que insere aspectos da cidadania no
indivíduo, tornando-o consciente do seu papel na sociedade, trabalhando a noção de
pertencimento e agente na missão da preservação do patrimônio cultural
(ALBUQUERQUE, 2012).
Um outro viés que pode ser trabalhado a partir de práticas de educativas
vinculadas à Educação Patrimonial é a perspectiva de inclusão social a partir do olhar
sobre a diversidade cultural dos povos, contribuindo com o fortalecimento de “[...]
identidades e de alteridades no mundo contemporâneo e como um recurso para a
afirmação das diferentes maneiras de ser e de estar no mundo”. (FLORÊNCIO, 2012, p.
24). Dessa forma, abre-se um campo para o diálogo entre as culturas e desenvolve-se o
espírito da tolerância, especialmente com as culturas historicamente marginalizadas
(FLORÊNCIO, 2012).
A temática da Educação Patrimonial chegou ao Brasil por meio da influência
da pedagogia inglesa, intitulada de “heritage education”. Nesse momento havia um
enfoque mais para atividades educacionais em museus, monumentos e sítios (COSTA,
2014).
Entretanto, deve-se destacar que desde os primórdios da institucionalização
do IPHAN já havia uma preocupação com a Educação Patrimonial. Mário de Andrade,
um dos principais responsáveis pela formação do órgão de preservação nacional, afirmou
a importância pedagógica do patrimônio. Rodrigo Melo Franco de Andrade, responsável
pela instituição de 1937 a 1967, também defendia a relevância da educação para
salvaguardar o patrimônio brasileiro e enxergava a educação popular como o único
caminho capaz de garantir a defesa permanente do patrimônio (IPHAN, 2014;
LONDRES, 2012).
Como princípio básico da Educação Patrimonial tem-se que há um maior
aprendizado quando o indivíduo vivencia o contato direto com o patrimônio. Portanto,
88
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

utilizam-se atividades voltadas à visita aos bens culturais como uma das formas de
garantir a experimentação e apreensão da memória do lugar (COSTA, 2014).
Por Educação Patrimonial entende-se que:
A Educação Patrimonial se constitui de todos os processos educativos formais
e não formais que têm como foco o patrimônio cultural apropriado socialmente
como recurso para a compreensão sócio-histórica das referências culturais em
todas as suas manifestações com o objetivo de colaborar para o seu
reconhecimento, valorização e preservação. Considera ainda que os processos
educativos de base democrática devem primar pela construção coletiva e
democrática do conhecimento, por meio do diálogo permanente entre os
agentes culturais e sociais e pela participação efetiva das comunidades
detentoras e produtoras das referências culturais onde convivem noções de
patrimônio cultural diversas. (FLORÊNCIO, 2014 apud IPHAN, 2015, p. 24).

É interessante ressaltar que o centro do processo educativo deve estar voltado


no educando e quanto mais isso for trabalhado, mais significativa e eficaz será a
aprendizagem. Cecília Londres (2012) esclarece que: “Nesse sentido, não se trata de
‘ensinar sobre’ o patrimônio, mas de considerar os bens culturais, sua fruição, preservação
e difusão, como um recurso precioso no processo educativo” (LONDRES, 2012, p.16).
O grande é objetivo é atrair o educando para a temática, tornando-o curioso para abranger
suas vivências e conhecimentos sobre a questão. É esse interesse que resulta na efetiva
preservação do patrimônio cultural (LONDRES, 2012).
O processo educativo mais significativo, segundo o pensamento de Paulo
Freire, torna o homem mais consciente e crítico perante o mundo, decidindo seus
caminhos e se tornando sujeito ativo da história. Dessa forma, ao conhecer o seu passado
através do patrimônio cultural, é possível que haja uma contribuição na tomada de
decisões do indivíduo (FREIRE, 2001 apud SCIFONI, 2012).
Nos Cadernos do Patrimônio Cultural: Educação Patrimonial (2015) é
salientado que, para que aconteça o processo educacional no âmbito do patrimônio
cultural, é preciso haver uma incorporação do tema no cotidiano das pessoas, tornando-
se integrado aos demais aspectos da vida dos indivíduos (IPHAN, 2015). O documento
cita a importância de expandir as práticas da Educação Patrimonial para além do ensino
formal, diversificando assim, os modos de compreender a cultura de um lugar:
Passadas quase três décadas, a Educação Patrimonial superou as ações
centradas nos acervos e construções isoladas para a compreensão dos espaços
89
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

territoriais como um documento vivo, passível de leitura e interpretação por


meio de múltiplas estratégias educativas. Deve, portanto, ser entendida como
eficaz em articular saberes diferenciados e diversificados, presentes nas
disciplinas dos currículos dos níveis do ensino formal e, também, no âmbito
da educação não formal. (IPHAN, 2015, p.23).

Portanto, para além do processo de ensino sobre o patrimônio cultural no


âmbito formal, é necessária a incorporação das práticas educativas conectadas aos demais
aspectos da vida cotidiana das pessoas, ressignificando os bens culturais (FLORÊNCIO,
2012). Além disso, salienta-se a questão da Educação Patrimonial enquanto política
pública. Sônia Florêncio (2012, p.24) elucida:

Assim, também é fundamental conceber a Educação Patrimonial em sua


dimensão política, a partir da concepção de que tanto a memória como o
esquecimento são produtos sociais. É preciso o enfrentamento do desafio de
encarar a problemática de que, no Brasil, nem sempre a população se identifica
ou se vê no conjunto do que é reconhecido socialmente como patrimônio
cultural nacional.

Nesse sentido, defende-se a importância da cidade ser inserida como território


das práticas da educação patrimonial. Jaqueline Moll (2009, apud IPHAN, 2015)
esclarece sobre a necessidade da compreensão de que a cidade é viva e continuamente
sendo constituída, apreendida e reconhecida por seus moradores. Para Moll (2009) é
preciso que seja associado à escola o conceito de cidade educadora, porque esta é um
repositório de vivências contínuas e significativas de todos os aspectos da vida.
No campo da educação formal é preciso estar atento aos seguintes pontos: ter
a perspectiva do bem patrimonial como um documento do processo histórico do lugar;
preservar a perspectiva afetiva, cognitiva e estética na relação com os bens; identificar e
analisar a importância afetiva que os alunos possuem com o patrimônio; e ressaltar a
participação social do lugar na apropriação e preservação dos bens daquela comunidade
(GIL, 2014).
Flávia Costa (2014, p.100) apresenta os aspectos positivos da prática da
Educação Patrimonial:
 Torna os indivíduos mais observadores e curiosos sobre seu entorno, auxiliando-
os a desenvolver sua “alfabetização visual”;
90
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

 Oferece aos indivíduos ferramentas para dar sentido ao que veem e experimentam,
para entender melhor seu próprio ambiente e os novos locais visitados;
 Desenvolve um senso de conexão pessoal com outras pessoas em outros tempos
e lugares;
 Ensina a apreciação e o respeito e estimulam a “apropriação” de lugares e objetos;
 Incentiva a tomada consciente de decisões sobre o futuro pela demonstração de
como as decisões tomadas no passado têm consequências diretas sobre as
possibilidades vindouras;
 Mostra aos indivíduos como eles podem estar envolvidos em suas comunidades,
como voluntários e defensores dos bens patrimoniais, e influenciar o presente e o
futuro de sua comunidade e de outras regiões;
 Apresenta aos indivíduos, principalmente aos mais jovens, novas opções de
carreiras profissionais, como arquitetura, planejamento urbano, museologia e
pesquisa histórica e arqueológica.
A autora (2014) sugere algumas práticas de Educação Patrimonial que
envolvem inserir os participantes em contato direto com os bens culturais. São elas:
caminhadas e passeios orientados, trilha interpretativa e história viva. O primeiro grupo
se refere a atividades que englobam deslocamento a pé em áreas históricas e de valor
patrimonial, em que os participantes são guiados por um responsável que apresenta fatos
simbólicos da região e realiza algumas paradas estratégicas ao longo do passeio. O guia
deve estar atento ao ambiente para realizar seus apontamentos e inserções. A segunda
prática difere-se da primeira na questão do tempo e do percurso; esta é bem mais rápida
e possui um trajeto menor, com uma temática central definida e paradas planejadas para
o desenvolvimento da interpretação por parte do grupo. A terceira tipologia tem por
objetivo recriar a história do lugar através de vivências, palestras, conversações e possui
um embasamento na interação do sítio histórico, o guia ou o responsável e o visitante.
Esse conjunto de experiências educativas em áreas históricas despertam
curiosidade e um novo olhar sobre a cidade em residentes, que não tiveram a oportunidade
de vivenciá-la sob o aspecto da história.
91
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

A importância da educação patrimonial se dá por permitir o reconhecimento


dos habitantes e visitantes sobre a história e as práticas culturais do lugar, e
consequentemente, valorizá-las, protegê-las, tornando-se mais um vetor de propagação
dos ensinamentos apreendidos. Salienta-se que o tema segue em aberto a novos debates,
caminhos e aprendizados. Não existe um dogma ou uma única estratégia metodológica
para a prática da Educação Patrimonial. Esta deve se atentar ao objetivo e à realidade da
atividade (EQUIPE DA CASA DO PATRIMÔNIO DE JOÃO PESSOA, 2012).
Recomenda-se que:
O que deve unir as ações de Educação Patrimonial é o foco no patrimônio
cultural em suas diversas manifestações (materiais, imateriais, naturais, etc.),
bem como que os processos educativos devem primar pela construção coletiva
e democrática do conhecimento, por meio do diálogo permanente, da
percepção crítica da realidade e da participação efetiva dos agentes sociais
detentores das referências culturais. (EQUIPE DA CASA DO PATRIMÔNIO
DE JOÃO PESSOA, 2012, p. 11).

Acredita-se que a partir da educação abre-se um caminho de fortalecimento


da cidadania e de preservação efetiva da cultura e memória do lugar. Ela é um processo
constante de ensino e aprendizagem, mas que sempre tem como foco principal o
patrimônio. A prática educativa com foco na área cultural torna o indivíduo mais
consciente da sua história e tradições, contribuindo para o processo de afirmação e
reconhecimento da sua identidade (APOLINÁRIO, 2012).
No próximo capítulo entra-se no cerne da pesquisa que é a relação das
caminhadas culturais e a construção de afetos e narrativas com o patrimônio. Serão
discutidas e apresentadas algumas experiências em centros históricos, com vivências na
área central de Fortaleza.
93
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

4. A PRÁTICA DO CAMINHAR EM ROTEIROS CULTURAIS –


ÁREA CENTRAL DE FORTALEZA

Fortaleza, capital do Ceará, surgiu a partir de um povoado às margens do


Forte de Nossa Senhora de Assunção, tornando-se uma vila no ano de 1726. Nessa
conjuntura conquistou a função de centro administrativo da capitania cearense.
Entretanto, o foco econômico da capitania se concentrava na pecuária, atividade
localizada mais nos sertões do Ceará, tornando o núcleo administrativo com pouca
importância na dinâmica da economia cearense (LEMENHE, 1991).

A mudança no quadro só ocorreu a partir do século XIX, consolidando-se na


segunda metade do referido século. Dentre os fatores apontados como cruciais para a
transformação tem-se a emancipação do Ceará diante de Pernambuco em 1799, pois foi
necessário dotar a vila com a infraestrutura condizente ao status e função de sede político-
administrativa (LEMENHE, 1991). Além disso, houve a transição da economia cearense,
que passou de predominantemente pecuarista para se tornar algodoeira, sendo exportada
pelo porto fortalezense. Nesse período, Fortaleza passou por intensas transformações
urbanas e socioeconômicas, buscando alinhar-se ao padrão urbanístico europeu em
detrimento da morfologia urbana e da arquitetura civil colonial (GOES, 2015). Surgem
diversos equipamentos, muitos são atualmente considerados bens patrimoniais
salvaguardados pelas instâncias de proteção do patrimônio cultural. São eles:

[...] Santa Casa de Misericórdia (1861), Cadeia Pública (1866), Assembléia


Legislativa (1871), Asilo de Mendicidade (1877), Escola Normal (1884),
Quartel do Batalhão de Segurança (1880), Estação da Estrada de Ferro de
Baturité (1880), além dos mais antigos, como o Palácio do Governo, Mercado
Público, Palácio Episcopal, Tesouraria da Fazenda (1895), conferiram a
Fortaleza a marca de capital da Província. (LEMENHE, 1991, p.123).

É nessa conjuntura que acontecem transformações urbanas no traçado da


capital. Elas seguiam os princípios urbanísticos baseados na tríade de embelezamento,
fluidez e higienização. O desenho xadrez de 1818 elaborado pelo engenheiro Silva Paulet
94
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

(Planta da Villa e Porto da Fortaleza) foi consolidado por Adolfo Herbster (1859-1888),
que a este acrescenta três boulevards (atuais avenidas Dom Manuel, Duque de Caxias e
Imperador), a funcionarem como os vetores de expansão e os limites da cidade
(ANDRADE, 2019).
Os antigos boulevards representam os limites do chamado centro histórico de
Fortaleza. Esse traçado oitocentista é uma das principais características da estrutura viária
atual do Bairro Centro. Ele conforma o conjunto de praças e equipamentos urbanos que
são as rugosidades presentes na contemporaneidade. A região passou por um processo de
esvaziamento e mudança na dinâmica socioeconômica ao longo do século passado.
Atualmente ela é bem caracterizada pelo comércio (formal e informal), mas também há
iniciativas de diversificação das funções, a partir do retorno do centro administrativo
municipal para a área, a existência de algumas secretarias e instituições estaduais e
federais, além de atividades e equipamentos culturais. O bairro é uma das principais
referências para se estudar e compreender o processo de formação da capital cearense.
Dessa forma, entende-se que, a partir das reminiscências do passado presentes
na estrutura urbana contemporânea, estuda-se a vinculação de compreender e apreender
as questões patrimoniais através de roteiros culturais. A cidade pode se tornar uma sala
de aula expandida.
A articulação do caminhar com a apreensão da cidade também é tema de
estudo de diversas áreas, como a geologia, arquitetura, psicologia, geografia, turismo,
dentre outras. A partir da realização de uma pesquisa bibliográfica acerca da questão dos
roteiros culturais, encontrou-se uma quantidade significativa de estudos ligados à
geologia, que por meio de roteiros previamente estruturados no acervo patrimonial das
cidades, permitem traçar uma leitura dos materiais utilizados na composição dos
monumentos e edificações de valor patrimonial. Buscando elucidar essas estratégias
metodológicas de estruturação de roteiros culturais, serão apresentadas algumas vivências
realizadas em outras cidades brasileiras, culminando em experiências ocorridas em
Fortaleza.
95
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Um dos trabalhos em que é possível apreender essa relação é o estudo de


Marcos Antônio Leite do Nascimento, Gustavo Bezerra e Matheus Silva (2016) que, no
artigo “Centro Histórico da cidade de Natal: roteiro geoturístico por monumentos
construídos com diferentes rochas”, mostram a viabilidade de traçar um estudo geológico
com base na área central histórica da capital potiguar. Os autores justificam que para a
construção desses bens foram utilizados materiais geológicos extraídos das adjacências
de Natal (NASCIMENTO et al., 2016).
Seguindo a mesma linha de reflexão da geologia com os bens patrimoniais,
há o trabalho de Heliana Carvalho (2010), sob orientação de Marcos Nascimento,
intitulado de “Patrimônio geológico do centro histórico de Natal”, que propõe sob o
aspecto geológico da área histórica natalense, um roteiro geoturístico pela cidade. A
autora argumenta que a pesquisa trata sobre a temática da Geologia Urbana, objetivando
a apropriação do ambiente construído (alvenarias, pavimentação, cantaria, escultura etc.)
para discorrer acerca dos conceitos da geologia através de uma abordagem mais
significativa para o leitor, contribuindo com a aproximação das geociências com a
sociedade (CARVALHO, 2010).
Há outras pesquisas desenvolvidas no país que igualmente fazem essa
articulação entre o estudo sobre os materiais geológicos das cidades solidificados no
patrimônio urbano. Pode ser destacado nesse ensejo o trabalho de André Giannotti Stern,
Claudio Riccomini, Gelson Fambrini e Marlei Chamani (2006) que, no artigo “Roteiro
geológico pelos edifícios e monumentos históricos do centro da cidade de São Paulo”,
propuseram um roteiro geológico cujo objetivo concentrava-se na análise das rochas
utilizadas na edificação dos edifícios e monumentos do centro da cidade de São Paulo.
Os autores defendem que esse itinerário conduziria ao passado e possibilitaria a análise
dos materiais pétreos aplicados em distintas épocas na capital paulista, construindo uma
linha do tempo dos períodos históricos, econômicos e sociais da cidade (STERN et al.,
2006).
Outro artigo mais recente, que aborda de forma semelhante a área central de
São Paulo e seus materiais geológicos, é o trabalho de Wilian Carlos Batista Augusto e
96
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Eliane Aparecida Del Lama (2011), o “Roteiro geoturístico no centro da cidade de São
Paulo”. O estudo focou somente em esculturas localizadas na área central: foram cerca
de quinze monumentos onde seria permitido fazer um circuito a pé por entre eles. Os
autores reafirmam as características da durabilidade e da resistência do material pétreo
utilizado nas construções, que as torna um testemunho palpável da “[...] evolução
histórica e econômica da cidade, ao estilo arquitetônico de cada época e à adequabilidade
de cada rocha nas várias utilizações da construção civil.” (AUGUSTO e LAMA, 2011,
p.29)
Ainda sobre Natal, mas saindo desse enfoque da geologia, há um livro,
“Centro histórico de Natal: guia para turistas e moradores”, cujo objetivo é proporcionar
a valorização e o aumento do número de visitas ao sítio histórico da capital. O trajeto
desenvolve-se pelos dois bairros mais tradicionais da cidade que constituem o núcleo
urbano tombado pelo IPHAN: Cidade Alta e Ribeira. Para as autoras:
Ele destina-se aos moradores da cidade que desejam redescobrir os seus
lugares de memória, bem como ao turista, para que possa conhecer outra faceta
da capital potiguar, diferente daquela de sol e mar, amplamente divulgada pelo
setor turístico (COSTA e AMARAL, 2014, p.8).

No roteiro há uma apresentação das principais edificações, praças e


monumentos de valor patrimonial dos dois bairros. Escrito em bilíngue (português e
inglês), ele visa estimular a apropriação do circuito histórico por habitantes e turistas das
mais variadas proveniências (COSTA e AMARAL, 2014).
Há uma ação na capital do Rio Grande do Norte intitulada de Gestores do
Centro Histórico de Natal, organizada pelo historiador Luciano Capistrano. Acontecem
algumas caminhadas culturais, que visam discutir a história natalense, bem como diversas
publicações sobre fatos e bens da cidade, suscitando o interesse em conhecer a riqueza
cultural resistente na capital potiguar.
Uma proposta de caminhadas culturais interessante para ser discutida no
trabalho é o Projeto Circular, desenvolvido no Centro Histórico de Belém. A capital
paraense possui uma área central de relevante interesse patrimonial, com diversos bens
tombados. Entretanto, parte desse acervo encontra-se esvaziada e com uma relação
conflituosa com os usuários da região. Dessa forma, o Projeto Circular surge no viés de
97
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

valorizar a diversidade do patrimônio nos bairros de Campina, Cidade Velha e Reduto. O


grupo organiza ações culturais nos equipamentos e espaços públicos, que visam realizar
atividades educativas voltadas para jovens e adultos usuários ou visitantes dos três
bairros. No ano passado o grupo organizou cinco eventos de circulação, contando com a
participação de milhares de pessoas. As atividades envolvem caminhadas, visitas a
museus e equipamentos culturais, potencializando o conhecimento e a valorização do
acervo histórico (PROJETO CIRCULAR, 2019).
O Projeto Leituras da Cidade é desenvolvido em Porto Alegre pela
Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS e também possui a perspectiva da
educação patrimonial a partir do caminhar e discutir sobre a história da cidade. O público-
alvo do projeto eram educadores da rede de ensino da educação básica de Porto Alegre e
acadêmicos. A proposta é que através da análise a nível local possam compreender as
questões globais do século XXI: “[...]a proposta contempla o entrecruzamento de
narrativas, imagens, escritas e leituras, estimulando os educadores e seus educandos a
olharem a cidade, apropriando-se de suas memórias e patrimônios” (MEDEIROS et al.,
2014). Os participantes foram estimulados a observar o traçado urbano, a arquitetura e os
monumentos, concebendo significados a partir dos olhares dos caminhantes do projeto.
Foram propostos cinco roteiros: histórico e arqueológico; etnográfico (com enfoque nas
narrativas de diferentes grupos, especialmente os indígenas e negros); artístico e cultural;
cidade educadora; e patrimonial. Como síntese do processo foi desenvolvido um website
com intuito de torná-lo um espaço virtual de referência das ações educativas no campo
do patrimônio cultural de Porto Alegre e proporcionar trocas de experiências e sugestões
entre os educadores.
Em Fortaleza há dois artigos que tratam sobre a construção de roteiros
guiados pela história da cidade: “Trilhas da cidade: Fortaleza e os lugares da memória –
PET História” e “Cidade de Fortaleza, Baseada na Obra ‘Iracema’, de José de Alencar”.
O primeiro possui uma maior relação com o tema estudado na tese, é a síntese de uma
série de práticas vivenciadas pelo Programa de Educação Tutorial (PET) do Curso de
História da UFC. O artigo refere-se aos percursos urbanos realizados pelo PET que
98
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

consistiam na explicação sobre a história e a arquitetura de algumas praças fortalezenses


(Ferreira, Sé, Leões, Passeio Público e José de Alencar). Segundo os autores, o objetivo
do projeto era conceder trilhas urbanas que proveriam reflexões sobre:
[...] Fortaleza e sua história através dos seus espaços urbanos como praças,
monumentos e edificações com valor histórico. Compreendendo a importância
da preservação dos lugares da memória e articulando a história, os usos e a
atualidades dos mesmos, ressaltando o papel da prática educativa na
construção da cidadania e da valorização do patrimônio cultural.
(FERDANDES et al., 2006, p.1).

O segundo artigo aborda sobre a proposição de roteiros explorando a obra


“Iracema”, do célebre romancista cearense, José de Alencar. A pesquisa defende a
possibilidade de explorar através do turismo cultural, alguns lugares de Fortaleza, que
muitas vezes ficam foram do circuito do turismo tradicional. As autoras propõem “[...]
uma rota turística literária remetendo às origens simbólicas do povo brasileiro, sob a visão
cearense, envolvendo o conjunto de lugares específicos e o patrimônio artístico que a
cidade possui em homenagem a este livro e ao seu autor” (SALVADOR e BAPTISTA,
2011, p.2).
Atualmente está sendo desenvolvida uma iniciativa interessante do poder
municipal, que visa dinamizar a circulação de pessoas pela capital cearense. A SETFOR
elaborou e irá divulgar cinco roteiros turísticos que estimulam o caminhar e/ou conhecer
a cidade pelo viés turístico/cultural. Os nomes dos roteiros 32 são: “arrodeio estribado de
história” (pontos turísticos do Centro), “arrodeio nos museus” (museus da cidade),
“bicicletando por aí” (parques da cidade), “bora bater perna” (circuito de compras) e
“bora merendar ou tomar uma” (Praia de Iracema e Varjota). O percurso sobre a história
de Fortaleza será guiado por Gerson Linhares. A ideia é que esses roteiros sejam

32
Esses nomes foram concedidos por uma servidora da SETFOR à pesquisadora durante uma das reuniões
da Câmara Setorial de Cultura e Patrimônio, instância institucional da Prefeitura de Fortaleza para
acompanhar as ações do Plano de Cultura e Patrimônio, um dos documentos do Plano Fortaleza 2040. A
pesquisadora é uma das representantes do IPLANFOR na referida Câmara. Na proposta final do folder, os
roteiros perderam os títulos e apenas dois foram incorporados ao texto do documento: “bater perna” e
“bicicletando por aí”.
99
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

distribuídos na rede hoteleira e equipamentos culturais e que os visitantes se sintam


convidados a conhecer Fortaleza sob diversos aspectos (Figuras 2 a 8).
100
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
101
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Figuras 2, 3, 4, 5, 6, 7 e 8 - Imagens do folder elaborado pela SETFOR. Fonte: SETFOR, 2020.

Outra proposição que trabalha nessa perspectiva de roteiros culturais é a de


Rodrigo Costa Lima, arquiteto e urbanista de formação, e proprietário da gráfica Riso
Tropical. Ele idealizou em 2017 um projeto de cartografar a partir de mapas afetivos33
alguns bairros de Fortaleza. A proposta era convidar um artista visual que tivesse conexão
e intimidade com o lugar. Segundo Rodrigo Lima, em conversa com a pesquisadora em
abril de 2019, o intuito era permitir a provocação para um redesenho da cidade a partir de
um olhar afetivo através da caminhada, da vivência da cidade. Ou seja, seria a
representação estética do bairro a partir da linguagem do artista convidado. O objetivo do
mapa era que as pessoas guardassem essa obra, transformando-a em um documento de

33
Os mapas afetivos estão disponibilizados em dimensões maiores como anexos ao final da tese.
102
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

memória. O primeiro mapa lançado foi o da Praia de Iracema (Figuras 9 e 10), em 2017.
Rodrigo Lima conseguiu um apoio institucional das secretarias de cultura, SECULT e
SECULTFOR. Em 2019 foi o lançamento da Revista Mapa nº 2 (elaborada pela arquiteta
e artista visual Luciene Lobo), disponibilizada em alguns equipamentos culturais do
Centro (Figuras 11 e 12). O mapa possui ilustrações com composições atrativas, que
despertam a curiosidade dos leitores. Ele se apresenta como: “um convite à caminhada, a
estar com o corpo na rua, atentos e atentas ao contorno da cidade. Este projeto vai
cartografar a cidade de Fortaleza, pensando as particularidades de cada bairro”.
Inicialmente foram pensados em cinco mapas afetivos; os próximos serão sobre o
Benfica, Meireles e Varjota. Futuramente, almeja-se expandir o projeto para outros
bairros menos turísticos.

Figura 9 - Mapa afetivo da Praia de Iracema do projeto Revista Mapa. Fonte: Autora (2019).
103
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Figura 10 - Mapa afetivo da Praia de Iracema do projeto Revista Mapa. Fonte: Autora (2019).

Figuras 11 - Revista Mapa sobre o Centro de Fortaleza. Fonte: Autora (2019).


104
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Figura 12 - Revista Mapa sobre o Centro de Fortaleza. Fonte: Autora (2019).

Uma das principais experiências de caminhadas culturais é a organizada pelo


turismólogo Gerson Linhares. Ele realiza essa atividade desde 13 de abril de 1995, em
razão da comemoração dos 269 anos de fundação da cidade de Fortaleza34. Inicialmente
havia um grupo maior de profissionais das áreas de cultura, geografia, história, pedagogia
e turismo que era responsável pelo projeto Fortaleza a Pé. Entretanto, ao longo dos anos,
somente Gerson Linhares permaneceu (SOUSA, 2014).
O Fortaleza a Pé é um projeto que possui um banco de dados (históricos,
imagens etc.) construído desde 1995 (RODRIGUES, 2013). É com esse material que
Linhares conduz o percurso. Durante o trajeto, especialmente nas paradas em praças e
monumentos, o turismólogo apresenta alguns dados e curiosidades, que por vezes não são
mais possíveis de serem observados, exceto por fotos antigas. O turismólogo promove

34
Atualmente, a capital cearense completou 294 anos. A data é celebrada a partir de 13 de abril de 1726.
105
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

esses percursos também em outras áreas da cidade, como nos bairros Benfica,
Jacarecanga, Messejana, Barra do Ceará e Parangaba (mediante a solicitação de 20
pessoas). Linhares também faz passeios com estudantes da rede pública de ensino,
fomentando a educação patrimonial na cidade.
Os passeios mais frequentes são aqueles realizados na área central histórica
de Fortaleza. Há uma parceria de Linhares com o Banco do Nordeste do Brasil S.A.
(BNB) para realizar as caminhas históricas semanalmente. A atividade é gratuita e inicia
à tarde, com saída da sede do Centro Cultural Banco do Nordeste Fortaleza, localizada
no Antigo Mercado Central, mais precisamente na Rua Conde d’Eu, n°560. As
caminhadas podem ocorrer ao longo da semana e nos três turnos, permitindo a
dinamização do fluxo de pessoas no lugar. Os principais bens visitados durante a
caminhada incluem: igrejas, prédios, palacetes, monumentos, praças e logradouros de
significativa importância para o desenvolvimento sociocultural do fortalezense
(RODRIGUES, 2013).
Atualmente o projeto conta com seis temas diferentes para as caminhadas na
área de estudo. São estes:
 Roteiro praças e monumentos;
 Caminhada cultural ao centro antigo;
 Visita aos museus do Centro;
 Circuito cultural;
 Programa história passo a passo;
 Circuito de turismo religioso.
A pesquisadora já participou de alguns dos percursos guiados por Gerson
Linhares35; à época não tinha autorização do Comitê Ético de Pesquisa (CEP) para a

35
É necessário esclarecer que após o exame de qualificação intitulado de pré-defesa, a pesquisadora
conversou com o turismólogo solicitando informações sobre as próximas caminhadas do Projeto Fortaleza
A Pé, entretanto, nos últimos meses de conclusão da tese, estava ocorrendo principalmente o Projeto Trem
da História, em que os grupos divididos em crianças e adultos com horários diferenciados fazem um passeio
gratuito pelo Centro da cidade guiado por Gerson Linhares em um veículo intitulado de “Trem da Alegria”.
Portanto, apesar da atividade ser de educação patrimonial, ela não se enquadra na metodologia da pesquisa
106
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

aplicação de questionários e autorização de imagens. Entretanto, assim como as demais


experiências que foram acompanhadas pela pesquisadora, mas não foram inseridas como
estudos de caso no presente trabalho, elas auxiliaram na construção metodológica e
reflexões sobre o tema. Fizeram parte da pesquisa de catalogação e/ou vivências de
roteiros culturais, os seguintes guias/responsáveis (Quadro 6):
RESPONSÁVEL FORMAÇÃO/INSTITUIÇÃO ENFOQUE ABORDAGEM
TEMÁTICO

Ana Cecília Arquiteta e professora do curso Arquitetura histórica Informativa


Vasconcelos de Arquitetura e Urbanismo
(UNIFOR)
Berenice Abreu Historiadora e professora do Educação patrimonial Narrativa
curso de História (UECE)
Célia Perdigão Arquiteta do IPHAN-CE Bens tombados Informativa

Maria Clélia Geógrafa e professora do curso Personalidades Informativa


Lustosa Costa de Geografia (UFC)– Projeto de cearenses
extensão Trilhas Urbanas
Cristiane Andrade Arqueóloga do IPHAN-CE Bens tombados Informativa
Buco *
Francisco Veloso* Arquiteto do IPHAN-CE Bens tombados Informativa

Gerson Linhares* Turismólogo, parceria com BNB- Praças, Museus e Informativa


CE Igrejas históricas
Jacqueline Arquiteta e professora do curso Arquitetura histórica Informativa
Oliveira* de Arquitetura e Urbanismo
(UNIFOR)
Júlio Cesar Sociólogo Cenários históricos Informativa
Fernandes Lira
José Otávio Braga* Arquiteto e guia do Projeto Áreas históricas e Informativa
Fortaleza Free Walking Tour cultura fortalezense
Fortaleza
Larissa Muniz* Arquiteta e guia do Projeto Áreas históricas e Informativa
Fortaleza Free Walking Tour cultura fortalezense
Fortaleza
Marcelo Mota Arquiteto e professor do curso de Teoria do Restauro Informativa
Capasso* Arquitetura e Urbanismo
(UNIFOR)

que é o caminhar, andar a pé. Linhares retomou às caminhadas culturais no mês de fevereiro de 2020 e
entrou em contato com a pesquisadora. Infelizmente, não havia tempo hábil para analisar a experiência
como estudo de caso. Dessa forma, não foi possível incluir uma vivência do Projeto Fortaleza A Pé na tese.
107
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Paulo Brobo Turismólogo Praças, Museus e Informativa


Igrejas históricas em
passeios ciclísticos
Pedro Boaventura* Arquiteto e professor do curso de Arquitetura histórica Informativa
Arquitetura e Urbanismo
(UNIFOR)
Renato Pequeno* Arquiteto e professor do curso de Transformações Informativa
Arquitetura e Urbanismo (UFC) urbanísticas em áreas
tradicionais
Walter Castro Historiador e professor do curso Praças, Museus e Informativa
de Arquitetura e Urbanismo Igrejas históricas
(FA7)
Quadro 6 - Profissionais responsáveis pelos roteiros guiados no Centro de Fortaleza- CE. Fonte: Autora
(2018).

* Experiências acompanhadas pela pesquisa.

No primeiro ano da pesquisa foram acompanhados os roteiros de Gerson


Linhares, Jacqueline Oliveira e Pedro Boaventura, Célia Perdigão, Francisco Veloso e
Cristiane Buco. Observou-se que há uma superposição de trajetos e bens analisados, com
enfoque para praças, edificações e monumentos que fazem parte da historiografia urbana
fortalezense. Esses trajetos não foram incorporados às análises por terem tido um papel
de compreensão inicial do objeto do estudo. Após essas caminhadas, foi possível tecer a
elaboração de questionários semiestruturados, proposições de mapas mentais, dentre
outros instrumentos metodológicos utilizados na pesquisa, submetidos ao Comitê Ético
de Pesquisa da UFRN. No terceiro ano do estudo foram vivenciados os roteiros de
Marcelo Capasso, Renato Pequeno, Jacqueline Oliveira, José Otávio e Larissa Muniz.
Todavia, os primeiros dois guias não foram incluídos como estudo de caso por conta da
vinculação com a proposta do estudo. O primeiro estava centrado em questões específicas
do restauro e não teve um percurso considerável (só envolveu o Passeio Público e parte
do Museu da Indústria); o segundo estava voltado para a análise dos vazios construídos
da área central, envolvendo tangencialmente as questões de educação patrimonial. Dessa
forma considerou-se que seria mais relevante trabalhar como estudo de caso as
108
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

experiências de Jacqueline Oliveira, caminhada das disciplinas de História da Arquitetura


e do Free Walking Tour Fortaleza36, sob responsabilidade de José Otávio e Larissa Muniz.
Salienta-se que foram identificadas experiências de caminhadas a pé na área
central de Fortaleza com jovens e crianças, contudo não foram consideradas por conta da
burocracia envolvida na autorização do CEP. Dessa forma, decidiu-se por analisar
experiências que envolveram adultos. No tópico a seguir será analisado se há uma
articulação entre os roteiros realizados e a apreensão do patrimônio cultural urbano. Um
dos objetivos é captar como e o que os participantes dos percursos assimilaram do que foi
repassado pelos guias.
Inicialmente serão estudados os roteiros guiados sob os seguintes aspectos:
caminho traçado, material utilizado nas explanações (mapas, fotografias históricas,
documentos etc.), pontos explanados (monumentos, bens apresentados, críticas
elaboradas à caminhabilidade e outras questões pertinentes ao fomento da prática do
caminhar na área histórica) e a abordagem/enfoque sobre o tema do patrimônio cultural.
Posteriormente, o foco volta-se aos demais integrantes do passeio, pois
buscará assimilar qual a visão deles sobre o percurso apresentado e o que do patrimônio
cultural foi assimilado por eles a partir da caminhada histórica. Acredita-se que isso
poderá ser aferido a partir do cruzamento das entrevistas e dos mapas mentais aplicados
aos caminhantes dos percursos históricos.
Após essa análise, verificar-se-á a hipótese do estudo que, mesmo diante de
um quadro de mau estado de conservação da área histórica fortalezense, ainda é possível
haver uma leitura do patrimônio cultural através da escala do caminhar em roteiros
históricos guiados. A seguir serão apresentados, como observadora-participante

36
O Free Walking Tour Fortaleza é um projeto inspirado em experiências internacionais homônimas, que
teve início em novembro de 2018, com um passeio-piloto (acompanhado pela pesquisadora e inserido na
tese) e que desde de dezembro do mesmo ano segue sistematicamente oferecendo caminhadas pela história
e cultura da capital Cearense. Possui percursos a pé pelo Centro Histórico (duração de 3h) e também pela
Costa Leste da cidade. Há intenção de em breve lançarem mais uma opção de passeios em um dos parques
urbanos fortalezenses, o Parque do Cocó (FREEWALKFORTALEZA, 2018).
109
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

(ALCANTARA, 2008), os roteiros acompanhados pela pesquisa dos guias: Jacqueline


Oliveira, Larissa Muniz e José Otávio.

4.1 ROTEIRO DISCIPLINAS DE HISTÓRIA DA ARTE E DA ARQUITETURA

A aula de campo ministrada pela professora Jacqueline Oliveira tinha como


tema “Memória, História e Vida – praças de Fortaleza. A Praça dos Leões, seu Palácio e
sua Igreja” (Figura 13). A aula aconteceu no dia 01 de setembro de 2018. Primeiramente,
por volta de 9h30, houve uma reunião dos membros da Academia Cearense de Letras
(ACL), posteriormente, por volta de 10h30, a palestra da professora foi iniciada
apresentando a história do lugar. Jacqueline teceu um panorama sobre a formação urbana
tanto da Praça dos Leões (General Tibúrcio), quanto dos bens arquitetônicos do entorno
(Palácio da Luz e Igreja do Rosário).

Figura 13 - Palestra da professora Jacqueline sobre a Praça dos Leões e edifícios do entorno. Fonte: Autora
(2018).
110
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

A professora ilustrou sobre a importância de valorizar os espaços históricos,


do caminhar na rua, estar na cidade e interagir com a mesma. Ela ainda esclareceu que o
distanciamento físico das pessoas com as praças da cidade acarretava um paulatino
esquecimento das praças do Centro, da história e da memória do lugar.
Jacqueline destacou que é possível perceber, ainda nos dias de hoje, a
presença do traçado urbano proposto por Adolfo Herbster no século XIX. A partir desse
momento, iniciou-se a apresentação sobre a história urbana de Fortaleza. A professora
promoveu um retorno ao século XVII (primórdios da ocupação do território cearense),
perpassando pelos séculos conseguintes, apresentando as curiosidades e fatos do passado
da capital cearense, com enfoque na Praça dos Leões. Jacqueline mostrou as
transformações arquitetônicas e urbanísticas que aconteceram no Palácio da Luz, Igreja
do Rosário e Praça dos Leões, atraindo a atenção da plateia, formada por estudantes de
arquitetura e membros da Academia. A docente encerrou a exposição, que teve duração
de uma hora, questionando o público sobre quantas das 20 praças do Centro ele conhecia
ou já havia caminhado por elas.
Terminada a aula, a professora solicitou aos monitores que organizassem os
alunos para que se iniciasse o percurso pelo Centro. O grupo era formado por cerca de 40
alunos do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIFOR e do Centro Universitário
Estácio, de disciplinas de História da Arte e da Arquitetura. O passeio começou próximo
de meio-dia e Jacqueline solicitou que os alunos saíssem do Palácio da Luz para que
pudessem apreender as características arquitetônicas do bem. A professora apresentou o
trajeto e comunicou que seria mais breve, com duração de uma hora, devido ao horário.
Ao reunir todos os estudantes na Praça defronte ao Palácio (Figura 14),
Jacqueline retomou os ensinamentos que foram ministrados, principalmente no que se
referia às “transformações da edificação”. Observa-se que na imagem há um considerável
número de alunos e que a maioria busca se localizar próximo à Igreja do Rosário por
conta da insolação característica do clima de Fortaleza, potencializada pelo horário em
que a visita ocorreu.
111
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Figura 14 - Início do percurso, a professora apresenta o Palácio da Luz. Fonte: Autora (2018).

Posteriormente, ela conduziu a turma pela Rua Guilherme Rocha, uma via
pedonal que conecta à Praça do Ferreira. No caminho ela chamou a atenção para duas
edificações ecléticas: os palacetes Ceará e L´escale. As observações manifestadas pela
professora começaram pelo Palacete Ceará (Figura 15) que, segundo a docente, ele se
constitui como um dos mais importantes expoentes do ecletismo na cidade, projeto do
arquiteto João Saboia Barbosa. Ela teceu mais considerações sobre a trajetória histórica
da edificação, destacando a beleza da carga decorativa.
Em seguida, ela solicitou ao grupo que atravessasse a rua de pedestres para
apreenderem as características da arquitetura do Edifício L´escale (Figura 16). O bem,
inicialmente uma residência, corresponde à virada dos séculos XIX e XX. A professora
mostrou alguns detalhes que comprovam que ele sofreu alterações nas esquadrias do
térreo de influência art nouveau. Ela encerrou a análise convidando os alunos a
conhecerem o restaurante, um dos melhores e mais tradicionais do Centro. A necessidade
de mudar de ponto para que sejam analisados os edifícios ocorre devido à pouca distância
112
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

entre os mesmos, forçando que os participantes necessitassem mudar de lugar e se


esforçassem para observar os detalhes em meio às intempéries.

Figura 15 - Professora apresenta as Figura 16 - Grupo atravessa a rua e apreende a


características do Palacete Ceará. Fonte: Autora arquitetura do Edifício L´escale. Fonte: Autora
(2018). (2018).

O grupo segue para a Praça do Ferreira (Figura 17). A professora explicou


sobre um dos principais cartões postais da cidade, chamando a atenção para os edifícios
Hotel Excelsior, Cine São Luiz e Sulamerica (Figura 18). Durante a explanação, havia
um destaque para as características de composição do art déco, ao mesmo tempo em que
eram elaboradas comparações com o estilo eclético.

Figura 17 - Estudantes se dirigem à Praça do Ferreira. Fonte: Autora (2018).


113
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Figura 18 - Grupo apreende o conjunto arquitetônico da Praça do Ferreira. Fonte: Autora (2018).

Jacqueline contextualizou a história do Cine Teatro São Luiz, ressaltando as


ornamentações do bem, especialmente as características do art déco. A professora
evidenciou uma última edificação na Praça, o Antigo Hotel Savannah, que possui uma
arquitetura moderna e atualmente é sede de uma instituição de ensino superior. Salienta-
se que não foi feita uma caminhada no entorno da Praça, que poderia enriquecer a
vivência possibilitando a apreensão de outros.
Todos seguiram em direção ao último ponto, o Museu do Ceará (Figura 19).
No caminho foi possível observar que o passeio estava bastante danificado, além do fluxo
de pedestres que se tornava mais intenso, dificultando o caminhar e a coesão do grupo.
Alguns alunos abordaram a professora no intuito de compreender as diferenças entre os
estilos discutidos anteriormente: art déco e eclético. Durante o trajeto em direção ao
Museu, o grupo percorreu a lateral do equipamento cultural, mas Jacqueline solicitou que
se deslocassem um pouco mais para que pudessem apreender melhor a fachada principal
do Museu (Figura 20).
114
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Figuras 19 e 20 - Grupo caminha em direção ao último ponto e em seguida observam um dos marcos
arquitetônicos de Fortaleza, o Museu do Ceará. Fonte: Autora (2018).

A professora teceu observações sobre a importância histórica da edificação


que, para Jacqueline, é o principal edifício neoclássico existente em Fortaleza. Ela destaca
as características materiais, formais e construtivas do edifício. Pormenoriza cada
elemento arquitetônico. Após a explanação, Jacqueline convida os alunos a entrarem e
conhecerem a exposição existente no equipamento (Figura 21).

Figura 21 - Grupo chega no Museu do Ceará. Fonte: Autora (2018).


115
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Ao ingressarem no Museu, parte dos alunos se dispersou para observar a


exposição. Jacqueline solicitou que ficassem juntos para que fosse possível discutir acerca
da organização espacial do imóvel, bem como algumas características da arquitetura em
seu interior – rodapés, forros, esquadrias etc. (Figuras 22 e 23). Ela apresentou a
exposição, chamando a atenção para algumas obras dispostas. Encerrada a visitação por
volta de 13h30, a professora se despediu do grupo, apresentando a pesquisadora e
requisitando aos alunos que respondessem o questionário da pesquisa na aula seguinte.
A proposta original da professora seria que o percurso se estendesse até a
Catedral de Fortaleza, entretanto por conta do horário em que iniciou a atividade, ela foi
abreviada, contemplando a aula de campo somente entre as Praças General Tibúrcio e
Ferreira.

Figuras 22 e 23 - Professora mostra a organização dos espaços do Museu. Fonte: Autora (2018).
116
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

4.1.1 Análise do roteiro

Para a análise do roteiro serão utilizadas as etapas de 2 a 6 do Quadro 1, que


tratam sobre a metodologia empregada na tese. Os passos 1 e 7 não serão trabalhados
nesse momento por dois motivos: o primeiro foi empregado para a identificação dos guias
e de quais seriam analisados como estudo de caso e o sétimo faz parte do último capítulo
da tese, portanto será discutido em um momento posterior.
ETAPA DESCRIÇÃO OBJETIVO

01 Mapear os grupos de guias e professores dos cursos Identificar os agentes dos percursos
de Arquitetura e Urbanismo, Geografia, História, culturais e selecionar quais serão os
Turismo e Psicologia Ambiental. acompanhados pela pesquisa.
02 Identificar quais as principais rotas que são traçadas e Apreender metodologicamente
inferir sobre quais os motivos que justificam o sobre os percursos que acontecem
delineio desses percursos, quais os métodos utilizados na área de estudo.
nas caminhadas, qual o público-alvo desses roteiros.
03 Captar se a forma urbana favorece a realização dos Compreender a caminhabilidade dos
percursos a pé. lugares por onde se desenvolvem os
roteiros.
04 Aplicar entrevista semiestruturada e mapas mentais. Captar a percepção dos participantes
quanto ao patrimônio cultural.
05 Sobrepor os mapas mentais realizados e as respostas Assimilar acerca da imagem
da entrevista que atestem predominâncias de intersubjetiva do grupo de
incidências de determinados elementos da área caminhantes e refletir sobre quais
estudada. bens e elementos do percurso foram
mais significativos para os
participantes.

06 Refletir sobre análise dos dados. Compreender se as atividades de


reconhecimento da cidade a partir de
caminhadas estão contribuindo para
a apreensão da área percorrida como
patrimônio cultural.

07 Proposição de um percurso cultural. Contribuir na prática da educação


patrimonial através do caminhar,
vivenciar e dialogar sobre os
espaços patrimoniais de uma cidade.
Quadro 1 - Quadro resumo com as etapas da tese. Fonte: Autora (2018).
117
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

A experiência conduzida pela professora Jacqueline Oliveira fazia parte da


programação de aulas de campo das disciplinas de Teoria da História da Arquitetura (I e
IV), que são dos 4° e 7° semestres. Os questionários37 do primeiro momento (logo após a
vivência) foram respondidos por 40% dos estudantes (Figura 24). O perfil dos
participantes era de pessoas entre 19 a 35 anos, quase todos residentes de Fortaleza e
apenas dois residiam na Região Metropolitana. Metade dos alunos nunca havia
vivenciado passeios guiados pelo bairro e todos gostariam de participar de mais
caminhadas com o mesmo intuito (Figuras 25 e 26). A partir das respostas foi possível
constatar que a motivação da participação da vivência deu-se principalmente pelo
conhecimento da arquitetura do lugar (Figura 27).

Figuras 24, 25, 26 e 27 – Gráficos obtidos a partir das respostas dos questionários. Fonte: Autora (2020).

37
Todos os questionários e os mapas mentais produzidos encontram-se nos apêndices da tese.
118
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Inicialmente, a proposta de caminhada da professora estava estabelecida da


seguinte forma: início Palácio da Luz (Praça dos Leões), parada na Praça do Ferreira,
visita ao Museu do Ceará e encerramento na Catedral de Fortaleza. O passeio teria uma
duração estimada de duas horas (Figura 28).

Figura 28 - Percurso proposto pela professora Jacqueline. Fonte: Autora (2019).

A proposição desse roteiro estava ancorada no tema da palestra ministrada


sobre a Praça General Tibúrcio (Leões). A metodologia trabalhada pela professora
consistia em dois momentos. O primeiro foi a explanação sobre a Praça na Academia
Cearense de Letras, o segundo consistiu em apresentar aos discentes os bens,
119
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

especialmente os que tinham sido discutidos na palestra, o acervo arquitetônico


fortalezense, notadamente os estilos ecléticos, neoclássicos e art déco, que datam do final
do século XIX e início do século XX. Observou-se que a docente destacava os elementos
característicos de cada estilo arquitetônico, além de argumentar a respeito das
transformações impressas nas edificações ao longo da história (Etapa 02).
Todavia, o roteiro que foi vivenciado foi distribuído em uma hora, pois a
palestra ocorrida no Palácio da Luz se estendeu por três horas, tomando parte do tempo
que seria utilizado na aula de campo. Portanto, a atividade foi organizada nos seguintes
pontos: Início no Palácio da Luz (Praça dos Leões), Igreja do Rosário, parada na Praça
do Ferreira (análise dos edifícios L´escale Palacete, Palacete Ceará, Cine Teatro São Luiz,
Hotel Excelsior, Sulamérica e Antigo Hotel Savannah), e encerramento no Museu do
Ceará. Dessa forma, o trajeto que iria incluir a Catedral de Fortaleza foi retirado e a
proposta se concentrou na Praça dos Leões, lugar em que o grupo se concentrou na maior
parte do tempo (Figura 29).
120
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Figura 29 - Caminhada vivenciada pelo grupo. Fonte: Autora (2019).

Um outro aspecto a ser verificado é caminhabilidade do percurso, ou seja, se


a forma urbana favorecia a prática do caminhar (Etapa 03). O trajeto escolhido envolvia
basicamente duas praças e ruas pedonais, o que favoreceu a qualidade do caminhar. Na
visão da pesquisadora e comparando com outros percursos acompanhados e vivenciados,
o trecho da atividade foi bastante aprazível e seguro, apesar do horário. Entretanto, muitos
alunos reportaram problemas quanto ao estímulo do andar a pé: poluição sonora, excesso
de insolação (falta de proteção contra as intempéries), falta de segurança do pedestre e
qualidade do passeio (estado de conservação das calçadas e quantidade de lixo
acumulado). Essa queixa dos discentes apareceu principalmente na pergunta sobre quais
121
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

os aspectos negativos da caminhada: "ruas e calçadas degradadas, lixo, água a céu


aberto nas calçadas, pouca arborização (gerando mais calor)" e "Foram os desconfortos
sofridos no caminho como a temperatura alta e o barulho, que me impediram de prestar
atenção para alguns detalhes". Os depoimentos destacados ilustram o incômodo gerado
pela alta temperatura e pelo ritmo acelerado do Centro, podendo levantar uma hipótese
de que se o passeio tivesse ocorrido mais cedo, a percepção poderia ter sido mais positiva
no aspecto da caminhabilidade (Quadro 7).

ANÁLISE DA CAMINHABILIDADE
Qualidade dos passeios O percurso escolhido acontece em áreas em que os passeios
possuem uma razoável qualidade de dimensionamento e grau de
conservação, pois aconteceu prioritariamente entre duas praças.
Segurança Relativa segurança dos pedestres em relação aos automóveis.
Mobiliário urbano Sim.
Usos do entorno Uso predominantemente comercial e cultural. Áreas com um
número concentrado de bens e edificações de valor patrimonial,
contribuindo com a ambiência histórica.
Estacionamento Há oferta de vagas de zona azul, estacionamento particular e parada
de ônibus em frente.
Conectividade urbana O bairro possui conectividade com toda a cidade e diversidade de
modos de transporte: bicicletários, pontos de bicicleta
compartilhada, estações de metrô e paradas e terminais de ônibus.
Proteção contra intempéries Não há.
Quadro 7 - Análise da caminhabilidade do percurso das Disciplinas de História da Arte e da Arquitetura.

A análise segue para os aspectos qualitativos da experiência, buscando


compreender a impressão dos participantes a partir dos mapas mentais e da entrevista
semiestruturada (Etapas 04 e 05).
As principais críticas manifestadas pelos estudantes apontaram a sugestão de
inclusão de outros equipamentos no roteiro (Sobrado José Lourenço e Passeio Público).
A maioria se queixou de problemas relacionados às condições físicas do Centro (poluição
sonora, física, pouca arborização e conservação dos passeios). A duração da aula de
campo foi considerada adequada pelos discentes. Entretanto, foi praticamente unânime
que o horário da caminhada (12h-13h) foi inapropriado por conta das condições
climáticas da cidade. O tamanho do grupo também foi um outro aspecto criticado, pois
eram cerca de 40 participantes, dificultando a apreensão das informações emitidas pela
professora, somado à dificuldade de mantê-lo coeso nos deslocamentos realizados (Figura
122
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

30). Portanto, recomenda-se que haja uma melhor distribuição do tempo destinado à
visitação/análise de cada patrimônio cultural edificado e grupos mais diminutos para que
todos possam assimilar o conteúdo exposto.

Figura 30 - Gráfico com os percentuais dos aspectos negativos da experiência. Fonte: Autora (2020).

O aspecto da caminhada que mais marcou os alunos foram os bens


arquitetônicos do Centro, em especial o Museu do Ceará, este apareceu em quase todas
as respostas (Figura 31). Outros equipamentos históricos também foram mencionados,
tais como: Palacete do Ceará, Praça dos Leões, Praça do Ferreira, Restaurante L´escale,
Edifício Sulamérica e Palácio da Luz, ou como um dos alunos reportou: “A experiência
de adentrar prédios históricos, como Museu do Ceará”. Um dos estudantes apontou sobre
alguns problemas vivenciados no Centro: “Pessoas em situação de rua, calçadas em
situação precária de conservação e o lixo nas ruas”. Quase todos participantes tinham
um conhecimento prévio, especialmente no que se refere ao aspecto comercial.

Figura 31- Gráfico com os elementos que foram mais observados na experiência. Fonte: Autora (2020).
123
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Quanto aos pontos positivos da experiência, os participantes reportaram o fato


de terem a oportunidade de aprender de uma forma mais significativa sobre a história de
Fortaleza a partir do acervo edificado de valor cultural. Houve também elogios ao
percurso escolhido, pois se tornou uma caminhada relativamente agradável. Um dos
alunos respondeu que: “Foi poder perceber detalhes que a pesquisa via internet / livros
não me proporcionava, foi poder analisar o espaço de acordo e como eu me sentia nele”.
Outra opinião reforça a importância da caminhada: “O fato de estar caminhando e vendo
o prédio ao vivo e tornava muito mais fácil e interessante de aprender (sic)” ( Figura 32).

Figura 32 - Gráfico com os aspectos positivos da experiência. Fonte: Autora (2020).

No que tange ao patrimônio cultural, houve uma melhora na apreensão na


área: “Percebi que os patrimônios possuíram, de fato, bastante influência na composição
do espaço urbano (do bairro) e que são mais acessíveis do que eu esperava”. Um outro
estudante escreveu: “O reconhecimento cultural e histórico de construções que eu não
tinha noção da importância”, e ainda: “Sempre tive um olhar positivo sobre o Centro por
morar nas proximidades, mas após a caminhada aumentou meu interesse por pesquisar
a história do mesmo”. Um outro depoimento mostra a importância da educação
patrimonial, pois: “A admiração e relação de pertencimento aumentou”, “Me fez ter
vontade de valorizá-lo ainda mais” e “Ao saber mais sobre a história da arquitetura,
percebo como é importante preservar”. Em resumo, esses depoimentos reforçam que o
caminhar para reconhecer produz uma aprendizagem significativa nos participantes,
especialmente naqueles que habitam a cidade.
124
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Um segundo instrumento de análise do questionário são os mapas mentais.


Observou-se que nem todos os estudantes esboçaram a experiência através da referida
ferramenta de pesquisa, cerca de 56% dos participantes elaboraram o exercício (Figura
33). Os mapas mentais elaborados podem ser agrupados em dois grupos: os que fizeram
em forma de mapa cartográfico e as imagens de elementos da arquitetura que foram
visitados no passeio. Nos mapas foram feitos esquemas com a Praça dos Leões, Palácio
da Luz, Igreja do Rosário, Praça do Ferreira e Museu do Ceará. Quanto aos ícones
arquitetônicos foram desenhados: pingadores do Museu do Ceará, ladrilho do piso do
Palácio da Luz, esquadrias do L'escale e um croqui esquemático do Edifício Sulamérica
(Figuras 34 e 35).

Figuras 33 e 34 – Gráficos que abordam os mapas mentais elaborados. Fonte: Autora (2020).
125
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Figura 35 - Mapas mentais do primeiro momento do percurso da professora Jacqueline Oliveira Fonte:
Autora (2018).

O segundo questionário foi aplicado no mês de outubro, um mês após a


caminhada. Alguns alunos que não enviaram pela professora o documento preenchido
fisicamente foram abordados pela pesquisadora por um questionário via Google e
encaminhado por whatsapp. Salienta-se que cerca de 50% dos questionários recebidos
nessa fase (total de 14 documentos) tratavam de participantes que não haviam respondido
ao primeiro questionário, o que inviabilizou a compilação e análise desses dados (Figura
36). Dessa forma, eles não foram incorporados no estudo, mas colocados nos apêndices
da tese (APÊNDICE D).
126
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Figura 36 - Gráfico com a adesão ao 2° Questionário. Fonte: Autora (2020).

Após a análise do documento, tem-se a extração das seguintes informações:


as praças foram os lugares mais significativos da memória (especialmente as praças José
de Alencar, Ferreira, Leões e Passeio Público). Nesse viés, é importante salientar que
outras áreas foram identificadas como espaços representativos que estão além das áreas
caminhadas na experiência proporcionada pela professora Jacqueline, indicando um
conhecimento prévio do lugar, tais como as Praças José de Alencar e Passeio Público
(Figura 37).

Figura 37 - Gráfico que traz os lugares do Centro de Fortaleza-CE presentes na memória dos participantes.
Fonte: Autora (2020).
127
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Na questão sobre as lembranças que eles possuem do bairro, quase todos


compartilharam vivências relacionadas à infância, principalmente a períodos mais
específicos como o Natal e a Feira dos Livros da Praça dos Leões. Na última pergunta
sobre “O que mudou para você em relação à história de Fortaleza após a caminhada? ”,
as respostas foram unânimes sobre o conhecimento adquirido acerca do patrimônio da
cidade:
 “Me fez querer visitar mais vezes o centro e conhecer mais a história";
 “Mudou em vários aspectos. Quando você conhece a história, fica mais
fácil compreender como foi o desenvolvimento social, econômico daquele
lugar”;
 " A importância histórica e arquitetônica de edifícios que eu nem sequer
conhecia”;
 "Sempre achei o Centro um local importante e enriquecedor e, após a
visita esse sentimento se intensificou em mim";
 “Passei a dar mais valor ao bairro e chamar mais pessoas para habitar o
bairro”;
 “Me fez perceber detalhes que passavam despercebidos no dia a dia, como
a história de prédios clássicos, curiosidades sobre o mesmo e a importância
para a comunidade antigamente e nos dias atuais”.

Quanto aos mapas mentais do segundo questionário, poucos alunos


elaboraram desenhos que expressavam suas memórias em relação ao Centro (apenas 3).
Ressalta-se que, aos alunos que responderam pela modalidade online, não foi requisitado
que expressassem a cartografia mental (Figura 38). Observou-se que nos desenhos houve
destaque para as praças que foram percorridas na vivência e um dos estudantes fez um
croqui com o Edifício Excelsior estilizado com um adorno de presente natalino, o que faz
alusão à importância do bem durante o período natalino (Figura 39). Os mapas feitos
podem ser divididos novamente em dois grupos: os que remeteram a uma espécie de
cartografia do percurso e a representação de alguns ícones do passeio (Figura 40).
128
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Figuras 38 e 39 – Gráficos que abordam os mapas mentais elaborados. Fonte: Autora (2020).

Figura 40 - Mapas mentais do segundo momento. Fonte: Autora (2018).

Um dos pontos que merecem destaque na análise da apreensão dos


participantes é que foi notável a mudança da visão em relação ao Centro, à medida que
estudam sobre o lugar no Curso de Arquitetura e Urbanismo. Os alunos de semestres mais
iniciais não haviam participado de vivências como a da aula da professora Jacqueline e
129
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

suas respostas foram mais centradas nos ensinamentos que esta concedeu. Eles também
possuíam menos narrativas com o bairro em relação aos alunos veteranos. Isso independia
da idade dos estudantes, estando mais vinculado ao amadurecimento e vivências
proporcionadas pela formação como arquitetos e urbanistas. Isso contribui para
corroborar com a hipótese do estudo de que ao reconhecer, estudar e experimentar a
importância do tecido histórico, afetos e memórias passam a ser construídos no
imaginário das pessoas (Etapa 07).
Um dos últimos aspectos que são ressaltados na análise da experiência
proporcionada pela professora, é a análise do tipo de roteiro cultural aplicado. Entende-
se que a vivência se caracteriza como um roteiro mais informativo do que narrativo.
Incluiu nessa tipologia por perceber que não houve muita oportunidade para os alunos
terem autonomia para compartilhar momentos e saírem do roteiro pré-estabelecido. A
liberdade de decisões, de informações a serem ditas, era controlada e administrada pela
professora. Esses atributos também correspondem ao roteiro do tipo mindless. Entretanto,
há aspectos do roteiro tipo mindful, seja pela particularidade de ser uma aula de campo
(houve um aprendizado acerca dos diversos conhecimentos passados pela docente), seja
pelas novas situações para os alunos que foram relatadas nos questionários (Quadro 8).

TIPO DE ABORDAGEM INFORMATIVA

Perfil do guia Professora (curso de arquitetura e urbanismo)

Perfil do público Estudante


Quantidade de participantes 40

Duração do percurso 1h30


Trajetória Praça dos Leões – Praça do Ferreira – Museu do Ceará

Material utilizado -

Enfoque em relação ao patrimônio Apresentação da arquitetura dos edifícios históricos


Quadro 8 - Análise do Roteiro das Disciplinas de História da Arte e da Arquitetura.

Do exposto, denota-se que foi bastante positiva a aula de campo sobre


arquitetura no Centro de Fortaleza. Os alunos propuseram algumas sugestões no sentido
de que houvesse uma maior duração do percurso e qualidade de apreensão das
130
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

informações. Podem ser listadas como proposições: horário mais cedo, mais atividades
semelhantes, utilização de microfone, grupos menores e a inclusão de mais bens.
Acredita-se que esses pontos são bastante pertinentes e que devem ser considerados para
a composição de uma metodologia de percurso orientado com enfoque na educação
patrimonial.

4.2 ROTEIRO FREE WALKING TOUR FORTALEZA

A caminhada cultural aconteceu no dia 13 de novembro de 2018. Ela foi


realizada pelos arquitetos Larissa Muniz e José Otávio, responsáveis pelo grupo Free
Walking Tour Fortaleza, que se constitui em um movimento internacional cujo enfoque é
proporcionar o conhecimento da história do lugar a partir de percursos a pé. O evento
acompanhado na presente pesquisa fazia parte de uma das atividades oferecidas pelo 3o
Encontro de Urbanismo Colaborativo, organizado pelo Instituto de Urbanismo
Colaborativo – COURB.
Segundo a programação, o início aconteceria às 10h no Passeio Público. Os
participantes foram paulatinamente comparecendo e se aglutinando próximo à fonte da
entrada principal (Figura 41). O grupo é abordado por algumas pessoas em situação de
rua, fato que se repetiria algumas vezes ao longo do trajeto. Por volta de 10h20, os guias
resolveram iniciar as atividades. Havia cerca de 30 pessoas. Os responsáveis
apresentaram a proposta de percurso e a duração da atividade (1h30 a 2 h). A pesquisadora
observou o mapa apresentado e pela sua experiência percebeu que, diante da extensão e
quantidade de pontos que seriam visitados, o prazo da vivência sofreria alterações,
demandando pelo menos o dobro de tempo estimado. Larissa e José Otávio solicitaram
que cada pessoa se apresentasse, informando o nome, profissão e lugar de origem. Nesse
momento, a pesquisadora se apresentou e convidou a todos para participarem da pesquisa
ao final da experiência (Figura 42).
131
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Figura 41 - Grupo esperando para iniciar a caminhada. Fonte: Autora (2018).

Figura 42 - Grupo forma uma roda de apresentação. Fonte: Autora (2018).


132
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

A turma era bastante diversificada: havia pessoas provenientes de cidades do


Ceará - Crato, Fortaleza e Juazeiro; do Rio Grande do Sul – Nova Friburgo e São
Leopoldo; Brasília; Sergipe – Aracaju; e Paraná – Curitiba. Eram estudantes ou
profissionais das áreas de Arquitetura e Urbanismo, Artes Visuais, Ciências Sociais,
Fotografia e Turismo. Os guias pediram que cada um fosse responsável pelo colega da
direita, afirmando que estariam com um guarda-chuva amarelo, para se destacar e evitar
que as pessoas se perdessem ao longo do percurso. Em seguida, informaram que iriam
abordar a história do Passeio Público ao final da experiência e iniciaram a caminhada,
descendo a Rua Doutor João Moreira em direção à Fortaleza de Nossa Senhora da
Assunção (Figura 43).

Figura 43 - Início do percurso. Fonte: Autora (2018).

O dia estava bastante claro e com a sensação térmica quente. No caminho, os


guias fizeram uma parada para mostrar o tratamento diferenciado da pintura mural do
Forte - José Otávio informou que o detalhe cromático era uma estratégia do restauro para
mostrar as sucessivas ampliações que a edificação teve ao longo de sua história (Figura
44).
133
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Figura 44 - Grupo realiza uma parada para analisar a pintura dos muros da Fortaleza de Nossa Senhora da
Assunção.

O grupo seguiu até as cercanias da Fortaleza e, ao chegar ao equipamento, os


responsáveis pela atividade iniciaram a explanação, contextualizando sobre a história dos
vários fortes que existiram na cidade e o processo de formação urbana de Fortaleza
(Figura 45). Houve um questionamento sobre a idade da edificação, mas os guias se
confundiram e responderam a idade da cidade. Recomendaram então a leitura de Iracema,
do escritor cearense José de Alencar. Eles indagaram se havia algum questionamento e a
resposta foi negativa. Então continuaram a explicar a conjuntura dos principais
equipamentos que são destaques na paisagem: Mercado Central (apresentando a história
dos demais mercados que o antecederam, bem como a relação conflituosa com o Riacho
Pajeú) e a Catedral de Fortaleza (Figuras 46 e 47). Em seguida, convidaram a retomar a
caminhada em direção à Praça Pedro II, localizada na quadra adjacente.
134
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Figura 45 - Explanação sobre a importância histórica do lugar. Fonte: Autora (2018).

Figura 46 - Vista do entorno da Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção com a Catedral de Fortaleza ao
fundo. Fonte: Autora (2018).
135
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Figura 47- Apreensão do entorno do Mercado Central. Fonte: Autora (2018).

Percorrendo o perímetro da praça, José Otávio e Larissa chamaram a atenção


para a fonte, pois a mesma estava funcionando, algo inédito para eles e para muitos dos
participantes moradores da capital cearense. Os guias procuram um lugar sombreado para
tecer explicações sobre a história do espaço. A praça havia passado recentemente por uma
reforma, recebendo novas cores, que mais lembrava uma quadra esportiva. Essa ação faz
parte do projeto Novo Centro, que inclui reformas em diversos espaços públicos da área
central, objetivando requalificar o lugar (Figura 48). Entretanto, essa requalificação é
essencialmente estética, não contribuindo para a resolução de problemas mais
substanciais do bairro como, por exemplo, o esvaziamento de imóveis, o aumento da
população em situação de rua, a proteção contra a insolação, a segurança dos pedestres,
o comércio informal excessivo que se torna uma barreira para o caminhar etc.
136
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Figura 48 – Grupo se encaminha para a Praça Dom Pedro II. Fonte: Autora (2018).

Os guias aproveitaram a vista à Praça para explicar a história da Catedral


(Figura 49) e depois convidaram o grupo a atravessar a Avenida Alberto Nepomuceno
em direção à Igreja. Ao chegarem ao edifício religioso, chamaram atenção para as torres
e que era possível subir por elas, proporcionando uma bela vista panorâmica da cidade
(Figura 50). Uma das pessoas perguntou a idade da Catedral e se surpreendeu por ser
relativamente jovem, apesar da feição neogótica (inaugurada em 1978). Nesse momento,
José Otávio contou que foi informado por uma professora de história durante a Faculdade
de Arquitetura de Urbanismo que a edificação era uma cópia de igrejas europeias38. Um
senhor se aproximou oferecendo terços ao grupo. Os guias pediram que as pessoas
seguissem para a lateral da Catedral, para que pudessem apreciar os vitrais existentes na
fachada (Figuras 51 e 52).

38
A Catedral de Fortaleza atual é a terceira igreja erigida no lugar. A primeira versão é de 1795. Justificaram
sua demolição por razões de integridade cerca de 30 anos depois. No ano de 1854 construíram um novo
edifício religioso, a Igreja de São José. Esta foi igualmente demolida sob alegações de problemas
estruturais, apesar dos protestos e contestações de parte dos fortalezenses. A Sé de Fortaleza teve sua
construção iniciada nos anos 1940, tendo suas obras concluídas em 1978. Ela possui dimensões
desproporcionais para o lote em que está inserida. Quanto às suas feições arquitetônicas, representa uma
tentativa de composição formal ao neogótico tardio (GOES, 2015).
137
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Figura 49 - Grupo observa os detalhes Figura 50 - Guia explicando sobre a importância histórica da
da Catedral. Fonte: Autora (2018). Catedral. Fonte: Autora (2018).

Figura 51 - Participantes vão para a lateral da Catedral para observar os vitrais da edificação. Fonte: Autora
(2018).
138
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Figura 52 - Vitrais da Catedral de Fortaleza. Fonte: Autora (2018).

Ao percorrer a lateral da Catedral, os guias chamaram a atenção para outra


edificação importante da capital cearense, o Palácio do Bispo (Figura 53). Eles
apresentaram a contextualização histórica da atual sede do poder municipal. Além disso,
mencionaram a recente intervenção que proporcionou a construção de um largo,
conectando fisicamente os dois monumentos, e ainda mostraram onde se localizava o
chamado “Buraco da Gia”, uma referência no comércio de vestuário popular de Fortaleza
e um dos principais pontos da Feira da Sé (evento que ocorre nas madrugadas das quartas-
feiras e domingos). Posteriormente, os guias solicitaram que os participantes ficassem
mais próximos e atravessassem novamente a Avenida Conde D’Eu (continuação da
Alberto Nepomuceno), para que retomassem à programação da caminhada.
A travessia não foi tão complicada, apesar do excesso de fluxo de veículos
por conta das intervenções urbanísticas da área, que proporcionaram algumas faixas de
pedestres elevadas.
139
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Figura 53 - Entorno da Catedral, com o Palácio do Bispo (sede da Prefeitura Municipal) ao fundo. Fonte:
Autora (2018).

Os participantes seguem pela Travessa do Crato. Os turistas ficaram


encantados com a diversidade de produtos no local (Figura 54). Além da qualidade de
fachadas ativas desse trecho, este é bastante protegido contra a insolação (por conta da
arborização) e contra os automóveis (é uma via exclusiva para pedestres), pontos que
tornaram a caminhada bastante agradável. Os guias apresentaram os produtos que podiam
ser encontrados no logradouro e deram destaque a um comércio bastante conhecido na
cidade, o Raimundo do Queijo. O grupo retomou o percurso com destino à Praça
Waldemar Falcão e, na saída da Travessa, havia alguns trabalhadores pintando-a com as
mesmas cores da Praça Pedro II (Figura 55).
140
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Figura 54 - Apresentação do entorno da Travessa do Crato e foco para o Raimundo dos Queijos. Fonte:
Autora (2018).

Figura 55 - Trabalhadores pintando a Travessa do Crato.


141
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Ao chegarem à Praça, os partícipes se reúnem próximo a sede dos Correios e


José Otávio inicia a explanação acerca da importância histórica da região (Figura 56).
Inicialmente, ele apresentou os relatos sobre a Praça, que nos seus primórdios era
conhecida por Praça Carolina e era marcada pela presença do Mercado da Carne. Em
seguida, teceu considerações sobre os principais bens patrimoniais do entorno: Edifício
dos Correios, Banco do Brasil, Palácio do Comércio e a sede do Centro Cultural Banco
do Nordeste, antigo Mercado Central. Em seguida, mostrou algumas barraquinhas que
vendiam abacaxi no palito e os turistas ficaram encantados, esboçando reações de que
gostariam de morar no Nordeste. Posteriormente, ele convidou a todos para irem ao
Centro Cultural Banco do Nordeste (CCBN).

Figura 56 - Guia explicando sobre a história da Praça Carolina e dos edifícios do entorno. Fonte: Autora
(2018).

Logo na entrada do CCBN havia exposto um mural com uma linha do tempo
da história de Fortaleza, fotos históricas e um mapa da área central, atraindo a curiosidade
dos visitantes e questionamentos sobre qual traçado já havia sido percorrido e onde estava
o Riacho Pajeú (Figuras 57 e 58). Um dos participantes contou acerca da importância
histórica do corpo hídrico e da sua relação com a cidade, que nos primórdios se
configurava como uma barreira para expansão ao leste.
142
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Figura 57- Participantes vão para o Centro Cultural Banco do Nordeste e analisam a linha do tempo da
cidade. Fonte: Autora (2018).

Figura 58 - Guias mostram por onde o grupo já passou. Fonte: Autora (2018).

Os guias chamaram os participantes para conhecer o espaço interno do


CCBN, apresentando soluções de conforto existentes no bem (pé-direito elevado, brises-
soleils, ventilação cruzada) e de intervenções artísticas em elementos tradicionais (ar-
condicionado) (Figuras 59 e 60). Perguntaram se o bem seria tombado e os guias
143
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

responderam que era protegido pelo Estado. Entretanto, ressalta-se que essa informação
é incorreta. Apesar da importância do imóvel, ele não se encontra salvaguardado em
nenhuma das esferas.

Figura 59 - Discussão sobre a solução arquitetônica do conjunto. Fonte: Autora (2018).

Figura 60 - Intervenções artísticas nas caixas de ar condicionado. Fonte: Autora (2018).

Por fim, sugeriram que os visitantes pudessem conhecer com mais calma as
exposições do centro cultural e todos partiram em direção à Praça dos Leões (Figura 61).
144
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

É interessante pontuar que a edificação possui duas entradas em ruas distintas: General
Bezerril e Conde D’Eu. Dessa forma, a caminhada se torna mais envolvente, pois traz
surpresas para os participantes devido aos novos caminhos e possibilidades que surgem.

Figura 61 - Grupo se encaminhando para Praça dos Leões. Fonte: Autora (2018).

A continuação do percurso se deu pelas calçadas que margeiam a Avenida


Conde D’Eu. O grupo então avistou um dos elementos mais característicos da Praça
General Tibúrcio, a escadaria imponente com uma marcante balaustrada e encimada por
esculturas de leões, tornando a praça popularmente conhecida como Praça dos Leões
(Figura 62). Larissa e José Otávio sugeriram que todos tirassem uma foto na escada e que
marcassem a imagem no Instagram do Free Walking Tour Fortaleza. Então eles
solicitaram que todos caminhassem pela Rua São Paulo para apreender sobre a arquitetura
do Museu do Ceará. A calçada tem uma precária condição de caminhabilidade, pois é
bastante estreita e com mobiliários que se configuram como obstáculos para os
145
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

transeuntes (Figuras 63 e 64). Além disso, não possui uma fachada ativa, já que é limitada
pela muralha da Praça dos Leões.

Figura 62 - Pausa no trajeto para avaliar a escadaria da Praça. Fonte: Autora (2018).

Figuras 63 e 64 - Grupo percorrendo a calçada estreita que margeia a Praça dos Leões e a situação do
Passeio no entorno da Praça. Fonte: Autora (2018).
146
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Ao alcançar o Museu do Ceará, os guias pediram que os participantes


atravessassem a Rua São Paulo, para que pudessem melhor visualizar o equipamento
cultural. Contaram que a antiga Praça Carolina, atual Praça Waldemar Falcão, tinha seus
limites encerrados ali e que com a retirada do Mercado da Carne, ao longo do século XX,
foram inseridas as demais edificações atualmente localizadas na Praça, se constituindo
uma barreira para que haja uma leitura completa do ambiente. Em seguida, os guias
explanaram acerca da exposição existente no Museu de aproximadamente 13 mil peças
sobre a história cearense, dando destaque ao Bode Ioiô39, personagem célebre da
Fortaleza do início do século XX e atual mascote dos passeios promovidos pelo BNB,
através do turismólogo Gerson Linhares (Figura 65).
Posteriormente, os participantes retornaram à Praça dos Leões para que
pudessem conhecer os detalhes do espaço. A arquiteta Larissa Muniz narrou a história
sobre as estátuas de leões, que já foram motivos de piadas por estarem trocadas as partes
íntimas dos leões e das leoas (Figura 66). Ao caminharem ao longo da praça, os guias
mostraram o desenho em pedra portuguesa, simbolizando o percurso do trilho dos bondes
do início do século anterior. Eles chamaram a atenção à arborização da praça e
mencionaram os eventos que ali ocorriam, tais como a Feira do Livro (no começo de
todos os anos) e a Festa Lions (ocorrida no Lions Bar sediado na Praça). Ao longo da
caminhada, os visitantes esboçavam comentários como: “Ai aqui é uma delícia”, “Aqui
me lembra o Urban Sketchers, que a gente participou” (Figura 67). Essas manifestações

39
O animal histórico da cultura fortalezense foi trazido à cidade por um retirante da seca de 1915 e vendido
à empresa Rosbach Company. Ele foi um andarilho e boêmio na Fortaleza do início do século XX, muito
popular e querido pelos cidadãos daquela época, durante um período em que se discutia e controlava o
asseio e aformoseamento urbano. Tinha trânsito livre em qualquer ponto da cidade. Foi eleito vereador em
1922 e após sua morte em 1931, foi empalhado e doado para fazer parte do acervo do Museu do Ceará
(PONTE, 2010). Passados quase 90 anos do seu falecimento, o bode segue sendo uma figura popular da
cultura cidade e já foi tema de livros, poesias e até de enredo de desfile da Escola de Samba do Rio de
Janeiro (Paraíso do Tuiuti – “O Salvador da Pátria”) em 2019.
147
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

reforçaram a qualidade da ambiência do espaço, que o torna um dos pontos principais de


caminhadas culturais.

Figura 65 - Explicação sobre o Museu do Ceará. Fonte: Autora (2018).

Figura 66 - Guias contextualizando sobre a história da Praça e suas curiosidades. Fonte: Autora (2018).
148
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Figura 67- Grupo percorrendo a Praça dos Leões. Fonte: Autora (2018).

Os guias conduziram o grupo até à estátua do General Tibúrcio, informando


que foi a primeira da cidade. Logo após, eles mostraram uma outra imagem que
caracteriza o lugar, a estátua de Rachel de Queiroz (Figura 68). Os guias aproveitaram
para mencionar a história da escritora e de algumas de suas obras, em destaque, O Quinze,
que trata sobre o contexto das secas no Ceará. Em seguida, eles mostraram a sede da
Academia Cearense de Letras, o Palácio da Luz. Teceram comentários acerca das
transformações que aconteceram na edificação, especialmente sobre a redução das
dimensões e a perda dos famosos jardins do Palácio para a abertura da Rua Guilherme
Rocha. Em seguida, apontaram a Igreja do Rosário, evidenciando o momento em que se
tornou a Sé de Fortaleza. Narraram alguns dados sobre a edificação: desde a construção
feita por escravos e inaugurada em 1730, uma das mais antigas da cidade, passando pelo
momento em que foi parcialmente destruída por um ataque a bala de canhão na Igreja do
Rosário e no Palácio e encerraram falando sobre o processo de restauro nos anos de 1990,
149
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

em que encontraram ossadas dentro das campas. Após o momento, o grupo se


encaminhou para a Praça do Ferreira (Figura 69).

Figura 68 - Grupo observa a estátua da Rachel de Queiroz. Fonte: Autora (2018).

Figura 69 - Grupo segue para a Praça do Ferreira. Fonte: Autora (2018).


150
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Ao chegarem à Praça do Ferreira (Figura 70), os guias apresentaram a história


do local, um dos principais palcos de acontecimentos de Fortaleza. Destacaram a última
grande intervenção realizada em 1991, projetada pelos arquitetos e urbanistas Fausto Nilo
e Delberg Ponce de Leon. Ao falar dessa proposta, fizeram um contraponto sobre como
era o desenho anterior, proveniente do período da Ditadura Militar (1964-1985). A
configuração antiga não permitia aglomeração de pessoas, pois havia algumas barreiras
formadas pelo mobiliário e pelo desenho da praça. Na conformação contemporânea
retomaram a Coluna da Hora, uma releitura da Coluna da Hora dos anos 1930, mas
retirada no desenho da década de 1960 (Figura 71), a cacimba (elemento de abastecimento
de água existente desde os primórdios da Praça e encoberto no início do século XX) e as
bancas de revistas (uma alusão aos antigos cafés da Praça). Também apresentaram a
Árvore de Natal de 2018, que faz parte do chamado Natal de Luz de Fortaleza (com início
na semana seguinte – 23 de novembro) e a apresentação das crianças durante as noites de
novembro a dezembro no Hotel Excelsior (Figura 72). Nesse momento os visitantes
esboçaram reações: “Oh como deve ser linda”, “Nossa...”.

Figura 70 - Participantes chegam à Praça do Ferreira. Fonte: Autora (2018).


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PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Figura 71 - Praça do Ferreira. Fonte: Autora (2018).

Figura 72 - Guias contam sobre a importância histórica do lugar. Fonte: Autora (2018).
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PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Os guias apontaram para outra edificação de relevância no entorno da Praça,


o Cine Teatro São Luiz (Figura 73), palco de algumas amostras, festivais, com filmes
gratuitos e eventos a preço popular. A partir dessa informação, os visitantes ficaram
surpresos quanto ao preço e gratuidade e comentam: “De graça? Nossa!”. Larissa e José
Otávio informaram que a SECULT, localizada na edificação, é a responsável pela
preservação e programação. Os guias reiteraram que os participantes conhecessem o bem:
“Gente, vale muito a pena olhar o Cine São Luiz”. Em seguida, todos caminharam em
direção à Coluna da Hora e houve outra pausa para uma foto coletiva.

Figura 73 – Cine Teatro São Luiz. Fonte: Autora (2018).


153
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

José Otávio contou sobre uma das personalidades da Praça do Ferreira, o


falecido Poeta Mário Gomes, figura marcante na região, considerado um andarilho na
cidade. Nesse momento, José Otávio mostrou a obra, “O livro das Horas da Praça do
Ferreira”, dos autores Jarbas Oliveira e José Mapurunga, com fotos de Mário (Figura 74).

Figura 74 - Guia José Otávio conta sobre algumas personalidades que fizeram parte da história da Praça do
Ferreira. Fonte: Autora (2018).

Nesse momento, uma escultura de vaca localizada na Praça, atraiu o olhar do


grupo e todos se aproximaram para compreender a arte (Figura 75). A escultura fazia
parte da Exposição Cowparade Fortaleza, em que diversos lugares da cidade receberam
ícones em forma de vaca de diferentes artes. A da Praça do Ferreira tinha como motivo
as expressões idiomáticas do estado. Então, os guias ensinaram aos visitantes a famosa
vaia cearense e todos começaram a vaiar. O arquiteto José Otávio narrou uma ocasião em
que houve uma grande vaia ao Sol, durante a Seca de 1942. Houve dois dias nublados e
quando o Sol apareceu no terceiro dia, os fortalezenses o vaiaram na Praça. Segundo o
154
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

guia, os moradores da cidade adoram os dias nublados, com dizeres do tipo: “Tá bonito
para chover” (sic).

Figura 75 - Escultura representando a cultura de Fortaleza pertencente à Exposição Cowparade Fortaleza.


Fonte: Autora (2018).

Próximo ao meio dia, uma turma de outra vivência do COURB no Centro se


encontrou com o grupo do Free Walking, quando houve uma rápida troca de informações
e os guias retomaram as explicações, apresentando a Farmácia Oswaldo Cruz, o
Observatório de Fortaleza do IPLANFOR e o Pastel Leão do Sul (“Pastel com caldo de
cana mais tradicional de Fortaleza”). Algumas pessoas entraram na Farmácia para
conhecer. Após isso, o grupo retomou o percurso em direção à Rua Guilherme Rocha.
Quando todos se reuniram na rua, José Otávio informou que esta foi a
primeira rua pedonal do bairro. Ele solicitou que todos caminhassem juntos e não se
dispersassem na Praça José de Alencar (Figura 76), pois havia um intenso movimento de
ambulantes por conta da Feira às quartas-feiras. Larissa aproveitou a pausa para mostrar
155
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

o acesso ao Hotel Excelsior. No trajeto pela Rua Guilherme Rocha, foram observadas as
obras da Ação Novo Centro (mudança de paginação e travessia em nível). Além disso,
todas as árvores que concediam sombra ao passeio, foram retiradas, bem como os
ambulantes que se localizavam na porção central da via. A combinação da poeira e
entulho da construção mais a forte insolação, tornaram a caminhabilidade do trecho
bastante ruim (Figura 77).

Figura 76 - Guia solicitou que o grupo ficasse mais próximo e evitasse a dispersão ao longo da caminhada
para o próximo ponto. Fonte: Autora (2018).
156
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Figura 77 - Grupo caminhando pela Rua Guilherme Rocha. Fonte: Autora (2018).

O andar pela Praça José de Alencar não era possível, pois havia uma elevada
concentração de barracas e tendas de comércio informal. Dessa forma, o grupo precisou
ir para o leito da via, se arriscando, pois estavam dividindo o espaço com motos, carros e
ônibus; alguns outros participantes tentaram caminhar pela Praça, por entre as tendas,
mas se perderam dos guias por alguns instantes (Figuras 78 e 79). O grupo conseguiu se
reunir nas proximidades do Theatro José de Alencar. Portanto, esse trecho foi outro ponto
em que os conflitos de caminhabilidade foram elevados, tornando a caminhada
desagradável e acarretando em dispersão da turma.
157
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Figura 78 - Grupo chega à Praça José de Alencar. Fonte: Autora (2018).

Figura 79 - Situação precária de caminhabilidade na Praça José de Alencar, onde os participantes andam
na rua por conta do espaço público estar densamente ocupado por feirantes.
158
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Larissa e José convidaram os participantes a conhecerem o Theatro José de


Alencar. Os guias contaram a história do Teatro, além de concederem informações sobre
visitas guiadas ao equipamento. Infelizmente, na data do percurso, não foi possível
agendar a visitação, mas os seguranças permitiram que o grupo fosse até os jardins
projetados pelo paisagista Roberto Burle Marx (Figuras 80 e 81).

Figura 80- Grupo chega ao Theatro José de Alencar. Fonte: Autora (2018).

Figura 81 - Participantes percorrem os jardins do Teatro. Fonte: Autora (2018).


159
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Os guias apresentaram os jardins, estabelecendo um contraponto entre os dois


projetos do paisagista (1975 e 1991), apresentando o que foi modificado e o que
permaneceu da primeira proposta (jardim vertical - cascata de Tumbérgia e aos Oitis). Os
participantes observaram que há uma outra vaca da exposição, desta vez com outros
padrões de arte. Antes de sair do Teatro, os guias solicitaram que todos se mantivessem
próximos e revelaram que iriam alterar um pouco do percurso por conta da Feira. Dois
homens abordaram novamente os participantes pedindo ajuda financeira, levando os
guias a apressarem a saída.
Enquanto o grupo atravessava a Praça José de Alencar, os guias tentaram
continuar a narrativa sobre alguns bens: Igreja do Patrocínio, Antiga Escola Normal (Sede
do IPHAN-CE) e estátua de José de Alencar. Entretanto, tornou-se bem complicado
disputar a atenção e concentração diante de tantos estímulos visuais e sonoros, além das
barreiras físicas do lugar. Nesse momento, o que mais se ouvia eram os apelos dos
responsáveis: “ficar juntos” (sic) e dos anúncios emitidos em várias das barracas: “ei,
olha, o almoço mais 5 reais com refrigerante” (sic) (Figura 82).

Figura 82 - Grupo atravessa a Praça José de Alencar. Fonte: Autora (2018).


160
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Todos seguiram em direção à Praça da Estação e os guias, percebendo o


cansaço dos participantes, exprimiram os dizeres: “Está quase acabando viu gente?” e
“Este é o verdadeiro Centro de Fortaleza”. A caminhabilidade tanto da Praça José de
Alencar quanto do seu entorno ao longo da Rua General Sampaio correspondeu aos piores
trechos do passeio. Havia uma concentração maior de pessoas, ambulantes, caminhões e
ônibus, combinada a passeios estreitos, danificados, com poluição sonora e visual. O
pedestre se via forçado a caminhar na rua, por entre os veículos e as barracas (Figuras 83
e 84).

Figura 83 - Caminhantes seguem pela Rua General Sampaio em meio aos veículos e barracas dos
ambulantes. Fonte: Autora (2018).
161
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Figura 84 - O caminhar nas calçadas do Centro de Fortaleza - a disputa com comércio ambulante. Fonte:
Autora (2018).

O grupo alcançou a Praça da Estação (Figuras 85 e 86). No lugar, eles


destacaram o principal monumento da área, a Estação João Felipe (Figura 87).
Aproveitaram para contextualizar a importância do lugar desde os primórdios, quando a
região era conhecida por Morro do Croatá, passando pelo momento em que havia o
Cemitério São Casimiro e culminando na construção da Estação. Antes de partir da Praça
da Estação, eles apresentaram os galpões da antiga Rede Ferroviária Federal S.A –
RFFSA e apontaram o próximo ponto, o Centro de Turismo do Ceará - EMCETUR
(Figura 88).
162
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Figura 85 - Grupo se aproxima da Estação João Felipe. Fonte: Autora (2018)

Figura 86 - Praça da Estação. Fonte: Autora (2018).


163
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Figura 87 - Estação João Felipe. Fonte: Autora (2018).

Figura 88 - EMCETUR. Fonte: Autora (2018).

Na EMCETUR, os guias narraram a história do lugar (Figura 89), quando o


grupo foi novamente abordado por outra pessoa em situação de rua. Em seguida,
retomaram aos fatos do passado e convidaram os participantes a caminhar pelo
equipamento em direção a um outro acesso (pela Rua Senador Jaguaribe), para
apreciarem a paisagem. Eles apontaram alguns marcos do lugar, tais como o Edifício
164
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Panorama Arte, o Hotel Marina Park e o Navio encalhado Mara Hope (Figura 90). Por
último, chamaram a atenção para o Arraial Moura Brasil e o Pirambu, dois tradicionais
bairros populares da cidade, e sua vinculação com os chamados “campos de
concentração” na história de Fortaleza. Encerrada a explanação o grupo seguiu para o
último e primeiro ponto da vivência, o Passeio Público (Figuras 91 e 92).

Figura 89 - Guias explicam sobre a importância histórica da Antiga Cadeia Pública. Fonte: Autora (2018).

Figura 90 - Guias apresentam a frente marítima da área histórica de Fortaleza e algumas comunidades
tradicionais do entorno. Fonte: Autora (2018).
165
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Figura 91 - Participantes caminham para o último ponto - Passeio Público. Fonte: Autora (2018).

Figura 92 - Grupo se aproximando do Passeio Público. Fonte: Autora (2018).


166
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Os participantes chegaram ao Passeio por volta das 13h, quando os guias


fizeram uma parada próximo aos portões de acesso para que todos pudessem apreender a
arquitetura da Santa Casa de Misericórdia e iniciar a história do jardim (Figura 93). Eles
remontaram ao passado do lugar, destacando os elementos escultórios existentes. Por
último, convidaram todos a retornarem ao ponto inicial da caminhada, e apresentaram
outros elementos de relevância patrimonial: a árvore mais célebre do Passeio, o Baobá; o
Museu da Indústria (localizado no entorno do Passeio Público) e o Café Passeio
(restaurante inserido no espaço público). Antes de concluir a programação, José Otávio e
Larissa informaram que aquela havia sido sua primeira experiência deles conduzindo
visitantes pelo Centro e que iriam dar continuidade ao projeto do Free Walking Tour
Fortaleza. Os guias comunicaram que a vivência é gratuita, mas que os participantes
poderiam contribuir financeiramente voluntariamente. A experiência foi encerrada às
13h20 (Figura 94). Nesse momento, a pesquisadora convidou os participantes a
responderem aos questionários e participarem da pesquisa (Figura 95).

Figura 93 - Guias contextualizando a importância histórica do Passeio Público. Fonte: Autora (2018).
167
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Figura 94 - Encerramento da vivência. Fonte: Autora (2018).

Figura 95 - Participantes respondendo o questionário da pesquisa. Fonte: Autora (2018).


168
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

4.2.1 Análise do roteiro

Seguindo a metodologia de análise dos roteiros estruturados na tese, retoma-


se novamente o Quadro 1, onde serão empregadas as etapas de 2 a 6 para o estudo do
Roteiro proposto pela equipe do Free Walking Tour Fortaleza. Assim como na avaliação
do percurso orientado pela professora Jacqueline Oliveira, os passos 1 e 7 serão
desconsiderados nesse momento por duas razões: o primeiro foi empregado para a
identificação dos guias e de quais seriam analisados como estudo de caso; e o sétimo faz
parte do último capítulo da tese, portanto será discutido em um momento posterior.
ETAPA DESCRIÇÃO OBJETIVO

01 Mapear os grupos de guias e professores dos cursos Identificar os agentes dos percursos
de Arquitetura e Urbanismo, Geografia, História, culturais e selecionar quais serão os
Turismo e Psicologia Ambiental. acompanhados pela pesquisa.
02 Identificar as principais rotas traçadas e inferir sobre Apreender metodologicamente
quais motivos que justificam o delineio desses sobre os percursos que acontecem
percursos, quais os métodos utilizados nas na área de estudo.
caminhadas, qual o público-alvo desses roteiros.
03 Captar se a forma urbana favorece a realização dos Compreender a caminhabilidade dos
percursos a pé. lugares por onde se desenvolvem os
roteiros.
04 Aplicar entrevista semiestruturada e mapas mentais. Captar a percepção dos participantes
quanto ao patrimônio cultural.
05 Sobrepor os mapas mentais realizados e as respostas Assimilar acerca da imagem
da entrevista que atestem predominâncias de intersubjetiva do grupo de
incidências de determinados elementos da área caminhantes e refletir sobre quais
estudada. bens e elementos do percurso foram
mais significativos para os
participantes.
06 Refletir sobre análise dos dados. Compreender se as atividades de
reconhecimento da cidade a partir
das caminhadas estão contribuindo
para a apreensão da área percorrida
como patrimônio cultural.

07 Proposição de um percurso cultural. Contribuir para a prática da


educação patrimonial através do
caminhar, vivenciar e dialogar sobre
os espaços patrimoniais de uma
cidade.
Quadro 1 - Quadro resumo com as etapas da tese. Fonte: Autora (2018).
169
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

O percurso foi orientado pelos arquitetos Larissa Muniz e José Otávio, ambos
arquitetos e responsáveis pelo Projeto Free Walking Tour Fortaleza. A atividade fez parte
de uma das oficinas oferecidas pelo COURB. O perfil dos participantes era composto por
pessoas entre 19 e 44 anos, metade estudantes e metade composta por profissionais
graduados. Participaram da pesquisa 40 cerca de 46% do grupo (Figura 96). A maioria dos
participantes que responderam o questionário não morava em Fortaleza, sendo
proveniente de Aracaju, Brasília, Crato, Juazeiro e São Leopoldo. Quase todos nunca
haviam vivenciado passeios guiados pelo bairro e apenas um relatou que não gostaria de
participar de mais caminhadas com o mesmo intuito em Fortaleza (Figuras 97 e 98). A
maior parte dos respondentes teve como motivação para participar da atividade conhecer
a história de Fortaleza (Figura 99).

Figuras 96, 97, 98 e 99 - Gráficos obtidos a partir das respostas dos questionários. Fonte: Autora (2020).

40
Ressalta-se que todos os questionários e os mapas mentais respondidos pelos participantes foram
colocados nos apêndices da tese.
170
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

O roteiro proposto pelos guias tinha como ponto inicial o Passeio Público
(mas sem adentrar a história do espaço, pois seria trabalhada ao final) e parada nos pontos:
Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção, Mercado Central, Praça Pedro II, Catedral de
Fortaleza, Travessa Crato, Praça dos Correios, Centro Cultural Banco do Nordeste, Praça
dos Leões, Praça do Ferreira, Rua Guilherme Rocha, Praça José de Alencar, Theatro José
de Alencar, Lord Hotel, IPHAN, Igreja do Patrocínio, Praça da Estação, EMCETUR e
encerramento no Passeio Público (Figura 100).

Figura 100 - Mapa da vivência elaborado pelos guias antes da atividade. Fonte: Larissa Muniz (2018).

O tempo estipulado era entre 1h30 - 2h. Observou-se que os arquitetos


construíram a proposta conectando as praças da área central, destacando elementos e
curiosidades relacionados à cultura de Fortaleza. Os guias não se preocuparam em
destacar detalhes pormenorizados da arquitetura dos imóveis de valor patrimonial, mas
171
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

exploraram fatos e narrativas históricas, informações gastronômicas e comerciais da


cidade. Constatou-se que foi uma decisão positiva, pois agregou uma riqueza de
informações e vivências aos participantes (Etapa 02).
Entretanto, a partir da descrição da caminhada cultural, foi mencionado que
aconteceram adaptações no trajeto, especialmente no trecho da Praça José de Alencar
devido à presença da Feira, que se tornou uma barreira para a circulação do grupo. Dessa
forma, o roteiro vivenciado consistiu em: início no Passeio Público, parada nos pontos da
Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção, Praça Pedro II, Catedral de Fortaleza, Travessa
Crato, Praça dos Correios, Centro Cultural Banco do Nordeste, Praça dos Leões, Praça
do Ferreira, Rua Guilherme Rocha, Praça José de Alencar, Theatro José de Alencar, Praça
da Estação, EMCETUR e encerramento no Passeio Público (Figura 101). A duração da
experiência foi de 3h.
172
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Figura 101 - Percurso caminhado pelos participantes do Free Walking Tour Fortaleza. Fonte: Autora
(2019).

Quanto ao aspecto da caminhabilidade do percurso, constatou-se que a


qualidade do caminhar foi variável ao longo do trajeto (Etapa 03). Devido à extensão do
percurso proposto, a apreensão da caminhabilidade do bairro teve bastante destaque. As
principais críticas mencionadas nos questionários estavam relacionadas à temática do
conforto ao caminhar: horário e duração do percurso, excesso de comércio ambulante
173
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

dificultando o fluxo dos caminhantes, poluição sonora em demasia e extensão da


caminhada.
O roteiro foi estruturado de forma a contemplar um conjunto de praças, o que
levou à construção de momentos alternados entre uma relativa boa caminhabilidade
(trajeto entre as praças do Ferreira e Leões, Travessa Crato) e espaços bastante inóspitos
para a prática do caminhar, especialmente em grupo (trecho entre Praça José de Alencar
e a Praça da Estação). Dos aspectos do caminhar que mais incomodaram os participantes,
destacam-se: a falta de proteção contra as intempéries (insolação elevada), o fluxo intenso
de pessoas, a quantidade excessiva de barracas de ambulantes e a segurança viária. Uma
das respostas que chamaram a atenção da pesquisadora foi esta que apreciava como
positiva a existência de praças arborizadas e acessibilidade: "Mesmo que falte melhorar,
mas as calçadas são acessíveis (o que observo, pois não possui na minha cidade) " - fato
que reforça a relatividade da percepção das pessoas (Quadro 9).
ANÁLISE DA CAMINHABILIDADE
Qualidade dos passeios O conjunto de calçadas do bairro apresenta uma qualidade de
conservação ruim, dimensões inadequadas e barreiras físicas.
Segurança Pouca segurança dos pedestres em relação aos automóveis
Mobiliário urbano Há oferta de mobiliário nas praças, mas nas demais vias há uma
precariedade.
Usos do entorno O percurso foi longo e diversificado, alternando trechos com baixa
densidade de usos (vazios construídos) e áreas com fachadas ativas,
especialmente na parte mais central do bairro.
Estacionamento Há oferta de vagas de zona azul, estacionamento particular e oferta
de transporte público – ônibus.
Conectividade urbana O bairro possui conectividade com toda a cidade e diversidade de
modos de transporte: bicicletários, pontos de bicicleta
compartilhada, estações de metrô e paradas e terminais de ônibus.
Proteção contra intempéries Não há.
Quadro 9 - Análise da caminhabilidade do percurso do Free Walking Tour Fortaleza.

A análise prossegue para a perspectiva qualitativa da atividade, buscando


compreender a impressão dos participantes a partir dos mapas mentais e da entrevista
semiestruturada (Etapas 04 e 05).
A educação patrimonial permeou a construção da proposta de percurso, os
marcos históricos foram os pontos de parada para a apreciação do lugar. Foi possível
captar o entusiasmo e o encantamento de alguns participantes ao conhecerem a história
da cidade e fazerem correlações com as suas cidades. Os guias informaram ao final do
174
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

passeio que este tinha sido o primeiro no projeto do Free Walking Tour Fortaleza. Passado
mais de um ano desse momento, a pesquisadora pôde observar o amadurecimento da
proposta dos arquitetos-guias, o aumento no número de guias, a abrangência de roteiros
e de pessoas que se sentiram estimuladas a participar (inclusive de outros países,
consequentemente em outro idioma).
Retomando a análise da vivência, um dos problemas mais abordados nos
questionários foi o pouco tempo de pausa nos locais, o que não permitiu a imersão e a
possibilidade de sentir a ambiência. Alguns também se queixaram do fluxo intenso de
veículos e de pessoas e do horário da vivência. Além disso, muitos apontaram que a
atividade foi bastante longa (“o que causava uma certa pressa e pouco
aprofundamento”), em um horário inapropriado para as condições climáticas da cidade e
dificuldade de escutar as informações. (Figura 102).

Figura 102 - Gráfico com os aspectos negativos da vivência. Fonte: Autora (2020).

As lembranças da caminhada foram bastante diversas, retratando justamente


a variedade de lugares de origem dos participantes. A maioria dos participantes, quando
questionada sobre a experiência, mencionou as praças, em especial as Praças dos Leões,
Ferreira e Mártires (Passeio Público). Outros equipamentos históricos também foram
bastante citados: Theatro José de Alencar, EMCETUR e CCBNB. Uma das respostas a
175
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

esse tópico foi destoante e ao mesmo tempo interessante para a pesquisa, pois o
participante respondeu: "Os sons e conversas das pessoas que não estavam na
caminhada, elementos novos nas praças e prédios que nunca havia reparado",
demonstrando que essa pessoa tinha um olhar mais ampliado para além da vivência
(Figura 103).

Figura 103 - Gráfico com elementos que mais marcaram a experiência. Fonte: Autora (2020).

Quanto aos pontos positivos da experiência, quase todos destacaram o fato


de terem tido a oportunidade de aprender a história de Fortaleza a partir do acervo
edificado de valor cultural. Também reconheceram como importantes os pontos de parada
(organizados, muitos locais e todos relevantes). Uma das respostas identificou como um
bom aspecto o fato dos guias não conduzirem com um texto decorado e excessivo. Outra
opinião que merece ser apreciada foi a vantagem de ser uma experiência de grupo, o que
tornou a caminhada mais interessante (Figura 104).

Figura 104 - Gráfico com os aspectos positivos da experiência. Fonte: Autora (2020).
176
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Sobre o que pensavam acerca do Centro da cidade de Fortaleza antes da


vivência: a maioria tinha uma ideia ruim sobre o bairro, particularmente no que se
relacionava às condições do caminhar, um dos declarantes informou: "Que as visitas aos
pontos históricos e museus eram muito complexas de se organizar". Uma das
participantes disse que possui uma conexão com o lugar, mas que "não tinha me atentado
tanto para certos aspectos da arquitetura da cidade". Outras opiniões de quem não
conhecia a cidade e que merecem destaque são:
 "Que seria com mais prédio, mais denso, fiquei feliz pelo patrimônio
e a história. Uma cidade muito maravilhosa!";
 "Pensava ser mais vazio, deserto, mais perigoso. Mas ao fim da
experiência, vi que da forma que se sucedeu - em grupo e todos
vigilantes um com o outro, ‘olhos na rua’- nos sentimos bem seguros".

No que concerne ao patrimônio cultural, houve uma boa apreensão da


importância histórica da área; quase todos os participantes relataram aspectos positivos
sobre a experiência de conhecer marcos edificados ou imateriais, conectados com a
formação da cidade de Fortaleza. Afirmações que reforçam o papel do caminhar como
provedor do reconhecimento do acervo patrimonial do lugar:
 "[...] a impressão de que a cada caminhada vou saber novas coisas";
 "Prestei mais atenção na história e patrimônio histórico e cultural do
Centro da cidade - a gente cria identificação por eles";
 "Percebi a importância da preservação desses patrimônios, como
forma de conservar a história e identidade local."

Quanto aos mapas mentais cerca de 64% dos respondentes desenvolveram o


exercício (Figura 105). Os mapas elaborados podem ser agrupados em dois conjuntos: os
que escreveram os pontos visitados e os que desenharam os símbolos que marcaram o
passeio. Sendo assim, no primeiro grupo, os elementos que receberam destaque foram:
Praça dos Mártires, Praça dos Leões, Praça do Ferreira e Theatro José de Alencar (Figuras
106 e 107).
177
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

No segundo agrupamento há semelhança de lugares mencionados


textualmente. Foram desenhados elementos (Coluna da Hora, a escultura do Cowparade
com expressões cearenses) ou a própria Praça do Ferreira e o Baobá da Praça dos Mártires
(Passeio Público).

Figuras 105 e 106 - Gráficos que abordam a elaboração dos mapas mentais. Fonte: Autora (2020).

Figura 107 - Mapas mentais do primeiro momento do Free Walking Tour Fortaleza. Fonte: Autora (2018).

O segundo questionário foi aplicado entre os meses de dezembro e janeiro,


com a maioria dos participantes sendoabordada via whatsapp (documento elaborado pelo
178
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

googledoc). O retorno foi baixo, apenas 50% dos respondentes anteriores contribuíram
nessa fase (Figura 108). A partir da análise das respostas, foram obtidas as seguintes
conclusões: os lugares que mais marcaram a memória dos participantes em relação ao
Centro foram a Catedral e as praças do Ferreira e dos Mártires (Figura 109).

Figuras 108 e 109 - Gráfico que aborda as respostas do segundo questionário. Fonte: Autora (2020).

Na questão sobre as lembranças que possuem do bairro, os residentes


compartilharam vivências relacionadas às suas histórias de vida, enquanto os demais
relataram sensações restritas à atividade (predominância da atividade comercial, o calor
e o intenso fluxo de pessoas).
A última pergunta do documento era: “O que mudou para você em relação à
história de Fortaleza após a caminhada?”. A maioria dos entrevistados respondeu que a
experiência contribuiu para a construção de um outro olhar para o lugar, no sentido de
valorização da história e do patrimônio. Apenas uma resposta destoou das demais, cujo
participante informou que nada mudou, pois não conhecia a história de Fortaleza.
Entretanto, cabe destacar ao ser perguntado sobre quais locais do bairro ele recordava, a
resposta foi apresentada de forma similar à dos demais, se reportando aos marcos
patrimoniais da cidade (Praça dos Mártires, Catedral e a Fortaleza de Nossa Senhora da
Assunção) e às percepções da caminhabilidade (calor e fluxo intenso de pessoas). A
seguir estão transcritas algumas das respostas do grupo:
 "Conhecia fisicamente algumas partes, mas não conhecia o contexto
histórico";
 "Devido ao curso e a interesses pessoais, já tinha conhecimento de boa
parte do conteúdo abordado, mas é inquestionável o fato de olhar para
Fortaleza com mais proximidade e conhecimento";
179
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

 "Passei a conhecer melhor os prédios históricos do Centro e do entorno


da Praça do Ferreira. Também contribuiu para novas descobertas sobre as
potencialidades do Centro como local para atribuir novos usos.";
 "Percebi o quanto o fortalezense é alheio à sua história, sua cultura e que
o Centro é percebido apenas como ponto comercial. O passeio me instigou a
conhecer um pouco mais profundamente sobre todo esse processo de
desenvolvimento até em literatura, música etc.";
 “Que a história pode ser atrelada a outros aspectos mais subjetivos e
pessoais, pois enriquecem a história ‘tradicional’ e podem gerar narrativas
durante as caminhadas e no cotidiano [...] ".

No que se refere aos mapas mentais, teve-se uma baixa adesão. Acredita-se
que isso tenha sido consequência das poucas respostas obtidas do segundo questionário,
bem como grande parte dos participantes não era de Fortaleza e teriam de responder pelo
formulário online (Figura 110). Os mapas mentais elaborados no segundo momento
podem ser distribuídos em três tipologias: desenhos dos elementos mais representativos,
textos indicando a sequência da caminhada e mapas esquemáticos. O ponto mais
lembrado pelos participantes foi a Praça do Ferreira, indicando a força simbólica dessa
área do bairro que, mesmo não sendo protegida pelas instâncias de preservação do
patrimônio cultural, é um dos principais marcos patrimoniais da cidade. Outros elementos
foram lembrados: Fonte da Praça Pedro II, Passeio Público com a Fortaleza pintada em
tons diferentes, Theatro José de Alencar e seus jardins, CCBNB, Paço Municipal, Buraco
da Gia, Praça da Estação, Praça dos Mártires (Figuras 111 e 122).
180
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Figuras 110 e 111 – Gráficos sobre os dados dos mapas mentais do segundo questionário.

Figura 112 - Mapas mentais do percurso do Free Walking Tour no segundo momento. Fonte: Autora
(2018).
181
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

A partir dessas considerações, pode-se constatar que a experiência conduzida


pelos arquitetos José Otávio e Larissa Muniz também faz parte de um roteiro mais
informativo do que narrativo (Quadro 10). Embora houvesse uma maior diversidade de
informações no sentido de não serem estritamente acadêmicas (dicas gastronômicas,
curiosidades da vida cotidiana e impressões subjetivas da cidade), a maioria dos
participantes estava mais passiva, escutando as histórias, do que compartilhando as suas
memórias (exceto por uma participante, também residente de Fortaleza e arquiteta, que
ao longo das explicações dos guias, também partilhava alguns dados). Os guias chegaram
a alterar parte do trajeto por conta do excessivo número de barracas ambulantes, mas essa
decisão não foi objeto de consulta aos demais caminhantes do grupo, o que reforça o
caráter do roteiro do tipo mindless. Outro dado que reforça essa tipologia de trajeto é que
um dos participantes, residente em outro estado, relatou que nada mudou após o percurso,
indicando que não houve uma oportunidade significativa de construção de memórias.
Quanto aos aspectos do roteiro do tipo mindful, houve um relativo aprendizado acerca
dos diversos conhecimentos passados e das curiosidades do tempo contemporâneo.
Entretanto, pôde-se observar que os caminhantes consideraram a atividade bastante
educativa e interessante, transformando positivamente a visão que tinham anteriormente
sobre o patrimônio cultural da área central da capital cearense (Etapa 07)

TIPO DE ABORDAGEM INFORMATIVA

Perfil do guia Arquitetos e urbanistas


Perfil do público Participantes do 3o COURB (estudantes – profissionais
formados nos cursos de arquitetura e urbanismo, fotografia,
artes plásticas).
Quantidade de participantes 30
Duração do percurso 3h

Trajetória Passeio Público – Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção –


Praça Pedro II – Travessa Crato – Praça dos Leões – Praça do
Ferreira – Praça José de Alencar – Praça da Estação e Retorna
ao Passeio Público.
Material utilizado Mapa impresso com roteiro e texto com descrição do trajeto
(horários e pontos estratégicos).
182
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Enfoque em relação ao patrimônio Apresentação da história de Fortaleza e curiosidades da


atualidade.
Quadro 10 - Análise do Roteiro do Free Walking Tour Fortaleza.

Os participantes concederam algumas sugestões no intuito de aprimorar a


experiência do grupo. Foram destacadas as seguintes proposições: ir em um dia menos
movimentado; reajustar o horário para que haja uma menor sensação de desconforto
ocasionada pela insolação; disponibilização de material informativo com os pontos de
parada; menores percursos e um maior tempo para a imersão na história do lugar; e algum
dispositivo sonoro para que a compreensão das mensagens oferecidas pelos guias seja
mais adequada.

4.3 SÍNTESE DOS ROTEIROS

As experiências acompanhadas ao longo da tese proporcionaram algumas


considerações. Primeiramente não foram identificados roteiros essencialmente do tipo
mindful nas experiências catalogadas no estudo. Por mais que alguns guias fossem mais
interativos com os participantes, foi recorrente o formato de roteiros que centravam mais
no guia do que no grupo. Dessa forma, havia um excesso de informações e pouco
momentos para imersão no lugar.
Um segundo ponto observado a partir dos relatos dos participantes é que, para
os que possuíam vínculos com Fortaleza ou com o Ceará, houve uma vivência mais
significativa. Esse fato pode ser por conta do vínculo afetivo já existente e que pode ter
sido potencializado através do caminhar orientado para o patrimônio.
Outro apontamento é que foi registrada a existência de um despertar sobre a
temática do patrimônio da área central da cidade nos estudantes de arquitetura e
urbanismo ao longo do curso. Há uma diferença de percepção entre os graduandos ao
longo dos semestres, independentemente da faixa etária.
Outra constatação é que, para haver uma experiência mais relevante, que
possibilitasse a construção de vínculos e narrativas com os visitantes de outras cidades,
94
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

são necessários menos pontos de visitação e mais tempo em cada parada, além de ouvir
os participantes e vincular as suas experiências anteriores ao momento presente.
Esse panorama apresentado conduz o estudo para o próximo capítulo, onde
se tem a proposição de uma metodologia de percurso orientado, que possibilite uma
experiência mais significativa para a apreensão do patrimônio cultural de uma cidade.
186
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

5. DO PATRIMÔNIO CULTURAL A PARTIR DO CAMINHAR?


– PROPOSIÇÃO DE UMA METODOLOGIA DE PERCURSO
CULTURAL PARA (RE) CONHECER A CIDADE

No presente capítulo é apresentada uma proposta metodológica para


caminhadas com enfoque cultural, que possibilite a elaboração de um roteiro mais
narrativo do que informativo. Percebeu-se, a partir dos percursos acompanhados, quais
lugares eram mais favoráveis para o andar a pé, bem como quais marcos patrimoniais
seriam fundamentais para tecer um fio condutor de parte da história de Fortaleza. O
roteiro proposto foi construído a partir do patrimônio consagrado, entretanto ao longo da
atividade, recomenda-se que sejam discutidos os outros elementos da cultura, que não
foram escolhidos como símbolos da cidade, assim como as questões e conflitos sociais
responsáveis pela formação urbana do lugar. Salienta-se que pode haver outros caminhos
a serem percorridos que sejam tão importantes e elucidativos quanto o sugerido na
pesquisa. Além disso, pode-se pensar em uma proposição de roteiro semiestruturado que,
em um determinado momento, permita que os participantes façam suas deambulações e
depois troquem suas experiências e impressões. Cada guia possui um enfoque ou
conhecimento que queira trabalhar ao longo de uma caminhada cultural, portanto, outras
soluções de roteiros são legítimas e louváveis para proporcionar a educação patrimonial.
A definição do percurso vivenciado e proposto foi construída a partir de
algumas diretrizes:
 O percurso deve ocorrer por meio da conexão entre praças e vias
pedonais sombreadas;
 Priorizar as praças como pontos de paradas para a discussão;
 Proteger os participantes do trânsito de veículos;
 Escolher espaços com menor concentração de feiras livres e comércio
informal;
187
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

 Elencar um trajeto em que seja possível percorrer por diversos tempos


históricos e arquitetônicos das rugosidades presentes em Fortaleza;
 Ocorrer com duração máxima de 2 horas e 30 minutos;
 Ter o número máximo de 15 participantes.

Esse conjunto de recomendações foi definido baseado nos comentários


obtidos na aplicação dos questionários e observações dos participantes dos roteiros
acompanhados, além da captação pela pesquisadora das manifestações espontâneas
expressadas pelos caminhantes. Nos documentos respondidos havia críticas no que tange
à duração de algumas vivências (a mais longa teve quase 4h), ao cansaço por conta da
extensão do percurso (um dos trajetos teve mais de 4km), desconforto em relação ao sol
(duas das experiências foram encerradas após as 13h) e problemas para compreender as
informações do guia (grupo com mais de 40 pessoas). Dessa forma, para solucionar essas
questões foi desenvolvida esta proposta metodológica de roteiro, como forma de
equacionar as questões e apresentar uma caminhada mais agradável e significativa para
todos.
No período da pesquisa de campo (2016-2018) foram acompanhadas oito
proposições de roteiros, cuja finalidade era apresentar o Centro de Fortaleza. Nem todas
foram apresentadas na tese, por conta da similaridade entre si, pertinência com o foco do
estudo e algumas devido ao processo de autorização do Comitê Ético de Pesquisa.
Entretanto, as sugestões e impressões foram assimiladas e registradas nos diários da
pesquisa e nos questionários aplicados, contribuindo dessa forma para a construção da
proposta de roteiro da tese. Nesse ensejo, observou-se que a maioria das vivências incluía
o conjunto das praças do Ferreira, General Tibúrcio e dos Mártires. Constatou-se, no
estudo anterior do mestrado da pesquisadora, que no entorno e nas praças do Centro de
Fortaleza há uma concentração de bens acautelados ou que possuem relevância no âmbito
188
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

do patrimônio cultural. Ressalta-se que alguns41 possuem duplo tombamento, ou seja, têm
duas instâncias protetivas (Figura 113).

Figura 113 - Mapa com os bens tombados e de relevância patrimonial. Fonte: GOES (2015).

Embora haja esse padrão de bens culturais nas adjacências dos espaços livres,
há uma preferência pelos conjuntos das praças supracitadas. Isso pode ocorrer por alguns
motivos: a importância das mesmas ainda na contemporaneidade; a sua presença na
memória e no cotidiano de muitos dos entrevistados; o estado de conservação dessas
praças; e a ambiência patrimonial do entorno ser elevada. Além disso, a distância física
entre os espaços é razoavelmente curta (cerca de 1km o percurso completo),
proporcionando a elaboração de um roteiro interessante, compacto e que permite interagir
com os participantes.

41
São exemplos de bens que possuem dupla proteção institucional: Antigo Hotel do Norte, Cine Teatro São
Luiz, Colégio Marista e Passeio Público.
189
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Considerando o que foi exposto, a tese se propõe a apresentar uma proposta


metodológica de caminhada pela história de Fortaleza, com duração de cerca de duas
horas e meia, e que possibilite a construção de narrativas com o patrimônio da capital
cearense. O trajeto contempla as praças dos Mártires, Pedro II, Waldemar Falcão
(Correios), General Tibúrcio (Leões) e do Ferreira (Figura 114).

Figura 114 - Mapa com o Roteiro proposto na Tese. Fonte: Monitora de Conservação Integrada 2019.1,
Thais Vieira (2019), adaptado a partir da dissertação de Gérsica Goes (2015).

5.1 Experiência-teste do percurso

Inicialmente testou-se somente o percurso com duas turmas da disciplina de


Conservação Integrada (2019.1), do curso de Arquitetura e Urbanismo, da UNIFOR, onde
a pesquisadora era docente. A vivência aconteceu em um sábado, 06 de abril de 2019,
com início às 9h e encerramento às 11h30. Contou com a presença de 13 pessoas: 10
190
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

alunos, uma convidada, outro professor que também ministrava a mesma disciplina e a
pesquisadora.
Ao final da atividade, foi possível perceber que tanto a duração do percurso
quanto o trajeto escolhido mostraram-se adequados à proposta de reconhecimento do
patrimônio cultural edificado a partir do caminhar, e acredita-se que tenha sido possível
criar narrativas. A pesquisadora teve o cuidado de estimular o diálogo com os
participantes, buscando extrair as memórias e os vínculos com o lugar. Cerca de quatro
alunos não eram de Fortaleza, alguns do interior do estado e outros dois do Maranhão e
do Pará. Muitos relataram que nunca haviam estado nos equipamentos vistos e que a
faculdade os ajudou a conhecer a cidade e a história de Fortaleza. Fez-se questão de frisar
que há outros bens e espaços para serem visitados e ao final, os alunos agradeceram aos
professores por essa dedicação com a educação patrimonial. Um dos estudantes comentou
que iria repetir a vivência com os filhos. Estes depoimentos engrandeceram a atividade e
corroboraram com a discussão acerca da pertinência do tema da pesquisa.
Ressalta-se que havia outros professores responsáveis por níveis escolares
(básico, médio e superior) conduzindo suas turmas aos equipamentos culturais e que,
mesmo diante da situação crítica de conservação desses bens, existe um esforço desses
profissionais em apresentar a história para os estudantes.
A partir desse teste com o percurso, pôde-se aprimorar a proposta de roteiro
cultural, inserindo outros componentes para enriquecer a experiência e possibilitar uma
atividade que proporcionasse a construção de narrativas com o lugar. Foi incorporada
uma atividade de finalização da experiência que pudesse sintetizar as informações
apreendidas. Além disso, ao longo do percurso foram acrescentados momentos para a
apresentação de textos e imagens antigas.
Em resumo, a metodologia do percurso está delineada nos seguintes pontos:
 Grupos com cerca de 15 participantes, que podem incluir moradores,
estudantes ou visitantes;
 Distribuição de material de apoio (folder com mapa e uma síntese de
informações acerca dos principais bens do entorno) (Figura 115);
191
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

 Cinco pontos de discussão da história: paradas nas praças dos Mártires


(Passeio Público), Pedro II, Waldemar Falcão (Correios), General Tibúrcio
(Leões) e do Ferreira;
 Em cada parada há uma pausa com comentários sobre a importância
patrimonial/histórica do lugar e conversas com os participantes sobre quais
memórias são despertadas a partir do contato com o espaço. São
apresentados fotos antigas, textos e poesias, que tratam do passado desses
ambientes. Aos que não forem da cidade ou que desconheçam Fortaleza, é
perguntado sobre a possibilidade de ser traçado um quadro comparativo
com as cidades de origem. O objetivo é instigar os participantes a falarem
sobre memórias, relações com os espaços;
 Ao final, propõe-se uma roda de conversa com os participantes sobre quais
os marcos mais significativos do percurso, a construção de uma mapa-
síntese, tendo como suporte um painel impresso (se possível em lona), com
um mapa do trecho do Centro, e que se conceda a possibilidade dos
participantes irem intervindo nesse mapa, fixando textos, frases, palavras
e desenhos que identificam as apreensões feitas durante o percurso. Como
encerramento, são solicitadas contribuições para que se possa melhorar a
apreensão e a vivência.
192
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Figura 115 – Folder entregue aos participantes antes da vivência. Fonte: Monitora de Conservação
Integrada 2019.1, Thais Vieira (2019), adaptado a partir da dissertação de Gérsica Goes (2015).
193
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

5.2 Caminhos percorridos: a experimentação da Vivência

Como síntese da tese, propôs-se a apresentação de uma metodologia de


roteiro cultural no centro histórico de Fortaleza-CE. Destaca-se que essa atividade pode
ser rebatida em outras cidades, especialmente nas que possuam características de
morfologia urbana semelhantes às da capital alencarina. Além disso, recomenda-se que
sejam elaborados alguns ajustes no dimensionamento do percurso e no conjunto de
espaços a serem discutidos/apresentados.
Objetivando implementar um teste da metodologia sugerida, fez-se uma
experiência com um grupo de alunos provenientes do curso de Arquitetura e Urbanismo
da UNIFOR. O material necessário para a caminhada cultural era composto por um
conjunto que incluía: folders com mapas e explicações do percurso, mapa ampliado do
percurso em lona, post-its, adesivos, canetas, trechos do livro “A Normalista”, trechos de
reportagens do Jornal O Pão (1892-1896) e imagens antigas das áreas que seriam visitadas
(Figura 116). Os alunos eram de semestres variados pertencentes às disciplinas de
História da Arquitetura, Conservação Integrada e do grupo de pesquisa “A casa cearense
como documento e memória: inventário de residências históricas em Fortaleza-CE”42, sob
supervisão da professora Dra. Ana Cecília Vasconcelos. O grupo totalizou 12 pessoas,
incluindo a docente responsável e a pesquisadora. A atividade aconteceu em 30 de
novembro de 2019.

42
O grupo de pesquisa foi iniciado em 2016, cujo objetivo é documentar (através de desenhos e fotografias)
residências históricas na cidade de Fortaleza.
194
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Figura 116 - Material utilizado na vivência do percurso proposto. Fonte: Autora (2019).

O ponto de encontro acordado com os alunos foi a Praça dos Mártires,


conhecida como Passeio Público, às 8h (Figura 117). Entretanto, devido ao período
festivo em que aconteceu a caminhada, a feira popularmente chamada de Feira da Sé, que
normalmente acontece no período da madrugada e se estende pela manhã em dois dias da
semana (quarta-quinta e sábado-domingo), estava em pleno funcionamento, o que
ocasionou atrasos por parte de alguns participantes da atividade e em ajustes no roteiro
do percurso (Figura 118). Essa mudança era necessária, pois um dos pontos que seriam
visitados seria a Praça Pedro II (conhecida como Praça da Sé), um dos locais em que há
uma significativa concentração de feirantes, o que prejudicaria a fluidez da experiência e
seria um elemento de dispersão na concentração dos estudantes, ainda no início da
vivência (2a parada da visita). Dessa forma, a pesquisadora combinou com a professora
uma rota alternativa, que envolvesse o Sobrado José Lourenço, localizado na Rua Major
195
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Facundo e depois o trajeto seguiria para a Praça Waldemar Falcão, retomando ao que foi
planejado inicialmente (Figura 119).

Figura 117 - Passeio Público de Fortaleza. Fonte: Autora (2020).


196
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Figura 118 - Mapa atualizado da proposta de roteiro. Fonte: Porão Ateliê Criativo, baseado em informações
de Goes (2015).
197
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Figura 119 - Mapa com o percurso vivenciado. Fonte: Porão Ateliê Criativo, baseado em informações de
Goes (2015).

Em razão da movimentação da Feira da Sé, resolveu-se conceder meia hora


para que mais alunos pudessem chegar, enquanto isso seriam preenchidos o Termo de
Autorização para Uso de Imagens (Fotos e Vídeos). Por volta de 8h30 a pesquisadora
iniciou a atividade, solicitando que cada um se apresentasse e compartilhasse as sensações
e memórias que o espaço do Passeio Público despertava neles (Figura 120).
198
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Figura 120 - Participantes no primeiro ponto do percurso - Passeio Público. Fonte: Ana Cecília Vasconcelos
(2019).

Muitos reportaram que conheceram o espaço a partir da faculdade, alguns


eram de outras cidades ou estados e, portanto, o Centro de Fortaleza era algo que não
tinham interesse ou informações sobre o lugar. Sendo assim, a maior parte das memórias
tinha vinculação com o Curso de Arquitetura e Urbanismo. Alguns relataram que tinham
medo da área e que após conhecê-la, já retornaram para almoços, mais especificamente
para a Feijoada, que é oferecida no restaurante da Praça dos Mártires (Café Passeio). Um
dos estudantes mencionou que o lugar reporta à relação que ele tem com a natureza,
remetendo à sua cidade natal no interior de Minas Gerais. Ele destacou o significado e a
importância do Baobá para o Passeio Público.
Após esse momento de compartilhamento de memórias e impressões, a guia
lê trechos do livro “A Normalista” e do Jornal “O Pão”, que tratam sobre a Praça dos
199
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Mártires. As passagens mencionavam a rotina do lugar, uma área voltada ao lazer e


congregação dos fortalezenses no final do século XIX, aos domingos e quintas-feiras:
Toda uma geração nascente, ávida de emoções, cansada de uma vida sedentária
e monótona, ia espairecer no Passeio Público aos domingos e quintas-feiras,
gratuitamente, sem ter que pagar dez tostões por uma entrada, como no teatro
e no circo. (CAMINHA, 1983, p. 57).

A capital do Ceará, encantadora como uma pérola do Oriente, bela como a


conheceis, é, entretanto, uma cidadezinha soffrivelmente atrasada com laivos
de civilização. Si temos duas livrarias, em compensação não temos livros que
prestem. Para matar o tédio que nos mina e consome a existência, somos
obrigados a ir, às quintas-feiras e domingos, alli ao Passeio Público exhibir a
melhor de nossas fatiotas e o mais hypocrita e imbecil de nossos sorrisos. (O
PÃO, 1982, p. 30).

Alguns dos participantes já haviam lido o livro de autoria de Adolfo Caminha


e teceram elogios à obra. Em seguida, o grupo foi convidado a percorrer o espaço e a
conhecer algumas das informações sobre as transformações físicas que foram impressas
no lugar. Infelizmente, havia tapumes cercando metade do ambiente, impedindo que todo
o perímetro do Passeio fosse percorrido.
Após esse momento, a guia mostrou uma imagem antiga de uma das vistas
do Passeio Público e solicitou que os participantes identificassem os elementos que
permaneceram na contemporaneidade (Figura 121). Além disso, foi apresentado o
conjunto de bens de valor cultural do entorno e sua importância para a ambiência do
Passeio. Em seguida, o grupo foi convidado a seguir pela Rua Marechal Facundo em
direção ao Sobrado José Lourenço (Figura 122).
200
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Figura 121 - Imagem histórica do Passeio Público. Fonte: Fortaleza em Fotos -


http://www.fortalezaemfotos.com.br/2010/08/um-olhar-sobre-o-passeio-publico-por.html.

Figura 122 - Sobrado José Lourenço. Fonte: Autora (2020).


201
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Esse ponto foi uma adaptação ao roteiro por conta das atividades da Feira da
Sé. Nesse trecho os alunos compartilharam as lembranças que a edificação despertava
neles. Foram relatadas memórias sobre trabalhos acadêmicos que envolviam o Sobrado,
bem como semelhanças com imóveis do sítio histórico de Aracati (sítio histórico cearense
distante quase 170km de Fortaleza). A professora Ana Cecília reforçou a semelhança do
bem com o conjunto histórico de Aracati e juntamente com a pesquisadora, teceu
comentários acerca da importância do imóvel para a capital cearense. Em seguida, todos
seguiram pela Rua Senador Alencar em direção à Praça Waldemar Falcão.
Ao alcançarem o lugar (Figura 123), um dos participantes mencionou que o
ambiente remetia à imagem de um centro da cidade. Então a guia iniciou a discussão
sobre a história daquele espaço, conectando ao seu passado vinculado ao comércio de
feira livre e de mercados públicos, ilustrando através de imagens antigas (Figuras 124 e
125). O entorno do lugar é marcado por um conjunto art déco e protomoderno e a
pesquisadora aproveitou para apresentá-lo ao grupo (Figura 126). Os alunos ficaram
curiosos sobre segundo estilo arquitetônico mencionado e tanto a guia quanto a professora
esclareceram as diferenças entre ambos.

Figura 123 - Praça Waldemar Alcântara e entorno. Fonte: Autora (2020).


202
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Figura 124 - Imagem histórica do Mercado da Carne. Fonte: Museu da Imagem e do Som.

Figura 125- Participantes discutindo sobre a história dos mercados em Fortaleza. Fonte: Ana Cecília
Vasconcelos (2019).
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PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Figura 126 - Apresentação sobre a arquitetura art déco do Palácio do Comércio. Fonte: Ana Cecília
Vasconcelos (2019).

Em seguida, a guia conduziu o grupo ao próximo ponto: Praça General


Tibúrcio (Leões) (Figuras 127 e 128). Esse espaço suscitou nos participantes diversas
manifestações e curiosidades. Uns comentaram que, quando crianças, iam com os pais
para a compra e venda de livros no início do ano, casamento; outros haviam participado
de palestras sobre a praça, experiências de desenhos (Urban Sketchers); alguns ainda
relataram que o lugar trazia à memória pessoas jogando dama e episódios de violência
urbana. Uma das estudantes disse: “A Praça dos Leões é a Praça dos Mártires de hoje”.
Ela justificou que atualmente os jovens utilizam o espaço como entretenimento, para
dançar os mais diversos ritmos, brincar carnaval, além de café e bares que corroboram
com o aspecto boêmio do lugar. De uma forma geral, a Praça dos Leões despertava nos
participantes boas recordações.
204
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Figuras 127 e 128- Imagens da Praça dos Leões na atualidade. Fonte: Autora (2020).
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PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Após esse momento de compartilhamento de várias memórias e vivências do


grupo com a Praça dos Leões, a guia apresenta o contexto de formação do espaço, ilustra
através de uma fotografia antiga (Figura 129) e trechos do livro “A Normalista”, que
retrata tanto a Praça quanto os bens do seu entorno no final do século XIX (Figura 130).

O casarão do governo, acaçapado e informe, com o seu aspecto branco e


tradicional de velho edifício português, do tempo do Sr. D. João VI, com a sua
fila de janelas, alinhadas à maneira de hospital, espiando para a praça do
General Tibúrcio, parecia dormir um sono bom de sesta, batido pelo sol, na
mudez solene de um monumento arqueológico. Tinha dado meio-dia na Sé;
ainda vibrava no espaço iluminado e azul a última nota das cornetas.
(CAMINHA, 1983, p. 68).

Figura 129 - Imagem histórica da Praça dos Leões. Fonte: Fortaleza em Fotos -
http://www.fortalezaemfotos.com.br/2014/02/apenas-uma-velha-praca-do-centro.html.
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PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Figura 130 - Discussão sobre a importância da Praça dos Leões - General Tibúrcio. Fonte: Ana Cecília
Vasconcelos (2019).

Após esse momento, a pesquisadora convidou o grupo para o último ponto de


discussão: a Praça do Ferreira. No espaço já havia a decoração natalina: quiosques,
Árvore de Natal e o Edifício Excelsior, que estava com todos os enfeites para receber o
coral infantil (Figura 131). Na praça foram expressas várias manifestações de sentimentos
pelo grupo: Festa, alegria, família, Natal, afeto, lembranças e protestos políticos e/ou
culturais (Figura 132).
207
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Figura 131 - Praça do Ferreira na contemporaneidade. Fonte: Autora (2020).

Figura 132 - Último ponto da caminhada - Praça do Ferreira. Fonte: Ana Cecília Vasconcelos (2019).
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PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

A guia iniciou a explanação sobre a história da Praça, a sua importância como


uma referência e um marco da capital cearense. A pesquisadora mostrou uma imagem
antiga do lugar e indagou os elementos permaneceram e quais desapareceram da
paisagem da Praça (Figura 133). Em seguida, a guia teceu elucidações sobre uma das
personalidades da contemporaneidade mais marcantes da Praça do Ferreira e do Centro:
o poeta Mário Gomes. Ele foi um poeta e flâneur na cidade de Fortaleza. Ele costumava
dizer que a Praça do Ferreira era o seu escritório (“Linda como uma Bailarina”), que seu
lar era o seu corpo e era frequentemente visto no perímetro que se estendia do referido
espaço até as cercanias do Centro Dragão do Mar. Falecido em 2014, deixou escritos
diversos poemas dos mais variados temas, mas a rua e, mais especificamente o Centro de
Fortaleza era a sua grande paixão, tornando-se a sua morada. A guia então cita um trecho
da poesia “Ação Gigantesca”: “[...] Fui dormir o sono da eternidade/ E me acordei mil
anos depois, / Por detrás do universo". (GOMES, 1999, p.28 apud GOUVEIA, 2015,
p.16). Nesse momento os estudantes observaram outros ocupantes da praça (um homem
e seu cachorro que fingem de estátua, um vendedor de cocos e algumas pessoas em
situação de rua). A pesquisadora então retoma a história de Mário Gomes e de pessoas
que assim como ele, se tornam invisíveis aos olhos dos demais e que guardam uma
riqueza cultural inimaginável.
209
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Figura 133 - Praça do Ferreira nos anos de 1930. Fonte: Museu da Imagem e do Som.

Encerrando a discussão, com quase duas horas de atividade, a pesquisadora


solicitou que os participantes pudessem tecer suas observações e ponderações acerca da
experiência. Foi um momento de empolgação do grupo, inicialmente reticente em pontuar
aspectos negativos da vivência, mas que a partir do incentivo da pesquisadora, passou a
ter mais desenvoltura ao elaborar uma síntese da atividade (Figuras 134 e 135). A
dinâmica da experiência explicitada pela guia era a seguinte: adesivo vermelho (aspectos
negativos), adesivo prateado (aspectos positivos) e post-its (frases que expressavam os
sentimentos, memórias do lugar/experiência).
210
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Figuras 134 e 135 - Participantes inserindo suas percepções sobre a experiência e sobre o Centro de
Fortaleza. Fonte: Autora (2019).

Para uma melhor apreensão das informações inseridas no mapa síntese da


vivência (Figura 136), fez-se uma divisão por ponto de parada:

Figura 136 - Mapa síntese da vivência. Fonte: Autora (2019).


211
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Praça dos Mártires (Passeio Público) e entorno


 Foram demarcados três adesivos vermelhos na praça e um adesivo vermelho na
Santa Casa de Misericórdia. A posição das três marcações negativas indica onde
a experiência não foi agradável. As duas na entrada principal refletem um
momento anterior ao início da atividade e à chegada da pesquisadora, em que
houve uma discussão e agressão física entre duas pessoas nas mediações do
passeio. O terceiro ponto, na extremidade oeste do Passeio era um lugar sem
acesso por conta das obras que estavam ocorrendo no espaço, bem como havia
uma significativa concentração de pessoas em situação de rua;
 Foram assinalados três adesivos prateados, manifestando que, para parte do grupo,
foi agradável a vivência;
 Duas mensagens escritas na Praça: uma contendo a palavra violência e outra
relatando certo lamento em relação às perdas e transformações ocorridas em
Fortaleza;
 Supõe-se que a marcação de referências ao Passeio possa ter sido um pouco
reduzida devido ao fato de que alguns estudantes só alcançaram o grupo na Praça
Waldemar Falcão, o que ocasionou na diminuição de alusões ao espaço.

Praça Waldemar Falcão e entorno


 No percurso entre o Passeio Público e a Praça, o grupo fez uma parada no Sobrado
José Lourenço - os participantes assinalaram com dois adesivos prateados, o que
ilustra que a modificação do roteiro foi positiva para a experiência;
 A Praça em si foi um ponto que os participantes gostaram bastante: seis adesivos
prateados e dois adesivos vermelhos. A maioria dos adesivos positivos estavam
localizada próximos aos bens em art déco, enquanto que os adesivos vermelhos
estavam na rua, elemento segregador do espaço;
 Os participantes expressaram como elementos marcantes conhecerem as
curiosidades sobre a história da Antiga Praça Carolina e o belo conjunto de
arquitetura em art déco. Destaca-se um dos post-its com a seguinte frase: “Nunca
212
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

havia tratado como uma praça e foi interessante e triste saber que já foi tão
importante”.

Praça General Tibúrcio (Leões) e entorno


 Todos os adesivos (8) colocados foram prateados. Isso indica que há uma
unanimidade do afeto e da boa experiência que o grupo sentiu em relação ao lugar;
 As mensagens anexadas à Praça foram igualmente positivas, com palavras como:
“aconchegante, sombreado, ponto de descanso, ponto de descanso e
descontração”;
 Essas contribuições refletem as manifestações apresentadas no momento em que
o grupo estava na Praça e compartilhou algumas sensações e memórias
relacionadas ao lugar. Além disso, essas pontuações ratificam a importância da
Praça em ser incluída em roteiros culturais do bairro.

Praça do Ferreira e entorno


 Foi o ambiente com maior número de marcações: sete positivas (prateado) e duas
negativas (vermelho), totalizando nove adesivos;
 Também foi o ponto de parada com maior quantidade de post-its: seis. Apenas um
continha aspecto negativo do lugar: “mau cheiro”. Ele estava associado a um
adesivo vermelho localizado ao lado do Edifício do L’escale. Nota-se que na Rua
Guilherme Rocha, que conecta as Praças do Leão à do Ferreira, há um odor forte
de urina. As demais mensagens tinham conexões com atividades gastronômicas
do lugar: Pastel e Refrigerante São Geraldo (Pastelaria Leão do Sul com alguns
adesivos prateados), cafés e chocolate quente (L’escale e Cine Teatro São Luiz),
tapioca, além de memórias vinculadas ao estágio, a momentos alegres com a
família, alegres, cinema, novidade e a sensação de estar em outra época;
 Do exposto, constatou-se como é significativa a relação das pessoas com a Praça
do Ferreira. O sentimento de pertencimento com a Praça foi elevado independente
de o participante ser natural de Fortaleza. A vivacidade do espaço é percebida e
213
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

conquistada por todos que a conhecem. O patrimônio cultural, seja arquitetônico,


artístico ou gastronômico, é marcante na área, o que a torna um ponto essencial
para ser inserido em qualquer roteiro cultural no Centro da cidade.

Centro de Fortaleza (outras áreas não abordadas no trajeto)


 Mercado Central: foi destacado, pois para o participante o conecta com o hábito
de comer um dos pratos típicos da culinária nordestina: a buchada;
 Colégio Imaculada Conceição: o participante escreveu a palavra “vida”,
provavelmente teve sua formação escolar na instituição;
 Uma observação que simboliza o afeto com a área: “Venho bastante procurar
livros nos sebos e passear. Criei vínculos com o Centro recentemente”.

Como síntese da proposição e experimentação de percurso sobre a história de


Fortaleza, pode-se inferir que apesar das transformações, da intensa atividade comercial,
dos problemas sociais e urbanísticos, a área central é um espaço convidativo à prática do
caminhar e conhecer a história. Tecer e construir significados é intrínseco ao percurso
temporal do lugar. Ele é um receptáculo da memória urbana e conhecê-lo permite
construir narrativas contemporâneas a partir das rugosidades (SANTOS, 2006).
Utilizar as áreas centrais históricas como sala de aula é uma ferramenta a ser
explorada pelos docentes. Elas são passíveis de serem adaptadas a diversas temáticas e
campos do saber. Entretanto, adaptações e flexibilidade são necessárias para atividades
como a que foi proposta na pesquisa. Por seu caráter dinâmico e pulsante, torna-se
impossível conduzir perfeitamente o que foi planejado como exercício no Centro.
Portanto, o guia, professor ou responsável deve estar atento à conjuntura do lugar, ser
flexível e ter a imagem mental da área, conhecendo seus meandros e caminhos
alternativos para que o objetivo principal seja alcançado – a educação patrimonial.
Observou-se a partir da vivência que mesmo sem destacar alguns pontos na
atividade, houve um reconhecimento e afetividade por parte dos participantes de outros
elementos, que também possuem relevância para a cultura e memória da cidade.
214
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Além disso, devido ao avanço e aprimoramento do estudo, desenvolveu-se


uma proposta atualizada de folder/mapa do roteiro43, intitulado de Circuito Cultural do
Patrimônio no Centro de Fortaleza. Esse documento apresenta-se mais completo que o
anterior, contemplando explanações sintetizadas de outros elementos de relevância
cultural. O intuito desse mapa expandido é estimular os participantes a terem curiosidade
em conhecer mais sobre o sítio, retornando à área posteriormente e construindo seus
próprios caminhos e deambulações (Figura 137).

43
O produto está inserido em sua formatação e apresentação adequadas no APÊNDICE F.
215
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

Figura 137 - Folder do Circuito Cultural do Patrimônio no Centro de Fortaleza. Fonte: Porão Ateliê
Criativo a partir da dissertação de Gérsica Goes (2015).
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PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

O quadro abaixo resume a proposta metodológica de caminhadas culturais em


espaços históricos de um lugar (Quadro 11).
PONTOS AÇÕES
1 Estabelecimento de pontos de discussão – sugestão praças históricas ou espaços que
permitem reunir um grupo para discutir e analisar a área do entorno.
2 Construção de um roteiro que conecte as praças e espaços dos pontos de discussão.
Escolher áreas sombreadas, exclusivas para pedestres ou que contemplem pontos de rotas
seguras para os caminhantes.
3 Identificação de material (livros, dados, jornais históricos, fotos históricas e poesias) que
retrate os espaços que serão visitados.
4 Identificação de informações atuais do lugar, elementos da cultura popular e do cotidiano,
que aproximem o patrimônio consagrado da vivência dos participantes.
5 Elaboração de um folder contendo o percurso que será caminhado, bem como informações
extras, que possam incentivar os participantes a traçarem os seus próprios caminhos em
um momento posterior, construindo suas deambulações.
6 Lona com o roteiro em escala maior para a construção do mapa síntese ao final da
experiência.
7 Grupo de no máximo 15 participantes.
8 Organização da atividade para que tenha aproximadamente, 2 h30 de duração.
9 Dialogar com os participantes para ouvir suas impressões sobre o lugar e estabelecer
conexões com memórias anteriores dos mesmos.
10 Material de apoio para a atividade: canetas, post-its, folder, lona com roteiro, imagens
históricas, textos com as informações necessárias para a discussão.

Quadro 11 - Proposta metodológica de caminhada cultural em áreas históricas. Fonte: Autora (2020).

Ressalta-se que essa estrutura pode ser aplicada em outros sítios de relevância
patrimonial, mas devem ser adaptados à realidade da região de forma a construir uma
vivência que permita a construção de narrativas.
218
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Discutir e incentivar o caminhar nas cidades brasileiras requer o


enfrentamento de muitas questões que perpassam da cultura às condições físicas que
possibilitam o andar. Compreender esse debate foi essencial para despertar o olhar sobre
o tema e trabalhá-lo na pesquisa de doutoramento.
A caminhabilidade do espaço físico ou, em outras palavras, o quão amigável
é o lugar para o caminhar (GHIDINI, 2011; NORIZA et al., 2013), é um tema bastante
amplo e com uma quantidade considerável de variáveis, a depender do autor, para se
analisar o espaço urbano. Os estudos de Chris Bradshaw (1993), Evandro dos Santos
(2003) e Jeff Speck (2016) contribuíram significativamente para a tese, pois a partir do
cruzamento dos elementos fundamentais para uma boa caminhabilidade do espaço
traçados por esses autores, foi possível definir quais seriam os pontos norteadores para
aferir a caminhabilidade dos roteiros acompanhados em Fortaleza. Isto posto, foram
colocados como critérios de avaliação os itens: qualidade dos passeios, segurança (nos
aspectos da violência urbana e viária), mobiliário urbano, usos do entorno,
estacionamento e proteção contra intempéries.
Foi a partir dessas variáveis que o Centro de Fortaleza foi apreciado como um
lugar em que é possível a prática do andar a pé em atividades de educação patrimonial.
Entretanto, é necessário destacar que não são todos os trechos em que é interessante
fomentar o caminhar orientado. A característica notadamente comercial do bairro acarreta
a perda de espaços planejados para o pedestre, que foram ocupados por pontos do
comércio informal. O estudo não se propõe a confrontar a atividade tão intrínseca à
vitalidade da região, não se pretende empreender uma ação higienizadora na área para
que o Centro se torne um espaço mais propício ao andar. Defende-se uma alternativa que
unifique os aspectos comerciais aos da preservação do espaço urbano e patrimonial. Além
disso, o comércio informal não deixa de ser um elemento característico da cultura
219
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

cearense, portanto, não se pode negligenciar esse viés. Provavelmente uma das
estratégias de redução desses conflitos entre os feirantes, ambulantes e os caminhantes
seja a redução sistemática de veículos na porção mais histórica do Centro. A Prefeitura
de Fortaleza implementou algumas ações em 2019, que caminham na direção do chamado
traffic calming (trânsito calmo): adaptando calçadas, introduzido faixas elevadas e
reduzindo a caixa viária de algumas ruas, entretanto é preciso expandir ainda mais, tornar
o Centro das pessoas e dos caminhantes.
Fortaleza, uma cidade relativamente jovem, com 294 anos de fundação, tem
em sua morfologia urbana da área central, o desenho de uma cidade tradicionalmente
oitocentista (GOES, 2015). O Centro é um dos principais espaços da capital cearense em
que é possível perceber a ambiência patrimonial (VIEGAS, 2018), sobretudo em alguns
pontos da rede de praças da região.
Articular a prática da caminhada em espaços de caráter patrimonial permitiu
compreender a relevância do objeto da cidade como um espaço de aprendizagem, ou seja,
a cidade como uma sala de aula de dimensões ampliadas. Nela é possível aprender e
apreender acerca do processo contínuo de transformação que incide na sociedade e vice-
versa. Isso traz múltiplas linguagens e olhares sobre o espaço urbano. Dessa forma, o
tema é inesgotável, pois há muitas camadas a serem descortinadas e discutidas junto à
sociedade. Isto posto, professores e educadores devem ser incentivados a utilizar essa
ferramenta de ensino em suas atividades. Todavia, é preciso estar atento que, pelo caráter
dinâmico da cidade, adaptações, surpresas e algumas interferências externas poderão
suceder, mas ao invés de serem vistas como problemas, pode-se trabalhá-las como
desafios e potencialidades para que cada vivência na cidade seja única. É impossível
repetir a mesma experiência, seja por conta dos participantes que são distintos, seja pelos
novos conhecimentos do guia, seja pelo trajeto, seja pela cidade que não é a mesma de
um dia anterior. E essa é a verdadeira riqueza da prática educativa no espaço urbano.
Independente da qualidade da caminhabilidade da área central de Fortaleza, é
possível discutir a história de sua formação urbana por meio da educação patrimonial,
utilizando as “pedras da cidade” e suas rugosidades. Além disso, foi possível
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PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

compreender que para que haja uma construção de memórias e narrativas com a “sala de
aula” em questão, é preciso dar tempo e espaço aos participantes da vivência, para que
estes possam elaborar vínculos com o lugar e com as informações que lhes foram
repassadas. Portanto, por meio do trabalho de campo realizado foi possível aferir e
comprovar a hipótese do estudo: “Apesar das condições físicas e do descaso com os bens
patrimoniais fortalezenses, é possível exercer atividades de educação patrimonial que
contribuem para a legibilidade do patrimônio cultural”. Sim, é possível e devem ser
sistematicamente incentivadas as atividades que envolvam o corpo no objeto de estudo;
a formação educacional tanto formal quanto informal dos indivíduos deve passar por
atividades que incentivem a experiência de andar na cidade, conhecê-la e vivenciá-la. Tal
como um turista descortinando um novo lugar, os habitantes da cidade também devem
ser impelidos a viajar pelos limites da sua terra, estreitando os vínculos com o lugar, ou
seja, o place attachment (ELALI e MEDEIROS, 2011).
A partir dos percursos acompanhados foi possível compreender que eles
estavam essencialmente ancorados na perspectiva de um roteiro do tipo mindless, apesar
de também conterem elementos da tipologia mindful (COSTA, 2014). Entretanto, o
aspecto informativo da experiência estava bastante evidente, portanto, seria mais
interessante canalizar as atividades de educação patrimonial para abordagens mais
narrativas. Ressalta-se que, independentemente do formato dos roteiros, é indiscutível a
contribuição desses guias para a educação patrimonial na cidade. É louvável o esforço de
discutir e formar indivíduos sobre a história de Fortaleza, tornando-os, talvez, futuros
agentes de preservação e/ou difusão do conhecimento aprendido.
O estudo possibilitou um aprofundamento no entendimento da relevância da
ambiência patrimonial para a construção de atividades educativas para a preservação do
acervo cultural de uma cidade. O patrimônio cultural está presente no cotidiano das
pessoas e, para enxergá-lo, é preciso algumas vezes um olhar mais atento sobre o mesmo.
Sendo assim, defende-se que para valorizá-lo requer-se o fortalecimento da dimensão
cotidiana dos seus habitantes, pois ele passará a ser um elemento intrínseco às práticas
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PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

sociais daquelas pessoas, reduzindo a sacralização do tema e aproximando-o de quem


verdadeiramente tem a capacidade de preservá-lo (LONDRES, 2012).
A proposição de uma metodologia de percurso orientado foi elaborada
embasada nos acertos e ajustes oriundos das experiências acompanhadas ao longo da tese.
Nelas observaram-se quais os trechos, estratégias metodológicas, informações
compartilhadas e horários foram mais utilizados e considerados adequados pelos
participantes. Por conseguinte, a estrutura metodológica apresentada consiste em um
roteiro relativamente compacto, mas que contempla o sistema de praças históricas
bastante significativo e um conjunto de bens consagrados na história da cidade para a
compreensão da formação urbana. Ademais, foram inseridos elementos que agregam
valor à experiência, tais como: fotos, jornais antigos, livros e personalidades históricas,
ou seja, ferramentas que permitem ampliar a vivência para além dos que os caminhantes
podem ver, trabalhando, assim, um olhar diversificado para uma paisagem que outrora
não suscitava esses dados discutidos.
Outro aspecto importante da metodologia proposta é a vinculação do lugar
com outras memórias, pois percebeu-se que os habitantes do lugar por vezes têm uma
experiência mais enriquecedora do que os visitantes em caminhadas culturais no Centro
de Fortaleza. Buscando retificar e estabelecer a conexão deles com a área, pensou-se em
estimulá-los a relacionar o espaço que estão conhecendo pela primeira vez com as suas
memórias anteriores. Portanto, é preciso parar e caminhar para construir lugares
(CARERI, 2017).
A proposta metodológica da tese não esgota a possibilidade de outros
caminhos, que sejam igualmente relevantes para a formação patrimonial serem traçados.
Ou ainda que sejam essenciais para a educação em uma perspectiva mais ampliada, pois,
como foi discutido ao longo da pesquisa, há variadas formas e temas que podem utilizar
o caminhar como instrumento de ensino.
O estudo pode inspirar o desenvolvimento de outras possibilidades de
percursos a serem exploradas: roteiros envolvendo a literatura, o cinema, personalidades
históricas, cultura popular, referências comunitárias e deambulações. Esses outros temas
222
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

de percurso podem ser utilizados para a discussão de um patrimônio não-consagrado,


contribuindo com a discussão mais ampla do patrimônio cultural. Além disso, pode-se
pensar em uma caminhada que contemple tanto um trajeto estruturado, bem como
estimule que os participantes possam fazer suas errâncias na área histórica e retornem
posteriormente para discutir suas impressões e descobertas sobre o lugar. Também se
pode pensar em aplicação de mapas mentais e questionários para aferir a qualidade da
apreensão que a caminhada cultural proporcionou ao grupo.
Espera-se que a publicação do trabalho em eventos acadêmicos e periódicos
permita a divulgação e fomentação do tema e da pesquisa. A difusão do conhecimento
produzido constitui o ápice de todo pesquisador comprometido com a temática, restrita
não somente à comunidade científica, mas também à, sociedade e, especialmente para os
discentes, promovendo a reflexão e contato com a área histórica da cidade e o fomento à
prática do caminhar. Para além de eventos, acredita-se e almeja-se que é possível difundir
a estratégia metodológica apresentada para professores e agentes de educação
patrimonial, seja através do contato por meio da rede que se foi levantada na tese, seja
por meio de alguma plataforma digital que divulgue o roteiro elaborado.
Defende-se que a pesquisa possa contribuir para o aprofundamento da
compreensão da relevância e significância do patrimônio cultural para a sociedade.
Apesar do estudo ter feito uma aplicação para a capital cearense, é possível expandir e
rebater a estrutura metodológica para outras cidades. Salienta-se somente a necessidade
de ajustes, que indispensavelmente serão implementados para que se obtenha um bom
resultado da vivência.
Intenta-se que a pesquisa possa desdobrar-se em outras análises, que poderão
contribuir para o entendimento das áreas históricas das cidades como elementos de
construção de significados e de narrativas para os seus habitantes ou visitantes, além de
serem fonte e instrumento de ensino para as práticas de educação patrimonial.
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PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
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242
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

APÊNDICE A – ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA (1º

MOMENTO)

QUESTIONÁRIO PERCURSO CULTURAL – CENTRO DE FORTALEZA (1º


MOMENTO)
No. _______ Data: _____/____/2017 Hora: _______

Este é um estudo acadêmico, parte da pesquisa de doutoramento do Programa de Pós-


Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte (PPGAU-UFRN), que visa avaliar a importância de roteiros culturais para a
compreensão do patrimônio cultural do centro histórico de Fortaleza, a partir da
obtenção das opiniões, imagens, sentimentos e expectativas dos usuários que participam
dos percursos guiados no Centro. Obrigada por sua colaboração!
1. Já havia realizado algum percurso guiado no Centro de Fortaleza?
( ) Sim ( ) Não
2. O que o (a) motivou em participar do passeio?
( ) Conhecer a história de Fortaleza
( ) Conhecer a arquitetura
( ) Cultura
( )OUTROS - especificar:
_________________________________________________________________________
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PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

3. Gostaria de repetir a caminhada?


( ) Sim ( ) Não
4. Você poderia listar quais elementos do passeio que mais chamou atenção?

5. Poderia apontar qualidades e/ou defeitos da caminhada?


6. Antes da caminhada, o que você pensava sobre o Centro de Fortaleza?

7. O que mudou para você em relação ao patrimônio cultural após a realização desse
roteiro?

8. Que sugestões você daria para melhorar o passeio?

9. Em que bairro ou cidade você reside?

Ocupação______________________________Nível de escolaridade______________
Faixa etária_____________________________Sexo___________________________

Por favor desenvolva um desenho de memória sobre o Centro de Fortaleza no verso,


mostrando elementos físicos/atributos, como um mapa, representando quais os lugares
que foram mais significativos para você durante a caminhada.
Muito obrigada por sua colaboração!
Gérsica Vasconcelos Goes
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PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

APÊNDICE B – ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA (2º


MOMENTO)

QUESTIONÁRIO PERCURSO CULTURAL – CENTRO DE FORTALEZA (2º


MOMENTO)
No. _______ Data: _____/____/2017 Hora: _______ Telefone:___________________

Este é um estudo acadêmico, parte da pesquisa de doutoramento do Programa de Pós-


Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte (PPGAU-UFRN), que visa avaliar a importância de roteiros culturais para a
compreensão do patrimônio cultural do centro histórico de Fortaleza, a partir da
obtenção das opiniões, imagens, sentimentos e expectativas dos usuários que participam
dos percursos guiados no Centro. Obrigada por sua colaboração!

1. Qual o lugar do Centro de Fortaleza você se lembra ao pensar sobre o bairro?


2. Quais as lembranças que você possui do lugar?
3. O que mudou para você em relação à história de Fortaleza após a caminhada?

Por favor desenvolva um desenho de memória sobre o Centro de Fortaleza no verso,


mostrando elementos físicos/atributos, como um mapa, representando quais os lugares
que foram mais significativos para você durante a caminhada.
Muito obrigada por sua colaboração!
Gérsica Vasconcelos Goes
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PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

APÊNDICE C – ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA (2º


MOMENTO) – FORMULÁRIO ONLINE
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PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

APÊNDICE D – QUESTIONÁRIOS PERCURSO HISTÓRIA DA


ARQUITETURA (PROFa JACQUELINE HOLANDA)
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CIDADE DE FORTALEZA-CE
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CIDADE DE FORTALEZA-CE
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CIDADE DE FORTALEZA-CE
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CIDADE DE FORTALEZA-CE
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PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
290
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
291
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
292
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
293
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
294
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
295
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
296
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
297
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
298
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
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PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
300
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
301
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
302
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
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PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
304
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
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PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
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PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
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PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
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PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
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PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
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PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
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PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
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PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
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PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
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PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
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PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
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PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
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PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
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PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
319
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
320
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE

APÊNDICE E – QUESTIONÁRIOS PERCURSO FREE WALKING TOUR


FORTALEZA
321
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
322
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
323
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
324
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
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PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
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PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
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PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
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PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
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PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
330
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
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PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
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PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
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PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
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PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
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PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
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PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
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PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
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PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
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PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
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PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
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PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
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PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
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PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
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PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
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PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
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PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
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PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
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PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
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PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
350
PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
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PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
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PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
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PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
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PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
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PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
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PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
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PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
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PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
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PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
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PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA
CIDADE DE FORTALEZA-CE
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PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA CIDADE DE FORTALEZA-CE

APÊNDICE F – FOLDER CIRCUITO CULTURAL DO PATRIMÔNIO NO CENTRO DE FORTALEZA


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PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA CIDADE DE FORTALEZA-CE
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PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA CIDADE DE FORTALEZA-CE

ANEXO A – MAPA AFETIVO 01 (PRAIA DE IRACEMA)


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PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA CIDADE DE FORTALEZA-CE
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PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA CIDADE DE FORTALEZA-CE

ANEXO B – MAPA AFETIVO 02 (CENTRO)


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PERCURSOS URBANOS: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DO CAMINHAR NO CENTRO DA CIDADE DE FORTALEZA-CE

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