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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE TECNOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO
MESTRADO PROFISSIONAL EM ARQUITETURA, PROJETO E MEIO AMBIENTE

DINARA REGINA AZEVEDO GADELHA

MEMÓRIAS DA ALEGRIA: UMA PROPOSTA DE ESPAÇO


CULTURAL E DE ECONOMIA SOLIDÁRIA PARA UMA EDIFICAÇÃO DE
VALOR PATRIMONIAL NO BAIRRO DE CIDADE ALTA, NATAL-RN

Natal, fevereiro de 2020.


DINARA REGINA AZEVEDO GADELHA

MEMÓRIAS DA ALEGRIA: UMA PROPOSTA DE ESPAÇO


CULTURAL E DE ECONOMIA SOLIDÁRIA PARA UMA EDIFICAÇÃO DE
VALOR PATRIMONIAL NO BAIRRO DE CIDADE ALTA, NATAL-RN

Trabalho de conclusão submetido ao


Mestrado Profissional em Arquitetura, Projeto
e Meio-ambiente do Programa de Pós-
graduação em Arquitetura e Urbanismo da
Universidade Federal do Rio Grande do
Norte, sob a forma de Projeto Arquitetônico e
respectivo Relatório Técnico, como parte dos
requisitos para a obtenção do título de mestre
profissional.
Orientador(a): Prof. Dr. José Clewton do
Nascimento

Natal, fevereiro de 2020.


Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Prof. Dr. Marcelo Bezerra de Melo Tinôco - DARQ - -CT

Gadelha, Dinara Regina Azevedo.


Memórias da alegria: uma proposta de espaço cultural e de
economia solidária para uma edificação de valor patrimonial no
bairro de Cidade Alta, Natal-RN / Dinara Regina Azevedo Gadelha.
- Natal, RN, 2020.
188f.: il.

Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande do


Norte. Centro de Tecnologia. Departamento de Arquitetura e
Urbanismo.
Orientador: José Clewton do Nascimento.

1. Patrimônio cultural edificado - Intervenção - Dissertação.


2. Economia solidária - Dissertação. 3. Praça Padre João Maria -
Dissertação. I. Nascimento, José Clewton do. II. Universidade
Federal do Rio Grande do Norte. III. Título.

RN/UF/BSE15 CDU 719

Elaborado por Ericka Luana Gomes da Costa Cortez - CRB-15/344


DINARA REGINA AZEVEDO GADELHA

MEMÓRIAS DA ALEGRIA:
Uma proposta de Espaço Cultural e de Economia Solidária para uma
edificação de valor patrimonial no bairro de Cidade Alta, Natal-RN.

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Programa de Pós-graduação


em Arquitetura, Projeto e Meio Ambiente, curso de Mestrado Profissional, da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como parte dos requisitos para
obtenção do título de MESTRE.

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________
Prof. Dr. José Clewton do Nascimento
Orientador – UFRN

____________________________________________
Prof.ª Dr.ª Ana Carolina de Souza Bierrenbach
Examinador externo – UFBA

____________________________________________
Prof.ª Dr.ª Maísa Fernandes Dutra Veloso
Examinador interno – UFRN
AGRADECIMENTOS

Apesar de oficialmente este ser um trabalho individual, entendo que ele é


também de cada um daqueles que de alguma forma contribuíram com a minha jornada
ao longo de quase dois anos de curso. A vocês a minha eterna gratidão.
Muito obrigada a todos os professores e professoras do curso, por cada
ensinamento que tive o privilégio de receber. Em especial a Clewton, por guiar meus
passos, e pelas melhores frases de motivação. “Precisamos ser criativos e resistentes!”
Agradeço em especial a Markes. Ambos sabemos que foi o seu desejo de me
ver alçar voos maiores, e a certeza de que você me apoiaria a cada instante, que me
fizeram ter a coragem necessária para voltar à universidade depois de tantos anos.
Minha eterna gratidão também aos meus pais, que tanto se esforçaram para dar
uma educação de qualidade aos filhos.
Obrigada a Aninha, Jô, Rosinha e Liginha, pelo amor com que diversas vezes
me apoiaram, ouvindo, incentivando ou compartilhando a dança. A nossa “Tenda
Vermelha” me fez mais forte para seguir em frente.
Agradeço aos amigos e amigas do RPG, Boardgames & Baganas, Raimar,
Izelma, Aninha, Erich e Macilau, pelas tardes de “ócio criativo” aos domingos. Vocês me
proporcionaram a alegria necessária para começar cada semana pensando nas
“Memórias da Alegria”.
Obrigada a Dianna, pelos livros emprestados, sugestões projetuais, pelos
conselhos e incentivo. E por me fazer lembrar que mesmo os momentos mais cansativos
também são passageiros.
Obrigada a Karenine, pelas orientações com o Lumion, por todas as informações
que me ajudaram ao longo do caminho, pelo carinho, palavras amigas e paciência com
minhas milhares de perguntas. A Ana, Vera e Carol pela ajuda com a identificação das
árvores da praça.
Aos amigos da turma do Mestrado Profissional, obrigada por essa jornada em
que juntos aprendemos tantos ensinamentos, compartilhamos problemas e soluções,
alegrias e aperreios.
Agradeço também a todos pela paciência diante da minha ausência em diversos
momentos, em virtude da eterna agenda ocupada com os estudos.
RESUMO
Este trabalho de conclusão de mestrado profissional consiste em uma proposta
arquitetônica de um edifício de uso misto destinado a um espaço cultural e de economia
solidária com ênfase em questões relacionadas a intervenções em edifícios de valor
patrimonial. Este documento é composto por um relatório técnico e uma proposta
arquitetônica em nível de anteprojeto. Foi desenvolvido com o objetivo de propor um
projeto de intervenção em uma edificação de valor patrimonial, tendo em vista os
problemas relativos à adaptação deste tipo de edificação a demandas contemporâneas,
como acessibilidade e conforto ambiental, além da adequação a um novo uso. Para
desenvolver a proposta arquitetônica, foi inicialmente realizado um aprofundamento
teórico-conceitual sobre o tema, através de pesquisas bibliográficas e estudos de
referências projetuais (precedentes ou correlatos). Em seguida, foi desenvolvida a
programação arquitetônica, com definição de dilemas e metas do projeto. A partir dessa
base, e com o auxílio das disciplinas do curso, o processo projetual foi gradualmente
sendo desenvolvido e mapeado, através de diversas formas de registro em meios
analógicos e digitais, desde as etapas iniciais de estudos de condicionantes, concepção
e desenvolvimento do partido arquitetônico. Tendo em vista os objetivos específicos, o
trabalho procurou estudar estratégias arquitetônicas para proporcionar a integração
entre edificação e entorno, buscando contribuir positivamente para as condições de
autenticidade e integridade da edificação, à luz de posturas intervencionistas
contemporâneas, valorizando as características preexistentes. Como resultado dos
estudos (e simulações) realizados, chegou-se a uma proposta que ampliou o número
de pavimentos, a fim de atender o novo uso, ao mesmo tempo em que interviu
minimamente na envoltória da edificação preexistente e traçou diretrizes em relação ao
entorno. A integração refletiu-se tanto de forma física quanto visual, com soluções
voltadas para o fortalecimento da relação entre edificação e entorno, além do
envolvimento da comunidade, através da aplicação do conceito de economia solidária
como uma forma de gestão centrada nos trabalhadores locais.
Palavras-chave: Projeto Arquitetônico; Praça Padre João Maria; Intervenção em
Patrimônio Cultural Edificado; Economia Solidária.
ABSTRACT
This work of completion of professional masters consists in an architectural proposal of
a mixed use building destined to a cultural space and of solidarity economy with
emphasis on issues related to interventions in buildings of patrimonial value. This
document is composed of a technical report and an architectural proposal at draft level.
It was developed with the purpose of proposing a project of intervention in a building of
patrimonial value, considering the problems related to the adaptation of this type of
building to contemporary demands, such as accessibility and environmental comfort,
besides the adequacy to a new use. In order to develop the architectural proposal, it was
initially carried out a theoretical-conceptual deepening on the subject, through
bibliographical researches and studies of project references (precedents or correlates).
Next, the architectural programming was developed, with the definition of dilemmas and
project goals. From this base, and with the aid of the course subjects, the project process
was gradually developed and mapped, through various forms of registration in analog
and digital media, from the initial stages of study of conditioners, conception and
development of the architectural party. In view of the specific objectives, the work sought
to study architectural strategies to provide the integration between building and
environment, seeking to contribute positively to the conditions of authenticity and integrity
of the building, in the light of contemporary interventionist postures, valuing the
preexisting characteristics. As a result of the studies (and simulations) carried out, a
proposal was reached that expanded the number of pavements in order to meet the new
use, at the same time as intervening minimally in the envelope of the pre-existing building
and drew guidelines regarding the surroundings. The integration was reflected in both
physical and visual form, with solutions aimed at strengthening the relationship between
building and environment, as well as the involvement of the community, by applying the
concept of solidarity economy as a form of management centered on local workers.

Keywords: Architectural project; Padre João Maria Square; Intervention in Built Cultural
Heritage; Solidarity Economy.
LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Localização do imóvel nº 71, a edificação escolhida. ................................... 13


Figura 2: Áreas do item “praças do Centro Histórico” contempladas pelo PAC. .......... 16
Figura 3: Localização da edificação escolhida em relação à Praça Padre João Maria.
................................................................................................................................... 17
Figura 4: mosaico de fotos e cartazes de eventos ocorridos na Praça P. João Maria em
2018. .......................................................................................................................... 18
Figura 5: Escala entre posturas intervencionistas apresentadas por Tiesdell, Oc e
Heath .......................................................................................................................... 29
Figura 6: Escala da relação entre categorias de Tiesdell, Oc e Heath e os conceitos de
autenticidade e integridade ......................................................................................... 30
Figura 7: Fluxo de ordens e informações: diferença entre heterogestão e autogestão.
................................................................................................................................... 33
Figura 8: Relação de motivos que levaram à criação dos EES em Natal. ................... 34
Figura 9: Esferas de atuação do CRAB. ..................................................................... 38
Figura 10: Equipamentos culturais no entorno da Praça Tiradentes. .......................... 39
Figura 11: Visita guiada com alunos de uma escola do Rio de Janeiro....................... 40
Figura 12: Evento circense realizado na Praça Tiradentes ......................................... 40
Figura 13: As três edificações que compõem o Crab. ................................................. 40
Figura 14: Distribuição dos ambientes no nível térreo................................................. 41
Figura 15: Acesso ao CRAB ....................................................................................... 41
Figura 16: Distribuição dos ambientes no primeiro andar. .......................................... 42
Figura 17: Espaço destinado a exposição de Artesanato. ........................................... 42
Figura 18: Vista da Midiateca do CRAB ...................................................................... 42
Figura 19: Vista de um dos ambientes de exposição .................................................. 42
Figura 20: Vista da Galeria Pop Up, um dos espaços destinados à exposição. .......... 42
Figura 21: Vista superior do café ................................................................................ 43
Figura 22: Distribuição dos ambientes no segundo andar. .......................................... 43
Figura 23: Vista da Praça Tiradentes a partir do terraço, no segundo andar ............... 44
Figura 24: Uma das oficinas realizadas no CRAB....................................................... 44
Figura 25: Vista do terraço a partir do Espaço Oficina ................................................ 44
Figura 26: Salas de oficina, ao lado do terraço, no segundo andar ............................. 44
Figura 27: O Crab antes da intervenção. .................................................................... 45
Figura 28: O Crab após a intervenção. Em destaque as novas estátuas. ................... 45
Figura 29: Em vermelho, enquadramento da obra em relação às categorias propostas
por Tiesdell, Oc e Heath. ............................................................................................ 46
Figura 30: Localização da edificação. ......................................................................... 46
Figura 31: Vista das fachadas frontais da edificação. ................................................. 47
Figura 32: Na parte de cima da imagem o mezanino, com vigas e pilares metálicos. . 47
Figura 33: Planta do Subsolo, cuja criação foi possível a partir da nova estrutura
metálica ...................................................................................................................... 47
Figura 34: Planta baixa do pavimento térreo ............................................................... 48
Figura 35: Planta do segundo pavimento, onde se observa o afastamento do
pavimento em relação às fachadas............................................................................. 48
Figura 36: Terceiro pavimento, onde se observa um rebaixo da laje contornando as
fachadas. .................................................................................................................... 49
Figura 37: Terceiro pavimento, com rebaixo contornando as fachadas e dando acesso
às sacadas, e claraboia. ............................................................................................. 49
Figura 38: Vista externa da sacada............................................................................. 49
Figura 39: Em vermelho, enquadramento da obra em relação às categorias propostas
por Tiesdell, Oc e Heath. ............................................................................................ 50
Figura 40: Localização do conjunto arquitetônico ....................................................... 51
Figura 41: Aquarela da fachada de um dos edifícios, elaborada pelo arquiteto
Lutzenberger .............................................................................................................. 51
Figura 42: Pranchas de uma das edificações do conjunto, elaboradas pelo arquiteto
Lutzenberger .............................................................................................................. 52
Figura 43: Parte do conjunto antes das obras de recuperação. .................................. 52
Figura 44: O Vila Flores em dia de evento cultural ...................................................... 53
Figura 45: Painel do projeto apresentado na 15ª Bienal de Veneza ............................ 54
Figura 46: Zoneamento por tipos de uso..................................................................... 55
Figura 47: Classificação dos tipos de acesso, conforme cor das setas. ...................... 55
Figura 48: Diagrama de acessibilidade ....................................................................... 55
Figura 49: Sistemas ambientais por edificação ........................................................... 56
Figura 50: Vista do pátio durante evento..................................................................... 57
Figura 51: Evento noturno realizado no pátio. ............................................................. 57
Figura 52: Um dos fluxos possíveis entre o pátio e o entorno ..................................... 57
Figura 53: Enquadramento da proposta com base nas categorias de Tiesdell, Oc,
Heath (1996) ............................................................................................................... 58
Figura 54: Vista da fachada externa, sem aparentes alterações ................................. 58
Figura 55: Detalhe da fachada externa, com elementos preservados. ........................ 58
Figura 56: Vista de um dos blocos a partir da rua. ...................................................... 59
Figura 57: Vista do bloco em frente ao galpão ............................................................ 59
Figura 58: Definição do universo de estudo. Em destaque, marcos que influenciaram
na escolha e o imóvel da proposta.............................................................................. 62
Figura 59: Mapa de Uso do Solo do entorno da edificação. ........................................ 63
Figura 60: Gráfico relativo à porcentagem de uso por tipo. ......................................... 63
Figura 61: Mapa de domínios ..................................................................................... 65
Figura 62: Mapa de cheios e vazios............................................................................ 65
Figura 63: Mapa de Gabarito ...................................................................................... 66
Figura 64: Gráfico da porcentagem por tipo de gabarito. ............................................ 66
Figura 65: À direita, a loja Paris em Natal, de propriedade de Aureliano de Medeiros, e
situada no bairro da Ribeira. ....................................................................................... 68
Figura 66: Zoneamento dos usos atuais. .................................................................... 68
Figura 67: Foto da Praça Padre João Maria a partir da Igreja Matriz. Em destaque, a
edificação existente à época. ...................................................................................... 69
Figura 68: Registro da fachada frontal nos anos 70. ................................................... 70
Figura 69: Planta baixa do primeiro momento (entre 1920 e 1930) ............................. 72
Figura 70: Planta baixa do segundo momento (entre 1930 e 2000) ............................ 73
Figura 71: Registro fotográfico da edificação no ano 2000 ......................................... 74
Figura 72: Detalhe da placa comercial nos anos 1970 ................................................ 74
Figura 73: Vista aérea da edificação. Em destaque, o volume dos fundos.................. 75
Figura 74: Planta baixa do terceiro momento (2019) .................................................. 76
Figura 75: Ao centro, portão de acesso à edificação pela Rua Voluntários da Pátria. . 76
Figura 76: Vista da fachada voltada para a Voluntários da Pátria, já totalmente
obstruída..................................................................................................................... 77
Figura 77: A edificação atualmente ............................................................................. 77
Figura 78: A praça nos anos 1920, quando ainda não existia a via para veículos. Ao
fundo, a Igreja Matriz. ................................................................................................. 78
Figura 79: Via a que separa a edificação da praça. .................................................... 79
Figura 80: Detalhes em baixo relevo na fachada frontal voltada para a praça ............ 80
Figura 81: Platibanda na fachada frontal voltada para a Rua Voluntários da Pátria .... 80
Figura 82: Consoles no volume central da edificação ................................................. 80
Figura 83: Arco abatido sobre janela .......................................................................... 81
Figura 84: Ladrilho hidráulico da sala de jantar ........................................................... 81
Figura 85: Vista da frente da edificação ...................................................................... 82
Figura 86: Vista da Praça Padre João Maria a partir da edificação escolhida. ............ 83
Figura 87: Isovista a partir da frente da edificação. ..................................................... 83
Figura 88: Isovista com todos os pontos analisados a partir do entorno. .................... 84
Figura 89: Vista a partir da esquina da Rua João Pessoa com a Vigário Bartolomeu. 84
Figura 90: Localização do Município e da proposta dentro do bairro de Cidade Alta. . 86
Figura 91: Recomendações para a Zona 8 do Zoneamento Climático Brasileiro. ....... 87
Figura 92: Carta Psicométrica para Natal/RN, considerando todos os meses e
horários....................................................................................................................... 88
Figura 93: Carta Psicométrica para Natal/RN, considerando o horário comercial, entre
8h e 22h...................................................................................................................... 89
Figura 94: Rosa dos ventos para Natal, para o ano de 2009. ..................................... 89
Figura 95: Localização da edificação e pontos de referência. ..................................... 90
Figura 96: Vista da fachada voltada para a Rua Voluntários da Pátria, com aberturas
obstruídas ................................................................................................................... 90
Figura 97:Azimute e nomenclatura das fachadas ....................................................... 91
Figura 98: Modelagem da edificação (em destaque) e entorno no Ecotect. ................ 92
Figura 99: Máscara de sombra da fachada nordeste .................................................. 92
Figura 100: Fachada nordeste (com a abertura), com edificação vizinha à sua frente.93
Figura 101: Máscara de sombra da fachada nordeste. ............................................... 93
Figura 102: Máscara de sombra da fachada sudoeste................................................ 93
Figura 103: Máscara de sombra da fachada sudeste.................................................. 94
Figura 104: Fachada sudeste, com retângulo em frente representando o Banco do
Nordeste. .................................................................................................................... 95
Figura 105: Máscara de sombra da fachada sudeste.................................................. 95
Figura 106: Máscara de sombra da fachada noroeste ................................................ 95
Figura 107: Fachada noroeste com muro à frente ...................................................... 96
Figura 108: Máscara de sombra da fachada noroeste ................................................ 96
Figura 109: Modelagem do ambiente construído. Em vermelho, ao centro, o primeiro
ponto. ......................................................................................................................... 97
Figura 110: Diagrama relativo à parcela de céu visível e obstruções no primeiro ponto
................................................................................................................................... 97
Figura 111: Interface do programa, em destaque os resultados relativos ao FVC e a
limitação do horizonte ................................................................................................. 98
Figura 112: Modelagem do ambiente construído. Ao centro, o segundo ponto (em
vermelho) marca a localização escolhida.................................................................... 98
Figura 113: Diagrama relativo à parcela de céu visível e obstruções no segundo ponto
escolhido .................................................................................................................... 98
Figura 114: Modelagem do ambiente construído. Ao centro, o terceiro ponto (em
vermelho) marca a localização escolhida.................................................................... 99
Figura 115: Diagrama relativo à parcela de céu visível e obstruções no terceiro ponto
escolhido .................................................................................................................... 99
Figura 116: Simulação referente à ventilação (em destaque, a edificação), em que azul
escuro corresponde à velocidade do ar próxima a zero. ........................................... 100
Figura 117: Em destaque, parte da edificação, na esquina da Rua Voluntários da
Pátria e a formação de esteira de vento em azul ...................................................... 101
Figura 118: Simulação relativa às pressões nas fachadas da edificação .................. 101
Figura 119: Simulação relativa às variações de pressão no entorno da edificação, em
destaque. .................................................................................................................. 102
Figura 120: Comportamento dos ventos em relação às aberturas ............................ 102
Figura 121: propriedades térmicas da cobertura em telha de fibrocimento e forro de
madeira..................................................................................................................... 105
Figura 122: Porta interna com bandeira que permite a circulação do ar ................... 107
Figura 123: Porta de entrada com veneziana que favorece a circulação do ar ......... 107
Figura 124: Vista da cobertura situada na fachada sudeste ...................................... 108
Figura 125: Vista da cobertura sobre a porta de entrada e janelas na fachada sudoeste
................................................................................................................................. 108
Figura 126: Localização da edificação em relação à Poligonal de Tombamento do
IPHAN ...................................................................................................................... 109
Figura 127: Subzonas da ZEPH e localização do imóvel na Subzona 02. ................ 110
Figura 128: Recuos estabelecidos pelo Plano Diretor de Natal................................. 111
Figura 129: Dilemas e metas relativos à proposta. ................................................... 114
Figura 130: Mapeamento do processo de projeto segundo Lawson. ........................ 115
Figura 131: Localização das ocupações permanentes.............................................. 116
Figura 132: Choro no Caçuá, um dos exemplos de ocupação temporária. Ocorre duas
vezes por mês na praça Padre João Maria. .............................................................. 117
Figura 133: Barracas de artesanato ao lado do Banco do Nordeste ......................... 117
Figura 134: Barracas de artesanato em frente à edificação escolhida. ..................... 117
Figura 135: Casa do Cordel, na Rua Vigário Bartolomeu. ......................................... 118
Figura 136: Estação do Cordel, em frente a Praça P. João Maria. ............................ 118
Figura 137: O Beco da Lama após intervenções artísticas ....................................... 118
Figura 138: Na esquina, o Museu Café Filho ............................................................ 118
Figura 139: Banca utilizada atualmente pelos artesãos. ........................................... 121
Figura 140: Exemplo de mobiliário utilizado para exposição de artesanato, com
prateleiras. ................................................................................................................ 121
Figura 141: Área ocupada para exposição e armazenamento de livros. ................... 123
Figura 142: Loja virtual do sebo, atualmente com mais de dois mil livros anunciados
................................................................................................................................. 123
Figura 143: Quiosque Tapioca.com .......................................................................... 124
Figura 144: Cardápio do quiosque, com diversas opões de bebidas e refeições. ..... 124
Figura 145: Layout pensado para o atelier ................................................................ 126
Figura 146: O programa e o seu pré-dimensionamento. ........................................... 127
Figura 147: Funcionograma da proposta. ................................................................. 127
Figura 148: Fachada da Rua Voluntários da Pátria, onde se observa a edificação da
proposta em segundo plano...................................................................................... 133
Figura 149: Vista do entorno da edificação. .............................................................. 133
Figura 150: Enquadramento da proposta em relação às categorias de Tiesdell, Oc e
Heath ........................................................................................................................ 134
Figura 151: pilares e áreas de atuação da Artesol. ................................................... 135
Figura 152: Mosaico de fotos referente à produção artesanal da Aproarti. ............... 136
Figura 153: Primeiro estudo, voltado para a relação entre edificação e entorno. ...... 138
Figura 154: Mirante e deck lateral a partir da fachada frontal da edificação. ............. 138
Figura 155: Estudo volumétrico para criação de um espaço destinado à escada. .... 139
Figura 156: Estudo da fachada voltada para a Rua Voluntários da Pátria................. 139
Figura 157: Segundo estudo volumétrico para a cobertura da escada. ..................... 140
Figura 158: Estudo volumétrico da cobertura da escada e acesso ao mezanino. ..... 141
Figura 159: Visualização a partir da esquina entre a praça e a Rua Voluntários da
Pátria ........................................................................................................................ 141
Figura 160: A partir da fachada frontal não se percebe a existência da nova cobertura
nos fundos ................................................................................................................ 141
Figura 161: Primeiros estudos da estrutura (em vermelho). ...................................... 142
Figura 162: Estudo do mezanino sobre a estrutura. .................................................. 142
Figura 163: Diretrizes de intervenção no entorno da edificação ................................ 143
Figura 164: Detalhamento das soluções adotadas (em preto) e descartadas (em
vermelho).................................................................................................................. 144
Figura 165: Planta baixa do pavimento térreo. .......................................................... 146
Figura 166: Reabertura de portas e janelas (destacadas em azul) para o exterior. ... 147
Figura 167: Planta baixa do mezanino. ..................................................................... 148
Figura 168: Vista da loja colaborativa e mezanino. ................................................... 149
Figura 169: Vista do mezanino (espaço do sebo/café).............................................. 149
Figura 170: Planta baixa do terraço. ......................................................................... 150
Figura 171: Vista do entorno a partir do mirante (ao fundo a torre da Igreja Matriz). . 151
Figura 172: Em vermelho, o espaço destinado para o reservatório de água da chuva.
................................................................................................................................. 151
Figura 173: Vista de um dos ambientes do volume posterior. Aos fundos a parede que
faz divisa com o lote vizinho. .................................................................................... 152
Figura 174: em destaque a platibanda e cimalha do volume posterior. ..................... 152
Figura 175: Forro da sala de jantar. .......................................................................... 153
Figura 176: Forro de um dos quartos (sebo/café na proposta).................................. 153
Figura 177: Forro do hall de entrada. ........................................................................ 153
Figura 178: Acesso entre o hall de entrada e a sala de jantar, interseccionado pela
parede do ambiente construído a partir da sala de jantar. ........................................ 154
Figura 179: Detalhe da parede do novo ambiente sobre o ladrilho hidráulico da sala de
jantar. ....................................................................................................................... 154
Figura 180: Fatores que influenciaram na decisão de remoção das paredes. ........... 155
Figura 181: Vista do sebo/café (térreo), em que se observa a marcação da parede da
sala de jantar, que foi removida. ............................................................................... 156
Figura 182: Comportamento dos ventos em relação a entradas e saídas de ar na
planta proposta. ........................................................................................................ 156
Figura 183: Fachada da Rua Voluntários da Pátria, onde se observa o deck e a rampa.
................................................................................................................................. 157
Figura 184: Nova escada, cobertura e elemento de marcação da entrada do mezanino.
................................................................................................................................. 158
Figura 185: Sequência de elaboração do painel a partir do ladrilho hidráulico da sala
de jantar.................................................................................................................... 159
Figura 186: Simulação da fachada nordeste com a nova cobertura .......................... 160
Figura 187: Máscara de sombra da fachada nordeste após a inserção da nova
cobertura .................................................................................................................. 160
Figura 188: Vista da fachada da edificação, na qual se observa o pergolado à
esquerda................................................................................................................... 160
Figura 189: Simulação do pergolado na fachada noroeste ....................................... 161
Figura 190: Máscara de sombra da fachada noroeste com pergolado ...................... 161
Figura 191: Exemplo de plataforma inclinada para escadas ..................................... 162
Figura 192: Posicionamento das plataformas vertical e inclinada. ............................ 162
Figura 193: Intervenções propostas para a Praça Padre João Maria e entorno. ....... 163
Figura 194: Vista da via elevada entre a praça e a edificação e da área de
intervenções artísticas. ............................................................................................. 163
Figura 195: Ipês amarelos incluídos na proposta. ..................................................... 164
Figura 196: Vista da proposta para a Praça Padre João Maria. ................................ 164
Figura 197: A Praça Padre João Maria nos anos 1940. ............................................ 165
Figura 198: A Estação da Luz no ano de 1900, onde se observa a estrutura metálica.
................................................................................................................................. 167
Figura 199: Corte esquemático, em que se observa as alturas das coberturas e da
platibanda em relação ao nível do piso. .................................................................... 168
Figura 200: Fachada voltada para a Rua Voluntários da Pátria, onde se observa o
deck externo, composto por perfis metálicos e piso de vidro. ................................... 168
Figura 201: Vista do pórtico e da escada. ................................................................. 169
Figura 202: Escada executada com chapa metálica. ................................................ 169
Figura 203: Composição do Steel Deck .................................................................... 171
Figura 204: Sistema de instalação do ACM com total estanqueidade, através do uso
de silicone. ................................................................................................................ 172
Figura 205: Dilema relativo às necessidades contemporâneas e suas metas ........... 175
Figura 206: Dilema relativo à acessibilidade suas metas .......................................... 176
Figura 207: Dilema relativo ao conforto térmico e suas metas .................................. 177
Figura 208: Dilema relativo à autenticidade e integridade e suas metas ................... 178
Figura 209: Vista da edificação em que a intervenção é pouco perceptível. ............. 178
Figura 210: Vista a partir da Rua Voluntários da Pátria, onde é perceptível a nova
cobertura. ................................................................................................................. 179
LISTA DE QUADROS

Quadro 1:Relação de projetos aprovados pelo PAC Cidades Históricas..................... 15


Quadro 2: Procedimentos metodológicos ................................................................... 23
Quadro 3: Classificação dos estudos de referências segundo Elali e Veloso .............. 37
Quadro 4: Resumo da análise formal realizada no presente item ............................... 81
Quadro 5: Parâmetros relativos a propriedades térmicas dos materiais segundo as
normas NRB 15220, RTQ-C e NBR 15575 ............................................................... 103
Quadro 6: Prescrições urbanísticas da Subzona 02 da Lei 3.942/90. ....................... 111
Quadro 7: Relação das principais atividades e ambientes ........................................ 120
Quadro 8: Área e dados relativos a faturamento e retorno de três franquias de café.125
Quadro 9: Questões projetuais e soluções para cada atividade e ambiente ............. 129
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 13
1.1 PROBLEMÁTICA .......................................................................................... 14
1.2 OBJETO E OBJETIVOS ............................................................................... 19
1.3 JUSTIFICATIVA ............................................................................................ 20
1.4 ESTRUTURA DO RELATÓRIO E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 21
2 REFERENCIAL TEÓRICO-CONCEITUAL ................................................... 25
2.1 TEMA ............................................................................................................ 25
2.2 SOBRE POSTURAS INTERVENCIONISTAS ............................................... 25
2.3 O CONCEITO DE ECONOMIA SOLIDÁRIA E O CONTEXTO BRASILEIRO 31
3 ESTUDOS DE REFERÊNCIA ....................................................................... 37
3.1 CENTRO SEBRAE DE REFERÊNCIA DO ARTESANATO BRASILEIRO
(CRAB) ......................................................................................................... 37
3.2 MIGUEL COUTO/CITÉ ARQUITETURA ....................................................... 46
3.3 VILA FLORES ............................................................................................... 50
3.4 SÍNTESE DOS ESTUDOS ............................................................................ 59
4 CONDICIONANTES PROJETUAIS .............................................................. 61
4.1 A ÁREA E O TERRENO/LOCAL DE INTERVENÇÃO................................... 61
4.1.1 USO DO SOLO ............................................................................................. 62
4.1.2 OCUPAÇÃO DO SOLO ................................................................................ 64
4.1.3 GABARITO ................................................................................................... 66
4.2 RECONHECIMENTO DO BEM E SEU ENTORNO....................................... 67
4.2.1 HISTÓRICO .................................................................................................. 67
4.2.2 ANÁLISE FORMAL ....................................................................................... 71
4.3 ASPECTOS FÍSICOS E AMBIENTAIS.......................................................... 82
4.3.1 AMBIENTE CONSTRUÍDO EXISTENTE ...................................................... 90
4.3.2 INSOLAÇÃO, SOMBREAMENTO E FATOR DE VISÃO DO CÉU ................ 91
4.3.3 VENTILAÇÃO ............................................................................................... 99
4.3.4 ANÁLISES RELATIVAS ÀS PROPRIEDADES TÉRMICAS DOS
ELEMENTOS CONSTRUTIVOS ................................................................. 103
4.3.5 RECOMENDAÇÕES DE ESTRATÉGIAS BIOCLIMÁTICAS ....................... 106
4.4 ASPECTOS LEGAIS................................................................................... 108
5 A DEFINIÇÃO DO PROBLEMA E O PÚBLICO ALVO............................... 113
6 PROGRAMA ARQUITETÔNICO E O SEU DIMENSIONAMENTO............. 120
6.1 LOJA COLABORATIVA .............................................................................. 121
6.2 SEBO .......................................................................................................... 122
6.3 CAFÉ .......................................................................................................... 124
6.4 ATELIER ..................................................................................................... 125
6.5 TERRAÇO/DECK EXTERNO...................................................................... 126
6.6 BANHEIROS ............................................................................................... 126
7 CONCEPÇÃO E PROCESSO PROJETUAL .............................................. 129
7.1 O DESENVOLVIMENTO DO CONCEITO E A DEFINIÇÃO DO PARTIDO . 130
7.2 A POSTURA INTERVENCIONISTA ADOTADA .......................................... 134
7.3 A RELAÇÃO DA ECONOMIA SOLIDÁRIA COM A PROPOSTA ................ 135
7.4 O DESENVOLVIMENTO DA PROPOSTA .................................................. 137
8 DETALHAMENTO DA PROPOSTA FINAL ................................................ 145
8.1 PAREDES ................................................................................................... 153
8.2 DECK .......................................................................................................... 157
8.3 ESCADA DO MEZANINO E SUA COBERTURA......................................... 158
8.4 PERGOLADO ............................................................................................. 160
8.5 ACESSIBILIDADE....................................................................................... 161
8.6 ENTORNO .................................................................................................. 162
8.7 SISTEMA CONSTRUTIVO ......................................................................... 165
8.7.1 SOBRE PERFIS METÁLICOS .................................................................... 170
8.7.2 SOBRE STEEL DECK ................................................................................ 170
8.7.3 SOBRE ACM .............................................................................................. 171
8.7.4 SOBRE PISO DE VIDRO ............................................................................ 173
8.7.5 A RELAÇÃO ENTRE A PROPOSTA E A POSTURA INTERVENCIONISTA
ADOTADA................................................................................................... 173
9 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................ 175
REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 180
APÊNDICE A – Cálculos relativos às propriedades térmicas dos materiais ...... 186
APÊNDICE B – Cálculos relativos aos reservatórios de água ............................. 187
13

1 INTRODUÇÃO

O presente relatório trata do anteprojeto de uma proposta de intervenção em uma


edificação de valor patrimonial (imóvel nº 71) localizada no bairro de Cidade Alta (Figura 1),
no município de Natal, como parte dos requisitos necessários para conclusão do curso de
Mestrado Profissional em Arquitetura, Projeto e Meio Ambiente da Universidade Federal do
Rio Grande do Norte.

Figura 1: Localização do imóvel nº 71, a edificação escolhida.

Fonte: adaptado de Google Earth, 2019.

Através deste relatório busca-se apresentar a problemática relativa à proposta, qual o


seu objeto de estudo e objetivos, sua justificativa e procedimentos metodológicos, além da
descrição de todo o processo que levou à presente versão final do estudo.
Projetar intervenções em edificações de valor patrimonial é um cuidadoso trabalho que
demanda uma série de análises complexas relativas ao bem em que se pretende intervir. São
as decisões projetuais tomadas com embasamento e critérios que permitirão o alcance de um
resultado que reconheça a importância dos valores históricos e artísticos da obra.
Objetivando, portanto, a construção de um embasamento e de um repertório que
subsidie o desenvolvimento da proposta, o relatório contém um referencial teórico-conceitual,
estudos de referência relativos a outros projetos que de alguma forma apresentam relação
com a proposta, condicionantes projetuais, estudos relativos ao problema de projeto, seu
público alvo e programa arquitetônico. Estas análises fornecem o arcabouço necessário para,
em seguida, ser definida a postura intervencionista, traçar a relação da economia solidária
com a proposta e posteriormente concebê-la a partir de um conceito preestabelecido.
14

O referencial teórico é parte necessária para a fundamentação da proposta e


compreensão de conceitos aplicados a ela, como as posturas intervencionistas relativas a
edificações de valor patrimonial e a economia solidária.
Os estudos de referência, por sua vez, são resultado da busca por projetos
arquitetônicos que, em virtude de soluções aplicadas a questões projetuais semelhantes,
apresentam relação com a proposta.
Os condicionantes projetuais dizem respeito aos aspectos físicos e ambientais
relativos ao universo de estudo, como recomendações referentes ao tipo de clima do local e
estratégias bioclimáticas aplicáveis, além dos aspectos legais, como exigências referentes a
prescrições urbanísticas e de acessibilidade.
A postura intervencionista adotada diz respeito à conduta que se pretende seguir em
relação a decisões projetuais que precisaram ser tomadas ao longo do desenvolvimento do
anteprojeto.
A construção da relação do conceito de economia solidária com a proposta busca
expressar, de forma prática, por meio de exemplos concretos, o tipo de empreendimento que
se pretende para a edificação em questão.
A concepção e processo projetual da proposta diz respeito ao processo de
desenvolvimento desta, e inclui a definição do conceito e sua relação com o partido, os
primeiros esboços e estudos volumétricos e o caminho traçado até se chegar no detalhamento
da proposta final, em que são apresentadas as soluções adotadas e suas justificativas,
levando-se em consideração os condicionantes identificados anteriormente, e tendo como
base a fundamentação teórica e os estudos de referência.

1.1 PROBLEMÁTICA

O centro histórico de Natal, no qual se incluem os bairros de Cidade Alta e Ribeira, é


marcado pela presença de diversas edificações em estado de abandono. Há também aquelas
que embora se encontrem em uso, foram descaracterizadas por intervenções feitas sem
preocupação com a sua preservação. A este respeito, Souza afirma:

O deslocamento de atividades políticas, econômicas e culturais para outras


áreas da cidade, ou seja, a produção de novas centralidades, contribui para
o esvaziamento e a degradação dos bairros centrais, Cidade Alta e Ribeira.
Os sinais de declínio do Centro Histórico de Natal são perceptíveis pelo
abandono do patrimônio histórico edificado, que apresenta deterioração
acentuada pela subutilização da infraestrutura urbana e pelo esvaziamento
nas noites e finais de semana [...]. (SOUZA, 2013, p. 99)

Por outro lado, mesmo diante do declínio citado, há iniciativas pontuais que se
apresentam como impactos positivos diante do quadro apresentado. No bairro de Cidade Alta
15

pode-se citar o caso do campus do IFRN, na Avenida Rio Branco, que consistiu em uma obra
de restauro de uma edificação de relevante valor histórico, tombada pelo Governo do Estado,
cuja inauguração ocorreu no ano de 2009. O novo uso trouxe vitalidade ao entorno imediato.
Em 2012 foi oficializado pela Lei Municipal nº 0353 o Espaço Cultural Ruy Pereira, que se
situa na lateral do edifício do IFRN. Antes da inauguração do campus, o espaço era na
verdade a Rua Professor Zuza, que após a instalação do IFRN passou a receber diversos
eventos culturais. Este cenário atraiu novos olhares e culminou na iniciativa do legislativo de
renomear a via pública. Embora o nome dado tenha sido questionado pela comunidade
artística, a iniciativa demonstrou a importância que adquiriu o entorno do prédio após o seu
restauro.
Ainda no que se refere às ações e projetos de iniciativa pública visando a preservação
do patrimônio, em 2013 Natal teve dez projetos aprovados no PAC Cidades Históricas,
programa do governo federal destinado à preservação do patrimônio brasileiro, relacionados
no quadro abaixo.

Quadro 1:Relação de projetos aprovados pelo PAC Cidades Históricas


Projetos aprovados pelo PAC Cidades Históricas
Projeto Executor Estágio1
Reabilitação do antigo Hotel Central Município Ação preparatória
Restauração do Antigo Armazém Real da Capitania IPHAN Em execução
Requalificação das praças do Centro Histórico Estado Em obras
Restauração do antigo Grupo Escolar Augusto Severo UFRN Ação preparatória
Restauração do casarão da EDTAM Estado Ação preparatória
Restauração do casarão do Arquivo Diocesano IPHAN Ação preparatória
Restauração do edifício da SEMUT UFRN Ação preparatória
Restauração do Forte dos Reis Magos IPHAN Em execução
Restauração do Palácio Felipe Camarão Município Em execução
Restauração do Teatro Alberto Maranhão Estado Ação preparatória
Fonte: http://www.pac.gov.br, 2018.

1 A data de referência do estágio, constante no site Programa, é 30 de junho de 2018.


16

Figura 2: Áreas do item “praças do Centro Histórico” Legenda:


contempladas pelo PAC.
1 – Praça da Santa Cruz da
Bica
2 – Praça Djalma Maranhão
3 – Praça João Tibúrcio
N 4 – Memorial Câmara
Cascudo (área externa)
5 – Praça Padre João Maria
6 – Praça André de
Albuquerque
7 – Praça 7 de Setembro
8 – Praça do Estudante
9 – Praça Dom Vital
10 – Área livre na Rua Paula
Barros
11 – Acesso à Rua Quintino
Bocaiúva
12 – Largo Dom Bosco
13 – Praça Capitão José da
Penha
14 – Cais da Tavares de Lira

Fonte: http://www.pac.gov.br, 2018.

A Praça Padre João Maria, que já se chamou Praça da Alegria, foi uma das
contempladas, no entanto, até o presente momento não há nenhuma previsão para a
execução de sua obra, mantendo-se assim o tema ainda em aberto. Uma das causas que
levaram a este atraso foi a duplicidade de projetos apresentados junto ao IPHAN, uma vez
que além do projeto contemplado pelo PAC e apresentado pelo Governo do Estado, há
também uma segunda proposta de autoria da Prefeitura Municipal do Natal.
Observa-se em frente a essa praça a existência da edificação escolhida para a
proposta (Figura 3), que chama atenção pelo seu estado de má conservação em relação aos
demais prédios do entorno. Apesar da sua inclusão na poligonal de tombamento do IPHAN,
encontra-se em estado de abandono. Atualmente está parcialmente ocupada pelo proprietário
de um sebo de livros, que anteriormente era inquilino da proprietária da edificação, já falecida.
Segundo ele, não há herdeiros e o mesmo permaneceu no local após a morte da dona do
imóvel. Não há ações em andamento, seja do poder público ou da iniciativa privada, para a
sua requalificação. O descaso com este patrimônio foi, deste modo, um dos fatores iniciais
que levaram ao desenvolvimento da proposta.
17

Figura 3: Localização da edificação escolhida em relação à Praça Padre João Maria.

Fonte: adaptado de Google Earth, 2019.

Quanto à praça, apesar do atual precário estado de conservação em que se encontra,


esta é palco de diversas atividades que exemplificam a apropriação do espaço pela
comunidade. Há ações tanto de cunho cultural, quanto religioso e social. Pode-se citar, por
exemplo, eventos como o Círculo Natalense do Cordel, o Juntêro na Praça, o Choro do Caçuá
e o Projeto de Rua Pão com Mortadela (Figura 4). No ano de 2018, houve a realização de
eventos voltados para assistência à população moradora de rua, Saraus, apresentações de
dança, teatro, artes plásticas, entre outros.
18

Figura 4: mosaico de fotos e cartazes de eventos ocorridos na Praça P. João Maria em 2018.

Fonte: adaptado de http://www.instagram.com, 2019.

Segundo Araújo (2003, p. 89), “Toda cidade guarda lugares onde a memória do
passado está escondida aos olhos daqueles que não compartilham a história do lugar.” Assim
também é a outrora Praça da Alegria, nome que fazia referência ao fato de ser um local
conhecido por ser um ponto de encontro e de realização de eventos na cidade. O IPHAN
(2008, p. 83) ao abordar a atual nomenclatura da praça, hoje Padre João Maria, afirma: “Antes
de receber essa denominação, esse local também havia se chamado Praça da Alegria,
sugerindo que também ali seria um ponto de animação da cidade.” É, portanto, a essa
memória de um passado de festividade, que resiste até hoje através de cada evento, e da
apropriação dos espaços pela comunidade, que se faz referência no título deste relatório.
Em 2014, através da Portaria nº 72, publicada Diário Oficial da União n°136, foi
concluído o tombamento do Centro Histórico de Natal. Salienta-se que o universo de estudo
proposto está inserido na poligonal de tombamento definida pelo Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).
A princípio, a proposta foi pensada visando apenas a requalificação do edifício, porém,
levando em consideração que a história do edifício está ligada à da praça e ao seu entorno,
considerou-se necessária a inserção destes na proposta. Além disso, a praça por si só
19

constitui um patrimônio a ser preservado, dada a sua relevância histórica. É importante


lembrar que a cidade de Natal nasceu há uma quadra da praça, e se insere neste contexto
histórico. E que nas proximidades há até hoje espaços de cultura popular voltados tanto à
música quanto à gastronomia, religiosidade e demais usos que se perpetuam naquela área,
mesmo diante do declínio do centro histórico de Natal.
Considerando que se busca a requalificação do edifício, é importante lembrar: “Enfim,
a primeira norma de conduta ligada ao ‘como preservar’ é manter o bem cultural,
especialmente o edifício, em uso constante e sempre que possível satisfazendo a programas
originais.” (LEMOS, 1981, p. 67). No entanto, a maior parte da edificação encontra-se sem
uso, deteriorando-se com o tempo. Por esta razão há a preocupação em propor novos usos,
cujas necessidades sejam compatíveis com as características da edificação.
De acordo com Lefebvre (2008, p. 12), “O uso principal da cidade, isto é, das ruas e
das praças, dos edifícios e dos monumentos é a Festa”. Assim, tanto as edificações quanto
os espaços públicos passam a ter um uso em comum. Consequentemente, a promoção da
integração entre edifício, praça e entorno pode ser vista, neste contexto, como uma busca
pelo resgate do valor de uso em meio a um bairro comercial, onde o valor de troca se
sobressai.
Em se tratando de uso, qualquer que fosse o escolhido, sua integração com a praça
viria a contribuir como um atrativo aos usuários da edificação, considerando que se trata de
um espaço com potencial para desenvolvimento de diversas atividades. A praça pode, por
exemplo, vir a suprir a carência de área externa à edificação para eventuais usos ao ar livre.
Diante do contexto apresentado, surge então o seguinte questionamento: é possível a
integração da edificação com o entorno através da sua requalificação?

1.2 OBJETO E OBJETIVOS

A proposta tem como objeto de estudo a requalificação de edificação de valor


patrimonial e os usos e apropriações no entorno, considerando a relação entre ambos na
proposta e, como objetivo geral, desenvolver um anteprojeto de requalificação do edifício de
número 71, em frente à Praça Padre João Maria, que proporcione a sua integração com o
entorno.
Os objetivos específicos, por sua vez, são:
 Identificar posturas intervencionistas que possam influenciar nas decisões projetuais da
proposta;
 Definir novos usos que permitam a integração entre a edificação e seu entorno;
 Identificar formas de uso e apropriação dos espaços públicos no entorno da edificação.
20

1.3 JUSTIFICATIVA

O histórico de negligências relativas à preservação do patrimônio edificado, em


especial no município de Natal, onde está inserido o universo de estudo da proposta, justifica
a importância de estudos e pesquisas que contribuam para expor a atual situação em que se
encontra este patrimônio e para propor alternativas à sua preservação.
É a continuidade de estudos deste tipo que permite, por exemplo, o registro histórico
de particularidades do bem em períodos diferentes, como os usos, atuais e passados,
modificações ao longo do tempo, identificação de danos e tantas outras informações
relevantes a respeito do patrimônio que se perderiam em virtude da inércia, tanto do poder
público, quanto dos proprietários.
Como afirma Nesi (1994, p. 4), “o progresso que desenvolve uma Cidade, deve ser
incentivado, desde que seja respeitada a sua memória cultural, com a valorização da história
local, o respeito aos recursos naturais e a preservação do patrimônio construído”. Portanto, a
própria importância de preservação do patrimônio em questão também contribui para justificar
o tema, vez que urge a necessidade de iniciativas voltadas para tal. Neste sentido, o trabalho
pode vir a contribuir com a recuperação de parte do patrimônio cultural da cidade, servindo
também como uma contribuição para atrair atenção para a questão da preservação.
No entanto, como já mencionado, a proposta foi pensada levando-se em consideração
não somente a edificação, mas também o seu entorno. A este respeito, diversas literaturas,
em especial documentos patrimoniais (recomendações, cartas, resoluções, entre outros),
abordam a importância do entorno de monumentos e da preservação da ambiência como
questões importantes para a salvaguarda do patrimônio. A Declaração de Xi’an (2005, p. 2),
por exemplo, afirma: “Compreender, documentar e interpretar os entornos é essencial para
definir e avaliar a importância como patrimônio de qualquer edificação, sítio ou área.” Desta
forma, o estudo do entorno se faz necessário para conhecimento do sítio no qual ela se insere,
a fim de preservar não somente a edificação, mas a ambiência do lugar.
Acerca do estudo sobre posturas intervencionistas contemporâneas, desde Viollet-Le-
Duc e sua busca por recuperar em sua totalidade monumentos históricos, mesmo que para
isso fosse necessário reconstruir a partir de ruínas, passando pela teoria brandiana da
restauração até os dias atuais, diversas foram as formas de lidar com intervenções no
patrimônio histórico. Propõe-se, portanto, o estudo de posturas contemporâneas a fim de
fornecer embasamento teórico à proposta e, consequentemente, nortear as decisões
projetuais.
21

1.4 ESTRUTURA DO RELATÓRIO E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O presente relatório foi estruturado em dois volumes, cujo primeiro diz respeito à
produção textual, e o segundo às pranchas com os desenhos arquitetônicos relativos ao
anteprojeto. O primeiro volume foi elaborado a partir das seções e dos procedimentos
metodológicos que passamos a descrever.
A seção 1 é a introdução, na qual o leitor se encontra no momento, e apresenta todos
os aspectos que embasaram a propositura do estudo, como a problemática, justificativa e
objetivos.
Na seção 2 encontra-se o referencial teórico-conceitual. Nele foram realizadas
pesquisa bibliográfica acerca das posturas intervencionistas, a fim de auxiliar nas decisões
projetuais posteriores, além de pesquisa em relação ao conceito de economia solidária, em
virtude do uso escolhido para a edificação.
A seção 3 diz respeito aos estudos de referência, que consistiram na análise, a partir
da classificação apresentada por Elali e Veloso (2019), de projetos disponíveis na internet. A
escolha dos projetos foi feita com o intuito de encontrar respostas para questões relacionadas
ao projeto, como sistema estrutural e programa de necessidades.
A seção 4 aborda os condicionantes projetuais, que estão divididos em quatro
categorias: delimitação do local de intervenção e universo a ser estudado (que inclui também
análises relativas à morfologia urbana deste universo), reconhecimento da edificação,
aspectos físicos e ambientais, e por último os aspectos legais. Na primeira delas foi feita a
delimitação do local de intervenção e universo a ser estudado a partir do uso de imagem de
satélite. Também foram elaborados mapas de uso do solo, ocupação e gabarito do universo
estudado, desenvolvidos a partir de desenhos em CAD do entorno, obtidos na Secretaria
Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo, e de visitas in loco. A segunda análise diz respeito
ao reconhecimento da edificação. Para isto, foi feita pesquisa bibliográfica relativa ao seu
histórico, características formais e filiação estilística. Também foi feita pesquisa de registros
fotográficos antigos da edificação e entorno, a fim de identificar modificações por meio de
comparação entre datas diferentes. Além disso, foram elaborados desenhos da edificação a
partir de levantamento arquitetônico realizado por alunos do sétimo período do curso de
graduação em arquitetura e urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte no
ano de 2015. Levantamento este que foi atualizado pela autora a partir de visita in loco, em
15 de janeiro de 2019, quando foram realizadas novas medições, além de registros
fotográficos. A partir destes desenhos, e de estudo desenvolvido por Cabral (2000), foi feita a
identificação de três momentos diferentes da edificação. A terceira análise consistiu em
simulações por computador, relativas à sintaxe espacial, objetivando identificar barreiras
visuais no entorno da edificação, e estudos referentes aos aspectos ambientais, que
22

englobaram o uso de programas capazes de simular as condições relativas à insolação e


ventilação. Também foram feitos cálculos relativos às propriedades térmicas dos materiais e
pesquisa bibliográfica referente às recomendações de estratégias bioclimáticas aplicáveis ao
caso. Na quarta análise foi feito um levantamento da legislação vigente, em níveis federal,
estadual e municipal, para identificação de condicionantes legais.
A seção 5 trata da definição do problema e do público alvo. Para isto, foi realizada
pesquisa bibliográfica relativa ao tema, e traçados dilemas e metas referentes ao projeto
arquitetônico. Também foram feitas visitas in loco, que auxiliaram na definição do público alvo
através da identificação das formas de uso e apropriação dos espaços públicos, que ocorrem
no entorno.
A seção 6 diz respeito ao programa arquitetônico e o seu dimensionamento. Optou-se
por traçar as atividades, ambientes e dimensionamento destes com base nas necessidades
do público alvo, definido anteriormente. Em relação especificamente ao dimensionamento,
foram adotados procedimentos diferentes de acordo com o tipo de atividade, incluindo-se:
levantamento da área ocupada em caso de atividades preexistentes e, em relação às novas,
desenvolvimento de layout e pesquisa para identificação da área ocupada por
empreendimentos com atividades similares às propostas. Também foi elaborado um
funcionograma, a fim de identificar a necessidade de afastamento ou aproximação entre
ambientes.
A seção 7 explicita a postura intervencionista adotada na proposta, tendo como
referência a pesquisa bibliográfica realizada para a seção 2.
A seção 8 aborda a relação da economia solidária com a proposta, e foi desenvolvida
a partir de pesquisa bibliográfica relativa ao tema.
Na seção 9 é descrita a concepção da proposta. Nela é definido o conceito e sua
relação com o partido, tendo como base pesquisa bibliográfica. A seção também aborda o
processo de projetação. Para isto, foram elaborados croquis relativos às soluções
arquitetônicas adotadas e uma maquete física da edificação.
Na seção 10 foi feito o detalhamento da proposta final. Se trabalhou com desenhos do
tipo CAD e maquetes eletrônicas, simulações relativas a mascaras de sombra em programas
computacionais, além de pesquisa bibliográfica relativa a materiais e sistema construtivo
adotado.
A seção 11 é a última, e aborda as considerações finais relativas ao estudo
desenvolvido, em que é feita avaliação da proposta em relação aos objetivos, dilemas e
metas.
Apresentamos no quadro abaixo um resumo dos procedimentos metodológicos
relativos a cada uma das seções descritas.
23

Quadro 2: Procedimentos metodológicos


Pesquisa a respeito das posturas intervencionistas.
Referencial
teórico- Abordagem teórica sobre o conceito de economia solidária, sua origem
conceitual e características.
Levantamento e análise de projetos com características relacionadas à
Estudos de
referência proposta.
Caracterização do local de intervenção através da delimitação de um
universo de estudo, elaboração de mapas de uso do solo, gabarito, de
domínio e de cheios e vazios.
Conhecimento da edificação através de pesquisa bibliográfica e
documental (registros fotográficos) a respeito da sua história, análise
relativa a suas características formais, e identificação de modificações
ao longo do tempo por meio de desenhos do tipo CAD.
Realização de simulações por computador para elaboração de isovistas
Condicionantes
projetuais e posterior desenvolvimento de análise sintática relativa às barreiras
visuais.
Pesquisa relativa aos aspectos físicos e ambientais do local de
intervenção e ambiente construído, através da caracterização do clima,
identificação de parâmetros normativos e estratégias bioclimáticas,
simulações por computador relativas à ventilação e insolação, e cálculos
referentes às propriedades térmicas dos materiais.
Pesquisa a respeito dos aspectos legais aplicáveis à proposta.
Construção do problema de projeto a partir da elaboração de dilemas e
metas.
Definição do
problema e do Definição do público alvo em função dos usos e apropriações do espaço
público alvo público no entorno, identificados em visitas in loco e através de pesquisa
na internet.
Definição de atividades, ambientes e suas dimensões a partir de
levantamento da área ocupada por atividades preexistentes, elaboração
de layout, e pesquisa a respeito do dimensionamento de outros
Programa
arquitetônico e o empreendimentos com atividades similares.
dimensionamento

Desenvolvimento de funcionograma.

Postura
intervencionista Pesquisa bibliográfica relativa ao tema.
adotada

A relação da
economia Pesquisa bibliográfica relativa ao tema.
solidária com a
proposta
24

Pesquisa bibliográfica relativa ao conceito e partido.


Concepção e
processo Estudo volumétrico por meio de maquete física.
projetual Elaboração de croquis.
Pesquisa bibliográfica relativa aos materiais e sistema construtivo
adotado.
Detalhamento da Elaboração de desenhos do tipo CAD.
proposta final
Elaboração de maquetes eletrônicas.
Simulações por computador relativas à insolação.
Considerações Análise do estudo em relação aos objetivos, dilemas e metas.
finais
Fonte: elaboração própria, 2020.
25

2 REFERENCIAL TEÓRICO-CONCEITUAL

2.1 TEMA

A proposta tem como tema a intervenção em edificação de valor patrimonial.

2.2 SOBRE POSTURAS INTERVENCIONISTAS

Foi durante o Renascimento, diante do crescente interesse por edificações da


Antiguidade, que as noções relativas ao restauro começaram a tomar forma. No século XVIII,
com as grandes transformações ocasionadas pela Revolução Industrial, o Iluminismo e a
Revolução Francesa, a relação com o passado sofreu mudanças, e fortaleceram-se as
intenções de proteção a edifícios e ambientes de valor histórico. (KÜHL, 2001)
Deste período da história em diante diversas foram as contribuições a respeito de
como preservar o patrimônio. Teóricos e instituições buscaram produzir recomendações, que
em cada momento da história refletiam o pensamento da época.
Viollet-Le-Duc (1814-1879), por exemplo, abordou o tema não somente de forma
teórica, como prática, assumindo papel de grande relevância na história ao produzir escritos
como o Entretiens sur l’Architecteture e o Dictionnaire Raisonné de l’Architecture, realizar
obras como o restauro da Catedral de Notre-Dame, em Paris, e atuar como arquiteto junto a
instituições ligadas ao governo e à igreja, como a Comissão do Monumentos Históricos e a
Comissão das Artes e Ofícios Religiosos.
Seus escritos revelam uma postura no sentido da reconstituição, ou mesmo correção,
do projeto original. Isto é observado, por exemplo, em uma de suas célebres frases:
“Restaurar um edifício não é mantê-lo, repará-lo ou refazê-lo, é restabelecê-lo em um estado
completo que pode não ter existido nunca em um dado momento.” (KÜHL, 2001 p.17)
No mesmo período, John Ruskin (1819-1900) adotava postura oposta à de Viollet-Le-
Duc. Ferrenho crítico da industrialização e defensor do trabalho artesanal, se opunha
fortemente ao restauro, tão praticado pelo seu contemporâneo. Sua postura anti-
intervencionista demonstra relação com o conceito de autenticidade (abordado mais a frente)
na medida em que se preocupa com as marcas do tempo, a genuinidade e veracidade da
obra, produzida pelas mãos de artífices em tempos passados. Este posicionamento fica
bastante claro quando ele destaca a impossibilidade de restaurar um edifício, dentre outros
motivos, por não ser possível a simples cópia direta, uma vez que esta não seria capaz de
reproduzir o olhar e a habilidade do artífice que o produziu:
26

Aquilo sobre o que insisti acima como sendo a vida do conjunto, aquele
espírito que só pode ser dado pela mão ou pelo olhar do artífice, não pode
ser restituído nunca. Uma outra alma pode ser-lhe dada por um outro tempo,
e será então um novo edifício; mas o espírito do artífice morto não pode ser
invocado, e intimado a dirigir outras mãos e outros pensamentos. E quanto à
cópia direta e simples, ela é materialmente impossível. (RUSKIN, 2008, p. 80)

Camillo Boito (1836-1914), por sua vez, parecia adotar uma postura intermediária em
relação a Viollet-Le-Duc e John Ruskin. A este respeito, Kühl afirma:

Como restaurador e teórico, tem um lugar consagrado pela historiografia da


restauração, sendo a ele reservada uma posição moderada e intermediária
entre Viollet-Le-Duc, cujos preceitos seguiu durante certo tempo, e Ruskin,
sintetizando e elaborando princípios que se encontram na base da teoria
contemporânea da restauração. (KÜHL, 2002, p.9)

Dentre estes princípios, Boito apresentou contribuições, por exemplo, em relação à


distinguibilidade, ao preconizar que, em caso de necessidade de acréscimos, dever-se-ia
buscar um caráter diverso do original, porém sem destoar do todo. (KÜHL, 2002)
Um pouco mais à frente, no início do século XX, Riegl (1858-1905) se destacou ao
inovar com a sua produção a respeito dos valores dos monumentos. Cunha ressalta a
importância da sua obra, “O Culto Moderno dos Monumentos”, ao afirmar:

A grande contribuição dessa obra do historiador da arte vienense reside no


fato de se apresentarem, através dos diferentes tipos de valor atribuídos aos
monumentos, decorrentes das distintas formas de percepção e recepção dos
monumentos históricos em cada momento e contexto específicos, os
contrastantes meios para sua preservação. E, ao indicar essas múltiplas
possibilidades, impor ao sujeito da preservação a necessidade de fazer
escolhas, as quais devem ser, necessariamente, baseadas num juízo crítico.
(CUNHA, 2006, p.14)

Ainda segundo Cunha (2006), essa necessidade de embasamento em um juízo crítico


pode ser vista como uma espécie de antecipação ao chamado “restauro crítico”, defendido
por teóricos após a segunda grande guerra, como Brandi, Roberto Pane e Renato Bonelli.
Em 1931, a Carta de Atenas expôs as tendências daquele momento em relação a
como intervir no patrimônio edificado, ao afirmar:

[...] a Conferência constatou que nos diversos Estados representados


predomina uma tendência geral a abandonar as reconstituições integrais,
evitando assim seus riscos, pela adoção de uma manutenção regular e
permanente, apropriada para assegurar a conservação dos edifícios. Nos
casos em que uma restauração pareça indispensável devido a deterioração
ou destruição, a conferência recomenda que se respeite a obra histórica e
artística do passado, sem prejudicar o estilo de nenhuma época. (CIAM,
1933, p.1)
27

A Carta, portanto, deixa clara a preocupação em não privilegiar nenhum estilo em


detrimento de outro, bem como se posiciona de forma contrária à repristinação. A busca por
um estado idealizado da obra, postura que tinha como principal representante Viollet-Le-Duc,
não é vista com bons olhos, devendo se dar prioridade a manutenções periódicas, o que, em
tese, reduziria a possibilidade de uma futura intervenção maior no bem. Este posicionamento
também traz semelhanças e diferenças em relação ao pensamento de Ruskin, que
argumentava em favor da manutenção dos edifícios, enquanto afirmava sua completa aversão
à restauração, observada, por exemplo no aforismo 31, da Lâmpada da Memória: “A Assim
chamada Restauração é a pior forma de Destruição.” (RUSKIN, 2008, p.81). Para ele é
preferível a perda do bem à sua restauração.
Posteriormente, a segunda Guerra Mundial acarretou grandes prejuízos ao
patrimônio, o que contribuiu para novas discussões a respeito das formas de intervenção.
Dentre os expoentes deste período está Cesare Brandi, que auxiliou a fundar o Instituto
Central de Restauração (ICR), em Roma, no ano de 1938, dirigido por ele durante vinte anos.
Juntamente a Roberto Pane e Renato Bonelli, Brandi contribuiu para a formulação do
chamando “restauro crítico”, que assim pode ser entendido, segundo definição de Carbonara:

[O restauro crítico] parte da afirmação de que toda intervenção constitui um


caso em si, não classificável em categorias (como aquelas meticulosamente
precisadas pelos teóricos do chamado restauro ‘científico’: completamento,
liberação, inovação, recomposição, etc.), nem responde a regras prefixadas
ou a dogmas de qualquer tipo, mas deve ser reinventado com originalidade,
de vez em vez, caso a caso, em seus critérios e métodos. Será a própria obra,
indagada atentamente com sensibilidade histórico-crítica e com competência
técnica, a sugerir ao restaurador a via mais correta a ser empreendida.
(CARBONARA, 2005, p.13)

Em Teoria da Restauração, Brandi (2005) faz uma análise aprofundada acerca de


temas essenciais a respeito do patrimônio, como o próprio conceito de restauração, chegando
a formular axiomas e princípios, que passamos a apresentar.
O primeiro axioma afirma que “restaura-se somente a matéria da obra de arte”
(BRANDI, 2005, p. 31). Há, portanto, o estabelecimento de um limite da restauração, que não
vai além da matéria. Não seria possível, por exemplo, como idealizava Viollet-Le-Duc,
restabelecer o edifício a um momento que pode nunca ter existido, e que reside no imaginário
do restaurador.
O segundo axioma diz que “A restauração deve visar ao restabelecimento da unidade
potencial da obra de arte, desde que isso seja possível sem cometer um falso artístico ou um
falso histórico, e sem cancelar nenhum traço da passagem da obra de arte no tempo”
(BRANDI, 2005, p. 33). Observa-se a preocupação em preservar as marcas do tempo
presentes na obra, não se devendo, sob o pretexto de restaurá-la, tentar reproduzir
28

características que se acredita outrora terem existido. Este tipo de conduta representaria um
prejuízo à veracidade da obra, que passaria a conter elementos falseados.
Brandi também apresenta três princípios, que ele entende como práticos, sendo o
primeiro: “a integração deverá ser sempre e facilmente reconhecível; mas sem que por isto se
venha a infringir a própria unidade que se visa a reconstruir” (BRANDI, 2005, p. 47). Neste
princípio ele descreve o que se entende por distinguibilidade, que se expressa na fácil
legibilidade do que vem a ser a matéria preexistente da obra e as novas adições, ressaltando,
no entanto, a necessidade de harmonia entre ambos.
Em seguida, o segundo princípio é assim definido por Brandi:

O segundo princípio é relativo à matéria de que resulta a imagem, que é


insubstituível só quando colaborar diretamente para a figuratividade da
imagem como aspecto e não para aquilo que é estrutura. Disso deriva, mas
sempre em harmonia com a instância histórica, a maior liberdade de ação no
que se refere aos suportes, às estruturas portantes e assim por diante.
(BRANDI, 2005, p. 48)

Deste princípio ressalta-se a necessidade de um juízo crítico por parte do restaurador,


que deve identificar quais partes da obra seriam insubstituíveis em virtude da importância para
a sua imagem.
O terceiro princípio, por sua vez, afirma “que qualquer intervenção de restauro não
torne impossível mas, antes, facilite as eventuais intervenções futuras” (BRANDI, 2005, p. 48).
Este princípio pode ser associado à chamada reversibilidade, ou retrabalhabilidade, que
reflete a busca por soluções que, diante da necessidade de futuras intervenções, possam ser
facilmente adequadas, ou mesmo removidas, sem trazer maiores danos à obra.
Através de todos estes axiomas e princípios, que são apenas uma pequena parcela
de toda a sua produção teórica, é possível perceber, a importância da contribuição de Brandi
para a discussão a respeito de como intervir no patrimônio.
Mais recentemente, Giovani Carbonara (1942-) faz uma análise a respeito de posturas
relacionadas à intervenção no patrimônio, assim descritas por Vieira-de-Araújo:

a “crítico-conservativa e criativa” que se fundamenta fortemente no restauro


crítico e teoria brandiana, a “pura conservação” ou “conservação integral”
onde a instância histórica é privilegiada e, finalmente, a “manutenção-
repristinação” onde se retomam formas e técnicas do passado para superar
o “estado fragmentário do bem”. (VIEIRA-DE-ARAÚJO, 2014, p. 4)

Ainda segundo Vieira-de-Araújo (2014), a postura descrita como “crítica-conservativa


e criativa” e a chamada “conservação integral” apresentam semelhanças, como a aplicação
do princípio da distinguibilidade e a rejeição à repristinação. Além destas posturas, a autora
também descreve as categorias intituladas como “uniformidade contextual”, “continuidade
29

contextual” e “justaposição contextual”, elaboradas por Tiesdell, Oc e Heath com base nas
definições primeiramente criadas por Richard Rogers.
A uniformidade contextual pode ser entendida como uma imitação de estilo entre a
edificação objeto da intervenção e aquelas situadas em seu entorno. Trata-se de uma postura
que se assemelha a ideia de “unidade estilística” encontrada em Viollet-Le-Duc. (VIEIRA-DE-
ARAÚJO, 2006)
A justaposição contextual vê na justaposição entre edificações de períodos diferentes
a possibilidade de criação de uma harmonia. Nela fica evidente o registro das marcas do
tempo, colocando-se o valor documental em posição de maior importância que o artístico
(VIEIRA-DE-ARAÚJO, 2006).
A continuidade contextual, por sua vez, aparenta um posicionamento intermediário
entre os dois anteriores. Nela busca-se trabalhar tanto o valor estético quanto histórico da
obra, evitando-se o falso histórico, descrito por Brandi, ao mesmo tempo em que evita-se
agressões à leitura estética do conjunto (VIEIRA-DE-ARAÚJO, 2006).
Estas três posturas podem então ser melhor compreendidas sob a forma de uma
escala, em que se tem em um extremo a uniformidade, e no outro a justaposição, enquanto a
continuidade figura entre ambas. Vieira-de-Araújo as apresenta conforme figura abaixo.

Figura 5: Escala entre posturas intervencionistas apresentadas por Tiesdell, Oc e Heath

Fonte: Vieira-de-Araújo, 2014.

Uma outra noção importante para compreender estas três posturas diz respeito aos
conceitos de autenticidade e integridade. Silva e Zancheti, sintetizaram ambos os conceitos
com base em análises de suas definições segundo diversos autores, como Muñoz-Viñas,
Jokilehto, a definição apresentada pela própria Unesco, entre outros, e concluíram que a
integridade está relacionada a ideia de completude, de um caráter intacto e uma continuidade
do cenário, enquanto que a autenticidade se relaciona a ideia de genuinidade, seja ela do
material, da forma, da organização do espaço ou da função:
30

Ser íntegro significa que os atributos que estão diretamente relacionados com
a significância, fisicamente existem de forma completa (completude), podem
continuar a existir (caráter intacto) e são compreendidos no seu contexto
(continuidade do cenário). A autenticidade refere-se à capacidade de ser
verdadeiro. A autenticidade depende da capacidade que se tem de julgar o
quanto os atributos físico-materiais (genuinidade do material) e não materiais
(genuinidade da organização do espaço e da forma; genuinidade da função)
expressam os valores do patrimônio de forma verdadeira ou falsa. (SILVA;
ZANCHETI, 2012, p. 10)

As categorias apresentadas por Tiesdell, Oc e Heath, segundo Vieira-de-Araújo


(2006), podem ser relacionadas com os conceitos de autenticidade e integridade. Na
uniformidade contextual, há uma maior preocupação com a integridade em virtude da busca
por uma sensação de completude, porém com pouca preocupação em relação à
autenticidade.
Na justaposição contextual, de forma oposta à uniformidade, não há prejuízos a
autenticidade, na medida em que são evidentes as marcas do tempo, porém a integridade é
comprometida em virtude do comprometimento da leitura do conjunto.
E por fim, na continuidade contextual observa-se um maior equilíbrio entre
autenticidade e integridade, na medida em que a leitura do conjunto é preservada, ao mesmo
tempo em que são visíveis as marcas do tempo.
Com base na Figura 5, foi então elaborada uma nova escala, observada abaixo, desta
vez relacionando-se as categorias propostas por Tiesdell, Oc e Heath e os conceitos de
autenticidade e integridade, com base no que foi proposto por Vieira-de-Araújo.

Figura 6: Escala da relação entre categorias de Tiesdell, Oc e Heath e os conceitos de autenticidade


e integridade

Fonte: elaboração própria a partir de Vieira-de-Araújo (2006), 2019.

É importante ressaltar que embora seja possível associar-se a postura da continuidade


contextual a uma solução mais equilibrada em relação a integridade e autenticidade, não
significa dizer que propostas mais próximas a justaposição ou uniformidade sejam de
31

qualidade questionável. Como afirma Vieira-de-Araújo (2014 p.5), “O que nos parece
importante, seja qual for a postura adotada, é a necessidade de reflexão e conhecimento
sobre todas as opções que se colocam para o desenvolvimento de uma proposta embasada
e coerente.”
Esta análise das diversas condutas a respeito de como intervir no patrimônio edificado
ao longo da história permite perceber que, passados séculos desde o início das discussões,
diversos foram os posicionamentos, algumas vezes divergentes, outras vezes concordantes
entre si. No entanto, qualquer que fosse a postura adotada, o embasamento teórico
demonstrou-se importante para justificar as escolhas e tentar garantir a preservação dos bens
para as gerações futuras.

2.3 O CONCEITO DE ECONOMIA SOLIDÁRIA E O CONTEXTO BRASILEIRO

O surgimento da economia solidária remonta à Revolução Industrial, como uma forma


de reação ao empobrecimento dos artesãos em virtude do avanço na utilização das máquinas
na produção. A situação dos trabalhadores levou a iniciativas como o plano de Robert Owen,
apresentado ao governo britânico, para utilização de um fundo de sustento dos pobres na
aquisição de terras e construção das chamadas “Aldeias Cooperativas”, de onde os
trabalhadores obteriam assim a própria subsistência (SINGER, 2013, p. 24).
A economia solidária pode ser entendida como uma forma diferente de produzir, vender,
comprar e trocar o que for necessário na vida cotidiana. A diferença surge em especial em
relação à propriedade. Na forma tradicional há uma separação entre proprietários e
empregados, enquanto que na economia solidária os trabalhadores são os próprios donos.
Amorim assim a caracteriza:

A economia solidária se caracteriza por uma série de iniciativas de geração


de renda através de coletivos de trabalho de diversas naturezas e formas de
organização jurídica inspiradas em valores de cooperação, democracia e
reciprocidade. (AMORIM, 2010, p. 11)

No contexto brasileiro, a expressão “Economia Solidária” foi utilizada pela primeira vez
em 1996, por Paul Singer, em artigo publicado no jornal A Folha de São Paulo, sob o título de
“Economia Solidária contra o Desemprego” (ARCANJO; OLIVEIRA, 2017). Em 2003, Singer
assumiu a pasta da recém-criada Secretaria Nacional de Economia Solidária (SENAES),
extinta no ano de 2016, que atuava na construção de políticas públicas na área de Economia
Solidária. Dentre as ações desenvolvidas pela Secretaria, e que merecem destaque, está o
Sistema de Informações em Economia Solidária (SIES), considerado uma iniciativa pioneira
para identificação e caracterização de Empreendimentos Econômicos Solidários (EES) e
32

Entidades de Apoio e Fomento (EAF) (ARCANJO; OLIVEIRA, 2017). Atualmente, cabe ao


Ministério da Economia a atuação a respeito do tema.
A respeito dos princípios norteadores da chamada economia solidária, a literatura não
apresenta um consenso. Para Porto e Opuszka (2015), a base estrutural seriam os princípios
de Autogestão, Cooperação, Solidariedade e Democracia. A abordagem de Singer (2013,
p.10) segue um direcionamento diferente, resumindo a dois princípios: “A economia solidária
é outro modo de produção, cujos princípios básicos são a propriedade coletiva ou associada
do capital e o direito à liberdade individual.”. Amorim (2010), por sua vez, embora cite a
existência dos mesmos princípios mencionados por Porto e Opuszka, adota apenas as
categorias de Solidariedade e Autogestão. A Secretaria do Trabalho, vinculada ao Ministério
da Economia, fala em quatro princípios: Cooperação, Autogestão, Ação Econômica e
Solidariedade. Apenas para melhor compreensão do conceito de economia solidária,
considerando que este está sendo definido somente para melhor compreensão do uso que se
pretende dar à proposta, detalhar-se-á os princípios da Solidariedade e Autogestão, que
aparecem na maior parte da literatura pesquisada.
O entendimento da solidariedade está presente em discussões de diversos campos
do saber, como a filosofia e a sociologia. De acordo com Brunkhorst (apud WESTPHAL,
2008), o termo “solidariedade” derivado do latim Solidus significa sólido. De acordo com o
direito romano, in solidum significa o dever para com o todo, a responsabilidade geral.
Brunkhorst, afirma que uma outra fonte da solidariedade é a derivada da ideia cristã de
fraternidade e amor ao próximo. No contexto do trabalho, o conceito de solidariedade está
associado às lutas da classe trabalhadora. A este respeito, Westphal esclarece:

A solidariedade é um conceito de luta para a classe trabalhadora. Este termo


foi utilizado a fim de criar união e para alcançar objetivos comuns entre os
trabalhadores. O apelo tinha a finalidade de evocar o sentimento de
pertencimento dos atingidos pela mesma situação, ou seja, enquanto
trabalhadores assalariados, e que, por isso, deveriam unir-se e lutar por
melhores condições de trabalho e salário. (WESTPHAL, 2008, p. 47)

Para a economia solidária, a aplicação da solidariedade, enquanto princípio, baseia-


se na ideia de reciprocidade entre membros de um grupo, também relacionada à ideia de
alcançar objetivos comuns e de pertencimento e união apresentada por Westphal. A respeito
do tema, Lisboa ressalta a importância da solidariedade para a economia solidária:

A novidade, a força e o diferencial da economia solidária gravita na ideia de


solidariedade. Na economia solidária o elemento solidariedade não é um
mero adjetivo: é central, reformata a lógica e o metabolismo econômico. A
economia solidária incorpora a solidariedade no centro da atividade
econômica (LISBOA, 2005, p. 3 apud AMORIM, 2010, p. 25).
33

A respeito do princípio da autogestão este pode ser entendido como uma forma de
gerenciamento baseada em decisões democráticas e descentralizadas, com a participação
de todos. A autogestão diverge da heterogestão, utilizada em empresas comuns,
principalmente na forma de gestão do empreendimento. Segundo Singer (2013), na
heterogestão há uma hierarquia através da qual os que ocupam postos de maior autoridade
transmitem as ordens de cima para baixo, enquanto informações e consultas fluem em sentido
inverso. Já na autogestão ocorre o oposto. Quando os empreendimentos atingem grandes
dimensões e são estabelecidas hierarquias de coordenadores, gestores ou encarregados, as
ordens fluem de baixo para cima, enquanto que as informações emanam em sentido inverso
(Figura 7).

Figura 7: Fluxo de ordens e informações: diferença entre heterogestão e autogestão.

Fonte: elaboração própria, 2019.

No caso de pequenos empreendimentos baseados em economia solidária, as decisões


são tomadas em assembleias, com a participação de todos os associados, eliminando-se,
portanto, o fluxo da forma como foi apresentado. A autogestão, deste modo, permite aos
participantes assumirem a responsabilidade pelo empreendimento, abandonando assim o
papel de figurantes no processo de gestão. Singer ressalta os benefícios que este modo de
administrar proporciona aos praticantes:

A autogestão tem como mérito principal não a eficiência econômica


(necessária em si), mas o desenvolvimento humano que proporciona aos
praticantes. Participar das discussões e decisões do coletivo, ao qual se está
associado, educa e conscientiza, tornando a pessoa mais realizada,
autoconfiante e segura. (SINGER, 2013, p. 21)

De acordo com dados do Mapeamento Nacional de Empreendimentos Econômicos


Solidários (EES), em 2013 existiam 19.708 EES registrados. Somente no Rio Grande do
Norte, foram identificados 1.158 estabelecimentos, e destes, 226 são de origem urbana, o que
corresponde a aproximadamente 20% do total. Em Natal, há 60 empreendimentos
registrados.
34

Um dado interessante fornecido pelo mapeamento diz respeito ao que motivou a criação
do EES. Havia a possibilidade de escolha de mais de uma opção, e de um universo de 60
empreendimentos em Natal, os motivos mais escolhidos foram:

Figura 8: Relação de motivos que levaram à criação dos EES em Natal.

Fonte: adaptado de http://sies.ecosol.org.br/atlas, 2013.

Em relação ao fomento aos empreendimentos, em nível federal, recentemente, em


dezembro de 2019, foi aprovado pelo senado (e encaminhado para sanção ou veto
presidencial) o projeto de lei que cria a Política Nacional de Economia Solidária, cujo fomento
à atividade é um dos objetivos. A política também estabelece seis eixos de ações, sendo
estes:

1. Formação, assistência técnica e qualificação social e profissional;


2. Acesso a serviços de finanças e de crédito;
3. Fomento à comercialização, ao comércio justo e solidário e ao consumo responsável;
4. Fomento aos empreendimentos econômicos solidários e às redes de cooperação;
5. Fomento à recuperação de empresas por trabalhadores organizados em autogestão;
6. Apoio à pesquisa e ao desenvolvimento e apropriação adequada de tecnologias.

O Cadastro Nacional de Empreendimentos Econômicos Solidários (CADSOL) é uma


outra iniciativa em nível federal que busca facilitar o reconhecimento e o acesso a programas
de apoio a este tipo de empreendimento. Através dele é possível receber a Declaração de
Empreendimento Econômico Solidário (DCSOL) que viabiliza o reconhecimento do
empreendimento e facilita o acesso a programas públicos de financiamento, compras
governamentais e assessoria.
Em nível estadual, a lei 8.798 de 2006, que criou a Política Estadual de Fomento à
Economia Popular Solidária no Estado do Rio Grande do Norte reconhece como
Empreendimentos de Economia Popular Solidária as empresas de autogestão, as
cooperativas, as associações, os pequenos produtores rurais e urbanos, os grupos de
35

produção e outros que atuem por meio de organizações e articulações locais, estaduais e
nacionais. A mesma lei também traz como diretriz fundamental:

Art. 1°. Autoriza o Poder Executivo a instituir a Política Estadual de Fomento


à Economia Popular Solidária no Estado do Rio Grande do Norte, a qual terá
como diretriz fundamental a promoção da economia popular solidária e
o desenvolvimento de grupos organizados autogestionários de
atividades econômicas, visando sua integração no mercado e a
autosustentabilidade de suas atividades. (RIO GRANDE DO NORTE, p.1,
2006, grifo nosso)

Vale ressaltar que a lei estadual 8.798 de 2006 também estabeleceu a gratuidade de
todos os atos necessários a legalização, formalização e manutenção dos Empreendimentos,
junto aos órgãos competentes para os empreendimentos certificados pelo Conselho Estadual
de Economia Solidária.
A lei estadual 10.536 de 2016 também contribui com o incentivo aos Empreendimentos
Econômicos Solidários através da criação do Programa Estadual de Compras
Governamentais da Agricultura Familiar e Economia Solidária (PECAFES). O objetivo do
programa é de garantir a aquisição direta e indireta junto aos produtores, sendo priorizados
os empreendimentos formados por mulheres, jovens, comunidades tradicionais, indígenas e
quilombolas.
De acordo com a Secretaria de Estado do Trabalho, da Habitação e da Assistência
Social2, atualmente o Governo do Rio Grande do Norte apoia tecnicamente e financeiramente
100 empreendimentos e subprojetos de economia solidária, selecionados via edital,
totalizando R$ 14 milhões em convênios com o governo federal e Banco Mundial, que
beneficiam mais de 24 mil pessoas.
Mas não é só a partir da administração direta que se observam iniciativas de fomento
à economia solidária. Em meio acadêmico, no Rio Grande do Norte o Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN) e a Universidade Federal do
Rio Grande do Norte (UFRN) contam com iniciativas que buscam auxiliar os
empreendimentos econômicos solidários.
No caso do IFRN, a IFSOL (Incubadora Tecnológica para Fortalecimento dos
Empreendimentos Econômicos Solidários do IFRN) promove o assessoramento e consultoria
a grupos que trabalham sob princípios da Economia Solidária. Atualmente, a IFSOL conta
com sete núcleos, nos campi da Zona Norte, Caicó, Canguaretama, Ceará Mirim, João
Câmara, Lajes, Macau, Nova Cruz e São Paulo do Potengi.
Na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), o grupo Organização de
Aprendizagens e Saberes em Iniciativas Solidárias e Estudos no Terceiro Setor (OASIS), foi

2 http://www.sethas.rn.gov.br/
36

criado em 2006 e atua no desenvolvimento de atividades de ensino, pesquisa e extensão,


buscando auxiliar iniciativas coletivas a partir dos princípios da economia solidária (COSTA,
2018).
No entanto, mesmo diante de todo o histórico da Economia Solidária no Brasil, em que
se observa uma série de avanços, com a criação de leis, incentivos governamentais e
assistência aos empreendimentos, diversos entraves ainda precisam ser superados.
O 1º Plano Nacional de Economia Solidária, elaborado pelo Conselho Nacional de
Economia Solidária para o período de 2015 a 2019, aponta 28 pontos de fraqueza que
necessitam ser superados, podendo-se citar dentre eles:

 Inexistência de uma figura jurídica de Empreendimento Econômico Solidário


(EES), garantindo uma regulamentação e tributação adequadas à realidade
dos EES, respeitando suas especificidades, e assegurando seu acesso aos
direitos da previdência social;
 Despreparo de gestores públicos estaduais e municipais para os processos
de implantação de projetos voltados para a Economia Solidária, seja por
desconhecimento ou pouca clareza quanto ao tema da economia solidária,
falta de entendimento sobre os seus processos e princípios como ferramentas
de desenvolvimento local, seja pela alta rotatividade dos gestores em função
de mudanças de gestão;
 Dificuldade de inclusão da juventude na economia solidária, em especial pelo
pouco acesso dos mesmos às políticas públicas;
 Ausência de instrumentos públicos de assistência técnica continuada e de
entidades de apoio e fomento que tenham por base processos pedagógicos
adequados aos empreendimentos e que garantam o empoderamento e a
efetividade da sua gestão;
 Investimento insuficiente nas finanças solidárias (cooperativas de crédito
solidário, bancos comunitários de desenvolvimento, fundos solidários) nos
territórios;
 Pouca divulgação da economia solidária junto aos canais de comunicação
popular e junto à mídia de grande porte para expandir o conhecimento e a
adesão da sociedade;
 Os empreendimentos se apresentam muitas vezes desorganizados, com
deficiências na gestão interna e com pouco poder político e de articulação.
(CONSELHO NACIONAL DE ECONOMIA SOLIDÁRIA, 2015, p. 11-15)

Mas mesmo diante de todas as dificuldades que envolvem planejar, criar e gerir um
empreendimento econômico solidário, ele ainda se apresenta como uma alternativa a grupos
de trabalhadores como aqueles que compõem o público alvo da proposta descrita no presente
relatório, como se verá mais adiante.
37

3 ESTUDOS DE REFERÊNCIA

O conhecimento a respeito de projetos anteriores, que apresentam aspectos similares


aos desenvolvidos na proposta de intervenção em questão, é uma das formas de construir
um repertório de soluções relacionadas ao problema de projeto. Andrade, Ruschel e Moreira
ressaltam a utilidade deste repertório em novos projetos ao afirmarem:

Novas soluções baseadas em experiências precedentes podem servir para


resolver novos problemas complexos de projeto. O repertório de casos
precedentes é um precioso acervo que pode ser utilizado em outras
circunstâncias de projeto, mas isso vai depender da relevância do
antecedente na nova situação do projeto. (ANDRADE; RUSCHEL;
MOREIRA, 2011, p. 97)

Este capítulo tem, portanto, como objetivo apresentar projetos precedentes que
demonstram soluções relacionadas ao problema, a partir das modalidades descritas por Elali
e Veloso (2019), observadas no quadro abaixo.

Quadro 3: Classificação dos estudos de referências segundo Elali e Veloso


Classificação dos estudos de referências em modalidades
Temáticos O objeto estudado tem o mesmo tema que o objeto a ser projetado
Formais/Estéticos Estudo escolhido em função das características estéticas do objeto
Programáticos Foco no programa do edifício ou em parte dele
De materiais e Pretende-se que materiais e sistemas sejam empregados de modo
sistemas construtivos semelhante.
Funcionais Foco recai sobre questões de funcionalidade/fluxos.
De partido O partido adotado deve adotar linhas semelhante
valorização de algum detalhe/elemento de arquitetura a ser
De detalhes
reutilizado.
Fonte: Adaptado a partir de Elali e Veloso, 2019

Além disso, a fim de construir repertório relativo a posturas intervencionistas, a análise


dos precedentes também incluiu a classificação segundo as categorias propostas por Tiesdell,
Oc e Heath (1996), apresentadas no referencial teórico-conceitual, relacionando-as aos
conceitos de autenticidade e integridade, conforme apresentado por Vieira-de-Araújo (2006).

3.1 CENTRO SEBRAE DE REFERÊNCIA DO ARTESANATO BRASILEIRO


(CRAB)

O Centro Sebrae de Referência do Artesanato Brasileiro (CRAB) foi escolhido como


referência projetual considerando-se as modalidades temática (intervenção em edificação de
38

valor patrimonial), programática (similaridade com parte do programa do edifício) e


formal/estética (em função das características estéticas do projeto).
Em seu site3, a entidade se auto define como “uma plataforma mercadológica para o
reposicionamento e a qualificação do artesanato brasileiro, transformando-o em objeto de
desejo e consumo e, consequentemente, aumentando seu valor de mercado.” Na prática, o
Crab atua em três esferas: Crab Praça Tiradentes, Crab Web e Crab Expande (Figura 9).

Figura 9: Esferas de atuação do CRAB.

Fonte: http://crab.sebrae.com.br, 2019.

A esfera Crab Praça Tiradentes diz respeito a sede do Crab em si, localizada em frente
à Praça Tiradentes, no município do Rio de Janeiro. Trata-se de um espaço cultural de
múltiplas atividades, composto por três edificações de valor patrimonial cuja obra de
intervenção foi concluída no ano de 2016.
A esfera Crab Web, por sua vez, é a plataforma digital do Crab, através da qual é
possível entrar em contato com artesãos de todo o Brasil, conhecer canais de comercialização
do artesanato, ter acesso a artigos e publicações teóricas sobre o tema, entre outros.
E a esfera Crab Expande é o chamado “braço externo” do Crab, que busca, através
da participação em debates, palestras, fóruns, exposições de artesanato, distribuição de
publicações, entre outros, expandir as fronteiras do Crab para além de sua sede na Praça
Tiradentes.
O Crab está localizado em uma área com grande concentração de equipamentos
culturais. A Praça Tiradentes se apresenta como o centro de uma área onde encontram-se,

3
http://crab.sebrae.com.br/
39

por exemplo, equipamentos do tipo teatro, galeria, cinema, hotel, oficina de artes, dentre
outros (Figura 10).

Figura 10: Equipamentos culturais no entorno da Praça Tiradentes.

Fonte: http://crab.sebrae.com.br, 2019.

As atividades do CRAB em diversos momentos se estendem para a Praça Tiradentes,


como, por exemplo, durante a realização de visitas guiadas para escolas (Figura 11), em que
os alunos têm a oportunidade de conhecer, além do CRAB em si, a história da praça, e em
eventos culturais promovidos pela instituição. Além disso, a iniciativa intitulada de Tiradentes
Cultural também contribui para a realização de atividades na praça. Trata-se de uma ação
realizada pelos espaços culturais, empresas e instituições localizadas em volta da praça,
através da qual no primeiro sábado de cada mês há uma programação cultural ocorrendo
nela.
40

Figura 11: Visita guiada com alunos de uma Figura 12: Evento circense realizado na
escola do Rio de Janeiro Praça Tiradentes

Fonte: https://www.instagram.com, 2019. Fonte: https://www.instagram.com, 2019.

Como já mencionado anteriormente, a sede do Crab é composta por três edificações


(Figura 13), sendo a edificação principal do conjunto o Solar Visconde do Rio Seco, tombado
pelo IPHAN e pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (INEPAC). De acordo com o
próprio Crab, é o prédio mais antigo da Praça Tiradentes, construído no final do século XVIII,
e adquirido em 1812 pelo Visconde do Rio Seco, para ser utilizado com sua residência.
Atualmente, pertence à Prefeitura do Rio de Janeiro.
As instalações do Crab distribuem-se em três pavimentos. Pensando em zoneamento,
percebe-se que os usos relativos ao artesanato em si foram concentrados no Solar, enquanto
que aqueles relativos a convivência e alimentação foram distribuídos entre os outros dois
edifícios.

Figura 13: As três edificações que compõem o Crab.

Fonte: http://crab.sebrae.com.br, 2019.


41

No andar térreo (Figura 14) há a entrada pela chamada “Rua do Mercado”, no edifício
nº 69, de fachada amarela. Ainda neste nível, encontram-se a loja evento, distribuída em sete
ambientes do Solar, e o espaço gastronômico, situado no edifício menor.

Figura 14: Distribuição dos ambientes no nível térreo.

Fonte: http://crab.sebrae.com.br, 2019.

Figura 15: Acesso ao CRAB

Fonte: https://www.instagram.com, 2019.

No primeiro andar (Figura 16) encontram-se o espaço conexões e o espaço de


exposições. Neste último, como o próprio nome sugere, ocorrem as exposições, onde são
apresentados diferentes olhares a respeito do artesanato brasileiro. Já o espaço conexões,
destinado à convivência, corresponde ao conjunto formado pela midiateca, praça e café.
42

Figura 16: Distribuição dos ambientes no primeiro andar.

Fonte: http://crab.sebrae.com.br, 2019.

Figura 17: Espaço destinado a exposição de Figura 18: Vista da Midiateca do CRAB
Artesanato.

Fonte: https://www.galeriadaarquitetura.com.br/,
2019
Fonte: https://www.instagram.com, 2019.

Figura 19: Vista de um dos ambientes de Figura 20: Vista da Galeria Pop Up, um dos
exposição espaços destinados à exposição.

Fonte: https://www.instagram.com, 2019. Fonte: https://www.instagram.com, 2019.


43

Figura 21: Vista superior do café

Fonte: https://www.instagram.com, 2019.

No segundo andar (Figura 22), último nível da edificação, está localizado o espaço
oficina, onde ocorrem cursos permanentes e temporários de capacitação, formação, pesquisa
e experimentação. Há também o espaço multiuso, um auditório destinado a shows, debates,
palestras, encontros, dentre outros. O espaço experimental e, por fim, a administração do
edifício.

Figura 22: Distribuição dos ambientes no segundo andar.

Fonte: http://crab.sebrae.com.br, 2019.


44

Figura 23: Vista da Praça Tiradentes a Figura 24: Uma das oficinas realizadas no CRAB
partir do terraço, no segundo andar

Fonte: https://www.instagram.com, 2019.

Fonte: https://www.instagram.com, 2019.

Figura 25: Vista do terraço a partir do Figura 26: Salas de oficina, ao lado do
Espaço Oficina terraço, no segundo andar

Fonte: https://www.instagram.com, 2019 Fonte: https://www.instagram.com, 2019.

A respeito do partido adotado na intervenção, observa-se que houve uma busca pela
valorização da fachada através do uso de cores diferentes que facilitam a identificação dos
três edifícios (Figura 27 e Figura 28). Em relação ao Solar, optou-se também por reinserir
elementos que provavelmente existiram em outro período. No caso em questão, as estatuetas
localizadas sobre os pilares. A mesma conduta de preservar os elementos foi adotada para o
edifício nº 69, com a fachada amarela. Porém, quanto ao edifício menor, a solução adotada
foi outra. O primeiro andar teve sua fachada totalmente alterada para dar espaço à midiateca
e ao terraço.
45

Figura 28: O Crab após a intervenção. Em


Figura 27: O Crab antes da intervenção. destaque as novas estátuas.

Fonte: https://maps.google.com.br/, 2012. Fonte: http://agenciasebrae.com.br, 2019.

No entanto, embora na fachada tenha havido essa busca por retomar as feições do
prédio, internamente o edifício recebeu novas instalações, que em quase nada lembram uma
edificação do século XVIII. De acordo com o arquiteto Lucas Teixeira Franco (MARQUEZ,
entre 2016 e 2019, não paginado), “o projeto precisava conter design moderno e infraestrutura
de ponta, restaurando o patrimônio artístico e cultural edificado e colaborando para a
revitalização do centro histórico do Rio de Janeiro.”.
A análise do projeto arquitetônico do Crab permitiu auxiliar na elaboração de um
programa de necessidades, uma vez que o uso escolhido é semelhante, embora em
dimensões bem menores. Também foi possível conhecer decisões projetuais que buscaram
conciliar o atendimento a necessidades contemporâneas e a preservação do patrimônio. Além
disso, o empreendimento em si mostrou ser viável o convívio entre usos semelhantes ao que
se pretende para a edificação escolhida (café, loja de artesanato, espaço para eventos, entre
outros).
Percebeu-se também uma relação entre a extensão das atividades do CRAB para a
Praça Tiradentes e a proposta de integração entre a edificação escolhida e a Praça Padre
João Maria. Ambas as praças possuem valor histórico e são utilizadas para a realização de
eventos culturais. A própria disposição das duas edificações em relação às praças, de frente
a elas, propicia essa apropriação do espaço urbano.
Em se tratando da postura intervencionista adotada e da discussão a respeito da
autenticidade e integridade, em relação às categorias elaboradas por Tiesdell, Oc e Heath
(1996), é possível dizer que o projeto se enquadra entre a continuidade e a justaposição
contextual. O fato de a envoltória ter sido encontrada antes da intervenção aparentemente em
bom estado de preservação de seus elementos, contribuiu para que a edificação aparentasse,
após a obra, um caráter intacto. Porém, internamente, as novas instalações ressaltam que se
trata de algo novo, contemporâneo, que contrasta com a preexistência.
46

Figura 29: Em vermelho, enquadramento da obra em relação às categorias propostas por Tiesdell, Oc
e Heath.

Fonte: elaboração própria a partir de Vieira-de-Araújo (2006), 2019.

3.2 MIGUEL COUTO/CITÉ ARQUITETURA

O edifício na Rua Miguel Couto, nº 106 (Figura 30), no bairro Centro do Município do
Rio de Janeiro, é uma edificação de uso comercial, atualmente com sete salas de escritório e
quatro lojas. Em 2018, foi concluída a obra de intervenção que é descrita pelo escritório Cité
Arquitetura, responsável pelo projeto, como um retrofit.

Figura 30: Localização da edificação.

Fonte: https://www.citearquitetura.com.br, 2018.

O projeto foi escolhido como referência projetual principalmente em virtude da


similaridade com o tipo de estrutura escolhida, uma vez que se pretende empregar o mesmo
sistema, composto por perfis metálicos de alma cheia. Outros motivos foram a solução relativa
ao mezanino (Figura 32) e a relação dos pavimentos com as fachadas.
47

Figura 31: Vista das fachadas frontais da Figura 32: Na parte de cima da imagem o
edificação. mezanino, com vigas e pilares metálicos.

Fonte: https://www.citearquitetura.com.br, Fonte: https://www.citearquitetura.com.br,


2018. 2018.

A proposta incluiu a criação de uma estrutura em perfis metálicos independente da


edificação preexistente. De acordo com o escritório, desta forma foi possível reduzir os
esforços físicos incidentes nas fachadas históricas. A estrutura ainda permitiu a criação de um
novo pavimento, no subsolo (Figura 33), além da conservação dos baldrames originais, que
passaram a ser estruturados por pilares metálicos, e foram valorizados ao serem
acondicionados em invólucros no piso. Com esta estrutura independente também foi possível
uma maior liberdade para trabalhar a definição dos ambientes.

Figura 33: Planta do Subsolo, cuja criação foi possível a partir da nova estrutura metálica

Fonte: https://www.citearquitetura.com.br, 2018.


48

Figura 34: Planta baixa do pavimento térreo

Fonte: https://www.archdaily.com.br, 2018.

A edificação, antes da intervenção, possuía apenas dois pavimentos, passando a ter


quatro após a obra. A respeito da relação entre estes e as fachadas, mencionada
anteriormente, observa-se que há um afastamento no segundo pavimento (Figura 35), que
proporciona um pé direito duplo ao mesmo tempo em que preserva a funcionalidade das
esquadrias, que perderiam a sua abertura caso o pavimento se estendesse até a fachada.

Figura 35: Planta do segundo pavimento, onde se observa o afastamento do pavimento em


relação às fachadas.

Fonte: https://www.citearquitetura.com.br, 2018.


49

Já no terceiro pavimento (Figura 36), foi proposto um rebaixo da laje, a fim de dar
acesso às sacadas. Este rebaixo também cria duas alturas de pé direito no mesmo pavimento,
onde se observa, acima do nível mais elevado, a criação de uma claraboia, que possibilitou a
iluminação natural do ambiente.

Figura 36: Terceiro pavimento, onde se observa um rebaixo da laje contornando as


fachadas.

Fonte: https://www.citearquitetura.com.br, 2018.

Figura 37: Terceiro pavimento, com rebaixo Figura 38: Vista externa da sacada.
contornando as fachadas e dando acesso às
sacadas, e claraboia.

Fonte: https://www.citearquitetura.com.br, Fonte: https://www.citearquitetura.com.br,


2018 2018

Uma outra característica do projeto que merece menção diz respeito à cor escolhida
para os perfis metálicos. Observa-se que a escolha pelo branco condiz com a pintura das
paredes internas da edificação, de maneira que a estrutura proposta, embora distinguível da
preexistência, não se destaca na composição entre antigo e novo.
50

Quanto ao seu enquadramento teórico, a intervenção pode ser classificada na


categoria de continuidade contextual, proposta por Tiesdell, Oc, Heath (1996). Trata-se de
uma obra em que as soluções propostas dialogam com a preexistência, na medida em que,
não houve alterações em sua envoltória, e internamente procurou-se intervir com o cuidado
de garantir a distinguibilidade através da escolha por estruturas em material diferente daquele
utilizado na edificação preexistente, porém buscando-se uma harmonia através das cores.
Este posicionamento ressalta a importância, segundo Riegl (2014) e Brandi (2005), de
um juízo crítico, levando-se em consideração as questões estéticas e históricas relacionadas
à edificação.

Figura 39: Em vermelho, enquadramento da obra em relação às categorias propostas por Tiesdell, Oc
e Heath.

Fonte: elaboração própria a partir de Vieira-de-Araújo (2006), 2019.

3.3 VILA FLORES

Vila Flores, em homenagem ao Sr. Floriano, um antigo morador, é um conjunto


formado por três edificações e um pátio central, em um terreno de 1415m² no bairro Floresta,
no município de Porto Alegre. Foi construído entre 1925 e 1928, a partir de projeto de autoria
do engenheiro-arquiteto e imigrante alemão José Franz Seraph Lutzenberger. As edificações
constam no Inventário do Patrimônio Cultural de Bens Imóveis do Bairro Floresta, e estão
inseridas em Área de Interesse Cultural de Porto Alegre. Trata-se de um empreendimento de
múltiplos usos, o que inclui moradia, sede de diversos empreendimentos criativos nas áreas
de artes visuais, artes cênicas, audiovisual, realização de eventos socioculturais, entre outros.
51

Figura 40: Localização do conjunto arquitetônico

Fonte: adaptado de Vila Flores, 2018.

Foi construído a princípio com a finalidade de ser um conjunto habitacional destinado


aos trabalhadores da área industrial. Passou por um período de abandono e degradação,
tendo sido objeto de ocupação irregular em 2010.

Figura 41: Aquarela da fachada de um dos edifícios, elaborada pelo arquiteto Lutzenberger

Fonte: Bem e Dellaméa, 2017.


52

Figura 42: Pranchas de uma das edificações do conjunto, elaboradas pelo arquiteto
Lutzenberger

Fonte: adaptado de Vila Flores, 2018.

Posteriormente, por volta de 2011, houve a interdição em virtude do risco que oferecia
aos usuários diante do seu mal estado de conservação, o que levou à saída dos moradores.
O primeiro mutirão ocorreu então em 2012, visando dar início à recuperação do conjunto.

Figura 43: Parte do conjunto antes das obras de recuperação.

Fonte: Vila Flores, 2018.

Em 2014 foi criada a Associação Cultural Vila Flores, responsável pela gestão dos
espaços coletivos e pela programação junto aos “vileiros”, como são chamados os
participantes do empreendimento, e produtores culturais da cidade. Posteriormente, em 2015,
aconteceu o primeiro encontro das Casas Colaborativas de Porto Alegre no Vila Flores. No
53

período compreendido entre 2014 e 2018 o espaço recebeu mais de 500 atividades culturais
e educativas em diversas áreas, como teatro, música, oficinas, palestras e exposições.

Figura 44: O Vila Flores em dia de evento cultural

Fonte: gomaoficina.com, 2019.

O projeto foi escolhido em função das categorias temática, programática, funcional e


de partido, em especial devido a relação das edificações com o exterior. Ele foi elaborado, de
maneira colaborativa com moradores da vizinhança, pelo escritório Goma Oficina, porém,
segundo o arquiteto, João Felipe Wallig (Vila Flores, 2018), ele é visto muito mais como um
processo arquitetônico do que um projeto em si, pois já passou por várias versões e continua
em constante mutação. Pode ser entendido como um organismo vivo, que vai se aprimorando,
e que faz com que as pessoas queiram estar no lugar, faz com que elas se sintam parte e
façam o espaço. Há uma constante participação popular nas decisões.
Diante das limitações financeiras, foi pensado para ser executado em etapas, e de
forma colaborativa, não tendo sido concluído ainda. É uma iniciativa que traz na sua essência
o envolvimento da comunidade. Exemplo disso é o fato de que ao receberem os ambientes,
cada um dos ocupantes responsabilizou-se pela adequação de seu espaço, desde instalações
elétricas até acabamentos. Já os espaços de uso coletivo foram reformados em oficinas
realizadas pela ONG Mulheres em Construção, que tem como objetivo capacitar mulheres em
situação de vulnerabilidade social para atuarem no setor da construção civil.
54

Figura 45: Painel do projeto apresentado na 15ª Bienal de Veneza

Fonte: gomaoficina.com, 2016.

Como já mencionado, o conjunto é formado por três edificações. Os tipos de uso,


comercial, residencial e cultural, encontram-se zoneados conforme Figura 46. Observa-se que
o uso cultural ocorre na área do pátio e galpão (edificação térrea do conjunto). Com base nos
usos, houve a delimitação do grau de restrição dos acessos e seus tipos. Na Figura 47 as
setas vermelhas correspondem aos acessos públicos destinados ao uso cultural. Há também
uma divisão entre pedestres, bicicletas e veículos. Os usos comercial (setas cinzas) e
residencial (setas amarelas) foram definidos como de acesso restrito. A proposta ainda prevê
futuramente a criação de um memorial, destinação de alguns apartamentos para moradia
temporária e uma cafeteria.
55

Figura 46: Zoneamento por tipos de uso Figura 47: Classificação dos tipos de acesso,
conforme cor das setas.

Fonte: Vila Flores, 2018. Fonte: Vila Flores, 2018.

De acordo com o escritório, o projeto tem como objetivo a requalificação dos edifícios
e adaptação de seu uso a uma demanda contemporânea, sendo adotadas como premissas o
restauro das fachadas externas, novas soluções de infraestrutura, circulação, acessibilidade
e relativas à própria estrutura dos edifícios. Para tanto, dentre os estudos realizados pelo
escritório, incluiu-se um diagrama de acessibilidade (Figura 48), no qual se observa restrições
em parte das áreas comercial e residencial, em que a acessibilidade é parcial.

Figura 48: Diagrama de acessibilidade

Fonte: Vila Flores, 2018.


56

Além disso, a proposta também engloba a instalação futura dos chamados sistemas
ambientais, o que inclui aquecimento solar, energia eólica, compostagem, horta, energia solar
e captação pluvial. Na Figura 49 observa-se quais destes sistemas serão instalados em cada
edificação.

Figura 49: Sistemas ambientais por edificação

Fonte: Vila Flores, 2018.

De acordo com o escritório Goma Oficina, o pátio é visto como o coração da proposta,
onde ocorrem os eventos, o encontro ao ar livre, a convivência entre as pessoas. As varandas
e janelas dos edifícios do conjunto se abrem em direção a ele, e a partir dele se tem também
acesso à rua. É, portanto, uma forma de conexão entre os edifícios e o restante da cidade. A
este respeito, o arquiteto João Felipe Wallig (Vila Flores, 2018) menciona a intenção de “que
o térreo fosse uma extensão da rua, o que é bastante sugerido pela arquitetura original”.
57

Figura 50: Vista do pátio durante evento. Figura 51: Evento noturno realizado no pátio.

Fonte: www.vilafores.wordpress.com, 2019. Fonte: www.google.com.br, 2019.

A ligação do pátio com a rua, como visto na Figura 47, é feita por três acessos. Na
Figura 52 observa-se um dos fluxos possíveis, que permite a conexão entre as duas ruas (São
Carlos e Hoffmann) a partir do pátio.

Figura 52: Um dos fluxos possíveis entre o pátio e o entorno

Fonte: Vila Flores, 2018.

Em relação à postura adotada quanto à intervenção no patrimônio, é necessário


considerar que se trata de uma obra ainda inconclusa e, portanto, passível de modificações.
No entanto, é possível dizer que, no atual estado em que se encontra, apresenta-se mais
próximo da continuidade contextual (Figura 53).
58

Figura 53: Enquadramento da proposta com base nas categorias de Tiesdell, Oc, Heath (1996)

Fonte: elaboração própria a partir de Vieira-de-Araújo (2006), 2019.

São perceptíveis as marcas do tempo, e as fachadas voltadas para a rua permanecem


sem aparentes alterações. Embora o conjunto transpareça uma incompletude, com partes que
aparentam estar inacabadas, isto se deve ao estado atual em que se encontra a obra, ainda
em execução, e ao fato de a edificação já ter sido encontrada antes da proposta em um estado
precário de conservação, e não em virtude de soluções propostas no projeto de intervenção.

Figura 54: Vista da fachada externa, sem Figura 55: Detalhe da fachada externa, com
aparentes alterações elementos preservados.

Fonte: google.com, 2018. Fonte: google.com, 2018.


59

Figura 56: Vista de um dos blocos a partir da rua.

Fonte: google.com, 2018.

Figura 57: Vista do bloco em frente ao galpão

Fonte: google.com, 2018.

3.4 SÍNTESE DOS ESTUDOS

Quanto aos estudos apresentados neste capítulo, em síntese, é possível dizer que
cada um deles trouxe características específicas que se relacionaram com a proposta. Os três
têm em comum o fato de se tratarem de projetos de intervenção no patrimônio, mas cada um
deles possui particularidades específicas que posteriormente vieram a influenciar no processo
de projeto. O CRAB trouxe contribuições importantes para o desenvolvimento do programa,
tanto para dar diretrizes a respeito dos ambientes, quanto para demonstrar a viabilidade da
coexistência de usos diversos, e semelhantes aos pretendidos, no mesmo edifício. Além
disso, demonstrou similaridade com o que se pretende em relação à extensão das atividades
da instituição para a praça em frente. O Miguel Couto contribuiu em especial com o sistema
estrutural adotado, e com a solução relativa à criação de mais pavimentos (dentre eles um
mezanino) dentro de uma edificação preexistente e de valor patrimonial. E o Vila Flores
apresentou-se como um caso importante de integração entre edificação e entorno, que foi
60

alcançada tanto pela própria forma e disposição dos edifícios e do pátio, quanto pelos usos.
O fato de se tratar de um conjunto ocupado por grupos artísticos, que fazem uso do pátio e
do galpão para a realização de eventos diversos, contribuiu para trazer vitalidade ao Vila
Flores. A configuração do pátio, ladeado pelas edificações, assim como observado no CRAB,
apresenta semelhanças com a situação encontrada no conjunto formado pela Praça Padre
João Maria e edificações do entorno. O uso cultural do Vila Flores demonstrou que a praça
pode também vir a se tornar palco de atividades que tenham como origem o Espaço Cultural.
Esta vitalidade existente atualmente no conjunto formado pelo pátio e edificações é a mesma
que se busca para a praça e a casa de nº 71. E por fim, em relação a soluções adotadas com
objetivo preservacionista, os três projetos têm em comum a preocupação com a preservação
da envoltória e a adaptação das edificações aos novos usos e demandas contemporâneas.
No caso do Vila Flores este cuidado com a envoltória é mais observado nas fachadas voltadas
para a rua, sendo perceptíveis algumas alterações naquelas voltadas para o pátio.
61

4 CONDICIONANTES PROJETUAIS

Segundo Moreira e Kowaltowski (2011, p. 101), “o processo de projeto deve descrever


uma forma ou edifício capaz de cumprir as exigências de seu uso”. Estas exigências são
normalmente identificadas ainda na fase de análise, sob a forma de condicionantes projetuais,
como os ambientais, a fim de garantir condições de conforto aos usuários, o dimensionamento
dos ambientes em função das atividades desenvolvidas, entre outros. Há também os
condicionantes que, embora não possuam relação direta com o uso, precisam ser levados em
consideração, como os aspectos legais.
Esta seção é dedicada, portanto, à identificação destes condicionantes, e está
subdividida entre os aspectos relacionados ao local de intervenção, como definição do
universo de estudo e levantamento de dados relativos ao entorno, reconhecimento da
edificação preexistente, através do histórico e análise formal, aspectos físicos, ambientais e
legais.

4.1 A ÁREA E O TERRENO/LOCAL DE INTERVENÇÃO

A proposta em questão tem como local de intervenção o universo compreendido pelo


imóvel de número 71, situado na esquina entre a Rua Voluntários da Pátria e a Praça Padre
João Maria, no bairro de Cidade Alta, em Natal – RN, e seu entorno.
Pensando em uma delimitação deste entorno a ser estudado, optou-se pela definição
de uma poligonal que tivesse como divisa marcos relevantes para a história do lugar. Desta
forma, optou-se por delimitar o universo de estudo tendo como base o beco da lama a leste;
a Rua Heitor Carrilho ao sul, a partir da qual se tem a visualização de um importante marco
urbano, que é a Igreja de Santo Antônio, popularmente conhecida como Igreja do Galo; a
praça André de Albuquerque a oeste; e o palácio da Prefeitura Municipal a Norte. Assim,
chegou-se à poligonal identificada na Figura 58.
62

Figura 58: Definição do universo de estudo. Em destaque, marcos que influenciaram na


escolha e o imóvel da proposta.

Fonte: adaptado de Google Earth, 2019.

Ainda a respeito do local de intervenção, é importante lembrar que a relação entre a


casa e seu entorno é o elemento norteador da questão-problema desta proposta. Há, portanto,
uma necessidade de melhor entender o contexto em que a edificação está inserida, e um dos
encaminhamentos para isto é o estudo da forma urbana. Foram então levantados os usos e
ocupações no entorno da casa, gabarito das edificações e traçado viário, apresentados sob a
forma de mapas.

4.1.1 USO DO SOLO

A partir do mapa de uso do solo (Figura 59), é possível observar que no recorte
analisado há uma predominância do uso comercial e de serviços (62%), seguido por
residencial unifamiliar (17%) e institucional (9%). Este último se concentra principalmente ao
norte do mapa, com destaque para a Rua da Conceição, onde localizam-se instituições como
o Instituto Histórico e Geográfico e seu arquivo (Memorial Oriano de Almeida), o Centro
Pastoral Dom Heitor de Araújo Sales e o Museu Café Filho.
A respeito do uso comercial e de serviços, quanto mais próximo da Avenida Rio
Branco, maior a concentração destes estabelecimentos. No recorte a predominância ocorre
nas Rua João Pessoa, Vigário Bartolomeu, Gonçalves Ledo e Vaz Gondim (popularmente
63

conhecida como Beco da Lama). Este tipo de uso também é o mais observado em volta da
Praça Padre João Maria. O uso residencial unifamiliar, por sua vez, é predominante na parte
sul do mapa, principalmente na Rua Voluntários da Pátria.

Figura 59: Mapa de Uso do Solo do entorno da edificação.

Fonte: elaboração própria, 2019.

Figura 60: Gráfico relativo à porcentagem de uso por tipo.

Uso do Solo: porcentagem por tipo


Praça Sem uso Residencial Unifamiliar
Institucional 2% 3% 17%
9%
Residencial
Misto Multifamiliar
6% 1%

Comercial
62%

Fonte: elaboração própria, 2019.


64

4.1.2 OCUPAÇÃO DO SOLO

Na análise da ocupação do solo, foram observadas as relações entre os domínios


público e privado, bem como entre cheios e vazios. No recorte é possível observar (Figura
61), excetuando-se as vias públicas, uma clara divisão entre os domínios, em que o público,
composto pelas praças e edifícios públicos como a Assembleia Legislativa, o Museu Café
Filho e a Pinacoteca do Estado, se concentra ao norte, e ao sul o privado.
Quanto à relação entre cheios e vazios (Figura 62), apesar da predominância dos
cheios, representados pelas edificações, as praças mais uma vez destacam-se pela extensão
que ocupam. A este respeito, Lamas ressalta a importância da relação entre elas e os
edifícios. Relação esta que contribui para o desenho urbano:

A definição da praça na cidade tradicional implica, como na rua, a estreita


relação do vazio (espaço de permanência) com os edifícios, os seus planos
marginais e as fachadas. Estas definem os limites da praça e caracterizam-
na, organizando o cenário urbano. (LAMAS, 2014, p.102)

Dentro do recorte, esta relação é observada principalmente na Praça Padre João


Maria, contornada pelas fachadas dos edifícios, e única praça do local que possui edificações
(Banco do Nordeste e antiga Igreja Matriz) como limites de sua área.
Também é possível observar a contribuição das áreas de estacionamento enquanto
vazios, podendo-se citar, dentre estes, o de propriedade do Banco do Nordeste, o da
Secretaria Municipal de Administração, e estacionamentos privados, como o localizado ao
lado da Lojas Renner e um na Rua Santo Antônio.
65

Figura 61: Mapa de domínios

Fonte: elaboração própria, 2019.

Figura 62: Mapa de cheios e vazios

Fonte: elaboração própria, 2019.


66

4.1.3 GABARITO

No recorte analisado, há um predomínio de edificações térreas (56%) e com dois


pavimentos (31%). É importante ressaltar que o recorte em questão se encontra totalmente
inserido na Subzona de Predominância Institucional – SZ-02 – estabelecida pela Lei Municipal
nº 3.942 de 1990, que prevê para esta o gabarito máximo de dois pavimentos (7,50 metros).
É provável, portanto, que edificações com 3 ou mais pavimentos (13%) tenham sido
construídas em data anterior à publicação da lei.

Figura 63: Mapa de Gabarito

Fonte: elaboração própria, 2019.

Figura 64: Gráfico da porcentagem por tipo de gabarito.

Gabarito: porcentagem por tipo


9 OU MAIS
4 a 8 PAVIMENTOS
3 PAVIMENTOS
2%
PAVIMENTOS 1%
10%

2 1 PAVIMENTO
PAVIMENTOS 56%
31%

Fonte: elaboração própria, 2019.


67

4.2 RECONHECIMENTO DO BEM E SEU ENTORNO

Para propor uma intervenção em uma edificação de valor patrimonial é importante a


realização de um diagnóstico a respeito do bem. Vieira-de-Araújo (2014, p.6) afirma que “Em
qualquer situação, o conhecimento profundo sobre o bem em que se deseja intervir e a adoção
de procedimentos metodológicos claros são condições primeiras para o alcance de um
resultado de qualidade.”
Conhecer a sua história, a situação atual em que se encontra, quais elementos devem
necessariamente ser preservados, o estado de conservação da edificação como um todo,
entre outros é, portanto, uma etapa importante do processo de projeto voltado para
edificações de valor patrimonial. A leitura do edifício enquanto documento, quando há dados
suficientes, também permite identificar as adições, adaptações e modificações ao longo do
tempo. Por esta razão, dedicamos esta seção à edificação em si, para compreendê-la e assim
possuir melhor embasamento no desenvolvimento da proposta.

4.2.1 HISTÓRICO

A edificação escolhida para o desenvolvimento da proposta, localizada em frente à


Praça Padre João Maria, no bairro de Cidade Alta, foi construída pelo Coronel Aureliano de
Medeiros, comerciante de renome, então proprietário da loja Paris em Natal (Figura 65), como
esclarece Cabral:

A residência a que este trabalho refere-se, pertence aos “de Medeiros”, e foi
erguida pelo patriarca da família, Cel. Aureliano de Medeiros, um rico
comerciante nascido no interior do estado e que foi proprietário de muitas
outras casas tanto no bairro de Cidade Alta como no bairro da Ribeira, onde
localizava-se seu estabelecimento comercial, a loja “Paris em Natal”, uma
estrutura de alto padrão que atendia aos mais variados gostos da sociedade
natalense, com seus finos produtos importados. (CABRAL, 2000, p. 5)

No suplemento do Diário Oficial do Estado do Rio Grande do Norte (2005) foi


encontrada uma referência a este fato: “Alguns prédios importantes, seja pela sua arquitetura,
seja pela marcação histórica, situaram-se na Praça Padre João Maria. Residências, como o
sobrado de Aureliano Medeiros, ainda hoje de pé.”
68

Figura 65: À direita, a loja Paris em Natal, de propriedade de Aureliano de Medeiros, e


situada no bairro da Ribeira.

Fonte: https://tokdehistoria.com.br/, s.d.

Trata-se, portanto, de uma edificação que foi construída originalmente para uso
residencial. No ano de 2000, quando a pesquisa desenvolvida por Cabral foi realizada, a neta
do proprietário, hoje falecida, ainda residia na casa. Atualmente, a edificação encontra-se
parcialmente sem uso, com uma parcela destinada a um sebo de livros, e ampliações sendo
ocupadas por dois chaveiros (Figura 66).

Figura 66: Zoneamento dos usos atuais.

Fonte: elaborado pela autora, 2019.


69

Ainda de acordo com Cabral (2000) a edificação foi construída na década de 1920. No
entanto, chama atenção o registro fotográfico atribuído ao ano de 1922 (Figura 67), em que
em seu local há uma edificação com uma fachada frontal bastante diferente daquela
encontrada na década de 1970 (Figura 68). Na foto de 1922, se observa uma fachada com
quatro janelas dispostas de forma simétrica e um telhado aparente. A disposição das janelas
também permite auferir que o acesso à edificação provavelmente não se fazia por esta
fachada. Já nos anos 1970, a edificação possuía uma platibanda adornada, não havia mais
as quatro janelas e foi criado um volume recuado do alinhamento da calçada, através do qual
se tem a porta de entrada da edificação, acessada por uma escada. Levantam-se então duas
possibilidades: ou a edificação passou por modificações que mudaram consideravelmente
suas características, ou se trata de uma edificação anterior à data da construção da edificação
atual.

Figura 67: Foto da Praça Padre João Maria a partir da Igreja Matriz. Em destaque, a
edificação existente à época.

Fonte: Rocha Pombo, apud Viegas, 1922.


70

Figura 68: Registro da fachada frontal nos anos 70.

Fonte: Base de Pesquisa MuSA, anos 70, apud Cabral, 2000.

A edificação foi construída em uma área tida como nobre à época, o bairro de Cidade
Alta. De sua localização, em frente à praça, com vista para a Igreja Matriz, era possível avistar
o movimento dos fiéis. A respeito das práticas relacionadas à vida cotidiana, o suplemento do
Diário Oficial do Estado do Rio Grande do Norte traz um relato que demonstra bem a relação
dos habitantes com a localidade:

Quando a praça era totalmente arborizada com "fícus-benjamins" [...] o


oxigênio protegia as pessoas. Então, foliões de alguns grupos carnavalescos,
para dormirem um pouco após o almoço, [...] armavam redes nos galhos das
árvores e gozavam de uma boa sesta [...]. A 07 de setembro de 1908, foi
inaugurado o serviço de bondes (puxados a burro) em Natal. Os meninos
gostavam de passear neles. [...] Aproximando-se o fim da linha, que era a
Praça Padre João Maria, desciam, dizendo: "não quero mais não" Mas
corriam de imediato para a praça, onde começavam a imitar Tarzan, pulando
de galho em galho nas árvores. Os adolescentes estudantes "se revezavam
junto ao busto do Santo Padre, desmanchando-se em promessas em
vésperas de prova escolar", segundo conta Procópio Júnior em artigo no
jornal "O Potiguar". Em dias da Semana Santa, jornalistas se debruçavam
das janelas do prédio nº 58, onde ficava a redação do "Correio do Povo", para
verem a saída dos "irmãos dos Passos", [...] num clima de unção religiosa.
Mas a noite na praça trazia para ali personagens irreverentes. A altas horas,
com o frio da madrugada, atores que haviam saído de uma jornada de
ensaios no Teatro Alberto Maranhão, chegavam ao busto do padre João
Maria e não resistiam: desviavam para o próprio acervo ex-votos artísticos.
(RIO GRANDE DO NORTE, 2005, p.8).

Aqui cabe uma breve consideração a respeito do relato acima, com base no que afirma
Hertzberger (1999, p. 43): “Uma área de rua com a qual os moradores estão envolvidos, onde
marcas individuais são criadas por eles próprios, é apropriada conjuntamente e transformada
num espaço comunitário.” Essa apropriação, portanto, existia por parte dos diversos tipos de
71

usuários. Crianças brincando nas árvores, religiosos rezando junto ao busto do Padre, foliões
dormindo na praça. Uma espécie de vitalidade que deve ser valorizada na proposta.
Atualmente, a praça é palco de outras formas de apropriação do espaço pela
comunidade. Como mencionado na problemática (seção 1.1), mesmo diante do atual estado
precário de conservação, nela ocorrem diversas atividades, sejam estas religiosas, culturais
ou sociais, podendo-se citar o Choro do Caçuá, realizado no segundo e último sábado de
cada mês, missas em homenagem ao Padre João Maria, eventos dos cordelistas, saraus,
encenações teatrais e tantas outras ações que expressam a vocação cultural daquela área.

4.2.2 ANÁLISE FORMAL

Visando melhor compreender a edificação escolhida e dar subsídios à proposta


arquitetônica a ser desenvolvida, optou-se por realizar uma análise formal da edificação. Para
tanto, foram observados três momentos diferentes, nos quais buscou-se identificar
modificações em planta e volumetria, além da relação entre edificação, lote e rua.
Nas análises relativas às alterações em planta baixa foram combinados os croquis
elaborados por Cabral (2000, p. 26), com base em relatos da neta de Aureliano de Medeiros,
e observações a partir da forma da edificação, para posteriormente elaborar plantas baixas
do que se acredita serem os três momentos de diferentes configurações espaciais.
Em relação à volumetria, tomou-se como base registros fotográficos da fachada
frontal, voltada para a Praça Padre João Maria, nos anos 1970, 2000 e 2019 para investigar
a existência ou não de alterações. Passamos então à análise.
O primeiro momento (Figura 69) diz respeito à época da construção, entre os anos
1920 e 1930. A neta do proprietário relatou que no lado esquerdo da casa havia uma varanda,
conforme descreve Cabral:

Do outro lado havia um avarandado que acompanhava a casa em seu


comprimento e era enfeitado com vasos de plantas. O avarandado que tinha
acesso pelo interior da casa, era mais um lugar onde os moradores e
convidados podiam entregar-se à longas prosas nos finais de tardes.
(CABRAL, 2000, p. 7)
72

Figura 69: Planta baixa do primeiro momento (entre 1920 e 1930)

Fonte: elaboração própria, 2019

Cabral também descreve a existência de um acesso lateral para cavalos, além de uma
dependência de empregados nos fundos do lote. O afastamento desta em relação à edificação
principal permite levantar algumas considerações. A relação entre empregadores e
empregados nesta época ainda apresentava resquícios relativos ao período colonial, quando
o trabalho escravo era permitido. Esta relação refletiu-se, portanto, na arquitetura, como
observa Reis Filho:

A sociedade brasileira revelava ainda os compromissos de um passado


recente com o regime de trabalho escravo. Por isso mesmo os edifícios
ligavam-se estreitamente aos esquemas rígidos dos tempos coloniais. [....]
Os primeiros anos do século XX assistiriam à repetição, sob várias formas,
dos esquemas de relações entre arquitetura e lote urbano, que haviam
entrado em voga com a República. Conservando-se ainda as técnicas de
construção e uso dos edifícios, largamente apoiados na abundância de mão-
de-obra mais grosseira e, em pequena parte, artesanal, era natural que se
repetissem os esquemas de fins do século XIX, com soluções mais ou menos
rústicas, com edifícios sobre o alinhamento da via pública, a revelar em quase
todos os detalhes, os compromissos de um passado ainda recente com o de
trabalho escravo e com os esquemas rígidos dos tempos coloniais. (REIS
FILHO, 2000, p.53)

Ainda sobre o primeiro momento, a relação da edificação com o lote se dava de forma
bastante diferente da observada atualmente. Com exceção da fachada voltada para a Praça
Padre João Maria, todas as demais possuíam afastamento em relação aos limites do terreno.
Havia, portanto, áreas livres, não ocupadas no lote. A ausência de recuo na fachada voltada
para a praça pode ser interpretada também como herança do período colonial, em que os
73

limites das vias públicas eram dados pelas edificações, como afirma Reis Filho, ao tratar do
lote urbano colonial:

Numa época na qual as ruas, com raras exceções, ainda não tinham
calçamento, nem eram conhecidos passeios – recursos desenvolvidos já em
épocas mais recentes, como meio de seleção e aperfeiçoamento do tráfego
– não seria possível pensar em ruas sem prédios; ruas sem edificações,
definidas por cercas, eram as estradas. A rua existia sempre como um traço
da união entre conjuntos de prédios e por eles era definida espacialmente.
(REIS FILHO, 2000, p.22)

O segundo momento diz respeito ao período compreendido entre 1930 e o ano 2000
(Figura 70), mas em data incerta. As alterações consistem na retirada da varanda e da
dependência de empregados, que foi substituída por um volume na parte posterior da
edificação.

Figura 70: Planta baixa do segundo momento (entre 1930 e 2000)

Fonte: elaboração própria, 2019

Em relação à varanda, imagem do ano 2000 (Figura 71), apresentada por Cabral
(2000), evidenciava a sua ausência. Na lateral esquerda da edificação se observa o acesso
ao sebo, ainda existente atualmente. Em imagem dos anos 1970 (Figura 72), no mesmo local
onde posteriormente veio a ser instalada a placa com os dizeres “Sebo da Praça”, observada
na Figura 71, existia uma outra placa, na qual se lia “Cantinho dos Chaveiros”, o que leva a
crer que nos anos 1970 os chaveiros ainda não estavam instalados onde se encontram
atualmente, na lateral voltada para a Rua Voluntários da Pátria. Nesta mesma imagem
também não é possível visualizar a varanda.
74

Figura 71: Registro fotográfico da edificação no ano 2000

Fonte: Cabral, 2000

Figura 72: Detalhe da placa comercial nos anos 1970

Fonte: adaptado de Cabral, 2000.

Não foi possível identificar se a edificação sofreu alterações em suas fachadas entre
o primeiro e o segundo momento, pois não foram localizados registros fotográficos referentes
ao primeiro.
Neste segundo momento também se observa uma alteração da relação entre
edificação e lote, em virtude da perda do recuo posterior, ocasionada pela construção do
volume em destaque na Figura 73. É possível constatar que este volume não dialoga com a
simetria observada na fachada frontal, apresentando-se como uma espécie de apêndice. A
diferenciação entre ele e o restante da edificação fica mais evidente ao se observar a sua
cobertura. Acredita-se que este volume foi construído em um período intermediário (relativo
ao segundo momento da Figura 70), e não no último momento, em especial em virtude da
espessura das paredes. A envoltória de toda a edificação possui paredes com espessura
aproximada de 35 centímetros, assim como o apêndice. No entanto, internamente algumas
75

paredes têm 15 centímetros de espessura, o que pode ser um indicativo de que se tratam de
construções posteriores, relativas ao terceiro momento.

Figura 73: Vista aérea da edificação. Em destaque, o volume dos fundos.

Fonte: adaptado de Google Earth, 2019.

O último momento diz respeito à situação atual (Figura 74), e se limita ao período
compreendido entre 2000 e 2019. Nele se observam diversas alterações em relação aos
momentos anteriores: a construção de um novo ambiente ao lado da sala de jantar, (que
diminuiu o seu tamanho), limitado por uma parede de menor espessura se comparada àquelas
observadas no primeiro momento; de um banheiro ao lado desta; e dos pontos comerciais
voltados para a Rua Voluntários da Pátria.
Porém, apesar de todas as modificações sofridas, a edificação preserva características
tipológicas de uma residência. Comparando as plantas do primeiro momento (Figura 69) e
deste último (Figura 74), ainda é possível observar a distribuição dos ambientes relativos aos
quartos, sala de estar e jantar, a cozinha e o banheiro.
76

Figura 74: Planta baixa do terceiro momento (2019)

Fonte: elaboração própria, 2019.

Quanto à relação entre edificação e lote, esta foi totalmente modificada. A construção
dos pontos comerciais levou à perda do recuo e do acesso à Rua Voluntários da Pátria, cujo
último registro que se tem da existência é de 2011, quando ainda havia um pequeno portão
em frente à porta da antiga sala de jantar (Figura 75). Além disso, houve uma obstrução por
completo da visibilidade do exterior a partir da casa por esta fachada e vice-versa em virtude
das novas construções (Figura 76). O uso do lote foi levado ao extremo, culminando com a
total ausência de áreas permeáveis.

Figura 75: Ao centro, portão de acesso à edificação pela Rua Voluntários da Pátria.

Fonte: Google Earth, 2011.


77

Figura 76: Vista da fachada voltada para a Voluntários da Pátria, já totalmente obstruída.

Fonte: Google Earth, 2017.

Observa-se que a fachada frontal da edificação (Figura 77), voltada para a praça,
conserva as mesmas características do segundo momento, o que inclui os adornos na
platibanda, frisos formando desenhos geométricos, consoles no volume central, cobertura
sobre o acesso principal, cobogós ladeando o portão de entrada e as esquadrias.

Figura 77: A edificação atualmente

Fonte: a autora, 2019

Uma outra característica que foi preservada, e que merece destaque nesta edificação,
diz respeito à simetria observada nesta fachada, evidenciada pela repetição da volumetria,
tendo como eixo de rebatimento o volume central. Observa-se também uma repetição da
relação entre cheios e vazios e de todos os elementos decorativos já listados, que são
dispostos de forma idêntica em ambos os lados. Como se verá mais à frente, a edificação
apresenta características ecléticas. A este respeito, o Estudo para tombamento do Centro
Histórico de Natal, realizado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
78

(IPHAN), ao abordar o ecletismo no início do século XX, ressalta a simetria como uma de suas
características:

Além da ornamentação - roupagem que revestia a edificação provendo o


necessário decoro condizente com a nova urbanidade civilização -, havia
outras características que eram seguidas pelos projetistas do período, como:
simetria - consistindo no exato rebatimento de um volume em relação a pelo
menos um plano, esta regra foi aplicada desde plantas e fachadas até aos
ornamentos; composição combinação entre as partes do edifício; proporção
ajuste geométrico das partes entre si e em relação ao todo. (IPHAN, 2008, p.
69)

É importante ressaltar que a definição destes três momentos não implica em afirmar
que não tenham havido outras modificações ao longo do tempo, uma vez que o estudo é
limitado pelos dados disponíveis. Além disso, a análise buscou identificar alterações maiores,
que implicaram em mudanças na volumetria da edificação, e na relação entre esta, o lote e a
rua. Não foi considerado, por exemplo, um momento o fechamento do portão voltado para a
Rua Voluntários da Pátria, visto na Figura 75.
Também por se tratar da relação entre edificação e entorno, aqui cabe uma breve
consideração a respeito da criação da rua entre ela e a praça. Registro fotográfico dos anos
20 (Figura 78) permite observar o uso do espaço pelas pessoas, que transitavam livremente
quando ainda não havia a rua. No entanto, com a demarcação da via entre a praça e as casas,
o espaço passou a apresentar uma delimitação clara entre o que é destinado aos carros e o
que é de uso dos pedestres (Figura 79), resultando em uma alteração na relação não somente
da edificação escolhida com o entorno, mas de todas as edificações vizinhas a ela e voltadas
para a praça.

Figura 78: A praça nos anos 1920, quando ainda não existia a via para veículos. Ao fundo,
a Igreja Matriz.

Fonte: http://blogdetelescope.blogspot.com, 192_


79

Figura 79: Via a que separa a edificação da praça.

Fonte: a autora, 2018.

Ainda visando a melhor compreensão a respeito da edificação, fez-se uma breve


análise em relação à filiação estilística desta. Para isto, foram realizados registros fotográficos
das fachadas da edificação e de partes desta, e feita posteriormente a classificação tendo
como base a pesquisa bibliográfica relativa ao tema e o estudo já desenvolvido por Cabral
(2000) a respeito da edificação.
A edificação em questão, construída por um rico comerciante, por volta dos anos 1920,
é um exemplar da arquitetura eclética, estilo que agradou o gosto da classe burguesa no
século XIX e início do século XX, período que coincide com a provável data de construção da
edificação. A este respeito, Patetta afirma:

O ecletismo era a cultura arquitetônica própria de uma classe burguesa que


dava primazia ao conforto, amava o progresso (especialmente quando
melhorava suas condições de vida), amava as novidades, mas rebaixava a
produção artística e arquitetônica ao nível da moda e do gosto.” (PATETTA,
1935, p. 13)

O Cel. Aureliano de Medeiros já demonstrava o seu gosto pelo ecletismo em anos


anteriores, quando ele próprio projetou o Solar Bela Vista, mansão construída para ser
residência de sua família. Este fato também foi relatado pelo IPHAN, no estudo realizado para
o tombamento do Centro Histórico de Natal:

O Solar Bela Vista foi construído pelo Cel. Aureliano Clementino de Medeiros
na primeira década do século XX, sendo o projetista o próprio Aureliano. A
mansão, implantada no centro do lote, circundada de belos jardins e de
grande imponência, teve a participação dos melhores mestres-de-obras da
região e fez uso dos melhores materiais de construção e de acabamento
existentes na época, a maioria importado da Europa. (IPHAN, 2008, p. 68)

Ainda no mesmo estudo, o IPHAN (2008, p. 68) aborda a presença do ecletismo em


Natal, e a forma como este se manifestou no início do século XX, quando chegou nesta cidade
quase ao mesmo tempo em que ocorreu nos grandes centros urbanos, como Rio de Janeiro:
“Em Natal, o ecletismo, de um modo geral, se manifestou nas primeiras décadas do século
80

XX e predominou o emprego de uma verdadeira mescla de estilos, sendo mais difícil a


existência de representantes simplesmente historicistas.”
A respeito desta mescla de estilos citada pelo estudo do IPHAN, ela também é observada
na edificação estudada. Nela é possível identificar a influência do Art Déco na fachada, através
do uso de formas geométricas nos detalhes em baixo relevo (Figura 80), do neoclássico na
platibanda (Figura 81) e da arquitetura oriental nos consoles próximos à cobertura do volume
central (Figura 82) da edificação (CABRAL, 2000).

Figura 80: Detalhes em baixo relevo Figura 81: Platibanda na fachada frontal voltada para a
na fachada frontal voltada para a Rua Voluntários da Pátria
praça

Fonte: a autora, 2019.

Figura 82: Consoles no volume central da edificação

Fonte: a autora, 2019. Fonte: a autora, 2019.

Também é possível reconhecer a presença do neocolonial nos arcos abatidos sobre as


janelas (Figura 83), e do Art Noveau no piso da sala de jantar, em ladrilho hidráulico com
desenhos de buquês de flores de Lis e folhas de Acantus (Figura 84). Trata-se, portanto, como
afirma o estudo do IPHAN, de uma mescla de influências característica do ecletismo.
81

Figura 83: Arco abatido sobre janela Figura 84: Ladrilho hidráulico da sala de jantar

Fonte: a autora, 2019. Fonte: a autora, 2019.

Abaixo apresentamos um quadro-resumo da análise realizada no presente item.

Quadro 4: Resumo da análise formal realizada no presente item

 Ocorre entre 1920 e 1930


 Existência de uma varanda na lateral
 Dependência de empregados nos fundos do lote
 Acessos por todas as fachadas
 Áreas não ocupadas no lote
 Ausência de recuo frontal na fachada voltada para
a praça

 Ocorre entre 1930 e 2000


 Retirada da varanda
 Retirada da dependência de empregados aos
fundos do lote
 Construção de um volume contíguo aos fundos
 Simetria observada a partir da repetição da
volumetria e seus adornos, tendo como eixo de
rebatimento o volume central
 Características do ecletismo

 Ocorre entre 2000 e 2019


 Construção dos pontos comerciais voltados para
a Rua Voluntários da Pátria, perda do recuo e
acesso a partir desta via
 Construção de novos ambientes internamente à
edificação
 Total ocupação do lote
 Preservação dos elementos da fachada voltada
para a praça

Fonte: elaboração própria, 2019.


82

4.3 ASPECTOS FÍSICOS E AMBIENTAIS

Dentre os aspectos físicos capazes de influenciar na proposta estão as barreiras


visuais. Diante do objetivo voltado para a integração entre edificação e entorno, foi realizada
uma análise sintática, que permitiu identificar quais elementos apresentam-se como barreiras
visuais à edificação a partir do entorno, bem como em sentido inverso.
Para esta análise, optou-se pelo método das isovistas, definidas por Benedikt (1979
apud Trigueiro et al, 2018, p.3) como “o conjunto de todos os pontos visíveis a partir de um
determinado ponto de vista no espaço”.
As isovistas permitem identificar as parcelas visíveis do espaço a partir de um ponto
de vista estabelecido. Elas são focadas na visão do usuário em relação ao espaço, permitindo
então conhecer quais elementos se apresentam como barreiras ao seu olhar ou ao pé.
Definindo-se diversos pontos na área estudada, foi possível observar de maneira
global o quão visível se encontra a edificação a partir do entorno, além de identificar quais
barreiras prejudicam a visibilidade deste a partir da edificação. No desenvolvimento das
isovistas foi utilizado o programa DepthmapX-0.30 e consideradas as barreiras ao olhar.
A partir da frente da edificação (Figura 85 e Figura 86), se observa que as barracas de
artesanato são o principal obstáculo à visibilidade da praça, obstruindo-a quase por completo
(Figura 87).

Figura 85: Vista da frente da edificação

Fonte: a autora, 2018.


83

Figura 86: Vista da Praça Padre João Maria a partir da edificação escolhida.

Fonte: Baptista, 2019.

Figura 87: Isovista a partir da frente da edificação.

Fonte: elaborado pela autora, 2018.

De maneira similar, a partir do entorno, as barracas apresentaram-se como barreira


visual em quase todos os casos. Na Figura 88 se observa em quais locais foram colocados
os pontos de origem. Apenas nos pontos 5 (esquina da Rua da Conceição com a Praça Padre
João Maria) e 3 (esquina da Rua João Pessoa com a Vigário Bartolomeu) as barracas de
artesanato não foram um obstáculo à visibilidade da edificação. No ponto 5 a dificuldade de
visualização da edificação ocorreu em virtude do próprio posicionamento do ponto, enquanto
que no ponto 3 a principal barreira foram as bancas de frutas (Figura 89).
Um obstáculo à visualização da praça e da edificação observado in loco, mas não
identificado a partir das isovistas, foi a presença de um toldo tipo cortina (Figura 89), colocado
na calçada do edifício localizado na esquina da Rua João Pessoa com a Vigário Bartolomeu
(Edifício 21 de Março). Ele é utilizado apenas no período da tarde, por uma loja existente no
local, como forma de proteção contra a incidência da luz solar.
84

Figura 88: Isovista com todos os pontos analisados a partir do entorno.

Fonte: elaborado pela autora, 2018.

Figura 89: Vista a partir da esquina da Rua João Pessoa com a Vigário Bartolomeu.

Fonte: a autora, 2018.

No geral, a análise sintática permitiu observar que a partir de todos os pontos definidos
há algum tipo de barreira que impede a visualização direta da edificação. Esta situação passou
então a ser entendida como um obstáculo à integração almejada, e se constituindo, portanto,
como um dos problemas a serem solucionados.
Uma outra análise necessária ao desenvolvimento da proposta, e que também se
enquadra como condicionante projetual, diz respeito às questões ambientais, relativas a
variáveis climáticas e características do ambiente construído, que influenciam no conforto
ambiental dos usuários.
Compreender o clima do local onde está inserida a edificação é necessário para que
a proposta consiga oferecer melhores condições de conforto aos usuários da edificação. O
clima pode, portanto, oferecer condicionantes projetuais importantes ao problema. Ademais,
edificações pensadas de forma a se adaptarem ao clima trazem outros benefícios, como uma
menor demanda de consumo energético, na medida em que reduzem a necessidade de
climatização e iluminação artificial, por exemplo.
Desta forma, antes de iniciar a concepção do projeto, buscou-se conhecer o clima de
Natal e as recomendações aplicáveis a ele, a partir das normas vigentes e de bibliografia
relativa ao tema. Também foram analisadas as características relativas ao ambiente
85

construído existente, quanto à insolação e ventilação e propriedades térmicas dos elementos


construtivos, a fim de traçar as estratégias bioclimáticas aplicáveis ao caso.
É importante esclarecer que por se tratar de uma proposta de uma intervenção em
uma edificação de valor patrimonial, o estudo buscou verificar se a edificação já existente
garante condições de conforto adequadas ao uso proposto, que é de um espaço cultural.
Para a caracterização da área de estudo, foram obtidos dados do acervo virtual do
Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do Rio Grande do Norte (IDEMA)
e da Prefeitura Municipal do Natal (anuário de Natal), sendo estes datados de 2013 e 2016,
respectivamente.
O Município do Natal possui um clima considerado tropical chuvoso quente com verão
seco. A temperatura do ar possui médias máximas e mínimas de 27,6ºC e 25,0ºC, sendo uma
média anual de evaporação de 180 mm/mês e a umidade relativa do ar varia em torno dos
77,25%. Os maiores índices pluviométricos acontecem no período entre os meses de março
e setembro (NATAL, 2016).
86

Figura 90: Localização do Município e da proposta dentro do bairro de Cidade Alta.

Fonte: a autora, 2019.

De acordo com o zoneamento bioclimático proposto pela NBR 15220-3, Natal está
inserida na Zona 8. Para esta zona recomenda-se o uso de aberturas para ventilação grandes
e sombreadas, além de ventilação cruzada. O programa ZBBR 1.1 oferece um resumo das
recomendações apresentadas pela NBR 15220, observado na Figura 91.
87

Figura 91: Recomendações para a Zona 8 do Zoneamento Climático Brasileiro.

Fonte: Programa ZBBR 1.1., adaptado pela autora, 2019.

Também foi feita uma análise relativa ao clima a partir do programa Climate Consultant
6.0, que disponibiliza uma diversidade de cartas gráficas capazes de auxiliar na
caracterização do clima estudado. Através dele é possível, por exemplo, saber o quão
confortável termicamente é o local durante o horário e meses do ano determinados.
Os dados foram obtidos a partir do Ano Climático de Referência de Natal/RN, que
inclui informações relativas a temperatura do ar, umidade, movimento do ar e radiação. Ele
corresponde a um ano típico da localidade e, de acordo com Lamberts (2014), é a base de
dados mais precisa para a realização das análises.
O modelo escolhido foi o Adaptative Comfort Model in ASHRAE Standard 55-2010.
Optou-se por este modelo porque ele permite conhecer as condições de conforto em
ambientes internos não climatizados, ou seja, sem uso de sistema de refrigeração. Este
modelo presume que os ocupantes adaptam suas roupas às condições térmicas e que são
sedentários.
A carta analisada foi a psicrométrica (Figura 92). Nela encontramos dados relativos a
temperatura de bulbo seco, bulbo úmido e umidade relativos às 8760 horas do ano. A faixa
verde corresponde à zona de conforto. Na legenda, observa-se que, em relação à
temperatura, o clima de Natal se apresenta 63% confortável, considerando todas as horas e
meses do ano.
88

Figura 92: Carta Psicométrica para Natal/RN, considerando todos os meses e horários.

Fonte: Climate Consultant 6.0, adaptado pela autora, 2019.

Por se tratar de uma edificação de uso comercial, optou-se por realizar nova simulação
(Figura 93), desta vez restringindo o horário entre as 8 e as 22 horas, considerando que o
espaço poderá ser utilizado para eventos noturnos. A faixa localizada à esquerda da primeira
linha vertical verde (lendo-se a carta da esquerda para a direita) corresponde a situações de
desconforto ao frio, em que a temperatura se encontra abaixo de, aproximadamente, 23,5°C.
Nesta nova carta foram observados raros casos de desconforto ao frio ao longo de todo o ano
dentro do horário estabelecido. Em outra simulação, constatou-se que as situações de frio
ocorrem apenas no período noturno, após as 19 horas, até as 8 horas da manhã. A maior
parte dos casos de desconforto ao frio foi identificada no horário entre 22 horas e 8 horas. No
entanto, como se trata de um estabelecimento que não funciona neste horário, considerou-
se, portanto, não haver necessidade de adoção de estratégias neste sentido.
89

Figura 93: Carta Psicométrica para Natal/RN, considerando o horário comercial, entre 8h e
22h.

Fonte: Climate Consultant 6.0, adaptado pela autora, 2019.

Porém, em relação ao calor, ainda na Figura 93, constatou-se que há uma situação de
desconforto de 46% ao longo de todo o ano, no horário de funcionamento do estabelecimento,
o que indica a necessidade de adoção de estratégias (detalhadas na seção 4.3.5) para
garantir o conforto dos usuários, caso as características atuais da edificação existente não
sejam suficientemente favoráveis.
Em relação aos ventos, a Rosa dos Ventos elaborada pelo Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (INPE) demonstra uma predominância dos ventos vindos da direção
sudeste, com velocidade máxima de 10m/s.

Figura 94: Rosa dos ventos para Natal, para o ano de 2009.

Fonte: INPE, 2009.


90

4.3.1 AMBIENTE CONSTRUÍDO EXISTENTE

Para que se possa propor estratégias arquitetônicas capazes de oferecer melhores


condições de conforto aos usuários da edificação, faz-se necessário realizar uma análise do
ambiente construído existente. Por esta razão, foram feitas simulações relativas à insolação,
sombreamento, fator de visão do céu e ventilação.
Para melhor compreensão das simulações, é importante relembrar em que contexto
está inserida a edificação de que se trata a análise. Apresentamos, portanto, abaixo a sua
localização juntamente com pontos de referência.

Figura 95: Localização da edificação e pontos de referência.

Fonte: adaptado de Google Earth, 2019.

Como se pode observar, trata-se de uma edificação situada em lote de esquina, com
um entorno bastante adensado. Sua fachada frontal, com acesso principal à edificação,
encontra-se voltada para a Praça Padre João Maria. Em sua lateral, voltada para a Rua
Voluntários da Pátria, foram feitas ampliações, obstruindo por completo as aberturas desta
fachada.

Figura 96: Vista da fachada voltada para a Rua Voluntários da Pátria, com aberturas obstruídas

Fonte: a autora, 2019.


91

4.3.2 INSOLAÇÃO, SOMBREAMENTO E FATOR DE VISÃO DO CÉU

Para a análise da edificação quanto à insolação e sombreamento foram feitas


simulações nos programas Ecotect Analisis 2011 e Solar Tool 2011. No primeiro foram
observados os intervalos de exposição à insolação de cada uma das fachadas nos solstícios
e equinócios, a fim de identificar o tempo total de insolação de cada uma delas e quais os
períodos mais críticos. Para isto, foi realizada uma modelagem da edificação escolhida e de
todas as que se encontram próximas a ela (Figura 98), e obtidas máscaras de sombra, que
informaram os horários de exposição. E no segundo foi possível fazer uma análise mais
aproximada, incluindo elementos arquitetônicos como muros e coberturas. Buscando facilitar
a compreensão das simulações, apresentamos abaixo a nomenclatura e azimutes das
fachadas analisadas.

Figura 97:Azimute e nomenclatura das fachadas

Fonte: elaboração própria, 2019.


92

Figura 98: Modelagem da edificação (em destaque) e entorno no Ecotect.

Fonte: Ecotect, adaptado pela autora, 2019.

De acordo com simulações no Ecotect, foi possível perceber que a fachada nordeste
fica exposta à insolação em sua maioria apenas no período da manhã. Somente no solstício
de inverno identificou-se exposição até aproximadamente 13:30 horas. No verão ocorre a
menor exposição, limitando-se ao período entre 7 e 9 horas.

Figura 99: Máscara de sombra da fachada nordeste

Período de exposição (aproximado)


 Solstício de verão: entre 7h e 9h
 Solstício de inverno: entre 6h e
13:30h
 Equinócio de primavera: entre 6h e
12:30h
 Equinócio de outono: entre 7h e 11h

Fonte: Ecotect, adaptado pela autora, 2019.

Posteriormente, foi feita a simulação com o Solar Tool, considerando-se a forma em


“L” da própria edificação e o prédio ao lado desta, a fim de identificar a exposição em relação
à única abertura existente nesta fachada. A máscara de sombra apresentou resultados
aproximados aos dados levantados no Ecotect. É importante ressaltar que, devido a
limitações do próprio programa, a inclusão dos elementos arquitetônicos por vezes aparecerá
de forma aproximada ou simplificada. No Solar Tool, por exemplo, não é possível inserir todas
as edificações do entorno.
93

Figura 100: Fachada nordeste (com a Figura 101: Máscara de sombra da fachada
abertura), com edificação vizinha à sua nordeste.
frente.

Fonte: Solar Tool, adaptado pela autora,


2019. Fonte: Solar Tool, adaptado pela autora, 2019.

A fachada sudoeste (fachada frontal, voltada para a praça), conforme dados


fornecidos pelo Ecotect, encontra-se mais exposta à insolação no solstício de verão, das 9 às
17 horas. A menor exposição, por sua vez, ocorre no inverno, por pouco mais de duas horas,
no período compreendido entre 14:30 horas e 16:30 horas. Já nos equinócios de outono a
exposição ocorre a partir de 11h até as 17h, e na primavera das 13h às 16:30h.

Figura 102: Máscara de sombra da fachada sudoeste


Período de exposição (aproximado)

 Solstício de verão: entre 9h e 17h


 Solstício de inverno: entre 14:30h e
16:30h
 Equinócio de primavera: entre 13h e
16:30h
 Equinócio de outono: entre 11h e 17h

Fonte: Ecotect, adaptado pela autora, 2019.

Em relação à simulação no Solar Tool, para esta fachada ela não foi necessária em
virtude da ausência de elementos próximos às aberturas, que pudessem ser simulados, como
muros e coberturas. Relembramos que o Ecotect apresenta ferramentas de modelagem
capazes de inserir todas as edificações do entorno, o que não é possível no Solar Tool. Por
esta razão optou-se por usar este último apenas para analisar as aberturas das fachadas da
edificação considerando barreiras próximas.
94

A fachada sudeste é aquela voltada para a Rua Voluntários da Pátria. Ela encontra-
se exposta à insolação apenas no período da manhã. No solstício de verão a exposição ocorre
das 7h ao meio dia, enquanto que no de inverno ela se concentra no período compreendido
entre 6h e 10h. Já no equinócio de primavera observa-se a exposição no período entre 7 horas
e 11 horas. E por fim, no equinócio de outono, o intervalo observado ficou compreendido entre
7:30h e 11h.

Figura 103: Máscara de sombra da fachada sudeste

Período de exposição (aproximado)

 Solstício de verão: entre 7h e 12h


 Solstício de inverno: entre 6h e 10h
 Equinócio de primavera: entre 7h e 11h
 Equinócio de outono: entre 7:30h e 11h

Fonte: Ecotect, adaptado pela autora, 2019.

No caso da fachada sudeste, o uso do Solar Tool permitiu observar o comportamento


da cobertura (Figura 124) existente sobre três das aberturas (uma porta e duas janelas), além
do sombreamento proporcionado pelo Banco do Nordeste. Na máscara de sombra (Figura
105) é possível observar que o banco oferece sombreamento da fachada ao longo do ano
desde o nascer do sol até o período compreendido entre 8 e 9 horas. Já a cor mais escura
partindo do centro da máscara e clareando em direção às bordas corresponde ao
sombreamento proporcionado pela cobertura situada sobre as aberturas. O tom mais escuro
corresponde a 100% de sombreamento, e o cinza mais claro a 10%. Com base nos dados
fornecidos é possível afirmar que as aberturas em questão apresentam um bom
sombreamento.
95

Figura 104: Fachada sudeste, com Figura 105: Máscara de sombra da fachada
retângulo em frente representando o sudeste.
Banco do Nordeste.

Fonte: Solar Tool, adaptado pela Fonte: Solar Tool, adaptado pela autora, 2019.
autora, 2019.

A fachada noroeste, voltada para o Instituto Histórico, de acordo com simulação no


Ecotect, encontra-se mais exposta à insolação no período da tarde. No verão a exposição
direta inicia-se por volta das 12 horas até as 15:30 horas. No inverno, das 10 horas às 14
horas. No outono esta exposição é observada no período compreendido aproximadamente
entre as 11:30 horas e as 15 horas. E por fim, na primavera o período observado corresponde
ao intervalo compreendido entre 11 horas e 14:30 horas.

Figura 106: Máscara de sombra da fachada noroeste


Período de exposição (aproximado)

 Solstício de verão: entre 12h e


15:30h
 Solstício de inverno: entre 10h e 14h
 Equinócio de primavera:
entre 11h e 14:30h
 Equinócio de outono: entre 11:30h e
15h

Fonte: Ecotect, adaptado pela autora, 2019.

Na simulação realizada com o Solar Tool foi possível verificar que o muro em frente
à fachada a sombreia a partir de aproximadamente 15 horas até o pôr do sol, resultado
semelhante ao obtido no Ecotect.
96

Figura 107: Fachada noroeste com Figura 108: Máscara de sombra da fachada noroeste
muro à frente

Fonte: Solar Tool, adaptado pela


autora, 2019. Fonte: Solar Tool, adaptado pela autora, 2019.

Em relação ao Fator de Visão do Céu (FVC), segundo Minella, Rossi e Krüger (2011)
este diz respeito à parcela de céu que se encontra visível a partir de um ponto definido. O seu
valor compreende o intervalo entre 0 e 1, em que quanto mais próximo de 1 maior a
quantidade de céu visível, e quanto mais próximo de zero, maior o número de elementos
obstruindo o céu, como edificações, árvores, entre outros.
Longarine, Duarte e Michalski (2017) relacionam a utilização do FVC ao fenômeno
do aprisionamento do calor em ambientes urbanos, considerando que o céu é capaz de agir
como sumidouro de calor:

O fenômeno de Heat Trap - aprisionamento do calor em ambientes urbanos


- é decorrência das condições atmosféricas e do desenho das cidades,
podendo ser dimensionado através do conhecimento da materialidade das
superfícies urbanas, sua geometria e o chamado Sky View Factor - SVF
(Fator de Visão de Céu - FVC, em português), já que o céu atua como
importante sumidouro de calor. (LONGARINE; DUARTE; MICHALSKI, 2017,
p.1)

Minella, Rossi e Krüger (2009) explicam que o céu, por possuir temperaturas
menores que a superfície da Terra, contribui com o resfriamento desta ao agir como receptor
da radiação. Por esta razão, elementos obstrutores do céu podem influenciar tanto na
temperatura das superfícies quanto na do ar. Neste contexto, o cálculo do FVC identifica o
quão visível é o céu a partir de um ponto definido, e pode estar relacionado ao aumento da
temperatura no local.
Ainda segundo Minella, Rossi e Krüger (2009) há diferentes métodos utilizados para
calcular o FVC, como os fotográficos, analíticos, sistemas que fazem uso de GPS ou que
combinam bases de dados 3D com um Sistema de Informações Geográficas (SIG). Amorim,
Pedrosa e Carvalho (2014) realizaram o cálculo do FVC a partir de máscaras de obstrução
97

obtidas por quatro métodos: gráfico, lente olho de peixe, programa Ecotect e programa
Sketchup e identificaram que a diferença entre os resultados obtidos foi pouco significativa:

Para se ter uma verificação mais precisa da diferença entre as ferramentas


utilizadas, calculou-se o FVC a partir de cada máscara de obstrução
produzida, a partir do que constatou-se uma diferença pouco significativa,
cerca de 2%, em relação às máscaras de referência, que se faz constatar que
as ferramentas testadas são eficazes. Obteve-se com o método gráfico um
FVC de 26,3% e de 25,7% com o software Ecotect, enquanto, a câmera olho
de peixe e o software sketchup, resultaram em um FVC de 25,4% e 27,7%,
respectivamente. (AMORIM; PEDROSA; CARVALHO, 2014, p. 377, grifo
nosso)

Minella, Rossi e Krüger (2009), por sua vez, utilizaram o programa Rayman para
calcular o FVC em análise da influência deste fator em relação a sensação de conforto
térmico. Trata-se de um programa capaz de determinar o FVC a partir de quatro métodos:
fotografias obtidas a partir de lente olho de peixe, dados relativos aos obstáculos no ambiente
(a partir de modelagem no próprio programa ou com o auxílio do programa Quantum GIS),
delimitação do limite do horizonte e imagem topográfica.
Para a análise foi utilizado o programa Rayman Pro versão 3.1. Nele foi realizada a
modelagem da edificação e entorno e definidos três pontos. Posteriormente, foram gerados
diagramas relativos a cada um deles, em que é possível observar a parcela de céu visível e
as obstruções. Finalmente, o programa calcula o FVC a partir da modelagem e do diagrama.
Passamos então a apresentar os resultados.
O primeiro ponto escolhido foi a circulação existente entre a edificação e o prédio
vizinho (Figura 109). Optou-se por esta localização por se tratar da área do lote com maior
quantidade de obstruções a sua volta.

Figura 109: Modelagem do ambiente construído. Figura 110: Diagrama relativo à parcela
Em vermelho, ao centro, o primeiro ponto. de céu visível e obstruções no primeiro
ponto

Fonte: Rayman Pro, adaptado pela autora, Fonte: Rayman Pro, adaptado pela
2019. autora, 2019.
98

O Diagrama gerado pelo programa, permite constatar que se trata de um ponto em


que a quantidade de obstruções supera a parcela visível do céu. Na Figura 110 a área em
cinza corresponde às obstruções, enquanto que a região do centro, em branco, diz respeito à
porção do céu que se encontra visível a partir do ponto definido.
O programa então chegou ao resultado de um FVC igual a 0.11. Como já mencionado
anteriormente, quanto mais próximo de zero menor a parcela de céu visível. O Rayman ainda
fornece a porcentagem relativa à limitação do horizonte, ou seja, o percentual correspondente
à quantidade de obstrução, que no primeiro ponto corresponde a 88,7%

Figura 111: Interface do programa, em destaque os resultados relativos ao FVC e a limitação


do horizonte

Fonte: Rayman Pro, adaptado pela autora, 2019.

O segundo ponto escolhido corresponde a outro local dentro do lote que é ladeado
por edificações, situado em frente a fachada nordeste, conforme se observa na Figura 112.

Figura 112: Modelagem do ambiente construído. Ao Figura 113: Diagrama relativo à parcela
centro, o segundo ponto (em vermelho) marca a de céu visível e obstruções no segundo
localização escolhida. ponto escolhido

Fonte: Rayman Pro, adaptado pela


Fonte: Rayman Pro, adaptado pela autora, 2019.
autora, 2019.

Neste segundo ponto observa-se uma parcela de céu visível maior, se comparada
com o primeiro. Na Figura 113 tem-se o diagrama relativo às obstruções e à porção visível do
99

céu. Nele é possível perceber que a área obstruída ainda é superior à parcela visível. O
resultado do FVC obtido foi então de 0.201, e uma obstrução do horizonte de 79,9%.
O último ponto foi posicionado em frente à edificação, próximo a fachada sudoeste,
voltada para a Praça Padre João Maria, conforme se observa na Figura 114.

Figura 114: Modelagem do ambiente construído. Ao Figura 115: Diagrama relativo à parcela
centro, o terceiro ponto (em vermelho) marca a de céu visível e obstruções no terceiro
localização escolhida. ponto escolhido

Fonte: Rayman Pro, adaptado pela autora, 2019. Fonte: Rayman Pro, adaptado pela
autora, 2019.

Neste terceiro ponto é possível observar uma condição mais favorável se comparada
com as duas anteriores. No diagrama correspondente à Figura 115 a parcela de céu visível é
bem maior que nos outros pontos. O programa calculou para este local um FVC de 0.48, e
uma obstrução do horizonte de 51,3%
Em todos os três pontos o FVC obtido demonstra que as áreas de obstrução são
maiores que as parcelas de céu visível. Isto se deve principalmente ao fato de se tratar de
uma porção de território urbano bastante adensada, embora pouco verticalizada em função
do limite de gabarito imposto pela Zona Especial de Preservação Histórica. No universo de
estudo muitos lotes não apresentam recuos laterais ou frontais, e as áreas livres consistem
principalmente nas três praças inseridas nele.

4.3.3 VENTILAÇÃO

A ventilação natural contribui para o resfriamento do ambiente, e é facilitada pela


permeabilidade da edificação, favorecendo assim a sua circulação em seu interior. (PEDRINI,
2015). Sua recomendação enquanto estratégia varia de acordo com o tipo de clima. Para o
100

projeto em questão, cujo clima é quente e úmido, ela é aplicável, como já mencionado, por
exemplo na seção 4.3, a respeito das recomendações da NBR 15220.
De acordo com Pedrini (2015, p.26), “Há ventilação quando há diferença de pressão
entre as aberturas. É possível identificar as diferenças de pressão por meio da identificação
dos coeficientes de pressão nas aberturas.”
Para verificar, portanto, as diferenças de pressão, foram realizadas simulações com
o programa Flow Design, que permite também identificar a ocorrência de esteira de vento.
Para melhor compreensão, apresentamos definição do que vem a ser este fenômeno:

A esteira se caracteriza por apresentar um comportamento diferente do fluxo


antes de encontrar o edifício e ela se localiza a sotavento da edificação.
Devido à viscosidade e à inércia do ar, ocorre uma zona de baixa pressão
que tende a “sugar” o vento em direção à fachada posterior, na direção
contrária ao vento. À medida que se afasta da edificação, há uma redução do
distúrbio causado pela edificação. (PEDRINI, 2015, p. 21)

Nas simulações efetuadas foi possível identificar a presença de esteira de vento


ocasionada pela edificação (Figura 117), constatada pela redução da velocidade do ar na
região posterior a ela. Em vista superior (Figura 116) a redução da velocidade é perceptível
em diversos pontos do entorno também. Quanto mais azul escuro a mancha for, mais próximo
de zero é a velocidade do ar.

Figura 116: Simulação referente à ventilação (em destaque, a edificação), em que azul escuro
corresponde à velocidade do ar próxima a zero.

Fonte: Flow Design adaptado pela autora, 2019.


101

Figura 117: Em destaque, parte da edificação, na esquina da Rua Voluntários da Pátria e a


formação de esteira de vento em azul

Fonte: Flow Design adaptado pela autora, 2019.

Considerando a importância da verificação da pressão nas fachadas, uma vez que a


ocorrência da ventilação está relacionada à diferença de pressão, foi feita uma simulação que
permitiu identificar as pressões nas fachadas do edifício. É possível perceber uma pequena
diferença entre a pressão na fachada frontal, voltada para sudoeste (mais próxima do tom
amarelo) e a fachada lateral, voltada para sudeste, (mais próxima do verde azulado). De
acordo com a escala apresentada na Figura 118, quanto mais próximo do vermelho, maior a
pressão.

Figura 118: Simulação relativa às pressões nas fachadas da edificação

Fonte: Flow Design adaptado pela autora, 2019.

Em imagem de topo (Figura 119) é possível também observar que a diferença de


pressão em volta da edificação é quase inexistente, o que se apresenta como uma condição
desfavorável à ventilação natural.
102

Figura 119: Simulação relativa às variações de pressão no entorno da edificação, em


destaque.

Fonte: Flow Design adaptado pela autora, 2019.

Ainda em relação à ventilação, uma outra análise importante diz respeito à orientação
das aberturas. Segundo Cunha (2010, p. 36), “O ângulo de incidência do vento é determinante
no aproveitamento da ventilação natural, pois a orientação condiciona a distribuição de
pressão sobre as fachadas e coberta.” Considerando que os ventos predominantes vêm do
Sudeste, foi elaborada a figura abaixo, que demonstra de forma empírica o comportamento
dos ventos em relação à entradas e saídas.

Figura 120: Comportamento dos ventos em relação às aberturas

Fonte: elaboração própria, 2019.

Como se observa, as aberturas localizadas na fachada sudeste, voltada para a Rua


Voluntários da Pátria, atuam como entradas de ar, enquanto que as localizadas na fachada
103

noroeste, agem como saídas para os ventos. Também se percebe que há ambientes sem
aberturas para o exterior e, consequentemente, com a circulação de ar prejudicada. A
proposta necessita, portanto, considerar a necessidade de soluções que corrijam este
problema.

4.3.4 ANÁLISES RELATIVAS ÀS PROPRIEDADES TÉRMICAS DOS


ELEMENTOS CONSTRUTIVOS

Por se tratar de uma edificação já existente é importante analisar as propriedades


térmicas dos elementos construtivos, a fim de avaliar o desempenho destes. Para tanto, usou-
se como parâmetros os valores recomendados pelas normas NBR 15220 (Desempenho
Térmico de Edificações), RTQ-C (Regulamento Técnico da Qualidade para o Nível de
Eficiência Energética de Edificações Comerciais, de Serviços e Públicas) e NBR 15575
(Norma de Desempenho).

Quadro 5: Parâmetros relativos a propriedades térmicas dos materiais segundo as normas NRB
15220, RTQ-C e NBR 15575
Parâmetros recomendados para paredes
Atraso Fator de calor
Transmitância térmica (U) Absortância (
térmico (φ) solar (Fso)
NBR
≤ 3,60 W/m²K ≤ 4,3 W/m²K ≤ 4,0 W/m²K Não informado
15220
Inferior a 2,5 W/m²K, para
paredes com capacidade
térmica máxima de 80 kJ/m²K, Não 0,50 para nível
RTQ-C Não informado
e 3,7 W/m²K, para paredes informado A
com capacidade térmica
superior a 80 kJ/m²K
>0,6 quando U≤
NBR ≤ 2,5 W/m²K, quando  >0,6 e Não 2,5 W/m²K e
Não informado
15575 <3,7 quando ≤0,6 informado ≤0,6 quando
U<3,7
Parâmetros recomendados para coberturas
NBR
≤ 2,3.FT ≤ 3,3 ≤ 6,5 Não informado
15220
Não 0,50 para
RTQ-C <2 W/m²K Não informado
informado níveis A e B
≤0,4 para
NBR Não
U ≤ 2,3 FV Não informado U≤2,3FV, e >0,4
15575 informado
para U ≤1,5FV
*FT: Fator de correção da transmitância
FV: Fator de ventilação
Fonte: adaptado pela autora a partir da NBR 15220, RTQ-C e NBR 15575, 2019.

Em relação à transmitância térmica, caracterizada por Pedrini (2017, p.15) como “[...] o
fluxo de calor transferido por um sistema construtivo quando há diferenças de temperaturas
104

do ar entre dois ambientes (interno-interno ou interno-externo)”, optou-se por calculá-la em


relação às paredes de tijolo maciço e reboco, que são o material utilizado na construção da
maior parte das paredes da edificação, o que inclui todas as da envoltória. Elas têm em média
35 centímetros de espessura, logo, de acordo com o tipo de material e suas características
de condutividade térmica, chegou-se ao resultado de uma transmitância igual a 1,83 W/m²K
(ver apêndice A), o que está de acordo com as recomendações. Para os valores de
condutividade e resistências superficiais interna e externa foram utilizados aqueles listados
na NBR 15220, parte 2.
Dados os parâmetros estabelecidos pelas normas, a transmitância térmica calculada
encontra-se em consonância com todas elas. Considerando que a transmitância diz respeito
ao fluxo de calor transmitido quando observada a condição de diferença de temperatura, no
caso entre ambiente interno e exterior, quanto menor o valor, melhor o resultado.
O atraso térmico, definido pela NBR 15220, parte 1 (2003, p.2), como “Tempo
transcorrido entre uma variação térmica em um meio e sua manifestação na superfície oposta
de um componente construtivo submetido a um regime periódico de transmissão de calor”,
ultrapassou o limite de 4,3 estabelecido pela mesma norma, a única que prescreve parâmetros
em relação a esta propriedade. Nos cálculos realizados (ver apêndice A) se observa os dados
relativos apenas ao tijolo maciço, sem considerar o reboco, totalizando um atraso de 8,1
horas.
No entanto, aqui cabem algumas considerações. Não necessariamente o fato de o valor
estar em desconformidade com o recomendado pela norma significa dizer que para o uso
proposto para a edificação o resultado seja negativo. O atraso térmico pode ser uma estratégia
eficiente em relação ao conforto térmico, na medida em que retarda o aquecimento dos
ambientes internamente. No caso do uso proposto, o atraso de mais de 8 horas significa dizer
que o fluxo de calor alcançará o interior da edificação provavelmente no final da tarde. A este
respeito, Pedrini afirma:

O atraso térmico pode proporcionar a redução do calor que atinge os


ambientes internos (redução de cargas térmicas) e atrasar os picos de
temperatura. Enquanto o pico de temperatura no exterior ocorre no início da
tarde, o pico no interior da edificação pode ocorrer no início da noite.
(PEDRINI, 2017, p.58)

Em se tratando de um estabelecimento com horário comercial de funcionamento,


estendendo-se apenas em caso de eventos, este atraso de 8,1 horas corresponderia a um
período próximo do final do expediente. Além disso, é possível a utilização de ventilação
noturna como estratégia para resfriamento, conforme afirma Lamberts:
105

A ventilação noturna, também chamada de ventilação estrutural, pode ser


empregada para reduzir a temperatura do edifício à noite, quando a
temperatura do ar externo é mais baixa que a do ar interno. [...] em edifícios
comerciais e públicos, não muito ocupados à noite, a ventilação noturna é
uma grande aliada para resfriar a estrutura do edifício (LAMBERTS, 2014, p.
190)

Já em relação ao fator de calor solar, entendido como a fração de calor absorvido e


transmitido para o sistema construtivo em virtude da incidência de radiação solar na envoltória
(PEDRINI, 2017), este demonstrou-se satisfatório, conforme cálculo realizado (ver apêndice
A), ficando abaixo do limite recomendado pela NBR 15220, que é de 4. Na fórmula, em relação
à absortância, optou-se por usar o valor referente a pintura em cor alumínio, especificado pela
norma, em virtude da proximidade com a cor cinza claro, utilizada nas fachadas da edificação.
Uma outra propriedade térmica a ser analisada é a capacidade térmica, cuja fórmula de
cálculo foi definida pela NBR 15220, e diz respeito à capacidade de armazenamento de calor
pelo sistema. Quanto mais alto o valor da capacidade menos calor alcança a outra face, no
caso, a interna da edificação.
Comparando o resultado dos cálculos realizados (ver apêndice A) com os valores
especificados no Quadro 5, observa-se que a transmitância recomendada pela RTQ-C, para
o caso em que a capacidade térmica supera 80 Kj/m²K, é de 3,7 W/m²K ou menos.
Anteriormente foi feito o cálculo da transmitância e chegou-se ao valor de 1,83W/m²K, logo, é
possível afirmar que neste quesito a edificação atende a recomendação do regulamento, e
que, considerando o parâmetro de 80 Kj/m²K, é possível dizer que o resultado de 536,32
Kj/m²K é bastante satisfatório, uma vez que, como explicado anteriormente, quanto maior a
capacidade térmica, menos calor alcança o interior do ambiente.
Quanto às propriedades da cobertura, esta atualmente é em telha de fibrocimento, com
forro de madeira. A NBR 15220 já traz informações referentes à transmitância térmica,
capacidade térmica e atraso térmico deste tipo de cobertura, conforme se observa na Figura
121. Comparando com os valores recomendados (ver Quadro 5), observa-se que, em relação
à transmitância térmica e atraso térmico, a cobertura atende os parâmetros de todas as
normas.

Figura 121: propriedades térmicas da cobertura em telha de fibrocimento e forro de madeira

Fonte: NBR 15220-3, 2003.


106

Para o fator de calor solar, após a realização do seu cálculo (ver apêndice A), observou-
se, a partir de comparação com os valores estabelecidos, que este tipo de cobertura está de
acordo com as recomendações da norma.
Em relação à absortância, considerou-se novamente o valor relativo à cor “alumínio”
especificado pela NBR 15220, que é de 0,4, considerado um valor aceitável se comparado
com as recomendações.

4.3.5 RECOMENDAÇÕES DE ESTRATÉGIAS BIOCLIMÁTICAS

Além das recomendações da NBR 15220 já apresentadas, a norma também traz


especificações relativas a estratégias bioclimáticas. Como já mencionado na seção 4.3, para
o tipo de clima em questão recomenda-se a utilização de aberturas grandes e sombreadas, a
fim de favorecer a ventilação e evitar-se o ofuscamento. A norma também recomenda a
ventilação cruzada.
A primeira estratégia seria então a renovação de ar passiva, proporcionada por recursos
arquitetônicos como aberturas em diferentes fachadas, de maneira a permitir a circulação do
ar.
O sombreamento é uma segunda estratégia bioclimática indicada, e inclui sombrear
aberturas e paredes, de maneira a evitar o aquecimento de superfícies e proporcionar luz
difusa, evitando-se assim o ofuscamento. A respeito destas duas estratégias, Cunha ressalta
que a aplicação conjunta de ambas oferece melhores condições de conforto ao longo do ano:

O sombreamento reduz significativamente os ganhos térmicos, enquanto que


a ventilação resfria a massa edificada e o corpo humano. A soma destas duas
estratégias é capaz de proporcionar conforto na maior parte do ano, e por
isto, são apontadas como as recomendações projetuais mais adequadas para
o clima quente e úmido. (CUNHA, 2010, p. 30)

Em relação à ventilação, Frota e Schiffer (2001) ao analisarem a adequação da


arquitetura aos climas se referem à importância de grandes aberturas para permitir a
ventilação em locais de clima quente e úmido:

Como a variação da temperatura noturna não é tão significativa, neste clima,


que cause sensação de frio, mas suficiente para provocar alívio térmico, a
ventilação noturna é bastante desejável. Devem-se, então, prever aberturas
suficientemente grandes para permitir a ventilação nas horas do dia em que
a temperatura externa está mais baixa que a interna. (FROTA; SCHIFFER,
2001, p.71)

A edificação já possui amplas aberturas nas fachadas, cujas janelas variam entre 0,54m
x 1,97m e 1,34m x 1,95m, com folhas de giro, que permitem 100% de abertura. Além disso,
107

as esquadrias voltadas para o exterior possuem venezianas (Figura 123) que permitem a
circulação do ar mesmo quando elas estão fechadas, e as portas internas contam com
bandeiras vazadas (Figura 122), que fazem com que o ar possa circular pelos ambientes
ainda que haja necessidade de fechamento.

Figura 122: Porta interna com bandeira que Figura 123: Porta de entrada com veneziana
permite a circulação do ar que favorece a circulação do ar

Fonte: a autora, 2019. Fonte: a autora, 2019.

Quanto ao sombreamento, a edificação já possui proteção solar em parte das aberturas


por meio de coberturas situadas nas fachadas sudoeste (Figura 125) e sudeste (Figura 124).
No entanto, não há sombreamento das paredes, em virtude de se tratar de uma edificação
com platibanda em sua cobertura.
108

Figura 124: Vista da cobertura situada na Figura 125: Vista da cobertura sobre a porta
fachada sudeste de entrada e janelas na fachada sudoeste

Fonte: Adaptado de Google Earth, 2011. Fonte: a autora, 2019.

4.4 ASPECTOS LEGAIS

Considerando que todo projeto necessita respeitar a legislação vigente, foi feita uma
análise das leis e normas que se aplicam ao caso em questão. Por se tratar de uma
intervenção no patrimônio cultural edificado, alguns critérios exigidos são diferentes se
comparados com outros tipos de projetos, como se verá adiante.
O imóvel escolhido encontra-se dentro da poligonal de tombamento do IPHAN (Figura
126), instituída pela Portaria nº 072 de 2014. Porém, na legislação federal, em especial o
Decreto-lei nº 25 de 30 de novembro de 1937, não há orientações objetivas a respeito da
elaboração de projetos desta natureza, resumindo-se a diretrizes gerais, como o artigo 17,
que assim estabelece:

Art. 17. As coisas tombadas não poderão, em caso nenhum ser destruidas,
demolidas ou mutiladas, nem, sem prévia autorização especial do Serviço do
Patrimônio Histórico e Artistico Nacional, ser reparadas, pintadas ou
restauradas, sob pena de multa de cincoenta por cento do dano causado.
(BRASIL, 1937, p. 4)
109

Figura 126: Localização da edificação em relação à Poligonal de Tombamento do IPHAN

Fonte: elaboração própria, 2020.

Além disso, de acordo com a Lei Municipal nº 3.942 de 1990, que instituiu a Zona
Especial de Preservação Histórica (ZEPH), a edificação está inserida na Subzona 02 (Figura
127), devendo, portanto, seguir as prescrições urbanísticas estabelecidas no anexo II da
110

referida lei. No entanto, aqui cabem alguns esclarecimentos. O quadro estabelece as


prescrições tendo como base as categorias de uso. Para usos institucionais (INS-2), no qual
se enquadra a proposta, a orientação é de seguir o artigo 51 da lei 3.175 de 1984, que era o
Plano Diretor da época, hoje já revogado. Por esta razão, deve-se adotar os índices
urbanísticos (coeficiente de aproveitamento, taxa de ocupação e taxa de impermeabilização)
e recuos estabelecidos na versão atual do Plano Diretor. Quanto ao gabarito, esta é uma
exigência clara na lei 3.942: 7,50 metros para todos os usos.

Figura 127: Subzonas da ZEPH e localização do imóvel na Subzona 02.

Fonte: elaboração própria, 2020.


111

Quadro 6: Prescrições urbanísticas da Subzona 02 da Lei 3.942/90.


Zona Especial de Preservação Histórica – Subzona 02
Usos Lote Edificação Obs.
Índices urbanísticos Recuos Mínimos (1) Exceto

Frente mínima (m)


Área mínima (m²)
de

Gabarito máximo

Estacionamento
natureza
Conforme

Tolerado

Ocupação
industrial.

Utilização

Pilotis
Conforto

Frontal

Lateral

Fundo
(2) Vide
anexo IX
fls. 01, 4,
4ª, 4b e
4c.
INS-1 Vide Art. 51 da Lei 3.175/84 Permitido Vide
INS-2 Vide Art. 51 da Lei 3.175/84 até 2 anexo
pvtos. VIII da

Proibido
S2(1) 360 12 1,6 80% 5 1,5 3
S-1 250 10 1,6 80% 5 1,5 3 (7,5m) Lei
CV 250 10 1,6 80% 5 1,5 3 3.175/
-1 84
RU 250 10 1,0 50% 250 5 1,5 3
Fonte: Lei Municipal nº 3.942, 1990.

Ainda no tocante ao Plano Diretor, o bairro de Cidade Alta, é classificado como Zona
Adensável, devendo então serem seguidos os recuos observados na Figura 128. Aqui a
situação é similar àquela referente aos índices urbanísticos: a lei municipal 3.942 previu a
utilização dos recuos da versão já revogada, de 1984, do Plano Diretor, por isso remete-se ao
plano atual. Quanto aos índices urbanísticos, estes devem ser de até 80% para taxas de
impermeabilização e de ocupação, e coeficiente de aproveitamento máximo igual a 3,0.

Figura 128: Recuos estabelecidos pelo Plano Diretor de Natal.

Fonte: Lei Complementar nº 87, 2007.

Apresentados os condicionais legais relativos ao Plano Diretor e os dados relativos à


poligonal de tombamento, é preciso esclarecer que, por se tratar de uma edificação sob
proteção da legislação patrimonial, e considerando que a proposta visa sobretudo a
preservação do patrimônio cultural edificado, não há como atender por completo as
112

exigências, como recuos, por exemplo. A edificação, é implantada no limite do lote, no caso
da fachada voltada para a Praça Padre João Maria. Buscar a criação de um recuo frontal
significaria a demolição da fachada, o que é inaceitável. Por esta razão a proposta buscou a
qualificação do imóvel, conciliando o atendimento ao Plano Diretor dentro daquilo que é
possível sem descaracterizar a edificação, com soluções que visam atender as necessidades
relativas ao uso proposto.
Quanto ao Código de Obras, em seu artigo 124, inciso VI, ele estabelece que pode ser
dispensada a reserva de área para estacionamento em caso de imóveis tombados ou de
interesse histórico, cultural e artístico, independente do uso pretendido. No caso em questão,
é este direcionamento que será adotado, considerando que no terreno da edificação não há
espaço disponível para criação de um estacionamento.
No rearranjo dos ambientes devem ser consideradas também as áreas mínimas dos
compartimentos, estabelecidas no artigo 14 do Código de Obras, e a relação entre a superfície
das aberturas voltadas para o exterior e as áreas dos ambientes. Esta relação não poderá ser
inferior a 1/6 (um sexto) para ambientes de uso prolongado, e 1/8 (um oitavo) para ambientes
de uso transitório.
Em se tratando de banheiros, o Código de Obras estabelece que é admissível, em
caso de reforma, a instalação de um único banheiro para ambos os sexos, desde que este
atenda as exigências relativas à acessibilidade.
Quanto à legislação estadual referente a segurança contra incêndio e pânico, o artigo
13 da Lei Estadual nº 601 de 2017 (Código Estadual de Combate a Incêndio e Pânico),
estabelece que as edificações não enquadradas no artigo 12 são consideradas de baixo risco,
o que é o caso do empreendimento em questão.
Por fim, quanto à acessibilidade, a NBR 09050 de 2015 assim define:

10.2.1 Todos os projetos de adaptação para acessibilidade de bens tombados


devem obedecer às condições descritas nesta Norma, compatibilizando
soluções com os critérios estabelecidos por órgãos legisladores, e sempre
garantindo os conceitos de acessibilidade (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE
NORMAS TÉCNICAS, 2015, p. 122)

Desta forma, apesar de se tratar de um bem tombado, o projeto deve considerar as


regras estabelecidas na norma. No entanto, é importante ressaltar que esta flexibiliza alguns
critérios em virtude de se tratar de uma reforma, como os desníveis máximos, o
dimensionamento de rampas e medidas mínimas de um sanitário acessível.
113

5 A DEFINIÇÃO DO PROBLEMA E O PÚBLICO ALVO

A formulação do problema, enquanto pesquisa acadêmica, é comumente associada a


uma questão não resolvida, e que conduzirá a discussão ao longo do desenvolvimento do
trabalho.
No entanto, no âmbito do projeto de arquitetura, o problema se apresenta sob a forma
de um conjunto de exigências a serem atendidas. Exigências estas que se caracterizam como
condicionantes ambientais, legais, relação com o entorno e outras variáveis, conforme
afirmam Moreira e Kowaltowski:

Esses problemas são as condicionantes ambientais e legais do local do


edifício, as relações com o entorno próximo, as expectativas do cliente, as
atividades dos usuários, as mudanças possíveis em seu uso e tantas outras
propriedades exigidas da nova edificação que o arquiteto deverá conceber.
(MOREIRA; KOWALTOWSKI, 2011, p.101)

Em se tratando do projeto de intervenção para a edificação estudada, o problema se


inicia com o fato de se tratar de uma edificação de valor patrimonial, que ao longo do tempo
vem passando por prejuízos à sua autenticidade e integridade, ocasionados pelo processo de
degradação em virtude da falta de manutenção, e de alterações como as adições que
obstruíram quase por completo uma de suas fachadas.
Associada a questões concernentes à preservação do bem, há a necessidade de
adequações à legislação vigente, como as relativas à acessibilidade, combate a incêndio e
pânico e prescrições urbanísticas. Logo, também faz parte do problema a conciliação entre a
preservação do patrimônio e as legislações que, corriqueiramente, desconsideram a
importância da manutenção das características do bem.
Uma outra questão relativa à proposta diz respeito à dificuldade de adequação da
edificação a um novo uso, diferente daquele para o qual ela foi construída. Esta nova realidade
traz consigo a necessidade de rearranjo dos ambientes, o que, considerando a autenticidade
e a integridade da edificação, pode vir a impactar negativamente no resultado almejado.
Associado ao novo uso, há também as demandas relativas ao conforto ambiental dos
usuários, que implicam em decisões projetuais como a escolha de materiais ou mesmo no
próprio partido adotado.
E por fim, uma última questão observada diz respeito à relação da edificação com o
entorno, que desde o princípio é um elemento norteador da proposta. O projeto deve então
buscar soluções capazes de ressignificar essa relação sem ao mesmo tempo trazer prejuízos
a autenticidade e a integridade do bem.
Neste contexto, buscando sintetizar quais seriam as exigências relativas a uma
proposta de intervenção na edificação, foi feita uma definição de dilemas e metas (Figura 129)
114

referentes ao projeto, que permitiram orientar as futuras soluções. Esta definição consiste em
uma busca pela identificação de restrições e potenciais soluções relacionadas a elas, como
afirmam Andrade, Ruschel e Moreira:

Para reduzir dificuldades e incertezas, o arquiteto desenvolve métodos que


buscam aproximar as potenciais soluções de projeto das metas e restrições
estabelecidas para a futura construção. A busca de soluções que satisfaçam
certas metas e restrições se dá num universo de potenciais soluções. A tarefa
do arquiteto é encontrar a solução que corresponda melhor às metas e
satisfaça às restrições estabelecidas. (ANDRADE; RUSCHEL; MOREIRA,
2011, p. 91)

Figura 129: Dilemas e metas relativos à proposta.

Fonte: elaboração própria, 2019.

É importante esclarecer que os dilemas e metas não encerram todas as variáveis


relativas ao problema, visto que outras costumam aparecer na medida em que soluções vão
sendo propostas, mas foram um ponto de partida para direcionar o processo de projeto. A
115

elaboração deles faz parte do processo de análise que, segundo Lawson (2011), estão
envolvidas na relação entre problema e solução (Figura 130).

Figura 130: Mapeamento do processo de projeto segundo Lawson.

Fonte: Adaptado pela autora a partir de Lawson, 2011.

Em resumo, pode-se dizer que os dilemas e metas levantados se traduzem no


problema de adaptação de uma edificação de valor patrimonial a um uso diferente daquele
para o qual ela foi construída, buscando atender necessidades contemporâneas de conforto
ambiental, acessibilidade e exigências legais. Algumas metas por si só já identificam soluções
projetuais que deverão ser adotadas, e consequentemente atingidas na fase de concepção
da proposta, como o uso de cores claras e refletivas e o posicionamento de rampa de acesso
de maneira que se cause a menor interferência possível nas fachadas. A este respeito,
Lawson (2011, p. 116) afirma que “nos projetos, os problemas e as soluções são
inexoravelmente interdependentes. É óbvio que não faz sentido estudar soluções sem fazer
referência aos problemas, e o inverso é igualmente infrutífero”.
Outras metas apontam para a necessidade de análises complementares, como o
diagnóstico da edificação em relação ao que pode ser alterado e as análises relativas ao
conforto ambiental, e, portanto, pertencem a momento anterior à concepção projetual.
No entanto, não há como se falar em problema de projeto sem mencionar os usos e o
público alvo para o qual este projeto é destinado. Qualquer proposta deve ser pensada para
um público determinado, que no caso em questão é composto por trabalhadores do espaço
cultural, e usuários.
Para a definição deste público partiu-se da questão problema mencionada na introdução
deste trabalho. Nela fica clara a busca por uma integração com o entorno. Porém, esta
integração não se dá somente de forma física, através de soluções arquitetônicas. Ela
relaciona-se também com os usuários. Neste contexto, considerou-se que a proposta deveria
buscar abraçar da melhor forma possível o uso principal existente na edificação (sebo de
116

livros) e os usos voltados para fins culturais, identificados no universo de estudo, e em


especial na Praça Padre João Maria.
Ela é palco de diversos usos nas áreas comercial, social, cultural e religiosa. Há
ocupações que se caracterizam como permanentes e outras como temporárias. As
consideradas permanentes são aquelas que estão instaladas de forma fixa e não apenas por
um curto período. São todas do tipo comercial, sendo estas:
 Barracas de artesanato
 Cigarreira
 Barracas de frutas

Figura 131: Localização das ocupações permanentes.

Fonte: adaptado de Google Earth, 2019.

Já as ocupações temporárias correspondem a todos os eventos que ocorrem na praça,


o que inclui, por exemplo, missas em homenagem ao Padre João Maria, apresentações
musicais (Figura 132), atividades de assistência social, entre outros.
117

Figura 132: Choro no Caçuá, um dos exemplos de ocupação temporária. Ocorre duas vezes
por mês na praça Padre João Maria.

Fonte: a autora, 2019.

No entanto, dentre os usos identificados na praça, o comércio de artesanato em


barracas de madeira, já bastante deterioradas pela ação do tempo, chama atenção ao
primeiro olhar. Trata-se de uma ocupação de longa data, que toma boa parte da extensão da
praça, margeando toda a face nordeste desta (Figura 131).
Porém, apesar de se tratar de uma atividade que pode ser considerada como tradicional
no local, o caráter de abandono das instalações e as vendas escassas contribuem para
transmitir uma aparência de precariedade (Figura 133 e Figura 134).

Figura 133: Barracas de artesanato ao lado Figura 134: Barracas de artesanato em frente
do Banco do Nordeste à edificação escolhida.

Fonte: a autora, 2019. Fonte: a autora, 2019.

Embora haja uma grande quantidade de barracas, há apenas seis artesãos atualmente,
visto que alguns abandonaram os equipamentos e outros faleceram. As barracas que ficaram
sem proprietários foram então ocupadas por aqueles que permanecem no local, o que fez
com que cada um dos artesãos possuísse mais de uma.
118

Uma outra informação relevante diz respeito à ilegalidade da atividade. O Decreto


Municipal nº 5.661 de 1995, que dispõe sobre as atividades comerciais do camelô no
Município de Natal, proíbe a destinação de praças para este tipo de comércio. Por esta razão
os artesãos não possuem autorização para permanecerem no local e encontram-se
vulneráveis perante a legislação, podendo ser removidos a qualquer tempo do local.
Pensando, portanto, em como envolver os usuários do entorno na proposta, concluiu-
se que recepcionar os artesãos seria uma alternativa que dialogaria com a proposta de um
espaço cultural, ao mesmo tempo em que contribuiria para uma melhoria das condições de
trabalho deles, através do fornecimento de uma estrutura adequada à atividade, que
atualmente sequer garante o acesso a condições básicas, como banheiro.
Também se levou em consideração a vocação cultural identificada dentro do universo
de estudo, no qual se observa a existência de estabelecimentos voltados para o cordel (Figura
135 e Figura 136); do Beco da Lama, que passou por um processo de revitalização em 2019
e que recebe uma diversidade de eventos; do Museu Café Filho na Rua da Conceição, entre
outros.

Figura 135: Casa do Cordel, na Rua Vigário Figura 136: Estação do Cordel, em frente a
Bartolomeu. Praça P. João Maria.

Fonte: www.google.com.br, 2019. Fonte: a autora, 2019.

Figura 137: O Beco da Lama após Figura 138: Na esquina, o Museu Café Filho
intervenções artísticas

Fonte: www.tribunadonorte.com.br, 2019. Fonte: Canindé Soares, 2018.


119

Desta forma, optou-se pela definição de um espaço cultural multiuso, baseado no


conceito de economia solidária, que abarque tanto o sebo quanto os artesãos, e que seja
capaz de receber também eventos culturais, como os que já ocorrem na praça.
Para o sebo, pensou-se em associá-lo a um café, como uma forma de atrair mais
clientes, que poderiam frequentar o espaço tanto pelo consumo de bebidas e pequenas
refeições quanto para adquirir livros, além de ampliar a fonte de renda do espaço e oferecer
uma alternativa de alimentação durante a realização de eventos culturais, sejam estes
realizados na praça ou na própria edificação.
120

6 PROGRAMA ARQUITETÔNICO E O SEU DIMENSIONAMENTO

O desenvolvimento do programa arquitetônico, segundo Moreira e Kowaltowski (2015)


objetiva descrever o contexto do projeto, dividindo-o em partes, de forma a definir seus
elementos principais. Sua estrutura é um sistema com dados organizados, cujas informações
coletadas convergem em uma síntese gráfica sob a forma de diagramas capazes de desenhar
esse contexto como um todo. O seu conteúdo pode ser descrito da seguinte forma:

O programa identifica as atividades envolvidas na edificação a ser projetada,


com todos os aspectos que o projeto deve atender. Sugere-se a divisão por
atividades desenvolvidas pelas diversas categorias de usuários. [...]
Considerar as atividades desenvolvidas ne edificação implica identificar cada
setor ou serviço organizado pelo cliente ou corporação, e pode exigir
subdivisões das atividades. Nessa fase do programa, descrevem-se as
quantidades e especificações de equipamentos, mobiliários, áreas
particulares, circulações, infraestrutura técnica e serviços de apoio.
(MOREIRA; KOWALTOWSKI, 2011, p. 106)

No projeto em questão, o delineamento desse contexto teve como início a definição


dos problemas identificados na seção 5. Então, a partir da escolha do novo uso e do público
alvo, passou-se à definição das atividades envolvidas, que permitiram identificar os ambientes
necessários. Considerando, portanto, que o uso proposto é o de um espaço cultural, e que
este deve abarcar as atividades referentes ao sebo de livros, artesãos e um café, chegou-se
à conclusão da relação de atividades e ambientes que se segue.

Quadro 7: Relação das principais atividades e ambientes


Principais atividades Ambientes
Comércio de livros Sebo
Alimentação Café
Comércio de artesanato Loja colaborativa
Higiene pessoal Banheiros
Oficinas e reuniões Atelier
Eventos culturais (uso eventual) Terraço/Deck externo
Fonte: elaboração própria, 2019

A programação inclui também a necessidade de dimensionamento desses ambientes.


O correto dimensionamento é importante para garantir o bom funcionamento das atividades a
serem desenvolvidas na edificação. A este respeito, Hertzberger afirma:

“A primeira consideração de importância decisiva ao se projetar um espaço é


determinar para que ele servirá ou não servirá, e consequentemente, qual
será o tamanho adequado. [...] É simplesmente uma questão de comodidade,
121

de ter à mão tudo de que se necessita. Atividades e usos diferentes exigem


dimensões espaciais diferentes.” (HERTZBERGER, 1999, p. 190)

Passamos então a descrever o que se pensou em relação a cada um dos ambientes


e atividades realizadas neles.

6.1 LOJA COLABORATIVA

Conforme já mencionado no capítulo anterior, atualmente há apenas seis artesãos


ocupando as bancas da feira de artesanato na Praça Padre João Maria. Tomando como
exemplo o caso de uma das artesãs, que ocupa cinco bancas de aproximadamente 1,5m x
0,5m, chegou-se ao número de 4,5m² de espaço para exposição de mercadorias por artesão.
Este espaço pode ser distribuído de acordo com o desenho do mobiliário. Ele pode oferecer,
por exemplo, diversas prateleiras em um único mostruário, que somadas permitem atingir a
área em metros quadrados que os artesãos utilizam hoje. Atualmente eles expõem sobre as
bancas, que não ofertam essa possibilidade.

Figura 139: Banca utilizada atualmente Figura 140: Exemplo de mobiliário utilizado
pelos artesãos. para exposição de artesanato, com prateleiras.

Fonte: a autora, 2019. Fonte: http://www.artesol.org.br, 2019.

O dimensionamento da loja parte, portanto, das áreas de exposição de mercadorias a


serem oferecidas para cada artesão. Considerando que são seis pessoas, e 4,5 m² de área
para cada, totaliza-se 27m² de área de mobiliário. Há também a necessidade de área de
circulação e para disposição de um caixa. Estas áreas serão definidas a partir da conciliação
entre a distribuição dos expositores, ponto de partida para elaboração do layout, e da área
disponível nos ambientes existentes.
A escolha por uma loja colaborativa, por sua vez, diz respeito à forma de gestão desta.
Uma loja é entendida como colaborativa quando esta se apresenta sob a forma de um espaço
122

coletivo, em que diversos produtores expõem suas mercadorias. Diferente do modelo


tradicional de loja, em que há a figura do empregador e dos empregados, na loja colaborativa
proposta não há esta relação de trabalho, visto que todos são produtores ou comerciantes. O
Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) aponta as vantagens
de uma loja colaborativa em relação ao modelo tradicional, podendo-se citar os elencados
abaixo, que possuem relação com a proposta:

 Menor custo de investimento para comercialização do produto ou serviço.


 Menor custo de manutenção, que é compartilhado (água, luz, limpeza, vigilância internet,
IPTU, entre outros).
 Compartilhamento de despesas com funcionários, se for o caso.
 Acesso aos melhores pontos comerciais. O custo de um bom ponto comercial é dividido
entre todos os empresários participantes.
 Compartilhamento de despesas de divulgação e promoção da loja.
 Mais tempo para produção de bens e serviços. A comercialização via loja colaborativa
não requer, necessariamente, a presença constante do produtor, que terá muito mais
tempo para produção de bens e/ou serviços.
 Maior disponibilidade de tempo para dedicação a outros canais de comercialização, como
loja virtual e atendimento em domicílio.
 Possibilidade de parcerias e de networking entre os comerciantes que partilham o mesmo
espaço.

A escolha por esse modelo permite, portanto, que os artesãos disponham de uma
estrutura adequada para exporem seus produtos, ao mesmo tempo em que garante mais
tempo para que eles possam produzir, na medida em que uma loja deste tipo não exige que
eles estejam presentes no estabelecimento ao longo de todo o expediente.
Além disso, a possibilidade de uma loja física garante condições de funcionamento
melhores que as existentes atualmente. Hoje eles estão expostos a intempéries, o que
inviabiliza o comércio em dias de chuva. Também não possuem acesso a banheiro,
dependendo de estabelecimentos próximos para isso. Acrescenta-se ainda a vulnerabilidade
à violência, o que é preocupante em especial por haver idosos entre os artesãos.

6.2 SEBO

O sebo de livros é um uso já existente. Por esta razão, optou-se por identificar quantos
metros quadrados de área atualmente são ocupados, a fim de servir de parâmetro para o
dimensionamento da proposta. Na Figura 141 estão em destaque os ambientes que
123

atualmente são utilizados para exposição e armazenamento de livros, totalizando 34,44m².


Não foram contabilizadas as áreas de copa e banheiro, considerando que a edificação irá
ofertar na proposta banheiros a serem utilizados não somente pelo sebo, como pelo café, loja
e demais usos.

Figura 141: Área ocupada para exposição e armazenamento de livros.

Fonte: Elaboração própria, 2019.

A equipe de funcionários do sebo hoje é composta apenas pelo seu proprietário e uma
assistente. O estabelecimento atualmente também possui uma loja online (Figura 142), que
hoje é responsável por boa parte das vendas. Para seu funcionamento, a loja possui um
computador, havendo, portanto, a necessidade de um espaço para tal, a ser disponibilizado
na proposta.

Figura 142: Loja virtual do sebo, atualmente com mais de dois mil livros anunciados

Fonte: https://www.estantevirtual.com.br/bazar-de-livros, 2019.


124

6.3 CAFÉ

Para o café, pensou-se em um funcionamento similar a quiosques de praça de


alimentação, que não necessitam de cozinha, mas apesar disso conseguem oferecer um
cardápio com bebidas quentes, geladas e pequenas refeições, como tapiocas e sanduíches.
Como exemplo identificado em Natal, tem-se o tapioca.com (Figura 143 e Figura 144),
quiosque que dispõe de todas essas opções.

Figura 143: Quiosque Tapioca.com Figura 144: Cardápio do quiosque,


com diversas opões de bebidas e
refeições.

Fonte: https://www.google.com/maps, 2019.

Fonte: https://www.google.com/maps,
2019.

Dentre os equipamentos utilizados pelo quiosque tem-se: máquina de suco de laranja,


máquina de café, chapa para sanduíche, refrigerador e balcão expositor refrigerado. Esses
serão, portanto, os equipamentos utilizados como base para a proposta.
Em relação ao dimensionamento, tomou-se como referência três franquias de
quiosques de cafés, conforme Quadro 8, e chegou-se ao valor médio de 20m².
125

Quadro 8: Área e dados relativos a faturamento e retorno de três franquias de café.


Marca Café do Ponto Grão Espresso São Braz Coffee
Cafeteria/ Café Pelé Shop
Área da unidade 12m² a 30m² 9 a 12m² 12 a 30m²
Faturamento médio 20 a 50 mil 20 a 32 mil 15 a 30 mil
mensal
Prazo de retorno 24 a 30 meses 19 meses 24 a 36 meses
Fonte: adaptado de http://revistapegn.globo.com, 2019.

6.4 ATELIER

O atelier foi pensado para ser utilizado como espaço para oficinas, o que seria uma
forma de gerar mais renda. Também pode ser um local disponível à comunidade artística do
entorno para realização de encontros e reuniões. É o caso, por exemplo, da Academia Norte
Riograndense de Cordel, que atualmente encontra-se sem sede, e poderia fazer uso deste
espaço.
Além disso, as oficinas também são uma forma de valorizar os saberes dos artesãos,
perpetuando-os e contribuindo para que sejam preservados ao serem transmitidos para outras
pessoas. O artesanato, embora possa ser produzido de maneira individual, é fruto de todo um
coletivo que compartilha o conhecimento do fazer de geração em geração. Sua produção traz
consigo a inspiração do artesão, a sua habilidade para criá-lo e a história de vida por trás
daquele conhecimento. Não é por acaso que diversos saberes deste tipo já foram registrados
como patrimônio imaterial pelo IPHAN. Oferecer oficinas à comunidade, dentro de um espaço
pensado para os artesãos é, portanto, uma forma de valorizar e perpetuar a história deles,
além de contribuir para que estes possam ter uma renda melhor.
A respeito do ambiente em si, considerou-se o mobiliário necessário para a realização
das atividades, que consiste em uma mesa ampla, com cadeiras, e armários para o
armazenamento do material para produção do artesanato. O dimensionamento partiu,
portanto, do layout do ambiente, chegando-se a 20 m².
126

Figura 145: Layout pensado para o atelier

Fonte: elaboração própria, 2019.

6.5 TERRAÇO/DECK EXTERNO

Como parte da intenção de integração, o terraço funciona como um mirante, de onde


é possível visualizar todo o entorno, incluindo-se alguns dos marcos urbanos do universo de
estudo como a Igreja do Galo, a Igreja Matriz e, mais diretamente, a Praça Padre João Maria.
O terraço também pode funcionar como um espaço para eventos, em especial durante o
período noturno, em virtude da incidência da luz solar durante o dia.
O deck externo, por sua vez, cria uma nova relação entre a edificação e o entorno,
hoje totalmente obstruída em sua fachada voltada para a Rua Voluntários da Pátria. Também
pode ser utilizado com uma área para disposição de mesas do café, para os clientes que
desejarem ficar ao ar livre.
Pensando em dimensionamento, o terraço consistirá em toda a área da cobertura. O
deck corresponde à área lateral, voltada para a Rua Voluntários da Pátria. Logo, para o
terraço, totalizou-se 111m² de área, e para o deck, 61m².

6.6 BANHEIROS

Quanto aos banheiros, como já mencionado anteriormente, no capítulo sobre aspectos


legais, em caso de reforma o Código de Obras admite um único banheiro para ambos os
sexos, desde que este esteja de acordo com a norma de acessibilidade. No entanto, optou-
se pela criação de dois banheiros acessíveis, um para cada sexo, totalizando 3m² por
banheiro, considerando-se as dimensões relativas a diâmetro de giro de cadeira de rodas,
afastamento de barras em relação a peça sanitária e lavatório e demais requisitos da norma.
Em resumo, o pré-dimensionamento dos ambientes listados anteriormente pode ser
observado abaixo.
127

Figura 146: O programa e o seu pré-dimensionamento.


Principais atividades Ambientes Pré-dimensionamento
Comércio de livros Sebo 34,44m²
Alimentação Café 20m²
Comércio de artesanato Loja colaborativa 27m²
Higiene pessoal Banheiros 6m²
Oficinas e reuniões Atelier 20m²
Eventos culturais (uso eventual) Terraço/Deck externo 111m²/61m²
Fonte: elaboração própria, 2019.

Após definidos os ambientes necessários para o funcionamento do espaço cultural e


as peculiaridades de cada um deles, passou-se a analisar as relações entre eles,
considerando-se as afinidades em relação à função. É esta análise que permite identificar
quais ambientes devem ficar próximos uns aos outros e quais devem permanecer afastados.
Para isto, optou-se pela elaboração de um funcionograma. A este respeito, Laert afirma:

Essas relações funcionais de maior ou menor intimidade, ou de afinidades,


podem ser expressas de maneira gráfica, num diagrama com as respectivas
ligações, indicando o grau de intimidade entre elas. Esse diagrama é
denominado de funcionograma. O funcionograma é, pois, o diagrama das
relações funcionais dos elementos do programa. (LAERT, 1989, p. 37)

Considerando, portanto, estas relações funcionais, foi elaborado o funcionograma


abaixo.

Figura 147: Funcionograma da proposta.

Fonte: elaboração própria, 2019.

Através do funcionograma é possível perceber a ligação entre a loja e o café/sebo,


ambos podendo ser acessados pelo hall principal. Esta proximidade é interessante para
estimular a clientela, que procura o espaço para comprar na loja, a consumir no café também,
e vice-versa. A ligação entre a loja e o café com os acessos laterais, por sua vez, faz parte da
128

intenção de retomar a relação entre a edificação e o exterior, uma vez que, quando construída,
ela possuía acessos por todas as fachadas.
A elaboração do funcionograma também permitiu observar que o hall de entrada
deveria ter um uso compatível com a função de passagem para o café e a loja. Por esta razão
propôs-se um memorial, em que poderia ser contado o histórico da edificação, desde sua
construção até a intervenção, da praça e de fatos históricos do lugar. A criação de um
memorial também cumpre função em relação à documentação da intervenção. O registro do
projeto, das alterações realizadas, contribui para a preservação da história do bem para
gerações futuras e pode auxiliar em novas intervenções.
Em relação ao atelier, não há necessidade de ligação direta entre ele, o café/sebo ou
a loja. Na verdade, é interessante um certo afastamento, considerando que se trata de um
espaço destinado a oficinas e reuniões, em que um baixo nível de ruído é desejável.
Quanto aos banheiros, é importante que estes fiquem próximos aos ambientes que
possuem uso mais frequente. Por isso eles aparecem relacionados com a loja e o café/sebo.
E por último, em relação ao deck e o terraço, é interessante que ambos tenham ligação
com o café/sebo. O primeiro em virtude da possibilidade de utilização para disposição de
mesas, e o segundo em razão dos eventos que poderão ser realizados e terem o café como
apoio para fornecimento de bebidas e alimentos.
129

7 CONCEPÇÃO E PROCESSO PROJETUAL

Assimilados os condicionantes projetuais e definida a postura intervencionista, passa-


se ao momento de concepção, compreendida como parte da fase de síntese que, segundo
Andrade, Ruschel e Moreira (2011, p. 88) “[...] está associada à fase criativa dos estágios de
decisão. Nessa fase, os arquitetos concebem as ideias e possíveis soluções que atendam
aos objetivos e satisfaçam às restrições e oportunidades observadas na etapa de análise.”.
Como forma de identificar então as possíveis soluções, desenvolveu-se um novo
quadro, logo abaixo, a partir do Quadro 7, através do qual buscou-se identificar as questões
projetuais envolvidas e a solução proposta para cada questão.

Quadro 9: Questões projetuais e soluções para cada atividade e ambiente


Questões
Principais
Ambientes projetuais Solução proposta
atividades
envolvidas
 Portas de acesso direto ao
 Integração com o exterior
exterior  Preservação da tipologia das
 Ventilação esquadrias
Comércio de
 Iluminação  Espaço amplo e distribuição do
livros e Sebo/Café
alimentação  Circulação mobiliário, criando corredores
(clientes e de circulação
funcionários)  Disposição do balcão de
 Visibilidade atendimento em posição
favorável à visibilidade
Comércio de Loja Mesmas questões do Mesmas soluções do comércio de
artesanato colaborativa comércio de livros livros
 Disposição longe do sebo/café
 Distanciamento e, se possível, em outro
Oficinas e
Atelier  Iluminação pavimento
reuniões
 Ventilação  Preservação das esquadrias
existentes
 Eliminação de barreiras entre o
deck e o logradouro público
 Acessos a partir da Rua
Eventos Terraço/Deck  Integração
Voluntários da Pátria e da
culturais externo  Visibilidade
Praça
 Terraço como mirante para a
praça e imediações
 Disposição em local próximo
Higiene  Conexão ao café e à loja
Banheiros
pessoal  Acessibilidade  Dimensionamento de acordo
com a NBR 09050
Fonte: elaboração própria, 2019.

Lawson (2011, p.55) afirma que “O mais provável é que projetar seja um processo no
qual problema e solução surgem juntos. Muitas vezes, o problema pode não ser totalmente
compreendido sem alguma solução aceitável para ilustrá-lo.” O processo de elaboração deste
130

quadro consistiu nesta busca por compreender as questões projetuais envolvidas e quais
soluções poderiam ser adotadas para elas.
A partir de então, passou-se para o desenvolvimento do conceito e a definição do
partido.

7.1 O DESENVOLVIMENTO DO CONCEITO E A DEFINIÇÃO DO PARTIDO

Antes de descrever o conceito e partido adotados na proposta, faz-se necessário


estabelecer a distinção entre ambos. O conceito, segundo McGinty (1984) parte de um
pensamento que busca reunir elementos, características e requisitos de um edifício. É este
conceito que virá a influenciar diretamente a configuração do projeto.
De acordo com Andrade, Ruschel e Moreira (2011, p. 88), a definição do conceito está
inserida ainda na fase de análise, e possui ligação direta com o problema:

Na análise são também definidos os principais conceitos do edifício. O


conceito está intrinsecamente relacionado ao problema do projeto e aonde se
quer chegar com ele. Para Deleuze e Guatarri (2000) o conceito remete a um
problema; sem o problema, o conceito não tem sentido. A análise de um
projeto parte de um problema e de um conceito a ele associado. Esse
conceito tem origem em condicionantes históricos e ideológicos, que vão
definir a natureza do problema, e também poderá sofrer influências de outros
problemas e de outros componentes vindos de outros conceitos.”
(ANDRADE; RUSCHEL. MOREIRA, 2011, p. 89)

O partido, por sua vez, pode ser entendido como parte da fase de síntese descrita por
Lawson (2011), já que é nela em que são concebidas as soluções capazes de resolver os
problemas e atender os requisitos levantados durante a fase anterior. Segundo Lemos (2012,
p. 38), “Partido seria uma consequência formal derivada de uma série de condicionantes ou
de determinantes; seria o resultado físico da intervenção sugerida.” Em resumo, enquanto o
conceito é associado a uma ideia norteadora da proposta, o partido seria a expressão dessa
ideia.
Embora nem todo projeto arquitetônico possua um conceito, visto que cada arquiteto
é livre para adotar o método que melhor se adeque ao seu processo, na presente proposta
ele surgiu de maneira natural, como uma consequência da própria questão problema, que
retomamos: é possível a integração da edificação com o entorno através da sua
requalificação?
Integração então passou a ser o conceito aplicado à proposta, que se expressa através
da relação entre edificação, entorno e economia solidária. Em consonância com a definição
de McGinty, o termo engloba requisitos e características almejados para a proposta. Busca-
se integrar a edificação com o entorno, e a economia solidária se insere na proposta como
131

uma forma de gestão capaz de envolver os diferentes atores relacionados às atividades


descritas na seção 6, do programa.
Em relação à edificação, a integração se expressa como uma retomada da relação
espacial entre ela e o entorno, uma vez que quando foi construída possuía acessos ao exterior
por todas as fachadas. Além disso, não foi por acaso que o lote onde ela está inserida foi
escolhido. De acordo com o estudo feito por Cabral (2000) o então proprietário possuía um
gosto específico por terrenos de esquina. Ressalta-se que foi ele também o proprietário
responsável pela construção do Solar Bela Vista, edificação que, de maneira similar à
escolhida, está localizada no centro histórico de Natal, se situa em lote de esquina e possui
acesso por duas vias.
Esta integração entre edificação e entorno visa também, como afirma Hertzberger
(1999), uma reciprocidade entre ambos, em que um complementa o outro, reduzindo barreiras
entre os domínios público e privado, ampliando as possibilidades de acesso entre eles e
contribuindo para vitalidade do lugar:

Devemos considerar a qualidade do espaço das ruas e dos edifícios


relacionando-os uns aos outros. Um mosaico de inter-relações – como
imaginamos que a vida urbana seja – requer uma organização espacial na
qual a forma construída e o espaço exterior (que chamamos rua) não apenas
sejam complementares no sentido espacial e, portanto, guardem uma relação
de reciprocidade, mas ainda, e de modo especial – pois é com isto que
estamos preocupados –, na qual a forma construída e o espaço exterior
ofereçam o máximo de acesso para que um possa penetrar no outro de
tal modo que não só as fronteiras entre o exterior e o interior se tornem
menos explicitas, como também se atenue a rígida divisão entre o
domínio privado e o público.” (HERTZBERGER, 1999, p. 79, grifo nosso)

Mas a integração não ocorre somente de forma física. Ela pode ser observada também
através do sentido de abraçar a comunidade. Existe vida na Praça Padre João Maria, palco
de diversos eventos culturais, sociais e religiosos, e a edificação, enquanto espaço cultural,
pode integrar-se a eles, seja sob a forma de um ponto de apoio às atividades, seja incluindo
os usuários do entorno, como os artesãos, nos usos permanentes da edificação.
A economia solidária vem então permitir, sob a forma de uma associação, a
organização deste espaço, para que ele possa de fato integrar e funcionar como um lugar em
que os trabalhadores encontrem a igualdade e solidariedade através da autogestão, diferente
do modelo tradicional de empregador e empregado, em que comumente este último não tem
direito a voz.
Em relação a esta associação, se faz necessária uma distinção entre os associados.
Há aqueles que atuam de forma permanente e aqueles que fazem uso do espaço de forma
temporária. Os primeiros possuem participação nos lucros e os segundos contribuem para
fazer uso eventual de espaços como o atelier, para reuniões, ou para ter acesso a descontos
132

em produtos e serviços ofertados pelo estabelecimento. Seriam então, nesta ordem, os sócios
fundadores e os sócios colaboradores.
Assim, a economia solidária sob a forma de associação pode permitir a concretização
deste conceito de integração, visto que não basta edificar, para que a proposta funcione é
necessária uma forma de gestão eficiente. Segundo Hertzberger (1999), são entidades assim,
pequenas e funcionais, que contribuem para a emancipação face a um sistema de decisões
centralizadas. Emancipação esta que contribui para motivar os participantes:

“O mundo que é controlado e administrado por todos e para todos terá de ser
construído com entidades pequenas e funcionais, não maiores do que as
capacidades de cada um para mantê-las. Cada componente espacial será
usado mais intensamente (o que valoriza o espaço), ao mesmo tempo em
que se espera que os usuários demonstrem suas intenções. Mais
emancipação gera mais motivação, e deste modo pode-se liberar a energia
represada pelo sistema de decisões centralizadas.” (HERTZBERGER, 1999,
p. 47)

Mas como este conceito se expressa sob a forma de um partido? Há um fator


complicador ao se falar em partido em intervenções no patrimônio cultural edificado: a
edificação já existe. A literatura comumente aborda a definição do partido considerando que
se trata da proposta de uma nova edificação, o que não é o caso. Quando se trata de uma
edificação preexistente, as intervenções costumam ser pontuais, exceto em casos em que há
a construção de uma nova edificação anexa ou próxima. Por esta razão optou-se pela
apresentação das soluções que possuem relação direta com o conceito apresentado, ou que
influenciam diretamente no resultado formal do conjunto edificado, composto por
preexistência e novas inserções.
A primeira solução relativa à aplicação do conceito de integração diz respeito à
liberação da fachada da Rua Voluntários da Pátria para o exterior. Observando a Figura 148
é possível perceber que a atual composição traz prejuízos à autenticidade e integridade do
bem, e que a demolição das adições contribuiria para retomar a relação existente
anteriormente entre edificação e entorno. Além disso, atualmente esta fachada encontra-se
relegada a um segundo plano, quando observada a partir da rua. A retirada das novas
construções valorizaria o bem, que passaria a ser visualizado em destaque.
133

Figura 148: Fachada da Rua Voluntários da Pátria, onde se observa a edificação da


proposta em segundo plano.

Fonte: Baptista, 2019.

O conceito de integração também pode ocorrer de forma visual. Como já mencionado


no histórico (seção 4.2.1), a partir da edificação é possível avistar diversas práticas da vida
cotidiana que possuem relação com o lugar (fiéis em adoração ao busto do Padre, artistas
locais promovendo sua arte, etc.). Uma forma de tirar partido da localização privilegiada da
edificação em relação a toda esta dinâmica local é por meio da criação de um terraço, através
do qual os usuários poderiam visualizar todo o entorno. Além disso, a criação de um terraço
permitiria uma melhor observação de marcos importantes do centro histórico, como a Igreja
Matriz de Nossa Senhora da Apresentação (Figura 149).

Figura 149: Vista do entorno da edificação.

Fonte: Adaptado de Google Maps, 2019.

Ainda em relação ao entorno, embora a proposta de anteprojeto não seja voltada para
a requalificação deste, é possível traçar intervenções pontuais a fim de promover a integração
134

entre ele e a edificação. Para isto, adotou-se como diretriz a eliminação de barreiras visuais e
ao pé, e a priorização do pedestre.

7.2 A POSTURA INTERVENCIONISTA ADOTADA

Conforme observamos no item 2.2, ao intervir em uma edificação de valor patrimonial,


o arquiteto possui um amplo leque de possibilidades em relação às soluções projetuais a
serem adotadas, que podem ser diretamente influenciadas por posturas e princípios seguidos
pelo profissional.
No presente estudo optou-se por desenvolver uma proposta que transite entre a
justaposição e a continuidade contextual (detalhadas no item 2.2.), de acordo com as
categorias propostas por Tiesdell, Oc e Heath e descritas por Vieira-de-Araújo (2006).

Figura 150: Enquadramento da proposta em relação às categorias de Tiesdell, Oc e Heath

Fonte: elaborado pela autora a partir de Vieira-de-Araújo (2006), 2019.

O enquadramento entre as duas categorias permite uma maior flexibilidade das


soluções a serem propostas, que ao longo do processo podem aproximar-se mais de uma ou
de outra postura. Decisões projetuais como o respeito à escala do edifício em relação a novas
construções, e a preservação da leitura do conjunto, aproximam mais a proposta da
continuidade. Por outro lado, alternativas como a inserção de novos elementos característicos
da arquitetura contemporânea, que contrastam com a edificação preexistente, e o uso de
novos materiais e tecnologias construtivas podem vir a aproximar a proposta da justaposição,
a depender de como estes são incorporados.
A proposta também foi norteada pelos princípios da distinguibilidade e reversibilidade,
detalhados posteriormente na seção 8.7. Em relação ao primeiro, busca-se tornar legível a
diferença entre os novos elementos e os preexistentes. Quanto ao segundo, pretende-se que
as adições feitas não inviabilizem intervenções futuras, por esta razão devem ser reversíveis.
135

7.3 A RELAÇÃO DA ECONOMIA SOLIDÁRIA COM A PROPOSTA

O conceito de economia solidária, no contexto da proposta apresentada, como já


explicado na seção 2.2, surge como uma forma de gestão de um empreendimento que tem
como característica a diversidade de usuários e atividades desenvolvidas. Em especial no
caso dos artesãos, produtores economicamente desfavorecidos pelo sistema de comércio
tradicional, que se beneficiariam com uma nova forma de comércio, capaz de oferecer
alternativas através da organização deles em prol de um objetivo comum. Para exemplificar o
que se propõe, passamos a apresentar o caso da Artesol, uma organização que atua há 20
anos na valorização e promoção do artesanato tradicional brasileiro, e da Aproarti, associação
filiada à Artesol.
A Artesol é uma entidade que atua na formação e capacitação de artesãos para o
empreendedorismo. Tem como pilares as seguintes áreas de atuação:

Figura 151: pilares e áreas de atuação da Artesol.

Fonte: adaptado de http://www.artesol.org.br/, 2019.

Atualmente, a Artesol presta os serviços de consultoria, ajudando outras organizações


a encontrar soluções voltadas para a geração de renda, sustentabilidade, preservação do
patrimônio cultural imaterial no fazer artesanal; desenvolve projetos culturais visando a
capacitação de artesãos e coletivos produtivos que vivem em comunidade; e realiza projetos
culturais como festivais e exposições.
Idealizada inicialmente em 1998, como um programa de combate à pobreza que
atingia estados nordestinos castigados pela seca, em 2002 assumiu a forma de OSCIP
(Organização da Sociedade Civil de Interesse Público). Desde 2010, a UNESCO reconheceu
o papel da Artesol na salvaguarda do patrimônio cultural.
136

Dentre as ações já realizadas pela Artesol está a Rede Artesol, criada com o objetivo
de contribuir com a relação entre os agentes da cadeia produtiva; inventariar técnicas e
tradições culturais ameaçadas pelo esquecimento; e incentivar novos negócios através da
criação de uma plataforma digital a ser utilizada como vitrine para o artesanato brasileiro. A
rede é composta por espaços culturais, artesãos, associações, lojas, mestres e artistas
populares e programas de fomento. Através dela, empreendimentos como o proposto podem
se associar e passar a compô-la para, dessa forma, beneficiar-se com capacitações,
consultorias, divulgação de sua produção, dentre outros.
Entre as organizações vinculadas à Artesol está a Aproarti – Associação dos
Produtores de Artesanato, Gestores Culturais e Artistas de Icó. Fundada em 2005, a partir da
reunião de artistas, gestores e artesãos em prol de um objetivo em comum, o desenvolvimento
da produção cultural, atualmente possui nove núcleos, voltados para o artesanato, teatro,
música, dança, artes plásticas, literatura, patrimônio histórico, gastronomia e decoração. No
artesanato, por exemplo, há a produção inspirada no sítio histórico de Icó, tombado pelo
IPHAN em 1998. Os produtos são vendidos na loja da associação, em feiras regionais e
inclusive fora do Brasil (Figura 152).

Figura 152: Mosaico de fotos referente à produção artesanal da Aproarti.

Fonte: adaptado de www.instagram.com, 2019.

O empreendimento proposto consiste em uma associação, a qual poderiam estar


vinculados todos os trabalhadores do ramo cultural que já atuam no local, seja sob a forma
de sócios fundadores, ou sócios colaboradores. Trata-se, portanto, de um empreendimento
que, embora de uso misto, possui objetivos comuns entre os diferentes atores, como o
incentivo à cultura, através do comércio de livros e artesanato, do apoio ao cenário artístico
presente na região, além da geração de renda para garantir melhor qualidade de vida aos
participantes.
De maneira similar aos exemplos apresentados na presente seção, a proposta
consiste em uma espécie de “Associação dos Trabalhadores da Alegria”, que poderia vincular-
se a outras organizações, como a Artesol, assim como fez a Aproarti, uma vez que a economia
solidária, baseada no princípio da solidariedade, também se expressa no apoio entre
137

organizações, auxiliando-se mutuamente, de forma colaborativa, ao invés da tradicional


concorrência, que permeia o modelo de comércio vigente.
Uma outra questão relativa a empreendimentos deste tipo que merece menção diz
respeito à disponibilidade de recursos financeiros para sua implantação. Para que ele seja
economicamente viável, é necessário que os trabalhadores tenham acesso a recursos
capazes de cobrir os custos iniciais de instalação na edificação. No referencial teórico-
conceitual (seção 2.3) foram apontadas algumas alternativas neste sentido, como a
Declaração de Empreendimento Econômico Solidário (DCSOL), obtida a partir do Cadastro
Nacional de Empreendimentos Econômicos Solidários (CADSOL), e que visa reconhecer o
empreendimento, facilitando o acesso a editais de seleção, financiamento, entre outros.
Há a possibilidade de financiamento em bancos como o Banco Nacional do
Desenvolvimento, criador do Prêmio BNDES de Boas Práticas em Economia Solidária, e
também iniciativas em nível estadual que auxiliam financeiramente empreendimentos
econômicos solidários, como convênios com o governo federal e o Banco Mundial, já
mencionados na seção 2.3 deste relatório, aos quais é possível ter acesso por meio de editais
de seleção.
Com estes exemplos, busca-se evidenciar a existência de alternativas capazes de
oferecer melhores condições de trabalho por meio da organização de trabalhadores do ramo
artístico, e provavelmente mais rentáveis, em especial no caso dos artesãos, diante da atual
forma de ocupação destes na praça, onde permanecem por longos períodos ocupados com
as vendas, quando poderiam, por exemplo, dedicar-se à produção, capacitação e divulgação
do seu trabalho.

7.4 O DESENVOLVIMENTO DA PROPOSTA

O desenvolvimento da proposta foi iniciado com um croqui. Partindo da escala macro


para a micro, pensou-se primeiramente na relação entre edificação e entorno. Objetivando a
integração entre ambos, foi proposta a elevação do nível da via entre a praça e a edificação,
como uma forma de eliminar barreiras ao pé, e dar prioridade ao pedestre ao invés dos carros,
de maneira similar ao que ocorria por volta de 1920 (ver Figura 78). O desenho também incluiu
uma cobertura sobre a edificação, que seria espelhada sobre o busto do Padre João Maria.
Ambas tinham o objetivo de proporcionar sombreamento aos usuários. No caso da edificação,
buscou-se sombrear a área que ficaria livre com a demolição das adições voltadas para a Rua
Voluntários da Pátria, e poderia ser utilizada para a construção de um deck. A cobertura
também se estendia sobre a edificação, pois neste momento já se pensava na criação de um
mirante, (descrito na seção anterior). Em relação ao busto do Padre, a ideia era de
proporcionar um espaço sombreado para que os fiéis pudessem realizar suas orações com
138

mais conforto. A mesma proposta incluía também uma paginação de piso que direcionasse o
olhar dos usuários, como forma de tornar mais perceptível a relação entre edificação e
entorno. O resultado pode ser observado na figura abaixo.

Figura 153: Primeiro estudo, voltado para a relação entre edificação e entorno.

Fonte: elaboração própria, 2018.

Esta proposta inicial foi parcialmente descartada, em virtude das limitações legais
relativas ao gabarito, o que impediria a construção da cobertura sobre a edificação e,
consequentemente, o espelhamento desta.
Saindo da escala macro, e adentrando na escala micro, a figura abaixo ilustra a ideia
do deck e do mirante. Neste momento surgiu o questionamento de onde inserir uma escada
para dar acesso a este novo pavimento.

Figura 154: Mirante e deck lateral a partir da fachada frontal da edificação.

Fonte: elaboração própria, 2019.

A resposta para o local da escada foi a criação de um volume na lateral da edificação


ilustrado na figura abaixo, também descartado em função do gabarito.
139

Figura 155: Estudo volumétrico para criação de um espaço destinado à escada.

Fonte: elaboração própria, 2019.

A proposta do terraço foi então suspendida, e passou-se para a ideia de um mezanino,


internamente à edificação, para comportar o programa já detalhado na seção 6 deste relatório.
No entanto, mais uma vez, em virtude da criação de um novo pavimento, surgiu a necessidade
de uma escada. A primeira ideia foi de instalá-la junto à fachada voltada para a Rua
Voluntários da Pátria, sem a necessidade de criação de um novo volume, apenas com uma
cobertura (Figura 156). O seu posicionamento neste local pareceu favorável por se tratar de
uma posição recuada, em que já se pensava a demolição das ampliações que obstruíram a
edificação, e ao lado de uma fachada cega. Próximo a ela pensou-se na inclusão de uma
rampa de acesso ao deck, em virtude da demanda relativa à acessibilidade. Esta solução
alcançaria a meta de posicionamento da rampa em local que não interferisse nas fachadas
da edificação (ver Figura 129).

Figura 156: Estudo da fachada voltada para a Rua Voluntários da Pátria.

Fonte: elaboração própria, 2019.


140

No entanto, o posicionamento da cobertura não pareceu satisfatório, em virtude da sua


interferência na fachada, que implicaria na remoção de parte da cimalha. Pensou-se então na
suspensão da cobertura sobre a edificação, da forma mais simples, apenas conectando os
três pontos formados pela própria volumetria da edificação (Figura 157). Mas o resultado
aparentou ser esteticamente desagradável.

Figura 157: Segundo estudo volumétrico para a cobertura da escada.

Fonte: elaboração própria, 2019.

Elaborou-se uma nova proposta para a cobertura (Figura 158), que foi resultado da
união das duas anteriores: com a forma da primeira, mas suspensa sobre a edificação. Assim
foi possível causar uma menor interferência na fachada em comparação com a primeira
proposta de cobertura (Figura 156). Houve a necessidade de retirada da cimalha apenas para
a inserção da porta de acesso ao mezanino. Esta intervenção foi então marcada por um
elemento com a mesma forma em “L” da cobertura, de maneira a manter a mesma linguagem
desta e garantir a distinguibilidade.
141

Figura 158: Estudo volumétrico da cobertura da escada e acesso ao mezanino.

Fonte: elaboração própria, 2019.

Posteriormente foi elaborada uma maquete física da proposta (Figura 159 e Figura
160), na qual foi possível observar que a nova cobertura, a partir do nível da rua, não aparece
em ângulos importantes, sendo visível somente a edificação preexistente e o deck. A proposta
busca o respeito à escala do edifício, portanto este resultado foi considerado positivo.

Figura 159: Visualização a partir da esquina Figura 160: A partir da fachada frontal não se
entre a praça e a Rua Voluntários da Pátria percebe a existência da nova cobertura nos
fundos

Fonte: elaboração própria, 2019. Fonte: elaboração própria, 2019.

Além disso, foi por meio da maquete que se iniciaram os primeiros estudos da nova
estrutura do mezanino, através da distribuição dos pilares e vigas nos ambientes (Figura 161
e Figura 162). Buscou-se posicioná-los de forma a evitar o fechamento de aberturas nas
fachadas, uma vez que a proposta pretende preservá-las.
142

Figura 161: Primeiros estudos da estrutura Figura 162: Estudo do mezanino sobre a
(em vermelho). estrutura.

Fonte: elaboração própria, 2019. Fonte: elaboração própria, 2019.

Por fim, retornou-se aos estudos em relação ao entorno. Para isto, foi retomada a
primeira proposta (Figura 153), da qual diversas soluções passaram a ser adotadas como
diretrizes pra a proposta final, conforme se observa na Figura 163. O item 1 corresponde à
elevação da via ao nível da praça, a fim de eliminar a segregação do espaço, atualmente
destinado exclusivamente para veículos, em frente à edificação. O item 2 diz respeito a uma
demanda já existente no local. Atualmente os veículos sobem a praça, quebrando seu piso,
para terem acesso à Rua da Conceição. Uma alternativa seria viabilizar este acesso através
da criação de uma rampa, e a marcação da área de tráfego seria feita apenas pela
diferenciação na paginação do piso (item 3). Uma outra diretriz diz respeito às bancas de
revistas e de frutas (item 4). Como a proposta busca a integração com a comunidade, optou-
se por manter estes usos existentes no anteprojeto. As marcações em verde (item 5) no piso
da praça dizem respeito a uma delimitação de área destinada a intervenções artísticas por
parte da comunidade local, seguindo a mesma ideia do processo de revitalização ocorrido no
Beco da Lama, que contou com pinturas feitas por artistas locais. Estas pinturas poderiam ser
refeitas periodicamente, a partir de edital de seleção. Em Natal este tipo de edital já é feito
pela Prefeitura. Uma outra diretriz seria a ampliação da arborização da praça, que em outros
tempos fornecia sombra aos foliões durante o carnaval e crianças que brincavam no local,
conforme descrito no item 4.2.1. E por último, retomou-se a ideia do terraço, desta vez sem a
necessidade de criação de um volume para a escada. O acesso foi proposto a partir do novo
mezanino. Na imagem abaixo é possível ver a escada ao lado da nova cobertura (em
vermelho).
143

Figura 163: Diretrizes de intervenção no entorno da edificação

Fonte: elaboração própria, 2019.

A proposta final, é uma junção de soluções pensadas e expressas em cada uma das
figuras desta seção. Na Figura 164 apresentamos quais soluções foram adotadas de cada
uma das propostas descritas anteriormente. O desenho com transparência corresponde a
proposta totalmente rejeitada. Ao lado de cada imagem estão descritas as soluções
arquitetônicas que passaram a compor a proposta final (texto na cor preta), e as descartadas
(texto na cor vermelha). As propostas são representadas em círculo porque é uma forma que
não apresenta começo ou fim. No processo de projetação que acabamos de descrever, e no
detalhamento da proposta final, que é tema da seção seguinte, é possível observar que em
alguns momentos as soluções anteriormente descartadas são retomadas (como o
mirante/terraço, que surge na primeira proposta, é descartado e posteriormente retomado na
proposta final). A união de todas estas ideias, expressas por desenhos, compõe a linha de
raciocínio até se chegar no anteprojeto. Mesmo as propostas descartadas revelam-se como
parte importante do processo, na medida em que permitem identificar soluções que não
funcionariam. Por esta razão o círculo é composto de todos os desenhos, rejeitados ou não.
144

Figura 164: Detalhamento das soluções adotadas (em preto) e descartadas (em vermelho)

Fonte: elaboração própria, 2019.


145

8 DETALHAMENTO DA PROPOSTA FINAL

A proposta final consiste em uma edificação com dois pavimentos (térreo e mezanino)
e um terraço. Na seção 7.2, que aborda a postura intervencionista da proposta, foi feito um
enquadramento desta entre a continuidade e a justaposição contextual, de acordo com as
categorias propostas por Tiesdell, Oc e Heath e descritas por Vieira-de-Araújo (2006), já
detalhadas no referencial teórico-conceitual. A criação de um mezanino e um terraço, da forma
como foram propostos, transita entre estas duas categorias. O terraço é uma intervenção que
faz uso de novos materiais, e embora se trate de uma nova cobertura, não traz alterações à
fachada ou à leitura do conjunto, o que é positivo em relação aos conceitos de autenticidade
e integridade. O acesso a ele, como se verá mais adiante, também foi solucionado de maneira
a não causar alterações em partes preservadas da edificação, por meio de uma escada em
chapa metálica, que garante a distinguibilidade da intervenção, em um volume já bastante
descaracterizado internamente. O mezanino, por sua vez, é uma solução arquitetônica que
traz a marca de seu tempo e contrasta com a edificação preexistente, na medida em que é
encaixado dentro do volume, alterando o pé direito em partes da edificação e introduzindo
toda uma nova estrutura independente. O acesso a ele, diferente do que ocorre com o terraço,
é feito por uma escada (detalhada ainda nesta seção) que, embora situada em posição
recuada em uma fachada cega, não passa desapercebida, por demandar uma nova cobertura
para protegê-la de intempéries. Ao longo desta seção serão apresentadas as soluções e
descrita a relação com a postura adotada. Para isto, primeiramente serão detalhados os três
pavimentos.
No pavimento térreo foram alocados o memorial, sebo/café, loja colaborativa e
banheiros (Figura 165). Trata-se de ambientes que, com exceção dos banheiros, no estudo
do funcionograma (Figura 147) foram relacionados diretamente com acessos ao exterior. Por
esta razão optou-se por localizá-los no pavimento térreo.
Quanto aos banheiros, ainda em relação ao funcionograma, na seção 6 afirmou-se
que estes deveriam ser posicionados próximos aos ambientes de uso mais frequente (loja
colaborativa e sebo/café). Considerou-se também a necessidade de fácil acesso ao dispô-los,
portanto, no térreo. A sua construção demanda alterações na edificação, como a inserção de
instalações hidráulicas, e a consequente quebra de pisos e revestimentos. Eles foram então
inseridos no volume posterior (o mesmo onde foi inserida a escada de acesso ao terraço),
que já se encontra bastante descaracterizado, como se verá ainda nesta seção.
Em relação ao memorial, na seção 6 também foi abordada a necessidade de um uso
para o hall de entrada que fosse compatível com o acesso para o café e a loja. O memorial,
portanto, cumpre a dupla função de lugar de passagem entre estes ambientes e o exterior, e
de registro do histórico da edificação, da praça e entorno.
146

Figura 165: Planta baixa do pavimento térreo.

Fonte: elaboração própria, 2019.

Ainda em relação ao pavimento térreo, buscou-se reabrir acessos para o exterior,


como forma de promover a integração entre edificação e entorno e retomar a característica
que a edificação possuía à época da construção, com acessos por todas as fachadas. A
reabertura destas portas e janelas também contribui com a autenticidade e integridade da
proposta, na medida em que o fechamento destes elementos transmite a ideia de
incompletude e traz prejuízos à estética da obra.
Além disso, por se tratar de uma edificação comercial, considera-se positiva a melhora
da visibilidade e acessibilidade em relação ao entorno, proporcionada por novas portas e
janelas (Figura 166).
147

Figura 166: Reabertura de portas e janelas (destacadas em azul) para o exterior.

Fonte: elaboração própria, 2020.

No mezanino foram dispostos o atelier e mais um ambiente para o sebo/café (Figura


167). No estudo do funcionograma afirmou-se que seria interessante um afastamento do
atelier em relação aos ambientes de maior ruído, por se tratar de um espaço destinado a
oficinas e reuniões. Optou-se então por distanciá-lo das áreas com maior concentração de
mesas do café e distribuir a maior parte das estantes do sebo neste pavimento, por se tratar
de um uso voltado à leitura e comercialização de livros, cujo ruído reduzido também é
desejável.
148

Figura 167: Planta baixa do mezanino.

Fonte: elaboração própria, 2019.

A edificação possui como uma de suas características o elevado pé direito, chegando


a mais de 7 metros no hall de entrada. A construção do mezanino buscou tirar partido disto
através de um melhor aproveitamento do espaço disponível sem eliminar esta característica
da edificação. Logo, o pé direito foi mantido em boa parte da planta do edifício (na Figura 167,
se observa em cinza as áreas em que o pé direito foi preservado). Desta forma, adota-se uma
posição moderada, em consonância com a postura adotada, através da escolha por uma
solução que embora aproxime-se da justaposição, busca o respeito à memória do edifício
através da preservação deste atributo da edificação.
Considerando que a proposta visa a distinguibilidade entre o novo e o preexistente, o
mezanino (Figura 168 e Figura 169) e todos os novos elementos foram propostos em estrutura
metálica, que será melhor detalhada na seção 8.7.
149

Figura 168: Vista da loja colaborativa e mezanino.

Fonte: elaboração própria, 2019.

Figura 169: Vista do mezanino (espaço do sebo/café).

Fonte: elaboração própria, 2019.

O terraço (Figura 170) foi proposto para funcionar como mirante e, eventualmente,
espaço para realização de eventos. Como já explicitado na seção 7.1, o conceito de
integração também pode ser aplicado através da criação de um espaço que permita aos
usuários observarem todo o entorno a partir de uma posição privilegiada. Este lugar de
observação torna-se ainda mais desejável por se tratar de uma edificação inserida no centro
histórico da cidade (Figura 171). Em relação à postura adotada, entende-se que se trata de
uma solução mais próxima da continuidade contextual, na medida em que dialoga com a
150

edificação preexistente, buscando tirar partido e reinterpretar qualidades do edifício (altura e


localização) para valorizar o entorno a sua volta.

Figura 170: Planta baixa do terraço.

Fonte: elaboração própria, 2019.


151

Figura 171: Vista do entorno a partir do mirante (ao fundo a torre da Igreja Matriz).

Fonte: elaboração própria, 2019.

Por ser uma área descoberta e exposta a intempéries, o terraço necessita de solução
relativa à drenagem. Para isto, foi prevista a captação de água da chuva por meio de um
sistema que a recolheria a partir de grelhas instaladas no piso, e a armazenaria em um
reservatório inferior, localizado conforme se observa na Figura 172, que corresponde à área
do pergolado. Esta água poderia ser utilizada na rega nas novas áreas verdes criadas na
proposta. O cálculo deste reservatório e dos demais pode ser visto no apêndice B.

Figura 172: Em vermelho, o espaço destinado para o reservatório de água da chuva.

Fonte: elaboração própria, 2019.


152

O acesso ao terraço é feito por uma escada a partir do mezanino. Esta escada foi
posicionada no volume posterior da edificação, que já se encontra bastante descaracterizado
(Figura 173). Desta forma, evita-se maiores alterações em partes da edificação que se
encontram preservadas.

Figura 173: Vista de um dos ambientes do volume posterior. Aos fundos a parede que faz
divisa com o lote vizinho.

Fonte: a autora, 2019.

A permanência deste volume posterior (identificado como pertencente ao segundo


momento da edificação na seção 4.2.2), embora já bastante descaracterizado, foi norteada
por três fatores:
 Necessidade de área útil disponível para atendimento do programa descrito na seção 6;
 Preservação da continuidade da platibanda e cimalha que contorna toda a edificação,
inclusive o volume posterior (ver Figura 174);
 Não haver a intenção de se retomar nenhum momento específico da edificação que
justificasse a demolição do volume.

Figura 174: em destaque a platibanda e cimalha do volume posterior.

Fonte: adaptado de https://www.google.com.br/maps/


153

A solução projetual relativa a este volume também condiz com a postura


intervencionista adotada. A nova escada e banheiros instalados neste volume são
intervenções que trazem a marca de seu tempo, em especial em relação aos novos materiais
e distribuição de ambientes, o que aproxima a proposta da justaposição contextual. Porém a
opção por preservar o volume preexistente enquadra-se mais próxima da continuidade, na
medida em que há a preservação da leitura do conjunto sem, por exemplo, a criação de uma
lacuna caso fosse feita a opção pela demolição.
Para a instalação das lajes do terraço e mezanino foi preciso remover os forros, que
já se encontram bastante deteriorados, da sala de jantar (Figura 175) e de um dos quartos
(Figura 176). Na proposta o mezanino tem um pé direito de 2,40 metros, que é a altura mínima
permitida pelo Código de Obras de Natal. Logo, não haveria como incluir um forro abaixo da
laje. O forro do hall de entrada foi mantido (Figura 177).

Figura 175: Forro da sala de Figura 176: Forro de um dos Figura 177: Forro do hall de
jantar. quartos (sebo/café na entrada.
proposta).

Fonte: a autora, 2019.

Fonte: a autora, 2019. Fonte: a autora, 2019.

Ainda objetivando o detalhamento da proposta final, passamos a descrever pormenores


das soluções adotadas no anteprojeto.

8.1 PAREDES

Durante o levantamento arquitetônico mencionado nos procedimentos metodológicos


(seção 1.4) foi possível constatar que alguns ambientes construídos mais recentemente
(provavelmente no terceiro momento descrito na Análise Formal) não foram planejados
levando-se em consideração as características preexistentes da edificação, trazendo
prejuízos à autenticidade e integridade do bem. É o caso, por exemplo, do ambiente
construído a partir da sala de jantar, cuja parede intersecciona a porta entre esta e o hall de
entrada (ver Figura 178 e Figura 179).
154

Figura 178: Acesso entre o hall de entrada e Figura 179: Detalhe da parede do novo
a sala de jantar, interseccionado pela parede ambiente sobre o ladrilho hidráulico da sala
do ambiente construído a partir da sala de de jantar.
jantar.

Fonte: a autora, 2019.


Fonte: a autora, 2019.

Ainda em relação aos ambientes, na seção 4.3.3, ao abordar a ventilação, foi


esclarecido que alguns deles não possuem aberturas para o exterior (ver Figura 120), o que
prejudica a circulação do ar. A eliminação de algumas paredes internas resolveria este
problema sem a necessidade de criação de novas aberturas. Desta forma, prioriza-se a
autenticidade e integridade em relação às fachadas a partir do rearranjo dos ambientes, de
maneira a evitar a instalação de janelas.
Considerando, portanto, a necessidade de conciliação entre o programa descrito na
seção 6, as modificações já feitas anteriormente na edificação e a demanda relativa ao
conforto dos usuários, optou-se por remover algumas paredes (ver Figura 180). No entanto,
as marcações destas foram mantidas no piso (Figura 181), como forma de registro da
configuração dos ambientes, e da memória da tipologia residencial do edifício. Além disso, as
marcações podem auxiliar na tomada de decisões em futuras intervenções na medida em que
auxiliam na legibilidade das demolições realizadas.
155

Figura 180: Fatores que influenciaram na decisão de remoção das paredes.

Fonte: elaboração própria, 2020.


156

Figura 181: Vista do sebo/café (térreo), em que se observa a marcação da parede da sala de
jantar, que foi removida.

Fonte: elaboração própria, 2020.

A remoção das paredes, como se observa na figura abaixo, também contribuiu para
uma melhora na circulação do ar, em comparação com a situação atual em que se encontra
a edificação (ver Figura 120). Na proposta, somente os banheiros não possuem ventilação
natural, devendo ser utilizada a ventilação mecânica.

Figura 182: Comportamento dos ventos em relação a entradas e saídas de ar na planta proposta.

Fonte: elaboração própria, 2019.


157

8.2 DECK

Foi proposto um deck externo com piso de vidro e estrutura metálica (Figura 183),
onde antes existiam as ampliações voltadas para a Rua Voluntários da Pátria. A escolha pelo
vidro reforça a ideia de integração, na medida em que a sua transparência permite visualizar
o solo abaixo dele como uma continuidade do entorno até o seu encontro com a edificação.
O deck também cumpre outra função importante, de acessibilidade. A edificação foi
construída a 76 cm de altura em relação à calçada, inviabilizando o acesso de cadeirantes.
Com a construção do deck foi possível propor uma rampa, e garantir que os usuários possam
circular pela edificação com maior flexibilidade, através de três portas voltadas para o exterior,
que foram reabertas.

Figura 183: Fachada da Rua Voluntários da Pátria, onde se observa o deck e a rampa.

Fonte: elaboração própria, 2019.

A composição formada pelo vidro, material transparente e de aparência leve, e pelos


perfis metálicos, de aspecto rígido, em diálogo com a edificação preexistente, deixa claro que
se trata de uma nova intervenção, porém sem trazer grandes impactos ao conjunto, o que
condiz com a escolha por uma posição moderada, entre a justaposição e a continuidade.
158

8.3 ESCADA DO MEZANINO E SUA COBERTURA

Para dar acesso ao mezanino, houve a necessidade de construção de uma escada


(Figura 184). Optou-se por posicioná-la no deck e priorizar o uso dos espaços disponíveis no
interior da edificação para atender ao programa descrito na seção 6. No entanto, considerando
que se trata de uma área exposta a intempéries, foi proposta para ela uma nova cobertura.

Figura 184: Nova escada, cobertura e elemento de marcação da entrada do mezanino.

Fonte: elaboração própria, 2020.

O projeto visa a mínima alteração dos elementos que compõem as fachadas. Por esta
razão a escada e sua cobertura foram dispostas em uma posição recuada, ao lado de uma
fachada cega. A cobertura, em balanço, foi pensada para aparentar flutuar sobre o prédio, e
não tocar a fachada. A preocupação em não remover adornos das fachadas já foi explicitada
na seção 7.4, quando foi descrito o processo de desenvolvimento desta cobertura, no qual a
primeira proposta foi descartada em virtude de demandar a retirada de grande parte da
cimalha (Figura 156). Na proposta final esta alteração foi reduzida a apenas um trecho da
cimalha, que foi removido para inserção da porta de acesso ao mezanino. Esta intervenção
foi marcada por um elemento com a mesma forma em “L” da cobertura, de maneira a manter
a linguagem da proposta (Figura 184).
Este conjunto de soluções para o acesso ao mezanino, composto por escada,
cobertura e marcação da porta de entrada enquadra-se como uma justaposição em relação à
edificação preexistente. De acordo com Vieira-de-Araújo (2006, p. 290) “Os defensores desta
opção acreditam que a ordem harmônica pode ser alcançada através da justaposição de
edificações de diferentes épocas, cada uma representando a expressão do seu próprio
tempo.”. Na proposta, buscou-se esta harmonia através do respeito à escala do edifício, da
159

preservação das fachadas e do posicionamento recuado em relação àquelas de maior


destaque. Como já demonstrado na seção 7.4, a cobertura só é visível a partir do entorno em
ângulos específicos, em virtude do local onde foi posicionada (ver também Figura 188, Figura
194 e Figura 195). Por outro lado, a proposta também traz a expressão do seu próprio tempo
na medida em que introduz novos materiais, formas e cor. Como será detalhado na seção
8.7, todos os novos elementos foram propostos em estrutura metálica. No caso da cobertura,
fez-se uso do ACM como material para fechamento. A cor vermelha, embora contraste com a
edificação, relaciona-se ao conjunto arquitetônico onde ela está inserida, em que é possível
encontrar edificações de diversas cores, inclusive vermelha (ver Figura 171).
Para a cobertura da escada ainda se pensou na inserção de um painel com iluminação
por trás, criado a partir do desenho do ladrilho hidráulico da sala de jantar, conforme se
observa na figura abaixo.

Figura 185: Sequência de elaboração do painel a partir do ladrilho hidráulico da sala de


jantar.

Fonte: elaboração própria, 2020.

A cobertura proposta também contribuiu para a melhora do sombreamento da área do


deck, o que é um fator positivo em especial considerando que ele será utilizado para
disposição de mesas do café. A exposição foi reduzida entre os meses de março a outubro,
tendo como situação mais desfavorável o mês de novembro, quando é possível observar a
exposição do nascer do sol até o horário aproximado de 10:30h.
160

Figura 186: Simulação da fachada nordeste Figura 187: Máscara de sombra da fachada
com a nova cobertura nordeste após a inserção da nova cobertura

Fonte: elaboração própria, 2019. Fonte: elaboração própria, 2019.

8.4 PERGOLADO

Durantes as análises relativas à insolação (seção 4.3.2), identificou-se a necessidade


de sombreamento da fachada noroeste. Buscando conciliar esta demanda relativa ao conforto
dos usuários com a necessidade de preservação da edificação, foi proposto um pergolado,
em concreto armado, afastado da fachada (Figura 188), de maneira a evitar alterações nesta.
O pergolado é uma alternativa que contribui para a melhora do sombreamento, mas não
impede a circulação de ar, o que é uma característica positiva do elemento construtivo em
relação às estratégias bioclimáticas identificadas na seção 4.3.5.

Figura 188: Vista da fachada da edificação, na qual se observa o pergolado à esquerda.

Fonte: elaboração própria, 2019.

Ao comparar as máscaras de sombra referentes a antes (Figura 108) e depois (Figura


190) da instalação do pergolado (Figura 189) é possível observar uma melhora em relação ao
161

sombreamento da fachada. Observa-se no horário da tarde, período em que a fachada está


mais exposta, um sombreamento que varia entre 10% e 100% ao longo de todo o ano. Quanto
mais escura a cor na máscara, mais próximo de 100% está o sombreamento, logo, é possível
afirmar que na maior parte do tempo o sombreamento ultrapassa os 50%.

Figura 189: Simulação do pergolado na Figura 190: Máscara de sombra da fachada


fachada noroeste noroeste com pergolado

Fonte: elaboração própria, 2019 Fonte: elaboração própria, 2019.

A escolha pelo pergolado aproxima a proposta da categoria de continuidade contextual


detalhada no referencial teórico-conceitual, na medida em que ele é solucionado de forma
discreta, sem causar alterações na fachada preexistente ou impactar negativamente na
relação entre a edificação escolhida e a vizinha (Figura 188). Além disso, não se propõe a um
falso histórico, ficando claro que se trata de uma nova intervenção, composta por elementos
em concreto armado com a mesma forma em “L” da cobertura da escada de acesso ao
mezanino e intercalados em tamanhos diferentes (Figura 170).

8.5 ACESSIBILIDADE

A edificação, na situação atual em que se encontra, é inacessível a cadeirantes. Na


proposta buscou-se resolver este problema através de soluções arquitetônicas que
conciliassem esta demanda com a preservação das características do edifício.
Para tanto, foi incluída uma rampa (posicionada de maneira a não interferir na fachada)
que junto ao deck, permite a livre circulação por todo o pavimento térreo (Figura 183).
Também foram propostos novos banheiros, em conformidade com a NBR 09050, uma
plataforma elevatória vertical, que garante o acesso ao mezanino, e uma plataforma inclinada
(Figura 191), na escada de acesso ao terraço. As plataformas encontram-se próximas uma
162

da outra, reduzindo assim o percurso do cadeirante (Figura 192). Com estas soluções a
edificação passa a ter todos os pavimentos acessíveis a estes usuários.

Figura 191: Exemplo de plataforma Figura 192: Posicionamento das plataformas


inclinada para escadas vertical e inclinada.

Fonte: www.minilift.com.br, 2019.

Fonte: elaboração própria, 2020.

8.6 ENTORNO

Embora o estudo não tenha como objetivo a requalificação do entorno ou da Praça


Padre João Maria, foram propostas intervenções pontuais em ambos. Algumas delas para
favorecer a integração entre entorno e edificação, e outras para sanar problemas identificados
ao longo das análises dos condicionantes projetuais.
Em relação à integração, foram adotadas as soluções de paginação de piso
diferenciada para o percurso de veículos e a elevação da via entre edificação e praça,
apresentadas nas diretrizes da Figura 163. Desta forma há uma melhora da acessibilidade,
com a eliminação do desnível, e a consequente priorização do pedestre (Figura 193 e Figura
194). A elevação da via se estende até a Rua João Pessoa com a criação de um novo acesso
para veículos interligando esta à Rua da Conceição. Como já mencionado na seção 7.4, trata-
se de uma demanda já existente. Também se manteve a proposta de uma área de
intervenções artísticas, porém agora restrita a um trecho específico da praça.
163

Figura 193: Intervenções propostas para a Praça Padre João Maria e entorno.

Fonte: elaboração própria, 2020.

Figura 194: Vista da via elevada entre a praça e a edificação e da área de intervenções
artísticas.

Fonte: elaboração própria, 2019.

As bancas de revistas e frutas foram mantidas, conforme diretrizes já apresentadas


também na Figura 163. Porém foi proposto o afastamento das bancas de frutas em relação à
esquina, em virtude do estudo relativo às barreiras visuais apresentado na seção 4.3, no qual
estas bancas foram identificadas como barreiras a partir da Rua João Pessoa.
Em relação à diretriz da arborização, foram incluídos nove ipês amarelos na proposta
(Figura 195 e Figura 196). Buscou-se distribuí-los de maneira a formar maciços em áreas
164

onde já existiam árvores. O ipê amarelo é uma espécie recomendada pelo Manual de
Arborização Urbana da Prefeitura de Natal (2009) para utilização em calçadas e áreas
públicas, sendo considerada de médio porte. A escolha por esta espécie levou em
consideração esta recomendação, associada ao fato de se tratar de uma árvore cuja
coloração da floração traz alegria ao ambiente urbano e à Praça, que outrora também foi da
Alegria. Não foi proposta arborização para a área de intervenções artísticas com o intuito de
mantê-la livre para a realização de eventos.

Figura 195: Ipês amarelos incluídos na proposta.

Fonte: elaboração própria, 2019.

Figura 196: Vista da proposta para a Praça Padre João Maria.

Fonte: elaboração própria, 2019.

Em linhas gerais, buscou-se valorizar a memória da praça enquanto lugar de


encontros, festejos e celebrações. A área de intervenções artísticas, além de ser um espaço
destinado para eventos, é também uma área onde a comunidade local pode expressar-se por
meio de pinturas, contribuindo para ressaltar a importância do papel dos artistas da terra para
165

a vitalidade do centro histórico de Natal. A eliminação de barreiras (visuais e ao pé), além de


promover a acessibilidade e visibilidade, também é um resgate da configuração espacial
observada na Figura 78, quando não eram feitas delimitações para uso exclusivo de veículos.
E a ampliação da arborização, além de favorecer a permanência e encontro de pessoas no
lugar, também faz referência aos anos 1940 (Figura 197), quando na praça existiam diversas
árvores.

Figura 197: A Praça Padre João Maria nos anos 1940.

Fonte: http://blogdetelescope.blogspot.com/, 2020.

Ainda em relação à arborização, como já mencionado anteriormente, a escolha pelos


ipês amarelos está relacionada às características da própria cor. Segundo Rambauske (s.d.),
o amarelo é associado à alegria e felicidade. De acordo com Eva Heller (2013, p.159) “A
experiência mais elementar que temos do amarelo é o sol. Esta experiência é compartilhada
por todos como efeito simbólico: como cor do sol, o amarelo age de modo alegre e
revigorante.” Desta forma, a escolha pelo amarelo se adequa à proposta de uma “Praça da
Alegria”, por ser uma cor que remete a este sentimento.

8.7 SISTEMA CONSTRUTIVO

A necessidade de intervenção em edificações patrimoniais está comumente


relacionada a demandas da contemporaneidade, em especial quando há uma mudança de
uso, que exige uma adaptação da edificação à nova realidade. No entanto, esta necessidade
de adaptação não deve se sobrepor à preservação das características que fazem com que o
bem seja entendido como de valor patrimonial.
Em se tratando da melhor forma de intervir, não há um consenso a este respeito.
Porém, há alguns conceitos que aparecem em mais de um autor, apesar de não
necessariamente com a mesma terminologia. Dois deles são a distinguibilidade e a
reversibilidade. A este respeito, Kühl afirma:
166

No entanto, várias noções ligadas ao restauro, que floresceram sobretudo a


partir do Renascimento, amadureceram gradualmente no período que se
estende dos séculos XV ao XVIII e foram conjugadas no estabelecimento das
teorias da restauração: o respeito pela matéria original, a ideia de
reversibilidade e distinguibilidade, a importância da documentação e de
uma metodologia científica, o interesse por aspectos conservativos e de
mínima intervenção, a noção de ruptura entre o passado e o presente.
(KÜHL, p.15, 2002, grifo nosso).

A distinguibilidade, ainda no século XIX aparece, por exemplo, na obra de Boito (2002,
p. 61), quando este afirma que “é necessário que os completamentos, se indispensáveis, e as
adições, se não podem ser evitadas, demonstrem não ser obras antigas, mas obras de hoje”.
Já no século XX, o conceito é mencionado na Carta de Atenas (1931, p. 3), quando, ao
abordar intervenções em ruínas, afirma-se que “os materiais novos e necessários a esse
trabalho deverão ser sempre reconhecíveis”. Posteriormente, em 1963, Brandi (2005, p.47)
trata do mesmo conceito ao afirmar: “Derivarão disso alguns princípios que, por serem
práticos, não poderão, por isso, dizer-se empíricos. O primeiro é que a integração deverá ser
sempre facilmente reconhecível.”
A reversibilidade é um outro conceito discutido quando se fala em intervenções no
patrimônio. Como já mencionado no referencial téorico-conceitual, Brandi (2005, p.48), ainda
ao abordar princípios relativos ao restauro, demonstra sua preocupação com a reversibilidade
ao afirmar que “O terceiro princípio se refere ao futuro: ou seja, prescreve que qualquer
intervenção de restauro não torne impossível mas, antes, facilite as eventuais intervenções
futuras.” A reversibilidade também visa, portanto, facilitar estas novas intervenções.
No entanto, em outro contexto, a reversibilidade é também uma característica das
estruturas metálicas. A este respeito, Teobaldo afirma:

A reversibilidade é uma característica peculiar da estrutura metálica,


principalmente quando o tipo de ligação utilizada é a ligação parafusada.
Através da reversibilidade é possível a remoção de um material ou solução
construtiva sem causar danos aos materiais que estão em contato com os
mesmos. (TEOBALDO, 2004, p. 24)

Observa-se, portanto, uma relação entre o conceito de reversibilidade relativo a


intervenções em edificações de valor patrimonial e a característica inerente à estrutura
metálica que permite a sua remoção, em caso de necessidade futura, sem causar maiores
danos à edificação.
Retornando ao conceito de distinguibilidade, de maneira diversa da reversibilidade,
não necessariamente se observará a relação entre ele e a utilização de estruturas metálicas.
Neste caso, a distinguibilidade dependerá das características da edificação preexistente. Em
edificações que já possuam estrutura metálica, para que se torne clara a diferença entre a
167

preexistência e a nova intervenção, será necessária uma maior atenção por parte do arquiteto.
Cita-se como exemplo a Estação da Luz (Figura 198) em São Paulo, que possui uma ampla
cobertura em estrutura metálica. Em uma situação hipotética de intervenção futura, a
utilização do mesmo tipo de estrutura dependeria da criatividade do arquiteto para garantir a
clareza de leitura entre novo e antigo.

Figura 198: A Estação da Luz no ano de 1900, onde se observa a estrutura metálica.

Fonte: https://estacaodaluz.org.br/, 2019.

No contexto da proposta, foi feita a escolha pela estrutura metálica, levando-se em


consideração os conceitos de distinguibilidade e reversibilidade apresentados anteriormente.
Trata-se de uma edificação em tijolo maciço, para a qual foi pensada a inserção de dois novos
pavimentos. Este acréscimo corresponderia a um aumento da carga na estrutura existente, e
que não se sabe se a edificação suportaria. Por esta razão optou-se pela criação de uma
estrutura independente.
O mezanino e o terraço propostos possuem estrutura metálica composta por perfis I e
H de alma cheia em aço e laje em Steel Deck. Esta adição foi possível em virtude da altura
entre o nível do piso e a platibanda, que permitiu a criação dos pavimentos (Figura 199).
168

Figura 199: Corte esquemático, em que se observa as alturas das coberturas e da


platibanda em relação ao nível do piso.

Fonte: elaboração própria, 2019.

A proposta incluiu também os perfis metálicos em outras soluções, além do sistema


estrutural para criação dos dois novos pavimentos. No deck externo (Figura 200) eles surgem
como uma estrutura que permitiu a elevação no nível do piso de vidro.

Figura 200: Fachada voltada para a Rua Voluntários da Pátria, onde se observa o deck
externo, composto por perfis metálicos e piso de vidro.

Fonte: elaboração própria, 2020.

Na cobertura, em forma de pórtico (Figura 201), pensou-se no aço como uma


alternativa capaz de vencer o balanço, pois estruturas em aço são capazes de vencer vãos
maiores com seções menores, quando comparadas a estruturas em concreto. Quanto ao
fechamento deste pórtico, optou-se pelo ACM.
169

Figura 201: Vista do pórtico e da escada.

Fonte: elaboração própria, 2020.

Para a escada, buscou-se propor uma solução que aparentasse uma forma leve, e que
interferisse o menos possível nas fachadas da edificação. Por esta razão, optou-se pela
utilização de chapa metálica. Na Figura 202 observa-se um exemplo de escada executada
com este material.

Figura 202: Escada executada com chapa metálica.

Fonte: https://fotos.habitissimo.com.br, 2019.


170

8.7.1 SOBRE PERFIS METÁLICOS

Em relação aos perfis metálicos, há diversas classificações possíveis, que variam


desde a sua forma (I, H, L, U, entre outras), processo de fabricação (laminação, solda,
dobramento, etc.), tipos de ligação e tantas outras características que os definem. Neste
trabalho, as características que influenciaram na escolha por este tipo de estrutura, foram:
 Leveza do material, que permite perfis mais delgados, se comparado com estruturas
em concreto armado. A altura de vigas, por exemplo, é um fator importante
considerando que há uma limitação em relação à definição do pé direito;
 Possibilidade de desmontagem e reaproveitamento posterior, o que, como já
demonstrado, condiz com o conceito de reversibilidade;
 A fabricação permite uma alta precisão em relação ao dimensionamento das peças,
que no contexto se torna importante na medida em que há uma limitação relativa ao
afastamento do mezanino em relação às paredes existentes, devendo manter-se
distanciado delas em pontos onde há a presença de portas e janelas;
 Possibilidade de criação de um sistema independente, que permite a redução de
esforços físicos nas paredes existentes, em especial naquelas que compõem as
fachadas, devido a importância de preservá-las;
 Obra mais rápida e limpa, que contribui com a necessidade de preservação da
edificação existente.

8.7.2 SOBRE STEEL DECK

O Steel Deck surgiu nos Estados Unidos nos anos 1950. Trata-se de uma laje
composta por uma telha de aço galvanizado em forma trapezoidal sobre a qual se dispõe uma
armadura e uma camada de concreto (Figura 203). Trata-se, portanto, de um tipo de laje que
não existia na época da construção da edificação, o que facilita a percepção de que se trata
de uma adição posterior.
171

Figura 203: Composição do Steel Deck

Fonte: elaboração própria, 2019.

O sistema dá suporte ao concreto, dispensando a necessidade parcial ou total de


escoramentos para a laje, gerando maior agilidade na execução, além de reduzir custos com
o aluguel de escoramentos e mão de obra.
Quanto às características das formas metálicas, há diversas espessuras, que admitem
diversas alturas de laje, variando de fabricante para fabricante, assim como os vãos máximos
para instalação sem escoramento.
A escolha pelo Steel Deck foi feita em virtude dos seguintes fatores:
 Possibilidade de eliminação de apoios temporários (escoras), o que reduz a
probabilidade de danos aos pisos existentes;
 Redução da seção de concreto e consequente diminuição do peso da laje como
um todo;
 Por ser um sistema independente da edificação existente, é mais fácil de ser
revertido sem causar danos;
 Sistema que não existia à época da construção, tornando mais fácil a
percepção do que é a intervenção, em consonância com o princípio da
distinguibilidade;

8.7.3 SOBRE ACM

Os painéis compostos de alumínio, ou ACM (sigla para Aluminum Composite Material),


foram criados em 1965 pela empresa alemã Alusuisse Composites. São formados por duas
placas de alumínio unidas por uma de polietileno e possuem larga utilização como fechamento
em fachadas, sendo comum o seu emprego em edificações comerciais como bancos e lojas.
Dentre as características do material que influenciaram na sua escolha pode-se citar:
 Leveza do material, uma vez que se pretende utilizá-lo em uma estrutura em
balanço, em que o peso é um fator importante a se considerar;
172

 Resistência à corrosão e estanqueidade, em especial por se tratar de uma


aplicação em local suscetível a intempéries;
 Durabilidade, desejável em obras de maneira geral, mas em especial em
relação a intervenções em edificações de valor patrimonial;
 Os painéis podem ser antipichação, o que é uma característica interessante
para a proposta em virtude do pórtico estar em local aberto e, portanto, de fácil
acesso;
 Proteção UV, o que garantirá maior durabilidade das placas.
Em virtude da sua utilização em uma cobertura, é importante esclarecer algumas
informações a respeito do sistema de instalação. Três tipos de sistema são possíveis: junta
seca, sistema ventilado e sistema convencional. O primeiro não é indicado para áreas
externas. Por não possuir juntas de dilatação, e em virtude da dilatação natural do alumínio,
neste tipo de sistema o material não pode ficar sujeito à ação do clima. O segundo, apesar de
indicado para fachadas, pode permitir a passagem de água, por se tratar de um sistema de
encaixe pelo método macho-fêmea, instalado em uma subestrutura de alumínio. É mais
indicado para aplicação sobre paredes, pois neste sistema existe a formação de um colchão
de ar entre a placa e a alvenaria que contribui para o conforto térmico. E por último, o terceiro
tipo de sistema de instalação, escolhido para a proposta, consiste na fixação das placas sobre
uma subestrutura de alumínio através do uso de cantoneiras. Dependendo da forma de
instalação o sistema também pode apresentar total estanqueidade, desde que seja feita a
correta vedação das juntas, com a utilização de silicone ou gaxetas de silicone (Figura 204).

Figura 204: Sistema de instalação do ACM com total estanqueidade, através do uso de
silicone.

Fonte: http://www.americanpanels.com/, 2020.


173

8.7.4 SOBRE PISO DE VIDRO

O piso de vidro foi escolhido em especial pela sua característica de transparência. A


proposta busca ressignificar a relação entre a edificação e seu entorno através do conceito
de integração. A transparência contribui, portanto, para transmitir a sensação de continuidade
do exterior por baixo do piso até a edificação.
A NBR 7199 ‒ Vidros na Construção Civil: Projeto, Execução e Aplicações ‒ determina
que somente vidros laminados podem ser utilizados como pisos. Há também o fato de o
material estar sendo aplicado em uma área externa, o que contribui para o aumento da
possibilidade de escorregamentos quando o piso estiver molhado. Por esta razão optou-se
pela utilização de um vidro laminado com aplicação de película antiderrapante.
Quanto à instalação, o vidro pode ser apoiado pelas bordas, engastado (preso apenas
por um dos lados) ou parafusado. No caso da aplicação do material como piso, a ABRAVIDRO
(Associação Brasileira de Distribuidores e Processadores de Vidro Plano) recomenda a
utilização do sistema de apoio pelas bordas com calços de borracha.
Como se pode observar, a proposta fez uso da estrutura metálica em todas as
soluções apresentadas: criação de um mezanino e um terraço, escada, pórtico e deck externo.
O estudo foi importante para conhecer em maior profundidade as características das
tecnologias construtivas propostas, a fim de garantir que aquilo que foi pensado é de fato
exequível, e atende as expectativas idealizadas durante a proposição das soluções.
Ao se pensar em intervenções em edificações de valor patrimonial, as estruturas
metálicas apresentaram-se como uma alternativa capaz de atender os conceitos de
distinguibilidade e reversibilidade. Todas as tecnologias adotadas foram pensadas, portanto,
a partir do diálogo entre as características de cada uma delas e os conceitos relativos à
intervenção no patrimônio edificado.

8.7.5 A RELAÇÃO ENTRE A PROPOSTA E A POSTURA INTERVENCIONISTA


ADOTADA

Na seção 2.2, que trata do referencial teórico-conceitual, foi feita uma explanação a
respeito das posturas intervencionistas ao longo da história, desde Viollet-Le-Duc até
categorias de uniformidade, continuidade e justaposição contextual, desenvolvidas por
Tiesdell, Oc e Heath. Com base neste referencial, e conforme descrito na seção 7.2, optou-
se por uma postura situada entre a continuidade e a justaposição. Ao longo do presente
capítulo foram detalhadas as soluções arquitetônicas propostas, que transitaram entre estas
duas posturas.
174

O deck, o mezanino, a escada de acesso a ele e a cobertura com forma em “L” sobre
esta escada aproximaram a intervenção da justaposição. Conforme observado no referencial
teórico, esta postura tende a enfatizar as marcas do tempo, propondo soluções
contemporâneas por vezes contrastantes em relação à edificação em que se pretende intervir.
Nas quatro intervenções mencionadas isto se reflete através do uso de materiais e sistema
construtivo diferentes daqueles utilizados na edificação preexistente, construída em tijolo
maciço e com características ecléticas. A opção pela estrutura metálica e utilização do ACM
transparece a diferença entre os novos elementos e os antigos.
Por outro lado, soluções como a demolição das obstruções voltadas para a Rua
Voluntários da Pátria, o pergolado, e o terraço aproximam a intervenção da continuidade
contextual. No referencial teórico destacou-se que esta postura busca a preservação da leitura
do conjunto de maneira que as marcas do tempo sejam claras. Estas intervenções
aproximam-se desta postura na medida em que promovem a valorização da volumetria
preexistente, hoje em segundo plano a partir da Rua Voluntários da Pátria, respeitam a escala
do edifício e são realizadas de maneira a dar mais ênfase à preexistência do que às novas
intervenções.
De maneira geral, portanto, a proposta é composta por soluções que condizem com a
escolha por uma postura situada entre a continuidade e a justaposição contextual, hora
aproximando-se mais de uma ou de outra. Esta transitoriedade entre posturas exemplifica a
complexidade do ato de intervir em edificações de valor patrimonial, diante da quantidade de
variáveis a serem levadas em consideração, e destaca a importância de um juízo crítico em
relação a cada uma das decisões projetuais a serem tomadas. Juízo este observado em
posicionamentos de teóricos como Riegl e Brandi, conforme já explicitado na seção 2.2.
175

9 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Elaborar um projeto de intervenção em uma edificação de valor patrimonial traz


consigo desafios peculiares ao tema. O presente relatório buscou apresentar momentos do
processo de projeto de uma proposta deste tipo, como o levantamento dos condicionantes,
em que foram pesquisadas características da edificação, do local onde esta se encontra,
aspectos legais e ambientais. A definição do problema também se constituiu em parte
importante do processo, na medida em que trouxe dilemas e metas que direcionaram as
soluções projetuais adotadas. A este respeito, passamos a apresentar análise relativa a cada
dilema e meta traçado no item 4.8.
Em relação ao dilema da conciliação das necessidades contemporâneas com as
características da edificação (Figura 205), entende-se que as metas traçadas foram atendidas
ao longo do processo. Na seção 6 foram identificadas as necessidades espaciais relativas ao
uso proposto, de um espaço cultural, considerado compatível com a edificação. Além disso,
o estudo relativo ao reconhecimento do bem e seu entorno (4.2) permitiu identificar quais
partes da edificação poderiam ser alteradas como, por exemplo, as ampliações voltadas para
a Rua Voluntários da Pátria.

Figura 205: Dilema relativo às necessidades contemporâneas e suas metas

Fonte: elaboração própria, 2019.


176

Quanto às exigências de acessibilidade (Figura 206), é possível afirmar que os critérios


da NBR 09050 foram atendidos, na medida em que todos os pavimentos são acessíveis a
cadeirantes, e foram previstos dois banheiros adaptados. Mais uma vez o estudo das
modificações ao longo do tempo auxiliou na propositura de soluções projetuais como, por
exemplo, a disposição da rampa onde anteriormente se encontravam ampliações, demolidas
no projeto, em posicionamento afastado das fachadas.

Figura 206: Dilema relativo à acessibilidade suas metas

Fonte: elaboração própria, 2019.

Sobre as soluções relativas ao conforto térmico e eventuais modificações nas


fachadas (Figura 207), foi feita a análise para identificar se a edificação como se encontra
hoje já oferece condições favoráveis, como mencionado nas metas, e percebeu-se que suas
características, em especial o sistema construtivo, com paredes espessas de tijolo maciço,
atende a maior parte dos critérios estabelecidos pelas normas vigentes e relativas ao tema.
Nas análises foi utilizada a cor cinza claro, em virtude da meta relativa ao uso de cores claras.
Quanto à distribuição dos usos considerando a orientação solar e dos ventos, optou-se por
dispor o café no lado leste da edificação, junto ao deck, levando-se em consideração que este
permanece a maior parte do tempo sombreado, o que é uma condição favorável para a
distribuição de mesas ao ar livre.
177

Figura 207: Dilema relativo ao conforto térmico e suas metas

Fonte: elaboração própria, 2019.

E por fim, em relação ao último dilema, que diz respeito à intervenção sem prejuízo
para a autenticidade e integridade da edificação (Figura 208), entende-se que as metas
traçadas foram alcançadas. A utilização de estrutura metálica por toda a edificação
(mezanino, terraço, deck, escadas e cobertura da escada externa) garantiu a distinguibilidade
e reversibilidade da intervenção. Além disso, a proposta como um todo buscou intervir
minimamente em elementos característicos da edificação, como suas fachadas e adornos, ao
mesmo tempo em que buscou valorizar a volumetria da edificação, eliminando ampliações
que trouxeram prejuízos ao conjunto.
178

Figura 208: Dilema relativo à autenticidade e integridade e suas metas

Fonte: elaboração própria, 2019.

Em relação à postura intervencionista adotada, entende-se que a proposta atende ao


enquadramento proposto, pois de maneira geral as soluções arquitetônicas adotadas
transitam entre a continuidade e a justaposição. Considerando a leitura do conjunto, a
continuidade é mais percebida a partir da praça, em que se observa um equilíbrio entre o
novo, o preexistente e o entorno (Figura 209), enquanto que a justaposição evidencia-se em
relação à Rua Voluntários da Pátria, em virtude da relação entre edificação e novos
elementos, que embora tendam ao contraste, foram pensados considerando-se aspectos
importantes como o respeito a escala do edifício, a preservação dos elementos que compõem
a fachada e a inserção da escada e cobertura em segundo plano, de maneira a dar mais
relevância à preexistência do que aos novos elementos (Figura 210).

Figura 209: Vista da edificação em que a intervenção é pouco perceptível.

Fonte: elaboração própria, 2019.


179

Figura 210: Vista a partir da Rua Voluntários da Pátria, onde é perceptível a nova cobertura.

Fonte: elaboração própria, 2019.

Sobre o objetivo geral do trabalho, entende-se que este foi atendido. A integração
almejada e definida como parte do objetivo geral foi observada em algumas soluções, como
a nova relação entre edificação e entorno, proporcionada pela demolição das ampliações e
criação de um deck de vidro, pensado para transmitir a ideia de continuidade do entorno até
a edificação a partir da visibilidade do solo por baixo dele, o novo terraço, que se constitui em
um espaço a partir do qual é possível a visualização de todo o entorno, e o envolvimento da
comunidade na proposta através dos usos escolhidos. As diretrizes traçadas em relação ao
entorno (Figura 163) também contribuíram para que no anteprojeto as soluções propostas
viessem a favorecer essa integração.
Quanto aos objetivos específicos, é possível afirmar que o anteprojeto os alcançou
integralmente. O referencial teórico proporcionou o conhecimento a respeito de posturas
intervencionistas contemporâneas, e auxiliou na definição daquela que seria adotada na
proposta, enquanto que a identificação de formas de uso e apropriação dos espaços púbicos
no entorno ocorreu ao longo do processo, através de visitas in loco e pesquisas via internet,
que possibilitaram conhecer as atividades culturais, religiosas e sociais que ocorrem no local.
E, finalmente, a escolha pelo uso cultural contribuiu para a integração entre edificação e
entorno, na medida em que a praça se apresenta na proposta como um espaço para onde as
atividades do empreendimento podem se estender.
180

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<https://vimeo.com/channels/vilafloreswebdoc?fbclid=IwAR2yz32kCUyyeJMV-
hK4yY4Q5az3oRx9RTISal7hSh1j3trQBNK4Yjv5jXY&cjevent=02bc4ef6990c11e9829900c20
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186

APÊNDICE A – Cálculos relativos às propriedades térmicas dos materiais

Cálculo da transmitância térmica das paredes de tijolo maciço

R=

Onde:
e= espessura
λ=condutividade térmica

Rt = Rreboco + Rtijolo + Rreboco


Rt = (0,02/1,15)+(0,31/0,90)+(0,02/1,15)
Rt=0,34 m².K/W
Rsi = 0,13 m².K/W (resistência superficial interna)
Rse = 0,04 m². K/W (resistência superficial externa)
RT = Rsi + Rt + Rse
RT = 0,13+ 0,34 + 0,04 = 0,544 m².K/W
U = 1/0,544 = 1,83 W/m²K

Cálculo do atraso térmico das paredes de tijolo maciço

𝜌. 𝑐
𝜑 = 1,382. 𝑒√
3,6. 𝜆

Onde:
φ é o atraso térmico;
e é a espessura da placa;
λ é a condutividade térmica do material;
ρ é a densidade de massa aparente do material;
c é o calor específico do material.

1600.0,92
𝜑 = 1,382.0,35√
3,6.0,90

𝜑 = 0,48√454,32

𝜑 = 8,1
187

Cálculo do fator de calor solar das paredes de tijolo maciço

FSo = 4.U.α
FSo = 4 x 1,83 x 0,4 (cor “alumínio”)
FSo = 2,93
Cálculo da capacidade térmica das paredes de tijolo maciço

Ct = (e.c.ρ)reboco +(e.c.ρ)tijolo + (e.c.ρ)reboco


Ct = (0,02.1.2000)+(0,31.,92.1600)+(0,02.1.2000)
Ct = 536,32 kJ/(m².K)

Cálculo do fator de calor solar para coberturas com telha de fibrocimento

FSo = 4.U.α
FSo = 4 x 1,16 x 0,4 (cor “alumínio”)
FSo = 1,85

APÊNDICE B – Cálculos relativos aos reservatórios de água

Cálculo do reservatório de água pluvial pelo Método Prático Inglês (TOMAZ, 2007)

V = 0,05 x P x A
Onde:
P é a precipitação média anual, em milímetros;
A é a área de coleta, em metros quadrados;
V é o volume de água aproveitável e o volume de água da cisterna, em litros.
V = 0,05 X 206,93mm4 X 175,27m²
V = 1.813 litros

Cálculo do reservatório de água fria (CARVALHO JÚNIOR, 2013)

Cd = P x q
Onde:
Cd = consumo diário (litros/dia);
P = população que ocupará a edificação e
q = consumo per capita (litros/dia)

4
A precipitação média anual corresponde à média do ano de 2008, de acordo com o anuário de Natal
de 2016, no qual constam as médias anuais desde 1997 até 2015. O ano de 2008 foi o que apresentou
a maior média.
188

Café – térreo: 63,86m² / 1 pessoa por 1,4m² = 45,61 pessoas


Sebo – superior: 28,95m² / 1 pessoa por 5m² = 5,79 pessoas
Loja – térreo: 44,34m² / 1 pessoa por 2,5m² = 17,73 pessoas
Atelier – superior: 25,84m² / 1 pessoa por 5m² = 5,16 pessoas
Total = aproximadamente 75 pessoas
75 x 50 litros per capita (edifícios públicos ou comerciais) = 3750 litros x 2 dias = 7500 litros

Cálculo da reserva técnica de incêndio (NBR 13714, 2000)

V=Qxt

Onde:
V = Volume da reserva técnica de incêndio em litros;
Q = É a vazão em litros por minuto de dois jatos de água do hidrante mais desfavorável
hidraulicamente, conforme item 5.3.3 e Tabela 1 da NBR 13.714;
t = É o tempo de 60 minutos para sistemas tipo 1 e 2, e de 30 minutos para sistema tipo 3.
V = (100l/min + 100l/min5) X 60 min
V= 12.000l

5
Vazão dada pelo item D.3 do anexo D da NBR 13714 de 2000.
RU
A JU
VIN
O
SOLAR
BA
RR
BELA ET
VISTA O

RIO POTENGI

PRAÇA 7
DE SETEMBRO PAL.
PREFEITURA

A
PÇA.

SEC
11.81 CASA DO PAL.
ANDRÉ CULTURA
ESTUDANTE
DE

F ON
7.97 ALBUQ.
3.82

DA
5.16 2.67 .15
.33
3.14

RO
.36

DO
IGREJA

.15

D EO
STO.

.32
ANTÔNIO

.32

AL
RE CH
MA
IFRN

A
NID
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AV
EN
IDA
GO
V. LEGENDA
JU
VE
NA
L
LA
MA
RT
IMÓVEL Nº 71
N

CALHA
INE

4.84
PRAÇA PADRE
JOÃO MARIA
6.17

6.07
5.84

6.56
Mapa de Localização - bairro Cidade Alta
escala 1:10000

e
rqu
ue
uq
Alb
de
dré
1.59

An
.28 2.10 .33 2.88

ça
.35 3.40 .33

Pra
5.31
2.51
.26

.15

ão
.35

0
.7
.35

eiç
.34

nc
.35
Ru

.35
a

Co
Ce

da
l.C
as

a
Ru
cu
do

.85

4.99

a
tri

l. da
Vo
Pr

a

16.93

R.
Pa
3.54

dr Imóvel nº 71
eJ

3.50
3.84

3.82
4.57

oM

2.09

u
CALHA

ar

me
ia

olo
N

o
Rua

ã
eiç
Joã

art
oP

nc
ess

oB
12.63
oa

o
3.99 .35 1.91

aC

ári
4.63

nio
4.01 .35 .70 1.21

Vig
ad
2.47 .33 3.69

ntô
5.23

Ru
2.97

a
.33 2.82

Ru
to A
San
1.01

Rua
.7

ia
9.87

átr
10.23

aP
9.55

Rua

edo
9.68

sd
Exp
. Rod
. Ca

ário

sL
bral

lve
unt

nça
Vol

o
aG
Rua

Ru
4.85

4.75
4.37

Rua
4.92

Dr.
Hei
tor

6.80
Car
4.79

r ilho Planta de Situação


escala 1:1250

5.69
4 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
3 CENTRO DE TECNOLOGIA
2 DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO
LEGENDA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA
1
MESTRADO PROFISSIONAL EM ARQUITETURA,
Projeção da edificação 8
1.6 PROJETO E MEIO AMBIENTE
1.54

1.7
1.36

1.44

0
TELHA CERÂMICA
.24

2.25
1.29

.28 Sobe
2.38 TELHA DE FIBROCIMENTO
ASSUNTO: Memórias da Alegria: uma proposta de espaço cultural e
.35

de economia solidária para uma edificação de valor


.35

.33

.33
.33

2.65

.15
3.96

4.64
.34 4.00 .33 3.40 .34 2.72 .15
PISO EM LADRILHO patrimonial no bairro de Cidade Alta, Natal-RN
HIDRÁULICO
4.00 4.06 2.87 CONTEÚDO: Plantas de Situação e Cobertura - Situação Atual
18.25
LAJE IMPERMEABILIZADA LOCALIZAÇÃO: Praça Padre João Maria, nº 71, Cidade Alta, Natal - RN
Planta de Cobertura - Situação Atual
escala 1:50
ETAPA: Anteprojeto

ESCALA: indicada

DESENHO ADAPTADO: Dinara Gadelha


DATA: janeiro/2020
01 11
DISCENTE: Dinara Regina Azevedo Gadelha
01 Piso de tacos a ser restaurado Forro em madeira a ser 03 Porta a ser reaberta 04 Janela a ser reaberta 05 Janela existente a ser 06 Piso em tacos a ser restaurado 07 Forro existente a ser restaurado 09 Portão e piso existentes 10 Piso em tacos a ser restaurado
02 08 Janela existente a ser 11 Janela existente a ser restaurada.
removido restaurada a serem restaurados
restaurada Forro em gesso a ser removido.

11.80

5.16 .15 2.52 .15


.16 .87 .34
.34 2.11

.15
.15
.15
N

.32
.29
16 Viga e forro em gesso a serem
removidos

2.00
17 Porta a ser removida

12 Janela existente a ser 13 Janela a ser reaberta

2.83
restaurada

2.89

.15
4.42

6.40
.33

2.54
.36

27 18 Abertura a ser mantida

1.36 19 Parede a ser demolida

.15
14 Porta existente em madeira 15 Piso cerâmico a ser

.15
.61
com bandeira vazada substituído
2.62

5.60

.10
.29
1.47

2.09 .32 2.90 .35 2.03 .15 1.20 .33 1.54 .15 3.47 .15 2.52 20 Piso em ladrilho hidráulico
.15 existente a ser restaurado

.99
.26

147
.35

.34

°
23
.34

.34
22

21 Forro existente em madeira a

4.99
146°
ser removido
2.15

25 26
3.13

2.65

2.15 .33 2.87 .31

16.93
2.35 .35
.28 2.16 1.63 .15
4.96 .34 1.87 .15
3.82

19 22 Porta existente a ser restaurada

3.77
.16

20 21
24
16
.16

23 Tanque existente a ser removido


17
28
1.15

.15
146
°
12
3° 133
3.54

.33

15
.33

18
.33

°
9.87

144
10.23

14

3.49
24 Porta existente a ser restaurada

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE


29 03
25 Piso vinílico a ser substituído
CENTRO DE TECNOLOGIA
.33
6.08

DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO


3.74

.28
2.26
.33
4.31

3.98
.33
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA
3.98
.33 3.32 .34 MESTRADO PROFISSIONAL EM ARQUITETURA,
06 07
PROJETO E MEIO AMBIENTE

.15
5.55

4 10
13 01 02
ASSUNTO: Memórias da Alegria: uma proposta de espaço cultural e
3
3.51

de economia solidária para uma edificação de valor


2
.37

26 Forro existente em madeira a 27 Viga a ser removida patrimonial no bairro de Cidade Alta, Natal-RN
1 04 ser removido
3.00

CONTEÚDO: Planta Falada - Situação Atual


.35

08
11 4 LOCALIZAÇÃO: Praça Padre João Maria, nº 71, Cidade Alta, Natal - RN
1.66
.24

.92

3
Sobe
.25
12 2 ETAPA: Anteprojeto
.20

02
2.40
05
.24

.33

.34 Sobe 09 1
.11

2.65
1/50 DATA: janeiro/2020
.15

.15

3.97 ESCALA:
.11

.32
4.64
1.00 .36 1.28

4.00
.36 .99 .33 3.39

4.06
.34 2.72

2.87
.15

DESENHO ADAPTADO: Dinara Gadelha 11


18.21
DISCENTE: Dinara Regina Azevedo Gadelha
Planta Falada - Situação Atual 28 Anexo a ser demolido 29 Porta existente a ser mantida
escala 1:50
FQ Face de Quadra 01 - R. Voluntários da Pátria
01 Sem escala

FQ Face de Quadra 02 - Praça Padre João Maria FQ Face de Quadra 03 - Igreja e Rua da Conceição
03 Sem escala FQ Face de Quadra 05 - Rua Vigário Bartolomeu
02 Sem escala 05 Sem escala

LEGENDA
ÁRVORES

Símbolo Nome Popular Nome Científico Quantidade


N
o ã

Mangueira Mangifera indica 1


Conceiç

Peroba rosa/ipê Tabebuia 2


branco roseoalba
Rua da

FQ
01

Rua Vigário Bartolomeu


Pau Brasil Paubrasilia 5
echinata

rios da
Palmeira havaí Veitchia merrillii 1

Rua Voluntá
Pátria
Craibeira Tabebuia aurea 3
FQ
02
FQ Palmeira fênix Phoenix lourierii 3
Barracas de
02
artesanato

ARBUSTOS

Ixora
Ixora -
coccinea

FQ
05
PISOS
FQ
03

Ladrilho hidráulico

Jardineira
Via asfaltada

Via pavimentada

Rua João Pessoa OUTROS ITENS


FQ FQ
04 04
Cigarreira

Velário em alvenaria

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE


Banco em Velário em
mármore alvenaria Busto do Padre João Cigarreira Bancas de frutas CENTRO DE TECNOLOGIA
Maria
DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO
Praça - Situação Atual PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA
escala 1:250
MESTRADO PROFISSIONAL EM ARQUITETURA,
PROJETO E MEIO AMBIENTE

ASSUNTO: Memórias da Alegria: uma proposta de espaço cultural e


de economia solidária para uma edificação de valor
patrimonial no bairro de Cidade Alta, Natal-RN
CONTEÚDO: Praça - Situação Atual
LOCALIZAÇÃO: Praça Padre João Maria, nº 71, Cidade Alta, Natal - RN

ETAPA: Anteprojeto

ESCALA: 1:250

DESENHO ADAPTADO:
DATA: janeiro/2020

Dinara Gadelha
03 11
DISCENTE: Dinara Regina Azevedo Gadelha
FQ Face de Quadra 04 - Rua João Pessoa
04 Sem escala
B'
P-09

4.22 .15
.88 .33 .20 3.40
2.10 .15
.36

.15
.38 .15
.15
N

.40
.40
.32
2.67 .10
.40

1.22
1.20

1.20
2.00
2.00
1.52

1.70
2.80
.35

.30

.30
3.21 .33 7.82 .15

.15

.30

.30

.15
.15

1.20
.30

.30
Projeção de viga a ser demolida

.30
.30
1.21
.20 1.20 1.20 1.20 2.97 1.20

.35
2.65

2.65

2.54
.70 .10
LEGENDA

1.75
.55

.30
MANTER

.30
1.36
1.69

4.26
.30
DEMOLIR

3.35
.30
.15

.15
CONSTRUIR

.30

1.86
1.54 .15 1.65 .33 .89 .65 .15 3.47 .15 2.52 .15

1.40

1.47

1.18
Projeção de viga a ser demolida
.29 2.09 .33 2.88 .35 .58 1.11 .36 .15 1.20
.20

.50
.26

.35

.34

.34
.10
.67

.11
2.91 .31 1.86 .46 .35 .75
.10 3.78 .88 .15 .04 .62 .33 3.43
Marcação da 4.44
.25

3.76

.91
alvenaria a ser

4.99
mantida no piso

1.70
.40

2.15
.25

3.40
2.67

Marcação da .93
2.69

2.71
.40

alvenaria a ser
mantida no piso

16.93
.25

3.60

3.60

3.77
.40

.15

2.76
.25

2.18 2.12
.43

.10 3.78 Marcação da


alvenaria a ser
.25

2.

mantida no

.15
01

piso
.40

50

11.35
1.
3.42 .11
.25

3.54

.33
.40

.16
3.33
9.91

3.33
.25

Marcação da .33 3.98 .33 3.28 .33 .65 2.02 .15

.94
.40

alvenaria a ser
1.17

mantida no piso

3.49
.25

2.88
2.89
.40

3.98
.25

1.26
.33
.40

.10 3.78 .10


.25

2.50
.40

.15
.25

.10 3.13 .10 .34 2.69

1.80
.40

A A' UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE


3.34
.25

P-09 P-09
3.52
3.51

CENTRO DE TECNOLOGIA
.40

DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO


2.99

3.00
.25

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA

3.15
MESTRADO PROFISSIONAL EM ARQUITETURA,
.65

1.30
PROJETO E MEIO AMBIENTE
.25

.10

.30
ASSUNTO: Memórias da Alegria: uma proposta de espaço cultural e
.33 .24

.30
.10

.10

.10 de economia solidária para uma edificação de valor

.30
3.77
.10 .10 3.19 .10 1.86 1.01 patrimonial no bairro de Cidade Alta, Natal-RN
2.36 .50

2.87
CONTEÚDO: Planta de Reforma
B LOCALIZAÇÃO: Praça Padre João Maria, nº 71, Cidade Alta, Natal - RN
P-09 Planta de Reforma
escala 1:50

ETAPA: Anteprojeto

ESCALA: 1/50

DESENHO ADAPTADO:
DATA: janeiro/2020

Dinara Gadelha
04 11
DISCENTE: Dinara Regina Azevedo Gadelha
N

Elevação da via Elevação da via

LEGENDA - PLANTA DE REFORMA


i=15%

1.00

ÁRVORES
3.50
Símbolo Descrição Quantidade

i=15%
1.00
ição

Ipê Amarelo a inserir 9


13.75

Conce

13.74

3.50
Rua da

Árvore existente a remover 1

da Pátria
15.14
Árvore existente a preservar 10

rios
Memorial Oriano de

18.95
R6.80

Rua Voluntá
Almeida

.2
9 Banco do Nordeste
R3 Palmeira existente a preservar 3

Rua Vigário Bartolomeu


2.00

.00
R2

R2
.00

45.71
ARBUSTOS
3.50

R2
+0.15

.3
Ø2.00
B

0
Ø2.00 Bela-Emília a inserir 13
B
B B 45.92 R2.
00

Ø2.00 PISOS
.00
B A A Ø2
A
Ø2.
00 B
Ø2
.00 A Piso da praça a
Ladrilho hidráulico
A
13.27

11.77
ser reconstruído
C
19.22

Igreja Matriz de
N. Senhora da A A
+0.15
Apresentação Via asfaltada
B
A
4.00 A A +0.15 A 0
.0
Ø2 Pavimento intertravado na cor bege
i=15%

1.00

R1
.5
0
3.93

0 Demolir Construir Manter


.0
R2

Rua João Pessoa


R2

OUTROS ITENS
. 00

0.00

A Jardineira a manter

B Jardineira a construir

C Jardineira a demolir

Elevação da via Delimitação da área de Banco existente em


Velário
existente, a Busto do Padre João Maria, Planta de Reforma - Praça
intervenções artísticas mármore ser mantido a ser preservado escala 1:250

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE


CENTRO DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA
MESTRADO PROFISSIONAL EM ARQUITETURA,
PROJETO E MEIO AMBIENTE

ASSUNTO: Memórias da Alegria: uma proposta de espaço cultural e


de economia solidária para uma edificação de valor
patrimonial no bairro de Cidade Alta, Natal-RN
CONTEÚDO: Praça - Planta de Reforma
LOCALIZAÇÃO: Praça Padre João Maria, nº 71, Cidade Alta, Natal - RN

ETAPA: Anteprojeto

ESCALA: 1:250

DESENHO ADAPTADO:
DATA: janeiro/2020

Dinara Gadelha
05 11
DISCENTE: Dinara Regina Azevedo Gadelha
Placa de ACM 3mm na Junta de 10 mm preenchida
cor vermelha com silicone

Estrutura em
perfis de aço

B'
P-09 Cobertura em estrutura metálica com
fechamento em ACM e inclinação de 5% Tarucel

11.79 Estrutura em aço

7.97
3.82
3.40 4.37
.33 .20
Quadro de Áreas, Índices e Taxas .36
3.14
Detalhe das placas de ACM

.15
escala sem escala Calha
AREA DO TERRENO 261,34m² AREA PERMEÁVEL 35,41m²

.32
.32
AREA DO PAV. TÉRREO 174,18m² COEF. DE APROVEITAMENTO 1.04
AREA DO PAV. SUPERIOR 99,94m² TAXA DE OCUPAÇÃO 66,64% 4
AREA TOTAL CONSTRUIDA 274,12m² TAXA DE PERMEABILIZAÇÃO 13,55% 0.65

1.46
1.38
Recuos Sobe

2.32
RECUO FRONTAL - PRAÇA: INEXISTENTE RECUO LATERAL I. HISTÓRICO: 3,50m
3 Fechamento com
RECUO FRONTAL - VOL. DA PÁTRIA: 1,94m RECUO LATERAL. V. DA PÁTRIA: INEXISTENTE painéis de ACM na cor

0.65
.30
vermelha, através de
N 5 2 sistema convencional.

.30
6 Sobe 1

.30
7

.30
8
Módulo para o painel em ACM Perspectiva da cobertura da escada

6.16

.30

6.58
Calha
9 escala sem escala escala sem escala

6.40
2.94

6.82
.30
10

2.18
.30
11
Laje Cobertura com Perfil tubular Fechamento
Calha - tubo de queda

.30
a ser inserido por trás
12 Impermeabilizada inclinação de 5% retangular em em ACM
do painel em ACM
aço

.30
13

.50
Treliça em aço

.15

.15

.48
1.58 .15 1.61
Pérgolas em concreto

1.75
a construir
2.38 .33

1.40
2.88 .35 3.40 .33
5.13
.18 2.65 Painel em ACM
.26

.35

.34

.35

1.

1.10
29
.85
5.57
.33
12.66
Cobertura existente
.32
(laje impermeabilizada)

7.50

7.50
16.93

6.04
3.81

3.73

2.09

2.30
2.30
5.23

1.01

1.03
28
1.
9.87

10.23

9.72

10.39

9.69

.48
.40 2.60 .40 3.40
4.85

4.75
3.40
Vista da cobertura da escada
Corte da cobertura da escada
5.01

4.96

4.93

escala 1:50

escala 1:50

5.69

5.89

5.92
A A'
P-09 P-09 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA
Projeção da edificação MESTRADO PROFISSIONAL EM ARQUITETURA,
1.7 8
0 1.6 PROJETO E MEIO AMBIENTE
4
2.25
3
1.30
.25

2
2.65 ASSUNTO: Memórias da Alegria: uma proposta de espaço cultural e
.35

.33

2.65 .33 1
3.96 de economia solidária para uma edificação de valor
.34 Sobe
4.64
4.00 .36 3.37 .34 2.87 patrimonial no bairro de Cidade Alta, Natal-RN
4.00 4.06 2.87
CONTEÚDO: Planta Baixa - Terraço
18.25

LOCALIZAÇÃO: Praça Padre João Maria, nº 71, Cidade Alta, Natal - RN


Cobertura em telha Cobertura existente
Guarda-corpo em aço com cerâmica com inclinação
de 20%
(laje impermeabilizada)
Laje impermeabilizada Planta Baixa - Terraço
afastamento de 35cm em
relação a platibanda
B escala 1:50

P-09 ETAPA: Anteprojeto

ESCALA: 1:50

DESENHO ADAPTADO:
DATA: janeiro/2020

Dinara Gadelha
06 11
DISCENTE: Dinara Regina Azevedo Gadelha
N
B'
P-09
Estrutura metálica com
fechamento em ACM
01:
11.80
Quadro de Esquadrias Vista do
3.40 4.37
.20
3.82
Memorial

.27
Código Largura Altura Peitoril Abertura Material Quantidade

.37 .15
.40
.32
J050 0.50 2.55 0.94 Giro Madeira e Vidro 3

.33
J055 0.55 2.55 0.94 Giro Madeira e Vidro 5 Banheiro ventilado por
exaustão mecânica
J100 1.00 2.55 0.94 Giro Madeira e Vidro 1 .35 3.19 .33 .20 1.20 1.20 1.20 4.17
J100A 1.00 2.55 0.94 Giro Madeira e Vidro 1

1.20
WC Fem

1.56
Sobe

1.66
J103 1.03 2.55 0.94 Giro Madeira e Vidro 1 5.10m²
J135 1.35 2.55 0.94 Giro Madeira e Vidro 1 +0.76 6

2.72
P090 0.90 2.10 - Correr Madeira 2 7 5
P090
2.40 1.20 2.97 1.20
P100 1.00 3.50 - Giro Madeira 1

.15
8 4

.15
Inclinação: 8,33%

1.20
P100A 1.00 3.50 - Giro Madeira e Vidro 1 3
P100B 1.00 3.50 - Giro Madeira e Vidro 1
2
02:
P108 1.08 3.50 - Giro Madeira 1
1 Vista do
P108A 1.08 3.50 - Giro Madeira e Vidro 1

6.39
P108B 1.08 3.50 - Giro Madeira e Vidro 1 Banheiro ventilado por WC Masc.
Sobe Sebo/Café

Projeção da cobertura
exaustão mecânica

2.65
P110 1.10 3.50 - Giro Madeira e Vidro 1 4.09m² Circulação

1.75
+0.76
P127 1.27 1.85 - Giro Ferro 1 7.55m²

P090
+0.76
P165 1.65 1.95 - Giro Ferro 1

4.20
1.55 .15 1.64 .33 1.40 6.57

.15

3.32
Pilares em perfis
Plataforma vertical
de aço tipo H
Montele PL 240

1.46
.28 2.10 .33 2.88 .35 1.69 1.71
03:

1.40
.33 1.44 .20 3.48 .55 .34 1.94
Projeção das
pérgolas Vista da

P100B
Loja
.26

.35

.34

.34

.34
Colaborativa

.35
.67

Projeção do reservatório
.25

55
inferior para captação de água

J0
da chuva. Capacidade: 2000l 03

1.69
Projeção do mezanino
.40

1.70
05
.25

Projeção da cobertura
.40

16.93
P108B
.25

3.82

3.80
.40

.28 2.17 .33 5.53 .35 6.74 .35 1.64 .40


04:
.25

Loja Colaborativa Sebo/Café Vista da


2.15

2.12
.43

44.63m²
+0.76
45.04m²
Loja
.25

+0.76

Colaborativa
.40

55
J0
.25

Deck com estrutura

.33

.33
em perfis de aço e
.40

piso de vidro com

9.89
P110 Projeção
9.91

película
.25

antiderrapante
do mezanino
9.54
.40
.25
.40

Deck
.25

41.32m² 05:
.40

P100
Memorial +0.74
Projeção P100A
Vista do
4.32

4.27

Reservatório inferior em
.25

concreto, medindo 3m x 16.57m²


1,5m x 3,3m, de acordo com
do mezanino +0.76
Projeção do mezanino Sebo/Café
.40

especificações da NBR 13714.


5.90

P108
Capacidade: 14850l

6.21
.25

02
.40

A 4 01 A'
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
.25

P-09 P-09
3
J135

CENTRO DE TECNOLOGIA
.40

2 DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO


.25

P108A

1 04 PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA


J0
.35
.35

50 0
J0
5
MESTRADO PROFISSIONAL EM ARQUITETURA,
.65

P165

J100A
J055

4 PROJETO E MEIO AMBIENTE


J055

4
.25

3
P127

3
1.26
.34

.28
Sobe J103 Proj. da cobertura 2 2 Memórias da Alegria: uma proposta de espaço cultural e

.90
ASSUNTO:
2.38
.33

J100
2.65 .33 Sobe 1 1 de economia solidária para uma edificação de valor
3.97
4.64 .33 4.00 .32 3.36 .33 Sobe 2.87 patrimonial no bairro de Cidade Alta, Natal-RN
4.00 4.06 2.87
CONTEÚDO: Planta Baixa - Térreo
18.22

LOCALIZAÇÃO: Praça Padre João Maria, nº 71, Cidade Alta, Natal - RN


Planta Baixa - Térreo
escala 1:50

B ETAPA: Anteprojeto
P-09
ESCALA: 1/50

DESENHO ADAPTADO:
DATA: janeiro/2020

Dinara Gadelha
07 11
DISCENTE: Dinara Regina Azevedo Gadelha
Corrimão de acordo
com os padrões da
N Laje impermeabilizada
NBR 09050

B'

.64
Guarda-corpo em aço
P-09 Escada em chapa Estrutura em aço Escada metálica de acordo com

.15
metálica com fechamento padrões da NBR
em ACM Rampa em concreto
09050
11.79

4.02 3.40 4.37

3.19
.36 3.13 .33 .20 2.40 5.37

.37 .15

2.40
.34 .15
.40

.50
.32
Quadro de Esquadrias
.36 3 3.15 .33 .20 2.40 1.20 4.17
Código Largura Altura Peitoril Abertura Material Quantidade

1.21

1.22

1.20

1.20
P060 0.60 2.10 - Giro Madeira 1

1.43

1.48
P090 0.90 1.80 - Giro Madeira 1

2.40
6
P090A 0.90 2.50 - Giro Madeira 1
2 Plataforma Escada em chapa

.30

.30
P090B 0.90 2.10 - Giro Madeira 1 7 5 elevatória inclinada metálica

.30
4 Sobe 1

.30

.30
8 4
Inclinação: 8,33% Detalhe da plataforma elevatória inclinada

1.20

1.20
5

.30

.30
Plataforma 9 3 escala 1:50
elevatória inclinada
6

.30
10 2

1.77
7

.30
Projeção da laje 1

1.21
2.64
8 Sobe
9

1.75
10

.30
.15
DML 11
11

.30
1.56m² 12

P090B

2.82
1.00
.35 1.57 +3.59 .15
12 1.61 1.20

.30
.32 .20
13 1.20 6.77

3.63
P060

3.66
.15
13

.30
14

.15

.30
Mezanino em Steel Deck 15
Pérgolas em concreto com guarda-corpo em vidro Plataforma elevatória vertical

1.46
Hall 16

1.40
3.07m²

1.40
Divisória vazada

1.21
em madeira +3.61
.28 2.10
Proj. da viga
.33 2.88 .35 1.69 1.71 .33 1.45

.50
.20 3.66
01:
.26

2.67
.35

.34

.34

.35
Vista do

.35

.35
.67

Sebo/Café

1.09
P090A

.77
4.87
.25

.77
3.59
2.82

1.32
1.38 .32 1.58 .40
.40

02
Atelier
P090
16.57m² 01
Sebo/Café
.25

Projeção da cobertura
2.87

+3.61
28.94m²
.40

16.93
+3.61
.25

4.87 6.42 1.32

3.81

2.30
3.84
.40

3.03
.25

2.51
.43
.25

Viga em aço
.40

02:

1.03
.25

Vista do

9.89
.33

5.92
.32
.40

Atelier

.66
9.91

3.34
.25

.77 3.22
.40

.33 2.42 1.25 .30 .33 2.76 .53


2.38
.25
.40
.25

3.75
.40

Deck com estrutura em


4.31

.77 perfis de aço e piso de


.25

3.21 .33 3.98 .33 .66 2.16 vidro com película


.51
antiderrapante
.40
.25

5.22

5.89
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
.40

A A' CENTRO DE TECNOLOGIA


.25

P-09 P-09 DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO


3.37

3.53
.40

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA


.37

2.96
MESTRADO PROFISSIONAL EM ARQUITETURA,
.25

PROJETO E MEIO AMBIENTE


.35
.65

4
4
1.77
.25

3 3
ASSUNTO: Memórias da Alegria: uma proposta de espaço cultural e

.30
1.27

.28
Proj. da cobertura 2 2 de economia solidária para uma edificação de valor

.30
2.38
patrimonial no bairro de Cidade Alta, Natal-RN
.35

.33

2.65 .33 Sobe 1 1

.30
3.96

4.64
.34 4.00 .33 3.40 .34
Sobe 2.87
CONTEÚDO: Planta Baixa - Mezanino
4.00 4.06 2.87
LOCALIZAÇÃO: Praça Padre João Maria, nº 71, Cidade Alta, Natal - RN
18.25

Pilares em perfis de
aço tipo H Planta Baixa - Mezanino
escala 1:50 ETAPA: Anteprojeto

P-09
B ESCALA: 1:50

DESENHO ADAPTADO:
DATA: janeiro/2020

Dinara Gadelha
08 11
DISCENTE: Dinara Regina Azevedo Gadelha
Malha metálica
BB'
Capeamento de concreto Cantoneira de suporte contínua
P-09
para composição de borda
Forro existente Cobertura existente em telha
a preservar cerâmica com inclinação de 20% Telha-forma Metform

Malha metálica

.79
Cantoneira de suporte
contínua para
composição de borda

.15
Guarda-corpo Projeção

2.27
em vidro da laje Estrutura em Guarda-corpo
perfis de aço em aço

.40
Capeamento em

1.96
concreto

.46

.46
.30
Viga em aço Telha-forma Metform

.64

.64

.15 .64
.15

.15
.22

.40
Pérgola em concreto

2.74
Pilar em aço

Viga em aço

2.40
Detalhe construtivo da laje (Steel Deck)
escala 1:10

9.07
.50

Cobertura em laje
impermeabilizada
existente
6.24

Pilar em aço

.15
5.00

4.85

5.25
5.25

5.25
Guarda-corpo em aço
de acordo com padrões
4.24

da NBR 09050
3.74

3.32
Deck com estrutura em

2.70
perfis metálicos e piso de
vidro com película
antiderrapante
Detalhe construtivo da laje (Steel Deck)
escala sem escala

Loja Colaborativa Memorial


+0.76 +0.76

.74
Corte AA'
escala 1:50
AA'
P-09

Forro existente a Caixa d'água em polietileno; Cobertura existente em telha


preservar Capacidade: 2500l cerâmica com inclinação de 20%
.15

.15

Guarda-corpo Estrutura em Plataforma vertical Corrimão em aço de Escada em chapa metálica


em aço perfis de aço Montele PL 240 acordo com padrões
da NBR 09050
1.48

1.33

1.96

.46
1.10

Terraço
.15 .64
+6.16
.15

.15
.22

2.60
2.64

2.40

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE


8.28

.21

Atelier DML CENTRO DE TECNOLOGIA

.59
+3.61 +3.59
.15

DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO

.15
6.80

6.80
5.25

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA


5.00

5.37

MESTRADO PROFISSIONAL EM ARQUITETURA,


PROJETO E MEIO AMBIENTE
2.70

2.72
ASSUNTO: Memórias da Alegria: uma proposta de espaço cultural e
3.95

de economia solidária para uma edificação de valor


patrimonial no bairro de Cidade Alta, Natal-RN
Memorial Loja Colaborativa BWC Masc. BWC Fem. CONTEÚDO: Cortes
+0.76 +0.76 +0.74 +0.74
LOCALIZAÇÃO: Praça Padre João Maria, nº 71, Cidade Alta, Natal - RN

.74
ETAPA: Anteprojeto

ESCALA: 1/50

DESENHO ADAPTADO:
DATA: janeiro/2020

Dinara Gadelha
09 11
Corte BB' DISCENTE: Dinara Regina Azevedo Gadelha
escala 1:50
Cobertura da escada com
estrutura em perfis de aço
e fechamento em placas
de ACM na cor vermelha

Guarda-corpo em
aço inox

Pérgolas em
concreto

Cobertura existente em
laje impermeabilizada

Deck com estrutura em


perfis de aço e piso de
vidro com película
antiderrapante

Escada com estrutura


metálica e piso em concreto

Fachada pintada na cor cinza claro Fachada Frontal - Praça Padre João Maria
escala 1:50

Guarda-corpo
em aço inox

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE


CENTRO DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO
Cobertura da escada PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA
com estrutura em perfis
de aço e fechamento em MESTRADO PROFISSIONAL EM ARQUITETURA,
placas de ACM na cor
vermelha
PROJETO E MEIO AMBIENTE
Fachada pintada na
cor cinza claro

ASSUNTO: Memórias da Alegria: uma proposta de espaço cultural e


Escada em chapa de aço de economia solidária para uma edificação de valor
com corrimão em aço inox
de acordo com os padrões patrimonial no bairro de Cidade Alta, Natal-RN
da NBR 09050
CONTEÚDO: Fachadas

LOCALIZAÇÃO: Praça Padre João Maria, nº 71, Cidade Alta, Natal - RN


Corrimão em aço inox
de acordo com padrões
da NBR 09050

ETAPA: Anteprojeto

10
Rampa em concreto com piso
antiderrapante e inclinação de 8,33%
ESCALA: 1/50 DATA: janeiro/2020

Escada com estrutura


Deck com estrutura em
perfis de aço e piso de vidro Inserção em alvenaria e
DESENHO ADAPTADO: Dinara Gadelha 11
metálica e piso em concreto com película antiderrapante pintura na cor vermelha
Facchada Frontal - Voluntários da Pátria
escala 1:50
DISCENTE: Dinara Regina Azevedo Gadelha
LEGENDA
ÁRVORES

Símbolo Nome Popular Nome Científico Quantidade

Tabebuia
Ipê amarelo serratifolia 9
(Vahl) Nich.

01 Vista da via elevada 02 Vista da via elevada 03 Vista do Espaço Cultural 04 Vista da área arborizada
Peroba rosa/ipê Tabebuia 2
branco roseoalba

Pau Brasil Paubrasilia 5


echinata

N Palmeira havaí Veitchia merrillii 1

Craibeira Tabebuia aurea 3

05 Vista do terraço 06 Vista do terraço 07 Vista da área arborizada Palmeira fênix Phoenix lourierii 3

10
ARBUSTOS

Plumbago
Bela-Emília 13
auriculata

PISOS

Ladrilho hidráulico
ão
Conceiç

Via asfaltada
Rua da

03
Pavimento intertravado na cor bege

átria
Rua V. da P
05 OUTROS ITENS
06

Via elevada Cigarreira

01

Rua Vigário Bartolomeu


Banca de frutas
02 04

Velário

07

08

Rua João Pessoa 11

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE


CENTRO DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA
MESTRADO PROFISSIONAL EM ARQUITETURA,
09 PROJETO E MEIO AMBIENTE
Área de intervenções artísticas Busto do Padre João Maria Cigarreira
Planta Baixa - Proposta da Praça
escala 1:250
ASSUNTO: Memórias da Alegria: uma proposta de espaço cultural e
de economia solidária para uma edificação de valor
patrimonial no bairro de Cidade Alta, Natal-RN
CONTEÚDO: Planta Baixa - Proposta da Praça

LOCALIZAÇÃO: Praça Padre João Maria, nº 71, Cidade Alta, Natal - RN

ETAPA: Anteprojeto

ESCALA: 1:250

DESENHO ADAPTADO:
DATA: janeiro/2020

Dinara Gadelha
11 11
DISCENTE: Dinara Regina Azevedo Gadelha
08 Vista da área de intervenções artísticas 09 Vista da Rua Voluntários da Pátria 10 Vista da Rua Voluntários da Pátria 11 Vista da Rua João Pessoa

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