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CENTRO DE TECNOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO
MESTRADO PROFISSIONAL EM ARQUITETURA, PROJETO E MEIO AMBIENTE
MEMÓRIAS DA ALEGRIA:
Uma proposta de Espaço Cultural e de Economia Solidária para uma
edificação de valor patrimonial no bairro de Cidade Alta, Natal-RN.
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________
Prof. Dr. José Clewton do Nascimento
Orientador – UFRN
____________________________________________
Prof.ª Dr.ª Ana Carolina de Souza Bierrenbach
Examinador externo – UFBA
____________________________________________
Prof.ª Dr.ª Maísa Fernandes Dutra Veloso
Examinador interno – UFRN
AGRADECIMENTOS
Keywords: Architectural project; Padre João Maria Square; Intervention in Built Cultural
Heritage; Solidarity Economy.
LISTA DE FIGURAS
1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 13
1.1 PROBLEMÁTICA .......................................................................................... 14
1.2 OBJETO E OBJETIVOS ............................................................................... 19
1.3 JUSTIFICATIVA ............................................................................................ 20
1.4 ESTRUTURA DO RELATÓRIO E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 21
2 REFERENCIAL TEÓRICO-CONCEITUAL ................................................... 25
2.1 TEMA ............................................................................................................ 25
2.2 SOBRE POSTURAS INTERVENCIONISTAS ............................................... 25
2.3 O CONCEITO DE ECONOMIA SOLIDÁRIA E O CONTEXTO BRASILEIRO 31
3 ESTUDOS DE REFERÊNCIA ....................................................................... 37
3.1 CENTRO SEBRAE DE REFERÊNCIA DO ARTESANATO BRASILEIRO
(CRAB) ......................................................................................................... 37
3.2 MIGUEL COUTO/CITÉ ARQUITETURA ....................................................... 46
3.3 VILA FLORES ............................................................................................... 50
3.4 SÍNTESE DOS ESTUDOS ............................................................................ 59
4 CONDICIONANTES PROJETUAIS .............................................................. 61
4.1 A ÁREA E O TERRENO/LOCAL DE INTERVENÇÃO................................... 61
4.1.1 USO DO SOLO ............................................................................................. 62
4.1.2 OCUPAÇÃO DO SOLO ................................................................................ 64
4.1.3 GABARITO ................................................................................................... 66
4.2 RECONHECIMENTO DO BEM E SEU ENTORNO....................................... 67
4.2.1 HISTÓRICO .................................................................................................. 67
4.2.2 ANÁLISE FORMAL ....................................................................................... 71
4.3 ASPECTOS FÍSICOS E AMBIENTAIS.......................................................... 82
4.3.1 AMBIENTE CONSTRUÍDO EXISTENTE ...................................................... 90
4.3.2 INSOLAÇÃO, SOMBREAMENTO E FATOR DE VISÃO DO CÉU ................ 91
4.3.3 VENTILAÇÃO ............................................................................................... 99
4.3.4 ANÁLISES RELATIVAS ÀS PROPRIEDADES TÉRMICAS DOS
ELEMENTOS CONSTRUTIVOS ................................................................. 103
4.3.5 RECOMENDAÇÕES DE ESTRATÉGIAS BIOCLIMÁTICAS ....................... 106
4.4 ASPECTOS LEGAIS................................................................................... 108
5 A DEFINIÇÃO DO PROBLEMA E O PÚBLICO ALVO............................... 113
6 PROGRAMA ARQUITETÔNICO E O SEU DIMENSIONAMENTO............. 120
6.1 LOJA COLABORATIVA .............................................................................. 121
6.2 SEBO .......................................................................................................... 122
6.3 CAFÉ .......................................................................................................... 124
6.4 ATELIER ..................................................................................................... 125
6.5 TERRAÇO/DECK EXTERNO...................................................................... 126
6.6 BANHEIROS ............................................................................................... 126
7 CONCEPÇÃO E PROCESSO PROJETUAL .............................................. 129
7.1 O DESENVOLVIMENTO DO CONCEITO E A DEFINIÇÃO DO PARTIDO . 130
7.2 A POSTURA INTERVENCIONISTA ADOTADA .......................................... 134
7.3 A RELAÇÃO DA ECONOMIA SOLIDÁRIA COM A PROPOSTA ................ 135
7.4 O DESENVOLVIMENTO DA PROPOSTA .................................................. 137
8 DETALHAMENTO DA PROPOSTA FINAL ................................................ 145
8.1 PAREDES ................................................................................................... 153
8.2 DECK .......................................................................................................... 157
8.3 ESCADA DO MEZANINO E SUA COBERTURA......................................... 158
8.4 PERGOLADO ............................................................................................. 160
8.5 ACESSIBILIDADE....................................................................................... 161
8.6 ENTORNO .................................................................................................. 162
8.7 SISTEMA CONSTRUTIVO ......................................................................... 165
8.7.1 SOBRE PERFIS METÁLICOS .................................................................... 170
8.7.2 SOBRE STEEL DECK ................................................................................ 170
8.7.3 SOBRE ACM .............................................................................................. 171
8.7.4 SOBRE PISO DE VIDRO ............................................................................ 173
8.7.5 A RELAÇÃO ENTRE A PROPOSTA E A POSTURA INTERVENCIONISTA
ADOTADA................................................................................................... 173
9 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................ 175
REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 180
APÊNDICE A – Cálculos relativos às propriedades térmicas dos materiais ...... 186
APÊNDICE B – Cálculos relativos aos reservatórios de água ............................. 187
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1 INTRODUÇÃO
1.1 PROBLEMÁTICA
Por outro lado, mesmo diante do declínio citado, há iniciativas pontuais que se
apresentam como impactos positivos diante do quadro apresentado. No bairro de Cidade Alta
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pode-se citar o caso do campus do IFRN, na Avenida Rio Branco, que consistiu em uma obra
de restauro de uma edificação de relevante valor histórico, tombada pelo Governo do Estado,
cuja inauguração ocorreu no ano de 2009. O novo uso trouxe vitalidade ao entorno imediato.
Em 2012 foi oficializado pela Lei Municipal nº 0353 o Espaço Cultural Ruy Pereira, que se
situa na lateral do edifício do IFRN. Antes da inauguração do campus, o espaço era na
verdade a Rua Professor Zuza, que após a instalação do IFRN passou a receber diversos
eventos culturais. Este cenário atraiu novos olhares e culminou na iniciativa do legislativo de
renomear a via pública. Embora o nome dado tenha sido questionado pela comunidade
artística, a iniciativa demonstrou a importância que adquiriu o entorno do prédio após o seu
restauro.
Ainda no que se refere às ações e projetos de iniciativa pública visando a preservação
do patrimônio, em 2013 Natal teve dez projetos aprovados no PAC Cidades Históricas,
programa do governo federal destinado à preservação do patrimônio brasileiro, relacionados
no quadro abaixo.
A Praça Padre João Maria, que já se chamou Praça da Alegria, foi uma das
contempladas, no entanto, até o presente momento não há nenhuma previsão para a
execução de sua obra, mantendo-se assim o tema ainda em aberto. Uma das causas que
levaram a este atraso foi a duplicidade de projetos apresentados junto ao IPHAN, uma vez
que além do projeto contemplado pelo PAC e apresentado pelo Governo do Estado, há
também uma segunda proposta de autoria da Prefeitura Municipal do Natal.
Observa-se em frente a essa praça a existência da edificação escolhida para a
proposta (Figura 3), que chama atenção pelo seu estado de má conservação em relação aos
demais prédios do entorno. Apesar da sua inclusão na poligonal de tombamento do IPHAN,
encontra-se em estado de abandono. Atualmente está parcialmente ocupada pelo proprietário
de um sebo de livros, que anteriormente era inquilino da proprietária da edificação, já falecida.
Segundo ele, não há herdeiros e o mesmo permaneceu no local após a morte da dona do
imóvel. Não há ações em andamento, seja do poder público ou da iniciativa privada, para a
sua requalificação. O descaso com este patrimônio foi, deste modo, um dos fatores iniciais
que levaram ao desenvolvimento da proposta.
17
Figura 4: mosaico de fotos e cartazes de eventos ocorridos na Praça P. João Maria em 2018.
Segundo Araújo (2003, p. 89), “Toda cidade guarda lugares onde a memória do
passado está escondida aos olhos daqueles que não compartilham a história do lugar.” Assim
também é a outrora Praça da Alegria, nome que fazia referência ao fato de ser um local
conhecido por ser um ponto de encontro e de realização de eventos na cidade. O IPHAN
(2008, p. 83) ao abordar a atual nomenclatura da praça, hoje Padre João Maria, afirma: “Antes
de receber essa denominação, esse local também havia se chamado Praça da Alegria,
sugerindo que também ali seria um ponto de animação da cidade.” É, portanto, a essa
memória de um passado de festividade, que resiste até hoje através de cada evento, e da
apropriação dos espaços pela comunidade, que se faz referência no título deste relatório.
Em 2014, através da Portaria nº 72, publicada Diário Oficial da União n°136, foi
concluído o tombamento do Centro Histórico de Natal. Salienta-se que o universo de estudo
proposto está inserido na poligonal de tombamento definida pelo Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).
A princípio, a proposta foi pensada visando apenas a requalificação do edifício, porém,
levando em consideração que a história do edifício está ligada à da praça e ao seu entorno,
considerou-se necessária a inserção destes na proposta. Além disso, a praça por si só
19
1.3 JUSTIFICATIVA
O presente relatório foi estruturado em dois volumes, cujo primeiro diz respeito à
produção textual, e o segundo às pranchas com os desenhos arquitetônicos relativos ao
anteprojeto. O primeiro volume foi elaborado a partir das seções e dos procedimentos
metodológicos que passamos a descrever.
A seção 1 é a introdução, na qual o leitor se encontra no momento, e apresenta todos
os aspectos que embasaram a propositura do estudo, como a problemática, justificativa e
objetivos.
Na seção 2 encontra-se o referencial teórico-conceitual. Nele foram realizadas
pesquisa bibliográfica acerca das posturas intervencionistas, a fim de auxiliar nas decisões
projetuais posteriores, além de pesquisa em relação ao conceito de economia solidária, em
virtude do uso escolhido para a edificação.
A seção 3 diz respeito aos estudos de referência, que consistiram na análise, a partir
da classificação apresentada por Elali e Veloso (2019), de projetos disponíveis na internet. A
escolha dos projetos foi feita com o intuito de encontrar respostas para questões relacionadas
ao projeto, como sistema estrutural e programa de necessidades.
A seção 4 aborda os condicionantes projetuais, que estão divididos em quatro
categorias: delimitação do local de intervenção e universo a ser estudado (que inclui também
análises relativas à morfologia urbana deste universo), reconhecimento da edificação,
aspectos físicos e ambientais, e por último os aspectos legais. Na primeira delas foi feita a
delimitação do local de intervenção e universo a ser estudado a partir do uso de imagem de
satélite. Também foram elaborados mapas de uso do solo, ocupação e gabarito do universo
estudado, desenvolvidos a partir de desenhos em CAD do entorno, obtidos na Secretaria
Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo, e de visitas in loco. A segunda análise diz respeito
ao reconhecimento da edificação. Para isto, foi feita pesquisa bibliográfica relativa ao seu
histórico, características formais e filiação estilística. Também foi feita pesquisa de registros
fotográficos antigos da edificação e entorno, a fim de identificar modificações por meio de
comparação entre datas diferentes. Além disso, foram elaborados desenhos da edificação a
partir de levantamento arquitetônico realizado por alunos do sétimo período do curso de
graduação em arquitetura e urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte no
ano de 2015. Levantamento este que foi atualizado pela autora a partir de visita in loco, em
15 de janeiro de 2019, quando foram realizadas novas medições, além de registros
fotográficos. A partir destes desenhos, e de estudo desenvolvido por Cabral (2000), foi feita a
identificação de três momentos diferentes da edificação. A terceira análise consistiu em
simulações por computador, relativas à sintaxe espacial, objetivando identificar barreiras
visuais no entorno da edificação, e estudos referentes aos aspectos ambientais, que
22
Desenvolvimento de funcionograma.
Postura
intervencionista Pesquisa bibliográfica relativa ao tema.
adotada
A relação da
economia Pesquisa bibliográfica relativa ao tema.
solidária com a
proposta
24
2 REFERENCIAL TEÓRICO-CONCEITUAL
2.1 TEMA
Aquilo sobre o que insisti acima como sendo a vida do conjunto, aquele
espírito que só pode ser dado pela mão ou pelo olhar do artífice, não pode
ser restituído nunca. Uma outra alma pode ser-lhe dada por um outro tempo,
e será então um novo edifício; mas o espírito do artífice morto não pode ser
invocado, e intimado a dirigir outras mãos e outros pensamentos. E quanto à
cópia direta e simples, ela é materialmente impossível. (RUSKIN, 2008, p. 80)
Camillo Boito (1836-1914), por sua vez, parecia adotar uma postura intermediária em
relação a Viollet-Le-Duc e John Ruskin. A este respeito, Kühl afirma:
características que se acredita outrora terem existido. Este tipo de conduta representaria um
prejuízo à veracidade da obra, que passaria a conter elementos falseados.
Brandi também apresenta três princípios, que ele entende como práticos, sendo o
primeiro: “a integração deverá ser sempre e facilmente reconhecível; mas sem que por isto se
venha a infringir a própria unidade que se visa a reconstruir” (BRANDI, 2005, p. 47). Neste
princípio ele descreve o que se entende por distinguibilidade, que se expressa na fácil
legibilidade do que vem a ser a matéria preexistente da obra e as novas adições, ressaltando,
no entanto, a necessidade de harmonia entre ambos.
Em seguida, o segundo princípio é assim definido por Brandi:
contextual” e “justaposição contextual”, elaboradas por Tiesdell, Oc e Heath com base nas
definições primeiramente criadas por Richard Rogers.
A uniformidade contextual pode ser entendida como uma imitação de estilo entre a
edificação objeto da intervenção e aquelas situadas em seu entorno. Trata-se de uma postura
que se assemelha a ideia de “unidade estilística” encontrada em Viollet-Le-Duc. (VIEIRA-DE-
ARAÚJO, 2006)
A justaposição contextual vê na justaposição entre edificações de períodos diferentes
a possibilidade de criação de uma harmonia. Nela fica evidente o registro das marcas do
tempo, colocando-se o valor documental em posição de maior importância que o artístico
(VIEIRA-DE-ARAÚJO, 2006).
A continuidade contextual, por sua vez, aparenta um posicionamento intermediário
entre os dois anteriores. Nela busca-se trabalhar tanto o valor estético quanto histórico da
obra, evitando-se o falso histórico, descrito por Brandi, ao mesmo tempo em que evita-se
agressões à leitura estética do conjunto (VIEIRA-DE-ARAÚJO, 2006).
Estas três posturas podem então ser melhor compreendidas sob a forma de uma
escala, em que se tem em um extremo a uniformidade, e no outro a justaposição, enquanto a
continuidade figura entre ambas. Vieira-de-Araújo as apresenta conforme figura abaixo.
Uma outra noção importante para compreender estas três posturas diz respeito aos
conceitos de autenticidade e integridade. Silva e Zancheti, sintetizaram ambos os conceitos
com base em análises de suas definições segundo diversos autores, como Muñoz-Viñas,
Jokilehto, a definição apresentada pela própria Unesco, entre outros, e concluíram que a
integridade está relacionada a ideia de completude, de um caráter intacto e uma continuidade
do cenário, enquanto que a autenticidade se relaciona a ideia de genuinidade, seja ela do
material, da forma, da organização do espaço ou da função:
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Ser íntegro significa que os atributos que estão diretamente relacionados com
a significância, fisicamente existem de forma completa (completude), podem
continuar a existir (caráter intacto) e são compreendidos no seu contexto
(continuidade do cenário). A autenticidade refere-se à capacidade de ser
verdadeiro. A autenticidade depende da capacidade que se tem de julgar o
quanto os atributos físico-materiais (genuinidade do material) e não materiais
(genuinidade da organização do espaço e da forma; genuinidade da função)
expressam os valores do patrimônio de forma verdadeira ou falsa. (SILVA;
ZANCHETI, 2012, p. 10)
qualidade questionável. Como afirma Vieira-de-Araújo (2014 p.5), “O que nos parece
importante, seja qual for a postura adotada, é a necessidade de reflexão e conhecimento
sobre todas as opções que se colocam para o desenvolvimento de uma proposta embasada
e coerente.”
Esta análise das diversas condutas a respeito de como intervir no patrimônio edificado
ao longo da história permite perceber que, passados séculos desde o início das discussões,
diversos foram os posicionamentos, algumas vezes divergentes, outras vezes concordantes
entre si. No entanto, qualquer que fosse a postura adotada, o embasamento teórico
demonstrou-se importante para justificar as escolhas e tentar garantir a preservação dos bens
para as gerações futuras.
No contexto brasileiro, a expressão “Economia Solidária” foi utilizada pela primeira vez
em 1996, por Paul Singer, em artigo publicado no jornal A Folha de São Paulo, sob o título de
“Economia Solidária contra o Desemprego” (ARCANJO; OLIVEIRA, 2017). Em 2003, Singer
assumiu a pasta da recém-criada Secretaria Nacional de Economia Solidária (SENAES),
extinta no ano de 2016, que atuava na construção de políticas públicas na área de Economia
Solidária. Dentre as ações desenvolvidas pela Secretaria, e que merecem destaque, está o
Sistema de Informações em Economia Solidária (SIES), considerado uma iniciativa pioneira
para identificação e caracterização de Empreendimentos Econômicos Solidários (EES) e
32
A respeito do princípio da autogestão este pode ser entendido como uma forma de
gerenciamento baseada em decisões democráticas e descentralizadas, com a participação
de todos. A autogestão diverge da heterogestão, utilizada em empresas comuns,
principalmente na forma de gestão do empreendimento. Segundo Singer (2013), na
heterogestão há uma hierarquia através da qual os que ocupam postos de maior autoridade
transmitem as ordens de cima para baixo, enquanto informações e consultas fluem em sentido
inverso. Já na autogestão ocorre o oposto. Quando os empreendimentos atingem grandes
dimensões e são estabelecidas hierarquias de coordenadores, gestores ou encarregados, as
ordens fluem de baixo para cima, enquanto que as informações emanam em sentido inverso
(Figura 7).
Um dado interessante fornecido pelo mapeamento diz respeito ao que motivou a criação
do EES. Havia a possibilidade de escolha de mais de uma opção, e de um universo de 60
empreendimentos em Natal, os motivos mais escolhidos foram:
produção e outros que atuem por meio de organizações e articulações locais, estaduais e
nacionais. A mesma lei também traz como diretriz fundamental:
Vale ressaltar que a lei estadual 8.798 de 2006 também estabeleceu a gratuidade de
todos os atos necessários a legalização, formalização e manutenção dos Empreendimentos,
junto aos órgãos competentes para os empreendimentos certificados pelo Conselho Estadual
de Economia Solidária.
A lei estadual 10.536 de 2016 também contribui com o incentivo aos Empreendimentos
Econômicos Solidários através da criação do Programa Estadual de Compras
Governamentais da Agricultura Familiar e Economia Solidária (PECAFES). O objetivo do
programa é de garantir a aquisição direta e indireta junto aos produtores, sendo priorizados
os empreendimentos formados por mulheres, jovens, comunidades tradicionais, indígenas e
quilombolas.
De acordo com a Secretaria de Estado do Trabalho, da Habitação e da Assistência
Social2, atualmente o Governo do Rio Grande do Norte apoia tecnicamente e financeiramente
100 empreendimentos e subprojetos de economia solidária, selecionados via edital,
totalizando R$ 14 milhões em convênios com o governo federal e Banco Mundial, que
beneficiam mais de 24 mil pessoas.
Mas não é só a partir da administração direta que se observam iniciativas de fomento
à economia solidária. Em meio acadêmico, no Rio Grande do Norte o Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN) e a Universidade Federal do
Rio Grande do Norte (UFRN) contam com iniciativas que buscam auxiliar os
empreendimentos econômicos solidários.
No caso do IFRN, a IFSOL (Incubadora Tecnológica para Fortalecimento dos
Empreendimentos Econômicos Solidários do IFRN) promove o assessoramento e consultoria
a grupos que trabalham sob princípios da Economia Solidária. Atualmente, a IFSOL conta
com sete núcleos, nos campi da Zona Norte, Caicó, Canguaretama, Ceará Mirim, João
Câmara, Lajes, Macau, Nova Cruz e São Paulo do Potengi.
Na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), o grupo Organização de
Aprendizagens e Saberes em Iniciativas Solidárias e Estudos no Terceiro Setor (OASIS), foi
2 http://www.sethas.rn.gov.br/
36
Mas mesmo diante de todas as dificuldades que envolvem planejar, criar e gerir um
empreendimento econômico solidário, ele ainda se apresenta como uma alternativa a grupos
de trabalhadores como aqueles que compõem o público alvo da proposta descrita no presente
relatório, como se verá mais adiante.
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3 ESTUDOS DE REFERÊNCIA
Este capítulo tem, portanto, como objetivo apresentar projetos precedentes que
demonstram soluções relacionadas ao problema, a partir das modalidades descritas por Elali
e Veloso (2019), observadas no quadro abaixo.
A esfera Crab Praça Tiradentes diz respeito a sede do Crab em si, localizada em frente
à Praça Tiradentes, no município do Rio de Janeiro. Trata-se de um espaço cultural de
múltiplas atividades, composto por três edificações de valor patrimonial cuja obra de
intervenção foi concluída no ano de 2016.
A esfera Crab Web, por sua vez, é a plataforma digital do Crab, através da qual é
possível entrar em contato com artesãos de todo o Brasil, conhecer canais de comercialização
do artesanato, ter acesso a artigos e publicações teóricas sobre o tema, entre outros.
E a esfera Crab Expande é o chamado “braço externo” do Crab, que busca, através
da participação em debates, palestras, fóruns, exposições de artesanato, distribuição de
publicações, entre outros, expandir as fronteiras do Crab para além de sua sede na Praça
Tiradentes.
O Crab está localizado em uma área com grande concentração de equipamentos
culturais. A Praça Tiradentes se apresenta como o centro de uma área onde encontram-se,
3
http://crab.sebrae.com.br/
39
por exemplo, equipamentos do tipo teatro, galeria, cinema, hotel, oficina de artes, dentre
outros (Figura 10).
Figura 11: Visita guiada com alunos de uma Figura 12: Evento circense realizado na
escola do Rio de Janeiro Praça Tiradentes
No andar térreo (Figura 14) há a entrada pela chamada “Rua do Mercado”, no edifício
nº 69, de fachada amarela. Ainda neste nível, encontram-se a loja evento, distribuída em sete
ambientes do Solar, e o espaço gastronômico, situado no edifício menor.
Figura 17: Espaço destinado a exposição de Figura 18: Vista da Midiateca do CRAB
Artesanato.
Fonte: https://www.galeriadaarquitetura.com.br/,
2019
Fonte: https://www.instagram.com, 2019.
Figura 19: Vista de um dos ambientes de Figura 20: Vista da Galeria Pop Up, um dos
exposição espaços destinados à exposição.
No segundo andar (Figura 22), último nível da edificação, está localizado o espaço
oficina, onde ocorrem cursos permanentes e temporários de capacitação, formação, pesquisa
e experimentação. Há também o espaço multiuso, um auditório destinado a shows, debates,
palestras, encontros, dentre outros. O espaço experimental e, por fim, a administração do
edifício.
Figura 23: Vista da Praça Tiradentes a Figura 24: Uma das oficinas realizadas no CRAB
partir do terraço, no segundo andar
Figura 25: Vista do terraço a partir do Figura 26: Salas de oficina, ao lado do
Espaço Oficina terraço, no segundo andar
A respeito do partido adotado na intervenção, observa-se que houve uma busca pela
valorização da fachada através do uso de cores diferentes que facilitam a identificação dos
três edifícios (Figura 27 e Figura 28). Em relação ao Solar, optou-se também por reinserir
elementos que provavelmente existiram em outro período. No caso em questão, as estatuetas
localizadas sobre os pilares. A mesma conduta de preservar os elementos foi adotada para o
edifício nº 69, com a fachada amarela. Porém, quanto ao edifício menor, a solução adotada
foi outra. O primeiro andar teve sua fachada totalmente alterada para dar espaço à midiateca
e ao terraço.
45
No entanto, embora na fachada tenha havido essa busca por retomar as feições do
prédio, internamente o edifício recebeu novas instalações, que em quase nada lembram uma
edificação do século XVIII. De acordo com o arquiteto Lucas Teixeira Franco (MARQUEZ,
entre 2016 e 2019, não paginado), “o projeto precisava conter design moderno e infraestrutura
de ponta, restaurando o patrimônio artístico e cultural edificado e colaborando para a
revitalização do centro histórico do Rio de Janeiro.”.
A análise do projeto arquitetônico do Crab permitiu auxiliar na elaboração de um
programa de necessidades, uma vez que o uso escolhido é semelhante, embora em
dimensões bem menores. Também foi possível conhecer decisões projetuais que buscaram
conciliar o atendimento a necessidades contemporâneas e a preservação do patrimônio. Além
disso, o empreendimento em si mostrou ser viável o convívio entre usos semelhantes ao que
se pretende para a edificação escolhida (café, loja de artesanato, espaço para eventos, entre
outros).
Percebeu-se também uma relação entre a extensão das atividades do CRAB para a
Praça Tiradentes e a proposta de integração entre a edificação escolhida e a Praça Padre
João Maria. Ambas as praças possuem valor histórico e são utilizadas para a realização de
eventos culturais. A própria disposição das duas edificações em relação às praças, de frente
a elas, propicia essa apropriação do espaço urbano.
Em se tratando da postura intervencionista adotada e da discussão a respeito da
autenticidade e integridade, em relação às categorias elaboradas por Tiesdell, Oc e Heath
(1996), é possível dizer que o projeto se enquadra entre a continuidade e a justaposição
contextual. O fato de a envoltória ter sido encontrada antes da intervenção aparentemente em
bom estado de preservação de seus elementos, contribuiu para que a edificação aparentasse,
após a obra, um caráter intacto. Porém, internamente, as novas instalações ressaltam que se
trata de algo novo, contemporâneo, que contrasta com a preexistência.
46
Figura 29: Em vermelho, enquadramento da obra em relação às categorias propostas por Tiesdell, Oc
e Heath.
O edifício na Rua Miguel Couto, nº 106 (Figura 30), no bairro Centro do Município do
Rio de Janeiro, é uma edificação de uso comercial, atualmente com sete salas de escritório e
quatro lojas. Em 2018, foi concluída a obra de intervenção que é descrita pelo escritório Cité
Arquitetura, responsável pelo projeto, como um retrofit.
Figura 31: Vista das fachadas frontais da Figura 32: Na parte de cima da imagem o
edificação. mezanino, com vigas e pilares metálicos.
Figura 33: Planta do Subsolo, cuja criação foi possível a partir da nova estrutura metálica
Já no terceiro pavimento (Figura 36), foi proposto um rebaixo da laje, a fim de dar
acesso às sacadas. Este rebaixo também cria duas alturas de pé direito no mesmo pavimento,
onde se observa, acima do nível mais elevado, a criação de uma claraboia, que possibilitou a
iluminação natural do ambiente.
Figura 37: Terceiro pavimento, com rebaixo Figura 38: Vista externa da sacada.
contornando as fachadas e dando acesso às
sacadas, e claraboia.
Uma outra característica do projeto que merece menção diz respeito à cor escolhida
para os perfis metálicos. Observa-se que a escolha pelo branco condiz com a pintura das
paredes internas da edificação, de maneira que a estrutura proposta, embora distinguível da
preexistência, não se destaca na composição entre antigo e novo.
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Figura 39: Em vermelho, enquadramento da obra em relação às categorias propostas por Tiesdell, Oc
e Heath.
Figura 41: Aquarela da fachada de um dos edifícios, elaborada pelo arquiteto Lutzenberger
Figura 42: Pranchas de uma das edificações do conjunto, elaboradas pelo arquiteto
Lutzenberger
Posteriormente, por volta de 2011, houve a interdição em virtude do risco que oferecia
aos usuários diante do seu mal estado de conservação, o que levou à saída dos moradores.
O primeiro mutirão ocorreu então em 2012, visando dar início à recuperação do conjunto.
Em 2014 foi criada a Associação Cultural Vila Flores, responsável pela gestão dos
espaços coletivos e pela programação junto aos “vileiros”, como são chamados os
participantes do empreendimento, e produtores culturais da cidade. Posteriormente, em 2015,
aconteceu o primeiro encontro das Casas Colaborativas de Porto Alegre no Vila Flores. No
53
período compreendido entre 2014 e 2018 o espaço recebeu mais de 500 atividades culturais
e educativas em diversas áreas, como teatro, música, oficinas, palestras e exposições.
Figura 46: Zoneamento por tipos de uso Figura 47: Classificação dos tipos de acesso,
conforme cor das setas.
De acordo com o escritório, o projeto tem como objetivo a requalificação dos edifícios
e adaptação de seu uso a uma demanda contemporânea, sendo adotadas como premissas o
restauro das fachadas externas, novas soluções de infraestrutura, circulação, acessibilidade
e relativas à própria estrutura dos edifícios. Para tanto, dentre os estudos realizados pelo
escritório, incluiu-se um diagrama de acessibilidade (Figura 48), no qual se observa restrições
em parte das áreas comercial e residencial, em que a acessibilidade é parcial.
Além disso, a proposta também engloba a instalação futura dos chamados sistemas
ambientais, o que inclui aquecimento solar, energia eólica, compostagem, horta, energia solar
e captação pluvial. Na Figura 49 observa-se quais destes sistemas serão instalados em cada
edificação.
De acordo com o escritório Goma Oficina, o pátio é visto como o coração da proposta,
onde ocorrem os eventos, o encontro ao ar livre, a convivência entre as pessoas. As varandas
e janelas dos edifícios do conjunto se abrem em direção a ele, e a partir dele se tem também
acesso à rua. É, portanto, uma forma de conexão entre os edifícios e o restante da cidade. A
este respeito, o arquiteto João Felipe Wallig (Vila Flores, 2018) menciona a intenção de “que
o térreo fosse uma extensão da rua, o que é bastante sugerido pela arquitetura original”.
57
Figura 50: Vista do pátio durante evento. Figura 51: Evento noturno realizado no pátio.
A ligação do pátio com a rua, como visto na Figura 47, é feita por três acessos. Na
Figura 52 observa-se um dos fluxos possíveis, que permite a conexão entre as duas ruas (São
Carlos e Hoffmann) a partir do pátio.
Figura 53: Enquadramento da proposta com base nas categorias de Tiesdell, Oc, Heath (1996)
Figura 54: Vista da fachada externa, sem Figura 55: Detalhe da fachada externa, com
aparentes alterações elementos preservados.
Quanto aos estudos apresentados neste capítulo, em síntese, é possível dizer que
cada um deles trouxe características específicas que se relacionaram com a proposta. Os três
têm em comum o fato de se tratarem de projetos de intervenção no patrimônio, mas cada um
deles possui particularidades específicas que posteriormente vieram a influenciar no processo
de projeto. O CRAB trouxe contribuições importantes para o desenvolvimento do programa,
tanto para dar diretrizes a respeito dos ambientes, quanto para demonstrar a viabilidade da
coexistência de usos diversos, e semelhantes aos pretendidos, no mesmo edifício. Além
disso, demonstrou similaridade com o que se pretende em relação à extensão das atividades
da instituição para a praça em frente. O Miguel Couto contribuiu em especial com o sistema
estrutural adotado, e com a solução relativa à criação de mais pavimentos (dentre eles um
mezanino) dentro de uma edificação preexistente e de valor patrimonial. E o Vila Flores
apresentou-se como um caso importante de integração entre edificação e entorno, que foi
60
alcançada tanto pela própria forma e disposição dos edifícios e do pátio, quanto pelos usos.
O fato de se tratar de um conjunto ocupado por grupos artísticos, que fazem uso do pátio e
do galpão para a realização de eventos diversos, contribuiu para trazer vitalidade ao Vila
Flores. A configuração do pátio, ladeado pelas edificações, assim como observado no CRAB,
apresenta semelhanças com a situação encontrada no conjunto formado pela Praça Padre
João Maria e edificações do entorno. O uso cultural do Vila Flores demonstrou que a praça
pode também vir a se tornar palco de atividades que tenham como origem o Espaço Cultural.
Esta vitalidade existente atualmente no conjunto formado pelo pátio e edificações é a mesma
que se busca para a praça e a casa de nº 71. E por fim, em relação a soluções adotadas com
objetivo preservacionista, os três projetos têm em comum a preocupação com a preservação
da envoltória e a adaptação das edificações aos novos usos e demandas contemporâneas.
No caso do Vila Flores este cuidado com a envoltória é mais observado nas fachadas voltadas
para a rua, sendo perceptíveis algumas alterações naquelas voltadas para o pátio.
61
4 CONDICIONANTES PROJETUAIS
A partir do mapa de uso do solo (Figura 59), é possível observar que no recorte
analisado há uma predominância do uso comercial e de serviços (62%), seguido por
residencial unifamiliar (17%) e institucional (9%). Este último se concentra principalmente ao
norte do mapa, com destaque para a Rua da Conceição, onde localizam-se instituições como
o Instituto Histórico e Geográfico e seu arquivo (Memorial Oriano de Almeida), o Centro
Pastoral Dom Heitor de Araújo Sales e o Museu Café Filho.
A respeito do uso comercial e de serviços, quanto mais próximo da Avenida Rio
Branco, maior a concentração destes estabelecimentos. No recorte a predominância ocorre
nas Rua João Pessoa, Vigário Bartolomeu, Gonçalves Ledo e Vaz Gondim (popularmente
63
conhecida como Beco da Lama). Este tipo de uso também é o mais observado em volta da
Praça Padre João Maria. O uso residencial unifamiliar, por sua vez, é predominante na parte
sul do mapa, principalmente na Rua Voluntários da Pátria.
Comercial
62%
4.1.3 GABARITO
2 1 PAVIMENTO
PAVIMENTOS 56%
31%
4.2.1 HISTÓRICO
A residência a que este trabalho refere-se, pertence aos “de Medeiros”, e foi
erguida pelo patriarca da família, Cel. Aureliano de Medeiros, um rico
comerciante nascido no interior do estado e que foi proprietário de muitas
outras casas tanto no bairro de Cidade Alta como no bairro da Ribeira, onde
localizava-se seu estabelecimento comercial, a loja “Paris em Natal”, uma
estrutura de alto padrão que atendia aos mais variados gostos da sociedade
natalense, com seus finos produtos importados. (CABRAL, 2000, p. 5)
Trata-se, portanto, de uma edificação que foi construída originalmente para uso
residencial. No ano de 2000, quando a pesquisa desenvolvida por Cabral foi realizada, a neta
do proprietário, hoje falecida, ainda residia na casa. Atualmente, a edificação encontra-se
parcialmente sem uso, com uma parcela destinada a um sebo de livros, e ampliações sendo
ocupadas por dois chaveiros (Figura 66).
Ainda de acordo com Cabral (2000) a edificação foi construída na década de 1920. No
entanto, chama atenção o registro fotográfico atribuído ao ano de 1922 (Figura 67), em que
em seu local há uma edificação com uma fachada frontal bastante diferente daquela
encontrada na década de 1970 (Figura 68). Na foto de 1922, se observa uma fachada com
quatro janelas dispostas de forma simétrica e um telhado aparente. A disposição das janelas
também permite auferir que o acesso à edificação provavelmente não se fazia por esta
fachada. Já nos anos 1970, a edificação possuía uma platibanda adornada, não havia mais
as quatro janelas e foi criado um volume recuado do alinhamento da calçada, através do qual
se tem a porta de entrada da edificação, acessada por uma escada. Levantam-se então duas
possibilidades: ou a edificação passou por modificações que mudaram consideravelmente
suas características, ou se trata de uma edificação anterior à data da construção da edificação
atual.
Figura 67: Foto da Praça Padre João Maria a partir da Igreja Matriz. Em destaque, a
edificação existente à época.
A edificação foi construída em uma área tida como nobre à época, o bairro de Cidade
Alta. De sua localização, em frente à praça, com vista para a Igreja Matriz, era possível avistar
o movimento dos fiéis. A respeito das práticas relacionadas à vida cotidiana, o suplemento do
Diário Oficial do Estado do Rio Grande do Norte traz um relato que demonstra bem a relação
dos habitantes com a localidade:
Aqui cabe uma breve consideração a respeito do relato acima, com base no que afirma
Hertzberger (1999, p. 43): “Uma área de rua com a qual os moradores estão envolvidos, onde
marcas individuais são criadas por eles próprios, é apropriada conjuntamente e transformada
num espaço comunitário.” Essa apropriação, portanto, existia por parte dos diversos tipos de
71
usuários. Crianças brincando nas árvores, religiosos rezando junto ao busto do Padre, foliões
dormindo na praça. Uma espécie de vitalidade que deve ser valorizada na proposta.
Atualmente, a praça é palco de outras formas de apropriação do espaço pela
comunidade. Como mencionado na problemática (seção 1.1), mesmo diante do atual estado
precário de conservação, nela ocorrem diversas atividades, sejam estas religiosas, culturais
ou sociais, podendo-se citar o Choro do Caçuá, realizado no segundo e último sábado de
cada mês, missas em homenagem ao Padre João Maria, eventos dos cordelistas, saraus,
encenações teatrais e tantas outras ações que expressam a vocação cultural daquela área.
Cabral também descreve a existência de um acesso lateral para cavalos, além de uma
dependência de empregados nos fundos do lote. O afastamento desta em relação à edificação
principal permite levantar algumas considerações. A relação entre empregadores e
empregados nesta época ainda apresentava resquícios relativos ao período colonial, quando
o trabalho escravo era permitido. Esta relação refletiu-se, portanto, na arquitetura, como
observa Reis Filho:
Ainda sobre o primeiro momento, a relação da edificação com o lote se dava de forma
bastante diferente da observada atualmente. Com exceção da fachada voltada para a Praça
Padre João Maria, todas as demais possuíam afastamento em relação aos limites do terreno.
Havia, portanto, áreas livres, não ocupadas no lote. A ausência de recuo na fachada voltada
para a praça pode ser interpretada também como herança do período colonial, em que os
73
limites das vias públicas eram dados pelas edificações, como afirma Reis Filho, ao tratar do
lote urbano colonial:
Numa época na qual as ruas, com raras exceções, ainda não tinham
calçamento, nem eram conhecidos passeios – recursos desenvolvidos já em
épocas mais recentes, como meio de seleção e aperfeiçoamento do tráfego
– não seria possível pensar em ruas sem prédios; ruas sem edificações,
definidas por cercas, eram as estradas. A rua existia sempre como um traço
da união entre conjuntos de prédios e por eles era definida espacialmente.
(REIS FILHO, 2000, p.22)
O segundo momento diz respeito ao período compreendido entre 1930 e o ano 2000
(Figura 70), mas em data incerta. As alterações consistem na retirada da varanda e da
dependência de empregados, que foi substituída por um volume na parte posterior da
edificação.
Em relação à varanda, imagem do ano 2000 (Figura 71), apresentada por Cabral
(2000), evidenciava a sua ausência. Na lateral esquerda da edificação se observa o acesso
ao sebo, ainda existente atualmente. Em imagem dos anos 1970 (Figura 72), no mesmo local
onde posteriormente veio a ser instalada a placa com os dizeres “Sebo da Praça”, observada
na Figura 71, existia uma outra placa, na qual se lia “Cantinho dos Chaveiros”, o que leva a
crer que nos anos 1970 os chaveiros ainda não estavam instalados onde se encontram
atualmente, na lateral voltada para a Rua Voluntários da Pátria. Nesta mesma imagem
também não é possível visualizar a varanda.
74
Não foi possível identificar se a edificação sofreu alterações em suas fachadas entre
o primeiro e o segundo momento, pois não foram localizados registros fotográficos referentes
ao primeiro.
Neste segundo momento também se observa uma alteração da relação entre
edificação e lote, em virtude da perda do recuo posterior, ocasionada pela construção do
volume em destaque na Figura 73. É possível constatar que este volume não dialoga com a
simetria observada na fachada frontal, apresentando-se como uma espécie de apêndice. A
diferenciação entre ele e o restante da edificação fica mais evidente ao se observar a sua
cobertura. Acredita-se que este volume foi construído em um período intermediário (relativo
ao segundo momento da Figura 70), e não no último momento, em especial em virtude da
espessura das paredes. A envoltória de toda a edificação possui paredes com espessura
aproximada de 35 centímetros, assim como o apêndice. No entanto, internamente algumas
75
paredes têm 15 centímetros de espessura, o que pode ser um indicativo de que se tratam de
construções posteriores, relativas ao terceiro momento.
O último momento diz respeito à situação atual (Figura 74), e se limita ao período
compreendido entre 2000 e 2019. Nele se observam diversas alterações em relação aos
momentos anteriores: a construção de um novo ambiente ao lado da sala de jantar, (que
diminuiu o seu tamanho), limitado por uma parede de menor espessura se comparada àquelas
observadas no primeiro momento; de um banheiro ao lado desta; e dos pontos comerciais
voltados para a Rua Voluntários da Pátria.
Porém, apesar de todas as modificações sofridas, a edificação preserva características
tipológicas de uma residência. Comparando as plantas do primeiro momento (Figura 69) e
deste último (Figura 74), ainda é possível observar a distribuição dos ambientes relativos aos
quartos, sala de estar e jantar, a cozinha e o banheiro.
76
Quanto à relação entre edificação e lote, esta foi totalmente modificada. A construção
dos pontos comerciais levou à perda do recuo e do acesso à Rua Voluntários da Pátria, cujo
último registro que se tem da existência é de 2011, quando ainda havia um pequeno portão
em frente à porta da antiga sala de jantar (Figura 75). Além disso, houve uma obstrução por
completo da visibilidade do exterior a partir da casa por esta fachada e vice-versa em virtude
das novas construções (Figura 76). O uso do lote foi levado ao extremo, culminando com a
total ausência de áreas permeáveis.
Figura 75: Ao centro, portão de acesso à edificação pela Rua Voluntários da Pátria.
Figura 76: Vista da fachada voltada para a Voluntários da Pátria, já totalmente obstruída.
Observa-se que a fachada frontal da edificação (Figura 77), voltada para a praça,
conserva as mesmas características do segundo momento, o que inclui os adornos na
platibanda, frisos formando desenhos geométricos, consoles no volume central, cobertura
sobre o acesso principal, cobogós ladeando o portão de entrada e as esquadrias.
Uma outra característica que foi preservada, e que merece destaque nesta edificação,
diz respeito à simetria observada nesta fachada, evidenciada pela repetição da volumetria,
tendo como eixo de rebatimento o volume central. Observa-se também uma repetição da
relação entre cheios e vazios e de todos os elementos decorativos já listados, que são
dispostos de forma idêntica em ambos os lados. Como se verá mais à frente, a edificação
apresenta características ecléticas. A este respeito, o Estudo para tombamento do Centro
Histórico de Natal, realizado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
78
(IPHAN), ao abordar o ecletismo no início do século XX, ressalta a simetria como uma de suas
características:
É importante ressaltar que a definição destes três momentos não implica em afirmar
que não tenham havido outras modificações ao longo do tempo, uma vez que o estudo é
limitado pelos dados disponíveis. Além disso, a análise buscou identificar alterações maiores,
que implicaram em mudanças na volumetria da edificação, e na relação entre esta, o lote e a
rua. Não foi considerado, por exemplo, um momento o fechamento do portão voltado para a
Rua Voluntários da Pátria, visto na Figura 75.
Também por se tratar da relação entre edificação e entorno, aqui cabe uma breve
consideração a respeito da criação da rua entre ela e a praça. Registro fotográfico dos anos
20 (Figura 78) permite observar o uso do espaço pelas pessoas, que transitavam livremente
quando ainda não havia a rua. No entanto, com a demarcação da via entre a praça e as casas,
o espaço passou a apresentar uma delimitação clara entre o que é destinado aos carros e o
que é de uso dos pedestres (Figura 79), resultando em uma alteração na relação não somente
da edificação escolhida com o entorno, mas de todas as edificações vizinhas a ela e voltadas
para a praça.
Figura 78: A praça nos anos 1920, quando ainda não existia a via para veículos. Ao fundo,
a Igreja Matriz.
O Solar Bela Vista foi construído pelo Cel. Aureliano Clementino de Medeiros
na primeira década do século XX, sendo o projetista o próprio Aureliano. A
mansão, implantada no centro do lote, circundada de belos jardins e de
grande imponência, teve a participação dos melhores mestres-de-obras da
região e fez uso dos melhores materiais de construção e de acabamento
existentes na época, a maioria importado da Europa. (IPHAN, 2008, p. 68)
Figura 80: Detalhes em baixo relevo Figura 81: Platibanda na fachada frontal voltada para a
na fachada frontal voltada para a Rua Voluntários da Pátria
praça
Figura 83: Arco abatido sobre janela Figura 84: Ladrilho hidráulico da sala de jantar
Figura 86: Vista da Praça Padre João Maria a partir da edificação escolhida.
Figura 89: Vista a partir da esquina da Rua João Pessoa com a Vigário Bartolomeu.
No geral, a análise sintática permitiu observar que a partir de todos os pontos definidos
há algum tipo de barreira que impede a visualização direta da edificação. Esta situação passou
então a ser entendida como um obstáculo à integração almejada, e se constituindo, portanto,
como um dos problemas a serem solucionados.
Uma outra análise necessária ao desenvolvimento da proposta, e que também se
enquadra como condicionante projetual, diz respeito às questões ambientais, relativas a
variáveis climáticas e características do ambiente construído, que influenciam no conforto
ambiental dos usuários.
Compreender o clima do local onde está inserida a edificação é necessário para que
a proposta consiga oferecer melhores condições de conforto aos usuários da edificação. O
clima pode, portanto, oferecer condicionantes projetuais importantes ao problema. Ademais,
edificações pensadas de forma a se adaptarem ao clima trazem outros benefícios, como uma
menor demanda de consumo energético, na medida em que reduzem a necessidade de
climatização e iluminação artificial, por exemplo.
Desta forma, antes de iniciar a concepção do projeto, buscou-se conhecer o clima de
Natal e as recomendações aplicáveis a ele, a partir das normas vigentes e de bibliografia
relativa ao tema. Também foram analisadas as características relativas ao ambiente
85
De acordo com o zoneamento bioclimático proposto pela NBR 15220-3, Natal está
inserida na Zona 8. Para esta zona recomenda-se o uso de aberturas para ventilação grandes
e sombreadas, além de ventilação cruzada. O programa ZBBR 1.1 oferece um resumo das
recomendações apresentadas pela NBR 15220, observado na Figura 91.
87
Também foi feita uma análise relativa ao clima a partir do programa Climate Consultant
6.0, que disponibiliza uma diversidade de cartas gráficas capazes de auxiliar na
caracterização do clima estudado. Através dele é possível, por exemplo, saber o quão
confortável termicamente é o local durante o horário e meses do ano determinados.
Os dados foram obtidos a partir do Ano Climático de Referência de Natal/RN, que
inclui informações relativas a temperatura do ar, umidade, movimento do ar e radiação. Ele
corresponde a um ano típico da localidade e, de acordo com Lamberts (2014), é a base de
dados mais precisa para a realização das análises.
O modelo escolhido foi o Adaptative Comfort Model in ASHRAE Standard 55-2010.
Optou-se por este modelo porque ele permite conhecer as condições de conforto em
ambientes internos não climatizados, ou seja, sem uso de sistema de refrigeração. Este
modelo presume que os ocupantes adaptam suas roupas às condições térmicas e que são
sedentários.
A carta analisada foi a psicrométrica (Figura 92). Nela encontramos dados relativos a
temperatura de bulbo seco, bulbo úmido e umidade relativos às 8760 horas do ano. A faixa
verde corresponde à zona de conforto. Na legenda, observa-se que, em relação à
temperatura, o clima de Natal se apresenta 63% confortável, considerando todas as horas e
meses do ano.
88
Figura 92: Carta Psicométrica para Natal/RN, considerando todos os meses e horários.
Por se tratar de uma edificação de uso comercial, optou-se por realizar nova simulação
(Figura 93), desta vez restringindo o horário entre as 8 e as 22 horas, considerando que o
espaço poderá ser utilizado para eventos noturnos. A faixa localizada à esquerda da primeira
linha vertical verde (lendo-se a carta da esquerda para a direita) corresponde a situações de
desconforto ao frio, em que a temperatura se encontra abaixo de, aproximadamente, 23,5°C.
Nesta nova carta foram observados raros casos de desconforto ao frio ao longo de todo o ano
dentro do horário estabelecido. Em outra simulação, constatou-se que as situações de frio
ocorrem apenas no período noturno, após as 19 horas, até as 8 horas da manhã. A maior
parte dos casos de desconforto ao frio foi identificada no horário entre 22 horas e 8 horas. No
entanto, como se trata de um estabelecimento que não funciona neste horário, considerou-
se, portanto, não haver necessidade de adoção de estratégias neste sentido.
89
Figura 93: Carta Psicométrica para Natal/RN, considerando o horário comercial, entre 8h e
22h.
Porém, em relação ao calor, ainda na Figura 93, constatou-se que há uma situação de
desconforto de 46% ao longo de todo o ano, no horário de funcionamento do estabelecimento,
o que indica a necessidade de adoção de estratégias (detalhadas na seção 4.3.5) para
garantir o conforto dos usuários, caso as características atuais da edificação existente não
sejam suficientemente favoráveis.
Em relação aos ventos, a Rosa dos Ventos elaborada pelo Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (INPE) demonstra uma predominância dos ventos vindos da direção
sudeste, com velocidade máxima de 10m/s.
Figura 94: Rosa dos ventos para Natal, para o ano de 2009.
Como se pode observar, trata-se de uma edificação situada em lote de esquina, com
um entorno bastante adensado. Sua fachada frontal, com acesso principal à edificação,
encontra-se voltada para a Praça Padre João Maria. Em sua lateral, voltada para a Rua
Voluntários da Pátria, foram feitas ampliações, obstruindo por completo as aberturas desta
fachada.
Figura 96: Vista da fachada voltada para a Rua Voluntários da Pátria, com aberturas obstruídas
De acordo com simulações no Ecotect, foi possível perceber que a fachada nordeste
fica exposta à insolação em sua maioria apenas no período da manhã. Somente no solstício
de inverno identificou-se exposição até aproximadamente 13:30 horas. No verão ocorre a
menor exposição, limitando-se ao período entre 7 e 9 horas.
Figura 100: Fachada nordeste (com a Figura 101: Máscara de sombra da fachada
abertura), com edificação vizinha à sua nordeste.
frente.
Em relação à simulação no Solar Tool, para esta fachada ela não foi necessária em
virtude da ausência de elementos próximos às aberturas, que pudessem ser simulados, como
muros e coberturas. Relembramos que o Ecotect apresenta ferramentas de modelagem
capazes de inserir todas as edificações do entorno, o que não é possível no Solar Tool. Por
esta razão optou-se por usar este último apenas para analisar as aberturas das fachadas da
edificação considerando barreiras próximas.
94
A fachada sudeste é aquela voltada para a Rua Voluntários da Pátria. Ela encontra-
se exposta à insolação apenas no período da manhã. No solstício de verão a exposição ocorre
das 7h ao meio dia, enquanto que no de inverno ela se concentra no período compreendido
entre 6h e 10h. Já no equinócio de primavera observa-se a exposição no período entre 7 horas
e 11 horas. E por fim, no equinócio de outono, o intervalo observado ficou compreendido entre
7:30h e 11h.
Figura 104: Fachada sudeste, com Figura 105: Máscara de sombra da fachada
retângulo em frente representando o sudeste.
Banco do Nordeste.
Fonte: Solar Tool, adaptado pela Fonte: Solar Tool, adaptado pela autora, 2019.
autora, 2019.
Na simulação realizada com o Solar Tool foi possível verificar que o muro em frente
à fachada a sombreia a partir de aproximadamente 15 horas até o pôr do sol, resultado
semelhante ao obtido no Ecotect.
96
Figura 107: Fachada noroeste com Figura 108: Máscara de sombra da fachada noroeste
muro à frente
Em relação ao Fator de Visão do Céu (FVC), segundo Minella, Rossi e Krüger (2011)
este diz respeito à parcela de céu que se encontra visível a partir de um ponto definido. O seu
valor compreende o intervalo entre 0 e 1, em que quanto mais próximo de 1 maior a
quantidade de céu visível, e quanto mais próximo de zero, maior o número de elementos
obstruindo o céu, como edificações, árvores, entre outros.
Longarine, Duarte e Michalski (2017) relacionam a utilização do FVC ao fenômeno
do aprisionamento do calor em ambientes urbanos, considerando que o céu é capaz de agir
como sumidouro de calor:
Minella, Rossi e Krüger (2009) explicam que o céu, por possuir temperaturas
menores que a superfície da Terra, contribui com o resfriamento desta ao agir como receptor
da radiação. Por esta razão, elementos obstrutores do céu podem influenciar tanto na
temperatura das superfícies quanto na do ar. Neste contexto, o cálculo do FVC identifica o
quão visível é o céu a partir de um ponto definido, e pode estar relacionado ao aumento da
temperatura no local.
Ainda segundo Minella, Rossi e Krüger (2009) há diferentes métodos utilizados para
calcular o FVC, como os fotográficos, analíticos, sistemas que fazem uso de GPS ou que
combinam bases de dados 3D com um Sistema de Informações Geográficas (SIG). Amorim,
Pedrosa e Carvalho (2014) realizaram o cálculo do FVC a partir de máscaras de obstrução
97
obtidas por quatro métodos: gráfico, lente olho de peixe, programa Ecotect e programa
Sketchup e identificaram que a diferença entre os resultados obtidos foi pouco significativa:
Minella, Rossi e Krüger (2009), por sua vez, utilizaram o programa Rayman para
calcular o FVC em análise da influência deste fator em relação a sensação de conforto
térmico. Trata-se de um programa capaz de determinar o FVC a partir de quatro métodos:
fotografias obtidas a partir de lente olho de peixe, dados relativos aos obstáculos no ambiente
(a partir de modelagem no próprio programa ou com o auxílio do programa Quantum GIS),
delimitação do limite do horizonte e imagem topográfica.
Para a análise foi utilizado o programa Rayman Pro versão 3.1. Nele foi realizada a
modelagem da edificação e entorno e definidos três pontos. Posteriormente, foram gerados
diagramas relativos a cada um deles, em que é possível observar a parcela de céu visível e
as obstruções. Finalmente, o programa calcula o FVC a partir da modelagem e do diagrama.
Passamos então a apresentar os resultados.
O primeiro ponto escolhido foi a circulação existente entre a edificação e o prédio
vizinho (Figura 109). Optou-se por esta localização por se tratar da área do lote com maior
quantidade de obstruções a sua volta.
Figura 109: Modelagem do ambiente construído. Figura 110: Diagrama relativo à parcela
Em vermelho, ao centro, o primeiro ponto. de céu visível e obstruções no primeiro
ponto
Fonte: Rayman Pro, adaptado pela autora, Fonte: Rayman Pro, adaptado pela
2019. autora, 2019.
98
O segundo ponto escolhido corresponde a outro local dentro do lote que é ladeado
por edificações, situado em frente a fachada nordeste, conforme se observa na Figura 112.
Figura 112: Modelagem do ambiente construído. Ao Figura 113: Diagrama relativo à parcela
centro, o segundo ponto (em vermelho) marca a de céu visível e obstruções no segundo
localização escolhida. ponto escolhido
Neste segundo ponto observa-se uma parcela de céu visível maior, se comparada
com o primeiro. Na Figura 113 tem-se o diagrama relativo às obstruções e à porção visível do
99
céu. Nele é possível perceber que a área obstruída ainda é superior à parcela visível. O
resultado do FVC obtido foi então de 0.201, e uma obstrução do horizonte de 79,9%.
O último ponto foi posicionado em frente à edificação, próximo a fachada sudoeste,
voltada para a Praça Padre João Maria, conforme se observa na Figura 114.
Figura 114: Modelagem do ambiente construído. Ao Figura 115: Diagrama relativo à parcela
centro, o terceiro ponto (em vermelho) marca a de céu visível e obstruções no terceiro
localização escolhida. ponto escolhido
Fonte: Rayman Pro, adaptado pela autora, 2019. Fonte: Rayman Pro, adaptado pela
autora, 2019.
Neste terceiro ponto é possível observar uma condição mais favorável se comparada
com as duas anteriores. No diagrama correspondente à Figura 115 a parcela de céu visível é
bem maior que nos outros pontos. O programa calculou para este local um FVC de 0.48, e
uma obstrução do horizonte de 51,3%
Em todos os três pontos o FVC obtido demonstra que as áreas de obstrução são
maiores que as parcelas de céu visível. Isto se deve principalmente ao fato de se tratar de
uma porção de território urbano bastante adensada, embora pouco verticalizada em função
do limite de gabarito imposto pela Zona Especial de Preservação Histórica. No universo de
estudo muitos lotes não apresentam recuos laterais ou frontais, e as áreas livres consistem
principalmente nas três praças inseridas nele.
4.3.3 VENTILAÇÃO
projeto em questão, cujo clima é quente e úmido, ela é aplicável, como já mencionado, por
exemplo na seção 4.3, a respeito das recomendações da NBR 15220.
De acordo com Pedrini (2015, p.26), “Há ventilação quando há diferença de pressão
entre as aberturas. É possível identificar as diferenças de pressão por meio da identificação
dos coeficientes de pressão nas aberturas.”
Para verificar, portanto, as diferenças de pressão, foram realizadas simulações com
o programa Flow Design, que permite também identificar a ocorrência de esteira de vento.
Para melhor compreensão, apresentamos definição do que vem a ser este fenômeno:
Figura 116: Simulação referente à ventilação (em destaque, a edificação), em que azul escuro
corresponde à velocidade do ar próxima a zero.
Ainda em relação à ventilação, uma outra análise importante diz respeito à orientação
das aberturas. Segundo Cunha (2010, p. 36), “O ângulo de incidência do vento é determinante
no aproveitamento da ventilação natural, pois a orientação condiciona a distribuição de
pressão sobre as fachadas e coberta.” Considerando que os ventos predominantes vêm do
Sudeste, foi elaborada a figura abaixo, que demonstra de forma empírica o comportamento
dos ventos em relação à entradas e saídas.
noroeste, agem como saídas para os ventos. Também se percebe que há ambientes sem
aberturas para o exterior e, consequentemente, com a circulação de ar prejudicada. A
proposta necessita, portanto, considerar a necessidade de soluções que corrijam este
problema.
Quadro 5: Parâmetros relativos a propriedades térmicas dos materiais segundo as normas NRB
15220, RTQ-C e NBR 15575
Parâmetros recomendados para paredes
Atraso Fator de calor
Transmitância térmica (U) Absortância (
térmico (φ) solar (Fso)
NBR
≤ 3,60 W/m²K ≤ 4,3 W/m²K ≤ 4,0 W/m²K Não informado
15220
Inferior a 2,5 W/m²K, para
paredes com capacidade
térmica máxima de 80 kJ/m²K, Não 0,50 para nível
RTQ-C Não informado
e 3,7 W/m²K, para paredes informado A
com capacidade térmica
superior a 80 kJ/m²K
>0,6 quando U≤
NBR ≤ 2,5 W/m²K, quando >0,6 e Não 2,5 W/m²K e
Não informado
15575 <3,7 quando ≤0,6 informado ≤0,6 quando
U<3,7
Parâmetros recomendados para coberturas
NBR
≤ 2,3.FT ≤ 3,3 ≤ 6,5 Não informado
15220
Não 0,50 para
RTQ-C <2 W/m²K Não informado
informado níveis A e B
≤0,4 para
NBR Não
U ≤ 2,3 FV Não informado U≤2,3FV, e >0,4
15575 informado
para U ≤1,5FV
*FT: Fator de correção da transmitância
FV: Fator de ventilação
Fonte: adaptado pela autora a partir da NBR 15220, RTQ-C e NBR 15575, 2019.
Em relação à transmitância térmica, caracterizada por Pedrini (2017, p.15) como “[...] o
fluxo de calor transferido por um sistema construtivo quando há diferenças de temperaturas
104
Para o fator de calor solar, após a realização do seu cálculo (ver apêndice A), observou-
se, a partir de comparação com os valores estabelecidos, que este tipo de cobertura está de
acordo com as recomendações da norma.
Em relação à absortância, considerou-se novamente o valor relativo à cor “alumínio”
especificado pela NBR 15220, que é de 0,4, considerado um valor aceitável se comparado
com as recomendações.
A edificação já possui amplas aberturas nas fachadas, cujas janelas variam entre 0,54m
x 1,97m e 1,34m x 1,95m, com folhas de giro, que permitem 100% de abertura. Além disso,
107
as esquadrias voltadas para o exterior possuem venezianas (Figura 123) que permitem a
circulação do ar mesmo quando elas estão fechadas, e as portas internas contam com
bandeiras vazadas (Figura 122), que fazem com que o ar possa circular pelos ambientes
ainda que haja necessidade de fechamento.
Figura 122: Porta interna com bandeira que Figura 123: Porta de entrada com veneziana
permite a circulação do ar que favorece a circulação do ar
Figura 124: Vista da cobertura situada na Figura 125: Vista da cobertura sobre a porta
fachada sudeste de entrada e janelas na fachada sudoeste
Considerando que todo projeto necessita respeitar a legislação vigente, foi feita uma
análise das leis e normas que se aplicam ao caso em questão. Por se tratar de uma
intervenção no patrimônio cultural edificado, alguns critérios exigidos são diferentes se
comparados com outros tipos de projetos, como se verá adiante.
O imóvel escolhido encontra-se dentro da poligonal de tombamento do IPHAN (Figura
126), instituída pela Portaria nº 072 de 2014. Porém, na legislação federal, em especial o
Decreto-lei nº 25 de 30 de novembro de 1937, não há orientações objetivas a respeito da
elaboração de projetos desta natureza, resumindo-se a diretrizes gerais, como o artigo 17,
que assim estabelece:
Art. 17. As coisas tombadas não poderão, em caso nenhum ser destruidas,
demolidas ou mutiladas, nem, sem prévia autorização especial do Serviço do
Patrimônio Histórico e Artistico Nacional, ser reparadas, pintadas ou
restauradas, sob pena de multa de cincoenta por cento do dano causado.
(BRASIL, 1937, p. 4)
109
Além disso, de acordo com a Lei Municipal nº 3.942 de 1990, que instituiu a Zona
Especial de Preservação Histórica (ZEPH), a edificação está inserida na Subzona 02 (Figura
127), devendo, portanto, seguir as prescrições urbanísticas estabelecidas no anexo II da
110
Gabarito máximo
Estacionamento
natureza
Conforme
Tolerado
Ocupação
industrial.
Utilização
Pilotis
Conforto
Frontal
Lateral
Fundo
(2) Vide
anexo IX
fls. 01, 4,
4ª, 4b e
4c.
INS-1 Vide Art. 51 da Lei 3.175/84 Permitido Vide
INS-2 Vide Art. 51 da Lei 3.175/84 até 2 anexo
pvtos. VIII da
Proibido
S2(1) 360 12 1,6 80% 5 1,5 3
S-1 250 10 1,6 80% 5 1,5 3 (7,5m) Lei
CV 250 10 1,6 80% 5 1,5 3 3.175/
-1 84
RU 250 10 1,0 50% 250 5 1,5 3
Fonte: Lei Municipal nº 3.942, 1990.
Ainda no tocante ao Plano Diretor, o bairro de Cidade Alta, é classificado como Zona
Adensável, devendo então serem seguidos os recuos observados na Figura 128. Aqui a
situação é similar àquela referente aos índices urbanísticos: a lei municipal 3.942 previu a
utilização dos recuos da versão já revogada, de 1984, do Plano Diretor, por isso remete-se ao
plano atual. Quanto aos índices urbanísticos, estes devem ser de até 80% para taxas de
impermeabilização e de ocupação, e coeficiente de aproveitamento máximo igual a 3,0.
exigências, como recuos, por exemplo. A edificação, é implantada no limite do lote, no caso
da fachada voltada para a Praça Padre João Maria. Buscar a criação de um recuo frontal
significaria a demolição da fachada, o que é inaceitável. Por esta razão a proposta buscou a
qualificação do imóvel, conciliando o atendimento ao Plano Diretor dentro daquilo que é
possível sem descaracterizar a edificação, com soluções que visam atender as necessidades
relativas ao uso proposto.
Quanto ao Código de Obras, em seu artigo 124, inciso VI, ele estabelece que pode ser
dispensada a reserva de área para estacionamento em caso de imóveis tombados ou de
interesse histórico, cultural e artístico, independente do uso pretendido. No caso em questão,
é este direcionamento que será adotado, considerando que no terreno da edificação não há
espaço disponível para criação de um estacionamento.
No rearranjo dos ambientes devem ser consideradas também as áreas mínimas dos
compartimentos, estabelecidas no artigo 14 do Código de Obras, e a relação entre a superfície
das aberturas voltadas para o exterior e as áreas dos ambientes. Esta relação não poderá ser
inferior a 1/6 (um sexto) para ambientes de uso prolongado, e 1/8 (um oitavo) para ambientes
de uso transitório.
Em se tratando de banheiros, o Código de Obras estabelece que é admissível, em
caso de reforma, a instalação de um único banheiro para ambos os sexos, desde que este
atenda as exigências relativas à acessibilidade.
Quanto à legislação estadual referente a segurança contra incêndio e pânico, o artigo
13 da Lei Estadual nº 601 de 2017 (Código Estadual de Combate a Incêndio e Pânico),
estabelece que as edificações não enquadradas no artigo 12 são consideradas de baixo risco,
o que é o caso do empreendimento em questão.
Por fim, quanto à acessibilidade, a NBR 09050 de 2015 assim define:
referentes ao projeto, que permitiram orientar as futuras soluções. Esta definição consiste em
uma busca pela identificação de restrições e potenciais soluções relacionadas a elas, como
afirmam Andrade, Ruschel e Moreira:
elaboração deles faz parte do processo de análise que, segundo Lawson (2011), estão
envolvidas na relação entre problema e solução (Figura 130).
Figura 132: Choro no Caçuá, um dos exemplos de ocupação temporária. Ocorre duas vezes
por mês na praça Padre João Maria.
Figura 133: Barracas de artesanato ao lado Figura 134: Barracas de artesanato em frente
do Banco do Nordeste à edificação escolhida.
Embora haja uma grande quantidade de barracas, há apenas seis artesãos atualmente,
visto que alguns abandonaram os equipamentos e outros faleceram. As barracas que ficaram
sem proprietários foram então ocupadas por aqueles que permanecem no local, o que fez
com que cada um dos artesãos possuísse mais de uma.
118
Figura 135: Casa do Cordel, na Rua Vigário Figura 136: Estação do Cordel, em frente a
Bartolomeu. Praça P. João Maria.
Figura 137: O Beco da Lama após Figura 138: Na esquina, o Museu Café Filho
intervenções artísticas
Figura 139: Banca utilizada atualmente Figura 140: Exemplo de mobiliário utilizado
pelos artesãos. para exposição de artesanato, com prateleiras.
A escolha por esse modelo permite, portanto, que os artesãos disponham de uma
estrutura adequada para exporem seus produtos, ao mesmo tempo em que garante mais
tempo para que eles possam produzir, na medida em que uma loja deste tipo não exige que
eles estejam presentes no estabelecimento ao longo de todo o expediente.
Além disso, a possibilidade de uma loja física garante condições de funcionamento
melhores que as existentes atualmente. Hoje eles estão expostos a intempéries, o que
inviabiliza o comércio em dias de chuva. Também não possuem acesso a banheiro,
dependendo de estabelecimentos próximos para isso. Acrescenta-se ainda a vulnerabilidade
à violência, o que é preocupante em especial por haver idosos entre os artesãos.
6.2 SEBO
O sebo de livros é um uso já existente. Por esta razão, optou-se por identificar quantos
metros quadrados de área atualmente são ocupados, a fim de servir de parâmetro para o
dimensionamento da proposta. Na Figura 141 estão em destaque os ambientes que
123
A equipe de funcionários do sebo hoje é composta apenas pelo seu proprietário e uma
assistente. O estabelecimento atualmente também possui uma loja online (Figura 142), que
hoje é responsável por boa parte das vendas. Para seu funcionamento, a loja possui um
computador, havendo, portanto, a necessidade de um espaço para tal, a ser disponibilizado
na proposta.
Figura 142: Loja virtual do sebo, atualmente com mais de dois mil livros anunciados
6.3 CAFÉ
Fonte: https://www.google.com/maps,
2019.
6.4 ATELIER
O atelier foi pensado para ser utilizado como espaço para oficinas, o que seria uma
forma de gerar mais renda. Também pode ser um local disponível à comunidade artística do
entorno para realização de encontros e reuniões. É o caso, por exemplo, da Academia Norte
Riograndense de Cordel, que atualmente encontra-se sem sede, e poderia fazer uso deste
espaço.
Além disso, as oficinas também são uma forma de valorizar os saberes dos artesãos,
perpetuando-os e contribuindo para que sejam preservados ao serem transmitidos para outras
pessoas. O artesanato, embora possa ser produzido de maneira individual, é fruto de todo um
coletivo que compartilha o conhecimento do fazer de geração em geração. Sua produção traz
consigo a inspiração do artesão, a sua habilidade para criá-lo e a história de vida por trás
daquele conhecimento. Não é por acaso que diversos saberes deste tipo já foram registrados
como patrimônio imaterial pelo IPHAN. Oferecer oficinas à comunidade, dentro de um espaço
pensado para os artesãos é, portanto, uma forma de valorizar e perpetuar a história deles,
além de contribuir para que estes possam ter uma renda melhor.
A respeito do ambiente em si, considerou-se o mobiliário necessário para a realização
das atividades, que consiste em uma mesa ampla, com cadeiras, e armários para o
armazenamento do material para produção do artesanato. O dimensionamento partiu,
portanto, do layout do ambiente, chegando-se a 20 m².
126
6.6 BANHEIROS
intenção de retomar a relação entre a edificação e o exterior, uma vez que, quando construída,
ela possuía acessos por todas as fachadas.
A elaboração do funcionograma também permitiu observar que o hall de entrada
deveria ter um uso compatível com a função de passagem para o café e a loja. Por esta razão
propôs-se um memorial, em que poderia ser contado o histórico da edificação, desde sua
construção até a intervenção, da praça e de fatos históricos do lugar. A criação de um
memorial também cumpre função em relação à documentação da intervenção. O registro do
projeto, das alterações realizadas, contribui para a preservação da história do bem para
gerações futuras e pode auxiliar em novas intervenções.
Em relação ao atelier, não há necessidade de ligação direta entre ele, o café/sebo ou
a loja. Na verdade, é interessante um certo afastamento, considerando que se trata de um
espaço destinado a oficinas e reuniões, em que um baixo nível de ruído é desejável.
Quanto aos banheiros, é importante que estes fiquem próximos aos ambientes que
possuem uso mais frequente. Por isso eles aparecem relacionados com a loja e o café/sebo.
E por último, em relação ao deck e o terraço, é interessante que ambos tenham ligação
com o café/sebo. O primeiro em virtude da possibilidade de utilização para disposição de
mesas, e o segundo em razão dos eventos que poderão ser realizados e terem o café como
apoio para fornecimento de bebidas e alimentos.
129
Lawson (2011, p.55) afirma que “O mais provável é que projetar seja um processo no
qual problema e solução surgem juntos. Muitas vezes, o problema pode não ser totalmente
compreendido sem alguma solução aceitável para ilustrá-lo.” O processo de elaboração deste
130
quadro consistiu nesta busca por compreender as questões projetuais envolvidas e quais
soluções poderiam ser adotadas para elas.
A partir de então, passou-se para o desenvolvimento do conceito e a definição do
partido.
O partido, por sua vez, pode ser entendido como parte da fase de síntese descrita por
Lawson (2011), já que é nela em que são concebidas as soluções capazes de resolver os
problemas e atender os requisitos levantados durante a fase anterior. Segundo Lemos (2012,
p. 38), “Partido seria uma consequência formal derivada de uma série de condicionantes ou
de determinantes; seria o resultado físico da intervenção sugerida.” Em resumo, enquanto o
conceito é associado a uma ideia norteadora da proposta, o partido seria a expressão dessa
ideia.
Embora nem todo projeto arquitetônico possua um conceito, visto que cada arquiteto
é livre para adotar o método que melhor se adeque ao seu processo, na presente proposta
ele surgiu de maneira natural, como uma consequência da própria questão problema, que
retomamos: é possível a integração da edificação com o entorno através da sua
requalificação?
Integração então passou a ser o conceito aplicado à proposta, que se expressa através
da relação entre edificação, entorno e economia solidária. Em consonância com a definição
de McGinty, o termo engloba requisitos e características almejados para a proposta. Busca-
se integrar a edificação com o entorno, e a economia solidária se insere na proposta como
131
Mas a integração não ocorre somente de forma física. Ela pode ser observada também
através do sentido de abraçar a comunidade. Existe vida na Praça Padre João Maria, palco
de diversos eventos culturais, sociais e religiosos, e a edificação, enquanto espaço cultural,
pode integrar-se a eles, seja sob a forma de um ponto de apoio às atividades, seja incluindo
os usuários do entorno, como os artesãos, nos usos permanentes da edificação.
A economia solidária vem então permitir, sob a forma de uma associação, a
organização deste espaço, para que ele possa de fato integrar e funcionar como um lugar em
que os trabalhadores encontrem a igualdade e solidariedade através da autogestão, diferente
do modelo tradicional de empregador e empregado, em que comumente este último não tem
direito a voz.
Em relação a esta associação, se faz necessária uma distinção entre os associados.
Há aqueles que atuam de forma permanente e aqueles que fazem uso do espaço de forma
temporária. Os primeiros possuem participação nos lucros e os segundos contribuem para
fazer uso eventual de espaços como o atelier, para reuniões, ou para ter acesso a descontos
132
em produtos e serviços ofertados pelo estabelecimento. Seriam então, nesta ordem, os sócios
fundadores e os sócios colaboradores.
Assim, a economia solidária sob a forma de associação pode permitir a concretização
deste conceito de integração, visto que não basta edificar, para que a proposta funcione é
necessária uma forma de gestão eficiente. Segundo Hertzberger (1999), são entidades assim,
pequenas e funcionais, que contribuem para a emancipação face a um sistema de decisões
centralizadas. Emancipação esta que contribui para motivar os participantes:
“O mundo que é controlado e administrado por todos e para todos terá de ser
construído com entidades pequenas e funcionais, não maiores do que as
capacidades de cada um para mantê-las. Cada componente espacial será
usado mais intensamente (o que valoriza o espaço), ao mesmo tempo em
que se espera que os usuários demonstrem suas intenções. Mais
emancipação gera mais motivação, e deste modo pode-se liberar a energia
represada pelo sistema de decisões centralizadas.” (HERTZBERGER, 1999,
p. 47)
Ainda em relação ao entorno, embora a proposta de anteprojeto não seja voltada para
a requalificação deste, é possível traçar intervenções pontuais a fim de promover a integração
134
entre ele e a edificação. Para isto, adotou-se como diretriz a eliminação de barreiras visuais e
ao pé, e a priorização do pedestre.
Dentre as ações já realizadas pela Artesol está a Rede Artesol, criada com o objetivo
de contribuir com a relação entre os agentes da cadeia produtiva; inventariar técnicas e
tradições culturais ameaçadas pelo esquecimento; e incentivar novos negócios através da
criação de uma plataforma digital a ser utilizada como vitrine para o artesanato brasileiro. A
rede é composta por espaços culturais, artesãos, associações, lojas, mestres e artistas
populares e programas de fomento. Através dela, empreendimentos como o proposto podem
se associar e passar a compô-la para, dessa forma, beneficiar-se com capacitações,
consultorias, divulgação de sua produção, dentre outros.
Entre as organizações vinculadas à Artesol está a Aproarti – Associação dos
Produtores de Artesanato, Gestores Culturais e Artistas de Icó. Fundada em 2005, a partir da
reunião de artistas, gestores e artesãos em prol de um objetivo em comum, o desenvolvimento
da produção cultural, atualmente possui nove núcleos, voltados para o artesanato, teatro,
música, dança, artes plásticas, literatura, patrimônio histórico, gastronomia e decoração. No
artesanato, por exemplo, há a produção inspirada no sítio histórico de Icó, tombado pelo
IPHAN em 1998. Os produtos são vendidos na loja da associação, em feiras regionais e
inclusive fora do Brasil (Figura 152).
mais conforto. A mesma proposta incluía também uma paginação de piso que direcionasse o
olhar dos usuários, como forma de tornar mais perceptível a relação entre edificação e
entorno. O resultado pode ser observado na figura abaixo.
Figura 153: Primeiro estudo, voltado para a relação entre edificação e entorno.
Esta proposta inicial foi parcialmente descartada, em virtude das limitações legais
relativas ao gabarito, o que impediria a construção da cobertura sobre a edificação e,
consequentemente, o espelhamento desta.
Saindo da escala macro, e adentrando na escala micro, a figura abaixo ilustra a ideia
do deck e do mirante. Neste momento surgiu o questionamento de onde inserir uma escada
para dar acesso a este novo pavimento.
Elaborou-se uma nova proposta para a cobertura (Figura 158), que foi resultado da
união das duas anteriores: com a forma da primeira, mas suspensa sobre a edificação. Assim
foi possível causar uma menor interferência na fachada em comparação com a primeira
proposta de cobertura (Figura 156). Houve a necessidade de retirada da cimalha apenas para
a inserção da porta de acesso ao mezanino. Esta intervenção foi então marcada por um
elemento com a mesma forma em “L” da cobertura, de maneira a manter a mesma linguagem
desta e garantir a distinguibilidade.
141
Posteriormente foi elaborada uma maquete física da proposta (Figura 159 e Figura
160), na qual foi possível observar que a nova cobertura, a partir do nível da rua, não aparece
em ângulos importantes, sendo visível somente a edificação preexistente e o deck. A proposta
busca o respeito à escala do edifício, portanto este resultado foi considerado positivo.
Figura 159: Visualização a partir da esquina Figura 160: A partir da fachada frontal não se
entre a praça e a Rua Voluntários da Pátria percebe a existência da nova cobertura nos
fundos
Além disso, foi por meio da maquete que se iniciaram os primeiros estudos da nova
estrutura do mezanino, através da distribuição dos pilares e vigas nos ambientes (Figura 161
e Figura 162). Buscou-se posicioná-los de forma a evitar o fechamento de aberturas nas
fachadas, uma vez que a proposta pretende preservá-las.
142
Figura 161: Primeiros estudos da estrutura Figura 162: Estudo do mezanino sobre a
(em vermelho). estrutura.
Por fim, retornou-se aos estudos em relação ao entorno. Para isto, foi retomada a
primeira proposta (Figura 153), da qual diversas soluções passaram a ser adotadas como
diretrizes pra a proposta final, conforme se observa na Figura 163. O item 1 corresponde à
elevação da via ao nível da praça, a fim de eliminar a segregação do espaço, atualmente
destinado exclusivamente para veículos, em frente à edificação. O item 2 diz respeito a uma
demanda já existente no local. Atualmente os veículos sobem a praça, quebrando seu piso,
para terem acesso à Rua da Conceição. Uma alternativa seria viabilizar este acesso através
da criação de uma rampa, e a marcação da área de tráfego seria feita apenas pela
diferenciação na paginação do piso (item 3). Uma outra diretriz diz respeito às bancas de
revistas e de frutas (item 4). Como a proposta busca a integração com a comunidade, optou-
se por manter estes usos existentes no anteprojeto. As marcações em verde (item 5) no piso
da praça dizem respeito a uma delimitação de área destinada a intervenções artísticas por
parte da comunidade local, seguindo a mesma ideia do processo de revitalização ocorrido no
Beco da Lama, que contou com pinturas feitas por artistas locais. Estas pinturas poderiam ser
refeitas periodicamente, a partir de edital de seleção. Em Natal este tipo de edital já é feito
pela Prefeitura. Uma outra diretriz seria a ampliação da arborização da praça, que em outros
tempos fornecia sombra aos foliões durante o carnaval e crianças que brincavam no local,
conforme descrito no item 4.2.1. E por último, retomou-se a ideia do terraço, desta vez sem a
necessidade de criação de um volume para a escada. O acesso foi proposto a partir do novo
mezanino. Na imagem abaixo é possível ver a escada ao lado da nova cobertura (em
vermelho).
143
A proposta final, é uma junção de soluções pensadas e expressas em cada uma das
figuras desta seção. Na Figura 164 apresentamos quais soluções foram adotadas de cada
uma das propostas descritas anteriormente. O desenho com transparência corresponde a
proposta totalmente rejeitada. Ao lado de cada imagem estão descritas as soluções
arquitetônicas que passaram a compor a proposta final (texto na cor preta), e as descartadas
(texto na cor vermelha). As propostas são representadas em círculo porque é uma forma que
não apresenta começo ou fim. No processo de projetação que acabamos de descrever, e no
detalhamento da proposta final, que é tema da seção seguinte, é possível observar que em
alguns momentos as soluções anteriormente descartadas são retomadas (como o
mirante/terraço, que surge na primeira proposta, é descartado e posteriormente retomado na
proposta final). A união de todas estas ideias, expressas por desenhos, compõe a linha de
raciocínio até se chegar no anteprojeto. Mesmo as propostas descartadas revelam-se como
parte importante do processo, na medida em que permitem identificar soluções que não
funcionariam. Por esta razão o círculo é composto de todos os desenhos, rejeitados ou não.
144
Figura 164: Detalhamento das soluções adotadas (em preto) e descartadas (em vermelho)
A proposta final consiste em uma edificação com dois pavimentos (térreo e mezanino)
e um terraço. Na seção 7.2, que aborda a postura intervencionista da proposta, foi feito um
enquadramento desta entre a continuidade e a justaposição contextual, de acordo com as
categorias propostas por Tiesdell, Oc e Heath e descritas por Vieira-de-Araújo (2006), já
detalhadas no referencial teórico-conceitual. A criação de um mezanino e um terraço, da forma
como foram propostos, transita entre estas duas categorias. O terraço é uma intervenção que
faz uso de novos materiais, e embora se trate de uma nova cobertura, não traz alterações à
fachada ou à leitura do conjunto, o que é positivo em relação aos conceitos de autenticidade
e integridade. O acesso a ele, como se verá mais adiante, também foi solucionado de maneira
a não causar alterações em partes preservadas da edificação, por meio de uma escada em
chapa metálica, que garante a distinguibilidade da intervenção, em um volume já bastante
descaracterizado internamente. O mezanino, por sua vez, é uma solução arquitetônica que
traz a marca de seu tempo e contrasta com a edificação preexistente, na medida em que é
encaixado dentro do volume, alterando o pé direito em partes da edificação e introduzindo
toda uma nova estrutura independente. O acesso a ele, diferente do que ocorre com o terraço,
é feito por uma escada (detalhada ainda nesta seção) que, embora situada em posição
recuada em uma fachada cega, não passa desapercebida, por demandar uma nova cobertura
para protegê-la de intempéries. Ao longo desta seção serão apresentadas as soluções e
descrita a relação com a postura adotada. Para isto, primeiramente serão detalhados os três
pavimentos.
No pavimento térreo foram alocados o memorial, sebo/café, loja colaborativa e
banheiros (Figura 165). Trata-se de ambientes que, com exceção dos banheiros, no estudo
do funcionograma (Figura 147) foram relacionados diretamente com acessos ao exterior. Por
esta razão optou-se por localizá-los no pavimento térreo.
Quanto aos banheiros, ainda em relação ao funcionograma, na seção 6 afirmou-se
que estes deveriam ser posicionados próximos aos ambientes de uso mais frequente (loja
colaborativa e sebo/café). Considerou-se também a necessidade de fácil acesso ao dispô-los,
portanto, no térreo. A sua construção demanda alterações na edificação, como a inserção de
instalações hidráulicas, e a consequente quebra de pisos e revestimentos. Eles foram então
inseridos no volume posterior (o mesmo onde foi inserida a escada de acesso ao terraço),
que já se encontra bastante descaracterizado, como se verá ainda nesta seção.
Em relação ao memorial, na seção 6 também foi abordada a necessidade de um uso
para o hall de entrada que fosse compatível com o acesso para o café e a loja. O memorial,
portanto, cumpre a dupla função de lugar de passagem entre estes ambientes e o exterior, e
de registro do histórico da edificação, da praça e entorno.
146
O terraço (Figura 170) foi proposto para funcionar como mirante e, eventualmente,
espaço para realização de eventos. Como já explicitado na seção 7.1, o conceito de
integração também pode ser aplicado através da criação de um espaço que permita aos
usuários observarem todo o entorno a partir de uma posição privilegiada. Este lugar de
observação torna-se ainda mais desejável por se tratar de uma edificação inserida no centro
histórico da cidade (Figura 171). Em relação à postura adotada, entende-se que se trata de
uma solução mais próxima da continuidade contextual, na medida em que dialoga com a
150
Figura 171: Vista do entorno a partir do mirante (ao fundo a torre da Igreja Matriz).
Por ser uma área descoberta e exposta a intempéries, o terraço necessita de solução
relativa à drenagem. Para isto, foi prevista a captação de água da chuva por meio de um
sistema que a recolheria a partir de grelhas instaladas no piso, e a armazenaria em um
reservatório inferior, localizado conforme se observa na Figura 172, que corresponde à área
do pergolado. Esta água poderia ser utilizada na rega nas novas áreas verdes criadas na
proposta. O cálculo deste reservatório e dos demais pode ser visto no apêndice B.
O acesso ao terraço é feito por uma escada a partir do mezanino. Esta escada foi
posicionada no volume posterior da edificação, que já se encontra bastante descaracterizado
(Figura 173). Desta forma, evita-se maiores alterações em partes da edificação que se
encontram preservadas.
Figura 173: Vista de um dos ambientes do volume posterior. Aos fundos a parede que faz
divisa com o lote vizinho.
Figura 175: Forro da sala de Figura 176: Forro de um dos Figura 177: Forro do hall de
jantar. quartos (sebo/café na entrada.
proposta).
8.1 PAREDES
Figura 178: Acesso entre o hall de entrada e Figura 179: Detalhe da parede do novo
a sala de jantar, interseccionado pela parede ambiente sobre o ladrilho hidráulico da sala
do ambiente construído a partir da sala de de jantar.
jantar.
Figura 181: Vista do sebo/café (térreo), em que se observa a marcação da parede da sala de
jantar, que foi removida.
A remoção das paredes, como se observa na figura abaixo, também contribuiu para
uma melhora na circulação do ar, em comparação com a situação atual em que se encontra
a edificação (ver Figura 120). Na proposta, somente os banheiros não possuem ventilação
natural, devendo ser utilizada a ventilação mecânica.
Figura 182: Comportamento dos ventos em relação a entradas e saídas de ar na planta proposta.
8.2 DECK
Foi proposto um deck externo com piso de vidro e estrutura metálica (Figura 183),
onde antes existiam as ampliações voltadas para a Rua Voluntários da Pátria. A escolha pelo
vidro reforça a ideia de integração, na medida em que a sua transparência permite visualizar
o solo abaixo dele como uma continuidade do entorno até o seu encontro com a edificação.
O deck também cumpre outra função importante, de acessibilidade. A edificação foi
construída a 76 cm de altura em relação à calçada, inviabilizando o acesso de cadeirantes.
Com a construção do deck foi possível propor uma rampa, e garantir que os usuários possam
circular pela edificação com maior flexibilidade, através de três portas voltadas para o exterior,
que foram reabertas.
Figura 183: Fachada da Rua Voluntários da Pátria, onde se observa o deck e a rampa.
O projeto visa a mínima alteração dos elementos que compõem as fachadas. Por esta
razão a escada e sua cobertura foram dispostas em uma posição recuada, ao lado de uma
fachada cega. A cobertura, em balanço, foi pensada para aparentar flutuar sobre o prédio, e
não tocar a fachada. A preocupação em não remover adornos das fachadas já foi explicitada
na seção 7.4, quando foi descrito o processo de desenvolvimento desta cobertura, no qual a
primeira proposta foi descartada em virtude de demandar a retirada de grande parte da
cimalha (Figura 156). Na proposta final esta alteração foi reduzida a apenas um trecho da
cimalha, que foi removido para inserção da porta de acesso ao mezanino. Esta intervenção
foi marcada por um elemento com a mesma forma em “L” da cobertura, de maneira a manter
a linguagem da proposta (Figura 184).
Este conjunto de soluções para o acesso ao mezanino, composto por escada,
cobertura e marcação da porta de entrada enquadra-se como uma justaposição em relação à
edificação preexistente. De acordo com Vieira-de-Araújo (2006, p. 290) “Os defensores desta
opção acreditam que a ordem harmônica pode ser alcançada através da justaposição de
edificações de diferentes épocas, cada uma representando a expressão do seu próprio
tempo.”. Na proposta, buscou-se esta harmonia através do respeito à escala do edifício, da
159
Figura 186: Simulação da fachada nordeste Figura 187: Máscara de sombra da fachada
com a nova cobertura nordeste após a inserção da nova cobertura
8.4 PERGOLADO
8.5 ACESSIBILIDADE
da outra, reduzindo assim o percurso do cadeirante (Figura 192). Com estas soluções a
edificação passa a ter todos os pavimentos acessíveis a estes usuários.
8.6 ENTORNO
Figura 193: Intervenções propostas para a Praça Padre João Maria e entorno.
Figura 194: Vista da via elevada entre a praça e a edificação e da área de intervenções
artísticas.
onde já existiam árvores. O ipê amarelo é uma espécie recomendada pelo Manual de
Arborização Urbana da Prefeitura de Natal (2009) para utilização em calçadas e áreas
públicas, sendo considerada de médio porte. A escolha por esta espécie levou em
consideração esta recomendação, associada ao fato de se tratar de uma árvore cuja
coloração da floração traz alegria ao ambiente urbano e à Praça, que outrora também foi da
Alegria. Não foi proposta arborização para a área de intervenções artísticas com o intuito de
mantê-la livre para a realização de eventos.
A distinguibilidade, ainda no século XIX aparece, por exemplo, na obra de Boito (2002,
p. 61), quando este afirma que “é necessário que os completamentos, se indispensáveis, e as
adições, se não podem ser evitadas, demonstrem não ser obras antigas, mas obras de hoje”.
Já no século XX, o conceito é mencionado na Carta de Atenas (1931, p. 3), quando, ao
abordar intervenções em ruínas, afirma-se que “os materiais novos e necessários a esse
trabalho deverão ser sempre reconhecíveis”. Posteriormente, em 1963, Brandi (2005, p.47)
trata do mesmo conceito ao afirmar: “Derivarão disso alguns princípios que, por serem
práticos, não poderão, por isso, dizer-se empíricos. O primeiro é que a integração deverá ser
sempre facilmente reconhecível.”
A reversibilidade é um outro conceito discutido quando se fala em intervenções no
patrimônio. Como já mencionado no referencial téorico-conceitual, Brandi (2005, p.48), ainda
ao abordar princípios relativos ao restauro, demonstra sua preocupação com a reversibilidade
ao afirmar que “O terceiro princípio se refere ao futuro: ou seja, prescreve que qualquer
intervenção de restauro não torne impossível mas, antes, facilite as eventuais intervenções
futuras.” A reversibilidade também visa, portanto, facilitar estas novas intervenções.
No entanto, em outro contexto, a reversibilidade é também uma característica das
estruturas metálicas. A este respeito, Teobaldo afirma:
preexistência e a nova intervenção, será necessária uma maior atenção por parte do arquiteto.
Cita-se como exemplo a Estação da Luz (Figura 198) em São Paulo, que possui uma ampla
cobertura em estrutura metálica. Em uma situação hipotética de intervenção futura, a
utilização do mesmo tipo de estrutura dependeria da criatividade do arquiteto para garantir a
clareza de leitura entre novo e antigo.
Figura 198: A Estação da Luz no ano de 1900, onde se observa a estrutura metálica.
Figura 200: Fachada voltada para a Rua Voluntários da Pátria, onde se observa o deck
externo, composto por perfis metálicos e piso de vidro.
Para a escada, buscou-se propor uma solução que aparentasse uma forma leve, e que
interferisse o menos possível nas fachadas da edificação. Por esta razão, optou-se pela
utilização de chapa metálica. Na Figura 202 observa-se um exemplo de escada executada
com este material.
O Steel Deck surgiu nos Estados Unidos nos anos 1950. Trata-se de uma laje
composta por uma telha de aço galvanizado em forma trapezoidal sobre a qual se dispõe uma
armadura e uma camada de concreto (Figura 203). Trata-se, portanto, de um tipo de laje que
não existia na época da construção da edificação, o que facilita a percepção de que se trata
de uma adição posterior.
171
Figura 204: Sistema de instalação do ACM com total estanqueidade, através do uso de
silicone.
Na seção 2.2, que trata do referencial teórico-conceitual, foi feita uma explanação a
respeito das posturas intervencionistas ao longo da história, desde Viollet-Le-Duc até
categorias de uniformidade, continuidade e justaposição contextual, desenvolvidas por
Tiesdell, Oc e Heath. Com base neste referencial, e conforme descrito na seção 7.2, optou-
se por uma postura situada entre a continuidade e a justaposição. Ao longo do presente
capítulo foram detalhadas as soluções arquitetônicas propostas, que transitaram entre estas
duas posturas.
174
O deck, o mezanino, a escada de acesso a ele e a cobertura com forma em “L” sobre
esta escada aproximaram a intervenção da justaposição. Conforme observado no referencial
teórico, esta postura tende a enfatizar as marcas do tempo, propondo soluções
contemporâneas por vezes contrastantes em relação à edificação em que se pretende intervir.
Nas quatro intervenções mencionadas isto se reflete através do uso de materiais e sistema
construtivo diferentes daqueles utilizados na edificação preexistente, construída em tijolo
maciço e com características ecléticas. A opção pela estrutura metálica e utilização do ACM
transparece a diferença entre os novos elementos e os antigos.
Por outro lado, soluções como a demolição das obstruções voltadas para a Rua
Voluntários da Pátria, o pergolado, e o terraço aproximam a intervenção da continuidade
contextual. No referencial teórico destacou-se que esta postura busca a preservação da leitura
do conjunto de maneira que as marcas do tempo sejam claras. Estas intervenções
aproximam-se desta postura na medida em que promovem a valorização da volumetria
preexistente, hoje em segundo plano a partir da Rua Voluntários da Pátria, respeitam a escala
do edifício e são realizadas de maneira a dar mais ênfase à preexistência do que às novas
intervenções.
De maneira geral, portanto, a proposta é composta por soluções que condizem com a
escolha por uma postura situada entre a continuidade e a justaposição contextual, hora
aproximando-se mais de uma ou de outra. Esta transitoriedade entre posturas exemplifica a
complexidade do ato de intervir em edificações de valor patrimonial, diante da quantidade de
variáveis a serem levadas em consideração, e destaca a importância de um juízo crítico em
relação a cada uma das decisões projetuais a serem tomadas. Juízo este observado em
posicionamentos de teóricos como Riegl e Brandi, conforme já explicitado na seção 2.2.
175
9 CONSIDERAÇÕES FINAIS
E por fim, em relação ao último dilema, que diz respeito à intervenção sem prejuízo
para a autenticidade e integridade da edificação (Figura 208), entende-se que as metas
traçadas foram alcançadas. A utilização de estrutura metálica por toda a edificação
(mezanino, terraço, deck, escadas e cobertura da escada externa) garantiu a distinguibilidade
e reversibilidade da intervenção. Além disso, a proposta como um todo buscou intervir
minimamente em elementos característicos da edificação, como suas fachadas e adornos, ao
mesmo tempo em que buscou valorizar a volumetria da edificação, eliminando ampliações
que trouxeram prejuízos ao conjunto.
178
Figura 210: Vista a partir da Rua Voluntários da Pátria, onde é perceptível a nova cobertura.
Sobre o objetivo geral do trabalho, entende-se que este foi atendido. A integração
almejada e definida como parte do objetivo geral foi observada em algumas soluções, como
a nova relação entre edificação e entorno, proporcionada pela demolição das ampliações e
criação de um deck de vidro, pensado para transmitir a ideia de continuidade do entorno até
a edificação a partir da visibilidade do solo por baixo dele, o novo terraço, que se constitui em
um espaço a partir do qual é possível a visualização de todo o entorno, e o envolvimento da
comunidade na proposta através dos usos escolhidos. As diretrizes traçadas em relação ao
entorno (Figura 163) também contribuíram para que no anteprojeto as soluções propostas
viessem a favorecer essa integração.
Quanto aos objetivos específicos, é possível afirmar que o anteprojeto os alcançou
integralmente. O referencial teórico proporcionou o conhecimento a respeito de posturas
intervencionistas contemporâneas, e auxiliou na definição daquela que seria adotada na
proposta, enquanto que a identificação de formas de uso e apropriação dos espaços púbicos
no entorno ocorreu ao longo do processo, através de visitas in loco e pesquisas via internet,
que possibilitaram conhecer as atividades culturais, religiosas e sociais que ocorrem no local.
E, finalmente, a escolha pelo uso cultural contribuiu para a integração entre edificação e
entorno, na medida em que a praça se apresenta na proposta como um espaço para onde as
atividades do empreendimento podem se estender.
180
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R=
Onde:
e= espessura
λ=condutividade térmica
𝜌. 𝑐
𝜑 = 1,382. 𝑒√
3,6. 𝜆
Onde:
φ é o atraso térmico;
e é a espessura da placa;
λ é a condutividade térmica do material;
ρ é a densidade de massa aparente do material;
c é o calor específico do material.
1600.0,92
𝜑 = 1,382.0,35√
3,6.0,90
𝜑 = 0,48√454,32
𝜑 = 8,1
187
FSo = 4.U.α
FSo = 4 x 1,83 x 0,4 (cor “alumínio”)
FSo = 2,93
Cálculo da capacidade térmica das paredes de tijolo maciço
FSo = 4.U.α
FSo = 4 x 1,16 x 0,4 (cor “alumínio”)
FSo = 1,85
Cálculo do reservatório de água pluvial pelo Método Prático Inglês (TOMAZ, 2007)
V = 0,05 x P x A
Onde:
P é a precipitação média anual, em milímetros;
A é a área de coleta, em metros quadrados;
V é o volume de água aproveitável e o volume de água da cisterna, em litros.
V = 0,05 X 206,93mm4 X 175,27m²
V = 1.813 litros
Cd = P x q
Onde:
Cd = consumo diário (litros/dia);
P = população que ocupará a edificação e
q = consumo per capita (litros/dia)
4
A precipitação média anual corresponde à média do ano de 2008, de acordo com o anuário de Natal
de 2016, no qual constam as médias anuais desde 1997 até 2015. O ano de 2008 foi o que apresentou
a maior média.
188
V=Qxt
Onde:
V = Volume da reserva técnica de incêndio em litros;
Q = É a vazão em litros por minuto de dois jatos de água do hidrante mais desfavorável
hidraulicamente, conforme item 5.3.3 e Tabela 1 da NBR 13.714;
t = É o tempo de 60 minutos para sistemas tipo 1 e 2, e de 30 minutos para sistema tipo 3.
V = (100l/min + 100l/min5) X 60 min
V= 12.000l
5
Vazão dada pelo item D.3 do anexo D da NBR 13714 de 2000.
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Mapa de Localização - bairro Cidade Alta
escala 1:10000
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Rua
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4.79
5.69
4 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
3 CENTRO DE TECNOLOGIA
2 DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO
LEGENDA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA
1
MESTRADO PROFISSIONAL EM ARQUITETURA,
Projeção da edificação 8
1.6 PROJETO E MEIO AMBIENTE
1.54
1.7
1.36
1.44
0
TELHA CERÂMICA
.24
2.25
1.29
.28 Sobe
2.38 TELHA DE FIBROCIMENTO
ASSUNTO: Memórias da Alegria: uma proposta de espaço cultural e
.35
.33
.33
.33
2.65
.15
3.96
4.64
.34 4.00 .33 3.40 .34 2.72 .15
PISO EM LADRILHO patrimonial no bairro de Cidade Alta, Natal-RN
HIDRÁULICO
4.00 4.06 2.87 CONTEÚDO: Plantas de Situação e Cobertura - Situação Atual
18.25
LAJE IMPERMEABILIZADA LOCALIZAÇÃO: Praça Padre João Maria, nº 71, Cidade Alta, Natal - RN
Planta de Cobertura - Situação Atual
escala 1:50
ETAPA: Anteprojeto
ESCALA: indicada
11.80
.15
.15
.15
N
.32
.29
16 Viga e forro em gesso a serem
removidos
2.00
17 Porta a ser removida
2.83
restaurada
2.89
.15
4.42
6.40
.33
2.54
.36
.15
14 Porta existente em madeira 15 Piso cerâmico a ser
.15
.61
com bandeira vazada substituído
2.62
5.60
.10
.29
1.47
2.09 .32 2.90 .35 2.03 .15 1.20 .33 1.54 .15 3.47 .15 2.52 20 Piso em ladrilho hidráulico
.15 existente a ser restaurado
.99
.26
147
.35
.34
°
23
.34
.34
22
4.99
146°
ser removido
2.15
25 26
3.13
2.65
16.93
2.35 .35
.28 2.16 1.63 .15
4.96 .34 1.87 .15
3.82
3.77
.16
20 21
24
16
.16
.15
146
°
12
3° 133
3.54
.33
15
.33
18
.33
°
9.87
144
10.23
14
3.49
24 Porta existente a ser restaurada
.28
2.26
.33
4.31
3.98
.33
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA
3.98
.33 3.32 .34 MESTRADO PROFISSIONAL EM ARQUITETURA,
06 07
PROJETO E MEIO AMBIENTE
.15
5.55
4 10
13 01 02
ASSUNTO: Memórias da Alegria: uma proposta de espaço cultural e
3
3.51
26 Forro existente em madeira a 27 Viga a ser removida patrimonial no bairro de Cidade Alta, Natal-RN
1 04 ser removido
3.00
08
11 4 LOCALIZAÇÃO: Praça Padre João Maria, nº 71, Cidade Alta, Natal - RN
1.66
.24
.92
3
Sobe
.25
12 2 ETAPA: Anteprojeto
.20
02
2.40
05
.24
.33
.34 Sobe 09 1
.11
2.65
1/50 DATA: janeiro/2020
.15
.15
3.97 ESCALA:
.11
.32
4.64
1.00 .36 1.28
4.00
.36 .99 .33 3.39
4.06
.34 2.72
2.87
.15
FQ Face de Quadra 02 - Praça Padre João Maria FQ Face de Quadra 03 - Igreja e Rua da Conceição
03 Sem escala FQ Face de Quadra 05 - Rua Vigário Bartolomeu
02 Sem escala 05 Sem escala
LEGENDA
ÁRVORES
FQ
01
rios da
Palmeira havaí Veitchia merrillii 1
Rua Voluntá
Pátria
Craibeira Tabebuia aurea 3
FQ
02
FQ Palmeira fênix Phoenix lourierii 3
Barracas de
02
artesanato
ARBUSTOS
Ixora
Ixora -
coccinea
FQ
05
PISOS
FQ
03
Ladrilho hidráulico
Jardineira
Via asfaltada
Via pavimentada
Velário em alvenaria
ETAPA: Anteprojeto
ESCALA: 1:250
DESENHO ADAPTADO:
DATA: janeiro/2020
Dinara Gadelha
03 11
DISCENTE: Dinara Regina Azevedo Gadelha
FQ Face de Quadra 04 - Rua João Pessoa
04 Sem escala
B'
P-09
4.22 .15
.88 .33 .20 3.40
2.10 .15
.36
.15
.38 .15
.15
N
.40
.40
.32
2.67 .10
.40
1.22
1.20
1.20
2.00
2.00
1.52
1.70
2.80
.35
.30
.30
3.21 .33 7.82 .15
.15
.30
.30
.15
.15
1.20
.30
.30
Projeção de viga a ser demolida
.30
.30
1.21
.20 1.20 1.20 1.20 2.97 1.20
.35
2.65
2.65
2.54
.70 .10
LEGENDA
1.75
.55
.30
MANTER
.30
1.36
1.69
4.26
.30
DEMOLIR
3.35
.30
.15
.15
CONSTRUIR
.30
1.86
1.54 .15 1.65 .33 .89 .65 .15 3.47 .15 2.52 .15
1.40
1.47
1.18
Projeção de viga a ser demolida
.29 2.09 .33 2.88 .35 .58 1.11 .36 .15 1.20
.20
.50
.26
.35
.34
.34
.10
.67
.11
2.91 .31 1.86 .46 .35 .75
.10 3.78 .88 .15 .04 .62 .33 3.43
Marcação da 4.44
.25
3.76
.91
alvenaria a ser
4.99
mantida no piso
1.70
.40
2.15
.25
3.40
2.67
Marcação da .93
2.69
2.71
.40
alvenaria a ser
mantida no piso
16.93
.25
3.60
3.60
3.77
.40
.15
2.76
.25
2.18 2.12
.43
2.
mantida no
.15
01
piso
.40
50
11.35
1.
3.42 .11
.25
3.54
.33
.40
.16
3.33
9.91
3.33
.25
.94
.40
alvenaria a ser
1.17
mantida no piso
3.49
.25
2.88
2.89
.40
3.98
.25
1.26
.33
.40
2.50
.40
.15
.25
1.80
.40
P-09 P-09
3.52
3.51
CENTRO DE TECNOLOGIA
.40
3.00
.25
3.15
MESTRADO PROFISSIONAL EM ARQUITETURA,
.65
1.30
PROJETO E MEIO AMBIENTE
.25
.10
.30
ASSUNTO: Memórias da Alegria: uma proposta de espaço cultural e
.33 .24
.30
.10
.10
.30
3.77
.10 .10 3.19 .10 1.86 1.01 patrimonial no bairro de Cidade Alta, Natal-RN
2.36 .50
2.87
CONTEÚDO: Planta de Reforma
B LOCALIZAÇÃO: Praça Padre João Maria, nº 71, Cidade Alta, Natal - RN
P-09 Planta de Reforma
escala 1:50
ETAPA: Anteprojeto
ESCALA: 1/50
DESENHO ADAPTADO:
DATA: janeiro/2020
Dinara Gadelha
04 11
DISCENTE: Dinara Regina Azevedo Gadelha
N
1.00
ÁRVORES
3.50
Símbolo Descrição Quantidade
i=15%
1.00
ição
Conce
13.74
3.50
Rua da
da Pátria
15.14
Árvore existente a preservar 10
rios
Memorial Oriano de
18.95
R6.80
Rua Voluntá
Almeida
.2
9 Banco do Nordeste
R3 Palmeira existente a preservar 3
.00
R2
R2
.00
45.71
ARBUSTOS
3.50
R2
+0.15
.3
Ø2.00
B
0
Ø2.00 Bela-Emília a inserir 13
B
B B 45.92 R2.
00
Ø2.00 PISOS
.00
B A A Ø2
A
Ø2.
00 B
Ø2
.00 A Piso da praça a
Ladrilho hidráulico
A
13.27
11.77
ser reconstruído
C
19.22
Igreja Matriz de
N. Senhora da A A
+0.15
Apresentação Via asfaltada
B
A
4.00 A A +0.15 A 0
.0
Ø2 Pavimento intertravado na cor bege
i=15%
1.00
R1
.5
0
3.93
OUTROS ITENS
. 00
0.00
A Jardineira a manter
B Jardineira a construir
C Jardineira a demolir
ETAPA: Anteprojeto
ESCALA: 1:250
DESENHO ADAPTADO:
DATA: janeiro/2020
Dinara Gadelha
05 11
DISCENTE: Dinara Regina Azevedo Gadelha
Placa de ACM 3mm na Junta de 10 mm preenchida
cor vermelha com silicone
Estrutura em
perfis de aço
B'
P-09 Cobertura em estrutura metálica com
fechamento em ACM e inclinação de 5% Tarucel
7.97
3.82
3.40 4.37
.33 .20
Quadro de Áreas, Índices e Taxas .36
3.14
Detalhe das placas de ACM
.15
escala sem escala Calha
AREA DO TERRENO 261,34m² AREA PERMEÁVEL 35,41m²
.32
.32
AREA DO PAV. TÉRREO 174,18m² COEF. DE APROVEITAMENTO 1.04
AREA DO PAV. SUPERIOR 99,94m² TAXA DE OCUPAÇÃO 66,64% 4
AREA TOTAL CONSTRUIDA 274,12m² TAXA DE PERMEABILIZAÇÃO 13,55% 0.65
1.46
1.38
Recuos Sobe
2.32
RECUO FRONTAL - PRAÇA: INEXISTENTE RECUO LATERAL I. HISTÓRICO: 3,50m
3 Fechamento com
RECUO FRONTAL - VOL. DA PÁTRIA: 1,94m RECUO LATERAL. V. DA PÁTRIA: INEXISTENTE painéis de ACM na cor
0.65
.30
vermelha, através de
N 5 2 sistema convencional.
.30
6 Sobe 1
.30
7
.30
8
Módulo para o painel em ACM Perspectiva da cobertura da escada
6.16
.30
6.58
Calha
9 escala sem escala escala sem escala
6.40
2.94
6.82
.30
10
2.18
.30
11
Laje Cobertura com Perfil tubular Fechamento
Calha - tubo de queda
.30
a ser inserido por trás
12 Impermeabilizada inclinação de 5% retangular em em ACM
do painel em ACM
aço
.30
13
.50
Treliça em aço
.15
.15
.48
1.58 .15 1.61
Pérgolas em concreto
1.75
a construir
2.38 .33
1.40
2.88 .35 3.40 .33
5.13
.18 2.65 Painel em ACM
.26
.35
.34
.35
1.
1.10
29
.85
5.57
.33
12.66
Cobertura existente
.32
(laje impermeabilizada)
7.50
7.50
16.93
6.04
3.81
3.73
2.09
2.30
2.30
5.23
1.01
1.03
28
1.
9.87
10.23
9.72
10.39
9.69
.48
.40 2.60 .40 3.40
4.85
4.75
3.40
Vista da cobertura da escada
Corte da cobertura da escada
5.01
4.96
4.93
escala 1:50
escala 1:50
5.69
5.89
5.92
A A'
P-09 P-09 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA
Projeção da edificação MESTRADO PROFISSIONAL EM ARQUITETURA,
1.7 8
0 1.6 PROJETO E MEIO AMBIENTE
4
2.25
3
1.30
.25
2
2.65 ASSUNTO: Memórias da Alegria: uma proposta de espaço cultural e
.35
.33
2.65 .33 1
3.96 de economia solidária para uma edificação de valor
.34 Sobe
4.64
4.00 .36 3.37 .34 2.87 patrimonial no bairro de Cidade Alta, Natal-RN
4.00 4.06 2.87
CONTEÚDO: Planta Baixa - Terraço
18.25
ESCALA: 1:50
DESENHO ADAPTADO:
DATA: janeiro/2020
Dinara Gadelha
06 11
DISCENTE: Dinara Regina Azevedo Gadelha
N
B'
P-09
Estrutura metálica com
fechamento em ACM
01:
11.80
Quadro de Esquadrias Vista do
3.40 4.37
.20
3.82
Memorial
.27
Código Largura Altura Peitoril Abertura Material Quantidade
.37 .15
.40
.32
J050 0.50 2.55 0.94 Giro Madeira e Vidro 3
.33
J055 0.55 2.55 0.94 Giro Madeira e Vidro 5 Banheiro ventilado por
exaustão mecânica
J100 1.00 2.55 0.94 Giro Madeira e Vidro 1 .35 3.19 .33 .20 1.20 1.20 1.20 4.17
J100A 1.00 2.55 0.94 Giro Madeira e Vidro 1
1.20
WC Fem
1.56
Sobe
1.66
J103 1.03 2.55 0.94 Giro Madeira e Vidro 1 5.10m²
J135 1.35 2.55 0.94 Giro Madeira e Vidro 1 +0.76 6
2.72
P090 0.90 2.10 - Correr Madeira 2 7 5
P090
2.40 1.20 2.97 1.20
P100 1.00 3.50 - Giro Madeira 1
.15
8 4
.15
Inclinação: 8,33%
1.20
P100A 1.00 3.50 - Giro Madeira e Vidro 1 3
P100B 1.00 3.50 - Giro Madeira e Vidro 1
2
02:
P108 1.08 3.50 - Giro Madeira 1
1 Vista do
P108A 1.08 3.50 - Giro Madeira e Vidro 1
6.39
P108B 1.08 3.50 - Giro Madeira e Vidro 1 Banheiro ventilado por WC Masc.
Sobe Sebo/Café
Projeção da cobertura
exaustão mecânica
2.65
P110 1.10 3.50 - Giro Madeira e Vidro 1 4.09m² Circulação
1.75
+0.76
P127 1.27 1.85 - Giro Ferro 1 7.55m²
P090
+0.76
P165 1.65 1.95 - Giro Ferro 1
4.20
1.55 .15 1.64 .33 1.40 6.57
.15
3.32
Pilares em perfis
Plataforma vertical
de aço tipo H
Montele PL 240
1.46
.28 2.10 .33 2.88 .35 1.69 1.71
03:
1.40
.33 1.44 .20 3.48 .55 .34 1.94
Projeção das
pérgolas Vista da
P100B
Loja
.26
.35
.34
.34
.34
Colaborativa
.35
.67
Projeção do reservatório
.25
55
inferior para captação de água
J0
da chuva. Capacidade: 2000l 03
1.69
Projeção do mezanino
.40
1.70
05
.25
Projeção da cobertura
.40
16.93
P108B
.25
3.82
3.80
.40
2.12
.43
44.63m²
+0.76
45.04m²
Loja
.25
+0.76
Colaborativa
.40
55
J0
.25
.33
.33
em perfis de aço e
.40
9.89
P110 Projeção
9.91
película
.25
antiderrapante
do mezanino
9.54
.40
.25
.40
Deck
.25
41.32m² 05:
.40
P100
Memorial +0.74
Projeção P100A
Vista do
4.32
4.27
Reservatório inferior em
.25
P108
Capacidade: 14850l
6.21
.25
02
.40
A 4 01 A'
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
.25
P-09 P-09
3
J135
CENTRO DE TECNOLOGIA
.40
P108A
50 0
J0
5
MESTRADO PROFISSIONAL EM ARQUITETURA,
.65
P165
J100A
J055
4
.25
3
P127
3
1.26
.34
.28
Sobe J103 Proj. da cobertura 2 2 Memórias da Alegria: uma proposta de espaço cultural e
.90
ASSUNTO:
2.38
.33
J100
2.65 .33 Sobe 1 1 de economia solidária para uma edificação de valor
3.97
4.64 .33 4.00 .32 3.36 .33 Sobe 2.87 patrimonial no bairro de Cidade Alta, Natal-RN
4.00 4.06 2.87
CONTEÚDO: Planta Baixa - Térreo
18.22
B ETAPA: Anteprojeto
P-09
ESCALA: 1/50
DESENHO ADAPTADO:
DATA: janeiro/2020
Dinara Gadelha
07 11
DISCENTE: Dinara Regina Azevedo Gadelha
Corrimão de acordo
com os padrões da
N Laje impermeabilizada
NBR 09050
B'
.64
Guarda-corpo em aço
P-09 Escada em chapa Estrutura em aço Escada metálica de acordo com
.15
metálica com fechamento padrões da NBR
em ACM Rampa em concreto
09050
11.79
3.19
.36 3.13 .33 .20 2.40 5.37
.37 .15
2.40
.34 .15
.40
.50
.32
Quadro de Esquadrias
.36 3 3.15 .33 .20 2.40 1.20 4.17
Código Largura Altura Peitoril Abertura Material Quantidade
1.21
1.22
1.20
1.20
P060 0.60 2.10 - Giro Madeira 1
1.43
1.48
P090 0.90 1.80 - Giro Madeira 1
2.40
6
P090A 0.90 2.50 - Giro Madeira 1
2 Plataforma Escada em chapa
.30
.30
P090B 0.90 2.10 - Giro Madeira 1 7 5 elevatória inclinada metálica
.30
4 Sobe 1
.30
.30
8 4
Inclinação: 8,33% Detalhe da plataforma elevatória inclinada
1.20
1.20
5
.30
.30
Plataforma 9 3 escala 1:50
elevatória inclinada
6
.30
10 2
1.77
7
.30
Projeção da laje 1
1.21
2.64
8 Sobe
9
1.75
10
.30
.15
DML 11
11
.30
1.56m² 12
P090B
2.82
1.00
.35 1.57 +3.59 .15
12 1.61 1.20
.30
.32 .20
13 1.20 6.77
3.63
P060
3.66
.15
13
.30
14
.15
.30
Mezanino em Steel Deck 15
Pérgolas em concreto com guarda-corpo em vidro Plataforma elevatória vertical
1.46
Hall 16
1.40
3.07m²
1.40
Divisória vazada
1.21
em madeira +3.61
.28 2.10
Proj. da viga
.33 2.88 .35 1.69 1.71 .33 1.45
.50
.20 3.66
01:
.26
2.67
.35
.34
.34
.35
Vista do
.35
.35
.67
Sebo/Café
1.09
P090A
.77
4.87
.25
.77
3.59
2.82
1.32
1.38 .32 1.58 .40
.40
02
Atelier
P090
16.57m² 01
Sebo/Café
.25
Projeção da cobertura
2.87
+3.61
28.94m²
.40
16.93
+3.61
.25
3.81
2.30
3.84
.40
3.03
.25
2.51
.43
.25
Viga em aço
.40
02:
1.03
.25
Vista do
9.89
.33
5.92
.32
.40
Atelier
.66
9.91
3.34
.25
.77 3.22
.40
3.75
.40
5.22
5.89
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
.40
3.53
.40
2.96
MESTRADO PROFISSIONAL EM ARQUITETURA,
.25
4
4
1.77
.25
3 3
ASSUNTO: Memórias da Alegria: uma proposta de espaço cultural e
.30
1.27
.28
Proj. da cobertura 2 2 de economia solidária para uma edificação de valor
.30
2.38
patrimonial no bairro de Cidade Alta, Natal-RN
.35
.33
.30
3.96
4.64
.34 4.00 .33 3.40 .34
Sobe 2.87
CONTEÚDO: Planta Baixa - Mezanino
4.00 4.06 2.87
LOCALIZAÇÃO: Praça Padre João Maria, nº 71, Cidade Alta, Natal - RN
18.25
Pilares em perfis de
aço tipo H Planta Baixa - Mezanino
escala 1:50 ETAPA: Anteprojeto
P-09
B ESCALA: 1:50
DESENHO ADAPTADO:
DATA: janeiro/2020
Dinara Gadelha
08 11
DISCENTE: Dinara Regina Azevedo Gadelha
Malha metálica
BB'
Capeamento de concreto Cantoneira de suporte contínua
P-09
para composição de borda
Forro existente Cobertura existente em telha
a preservar cerâmica com inclinação de 20% Telha-forma Metform
Malha metálica
.79
Cantoneira de suporte
contínua para
composição de borda
.15
Guarda-corpo Projeção
2.27
em vidro da laje Estrutura em Guarda-corpo
perfis de aço em aço
.40
Capeamento em
1.96
concreto
.46
.46
.30
Viga em aço Telha-forma Metform
.64
.64
.15 .64
.15
.15
.22
.40
Pérgola em concreto
2.74
Pilar em aço
Viga em aço
2.40
Detalhe construtivo da laje (Steel Deck)
escala 1:10
9.07
.50
Cobertura em laje
impermeabilizada
existente
6.24
Pilar em aço
.15
5.00
4.85
5.25
5.25
5.25
Guarda-corpo em aço
de acordo com padrões
4.24
da NBR 09050
3.74
3.32
Deck com estrutura em
2.70
perfis metálicos e piso de
vidro com película
antiderrapante
Detalhe construtivo da laje (Steel Deck)
escala sem escala
.74
Corte AA'
escala 1:50
AA'
P-09
.15
1.33
1.96
.46
1.10
Terraço
.15 .64
+6.16
.15
.15
.22
2.60
2.64
2.40
.21
.59
+3.61 +3.59
.15
.15
6.80
6.80
5.25
5.37
2.72
ASSUNTO: Memórias da Alegria: uma proposta de espaço cultural e
3.95
.74
ETAPA: Anteprojeto
ESCALA: 1/50
DESENHO ADAPTADO:
DATA: janeiro/2020
Dinara Gadelha
09 11
Corte BB' DISCENTE: Dinara Regina Azevedo Gadelha
escala 1:50
Cobertura da escada com
estrutura em perfis de aço
e fechamento em placas
de ACM na cor vermelha
Guarda-corpo em
aço inox
Pérgolas em
concreto
Cobertura existente em
laje impermeabilizada
Fachada pintada na cor cinza claro Fachada Frontal - Praça Padre João Maria
escala 1:50
Guarda-corpo
em aço inox
ETAPA: Anteprojeto
10
Rampa em concreto com piso
antiderrapante e inclinação de 8,33%
ESCALA: 1/50 DATA: janeiro/2020
Tabebuia
Ipê amarelo serratifolia 9
(Vahl) Nich.
01 Vista da via elevada 02 Vista da via elevada 03 Vista do Espaço Cultural 04 Vista da área arborizada
Peroba rosa/ipê Tabebuia 2
branco roseoalba
05 Vista do terraço 06 Vista do terraço 07 Vista da área arborizada Palmeira fênix Phoenix lourierii 3
10
ARBUSTOS
Plumbago
Bela-Emília 13
auriculata
PISOS
Ladrilho hidráulico
ão
Conceiç
Via asfaltada
Rua da
03
Pavimento intertravado na cor bege
átria
Rua V. da P
05 OUTROS ITENS
06
01
Velário
07
08
ETAPA: Anteprojeto
ESCALA: 1:250
DESENHO ADAPTADO:
DATA: janeiro/2020
Dinara Gadelha
11 11
DISCENTE: Dinara Regina Azevedo Gadelha
08 Vista da área de intervenções artísticas 09 Vista da Rua Voluntários da Pátria 10 Vista da Rua Voluntários da Pátria 11 Vista da Rua João Pessoa