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Belo Horizonte
2009
CONSEQÜÊNCIAS ECONÔMICAS DAS
INUNDAÇÕES E VULNERABILIDADE:
Desenvolvimento de metodologia para avaliação do
impacto nos domicílios e na cidade
Belo Horizonte
Escola de Engenharia da UFMG
2009
C215c Cançado, Vanessa Lucena.
Conseqüências econômicas das inundações e vulnerabilidade [manuscrito] :
desenvolvimento de metodologia para avaliação do impacto nos domicílios e na cidade /
Vanessa Lucena Cançado . — 2009
xxiii, 394 f., enc.: il.
Bibliografia: f. 357-381.
Sobretudo ao professor Nilo de Oliveira Nascimento, que me deu todo apoio intelectual para
realização desta tese. Tive a sorte de tê-lo como o mestre que me introduziu no mundo da
engenharia ambiental, sempre com uma visão abrangente e rica das relações que envolvem a
natureza e a sociedade;
Ao professor Ricardo Machado Ruiz, pela orientação dada aos aspectos econômicos que
envolvem a pesquisa, de forma sempre precisa e atenta. Agradeço também enormemente a
ajuda preciosa na parte computacional;
Às agencias financiadoras da presente pesquisa: FAPEMIG, durante dois anos e meio, Capes
durante um ano e um mês, ao CNPq, pelo financiamento do meu período de pesquisa no
exterior;
Agradeço ainda ao Rodrigo França, colega a quem freqüentemente recorro nas dúvidas
relacionadas ao comportamento do rio. Aos demais colegas do grupo de inundações, Rodrigo
Bonnati e Cristiane Parisi, pela troca de idéias, bibliografia e apoio mútuos. Aos colegas
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André Guerra, Nebai Gontijo, Bernardo Furtado e Fernando Pereira pela presteza no envio de
informações sobre o espaço urbano;
Agradeço à minha prima Ju que já é, desde o mestrado, minha principal consultora informal
para assuntos de estatística, e que nesta pesquisa colaborou também com informações e
análises que envolvem o setor educacional; agradeço a Dedé que, ante ao meu tempo curto, se
disponibilizou a fazer a tradução do resumo para o inglês;
Agradeço aos professores do INSA-Lyon pela acolhida, pelo suporte técnico e discussões
científicas;
Agradeço aos meus colegas de pós-graduação pela troca de idéias e pelos bons momentos de
lazer; agradeço também aos colegas do INSA, pela excelente recepção e discussões sobre o
trabalho;
Ao Pascal, com quem tive um verdadeiro encontro. Agradeço as revisões críticas dos textos e
apresentações feitas em francês e, sobretudo, o seu estímulo, serenidade e sensibilidade que
me possibilitaram a “paz do espírito” para as horas de estudo.
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RESUMO
A análise dos impactos das inundações é parte integrante do planejamento e avaliação local,
regional e global do risco. Na busca de sustentabilidade e segurança no desenvolvimento da
comunidade, é uma ferramenta para tomada de decisões em todos os níveis de governos. As
razões para um rigoroso processo de avaliação de danos – potenciais ou pós-desastre – são
inúmeras e, normalmente, associam-se à dicotomia custo e benefício, uma dualidade presente
na maior parte dos processos de decisão para a fixação do nível ótimo de projeto e da
alocação eficiente dos investimentos públicos ou privados no tempo e no espaço.
Com este objetivo foi feita uma análise multisistêmica, que incorpora a rede hidrográfica, os
domicílios, o sistema de transportes e as firmas. Os fluxos monetários da região foram
definidos a partir das trocas econômicas entre firmas e domicílios. As informações são
agregadas por meio de uma modelagem computacional em rede. Para verificar as relações
entre os sistemas e as várias regiões de um espaço urbano complexo foi construído um
protótipo, o qual procura representar os principais elementos da cidade impactados por uma
inundação. Adicionalmente, foram criados indicadores detalhados de vulnerabilidade, ameaça
e exposição a fim de se captar várias dimensões relacionadas ao risco de inundação.
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ABSTRACT
The analysis of flood impacts is an integral part of the planning and of the local, regional and
global evaluation of risks. In the search for sustainability and safety in community
development, the analysis of flooding impact is a tool for decision making in every level of
government and also for risk management. There are several reasons to justify an accurate
damage evaluation – pre or after disaster – and normally those reasons are connected to the
cost-benefit dichotomy, a duality that is present in the great majority of decision-making
processes to determine the most efficient allocation of public or private investment in time
and space.
This study tries to estimate the economic consequences of floods upon households and the
city, characterizing the direct and indirect damages, but also incorporating the vulnerability,
which implies the evaluation of the capacity of confrontation and recovery of the exposed
population.
For this purpose a multisystemic analysis was undertaken, incorporating the hydrographic
system, the households, the transportation system and the companies. The monetary fluxes
were defined based upon financial exchanges between companies and households. The
information was aggregated using a network computational model. In order to verify the
relationships between the system and the various regions of a complex urban space a
prototype has been devised. In addition, detailed models of vulnerability, threat and
exposition were created, to capture the several dimensions related to the risk of flooding.
The devised simulations have verified the consistency of the adopted theoretical foundations,
the coherence of the analytical routines and of the database. The methodological-theoretical
discussion and the results obtained show the viability and the potentiality of applying the
methodology to the analysis of environmental impacts from a broad perspective, also taking
into account the relational dimension involving the processes.
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO: O IMPACTO DA INUNDAÇÃO SOBRE AS FAMÍLIAS E
VULNERABILIDADE.......................................................................................................................................... 1
2 OBJETIVOS............................................................................................................................................... 11
3 DANOS DAS INUNDAÇÕES ................................................................................................................... 12
3.1 DANOS ÀS FAMÍLIAS E AOS DOMICÍLIOS ................................................................................................... 15
3.1.1 Preocupação em relação ao risco de inundação e impactos na saúde ......................................... 16
3.1.2 Perturbações da inundação ........................................................................................................... 18
3.2 DANOS ÀS ATIVIDADES ECONÔMICAS ...................................................................................................... 19
3.2.1 Danos indiretos potenciais do comércio varejista e prestadores de serviços ............................... 20
3.2.2 Danos indiretos potenciais das atividades industriais .................................................................. 23
3.3 INTERRUPÇÕES OU PERTURBAÇÕES NA INFRA-ESTRUTURA URBANA ........................................................ 24
3.3.1 Perturbações no sistema de transporte ......................................................................................... 26
3.4 CUSTOS DOS SERVIÇOS DE EMERGÊNCIA .................................................................................................. 27
3.5 OS DANOS DIRETOS .................................................................................................................................. 28
4 VULNERABILIDADE A INUNDAÇÕES .............................................................................................. 33
4.1 AMEAÇA: CARACTERÍSTICAS DA INUNDAÇÃO .......................................................................................... 33
4.2 ANÁLISE DE VULNERABILIDADE .............................................................................................................. 41
4.3 MODELOS DE DESASTRE: PRESSÃO E ALÍVIO E ACESSO ........................................................................... 46
4.3.1 Vulnerabilidade como um processo ............................................................................................... 50
4.4 A DIMENSÃO ESPACIAL DA VULNERABILIDADE ........................................................................................ 52
4.4.1 Vulnerabilidade da rede urbana .................................................................................................... 53
4.4.2 Vulnerabilidade dos domicílios ..................................................................................................... 57
4.4.3 Vulnerabilidade dos moradores à ocorrência de danos diretos (ferimentos, doenças e morte) ... 61
4.5 METODOLOGIAS PARA MEDIR A VULNERABILIDADE À INUNDAÇÃO ......................................................... 64
4.5.1 Procedimentos para padronização de variáveis ............................................................................ 76
4.5.2 Definição dos pesos ....................................................................................................................... 77
5 FUNDAMENTOS CONCEITUAIS E TEÓRICOS PARA AVALIAÇÃO DOS BENEFÍCIOS (OU
DANOS EVITADOS) .......................................................................................................................................... 82
5.1 O QUE É VALOR? ...................................................................................................................................... 82
5.2 O BENEFÍCIO DE UM BEM PÚBLICO E COMO ESTIMÁ-LO .......................................................................... 84
5.3 FUNDAMENTOS TEÓRICOS PARA AVALIAÇÃO DOS BENEFÍCIOS ............................................................... 91
5.3.1 Economia do bem-estar, utilidade e a análise custo-benefício ..................................................... 92
5.3.2 A Curva de demanda e a medida de benefício ............................................................................... 93
5.4 METODOLOGIAS PARA AVALIAÇÃO DE DANOS DE INUNDAÇÃO: TÉCNICAS ANALÍTICAS, SIMULAÇÃO E
ANÁLISE DE REDE .............................................................................................................................................. 99
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7 UTILIZAÇÃO DE MODELOS DE SIMULAÇÃO E ANÁLISE DE REDE PARA A AVALIAÇÃO
DOS DANOS DAS INUNDAÇÕES ................................................................................................................. 144
7.1 MODELOS DE SIMULAÇÃO SOCIAL ......................................................................................................... 147
7.1.1 Celulares autômatas (CA) ........................................................................................................... 151
7.1.2 A centralidade do indivíduo na simulação: a modelagem multiagentes ..................................... 153
7.2 MODELOS DE SIMULAÇÃO DE TRÁFEGO ................................................................................................. 160
7.3 ANÁLISE DE REDE .................................................................................................................................. 163
7.3.1 Relações a atributos .................................................................................................................... 163
7.3.2 Nós e linhas ................................................................................................................................. 165
7.3.3 Medição da relação ..................................................................................................................... 166
7.3.4 Seleção dos dados relacionais ..................................................................................................... 167
7.3.5 Caracterização da rede ............................................................................................................... 168
7.4 ANÁLISE DE AGENTES E REDE NOS ESTUDOS DE IMPACTOS AMBIENTAIS ................................................ 171
8 MATERIAL E MÉTODOS: ANÁLISE DO IMPACTO DA INUNDAÇÃO SOBRE OS
DOMICÍLIOS E SUA PROPAGAÇÃO NA CIDADE .................................................................................. 179
8.1 HIPÓTESES DO ESTUDO .......................................................................................................................... 179
8.1.1 Unidade geográfica de análise .................................................................................................... 180
8.1.2 Pressupostos do sistema .............................................................................................................. 182
8.1.3 O sistema urbano ......................................................................................................................... 183
8.2 MATRIZES DE INFORMAÇÕES SOCIOECONÔMICAS .................................................................................. 187
8.2.1 Matriz domicílio .......................................................................................................................... 188
8.2.2 Matriz residente ........................................................................................................................... 200
8.2.3 Matriz firma ................................................................................................................................. 201
8.2.4 Relacionamento entre as matrizes ............................................................................................... 204
8.3 BASE ESPACIAL DE ANÁLISE: CONSTRUÇÃO DE UM PROTÓTIPO .............................................................. 207
8.3.1 Criação da rede viária ................................................................................................................ 208
8.3.2 Zoneamento, parcelamento e adensamento na ADA e AE ........................................................... 210
8.3.3 Definição das características das firmas na ADA, AE e nos nós ................................................ 212
8.3.4 Definição das características dos domicílios na ADA, AE e nos nós .......................................... 214
8.3.5 Definição das características dos moradores.............................................................................. 215
8.3.6 Síntese das informações do protótipo .......................................................................................... 216
8.4 UTILIZAÇÃO DO SIG .............................................................................................................................. 217
8.5 SIMULAÇÃO DO COMPORTAMENTO DO RIO E INCORPORAÇÃO NO PROTÓTIPO ........................................ 218
8.6 SIMULAÇÃO DE TRÁFEGO ...................................................................................................................... 222
8.7 MODELAGEM ECONÔMICA EM REDE ...................................................................................................... 229
8.8 AVALIAÇÃO DOS DANOS DIRETOS ......................................................................................................... 233
8.8.1 Avaliação dos danos ao conteúdo dos domicílios (exceto veículos) ............................................ 233
8.8.2 Avaliação dos danos aos veículos dos domicílios ....................................................................... 234
8.8.3 Avaliação dos danos à construção do domicílio ......................................................................... 235
8.8.4 Avaliação dos danos diretos às firmas ........................................................................................ 236
8.9 CRIAÇÃO DE INDICADORES DE RISCO À INUNDAÇÃO .............................................................................. 237
8.9.1 Hipóteses de trabalho .................................................................................................................. 237
8.9.2 Risco aos domicílios .................................................................................................................... 245
8.9.3 Risco no ambiente econômico ..................................................................................................... 299
9 RESULTADOS ........................................................................................................................................ 305
9.1 SIMULAÇÃO HIDROLÓGICA-HIDRÁULICA ............................................................................................... 305
9.2 ESPAÇO DE FLUXOS ................................................................................................................................ 307
9.2.1 Análise dos fluxos globais na ADA e na AE e sua inserção na rede virtual ................................ 307
9.2.2 Fluxos discretos na ADA e na AE ................................................................................................ 311
9.2.3 Análise sob a ótica dos domicílios: gastos, emprego e renda ..................................................... 312
9.2.4 Análise sob a ótica das firmas atingidas: vendas, custos e lucros .............................................. 317
9.2.5 Análise dos fluxos de tráfego ....................................................................................................... 322
9.3 AVALIAÇÃO DOS DANOS DIRETOS E INDIRETOS SOBRE OS DOMICÍLIOS E FIRMAS DA ADA .................... 328
9.3.1 Avaliação dos danos diretos e indiretos sobre os domicílios da ADA ........................................ 328
9.3.2 Avaliação dos danos diretos e indiretos sobre as firmas da ADA ............................................... 334
9.4 SÍNTESE DOS INDICADORES DE IMPACTO QUANTITATIVO E MONETÁRIO DO EVENTO.............................. 337
9.5 INDICADORES DE RISCO E VULNERABILIDADE ........................................................................................ 339
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9.5.1 Indicadores de risco para os domicílios ...................................................................................... 339
9.5.2 Indicadores de risco no ambiente econômico .............................................................................. 347
10 CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS ..................................................................................................... 350
10.1 CONCLUSÕES .................................................................................................................................... 350
10.1.1 Modelagem econômica em rede.............................................................................................. 351
10.1.2 Simulação do tráfego .............................................................................................................. 352
10.1.3 Análise dos indicadores .......................................................................................................... 352
10.2 PERSPECTIVAS................................................................................................................................... 353
10.2.1 Aperfeiçoamento do protótipo ................................................................................................ 353
10.2.2 Perspectivas com a utilização da proposta metodológica apresentada ................................. 355
11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................... 357
APÊNDICE I - O VALOR DA VIDA HUMANA ........................................................................................... 382
APÊNDICE II – INDICADORES DE RISCO FÍSICO E FATORES DE IMPACTO ............................... 384
APÊNDICE III- VARIÁVEIS DO INDICADOR DE RISCO TOTAL........................................................ 385
APÊNDICE IV- VARIÁVEIS DA MATRIZ “DOMICÍLIO” ...................................................................... 386
APÊNDICE V– TIPOLOGIAS DE GASTO ................................................................................................... 387
APÊNDICE VI - PADRÕES DE CONTEÚDO POR CÔMODO SEGUNDO AS CLASSES DE RENDA
FAMILIAR ........................................................................................................................................................ 389
APÊNDICE VII – TIPOS DE ATIVIDADES DAS UNIDADES ECONÔMICAS ..................................... 390
APÊNDICE VIII - INDICADORES DE ENCADEAMENTO E FATORES MULTIPLICADORES DA
PRODUÇÃO ...................................................................................................................................................... 392
APÊNDICE IX – INFORMAÇÕES E PESOS DOS SETORES NO PROTÓTIPO SEGUNDO CÓDIGO
CNAE.................................................................................................................................................................. 393
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1.1 - Etapas na avaliação global do risco ........................................................................ 1
Figura 1.2 - Da ameaça aos danos .............................................................................................. 3
Figura 1.3 - Marco analítico para estudo dos danos das inundações em uma cidade ................ 5
Figura 3.1 - Conexões de uma cadeia econômica .................................................................... 20
Figura 4.1 - Índice de ameaça ................................................................................................... 37
Figura 4.2 - Índice de risco da ameaça, segundo o fator de velocidade e o tempo de retorno . 38
Figura 4.3 - O modelo de pressão e alívio (PAR) e o modelo de acesso ................................. 48
Figura 4.4 - Mudança do bem-estar com a ocorrência do desastre .......................................... 50
Figura 4.5 - O ciclo de decisões nas famílias ........................................................................... 51
Figura 4.6 - Diferença, em pontos percentuais, entre o número de fatalidades decorrentes da
inundação e o número de habitantes do país por faixa etária. Estados Unidos, 1859-2005. .... 62
Figura 4.7 - Marco conceitual de um índice de risco de desastre utilizado em Bollin et al.
(2003) ....................................................................................................................................... 70
Figura 5.1 - Curva de demanda de um bem i ........................................................................... 94
Figura 5.2 - Curva de demanda e excedente do consumidor .................................................... 95
Figura 5.3 - Curvas de demanda e excedentes do consumidor marshalliano e hicksiano ........ 97
Figura 5.4 - Modelos para estimar os danos econômicos da inundação................................. 101
Figura 6.1 - Valor adicionado por uma empresa comercial ................................................... 113
Figura 6.2 - Exemplo de um diagrama de rede viária com a extensão da inundação (tempo de
retorno de 20 e 100 anos), as junções e os tipos de via .......................................................... 120
Figura 7.1 - Interação entre modelos ...................................................................................... 145
Figura 7.2 - Modelo de fila para uma fila de verificação (check-in) em um aeroporto .......... 150
Figura 7.3 - (a) Distribuição aleatória de células brancas e pretas; (b) distribuição das células,
após cinco passos de tempo; (c) após dezenove passos e (d) após 482 passos ...................... 153
Figura 7.4 - Curva de desempenho do BPR ........................................................................... 161
Figura 7.5 - Tipos de dados e análises associadas .................................................................. 164
Figura 7.6 - Duas representações de ligações entre nós ......................................................... 165
Figura 7.7 - Matriz agentes x agentes (matriz 4 x 4) .............................................................. 166
Figura 7.8 - Sociograma de agentes........................................................................................ 166
Figura 7.9 - Níveis de medida em dados relacionais .............................................................. 167
Figura 7.10 - Redes e amostras ............................................................................................... 168
Figura 7.11 - Uma rede com centralidade local...................................................................... 170
Figura 8.1 - Os subsistemas do sistema urbano ...................................................................... 180
Figura 8.2 - Etapas para definição da escolha locacional da firma ........................................ 204
Figura 8.3 - As inter-relações entre os sistemas ..................................................................... 205
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Figura 8.4 - Regiões do protótipo ........................................................................................... 208
Figura 8.5 - Organização espacial do protótipo – Área diretamente atingida, área de entorno e
rede viária ............................................................................................................................... 209
Figura 8.6 - Zonas, rede viária modelada e o rio na ADA e na AE........................................ 211
Figura 8.7 - Exemplo de um TIN ........................................................................................... 217
Figura 8.8 - Mapa digital da área de estudo, em formado .dwg. ............................................ 220
Figura 8.9 - Perfil longitudinal da linha d`água do rio Betim, Minas Gerais, em dois
momentos da cheia ................................................................................................................. 221
Figura 8.10 - Área de inundação do rio Betim, no município de Betim, para chuva com
duração de 2 h. ........................................................................................................................ 221
Figura 8.11 - Rede viária do protótipo e identificação da região modelada ........................... 223
Figura 8.12 - Rede viária na ADA e na AE ............................................................................ 223
Figura 8.13 - Distribuição do fluxo de veículos ao longo do dia ........................................... 226
Figura 8.14 - Interface do modelo .......................................................................................... 227
Figura 8.15 - Os nós e links da rede econômica discutida neste estudo ................................. 230
Figura 8.16 - Interface do NetLogo 4.0.4 ............................................................................... 231
Figura 8.17 - Curva de danos a residências (danos à construção e ao conteúdo) em função da
profundidade para a classe A - Ajuste da função logaritmo ................................................... 236
Figura 8.18 - O risco e seus constituintes ............................................................................... 241
Figura 8.19 - Marco analítico: das hipóteses à criação de índices associados ao risco de
inundação ................................................................................................................................ 241
Figura 8.20 - Critérios na definição dos danos potenciais ao domicílio................................. 246
Figura 8.21 - Índice de ameaça à construção (IAM1) .............................................................. 249
Figura 8.22 - Índice de ameaça ao conteúdo (IAM2)............................................................... 251
Figura 8.23 - Índice de ameaça aos moradores do domicílio (IAH) ....................................... 252
Figura 8.24 - Índice de ameaça ao acesso ao bem-estar - IAA ............................................... 255
Figura 8.25 - Índice de ameaça de inundação - IAI ................................................................ 256
Figura 8.26 - Valor médio dos danos à construção segundo a área construída e as classes
socioeconômicas (em reais de 2000) ...................................................................................... 257
Figura 8.27 - Distribuição da área construída dos imóveis no protótipo ................................ 258
Figura 8.28 - Índice de exposição da construção à inundação (IEM1) relacionado à área
construída do domicílio .......................................................................................................... 259
Figura 8.29 - Valor médio dos danos ao conteúdo segundo a área construída do domicílio (em
reais de 2000).......................................................................................................................... 262
Figura 8.30 - Índice de exposição do conteúdo à inundação (IEM2) relacionado à área
construída do domicílio .......................................................................................................... 263
Figura 8.31 - Freqüência de moradores por domicílio em Belo Horizonte no ano 2000. ...... 264
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Figura 8.32 - Índice de exposição humana à inundação (IEH) relacionado ao número de
moradores do domicílio .......................................................................................................... 265
Figura 8.33 - Valor dos danos à construção por metro quadrado de área construída segundo as
classes socioeconômicas e profundidade da inundação (em reais de 2000)........................... 267
Figura 8.34 - Índice relacionado ao valor da suscetibilidade da construção à inundação (IVM1)
................................................................................................................................................ 268
Figura 8.35 - Valor dos danos ao conteúdo por m2 de área construída segundo as classes
socioeconômicas e profundidade da inundação (em reais de 2000) ....................................... 269
Figura 8.36 - Valor dos danos ao conteúdo total e por unidade de área construída segundo as
classes socioeconômicas padronizados com base 1 ............................................................... 270
Figura 8.37 - Índice relacionado ao valor da suscetibilidade do conteúdo do domicílio à
inundação (IVM2) .................................................................................................................... 270
Figura 8.38 - Critérios e grupos de atributos relacionados ao indicador de vulnerabilidade
humana do domicílio .............................................................................................................. 272
Figura 8.39 - Critérios e grupos de atributos relacionados ao indicador de vulnerabilidade
humana da família .................................................................................................................. 276
Figura 8.40 - Índice de restrição ao acesso às unidades de consumo preferidas (IVA1) ......... 283
Figura 8.41 - Critérios e variáveis relacionadas à possibilidade de resiliencia do domicílio à
inundação pelo acesso à educação .......................................................................................... 286
Figura 8.42 - Índice de resiliência humana (IS1) relacionado ao nível de escolaridade do
responsável ou cônjuge do domicílio ..................................................................................... 288
Figura 8.43 - Critérios e variáveis relacionadas à possibilidade de resiliencia do domicílio à
inundação pelo acesso à renda ................................................................................................ 289
Figura 8.44 - Critérios e indicadores de vulnerabilidade da estrutura econômica ................. 302
Figura 8.45 - Critérios e indicadores de vulnerabilidade nas fontes de consumo das famílias
................................................................................................................................................ 303
Figura 9.1 - Inundação para o Tr = 5 anos - Protótipo ........................................................... 305
Figura 9.2 - Inundação para o Tr = 25 anos - Protótipo ......................................................... 306
Figura 9.3 - Inundação para o Tr = 100 anos - Protótipo ....................................................... 306
Figura 9.4 - Os fluxos de trabalho no protótipo ..................................................................... 310
Figura 9.5 - Os fluxos de estudantes no protótipo .................................................................. 310
Figura 9.6 - Os fluxos discretos na ADA e AE ...................................................................... 311
Figura 9.7 - Distribuição percentual dos trabalhadores das firmas atingidas pela inundação
segundo região de domicílio ................................................................................................... 314
Figura 9.8 - Distribuição dos gastos segundo os grandes grupos de despesa e tempos de
retorno da inundação .............................................................................................................. 315
Figura 9.9 - Variação total dos gastos das famílias, considerando diferentes probabilidade de
inundação e impacto ............................................................................................................... 316
Figura 9.10 - Danos indiretos totais sofridos pelas firmas atingidas, considerando o custo dos
salários pagos na inundação ................................................................................................... 319
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Figura 9.11 - Danos indiretos totais sofridos pelas firmas atingidas e que ofertam bens e
serviços para as famílias, considerando o custo dos salários pagos na inundação e os lucros
cessantes ................................................................................................................................. 320
Figura 9.12 - Variação no valor das vendas segundo os três cenários de ocorrência da
inundação ................................................................................................................................ 321
Figura 9.13 - Rede viária e curso d`água na ADA e AE – Protótipo .................................... 323
Figura 9.14 - Tempo médio de viagem e velocidade média por veículo nos quatro cenários de
estudo – Início da inundação às 10h, ADA e AE – Protótipo ................................................ 324
Figura 9.15 - Custos associados à poluição emitidas pelos veículos durante um dia nos quatro
cenários de estudo – Início da inundação às 17h, ADA e AE – Protótipo ............................. 327
Figura 9.16 - Total dos custos associados ao tráfego durante um dia – ADA e AE – Protótipo
................................................................................................................................................ 327
Figura 9.17 - Danos diretos sofridos pelos domicílios da ADA para os cenários de inundação
estudados - Protótipo .............................................................................................................. 329
Figura 9.18 - Média da participação dos danos aos veículos em relação aos danos totais nos
domicílios onde eles ocorrem – Protótipo .............................................................................. 330
Figura 9.19 - Diagrama box plot para a relação entre danos diretos / rendimento presente nos
domicílios atingidos (valores em percentual) ......................................................................... 331
Figura 9.20 - A inundação na firma e os possíveis reflexos na economia urbana ................. 337
Figura 9.21 - A propagação do impacto da inundação ........................................................... 338
Figura 9.22 - Distribuição do risco potencial entre os domicílios .......................................... 339
Figura 9.23 - Risco de danos materiais nos domicílios do primeiro pavimento– Inundação
com tempo de retorno de 100 anos ......................................................................................... 343
Figura 9.24 - Risco de danos humanos nos domicílios do primeiro pavimento – Inundação
com tempo de retorno de 100 anos ......................................................................................... 344
Figura 9.25 - Risco no acesso dos domicílios do primeiro pavimento – Inundação com tempo
de retorno de 100 anos ............................................................................................................ 345
Figura 9.26 - Resiliência dos domicílios do primeiro pavimento – Inundação com tempo de
retorno de 100 anos ................................................................................................................ 346
xvi
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
LISTA DE TABELAS
xvii
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Tabela 6.4 - Formas de eliciação no Método de Valoração Contingente ............................... 134
Tabela 6.5 - Possibilidades de vieses nas preferências declaradas ......................................... 138
Tabela 7.1 - Técnicas de simulação social ............................................................................. 148
Tabela 7.2 - Modelagem baseada em agentes x modelagem baseada em equações .............. 155
Tabela 7.3 - Parâmetros para estimativa do tempo de viagem segundo BPR ........................ 162
Tabela 7.4 - Indicadores associados à análise da vulnerabilidade da rede ao impacto da
inundação ................................................................................................................................ 171
Tabela 8.1 - Informações básicas do sistema urbano ............................................................. 184
Tabela 8.2 - Tipologias de famílias e sua distribuição na amostra ......................................... 189
Tabela 8.3 - Freqüência de deslocamento para aquisição do bem.......................................... 192
Tabela 8.4 - Tipologias de gastos, segundo suas características de demanda e oferta ........... 192
Tabela 8.5 - Alguns tipos de gastos estudados segundo a tipologia ....................................... 193
Tabela 8.6 - Tipologias de gastos, segundo suas características de demanda e oferta ........... 193
Tabela 8.7 - Classes de renda média familiar ......................................................................... 195
Tabela 8.8 - Classes de renda média familiar per capita........................................................ 196
Tabela 8.9 - Área por cômodo e padrão construtivo segundo classes de renda ..................... 197
Tabela 8.10 - Correlações (coeficiente r) entre o número de ativos presente no domicílio e
outras variáveis de estudo – Amostra de 14.314 domicílios .................................................. 198
Tabela 8.11 - Classe de renda e qualidade dos bens ............................................................... 199
Tabela 8.12 - Valores de automóveis por classe socioeconômica .......................................... 200
Tabela 8.13 - Critérios para distribuição espacial das firmas no protótipo ............................ 204
Tabela 8.14 - Edificações residenciais da ADA e da AE - Protótipo ..................................... 212
Tabela 8.15 - Edificações comerciais e total de edificações ADA e da AE - Protótipo......... 212
Tabela 8.16 - Distribuição dos domicílios da ADA e AE segundo as tipologias de família.. 214
Tabela 8.17 - Distribuição dos domicílios da ADA e na AE segundo classes socioeconômicas
................................................................................................................................................ 214
Tabela 8.18 - Síntese das informações do protótipo............................................................... 217
Tabela 8.19 - Cenários utilizados na simulação do tráfego ADA e AE - Protótipo .............. 226
Tabela 8.20 - Critérios para fluxos de veículos durante o evento na ADA e AE - Protótipo. 227
Tabela 8.21 - Grupos de gastos e critérios de escolha das unidades de consumo - Protótipo 232
Tabela 8.22 - Valor dos danos dos veículos segundo sua categoria (em reais de 2000) ........ 235
Tabela 8.23 - Intensidade de importância da alternativa (ou variável) ou do critério em
escalas cardinais e verbais ...................................................................................................... 244
Tabela 8.24 - Variação do dano médio à construção por metro quadrado de área construída
segundo a altura da inundação e o índice correspondente ...................................................... 247
Tabela 8.25 - Variação do valor da suscetibilidade média do conteúdo, segundo a altura da
inundação, e índice associado ................................................................................................. 249
xviii
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Tabela 8.26 - Fator velocidade e o peso e padronização utilizados ....................................... 252
Tabela 8.27 - Profundidade associada ao acesso, peso e padronização utilizados ................. 254
Tabela 8.28 - Padronização dos danos na base 1 .................................................................... 257
Tabela 8.29 - Área por cômodo segundo classes de renda ..................................................... 259
Tabela 8.30 - Matriz de correlações entre variáveis (coeficiente r) ....................................... 261
Tabela 8.31 - Nível de exposição do domicílio e definição do IED........................................ 265
Tabela 8.32 - Tipos de vulnerabilidade física dos moradores e importância relativa na
vulnerabilidade à inundação ................................................................................................... 272
Tabela 8.33 - Atributos de vulnerabilidade e pesos em relação aos critérios ......................... 273
Tabela 8.34 - Matriz normalizada de comparação dos critérios de segundo nível ................. 274
Tabela 8.35 - Média e mediana do rendimento domiciliar per capita, segundo sexo do
responsável pelo domicílio - Belo Horizonte, 2000 ............................................................... 277
Tabela 8.36 - Mediana do rendimento domiciliar total e per capita médio, segundo tipologia
de família - Protótipo, 2000 .................................................................................................... 278
Tabela 8.37 - Tipologias de família, sua importância relativa em relação à vulnerabilidade à
inundação (IVH1) e distribuição no protótipo ......................................................................... 279
Tabela 8.38 - Tipologias de despesas e ponderação, segundo as características de demanda e
oferta do bem consumido ....................................................................................................... 282
Tabela 8.39 - Peso de cada tipologia de bens ou de gastos do domicílio ............................... 282
Tabela 8.40 - Nível de escolaridade do responsável ou cônjuge do domicílio, sua distribuição
no protótipo e sua escala de importância para o acesso à informação ................................... 287
Tabela 8.41 - Classes socioeconômicas e transformação no IS2 ............................................ 290
Tabela 8.42 - Escolaridade e classe socioeconômica dos domicílios do protótipo atingidos
pela inundação de tempo de retorno de 100 anos ................................................................... 290
Tabela 8.43 - Importância relativa: classe socioeconômica x escolaridade .......................... 291
Tabela 8.44 - Padronização dos pesos do índice de resiliência .............................................. 291
Tabela 8.45 - Indicadores associados ao risco de inundação e hipóteses e variáveis utilizadas
................................................................................................................................................ 292
Tabela 8.46 - Indicadores associados à resiliência ao risco de inundação e hipóteses e
variáveis utilizadas ................................................................................................................. 296
Tabela 9.1 - Domicílios e firmas (unidades econômicas) atingidas ....................................... 307
Tabela 9.2 - Links econômicos na ADA e AE ....................................................................... 308
Tabela 9.3 - Links econômicos na ADA e AE e os outros nós da rede .................................. 309
Tabela 9.4 - Número total de domicílios e número de domicílio localizados em área atingida -
Protótipo ................................................................................................................................. 312
Tabela 9.5 - Número total de moradores e número de moradores localizados em área atingida
- Protótipo ............................................................................................................................... 312
Tabela 9.6 - Número total de trabalhadores atingidos – Protótipo1 ....................................... 313
xix
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Tabela 9.7 - Renda salarial em risco para uma inundação com Tr= 100 anos - Protótipo (em
reais de 2000).......................................................................................................................... 314
Tabela 9.8 - Impacto da inundação sobre as firmas da ADA e AE ........................................ 317
Tabela 9.9 - Valor das vendas para as famílias nos quatro cenários de estudo ...................... 321
Tabela 9.10 - Aspectos da ameaça da inundação sobre a rede viária ..................................... 322
Tabela 9.11 - Resultados médios por viagem e por UVE na simulação de tráfego – ADA e
AE, início da inundação às 10h .............................................................................................. 323
Tabela 9.12 - Resultados médios por viagem e por UVE na simulação de tráfego – ADA e
AE, início da inundação às 17h .............................................................................................. 324
Tabela 9.13 - Custo total do tempo de viagem em um dia na rede viária da ADA e AE,
segundo cenários de risco hidrológico.................................................................................... 325
Tabela 9.14 - Custo total do consumo de combustível em um dia na rede viária da ADA e AE,
segundo cenários de risco hidrológico.................................................................................... 326
Tabela 9.15 - Custo total dos poluentes em um dia na rede viária da ADA e AE, segundo
cenários de risco hidrológico .................................................................................................. 326
Tabela 9.16 - Domicílios atingidos e valor total e médio dos danos diretos (em
reais de 2000) - Protótipo ....................................................................................................... 328
Tabela 9.17 - Danos diretos aos veículos dos domicílios atingidos ....................................... 329
Tabela 9.18 - Domicílios atingidos, valor total dos danos diretos (em reais de 2000) e renda
domiciliar (em reais de 2000) – Protótipo .............................................................................. 330
Tabela 9.19 - Domicílios atingidos, valor total dos danos diretos (em reais de 2000) e renda
domiciliar (em reais de 2000), por classe socioeconômica – Protótipo, Tr = 100 anos ......... 332
Tabela 9.20 - Danos diretos e danos indiretos pelo congestionamento decorrentes da
inundação - ADA, Protótipo (em reais de 2000) .................................................................... 334
Tabela 9.21 - Danos diretos das firmas avaliadas no protótipo .............................................. 335
Tabela 9.22 - Distribuição dos danos diretos por firma segundo classificação da atividade . 335
Tabela 9.23 - Danos diretos e indiretos das firmas avaliadas na ADA (em reais de 2000) ... 336
Tabela 9.24 - Indicadores quantitativos de impacto ............................................................... 338
Tabela 9.25 - Indicadores monetários de impacto (em reais de 2000) ................................... 338
Tabela 9.26 - Distribuição dos índices de risco e de resiliência entre os domicílios atingidos
pela inundação – Inundação com tempo de retorno de 100 anos ........................................... 339
Tabela 9.27 - Distribuição dos índices de risco nos domicílios com índice de resiliência global
- IDSG – abaixo de 0,56 – Inundação com tempo de retorno de 100 anos ............................. 341
Tabela 9.28 - IVE1 nos cenários de estudo .............................................................................. 347
Tabela 9.29 - IVE2 nos cenários de estudo .............................................................................. 348
Tabela 9.30 - IVE3 nos cenários de estudo .............................................................................. 349
xx
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
xxii
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
TIN - Triangular Irregular Network
Tr – Tempo de Retorno
TRASYT - Traffic Network Study Tool
TRB - Transportation Research Board
UD - Unidade de Decisão
UP - Unidade de Planejamento
USACE - US Army Corps of Engineers
UVE - Unidade de Veículo Equivalente
VA - Valor Adicionado
VC - Variação Compensatória
VE - Variação Equivalente
VED - valor Esperado dos Danos
xxiii
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
1 INTRODUÇÃO: O IMPACTO DA INUNDAÇÃO SOBRE AS
FAMÍLIAS E VULNERABILIDADE
Em uma possível linha de ação de avaliação global do risco, têm-se seis etapas (Figura 1.1):
1
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
As medidas de mitigação reduzem a probabilidade ou as conseqüências de um evento.
Existem várias técnicas e abordagens para a avaliação das alternativas de projeto: desde
análises de critério único, em que os diferentes efeitos e os ganhos são analisados de forma
agregada em um único critério (e.g.: análise custo-efetividade, análise custo-benefício e
análise risco-benefício), até abordagens multicritério, nas quais a multiplicidade dos aspectos
de análise, como os econômicos, sociais, ambientais e políticos, são considerados no processo
de escolha. Algumas medidas de mitigação podem tender a zero o limite do risco, outras
podem deixar uma probabilidade residual, definida como tolerável, pois, supostamente, a
comunidade atingida teria capacidade de enfrentar o risco, caso ele ocorra. 1
Como se pode considerar impossível diminuir a zero a magnitude do risco, a questão é definir
qual o risco aceitável, o que depende, entre outros fatores, do nível que a população está
disposta a aceitar ou é capaz de absorver. Neste sentido, Chardon (1999) apresenta três níveis
de risco:
Nesta pesquisa, utiliza-se uma abordagem ampla do risco que agrega algumas das
conceituações anteriores. O risco surge como conseqüência da interação entre a natureza e
1
Para uma analise sobre os diferentes métodos para avaliação de alternativas, ver Castro (2007).
2
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
as características do evento natural (ameaça) e aquelas da população exposta, ou seja,
sua vulnerabilidade (Green, Parker & Tunstall, 2000) (Equação 1.1). Ocorrendo o fator de
gatilho, a inundação, o risco se traduz pelo impacto na comunidade em danos e na capacidade
de reconstrução.
Grande parte das pesquisas na área produz estimativa apenas dos danos decorrentes do
contato direto de bens com as águas da inundação (Machado, 2005; Penning-Rowsell &
Chatterton, 1977; Torterotot, 1993). Estudos que procuram captar os efeitos indiretos
normalmente o fazem considerando danos específicos, como os decorrentes de
congestionamentos de carros ou custos de serviços emergenciais. Há, ainda, abordagens que
buscam captar a percepção de valor de uma diminuição do risco por meio de entrevistas
diretas (Método de Valoração Contingente) ou pela comparação das condições imobiliárias
entre áreas de risco hidrológico e áreas seguras (Método dos Preços Hedônicos) (Shabman et
al., 1998; Brouwer et al., 2006).
Estes estudos, embora tragam avanços para discussão sobre benefícios no controle de
inundação, não incorporam aspectos que podem emergir de uma análise que capte a rede de
relações econômicas que se estabelece entre domicílios e as atividades econômicas e sua
alteração frente ao choque externo representado pela ocorrência da inundação. Normalmente,
são metodologias que trabalham de forma estática, mensurando os danos (ou os benefícios de
uma medida de controle) em um local específico, ou simplesmente desconsiderando a
propagação espacial dos impactos de uma enchente.
4
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
os estudos sobre danos decorrentes dos desastres naturais, especialmente, das inundações.
Desta forma, procura-se unir três aspectos julgados relevantes para compreensão do impacto
das inundações: o espaço intra-urbano, as relações dos agentes neste espaço e, como elemento
de choque, a inundação. Não foram encontradas pesquisas relevantes onde estes três aspectos
foram discutidos conjuntamente.
SIG
Danos Danos
diretos indiretos Análise de rede
Microsimulação,
Adapatação de modelos multi-agentes
metodologias
consolidadas
Modelos regionais
Figura 1.3 – Marco analítico para estudo dos danos das inundações em uma cidade
A Figura 1.3 mostra a linha de pesquisa utilizada no estudo. A análise tem início com os
danos diretos, pois eles representam o impacto do evento no primeiro momento, quando as
águas atingem as pessoas e os componentes do espaço urbano. A análise destes danos foi feita
por meio de adaptação de metodologias já consideravelmente discutidas na literatura
(essencialmente, a aplicação de fatores de suscetibilidade material ou o uso de curvas de
“danos x profundidade de inundação” apresentadas no item 6.1.4.1).
Os danos indiretos decorrem de perdas causadas pela interrupção das conexões físicas e
econômicas existentes na economia, eles incorporam elementos de propagação espacial e
5
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
temporal do evento. Para sua análise buscou-se subsídios em estudos que discutem as relações
econômicas existentes no espaço intra-urbano.
A economia urbana pode ser modelada como uma rede formada por nós e ligações (links). Os
nós são os pontos de atividade econômica ou de moradia. A infra-estrutura urbana necessária
para que a rede funcione representa as ligações. A inundação provoca rupturas no
funcionamento de ligações (e.g.: fechamento de uma via) e nós (e.g.: paralisação de atividades
econômicas) com possibilidade de impactar famílias e o nível de atividade e renda local.
Características da rede, como sua capacidade ociosa, existência de rotas ou ligações
alternativas, poder de transferência e suscetibilidade, se refletem na forma e intensidade do
impacto da cheia extrema e de como ele se propaga na cidade. Observa-se que os danos
indiretos da inundação ocupam centralidade na análise.
6
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Os modelos regionais são baseados na representação da área geográfica em zonas, as quais
trocam entre si população, bens e capital (Benenson, 1999). Cada zona é então representada
por um vetor de informações socioeconômicas. Na metodologia de análise aqui proposta
utiliza-se, em parte do sistema urbano, sua representação em zonas, com informações
agregadas, como é feito nos modelos regionais. Em outra parte, aquela que sofre o impacto,
utilizam-se microunidades de informação. Tem-se, portanto, um modelo híbrido.
A fim de discutir todos estes aspectos, a presente tese é dividida em 10 seções, excluída a
presente introdução. O segundo capítulo mostra de maneira direta e sintética os objetivos do
trabalho. Os capítulos 3 e 4 discutem os componentes do risco mencionados na Figura 1.2, a
vulnerabilidade, a ameaça e os danos potenciais. No capítulo três são mostrados os danos
diretos e indiretos decorrentes da inundação sobre um espaço urbano. Os danos indiretos,
como as possíveis perturbações nas vendas dos estabelecimentos comerciais e na circulação
de automóveis ocasionada pela inundação, são discutidos com maiores detalhes. Por não
estarem diretamente associados à presença da água, estes impactos tendem a ter maior
dimensão espacial e temporal do que os danos indiretos, o que torna os seus efeitos
particularmente importantes para o funcionamento da cidade como um todo.
7
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
No capítulo 5 entra-se nos fundamentos conceituais e teóricos para avaliação dos benefícios
do controle de inundações. O valor dos benefícios é considerado, em uma análise econômica
tradicional, como os danos evitados com a adoção da medida de controle. São conceituados
termos usuais na economia ambiental, como “valor”, “benefício”, “bem-estar” e “excedente
do consumidor”. A base teórica mostrada apóia-se na economia do bem-estar, em uma visão
neoclássica.
Para análise dos danos ou benefícios das inundações existe uma ampla gama de modelos
matemáticos, computacionais e estatísticos. Eles também podem ter um enfoque em
macrounidades – como o país ou uma cidade – ou em microunidades – como pessoas e
domicílios. Estes modelos são apresentados nos capítulos 6 e 7.
Por meio destes sete capítulos tem-se uma ampla revisão dos conceitos e metodologias
apresentados na literatura relacionados ao tema da tese, a qual contribuiu para justificar a
escolha metodológica feita. Esta é apresentada no capítulo 8, de material e métodos. O
capítulo mostra as hipóteses e procedimentos utilizados para criação de dois métodos de
investigação do impacto econômico da inundação propostos nesta pesquisa: a modelagem
8
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
econômica em rede do espaço urbano para avaliação de impactos e a criação de indicadores
de risco de inundação.
O capítulo 8 é formado por nove grandes seções. Na primeira, têm-se as hipóteses que foram
utilizadas no método proposto, como aquelas que envolvem a escolha dos sistemas de análise.
Na segunda seção é apresentada as matrizes de informações socioeconômicas utilizadas e os
procedimentos para sua aquisição e organização. Referem-se a três matrizes: “matriz
domicílio”, “matriz residente” e “matriz firma” que inter-relacionam entre si. Elas
compreendem, aproximadamente, a informações de 179 mil domicílios, 639 mil residentes e
24 mil firmas, as quais são apresentadas de forma georeferenciada.
Na terceira seção do capítulo 8 é mostrada a base espacial para a análise das metodologias
propostas. Refere-se à criação de um protótipo, um ambiente de simulação que procura
representar de forma simplificada os principais elementos do espaço intra-urbano que
interferem na magnitude dos danos da inundação: os domicílios, as firmas, a rede viária e o
rio. Na quarta seção são mostrados os procedimentos de SIG utilizados para definição da
localização dos elementos do protótipo - os quais são representados por um vetor de
informações socioeconômicas – e do mapa de inundação.
Nas seções cinco, seis e sete têm-se os procedimentos de modelagem feitos na tese: a
modelagem hidrológico-hidráulica, a modelagem de tráfego de veículos e a modelagem
econômica em rede do espaço urbano. Estas são feitas para três cenários de tempo de retorno
da inundação: 5 anos, 25 anos e 100 anos. As duas primeiras simulações são feitas em
softwares distintos. Seus resultados são incorporados à terceira modelagem, feita em uma
plataforma de MBA, que é simulada no protótipo. Por meio dela é possível verificar o
impacto econômico, em termos de variação no consumo, renda e acesso ao trabalho, entre
outros indicadores.
Na seção oito, tem-se a metodologia para definição dos danos diretos, a qual segue
parâmetros de suscetibilidade dos bens ao contato com a água propostos na literatura ou a
utilização de curvas de danos versus profundidade de inundação (Penning-Rouwsell &
Chatterton, 1977; Machado, 2005).
Finalmente, na seção nove, são propostos indicadores de risco à inundação. Nele são
apresentados diversos indicadores de ameaça, vulnerabilidade, suscetibilidade, exposição e
resiliência, os quais variam segundo o objeto de impacto, material ou humano. Estes
9
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
indicadores são agregados, criando indicadores de risco e resiliência. Os indicadores são
definidos para os domicílios e também para o ambiente econômico de maneira geral.
E, na última seção, têm-se os resultados obtidos pela análise dos indicadores para os
domicílios e para o ambiente econômico. Os indicadores para cada domicílio puderam ser
mapeados, o que possibilitou verificar a configuração espacial do risco em termos de micro-
unidades de análise, os domicílios.
10
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
2 OBJETIVOS
Criar metodologia para investigação dos impactos econômicos causados por inundações nas
famílias e na cidade em uma análise de vulnerabilidade social, de rede urbana e danos
associados, com potencialidades de generalização para vários municípios. Desta forma, busca-
se estimar os danos diretos e indiretos do evento, em uma dimensão espacial. A pesquisa
compreende cinco objetivos específicos:
2. Estimar o efeito do evento nas rotinas dos moradores: estudo da re-alocação dos
gastos, alterações no acesso aos bens e à renda e perda de bens e diminuição do bem-
estar.
11
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
3 DANOS DAS INUNDAÇÕES
No médio e longo prazo a inundação pode levar à maior eficiência produtiva, quando
instalações e máquinas antigas, destruídas pelas águas, são substituídas por novas; incentivar
o redesenho e reorganização da área urbana para reduzir a vulnerabilidade de uma maneira
geral; e mesmo possibilitar o crescimento da união familiar e do senso de solidariedade na
comunidade (Green, Parker & Tunstall, 2000).
12
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
área física atingida pelo evento (Tabela 3.1) (Machado, 2005; Parker, Green & Thompson,
1987).
O valor da magnitude dos danos indiretos é controverso na literatura. Segundo Barbat &
Carreño (2004), os efeitos indiretos de um desastre natural dependem do tipo de desastre. Se
“úmido”, como as inundações, os danos indiretos podem chegar a 50% dos danos diretos; se é
do tipo “seco”, a exemplo dos terremotos, estima-se que este percentual seja até mesmo
superior a 75%.
Há impactos indiretos de médio e longo prazo, como alteração dos fluxos migratórios;
mudanças nos valores de moradias; redução do padrão de consumo de famílias em
13
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
conseqüência do endividamento para cobrir os custos ocasionados pelos danos da enchente; e
alteração dos gastos governamentais com o surgimento de um novo padrão migratório e de
desenvolvimento na região, quando a consciência da inundação tenha se tornado efetivamente
presente (THE IMPACTS..., 1999). Estes efeitos são particularmente observados em grandes
desastres naturais, como a seqüência de tsunamis no Oceano Índico no final de 2004 ou o
furacão Katrina na região litorânea sul dos Estados Unidos em 2005.
A definição espacial e temporal é central na avaliação dos danos da inundação. Ela se reflete
no tipo de metodologia a ser utilizada: em uma perspectiva local de curto prazo, as análises
microeconômicas baseada na economia do bem-estar tendem a ser adequadas; em um
horizonte de tempo mais amplo e com a incorporação de danos indiretos, o uso de
microsimulações pode trazer resultados satisfatórios; em escalas regionais ou nacionais,
modelos econômicos de insumo produto ou equilíbrio geral talvez sejam apropriados.
Mas, segundo Parker, Green & Thompson (1987), os danos indiretos ocasionados pela
inundação de atividades comerciais e de serviços, embora possam gerar prejuízos financeiros
para o estabelecimento, dificilmente se traduzirão em uma perda econômica para a região ou
nação, pois ocorrerá uma transferência da demanda para outros locais. Ressalta-se que, como
os agentes econômicos “ganhadores” são diferentes dos “perdedores”, na ótica distributiva, o
impacto do evento natural não é nulo (Handmer, Reed & Percovich, 2002).
14
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
metodológicos orientam esta escolha. Objetivamente, as inundações causam inúmeras
perturbações, sofrimento e perdas econômicas individuais. Com ganhadores e perdedores
diferentes, deixar de considerá-las no planejamento das políticas públicas não é compatível
com uma economia socialmente justa.
As seções 3.1 a 3.3 discutem os danos das inundações sobre as famílias, atividades produtivas
e rede viária. Embora o foco do trabalho sejam as famílias, os dois últimos também são
tratados, pois é fonte de renda, consumo e meio de deslocamento dos residentes. A ênfase
recai sobre os danos indiretos, aspecto mais relevante da tese.
A Tabela 3.2 apresenta o leque de impactos que afetam os moradores, sendo que eles não são
necessariamente mutuamente exclusivos. Entre os danos destacados, estão os efeitos sobre a
saúde da população e as perturbações no dia-a-dia do domicílio após o desastre.
2
O conceito de excedente do consumidor é explicado com detalhes no capítulo 5, item 5.3.2.
15
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Tabela 3.2 - Impactos da inundação nas famílias
Danos à construção e ao conteúdo da residência.
Danos nas instalações elétricas, telefônicas e de saneamento.
Custos de limpeza.
Danos diretos
Perda de itens insubstituíveis, de valor sentimental.
Perda de animais de estimação.
Danos à saúde, ferimentos ou morte.
Preocupação sobre inundações futuras (ansiedade, stress e medo).
Remoção permanente da área.
Transtornos no cotidiano em conseqüência dos danos da inundação.
Mudança temporária de residência.
Perturbações devido aos sistemas de alerta e alarme de inundação.
Piora e paralisações nos serviços de utilidade pública.
Danos indiretos Perda de renda pela falta no trabalho e perda de oportunidades.
Gastos com a recuperação do domicílio diminuem a renda disponível
para demanda de outros bens.
Uso do tempo na recuperação dos danos as expensas de outras
atividades, como as de lazer.
Problemas financeiros de curto prazo pelo elevado volume de despesas
associadas ao evento.
Ajuda ou acomodação temporária de parentes e amigos, vítimas da
inundação, causando custos adicionais e alteração da rotina.
Custos adicionais de transporte, caso sejam utilizadas vias inundadas
Danos indiretos ou ocorra um aumento no congestionamento de trânsito.
decorrentes de Diminuição das oportunidades de consumo na região ou cidade, caso
inundação em lojas, serviços e locais de lazer tenham sido inundados.
outras áreas Perturbações nas redes podem interromper ou piorar os serviços de
infra-estrutura.
Possibilidade de aumento dos custos associados às compras domésticas
e serviços de recreação.
Fonte: Elaboração própria baseada em Parker, Green & Thompson (1987).
O risco é uma noção virtual, um espaço vazio que pode conduzir ou dar lugar à ansiedade ou
ao medo. Em função disso, podem ocorrer estratégias de construção do risco, ocultação e
amplificação (Blancher, 1989).
Embora exista a ansiedade em relação à inundação, indivíduos tendem a ter memória curta ou
a acreditar que o evento é demasiado raro para ocorrer. Experiências mostram que a
indiferença em relação ao risco é generalizada. Um percentual significativo de moradores em
áreas inundáveis ignora a ameaça até a primeira ocorrência (Parker, Green & Thompson,
1987; Debo & Reese, 1995). E, mesmo após um evento, a preocupação, inicialmente alta, cai
rapidamente. Há indivíduos que consideram que o evento não vai se repetir, sendo apenas um
fruto da casualidade. Estas pessoas, obviamente, não sofrem de ansiedade.
17
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O stress, da mesma forma que a ansiedade, depende da natureza do evento e das
características do residente. O stress é o resultado de uma reação que o nosso organismo tem
quando estimulado por fatores externos desfavoráveis. O “fator surpresa” tem um efeito
importante, como também a magnitude dos danos e prejuízos. O choque será grande em um
evento repentino, sem alerta, no meio da noite. Cheias de grande impacto - como em áreas
costeiras onde o volume de água é acompanhado pela ação das ondas – levam a uma elevada
carga de stress emocional.
Embora eventos repentinos possam ser traumáticos, existe o stress constante dos eventos de
longa duração. Relaciona-se a um prolongado período de isolamento, perda de serviços e
perturbações no estilo de vida usual. Sabe-se que um estado de stress pode levar a uma
sobrecarga de órgãos vitais, deixando-os debilitados. No meio médico é consensual sua
influência no sistema imunológico, diminuindo a resistência a doenças.
18
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A perda de itens insubstituíveis constitui um dos maiores danos para as famílias. Lembranças
acumuladas reconstroem o passado de uma pessoa e são particularmente valiosas para os
idosos. Há um elevado transtorno para reaquisição de documentos perdidos, como certidões,
carteiras de habilitação, cheques e contratos.
Estes três aspectos interferem nos encadeamentos para frente e para trás presentes na
economia (no inglês, forward and backward linkages), que podem propagar os danos. Se há
redundância econômica, ou seja, fontes substitutas para suprir as rupturas que eventualmente
ocorram, o impacto e seu encadeamento tendem a ser amortecidos.
19
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Sem inundação
C1
A B Demanda
Final
C2
Com inundação
Nesta categoria encontram-se atividades não envolvidas com a produção de um bem físico,
mas com a sua venda. São atividades que tendem a ter menor grau de dependência do que a
indústria em relação a máquinas e equipamentos, embora ele seja cada vez maior com a
intensificação do uso da informática.
O comércio varejista e os serviços são afetados pelas inundações de duas formas: 1) o próprio
estabelecimento é inundado e com isto há perturbação dos negócios e 2) as residências dos
consumidores ou as vias de acesso são atingidas pela cheia levando a uma diminuição na
demanda (Parker, Green & Thompson, 1987). Geralmente o período de paralisação da
atividade é maior do que o da inundação, especialmente se for um evento de grande
magnitude que exija intenso trabalho de reparação e limpeza do estabelecimento.
Ainda que o prejuízo financeiro da firma não se traduza em perda econômica para região ou
país; para a comunidade, sempre haverá perda, pois há consumidores que incorrerão em
gastos extras de transporte, pois terão que consumir em estabelecimentos mais distantes, e
diminuição de bem-estar por adiar o consumo ou consumir bens menos satisfatórios.
20
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3.2.1.1 Danos indiretos no comércio varejista
O comércio varejista ocupa-se da distribuição final de bens. Ante a inundação de um
estabelecimento, se os seus clientes optarem por adiar o consumo, ele sofrerá perdas pequenas
de receita, apenas aquelas relacionadas a mudanças de rotinas ou perda de equilíbrio contábil
decorrentes de uma súbita modificação no comportamento das vendas ou, eventualmente,
alguma perda pelo estoque parado. Alternativamente, caso a estratégia do consumidor seja
substituir ou transferir o consumo, o estabelecimento sofrerá prejuízos mais significativos.
Do ponto de vista da firma, pode-se supor, por exemplo, que quanto maior o número de dias
parados, maior a possibilidade de que os seus consumidores habituais escolham a
transferência de consumo e não seu adiamento, logo, as perdas serão maiores. Por outro lado,
há custos que não variam proporcionalmente no tempo, como os custos de limpeza.
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aumento do consumo de bens importados em detrimento dos nacionais, o que seria pouco
provável de ocorrer como conseqüência de uma inundação, mesmo de grande magnitude.
A Tabela 3.4 mostra como a inundação de domicílios afeta o consumo nos estabelecimentos
econômicos fora ou dentro da região inundada. Obviamente, a demanda de bens
indispensáveis à sobrevivência do consumidor tenderá a se manter inalterada, como a de
alimentos essenciais. Produtos para casa e material de construção possivelmente sofrerão um
boom de consumo, no pós-desastre, para a recuperação da residência. Com a re-alocação da
renda, perdem espaço no orçamento familiar os produtos supérfluos ou menos emergenciais.
Um ponto a ressaltar é o de que a inundação pode ser acompanhada de mau tempo, o que
também interfere no comportamento do consumidor. Seria necessário isolar o impacto do mau
tempo daquele decorrente da inundação, o que envolveria estudos complexos, e nem sempre
possíveis, de comparação de eventos e de dados históricos.
Atividades industriais são aquelas envolvidas no processamento de materiais. Além dos danos
diretos que possam ocorrer pelo contato com a água da inundação, existem dois componentes
23
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principais dos danos indiretos: 1) perda de valor adicionado e os 2) custos adicionais
incorridos em decorrência da inundação.
Geralmente o setor industrial possui maior volume de recursos financeiros (via recursos
próprios, capacidade de empréstimo ou seguros) para minimizar ou neutralizar as
conseqüências indiretas da inundação do que as atividades comerciais e de serviços. O setor
não é tratado em detalhes nesta pesquisa que se ocupa principalmente das atividades
econômicas relacionadas diretamente ao consumo das famílias.
A atenção dada aos serviços de infra-estrutura pelo governo americano associa-se a dois
aspectos que se combinam tornando a sociedade especialmente vulnerável à ocorrência de
falhas nos mesmos: a grande dependência que existe em relação a eles e a configuração em
rede dos serviços, uma rede de grande alcance e elevada densidade de interconexões.
24
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maior alcance e capacidade e passa mesmo a adotar o sistema just-in-time (Tang & Wen,
2009; Branscomb, 2006).
Branscomb (2006) destaca uma tendência dos gerentes e planejadores nos EUA em reduzir os
custos dos serviços, diminuindo investimentos na redundância das conexões ou em medidas
de proteção contra desastres. Buscam-se economias de escala, ou seja, um melhor
desempenho e redução dos custos abarcando um amplo leque de funções e oportunidades de
negócio. Com este objetivo, ocorrem fusões e aquisições no setor. Muitos sistemas tornaram-
se tão “eficientes” que resta pouca margem para mitigar as conseqüências de um desastre. A
execução de alguma tarefa de inspeção mais rigorosa pode afetar a rapidez de produção ou
distribuição do bem. Alguns componentes técnicos essenciais dos sistemas de energia elétrica,
por exemplo, não podem ser rapidamente substituídos pela sua excessiva especialização. Cada
vez mais os operadores humanos são substituídos por softwares, o que aumenta a
vulnerabilidade ante a ocorrência de panes. Ao que parece, há uma preocupação com os riscos
normais da atividade, mas a proteção a eventos de risco com menor probabilidade é
negligenciada.
Portanto, se por um lado, foram feitos progressos na engenharia e gestão de operações para se
obter melhor qualidade e robustez dos serviços; por outro, grandes redes induzem a grandes
riscos associados a uma potencial falha de operação. Uma pequena interrupção em suas
conexões pode afetar imediatamente um grande número firmas e pessoas e, pelo “efeito
cascata”, outras redes.
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Obviamente as redes têm características diferentes, o que interfere na sua vulnerabilidade.
Redes de telecomunicação normalmente têm tecnologia em formato de árvore e são muito
suscetíveis a um impacto externo, pois a perda de uma única ligação ou nó isola parte da rede.
Outras podem ter maior grau de redundância e ligações, mas não necessariamente de
capacidade. A magnitude do impacto é diferença se é um nó ou uma ligação que é atingida.
Os nós das redes de serviços públicos, como as estações de bombeamento, estações
telefônicas e transformadores, são normalmente mais suscetíveis do que as ligações – cabos,
canalizações e correntes elétricas.
Os danos nos serviços de utilidade pública são de difícil quantificação, envolve uma análise
de rede (redundância, suscetibilidade e transferência) e uma estimativa do valor adicionado
perdido, informação pouco divulgada pelas empresas. Como alternativa pode ser utilizada a
perda de receita, inferindo quanto cada agente atingido deixou de consumir ou pagar.
O sistema de transporte é tipicamente uma rede. Nas vias, unidades discretas, como carros,
ônibus ou caminhões locomovem-se. As pessoas, ao se deslocarem de um local para outro,
esperam usufruir benefícios no local de destino. A interrupção ou perturbações nas vias leva à
ocorrência, pelas dificuldades de acessibilidade, dos danos indiretos pelas firmas e domicílios
discutidos no item 3.2, os quais envolvem substituição do consumo ou seu adiamento, mas
também custos de transporte adicionais (custo material) e de oportunidade causados pelo
atraso na chegada ao destino (custos por tempo de atraso) (Parker, Green & Thompson, 1987).
A soma destes dois últimos custos representa o custo potencial pela perturbação no tráfego.
26
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Em algumas situações, os custos associados a impactos no tráfego de veículos podem ser
elevados, dominando os benefícios nas análises custo-benefício de medidas de proteção
contra inundações. É o caso de vias que sofrem inundação com relativa freqüência em centros
urbanos complexos, ou quando uma rede viária de uso intenso é inundada ou usada como
desvio de tráfego ante a inundação de um centro urbano de relevância econômica. Outro
exemplo são pontes e vias que, ao serem interrompidas, levam ao aumento significativo da
distância entre origem e destino com o uso de rotas alternativas.
Segundo Green (1995), a vulnerabilidade de uma rede é definida como o inverso do menor
número de linhas que devem ser cortadas a fim de se isolar uma parte dela do restante. 3
Quanto maior o número de vias que precisem ser bloqueadas para isolar uma região, menos
vulnerável é a rede ante a ocorrência de perturbações. Além deste aspecto dimensional, tem
relevância a capacidade de trafego dos desvios, a fim de se viabilizar o deslocamento do fluxo
sem transtornos, aspecto mostrado no item 4.4.
A função dos serviços de emergência é minimizar as perdas totais devido à inundação. Tanto
o estado, quando organizações voluntárias ajudam vítimas potencias ou reais e auxiliam na
proteção de propriedades. Entre os agentes envolvidos nos serviços de emergência, tem-se a
polícia, a defesa civil, o corpo de bombeiros, os setores da administração pública ligados à
assistência social e educação, os serviços de ambulância, os engenheiros e os voluntários,
como Cruz Vermelha, Lions Club e outras organizações não governamentais.
Serviços de emergência estão envolvidos desde a fase preparatória, quando são identificadas
as ocupações de risco e estabelecidos os planos de emergência, até a fase de recuperação, com
a coordenação dos grupos de assistência, avaliação do impacto, limpeza e fornecimento de
ajuda monetária.
3
Tradução do autor. Original em inglês.
27
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Muitos serviços prestados em uma situação crítica são concebidos para lidar com vários tipos
de emergência (e.g.: incêndio, acidentes, inundação, desmoronamento). Se um evento
necessitar de mais recursos do que o usualmente é atribuído a uma situação de emergência, há
um custo marginal adicional associado a ele.
4
Para uma análise dos princípios e problemas que envolvem a estimação dos custos de emergência, ver Parker,
Green & Thompson (1987).
28
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Considerando as edificações, a magnitude dos danos à construção depende, sobretudo, do
padrão construtivo, da área construída, da idade do imóvel e das características da inundação
que as atingiu (como profundidade e velocidade). A Tabela 3.6 mostra os principais
componentes da construção e possíveis avarias associadas.
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(Conclusão)
- Em níveis mais baixos de inundação (até 0,6m) e de curta duração, tintas a base de
esmalte sintético podem protegê-las contra estragos.
Portas externas, marcos e
- Profundidades maiores tendem a danificar-las (efeitos de pressão e capilaridade). Se
batentes
forem de madeira compensada, pode ocorrer seu empenamento, estufamento e
descolamento.
- Janelas não são afetadas até que a água chegue ao peitoril, perto de 0,9m.
- Inundações de curta duração não afetam a madeira até 1,5m, nível em que a pressão
Marcos e Janelas começa a causar danos.
- Inundações de longa duração afetam a madeira e exigem reparos do nível do
peitoril para cima.
Pisos Desnível. Se forem de cerâmica, pode ocorrer deslocamento dos blocos.
Fonte: Elaboração própria com informações disponíveis em Machado (2005).
Além dos danos mostrados na Tabela 3.6, há outros, como em instalações elétricas e
telefônicas, que talvez precisem ser substituídas ou reparadas. Podem ocorrer avarias em
instalações hidráulicas e sanitárias, com contaminação de reservatórios e o rompimento de
tubulações (Salgado, 1995).
Deve ser dado destaque aos danos que podem ocorrer no estoque de mercadorias,
principalmente de atividades comerciais. Alguns estudos indicam que os estabelecimentos de
comércio são mais freqüentes na planície de inundação do que as indústrias (Machado, 2005).
Segundo Machado (2005), pelo elevado estoque e intenso uso do espaço, o comércio possui
um dano potencial ao conteúdo por unidade de área mais alto do que o das atividades de
serviços e mesmo do que o das residências.
30
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valor do estoque seria tipicamente uma curva em forma de “S”. A distribuição do estoque de
mercadorias em um estabelecimento comercial seguiria um padrão, com pouco estoque nos
níveis mais próximos do chão e a maioria da mercadoria estocada entre 0,6m e 2,1m.
Há ainda os veículos. Eles também compõem o conteúdo de domicílios e firmas, são bastante
suscetíveis ao impacto da águas, mas são especialmente problemáticos em relação à
quantificação de danos. A primeira grande dificuldade é mensurar o número de veículos que
se encontra no local do evento, dado que se trata de uma mercadoria cuja função é se deslocar.
Appelbaum (1985) adota como hipótese de que os veículos atingidos são todos aqueles
pertencentes aos domicílios da área afetada. O autor relativiza o impacto ao analisar o tempo
de alerta. Se considerada uma antecedência de cerca de 2 horas, tem-se um percentual de 25%
de veículos atingidos. Em um tempo de alerta significativamente superior a este, o percentual
cairia para 10%.
EASTWOOD... (2009) também utiliza em suas análises o número de veículos por domicílio
(1,7 na Austrália) e adota o pressuposto de que 25% destes carros estão presentes durante as
horas de trabalho (40 horas por semana) e 90% durante as horas de não trabalho (128 horas
por semana), e, portanto, a expectativa de veículos presentes no momento da inundação, em
uma média ponderada, é estimada em 1,3 por domicílio.
Contabilizados os veículos, é feita a análise de danos. Ela também encerra dificuldades, visto
a variabilidade existente de modelos e ano de fabricação. A idade média da frota no Brasil,
em 2009, por exemplo, é de nove anos.5 Um procedimento usual é escolher um veículo
padrão para estimativa dos danos (Appelbaum, 1985; Nagem, 2008; EASTWOOD..., 2009),
estes obtidos por meio de consultas em oficinas mecânicas, experimentos ou vistoria após o
evento.
Finalmente, têm-se os danos sobre equipamentos urbanos públicos (e.g.: praças e parques) e
sobre a infra-estrutura urbana, como vias e redes de eletricidade e saneamento, que também
5
Segundo pesquisa do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores –
Sindipeças, divulgada em agosto de 2009. Disponível em:
< http://www.sindipecas.org.br/paginas_NETCDM/modelo_pagina_generico.asp?ID_CANAL=514 >
31
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são susceptíveis ao contato com as águas do escoamento. As obras de infra-estrutura pública,
pela sua dimensão e complexidade, tendem a exigir elevados custos de reparação, sobretudo
nos componentes de construção (Merz et al., 2004). Segundo um amplo banco de dados da
Bavarian Water Management Agency, em Munique, a infra-estrutura pública foi responsável,
entre os anos de 1978 e 1994, pelo maior valor médio de danos decorrentes de inundações
entre os setores econômicos na Alemanha.
Neste sentido, destaca-se estudo recém-desenvolvido no Brasil por Côrtes (2009). Nele são
analisados os danos aos sistemas de abastecimento de água, esgotamento sanitário, drenagem
urbana, distribuição de energia, limpeza pública e sistema viário. A sistemática de cálculo
proposta foi aplicada para avaliar o impacto físico das inundações no município de Itajubá,
em Minas Gerais, para diversos cenários de análise com a proposição de medidas de controle.
No estudo, para uma inundação com tempo de retorno (Tr) de 100 anos, os danos de infra-
estrutura se situam entre 7% e 10% dos danos diretos totais, considerando três cenários de
impacto do evento.
Os custos de limpeza após uma inundação também são classificados como danos diretos
(Parker, Green & Thompson, 1987). São necessários materiais de limpeza (e.g.: detergentes,
alvejantes, desinfetantes, amônia, luvas e botas de borracha) e equipamentos (e.g.: baldes,
ferramentas, esponjas, mangueiras, ferramentas, vassouras, pás, enxada, esfregão e carrinho
de mão). Se o proprietário não os possuir, ele terá que incorrer em custos adicionais para
comprá-los. Se for necessária a contratação de empregados ou a sobrecarga dos existentes,
também haverá custo adicional.
E há, ainda, os danos diretos intangíveis, como as perdas de bens insubstituíveis, de valor
sentimental, o surgimento de doenças decorrentes do contato com a água, a perda de vidas
humanas, entre outros. Embora quantificá-los encerre grandes dificuldades, o APÊNDICE I
discute brevemente o valor da vida humana, esta afinal, a maior perda em uma inundação.
32
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4 VULNERABILIDADE A INUNDAÇÕES
A maioria dos estudos de risco não incorpora de forma integral todas estas forças e pressões,
seria um trabalho exaustivo, quando não impossível, de quantificação. Muitas delas estão
fortemente relacionadas às especificidades locais. Usualmente, usa-se a profundidade (força
hidrostática) e, com menos freqüência, a velocidade (força hidrodinâmica) e duração.
No Brasil, tem-se o trabalho de Salgado (1995), Machado (2005) e Nagem (2008) onde a
profundidade também é a variável hidráulica associada aos danos. A suposição é de que não
ocorre pressão hidrostática diferencial dentro e fora de uma edificação atingida, considerando
como evento “padrão” uma inundação de lento crescimento (slow-rise). O efeito dominante
6
Original em inglês.
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seria o movimento moroso da água em contato com as construções e objetos. Estudos que
fazem ressalvas a esta abordagem mostram que a profundidade explica, somente em parte, os
danos, pois para cada altura de inundação, encontrar-se-ia também uma grande quantidade
danos que também se associam às outras características da cheia (Merz et al., 2004).
A velocidade não pode ser negligenciada; os danos tendem a aumentar à medida que as
velocidades crescem (Green, Parker & Tunstall, 2000). Inundações rápidas (flash floods) e
inundações causadas por ruptura de barragens são capazes de gerar escoamentos com
velocidade suficiente para arrastar edifícios e estruturas de construção reforçada. Edificações
em alvenaria e madeira provavelmente apresentarão falhas quando a velocidade da inundação
ultrapassar 2 m/s (Tabela 4.1).
Green, Parker & Tunstall (2000) mostram alguns critérios de análise da ameaça apresentados
por Penning-Rowsell et al. (1992), os quais, por sua vez, referem-se ao estudo de Clausen
(1989), que relacionam as características das inundações ao possível impacto sobre a
edificação (Tabela 4.1). O trabalho de Clausen (1989) é bastante referenciado em pesquisas na
área de recursos hídricos e baseia-se em dados empíricos, essencialmente os adquiridos a
partir da ruptura do Dale Dyke, ocorrida em Sheffield no dia 11 março 1864.
34
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residências (inclusive o de Clausen, 1989, mencionado acima), recomenda os parâmetros para
identificação da possibilidade de danos estruturais mostrados na Tabela 4.2.
Sobre este tema há outro estudo do RESCDAM... (2000) que mostra experiências com o uso
de modelos físicos em análise de ruptura de barragens. Para exame da estabilidade de pessoas
submetidas a diferentes características de escoamento, foram utilizados sete objetos humanos,
cujo produto “massa x altura” (m x kg) variou de 77 até 195mkg. A partir daí, criaram-se
funções que relacionam profundidade, velocidade do escoamento, massa e altura do
indivíduo. As funções foram definidas para três cenários determinados segundo as condições
do escoamento e da pessoa atingida: normal, bom (e.g.: boa visibilidade do escoamento,
ausência de entulhos, indivíduos em boas condições de saúde) e ruim (e.g.: presença de
obstáculos, sujeira, pessoa idosa) (Tabela 4.3).
Em Prevene (2001) apud Courtel et al. (2006) a ameaça de afogamento é considerada em três
níveis e com critérios mais simplificados, pois apenas a velocidade e a profundidade do
escoamento são consideradas na análise (Tabela 4.4).
35
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Tabela 4.4 - Ameaça de afogamento, segundo Prevene (2001)
Ameaça Profundidade (y) e Velocidade (v)
Alta y > 1,5 m ou v > 1,5 m/s
Média 0,5 m < y < 1,5 m ou 0,5 m/s < v < 1,5 m/s
Baixa 0,1 m < y < 0,5 m e 0,1 m/s < v < 0,5 m/s
Fonte: Prevene, 2001 apud Courtel et al., 2006.
Segundo Jonkman et al. (2008), o número de fatalidades causado por um evento de inundação
é fortemente influenciado pelas características da ameaça (e.g.: profundidade, velocidade e
taxa da ascensão do nível d`água), pela existência de alerta, rotas de evacuação e abrigo e pela
ocorrência de colapso estrutural de edificações, pois este, ao mesmo tempo que significa a
perda de uma proteção contra a inundação, implica em um escoamento com maior carga de
entulhos, uma ameaça adicional às pessoas.
Acredita-se que as taxas de mortalidade são mais elevadas em quatro locais ou situações: em
locais próximos aos diques rompidos e às barragens; onde há elevada profundidade de água;
quando há uma taxa de ascensão acelerada no nível de água ou em áreas onde se verifica
elevado volume de edificações destruídas (Jonkman et al., 2008).
Tabela 4.5 – Funções de mortalidade definidas a partir de dados sobre a inundação de New
Orleans, segundo Jonkman et al., 2008
Profundidade (y)
Zona de inundação Mortalidade média (FD)
x Velocidade (v)
Zona próxima da ruptura do dique y x v > 5m2/s FD = 0,053
Zona mais distante da ruptura do dique y x v < 5m2/s FD(y)=ΦN[((ln(y)-5,20)/2,00]
Uma diferença destacada pelos autores entre os resultados de New Orleans e aqueles
referentes à Holanda relaciona-se à influência da taxa de ascensão da cheia na mortalidade: na
36
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primeira ela é considerada não relevante, ao contrário dos resultados obtidos para as
inundações holandesas.
Uma análise mais abrangente da escala potencial da ameaça de uma inundação, considerando
a profundidade e a velocidade, é mostrada na Figura 4.1. O índice de ameaça “1” é
considerado o de menor impacto, quando as pessoas podem lidar sozinhas com os feitos
adversos da cheia, mas os veículos não estão seguros. No valor extremo, “3”, há perigo para
as pessoas e risco de dano estrutural. Nota-se que os danos passam a atingir as propriedades
quando a profundidade ultrapassa 10 cm. Em altas profundidades de inundação (acima de 1
m, por exemplo), a velocidade tem menor relevância do que a altura em relação ao impacto; o
contrário ocorre em níveis mais baixos de profundidade, quando sua importância relativa é
maior. Para que ocorra um evento que coloque gravemente em risco as pessoas e afete as
estruturas das edificações, necessita-se uma velocidade mínima, ao contrário dos danos mais
“superficiais” à propriedade, como em pisos e revestimentos.
3 2 1 0
2
Velocidade do Índice de risco da ameaça (IR) = IA x IH
escoamento x
profundidade 6 3 0 3
(m2/s) Índice de
1
ameaça
4 2 0 2 (IA)
1
IR ≤ 2: aceitável
2 1 0 1
0
1 10 100 1000
Tempo de retorno, em anos
O índice de risco da ameaça (IR) é obtido multiplicando-se o índice de ameaça (IA) pelo
índice de risco hidrológico (IH). O que o autor nomeia como risco hidrológico é o tempo de
retorno (Tr) do evento: de 1 a 10 anos, índice 2; de 10 a 100 anos, índice 1 e de 100 a 1.000
anos, índice 0. A Figura 4.2 mostra que um índice de risco de ameaça menor ou igual a “2” é
aceitável, o que ocorre em três situações: eventos raros (Tr > 100 anos); quando a ameaça
(velocidade x profundidade) é menor do que “0,5” e o Tr está entre 1 e 10 anos; ou quando a
ameaça é menor do que “1” e o Tr do evento varia entre 10 e 100 anos.
38
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Há pesquisadores que consideram duas escalas de duração (maior ou menor do que 12 horas)
como suficiente para distinguir a susceptibilidade dos bens ao contato com a água, pois ela
variaria em uma escala discreta e não marginal (Penning-Rouwsell & Chatterton, 1977). Mas,
para determinar a magnitude dos danos indiretos, o numero de dias de inundação é relevante.
Profundidade
Duração
Sedimentos
Sal
Danos de Carga Química
Inundação Águas residuais
Entulhos
Profundidade +Velocidade
Velocidade Batida de entulhos
Rompimento de fundações
Fonte: Adaptado de Green, Parker & Tunstall, 2000: 28.
Quais fatores da Tabela 4.7 devem ser considerados no estudo de vulnerabilidade e de danos
depende de vários aspectos, desde a escala do evento e o objetivo do estudo, até as limitações
técnicas ou de dados. Em uma análise de prejuízo, o interesse em criarem-se funções que
apresentem uma rápida estimativa dos danos diretos dificulta a incorporação de muitos
atributos da inundação. Os ganhos em simplicidade e possibilidade de generalização seriam
perdidos. Em análises mais abrangentes de vulnerabilidade e risco, a magnitude da ameaça
39
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normalmente é medida pela velocidade, profundidade e freqüência. Kelman & Spence (2004),
em análise de vários estudos, concluem que a profundidade ainda é a variável mais recorrente
nas pesquisas sobre danos, mesmo se um número não desprezível de estudos incorpore outras
características hidráulicas, principalmente a velocidade.
US Army Corps of Engineers - USACE (1998) apud Kelman & Spence (2004), propõem uma
matriz delineando escalas consideradas importantes para determinação de cenários de análise
dos danos de inundação:
Em suma, esta seção mostra que os resultados apresentados pelas pesquisas sobre a definição
de parâmetros de ameaça apresentam relativa variação. Uma das possíveis razões para esta
divergência é que muitos critérios baseiam-se em análises empíricas, nas quais as
especificidades locais podem ser importantes. Neste sentido, os experimentos feitos por
RESCDAM... (2000), em ambiente controlado e considerando diferentes cenários de
escoamento e de condições físicas das pessoas atingidas, merecem atenção.
Observou-se que três enfoques principais dominam os estudos que tratam os parâmetros da
ameaça, nos quais a profundidade e a velocidade são as principais características do
escoamento utilizadas: o impacto da ameaça é discutido sobre os elementos expostos de uma
maneira geral (e.g: automóveis, pessoas e edificações), como em Stephenson (2002);
especificamente sobre as pessoas (e.g.: perda de estabilidade, possibilidade de afogamento,
ferimentos), a exemplo dos estudos de Prevene (2001) e Jonkman et al. (2008) ou sobre as
edificações (e.g.: possibilidade de dano estrutural), como em Clausen (1989) e RESCDAM ...
(2000).
40
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4.2 Análise de Vulnerabilidade
Para Chambers (1983) apud Delor & Hubert (2000) vulnerabilidade seria a exposição a
contingências e estresses somada à dificuldade em enfrentá-los. A vulnerabilidade teria dois
lados: um lado exterior, relacionado ao choque ou stress do qual o domicílio está sujeito, e um
lado interno, que representa a desproteção, a impotência, a falta de meios em lidar com o
evento sem a ocorrência de danos. Chardon (1999), simplificadamente, considera que
vulnerabilidade é a probabilidade de sofrer danos.
Alexander (2002) a define como a susceptibilidade de pessoas e objetos aos danos associados
a determinado nível de perigo. Por “perigo” considera-se uma ameaça, com dada
probabilidade de se manifestar em um local, em determinado momento, de uma maneira
particular e com certa magnitude. A ameaça é o “gatilho” que expõe a vulnerabilidade.
Conceito semelhante ao Chambers (1983) apud Delor & Hubert (2000) é adotado por Pelling
(2003). A vulnerabilidade denotaria uma situação de exposição ao risco aliada a inabilidade
em evitar ou absorver danos potenciais. O autor faz distinção entre vulnerabilidade física,
social e humana. A primeira refere-se à vulnerabilidade do ambiente construído, a segunda, à
vulnerabilidade experimentada por pessoas e seu sistema social, econômico e político. A
vulnerabilidade humana seria uma combinação das duas formas anteriores de vulnerabilidade.
41
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Wisner et al. (2004:11) denota como vulnerabilidade as características ou a situação de uma
pessoa ou grupo de pessoas que influenciam em sua capacidade de antecipar, lidar, resistir e
de se recuperar do impacto de uma ameaça natural. O desastre ocorreria como resultado do
impacto de uma ameaça natural sobre pessoas vulneráveis.
Há autores que afirmam que o desastre seria uma situação extrema já implícita na condição
quotidiana da população ou das pessoas. Os desastres trariam à superfície a pobreza que
caracteriza a vida de muitos habitantes (Hardy & Satterwaite, 1989 apud Delor & Hubert,
2000).
Bollin et al. (2003) segue a mesma linha conceitual, mas explicitando o componente
financeiro: desastre seria o impacto de um evento com conseqüências ou danos que excedem
a capacidade da comunidade afetada ou da sociedade em manejar a situação utilizando seus
próprios recursos.
O conceito de Bollin et al. (2003) pode ser apropriado, entretanto falta clareza na definição
precisa da dimensão temporal, afinal, a recuperação com os recursos próprios pode ser
possível, mas envolver um longo período até que se alcance o nível de bem-estar anterior à
ocorrência do evento. Este conceito, como todos os outros relacionados ao risco de desastres
utilizados por Bollin et al. (2003), tem como base as definições contidas nos documentos
coordenados pela International Strategy for Disaster Reduction - ISDR, que discutem uma
Estratégia Internacional para a Redução de Desastres (EIRD) (ISDR, 2002 apud Bollin et al.,
2003).
Torna-se relevante destacar o estudo Green (2004), que expõe uma série de conceitos
encontrados na literatura sobre vulnerabilidade. Nesses, o objeto “vulnerável” pode se
relacionar a um sistema qualquer que responde adversamente a eventos perigosos (Yamada et
al., 1995 apud Green, 2004); a propriedades materiais e layout de objetos suscetíveis à
determinada ameaça natural (Clark et al., 1998 apud Green, 2004); a grupos de indivíduos
que possuem características que o posicionam na sociedade como menos ou mais vulneráveis
(Cannon, 1993 apud Green, 2004); a uma região ou população que possui fatores que
42
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influenciam sua exposição ao risco natural e a predispõem às conseqüências adversas
(Downing, 1993 apud Green, 2004); a um elemento propenso a danos em decorrência de
“fragilidade” social, econômica, cultural e política (Alcantara-Ayala, 2002 apud Green, 2004)
ou a um sistema social ou ecológico e sua propensão a sofrer danos decorrentes de stress e
choques externos (International Council for Science, 2002 apud Green, 2004).
Como consenso entre os pesquisadores tem-se que a vulnerabilidade está associada a um fator
específico de impacto potencial - que pode ser uma ameaça, um perigo, um choque ou um
estresse – que atua sobre um objeto, material ou social, em conseqüência de uma ou mais
propriedades que ele possui. É sempre uma relação entre sujeito e objeto.
Em relação ao objeto de impacto, Green (2004) compartilha opinião de Wisner et al. (2004)
de que a vulnerabilidade é um processo que se refere a pessoas, jamais a objetos, pressuposto
que também é considerado neste trabalho.
43
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que o inverso da vulnerabilidade, não é exatamente o seu oposto, pois o conjunto de fatores
presentes na comunidade que a fortalecem contra o risco natural e contribuem para a sua
recuperação não são necessariamente os mesmos que definem a vulnerabilidade.
Mesmo que esse sentido permaneça, na literatura os dois termos nem sempre são tratados de
forma separada. Alguns estudos tratam a resiliência como um componente da vulnerabilidade.
Cita-se pesquisa de Cross (2001), na qual a vulnerabilidade é considerada como o somatório
das condições que definem a exposição física e social, a resiliência ao desastre, o preparo ou
mitigação pré-evento e a resposta pós-evento. Estas condições atuariam negativamente ou
positivamente, cuja resultante seria o nível de vulnerabilidade. Segundo o autor, as grandes
cidades, por exemplo, tenderiam a ter maiores níveis de exposição social e de riqueza ao
evento do que as pequenas, mas teriam também, pelo maior poder econômico e volume de
recursos, maior resiliência.
Mas há autores que, ao contrário, separam nitidamente os dois conceitos. Em Pelling (2003),
eles são distintos e contrários: à vulnerabilidade se refere à inabilidade diante da ameaça,
enquanto a resiliência, à habilidade.
Smit & Wandel (2006) também individualizam os dois conceitos. Mas estes autores tratam
vulnerabilidade e resiliência para discutir, principalmente, outras duas manifestações sociais
inter-relacionadas, a de adaptação e capacidade adaptativa.
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Em sua pesquisa, Smit & Wandel (2006) lançam questões relevantes para se entender a
capacidade adaptativa de uma comunidade e, por conseguinte, sua resiliência e
vulnerabilidade. Ressaltam trabalhos que discutem a importância da experiência e do
conhecimento existentes entre os membros da comunidade para caracterizar a percepção, as
estratégias de adaptação e o processo de tomada de decisão local, fatores determinantes na
capacidade adaptativa e na resiliência.
Esta abordagem, que investiga as experiências de comunidades e a sua relação com a criação
de capacidade adaptativa local, insere-se na chamada abordagem botton-up (de baixo para
cima), que difere das abordagens mais tradicionais, top-down (de cima para baixo), cuja
ênfase são os sistemas político e socioeconômico em contexto mais amplo.
Embora a adaptação seja um objetivo para as comunidades em risco, são elas que, por razões
locais (condições de insegurança) ou globais (causas de origem), normalmente, têm menor
capacidade adaptativa (Smit & Wandel, 2006).
45
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4.3 Modelos de desastre: Pressão e Alívio e Acesso
Neste sentido, surgem modelos ou concepções que procuram compreender ou representar qual
seriam as atitudes comportamentais ou o estilo de vida que caracterizariam os indivíduos e os
grupos sociais. Segundo Delor & Hubert (2000), vários destes modelos baseiam-se na teoria
liberal de que a sociedade pode ser vista como um aglomerado de indivíduos em busca de
harmonia (no inglês, harmony-seeking agglomerates of individuals) que tentam otimizar seus
interesses de forma essencialmente racional ante as informações disponíveis e com o suporte
das instituições existentes. Uma discussão mais detalhada sobre o homem racional ou
econômico é apresentada na seção 6.3.1.
Destacam-se dois modelos de desastre propostos por Wisner et al. (2004): o modelo de
Pressão e Alívio ou modelo PAR (do inglês, Pressure and Release model) e o modelo de
Acesso (Acesses model).
Considera-se um processo (ou causa) como distante por pelo menos um dos três motivos:
espacialmente distante (e.g.: influência de um centro de poder econômico externo sobre a
economia nacional), temporalmente distante (causas históricas) ou distante por estar tão
profundamente instalado na cultura, ideologia, crenças e relações sociais da comunidade atual
que o torna quase invisível ou considerado como um fator “dado”.
O segundo processo de conexão à vulnerabilidade atual é chamado por Wisner et al. (2004)
de “pressões dinâmicas” (dynamics pressures). São os processos e atividades que traduzem os
efeitos das causas de origem no tempo e espaço em “condições de insegurança” atuais da
comunidade. São mais contemporâneas e imediatas do que as causas primárias, referindo-se
47
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às manifestações conjunturais da estrutura política, econômica e social. Como exemplos, têm-
se as epidemias, a rápida urbanização, as guerras atuais, os programas de ajustamento
macroeconômico e as políticas públicas.
Modelo
de
Acesso
D
E
S
Causas Condições A
Pressões Ameaça
de dinâmicas de
S
origem insegurança
T
R
E
Risco =
Ameaça x
Vulnerabilidade
No PAR há uma separação nítida entre a ameaça e o processo social, a fim de se enfatizar a
causa social do desastre. Mas a natureza, em suas diversas manifestações, é parte da estrutura
da sociedade, percebe-se isso de forma evidente no uso dos recursos naturais pelas atividades
econômicas. Ameaças naturais inter-relacionam-se com o sistema social, afetando o padrão de
riqueza e sustento das pessoas (e.g.: afetando a distribuição da terra e a propriedade após o
evento).
O modelo de acesso procura contornar esta limitação. Ele permite uma análise detalhada e
teórica das interações entre sociedade e meio ambiente no “ponto exato de pressão”, o ponto
onde e quando o desastre se revela. Por meio dele pretende-se aprofundar no entendimento da
vulnerabilidade, de como ela se manifesta durante e após um desastre gerando novas
condições de insegurança. Ele complementa o modelo PAR, unindo os dois lados da cadeia -
a ameaça e as condições de insegurança - em um detalhado modelo de processo (Figura 4.3).
O PAR, pelo enfoque social e histórico detalhado, recebe maior atenção nas ciências sociais.
No domínio da Engenharia, é mais freqüente o uso do Modelo de Acesso nas análises de
vulnerabilidade. Sua formulação conceitual já foi mostrada em parágrafos anteriores. Nele
considera-se o risco pela interação entre ameaça e vulnerabilidade (Equação 4.1):
49
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Risco = Ameaça x Vulnerabilidade 4.1
O impacto pode ser mais ou menos severo segundo os diferentes grupos sociais e econômicos.
O nível de recursos e ativos tende a mudar profundamente com a ocorrência de um evento.
Algumas famílias podem ser obrigadas a vender suas terras e bens a fim de obterem meios
para a sobrevivência, o que possibilita, por conseqüência, que os “oportunistas” da inundação
os compram a baixo preço. Há razões para ocorrência de um aumento das vendas (ou preços)
dos bens associados à reconstrução e recuperação da área afetada e nos estabelecimentos
comerciais e de serviços situados em locais seguros. Negócios temporários usualmente são
criados durante o desastre como, por exemplo, a comercialização de água potável por meio de
barcos e a oferta de serviços de limpeza nos locais atingidos.
O conjunto de bens e ativos e as conexões econômicas das famílias com outros grupos podem
ser perdidos, aumentados, interrompidos ou reforçados. Em alguns domicílios haverá uma
queda significativa de bem-estar, outros sentirão o impacto de forma mais amena e há até
mesmo aqueles em que a inundação possibilitará ganhos (Figura 4.4).
Desastre
Normalmente, são decisões rotineiras, embora a vida urbana sempre traga alguma
irregularidade (e.g.: mudança de emprego, início de um novo negócio e falência de uma
atividade). A forma como cada família tem acesso ao seu sustento varia segundo o meio
político e econômico (representado, no esquema analítico de Wisner et al., 2004, pelas
relações sociais e estruturas de dominação).
50
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segundos até anos, o que depende do tipo de impacto no comportamento que se deseja
analisar e de como ele vai afetar a vida cotidiana. A Figura 4.5 ilustra a idéia da rotina de
tomada de decisões no tempo.
Subsistência Proteção
das famílias social
t1
t2
t2
t3
t4
tn
Vida normal
Figura 4.5 - O ciclo de decisões nas famílias
Fonte: Baseado em Wisner et al., 2004: 88.
Observe na Figura 4.5 que, exterior ao retângulo de tomada de decisões da família, existe a
“proteção social”, que representa a presença de uma possível ação coletiva e estatal. Ele
mostra que decisões em esferas mais amplas trazem impacto no comportamento das famílias
com a ocorrência do desastre. Há uma ampla gama de recursos que possibilita maior proteção
(e.g.: presença de diques, regulação do uso e ocupação do solo e redes de solidariedade
desenvolvidas pela comunidade).
São estes processos que o modelo de acesso pretende analisar na normalidade, choque,
transição e adaptação.
51
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4.4 A dimensão espacial da vulnerabilidade
O texto é um extrato de uma carta escrita por Jean-Jacques Rousseau a Voltaire em 1756 e faz
referencia a um terremoto ocorrido em Lisboa. Ela exemplifica uma rara situação que
paralisaria completamente uma cidade.
E, com o passar dos anos, o espaço urbano cada vez se torna mais denso e complexo, uma
rede intricada que compreende uma infinidade de interconexões e interdependências entre
seus agentes. Se, pelo poder financeiro existente, a resiliência nos grandes centros urbanos
talvez seja maior do que nas pequenas comunidades, o impacto econômico também tende a
ser superior (Mitchell, 1998; Kakhandiki & Shah, 1998; Cross, 2001; Branscomb, 2006).
A economia urbana se configura como uma rede de atividades conectadas (os nós) por entre
os quais circulam bens, pessoas, informações, serviços e dinheiro. Para se manter em
funcionamento, cada atividade produtiva necessita de insumos (matérias-primas, trabalho,
energia elétrica etc.). Em contrapartida, ela fornece bens e serviços. Do processo de produção
e consumo, surgem também resíduos, poluição e lixo urbano. Os fluxos circulam pelas
conexões (ou links) da rede (e.g.: rede viária, rede elétrica, telecomunicações e rede de
saneamento). Os indivíduos e famílias também são nós nesta rede, e não apenas enquanto
consumidores: conexões sociais, como relações de parentesco, amizade, solidariedade e outras
interdependências se formam entre eles.
Neste sentido, um impacto natural, mesmo que atinja uma pequena área, pode levar a um
grande poder de destruição e de propagação dos danos As conseqüências econômicas e sociais
podem se estender a vários quilômetros além da área efetivamente inundada, exatamente pela
cidade se tratar de um sistema interligado.
53
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Segundo Parker, Green & Thompson (1987), três características principais determinam o grau
de vulnerabilidade de uma rede, ou seja, o grau em que ela é perturbada: a dependência, a
capacidade de transferência e a suscetibilidade (Equação 4.2)
V = f (D, T, S) 4.2
Onde:
V = vulnerabilidade urbana à perturbação por uma inundação;
D = dependência;
T = capacidade de transferência;
S = suscetibilidade.
54
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(second best). O adiamento implica em postergar um consumo que se desejava imediato, o
que representa perda de bem-estar.
A susceptibilidade mostra em que extensão a área inundada irá afetar o restante da região, o
que envolve os dois aspectos tratados anteriormente (dependência e capacidade de
transferência). É um conceito de suscetibilidade diferente do empregado para danos diretos. O
relevante não é o valor da avaria, mas se o dano, talvez pequeno em custo, tem um impacto
significativo no funcionamento normal das atividades e da rede.
Os três aspectos mostrados na Equação 4.2 vão ao encontro das três estratégias citadas por
Green (2004) para diminuir a vulnerabilidade de um determinado sistema, modificando-o:
torná-lo maior; aumentar a sua diversificação e reduzir a sua concentração.
Entre os textos que discutem a problemática do espaço intra-urbano, com seus agentes, nós e
redes está o de Mitchell (1998). Ele compila as informações de trabalhos desenvolvidos pelo
International Geographical Union’s Study Group sobre a vulnerabilidade humana aos
desastres naturais nas grandes cidades. O autor mostra que normalmente os modelos de
impacto de desastres possuem limitações rígidas em função da utilização de dados históricos e
de, implicitamente, basearem-se em pressupostos sobre continuidade e estabilidade dos
parâmetros do risco. Ele ressalta a importância de se obterem progressos nos modelos de
desenvolvimento urbano e destaca trabalhos que utilizam modelos matemáticos e redes
neurais inseridos na emergente “ciência da complexidade”. Estes modelos, ao serem
incorporados à análise de risco, introduziriam as prováveis mudanças socioeconômicas e
espaciais que ocorrem ao longo do tempo.
7
As economias de escopo ocorrem quando o custo total de uma firma para produzir conjuntamente, pelo menos
dois produtos/serviços, é menor do que o custo de duas ou mais firmas produzirem separadamente estes mesmos
produtos/serviços, a preços dados de insumos (conceito disponível no sítio da Secretaria de Acompanhamento
Econômico do Ministério da Fazenda na Internet).
56
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Em seu estudo, Chardon (1999) considera sistema urbano como sinônimo de sociedade, esta
compreendida em sentido amplo, no qual se incluem os habitantes, as estruturas onde eles
atuam e os diferentes tipos de redes que se estabelecem entre eles. O risco seria a combinação
de quatro fatores: a ameaça, a probabilidade - da ameaça, das conseqüências e dos fatores
circunstanciais - a complexidade (associada ao sistema) e os danos. O rico teria um aspecto
multidimensional, correspondendo a um sistema complexo. Os fatores da vulnerabilidade se
inter-relacionariam entre eles, individualmente e em conjunto, criando um sistema.
Chardon (1999) especifica em sua pesquisa a vulnerabilidade existente nos países da America
Latina, nos quais alguns aspectos a faria criar contornos próprios, como o rápido crescimento
urbano agravado pela exposição inadequada de abrigos; moradias pobremente construídas;
planejamento ineficaz; pouco policiamento sobre a lei de uso e ocupação do solo e a
impossibilidade destas cidades em prover a infra-estrutura adequada a todos os seus
habitantes. A corrupção, normalmente presente e disseminada, agravaria os aspectos
anteriores.
Estes estudos representam importantes subsídios para uma análise de rede intra-urbana.
Atomizando-se a análise, chega-se aos nós considerados centrais nesta pesquisa: os
domicílios.
Uma questão que limita o estudo da vulnerabilidade à inundação em uma escala mais ampla -
de um país, de uma cidade e mesmo de uma região da cidade -, é a suposição implícita de que
ao reduzir a vulnerabilidade na escala, reduz-se também, proporcionalmente, a
vulnerabilidade de seus habitantes, o que não ocorre na realidade.
Green (2004) é um dos pesquisadores relevantes que tem como foco de análise os domicílios.
Segundo Green (2004), a definição de vulnerabilidade envolve quatro elementos chaves: 1)
um sistema proposto; 2) os objetivos específicos deste sistema; 3) um ambiente dinâmico no
qual sua variação pode ajudar ou limitar o alcance dos objetivos do sistema; 4) uma variedade
de variáveis mediadoras entre o sistema e o ambiente, de estratégias adaptativas para o
sistema e de meios para modificar o ambiente.
Uma perturbação no meio ambiente, como um desastre natural, traz efeitos sobre a qualidade
de vida das famílias: redução da energia disponível (e.g.: através de uma doença); diminuição
dos produtos fornecidos pelo meio ambiente (e.g.: comida, água); redução da renda familiar
pela perda de oportunidades ou pela diminuição da quantidade de energia e de tempo para
serem vendidas na forma de trabalho; decréscimo da taxa de retorno dos recursos; ocorrência
de danos diretos à construção e ao conteúdo da moradia e redução dos serviços oferecidos
pela comunidade, inclusive os médicos.
Ocorrendo uma inundação, tempo, energia e renda são redirecionadas para outras atividades,
como proteção, reparação e limpeza da residência. As distâncias para o trabalho ou para as
compras podem se tornar maiores de acordo com a área atingida pelo evento. Como o tempo é
finito, outras atividades são renunciadas, as de lazer são usualmente as primeiras. O poder
aquisitivo da renda familiar provavelmente cairá, custos adicionais de transporte, tempo, alta
de preços de mercadorias e gastos com reconstrução e assistência médica são prováveis
(Green, 2004).
O sistema apresentado por Green (2004) trata de maneira indiferenciada o domicílio urbano
ou rural, do que decorre a relativa ênfase dada à produção direta de bens ou ao impacto da
inundação sobre a produção agrícola. Propõe-se neste trabalho um modelo semelhante, mas
que apresenta domicílios fundamentalmente urbanos, com maior detalhamento de suas
funções, enfatizando sua existência enquanto consumidores e trabalhadores em uma rede
urbana (o modelo proposto, com suas hipóteses de trabalho, é mostrado na seção 8.1).
58
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Estas três intervenções, em relação ao risco, corresponderiam a: 1) controle na fonte e
armazenamento (e.g.: bacias de detenção, áreas úmidas - no inglês, wetlands -, terras
inundáveis – no inglês, washlands -, barragens)8; 2) separação (e.g.: taludes) e 3) modificação
do sistema (e.g.: medidas waterproofing, lei de controle e uso do solo) 9.
Uma diminuição do impacto à saúde poderia advir da adoção de medidas que diminuam a
sobrecarga de atividades que ocorre ante a iminência ou ocorrência de um desastre, ou seja,
seriam ações para reduzir a energia e o tempo dispensados na execução das tarefas.
8
Washlands são áreas na região inundável atingidas naturalmente ou de maneira deliberada pela inundação para
fins de gestão das cheias. As washlands podem ser wetlands ou as incluí-las, estas caracterizadas por reterem a
água em nível elevado, natural ou artificialmente, para benefício da flora e da fauna associada ao tipo de
ambiente (A NEW FLOODPLAIN..., 2003)
9
O termo, inglês, refere-se a medidas feitas na residência para evitar os danos da inundação. Entre elas: elevação
do primeiro andar da edificação, utilizando o nível inferior como área de estacionamento ou de acesso à
residência; construção de muros ao redor da residência; utilização de comportas para passagem de água e
selagem das paredes para impermeabilização.
59
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Um dos meios mais eficazes para redução da vulnerabilidade disponíveis aos domicílios passa
por um deslocamento da esfera individual para a coletiva: fazer amigos, criar relações de
parentesco ou, mais geralmente, formar uma comunidade ou uma sociedade. A criação de
redes sociais é cada vez mais considerada um atributo de capital social que aumenta as
oportunidades de acesso à informação, educação e renda (Brunie, 2009). De um lado, cria-se
uma rede de direitos e obrigações a que se pode recorrer no caso de um evento extremo e, por
outro, as economias de escala resultante de uma atuação comunitária permitem maior acesso a
recursos a fim de que uma gama mais ampla de adaptações possa ser adotada.
Os sistemas de alerta têm sido considerados um dos meios de se reduzir os danos decorrentes
da inundação. De uma perspectiva de redução de vulnerabilidade, ante o alerta, as pessoas em
risco adotariam algumas atitudes: colocar em local seguro os objetos necessários para uma
sobrevivência confortável (e.g.: água, rádio, cobertores, alimentos e medicamentos); salvar
itens insubstituíveis (e.g.: fotografias e papéis); recolher bens que ajudarão na recuperação
(e.g.: detalhes dos seguros, contatos telefônicos, artigos de limpeza e ferramentas) e mover
ativos de alto valor ou itens de baixo peso que possam ser deslocados sem risco de
ferimentos.
A Tabela 4.8 mostra um estudo que apresenta uma possível razão entre danos reais e danos
potenciais (ou danos máximos prováveis), considerando a existência de sistema de alerta e a
experiência anterior de inundação da comunidade (Read, Sturgess and Associates, 2000 apud
Handmer, Reed & Percovich, 2002).
Observa-se na Tabela 4.8 como a experiência é considerada um fator relevante para eficiência
do sistema de alerta. Um tempo de alerta de mais de 12 horas pode implicar em uma
diminuição de 30% nos danos, caso a comunidade não tenha experimentado uma inundação
anterior. Se a experiência existe, esta redução é de 60%. Mas o essencial a ser apreendido da
Tabela 4.8 não é a razão dos danos, valor controverso e de difícil generalização, mas que o
sistema de alerta reduz o impacto socioeconômico - pois possibilita que os agentes consigam
60
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proteger alguns bens e se preparar melhor para enfrentar a situação - e que a experiência o
torna mais eficiente.10
O menor nível possível de agente social é o indivíduo. Os domicílios são a unidade básica de
análise, pois se contitui em um micro-sistema onde grande parte das decisões são tomadas.
Mas o domicílio é formado por indivíduos e estes possuem características próprias, como
idade e condições físicas e mentais, o que torna necessária, em algum medida, sua análise
individual.
Embora existam todos estes fatores, normalmente a literatura enfatiza três: idade, gênero e
atividade. Uma referência é o trabalho de Jonkman & Kelman (2005) que apresenta uma
síntese dos resultados obtidos em vários estudos empíricos sobre a relação entre estes
atributos e a mortalidade.
10
Green (1995) contesta a idéia de que a experiência por si só possa ser considerada um fator significativo na
redução da vulnerabilidade. Afirma que, muitas vezes, as pessoas esperam que a inundação corrente seja igual à
experimentada no passado, o que pode levar à adoção de medidas inadequadas e inapropriadas. A experiência só
é válida quando se tem uma acurada expectativa do tipo de inundação a ser enfrentada, os seus sinais de alerta e
as melhores maneiras de minimizar suas conseqüências.
61
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Com foco, uma das pesquisas estatísticas mais amplas foi desenvolvida por Ashley & Ashley
(2008). Nela é utilizado como fonte de análise um banco de dados com 4.586 registros de
mortes devido a inundações ocorridas nos Estados Unidos nos últimos 47 anos. A Tabela 4.9
mostra os resultados obtidos pelos pesquisadores em relação à questão etária, a qual interessa
particularmente a esta pesquisa.
A Tabela 4.9 mostra o percentual da população e de fatalidades por faixa etária. A última
coluna mostra a diferença, em pontos percentuais, entre as duas variáveis, em uma possível
indicação de vulnerabilidade etária à inundação. A Figura 4.6 apresenta graficamente esta
diferença.
5,0
4,0
3,0
2,0
1,0
0,0
-3,0
-4,0
-5,0
faixa etária
62
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As informações apresentadas na Tabela 4.9 e na Figura 4.6 indicam que os grupos etários
mais vulneráveis em relação à mortalidade a inundações situam-se entre 10 e 29 anos e acima
de 60 anos. Ashley & Ashley (2008) corroboram estes resultados citando várias pesquisas que
mostraram o mesmo padrão na distribuição de fatalidades (Coates, 1999; French et al.; 1983 e
Mooney, 1983 apud Ashley & Ashley, 2008). Análise de Jonkman & Kelman (2005) também
vai de encontro a estas conclusões.
Algumas observações sobre estas informações devem ser feitas. Como mencionado, a
ocorrência de fatalidades está relacionada não apenas às características físicas dos indivíduos,
como a idade, mas, em grande parte, a fatores diversos e aleatórios, como o comportamento
do agente ou o local em que ele se encontrava no momento da cheia (Ashley & Ashley, 2008;
Jonkman & Kelman, 2005). Logo, não se pode assumir, segundo as informações de Ashley &
Ashley (2008), e sem um tratamento estatístico adequado, que a idade é um fator
determinante na vulnerabilidade
Destaca-se o fato que, entre as vítimas que caminhavam nas águas, 43% tinham como
objetivo alcançar algum destino, como o automóvel ou a residência, logo, grande parte destas
mortes poderia ter sido evitada, uma vez que não tinham como finalidade a fuga ou o resgate
de alguém.11 Este aspecto está associado ao comportamento de risco das pessoas, o qual se
11
Ressalta-se que na categoria “água” não estão incluídas as pessoas que acidentalmente caíram ou foram
levadas pelo escoamento, estas classificadas na categoria “exterior”.
63
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observa freqüentemente durante as inundações, em atitudes como a busca de pertences na
residência ou a tentativa de atravessar com o veículo uma rua inundada (Reimer, 2002 apud
Jonkman & Kelman, 2005).
Portanto, a mortalidade como impacto direto da inundação pode estar mais relacionada ao
local onde os indivíduos se encontravam no momento do impacto e ao comportamento do que
à idade; o que explicaria o maior número de jovens como vítimas fatais.
Nesta linha, os autores citam estudo desenvolvido na Armênia quatro anos após a ocorrência
de um terremoto. Nele se sugere que o aumento, em longo prazo, da morbidade da doença
cardíaca e doença crônica depois de um sismo está relacionada com a intensidade da
exposição da vítima aos danos diretos das edificações (Armenian et al., 1998 apud Osaki &
Minowa, 2001). Embora os efeitos do terremoto tenham particularidades, como a intensidade
da destruição física das edificações - as quais podem facilmente ser completamente destruídas
-, e o tipo mais usual de doença e de mortalidade associado ao evento, ele oferece indícios
para estudos em outros tipos de desastres naturais.
64
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vulneráveis a desastres. Tal reducionismo esconde o fato de que mesmo quando as pessoas
sofrem as influências dos mesmos fatores, elas não os sentem da mesma maneira (Delor &
Hubert, 2000).
Entre as técnicas mais usuais para definição do índice e, em especial, para a ponderação dos
subindicadores, Cardona (2005) destaca: igual ponderação, modelos de regressão múltipla,
fronteira eficiente, análise fatorial, decisão multicritério e opinião de especialistas.
A técnica de regressão múltipla é usada para analisar a relação entre uma única variável
dependente (critério) e diferentes variáveis independentes (preditoras). Em um índice de
vulnerabilidade, a vulnerabilidade seria a variável a estimar a partir de outras já conhecidas,
como sexo, idade e renda. Esta técnica torna-se pouco viável na sua concepção, pois não
existem medidas de vulnerabilidade observadas (únicas e padronizadas) para várias
localidades que poderiam ser utilizadas na análise de correlação.
O método da fronteira eficiente pode ser mais bem compreendido em termos visuais. As
variáveis definidas (e.g: taxa de desemprego, faixa etária e nível de renda) são relacionadas,
para cada região, em um gráfico multidimensional. A fronteira eficiente é a envoltória das
melhores posições possíveis. O indicador de cada região é calculado segundo a distância da
origem em relação à curva envoltória, ou seja, segundo a sua eficiência relativa (igual a um,
na fronteira). A limitação é de que os pesos são calculados por meio da comparação entre as
regiões, ou seja, o peso depende da dispersão dos dados em relação às posições mais
eficientes (regiões mais “eficientes”). Como afirma Cardona (2005:79) sobre o método,
65
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
a definição do peso não está baseada em algum juízo de valor, mas sim nos
dados (…) este método é muito pouco generoso a respeito das suposições da
ponderação porque permite aos dados decidir sobre a questão do peso
(Cardona, 2005: 79). (tradução da autora) 12
A análise fatorial permite analisar a estrutura das inter-relações (correlações) entre um grande
número de variáveis definindo um conjunto de dimensões latentes comuns, os fatores (Hair et
al., 2005). Identificadas as dimensões é possível determinar o grau em que cada variável é
explicada pela respectiva dimensão. Supõe-se que a variância é uma medida eficiente para
traduzir a importância de uma variável no conjunto. Existem dois modelos básicos de análise
fatorial - a análise de fatores comuns e análise de componentes principais - que se diferem no
tipo de variância utilizado para formar os fatores (Hair et al., 2005). A análise fatorial é útil
como medida resumo de variáveis e comumente é usada juntamente com outras técnicas
multivariadas.
Outra maneira de se definir indicadores é por meio de análises multicritério. Este tipo de
análise pode ser utilizado sempre que o decisor necessite fazer uma escolha em presença de
múltiplos critérios (Pomerol & Barba-Romero, 1993). Ela seria adequada como ferramenta
para a criação de um indicador de risco de inundação, pois nele estão presentes critérios
físicos, como profundidade e duração da inundação, e socioeconômicos, relacionados às
variáveis sociais e demográficas da população exposta.
Em uma situação onde existem entre várias alternativas ou possibilidades para consecução de
determinado fim, a análise múlticritério pode ser utilizada para selecionar qual a melhor
12
Original em espanhol.
66
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alternativa, para definir as alternativas que parecem “boas” e descartar as que parecem
“ruins”, para gerar uma ordenação de alternativas ou mesmo para realizar uma descrição de
alternativas.
As análises multicritério pressupõem que não existe apenas um único ótimo em um problema
com vários critérios, mas um conjunto ótimo de soluções atendendo de formas diferentes aos
critérios envolvidos. “Este conjunto é chamado de conjunto Pareto ótimo, no qual, só é
possível a melhora em relação a um critério, com a piora em relação a outro” (Castro, 2002).
Os métodos multicritérios são divididos em três grandes grupos: métodos baseados na teoria
de utilidade-multiatributo; métodos seletivos e métodos interativos (Castro, 2007).
O primeiro grupo caracteriza-se, segundo Harada (1999) apud Castro (2007), pela agregação
de diferentes atributos dentro de uma única função. O processo de tomada de decisão baseia-
se, então, na otimização dessa função. Os principais métodos do grupo são os métodos dos
pesos; o método das restrições; o método AHP – Analytical Hierarchy Process; o método
multiobjetivo linear e a Programação de Compromisso.
O segundo grupo de técnicas, chamado métodos seletivos, tem como principal característica:
Já no terceiro grupo de métodos multiatributo estão aqueles interativos, nos quais o decisor
não tem estabelecido a priori o seu sistema de preferências. Ao longo do processo decisório, à
medida que o problema é mais bem compreendido, novas informações são incorporadas à
análise (Castro, 2007). Entre os métodos que apresentam a característica da interatividade,
tem-se o método do valor substituto de troca e o método dos passos.
Entre as técnicas para organização das opiniões de especialistas, destaca-se o Método Delphi.
O método permite o uso estruturado do conhecimento e da experiência, pressupondo que o
julgamento coletivo, quando organizado adequadamente, é mais eficiente do que a opinião de
apenas um indivíduo. Entre suas características principais está o anonimato dos participantes,
a dispersão geográfica, a representação estatística da distribuição dos resultados e o feedback
de respostas do grupo.
Alguns estudos apresentam subsídios relevantes para a criação dos índices de risco e
vulnerabilidade às inundações e na definição das variáveis propostas neste trabalho.
Destacam-se duas formulações sugeridas em trabalhos do IDEA/BID. A primeira é destacada
em Cardona (2004, 2005).
RT R F 1 F 4.3
Onde:
RT = risco total de desastre;
RF = risco físico;
F = fator de agravamento ou impacto.
68
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Ao índice de risco físico ou direto – RF – associa-se um fator de impacto “F”. O risco direto é
formado pelas conseqüências potenciais do desastre sobre os elementos expostos fisicamente
ao evento. O fator de impacto caracteriza a fragilidade social e a falta de resiliência local;
representa a potencialidade de agravamento dos danos ou, similarmente, a ocorrência de
danos indiretos. O valor de F varia de 0 a 1 considerando que os efeitos indiretos são, no
máximo, 100% dos diretos. O rico físico e o fator de impacto são formados a partir de
indicadores os quais possuem um peso específico, definido segundo o Processo Analítico
Hierárquico. Através de funções de transformação, em sua maioria funções sigmodais, os
indicadores passaram a ter valores variando de 0 a 1. Estes valores, depois de multiplicados
pelo peso atribuído a cada indicador, foram agrupados e somados segundo o critério – risco
físico ou fator de agravamento. Definidos a magnitude dos dois critérios, pôde-se encontrar o
índice final de risco “RT”. O APÊNDICE II mostra os critérios e indicadores utilizados no
cálculo do índice.
Esta metodologia pode ser utilizada para qualquer unidade sub-nacional e mesmo intra-
urbana. Barbat & Carreño (2004) a utilizaram para avaliar os efeitos de uma ameaça sísmica
nas localidades menores de Bogotá, capital da Colômbia.13 Encontrou-se um índice de risco
total para cada localidade e também para o município como um todo. Este compreendeu um
índice de risco físico de 0,2246 e um fator de impacto de 0,663. Logo, tem-se, segundo a
Equação 4.4:
Observe que o fator de agravamento representa 66,3% do risco físico, resultando em um risco
final de 0,3735. Um fator de agravamento máximo igual a 1 significaria um risco final igual a
duas vezes o valor do risco físico.
Um segundo índice interurbano destacado nas publicações do BID passível de adaptação para
a realidade brasileira é proposto em Bollin et al., 2003:
RT ( wA wE wV ) wC 4.5
Onde:
RT = risco total;
A = ameaça;
13
Bogotá está dividida em localidades menores. Uma localidade é uma divisão política, administrativa e
territorial municipal com competências claras e critérios de financiamento e aplicação de recursos (Cardona,
2005).
69
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E = exposição;
V = vulnerabilidade;
C =capacidades e medidas.
A ameaça (A) representa o perigo à que é submetida uma comunidade diante da possível
ocorrência de um fenômeno natural. A exposição (E) descreve a população, o valor das
estruturas e as atividades econômicas afetadas adversamente pelo desastre. Ela indica aos
tomadores de decisão o que está “em jogo” quando se presencia uma catástrofe, dado que
existem diferenças de uma ameaça sobre uma pequena comunidade ou sobre uma grande
cidade. A vulnerabilidade (V) lista os fatores que representam a susceptibilidade a uma
ameaça, agrupando-os em físico, econômico, social e ambiental. Nele, estão inseridos fatores
como taxa de crescimento populacional, assentamentos em área de risco, nível de pobreza,
base local de recursos e extensão da área degrada. O critério de capacidades e medidas (C)
mostra a prevenção, mitigação, preparação, resposta, reabilitação e recuperação da cidade
atingida. Ele é co-relacionado ao critério de vulnerabilidade, uma vez que um acréscimo no
segundo representa um decréscimo no primeiro e vice-versa. A Figura 4.7 apresenta o marco
conceitual utilizado por Bollin et al. (2003).
Risco de
desastre
Capacidade e
Ameaça Exposição Vulnerabilidade
medidas
Planejamento
Probabilidade Estruturas Física
físico
Capacidade
Severidade População Social
social
Capacidade
Economia Econômica
econômica
Ambiental Gestão
Segundo a Figura 4.7, tem-se quatro critérios ou fatores que procuram representam o risco de
desastre. Estes são divididos em subcritérios, como probabilidade, severidade, estruturas, etc.
Cada um destes subcritérios é, por sua vez, definido a partir de indicadores. No APÊNDICE
70
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
III tem-se os critérios e indicadores que compõem o índice de risco proposto em Bollin et al.
(2003).
Para tornar comparáveis as diferentes medidas dos indicadores, os pesquisadores criaram uma
escala de 1 a 3 que representa a categoria baixo, médio ou alto do indicador. O valor zero
mostra que o indicador não é aplicável. Cada valor foi então multiplicado por um coeficiente
constante, sem unidade, cuja magnitude representa a importância do indicador em relação aos
outros. Esta etapa é necessária, pois se acredita que alguns indicadores são mais importantes
do que outros, contribuindo de maneira distinta na magnitude do critério. Como se considerou
que cada um dos quatro critérios contribui da mesma forma no índice final, o somatório destes
valores para cada critério é 33 pontos, de tal forma que ao serem multiplicados pelo valor do
indicador (1 a 3) obtenham-se critérios variando entre 0 e 100 pontos.14
Portanto Bollin et al. (2003) consideram uma relação linear entre os critérios, cada qual
contribuindo da mesma forma no índice global de risco: quando aumenta-se os valores dos
fatores associados à ameaça, exposição e vulnerabilidade, aumenta se ao risco; por outro lado,
quando aumenta-se o fator de capacidade e medidas, o risco diminui. A equação 4.5
representa esta relação.
Aplicando esta metodologia para definir o risco total associado à ocorrência de terremotos em
Villa Canales, na Guatemala os autores encontraram valores de 59, 52, 67 e 30 para os
critérios ameaça, exposição, vulnerabilidade e capacidades e medidas, respectivamente.
Considerando que cada peso “w” da equação 4.5 possui valor igual “0,33”, pois os critérios
possuem a mesma ponderação no índice, e substituindo-se os valores na Equação 4.6, tem-se:
Uma questão não discutida pelos autores é de qual deve ser a magnitude do risco aceitável.
Pode-se considerar 48,84 como um risco elevado? Esta resposta depende de uma variedade de
critérios, como ideológicos, políticos, técnicos e financeiros. De toda forma, o índice permite
comparar o nível de risco entre localidades, definindo aquelas de intervenção prioritária.
Observa-se também que em Villa Canales devem ser feitas intervenções que aumentem o
critério “capacidades e medidas” e que a vulnerabilidade possui um peso maior do que a
ameaça.
14
O estudo de Bollin et al. (2003) apresenta a ponderação criada para terremotos em Villa Canales, na
Guatemala.
71
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Destaca-se, ainda, o trabalho de Wei et al. (2004) por ser um exemplo de criação de
indicadores de vulnerabilidade com o uso do método da fronteira eficiente. O objetivo é a
criação de um índice, chamado índice de impacto de desastre, para cada região da China.
No estudo considera-se que o desastre tem dois inputs e dois outputs. Os dois inputs são a
densidade populacional, medida pela população, e a complexidade da estrutura comercial,
aferida pelo produto interno bruto. Considera-se que, quanto maiores estes dois fatores,
maiores os custos de curto e longo prazo decorrentes do evento. Os outputs são o número total
de pessoas afetadas pelo desastre e o custo total dos danos. O método envolve a criação de
unidades de análise, chamadas unidades de decisão (UD). Neste caso, as unidades de decisão
observadas são as regiões sub-nacionais da China. Estas são relacionadas com uma UD
hipotética criada. A UD virtual tem, pelos menos, a mesma magnitude no valor dos outputs do
que as UDs estudadas e utiliza, no máximo, o mesmo valor nos inputs. Resolve-se para cada
região, ou UD, por meio de um modelo de programação linear, um problema de maximização
da eficiência (que, no estudo, é igual ao índice de impacto do desastre) e a solução é o índice
em questão. Criou-se um índice anual de 1989 a 2000.
Onde:
R = risco;
P = perigo;
DD = densidade demográfica;
IP = intensidade da pobreza;
PI = população idosa; e
IDHM = índice de desenvolvimento humano municipal.
O P é expresso pelo número de eventos ocorridos por ano; DD é a razão entre a população
residente total e a área do município (habitantes/km²); IP fornece o desvio entre a renda per
capita média dos pobres (R$ 75,50) e o valor da linha de pobreza e PI é o número de pessoas
72
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com 65 anos ou mais. O IDHM é obtido pela média aritmética de três sub-índices, referentes
às dimensões Longevidade (IDH-Longevidade), Educação (IDH-Educação) e Renda (IDH-
Renda).
Inicialmente, o estudo de Chardon (1999) apresentava quinze fatores de risco, sete “naturais”
e oito socioeconômicos. Após a análise de componentes, este número foi reduzido para dez e,
com a ajuda da matriz de Bertin, foi dado um coeficiente para cada uma deles (variando de 1 a
8): experiências passadas de eventos (8); declividade (7); erosão (7); existência de favelas ou
áreas de urbanização precária (6); nível socioeconômico (6); densidade urbana (6);
deslizamento de terra (5); organização da comunidade (4); infra-estrutura para atenção e
prevenção de desastres, inclusive centros de saúde (2) e acessibilidade à rede viária (2). Os
fatores definidos para cada bairro foram então ponderados e classificados segundo o risco.
Tapsell et al. (2002) apresenta trabalho relevante com elaboração de indicadores intra-
urbanos. Nele é avaliada a vulnerabilidade social à inundação a partir de dois critérios:
qualitativo, via grupos focais, e quantitativo, por meio da criação de um índice. A utilização
dos grupos focais teve como objetivo captar a percepção da comunidade em relação ao risco,
com ênfase nos impactos sobre a saúde. Na abordagem quantitativa foi criado um índice de
vulnerabilidade social à inundação ou, no idioma original, Social Flood Vulnerability Index
(SFVI). Como fonte de dados, foram utilizadas informações censitárias, agregadas em setores,
da Inglaterra e do País de Gales, regiões onde é realizada a pesquisa. Definiram-se três
indicadores relacionados às características sociais e quatro de privação financeira (Tabela
4.11).
73
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resultados da privação (e.g.: desemprego) e não a segmentação predefinida de grupos sociais,
como o fazem vários índices do mesmo tipo (Tabela 4.11).
Os percentuais brutos de cada indicador do SFVI foram transformados segundo o método que
produziu os menores coeficientes de curtose (kurtosis) a assimetria (skewness) dentro de suas
distribuições. Após a transformação, os dados foram padronizados em escores Z e então
somados, dando origem ao índice de vulnerabilidade social à inundação.15 Ressalta-se que os
indicadores de privação financeira foram antes somados e multiplicados por “0,25” a fim de
se evitar um viés no índice global em relação ao critério.
No Brasil cita-se trabalho de Cançado et al. (2007) que fizeram estudo criando um indicador
de risco à inundação para a cidade de Manhuaçu, no estado de Minas Gerais. O índice é
formado por duas dimensões: ameaça e vulnerabilidade social. A vulnerabilidade decorre da
combinação de dois subíndices: vulnerabilidade socioeconômica, que mostra as características
socioeconômicas médias da população em risco, e o índice de impacto, composto por fatores
que intensificam os efeitos adversos da inundação, como a existência de idosos e crianças no
local, a vulnerabilidade das construções e a taxa de pobreza. O índice de ameaça foi
caracterizado segundo classificação proposta em Prevene (2001) (Prevene, 2001 apud Courtel
et al., 2006) e o indicador da magnitude da vulnerabilidade por meio da análise de
componentes principais e análise de cluster.
As Equações 4.8 e 4.9 mostram a formulação do índice proposto em Cançado et al. (2007):
15
Processo no qual os dados originais são transformados em novas variáveis com uma média de 0 e um desvio-
padrão de 1 (Hair et al., 2005: 135).
74
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
RT =A x VT 4.8
Onde:
RT = Risco Total;
A = Índice de ameaça;
VT = Índice de vulnerabilidade total da comunidade à inundação;
E = Índice de vulnerabilidade socioeconômica; e
I = Índice de impacto.
Os índices foram definidos para cada setor censitário de Manhuaçu, os quais foram
apresentados em tabelas e, espacialmente, por meio de mapas.
Há ainda trabalho de Zonensein (2007) que cria um índice de risco de cheia (IRC). O índice
segue a formulação clássica: é composto por dois sub-índices, sendo um relativo às
propriedades da inundação e outro relativo às conseqüências da cheia. Cada um destes dois
sub-índices é calculado a partir do somatório ponderado dos indicadores. Na definição dos
pesos foi utilizada a metodologia de análise hierárquica.
75
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
IRC = PI x C 4.10
Sendo que:
4.11
4.12
Onde:
IRC = Índice de Risco de Cheia variável (0 < IRC < 100);
PI = sub-índice relativo às propriedades da inundação (0 < PI < 100);
C = sub-índice relativo às conseqüências da cheia (0 < C < 100);
IPIi = i-ésimo indicador que compõe o sub-índice PI (0 < IPIi < 100);
ICj = j-ésimo indicador que compõe o sub-índice C (0 < ICj < 100);
n = número total de indicadores que compõem o sub-índice PI;
m = número total de indicadores que compõem o sub-índice C;
Os indicadores relativos às propriedades das inundações são três: cota, fator velocidade
(profundidade x velocidade) e fator de permanência (duração da inundação). Compõem o sub-
índice de conseqüências da cheia quatro indicadores: densidade de domicílios, renda, tráfego
e saneamento inadequado.
Um número índice é uma razão usada para avaliar variações relativas a quantidades, preços ou
valores (Stevenson, 1981). Este procedimento é chamado de normalização ou padronização.
Ao se padronizar os indicadores, elimina-se o viés introduzindo pelas diferenças nas escalas, e
é possível comparar variáveis de natureza diferente ou comparar objetos no espaço ou no
tempo. Na Tabela 4.13 têm-se os principais procedimentos de padronização utilizados. Parte-
se de um vetor de variáveis brutas a = (a1, a2,..., an) a fim de obter o vetor padronizado v = (v1,
v2,..., vn).
76
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Tabela 4.13 – Os principais métodos de padronização de vetores de informação
Procedimento
1 2 3 4 51
Definições
Vetor
0 < vI ≤ 1 0 < vI ≤ 1 0 < vI < 1 0 < vI < 1 0 ≤ vI ≤ 1
Padronizado
Conservação da
Sim Não Sim Sim Não
proporcionalidade
Inézimo
Distância
% do % do total componente
Interpretação % do máximo ai em relação
máximo ai do vetor
à média
unitário
Fonte: Adaptado de Pomerol & Barba-Romero (1993: 69) e Hair et al. (2005)
Nota: 1. = média do vetor de variáveis; = desvio-padrão do vetor de variáveis.
Neste item são apresentados alguns procedimentos de definições dos pesos: o método da
entropia, o método da classificação simples, a avaliação cardinal simples, o método de
comparações sucessivas e o método dos valores próprios. A análise detalhada dos mesmos é
encontrada em Pomerol & Barba-Romero (1993).
Algumas desvantagens do método é impedir que os pesos possam ter todos os valores
possíveis entre 0 e 1 e considerar uma ordenação eqüidistante entre os atributos.
16
Na matriz de decisão, cada linha “i” exprime as performances de cada alternativa relativamente aos atributos
considerados; e cada coluna “j” exprime as avaliações de todas as alternativas feitas pelo decisor relativamente
ao atributo “j”. No cruzamento entre uma linha e coluna tem-se o valor “aij” na matriz (Pomerol & Barba-
Romero, 1993).
78
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
4.5.2.3 Avaliação cardinal simples
Neste método, o decisor avalia cada critério segundo uma escala de medida predefinida (e.g.:
de zero a cinco, de zero a cem, etc.). Os valores são então normalizados por meio da divisão
pela soma dos mesmos.
Uma variação do método, conhecida como “avaliação direta por relações”, consiste em pedir
ao decisor para avaliar a importância relativa de cada critério em relação ao menos importante
entre eles.
O AHP propõe avaliar um vetor de pesos w = (w1, w2, w3, ..., wn) ligado aos critérios de um
determinado problema de decisão multicritério. Cada critério (i) é comparado individualmente
a cada um dos outros critérios (j), o que produz os valores aij que são agrupados em uma
matriz quadrada de dimensão n chamada matriz de comparação binária A = (aij). A idéia de
introdução de comparações binárias baseia-se na suposição que é mais fácil ao decisor efetuá-
la do que apreender todo o conjunto de critérios, como é implicitamente necessário aos
79
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
métodos de avaliação direta. Considera-se que o cérebro não sabe tratar, à curto prazo na
memória, mais do que 7 itens, aproximadamente (Pomerol & Barba-Romero, 1993).
Saaty (1977), após diversos estudos, apresenta a escala considerada adequada para análise dos
critérios (Saaty, 1977) (Tabela 4.14).
Tabela 4.14 – Escala de definição de pesos para o método AHP segundo Saaty (1977)
Aij Quando o critério i é comparado ao critério j
1 Igualmente importante
3 Ligeiramente mais importante
5 Notavelmente mais importante
7 Muito mais importante
9 Indiscutivelmente mais importante
Fonte: Saaty, 1977.
Um dos pontos fortes do método é ele detectar e aceitar, dentro de certos limites, a
incoerência dos decisores humanos. Ele aceita a hierarquização de critérios, o que não é feito
pelos métodos que exigem comparação global de ações.
80
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Variantes recentes do método AHP são os métodos GEM (Graded Eigenvalue Method) de
Takeda et al. (1987) apud Pomerol & Barba-Romero (1993) e o método Graduelle, de Harker
(1987) apud Pomerol & Barba-Romero (1993), que não exigem um conjunto de “n (n-1) /2”
comparações de critérios, uma limitação do método AHP de Saaty, pois em muitas situações
reais o valor de n é elevado ou as situações são repetitivas o que inviabiliza as comparações
binárias.
Os cinco métodos mostrados nesta seção são os mais usuais de definição de pesos, existem
outros, como aqueles que se baseiam na taxa de substituição e na declaração da disposição a
pagar, mas eles não serão discutidos aqui.
81
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
5 FUNDAMENTOS CONCEITUAIS E TEÓRICOS PARA
AVALIAÇÃO DOS BENEFÍCIOS (OU DANOS EVITADOS)
Condicionados pelo seu orçamento, dois agentes econômicos negociam entre si até que não
seja possível uma troca que implique em aumento da utilidade de um deles. O valor de um
bem é o máximo que o agente está disposto a dar para adquiri-lo ou, na perspectiva do outro
agente envolvido na transação, o mínimo que ele está disposto a aceitar como compensação
por desistir do bem. Em um contexto econômico, nada tem valor por si mesmo; a existência
do valor só é possível quando relacionado ao sistema econômico como um todo. Uma
definição usual e objetiva é que o valor de um bem para um indivíduo pode ser definido como
o seu preço de mercado mais o excedente do consumidor. Na ausência de um mercado para o
bem, há grandes dificuldades para se mensurar este preço e, mais ainda, o valor.
Podem ocorrer quatro tipos de valores associados aos bens e serviços (Lanna, 2001; Daun &
Clark, 2000): valor de uso; valor de opção de uso, valor de quase-opção de uso e valor de
existência. O primeiro refere-se aos benefícios adquiridos com o uso físico do bem. Todos os
artigos negociados no mercado privado possuem valor de uso para alguém. Nadar em um rio,
práticas de lazer em um parque e a Floresta Amazônica enquanto fonte de madeiras nobres
são exemplos de valores de uso associados aos bens ambientais.
O valor de uso não possui uma relação direta com o valor de troca. Um bem pode ser
essencial, mas não ser “vendável”, não ter ninguém disposto a pagar por ele, a trocar dinheiro
por ele. O ar, apesar de essencial para a sobrevivência humana, é oferecido sem custo.
Normalmente, o valor de troca está combinado a uma situação de escassez do bem e à sua
elasticidade-renda. A água, antes percebida como abundante e de livre acesso, sem valor
econômico, hoje é considerada bem escasso. Por isso, o atual debate sobre formas de avaliar o
seu valor de troca e precificá-la.
82
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
percepção deste valor está presente nas estratégias de preservação ambiental: a Floresta
Amazônica, por sua diversidade ecológica, pode vir a ser uma grande fonte de medicamentos.
O preço de opção é o máximo que um indivíduo está disposto a pagar agora para assegurar a
provisão futura de um recurso, dada certa probabilidade de sua ocorrência. Em outras
palavras, é o pagamento máximo que tornará segura uma opção pelo uso futuro (Jakobsson &
Dragun, 1996).
17
Bens complementares são aqueles normalmente consumidos conjuntamente (e.g: café e açúcar). Sendo assim,
quando o preço de um deles aumenta, a demanda de ambos tende a cair. Bens substitutos são bens que podem ser
substituídos entre si, como o lápis e a caneta. Em termos econômicos, se a demanda de um bem x sobe quando o
preço do bem y aumenta, diz-se que o bem x é substituto do bem y.
83
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Os três primeiros valores da Equação 5.1 são considerados valores de uso; o valor de
existência é um valor de não-uso (ou valor passivo).
Nos serviços com características de bem públicos, como as várias intervenções associadas ao
controle de inundação, a situação é diferente. O que caracteriza um bem público é a não
excludência e a não rivalidade (ou não subtractibilidade).19 Isto significa que não é possível
excluir um agente de seu consumo: quando oferecido o bem, todos podem ou vão
obrigatoriamente consumi-lo (não excludência). Além disso, a demanda de um usuário não
afeta a disponibilidade de outros (não rivalidade). Apesar de cada indivíduo avaliar os bens
públicos diferentemente, pois percebem valores de maneira diferente, suas utilidades estão
inexoravelmente ligadas, uma vez que todos são obrigados a dispor do mesmo nível de bem.
Como definir a provisão adequada do bem, levando-se em conta a multiplicidade de
preferências, de poder aquisitivo e, em última instância, da disposição a pagar? Neste caso, os
mecanismos de mercado dificilmente funcionam na definição de sua provisão eficiente. Nas
próximas seções buscar-se-á esta resposta, iniciando-se com as formas de se estimar os
benefícios de bens públicos ou ambientais.
18
Externalidades são efeitos econômicos colaterais de um processo de produção ou consumo que não são
considerados na formação de preço de mercado do produto (Lanna, 2001).
19
Os bens públicos podem variar de puros a impuros. Esta variação decorre da ênfase que é dada aos dois
aspectos da “impureza”: a presença de congestionamento/rivalidade no uso do bem ou a possibilidade de
excludência. Nos chamados bens “quase-públicos” ou “quase-privados” enfatiza-se o primeiro tipo de impureza,
e nos “bens de pedágio”, o segundo.
84
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
ele apresenta aumento ou melhora (Freeman III, 1993). Em outros termos, benefícios são os
ganhos associados à melhora ambiental.
Duas formas principais de métodos para medir benefícios podem ser destacadas: técnicas que
se baseiam em associações físicas e técnicas baseadas em associações comportamentais
(Mitchell & Carson, 1989).
Partindo do pressuposto de que preferências são reveladas por meio de um mercado, tem-se a
abordagem pela preferência revelada.20 Na Tabela 5.1, os métodos definidos como
“Observados” inserem-se nesta abordagem. A abordagem pela preferência declarada ocorre
quando os valores são estimados por consultas a indivíduos que, por meio de técnicas de
20
Observe que embora as curvas “danos x profundidade de inundação” tenham uma associação física, como
classificadas por Mitchell & Carson (1989), eles possuem também um aspecto comportamental, já que os danos
diretos à edificação decorrentes de uma inundação podem ser estimados por meio de orçamentos de reforma e
pesquisa de preço de bens, ou seja, via mercados, locais onde as preferências se revelam.
85
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
entrevistas ou pesquisa, são levados a declararem ou expressarem suas preferências. Utiliza-se
esta abordagem essencialmente para avaliar bens e serviços onde não há possibilidade de se
criar um mercado real. Pesquisadores que preferem a abordagem revelada à declarada tendem
afirmar que há maior confiabilidade no que as pessoas “fazem” do que no que elas “dizem
que vão fazer”. Nesta linha estão os métodos caracterizados como “Hipotéticos”.
Tabela 5.1 - Alguns exemplos de métodos de valoração dos bens públicos baseados em
associações comportamentais21
Tipo de associação
Tipo de preferência Métodos de valoração
comportamental
- Referendo
Direta
- Mercados experimentais
(Observado/Direto)
Preferência Revelada - Mercados privados paralelos
(comportamento
observado por meio do - Produção de moradias
mercado real) - Preços hedônicos
Indireta
- Ação de burocratas e políticos
(Observado/Indireto)
- Modelos econômicos agregados
- Modelagem baseada em agentes
- Análise contingente
Direta
Preferência Declarada - Jogos alocativos com taxa de
(Hipotético / Direto)
(comportamento reembolso
inferido por meio de - Classificação contingente
Indireta
mercados hipotéticos) - Jogos alocativos
(Hipotético / Indireto)
- Técnica de valoração prioritária
Fonte: Adaptado de Mitchell & Carson, 1989: 75.
Nota: Os modelos econômicos agregados e a modelagem baseada em agentes foram acrescentados
pela autora.
21
Sobre outros métodos de valoração bens públicos e ambientais, ver Mitchell & Carson (1993) e Freeman III
(1993).
86
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Na tipologia Observado/Direto estão presentes metodologias em que as preferências são
reveladas em mercados reais e os benefícios medidos estão diretamente relacionados às
preferências pessoais. Esta é a situação ótima para valoração de bens e são raras para bens
públicos.
Incluída também nesta tipologia está a criação de mercados experimentais onde os agentes
realmente compram e vendem bens, mas em condições controladas.22 Exemplos são os
mercados criados para praticantes de caça, nos quais se pode comprar e vender permissões de
caça em áreas de preservação. Estes mercados são restritos a bens quase privados (necessitam
de exclusão a fim de se instituir o mercado), são de difícil condução e envolvem custos
elevados (Mitchell & Carson, 1989). Outro exemplo são alguns mercados privados paralelos,
como os sítios para pescaria (“pesque e pague”).
22
Originalmente o termo utilizado Mitchell & Carson (1993) foi mercados “simulados”. Optou-se pela sua
mudança para “experimentais” para distingui-los de mercado simulados computacionalmente.
87
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Muitos modelos da tipologia baseiam-se na função de produção de moradias. Esta representa
a combinação de insumos e fatores de produção - entre eles, os ambientais – que geram a
utilidade para uma moradia comprada pelo consumidor. O valor do bem ambiental é estimado
pelo seu impacto ou contribuição no valor da moradia. Uma variante é o método do custo de
viagem, muito utilizado para valorar os benefícios de áreas de lazer. Esse, assim como o
método dos preços hedônicos, é discutido nas seções seguintes.
Um método observado indireto e subjetivo é a análise das ações dos políticos na tomada de
decisões para provisão de bens públicos. O pressuposto é de que os representantes políticos
maximizam suas chances de reeleição pela identificação e realização das preferências do
eleitorado, em particular do votante “médio”. Dado um significativo número de observações
nos votos dos representantes políticos em diferentes programas de governo, a demanda por
um bem público específico pode ser derivada por meio de suposições sobre a disposição a
pagar dos eleitores por bem específicos e a distribuição esperada dos tributos. Incertezas sobre
provisão e tributação e a probabilidade de que a maioria dos políticos tenha múltiplos
objetivos ao votarem em determinada medida, associado ao grande número de suposições
pouco realistas necessárias ao método, torna-o frágil para estimar benefícios (Mitchell &
Carson, 1989).
Ainda inserida na classificação observado/indireto tem-se uma visão analítica ainda pouco
discutida na literatura sobre bens ambientais. As variações ambientais podem ser estimadas
por meio de modelos econômicos agregados de impacto e previsão. São metodologias
tradicionalmente utilizadas em análises de políticas públicas, estratégias de desenvolvimento,
mudanças estruturais e distribuição de renda. Incluem os modelos de insumo-produto,
modelos de equilíbrio geral computável e modelos econométricos de equações simultâneas
(THE IMPACTS..., 1999).
88
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
orçamento familiar. Mensura-se a variação no bem-estar por meio da análise de como as
rotinas comportamentais dos agentes se alteram a partir da introdução do fator de impacto no
modelo, seja ele positivo (e.g: construção de um reservatório de detenção), ou, negativo (e.g:
piora ambiental com ocorrência de uma inundação). No caso da mensuração dos impactos
negativos, o benefício seriam os danos que poderiam ser evitados com a introdução de uma
medida para mitigá-los. A modelagem baseada em agentes, utilizada no desenvolvimento dos
objetivos desta tese, é mostrada com detalhes no item 7.1.2.
89
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
gasto é considerado insuficiente. Estas informações são utilizadas para estimar curvas de
demanda para determinados bens públicos (ver referências em Mitchell & Carson, 1989).
Situações onde estes tipos de técnica são úteis são limitadas. Tem-se o exemplo da
distribuição de um orçamento de uma organização entre várias áreas funcionais (educação,
saúde, meio ambiente, etc.) a fim de maximizar o bem-estar social (Mitchell & Carson, 1989).
Como os itens orçados geralmente têm abrangência ampla, estes métodos apresentam
dificuldades metodológicas na mensuração de benefícios específicos. Seria necessário
descrever cada item orçamentário em detalhes suficientes para que seja possível a avaliação.
Alocar um orçamento fixo entre categorias não significa necessariamente disposição a pagar
pela quantia alocada em uma categoria particular, daí sua impossibilidade em captar as
preferências e utilidade para o consumidor.
O método da classificação contingente - MCC - pede aos pesquisados que associem diferentes
bens aos respectivos pagamentos requeridos. Tem sido utilizado em vários estudos. Mitchell
& Carson (1989) citam pesquisas para estudar o mercado potencial de carros elétricos; avaliar
a visibilidade de parques nacionais; valorar locais para recreação; medir benefícios de
90
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
melhora na qualidade de água, entre outras. Um procedimento usual é a distribuição de
cartões, cada um com uma combinação de nível de qualidade ambiental (por exemplo, da
água) e a quantia que o respondente pagaria por aquele nível de qualidade. Os pesquisados
ordenam os cartões do mais preferido até o menos preferido. O resultado da ordenação é
usado para estimar a função de utilidade indireta para diferentes mudanças na qualidade do
bem.
Uma limitação do método de classificação contingente, também presente nos jogos alocativos,
é o fato de que o pesquisador tende a eleger preferências “impostas” que não refletem
verdadeiras intenções comportamentais. Significa que os valores associados à melhora
ambiental não são aqueles que necessariamente maximizariam a preferência do consumidor.
Ele poderá ordenar as cartas de maneira ótima de forma a minimizar a “falta de utilidade”
(disutility) de valores que ele não escolheu, mas foi obrigado a atribuir. Esse é um pressuposto
do modelo, que tem benefícios e complicadores. Caso haja um desnível muito grande entre as
preferências do entrevistado e os valores presentes nos cartões ele não se empenhará em
ordenar o conjunto de cartões e compromete-se o resultado da avaliação.
91
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
5.3.1 Economia do bem-estar, utilidade e a análise custo-benefício
A análise custo-benefício pode ser vista como uma aplicação da moderna economia do bem-
estar. Baseia-se na atribuição de valores monetários aos ganhos e perdas decorrentes de uma
mudança na provisão de um bem público, o que permite calcular o seu ganho líquido. Como
talvez não existam políticas em que ninguém sofra algum tipo de perda, o ganho líquido da
política representaria uma “potencial” melhora de Pareto.
Os críticos da melhora potencial afirmam que uma política pode representar benefícios para
poucos e prejuízos para muitos e ainda assim ocorrer um ganho líquido. Para que realmente
ocorra uma melhora de Pareto é necessário que os beneficiários da política compensem os
eventuais perdedores e que, após esta compensação, ocorra pelo menos um indivíduo com
aumento do bem-estar.
qi = qi (p, m) 5.2
onde:
qi = quantidade demandada do bem i
p = vetor de preços da economia
m = renda individual
A Equação 5.2 mostra a função que relaciona os preços da economia (p) e a renda individual
(m) com a quantidade demandada do bem. Investigar a influência do ambiente econômico
sobre a demanda significa, em um modelo simplificado, analisar os efeitos da renda e dos
preços.
93
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
chamados de bens “inferiores” ou bens de Giffen23. O consumo de salsicha e mortadela, por
exemplo, tende a diminuir com o aumento da renda e conseqüente ampliação das
possibilidades de escolha. Obviamente, isto depende também das preferências e do nível
inicial de renda. Exemplos de bens normais típicos são aqueles voltados para as classes de
renda mais elevadas, como vinhos envelhecidos de safra superior, jóias e obras de arte.
Para cada nível de renda m, há uma escolha ótima de cesta de bens. Considerando variações
de preço, uma diminuição no preço do bem i, esse “normal”, representa um aumento do seu
consumo e vice-versa. A curva de demanda mostra o consumo do bem associado a variações
no seu preço, mantendo a renda e os demais preços da economia constantes (Figura 5.1).
Pode-se analisar a curva de demanda sob outro aspecto. Para cada nível de demanda do bem i,
a curva mostraria qual deveria ser o preço do bem para que os consumidores escolham tal
nível de consumo. Neste caso, a curva é chamada de curva de demanda inversa. Ela também é
negativamente inclinada e mede a mesma relação que a curva de demanda direta, porém com
outro ponto de vista.
pi
qi
Figura 5.1 - Curva de demanda de um bem i
Com renda constante, a variação no preço de um bem afeta a demanda de duas formas: varia-
se a taxa com a qual você pode trocar um bem por outro e o poder aquisitivo da renda é
alterado. O primeiro efeito é chamado efeito-substituição: a variação nos preços relativos
altera a proporção de cada bem desejada pelo consumidor. O segundo efeito é o efeito-renda:
o nível de preços se reflete na capacidade de consumo associada à renda. A variação total na
demanda (∆qi) de um bem devido à variação no preço pode ser dividida entre os dois efeitos.
23
Homenagem ao economista do século XIX que percebeu, pela primeira vez, a possibilidade deste
comportamento entre renda e demanda.
94
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
∆qi = ∆qiS + ∆qiN 5.4
onde:
∆qi = variação na quantidade demanda do bem i
pi` = preço final do bem i
pi = preço inicial do bem i
m = renda constante (renda inicial = renda final)
∆qiS = efeito substituição
∆qiN = efeito renda
O efeito substituição é sempre oposto à variação no preço do bem (uma deflação no preço do
bem representa um aumento deste efeito); o efeito renda pode ter qualquer sinal, dependendo
se o bem é normal ou inferior.
Preço
P0
P1 A
D = Q (P, M)
Q0 Q
1 Qd Quantidade
Figura 5.2 - Curva de demanda e excedente do consumidor
95
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Esta forma clássica, o excedente do consumidor marshalliano24, pode mostrar alguns
problemas. A curva de demanda não considera o nível de utilidade ou satisfação constante,
mas a renda. Uma diminuição do preço do bem i não necessariamente ocasiona um aumento
do bem-estar, pois não se sabe como os outros preços se comportam na economia (lembrar do
efeito-substituição e efeito-renda).
A fim de mostrar uma função que mantivesse constante o nível de utilidade, John Hicks
(1904-1989), economista britânico como Marshall, propôs uma curva de demanda
compensada (Equação 5.5). Ela mantém constante o nível de utilidade por meio de ajustes no
efeito-renda, ou seja, incorpora na função o montante de renda que compensaria a variação de
preço, de forma a manter o consumidor em certo nível de utilidade. Em outras palavras, a
curva de demanda hicksiana mostra as quantidades consumidas quando a renda do
consumidor é ajustada, a cada preço, para manter um nível constante de utilidade. Pode-se
também afirmar que a função de demanda hicksiana mostra qual seria a cesta de consumo
para um determinado nível de utilidade e gasto total mínimo.
A curva de demanda compensada pode ser idealizada de duas formas: com o nível de
utilidade constante igual ao nível inicial ou com a utilidade também constante, mas em um
nível alternativo. A primeira forma dá origem à variação compensatória (VC) e ao excedente
compensatório (EC) e a segunda, à variação equivalente (VE) e ao excedente equivalente
(EE). Tem-se, portanto, quatro medidas de bem-estar.
qi = qi (p, u) 5.5
em que:
qi = quantidade demandada do bem i
p = vetor de preços da economia
u = nível de utilidade
Observe a diferença entre a Equação 5.2 e a Equação 5.5. Enquanto nesta o problema é
minimizar a renda, dada a utilidade fixa, naquela é maximizar a utilidade, dada uma renda
fixa (em essência, são duas formas de analisar o problema de maximização da utilidade do
consumidor).
24
Alfred Marshall (1842 - 1924), economista inglês, é considerado o organizador da economia moderna. Foi o
criador do conceito de excedente do consumidor, embora a idéia já existisse nos trabalhos do engenheiro de
obras e economista francês J. Dupuit (1804-1866). O engenheiro preocupava-se com a questão de que as pessoas
que utilizavam uma ponte estariam certamente pagando menos pela sua construção do que estavam se
beneficiando e, portanto, obtinham um "excesso de satisfação" (Motta, 1998: s.d.). Dupuit foi um dos primeiros
a analisar a relação custo-benefício das obras públicas.
96
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
As medidas de excedente (EC e EE) ocorrem quando não é possível ao consumidor ajustar as
quantidades consumidas após uma variação nos preços. Em contrapartida, as de variação (VC
e VE) aplicam-se em uma situação mais flexível, onde as quantidades consumidas podem ser
modificadas frente a uma mudança de preço (Nogueira, Medeiros & Arruda, 2000) (Tabela
5.2).
Preço
VC ≈ EC = P0 A C P1
VE ≈ EE = P0 E B P1
EM = P0 A B P1
P0 A E
D = Q (P, M)
P1 B H 0 = Q (P, U 0 )
1
C H 1 = Q (P, U )
H0 D
H1
Q0 Q1 Quantidade
Figura 5.3 - Curvas de demanda e excedentes do consumidor marshalliano e hicksiano
97
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Como anteriormente mencionado, o excedente do consumidor marshalliano (EM)
corresponde à área do polígono P0ABP1. O excedente compensatório (EC) está sob a área da
curva de demanda compensada hicksiana H0 e corresponde à área P0ACP1, e o excedente
equivalente (EE) situa-se sob a curva de demanda compensada hicksiana H1 (área do polígono
P0EBP1). Neste sentido, o excedente do consumidor marshalliano é uma medida intermediária
entre os dois excedentes hicksianos.25
Entretanto, Freeman III (1993) observa que as medidas de excedente são restritivas e
desnecessárias. Segundo ele, para os bens públicos, não há diferença entre as medidas de
excedente e variação de Hicks para as situações de equivalência ou compensatória.
Mitchell & Carson (1989) ressaltam que a escolha da medida de bem-estar está associada aos
direitos de propriedade vis-à-vis o bem em questão. As medidas compensatórias assumem que
25
Não é possível identificar as medidas de variação (VC e VE) no mesmo gráfico por estas permitirem
ajustamentos na quantidade consumida pelo consumidor.
98
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
o indivíduo tem direito ao seu nível corrente de utilidade ou, alternativamente, direito de
propriedade no status quo. As medidas equivalentes, por outro lado, consideram que o
indivíduo tem direito a um nível alternativo de utilidade ou direitos de propriedade na
mudança (Mitchell & Carson, 1989: 25).
Nesse contexto, justifica-se o uso da curva de demanda marshalliana para avaliar as mudanças
de bem-estar dos indivíduos por variações no nível de bens ambientais.
A fim de se encontrar a metodologia adequada para análise do impacto das inundações sobre
o cotidiano de uma cidade ou comunidade, iniciou-se a procura pelos métodos de estimativas
de danos relativamente freqüentes na literatura internacional, embora ainda incipientes no
Brasil. Entre estes métodos, estão o método dos preços hedônicos, a valoração contingente e a
criação de curvas ajustadas que mostram a relação entre danos e profundidade.
Estes métodos utilizam preponderantemente técnicas analíticas, as quais, com freqüência, são
formadas por equações estatisticamente definidas que incluem os parâmetros que se pretende
estimar. Muitos formulam o problema como de otimização e empregam técnicas matemáticas
para resolvê-lo, tendo a desvantagem do aumento da complexidade matemática segundo o
tipo de problema. Normalmente, no seu desenvolvimento, o pesquisador coleta os dados
necessários e compara-os com os dados estimados (Gilbert & Troitzsch, 2005: 16).
99
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
objetivos propostos nesta tese, em conseqüência, tem-se um amplo estudo de suas bases
teóricas, conceituais e revisão bibliográfica.
Já análise de rede pode ser sempre utilizada quando se discutem dados relacionais, ou seja, as
conexões entre entidades e agentes e de como estes se inserem em um sistema de relações. Ao
discutir aspectos como centralidade e redundância na rede, ela pode fornecer indícios
relevantes sobre a vulnerabilidade da rede urbana e a capacidade de propagação do impacto
na mesma. Pode-se considerar a análise de rede como uma maneira de representar as
informações e analisá-las, a qual tem origem nos modelos estruturais e na sociometria (Scott,
2000). Ao que parece, ainda é uma técnica pouco usada nos estudo do impacto da inundação,
pois não foram encontradas referências sobre o assunto
26
Alguns autores, como Parunak, Savit & Riolo (1998) e Sawyer (2005), não consideram que “simulação” seja
um termo que diferencie métodos analíticos, baseados em equações, de modelos computacionais dinâmicos
baseados em agentes. A diferença estaria na forma do modelo e em como ele é executado. No primeiro, ter-se-ia
o cálculo de equações e, no segundo, a emulação de comportamentos. Para fins didáticos, este texto utiliza
“simulação” como uma forma de distinguir os dois tipos de abordagem dos problemas.
100
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Modelos para estimar danos
101
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
6 AVALIAÇÃO DE DANOS: MODELOS ESTATÍSTICOS E
ECONOMÉTRICOS
Este capítulo discute os métodos mais tradicionais utilizados na análise de danos de inundação
e, em conseqüência, dos benefícios associados à sua mitigação. São métodos que
normalmente têm sua fundamentação teoria na Economia do Bem-Estar. Muitos envolvem a
criação de uma curva de demanda para o benefício, baseado nas preferências do consumidor,
reveladas ou declaradas, e na definição do excedente. Há também modelos econômicos de
equilíbrio geral, nos quais as variáveis são tratadas de forma agregada eu setorial. Diferem da
simulação por normalmente não exigirem como ferramenta essencial a programação em
computadores, mas a análise estatística, e de não incluírem o comportamento dinâmico de
forma central e contínua e interativa. Ao contrario de modelos baseados em agentes, seriam
modelos baseados em equações.
São aqueles gastos efetuados por ações defensivas e de prevenção à inundação. Entre elas, a
criação de áreas de controle e retenção, reservatórios de detenção, sistemas waterproofings,
diques, instalações de drenagem e bombeamento e modificações em canal. Segundo Bouma,
François & Troch (2005), dado que as pessoas normalmente não gastariam mais na prevenção
de um problema do que o custo dos danos causados por ele, o valor destes investimentos é
considerado o limite inferior da estimativa de danos.
O método serve apenas como uma primeira aproximação e parece mais adequado quando
analisados os investimentos privados. A definição de obras no orçamento público baseia-se
em múltiplos aspectos, não só econômicos e técnicos, e o conteúdo político tende a ser
relevante no processo de tomada de decisão. Ademais, inverte-se a ordem dos fatores, pois a
analise dos possíveis danos deveria ser feita antes da implantação de medidas preventivas,
considerando as especificadas locais da região.
São os custos envolvidos na mudança de indivíduos e instalações para locais com menor risco
de inundação. Podem ser utilizados os custos de medidas atuais de relocalização para avaliar
os benefícios potenciais (e custos associados) de sua prevenção. Segundo Bouma, François &
102
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Troch (2005), uma nova localização pode ser considerado uma forma particular de medida
preventiva e defensiva, mencionadas anteriormente.
A construção de novas instalações, mas altas e seguras, é um exemplo. O custo incorrido pelo
governo ao doar ou subsidiar moradias para que famílias se desloquem de áreas inundáveis
para áreas de menor risco também pode ser mencionado, sendo um tipo de intervenção
dispendioso para o orçamento público.
Este método é empregado principalmente para medir o valor de áreas de lazer. Os custos para
usufruir um local de recreação são utilizados como aproximação do preço do lazer.
Preferencialmente, incluem-se não apenas os custos diretos (gastos financeiros com a visita,
como as despesas de transporte e de estadia), mas também os indiretos (custo do tempo de
viagem e de permanência).
Os custos são utilizados como a variável independente da função demanda por serviços
recreativos. São também incorporados à função atributos socioeconômicos do consumidor. A
partir da função demanda e dos custos médios de viagem define-se o excedente do
consumidor, que é a medida de benefício do lazer. A Equação 6.1 exemplifica o método:
Em que:
No método de custo de viagem mais simples são desenhados círculos concêntricos com
diferentes raios ao redor do local de estudo. Calcula-se a média per capita de visitas ao local
pelos residentes em cada zona do círculo (a área entre dois círculos). Os dados são utilizados
para traçar a curva de demanda da localidade em função da distância. Se um valor monetário é
assimilado a cada quilômetro de distância em relação ao local de análise, o cálculo do
103
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
excedente do consumidor pode ser obtido para todas as zonas, medindo-se a área sob a curva
de demanda e sobre a curva de custo de viagem para o residente daquela zona em particular
(Mitchell & Carson, 1989). As possibilidades metodológicas de utilização do custo de viagem
em estudos ambientais são grandes. Ele pode, por exemplo, ser utilizado em problemas de
programação linear que incorporam a acessibilidade como a função objetivo para criação de
áreas de lazer ou reservas ambientais, dado as restrições ambientais (Önala & Yanprechaset,
2007).
No contexto de danos à inundação, é possível usar o método para avaliar os efeitos de uma
inundação em situações muito específicas, como em uma área de lazer com risco. Ele seria
aplicado antes e depois da ocorrência da inundação e os resultados comparados. Uma
alternativa seria estimar o valor recreacional que seria perdido em decorrência de uma
inundação e computá-lo como benefício de uma medida de controle. Em outro enfoque, uma
técnica mitigadora associada à criação de um local para lazer, como parques e quadras,
incorpora valores sociais à área. Caso estes valores sejam relevantes, o método do custo de
viagem pode ser empregado para estimá-los.
Alguns problemas do método são destacados por Mitchell & Carson (1989): gera resultados
específicos para a localidade; ignora a possibilidade de o consumidor substituir um local de
lazer por outro; o tempo de viagem é uma variável de difícil mensuração; grande sensibilidade
às formas funcionais utilizadas na estimação e possibilidade de medir apenas um número
limitado de benefícios, como os benefícios diretos da recreação e algumas categorias de
valores estéticos e serviços ambientais.
Uma explicação simplificada, mas suficiente do método, com seus pressupostos e questões
relevantes estão presentes em Freeman III (1993). O autor discute questões associadas ao
“tempo” como um custo e elemento de escolha, mostra como fazer uma escolha locacional
entre um conjunto de locais alternativos possíveis e formas de valorar mudanças qualitativas
na área.
Os três métodos seguintes são apresentados com maior riqueza de detalhes, por terem sido
metodologias exaustivamente estudas em decorrência de suas potencialidades para os
objetivos desta pesquisa.
104
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
6.1.4 Método dos danos evitados à propriedade (property damages avoided method)
O método dos danos evitados - MDE - é o mais usual para estimar as perdas econômicas de
propriedades afetadas pelas inundações. É utilizada principalmente para medir o impacto
físico do evento. Será dado maior destaque a ele do que foi dado aos métodos anteriores, tanto
pela sua consolidação como método de estimativa de danos diretos, como por ser base da
análise dos danos diretos na metodologia de trabalho desta pesquisa.
O MDE define quais seriam os danos da propriedade se esta sofresse uma inundação (Bouma,
François & Troch, 2005). O indivíduo estaria disposto a pagar, por uma medida de controle de
inundação, o valor esperado dos danos evitados. Supõe-se que quanto maior o nível de água,
maiores as avarias. Ao nível do chão, por exemplo, o piso é danificado e possivelmente
também as mobílias e itens em contato direto com ele. Com dois ou três metros de água
dentro da residência, todo o conteúdo sofre danos e a própria estrutura da edificação está em
risco.
O MDE continua a ser a principal técnica para medir os benefícios das medidas de mitigação
de danos, apesar de métodos como valoração contingente e preços hedônicos serem capazes
de quantificar um espectro mais amplo de valores (Shabman et al., 1998). Sua disseminação
deve-se a dois aspectos básicos: 1) são usadas no modelo informações hidrológicas
habitualmente obtidas para o planejamento público e 2) o método tem uma fundamentação
lógica simples: se os gastos correntes com um projeto de controle forem menores do que o
valor presente dos danos futuros evitados, justifica-se a sua implantação.
O total dos danos para um evento particular é assumido como função h(x) do nível de água da
inundação xi. O nível da inundação é probabilístico por natureza e segue alguma função
densidade de probabilidade g(x). Matematicamente, o valor esperado dos danos (VED) em um
ano, de uma propriedade específica, para todos os níveis de inundação, é dado por:
27
Construções que incorporam valores históricos, artísticos ou de interesse arquitetônico, como monumentos e
igrejas antigas, necessitam de uma avaliação mais complexa, pois incorporam valores de não uso. Sobre este
tema, ver Bouma, François &Troch (2005) e Oliveri & Santoro (2000).
105
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VED i 1 g ( xi )h( xi )
N
6.2
Onde:
VED = Valor esperado dos danos à propriedade;
xi = inundação i, com y1 representando o menor nível possível de inundação que gera danos e
xn o maior nível possível com probabilidade superior a zero de ocorrência.
O valor esperado dos danos é medido com e sem um projeto de controle e a diferença é o
benefício anual esperado para a propriedade. O valor presente do benefício anual esperado,
calculado por meio de uma taxa de desconto, é o benefício total da propriedade.
Em uma expressão mais geral de benefício da implantação de uma medida de controle, podem
ser incorporadas as atitudes em relação ao risco:
( 1 at
N
) g ( x it )h( xit ) g o ( xit )h 0 ( x it
)
Benefício i 1
T
6.3
1 r t
t 1
Onde:
t = representa o ano t do horizonte de planejamento que consiste em T anos;
r = taxa de desconto do projeto;
a = medida de aversão ao risco relativo do ocupante da planície de inundação.
Para o agente avesso ao risco (a>0), o benefício é maior do que para o agente neutro (a=0).
Com o valor presente dos danos evitados, ou seja, o benefício do projeto, efetua-se uma
análise custo-benefício. Se os gastos correntes de uma medida de controle de inundação forem
menores do que o valor presente dos danos futuros evitados, justifica-se a implantação do
mesmo. É simplesmente uma análise de viabilidade econômica de projetos.
A questão central que envolve o MDE é como calcular os danos da inundação, o h(xi) da
Equação 6.2. Uma forma é efetuar uma análise corrente dos prejuízos. É feito um
levantamento das perdas econômicas reais de áreas afetadas pela inundação. Levantados os
106
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danos e os custos associados, obtém-se uma relação direta entre nível de inundação e prejuízo
total. Segundo Machado (2005) é uma estratégia que retrata o prejuízo corrente da bacia em
um dado instante, com suas características socioeconômicas e de rede de drenagem. Seria algo
estático, fotográfico.
Um avanço viria com uma metodologia que possibilitasse uma estimativa de danos que não
fosse estática, mas passível de se deslocar no tempo-espaço, permitindo uma avaliação
aproximada dos danos em locais diferentes ou em tempos diferentes. A curva de danos versus
profundidade de submersão (curva DPS) apresenta estas potencialidades.
Dois enfoques principais são considerados na construção de curvas DPS: uso de uma síntese
de danos reais (ou históricos) e o uso de danos sintéticos (ou potenciais). Os danos “reais” são
aqueles avaliados empiricamente após a inundação. Os danos sintéticos baseiam-se na opinião
de especialistas, em ensaios de laboratórios, em dados secundários e até mesmo na
experiência acumulada de eventos passados. Considera-se que são os danos máximos
prováveis, logo não incorporam suposições sobre os danos que poderiam ser evitados com
medidas emergenciais. São definidos segundo padrões de susceptibilidade dos bens ao contato
com água em vários intervalos de profundidade ou de duração da submersão.
107
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Vários guias de avaliação de danos, como o produzido pelo Middlesex Polytechnic Flood
Hazard Research Centre (Parker, Green & Thompson, 1987) e pelo Department of
Emergency Services of Queensland, Austrália (Handmer, Reed & Percovich, 2002)
recomendam o uso do método dos danos potenciais. Segundo Handmer, Reed & Percovich
(2002), o uso dos danos reais pode ser feito em situações onde a avaliação não é feita com
propósitos comparativos.
Como forma de aproximar os danos potenciais aos reais, existem fatores de ajuste. Tem-se,
por exemplo, fatores utilizados caso a localidade avaliada possua algum sistema de alerta. A
Tabela 4.8, mostrada no capítulo 4, mostra qual seria a razões entre danos reais e potenciais
para um método de avaliação rápida (em inglês, Rapid Appraisal Method – RAM)
considerando a existência de um sistema de alerta (Read, Sturgess and Associates, 2000 apud
Handmer, Reed & Percovich, 2002).
108
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um segundo nível, sua duração. Além disso, a padronização acaba por desconsiderar algumas
particularidades locais. Em áreas com características muito específicas, que possam ter
atividades econômicas voltadas para um segmento social de altíssima ou baixíssima renda ou
com padrões construtivos próprios, como os centros históricos, a aplicação destas curvas só
pode ser feita com alguns ajustes que levem em consideração a realidade local.
A metodologia de criação de curvas DPS foi utilizada por Machado (2005) para estimativa
dos danos diretos decorrentes de uma inundação de grande magnitude (tempo de retorno de
100 anos) que ocorreu no ano 2000 no vale do rio Sapucaí. Combinaram-se dois enfoques:
síntese de dados sobre danos reais e estimativas de danos hipotéticos. A pesquisa de campo
foi elaborada mediante a aplicação de cerca de mil questionários nos municípios de Itajubá e
Santa Rita do Sapucaí. A Tabela 6.1 mostra as funções obtidas em Machado (2005) para
residências. Foram também elaboradas curvas para o setor comercial e de serviços, que,
entretanto, apresentaram menor coeficiente de correlação, tanto pelo menor tamanho da
amostra (147 estabelecimentos comerciais e cinqüenta de prestação de serviços), quanto pela
grande diversidade existente entre as unidades.
Tabela 6.1 - Funções baseadas em curvas DPS obtidas em Machado (2005) para o setor
residencial
Tipo de dano Função
Danos ao conteúdo – residências – classe A y = 67,221 + 29,806 * ln (x)
Danos ao conteúdo – residências – classe B y = 77,737 + 33,921 * ln (x)
Danos ao conteúdo – residências – classe C y = 52,13 + 21,089 * ln (x)
Danos ao conteúdo – residências – classe D y = 32,211 + 12,32 * ln (x)
Danos ao conteúdo – residências – classe E y = 28,738 + 10,663 * ln (x)
Danos totais – residências – classe A y = 90,832 + 39,334 * ln (x)
Danos totais – residências – classe B y = 103,938 + 43,844 * ln (x)
Danos totais – residências – classe C y = 74,685 + 27,388 * ln (x)
Danos totais – residências – classe D y = 18,049 + 33,364 * SQRT (x)
As funções apresentadas na Tabela 6.1, mostram o valor dos danos expressos por unidade de
área (R$/m2), representado pela variável dependente y, em função da profundidade de
submersão (em metros), indicada por x. O valor dos danos à construção pode ser obtido pela
diferença entre o valor dos danos totais e o dos danos ao conteúdo.
No Brasil, outro estudo com criação de curvas DPS foi realizado por Salgado (1995). A
pesquisa é mais simplificada do que em Machado (2005) e contempla apenas o setor
residencial. Para os danos à construção, ateve-se à consulta a especialistas sobre as patologias
causadas, considerando diferentes profundidades de inundação, em projetos tipos
representativos da área inundada. Para a estimativa dos danos ao conteúdo foram utilizados
109
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padrões de conteúdo e qualidade, segundo os projetos tipos, e estimadas suas avarias pelo
contato com água por meio de pesquisas em lojas de reparo e assistência técnica.
Além disso, deve haver uma igualdade da percepção do risco e do valor do dinheiro no tempo
entre os proprietários de imóveis inundáveis e o planejador da medida de controle (taxa de
desconto r). Isto possibilita que a análise de viabilidade econômica do projeto se iguale à
análise de aumento do bem-estar da população. A forma como o valor do tempo é
considerado pode implicar em uma subestimação ou superestimação da DAP pelos
planejadores urbanos.
O mesmo ocorre em relação à percepção do risco hidrológico, representado pela função g (xi).
Sabe-se que as informações são imperfeitas e nem sempre acessíveis e que a população forma
suas probabilidades individuais de ocorrência de um evento extremo de forma subjetiva e
diferenciada. Sem as informações de percepção de g (xi) pelos ocupantes não há como saber
se MDE capta adequadamente as preferências.
De forma usual, o método tem como pressuposto que os proprietários são neutros em relação
ao risco (a = 0, na Equação 6.3). Mas, segundo Fischoff (1991) apud Shabman et. al. (1998),
as situações que tipicamente criam um alto nível de ansiedade - fator que desencadeia a
aversão ao risco - são aquelas involuntárias, retardatárias, incontroláveis, desconhecidas,
severas e potencialmente catastróficas. Muitas destas características comumente estão
presentes no risco de inundação. Mais uma vez, o método dos prejuízos evitados tenderia a
levar a uma subestimação da DAP.28
28
Não se considera aqui a situação rara de um agente ávido pelo risco.
110
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Finalmente, todos os proprietários de área inundável esperam ter o valor da sua DAP
integralmente compensada pelo mercado imobiliário quando forem vender ou alugar sua
propriedade na planície de inundação. Apenas desta maneira é assegurado que os pagamentos
feitos pelo projeto de controle serão iguais aos benefícios recebidos tanto na forma de
mitigação dos danos quanto na forma de compensação em dinheiro pela venda ou aluguel. Ou
seja, aqueles que irão comprar ou alugar áreas na planície deverão possuir as mesmas
considerações sobre os danos evitados que os ocupantes da planície de inundação. Esta
coincidência de avaliação entre agentes é improvável.
Mas, como mostrado no item 5.2, o MDE é um método de associação física, por isso suas
inadequações em captar as preferências dos proprietários. Sua utilização, em conjunto com
outros métodos, de análise comportamental, pode trazer grandes avanços em uma avaliação
integrada das conseqüências da inundação.
6.1.5 Avaliação dos danos indiretos aos setores comercial, industrial e de serviços
segundo o Modelo de Middlesex
Nesta seção é discutido o modelo para estimativa de danos proposto em Parker, Green &
Thompson (1987), pesquisadores do Middlesex Polytechnic Flood Hazard Centre (MPFHC),
aqui denominado, “Modelo de Middlesex”. O centro de pesquisa publicou, em 1977, o
chamado “Manual Azul” (Penning-Rowsell & Chatterton, 1977), com investigações sobre os
danos diretos de inundações e a criação das curvas DPS. As pesquisas avançaram, originando
o “Manual Vermelho”, a publicação de 1987, na qual se enfatizam as conseqüências indiretas
dos eventos. As metodologias sugeridas pelos pesquisadores são utilizadas de forma
padronizada e generalizada na Grã-Bretanha.
O levantamento destes custos foi feito por meio de pesquisas (entrevista ou carta) a indústrias,
atividades comerciais e de serviços, entidades representativas (e.g.: federação das indústrias e
associações comerciais), prefeituras, moradores, empresas de serviços públicos e através de
bibliografia. Em Parker, Green & Thompson (1987) são mostradas várias investigações
anteriores na área, como em White (1964) e Penning-Rowsell & Chatterton (1977).
Dos danos elencados na Tabela 6.2, esta pesquisa procura trazer avanços na discussão sobre
as interrupções e perturbações nas atividades de varejo, serviços e no trânsito de veículos.
Como as pesquisas desenvolvidas nestas áreas em Middlesex foram uma importante fonte de
análise para o desenvolvimento dos estudos propostos nesta tese, no item 6.1.5.1 detalha-se os
danos indiretos associados ao setor comercial, de serviços e à indústria. A avaliação dos danos
devido a perturbações no tráfego desenvolvida pelos pesquisadores do MPFHC é mostrada no
item 6.1.6, que discute especificamente o sistema de transportes.
O valor adicionado (VA) é a diferença entre o valor total das vendas ou da produção e o custo
dos insumos adquiridos de terceiros. Em outros temos, é o valor gerado pela firma por meio
112
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do seu processo de produção e serviços. A Figura 6.1 mostra o valor adicionado por uma
firma, no caso, uma empresa comercial:
O total dos danos indiretos é calculado somando-se a perda do valor adicionado aos custos
adicionais incorridos pela firma pela menor eficiência produtiva em conseqüência da
inundação. Estes custos incluem o pagamento de horas-extras aos funcionários, custo de
transferência da produção para locais mais seguros e custos adicionais de energia elétrica.
Para o setor de comércio e serviços, um custo adicional significativo tende a ser o de limpeza
do estabelecimento, geralmente já computado como dano direto (Parker, Green & Thompson,
1987).
Segundo Parker, Green & Thompson (1987), para cada profundidade de inundação, os danos
diretos potenciais (Dir) da firma, região ou nação são calculados segundo a Equação 6.4:
Onde:
Ds = danos potenciais ao estoque (matérias primas, produtos semi-acabados e bens finais);
Dep = custos potenciais de substituição de equipamentos ou plantas;
Der = custos potenciais de conserto/reparação de equipamentos e plantas;
C = custos potenciais de limpeza adicional.
Onde:
113
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t = vendas totais (turnover) por dia;
V = proporção da venda bruta que representa o valor adicionado pelas firmas no processo de
produção;
Dn = número de dias com vendas nulas;
Dp = número de dias com vendas parciais;
Pn = proporção das vendas perdidas durante Dp;
R = proporção da receita (receita que ocorre normalmente, sem inundação) que é recuperada
pela firma.
Onde:
A = custo adicional para recuperação das vendas;
Lva = perda potencial do valor adicionado.
Em que:
A = custo adicional para recuperação das vendas;
Lva = perda potencial do valor adicionado;
F = proporção de vendas provavelmente perdidas pelo país para concorrentes estrangeiros;
Rg = proporção de vendas provavelmente perdidas pela região para concorrentes de outras
regiões.
Observe-se que aqui foi mostrada a formulação para o setor de comércio. Segue-se
exatamente a mesma lógica para o setor industrial e de serviços, bastando substituir as
referencias a “vendas” por “produção” ou “serviços”. Por exemplo, “V” na Equação 6.5,
representa, para as atividades industriais, a proporção de produção bruta que representa valor
adicionado pela empresa e, para os serviços, a proporção referente ao faturamento.
114
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muitos dos elementos contidos nesta seção têm forte influência das recomendações de
Middlesex para avaliação dos danos indiretos do sistema de transporte.
Os custos materiais de transporte ocorrem pelo aumento da distância de viagem ou pelo uso
de uma velocidade menos eficiente. Incluem o combustível e os óleos adicionais e os custos
de depreciação do novo tempo de viagem.
Os custos pelo tempo de atraso (delay costs) associam-se a uma variável fundamental: o
tempo. O princípio que envolve os danos indiretos de inundação é de que eles representam
uma perda de oportunidade que nunca será recuperada; não há como voltar no tempo. O
tempo perdido não é recuperado, por isso ele representa um dano.
O valor do tempo representa a quantia máxima que um indivíduo estaria disposto a pagar por
uma economia de tempo ou, alternativamente, a compensação mínima aceitável para um
aumento de tempo de deslocamento. O valor marginal do tempo é composto de dois
componentes: a utilidade marginal do tempo e a utilidade marginal do dinheiro (Parker, Green
& Thompson, 1987).
115
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Em termos sintéticos, o valor do tempo de deslocamento está associado a fatores diversos:
habilidade de trabalhar no percurso (caso de transportes coletivos, como metrôs e ônibus);
tempo de deslocamento feito à custa de tempo de lazer; risco de perda de produtividade
associada ao desgaste dos funcionários nas longas viagens entre residência e trabalho; e
aspectos mais óbvios, como a distância e as características e renda dos indivíduos. Evidências
apontam que se deslocar com tráfego congestionado produz maiores valores para o tempo do
que em condições normais, conseqüência do maior nível de stress, frustração e desconforto.
Valores do tempo por passageiro tendem a crescer à medida que o tempo de deslocamento
aumenta e em proporção à renda (Nash & Sansom, 1999).
Segundo Parker, Green & Thompson (1987) os custos materiais são função do tipo de veículo
e da velocidade e são computados segundo a Equação 6.8:
6.8
Onde:
a, b, c = coeficientes relacionados ao custo material (combustível e outros) que variam
segundo o tipo de veículo;
v = velocidade em quilômetros por hora.
A diferença do custo material com e sem inundação representa o custo material marginal
decorrente da ocorrência do evento.
Já o valor do tempo da jornada é calculado segundo a Equação 6.9 (Parker, Green &
Thompson, 1987):
6.9
Onde:
Cj = custo da jornada;
116
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d = distância do trecho viário (km);
v = velocidade média da jornada (km/h);
n = número de veículos no trecho;
ct = custo do tempo ($/h).
A medida do valor do tempo da jornada (ct) é de difícil quantificação e possui elevado grau de
subjetividade. A diferença do custo da jornada com e sem inundação representa o custo do
tempo de atraso em decorrência do evento.
c v
CC q 2t 6.10
v q
Onde:
∂v/∂q = variação da velocidade em relação ao fluxo de carros;
q = volume de trafego (em unidades de carro de passageiros/ hora);
v = velocidade resultante média;
ct = o valor do tempo de deslocamento.
As Equações 6.9 e 6.10 apresentam semelhanças. A diferença principal é que a primeira trata
de uma variação discreta (antes e após a inundação) e a segunda capta mudanças marginais na
velocidade e fluxo de carros.
No Brasil, ressalta-se o trabalho de Nagem (2008) que elaborou uma adaptação das fórmulas
do estudo IPEA/ ANTP (1997) para calcular os prejuízos dos congestionamentos causados
pelas cheias urbanas. Ela apresenta duas formulações - custo relacionado ao tráfego de
combustíveis e custo relacionado ao tempo perdido - que são calculadas para cada via da
região atingida (Equação 6.11 e Equação 6.12):
29
Os autores nomeiam o custo marginal como “externo” por considerarem que, em uma situação de
congestionamento, cada usuário adicional inflige um custo aos outros, ele próprio sofrendo o efeito deste custo.
Este é o elemento externo: algo que é infligido por um usuário aos outros.
117
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6.11
Onde:
CTC = Custo com combustíveis relacionado ao tráfego;
P = preço de gasolina na bomba;
v = velocidade (km/h);
E = extensão da via (km);
VMH = Volume médio horário;
h = tempo de duração da inundação.
6.12
Onde:
CTT = Custo relacionado ao tráfego com tempo perdido;
RSM = Renda média dos habitantes;
ES = Encargos sociais 95,02% = 1,9502;
FA = Possibilidade de uso alternativo do tempo (0,3);
HP = Número de horas de trabalho por mês = 168 horas;
NP = Número de pessoas por veículo = 1,5 pessoas/auto, de acordo com o Plano
Diretor de Transporte Urbano da cidade do Rio de Janeiro;
HP = Percentual de uso produtivo do tempo (% viagens a trabalho + % viagens
casa/trabalho x 0,75). Caso não disponível, usar 0,5;
VMH = Volume médio horário;
h = tempo de duração da inundação.
Uma metodologia de avaliação de danos por inundação da malha viária deve incorporar
custos em decorrência da utilização de rotas alternativas como desvio, mas também o impacto
sobre estas novas rotas, que tendem a ficar sobrecarregadas. Alguns aspectos centrais na
metodologia:
Construção de um diagrama da rede viária local com seus nós e conexões (Figura 6.2).
Este digrama inclui as principais rotas de tráfego, com aquelas que provavelmente serão
inundadas e aquelas que serão utilizadas como desvios.
118
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Determinação do comprimento em quilômetros de cada conexão viária e os tipos de vias
presentes na rede (regional, arterial, coletora, local ou rodovia). O fluxo de veículos e a
velocidade dependem do tipo de via.
Seleção das rotas de desvio e re-alocação do tráfego. As vias de desvio são potencialmente
afetadas pelo desejo (escolha) do “viajante”, capacidade do sistema viário e tempo de
alerta. A capacidade viária determina o quanto o tráfego pode ser transferido para trechos
específicos do sistema. A habilidade dos viajantes em escolher, entre as rotas existentes, a
que diminui o tempo total de viagem varia segundo o tempo de alerta e o conhecimento do
motorista sobre a rede viária local. Segundo o tempo de retorno, um número crescente de
vias é inundado e novos desvios são gradativamente incorporados. Mais e mais o tráfego é
desviado para rotas cada vez mais distantes. Torna-se necessário estimar desvios, fluxo de
carros e também a duração da interrupção do trecho para cada freqüência de inundação.
119
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Figura 6.2 - Exemplo de um diagrama de rede viária com a extensão da inundação
(tempo de retorno de 20 e 100 anos), as junções e os tipos de via
Fonte: Parker, Green & Thompson, 1987:74.
Por outro lado, como a velocidade do fluxo varia segundo uma função curvilínea; se o fluxo
aumenta, os custos materiais crescem rapidamente, assim com os custos pelo tempo de atraso.
Para uma análise minuciosa dos problemas e limitações dos métodos, ver Parker, Green &
Thompson (1987:80-81).
Além da capacidade das vias, um aspecto a considerar é a hora e o dia em que a inundação
ocorre, e mesmo o mês, pois a intensidade do tráfego varia significativamente no tempo.
Observa-se, por exemplo, uma tendência de aumento na intensidade do tráfego nos horários
de fim de expediente de trabalho, sextas-feiras e no mês de dezembro.
Uma escolha metodológica a ser feita refere-se ao nível de detalhamento da rede viária.
Parker, Green & Thompson (1987) consideram que esta decisão depende da magnitude dos
120
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danos associados à perturbação do tráfego e das características da rede viária impactada.
Autores, como Sohn (2006), atestam que nem sempre a inclusão das vias locais é necessária.
Embora se saiba que elas, principalmente na vizinhança dos links impactados, são alternativas
possíveis de desvio de tráfego, tanto como escolha dos próprios condutores para que alcancem
os seus locais do destino, como para um plano de emergência e evacuação, o pesquisador
aponta algumas razões para sua não inclusão.
Segundo Sohn (2006), o sistema viário principal normalmente já cobre grande parte da área
analisada e do fluxo de veículos da região. Logo, representa o eixo estruturante da circulação
de agentes e bens da região de estudo. Em segundo lugar, o sistema viário local pode não ser
um substituto para uma interrupção da via coletora ou arterial, uma vez que sua capacidade
tende a ser bem inferior. E ainda que a malha viária local tenha capacidade para receber o
fluxo interrompido e este se distribua em vários links, esta repartição precisa ser feita de
maneira criteriosa e organizada - o que normalmente não ocorre - sob pena de que surjam
enormes congestionamentos que levem atém mesmo à paralisação do fluxo. Se há um plano
de emergência eficiente, a possibilidade de fluidez do tráfego é maior. Observe que a
habilidade do sistema viário em absorver impactos na rede está associada à sua
vulnerabilidade, com análise do seu grau de redundância e de dependência da rede em relação
à via atingida.
Obviamente, todas estas questões devem ser discutidas à luz do sistema viário atingido. Se um
dos focos de pesquisa são os planos de evacuação e emergência de curto prazo, deve ser
verificada a capacidade das vias alternativas e possivelmente será necessário considerar o
sistema viário local.
121
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baseados na propriedade (Housing Models) têm sido amplamente utilizados para investigar
diversos efeitos, como presença de escolas, qualidade do ar, taxas de criminalidade,
miscigenação racial, acesso a empregos, zonas de terremoto e, mais recentemente, a
influência de áreas inundáveis (Donnelly, 1989).
O método dos preços hedônicos é um método de valoração econômica antigo é com ampla
utilização. Segundo Lezcano (2004), a referência mais antiga de aplicação da teoria remonta a
1929:
Como os grandes difusores do MPH, têm-se Griliches (1971) apud Rondon (2003), com uma
formulação mais genérica, e Rosen (1974) apud Chao, Floyd & Holliday, (1998), referência
clássica por ter formalizado as suas bases teóricas. A partir de então houve grande utilização
do método, notadamente na segunda metade da década de 70 e durante a década de 80.
Apesar de possível a aplicação do MPH em qualquer bem composto privado cujos atributos
sejam complementares a bens ou serviços ambientais, a utilização mais usual está relacionada
aos preços de propriedades. O preço de uma propriedade é função de várias características,
classificadas essencialmente em quatro grandes grupos: 1) características da propriedade (e.g.:
tamanho, idade e tipo de revestimento), 2) características da localização (e.g.: índice de
criminalidade, renda média e qualidade das escolas), 3) acessibilidade (e.g., acesso a serviços
e áreas comerciais, proximidade de rodovias ou metrôs) e 4) condições de mercado
(influência de fatores conjunturais de mercado, como desemprego e crescimento
populacional). Em áreas sujeitas à inundação, o risco de sua ocorrência também é uma
variável que pode interferir no preço do imóvel, podendo ser considerada uma característica
da propriedade. Em termos matemáticos,
Onde:
pi = preço da propriedade i
ai = vários atributos da localidade i
122
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Fi = variável que mede o risco de inundação
p
n n
∆ pi = pout – pin = f (aout, 0) – f (ain, 1) = Δ pd + pn -
d 1 i 1 p 1
p 6.15
Onde:
∆pi = variação no preço de propriedades devido à sua localização dentro ou fora da planície de
Inundação;
pout = preço da propriedade não sujeita ao risco de inundação;
pin = preço da propriedade sujeita ao risco de inundação;
aout = atributos da localidade situada fora da planície de inundação, com excessão do atributo
relacionado ao risco de inundação;
ain = atributos da localidade situada dentro da planície de inundação, com excessão do
atributo relacionado a risco de inundação;
0 e 1 = variável dammy para localização do imóvel dentro da planície de inundação (“1”) ou
fora dela (“0”);
∆ pd = preços hedônicos para danos diretos;
∆ pn = preços hedônicos para atributos negativos da localização na planície de inundação
(exceto danos diretos);
∆ pp= preços hedônicos para atributos positivos da localização na planície de inundação.
123
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Na Equação 6.15, ∆pi representa o custo adicional de se morar em uma planície de
inundação.30 Seu valor baseia-se na avaliação subjetiva que os consumidores fazem dos
atributos associados à localização em uma área inundável e de quanto estariam dispostos a
pagar para evitá-los.
Embora, para fins analíticos, a Equação 6.15 faça distinção entre atributos positivos (e.g.:
valores estéticos e possibilidade de recreação), atributos negativos (e.g.: fatores emocionais
associados à experiência com inundação, custos de evacuação temporária, projeção de perda
de renda e pagamento de seguro contra inundação) e danos diretos, o método normalmente
captura integramente os efeitos da inundação no valor da localização, não sendo possível
distinguir os tipos de danos. Ressalta-se que como no interior da planície de inundação os
atributos tendem a variar, uma variável que capte os incrementos no nível de risco seria mais
adequada do que a utilização de uma variável dummy.
Mas o modelo de preços hedônicos tem pressupostos rígidos que acompanham a análise
econômica neoclássica. Supõe-se que o mercado de moradias é concorrencial e está em
equilíbrio. Para garantir este equilíbrio, as seguintes suposições adicionais devem ser feitas:
os consumidores têm completa informação sobre os preços das residências; os agentes
possuem mobilidade de deslocamento entre bairros; os custos de transação e de deslocamento
são nulos e os preços se ajustam instantaneamente ante mudanças na oferta e demanda. Além
disso, os agentes têm percepção sobre o risco de inundação e sobre as características dos
imóveis.
30
Também podem existir benefícios atribuídos à localização em uma área inundável, como as possibilidades de
recreação dentro e no entorno do rio e a incorporação de valores estéticos e ambientais à área.
124
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A hipótese que, possivelmente, encerre mais discussão seja a de há conhecimento sobre o
risco. Como será discutido no item 6.2.1, se esse existe, ele tende a ser limitado e assimétrico.
Atualmente já existe um volume significativo de estudos que aplicam o MPH para estimar o
impacto do risco da inundação sobre o valor das propriedades e, adicionalmente, calcular os
benefícios de medidas de controle. Parte significativa dos estudos utiliza variável dummy para
representar se a propriedade está dentro ou fora da planície de inundação de 100 anos.
Miyata & Abe (1994) utilizaram o método de preços hedônicos para estimar os efeitos de um
projeto de controle de inundação na bacia do rio Chitose, região de Hokkaido, no Japão. O
estudo mede os benefícios de uma redução do risco por meio do MPH e por meio da
utilização de curvas DPS. Utilizando-se o método dos preços hedônicos, chega-se a uma
relação benefício-custo da medida de controle de 0,27, indicando que, dentro da perspectiva
do estudo, o projeto não é eficiente. Com a utilização das curvas de danos, o resultado indicou
uma razão benefício-custo de 1,99, valor bastante superior ao da analise anterior.
125
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Chao, Floyd & Holliday (1998) apresentam dois estudos de caso: Abilene no Texas e South
Frankfort, Kentucky. Compõe o estudo uma amostra relativamente grande, 4.700 observações
compreendidas entre o período de1988 e 1993. Para a localização fora da planície ou em área
sujeita a cheia com tempo de retorno de 100 anos, os coeficientes não foram estatisticamente
significativos ao nível de confiança de 95%. Este comportamento se justificaria pela hipótese
de que os consumidores não consideram a ocorrência de eventos raros em suas análises
subjetivas sobre o valor da residência. Os resultados apenas mostraram-se significativos para
as residências com valores de venda mais baixos e que se localizavam em áreas afetadas por
inundações mais freqüentes (tempo de retorno de 10 anos ou 25 anos).
Bartosová et al. (1999) realiza um estudo amplo e detalhado com algumas possibilidades de
variável de risco. O modelo utiliza quarenta variáveis independentes e as informações
compreendem o período de 1995 a 1998 para 1.431 propriedades. A área de estudo tem
aproximadamente 18,5 km e localiza-se ao longo do rio Menomonee em Wisconsin, Estados
Unidos. O estudo mostrou uma clara relação entre redução do risco de inundação e
crescimento no preço das propriedades: as propriedades próximas ao rio tenderiam a ser
vendidas por um valor aproximadamente 7,8% menor do que o daquelas fora da planície.
Entretanto, quando o risco de inundação diminui em 10 anos, o preço das residências
cresceria em 2,3%. Ao intervalo de recorrência de 33,3 anos ou mais, eliminar-se-ia o efeito
negativo do risco de inundação. A pesquisa discutiu ainda os efeitos sobre os preços das
propriedades de uma inundação ocorrida em 1997. Concluiu-se que, antes da inundação,
propriedades próximas ao rio foram vendidas por um valor 5,1% menor do que o de
propriedades semelhantes fora da planície. Considerando um ano após a inundação, esta
relação entre preços é de 18,9%, o que indica também a interferência da memória da
inundação sobre o valor das propriedades.
Entre os estudos mais recentes, está o de Zhai, Fukuzono & Ikeda (2003). Utiliza-se o método
de preços hedônicos para avaliar os efeitos do risco de inundação em uma área densamente
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ocupada e com intensa atividade econômica no Japão. A região foi alvo de uma cheia de
grande magnitude em setembro de 2000 (inundação Tokai), que causou inclusive a morte de
10 pessoas. Relacionadas ao risco, além da variável “profundidade da inundação”, foram
utilizadas variáveis dummy para medir a variação de preços de propriedade antes e depois da
cheia de 2000. Nos resultados, observou-se que a inundação tem efeito sobre o preço das
propriedades e de que esse foi afetado pela grande cheia de 2000.
No Brasil, o único trabalho encontrado sobre a utilização do método dos preços hedônicos
para estimar o efeito do risco da inundação sobre o valor das propriedades foi de Lezcano
(2004). A pesquisadora utilizou o modelo para relacionar os efeitos do risco de ocorrência de
inundação, representado pelo período de retorno, sobre a variação no preço dos imóveis.
Como área de estudo tem-se a bacia do rio Atuba, localizada na Região Metropolitana de
Curitiba. É uma bacia de densa ocupação urbana que sofre com relativa freqüência os efeitos
negativos de enchentes urbanas. Foram coletados dados de 159 imóveis residenciais com o
levantamento de doze variáveis consideradas relevantes na valorização do preço de venda:
estruturais (área construída, área do terreno, tipo de construção e idade do imóvel);
localizacionais (município, distância ao centro de Curitiba e proximidade a áreas de ocupação
irregular); de infra-estrutura (tipo de pavimentação, disponibilidade de sistema de coleta de
esgoto e proximidade de equipamentos urbanos); ambiental (proximidade a áreas verdes e de
recreação) e de inundação (risco de ocorrência de inundação na área onde se localiza o
imóvel, expresso pelo período de retorno).
Utilizou-se o modelo de regressão log-linear para relacionar o valor de mercado dos imóveis
com suas respectivas características. Com as informações obtidas, Lezcano (2004) avaliou o
impacto que uma medida de controle de inundação teria sobre o valor dos imóveis ao
aumentar o tempo de retorno das cheias que os atingem de 10 para 100 anos. Os resultados
mostram que eles apresentariam uma valorização de 17% em seu preço de venda.
A Tabela 6.3 mostra uma síntese de alguns trabalhos consultados e suas conclusões.
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Tabela 6.3 - Síntese de estudos com a utilização do método dos preços hedônicos para
avaliar o impacto do risco de inundação
Miyata & Abe Comparação entre o Método dos Preços Pelo Método dos Preços Hedônicos, um projeto de
(1994) Hedônicos e o Método dos Danos Evitados controle de cheias não é viável economicamente, pelo
(danos associados aos níveis de vazão). método dos danos evitados, ele é.
Utlização de malha regular.
Shabman et al. Estudo didático e consistente. Utilização de Antes de um evento de inundação, os valores das
(1998) zonas de inundação. propriedades não refletiam o risco, após o evento,
eles passaram a refletir.
Chao, Floyd & Segmentou-se o mercado de imóveis segundo o O preço de venda não reflete a ocorrência de eventos
Holliday preço de venda. Grande volume de raros (Tr superior a 100 anos).
1 observações (4.700).
(1998)
Chao, Floyd & Utilização de pares comparáveis de Os preços das propriedades caem para cada aumento
Holliday residências. Inclusão de apenas duas variáveis da probabilidade de inundação. Maior consciênca dos
2 independentes (freqüência da inundação e área moradores sobre danos onde o seguro é obrigatório e
(1998)
da propriedade). Relação entre desconto pela inundações mais frequentes.
localização em uma planície de inundação e
valor esperado dos danos diretos anuais.
Bartosová et al. Utlização de 40 variáveis dependentes, 5 Correlação entre redução do risco e crescimento do
(1999) relacionadas ao risco de inundação. Utilização valor da propriedade (dentro da planície de
de sistema de informação geográfica (SIG). Tr=100anos). Ao intervalo de recorrência de 33,3
anos, elimina-se o efeito negativo do risco obre o
valor das propriedades. Ocorrência de um evento de
inundação tem efeito sobre o valor da prpriedade no
curto-prazo.
Zhai, Fukuzono Estudo relativamente recente. Utilização da Inundação tem efeito sobre o preço das propriedades
& Ikeda variável profundidade de inundação. e estas foram afetadas pela grande cheia de 2000.
(2003)
128
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A análise de preços hedônicos somente pode gerar estimativas de benefícios de projetos de
mitigação por meio de residências diretamente afetadas pela inundação. Se não existe ameaça
de inundação na propriedade, seu preço não será influenciado pela construção de uma medida
de controle. Isto significa que a avaliação de um residente fora da planície de inundação, mas
que por razões cívicas estaria disposto a pagar por um projeto de mitigação de danos, não é
considerada na análise. Motivações cívicas não são então captadas pelo modelo (Shabman et
al., 1998).
O modelo de preços hedônicos não é capaz de distinguir entre a “falta de consciência” sobre o
risco de inundação e falta de disposição a pagar por uma medida de controle. Obviamente,
logo após um evento extremo, esta falta de consciência tende a diminuir, como mostraram
alguns trabalhos apresentados (Shabman et al., 1998; Bartosová et al., 1999; Zhai, Fukuzono
& Ikeda, 2003). Fatores como expectativa em relação à assistência governamental após o
desastre natural e existência de seguro contra inundação adicionam complexidade ao
funcionamento do mercado em alguns países.
O MPH possui dificuldades técnicas intrínsecas (Shabman et al., 1998). Para que o modelo
seja válido, os atributos devem variar significativamente entre as propriedades que compõem
a amostra. Quanto menor a variação nas características, maior é o potencial de erro.
Adicionalmente, vários problemas podem surgir ao ser utilizada uma análise transversal para
estimar a equação de preço. Algumas vezes, os preços em uma planície de inundação são
afetados por fatores exclusivos à planície que não necessariamente são decorrentes dos efeitos
potenciais de uma inundação. Seu desenvolvimento pode ter sido único em relação ao resto da
região tornando-a um mercado com características bem próprias e, portanto, não comparável
ao restante.
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Para Mitchell & Carson (1989) há dificuldade em se encontrar residências genuinamente
comparáveis em uma região. Há ainda o grande número de variáveis que interferem no preço
das propriedades. Muitas delas de difícil acesso e outras, impossíveis de capturar. Podem
existir expectativas em relação a mudanças futuras na localidade, como a construção de
alguma área de lazer ou centro comercial, que interferem na determinação dos preços, mas
não são capturáveis na equação de regressão. Um problema verificável frente à análise da
literatura é a dificuldade em encontrar a forma funcional adequada para mostrar a relação
entre preço e atributos, embora tenham sido percebidos avanços nesta área, como a utilização
da transformação Box-Cox.31
Ainda que o modelo de preços hedônicos possa ser usado com razoável confiabilidade, os
resultados nem sempre originam uma medida da disposição a pagar. Conceitualmente, o
modelo gera o preço implícito marginal da característica em questão. Para medir os benefícios
de uma mudança não marginal no nível de proteção, alguns procedimentos ainda seriam
necessários, como definir a função de demanda inversa, função da disposição a pagar pela
amenidade de interesse, por meio da qual seria calculado o excedente do consumidor (Maia,
2002; Shabman et al. 1998).
31
A transformação Box-Cox permite, através da variação de um parâmetro, englobar toda uma classe de
formas funcionais de transformação de atributos em variáveis explicativas. (Lezcano, 2004: 85).
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A origem do método remonta à década de quarenta, quando o economista Ciriacy-Wantrup
sugeriu o uso de entrevistas diretas para medir os valores associados aos recursos naturais. No
seu livro - Resource Conservation: Economics and Policies, de 1952 – ele preconiza o
método de entrevistas e propõe o desenvolvimento de uma nova área de conhecimento, a
“economia da diversidade biológica”.
Mas o grande difusor e responsável pelo arcabouço metodológico do MVC foi Robert Davis,
no início dos anos sessenta. A fim de estimar os benefícios da recreação ao ar livre no estado
norte-americano de Maine, famoso pelas suas florestas de pinheiros, o pesquisador, utilizando
os jogos de oferta32, recorreu a uma série de entrevistas individuais. Foram entrevistadas 121
pessoas. Segundo Davis, os entrevistados responderam às questões seriamente e expressaram
valores críveis:
Para testar a racionalidade das respostas, Davis estimou uma equação que explicava uma
grande porcentagem da variância na quantia de DAP como função da renda, tempo de
permanência na área e familiaridade com o local. Seguiram-se vários estudos influenciados
pela pesquisa de Davis, especialmente para avaliar áreas de lazer associadas à natureza, como
parques e bosques.
A partir dos anos setenta, o método é utilizado para uma ampla variedade de temas, como
lazer, caça, qualidade da água e do ar, despejo de lixo tóxico, benefícios estéticos de obras
públicas e benefícios do suporte do governo a artes. Associado à sua generalização, há o
refinamento do MVC, e vários estudos estabelecem sua consistência teórica com a economia
do bem-estar. Ressaltam-se os esforços conduzidos pelo pesquisador Randall e colaboradores,
especialmente no trabalho Biddings Games for Valuation of Aesthetic Environmental
Improvements, feito em 1974 (Randall et al., 1974). A consolidação do método veio com a
sua aceitação e recomendação por órgãos oficiais e entidades norte-americanas, como Water
Resource Concil, U. S. Army Corps of Engineers, Department of the Interior e U.S.
Environmental Protection Agency.
32
Forma de questão onde o entrevistado responde se está de acordo ou não com uma quantia estabelecida (ver
Tabela 6.4).
33
Escrito originalmente em inglês.
131
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O MVC tem como base metodológica a criação de cenários hipotéticos, com características
que estejam o mais próximo possível das existentes no mundo real, para que os agentes
revelem suas preferências e decisões da forma mais realística possível. Na avaliação de danos
de inundação podem ser criados dois cenários alternativos: com inundação e sem inundação,
ou, em termos mais relativos, negocia-se a mercadoria “diminuição do risco”.
Nesta situação virtual, a diminuição do risco ou a adoção de uma medida de controle de cheia
é uma mercadoria que pode ser negociada e consumida segundo necessidades e preferências,
tal como no mercado real. As preferências, na ótica da teoria econômica, devem ser expressas
em termos monetários (Shabman et al., 1998).
Para um proprietário de um imóvel residencial, sua DAP pode ser expressa segundo a
Equação 6.16:
Onde:
DAP: Disposição individual a pagar por um projeto de mitigação dos danos da inundação;
E∆DP: Expectativa de variação dos danos à propriedade após o projeto;
E∆VI: expectativa de variação no valor dos imóveis após o projeto;
E∆ANX: expectativa de diminuição do stress decorrentes da inundação;
E∆L: expectativa de diminuição dos transtornos na localidade;
SI: presença ou não de seguro pelo proprietário;
RN: Renda do proprietário;
HT: horizonte de tempo utilizado na análise individual.
A Equação 6.16 mostra alguns possíveis fatores considerados na análise do agente econômico
sobre sua DAP. No caso do proprietário de um estabelecimento comercial ou industrial, outras
variáveis também são incorporadas, como a esperança de menores danos ao estoque e a não
paralisação das atividades.
Este método utiliza dois mecanismos de valoração: a disposição a pagar (DAP) e a disposição
a aceitar (DAA). A DAP é a soma máxima de dinheiro que o indivíduo estaria disposto a
pagar por um bem, por exemplo, por uma amenidade ambiental. É o chamado “preço de
reserva” na teoria microeconômica. Por este preço, a pessoa é indiferente entre ter o bem (e
perder o dinheiro) ou não (e manter o dinheiro). A DAA é a soma mínima de dinheiro que o
consumidor exigiria para voluntariamente renunciar a uma melhoria que, caso contrário, seria
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experimentada. É a quantia que tornaria o indivíduo indiferente entre ter a melhoria ou
renunciá-la com o ganho extra de dinheiro (Freeman III, 1993).
A DAP teria como cenário inicial a ausência de melhoria ambiental, a DAA pressuporia a
presença de algum benefício ambiental no nível atual de bem-estar ou utilidade (Freeman III,
1993). Como preconizam Daun & Clark (2000): se a amenidade ambiental representa um
aumento do status quo, o método de eliciação seria o DAP; se, ao contrário, o respondente
tem que comparar o seu status quo corrente com um novo, onde a qualidade ambiental é
menor, seria utilizado o formato DAA. Em uma situação intermediária, quando o gasto está
associado a uma manutenção do atual nível de bem-estar, a forma apropriada seria o DAP.
U (R0, RN0) = U (R-, RN-) = U (R+, RN+) = U (R-, RN -, DAP) = U (R+, RN +, DAA) 6.17
Sendo:
U: Utilidade;
R: Risco de Inundação;
RN: Renda;
DAA: Disposição a aceitar uma compensação pelo aumento do risco (pouco verossímil);
DAP: Disposição a pagar por uma medida para diminuição do risco.
As equações acima mostram combinações distintas de renda e risco que satisfariam da mesma
forma o consumidor.34 Como não é possível estimar a função utilidade diretamente no
mercado, as informações sobre “disposição a pagar” ou “disposição a aceitar” são feitas via
método da valoração contingente, por meio de pesquisa de campo. Comumente usam-se
questionários em formato aberto ou em modo de referendo. O estudo pode ser enriquecido
com uma estimativa da função demanda que correlaciona os valores da DAP/DAA com
indicadores socioeconômicos (nível de renda e educação dos entrevistados) e outras variáveis
explicativas (Mikhailova & Barbosa, 2004). Para alcançar resultados confiáveis, a definição
metodológica deve ser feita de maneira criteriosa.
34
As curvas de indiferença mostram combinações de bens e consumo (cestas de bens) em que o consumidor
estaria igualmente satisfeito de consumi-las, ou seja, é indiferente entre as cestas.
133
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A forma de obtenção da DAP/DAA – ou de “eliciação”, termo usualmente empregado na
literatura sobre o tema que possui o sentido de “extrair” uma informação - é uma etapa
fundamental do método (Mitchell & Carson, 1989; Motta, 1998; Nutti, 2000). As formas de
eliciação são divididas em dois grandes formatos: formato aberto e formato fechado. Na
forma aberta, também chamada lances livres (open-ended), pergunta-se ao entrevistado
quanto ele estaria disposto a pagar ou a aceitar como compensação financeira por uma
mudança na oferta de determinado bem ou serviço. O método é apropriado caso a população
pesquisada possua algum conhecimento sobre o bem em questão. Segundo Motta (1998), esta
é a forma pioneira do MVC, mas tem sido abandonada em favor de outras técnicas.
Entre os trabalhos mais recentes relacionados ao risco de inundação, está o de Brouwer et al.
(2006), feito para Bangladesh, país que, com 80% de sua área situada dentro de uma planície
de inundação, sofre inundações freqüentes. Brouwer et al. (2006) consultou 672 moradores
rurais, de baixa renda, sobre sua DAP pela construção de um dique para reduzir o nível
corrente e futuro de risco. A eliciação foi feita por escolha dicotômica com uma oferta
específica.
134
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A pesquisa confirma o que a literatura observa sobre a aplicação de MVC em países em
desenvolvimento, onde, em conseqüências das severas restrições financeiras, há um grande
número de lances nulos (e.g. Georgiou et al., 1997 apud Brouwer et al., 2006). Na análise das
repostas dos moradores, 40% responderam positivamente à adoção de uma medida de
controle. Entre os que responderam negativamente, 80% alegaram falta de recursos
financeiros. Segundo o modelo de estimação utilizado, a DAP foi de 3,23 dólares anuais por
domicílio, o que representa 0,34% da renda média anual ou de 4,29 dólares, representando
0,45% da renda. Mostrou-se que a disposição a pagar varia significantemente segundo os
diferentes níveis de exposição ao risco, os quais foram medidos pela distância da residência
em relação ao rio e pelo nível de inundação durante a estação chuvosa.
Outro estudo influente foi conduzido por Shabman et al. (1998). Ele mostra a possibilidade de
ocorrer vieses no MVC. A pesquisa compara três técnicas de estimativa de danos: danos
evitados à propriedade, método dos preços hedônicos e método da valoração contingente. O
segundo foi discutido na seção 6.2 e o último é mostrado aqui. A pesquisa foi conduzida em
Roanoke no ano de 1987, após uma grande inundação ocorrida em 1985. Como técnica de
obtenção de preferências, utilizou-se o cartão de pagamento, no qual o respondente deveria
selecionar o valor que julgava mais adequado para um projeto de mitigação dos danos.
A pesquisa apresentou mais de 50% de lances nulos. Desses, aproximadamente 60% eram
votos de protesto, pois os respondentes consideravam que haviam tido muitos gastos com a
inundação de 1985 e que agora teriam que pagar novamente por um projeto que deveria ser
responsabilidade integral do governo. O restante dos votos nulos era dado por motivações
financeiras ou por uma aparente falta relevância do projeto para o entrevistado.
135
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A grande questão levantada por este estudo é que os resultados de DAP obtidos pelo MVC
mostraram incoerência em relação às outras duas técnicas efetuadas na área (preços hedônicos
e método dos danos evitados), que, ao contrário, apresentavam resultados que se convergiam.
Os autores fizeram uma análise mais fina dos dados e concluíram que ocorreu um viés
hipotético, no qual as expressões de DAP hipoteticamente inferidas não se traduziram em real
escolha de comportamento.
Além destes trabalhos, uma literatura complementar pode ser obtida em Daun & Clarck
(2000) ou no sítio da Marquette University,35 locais onde uma grande lista de referências é
analisada.
Uma desconfiança em relação ao método é de que ele não é baseado no comportamento real
do consumidor (ao contrário dos métodos indiretos), mas no que ele declara, e nem sempre o
que indivíduo fala que vai fazer é o que ele realmente faz.
Um primeiro possível viés destacado na literatura sobre MVC é o viés estratégico (Tabela
6.5). Presume-se que o entrevistado assume um comportamento estratégico ao revelar sua
preferência. Possivelmente, Paul Samuelson foi o mais influente crítico do questionamento
direto como forma de valorar bens públicos.36 Para ele, não há nenhuma circunstância
previsível onde as pessoas não se sentiriam incentivadas a mentir sobre a demanda por bens
públicos (Mitchell & Carson, 1989).
35
Relatório técnico The effect of spatial flood risk on willingness to pay for flood risk management: an applied
contingent valuation approach. Disponível em: <http://www.mu.edu/environment/tr.htm>.
36
Influente economista norte-americano, ganhador do Prêmio Nobel em 1970, Samuelson revolucionou a
economia ao unir um século de percepções econômicas, muitas das quais aparentemente contraditórias, numa
teoria unificada e coerente: a chamada síntese neoclássica.
136
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simplesmente um sobrevalor. O entrevistado pode anunciar um valor exagerado da DAP se
pressupor que, de fato, não será obrigado a pagar este valor e que, por outro lado, sua
declaração pode influenciar na provisão do bem.
Há ainda outra motivação estratégica, a do “mínimo esforço”. Ela ocorre quando o indivíduo
acredita que a provisão do bem é inevitável e, portanto, não há relação entre o que é oferecido
e o que terá que ser pago. O indivíduo não se preocuparia em mentir ou falar a verdade, ele
simplesmente não faz esforço para descobrir sua verdadeira preferência.
Mitchell & Carson (1989) defendem o uso do MVC argumentando que o comportamento
estratégico seria mais uma exceção do que uma regra nas DAP/DAA. Além disso, o MVC
seria estruturado para possibilitar respostas confiáveis de preferências: o indivíduo, quando
entrevistado, perceberia sua resposta como influente no processo decisório sobre a provisão
do bem.
137
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Tabela 6.5 - Possibilidades de vieses nas preferências declaradas
Vieses Característica
Acreditar que o primeiro valor seja o mais correto. Ocorre
Viés do ponto de partida principalmente nos jogos de oferta e no referendo com
acompanhamento.
Vinculação do lance à escala sugerida no cartão de pagamento,
Ancoramento
acreditando que ela contém o valor "correto".
(vinculação à priori)
Ocorre principalmente nos cartões de pagamento.
- Aceitar as quantias subseqüentes enunciadas pelo entrevistador.
- Constrangimento em declarar uma posição negativa para uma ação
Viés da obediência ou
considerada socialmente correta, embora o fizesse em uma situação real.
caridade (warm glow)
- Ocorre principalmente nos jogos de oferta e no referendo com
acompanhamento.
O “carona” (free riding); a “promessa exagerada” (overpledging); o
Viés estratégico
“mínimo esforço”.
Influência do veículo de pagamento sobre a resposta do entrevistado
Viés do instrumento de
(e.g.: um aumento no imposto pode ser visto como mais custoso do que
pagamento
uma taxa de entrada associada ao uso).
Viés da informação Questionário mal elaborado pode originar respostas pouco confiáveis.
Viés hipotético Uma pergunta hipotética daria origem a uma resposta hipotética.
Problema da Parte-Todo Tendência a interpretar a oferta hipotética de um bem específico como
(embedding / mental account) algo mais abrangente.
Avalia-se uma mudança no bem público como parte de um uma
Viés do sequenciamento
seqüência de mudanças envolvendo vários bens públicos (Bjornstad &
(sequencing phenomena)
Kahn, 1996).
Dar maior valor ao bem em separado do que em conjunto com outros
Viés da subaditividade37
bens.
Na vida real as decisões não são feitas de forma isolada, mas em um cenário onde inúmeros
fatores pessoais e contextuais interagem e são continuamente reavaliados pelo indivíduo. O
processo de tomada de decisão em um MVC é claramente diferente do que o que ocorre na
realidade, são contextos distintos de formação de preferências e de valor. Mas isto não
invalida o método, ao contrário, é uma possibilidade ante a existência de esferas onde o
mercado ainda não alcançou. Segundo Freeman III (1993), tem ocorrido grandes avanços nos
cálculos das medidas de bem-estar via métodos hipotéticos, especialmente em modelos de
37
Alguns autores consideram o problema da parte-todo e o fenômeno da subaditividade como manifestações de
um mesmo tipo de sensibilidade da DAP das pessoas em relação a uma mudança de bem público, não fazendo
distinção entre eles (Bjornstad & Kahan, 1996).
38
Sobre o tema, ver Prado (2006) em sua discussão sobre microeconomia reducionista e evolucionária.
138
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escolhas discretas, e existem formas estatísticas de lidar com problemas usuais nos MVC,
como a presença de não resposta, os outliers e os votos de protesto.
Concebida nos anos 40 pelo economista russo Wassily Leontief, a matriz insumo-produto
demonstra como o produto se distribui entre os setores de demanda final e intermediária da
economia. Segundo definição presente em Carvalheiro (1998):
Em notação matricial, o modelo estático de Leontief pode ser escrito como uma equação do
tipo x = w + f, onde x é o vetor da produção setorial; w é vetor do consumo intermediário
setorial e f é vetor da demanda final setorial. Sendo que w = Ax, onde A é a matriz de
coeficientes técnicos aij. O coeficiente representa o valor produzido na atividade i consumido
pela atividade j para produzir uma unidade monetária.
Os princípios da matriz insumo-produto foram utilizados para criação de modelos cada vez
mais amplos e flexíveis, como os modelos de equilíbrio geral computável (EGC), os quais
têm recebido, recentemente, especial atenção na análise de desastres naturais. Os modelos
EGC destacam-se por captar os efeitos diretos, indiretos e institucionais de impactos externos
na economia, com as respostas e adaptações comportamentais dos agentes econômicos, em
uma análise ao mesmo tempo microeconômica, setorial e global. Fochezatto (2002) define
duas características comuns aos modelos EGC:
139
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Primeiro, ele são modelos de “equilíbrio geral”, pois abarcam o conjunto da
economia, determinando endogenamente, através de programas
microeconômicos de otimização, os preços relativos e as quantidades
produzidas. Segundo, são modelos “computáveis ou aplicados”, pois
resolvem numericamente o problema de equilíbrio geral, fornecendo
resultados abrangentes e detalhados dos efeitos de mudanças políticas sobre
as economias analisadas (Fochezatto, 2002: 2).
Segundo Cochrane (2004), uma limitação do EGC para avaliação de desastres naturais é de
que uma das suas principais características, a flexibilidade de preços e substituição da
produção, tende a ser inútil em uma situação de desastre, onde não há evidências reais de que
ocorra mudança nos preços relativos. Lofgren & Robinson (2002), em uma análise sobre o EGC e
redes espaciais, argumentam que uma limitação dos primeiros é a de não tratarem de forma explícita o
espaço geográfico, pois não permitem "mudanças de regime” e “efeitos threshold” para fluxos de
comércio: eles adotam como solução de base que, se uma região exporta ou importa de outra região,
este fluxo de comércio estará sempre presente e se ajustará suavemente a mudanças exógenas. Se
considerado a dinâmica do espaço intra-urbano, normalmente com grande densidade de unidades
econômicas e fluxos, os modelos de equilíbrio geral podem ser insuficientes na mensuração do choque
proporcionado pela inundação.
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A programação linear ou modelos de otimização linear permitem modelar a alocação ótima
dos recursos pós-evento. Entretanto, é questionável se ela possibilita soluções viáveis na
prática, seja em termos econômicos, seja em termos políticos (Cochrane, 2004).
Nos modelos regionais tem-se uma representação geográfica do sistema a partir de sua
repartição em zonas, as quais trocam entre si população, bens, capital, etc. Grande parte dos
modelos regionais são econômico orientados, com cada zona representada por um vetor de
indicadores socioeconômicos (Benenson, 1999). Os componentes do vetor podem ser o
número ou proporção de grupos populacionais de acordo com sua idade, cultura, educação ou
emprego; o número ou proporção de empregos em diferentes indústrias; as residências de
diferentes padrões construtivos; as unidades econômicas segundo sua classe de atividades, etc.
Portanto, uma etapa importante no avanço dos modelos regionais ocorreu com o
desenvolvimento da teoria geral dos sistemas complexos, na qual se observou que sistemas
complexos (incluindo áreas urbanas) revelam leis comuns de comportamento (Prigogine,
1967 apud Benenson, 1999). No caso da aplicação dos modelos regionais para o estudo do
espaço urbano, o novo paradigma passou a ser que, para uma qualitativa compreensão da
dinâmica urbana, não é necessária uma descrição detalhada de todas as inter-relações
estabelecidas entre os componentes. Faz-se necessário abarcar apenas as mais importantes e,
talvez, a ordem latente da dinâmica urbana para classificar as suas interações possíveis e
interpretar qualitativamente os diferentes resultados. O número de componentes e indicadores
socioeconômicos introduzidos no modelo pode então ser reduzido de centenas para algumas
unidades (Benenson, 1999).
141
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atração para uma nova zona pode estar relacionada à idade do responsável pelo domicílio, ao
número de membros da família, à renda per capita etc. Dados empíricos podem ser usados
para calibrar o modelo criando parâmetros de imigração, emigração, taxa de natalidade e
mortalidade e expectativa de vida (Van Wissen & Rima, 1988 apud Benenson, 1999).
Normalmente, utiliza-se uma análise econômetrica, por meio da qual pode se verificar o
coeficiente de determinação e verificar a correspondência entre os dados empíricos e aqueles
estimados pelo modelo.
Kakhandiki & Shah (1998) propõem um modelo econométrico regional para avaliar o
impacto de terremotos. A modelagem especificaria as ligações entre os vários subsistemas
existentes em uma grande cidade (industrial, capital, político, renda, mercado de trabalho e
demografia) em termos de relações de causa e efeito e simularia as mudanças nos fluxos
econômicos (demanda e oferta de trabalho, fluxo de investimentos, etc.), seqüencialmente, em
diferentes unidades de tempo e em resposta a diferentes eventos. O objetivo é captar as
conseqüências em uma situação sem terremoto (mudanças “normais”) e em um cenário com
terremoto (mudanças “anormais”).
Será observado na metodologia (capítulo 8), que a pesquisa proposta aqui incorpora
elementos dos modelos regionais e parte da mesma conceituação de espaço urbano mostrada
em Kakhandiki & Shah (1998), considerando-o como um sistema complexo formado por
subsistemas que se interconectam seqüencialmente e repetidamente. A diferença refere-se aos
subsistemas considerados representativos da cidade, diferença em parte decorrente da
metodologia de análise utilizada (econometria em oposição a uma modelagem com agentes e
análise em rede).
142
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Ha também modelos híbridos, baseados em algoritmos computacionais, que podem ser
direcionados para análise de choques de oferta, restrições produtivas pós-evento e tempo de
reconstrução. Um grande número de inputs é definido pelo usuário, o que torna a abordagem
criticável como ad hoc.
39
Disponível em <http://www.fema.gov/plan/prevent/hazus/index.shtm >.
40
Traduzido do sítio da FEMA na Internet: < http://www.fema.gov/plan/prevent/hazus/hz_flood.shtm >.
143
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7 UTILIZAÇÃO DE MODELOS DE SIMULAÇÃO E ANÁLISE DE
REDE PARA A AVALIAÇÃO DOS DANOS DAS INUNDAÇÕES
Este capítulo introduz o uso da simulação para o estudo das conseqüências socioeconômicas
da inundação. Inicialmente são mostrados alguns conceitos e terminologias freqüentemente
utilizados em modelagens. A seguir, apresentam-se resumidamente os principais modelos de
simulação existentes, tendo como referencia a descrição presente em Gilbert & Troitzsch
(2005). São mostradas, ainda, as potencialidades da simulação social para o estudo dos danos
decorrentes da inundação.
Os parâmetros mantêm seu valor inalterado durante todo o processo estudado. Ou seja, eles
não variam durante o tempo definido na modelagem, embora possam variar espacialmente
(Rennó & Soares, 2000). Como exemplo de parâmetros tem-se, nos modelos hidrológicos, a
rugosidade de uma seção de um rio e a área da bacia hidrográfica; em determinados modelos
econômicos, como o proposto nesta pesquisa, o preço e os salários.
As variáveis, ao contrário, podem mudar ao longo do tempo (Tucci, 1998; Rennó & Soares,
2000). Ocorrem três possíveis tipos de variável em um modelo: variável de estado, variável
processo e variável forçante. A primeira é a variável foco. Em um sistema de equações,
normalmente há uma equação diferencial relacionada a ela. O estado de um sistema pode ser
descrito observando-se o valor de cada variável de estado. A vazão é uma variável que
descreve o estado do escoamento. Em um modelo de impacto de inundação, o nível de
144
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emprego, renda e riqueza são variáveis que podem mostrar o estado da economia na área
atingida pelo evento. A modelagem é feita a fim de se verificar a alteração dessas variáveis
ante a ocorrência do desastre.
Finalmente, o terceiro tipo de variável, a variável forçante, refere-se a uma variável ou função
que exerce influencia sobre o modelo, mas não é calculado por ele. Esta variável pode ser um
fluxo (fluxo forçante) ou um estoque externo ao modelo (estoque forçante) que o alimenta
funcionando como seu propulsor, modulador ou controlador. Pode se considerar, por
exemplo, a profundidade da inundação como um exemplo de estoque forçante que alimenta a
modelagem dos danos de inundação. Observa-se, entretanto, que a profundidade já foi
calculada a partir de uma modelagem hidrológico-hidráulica prévia, na qual a variável
forçante principal era a chuva (Figura 7.1). Portanto, em uma análise multi-sistemica
seqüencial, as variáveis de estado de um sistema podem se tornar variáveis forçantes ao
alimentarem outro sistema.
Precipitação
Modelagem
Hidrológica-Hidráulica
Profundidade do
escoamento variando no
tempo e espaço
Modelagem de impactos
socioeconômicos
145
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Uma visão geral sobre modelos, especialmente hidrológicos, com seus conceitos básicos e
classificação, pode ser encontrada em e Tucci (1998).
Gilbert & Troitzsch (2005), entretanto, consideram que a simulação é um tipo particular de
modelagem e procuram enfatizam sua distinção em relação aos modelos estatísticos. Nos
modelos estatísticos, o pesquisador desenvolve um modelo, comumente um conjunto de
equações, que é a abstração do um processo social alvo. As equações incluem parâmetros
cujas magnitudes são estimadas durante a modelagem (normalmente, com o uso de “pacotes”
estatísticos). Os dados estimados são então comparados com os dados reais, coletados. Na
simulação, como compreendida por Gilbert & Troitzsch (2005), o modelo é formalizado
como um programa computacional e não como um sistema de equações estatísticas. O modelo
é processado para gerar dados simulados que, por sua vez, são confrontados com os dados
reais.
Ao que parece, o termo vem ganhando contornos particulares no campo das ciências sociais
aplicadas, associado em grande parte ao desenvolvimento da engenharia de computação.
Normalmente é empregado para descrever um conjunto de técnicas que possuem algumas
características comuns: presença da modelagem; utilização da experimentação para se
entender o comportamento do sistema ou avaliar as várias estratégias para a sua operação;
ênfase na representação dos processos existentes no sistema e, freqüentemente, uso intensivo
de linguagem computacional para criar e executar o modelo.
146
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7.1 Modelos de simulação social
Como em todos os modelos, as simulações utilizam dados de entrada - inputs -, que são as
informações necessárias ao modelo associadas a um cenário específico de análise, e resultados
- outputs - que são observáveis durante a simulação. As simulações são utilizadas para pelos
menos seis propósitos (Gilbert & Troitzsch, 2005):
41
Para detalhes de jogos simulados com ênfase no meio ambiente, ver
http://planetasustentavel.abril.com.br/simuladores/.
147
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artificial” construída. Para isso é necessário utilizar teorias que são convencionalmente
expressas em forma discursiva e as traduzir em linguagem computacional.
Observa-se na Tabela 7.1 que algumas técnicas são adequadas para estudar o problema em
apenas um nível (e.g.: o indivíduo, a sociedade, o meio ambiente, etc.), em outras, é possível a
interação entre sistemas, o que as torna capazes de investigar fenômenos emergentes. Há
modelos aptos para simular a comunicação entre agentes, sendo adequados para modelar
linguagem e interação, outros não. A complexidade de agentes em relação a atributos e regras
comportamentais usualmente está presente em técnicas baseadas em inteligência artificial,
como modelagem multi-agentes e modelos de aprendizado. Em relação ao número de agentes,
a maior parte das técnicas possibilita utilizar mais de um, tornando-os aplicáveis a analises de
fenômenos sociais e ambientais complexos quando a pluralidade de agentes é freqüente. A
exceção são os sistemas dinâmicos, no qual o próprio sistema, simulado como um todo é o
único agente.
Os sistemas dinâmicos têm origem nas equações diferenciais. São restritos ao nível
macroeconômico. O sistema alvo, com suas propriedades e dinâmica, é descrito por meio de
um sistema de equações das quais se deriva o seu estado futuro a partir do estado atual.
Modela-se uma parte da realidade (o sistema alvo) como um todo indiferenciado cujas
propriedades são descritas por um grande número de variáveis que representam o seu estado e
suas mudanças. Portanto, o estado do sistema alvo no momento “t+1” depende de seu estado
42
Original em inglês.
148
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no momento “t” e de um parâmetro “ϑ”, sendo que as mudanças de estado são calculadas para
mudanças infinitesimais de tempo (Gilbert & Troitzsch, 2005).
Como será mostrado no Capítulo 8, a metodologia utilizada neste trabalho emprega elementos
de microsimulação analítica para observar o comportamento dos domicílios e de seus
habitantes na execução das funções de consumo e aquisição de renda. Os dados, entretanto,
são tratados matematicamente de forma determinística, ou seja, considera-se que as relações
entre os agentes refletem o estado “final” ou “de equilíbrio” existente naquele momento na
rede. As probabilidades de determinadas relações em determinado momento, quando
existentes, são mensuradas de forma exógena ao modelo.
Outros tipos de simulações utilizam os modelos de fila (models queuing), também conhecidos
por modelos de eventos discretos. Sua característica central é de que o tempo não é contínuo e
149
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nem transcorre em passos discretos eqüidistantes, mas de evento a evento. Os eventos são
marcados em uma “agenda”: uma lista de todos os futuros eventos que possam ser
predefinidos para um determinado horário. Eventos passados são removidos da lista; eventos
podem gerar novos eventos que são inseridos na agenda. A Figura 7.2 mostra um exemplo de
um modelo de fila simplificado. Ele representa a fila de check-in em um aeroporto: os
“clientes” são os passageiros, eles esperam em “fila” pelo serviço (“servidor”) prestado no
balcão de recepção. O objetivo da simulação é definir, dada uma distribuição de probabilidade
de chegada de passageiros ao guichê, o número de atendentes necessários para efetuar o
serviço a fim de que o tempo de espera na fila não ultrapasse determinado valor.
(clientes) (clientes)
fonte fila servidor saída
chegada
espera
serviço
Figura 7.2 – Modelo de fila para uma fila de verificação (check-in) em um aeroporto
43
O projeto MIMOSE - Micro and Multilevel Modelling Software - foi fundado pelo conselho de pesquisa
germânico (do alemão, Deutsche Forschungsgemeinschaft). Sua principal finalidade era o desenvolvimento de
uma linguagem que considerasse demandas de modelagem nas ciências sociais, em especial, a descrição de
relações quantitativas e qualitativas não-lineares, a influência de processos estocásticos, processos de nascimento
e morte e modelos em macro e micro nível.
150
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Os modelos anteriores mantêm a característica de permanecerem invariáveis durante a
simulação. Mas há modelos que incorporam o aprendizado e, enquanto ocorre a simulação,
parâmetros se alteram, ou mesmo a forma do modelo modifica-se em resposta ao ambiente.
Abordagens freqüentes utilizam redes neurais artificiais e modelos baseados em programação
evolucionária, ambos utilizando analogias da biologia.
Além das técnicas descritas no decorrer desta seção, existem os celulares autômatas e a
modelagem baseada em agentes, modelos tratados com mais detalhes a seguir por terem sido
fonte de inspiração na construção metodológica da pesquisa.
Dentro da abordagem botton-up, o modelo celular autômata vem sendo usado na análise
urbana por meio da caracterização do espaço como uma cobertura de parcelas ou células que
representam o ambiente físico.
No CA, células idênticas são organizadas em uma grade (em inglês, grid) regular. Elas podem
se organizar em linha (unidimensional), em forma retangular ou em um cubo tridimensional.
Em simulações sociais, as células podem representar indivíduos ou atores coletivos, como
países.
151
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Em cada célula são representados possíveis estados, os quais podem indicar atitudes,
características individuais ou ações. Em estudos que envolvem a dinâmica do espaço urbano,
usualmente as células representam usos do solo: residencial, comercial, industrial, etc.
(Benenson, 1998, 1999). Os estados da célula podem ser divididos em duas classes: estados
que podem se modificar (e.g.: residência, comércio e indústria) e estados fixos, que
representam infra-estrutura (e.g.: rios, vias) (White et al. 1997 apud Benenson, 1999).
O estado da célula depois de um passo é determinado por regras que especificam como o
estado atual depende dos anteriores, não só da própria célula, como também da vizinhança
imediata. As mesmas regras são usadas para atualizar os estados de cada célula no grid
(Gilbert & Troitzsch, 2005). O modelo é, portanto, homogêneo em relação às regras. Como as
regras referem-se apenas ao estado de células vizinhas, CA é mais bem usada para modelar
situações onde a interação é local.
De forma sintética, a celular autômata modela um mundo onde o espaço é representado por
um grid uniforme, o tempo avança em passos e as leis que o governam são formadas por
regras uniformes que definem o estado de cada célula a partir de estados prévios da própria
célula e de células vizinhas. Seu uso é bastante adequado para investigar resultados em macro
escala de eventos em micro escala. Possui, entretanto, uma restrição inerente ao usar um pré-
determinado estado das células.
44
Não foi encontrada uma tradução em português para gossip model. Em termos exatos, gossip seria traduzido
como conversa, “mexerico”.
152
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(a) (b) (c) (d)
Figura 7.3 - (a) Distribuição aleatória de células brancas e pretas; (b) distribuição das
células, após cinco passos de tempo; (c) após dezenove passos e (d) após 482 passos
Fonte: Gilbert & Troitzsch, 2005: 140.
Na Figura 7.3, em (a) tem-se a disposição inicial; durante a simulação passa-se pelos estados
(b) e (c) e após 482 passos de tempo, chega-se a configuração (d), com grandes manchas
brancas e pretas.
A MBA é representada por uma variedade de agentes, dotados de atributos (e.g., padrão de
consumo, renda e faixa etária) e regras comportamentais que, ao interagirem entre si e com o
meio ambiente, originam padrões e estruturas verificáveis ao nível macroeconômico (Axtell et
153
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al., 2002; Epstein, 2006). O agente é uma unidade social indivisível: um indivíduo, um
domicílio, uma comunidade, uma firma. Os padrões emergentes são então comparados com
padrões empiricamente observáveis na sociedade. Em contraste com a macrosimulação, que
busca modelar diretamente o fenômeno emergente, a MBA é uma microsimulação, baseada
nas propriedades de microunidades, os agentes.
Iniciava-se então um novo campo para simulação socioeconômica, recebendo nomes como
simulação social, sociedades artificiais, modelagem baseada no indivíduo, economia
computacional baseada em agentes, etc. Nos anos noventa, esta abordagem computacional
desenvolveu-se principalmente em modelos que incorporavam o comportamento humano
(behavioural science), como os modelos evolucionários, o estudo da evolução social de
comportamentos adaptativos, do aprendizado, da inovação ou as possíveis interações sociais
conectadas com a teoria dos jogos (Billari et al., 2006).
45
O termo, normalmente traduzido no português como ponto de inflexão, refere-se ao momento em que uma
mudança gradual e lenta torna-se rápida e irreversível. Deriva-se da metáfora de um objeto sólido rígido que é
inclinado até um ponto quando ele começa a cair.
154
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Até o desenvolvimento da MBA nos anos noventa, as modelagens de fenômenos
socioeconômicos utilizavam, sobretudo, a modelagem baseada em equações (MBE) (Sawyer,
2005). Os modelos mostrados no Capítulo 6 se relacionam principalmente com este tipo de
modelagem. Na MBE, o modelo é formado por um grupo de equações (tipicamente equações
diferenciais) que são calculadas quando ele é executado. A Tabela 7.2 apresenta uma
comparação entre os dois tipos de modelagem (Parunak, Savit & Riolo, 1998; Sawyer, 2005).
Nela são mostradas tendências, pois algumas características podem existir em ambas as
abordagens que, ademais, podem ser aplicadas de forma combinada.
155
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Habilidade social: agentes interagem com outros agentes por meio de um tipo de
linguagem (linguagem computacional).
Reatividade: agentes são capazes de perceber o ambiente (mundo físico, mundo virtual de
redes eletrônicas, mundo simulado, incluindo outros agentes) e reagir a ele.
Gilbert & Troitzsch (2005), define que a “arquitetura” do agente é formada a partir de suas
propriedades e atributos. A heterogeneidade é garantida, pois eles se diferem segundo as
preferências, os aspectos culturais e sociais.
Os agentes são divididos essencialmente em dois tipos: agentes cognitivos e agentes reativos
(Sawyer, 2005: 148). Agentes cognitivos têm crenças sobre o estado do meio ambiente,
intencionalidade, planejamento e conhecimento sobre como suas ações podem afetar o
ambiente e os outros agentes. Os agentes cognitivos têm metas definidas e planejam como
alcançá-las, são também conhecidos como agentes intencionais ou deliberativos.
Os agentes reativos não contêm internamente uma representação do mundo: nem do ambiente
nem dos outros agentes. Eles não possuem objetivos explícitos e não racionalizam sobre alvos
e planos. Ao contrário, agentes reativos direcionam-se por regras de ação-reação
condicionadas por determinadas características que envolvem o seu ambiente local. Agentes
reativos são também chamados de agentes comportamentais, pois respondem diretamente a
um estimulo do ambiente, sem a mediação de estados internos.
Os modelos multi-agentes normalmente são construídos com algum tipo de sistema de regras.
As regras comportamentais podem ser simples ou complexas, determinísticas ou estocásticas,
fixas ou adaptativas. Em um sistema simples, cada rotina possui duas partes: uma condição,
que especifica quando a regra ocorre, e uma ação, que resulta da satisfação da condição. Esta
depende da memória de trabalho do agente, que acumula informações sobre as suas metas,
sobre o meio ambiente, sobre os outros agentes e sobre a localização de objetos. A idéia é que
uma dinâmica complexa possa emergir a partir de regras tão simples quanto possível. Agentes
reais buscam reduzir a complexidade de acordo com suas necessidades, ajustando-se ao
ambiente ou simplesmente seguindo o comportamento coletivo padrão.
156
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Observa-se que a base da MBA é a tecnologia da informação. É o uso da programação em
computadores para tratar problemas que possivelmente não seriam solucionados apenas com o
uso de teorias comportamentais associadas a observações empíricas tratadas por meio de
técnicas estatísticas.
Para Epstein (2006) a MBA traz uma abordagem distinta para as ciências sociais e, diferindo-
a de uma análise “dedutiva” ou “indutiva”, introduz o termo “generativo” (generative, no
inglês). Como citado em Axelrod (1997):
46
Originalmente em inglês.
157
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Segundo Bowles (2004), o paradigma walrasiano47 - terminologia preferida por ele ao termo
mais amplo “paradigma neoclássico” - representa o comportamento econômico como a
solução de um problema de otimização restringida de indivíduos inteiramente informados e
inseridos em um ambiente virtualmente livre de instituições. A passagem do tempo é
representada simplesmente por uma taxa de desconto, as pessoas não aprendem ou adquirem
novas preferências no decorrer do tempo e as instituições não estão envolvidas. As ações de
terceiros são explicadas por um determinado vetor de preços de mercado, enquanto a
proximidade é captada pelo custo de transporte. Direitos de propriedade e outras instituições
econômicas são representados pela restrição orçamentária. Para Bowles (2004: 8-9):
Um ponto central que difere a MBA das tradicionais teorias econômicas é o paradigma da
racionalidade do agente. A economia neoclássica considera que os atores conhecem suas
preferências, freqüentemente medidas por uma função utilidade, e tomam a melhor decisão
possível baseados em completa informação sobre o meio ambiente e no conhecimento das
supostas conseqüências das suas decisões. Esse seria o homem racional, ou homo economicus,
no sentido de possuir uma racionalidade perfeita, agir de forma autocentrada, independente e
clarividente para a busca do máximo bem-estar próprio.
47
Termo que faz referência à Léon Walras (1834-1910). Ele é considerado como um dos fundadores daquela que
ficou posteriormente conhecida como a Escola de Lausanne de Economia ou Escola Matemática. Seu mais
notável trabalho é Elements d'économie Politique Pure (Elementos da Economia Política Pura, em Português),
de 1874.
48
Originalmente em inglês.
158
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Mas, segundo Billari et al. (2006), enquanto o uso do ator racional neoclássico pode ser
adequado para ambientes com um pequeno número de variáveis de controle e estado, ele tem
limites em ambientes complexos e incertos com pessoas “reais” que possuem racionalidade e
capacidade computacional limitada. Um aspecto que atua sobre esta suposta racionalidade é o
ambiente social e, em particular, o comportamento imprevisível dos outros agentes. A teoria
dos jogos, por exemplo, em modelos dinâmicos com um grande número de jogadores
interagindo entre si, mostra-os, em sua capacidade de aprendizado e de adaptação segundo os
lances de outros jogadores, indo, possivelmente, depois de múltiplas rodadas, para uma
estratégia de cooperação.
Alguns agentes podem ser mais egoístas, outros possuírem maior comprometimento social. A
percepção de experiências de terceiros também pode interferir nas ações comportamentais,
especialmente se esse terceiro é alguém que exerce liderança ou admiração. Existem aspectos
de conformismo, sujeição às regras sociais e também aspectos morais que agem sobre o
comportamento. A versatilidade garante que os agentes se comportem segundo a situação
presente e não apenas por uma predisposição comportamental. Os comportamentos podem ser
idiossincráticos e instáveis.
159
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Em anos recentes, cada vez se observa mais esta transição entre modelos compostos por
atores racionais para a modelagem baseada em agentes. Na MBA, os agentes agem segundo
regras, nas quais a otimização da utilidade é apenas uma das várias possíveis. Embora o
agente possa ser tão complexo quanto se queira, incorporando elementos da economia,
sociologia e psicologia cognitiva, ele também pode ser tão simples quanto possível. Axelrod
(1997) é um dos proponentes da simplicidade. As regras comportamentais não são
necessariamente complexas, ao contrário, o processo de tomada de decisão do agente tende a
ser simples, de acordo com suas necessidades, subsidiado por informações locais, de
vizinhança, e no qual o habito e a cultura tem um papel fundamental.
A simulação de tráfego normalmente requer informações como fluxos de tráfego, curva fluxo-
velocidade, fluxos de saturação (capacidade), densidade de congestionamento, número de
faixas de tráfego, geometria da rede, matriz origem e destino, etc.
160
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duas rotas diferentes entre um par de origem/destino. O objetivo seria disponibilizar estas
informações aos usuários em tempo real por meio, por exemplo, de um painel de mensagens
variáveis para melhor distribuir o tráfego e evitar congestionamentos. Segue-se o princípio de
que o motorista busca minimizar seu tempo de viagem, e, assim, o trafego se distribuiria
buscando alcançar este objetivo, ou seja, rotas de menor tempo.
f
t( f ) t f 1 7.1
max
f
Onde:
t (f) = tempo de viagem (em função do volume de trafego);
tf = tempo de viagem para fluxo livre;
f = fluxo atual no link;
fmax = fluxo máximo do link;
α e β = parâmetros de calibração (na Figura 7.4, α = 0,15 e β = 4) .
O tempo de viagem em fluxo livre (tf), quando não conhecido, é calculado segundo a Equação
7.2:
161
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tf = l / vf 7.2
Na qual:
l = extensão do link (em m);
vf = velocidade de fluxo livre ou de projeto (em km/h).
A velocidade de fluxo livre pode ser considerada a velocidade máxima permitida no trecho
(velocidade de projeto).
Dourado (2007) sugere o uso dos coeficientes definidos pelo National Cooperative Highway
Research Program – NCHRP (Tabela 7.3):
Observa-se que as velocidades mostradas na Tabela 7.3 são relativamente altas em relação às
praticadas no município de Belo Horizonte, onde, normalmente, a velocidade máxima
permitida é de 60km/h. Além disso, ela não contempla outros tipos de vias, como vias
secundárias e locais.49 Em conseqüência, torna-se necessária pesquisa bibliográfica para
escolha dos coeficientes “α” e “β” em função da velocidade de projeto definida para as vias
atingidas pela inundação ou, ante a inexistência de uma fonte segura, uma adaptação dos
mesmos.
49
Vias secundárias interceptam, coletam e distribuem o trânsito para as vias de trânsito rápido ou preferencial.
Vias locais são destinadas ao acesso às áreas restritas. Como regra, elas permitem velocidades inferiores às vias
de trânsito rápido e preferenciais.
162
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7.3 Análise de rede
Já foi dito anteriormente que o espaço urbano pode ser representado por uma rede formada de
nós e linhas (ou links, do inglês). Os nós seriam os domicílios, os centros de produção,
distribuição e consumo. Em um sistema de trocas, os links conectam estes nós e por
intermédio deles circulam bens e pessoas. Como estrutura física de suporte aos links tem-se a
infra-estrutura urbana, como as vias, as redes de abastecimento de água, energia elétrica e de
telefonia.
Como um dos objetivos deste trabalho é a mensuração dos impactos indiretos da inundação
sobre os domicílios e sobre o espaço urbano, a análise de rede, ao tratar informações
relacionais, parece adequada para verificar a magnitude do impacto sobre a rede, com
possíveis alterações na sua organização e afetando as conexões estabelecidas em uma situação
de normalidade, sem inundação. Quanto mais densa a rede, maior a possibilidade de difusão
dos impactos. Ao atingir, direta ou indiretamente, nós centrais, a inundação pode levar ao
desequilíbrio parte relevante do sistema. Se nós ou links conectores entre regiões ou agentes
são afetados, há possibilidade de isolamento de partes da rede, dificultando as condições de
acesso e bem-estar para as famílias afetadas.
Enfim, a análise de rede, ao discutir, entre outros aspectos, a estrutura da rede, as conexões
entre agentes e como estes se inserem em um sistema de trocas diárias e as centralidades,
pode fornecer indícios relevantes sobre a vulnerabilidade da rede urbana e a capacidade de
propagação do impacto na mesma.
Apenas recentemente a análise de rede tem recebido maior enfoque, de maneira que alguns
conceitos associados ao seu entendimento ainda não estão generalizados ou suficientemente
incorporados de maneira clara e objetiva na literatura científica. Sendo assim, neste item são
apresentados os principais conceitos relacionados à sua compreensão e aplicação.
Nas ciências sociais aplicadas, os dados podem ser classificados, segundo sua forma de
interpretação, em três tipos (Scott, 2000): dados de atributo, dados relacionais e dados
ideacionais.
163
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Os dados de atributo relacionam-se às atitudes, opiniões e comportamento dos agentes. São
informações que mostram as suas propriedades, qualidades ou características. Por meio de
uma análise de variáveis, os atributos são mensurados como valores de variáveis específicas
(e.g. renda, ocupação, educação).
Os dados relacionais se referem aos contatos, laços e conexões que relacionam um agente a
outro e, portanto, não podem ser reduzidos às propriedades de um agente em si mesmo.
Aludem não às qualidades de um agente, mas às de um sistema de agentes. As relações
conectam pares de agentes em sistemas relacionais cada vez mais amplos. Os métodos
apropriados para a sua análise são aqueles de rede, nos quais as relações são expressas por
links. Embora possam ser feitas análises quantitativas e estatísticas das relações, a análise de
rede sempre incorpora um conjunto de medidas qualitativas sobre a estrutura da rede.
Um terceiro tipo de dados são os dados ideacionais, menos discutidos na literatura. Eles são
os dados que descrevem os significados, motivos, definições e tipificações. As análises
tipológicas ou análises de cluster, desenvolvidas com o propósito de agregação de objetos,
são exemplos de técnicas com a utilização de dados ideacionais. A Figura 7.5 mostra os
diferentes tipos de dados e análise.
Observe na Figura 7.5 que os diferentes tipos de dados, embora impliquem em distintos meios
de análise, possuem as mesmas fontes de informação, como questionários, entrevistas,
observação e documentos.
164
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7.3.2 Nós e linhas
Uma rede é formada por dois elementos: os pontos e as linhas. Os pontos também podem ser
denominados vértice ou nós e as linhas, arcos, conexões ou links.
Os nós representam os agentes do sistema: eles podem ser um domicílio, uma firma, uma
esquina, uma praça, etc. A definição dos nós depende das características da rede que se
estuda, das informações disponíveis e dos objetivos da análise. Em uma rede viária, por
exemplo, os nós podem ser os cruzamentos das vias. Em uma rede elétrica, são as unidades de
produção, distribuição e consumo de energia. Em um estudo hidrológico-hidráulico do rio, as
seções transversais com entrada de informações, as pontes, os afluentes, etc. Em uma família,
os seus membros; em uma rede de amigos, os indivíduos ligados pelas relações de amizade,
etc. Portanto, nós ligam-se a outros nós, seja por fluxos (e.g.: de informação, bens, pessoas,
energia, fluidos), ou por outras relações, como laços de afeto, parentesco ou relações de
poder. A ligação entre nós é representada pelas linhas.
Sempre que os dados se relacionem com outros dados, ou seja, os dados são relacionais, a
análise de rede pode ser utilizada.
Mesmo dentro da análise em rede, existem inúmeras representações de como ocorre a ligação
entre um par de nós. Pode-se ter uma rede mais ou menos detalhada, uma análise baseada em
fluxos sem incorporação explicita da dimensão geográfico-espacial ou com o
georreferenciamento das informações e a identificação dos caminhos físicos percorridos.
Estas definições dependem dos objetivos do estudo, das informações e tecnologia existentes e
da metodologia escolhida.
A Figura 7.6 mostra duas maneiras de se representar graficamente a ligação entre o agente A e
o agente B.
A B
B (a)
A
B
1 2
B
(b)
165
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Na Figura 7.6, o gráfico (a) mostra uma hipotética relação de consumo entre o agente A,
comprador, e o agente B, vendedor. Além da relação em si, a única informação adicional é o
seu sentido. Ela pode representar a transferência de dinheiro ou o deslocamento para
aquisição do bem. Como será mostrado no item 7.3.3, ainda poderia ser informada a
intensidade desta relação, mensurada, por exemplo, em termos do valor da compra ou da
distância percorrida por A para alcançar B. Em (b) tem-se a mesma relação entre os agentes,
mas incorporando explicitamente algum componente ligado ao caminho geográfico
percorrido. Ou seja, o fluxo é mostrado sobre uma representação de base física ou espacial.
As conexões que passam por “1”e “2” representam links de vias utilizadas no deslocamento.
Agentes
1 2 3 4
1 - 3 3 1
2 3 - 2 2
Agentes 3 3 2 - 1
4 1 2 1 -
Figura 7.7 – Matriz agentes x agentes (matriz 4 x 4)
Cada informação da matriz representa o número de links entre os agentes. Observa-se que as
relações mais fortes existem entre os agentes 1 e 2 e entre os agentes 1 e 3, cada uma destas
envolvendo três links. As ligações mais fracas são aquelas que envolvem apenas um link. A
matriz pode ser representada por meio de um sociograma (Figura 7.8)
1 3 2
1 2
2 3
4 1 3
No sociograma da Figura 7.8 a força da ligação é ilustrada por meio de valores dispostos ao
lado das linhas. Esta força poderia ser visualizada de outra forma, como, por exemplo, por
linhas de diferentes larguras nas quais a sua espessura indicaria o número de interconexões.
166
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Outra característica que envolve a relação é a sua direção. Se a relação do agente “1” com o
agente “2” é idêntica àquela do agente “2” em relação ao “1”, tem-se uma relação simétrica
ou não direcional (do inglês undirect relational data). Este é o caso quando há reciprocidade
perfeita de atitudes entre os agentes ou não há exercício de poder ou influência de um sobre o
outro. Nas relações simétricas, a matriz de agentes é como aquela mostrada na Figura 7.7: os
lados divididos pela diagonal são simétricos, ou seja, o lado superior direito é idêntico ao lado
inferior esquerdo.
Os dados assimétricos ou direcionais, por sua vez, não possuem reciprocidade de relação (e.g:
o agente 1 ama o agente 2, mas o agente 2 é indiferente ao agente 1). A direção da relação é
mostrada em um sociograma por uma cabeça de seta nos links que conectam os nós.
Os dados relacionais podem, portanto, serem classificados segundo duas dimensões: direção e
numeração (Figura 7.9)
Direção
Simétrico Assimétrico
Binário 1 3
Numeração
Valorado 2 4
Figura 7.9 – Níveis de medida em dados relacionais
O tipo de dado relacional mais simples é o tipo 1: ele é binário e não direcional. Os dados
binários mostram apenas a existência de relação, mas não sua força.
Em relação à numeração, há ainda um terceiro tipo de dado, os dados de sinal. Eles mostram
se a relação é positiva (+) ou negativa (-). Embora acrescentem informação em relação aos
dados binários, eles indicam apenas a polaridade e não o valor da relação. Há situações em
que os dados de sinal são acrescentados aos dados de valor, caracterizando uma relação em
termos de força e de sinal. Obviamente, argumentação teórica ou razões empíricas acompanha
a utilização e escolha de cada uma destas medidas.
A Figura 7.10 mostra um processo de escolha amostral em redes. Uma população particular
de agentes está envolvida em um sistema complexo de relações de todos os tipos que formam
a rede total. Inseridas nesta rede total, podem ser identificadas as redes parciais, que
compreendem, por exemplo, relações econômicas, políticas, religiosas, etc. O pesquisador
167
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
deve, então, criar sua amostra de forma a obter todas as relações relevantes para as suas redes
parciais. A escolha da amostra segue os princípios de amostragem em levantamentos
estatísticos.
População Amostra
Rede total
etc. etc.
Hanneman & Riddle (2005), consideram três características que definem a centralidade de um
agente: grau, proximidade e intermediação:
Grau (degree): quanto maior o número de conexões do agente com sua vizinhança, mas
central ele é. Na análise, define-se o tamanho N da vizinhança que se deseja investigar. Os
agentes com mais conexões tendem a possuir maior poder para influenciar o
comportamento dos outros agentes e menor dependência. Eles usufruem mais alternativas
para satisfação das necessidades, o que lhes garante uma posição relevante na rede. Se, por
exemplo, uma atividade econômica que possui um grande número de consumidores na
região (maior número de conexões) for atingida por um evento, este causará maior
interferência nas rotinas de gastos das famílias do que uma atividade com poucas
conexões. No sentido inverso, a alteração no comportamento de um grande consumidor
causa maior impacto nas unidades de comércio do que a de um pequeno consumidor e,
entre as unidades de comércio atingidas, o impacto será maior naquelas com menor
número de consumidores.50
Proximidade (closeness). Se a centralidade é apenas baseada nos graus dos agentes, pode-
se ter um agente central, mas apenas na sua vizinhança. Esta, por exemplo, pode estar
ligada a agentes que são desconectados a outros, o que restringe o alcance da influência do
agente na rede. Outra maneira de se medir a centralidade é considerar a distância entre os
pontos. Considera-se que os agentes que possuem caminhos mais curtos para se chegarem
a outros agentes ou por serem alcançados por eles, têm uma vantagem relacional estrutural
na rede. A distância geodésica mostra o menor caminho (menor número de links) entre
dois nós na rede. Portanto, a média da distância geodésica entre os nós, é uma medida de
proximidade. A idéia de proximidade como medida de centralidade foi proposta por
Freeman (1979). Ele a definiu como uma medida de centralidade global, pois considera
não a proporção de pontos conectados, mas a distância entre eles.
50
Observe que além do número de conexões o valor das conexões também é importante.
169
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Na Figura 7.11 é apresentada uma pequena rede onde é possível identificar as três
características de centralidade no nó ou agente A.
Observe que o agente A possui 6 graus (seis links conectados), enquanto os outros agentes, 1
grau. Ele está mais próximo dos outros agentes do que qualquer outro agente na rede.
Enquanto dista apenas um link dos outros nós, estes possuem, cada um, 1 link de distância em
relação à A, mas 2 links de distância em relação ao restante dos pontos. Além disso, o ponto A
funciona como intermediário para a ligação dos outros pontos na rede. C ou G, por exemplo,
só podem chegar até B passando por A. Por outro lado A está diretamente conectado aos
outros nós.
Existem vários outros indicadores da rede que, apesar de não terem sido explicitamente
discutidos neste estudo, fornecem subsídios para uma compreensão da vulnerabilidade da rede
e a possibilidade de propagação de um impacto sobre ela. Os principais são apresentados na
Tabela 7.4. Na primeira coluna, tem-se o indicador. Na segunda, seu significado, e na terceira,
o que uma mudança deste indicador, ante a ocorrência da inundação, possivelmente implicaria
em termos de impacto e aumento de vulnerabilidade.
170
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Tabela 7.4 – Indicadores associados à análise da vulnerabilidade da rede ao impacto da
inundação
Indicador Análise em situação de normalidade Análise pós-impacto
Diminuição no número de conexões indica
Densidade Indica o volume de conexões. maior dificuldade de circulação dos
fluxos.
Aumento dos agentes “inacessíveis”
indica maior possibilidade de divisão na
Análise do número de pontos
Acessibilidade rede. Análise da natureza do agente
acessíveis e inacessíveis.
inacessível, pois ele pode ter relevância no
bem-estar da população.
Aumento da distância geodésica indica
Distância geodésica Indicador da distância média entre
maiores custos de deslocamento ou perda
média pontos.
de bem-estar.
São indicadores da redundância da rede
Redundância dos
e da vizinhança. Indicam maiores Diminuição na redundância dos nós indica
caminhos geodésicos,
alternativas ante um impacto. Quando possibilidade de congestionamento ou
redundância diádica e
maior a redundância, menos vulnerável paralisações na rede
fluxo máximo
a rede.
Nós ou conexões atingidas com alto índice
Indicador do número de agentes- de intermediação indicam a possibilidade
Índice de intermediação pontes, subordinados e de conexões rompimento de fluxos ou a necessidade de
intermediárias existentes na rede. escolha de uma alternativa menos
preferível.
Aumento do potencial brokerage de um
Indica e existência de buracos
agente sugere aumento de buracos
estruturais na rede e dependência de
Brokerage estruturais. Por outro lado, se um agente
nós como intermediários para alcançar
com potencial brokerage é atingido pelo
a vizinhança.
evento pode ocorrer isolamento de nós.
Exprime a dependência dos agentes em Aumento da dependência diádica ou da
Dependência diádica e
relação à sua vizinhança. Quanto restrição do ego indica agentes com
constrangimento pela
maiores estes índices, mais vulneráveis menores opções de escolha, logo, aumento
vizinhança
são os agentes. da vulnerabilidade.
Indicador de redundância na
vizinhança. Quanto maior o seu valor, Um aumento em seu valor indica
Eficiência da rede
menor a redundância na vizinhança, diminuição na redundância.
logo maior a vulnerabilidade
Mostra as centralidades existentes na Se nós centrais são impactados, há maior
Centralidade rede e distingue os centros receptores e probabilidade de propagação do impacto
emissores de conexões. na rede.
Se nós centrais e com poder na rede são
Poder (abordagem Indica os nós que possuem centralidade
impactados, há maior probabilidade de
Bonacich) e poder na rede
propagação do impacto na rede.
51
A dendroclimatologia é uma ciência que busca informações sobre o clima por meio da análise dos anéis das
árvores. Os anéis de crescimento de árvores ainda vivas podem dar informação climática de milênios atrás. A
palinologia é a parte da micropaleontologia que estuda os microfósseis orgânicos.
52
Sítio do TRANSIMS na Internet: http://transims.tsasa.lanl.gov/.
172
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Outros modelos de deslocamento de pedestre e veículos estão disponíveis nas bibliotecas
virtuais de plataformas para a modelagem baseada em agentes, como o Netlogo e o Repast.
Nesta linha de estudos, recentemente têm surgido pesquisas que utilizam a MBA para simular
o comportamento das pessoas especificamente na área de desastres naturais, como os
trabalhos de Zarboutis & Marmaras (2005) e Takahashi (2006). O primeiro analisa a conduta
da população em uma situação de evacuação emergencial, e o segundo mostra a execução de
um plano de ações durante o desastre com estratégias de salvamento.
Em relação a estudos sobre o espaço urbano com o uso da simulação, cita-se a pesquisa de
Luca (2007) que apresenta uma ampla plataforma de modelagem dinâmica, interativa e
generativa para simular a organização do espaço urbano e regional. Em macroescala, o
modelo utiliza autômatos celulares e, em microescala, a modelagem baseada em agentes. O
modelo simula as possíveis evoluções, durante os próximos vinte anos, de um vale alpino que
necessita reprogramar seu futuro a fim de alcançar um crescimento sustentável e competitivo
mantendo uma paisagem harmoniosa e integrada. Os agentes do modelo são aqueles que
atuam sobre o espaço urbano, como os planejadores e agentes imobiliários. O enfoque do
modelo é essencialmente as modificações no uso e ocupação do espaço.
Uma questão central do modelo que o difere de outros que discutem mudanças no uso do solo
e padrão de crescimento é a incorporação de variáveis hidrológicas. É feito o uso combinado
de celulares autômatos e agentes para a articulação entre processos hidrológicos (ciclo
hidrológico e poluição), mudanças no uso do solo e urbanização. No protótipo o reservatório
contém informações de nível d‟água e taxa de poluição que influenciam o processo de decisão
dos agentes (fazendeiros e especuladores urbanos).
No caso específico de inundações, Brouwers & Verhagen (s.d) fizeram simulações que
procuram avaliar a possibilidade de implantação de um seguro nacional contra inundação.
Com o uso do software Matlab, desenvolvem diversas análises para definir o nível ótimo de
cobertura para danos de inundação e investigar quando a insolvência ocorreria para a
seguradora ou para o segurado, este o agente foco do modelo.
Estudo de Chang & Chamberlin (2004) investiga os impactos econômicos dos terremotos com
o uso da MBA e discute como medidas de mitigação dos danos na rede elétrica e de
abastecimento de água podem levar a um aumento da capacidade de resiliência da população
atingida. A pesquisa mostra a probabilidade de uma unidade econômica fechar em
decorrência de deficiências no acesso à energia e água causadas pelo evento extremo. O
impacto da interrupção das atividades é avaliado em múltiplos intervalos de tempo até que a
unidade reabra. O custo é estimado segundo a produção total perdida no período de
53
Ver http://users.ecs.soton.ac.uk/sdr/atdm/.
174
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
fechamento, o que contraria a metodologia proposta em Parker, Green & Thompson (1987),
segundo a qual o dano seria apenas a perda de valor adicionado.
A pesquisa de Chang & Chamberlin (2004) apresenta semelhanças com a proposta deste
trabalho. Ela define como protótipo uma pequena amostra das unidades produtivas da cidade
de Los Angeles, nos Estados Unidos, as quais são distribuídas no espaço e caracterizadas
segundo o tipo de atividade econômica, o número de empregados e o valor da produção. Ela
difere do foco desta pesquisa por tem como agente central as unidades econômicas, e não nas
famílias, e por discutir especificamente o impacto do desastre natural no acesso às redes de
abastecimento e eletricidade.
Tang & Wen (2009) mostram um sistema inteligente de simulação para avaliação dos
desastres causados por terremotos desenvolvido a partir de uma plataforma de sistema de
informações geográficas (SIG) e inteligência artificial (IA). O modelo é formado por três
dimensões básicas: a simulação da ameaça sísmica, a análise de risco e a simulação dos
serviços de emergência. Na análise do risco considera-se a estimativa dos danos diretos
causados nas edificações, na infraestrutura e em estruturas hidráulicas, como diques e
reservatórios, e a avaliação da perda de ativos e do número de feridos e mortos. O sistema
utiliza SIG, programação computacional, método de análise de redes e teoria da
confiabilidade para criar um sistema que permite exibir seus resultados na forma de mapas
digitais, mensagens, documentos, gráficos e vídeos. Os danos causados pelo terremoto podem
mesmo ser exibidos na internet no momento em que o evento está ocorrendo.
Um aspecto interessante no modelo desenvolvido por Tang & Wen (2009) refere-se ao
subsistema de decisão associado à simulação dos serviços de emergência. A partir das
informações de risco e ameaça, o subsistema disponibiliza a rota de fuga ou a rota eficiente
para alcance de serviços alvo e a alocação de recursos e pessoal segundo as necessidades
observadas durante a simulação do modelo. Por exemplo, pela estimativa de feridos calculada
no modelo, informa-se o número de médicos que deve ser disponibilizado; pelo cálculo da
variação na oferta de alimentos e água, determina-se a quantidade de água potável e alimentos
que são necessários para suprir determinada região afetada. O programa de transportes avalia
a distribuição de danos nas vias e indica a rota ótima para um acesso rápido e fácil a um alvo.
Portanto, o modelo torna-se uma ferramenta eficiente na tomada de decisão em tempo real.
No momento, o modelo é usado na cidade de Daqing, na China.
175
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Em relação aos estudos que utilizam a análise de rede, observa-se que eles a incorporam,
sobretudo, em uma dimensão física.
Sultana & Chen (2009) desenvolveram uma abordagem integrada de modelagem para o
estudo da vulnerabilidade de uma infra-estrutura crítica e da possível propagação dos efeitos
de um dano em um de seus componentes na rede. A metodologia foi aplicada para análise do
risco de inundação de uma rede geradora de hidroeletricidade (composta pela barragem de
armazenamento de água, tubulação, planta de alimentação e pela subestação de
transformação). As interdependências entre as infra-estruturas e a verificação de como elas
respondem ante o rompimento da barragem foram simuladas através de uma rede baseada no
modelo SPN.54 O estudo, além de mostrar uma análise integrada da vulnerabilidade de uma
estrutura hidráulica, com o uso de curvas de fragilidade, probabilidade de inundação e análise
de rede, apresenta pesquisas atuais com o uso da análise quantitativa das interdependências
em uma infra-estrutura.
Helbing et al.(2006) apresentam estudo no qual utilizam a análise de redes para verificar a
possível perda ou atraso no recebimento de informações relevantes em organizações
estritamente hierárquicas. Os pesquisadores defendem a importância da redundância de links
para que as organizações respondam adequadamente a crises e desastres. No estudo são
mostradas as falhas de comunicação que podem ocorrer em organizações ligadas à gestão de
desastres com estrutura estritamente hierárquica: perda de informação relevante devido à
compressão de informação; a informação tende a levar muito tempo do emissor ao
destinatário devido aos vários níveis hierárquicos que precisa atravessar e há, ainda, a
possibilidade de que a informação nunca chegue ao destinatário, caso algum nó ou link não
funcione.
Este último problema pode ocorrer devido a fatores corriqueiros, como um telefone ou
número de fax desatualizado ou a ausência da pessoa responsável por doença, férias ou
alguma outra ocupação que a deixe temporariamente inacessível. Podem também existir
problemas na infra-estrutura de comunicação, como blecaute de energia elétrica ou
sobrecarga de comunicação, situações freqüentes quando há um desastre. Os pesquisadores
citam as experiências ocorridas na grande inundação em Saxony (Alemanha) em 2002 para
54
A análise baseada em redes tornou-se popular no estudo do comportamento de estruturas interligadas de
engenharia. Nesta linha, há o Petri net, método de análise de sistemas introduzido por Carl Adam Petri, no início
de 1962 (Petri, 1962, apud Sultana & Chen, 2009). Em adição ao modelo básico de rede de Petri, introduz-se o
stochastic Petri net (SPN) model, onde foram incorporadas extensões que procuram captar o tempo de duração
estocástica associada a um evento (Ramchandani, 1974, apud Sultana & Chen (2009).
176
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
mostrarem a importância de uma organização em rede resistente a falhas, a necessidade de
canais de informação redundantes, sidelinks institucionalizados e a aceleração dos fluxos de
informação, mesmo que temporário, por meio de atalhos entre o nível superior e o nível mais
baixo.
O trabalho de Helbing et al.(2006) traz indícios para uma melhor compreensão das estruturas
organizacionais e discute um componente relevante da vulnerabilidade de uma rede, a
excessiva hierarquização. A pesquisa de Helbing et al. (2006) pode ter interesse sobretudo na
organização dos planos emergenciais de controle dos efeitos da inundação.
Em relação análise de rede associada ao estudo do sistema de transportes, Chang & Nojima
(2001) propõem indicadores de desempenho do sistema de transporte ante a ocorrência de um
desastre natural, no caso, a ocorrência de terremotos. São modeladas a rede viária,
especificamente as auto-estradas, e a via férrea. A rede de transportes é definida como uma
série de nós e links que os conectam. Os nós das auto-estradas são as saídas e entradas para a
via e das vias férreas, as estações. Neste sentido, três índices são propostos: comprimento total
da rede aberta ao tráfego; acessibilidade baseada no comprimento e acessibilidade baseada na
área. O modelo dos pesquisadores foi especialmente útil para mostrar os efeitos distributivos e
de equidade social que uma melhor organização das políticas e dos planos para o transporte
público e uso do solo entre as partes interessadas na fase de recuperação pós-desastre podem
acarretar (Sohn, 2006).
Em linha semelhante, Sohn (2006), com o objetivo de definir quais os links viários prioritários
de reparação em caso de inundação, apresentou um índice de acessibilidade para cada
condado do estado de Maryland, nos Estados Unidos. O pesquisador apresentou a
metodologia de maneira clara e bem fundamentada, e seu estudo trouxe subsídios para a
análise desenvolvida nesta pesquisa. A acessibilidade aos condados foi inferida considerando
a rede de auto-estradas que os conectam. Foram definidas duas dimensões na composição do
indicador, a distância entre os nós (os condados) e o volume de trafego. A deterioração da
acessibilidade ao nó era medida considerando a diferença do índice de acessibilidade antes e
após a ruptura de links pela inundação. Uma questão não incorporada pelo autor foi o tempo
gasto na recuperação do link, pois uma pequena interrupção em um trecho, quando apenas a
sua limpeza é suficiente, é diferente de uma descontinuidade de maior duração decorrente de
danos estruturais na via.
177
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Embora os trabalhos em MBA e análise de rede ofereçam subsídios para a modelagem
proposta neste trabalho, especialmente dos fluxos populacionais e da dinâmica econômica em
uma cidade, ainda não foram encontrados trabalhos dirigidos especificamente a análises da
resposta de uma cidade ante uma inundação.
178
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
8 MATERIAL E MÉTODOS: ANÁLISE DO IMPACTO DA
INUNDAÇÃO SOBRE OS DOMICÍLIOS E SUA PROPAGAÇÃO NA
CIDADE
1. Análise dos fatores de ameaça, vulnerabilidade e risco dos domicílios com a criação de
indicadores que os reflitam.
2. Estimar qual o efeito do evento nas rotinas dos moradores: estudo da re-alocação dos
gastos, impacto nos salários, renda e no bem-estar.
179
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Domicílios
Inundação
Atividades
Transporte
econômicas
8.1.1.1 O Domicílio
Como Green (2004), considera-se o domicílio como unidade principal de análise. Mais
especificamente, o domicílio e seus moradores. Segundo o autor, o domicílio constitui-se a
esfera geográfica básica na vida de um indivíduo. Funciona como um micro-sistema, onde se
compartilham atividades na busca do máximo bem-estar. Há também uma justificativa
técnica, pois os micro-dados censitários são organizados segundo o domicílio e seus membros
constituintes, e metodológica, que se apóia na escolha da microsimulação para analisar o
impacto da inundação, escolha devida, em grande parte, à possibilidade de incorporar a
diversidade de agentes e seus atributos.
Observe que aqui, sempre que houver referência a domicílio trabalha-se não apenas com a
idéia de um local físico, mas como uma unidade socioeconômica de análise, composta por um
ou mais membros, que compartilham o mesmo espaço de moradia e que têm sempre como
objetivo a melhoria de seu bem-estar. Embora domicílio e família sejam conceitos que muitas
180
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
vezes se confundem, a família, segundo Golgher (2004), seria um subconjunto do domicílio.
Normalmente os indivíduos de um domicílio são todos de uma mesma família, mas não são
raros domicílios formados por duas ou mais famílias.
Para modelar o impacto econômico sobre os domicílios e sobre a área urbana, o sistema
urbano-econômico é representado por meio de uma rede. Assume-se que, como a organização
do espaço urbano é formada por um sistema de interconexões e interdependências, os agentes
tem uma natureza fortemente relacional, logo, o impacto sobre cada um deles tem um grande
potencial de propagação para os outros agentes. A fim de que seja possível mensurar os
impactos diretos e indiretos da inundação, definiram-se como os agentes fundamentais da
rede:
Um ponto fundamental é definir quais os tipos de relação entre os agentes devem ser
discutidas ante os objetivos do estudo. Se vários de seus atributos precisam ser investigados,
pode ser necessária uma análise de diversos tipos de relações (econômica, religiosa, etc.).
Outras vezes, um único tipo de relação possibilita captar, em essência, o comportamento
desejado.
181
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
A escolha da relação normalmente baseia-se em um estudo teórico ou empírico que define as
hipóteses de pesquisa adotada, as quais são determinadas a partir dos objetivos do sistema em
estudo. Nesta pesquisa, parte-se de uma abordagem econômica e considera-se que a relação
fundamental a organizar a vida de um agente, no caso o domicílio, é a relação de consumo,
seja o consumo de bens, serviços, conhecimento, lazer ou de trabalho. Esta é uma abordagem
empregada tradicionalmente na microeconomia, que utiliza a teoria do consumidor no
entendimento do comportamento das famílias. Ao se analisar as relações de consumo feita
pelos domicílios segue-se um enfoque de vulnerabilidade em termos de acesso, como
preconizado por Wisner et al. (2004).
Pressupõe-se que a economia urbana é aberta e há transações externas, por isso os preços de
vários bens e os níveis de demanda externa são dados e constantes. Modela-se um espaço
urbano definido e sobre o qual um impacto não afetará as regiões fora dos seus limites.
Representaria, então, uma região dotada de relativa independência em relação às demais. No
caso de pequenas cidades, essas hipóteses não são defensáveis, mas para os grandes espaços
urbanos é possível usar essa estratégia de avaliação de impactos.
A hipótese de fundo é que a maior parcela dos impactos econômicos de uma inundação
realiza-se localmente, ao nível da área urbana afetada. Nesse trabalho, embora não se
desconheçam os impactos que possam ocorrer em esferas extra-urbanas, tais como as
regionais, estaduais ou mesmo nacionais, eles não são incorporados ao modelo, tanto em
razão de tratabilidade como da hipótese de sua menor relevância em relação aos impactos
locais.
Por outro lado, o sistema urbano é fechado - não serão acrescentadas população ou novas
estruturas na cidade -, pois a intenção é comparar diferentes cenários de impacto da inundação
em um mesmo sistema.
55
A utilidade é um meio de descrever as preferências. Uma função utilidade é uma forma de representar ou
resumir ordenadamente as preferências: são atribuídos maiores valores para as cestas de consumo preferidas em
relação às menos preferidas (Variam, 1997).
182
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
A utilidade é função da quantidade de bens, que dependem da renda e dos preços. Como se
consideram os preços de mercado constantes, a renda domiciliar disponível para o consumo e
o estoque de ativos acumulado na residência são as medidas de bem-estar utilizadas neste
trabalho.
A diferença entre nível de consumo e de ativos antes e depois do evento enchente são,
portanto, medidas de variação de bem-estar. O domicílio recupera seu nível de bem-estar
quando ele recupera o nível de consumo e estoque de ativos prévio ao evento enchente, ou
qualquer outro evento.
Optou-se por criar um sistema simplificado que representasse a estrutura de relações de uma
cidade. Ela é representada em dois níveis: na região impactada e de entorno, tem-se uma
individualização dos agentes (firmas, domicílios e moradores), pois se considerou central
diferenciá-los em termos de ameaça, exposição e vulnerabilidade.
183
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Tabela 8.1 - Informações básicas do sistema urbano
Características Rotinas Ruptura
- Probabilidade; Determinação das
- Área atingida; características
1. Sistema -
- Profundidade; hidrológicas e
rio
- Velocidade; hidráulicas do
- Duração. evento.
- Pontos de ruptura;
- Características socioeconômicas - Re-alocação dos
dos moradores; - Consumo (inclusive
gastos;
de educação e
2. Sistema - Características do domicílio - Variação no nível de
trabalho);
domicílio (edificação e conteúdo); renda e no estoque de
- Escolha de locais
- Localização; riqueza;
de consumo.
- Cesta de consumo do domicílio. - Diminuição do nível de
bem-estar.
- Pontos de rompimento;
- Fluxo de veículos (veículos/hora); - Rotas de desvio e re-
- Tipo de veículos; - Deslocamento dos alocação do tráfego;
3. Sistema
- Rede viária e conexões; agentes: consumo, - Custo de transporte
transportes
- Custos materiais e de tempo de trabalho e educação. adicional e custos de
deslocamento. oportunidade causados
pelo tempo de atraso.
- Tipos e categorias das atividades;
- Localização (comércio, indústria e - Pontos de ruptura;
4. Sistema serviços); - Oferta de trabalho
e renda; - Perda de valor
produtivo-
- Demanda: renda e emprego; adicionado;
distributivo - Oferta de bens.
- Oferta: PIB municipal; - Perda de ativos.
- Valor adicionado.
- Como a inundação afeta os moradores;
- Como o comportamento dos moradores afeta a economia da cidade;
Interdepen-
- Como a inundação afeta o sistema viário;
dências
- Como o sistema viário afeta a cidade;
- Como a inundação afeta a cidade.
Para este estudo, a modelagem foi feita em regime não permanente e unidimensional, com
utilização dos softwares HEC-HMS, versão 3.1 (HEC-HMS, 2002) e HEC-RAS, versão 4.0
(HEC-RAS, 2003). Criou-se o mapa de inundação com a utilização do software de SIG
ArcGis 9.2. Os resultados obtidos são transportados para a plataforma de simulação do
impacto econômico do modelo.
184
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
8.1.3.2 Sistema domicílio
Este sistema é representado pelos domicílios distribuídos na superfície. Ele possui um grande
volume de informações georeferenciadas tanto do próprio domicílio (e.g.: número de quartos,
presença de rede elétrica e de saneamento e existência de bens duráveis), quanto dos seus
moradores (e.g.: escolaridade, renda individual, condições de saúde, idade, se freqüenta escola
ou não e se trabalha ou não), o que permite, não apenas uma caracterização socioeconômica
individualizada da comunidade, mas também definir padrões de deslocamento (deslocamento
pendular ou triangular, segundo as atividades diárias de trabalho, consumo e estudo).
O objetivo do sistema é a criação de um modelo com as rotinas das famílias antes, durante e
após a inundação. Ao contrário do sistema rio, modelado em software específico, neste as
rotinas devem ser criadas em plataforma para modelagem em agentes. Para a criação do
protótipo do modelo é utilizado o NetLogo 4.0.4, plataforma para programação de modelagem
em agentes, disponível livremente na Internet.56
8.1
Onde:
C = consumo mensal familiar;
56
Sobre o NetLogo, ver o sítio: < http://ccl.northwestern.edu/netlogo/>.
185
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
pig = preço do produto i do tipo de gasto g;
qig = quantidade consumida do produto i do tipo de gasto g;
y = renda total mensal familiar.
Tráfego: parte das informações é obtida nas entidades locais responsáveis pelo transporte
urbano, outra parte surge endogenamente a partir das rotinas de deslocamento definidas
para os moradores.
L x w = Σ p i x qi 8.2
Onde:
L = número de trabalhadores;
w = salários;
pi = preço do produto i;
qi = quantidade consumida do produto i.
Idealmente os quatro sistemas, mesmo que parcialmente tenham sido criados em softwares
distintos, deveriam ser agregados na plataforma única de análise escolhida. Neste trabalho,
por limitações computacionais, a análise do sistema de transporte foi feita à parte e os seus
resultados extrapolados para o sistema como um todo.
No protótipo, utiliza-se o NetLogo 4.0.4 pela sua linguagem relativamente amigável e fácil
manuseio. Ele utiliza a programação orientada para objetos, adequada para simulações que
envolvem agentes e unidades autônomas, como os domicílios. O software oferece uma grande
escala de métodos gráficos para entrada de parâmetros e exibe os resultados graficamente.
Como será exposto posteriormente, ele se mostrou limitado para as rotinas analíticas
propostas, requerendo, em decorrência, a adoção de algumas simplificações na modelagem.
187
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Microdados consistem no menor nível de desagregação de uma pesquisa,
geralmente retratando o conteúdo do questionário, preservado o sigilo das
informações. Os microdados possibilitam aos usuários, com conhecimento
de linguagens de programação ou softwares de cálculo, criar suas próprias
tabelas de planos tabulares de dados numéricos (IBGE:
http://www.ibge.gov.br/home/).
Além destas duas, há as matrizes de unidades econômicas (firmas). Nelas estão os vetores de
informação sobre as atividades de geração de renda, gasto e aquisição de conhecimento
(estudo) das famílias. São, por conseqüência, os destinos prioritários dos agentes em seus
deslocamentos na cidade.
Foram criadas doze tipologias de famílias com as quais se classificou cada domicílio. A
definição da tipologia teve como referência trabalho sobre arranjos domiciliares desenvolvido
por Golgher (2004). Tais arranjos baseiam-se no ciclo de vida das famílias e nas relações de
dependência entre seus membros, sendo também indicadores de vulnerabilidade social. A
Tabela 8.2 mostra as tipologias criadas.
188
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Tabela 8.2 - Tipologias de famílias e sua distribuição na amostra
Tipologia Distribuição
1 Casal sem filhos, com responsável até 64 anos
2 Casal sem filhos, com responsável com 65 anos ou mais
3 Casal com filhos menores
4 Casal com responsável até 64 anos e com todos os filhos maiores
5 Casal com responsável com 65 anos ou mais, com todos os filhos maiores
6 Mulher até 64 anos, só
7 Mulher com filhos
8 Mulher e outros
9 Homem até 64 anos, só
10 Homem e outros
11 Idoso/idosa, só
12 Homem com filhos
Nota: Filho menor: <= 13 anos; Filho maior: > 13 anos; Idoso (a): >= 65 anos e Outros: Todas as
categorias exceto cônjuge e filhos/enteados.
Entre as 82 variáveis, algumas foram obtidas diretamente do IBGE, por meio do Censo ou da
Pesquisa de Orçamentos Familiares (IBGE, 2000; 2003). Outras, a partir do dado original,
sofreram algum tipo de modificação: cálculo algébrico simples ou reagrupamento em classes.
Uma terceira categoria de variáveis foi obtida por meio de estimativas. Elas apresentam maior
grau de incerteza, pois utilizam informações de diversas fontes e possuem maior número de
suposições e inferências, conforme se descreve a seguir.
189
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Em Belo Horizonte, por exemplo, as áreas de ponderação tendem a coincidir com as unidades
de planejamento (UPs) definidas pela prefeitura.57 No presente trabalho, as APs são mapeadas
e os domicílios distribuídos aleatoriamente no interior da respectiva área de ponderação em
que se localizam.
57
As UPs são subdivisões da área de jurisdição das administrações regionais de Belo Horizonte. Elas possuem
características de ocupação semelhantes e agregam informações sócio-espaciais que subsidiam a gestão e o
planejamento local.
190
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
primeiro nível, essencial, estão classificados os bens considerados como fundamentais para a
manutenção das condições de sobrevivência e saúde dos moradores do domicílio. São aqueles
bens que garantem ao agente a energia necessária para consecução de suas atividades. Nesta
categoria estão gastos com alimentação e remédios, por exemplo.
Finalmente, têm-se os bens de “luxo”. Estes poderiam ser considerados supérfluos, no sentido
que, caso ocorra algum tipo de restrição financeira no domicílio, eles possivelmente serão os
primeiros a terem seu consumo postergado. Incluem os gastos com jóias, perfumes, diversão,
entre outros.
Na classificação da oferta foram definidos quatro níveis: oferta contígua (1), oferta discreta
(2), oferta muito discreta (3) e oferta em rede (R). A oferta contígua relaciona-se a
atividades que estão distribuídas por toda a cidade e em grande quantidade. Normalmente
ofertam bens essenciais, de alta substituibilidade e de consumo freqüente, logo são facilmente
encontradas na vizinhança do domicílio, como padarias, farmácias, lanchonetes e postos de
gasolina.
As atividades com oferta discreta estão representadas por uma menor quantidade de
estabelecimentos em relação àquelas de oferta contígua e não raro, encontram-se concentradas
em algumas regiões, como a região central e comercial. Exemplificam as atividades de oferta
discreta, as lojas de vestuários, eletrodomésticos e os bancos.
Há ainda bens cuja distribuição no espaço é ainda menos freqüente, eles são classificados
como bens de oferta muito discreta. Nesta categoria incluem-se os hospitais; escolas; serviços
especializados, como de advocacia; oficinas de reparação e manutenção de bens; entre outros.
E na última categoria de oferta discutida, estão os bens que são distribuídos à população por
meio de uma rede. Compreende os serviços de transporte, água, luz, esgoto e telefonia. Os
serviços de gás, por usualmente serem entregues a domicílio, também estão classificados
como de oferta em rede.
191
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
No último critério de definição tipológica tem-se a freqüência de deslocamento para aquisição
do bem. Consideraram-se quatro possibilidades: freqüência diária (1), semanal (2), mensal
(3) e rara (4). Os critérios para suas definições são mostradas na Tabela 8.3.
192
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Tabela 8.5 – Alguns tipos de gastos estudados segundo a tipologia
Tipologia Gasto
G1.1.1 Alimentação (dentro e fora do domicílio)
G1.1.3 Remédios
G1.2.3 Aluguel
G1.2.4 Material de tratamento (e.g.: seringa, termômetro)
G1.3.4 Serviços de cirurgia, hospitalização e consulta médica. Tratamento dentário.
G1.R Transporte urbano, energia, água, gás.
G2.1.3 Gasolina e Álcool - veículo próprio; xampu e produtos para o cabelo
G2.1.4 Instrumentos e produtos de uso pessoal (e.g.: maquiagem)
G2.2.3 Artigos de limpeza
G2.2.4 Eletrodomésticos, som e TV; vestuário.
G2.3.1 Cursos médio, superior, etc.
G2.3.4 Serviços profissionais (cartório, advog., cont.); serviços de consertos de bens.
G2.R Serviços de telefonia fixa e celular.
G3.1.1 Periódicos, livros e revistas não didáticos
G3.1.2 Fumo
G3.1.3 Cabeleireiro e manicuro
G3.2.2 Diversões e esportes
G3.2.4 Jóias, perfumes, brinquedos e jogos; imóveis de uso ocasional
G3.3.4 Aquisição de veículos
G3.R Viagens (e.g.: avião, ônibus)
193
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Na Tabela 8.6, o símbolo “–“ representa consumo inalterado. Quando a substituibilidade e o
adiamento são marcados conjuntamente - como em G2.2.4 para uma situação de domicílio
não inundado e firma sim - considera-se que, para este nível de agregação, não foi possível
definir claramente o comportamento do consumidor.
Pela descrição acima, observa-se que a restrição de oferta de um bem que teria menor impacto
no bem-estar do agente seria a de um bem de luxo, com oferta contígua e alta
substituibilidade. O oposto seria um bem essencial, com oferta muito discreta no espaço e
baixa substituibilidade.
Ressalta-se que as estratégias de adiamento e transferência poderiam ser feitas facilmente para
os 59 tipos de gastos considerados na pesquisa, pois no banco de dados criado para a pesquisa
existem todas as informações necessárias para isto. Além disso, torna-se mais fácil definir,
nos gastos desagregados, qual seria o comportamento do agente. A restrição é a capacidade
computacional. Considerando a Tabela 8.6, por exemplo, os três parâmetros de análise -
58
Não é considerada a existência de estoque de bens nos domicílios.
194
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
inundação ou não do domicílio, inundação ou não da firma e adiamento ou transferência - dão
origem a seis possibilidades de comportamento que, ao interagiram com as dezenove
tipologias de gastos, originam uma matriz de 114 possibilidades a serem aplicadas em todos
os domicílios estudados, segundo cada tipo de gasto.
Além destes aspectos que caracterizam os gastos, foram definidos outros, como variáveis que
levam em conta a dissociação que eventualmente há entre a aquisição do bem e seu
pagamento. Por exemplo, existem bens que a cada deslocamento é efetuado o pagamento (e.g:
compra de bens duráveis e semiduráveis); em outros o pagamento é periódico, embora o
deslocamento para sua aquisição seja freqüente (e.g.: educação) e há bens e serviços obtidos
sem deslocamento (ou com deslocamento raro) com pagamentos periódicos em locais
diferentes ao da aquisição do bem (e.g.: serviços de telefonia com pagamento em banco).
Portanto, existem várias nuances no comportamento que caracteriza o gasto, e a sua inclusão
no modelo depende do grau de detalhamento que se queira dar às rotinas e, obviamente, da
capacidade computacional do software utilizado.
195
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Tabela 8.8 – Classes de renda média familiar per capita
Renda média familiar per capita
Classe
Em Salários mínimos Em reais de 2000
A1 > 12,87 > 1.943,89
A2 7,71 - 12,87 1.164,35 - 1.943,89
B1 4,63 - 7,71 698,85 - 1.164,35
B2 2,69 - 4,63 405,58 - 698,85
C 1,40 - 2,69 211,16 - 405,58
D 0,65 - 1,40 98,62 - 211,16
E < 0,65 < 98,62
Fonte: Elaboração própria baseada em ABEP (2003).
Nota: Considerou-se o número médio de pessoas por domicílio existente em Belo Horizonte: 3,2
(IBGE, 2000).
Observe que a área média por cômodo, como esperado, mostra correlação com a classe
socioeconômica.
Neste estudo, considera-se 30m2 como o valor mínimo de área construída de um imóvel, valor
adotado tendo como referência os classificados de imóveis que se encontram em jornais e na
Internet. Dificilmente encontra-se um imóvel anunciado com menos de 30m2 de área. Além
disso, observou-se, em pesquisa na Internet, que mesmo em projetos de casas e conjuntos
habitacionais populares, considera-se 30m2 como a área mínima para garantia de condições
adequadas de bem-estar.
59
Segundo o Censo Demográfico, cômodo é um compartimento integrante do domicílio separado por paredes,
inclusive banheiros e cozinha, e os existentes na parte externa do prédio, desde que constituam parte integrante
do domicílio. Não são considerados os corredores, alpendres, varandas abertas e outros compartimentos
utilizados para fins não-residenciais como garagens, depósitos etc. (www.ibge.gov.br).
196
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8.2.1.6 Padrão construtivo do imóvel
Para definição do padrão construtivo do imóvel, utilizou-se metodologia proposta por
Machado (2005), vinculando o padrão construtivo à classe socioeconômica (Tabela 8.9). A
suposição é de que a relação direta entre estas duas variáveis.
Tabela 8.9 - Área por cômodo e padrão construtivo segundo classes de renda
2
Classe Área/cômodo (em m ) Padrão construtivo
A1 21,15 Alto
A2 17,30 Alto
B1 13,78 Normal
B2 13,76 Normal
C 11,62 Baixo
D 10,38 Baixo
E 9,32 Popular
8.2.1.7 Quantidade e valor dos ativos
Uma grande dificuldade na criação do modelo de análise de danos foi exatamente definir
quais os tipos e a quantidade de bens expostos no domicílio. Enfatizou-se, na análise, a posse
de bens duráveis, pois são indicadores mais relevantes da riqueza e bem-estar dos domicílios.
A posse de bens, como roupas e objetos de decoração, é de difícil mensuração por referir-se a
objetos extremamente heterogêneos, tanto do ponto de vista de valor, como de qualidade e,
normalmente, não indicam riqueza em uma análise econômica.60
O vetor de ativos de cada domicílio foi definido a partir de três critérios principais:
A informação censitária original mostra a existência ou não de sete bens duráveis e o número
de televisores, carros e ares-condicionados presentes na residência, totalizando dados sobre
dez ativos.
Em Machado (2005) foram utilizados padrões de plantas baixas, segundo cada classe
socioeconômica, para os quais foram definidos padrões de conteúdo. Na presente pesquisa
estes padrões foram utilizados para definir os bens presentes no domicílio, mas
parametrizados pelo número de cômodos e dormitórios existentes e os dez ativos recenseados.
60
Obviamente existem objetos de arte de grande valor de mercado, mas sua análise, assim como a de bens de
valor histórico, requer critérios específicos e está fora do âmbito desta pesquisa.
197
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Pensa-se que há uma relação entre o número de cômodos e a quantidade de bens, pois
dificilmente há um cômodo sem conteúdo. Por outro lado, há bens que tendem a variar
proporcionalmente segundo o número de dormitórios, como camas, armários, etc.
Este procedimento permitiu detalhar o conteúdo dos domicílios pelos dados censitários,
possibilitando captar a diversidade existente entre eles. Não raro, por exemplo, verificou-se
um domicílio de pequenas dimensões pertencente à classe A, ou domicílios pobres, mas com
grande quantidade de ativos no seu interior, registrando, até mesmo, a posse de automóveis.
Estes aspectos não seriam captados com a utilização de dados médios ou padronizados. O
APÊNDICE VI mostra os padrões de conteúdo segundo o tipo de cômodo utilizado na
pesquisa.
Feitas as análises, obteve-se um vetor de 32 ativos para cada domicílio, cuja quantidade de
cada um deles varia segundo os três critérios mencionados. Na Tabela 8.10 observa-se a
correlação linear entre as variáveis utilizadas no estudo, por meio do coeficiente de Pearson.
Esta análise foi feita considerando uma amostra de 14.314 domicílios, considerada
representativa das várias classes sociais e tipologias de família que caracterizam uma cidade
como Belo Horizonte (sobre os critérios para definições da amostra, ver item 8.3.2).
A Tabela 8.10 mostra que a estimativa do número de bens dos domicílios parece coerente
com as outras variáveis. Ela apresenta alta correlação com a informação censitária original - o
que era esperado, pois a incorpora - e com a área do imóvel. Ressalta-se que o total de ativos
estimado apresenta maior correlação com o número de dormitórios e de cômodos do que a
informação censitária original. Este comportamento é explicado, possivelmente, pelo fato de
na estimativa serem incorporados bens que não foram pesquisados pelo censo e cujo consumo
está relacionado ao número de cômodos e dormitórios do domicílio (e.g.: camas, armários e
sofás).
A qualidade dos bens foi determinada de acordo com a classe socioeconômica do domicílio,
metodologia já utilizada em Machado (2005) (Tabela 8.11). Considera-se que a qualidade do
198
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
bem, logo, a magnitude do seu valor, está relacionada à capacidade de compra, representada
pela classe socioeconômica.
O próximo passo é definir o preço de mercado dos bens. Utilizou-se levantamento já feito por
pesquisadores para o trabalho de Machado (2005) diretamente em estabelecimentos
comerciais e por meio da Internet. Considerou-se uma depreciação média de 50% para os
bens, assumindo-se que, em média, eles se encontram em sua meia vida. Ressalta-se que todas
as variáveis monetárias do modelo estão em reais do ano 2000.
Com esta finalidade, empreendeu-se uma pesquisa de preços nos classificados de automóveis
de jornais de grande circulação. Coletaram-se os valores de mercado de três categorias de
automóveis - popular, médio e luxo - com até quinze anos de fabricação, pois a idade média
da frota brasileira é de cerca nove anos (Segundo informação do Sindipeças para 2009). Na
ausência da série histórica completa do veículo em questão, alguns preços foram estimados a
partir de curvas de probabilidade: logarítmica para carros de luxo e exponencial para carros
médios e populares. Ressalta-se o bom ajuste obtido por meio destas curvas (coeficiente que
correlação maior do que 0,98 em todos os casos).
199
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
A ampla listagem de valores de mercado de automóveis foi dividida em seis percentis,
relacionando-os a cada classe de renda domiciliar. Entre os limites mínimo e máximo de cada
classe, estabeleceu-se uma variação linear do preço segundo a renda domiciliar. A Tabela
8.12 tabela mostra os limites encontrados.
Finalmente, o valor total dos ativos do domicílio pode ser estimado pelo somatório ponderado
apresentado Equação 8.4:
n
DiA = j 1
Ai j .Pi j 8.4
Sendo que:
DiA = ativos totais do domicílio i;
Ai j = ativo j do domicílio i, com j variando de 1 a 32;
200
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
8.2.3 Matriz firma
Uma questão relevante é definir qual o nível de desagregação será utilizado no modelo. Como
se discute o consumo das famílias, o objetivo ao se estabelecer a classificação é o de que ela
capte as funções dos estabelecimentos usualmente reconhecidas pela comunidade ao
efetuarem suas compras: supermercados, açougues, vestuário, etc. Normalmente esta
informação é obtida com a classificação até o quarto nível da CNAE (classe).61 Para as
atividades que não representam oferta de bens para as famílias, como indústrias de
transformação, agricultura e pecuária, a classificação em primeiro nível (seção) pode ser
suficiente. Ressalta-se, entretanto, que se pode desejar destacar algumas atividades mesmo
que elas não representem unidades de consumo para as famílias. Seria o caso, por exemplo, de
estabelecimentos com grande potencial de poluição das águas quando atingidos pela
inundação, como as indústrias químicas. Neste caso, são feitos ajustes na classificação para
abarcar os objetivos da pesquisa.
A partir desta classificação obteve-se um total de 88 tipos de atividades, as quais podem ser
verificadas no APÊNDICE VII. Cada uma delas é caracterizada segundo atributos que
também foram utilizados para descrever os gastos: escalas de oferta (contígua, discreta ou
muito discreta); essencialidade (essenciais, necessários ou luxo); freqüência de gasto (diário,
61
A CNAE apresenta até 5 níveis de desagregação. Do mais agregado para o menos, tem-se: seção, divisão,
grupo, classe e subclasse.
201
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
semanal, mensal ou raro) e critério de distribuição espacial (discutido no item 8.2.3.2). Além
disso, é indicado se o estabelecimento oferta bens para as famílias ou para outras empresas.
Desta forma, pode-se relacionar o tipo de gasto do domicílio (item 8.2.1.3) com a unidade
econômica que o oferta.
8.2.3.1 Geração de renda: número de empresas, pessoal ocupado e salários por CNAE e
CAP
As informações sobre o número de empresas, pessoal ocupado e salários, de forma geral,
podem ser obtidas por pesquisa de campo ou por meio de dados secundários. Como fonte de
dados, tem-se à Relação Anual de Informações Sociais – RAIS, as Estatísticas do Cadastro
Central de Empresas – CEMPRE, feitas pelo IBGE a partir da própria RAIS, e as pesquisas
setoriais, também elaboradas pelo IBGE (Pesquisa Anual do Comércio - PAC, Pesquisa
Anual de Serviços - PAS e Pesquisa Industrial Anual). O Cadastro de Empresas divulga
informações municipais, mas apenas de capitais, e as pesquisas setoriais mostram resultados
ao nível nacional, regional ou estadual. A RAIS possui informações sobre cada empresa.
Para esta pesquisa, o número de firmas e o pessoal ocupado foram obtidos essencialmente das
informações contidas no CEMPRE referentes à Belo Horizonte. Quando estas se mostravam
em nível mais agregado do que o necessário para o modelo, utilizava-se como proxy a
distribuição das atividades por classes apresentadas pela PAC e PAS para Minas Gerais ou
Brasil.
Para as unidades de ensino foi incorporada também a informação sobre o número de alunos
matriculados. Esta foi obtida na Secretaria Estadual de Educação de Minas Gerais
(SEE/SIE/COPED) e conta com a relação completa de estabelecimentos de ensino de todos os
municípios de Minas Gerais a partir de informação do Educacenso 2008, censo escolar
elaborado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira –
INEP.
Além disso, foram obtidos mapas da Prefeitura de Belo Horizonte – PBH, nos quais foi
possível identificar o número e a localização de hospitais e escolas do município. Foram
também adquiridas no Centro de Desenvolvimento de Planejamento Regional - Cedeplar /
UFMG informações referentes ao número de postos de combustível e a sua localização em
Belo Horizonte. Adicionalmente, informação da Secretaria da Fazenda de Belo Horizonte
mostra a distribuição, por bairros, do total das atividades comerciais, de serviço e de indústria
em Belo Horizonte.
202
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
8.2.3.2 Localização da firma
A localização das atividades econômicas é normalmente adquirida na prefeitura municipal ou
órgãos associados. Em Belo Horizonte, a Empresa de Informática e Informação do Município
(Prodabel) dispõe destas informações. Caso seja uma pequena região, as informações
locacionais podem ser inferidas por meio de pesquisa de campo. Na ausência destas duas
possibilidades, as características de ocupação e uso do solo da cidade, aliadas à escolha de
algum modelo teórico de localização, fornecem indícios da distribuição das atividades
econômicas no local.
Podem ser ainda utilizadas algumas unidades funcionais para inferir o padrão espacial e a
distribuição das unidades econômicas, culturais e políticas na cidade. Myint (2008) utiliza a
localização das lojas de fast-food, bancos, igrejas e escolas para deduzir a distribuição
espacial das unidades econômicas (comércio e serviços), políticas e culturais. Os resultados
mostraram-se satisfatórios, sobretudo em relação à utilização da localização das lojas de fast-
food e dos bancos como proxy da distribuição das atividades comerciais e de serviços na
cidade. As padarias são também usualmente utilizadas para determinar a localização do
comércio de bairro, que pode compreender farmácias, bancas de revistas, açougues, etc.
Nesta pesquisa, utilizaram-se como base para organizar as atividades econômicas no espaço
as informações disponibilizadas pela Secretaria da Fazenda de Belo Horizonte, nas quais é
mostrada a distribuição, por bairros, do total das atividades comerciais, de serviço e de
indústria em Belo Horizonte. Entretanto, como elas não se encontravam desagregadas
segundo grupos CNAE, o que era necessário ante os objetivos da pesquisa, tornou-se
necessária a definição de alguns critérios de distribuição dos tipos de atividades no espaço.
Com o uso de todas as informações disponíveis que oferecessem subsídios para se estabelecer
algum critério locacional, foram definidos doze critérios de dispersão espacial das firmas para
o modelo, os quais são mostrados na Tabela 8.13.
203
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Tabela 8.13 – Critérios para distribuição espacial das firmas no protótipo
Código Critério Fonte de informação
1 Na área de estudo -
2 Segundo distribuição do comércio na cidade Secretaria da Fazenda Municipal
3 Segundo distribuição dos serviços na cidade Secretaria da Fazenda Municipal
4 Segundo distribuição das indústrias na cidade Secretaria da Fazenda Municipal
Segundo distribuição do somatório dos serviços e
5 Secretaria da Fazenda Municipal
comércio na cidade
6 Segundo distribuição dos hospitais na cidade Mapa da Prefeitura de Belo Horizonte
Segundo distribuição das instituições de ensino
7 Mapa da Prefeitura de Belo Horizonte
fundamental e médio na cidade
Segundo distribuição das instituições de ensino
8 Catálogo de endereços
superior na cidade
Segundo distribuição dos postos de combustível
9 Cedeplar /UFMG
na cidade
Segundo distribuição das principais entidades da
10 Catálogo de endereços
administração pública na cidade
Verificar zoneamento e observar a
11 Escolha segundo percepção da cidade
cidade.
Segundo distribuição dos principais museus e
12 Catálogo de endereços
bibliotecas da cidade
Portanto, definiu-se para cada uma das firmas um dos doze critérios locacionais mostrados na
Tabela 8.13. A escolha de qual critério baseou-se, por sua vez, na sua classificação
CAP/CNAE (Figura 8.2).
204
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Nota-se que as matrizes residente e domicílio relacionam-se com a matriz firma, pois nelas se
encontram os locais onde os agentes ganham renda (demanda de trabalho), fazem compras
(oferta de bens e serviços) e estudam (Figura 8.3).
Domicílio Firma
Consumo
Trabalho 1
Trabalho 2
Domicílio
Estudo
etc
Do domicílio saem agentes que trabalham e estudam. Além disso, os gastos do domicílio são
efetuados nas firmas. Observe que se considera um sistema fechado, onde a geração e o gasto
de renda estão inteiramente aí contidos. No caso de uma inundação em Belo Horizonte, por
exemplo, seria possivelmente mais adequado modelar toda a região metropolitana, pois nela
estão contidos os principais fluxos econômicos e de pessoas que ocorrem na região.
Entretanto, tal modelo apresenta consideráveis dificuldades no trato de informações, de tempo
e de recursos computacionais.
205
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
8.2.4.3 Alocação dos trabalhadores, localização dos pontos de consumo e do local de estudo
O tipo de atividade econômica de cada trabalhador do modelo é identificado segundo a
CNAE-Domiciliar (matriz residente). Esta informação é censitária. Cada atividade econômica
do modelo é também identificada segundo a CNAE-Domiciliar (matriz firma) (ver sessão
8.2.3).
Baseada nestas informações, a escolha do local de emprego dos trabalhadores foi definida
segundo dois critérios:
Obviamente, a escolha do local de trabalho pode ser mais bem calibrada segundo os dados
locais disponíveis.
1. Escolha aleatória entre as firmas que possuem o mesmo CAP do estudante (80999 ou
80011).
2. A capacidade da firma em receber estudantes é definida pela variável total de alunos.
A escolha da unidade de consumo adequada para o agente efetuar suas compras (de serviços
ou bens) é definida segundo dois critérios:
1. Escolha, entre as firma, daquelas que possuem oferta do bem tipo x, sendo que x varia
a 1 a 59 (para explicação do tipo de gasto, ver o item 8.2.1.3).
2. Distância que o agente está disposto a se deslocar para sua aquisição (raio de escolha).
A definição do raio de escolha do agente para aquisição do bem é feita em três níveis,
segundo as características do gasto. Considera-se que quanto mais rara a aquisição e menor o
grau de substitutabilidade, mais o agente estará disposto a se deslocar:
206
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Se não existe oferta do bem no nível de deslocamento definido, avança-se para o nível
seguinte. As distâncias representadas pelos raios obviamente dependem da área de estudo.
Considerando o município de Belo Horizonte, por exemplo, o raio 1 englobaria o bairro onde
o domicílio se encontra e os bairros vizinhos. O raio 2, a regional e o 3, a cidade.
Para citar alguns exemplos: os gastos com alimentação encontram-se no raio de escolha 1; os
serviços bancários, gastos com vestuário e eletrodomésticos, no 2; e a escolha de hospitais ou
instituições de ensino superior, no nível 3.
Obviamente, cada uma destas informações pode ser mais bem calibrada segundo os dados
locais disponíveis.
A alocação dos trabalhadores nas firmas e dos estudantes nas instituições de ensino, bem
como a definição das unidades de consumo escolhidas pelos agentes, são feitas com o uso de
linguagem computacional. Como será mostrado no item 8.7, o software utilizado para as
simulações nesta pesquisa possui capacidade computacional limitada em face dos requisitos
computacionais necessários, o que levou à necessidade de uma simplificação das rotinas.
Entretanto sua escolha justifica-se pela familiaridade com o programa e suas características de
facilidade de manuseio. Neste sentido, buscou-se um compromisso entre as características
computacionais do programa, a disponibilidade de tempo para a pesquisa e a precisão dos
resultados.
Para simular o impacto da inundação em uma área urbana optou-se pela criação de um
protótipo. Este procura representar de forma simplificada os principais elementos do espaço
urbano, os quais interferem na magnitude do impacto da cheia. Trabalhou-se com três níveis
geográficos que se inter-relacionam (Figura 8.4):
207
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Área de entorno – AE: representa a área que circunda a ADA. Embora ela não tenha
sido diretamente atingida pelo evento, pela maior proximidade com a ADA, tenderá a
sofrer maiores impactos indiretos do que o restante da região urbana.
Restante da rede urbana: é composta por 74 regiões, cada uma delas representada
como um nó da rede urbano-econômica, o qual agrega o conjunto de domicílios,
moradores e atividades econômicas que ali se localizam.62 Como a cidade é uma rede
de interconexões, ela é incorporada à análise por sofrer, indiretamente, o impacto na
ADA.
Na ADA e na AE cada domicílio e cada firma são mostrados de forma individualizada. Já nos
nós, os agentes são representados de forma agregada. A área da AE foi criada através da
aplicação de um raio de cobertura (do inglês, buffer) de 0,7 km sobre a ADA. A definição
deste raio teve como referência a área dos bairros em Belo Horizonte que serviram de
referência para criação da ADA e AE no protótipo.
Restante
(dividido
em 74
regiões)
Entorno
Área de
impacto
Para fazer as interconexões dos agentes em uma base física foi definida uma rede viária para o
protótipo. A rede é definida em duas escalas de detalhamento. Na região diretamente
impactada e de entorno é feito um maior detalhamento do sistema, com a definição dos
trechos viários principais, os links atingidos e aqueles preferencialmente utilizados como rotas
62
Ressalta-se que o sentido de nó varia segundo o tipo de rede estudada. Na rede viária, por exemplo, os nós
representam os cruzamentos e as entradas e saídas. No contexto aqui utilizado, de uma rede econômico-urbana,
ele representa uma região econômica específica.
208
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
alternativas. Em uma segunda escala de detalhamento são mostradas apenas as principais vias
da cidade que atravessam a região impactada e de entorno, levando em conta sua função
arterial na cidade. Considera-se que os impactos tendem a se diluírem no espaço, logo, apenas
o detalhamento viário da região atingida por uma inundação de tempo de retorno de 100 anos
já é suficiente para captar o impacto da inundação.
A configuração da rede utilizada neste modelo foi construída tendo como referência as
principais vias de Belo Horizonte. Trabalha-se principalmente com as vias arteriais e as
principais vias coletoras. Na região atingida pela inundação e próxima a ela, incorporou-se as
vias julgadas essenciais para a análise, inclusive vias locais. Uma parametrização mais fina da
rede viária pode ser feita em trabalho posterior. Além disso, limitações computacionais e de
tempo impediram um detalhamento maior das informações.
Neste estudo trabalhou-se com uma rede viária simplificada, formada por 158 nós viários (o
nó viário não possui o mesmo sentido do nó da rede econômica, mostrada no início desta
seção). Cada um destes nós pode ter grau variando de um a cinco. A rede estudada na ADA e
AE tem extensão de 49,61 km.
Figura 8.5 – Organização espacial do protótipo – Área diretamente atingida, área de entorno
e rede viária
209
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
8.3.2 Zoneamento, parcelamento e adensamento na ADA e AE
Em suma, a zona 2 é o centro econômico da região. A zona 1 funciona quase como uma
periferia deste centro e recebe grande influência dele, possuindo muitos estabelecimentos
comerciais e de serviços. As outras regiões são mistas, residenciais, mas com volume
significativo de atividades econômicas. A região é importante também como área de
passagem, pois conecta importantes nós da cidade como um todo.
210
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Figura 8.6 – Zonas, rede viária modelada e o rio na ADA e na AE.
1. Definiu-se a área da região sem as vias (que corresponde a cerca de 73% da área total);
2. Encontrou-se o número de quarteirões, considerando que este possuía uma área padrão
de 10.000m2;
3. Definiu-se o número total de lotes, tendo como parâmetro o número de 21 lotes por
quarteirão.
Adotou-se, portanto, o seguinte procedimento: nos lotes que não eram ocupados por casas,
definiu-se o número de domicílios no primeiro pavimento por meio de uma função obtida a
partir das informações sobre as edificações residenciais mais verticalizadas existentes nos
municípios de Itajubá e Santa Rita do Sapucaí, presentes em Machado (2005). Embora se
saiba que o padrão de verticalização nestas cidades difira do de um grande centro urbano,
como se trata de um protótipo, considerou-se possível este tipo de extrapolação. A partir daí,
211
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
foi facilmente inferido o número de pavimentos do edifício residencial. As principais
informações em relação às edificações residenciais da ADA e da AE são apresentadas na
Tabela 8.14
Em relação às firmas, já foi assinalado, que elas são caracterizadas segundo as variáveis
pessoal ocupado, massa salarial e emprego. Entretanto a organização das firmas no protótipo
segue padrões diferentes.
Na ADA e na AE cada firma foi identificada pelo código CAP, o que permite saber de forma
relativamente precisa qual o tipo de bem ofertado no estabelecimento (e.g.: padaria,
supermercado, vestuário, etc.). Abaixo são listadas as varáveis presentes na matriz de
informação sobre as firmas da ADA e AE:
212
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Código da firma (1 a 5.045)
Localização: coordenadas x e y
Zona (1 a 6)
Edifício: cada firma está vinculada a uma edificação (varia de 1 a 468)
Se está ou não no primeiro pavimento
Classificação CAP
Classificação CNAE
Pessoal ocupado
Oferta (existência ou não de 59 tipos de oferta de bens)
Já nos nós de atividade econômica as informações sobre as firmas são mostradas de forma
agregada para cada classe CNAE. Portanto, para cada nó, haverá o número de firmas, pessoal
ocupado e a oferta (existência ou não dos 59 tipos de oferta) de cada classe CNAE.
Considerando que são utilizadas 56 classes CNAE e que existem 74 nós de atividades, tem-se,
portanto, uma matriz de informação formada por 4.144 linhas. Abaixo são mostradas as
variáveis existentes na matriz de informação das atividades produtivas dos nós.
Identificação do nó
Localização: coordenadas x e y
Código CNAE
Número de firmas
Pessoal ocupado
Oferta (existência ou não de 59 tipos de bens)
Observe que entre as variáveis das firmas não está o montante de salários pago. Estes são
incorporados à unidade após a alocação dos trabalhadores nos locais de emprego (item
8.2.4.3).
O número de empresas para cada nó foi definido utilizando-se a estrutura de distribuição das
atividades entre os bairros de Belo Horizonte disponibilizada pela Secretaria da Fazenda de
Belo Horizonte, mas considerando o total de atividades mostrado no CEMPRE (IBGE, 2000).
Obteve-se a distribuição do total de firmas entre as classes CNAE por meio do procedimento
descrito no item 8.2.3.2.
213
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
8.3.4 Definição das características dos domicílios na ADA, AE e nos nós
Portanto, retirou-se uma amostra de 14.314 domicílios dos microdados censitários (IBGE,
2000) que representasse a estrutura de rendimento e de tipologias de família existentes em
Belo Horizonte. Para cada classe de rendimento e tipo de família, os domicílios foram
escolhidos aleatoriamente. As Tabelas 8.16 e 8.17 mostram, respectivamente, a estrutura das
tipologias de família e das classes socioeconômicas existentes na ADA e na AE.
214
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Identificação do domicílio
Localização (coordenadas x e y)
Edifício: cada domicílio está vinculado a uma edificação (varia de 1 a 6.499)
Se está ou não no primeiro pavimento
Tipologia de família
Número de moradores
Área do imóvel
Padrão de acabamento do imóvel
Número de ativos presente no domicílio (33 tipos de bem)
Rendimento domiciliar
Distribuição do valor dos gastos médios mensais em 59 classes
Nos nós do protótipo foram utilizados os parâmetros existentes para os domicílios nas regiões
similares de Belo Horizonte (Unidades de Planejamento). Definiu-se, para cada nó, o número
total de domicílios, o rendimento médio e a estrutura de gasto associada a este rendimento. As
variáveis presentes na matriz são listadas abaixo:
Identificação do nó
Localização (coordenadas x e y)
Número de domicílios
Número de moradores
Rendimento total
Rendimento médio domiciliar
Distribuição do valor médio dos gastos mensais em 59 classes
A menor unidade de análise do modelo são as pessoas. Elas são agentes que se deslocam para
cumprirem as funções do domicílio de aquisição de renda, consumo e lazer. Ante uma
inundação, esses fluxos são interrompidos ou perturbados, gerando possíveis custos adicionais
de tempo e modificações de rotinas para um nível subótimo.
215
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
indivíduo é extenso, sendo que especificamente para a pesquisa as seguintes informações
foram utilizadas:
Identificação do morador
Identificação do domicílio
Localização (coordenadas x e y)
Idade
Capacidade física e mental (capacidade de escutar, ouvir, ver e andar e deficiência
mental)
Idade
Se é trabalhador (se sim, código da atividade e remuneração recebida)
Se estuda (se sim, definição do nível de estudos)
Entre os moradores dos nós, foram destacados somente os trabalhadores, pois são os agentes
responsáveis pela função de adquirir renda no domicílio. Eles são relevantes na análise
econômica feita nesta pesquisa, que é, fundamentalmente, de alocação dos fluxos de renda e
gastos. Entretanto, como os nós não são atingidos diretamente pela inundação, não é discutida
a vulnerabilidade e risco dos domicílios aí localizados, logo, a incorporação dos outros
agentes do domicílio não é essencial. Portanto, na matriz de demanda de trabalho nos nós,
tem-se o número de trabalhadores por classificação CNAE em cada nó:
Identificação do nó
Localização (coordenadas x e y)
Código CNAE
Número de trabalhadores
Salário total recebido
216
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Tabela 8.18 – Síntese das informações do protótipo
Indicadores ADA e AE Nós Protótipo
2
Área (km ) 5,9 326,5 332,4
2
Planície de inundação de 100 anos (ADA) (km ) 1,3 0,0 1,3
Número de domicílios 14.314 164.379 178.693
Número de moradores 51.116 588.220 639.336
Renda total (R$) 27.605.806 316.565.858 344.171.664
Renda média domiciliar (R$) 1.929 1.926 1.926
Número de firmas 5.045 19.084 24.129
Salários totais recebidos (R$) 63.951.389 316.565.858 338.561.291
Pessoal Ocupado 37.474 166.113 203.587
Salário médio por trabalhador (R$) 1.707 1.906 1.663
Média de trabalhadores / firma 7 9 8
As seções do rio utilizadas no modelo foram espacializadas por meio do software ArcGis 9.2
e, com as informações sobre o nível d`água alcançado durante as inundações, foi criado um
TIN, ou seja, uma malha triangular (Triangular Irregular Network). Ela constitui-se em uma
estrutura vetorial com topologia do tipo nó conforme pode ser verificado na Figura 8.7.
217
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Esse tipo de interpolação também foi utilizado na criação de um Modelo Digital de Terreno
(MDT) que foi cruzado com a representação espacial das manchas de inundação.
As manchas de inundação foram obtidas através da transformação dos TIN‟s dos diferentes
tempos de recorrência em imagem raster, operação que permitiu o cálculo da diferença entre
o nível da água e o relevo da área.
Em relação à distribuição das velocidades na área inundável, ela foi estimada por meio da
interpolação triangular da informação sobre o valor da velocidade nas margens de cada seção
do rio na área de estudo, a qual é obtida como resultado da simulação hidráulica em HEC-
RAS (HEC-RAS, 2003).
Para a modelagem hidrológica foi utilizado o modelo HEC-HMS, versão 2.2.2 (HEC-HMS,
2002), desenvolvido pelo Hydrologic Engineering Centre, do Corpo de Engenheiros do
Exército dos EUA (US Army Corps of Engineers). A modelagem hidráulica do sistema de
macrodrenagem é realizada utilizando-se o modelo de cálculo de linha d‟água HEC-RAS,
versão 4.0 (2003), do US Army Corps of Engineers.
218
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Os principais parâmetros utilizados no estudo hidrológico são mostrados sinteticamente, a
seguir (Nascimento, 2004 e 2008):
- chuva efetiva: método SCS, com parâmetro CN estimado segundo o tipo e o uso do
solo e condições de umidade antecedente;
escoamento não permanente: solução númérica das equações completas de Saint Venant,
segundo formulação do modelo HEC-RAS (2003);
219
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
escoamento em pontes e bueiros: hipótese de funcionamento como orifício e vertedor de
parede espessa em condições de águas altas (estrutura submersa pelo escoamento);
caso, em águas altas, o escoamento como vertedor sobre aterros e pontes deixe de ocorrer
por afogamento imposto por um controle de jusante, o modelo emprega os princípios de
conservação de massa e energia em todo o trecho sob ação desses controles.
A Figura 8.9 mostra a interface gráfica do modelo em HEC-RAS, com a ilustração do perfil
longitudinal da linha de água para todo o curso do rio Betim em dois momentos.
WS 01JAN2008 0200
Crit 01JAN2008 0200
Ground
820 LOB
ROB
Right Levee
815
Elevation (m)
810
805
800
-12.5
-27-24 -23 -18 -16 -14 -12 -1.5
-9 -5 -4 17 1819 20 21 23 24 25 26 35 36 37 38 39 40 41 4246 47 48 49 50 51 52
795
0 2000 4000 6000 8000 10000
Main Channel Distance (m)
220
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Betim-Montante-NP-2008 Plan: Plan 25 5/21/2009
Geom: Betim-Mont-Atual--NP
Betim Betim Montante
825 Legend
WS 01JAN2008 0300
Crit 01JAN2008 0300
Ground
820 LOB
ROB
Right Levee
815
Elevation (m)
810
805
800
-12.5
-27-24 -23 -18 -16 -14 -12 -1.5
-9 -5 -4 17 18 19 20 21 23 24 25 26 35 36 37 38 39 40 41 4246 47 48 49 50 51 52
795
0 2000 4000 6000 8000 10000
Main Channel Distance (m)
Figura 8.9 – Perfil longitudinal da linha d`água do rio Betim, Minas Gerais, em dois
momentos da cheia
Foram desenvolvidos estudos para cheias com tempos de retorno de 5, 10, 25, 50, 100 e 1000
anos. No presente estudo, consideraram-se eventos com tempos de retorno de 05, 25 e 100
anos.
Após ter sido feita a simulação hidrológico-hidráulica, foram criados os mapas de inundação.
Para este procedimento é necessária a combinação de duas informações: o nível d‟água
associado às seções do rio e o mapa topográfico da região (modelo digital de terreno). Para
associações destes layers de informação, foi utilizado o programa ArcGis 9.2.
Definida a mancha de inundação para o três tempos de retorno, optou-se por incorporar ao
protótipo a parte do rio onde se observou o maior impacto do evento. Ela corresponde a uma
área que passa pela confluência entre o rio Betim e o córrego Cordeline. A Figura 8.10 mostra
a região incorporada no protótipo, considerando a ocorrência da inundação segundo os três
tempos de retorno.
Figura 8.10 – Área de inundação do rio Betim, no município de Betim, para chuva
com duração de 2 h.
221
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
O trecho escolhido possui uma área inundada total de 0,825 km2, quando o Tr = 100. A fim de
mensurar de forma mais ampla o impacto da inundação, multiplicou-se cada lado do pixel por
uma constante, totalizando uma área de inundação de 1,315 km2.
Com a criação do mapa de inundação detalhado, obtiveram-se, para cada firma e domicílio
existentes na ADA, a profundidade e velocidade da inundação no ponto em que ela se localiza
na planície.
Embora tenham sido georeferenciados os nós e links viários não apenas da ADA e da AE, mas
também dos principais eixos que cortam o espaço de análise (Figura 8.5), a incorporação de
toda a rede na simulação do tráfego envolveria um elevado custo computacional, não
disponível nas ferramentas utilizadas atualmente na pesquisa. Ressalta-se ainda que a
modelagem do tráfego de uma rede viária da dimensão utilizada nesta pesquisa, pelo elevado
volume de informações necessárias, raramente é feita, mesmo em centros especializados em
engenharia de transportes.
A Figura 8.11 mostra a rede viária do protótipo e indica a área modelada. A Figura 8.12
apresenta detalhes do sistema viário na área modelada.
222
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Figura 8.11 – Rede viária do protótipo e identificação da região modelada
Em consonância com os objetivos desta pesquisa, que procura utilizar uma abordagem em
agentes, utilizou-se como ferramenta de análise um modelo de microsimulação de tráfego. A
223
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
utilização da simulação do tráfego para analisar o impacto da inundação no sistema de
transportes ainda é incipiente e não foram encontrados trabalhos relevantes que a utilizam.
O modelo estima várias medidas de desempenho, inclusive atrasos dos veículos, paradas,
consumo de combustível, emissões de hidrocarbonetos, monóxido de carbono, gás carbônico
e de óxidos nitrosas.
Como não havia informação sobre a origem e destino de cada agente do modelo, simulou-se o
fluxo de veículos (ou a “demanda”, termo usualmente utilizado na simulação de tráfego)
224
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
segundo as características da região (número de domicílios, firmas, pessoal ocupado, número
de estudantes que chega à área, número estimado de consumidores, posse de veículos pelos
domicílios, etc.). Foram também utilizadas na parametrização, as informações sobre os fluxos
das vias que passam por regiões com características similares em Belo Horizonte.
Para determinar o número de veículos que trafegam na região, uma questão central é definir
se o agente utiliza transporte coletivo (não foi considerado metrô, apenas ônibus) ou privado.
Para esta estimativa verificou-se, na amostra dos microdados censitários (IBGE, 2000), o
percentual da população acima de 18 anos que possui automóvel no domicílio. Multiplicou-se
o valor encontrado pelo fator 1,4, que representa a média de passageiros por automóvel em
Belo Horizonte, segundo informação oral obtida no Departamento de Engenharia de
Transportes e Geotecnia da UFMG. Este percentual foi então aplicado ao valor estimado de
pessoas que circulam na ADA e AE, obtendo-se uma estimativa do número de veículos de
passeio. O restante das pessoas são usuárias de ônibus, o qual circula, em média, com a
capacidade máxima de passageiros sentados (50 assentos, segundo Rodrigues et al., 2008).
Para se ter uma estimativa do fluxo total de veículos, adota-se ainda a hipótese de que os
veículos estimados circulam duas vezes na região (ida e volta).
Considera-se, portanto, que sempre que há carro no domicílio, o agente optará por utilizá-lo
na execução de suas tarefas. E, entre os membros do domicílio, os trabalhadores terão
prioridade no acesso ao veículo.
Considerando os seis tipos de zonas existentes na ADA e AE, com seus padrões de uso do
solo e adensamento (item 8.3.2), o próprio software distribui o fluxo de veículos entre os
diversos trechos viários. A Figura 8.13 mostra a distribuição temporal do fluxo de veículos na
região como um todo. Observa-se o pico da manhã, o pico bancário e o pico mais elevado de
fim de expediente de trabalho e retorno à residência.
225
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
8%
7%
6%
% de veículos
5%
4%
3%
2%
1%
0%
0:00 2:24 4:48 7:12 9:36 12:00 14:24 16:48 19:12 21:36 0:00
Hora do dia
Escolheu-se o horário de 10h para início da inundação por ele representar um momento de
fluxo “médio” de veículos. No horário de 17h capta-se o efeito do evento em um momento de
226
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
grande circulação dos agentes. Além disso, em várias cidades do sudeste, as inundações estão
associadas à ocorrência de chuvas convectivas que, não raro, ocorrem ao final do dia.
Em relação aos critérios de velocidade do fluxo de veículos com a inundação, definiu-se que,
caso a via seja inundada com uma altura de inundação superior a 15cm, o fluxo é
interrompido, abaixo deste nível, tem-se uma redução da velocidade para 20 km/s (Tabela
8.20).
Tabela 8.20 – Critérios para fluxos de veículos durante o evento na ADA e AE - Protótipo
Altura da inundação na via Fluxo de veículos
< 15 cm velocidade = 20km/s
≥ 15 cm interrompe
Por meio da simulação do tráfego obtêm-se variáveis relevantes para análise do impacto da
inundação: tempo, distância e consumo de combustível, emissão de poluentes como CO2, HC
e NOx. Estas informações estão disponíveis por link, veículo e caminho (a partir de uma
definição de origem e destino).
8.5
227
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Onde:
CC = custo total de combustível por veículo (em reais de 2000);
yC = quantidade total consumida por veículo (l/km);
pC= preço da gasolina na bomba (em reais de 2000);
0,718 = fator proposto em Nagem (2008) utilizado para compensar a variação do combustível
usado entre os veículos;
dV = distância percorrida na área de estudo (nesta pesquisa, na ADA e AE).
O preço da gasolina foi obtido pela média praticada nos postos de gasolina em novembro de
2009 (pesquisa pela Internet), deflacionada pelo IPCA do IBGE segundo o índice específico
para gasolina (subitem 5.104.001 do índice global). O custo do combustível é definido para
cada veículo que trafega na região estudada.
8.6
Em que:
CT = Custo do tempo de viagem na área de estudo (em reais de 2000);
w = renda mensal auferida pelo agente (em reais de 2000);
ES = Encargos sociais 95,02% = 1,9502;
FA = Possibilidade de uso alternativo do tempo (0,3);
HP = Percentual de uso produtivo do tempo (% viagens a trabalho + % viagens
casa/trabalho x 0,75). Caso não disponível, usar 0,5;
yW = Número de horas de trabalho por mês. Se não disponível, usar 168 horas.
tV = tempo de viagem percorrido na área de estudo (em horas).
Para a Equação 8.6, obteve-se os valores da renda e as horas trabalhadas para cada agente
diretamente dos Microdados censitários (IBGE, 2000). O tempo de viagem por veículo é uma
informação de saída da simulação com o uso do Integration. Este custo esta associado a cada
morador componente da população ocupada que trafega por meio de um veículo, próprio ou
comum, na região.
Talvez a definição de valores monetários para os poluentes seja ainda conceitualmente mais
difícil do que para o tempo. Para o tempo, pode se ter como referência a “utilidade
econômica” do indivíduo. Já a monetização dos poluentes envolve estudos relativos aos
efeitos da poluição sobre o ser humano e sobre o ambiente, os quais podem ser muito variados
segundo as condições ambientais locais (clima, altitude, dispersão, regime de ventos, relevo,
etc.), além da consideração dos efeitos obtidos pela atuação conjunta dos poluentes.
Para definição destes valores o estudo do IPEA/ANTP (1997) utilizou fontes americanas e
européias as quais foram adaptadas para a realidade brasileira considerando as relações entre
as rendas per capitas dos países. Os valores finais encontrados, originalmente em reais de
1997, foram convertidos para 2000 (Equações 8.7, 8.8 e 8.9):
CO = R$ 0,25/kg 8.7
HC = R$ 1,50/kg 8.8
NOx = R$ 1,48/kg 8.9
Ressalta-se que o tempo e o consumo de combustível são custos de quem viaja, enquanto o
custo da poluição refere-se a todos os habitantes da área de estudo, viajantes ou não.
Observa-se que o estudo do IPEA / ANTP (1997) utiliza como referência para monetização
dos poluentes o impacto sobre a saúde. Não foram, portanto, incorporados impactos
ambientais que recentemente tem ganhado grande atenção pelos possíveis efeitos que podem
causar no planeta como um todo, como o efeito estufa, a destruição da camada de ozônio e a
chuva ácida.
Inicialmente era prevista uma modelagem baseada em agentes. Logo, o interesse recaía nas
estratégias comportamentais de cada agente domiciliado. Quando se passou de uma analise de
229
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agentes para uma análise em rede, a preocupação fundamental passou a ser a discussão das
funções desempenhadas pelo domicílio e não de qual agente a executaria.
Trabalhou-se com uma rede que representa os fluxos econômicos que saem e entram nos
domicílios. Segundo os objetivos deste estudo, as relações econômicas entre firmas não foram
consideradas. Na terminologia da análise de rede, para cada domicílio dirige-se um link
valorado (renda) e sai outro link valorado (gasto), de tal forma que, em média, ao mês, os
valores dos links de entrada e saída são iguais (Figura 8.15).
Utilizou-se a modelagem econômica para alocar estes fluxos nos diversos pontos de oferta de
trabalho e de bens da rede, ou seja, fazer as conexões entre os domicílios e as firmas. Os
procedimentos para alocação dos postos de trabalho e dos pontos de consumo foi feito
segundo a descrição apresentada no 8.2.4.3; para executá-los foi utilizado o software NetLogo
4.0.4. A Figura 8.16 mostra a Interface do Netlogo no início da simulação do modelo.
230
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Figura 8.16 – Interface do NetLogo 4.0.4
A alocação dos postos de trabalho foi executada; entretanto, na distribuição dos 59 tipos de
gastos que compõem a cesta de cada domicílio entre as unidades de oferta escolhidas,
ocorreram limitações computacionais, o que levou à adoção de alguns procedimentos para
simplificação das rotinas que, entretanto, não comprometem os fundamentos teóricos do
trabalho.
Os 59 tipos de gastos foram agrupados em seis grupos, os quais foram definidos segundo
critérios de substituibilidade e distribuição da oferta. Estes dois aspectos definem de forma
central se o agente irá escolher a estratégia de adiar o consumo ou substituir o ofertante, em
caso de inundação no ponto de oferta preferencial. A Tabela 8.21 mostra os grupos de gastos
e os critérios para definição das unidades de consumo.
Observe na Tabela 8.21 que os critérios de escolha por raios de deslocamento, como mostrado
no item 8.2.4.3, não foram introduzidos para possibilitar o processamento das informações.
Logo, considera-se que o raio é sempre o município como um todo.
231
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Tabela 8.21 – Grupos de gastos e critérios de escolha das unidades de consumo - Protótipo
Grupo de Substuibilida- Distribuição
Exemplos de gastos Escolha
gasto de da oferta
Alimentação, Comprar do mais próximo e substituir
A remédios, jornais e Alta a média Contígua em caso de ruptura do link compra =
revistas manter gasto
Brinquedos, Comprar do mais próximo e não
B eletrodomésticos, Média Discreta substituir em caso de ruptura do link
tecidos e armarinho compra = postergar gasto
Comprar aleatório e não substituir em
Serviços bancários, Discreta a
C Baixa a média caso de ruptura do link compra =
serviços pessoais muito discreta
postergar gasto
Educação superior, Comprar aleatório e não substituir em
D tratamento médico, Baixa Muito discreta caso de ruptura do link compra =
serviços profissionais postergar gasto
Manutenção do lar, Comprar aleatório e substituir em caso
E manutenção do Baixa a média Muito discreta de ruptura do link compra = manter
veículo gasto
Pensões, previdência Discreta a Comprar aleatório e sem deslocamento
F Variada
privada muito discreta =manter gasto
A escolha aleatória pode ser feita considerando que a distribuição das atividades no protótipo
já é uma informação do modelo que atua direcionando os fluxos. Ademais, sabe-se que a
definição do raio de deslocamento dos agentes segue critérios diversos, como distância,
diferenciação de produtos, preços e serviços, proximidade dos locais de trabalho e das
unidades de ensino, de lazer ou da residência de amigos e parentes, aglomeração de
atividades, etc.
Além disso, verifica-se que várias redes econômicas e sociais possuem um grande número de
conexões com a vizinhança, mas também com regiões mais distantes. Atualmente, algumas
instituições essenciais de uma cidade, como aeroportos e centros administrativos, tendem a se
localizar cada vez mais afastados do centro, já excessivamente adensado. O aumento da
distância pode ser compensado pela melhora no acesso até elas e pelo desenvolvimento dos
meios de transporte, com a conseqüente diminuição do tempo de deslocamento (Hanneman &
Riddle, 2005).
Esta diversidade de critérios permite que a estratégia do agente não seja apenas o menor
tempo de deslocamento, a qual normalmente está associada aos bens de consumo essencial,
imediato e pouco diferenciados.
O modelo criado permite captar os links econômicos entre a ADA, AE e os 74 nós que
compõem a rede urbana, além disso, é possível descrevê-los em termos de acesso a cada setor
de atividade econômica.
232
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8.8 Avaliação dos danos Diretos
Definiram-se os danos diretos ao conteúdo dos domicílios por meio da aplicação de fatores de
susceptibilidade ao contato com a água a cada um dos 32 tipos de ativos considerados, os
quais foram definidos segundo o procedimento mostrado no item 8.2.1.7.
8.10
8.11
Onde:
DCnj,y = valor total dos danos do bem j a uma profundidade y;
Aj= quantidade do bem j;
Pj = preço do bem j;
dj = percentual de depreciação em condições “normais” do bem j;
dinjy = fator de suscetibilidade à inundação do bem j a uma profundidade y;
TDCny = valor total dos danos ao conteúdo do domicílio.
Sendo que:
0% ≤ dinj, y ≤ 100%,
1 ≤ j ≤ 32 e
y ≥ 0.
233
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O preço dos bens, como discutido no item 8.2.1.7, foi obtido por meio de levantamento já
feito por pesquisadores para o trabalho de Machado (2005) diretamente em estabelecimentos
comerciais e por meio da Internet.
A análise do valor dos danos aos automóveis deve ser feita de forma separada, pois, como se
trata de um bem móvel do domicílio, são necessárias algumas hipóteses adicionais.
Neste estudo, devido ao enfoque dado aos domicílios expostos ao risco, optou-se por também
utilizar a posse de veículos pelos domicílios como indicador do número de automóveis
atingidos. Porém foram incorporadas algumas hipóteses adicionais:
Como se trabalha com dois momentos da inundação - 10h e 17h - estima-se que neste
horário os automóveis utilizados pelos trabalhadores domiciliados na ADA e AE estão
fora da área de impacto direto;
Os veículos atingidos, portanto, são aqueles que não foram utilizados pelos
trabalhadores e restaram no domicílio.
Ao serem aplicadas estas hipóteses nos domicílios que compõem a ADA e AE, verificou-se
que 20% dos veículos permaneceriam na residência. Um percentual considerado adequado, e
próximo aos 25% definidos no estudo de EASTWOOD... (2009) baseado nas estatísticas do
Australian Bureau of Statistics sobre o número de veículos presentes nas residências no
horário útil.
234
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As possíveis avarias nos veículos e o valor de reparação foram estabelecidos em consultas a
oficina especializada. Lá, por meio de um programa computacional específico utilizado no
estabelecimento, foram simulados os possíveis danos aos veículos em diferentes
profundidades de inundação. Utilizou-se nas simulações três tipos de veículos: “popular”,
“médio” e “luxo”.
Tabela 8.22 – Valor dos danos dos veículos segundo sua categoria (em reais de 2000)
Altura da inundação (em m) Até R$12.090 R$12.090 a R$19.927 Mais de R$19.927
0,1 0 0 0
0,2 0 0 0
0,3 0 0 0
0,4 R$ 262 R$ 262 R$ 524
0,6 R$ 262 R$ 262 R$ 524
0,7 36% R$ 5.456 R$ 9.642
0,8 36% R$ 5.456 R$ 9.642
0,9 36% R$ 5.456 R$ 9.642
1,0 100% 100% 100%
1,2 100% 100% 100%
1,5 100% 100% 100%
1,8 100% 100% 100%
2,1 100% 100% 100%
Na análise dos danos à construção foram utilizadas as curvas de danos versus profundidade de
submersão - curvas DPS - estabelecidas em Machado (2005).
Estas curvas foram criadas a partir da estimativa de danos diretos de inundação nos
municípios de Itajubá e Santa Rita do Sapucaí. A pesquisa no vale do rio Sapucaí foi
elaborada mediante a aplicação de cerca de 1000 questionários para detalhamento dos
prejuízos decorrentes de grandes inundações em áreas recentemente sinistradas (pesquisa feita
no ano 2000). Foram pesquisados os setores habitacional, comercial e de serviços e as classes
sócio-econômicas A, B, C, D e E (Critério Brasil) (Machado, 2005). Os dados coletados
possibilitaram a construção de curvas de prejuízos causados por inundação em função da
profundidade de submersão segundo diferentes tipologias de uso do solo e renda.
235
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Os custos dos danos à construção foram estimados de acordo com as informações fornecidas
pelos entrevistados sobre os danos ocorridos (tipo de avarias, área ou número de itens
atingidos) e de estimativas dos custos de reforma.
A Figura 8.17 mostra uma das curvas estimadas em Machado (2005). As curvas à construção
foram definidas pela diferença entre a função de danos totais e a função de danos ao conteúdo.
180
160
140
DANOS (R$/m2)
120
100
80
60
40
20
0
0,0 0,4 0,8 1,2 1,6 2,0 2,4
PROFUNDIDADE (m)
A análise dos danos diretos às firmas não ocupa centralidade nesta pesquisa, que tem como
objeto de análise os domicílios. Entretanto, pela relação que existem entre estes dois atores,
nos resultados desta pesquisa são apresentadas algumas estimativas para o valor dos danos às
firmas, as quais foram definidas com o uso das curvas DPS de Machado (2005) para as
atividades econômicas.
As curvas foram derivadas da uma síntese de dados de danos reais e produzidas de acordo
com a estimativa dos prejuízos relacionados aos vários danos ocorridos declarados pelos
236
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entrevistados nas duas cidades pesquisadas (Itajubá e Santa Rita do Sapucaí). Em relação aos
prejuízos ao inventário (estoque de mercadorias), efetuou-se uma estimativa dos danos ao
estoque em lugar de se adotar o valor observado pelos entrevistados.
Ressalta-se que medir a vulnerabilidade implica em considerar três momentos: antes, durante
e após a inundação. Portanto, devem ser definidas as características do domicílio e de seus
moradores que interferem na sua capacidade de antecipar (pré-inundação), lidar, resistir (antes
e durante a inundação) e de se recuperar (pós-inundação) do evento. Esta multiplicidade de
aspectos evita que se reduza a vulnerabilidade – como fato social – a uma única causa (Watts
& Bolhe, 1993 apud Delor & Hubert, 2000).
239
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central e utiliza-se o fator velocidade (velocidade x profundidade) como critério de análise.
Em termos de ameaça ao acesso aos bens de consumo, a inundação, mesmo a baixa
profundidade e velocidade, já pode interromper fluxos significativos de pessoas e
mercadorias.
Para indicar o nível de exposição dos bens e pessoas à ameaça, definiram-se quatro
indicadores: exposição da construção da edificação, do conteúdo, das pessoas do domicílio e
do domicílio como um todo.
Finalmente, são mostrados indicadores que mostram como o domicílio atua no sentido
contrário ao da vulnerabilidade, ou seja, sua resiliência ao impacto. Dois indicadores são
propostos: de acesso à informação e de acesso à renda, os quais analisam aspectos
considerados relevantes nas estratégias de mitigação, de enfrentamento e de recuperação após
a inundação.
240
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Influência
mediadora:
Resiliência
Risco
A partir das hipóteses, definem-se os critérios ou atributos mais representativos para expressar
o risco. Eventualmente estes atributos são de difícil obtenção, exigem grande esforço de
cálculo ou não estão disponíveis para todas as localidades. Nessas situações, são definidos
indicadores que representem os critérios de análise. E é esta exatamente uma das
potencialidades do indicador: a possibilidade de incorporar parâmetros relevantes de forma
simplificada na análise.
241
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Como atesta Castro (2007), o indicador é uma variável que “indica”, reflete um atributo.
Quanto melhor a variável refletir o atributo e mais relevante for essa informação para a
tomada de decisão, mais bem escolhido será o indicador.
242
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de trabalho. Por exemplo, se pretende mensurar a vulnerabilidade das pessoas ao afogamento
durante a inundação, podem-se atribuir pesos diferenciados aos indivíduos expostos segundo
suas características físicas e etárias. Os procedimentos de ponderação mais usuais foram
descritos no item 4.5.2.
Neste estudo, utilizou-se, com freqüência, a ponderação por avaliação cardinal simples,
recorrendo-se, eventualmente, à avaliação direta por relações. No primeiro, o tomador de
decisão avalia cada critério segundo uma escala de medida predefinida (e.g.: de zero a cinco,
de zero a cem, etc.). Os valores são depois padronizados. A avaliação direta por relações é
uma variação do método, consiste em pedir ao tomador de decisão para avaliar a importância
relativa de cada critério em relação ao menos importante entre eles.
Em relação à escala, tanto na avaliação cardinal quanto no PAH, utilizou-se como padrão a
escala de um a nove, definida pelo próprio Saaty (1977), criador do PAH, como a mais
adequada após vários estudos de percepção do comportamento humano a estímulos e
respostas.
Esta escala foi adaptada em Gomes, Araya & Carignano (2004) com a incorporação das
escalas verbais correspondentes, o que facilita a análise para o tomador de decisão. Além
disso, ela possibilita tanto a comparação alternativa x critério, quanto a comparação critério x
critério.63 Nesta pesquisa, a fim de manter a homogeneidade nos procedimentos de
ponderação, sempre quando foi necessária a definição de pesos, buscou-se definí-los segundo
a intensidade de importância descrita e na Tabela 8.23 e considerando as definições
apresentadas na mesma.
63
Para definir entre um conjunto de alternativas, o tomador de decisão possui eixos de avaliação que direcionam
a análise. A partir destes eixos, ou critérios, é possível fazer a comparação entre alternativas (Gomes, Araya &
Carignano, 2004)
243
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Tabela 8.23 – Intensidade de importância da alternativa (ou variável) ou do critério em
escalas cardinais e verbais
Intensidade
de Comparação alternativa x critério Comparação critério x critério
importância
A alternativa i não contribui para o
0 -
critério c.
A alternativa i tem muito pouca O critério p tem importância igual ao
1
importância para o critério c. critério q.
A importância da alternativa i está A importância do critério p está entre
2 entre muito pouco importante e igual e levemente maior que a do
pouco importante para o critério c. critério q.
A alternativa i tem pouca A importância do critério p é levemente
3
importância para o critério c. maior que a do critério q.
A alternativa i tem alguma O critério p é mais importante que o
4
importância para o critério c. critério q.
A alternativa i tem forte O critério p é fortemente mais
5
importância para o critério c. importante que o critério q.
A importância da alternativa i está A importância do critério p está entre
6 entre forte e bastante forte para o fortemente maior e muito fortemente
critério c. maior que a do critério q.
A alternativa i tem muito forte O critério p é muito mais fortemente
7
importância para o critério c. importante que o critério q.
A importância da alternativa i está A importância do critério p está entre
8 entre muito forte e absoluta para o muito fortemente maior e absolutamente
critério c. maior que a do critério q.
A alternativa i tem e absoluta O critério p é absolutamente mais
9
importância para o critério c. importante que o critério q.
Fonte: Gomes, Araya & Carignano (2004: 150).
A única exceção à utilização da escala cardinal até nove na pesquisa, como mostrado na
Tabela 8.23, ocorreu com o indicador de restrição ao acesso às unidades de consumo, pois se
verificou a necessidade de uma escala mais ampla para mensurar a importância relativa das
atividades, a qual foi definida de zero a doze.
Primeiramente, considerou-se a agregação dos índices pelo produtório entre eles. Desta
forma, se um componente é nulo, o índice síntese é nulo. A formulação usual é dada pela
Equação 8.12.
Os indicadores utilizados para inferir os danos potenciais aos domicílios são apresentados de
forma esquemática na Figura 8.20.
245
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Riscos potenciais ao domicílio
da Família
no Acesso
de Acesso
Cada um destes aspectos é discutido nas seções seguintes por meio da criação de indicadores.
Nesta seção, são discutidos cinco índices de ameaça: dois de ameaça material (construção e
conteúdo), um de ameaça humana, um de ameaça ao acesso às unidades de consumo e
geração de renda e um último de ameaça de inundação, sem referência à sua intensidade.
246
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Entretanto, conforme explicado no item 4.1, a velocidade tem importância fundamental na
ocorrência de danos estruturais, logo, observou-se a necessidade de também incorporá-la ao
estudo. Além disso, mantém-se o princípio de que os indicadores se constituem em uma
referência sobre quais parâmetros são relevantes na magnitude dos danos, mesmo que,
eventualmente, por dificuldades técnicas ou tecnológicas, estes não sejam utilizados na
quantificação monetária do impacto.
Tabela 8.24 – Variação do dano médio à construção por metro quadrado de área construída
segundo a altura da inundação e o índice correspondente
Profundidade (em m) Dano / m2 (reais de 2000) Índice
0, 25 a 0,50 17,15 0,53
0,50 a 0,75 20,31 0,62
0,75 a 1,00 22,33 0,69
1,00 a 1,25 24,36 0,75
1,25 a 1,50 26,01 0,80
1,50 a 1,75 27,34 0,84
1,75 a 2,00 28,89 0,89
2,00 a 2,25 30,27 0,93
2,25 a 2,50 31,30 0,96
2,50 a 2,75 32,55 1,00
247
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Observa-se na Tabela 8.24 que se considera que a inundação atinge a edificação a uma
profundidade mínima de 0,25m de inundação nas vias públicas (Machado, 2005). Abaixo
deste valor a ameaça é considerada nula.
Segundo a mesma fonte, os danos parciais à estrutura, por sua vez, ocorreriam quando v ≥
2m/s e 7m2≥ v x y ≥ 3m2/s. Neste caso, o indicador varia linearmente de 0,95 (importância
entre muito forte e absoluta para o critério) a 1 (importância absoluta), segundo a Equação
8.13
Síntese do IAM1
248
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1,00 1,00
1,0 0,93 0,96
0,89
0,84
0,80
0,8 0,75
0,69
0,62
0,6 0,53
IAM1
0,4
0,2
0,0
0,25 0,5 0,75 1 1,25 1,5 1,75 2 2,25 2,5 2,75
Profundidade (m)
249
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água, a qual representa o dano ao conteúdo por domicílio. Estes valores foram obtidos a partir
de simulações feitas no protótipo com várias profundidades de inundação e classes
socioeconômicas (14.314 observações). A metodologia para definição do valor dos danos ao
conteúdo é descrita no item 8.8.1. Em termos sintéticos, foram utilizadas curvas de
suscetibilidade de cada bem estudado em contato com a água, sendo que a suscetibilidade
varia segundo a profundidade.
Observe ainda na Tabela 8.25 que o valor mínimo considerado de profundidade é 0,35m.
Antes deste nível são impactados bens que não foram incorporados na presente pesquisa (e.g.:
tapetes). Este ponto será retomado no indicador de suscetibilidade dos bens (item ii). No nível
máximo, de cerca de 2m, todos os ativos estudados já foram submersos pelas águas.
Síntese do IAM2
250
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1,2
0,97 1,00
0,94 0,95
1,0
0,81
0,8
IAM2 0,6
0,41
0,4
0,21
0,2
0,05
0,0
1,15 a 1,45
0,35 a 0,45
0,45 a 0,55
0,55 a 0,85
0,85 a 1,15
1,45 a 1,75
1,75 a 2,05
Mais de 2,05
Profundidade (m)
Sendo que:
v = velocidade do escoamento;
y = altura do escoamento;
hm = massa x altura. Utilizaram-se para hm os valores de 195 (adulto alto e pesado) e 77
(adulto baixo e leve).
64
Detalhes do estudo apresentado em RESCDAM... 2000 são mostrados no item 4.1.
251
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Resolvida a Equação 8.14, obtém-se o fator velocidade de 0,508 m2/s para adultos leves e de
0,980 m2/s para adultos pesados.
Empregou-se uma escala de importância dos parâmetros de zero a nove. O valor máximo
(nove) foi definido tendo como referencia a perda de estabilidade do agente mais pesado (hm
= 195). Utilizou-se o valor sete para a possível perda de estabilidade do adulto mais leve (hm
= 77). Os pesos foram padronizados tendo como base o maior valor da escala (nove). Para
definição dos índices entre os quatro parâmetros foi feita interpolação linear. A Tabela 8.26
mostra os resultados encontrados.
Síntese do IAH
Considera-se que, sempre que há inundação, as pessoas sofrem perturbações, mesmo a baixas
profundidades. Logo, o IAH assume os valores representados na Figura 8.23:
1,20
0,980; 1,00
1,00
0,508; 0,78
0,80 IAH = 0,4708yv + 0,5386
Deve-se observar que este aspecto da ameaça esta relacionado estritamente aos danos
indiretos: a inundação interfere na rede urbano-econômica formada por fluxos de bens e
pessoas, seja dificultando ou interrompendo links de acesso (trechos viários), seja paralisando
ou perturbando as atividades e os consumidores nos nós.
Como o enfoque deste texto é a ameaça sobre os domicílios, são definidos parâmetros da
ameaça que atuam sobre eles, restringindo o acesso dos seus membros constituintes às
unidades econômicas. A ameaça direta sobre as firmas é analisada, de forma simplificada e
indireta, por meio do indicador de vulnerabilidade ao acesso às unidades de consumo
preferidas, discutido no item v. Já a ameaça sobre os caminhos utilizados para se chegar até as
unidades de consumo, que se configura como perturbações ao sistema de transportes, não será
discutido especificamente nesta pesquisa. Considera-se que, em uma rede urbana complexa,
existirão possivelmente vários caminhos para se atingir o local de destino, logo, a inundação
dificilmente impediria completamente o seu acesso.
Neste contexto, uma vez que o domicílio seja atingido pelas águas, duas características da
inundação são centrais: a sua duração e a sua profundidade. A velocidade da inundação,
embora seja importante, é menos relevante, uma vez que um escoamento de pequena altura e
baixa velocidade já perturba o deslocamento dos moradores em direção às firmas.
A cheia pode se caracterizar como flash flood, com menos de uma hora de duração (USACE
(1998) apud Kelman & Spence, 2004), durar algumas horas ou ser de longa duração,
prosseguindo durante dias ou semanas. Se a cheia resultar em inundação de domicílios e
outros bens, quanto maior a sua duração, maior a perda de bem-estar pela dificuldade de
acesso ao consumo. Mas, como discutido brevemente no item 3.2.1.1, há dificuldades em
definir a forma da função “duração x perda de bem-estar” (em uma perspectiva do
consumidor, a que é adotada aqui) ou “duração x diminuição dos lucros” (perspectiva da
firma).
253
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Entretanto, ainda que se perceba a importância do fator duração da inundação, ele não é aqui
incorporado explicitamente no indicador. Discute-se neste trabalho a inundação de forma
pontual no tempo, considerando a sua existência ou não no momento em que o agente executa
uma rotina comportamental, como o consumo ou o deslocamento para o local de trabalho.
Observe na Tabela 8.27 que é dado o peso de oito à profundidade de 0,15 por considerá-la
entre muito forte e absoluta para restringir a acessibilidade. Afinal, neste nível, até mesmo o
acesso aos bens essenciais e ao trabalho estão comprometidos. Com 0,45m de profundidade
tem-se o peso máximo: considera-se que este nível é de importância absoluta para a restrição
ao acesso; neste momento o único acesso possível seria aos locais de abrigo, admitindo-se a
existência de defesa civil organizada e de planos de contingência razoavelmente bem
elaborados.
254
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Entre estes parâmetros, pressupõe-se um comportamento linear dos agentes entre a escolha de
consumir ou não, de faltar ou ir ao local de trabalho e à unidade de ensino e de buscar abrigo
ou permanecer na residência (Figura 8.24).
1 1,00
0,89
0,8 IAA = 0,3704y + 0,8333
0,6
IAA
0,4
IAA = 5,9259y
0,2
0,00
0
0 0,1 0,2 0,3 0,4
Profundidade (y)
Síntese do IAA
Em síntese, tem-se:
Se 0,45 > y ≥ 0,15, o IAA segue a Função 8.16, que varia segundo a profundidade da
inundação:
Se y ≥ 0,45, o IAA = 1.
Ressalta-se que estes parâmetros de ameaça incidem sobre a edificação localizada na área de
inundação, ou seja, independente do domicílio estar no primeiro pavimento ou não, ele sofre
ameaça na acessibilidade se a edificação onde ele se situa é atingida.
255
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velocidade, são importantes, mas, eventualmente, apenas o contato com o escoamento,
mesmo a profundidades baixas, pode ser suficiente para a análise de alguns processos ligados
à resiliência e à vulnerabilidade.
É o caso, por exemplo, da tipologia de família. Embora esta seja aqui considerada um atributo
de vulnerabilidade à inundação, tal vulnerabilidade não é aumentada em decorrência de
profundidades ou velocidades maiores de escoamento. Por outro lado, a vulnerabilidade das
pessoas à ocorrência de danos diretos, como ferimentos e afogamentos, por exemplo,
certamente possui um forte componente relacionado às características da inundação.
1
profundidade > 0 = 1
IAI
profundidade nula = 0
0
0 1
Síntese do IAI
Em síntese,
Observou-se a relação entre o valor dos danos e área construída considerando diferentes
profundidades de inundação e classes socioeconômicas do domicílio. A Figura 8.26 apresenta
os resultados obtidos.
14000
12000
Danos á construção (em reais de
10000
8000
6000 A
4000 B
2000)
2000 C
0 D
80 a 100
40 a 60
60 a 80
140 a 160
Abaixo de 40
100 a 120
120 a 140
180 a 220
220 a 260
acima de 260
160 a 180
Figura 8.26 – Valor médio dos danos à construção segundo a área construída e as
classes socioeconômicas (em reais de 2000)
Para padronização do indicador em índice, uma questão relevante é a definição dos valores
máximos e mínimos da área construída. No protótipo considera-se 30m2 como o valor mínimo
de área construída de um imóvel. Como, ao se analisar a distribuição da área dos imóveis no
protótipo, o primeiro percentil corresponde à área de 37m2, definiu-se, por proximidade, 40m2
como referência para definir a classe de limite inferior (primeira coluna da Tabela 8.28).
Por outro lado, como parâmetro de limite superior, tem-se a área de 260m2. Ela foi
estabelecida a partir da análise das pesquisas empíricas feitas por Machado (2005) nos
municípios de Itajubá e Santa Rita do Sapucaí e da norma ABNT NBR 12.721(ABNT, 2006),
que apresenta padrões construtivos. Como padrão, para os maiores imóveis, a área construída
varia entre 220m2 e 250m2. Considerando-se estes parâmetros e a distribuição das áreas dos
imóveis no protótipo, chegou-se ao valor de 260m2.
A Figura 8.27 apresenta a distribuição das áreas construídas dos imóveis no protótipo
utilizado para as simulações deste estudo.
25%
20%
Distribuição (em %)
15%
10%
5%
0%
80 a 100
40 a 60
60 a 80
100 a 120
120 a 140
acima de 260
140 a 160
180 a 220
220 a 260
Abaixo de 40
160 a 180
258
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Na ausência de informação sobre a área construída do domicílio é possível estimá-la como
feito nesta pesquisa (Equação 8.17), com a restrição de que é necessária a informação
adicional sobre a classe socioeconômica do domicílio.
Síntese do IEM1
0,45
0,37
0,4
0,29
0,21
0,2 0,14
0,0
80 < área ≤ 100
> 260
60 < área ≤ 80
área ≤ 40
40 < área ≤ 60
A questão central é como inferir a quantidade destes bens por meio de uma variável ou
indicador facilmente acessível ao planejador urbano ou ao gestor de políticas públicas. A
análise do microdados censitários do IBGE permite verificar a heterogeneidade que
caracteriza os domicílios brasileiros. Não existe um domicílio padrão relacionado a diferentes
classes de renda, o que limita a utilização da renda como proxy da posse de bens.
Intuitivamente, a renda parece ser determinante, mas há outros fatores, como o número de
moradores, o ciclo de vida da família e a renda per capita. Embora não tenha sido feito um
estudo estatístico apurado, uma simples análise exploratória dos microdados indicou que não
existe correlação significativa entre renda domiciliar ou per capita e a quantidade de bens do
domicílio (o IBGE divulga 10 tipos de ativos no domicílio).
A Tabela 8.30 representa uma matriz com as variáveis que apresentam as maiores correlações
observadas com a variável critério.
260
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Tabela 8.30 – Matriz de correlações entre variáveis (coeficiente r)
Total
Número Total de Total de
Anos Área Número Número de Classe ponderado
Variáveis de ativos ativos
de estudo do imóvel de cômodos moradores social de ativos
dormitórios (censo) (protótipo)
(protótipo)
Anos de
estudo 1,00 0,50 0,42 0,10 -0,17 0,57 0,55 0,52 0,41
Área de
imóvel 0,50 1,00 0,93 0,49 0,13 0,80 0,74 0,91 0,76
Número de
cômodos 0,42 0,93 1,00 0,54 0,15 0,63 0,69 0,85 0,71
Número de
dormitórios 0,10 0,49 0,54 1,00 0,60 0,39 0,46 0,63 0,55
Número de
moradores -0,17 0,13 0,15 0,60 1,00 0,10 0,12 0,23 0,21
Classe
social 0,57 0,80 0,63 0,39 0,10 1,00 0,74 0,87 0,71
Total de
ativos 0,55 0,74 0,69 0,46 0,12 0,74 1,00 0,84 0,68
(censo)
Total de
ativos 0,52 0,91 0,85 0,63 0,23 0,87 0,84 1,00 0,83
(protótipo)
Total
ponderado
de ativos 0,41 0,76 0,71 0,55 0,21 0,71 0,68 0,83 1,00
(protótipo)
Observa-se na Tabela 8.10 que a variável área construída é a que apresenta maior correlação
com o total de ativos, seja o número original, censitário, o estimado para o protótipo ou o
ponderado pelos preços de mercado de cada tipo de ativo.
A correlação entre área construída e conteúdo era esperada. Supõe-se que há uma relação
entre o número de bens e duas variáveis principais: o número de cômodos e a renda, a qual
define maiores áreas por cômodo (itens 8.2.1.5 e 8.2.1.7).65
A variável passível de captar estes dois efeitos - número de cômodos e renda - é a área
construída. De fato, o índice de Pearson de correlação linear entre o valor dos danos ao
conteúdo e a área construída do imóvel é de “0,79”, indicando relacionamento positivo e não
desprezível entre as duas variáveis. A metodologia detalhada de danos ao conteúdo utilizada
nesta pesquisa encontra-se na seção 8.8.
65
A posse de bens não necessariamente está diretamente associada à renda, pois, com as atuais facilidades de
crédito, classes de menor renda cada vez mais se inserem no mercado. Ademais, pode-se ter bens altamente
depreciados nos domicílios. De forma indireta, como a renda relaciona-se com a área média por cômodo, é de se
supor que quanto maior o cômodo, maior sua capacidade como reservatório de bens, logo, maior tende ser o
número de artigos ali colocados.
261
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Escolhida a variável área construída como proxy do conteúdo, o segundo passo foi verificar
seu comportamento em relação ao valor dos danos causados pela inundação. A simulação foi
feita considerando o impacto de diferentes profundidades de escoamento sobre o conteúdo do
domicílio e, com a finalidade de retirar da análise a influência da qualidade e do preço dos
bens, definiram-se, para todos os domicílios, ativos de qualidade e preço médios (Figura
8.29).
20000
Danos ao conteúdo (em reais de 2000)
18000
16000
14000
12000
10000
8000
6000
4000
2000
0
40 a 60
60 a 80
80 a 100
100 a 120
120 a 140
140 a 160
180 a 220
220 a 260
acima de 260
Abaixo de 40
160 a 180
Área construída do imóvel (em m2)
Figura 8.29 – Valor médio dos danos ao conteúdo segundo a área construída do
domicílio (em reais de 2000)
A exemplo do IEM1, foi feita a padronização com base na classe de área construída de 220 a
260m2, dando origem ao índice de exposição do conteúdo do domicílio à inundação IEM2.
Síntese do IEM2
Em síntese,
262
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
1,20
1,00 1,00
1,00
0,83 0,88
0,80 0,74
0,66
0,57
IEM2 0,60 0,49
0,39
0,40 0,29
0,15
0,20
0,00
40 a 60
60 a 80
80 a 100
100 a 120
120 a 140
140 a 160
180 a 220
220 a 260
acima de 260
Abaixo de 40
160 a 180
Área construída do imóvel (em m2)
Como limite superior, tendo como referência os mesmos microdados do IBGE, utiliza-se o
número de moradores presente no percentil 0,9: seis habitantes por domicílio. Desta forma,
evita-se a utilização de um valor extremo, pouco observável empiricamente. Verificou-se que
Belo Horizonte possuía, no ano 2000, 94% dos domicílios com até seis moradores, sendo que
a média é de 3,6 moradores e a moda de quatro moradores. A Figura 8.31 apresenta a
distribuição de moradores por domicílio em Belo Horizonte no ano 2000.
Síntese do IEH
264
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Se o domicílio é atingido pela inundação, o IEH assume os valores apresentados Figura
8.32, que variam segundo o número de moradores do domicílio:
Importância
Exposição do domicílio Importância
relativa (IED)
Edificação não está exposta
0 (nula) 0,00
Nenhuma importância para o critério
Edificação está exposta, mas domicílio não se encontra
5 (forte) 0,56
no primeiro pavimento
Edificação está exposta e o domicílio se encontra no
9 (absoluta) 1,00
primeiro pavimento
265
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Síntese do IED
Para se mensurar a importância da qualidade da construção sobre o valor dos danos, foram
feitas simulações no protótipo com o uso das funções de danos unitários à construção para
266
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
cada classe socioeconômica e diferentes profundidades de inundação (Figura 8.33). Como
nos indicadores anteriores relacionados à construção, os danos foram definidos a partir das
curvas DPS propostas em Machado (2005). A utilização dos danos unitários permite excluir
da análise o efeito da área construída na magnitude dos danos. As profundidades apresentadas
na Figura 8.33 referem-se ao ponto médio de classes de profundidade escolhidas.
50,00
45,00
40,00
Dano / m 2 de área contruída
35,00
30,00 A
25,00 B
20,00 C
15,00 D
10,00 E
5,00
0,00
0,38 0,63 0,88 1,13 1,38 1,63 1,88 2,13 2,38 2,63
Profundidade (em m)
Figura 8.33 – Valor dos danos à construção por metro quadrado de área construída
segundo as classes socioeconômicas e profundidade da inundação (em reais de
2000)
A Figura 8.33 mostra que, para todas as profundidades de inundação, o maior valor de danos
por unidade de área construída do imóvel é observado na classe A. Ela apresenta uma curva
que se destaca cada vez mais das demais com o aumento da profundidade. Depreende-se que,
embora a qualidade da construção na classe A seja elevada, o que, teoricamente, representa
maior resistência ao impacto, os itens construtivos, por possuírem valores de mercado
também mais elevados, possuem danos com valores de reparação mais altos. Além disso, a
construção pode apresentar componentes de acabamento que não são usuais nas classes B, C,
D ou E.
O procedimento seguinte foi a obtenção da média, para cada classe socioeconômica, dos
danos unitários à construção. Estes foram, então, padronizados para a base 1 considerando a
variação de seu valor em relação ao maior valor encontrado (obtido na classe A). Chegou-se
ao indicador de valor da susceptibilidade da construção à inundação (IVM1) (Figura
8.34).
267
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
1,20
1,00
1,00
IVM1
0,80 0,70 0,72
0,66
0,61
0,60
0,40
0,20
0,00
A B C D E
Classe socioeconômica
Como já observado na Figura 8.33, a Figura 8.34 mostra que a classe socioeconômica A
apresenta o indicador máximo de valor da suscetibilidade à construção, igual a 1. Os
domicílios da classe B, C, D e E apresentam, em média, respectivamente, 70%, 66%, 61% e
66% do valor dos danos unitários obtidos pelas edificações da classe A. Observa-se que a
classe E possui o segundo valor mais elevado em conseqüência do menor padrão de qualidade
da construção.
Síntese do IVM1
Na análise dos microdados censitários (IBGE, 2000), não foi possível verificar uma variável
fortemente relacionada à posse de um tipo de bem específico, o que parece indicar a
influência de vários aspectos no perfil de bens de um domicílio, como estilo de vida, ciclo de
vida da família, número de adultos e de crianças.
Entretanto, ante a análise da literatura, as hipóteses deste estudo consideram que a classe
socioeconômica, que representa fortemente o poder aquisitivo do domicílio, tem importância
central no perfil de bens adquirido. E, ainda que a área construída, utilizada como indicador
de exposição da construção e dos bens à ameaça, e a classe socioeconômica apresentem alta
correlação, o que poderia tornar redundante o uso desta última variável, optou-se por
268
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
incorporá-la na pesquisa exatamente para reforçar o componente econômico que existe na
definição das preferências.
A Figura 8.35 mostra o valor médio dos danos ao conteúdo por unidade de área construída,
segundo as classes socioeconômicas, obtido nas simulações do protótipo. Observe que a
classe A1 possui menor valor de danos do que a classe A2 e as classes B, comportamento que
pode ser explicado pela maior área construída média dos domicílios desta classe (os bens se
encontram mais espalhados no domicílio). Supõe-se, portanto, que, embora quanto maior a
área, maior a tendência a possuir bens, esta relação não é linear e tende-se a se tornar menos
elástica a partir de certo tamanho do cômodo. Na Figura 8.36, que mostra as informações de
danos ao conteúdo, total e por m2 de área, padronizadas para a base 1, observa-se de forma
mais clara estas observações.
140
Danos ao conteúdo por m2 de área
construída (em reais de 2000)
120
100
80
60
40
20
0
A1 A2 B1 B2 C D E
Classe socioeconômica do domicílio
Figura 8.35 – Valor dos danos ao conteúdo por m2 de área construída segundo as
classes socioeconômicas e profundidade da inundação (em reais de 2000)
269
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
1,20
0,80
reais de 2000)
0,60
0,40
0,20
0,00
Danos/m2
A1 A2 B1 B2 C D E
Classe socioeconômica do domicílio Danos totais
Figura 8.36 – Valor dos danos ao conteúdo total e por unidade de área construída
segundo as classes socioeconômicas padronizados com base 1
Síntese do IVM2
Em síntese,
1,20
IVM2 0,97 1,00
1,00 0,93
0,80 0,72
0,58
0,60
0,40 0,34
0,26
0,20
0,00
A1 A2 B1 B2 C D E
Classe socioeconômica do domicílio
Neste sentido, observaram-se na literatura três grupos dominantes de fatores que interferem na
vulnerabilidade dos indivíduos no momento do impacto (Jonkman & Kelman, 2005): 1)
fatores comportamentais; 2) aspectos associados à atividade desenvolvida pelo agente ou ao
local onde ele se encontrava no momento da cheia e 3) atributos físicos do morador
considerados, como idade e condição física. O IVH1 relaciona-se ao terceiro grupo, uma vez
que os dois anteriores possuem um padrão probabilístico ligado a comportamentos individuais
de difícil mensuração.
271
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Vulnerabilidade humana dos moradores
do domicílio
Percepção Propensão ao
Mobilidade Dependência desenvolvimento
do risco
de doenças
8.18
Sendo:
= índice de vulnerabilidade dos moradores domicílio j associado às suas
características;
vi,j = número total de atributos de vulnerabilidade i encontrados no domicílio j, sendo que i
varia de 1 a 11, segundo a Tabela 8.32;
wi = peso do atributo, apresentado na segunda coluna da Tabela 8.32;
Observe na Equação 8.18 que não é feito referência ao número total de moradores do
domicílio em relação àqueles que possuem atributos de vulnerabilidade. Esta relação de
272
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
dependência que tende a existir entre os membros é captada pelo indicador tratado na seção
seguinte, iv, que discute a tipologia de família.
Os dados do protótipo, que representam uma amostra de 14.314 domicílios, indicam que
apenas cerca de 30% deles não apresentam pelo menos um dos atributos de vulnerabilidade
mencionados. Portanto, há uma grande probabilidade de que um domicílio possua um “fator”
intensificador de sua vulnerabilidade humana (70%).
Em relação aos pesos apresentados na Tabela 8.32 são necessárias algumas considerações.
Utilizou-se um critério misto. Como todos os atributos estão presentes nos quatro critérios de
avaliação, foi analisada a importância de cada um deles em relação aos outros atributos e para
cada um dos critérios. O método, de avaliação direta cardinal, pode ser definido como de
avaliação direta por relações, segundo Pomerol & Barba-Romero (1993). Utilizou-se uma
escala de um a nove para indicar a importância de cada atributo (padronizados em base 1 na
Tabela 8.23). Em seguida, definiu-se, pelo Processo Analítico Hierárquico - PAH, o peso de
cada critério. Para padronização dos atributos e critérios, utilizou-se a divisão pela soma. As
Tabela 8.33 e Tabela 8.34 mostram os pesos encontrados depois de padronizados.
273
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Tabela 8.34 – Matriz normalizada de comparação dos critérios de segundo nível
Peso (média
Locomo- Propensão a
Dependência Percepção dos valores na
ção doenças
linha)
Locomoção 0,58 0,60 0,50 0,47 0,54
Dependência 0,19 0,20 0,20 0,35 0,24
Percepção 0,12 0,10 0,10 0,06 0,09
Propensão a doenças 0,12 0,10 0,20 0,12 0,13
Portanto, o peso final de cada atributo é estimado segundo uma ponderação dupla: multiplica-
se o valor do peso individual (Tabela 8.33) pelo peso do respectivo critério (Tabela 8.34).
Observe que a ponderação segue hipótese amplamente observada na literatura de que os
idosos e as crianças são os mais vulneráveis no momento de ocorrência da inundação. Os
idosos tendem a possui menor capacidade de mobilidade e percepção do perigo. As crianças
de três a sete anos possuem relativa mobilidade, mas pouca autonomia e não percebem
claramente o risco; quando possuem menos de três anos, elas são muito pouco autônomas e
perceptivas em relação ao risco e possuem mobilidade muito baixa.
Uma das vantagens do PAH é a de possibilitar avaliar o grau de consistência das respostas,
por meio do indicador GC (parâmetro quantitativo que mede a coerência lógica sobre o
julgamento). O valor de GC menor ou igual a 10% indica avaliação suficientemente
consistente. Neste estudo, encontrou-se um grau de consistência das respostas de 0,0668.
Considera-se que o limite do IVH1 é 1, logo valores superiores a 1, caem neste limite. Desta
forma ele já apresenta padronização de 0 a 1, não necessitando de padronização posterior.
Síntese do IVH1
se = 0 → IVH1, j = 0;
se ≤ 1,00 → IVH1, j= ;
274
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
monoparentais e domicílios com muitas crianças, são mais vulneráveis à pobreza. Por outro
lado, famílias sem filhos tendem a apresentar melhor posição social.
Se a família pode ter reflexo na vulnerabilidade, ela também atua na resiliência ao impacto
(GUIDELINES..., 2004). Como descrito em Montali (2000), a família usualmente acaba por
atuar como um “amortecedor” de crise e muitas vezes se vê obrigada a desempenhar o papel,
embora imperfeitamente, de atenuar a carência de políticas sociais por parte do Estado e
acolher os desempregados mais ou menos invisíveis socialmente. No caso de uma inundação,
a atuação da família como “amortecedora” de impacto é claramente observada: muitas vezes,
mesmo os parentes mais distantes prestam assistência às vítimas, acomodando-as ou doando
alimentos e roupas. Em decorrência dos indivíduos usualmente se agruparem em famílias e
pelas particularidades que as evolvem, decidiu-se incorporar a família na análise do risco de
inundação.
Desta forma, um agente que tenha teoricamente uma alta vulnerabilidade pode, em
decorrência dos elos familiares, aumentar a sua capacidade de resiliência ao desastre. A
percepção do risco, a escolha de estratégias de sobrevivência e a mobilidade são atributos
individuais, mas também do pequeno grupo de pessoas que se apóiam e se interagem durante
um desastre. O indicador em foco difere do IVH1 por analisar a vulnerabilidade da família
como um todo e não de seus membros individualmente.
275
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Vulnerabilidade humana da família
276
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Se os três primeiros critérios podem ser considerados de percepção mais direta, o quarto
necessita de informações adicionais. Ele tem como parâmetros de análise estudos que
discutem os arranjos famílias e sua vulnerabilidade social ou, ao contrário, sua resiliência à
pobreza (Golgher, 2004; Montali, 2000). Estes estudos indicam que as famílias
monoparentais, especialmente aquelas chefiadas por mulher, tendem a possuir menor renda
per capita do que as famílias nucleares ou conjugais.
Se, por um lado, esta inserção feminina no mercado de trabalho diminui os laços de
dependência e permite que a mulher tenha acesso à renda e à possibilidade de chefiar a
família após o divórcio, abandono ou morte do cônjuge, ela ainda tende a ser desigual, com as
atividades da mulher circunscritas a determinadas tarefas e setores (Bruschini, 1994 apud
Montali, 2000). Estudo da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Fundação Seade)
atesta que as famílias chefiadas por mulheres apresem nível acentuado de pobreza
(FUNDAÇÃO..., 1993). Como ilustração, é mostrada a diferença entre a média e a mediana
da renda domiciliar per capita dos domicílios chefiados por mulheres e homens dos
microdados censitários de Belo Horizonte para o ano 2000 (IBGE, 2000) (Tabela 8.35).
Foram analisados 63.280 domicílios.
Como informação completar, mostra-se ainda a mediana da renda domiciliar total e per
capita, segundo a tipologia de família, encontrada nos domicílios do protótipo (Tabela 8.36).
Tabela 8.35 – Média e mediana do rendimento domiciliar per capita, segundo sexo do
responsável pelo domicílio - Belo Horizonte, 2000
(em reais de 2000)
Responsável pelo domicílio
Homem Mulher
Rendimento Média 706,50 608,08
domiciliar per capita Mediana 300,49 268,46
Fonte de dados: IBGE (2000).
66
Mas, especialmente em famílias de baixa renda, esta ruptura do padrão cultural estabelecido ainda não é
inócua e ela pode significar para a mulher-cônjuge a quebra da reciprocidade da divisão sexual do trabalho
esperada e, para o homem, a incapacidade de cumprir seu papel, levando-o ao alcoolismo ou ao abandono da
família (Montali, 2000).
277
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Tabela 8.36 –Mediana do rendimento domiciliar total e per capita médio, segundo tipologia
de família - Protótipo, 2000
(em reais de 2000)
Valor
(em reais de 2000)
Tipologia de família
Renda Renda per
domiciliar capita
1 Casal sem filhos com responsável até 64 anos 1022,27 499,81
2 Casal sem filhos com responsável com 65 anos ou mais 1056,25 485,09
3 Casal com filhos menores 816,15 199,82
4 Casal com responsável até 64 anos e com todos os filhos maiores 1746,31 390,11
5 Casal com responsável com 65 anos ou mais com todos os filhos maiores 1704,04 384,6
6 Mulher até 64 anos só 599,47 599,47
7 Mulher com filhos 742,92 207,62
8 Mulher e outros 1060,02 410,22
9 Homem até 64 anos só 700,64 700,64
10 Homem e outros 972,44 375,24
11 Idoso/idosa só 380,52 380,52
12 Homem com filhos 995,09 303,43
Ordem
Tipologia de família Renda Renda per
domiciliar capita
1 Casal sem filhos com responsável até 64 anos 8 10
2 Casal sem filhos com responsável com 65 anos ou mais 9 9
3 Casal com filhos menores 5 1
4 Casal com responsável até 64 anos e com todos os filhos maiores 12 7
5 Casal com responsável com 65 anos ou mais com todos os filhos maiores 11 6
6 Mulher até 64 anos só 2 11
7 Mulher com filhos 4 2
8 Mulher e outros 10 8
9 Homem até 64 anos só 3 12
10 Homem e outros 6 4
11 Idoso/idosa só 1 5
12 Homem com filhos 7 3
Fonte de dado do protótipo: IBGE (2000).
Embora as informações da Tabela 8.36 sejam apenas exploratórias, elas podem indicar
algumas tendências observadas também na literatura sobre o tema. O ranking apresentado na
parte inferior mostra que há diferenças significativas na análise caso se utilize a renda
domiciliar total ou a renda per capita. Considerando a renda per capita, observa-se que as
tipologias 3, 7 e 12 são aquelas que apresentam o menor valor da mediana. Os motivos podem
estar associados ao elevado número de dependentes em relação ao de provedores de renda no
domicílio e, como já mencionado, ao maior nível de pobreza encontrado nas famílias
monoparentais, especialmente aquelas chefiadas por mulheres (tipologias 7 e 12). Por outro
lado, os arranjos familiares de renda per capita mais elevada são aqueles em que o agente
mora só e encontra-se na faixa de etária de maior atividade econômica. Observe, em
comparação com os outros indivíduos que moram sozinhos, os baixos proventos da população
idosa.
278
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Ressalta-se que há estudo executado pelo Cedeplar, disponível na Internet, onde se encontra a
distribuição das tipologias de família em todas as unidades de planejamento de Belo
Horizonte e nos municípios que compõem o colar metropolitano de Belo Horizonte e a
Região Metropolitana de Belo Horizonte (Golgher, 2004). Desta forma, é possível utilizar
estas informações caso se deseje mapear uma comunidade atingida por inundação segundo a
tipologia de família. Além disso, os microdados censitários, disponíveis para todos os
municípios do Brasil, embora não mostrem diretamente a tipologia da família do domicílio,
possuem as variáveis necessárias para que a mesma seja definida.
Foi então tentado um método de ponderação mais direto, onde o grau de importância de cada
atributo é medido em uma escala cardinal de zero a nove, segundo definições contidas na
Tabela 8.23, considerando os quatro critérios conjuntamente. Avaliaram-se os resultados
encontrados como mais satisfatórios teoricamente ante a percepção da literatura sobre o tema.
Os dados foram padronizados tendo como base o maior valor da escala, nove. A Tabela 8.37
mostra os resultados encontrados, além da informação sobre a distribuição das tipologias de
família no protótipo.
279
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Síntese do IVH2
Considera-se que os locais de consumo preferidos pelo agente são aqueles escolhidos no
período anterior ao da inundação, o da “normalidade cotidiana”. A impossibilidade de acesso
a estes locais por um evento, levando à escolha de pontos de consumo alternativos ou ao
retardamento da demanda, implica em perda de bem-estar.
Cada agente possui uma cesta de consumo preferida. As preferências são definidas em termos
de tipo de bem, quantidade, preço e qualidade. Na busca da satisfação de suas necessidades,
os agentes escolhem seus pontos de consumo: padarias, açougues, supermercados, lojas de
eletrodomésticos, etc. Cada domicílio está conectado a pontos de consumo em função das
escolhas de seus membros. Há, portanto, uma matriz de informação que relaciona, para cada
domicílio, um vetor de localidades (Equação 8.19):
8.20
Sendo que:
O IVA1bruto varia entre zero e um. Quando IVA1 assume o valor de um, significa que todas as
unidades de consumo preferidas no domicílio foram atingidas pelas águas da inundação; o
valor zero representa o oposto, que nenhuma delas foi diretamente impactada. O menor valor
possível para IVA1, excluindo o valor nulo, ocorre quando apenas uma unidade de consumo é
atingida e esta possui o menor peso relativo (0,002).
Ao se definir um peso wf para cada tipo de atividade, adota-se a hipótese de que o reflexo no
bem-estar do consumidor é diferente segundo o tipo de bem ofertado pela unidade atingida:
A Tabela 8.38 apresenta o peso dos três critérios, os quais são utilizados para definição da
ponderação final do gasto. A essencialidade ou importância do bem para o bem-estar do
consumidor é medido em três níveis: essencial (3), necessário (2) e luxo (1). Consideram-se
quatro padrões de distribuição de oferta: contígua (1), discreta (2), muito discreta (3) e em
rede (4). Em relação ao nível de substituibilidade do bem, foi feita uma discretização fina, em
uma escala de nove níveis. Para isto utilizou-se uma avaliação direta por referência.
A ponderação final sobre o tipo de gasto (ou bem) foi feita avaliando-se os três critérios
conjuntamente, mas considerando uma maior importância relativa da substituibilidade em
relação aos outros critérios. Devido às várias nuances existentes entre as tipologias de
despesa, verificou-se a impossibilidade de definí-las em uma escala de zero a nove, como foi
feito nos indicadores anteriores, e optou-se por considerar o valor máximo igual quatorze,
segundo a percepção obtida nas análises de importância relativa. O peso bruto individual w
foi padronizado tendo como base a somatória dos pesos, originando os pesos relativos
mostrados na Tabela 8.39.
281
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Tabela 8.38 - Tipologias de despesas e ponderação, segundo as características de
demanda e oferta do bem consumido
Nível de
Tipologia Importân- Peso bruto
substitui - Oferta Exemplo de bens
(f) cia (w)
bilidade
G3.1.1 1 1 1 1 Periódicos, livros e revistas não didáticos
G3.1.2 1 1 1 1 Fumo
G2.1.3 1 2 1 2 Gasolina e Álcool - veículo próprio
G1.1.3 1 3 1 3 Remédios
G2.2.3 1 2 2 3 Artigos de limpeza
G1.1.1 2 3 1 4 Alimentação (dentro e fora do domicílio)
G2.1.4 2 2 1 4 Instr. e prod. de uso pessoal (e.g.: maquiagem)
G1.2.4 2 3 2 5 Material de tratamento (e.g.: seringa, termômetro)
G3.3.4 2 1 3 5 Aquisição de veículos
G3.2.4 4 1 2 6 Jóias e bijuterias
G2.2.4 3 2 2 7 Eletrodomésticos, som e TV
G3.R 3 1 4 8 Viagens (e.g.: avião, ônibus)
G3.1.3 5 1 1 9 Cabeleireiro e manicuro
G3.2.2 5 1 2 9 Diversões e esportes
G1.2.3 6 3 2 10 Aluguel
G2.3.4 6 2 3 10 Serviços profissionais (cartório, advog., cont.)
G2.3.1 7 2 3 11 Cursos médio, superior, etc.
G1.3.4 8 3 3 12 Serviços de cirurgia, hospitalização e consulta médica
G2.R 8 2 4 13 Serviços e taxas: Telefone fixo e celular
G1.R 9 3 4 14 Transporte urbano, energia, água, gás
282
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
No protótipo não existem atividades classificadas como O11, O12, O15, O16, O17e O20 na
área diretamente impactada e érea de entorno (ou seja, firmas que ofertam bens classificados
como gastos G11, G12, G15, etc.). Considerando que em vários municípios as inundações
atingem apenas uma parcela da cidade, e que dificilmente todas as unidades de consumo do
domicílio são impactadas diretamente pela inundação, considera-se que o valor máximo do
IVDA1 ocorre quando o índice bruto apresentado na Equação 8.21 atinge o valor de 0,90.
0,90; 1,00
1,00
0,90
0,80
0,70
0,60
IVDA1 0,50
0,40
0,30
0,20 IVAA1 = 1,1132 IVA1bruto
0,10
0,00
0,00 0,20 0,40 0,60 0,80 1,00
IVDA1bruto
Síntese do IVA1
8.22
283
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Ressalta-se que, em uma avaliação rápida dos danos feita por gestores ou planejadores
urbanos, dificilmente será possível definir as unidades de acesso atingidas de cada domicílio,
salvo por entrevistas diretas após o avento. Espera-se, entretanto, que os resultados desta
pesquisa permitam verificar tendências que relacionam comportamentos usuais dos agentes
com a possibilidade de restrições no acesso (e.g.: padrões de consumo segundo a distância,
consumo na vizinhança, etc.). Os critérios para definição destas conexões e sua possível
incorporação a outros estudos foram discutidos no item 8.2.3.2.
8.23
Em que:
Sendo wt ≤ 1 8.24
Onde:
Aint: quantidade de locais de trabalho inundados do agente t, sendo que t pode variar de 0 a n
segundo o número de trabalhadores ocupados no domicílio;
At: quantidade de locais de trabalho do agente t;
wt: peso relativo da renda auferida nos locais de trabalho do agente t para o domicílio;
WAt = rendimento auferindo pelo agente t nos locais de trabalho.
Observe na Equação 8.23 que se considera a existência de vários locais de acesso à renda no
domicílio. Ao contrário do modelo de um único chefe provedor, torna-se cada vez mais usual
a participação de mais de um integrante do domicílio na provisão de bens e serviços para o
domicílio (Montali, 2000). Os microdados censitários de 2000, por exemplo, mostram que,
em Belo Horizonte, a maior parte dos domicílios possui mais de uma pessoa trabalhando
(51,4%) (IBGE, 2000). Em Belo Horizonte, a média é de 1,7 trabalhadores ativos por
284
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
domicílio e a mediana de dois. Verificam-se casos extremos, embora raros, de oito a nove
trabalhadores (doze ocorrências). O protótipo segue o mesmo padrão de Belo Horizonte:
média de 1,7 trabalhadores ativos por domicílio, mediana de dois, e máximo de nove (uma
ocorrência).
O local de acesso à renda é ponderado segundo seu nível de relevância para a manutenção do
bem-estar do domicílio (wt na Equação 8.24), o qual é medido pelo valor do rendimento
usufruído no local em relação ao total recebido no domicílio (Equação 8.24).
O índice assume o valor máximo quando todos os locais de trabalho dos moradores do
domicílio são inundados. Esta situação certamente será mais freqüente nos domicílios em que
há apenas um local de aquisição de renda associado. Neste caso, a vulnerabilidade se expressa
também pela dependência do domicílio em relação a uma única fonte de renda. O valor
mínimo, zero, indica que nenhum local de emprego dos agentes do domicílio foi atingido
pelas águas da inundação ou que não há trabalhadores ativos na residência.
Sabe-se que apenas em um cenário grave de inundação pode-se ter a efetiva perda de renda
pelo evento. Entretanto, o IVA2 indica se os trabalhadores possuem postos de trabalho em
firmas que apresentam risco, o que representaria uma vulnerabilidade adicional
Síntese do IVA2
Em síntese,
IVA2 é calculado segundo a Equação 8.23, que considera se os locais de trabalho dos
moradores do domicílio foram atingidos ou não.
285
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Nesta seção são considerados dois fatores fundamentais na resiliência ao impacto: o acesso à
informação e o acesso à renda. O primeiro possibilita o conhecimento mais adequado sobre o
risco e as estratégias para mitigá-lo, o segundo permite os meios financeiros para implantar as
medidas de controle pré-evento e a reconstrução pós-inundação.
Aprimoramento da
percepção do risco
Acesso à Acesso à Diminuição da
educação informação vulnerabilidade
Aprimoramento das
estratégias de
enfrentamento e
recuperação
A padronização foi definida tendo como base o valor máximo, igual a nove. A Tabela 8.40
mostra o nível de escolaridade, a sua ordem de importância para o critério e sua distribuição
de freqüência entre os domicílios do protótipo.
Ultimo nível de
% de
escolaridade Escala Definição Padronização
domicílios
freqüentado
Nunca freqüentou Nenhuma importância para
0 0,00 3,61
escola o critério
Alfabetização de
2 Importante para o critério 0,22 0,24
adultos
Forte importância para o
Fundamental 5 0,56 46,19
critério
Muita importância para o
Médio 7 0,78 26,69
critério
Absoluta importância para o
Superior 9 1,00 21,22
critério
Mestrado ou Absoluta importância para o
9 1,00 2,05
doutorado critério
287
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Síntese do IS1
Em síntese,
1,00 1,00
1,0
0,9
0,78
0,8
0,7
0,6 0,56
IS1 0,5
0,4
0,3 0,22
0,2
0,1
0,00
0,0
288
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Medidas de
mitigação
Acesso à Capacidade
Diminuição da
renda financeira
vulnerabilidade
Capacidade de
recuperação
O primeiro passo é calcular o indicador de renda excedente. Esta pode ser medida pelo
montante de renda disponível para cada domicílio para obtenção de bens supérfluos, ou seja,
os gastos em bens de luxo definidos neste estudo. Desta forma, supõe-se que é possível aos
agentes do domicílio abrir mão do consumo imediato destes bens a fim de adquirir renda para
obter os artigos necessários para a recuperação mais rápida possível do nível de bem-estar
anterior ao momento da inundação.
Optou-se, entretanto, por utilizar a renda domiciliar como proxy da renda excedente, ou seja,
da capacidade financeira, e não os gastos de luxo. Em primeiro lugar porque a variável “renda
domiciliar” é de obtenção mais direta do que a variável “gastos com luxo”; em segundo,
porque a definição de “luxo” é subjetiva e depende das características de cada consumidor e,
em terceiro, porque gastos definidos como essenciais, como, por exemplo, gastos em
alimentação, podem também representar gasto supérfluo (e.g.: idas a restaurantes de luxo).
Ademais, verificou-se que o índice de Pearson de correlação entre gastos com bem de luxo e
renda domiciliar é de 1,00.67
67
Além da renda domiciliar total foi analisada também a renda domiciliar per capita, entretanto verificou-se que
a primeira possui maior relação com variáveis que indicam capacidade financeira, como gastos com bens de luxo
e número de ativos no domicílio.
289
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Tabela 8.41 – Classes socioeconômicas e transformação no IS2
Importância
Classe de rendimento domiciliar Importância
relativa (IS2)
(em reais de 2000)
A1 > 6.220,45 9 1,00
A2 3.725,93 - 6.220,45 9 1,00
B1 2.236,31 - 3.725,93 7 0,78
B2 1.297,85 - 2.236,31 6 0,67
C 675,73 - 1.297,85 4 0,44
D 315,59 - 675,73 2 0,22
E < 315,59 1 0,11
Síntese do IS2
Em síntese,
Classe socioeconômica
E D C B2 B1 A1 Total
Nunca freqüentou escola 4% 2% 0% 0% 0% 0% 6%
Escolaridade
Alfabetização de adultos 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
Fundamental 27% 26% 3% 3% 1% 0% 60%
Médio 6% 10% 2% 3% 2% 0% 23%
Superior ou pós-graduação 1% 1% 1% 2% 4% 1% 11%
TOTAL 38% 39% 6% 8% 8% 2% 100%
Observe na Tabela 8.42 que 60% dos domicílios têm nível fundamental de escolaridade e
77% situam-se nas classes D ou E. No cruzamento das duas informações, mais da metade dos
domicílios atingidos (53%) encontram-se nas classes D ou E e possuem escolaridade
fundamental. Estas informações mostram ainda que, no caso específico do protótipo, a área
290
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
atingida pela inundação apresenta condições bastante precárias de acesso à educação e à renda
e, portanto, uma tendência de baixa resiliência segundo os aspectos discutidos nesta pesquisa.
Uma correlação entre acesso à renda e à educação formal pode ser verificada: 78% segundo o
índice de Pearson. Partindo destas análises e dos índices de resiliência específicos discutidos
nos itens i e ii, definiram-se pesos, de zero a nove, considerando os dois atributos
conjuntamente (Tabela 8.43).
Classe socioeconômica
E D C B2 B1 A1
Nunca freqüentou escola 1 1 3 4 6 7
Escolaridade
Alfabetização de adultos 1 3 4 6 6 7
Fundamental 3 4 6 7 7 8
Médio 3 4 6 7 8 9
Superior ou pós-graduação 4 6 7 8 8 9
Escala de importância
Bruta Relativa (ISG)
1 0,11
3 0,33
4 0,44
6 0,67
7 0,78
8 0,89
9 1,00
Síntese do ISG
291
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
seção é mostrada a agregação destes componentes para originar índices de risco sintéticos
para cada objeto de impacto, material ou humano. A Tabela 8.45 apresenta uma síntese dos
aspectos discutidos nas seções anteriores agrupando as dimensões utilizadas para criação de
um indicador sintético.
Indicador de
Hipóteses Variáveis brutas Índices
risco
- Exposição da construção - Área construída
IEM1
Danos à - Suscetibilidade ao contato com a - Qualidade da construção
IVM1
construção água (→ classe socioeconômica)
IAM1
- Força hidrostática e hidrodinâmica - Profundidade e velocidade
- Quantidade e valor dos bens
- Exposição dos bens (→ área construída)
IEM2
Danos ao - Suscetibilidade ao contato com a - Tipo, localização e qualidade
IVM2
conteúdo água do bem (→ classe
IAM2
- Força hidrostática e hidrodinâmica socioeconômica)
- Profundidade e velocidade
- Exposição dos moradores
- Número de moradores
Danos - Atributos de mobilidade,dependência, IEH1
- Características dos
diretos aos percepção do risco e propensão ao IVH1
moradores
moradores desenvolvimento de doenças IAH1
- Fator velocidade
- Força hidrodinâmica e hidrostática
- Exposição do domicílio
- Relações de dependência, ajuda
- Localização do domicílio IED
Danos à recíproca, responsável com atributo de
- Tipologia de família IVH2
família vulnerabilidade e acesso desigual às
- Profundidade IAA
oportunidades de renda
- Força hidrostática
Restrição - Exposição do domicílio - Localização do domicílio
IED
no acesso - Localização e importância no bem- - Localização e tipos de oferta
IVA1
às unidades estar das unidades de consumo nas unidades
IAA
de consumo - Força hidrostática - Profundidade
- Exposição do domicílio
- Localização do domicílio
Restrição - Localização e importância no bem- IED
- Localização e renda auferida
no acesso à estar das unidades de aquisição de IVA2
nas unidades
renda renda IAA
- Profundidade
- Força hidrostática
A agregação dos índices para originar o indicador apresentado na primeira coluna da Tabela
8.45 é feita pelo produtório ponderado entre eles. A formulação padrão é dada pela Equação
8.25.
292
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
IRDM1, j = IAM1, j0,5 x IEM1, j0,25 x IVM1, j0,25 8.26
Sendo que:
O IRDM2 é formado a partir da agregação dos três índices relacionados aos danos ao conteúdo
dos domicílios decorrentes da inundação (Equação 8.27):
Sendo que:
Para que o risco de danos aos moradores do domicílio – IRDH1 exista é necessário que tenha a
ameaça e a exposição. As pessoas, uma vez expostas, já são vulneráveis ao impacto. Os
atributos de vulnerabilidade atuariam intensificando esta vulnerabilidade inerente. A
justificativa está relacionada às hipóteses adotadas na criação do indicador de vulnerabilidade
humana – IVH1.
Sendo que:
Considera-se que [IEH, j x ( 1+IVH1, j)] assume valor máximo igual um.
O índice de risco à família – IRDH2, por sua vez, apresenta a formulação tradicional e é
definido pela Equação 8.29:
Onde:
IRDH2, j = Índice de risco da família do domicílio j à inundação;
IAI,j0,25 = Índice de ameaça de inundação do domicílio j;
IED, j = Índice de exposição do domicílio j à inundação;
IVH2, j = Índice de vulnerabilidade da família do domicílio j à inundação.
Algumas observações são necessárias na análise do IRDH2. Observa-se na Equação 8.29 que a
ameaça é representada pelo índice dicotômico IAI. Justifica-se esta escolha por considerar que
a presença da inundação já é de importância absoluta para o indicador IRDH2, independente da
profundidade ou velocidade do escoamento.
Raciocínio análogo é feito para a exposição. A exposição da família à inundação está ligada à
exposição do domicílio como um todo, já sendo tratada de forma específica, em outros
indicadores, a exposição de seus moradores ou de seus ativos.
294
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
consumo e de aquisição de renda pelos integrantes do domicílio pode ser ameaçado pela
inundação, o que depende da exposição à inundação do domicílio ou do local a ser acessado.
A forma como a restrição ao acesso afeta o bem-estar depende do tipo de atividade atingido.
Como primeiro indicador de risco ao acesso, tem-se o índice de risco ao acesso do domicílio
às unidades de consumo preferidas em decorrência da inundação (IRDA1). Este é formado pelo
produtório de dois índices anteriormente discutidos (Equação 8.30):
Onde:
IRDA1, j = Índice de risco de acesso do domicílio j às unidades de consumo preferidas em
decorrência da inundação;
IAA, j= Índice de ameaça da inundação ao acesso ao bem-estar do domicílio j;
IVA1,j = Índice de restrição de acesso do domicílio j às unidades de consumo preferidas em
decorrência da inundação.
Observe na Equação 8.30 que a exposição dos domicílios à inundação é capturada pelo índice
IAA,J, afinal, independente do domicílio situar-se ou não no primeiro pavimento, ele sofre o
impacto na acessibilidade. A exposição das firmas, por sua vez, é captada pelo IVA1, j.
Onde:
IRDA2, j = Índice de risco de acesso do domicílio j às unidades de aquisição de renda;
IAA, j= Índice de ameaça da inundação ao acesso ao bem-estar do domicílio j;
IVA2,j = Índice de restrição de acesso do domicílio j à renda em decorrência da inundação.
Indicador de
Hipóteses Variáveis brutas Índices
resiliência
- Exposição do domicílio
- Informação leva ao
- Localização do domicílio
aprimoramento da percepção do IS1
Acesso à - Nível de escolaridade do
risco e das estratégias de IAI
informação responsável ou cônjuge
mitigação e recuperação da
- Profundidade ≠ 0
inundação
- Presença de escoamento
- Exposição do domicílio
- Recursos financeiros para adoção - Localização do domicílio IS2
Capacidade
de medidas mitigadoras e para a - Renda domiciliar IAI
financeira
recuperação - Profundidade ≠ 0
- Presença de escoamento
- Exposição do domicílio - Localização do domicílio
Resiliência - Informação e capacidade - Nível de escolaridade e ISG
global financeira renda domiciliar IAI
- Presença de escoamento - Profundidade ≠ 0
Onde:
ISD1, j = Índice de resiliência à inundação do domicílio j pela maior possibilidade de acesso à
informação para tomada de decisão;
296
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
IAA, j= Índice de ameaça de inundação no domicílio j;
IS1,j = Índice de resiliência pela maior possibilidade de acesso à informação do domicílio j.
Observe que na Equação 8.32 que a exposição já é captada no componente IAI, pois a
presença do escoamento na edificação onde se encontra o domicílio, independente dele se
situar no primeiro pavimento ou não, já expõe o seu nível de resiliência.
O segundo índice mostra a resiliência à inundação pela maior capacidade financeira para
mitigação e reconstrução do domicílio (ISD2) (Equação 8.33)
Em que:
ISD2, j = Índice de resiliência à inundação do domicílio j pela maior capacidade financeira
para mitigação e reconstrução;
IAA, j= Índice de ameaça de inundação no domicílio j;
IS1,j = Índice de resiliência pela maior capacidade financeira do domicílio j para mitigação e
reconstrução.
Em que:
ISDG, j = Índice de resiliência global à inundação do domicílio j;
IAA, j= Índice de ameaça de inundação no domicílio j;
IS1,j = Índice de resiliência do domicílio j.
Observe que nos índices de resiliência não é utilizado um coeficiente, pois a ameaça só
definiria a nulidade ou não do índice.
297
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Neste trabalho utilizou-se a análise de cluster para criar tipologias de domicílios, segundo os
indicadores de risco propostos. Para executar o procedimento foi utilizado o software
estatístico SPSS 13.0.
Um dos pontos fundamentais dos métodos K médias é a definição das sementes dos
agrupamentos. Eles são os centróides iniciais ou pontos de partida para os clusters. Pode-se
optar pela criação automática das sementes com o software estatístico utilizado ou introduzi-
las por meio de uma sintaxe segundo critérios teóricos ou empíricos. Normalmente obtém-se
melhores resultados na análise não hierárquica com a introdução dos pontos sementes pelo
pesquisador, opção feita nesta pesquisa (Hair et al., 2005).
Em relação ao método para designar observações individuais aos agrupamentos foi utilizado o
método de referência paralela, disponível no SPSS. Este trabalha com diversas sementes de
agrupamento simultaneamente, ao contrário, por exemplo, do método seqüencial aonde as
sementes vão sendo introduzidas seqüencialmente. Como critério de similaridade entre as
observações utilizou-se a distância euclidiana.
Decidiu-se, portanto, pela análise separada dos indicadores segundo seu objeto de referência –
material, humano, acessibilidade e resiliência –, os quais foram analisados par a par.
Definiram-se cinco clusters para agrupar os domicílios segundo os dois índices relacionados.
Estes teriam como semente inicial a magnitude do índice: baixa para ambos (0,33); média
para ambos (0,56) e alta para ambos (0,77). Além disso, definiram-se dois grupos onde
poderia ser verificado um índice mais alto em oposição ao outro índice mais baixo.
298
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
8.9.3 Risco no ambiente econômico
Um dos focos desta pesquisa são os danos indiretos, pois o agente está inserido em um
sistema de relações cada vez mais amplo e interconectado. Em conseqüência, um impacto em
uma micro-unidade deste sistema pode gerar efeitos multiplicadores no espaço e no tempo.
Segundo Miller & Blair (1985) apud Silva et al. (2003), o conceito de fator multiplicador de
produção procura identificar os efeitos na expansão da produção da economia decorrente do
aumento em uma unidade monetária da demanda final de determinado setor. Já os
encadeamentos para frente e para trás são representados por meio de índices de ligação, os
quais refletem a estrutura de produção da economia.
Logo, embora em uma primeira análise esta abordagem se mostrasse bastante adequada para
definir a ponderação dos setores; após um estudo bibliográfico mais intenso e consulta a
300
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
especialistas, perceberam-se suas limitações para captar a diversidade que caracteriza as
relações econômicas em uma cidade. Entretanto, por acreditar que a compreensão da matriz
insumo produto possa oferecer subsídios e idéias que possam apoiar estudos econômico-
ambientais, sugere-se seu estudo. Como informação adicional são mostrados no APÊNDICE
VIII os índices de encadeamento e fatores multiplicadores encontrados para Minas Gerais no
ano de 1996 e uma breve explicação conceitual sobre eles.
Após estas reflexões, optou-se por utilizar como variável de medida da importância relativa
do setor na economia a média do pessoal ocupado. Embora a massa salarial reflita mais
adequadamente o poder de consumo da população que, claramente, tem efeitos
multiplicadores sobre a economia, escolheu-se privilegiar o acesso a renda, ou seja, o
emprego, como indicador de relevância econômica e social do setor. Utilizaram-se as
informações do protótipo, que é o sistema de análise aqui. Em aplicações da metodologia,
devem ser usados os dados do município de estudo, disponíveis no CEMPRE (IBGE, 2000a).
8.35
Sendo que:
IVE1 = Índice de impacto na estrutura econômica;
Aing = número de atividades atingidas, sendo que o tipo de atividade (g) varia de 1 a 56
(classificação CNAE);
Atotg = número total de atividades, sendo que o tipo de atividade (g) varia de 1 a 56
(classificação CNAE);
pg = peso para cada setor g, segundo sua importância econômica.
Observa-se que 0 ≤ IVE1 ≤ 1. Quando IVE1 assume o valor 1 significa que todas as atividades
econômicas da cidade foram atingidas; o valor 0 representa vulnerabilidade nula em relação à
restrição de oferta.
301
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Vulnerabilidade na Estrutura
Ameaça
Econômica
Hipótese
Possibilidade de perturbações
nos fluxos econômicos
Critério
Importância relativa das atividades atingidas
nos fluxos econômicos da localidade
Sub-Critério Sub-Critério
Possibilidade de Importância relativa da
restrição de oferta atividade impactada
Indicador Indicador
Número de atividades do Média do pessoal
setor em relação ao total ocupado no setor
Três critérios definem o impacto no domicílio de uma inundação nas suas fontes de consumo:
se o bem ofertado é essencial, se ele é oferecido em várias unidades de consumo concorrentes
ou se ele é facilmente substituível. Estes três critérios, que definem atributos do bem, se inter-
relacionam definindo seu impacto no bem-estar do consumidor caso firmas que o ofertem
sejam inundadas (Figura 8.45).
302
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Vulnerabilidade nas fontes de consumo
das famílias
Hipótese
Possibilidade de restrição no consumo das
famílias, com queda de bem-estar
Sub-hipótese
Queda do bem-estar do consumidor sensível à
tipologia de bem que sofre restrição de oferta
Critério 1 Critério 2
Nível de Critério 3
Distribuição
Substituibilidade
essencialidade de oferta
8.36
Sendo que:
IVE2 = Índice de restrição de alternativas de consumo das famílias;
Ainf = número de atividades atingidas com oferta direta de bens ou serviços para as famílias,
sendo que a tipologia de bem ofertado (f) varia de 1 a 20;
Atotf = número total de atividades com oferta direta de bens ou serviços para as famílias, sendo
que a tipologia de bem ofertado (f) varia de 1 a 20;
pf = peso para cada tipo de atividade com oferta de bens ou serviços para as famílias; peso
definido segundo a tipologia de bens que oferta.
Os pesos utilizados no IVE2 são os mesmos presentes no IVA1 apresentados na Tabela 8.39.
303
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Valor adicionado = soma das rendas primárias 8.37
Valor adicionado = valor final – consumo intermediário 8.38
Segundo metodologia proposta em Parker, Green & Thompson (1987), os danos indiretos
sofridos pela firma são mesurados pela perda de valor adicionado decorrente da inundação
(ver item 3.2.1.1). Além disso, como exposto em van der Venn (2004), o montante de salários
recebido pela população residente representa um indicador da demanda final. Logo, o IVE3 é
um indicador dos danos indiretos sofridos pelas firmas e também de perda de renda pela
localidade.
8.39
Sendo que:
IVE3 = Índice de impacto no valor adicionado local;
Winun = Massa salarial diária nas atividades atingidas;
Wtot = massa salarial diária total das atividades;
dinun = dias de inundação.
Embora se saiba que a paralisação das atividades possivelmente será superior ao período da
inundação, incorporá-la ao indicador encerraria dificuldades, pois há grande variabilidade no
tempo de recuperação das firmas, o qual depende, entre outros fatores, do tipo de atividade,
área do estabelecimento e nível dos danos sofridos.
68
Uma hipótese utilizada no estudo é de que as importações são constantes, logo é uma variável exógena ao
modelo. O impacto da inundação sobre o consumo intermediário poderia ser obtido por meio de matrizes
insumo-produto, de difícil elaboração em situações de impacto mais localizado.
304
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
9 RESULTADOS
305
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Figura 9.2 – Inundação para o Tr = 25 anos - Protótipo
306
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
As figuras mostram o sistema viário utilizado no protótipo. Ao fundo estão os bairros da
capital mineira que orientaram as definições de adensamento e uso do solo.
Por meio do ArcGis foi feita uma discretização fina dos resultados da simulação hidrológico-
hidráulica, o que possibilitou verificar qual a profundidade e velocidade da inundação
associada a cada domicílio e firma. A Tabela 9.1 mostra os resultados agregados por faixas de
profundidade.
9.2.1 Análise dos fluxos globais na ADA e na AE e sua inserção na rede virtual
A Tabela 9.2 mostra o número e o valor dos links de acesso a cada uma das zonas da ADA e
AE. Cada link representa uma função trabalho, estudo ou consumo feita na região.69
O número de links com “função trabalho” é definido pelo número de trabalhadores que
acessam a região e o número de links com “função estudo”, pelo número de estudantes. Em
relação à função “consumo”, a lógica é um pouco diferente, já que, com exceção dos
consumidores de educação (estudantes), não é possível definir o número de consumidores que
acessam a região.70 Considerou-se, portanto, que cada domicílio possui seis tipos de função
69
Como não se considerou que funções como “residir” ou “permanecer na residência” eram essenciais na ótica
de rede econômica discutida no modelo, não há referencia ao fluxo de pessoas que acessam a região para
desempenhar estas funções.
70
Ao contrário do número de trabalhadores e do número de estudantes, não há a informação sobre o número de
consumidores existente em cada domicílio. Além disso, um mesmo consumidor tende a acessar mais de uma
firma.
307
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
“consumo”, as quais representam os tipos de gastos. Deste modo, saem de cada domicílio seis
links de consumo em direção às diferentes unidades ofertantes da cidade.
Em relação ao valor do link, ele é representado pela renda (ou salário) ou pelo consumo
auferido na região. Portanto, a renda está associada ao agente “trabalhador” e o consumo às
“funções consumo”. Ressalta-se que a contrapartida monetária do agente “estudante” está
contida nas funções consumo.
Os mesmos critérios de definição dos fluxos ou links foram utilizados para toda a cidade
virtual, o que permite comparar as informações entre si. As informações foram mostradas em
unidade de área (km2) para evitar a influência da extensão das zonas nos resultados.
Em relação à quantidade, há uma distribuição das funções no tempo: por exemplo, o trabalho
e o estudo normalmente são diários. As compras podem ser de freqüência diária, semanal,
mensal ou mesmo anual. Trabalha-se, portanto, com o potencial máximo de funções exercidas
na região em um dia.
A relação de trabalho é mensurada pelo valor dos salários recebidos; a relação de consumo,
pelo valor médio dos gastos feito na região. Definiram-se os valores médios potenciais em um
dia.
A Tabela 9.2 confirma a zona dois como o centro econômico da região, seguida da zona um e
da zona três. As zonas cinco e seis apresentam um perfil mais residencial.
A Tabela 9.3 lista os links econômicos entre a ADA e AE e os outros nós da rede.
308
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Tabela 9.3 – Links econômicos na ADA e AE e os outros nós da rede
Quantidade Valor Quantidade % Valor %
ADA e AE 671.157 240.800.745 53% 64%
Nós 604.588 429.282.773 47% 36%
Total 1.275.745 670.083.518 100% 100%
Nota: O número de links econômicos representa o número de trabalhadores ou “funções consumo” que acessam
a região. Os valores dos links representam a quantidade consumida ou a renda auferida na região.
A Tabela 9.3 mostra a ADA e AE como uma região de grande centralidade econômica na
rede. Para lá se dirigem mais da metade dos fluxos econômicos que envolvem os domicílios
da cidade. Deve se lembrar, entretanto, que estes fluxos monetários englobam o valor dos
salários de toda a população, mas apenas o valor das vendas para as famílias, não sendo
discutidos os fluxos entre firmas.
Dentro da sub-rede que compõem este nó central, as zonas 1, 2 3 são os pontos centrais. Um
impacto da inundação, ao atingir o nó central, causa grande distúrbio nas relações da rede.
Mas este impacto será maior ou menor segundo o número e a importância das firmas
atingidas.
A Figura 9.4 mostra três momentos da simulação da rede econômica feita no protótipo. Na
primeira ilustração, tem-se o momento inicial da simulação, na segunda, parte dos
trabalhadores está alocada em seus locais de trabalho e, na terceira, todos se encontram em
seus postos de trabalho. Os links permitem visualizar o emaranhado de relações existentes no
espaço e sua distribuição. A propagação espacial do evento depende do número de links que
saem da ADA em direção às outras regiões da cidade, da distância percorrida por eles e dos
valores a eles associados.
309
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Figura 9.4 – Os fluxos de trabalho no protótipo
310
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
9.2.2 Fluxos discretos na ADA e na AE
A ADA e AE se relacionam com os demais nós da rede por meio de fluxos monetários, os
quais estão associados a fluxos discretos, ou agentes, como as pessoas. Entre as pessoas, há
consumidores, trabalhadores e estudantes.
A Figura 9.6 mostra a estimativa dos fluxos da região em termos dos principais agentes
discutidos nesta pesquisa, os quais foram usados para inferir a circulação de veículos. Os
agentes não são mutuamente excludentes; um estudante pode trabalhar e ser consumidor, por
exemplo. Por meio dos microdados censitários (IBGE, 2000), estabeleceu-se o percentual de
pessoas que trabalham ou estudam ou fazem ambas as atividades. Definiu-se, ainda, a
existência de, em média, por domicílio, um terceiro agente, responsável exclusivo pelas
compras.
Consumidores
109.366
Trabalhadores Estudantes
46.905 56.427
Carros
50.456
Ônibus
3.245
Como existem outros fluxos na região dificilmente identificáveis, como o de pessoas que
apenas a utiliza como passagem, as informações de fluxo foram comparadas com as existentes
nas vias de regiões semelhantes de Belo Horizonte, a fim de se obter uma melhor
parametrização do fluxo de pessoas e, particularmente, do trânsito de veículos. Chegou-se ao
valor de 50.456 automóveis e 3.245 ônibus. Como eles fazem, por hipótese, o percurso de ida
e volta, totaliza-se na região um fluxo de 107.402 veículos por dia (para maiores detalhes
verificar a metodologia descrita no item 8.6)
311
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
9.2.3 Análise sob a ótica dos domicílios: gastos, emprego e renda
Tabela 9.4 – Número total de domicílios e número de domicílio localizados em área atingida
- Protótipo
1
Domicílios localizados em área atingida
Zonas Total de domicílios
Tr = 5 anos Tr = 25 anos Tr = 100 anos
1 1.324 0 0 32
2 3.104 72 169 483
3 185 0 0 0
4 2.207 53 127 320
5 2.569 45 62 107
6 4.925 1.787 2.180 2.838
Total ADA ou AE 14.314 1.957 2.538 3.780
Total Protótipo 17.8693 1.957 2.538 3.780
Nota: 1. Consideram-se todos os domicílios localizados na área diretamente atingida, independente de sofrerem
danos diretos.
Tem-se, portanto, cerca de 26% dos moradores da ADA ou AE afetados diretamente pelo
impacto considerando à exposição ao evento de tempo de retorno de 100 anos. Em relação à
todo o espaço urbano, este percentual é de 2% dos moradores.
312
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
caráter em rede da economia urbana e centralidade da região atingida, o impacto do evento se
propaga entre os domicílios.
as firmas que sofrem inundação incorrerão em prejuízos, o que pode indicar uma
desvantagem competitiva em relação aos concorrentes e maiores dificuldades de
sobrevivência;
ao serem atingidas pelo escoamento, as firmas podem optar pela redução do emprego
a fim de recomporem os prejuízos sofridos, diretos e indiretos.
Observa-se, portanto, que 74% dos trabalhadores atingidos pela inundação com tempo de
retorno de 100 anos não são domiciliados na região. Se considerada a média de 1,43
trabalhadores por domicílio, em Belo Horizonte no ano 2000 (IBGE, 2000), ao universo de
3.780 domicílios atingidos diretamente (Tabela 9.4) são incorporados 7.558
domicílios ·, segundo a Tabela 9.6) tocados indiretamente, totalizando 11.338
A Figura 9.7 ilustra as informações da Tabela 9.6 mostrando a distribuição percentual dos
trabalhadores das firmas atingidas segundo o domicílio de origem. Observe que os links
externos entre a região afetada e o restante da região são bastante significativos.
313
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100%
90%
80%
70% 59%
60% 78% 75%
50% NÓS
40% ADA/AE
30%
20% 41%
10% 22% 25%
0%
Tr = 5 anos Tr = 25 anos Tr = 100 anos
Figura 9.7 – Distribuição percentual dos trabalhadores das firmas atingidas pela inundação
segundo região de domicílio
Os links são de acesso e também de valor. Para ilustrar, é mostrado, para o cenário de tempo
de retorno Tr = 100, o valor da renda dos trabalhadores que é exposta ao risco com a
inundação das firmas. Observe que cerca de 80% da renda gerada pelas firmas potencialmente
atingidas gera poder de compra para trabalhadores domiciliados fora da ADA/AE, a qual
possivelmente alimentará as vendas em outras regiões da cidade.
Tabela 9.7 – Renda salarial em risco para uma inundação com Tr= 100 anos - Protótipo (em
reais de 2000)1
Além de serem opções de renda, algumas firmas atingidas também são opções de consumo
para as famílias. A importância delas para o bem-estar dos consumidores depende de vários
aspectos: diferenciação do produto, proximidade, essencialidade, volume de concorrentes,
preço, etc. Neste estudo, os preços são considerados constantes.
Para analisar a interferência da inundação nos padrões de gasto das famílias, primeiramente, é
discutido o impacto em termos gerais, a seguir é dado maior enfoque às características das
firmas atingidas em termos de reflexo no bem-estar do consumidor.
A fim de se discutir a influência isolada da inundação das firmas nos gasto das famílias, não
foi introduzida na análise qual seria impacto sobre as despesas considerando também a
314
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
inundação dos domicílios. Entretanto, sabe-se da importância desta discussão, a qual é feita na
análise dos indicadores.
A Figura 9.8 mostra o impacto da inundação nos gastos médios ocorridos na cidade durante
um dia qualquer. O cenário “cotidiano” representaria um dia de normalidade nos gastos do
domicílio. Os gastos se situam na faixa de 11 milhões de reais, nível que pode ser considerado
como aquele em que há um relativo equilíbrio na cidade. A ocorrência da inundação
representa o choque que leva os agentes a reorganizarem suas estratégias de consumo.
Segundo o tipo de gasto e ante a inundação da firma ofertante usual, alguns consumidores
resolvem adiar as compras, outros, substituem os pontos de consumo.
10
Em milhões de reais de 2000
Gf
5,74
8 5,41 5,28 Ge
4,98
Gd
6 Gc
0,60 0,60 0,60
0,52 0,60 Gb
0,48 0,47 0,43
4 1,40 1,30 1,25 1,20 Ga
0,50 0,46 0,44 0,41
2
2,53 2,53 2,53 2,53
Figura 9.8 – Distribuição dos gastos segundo os grandes grupos de despesa e tempos de
retorno da inundação
Na Figura 9.9 é enfatizada a queda ocorrida nos gastos devido à estratégia de adiamento das
famílias.
315
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0 0
Cotidiano Tr = 5 anos Tr = 25 anos Tr = 100 anos
-0,02
-0,04 -5%
-0,06 -6%
-0,08
-0,1 -10%
-0,12
Gasto Total
Figura 9.9 – Variação total dos gastos das famílias, considerando diferentes probabilidade
de inundação e impacto
Duas questões centrais devem ser evidenciadas na discussão. Primeiramente, a queda dos
gastos mostrada na Figura 9.9 representa uma situação de desequilíbrio momentâneo na
cidade e não uma redução das vendas de fato. Considerando as firmas atingidas isoladamente,
a queda pode indicar perda de receita, mesmo em horizonte temporal mais amplo, mas
também a possibilidade das firmas a recuperarem posteriormente caso exista uma “fidelidade”
dos consumidores em relação à firma ofertante. Por outro lado, a ocorrência de substituição da
unidade de consumo pelo agente, indica que a firma perdeu consumidores. Do ponto de vista
econômico, quanto maior o nível de substituição menor o deslocamento em relação ao ponto
de equilíbrio dos gastos.
Ao substituir a firma ofertante, o consumidor pode ser obrigado a percorrer maior distância de
deslocamento. Uma forma de se inferir esta perda de utilidade é por meio de um indicador
que relaciona o gasto com a distância percorrida para efetuá-lo. Ele foi estimado para os
cenários de análise, considerando os gastos em que a proximidade era o critério relevante de
escolha da unidade econômica. Verificou-se que a mediana da perda de utilidade nos
domicílios é de 11% para o cenário de inundação com tempo de retorno Tr = 100 anos. Para
os outros cenários de inundação, ela se situa em torno de 8%.
316
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
9.2.4 Análise sob a ótica das firmas atingidas: vendas, custos e lucros
Observe que as zonas 1, 3 e 5 possuem menor risco para as firmas, pois elas não se encontram
expostas mesmo a uma inundação de tempo de retorno de 100 anos. Dada a localização da
zona 4, esta não é afetada por inundações freqüentes. Do total de 5.045 firmas, 1.288 são
atingidas pelas águas nas áreas inundáveis em um evento de tempo de retorno de 100 anos, o
que corresponde a 26% das firmas da região, valor significativamente elevado. Ele representa
cerca de 5% do total de firmas presente no protótipo,
Na análise por CAP, verificou-se que, em termos absolutos, as atividades mais expostas ao
risco de inundação pertencem às atividades diversas de escritório (CAP 74); a atividades de
comércio atacadista (CAP 53010) e os serviços de alimentação (CAP 55030), o que
representa um total de 294 firmas.
Embora as firmas não ocupem centralidade neste trabalho, ante as informações existentes no
modelo, algumas análises e considerações podem ser feitas a fim de avaliar qual seria um
possível impacto da inundação na ótica das firmas atingidas.
317
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Para os trabalhadores, os salários representam sua capacidade de compra; para as firmas, os
salários pagos é um custo variável. Em uma ótica microeconômica, ele é parte do valor
adicionado no processo de produção.
O valor adicionado é o valor da riqueza gerada pela firma no processo produtivo. Ele equivale
à remuneração dos diversos atores que contribuíram direta ou indiretamente para sua criação,
como os empregados que fornecem a mão-de-obra, os investidores que fornecem o capital, os
financiadores que emprestam os recursos e o governo que provê a lei e a ordem, infra-
estrutura sócio-econômica e os serviços de apoio.
9.1
Onde:
IndF1 = danos indiretos da firma;
WT /26 = salários totais pagos em um dia;
dp = número de dias de paralisação das atividades. Sendo que dp ≥ número de dias da
inundação.
No cenário de inundação de curta duração aqui discutido, a paralisação das atividades pode
levar de um dia até vários dias, o que varia de acordo com os danos, sobretudo os danos
diretos, sofridos pelas firmas. Nesta pesquisa definiu-se a duração segundo um critério que
considera a profundidade e os possíveis danos diretos à firma.
318
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Pode-se levantar a questão que, mesmo com as atividades paralisadas, os trabalhadores talvez
ainda estejam exercendo funções na firma, logo não haveria uma perda como mostrada na
Equação 9.1. Entretanto, como existem vários outros possíveis custos associados à
recuperação das firmas, como custo de transferência da produção para locais mais seguros,
custos de limpeza, custos adicionais de energia elétrica, pagamento de horas extras, condições
sub-ótimas de trabalho, desvio de funções, etc., optou-se por incorporar integralmente os
salários nos dias de paralisação como indicação de danos indiretos.
A Figura 9.10 mostra os valores obtidos para os danos indiretos nas firmas da ADA atingidas
diretamente pelas águas:
1.800
1.600 1.600
IndF (em mil reais de 2000)
1.400
1.200
1.102
1.000
800
600
400 430
200
0
Tr = 5 anos Tr = 25 anos Tr = 100 anos
Figura 9.10 – Danos indiretos totais sofridos pelas firmas atingidas, considerando o custo
dos salários pagos na inundação
No cenário de máxima ameaça, de tempo de retorno de 100 anos, estes danos representam
cerca de 3% de perda do valor adicionado na ADA/AE em média, por mês, na forma de
salários. Considerando apenas as firmas atingidas, eles representam respectivamente 6,67%,
8,21% e 9,18% da massa salarial mensal nos cenários de inundação de Tr = 5 anos, Tr = 25
anos e Tr = 100 anos, respectivamente.
Como ilustração, é feita uma segunda análise, que incorpora nos danos indiretos também os
lucros cessantes. Uma proxy para os lucros da firma seria o valor das vendas menos os custos
totais de produção (Equações 9.2 e 9.3). Logo, tem-se:
9.2
Sendo que:
319
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
9.3
Onde:
IndF2 = danos indireto da firma (apenas daquelas que ofertam para as famílias);
WT /26 = salários totais pagos em um dia;
dp = número de dias de paralisação das atividades;
∆PF = variação do lucro da firma em decorrência da inundação;
VT = vendas médias feitas em um dia.
CT = custo médio de produção em um dia.
Enquanto na Equação 9.1 todas as firmas atingidas foram incorporadas na análise, pois o
valor dos salários pagos é discutido para o universo das atividades do protótipo, nas Equação
9.2 e Equação 9.3 consideram-se apenas as perdas sofridas pelas firmas que vendem bens para
as famílias.
Como não se discutiu o custo de produção nesta pesquisa, considera-se que o lucro é 10% do
valor das vendas. Este é um valor ilustrativo, porém é também um valor de referência
utilizado pelos profissionais da área de economia e finanças. O resultado da análise feita
segundo as hipóteses ora descritas é mostrado na Figura 9.11.
2.500
2.206
2.000
Vamores em mil reais de 2000
1.500 1.568
1.432
1.000 1.080
633 638
500 415 352
218
0
Tr = 5 anos Tr = 25 anos Tr = 100 anos
Figura 9.11 – Danos indiretos totais sofridos pelas firmas atingidas e que ofertam bens e
serviços para as famílias, considerando o custo dos salários pagos na inundação e os
lucros cessantes
320
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Os valores apresentados na Figura 9.11 representam 3,0%, 4,7% e 4,6% do total das vendas
médias mensais feitas pelas firmas analisadas, nos cenários de inundação Tr = 05 anos, Tr =
25 anos e Tr = 100 anos, respectivamente.
Mas a questão fundamental a ser discutida na ótica econômica é em que magnitude as outras
firmas do protótipo sofrem interferência da inundação ocorrida na ADA, ou seja, a
interferência da inundação nos links econômicos externos à ADA. Desta forma é possível
verificar se a rede econômica se articula visando compensar os efeitos de rupturas em alguns
de seus nós.
Tabela 9.9 – Valor das vendas para as famílias nos quatro cenários de estudo
Região Cotidiano Tr = 5 anos Tr = 25 anos Tr = 100 anos
ADA e AE 5.894.979 5.375.331 5.164.004 4.672.471
Nós 5.404.467 5.413.080 5.408.658 5.481.041
Total 11.299.446 10.788.411 10.572.662 10.153.512
Observe na Tabela 9.9 o ligeiro “aquecimento” nas vendas ocorrido nos nós. Ele se deve ao
efeito da substituição de consumo que leva os domicílios a procurarem outros pontos de
consumo quando a primeira opção está com a oferta paralisada. A perda de vendas das firmas
afetadas em um dia de inundação foi de cerca de 1,6 milhão de reais, mas a variação total do
valor do consumo foi de 1,1 milhões, o que indica que a economia no dia amorteceu o
impacto em 28%. Graficamente, é mostrada esta variação das vendas em termos percentuais
(Figura 9.12):
5,0%
-20,0% -20,7%
-25,0%
Figura 9.12 – Variação no valor das vendas segundo os três cenários de ocorrência da
inundação
321
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
9.2.5 Análise dos fluxos de tráfego
As simulações de tráfego foram feitas para os quatro cenários de análise e com dois horários
de início da inundação: 10h e 17h. Por meio da criação dos mapas de inundação para a região
de risco foi possível estabelecer quais os links (trechos) viários que seriam atingidos pelas
águas.
A Figura 9.13 mostra o curso d`água e a rede viária na ADA e AE. No mapa superior, tem-se
o rio escoando em calha menor. No inferior, é mostrado o transbordamento do rio
considerando os três cenários de risco hidrológico, os quais se distinguem pelas tonalidades
de verde.
322
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Figura 9.13 – Rede viária e curso d`água na ADA e AE – Protótipo
Tabela 9.11 – Resultados médios por viagem e por UVE na simulação de tráfego – ADA e
AE, início da inundação às 10h
Inundação Inundação Inundação
Variáveis Cenário Atual
Tr = 05 anos Tr = 25 anos Tr = 100 anos
Consumo de Combustível (l) 0,3195 0,5654 0,5884 0,6848
Emissão de HC (g) 0,0705 0,1041 0,1072 0,1204
Emissão de CO (g) 16,731 23,982 24,671 27,482
Emissão de NOx (g) 0,2985 0,3590 0,3649 0,3894
Emissão de CO2 (g) 742,1780 1317,9240 1371,8917 1597,3958
Tempo Médio de Viagem (min) 6,25 17,87 18,96 23,52
Velocidade Média (km/h) 38,75 13,55 12,77 10,29
323
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Tabela 9.12 – Resultados médios por viagem e por UVE na simulação de tráfego – ADA e
AE, início da inundação às 17h
Inundação Inundação Inundação
Variáveis Cenário Atual
Tr = 05 anos Tr = 25 anos Tr = 100 anos
Consumo de Combustível (l) 0,3195 0,5619 0,5830 0,6577
Emissão de HC (g) 0,0705 0,1036 0,1065 0,1168
Emissão de CO (g) 16,731 23,873 24,501 26,703
Emissão de NOx (g) 0,2985 0,3587 0,3643 0,3848
Emissão de CO2 (g) 742,1780 1309,7568 1359,0953 1534,0706
Tempo Médio de Viagem (min) 6,25 17,70 18,69 22,22
Velocidade Média (km/h) 38,75 13,68 12,95 10,89
Observe nos resultados das Tabela 9.11 e Tabela 9.12 que os valores de consumo de
combustível, emissão de poluentes e tempo médio de viagem crescem com o aumento do
tempo de retorno do evento. A velocidade média, obviamente, cai, já que haverá maior
congestionamento na rede com a interrupção de links pela inundação. Na Tabela 9.11
observa-se, por exemplo, que o tempo médio de viagem cresce 276% entre o cenário
cotidiano e o de maior impacto (Tr=100 anos). A velocidade média, por sua vez, tem uma
queda de 455%, comparando-se os mesmos cenários. Alguns resultados são ilustrados na
Figura 9.14.
25 50
Velocidade (km/h)
20 40
tempo (min)
15 30
10 20
5 10
0 0
Cotidiano Tr = 5 Tr = 25 Tr = 100 Cotidiano Tr = 5 Tr = 25 Tr = 100
Figura 9.14 – Tempo médio de viagem e velocidade média por veículo nos quatro cenários
de estudo – Início da inundação às 10h, ADA e AE – Protótipo
324
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
um resultado macro-espacial que não seria percebido com a utilização de uma análise estática
baseada em fluxos médios.
As informações sobre w (renda auferida pelo agente) e yw (número de horas de trabalho por
mês) da Equação 8.6 podem ser obtidas individualmente para os agentes domiciliados na
ADA e AE. Para o resultado global, utilizam-se os valores médios salariais de todos os
trabalhadores do protótipo. Optou-se por não utilizar precisamente os salários do fluxo de
trabalhadores que somente saem e entram na região (item 9.2.1), porque este procedimento
não incluiria a renda dos trabalhadores que utilizam a rede impactada como passagem
(variável não captada no modelo). O valor de tv (tempo de viagem percorrido na área de
estudo) é obtido, por veículo, pela simulação de tráfego.
Tabela 9.13 – Custo total do tempo de viagem em um dia na rede viária da ADA e AE,
segundo cenários de risco hidrológico
Inundação de 10h Inundação de 17h
Valor do tempo (R$ de 2000) Valor do tempo (R$ de 2000)
Cenários
Aumento % Aumento %
Total (em relação ao Total (em relação ao
cenário cotidiano) cenário cotidiano)
Cotidiano 125.485 0% 125.485 0%
Evento Tr = 05 anos 358.787 186% 355.374 183%
Evento Tr = 25 anos 380.672 203% 375.251 199%
Evento Tr = 100 anos 472.226 276% 446.125 256%
Observe na Tabela 9.13 que o custo de do tempo de viagem considera as viagens feitas por
todas as pessoas que circularam em um veículo na ADA/AE durante um dia. Optou-se por
rodar a simulação durante um dia, a fim de considerar integralmente os efeitos cumulativos e
de dissipação do congestionamento.
325
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
estudo) são obtidas a partir da simulação do tráfego durante um dia de “normalidade” e
durante os dias de inundação.
Tabela 9.14 – Custo total do consumo de combustível em um dia na rede viária da ADA e
AE, segundo cenários de risco hidrológico
Inundação de 10h Inundação de 17h
Valor consumido (R$ de 2000) Valor consumido (R$ de 2000)
Cenários
Aumento % Aumento %
Total (em relação ao Total (em relação ao
cenário cotidiano) cenário cotidiano)
Cotidiano 31.830 0% 31.830 0%
Evento Tr = 05 anos 56.328 77% 55.980 76%
Evento Tr = 25 anos 58.620 84% 58.082 82%
Evento Tr = 100 anos 68.224 114% 65.524 106%
Tabela 9.15 – Custo total dos poluentes em um dia na rede viária da ADA e AE, segundo
cenários de risco hidrológico
Inundação de 10h Inundação de 17h
Observe que os valores mostrados na Tabela 9.15 são bastante inferiores àqueles relacionados
ao custo do tempo ou do combustível. Provavelmente, ao se utilizar a metodologia do
IPEA/ANTP (1997) há uma subestimação dos valores ao se concentrar apenas na análise os
impactos à saúde. Outros impactos, como os relacionados ao meio ambiente não são
considerados nessa metodologia o que pode sugerir uma mudança de paradigma de análise
econômica com maior tendência à valorização do impacto ambiental.
A participação de cada poluente nos custos é mostrada na Figura 9.15. Devido à semelhança
dos resultados obtidos para o cenário de inundação na parte da manhã ou no final da tarde, são
mostrados apenas os resultados para a inundação com início às 17h.
326
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180
160
0
Cenário Tr = 5 anos Tr = 25 anos Tr = 100 anos
cotidiano
Figura 9.15 – Custos associados à poluição emitidas pelos veículos durante um dia nos
quatro cenários de estudo – Início da inundação às 17h, ADA e AE – Protótipo
Observa-se que, entre os poluentes, o CO apresenta valor mais elevado; não por ter custo
unitário maior, mas pelo elevado volume que é emitido pelo veículo em comparação aos
outros dois poluentes (ver Tabela 9.12). Os HC, embora tenham o maior custo, são
relativamente pouco emitidos pelos escapamentos, implicando em menor custo global.
Finalmente, na Figura 9.16 é mostrado o valor total das deseconomias associados ao tráfego.
Mostram-se os impactos para os eventos com início às 10h (manhã) e com início às 17h
(tarde).
600.000
500.000
400.000
300.000
200.000
100.000
0
Manhã Tarde Manhã Tarde Manhã Tarde Manhã Tarde
Figura 9.16 – Total dos custos associados ao tráfego durante um dia – ADA e AE –
Protótipo
327
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Como já mencionado, os valores para o impacto no sistema de transportes no meio da manhã
ou fim da tarde são similares. Os poluentes possuem valores tão inferiores aos associados ao
tempo ou ao combustível adicionais, que eles não são mesmo identificáveis na Figura 9.16.
Observa-se que o tempo é, segundo a metodologia utilizada pelo IPEA, o componente mais
valorizado no estudo.
A análise dos danos diretos seguiu metodologia detalhada no item 8.8. Foram verificados os
danos à construção e ao conteúdo dos domicílios da ADA. Além dos 32 ativos “imóveis” do
domicílio, incorporou-se também a estimativa dos danos aos automóveis.71 Empregou-se
0,25cm como a profundidade mínima de inundação para ocorrência dos danos à construção e
de 0,35cm para o surgimento das avarias ao conteúdo. Para os automóveis a profundidade
mínima de impacto direto usada é de 0,40cm.
Os domicílios atingidos e os danos diretos sofridos por eles são mostrados na Tabela 9.16.
Tabela 9.16 – Domicílios atingidos e valor total e médio dos danos diretos
(em reais de 2000) - Protótipo
Danos médios por
Tempo de retorno Domicílios atingidos Danos totais
domicílio
5 anos 962 2.637.625 2.742
25 anos 1.245 4.094.205 3.289
100 anos 1.930 6.490.616 3.363
Nota: consideram-se os domicílios atingidos por um escoamento com profundidade superior a 0,25 cm e também
aqueles que tiveram somente o veículo atingido pelas águas.
A participação dos danos ao conteúdo e à construção no total de danos diretos nos domicílios
atingidos é mostrada Figura 9.17.
71
Deve ser feita a ressalva que, embora o seguro de automóvel seja relativamente difundido no Brasil, estimativa
de 1998 aponta que apenas ¼ do total de veículos em circulação no país são segurados (Galiza, 1998). Ademais,
independente do nível de cobertura, a incorporação dos veículos na estimativa de danos se justifica, tanto por
representar um item de grande riqueza do domicílio, como por tratar-se aqui de uma análise que considera, como
componente da vulnerabilidade ou da resiliência, a capacidade do domicílio em se recuperar após a inundação
com recursos próprios.
328
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7,0
6,0
4,0
1,59
3,0
2,0 1,16 3,91
1,0 2,50
1,48
0,0
Tr = 5 anos Tr = 25 anos Tr = 100 anos
Conteúdo Construção
Figura 9.17 – Danos diretos sofridos pelos domicílios da ADA para os cenários de
inundação estudados - Protótipo
Observa-se que os danos ao conteúdo são superiores aos danos à construção nos três cenários
de análise. Eles representam, respectivamente, 56%, 61% e 60% dos danos diretos associados
as inundação de Tr = 5 anos, Tr = 25 anos e Tr = 100 anos, respectivamente.
Um aspecto a ressaltar é a grande participação dos danos aos veículos em relação aos danos
totais nos domicílios onde o automóvel foi exposto ao impacto. Ele representa, em média,
mais da metade dos danos totais, como se observa na Figura 9.18.
329
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Figura 9.18 – Média da participação dos danos aos veículos em relação aos danos totais
nos domicílios onde eles ocorrem – Protótipo
Tabela 9.18 – Domicílios atingidos, valor total dos danos diretos (em reais de 2000) e renda
domiciliar (em reais de 2000) – Protótipo1
Renda Participação dos danos na Número de anos necessário para
Cenários de
média renda anual retorno ao nível de bem-estar inicial
inundação
domiciliar Média Mediana Média Mediana
Tr = 5 anos 428 72% 57% 5,9 4,8
Tr = 25 anos 537 78% 56% 6,4 5,1
Tr = 100 anos 591 73% 52% 6,0 4,3
Nota 1: Inclui danos à construção e ao conteúdo, inclusive automóvel.
Chama atenção a diminuição na relação entre o valor dos danos e a renda nos cenários de
maior risco, especialmente quando o Tr = 100 anos. A justificativa seria a exposição à
ameaça, neste cenário, de novos domicílios com renda domiciliar comparativamente superior
ao valor dos danos. A fim de se descrever melhor a amostra são mostrados os gráficos box
plot para visualização da posição, dispersão, assimetria e dados discrepantes nos cenários de
Tr=5 anos e Tr=100 anos. .
330
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800 800
12972
11630 22982
600 600
25201
10025
6214
16937
9133
8805
15817
8273 8163
5318
5294
7881
5053
4906
7407
5085
7307
400 7077
4643
18398 400 19277
7222
7172
6809 6831
6809
6762
19158
6188
3990 6106
7185
1025
9819
5874
3884 3290
7733
3865
5775
5747
5596
5571
3060 5583
5570
5407
9985
28668
5405
2476
27489 5375
5290
13045
5212
5187
12210
4927
12200
6487
4881
9746 5058
13145
10308
1624
4851
4798
4746
5637
4676
3116 4846
4716
4620
2468
8696
10356
3151
4430
9845
4399
8164
4332
4327 1511
8386
4519
6530
2233
5846
2923
4979
1730
4184
4117 5673
4289
13317
10624
8335
5543
4160
4137
2662
3987
10034
3959
12346
5607
3831 810
4037
12478
5188
4327
3882
5637
200 3823
11851
12125
2353
4676 200 3781
12608
2450
5434
3692
3688
35385
3684
4846
3140
3649
2333
7281
11968
6251
1805
3526
1591
4445
4435
3355
4366
4362
3232
4761
3850
3132
0 0
-200 -200
N= 962 N= 1930
A Figura 9.19 ilustra a diferença na distribuição da relação danos / rendimento existente entre
a área inundável com evento de tempo de retorno de 5 anos e a área atingida pela cheia com
tempo de retorno de 100 anos. A ilustração (b) mostra os dados com distribuição mais
assimétrica à direita do que em (a).
Ainda relacionado à recuperação, a Tabela 9.18 mostra o tempo necessário para que o
domicílio retorne ao nível de bem-estar anterior à ocorrência da inundação. Ele foi estimado
considerando que o domicílio alocaria toda a sua renda anteriormente gasta em bens
classificados como de luxo para a recomposição dos itens avariados pela inundação e
recuperação da construção (quinta e sexta colunas da Tabela 9.18).
Observa-se que os valores são elevados, eles se situam entre quatro e cinco anos mesmo em
locais de inundação freqüente. Eles mostram ainda, como anteriormente comentado, que a
planície de inundação de 100 anos incorpora domicílios com maior capacidade de
recuperação.
Ressalta-se que foi considerada na análise a recomposição dos bens às mesmas condições
anteriores, ou seja, ao nível de depreciação média existente antes do evento. Entretanto,
muitos domicílios, por motivos diversos, possivelmente optarão por adquirir bens novos, o
que implicará em um período ainda maior de recuperação do que o mostrado na Tabela 9.18.
331
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Foi feita uma simulação considerando a troca de todos os bens do domicílio avariados em
mais de 50% do seu valor anterior à inundação por bens novos, exceção dos veículos, para os
quais, pelo preço elevado, considerou-se que o domicílio já se satisfaria em recuperá-los às
condições anteriores ao evento. Os valores encontrados para os domicílios atingidos pela
inundação de 100 anos foram de 7,8 e 5,6 anos, respectivamente, para a média a mediana.
São, portanto, significativamente elevados.
Pode ainda ser feita outra hipótese: a de que o domicílio alocaria maior parte da sua renda
para a recuperação do que a que ele tradicionalmente alocaria em bens de luxo. Neste caso,
ele pode estar se vendo obrigado a abrir mão do consumo imediato mesmo de bens
necessários a fim de que possa se recuperar mais rapidamente.
Tabela 9.19 – Domicílios atingidos, valor total dos danos diretos (em reais de 2000) e renda
domiciliar (em reais de 2000), por classe socioeconômica – Protótipo, Tr = 100 anos
Participação dos danos na Número de anos necessário para
Classe Renda média
renda anual retorno ao nível de bem-estar inicial
socioeconômica domiciliar
Média Mediana Média Mediana
A1 - - - - -
A2 4.481 13% 11% 1,2 1,1
B1 2.892 9% 8% 0,8 0,7
B2 1.605 35% 31% 2,8 2,5
C 1.033 34% 23% 2,8 1,9
D 475 61% 46% 5,3 4,0
E 211 108% 82% 8,5 6,5
Nota 1: Inclui danos à construção e ao conteúdo, inclusive automóvel.
A Tabela 9.20 não mostra informações para a classe socioeconômica A1 porque não existem
domicílios pertencentes a ela localizados na área de inundação de tempo de retorno de 100
anos. Observe que em B1 a participação dos danos na renda é menor do que em A. Uma
provável explicação é de que, em média, os domicílios da classe A2 foram atingidos por
332
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
profundidades de inundação mais elevadas do que os domicílios da classe B1. A mesma
reflexão pode ser feita em relação aos domicílios da classe B2 e C.
Além dos danos diretos, incorporaram-se aos domicílios impactados o custo pelo excesso de
uso de combustível e pelo tempo de atraso devido à ocorrência de congestionamentos
causados pela inundação. Como os custos dos poluentes mostraram-se muito baixos em
relação aos outros componentes dos danos, eles não foram considerados nesta análise. Devem
ser destacados dois critérios utilizados na individualização dos custos associados ao transporte
dos moradores dos domicílios:
Os resultados listados na Tabela 9.20 mostram que, para os domicílios atingidos, os custos
adicionais pelo congestionamento no trânsito decorrente da inundação são bastante baixos
em relação aos danos diretos. Portanto, o impacto econômico relacionado ao sistema de
transportes se configuraria como um impacto relevante quando todas as partes envolvidas
são consideradas, já que ele atingirá também pessoas que moram fora da planície de
inundação.
Deve-se ressaltar, entretanto, que se trata de um protótipo, com uma rede viária de
pequena dimensão. Ademais, devem-se mencionar as considerações feitas por Parker,
333
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Green & Thompson (1987) de que a importância das perturbações no trânsito em relação
aos danos totais de uma inundação é variável, pois depende das características específicas
do sistema viário e da região impactada.
Além dos casos omitidos, há os pequenos estabelecimentos industriais e atacadistas que, por
não terem sido tratados em Machado (2005) e na falta de alguma referencia sobre a magnitude
dos danos diretos, também não foram avaliados. Antes estas limitações, foram consideradas
na avaliação apenas 46% das firmas atingidas.
Para definição da área construída, variável necessária para estimativa dos danos, já que as
curvas DPS são apresentadas por unidade de área, utilizou-se a mediana de área construída
dos estabelecimentos comerciais e de serviços pesquisados em Machado (2005).
334
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Tabela 9.21 – Danos diretos das firmas avaliadas no protótipo
Valor dos danos
Cenário Firmas avaliadas
(em reais de 2000)
Tr = 5 anos 193 2.271.075
Tr = 25 anos 348 5.611.122
Tr = 100 anos 592 10.537.317
Observa-se que, apesar de serem avaliadas apenas 46% das firmas atingidas, os valores são
bastantes elevados, mais altos do que aqueles verificados para os domicílios. Alguns fatores
podem contribuir para este comportamento, como o intenso uso do espaço e o grande volume
de bens expostos, principalmente em atividades de comércio. Além disso, a área construída
das firmas em foco tende a ser maior do que a verificada nas residências.
Tabela 9.22 – Distribuição dos danos diretos por firma segundo classificação da atividade
(Continua)
Participação do
dano unitário no
CAP CNAE Caracterização
total de danos
diretos
65 65 Intermediação Financeira 6%
66 66 Seguros e Previdência Privada 2%
67 67 Atividades Auxiliares da Intermediação Financeira 5%
75 75 Administração Pública, Defesa e Seguridade Social 1%
91 91 Atividades associativas 1%
93 93 Serviços Pessoais 0%
50010 50 Comércio de veículos automotores 2%
50020 50 Serviços de reparação e manutenção de veículos automotores 2%
50030 50 Comércio de peças e acessórios para veículos automotores 3%
50040 50 Comércio, manutenção e reparação de motocicletas 1%
50050 50 Posto de combustíveis 1%
53030 52 Comércio de produtos alimentícios, bebidas e fumo 1%
53041 52 Comércio de tecidos, vestuário e calçados 3%
53050 52 Comércio de madeira, material de construção, ferragens, etc. 2%
53061 52 Comércio de eletrodomésticos, móveis, etc. 12%
53062 52 Comércio de livros, jornais, revistas e papelaria 2%
53063 52 Comércio de produtos farmacêuticos, de perfumaria etc. 2%
53068 52 Comércio de mercadorias em geral 1%
53070 52 Supermercado e Hipermercado 6%
335
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
(Conclusão)
53080 52 Lojas de departamento 18%
53111 52 Reparação e manutenção de eletrodomésticos, calçados, etc. 6%
55030 55 Serviços de alimentação 1%
63021 63 Atividades auxiliares aos transportes (e.g.: estacionamentos) 1%
63030 63 Agências de viagens e organizadores de viagens 1%
64010 64 Atividades de correio 1%
70001 70 Atividades imobiliárias - exceto condomínios prediais 1%
70002 70 Condomínios prediais 1%
80011 80 Educação regular, supletiva e especial 7%
80090 80 Outras atividades de ensino não especificadas 7%
85011 85 Saúde pública e saúde particular 2%
85020 85 Serviços veterinários 2%
Para se ter uma avaliação global dos danos, pode-se ainda incorporar ao estudo a estimativa
dos danos indiretos destas firmas, segundo procedimento mostrado no item 9.2.3. Os
resultados encontrados são apresentados na Tabela 9.23.
Tabela 9.23 – Danos diretos e indiretos das firmas avaliadas na ADA (em reais de 2000)
Número de Valor dos Valor dos danos Valor dos danos indiretos
Cenário firmas danos diretos indiretos (perda de salários e
avaliadas (perda de salários) lucros
Tr = 5 anos 193 2.271.075 320.167 491.549
Tr = 25 anos 348 5.611.122 481.761 793.067
Tr = 100 anos 592 10.537.317 880.482 1.485.551
Na Tabela 9.23 o valor dos danos indiretos apresentado na quarta coluna foi estimado
segundo a Equação 9.4 do item 9.2.4. Como este valor tenderia a estar subavaliado, incorpora-
se na quarta coluna uma estimativa de perda de lucro pelas vendas cessantes (Equação 9.3,
item 9.2.4).
Observa-se que os danos diretos parecem ser significativamente mais elevados do que os
indiretos nas firmas atingidas. Como se discute nesta pesquisa cenários de uma inundação de
curta duração, possivelmente estes resultados são justificáveis.
336
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
A Figura 9.20 ilustra a complexidade que envolve as relações econômicas em uma cidade. Por
meio do mercado, vários mecanismos compensatórios são estabelecidos: danos em uma parte
da rede podem significar benefícios em outra (como mostrado na Figura 9.12) o que pode
levar a resultados globais surpreendentes.
Inundação da firma
Danos
Danos diretos
indiretos
Dificuldades financeiras
Reconstrução da firma Transferência espacial e
da firma: diminuição dos
temporal do consumo
investimentos
Dificuldades financeiras
“Aquecimento” “Desaquecimento” Economia não
da economia sofre impacto da firma: diminuição dos
da economia investimentos
“Desaquecimento”
da economia
337
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Tabela 9.24 – Indicadores quantitativos de impacto
Impacto indireto
Domicílios Firmas
(propagação do impacto)
Domicílios
Cenário Região Com Trabalha- Veículos
1 Com danos 1 com cesta
Expostos 2 Expostas danos dores em
diretos 2 de consumo
diretos atingidos circulação
atingida
ADA 1.957 962 624 409 1.440 2.041 53.701
Tr =
Nós 0 0 0 0 2.112 11.534 -
5 anos
Total 1.957 962 624 409 3.552 13.575 -
ADA 2.538 1.245 865 654 1.997 2.468 53.701
Tr =
Nós 0 0 0 0 7.153 17.149 -
25 anos
Total 2.538 1.245 865 654 9.150 19.617 -
ADA 3.780 1.930 1.288 1.100 2.912 3.241 53.701
Tr =
Nós 0 0 0 0 8.549 158.417 -
100 anos
Total 3.780 1.930 1.288 1.100 11.461 161.658 -
Nota: 1. Basta que a água chegue até a via onde se localiza a edificação para que o domicílio ou firma sejam
considerados expostos (y ≠ 0), independentemente de estarem ou não no primeiro pavimento da edificação.
2. A água atinge a edificação (y ≥ 0,25 cm) e o domicílio ou firma está no primeiro pavimento.
As Tabela 9.24 e Tabela 9.25 ilustram as relações existentes no espaço; elas mostram que
dificilmente um choque na rede mantém-se restrito ao local diretamente atingido por ele
(Figura 9.21)
Agentes
com funções
Agentes na planície
situados na de
planície de inundação
inundação
Agentes
diretamente
atingidos
338
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9.5 Indicadores de risco e vulnerabilidade
Os principais resultados obtidos com o estudo dos indicadores de risco sobre os domicílios,
segundo a metodologia presente na seção 8.9, são apresentados aqui. São mostradas as
análises considerando a área inundável para um tempo de retorno de 100 anos, usualmente
uma referência espacial para estudos de vulnerabilidade da população à inundação (Tabela
9.26).
Tabela 9.26 – Distribuição dos índices de risco e de resiliência entre os domicílios atingidos
pela inundação – Inundação com tempo de retorno de 100 anos
Valor do índice IRDM1 IRDM2 IRDH1 IRDH2 IRDA1 IRDA2 IDS1 IDS2 IDSG
Índice < 0,33 1.903 2.417 1.220 308 440 3.277 233 2.899 213
0,33 ≤ Índice < 0,56 1.589 553 1.076 1.410 1.729 173 2.259 223 2.641
0,56 ≤ Índice < 0,78 288 810 823 1.506 1.210 79 882 587 526
Índice ≥ 0,78 0 0 661 556 401 251 406 71 400
Total 3.780 3.780 3.780 3.780 3.780 3.780 3.780 3.780 3.780
Ressalta-se que na Tabela 9.26 os índices de risco e de resiliência tem idéias opostas: quanto
maior os primeiros, maior o risco; e quanto maior a resiliência, menor a possibilidade de
ocorrência da magnitude de danos associados ao risco. Portanto, um domicílio que tenha um
alto potencial de danos materiais, humanos e de acesso, se possui alta resiliência associada,
possivelmente será capaz de reduzir o risco potencial, que se concretizaria em menor nível de
danos. A Figura 9.22 mostra a distribuição percentual dos tipos de risco entre os domicílios,
segundo a intensidade do indicador.
100%
90%
80%
70%
60% Índice ≥ 0,78
50% 0,56 ≤ Índice < 0,78
40% 0,33 ≤ Índice < 0,56
30% Índice < 0,33
20%
10%
0%
IRDM1 IRDM2 IRDH1 IRDH2 IRDA1 IRDA2
O risco humano tende a ser mais elevado, especialmente o IRDH2, relacionado à tipologia de
família. O índice de risco entre 0,33 e 0,56, considerado importante, também é freqüente.
Uma possível justificativa seria a hipótese adotada de que o risco para a família está
relacionado essencialmente à sua característica, independentemente da magnitude da ameaça.
Além disso, ao contrário dos indicadores materiais, o domicílio pode apresentar risco humano
mesmo se situado acima do primeiro pavimento. Ademais, na definição dos indicadores
humanos, por terem sido utilizadas sobretudo referências teóricas, há maior subjetividade na
padronização do indicador.
O índice de acesso à renda apresentou valores baixos, o que indica que, de forma geral, o
acesso à renda foi garantido, seja pela baixa profundidade da inundação no domicílio, seja
pela não inundação dos locais de trabalho. O acesso aos bens de consumo sofreu maior
impacto, o que se relaciona ao perfil comercial da região exposta. O índice relativamente
elevado implicou na queda global das vendas às famílias discutida nas seções anteriores.
A relação entre resiliência e o risco material, humano e de acesso é mostrada na Tabela 9.27.
Ele mostra o risco nos domicílios com menores níveis de resiliência (médio a baixo), o que
indica uma maior dificuldade para mitigar os efeitos da inundação. Observe que um número
não desprezível de domicílios possui um risco superior a 0,56 (alto a muito alto) associado ao
níveis relativamente baixos de resiliência. Estes domicílios ou famílias merecem especial
atenção dos planejadores urbanos pela possibilidade de entrarem em um processo de exclusão
social e vulnerabilidade à pobreza extrema.
340
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Tabela 9.27 – Distribuição dos índices de risco nos domicílios com índice de resiliência
global - IDSG – abaixo de 0,56 – Inundação com tempo de retorno de 100 anos
Valor do índice IRDM1 IRDM2 IRDH1 IRDH2 IRDA1 IRDA2
Índice < 0,33 1.326 1.727 731 226 234 2.496
0,33 ≤ Índice < 0,56 1.312 381 839 981 1.337 102
0,56 ≤ Índice < 0,78 216 746 662 1.174 939 44
Índice ≥ 0,78 0 0 622 473 344 212
Total 2.854 2.854 2.854 2.854 2.854 2.854
Ante a análise dos mapas, uma primeira observação refere-se à diversidade existente entre os
domicílios, a qual se reflete nos indicadores de risco. As diferenças podem ser verificadas
tanto em relação à mesma categoria de índice - os riscos à construção e ao conteúdo, por
exemplo, nem sempre possuem magnitudes semelhantes no domicílio – quanto entre índices
de natureza diferente.
Em relação ao risco humano, a Figura 9.24 mostra que os domicílios com risco mais elevado
também estão próximos à calha menor do rio, entretanto, o risco humano é significativo em
toda a mancha de inundação. Os riscos mais baixos - clusters 1 e 2 – não mostram um padrão
de distribuição na região.
341
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Em relação ao risco no acesso, na região parece predominar um risco relativamente,
especialmente no acesso à renda (Figura 9.25). Observa-se uma distribuição variada na
planície de inundação, pois o indicador, além do componente ligado à inundação do
domicílio, capta a ameaça à firma acessada. Este segundo ponto relaciona-se às
particularidades comportamentais do domicílio e suas preferências em termos de escolha dos
pontos de consumo, além, obviamente, da distribuição das firmas ofertantes na planície de
inundação.
342
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Figura 9.23 – Risco de danos materiais nos domicílios do primeiro pavimento– Inundação com tempo de retorno de 100 anos
343
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Figura 9.24 – Risco de danos humanos nos domicílios do primeiro pavimento – Inundação com tempo de retorno de 100 anos
344
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Figura 9.25 – Risco no acesso dos domicílios do primeiro pavimento – Inundação com tempo de retorno de 100 anos
345
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Figura 9.26 – Resiliência dos domicílios do primeiro pavimento – Inundação com tempo de retorno de 100 anos
346
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9.5.2 Indicadores de risco no ambiente econômico
Finalmente, na última seção dos resultados são discutidos alguns indicadores de impacto na
economia do elemento de choque à normalidade, a inundação. Eles diferem conceitualmente
dos indicadores discutidos na seção 9.5.1, por não serem apresentados na forma de índices.
9.5
Sendo que:
IVE1 = Índice de impacto na estrutura econômica;
Aing = número de atividades atingidas, sendo que o tipo de atividade (“g”) varia de 1 a 56
(classificação CNAE);
Atotg = número total de atividades, sendo que o tipo de atividade (“g”) varia de 1 a 56
(classificação CNAE);
pg = peso para cada setor “g”, segundo sua importância econômica.
Observe que o impacto do evento foi baixo segundo o IVE1, o que parece não indicar pontos
de estrangulamentos setoriais relevantes. De fato, apesar da região atingida ser central, sua
dimensão é relativamente pequena em relação ao restante da área urbana. Observe que não foi
considerada aqui a duração da inundação, pois se pretende verificar o nível a vulnerabilidade
347
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da estrutura econômica independentemente da duração do evento. Além disso, considerou-se
a ocorrência de uma inundação de curta duração.
9.6
Sendo que:
IVE2 = Índice de restrição de alternativas de consumo das famílias;
Ainf = número de atividades atingidas com oferta direta de bens ou serviços para as famílias,
sendo que a tipologia de bem ofertado (f) varia de 1 a 20;
Atotf = número total de atividades com oferta direta de bens ou serviços para as famílias, sendo
que a tipologia de bem ofertado (f) varia de 1 a 20;
pf = peso para cada tipo de atividade com oferta de bens ou serviços para as famílias; peso
definido segundo a tipologia de bens que oferta.
348
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9.5.2.3 Indicador do impacto sobre o valor adicionado da localidade (IVE3)
A variação no valor adicionado em termos monetários foi analisada no item 9.2.4. Como
indicador de impacto na renda e na produção da economia, adota-se a formulação apresentada
no item 8.9.3.3 (Equação 8.39):
9.7
Sendo que:
IVE3 = Índice de impacto no valor adicionado local;
Winun = Massa salarial diária nas atividades atingidas;
Wtot = massa salarial diária total das atividades;
dinun = dias de inundação.
Observe na Tabela 9.30 que o IVE3 indica um impacto em termos de valor adicionado bastante
inferior ao impacto mostrado pelo IVE2 no acesso às unidades de oferta. Embora os dois
índices tenham caráter distinto, eles parecem mostrar a centralidade da ADA em termos de
oferta de bens e serviços para as famílias, mas não necessariamente na geração de valor
adicionado na cidade.
349
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10 CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS
a cidade é segunda natureza, é um trabalho, é um produto que está superimposto sobre a
primeira natureza e que utiliza os mesmos elementos, como a água. A água é um material
urbano emprestado da primeira natureza e se torna conhecido e usado através da segunda
natureza.72
10.1 Conclusões
O objetivo principal deste trabalho foi o de avaliar os danos da inundação sobre o ambiente
urbano, com ênfase nos impactos sobre os domicílios, mas analisando-os em um contexto
mais amplo, das relações socioeconômicas que se estabelecem na cidade. Desta forma,
procurou-se captar os danos diretos e indiretos de eventos de inundações.
Discutiu-se, além do impacto na riqueza do domicílio com a perda de ativos pela exposição e
vulnerabilidade à inundação, o impacto sobre as relações fundamentais que moldam seu
comportamento econômico: o consumo de bens e serviços e o consumo da sua força de
trabalho para aquisição de renda
A fim de captar todas estas influências, foi construído um protótipo no qual é possível definir
as relações entre a ocorrência da inundação, os danos diretos aos domicílios, as perturbações
sobre os fluxos de gasto e renda e as perturbações sobre o tráfego. As conexões puderam ser
captadas não apenas entre estes quatro elementos, mas também, espacialmente, entre regiões.
A agregação destas dimensões em um método de análise é pouco utilizada e, de fato, não
foram encontradas referências significativas na literatura.
72
Conversa com Henri Lefebvre. Espaço e Debates no 30, 1990, p.61-69.
350
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
Entretanto, a criação de um protótipo constitui-se em espaço de experimentação e análise de
vários fenômenos naturais e sociais, os quais podem ser mais bem compreendidos e
parametrizados, antes da aplicação empírica do método.
Desta forma, espera-se que esta pesquisa possibilite uma melhor compreensão dos processos
complexos que envolvem a interação entre natureza e sociedade. Em um contexto científico,
buscou-se avançar no conhecimento dos fatores que interferem no impacto da inundação,
mostrando métodos interdisciplinares de compreensão e análise do problema menos usuais,
em diferentes perspectivas e abordagens. Em um contexto mais amplo, busca-se a abertura de
um caminho para a reflexão de questões relevantes que orientem a definição das políticas
públicas, como a necessidade de um estudo que integre as várias dimensões relacionadas à
gestão do risco de inundações - ambiental, social e econômico - e que possibilite a
convivência mais harmoniosa entre o espaço construído e a primeira natureza, em referência à
declaração de Lefebvre mostrada na epígrafe deste capítulo.
Utilizou-se a modelagem econômica em rede para definir a direção dos fluxos econômicos
que saem e entram nos domicílios. Portanto, foi feita a conexão entre oferta e demanda de
trabalho, bens e serviços criando-se uma rede econômica de relações entre domicílios e
firmas.
Neste processo, foi criado um banco de dados estruturado e relacional de firmas e domicílios.
As conexões entre estes dois agentes foram feitas por meio de modelagem computacional no
software Netlogo.
Esta análise teve como objetivo verificar qual seria o impacto de uma perturbação na rede,
tanto na região diretamente afetada, como no seu entorno mais imediato e em toda a rede
intra-urbana.
351
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
O método utilizado, ao trabalhar com uma análise de fluxos, mostrou-se válido para captar a
propagação de um impacto local na rede. Ante as recentes notícias sobre a “paralisação” de
São Paulo com os alagamentos e inundações das marginais, verificam-se suas potencialidades
para auxiliar na compreensão da ampliação do impacto, com a identificação da
vulnerabilidade da rede e seus pontos de “estrangulamento”.
O uso da simulação do tráfego possibilitou captar uma classe de danos indiretos fundamental
e relativamente pouco estudada: as deseconomias de transporte associadas a
congestionamentos e perturbações severas na rede. A micro-simulação do tráfego permite
verificar as variações nos indicadores de desempenho (velocidade, consumo de combustível,
emissão de poluentes etc.) de forma dinâmica, possibilitando captar os efeitos cumulativos do
impacto.
Ao contrário de uma medida sintética do risco, optou-se pelo detalhamento dos vários
aspectos relacionados à vulnerabilidade, ameaça e exposição da inundação, acreditando haver
352
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
uma lacuna nos estudos a este respeito. Dessa forma, além de sua importância como
informação sobre várias dimensões do risco, sua construção possibilitou a identificação de
diversos parâmetros de análise, os quais se observou, nos próprios procedimentos para
construção dos índices, não serem facilmente encontrados de forma sistematizada na
literatura.
Esse detalhamento, entretanto, tem como uma possível conseqüência certa redundância dos
indicadores em suas bases conceituais. Pode-se, por exemplo, por meio de técnicas
multivariadas, verificar a estrutura dos indicadores, sua dispersão e a existência de correlação
entre eles. A análise fatorial permite examinar a estrutura dos indicadores e definir as
dimensões latentes que existem entre eles. A análise de cluster, com medidas correlacionais,
possibilita que seja identificada a existência de correlação entre os perfis dos objetos. Todos
estes aspectos podem ser avaliados caso se deseje uma agregação complementar dos
indicadores.
10.2 Perspectivas
Com os estudos desenvolvidos nesta tese, procurou-se explorar um conjunto de técnicas
pouco utilizadas na análise de impactos ambientais e socioeconômicos, que abrisse um amplo
campo de possibilidades para estudos futuros.
O protótipo definiu-se como uma estrutura básica que pode ser continuamente aperfeiçoada.
Em um horizonte de curto prazo, o banco de dados e as rotinas analíticas presentes permitem
avanços nas análises, os quais não foram incorporados na tese por limitações práticas, de
tempo e de capacidade computacional.
Com o banco de dados disponível e o uso de um software mais robusto é possível criar
rotinas mais precisas e individuais de deslocamento, trazendo maior precisão na
definição do espaço de fluxos.
Procurou-se ainda estimar qual seria a conseqüência nos fluxos de transporte de uma
interrupção de um dia nos links. Esta análise seria relevante para verificar se haveria
redundância significativa na rede e quais seriam as novas condições de tráfego em
uma rede possivelmente sub-ótima. Entretanto, verificaram-se problemas de
instabilidade computacional e optou-se por desenvolver esse estudo posteriormente.
O banco de dados possui um grande volume de informações que tem como referência
o município de Belo Horizonte. Sua aplicação empírica na capital mineira seria,
portanto, mais facilmente conduzida. Isso, entretanto, não retira a generalidade da
metodologia, ao menos para aplicações no Brasil, dada a vinculação da base de dados
354
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do modelo às diferentes bases de dados socioeconômicos do país. Naturalmente, a
construção da base de dados, bem como a modelagem hidrológico-hidráulica são
específicas a cada local.
A metodologia proposta abre inicialmente três grandes perspectivas para estudos futuros: a
criação de uma análise dinâmica, o aprofundamento da análise da propagação espacial do
evento e a aplicação do método em um estudo de caso. A pesquisa de tese focou
especialmente no segundo, mas lança elementos fundamentais de discussão para a
incorporação de rotinas dinâmicas no modelo.
O estudo de como os efeitos da inundação se propagam na cidade pode ser aprofundado com
ajustes no modelo proposto na tese ou com a incorporação de novas ferramentas de análise.
Nesse aspecto, tem importância central a análise da estrutura e configuração da rede, as quais
definem sua vulnerabilidade a choques e pontos de rompimento.
Um aspecto relevante que poderia ser verificado com estas análises seria quanto tempo, após
uma inundação relevante, a cidade levaria para recuperar sua estrutura original, pré-choque.
Como possível ferramenta de análise, tem-se o software Repast, plataforma para programação
de modelagem em agentes, disponível livremente na Internet73, o qual possui capacidade
computacional suficiente para definir rotinas comportamentais mais detalhadas para os
agentes.
Para análise de redes, têm-se como exemplos, o Ucinet ou o Pajek, pacotes para simulação de
redes sociais e econômicas74, os quais já foram estudados pela pesquisadora, mas não
puderam ser incorporados na tese, pela limitação de tempo. Eles apresentam uma interface
amigável e, especialmente o segundo, possuem capacidade para o tratamento de grandes
E, finalmente, a aplicação empírica do método. Pode-se, por exemplo, estudar sua utilização
nos estudos sobre a bacia hidrográfica do ribeirão Arrudas. No programa SMARH há um
grupo de pesquisadores que desenvolve estudos na bacia, com análises sobre percepção de
risco e danos diretos causados pelas cheias. Abre-se, portanto, a possibilidade para
colaboração mútua, troca de informações e de conhecimento científico envolvendo a
problemática das inundações.
356
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Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
APÊNDICE I - O VALOR DA VIDA HUMANA
O valor da vida humana também pode ser uma variável incorporada ao risco econômico,
aumentando o valor dos danos evitados. Para isto têm-se métodos que possibilitam traduzir a
vida em termos monetários. O maior volume de pesquisas sobre o assunto ocorre em áreas
relacionadas à segurança de tráfego e no setor de seguros, mas as controvérsias são grandes.
Segundo Ball (2000), é um campo com grande divergência de opiniões, metodologias
controversas e elevado grau de incerteza. Levanta questões éticas e morais, pois muitos
consideram impossível definir qualquer valor ou preço para a vida. Ainda assim, uma
avaliação de risco dificilmente pode se abster de incluir uma discussão do valor da vida
humana, mesmo qualitativa e subjetiva, pois negligenciá-la significa subvalorizar
demasiadamente os benefícios das medidas de minimização de danos.
Entre as técnicas de valoração da vida humana, uma das mais comumente aceitas e
empregadas é o método de valoração contingente (MVC) por ser considerada teoricamente
bem fundamentada nos princípios da economia do bem-estar. Por meio dela procura-se captar
o valor que indivíduos atribuem à vida humana ou, alternativamente, seu desejo de evitar dor
e sofrimentos associados a ferimentos e lesões. Jonkmana, Van Gelder & Vrijling (2003)
mostram em estudo sobre várias medidas de risco, a possibilidade de se obter o valor
estatístico da vida (VoSL) via MVC comparando-se a disposição a pagar por medidas de
segurança (DAP) e o número esperado de fatalidades (E(N)):
Onde:
VoSL = valor estatístico da vida;
DAP = disposição a pagar por medidas de segurança;
E (N) = número esperado de fatalidade.
Observe que esta formulação matemática aplica-se em alternativas de segurança cujo objetivo
fundamental seja evitar riscos individuais/sociais como mortes e ferimentos.
Outras metodologias de valoração podem ser utilizadas. A vida pode ser valorada segundo a
produção econômica potencial de cada indivíduo; produção medida, por exemplo, pelo
produto nacional líquido (abordagem macroeconômica). Como benefício de uma medida de
controle de danos ter-se-ia, então, não apenas o valor esperado dos danos econômicos
382
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
evitados, mas também o valor econômico de cada indivíduo multiplicado pelo número de
fatalidades.
Existem metodologias que utilizam uma analise comparativa para estimar o custo
(investimento) feito para salvar uma vida extra. São estimativas obtidas a partir de dados de
investimentos em medidas de proteção a vida humana e o número de fatalidades evitadas. O
valor da expectativa de vida muitas vezes é uma variável relevante nestes modelos. Lind
(2001) apud Jonkmana, Van Gelder & Vrijling (2003) apresenta uma norma a ser utilizada no
gerenciamento do risco pela administração pública: uma medida de segurança deve retornar
mais em anos de expectativa de vida do que os anos de trabalho necessários para pagar a
medida, ou seja, a “taxa interna de retorno” do projeto é positiva se o número de anos ganhos
com a medida for maior do que aqueles gastos com sua implantação.
Mesmo que a técnica para definir um valor da vida humana tenho sido escolhida
adequadamente segundo os objetivos do estudo efetuado, o grau de incerteza em relação aos
resultados é grande. Ball (2000) corrobora este argumento apresentando o resultado de vários
trabalhos sobre valoração da vida humana e a dispersão apresentada entre eles. Segundo o
autor, este grau de incerteza deve ser minimizado com a incorporação de diversos critérios na
análise, como estudos de preferências reveladas e expressas, julgamento de especialistas e
instituições a partir de decisões passadas e escolhas políticas.
383
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
APÊNDICE II – INDICADORES DE RISCO FÍSICO E FATORES DE
IMPACTO
384
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APÊNDICE III- VARIÁVEIS DO INDICADOR DE RISCO TOTAL
385
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
APÊNDICE IV- VARIÁVEIS DA MATRIZ “DOMICÍLIO”
VARIÁVEL CARACTERÍSTICA
1 Ordem do domicílio Ordenamento dos domicílios
2 Número do domicílio Número do domicílio, segundo IBGE
3 Unidade de planejamento do domicílio Vizinhança onde a pessoa reside
4 Localização: coordenada x do domicílio Coordenada x do local de residência
5 Localização: coordenada y do domicílio Coordenada y do local de residência
6 Tipologia de família 1 a 12, segundo o tipo de família
7 Responsável masculino Sim (1), Não (0)
8 Responsável feminino Sim (1), Não (0)
9 O responsável pelo domicílio é idoso? Sim (1), Não (0)
10 Número de filhos menores do que Sim (1), Não (0)
11 Números de filhos maiores do que Sim (1), Não (0)
12 Existência de cônjuge ou companheiro (a) Sim (1), Não (0)
13 Outras pessoas, com exceção do responsável, cônjuge e filhos, morando no domicílio Quantidade
14 Situação do setor Urbana (1), Rural (2)
15 Tipo de domicilio Casa (1), Apartamento (2)
16 Numero de cômodos Quantidade
17 Numero de dormitórios Quantidade
18 Número de moradores Quantidade
19 Número de pessoas por dormitório Quantidade
20 Número de homens no domicílio Quantidade
21 Número de mulheres no domicílio Quantidade
22 Condição do domicílio Próprio, alugado, cedido, outra
23 Forma de abastecimento de água Rede Geral, Poço ou Nascente, Outra
24 Existência de canalização No domicílio, no terreno, não canalizada
25 Existência de banheiro Sim, Não
26 Escoadouro Forma de esgotamento
27 Destino do lixo Destino do lixo da propriedade
28 Existência de iluminação elétrica Sim, Não
29 Pavimentação Total, Parcial, Não existe
30 Existência de rádio Sim (1), Não (2)
31 Existência de geladeira Sim (1), Não (2)
32 Existência de videocassete Sim (1), Não (2)
33 Existência de máquina de lavar roupas Sim (1), Não (2)
34 Existência de forno microondas Sim (1), Não (2)
35 Existência de linha telefônica Sim (1), Não (2)
36 Existência de computador pessoal Sim (1), Não (2)
37 Número de aparelhos de tv Quantidade
38 Número de automóveis Quantidade
39 Número de aparelhos de ar condicionado Quantidade
40 Rendimento domiciliar (em reais de 2000) Valor do rendimento mensal familiar
41 Rendimento domiciliar per capita (em reais de 2000) Valor do rendimento per capita mensal no domicílio
42 Classe socioeconômica em que se insere o domicílio (segundo a renda domiciliar total) A1, A2, B1, B2, C, D, E.
Classe socioeconômica em que se insere o domicílio (segundo a renda domiciliar per
43 capita) A1, A2, B1, B2, C, D, E.
44 Área do imóvel (km2) Área do imóvel em km2
45 Padrão construtivo do imóvel Alto, normal, baixo ou popular.
46 Gasto em bens essenciais contíguos Valor em reais de 2000
47 Gastos em bens essenciais com oferta discreta Valor em reais de 2000
48 Gastos em bens essenciais com oferta muito discreta Valor em reais de 2000
49 Gastos em bens necessários contíguos Valor em reais de 2000
50 Gastos em bens necessários com oferta discreta Valor em reais de 2000
51 Gastos em bens necessários com oferta muito discreta Valor em reais de 2000
52 Gastos em bens de luxo Valor em reais de 2000
386
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APÊNDICE V– TIPOLOGIAS DE GASTO
(Continua)
Gasto Caracterização Grupo Característica
1 Alimentação (dentro e fora do domicílio) G1.1.1 Essenciais, oferta contígua, aquisição diária
2 Aluguel G1.1.4 Essenciais, oferta contígua, aquisição rara
3 Serviços e taxas: Gás doméstico G1.R Essenciais, oferta em rede
4 Outros serviços e taxas (condom., internet. etc.) G2.2.4 Necessários, oferta discreta, aquisição rara
5 Artigos de limpeza G2.2.3 Necessários, oferta discreta, aquisição mensal
6 Mobiliários e artigos do lar G2.2.4 Necessários, oferta discreta, aquisição rara
7 Eletrodomésticos, equipamentos do lar, som e TV G2.2.4 Necessários, oferta discreta, aquisição rara
Consertos de artigos do lar (e.g.: consertos de
8 eletrodomésticos e mobiliário) G2.3.4 Necessários, oferta muito discreta, aquisição rara
9 Manutenção do lar G2.3.4 Necessários, oferta muito discreta, aquisição rara
10 Serviços e taxas: Energia elétrica, água e esgoto G1.R Essenciais, oferta em rede
11 Serviços e taxas: Telefone fixo G2.R Necessários, oferta em rede
12 Serviços e taxas: Telefone celular G2.R Necessários, oferta em rede
13 Tecidos e armarinhos G2.2.4 Necessários, oferta discreta, aquisição rara
14 Roupas, calçados e apetrechos G2.2.4 Necessários, oferta discreta, aquisição rara
15 Jóias e bijuterias G3.2.4 Luxo, aquisição rara
16 Transporte urbano G1.R Essenciais, oferta em rede
17 Gasolina e Álcool - veículo próprio G2.1.3 Necessários, oferta contígua, aquisição mensal
18 Outras (transporte: estac., seguro obrig. etc.)) G2.2.3 Necessários, oferta discreta, aquisição mensal
19 Manutenção - veículo próprio G2.3.4 Necessários, oferta muito discreta, aquisição rara
20 Viagens (e.g.: avião, ônibus) G3.R Luxo, oferta em rede
21 Aquisição de veículos G3.3.4 Luxo, aquisição rara
22 Xampu, produtos para cabelo e sabonetes G2.1.3 Necessários, oferta contígua, aquisição mensal
Instrumentos e produtos de uso pessoal (e.g.: artigos
23 de maquiagem,lâmina de barbear, alicate) G2.1.4 Necessários, oferta contígua, aquisição rara
24 Perfume G3.2.4 Luxo, aquisição rara
25 Remédios G1.1.3 Essenciais, oferta contígua, aquisição mensal
26 Plano/Seguro saúde G1.3.4 Essenciais, oferta muito discreta, aquisição rara
27 Outras (saúde, e.g: mamadeira, ambulancia) G1.2.4 Essenciais, oferta discreta, aquisição rara
Material de tratamento (e.g.: seringa, termômetro,
28 óculos) G1.2.4 Essenciais, oferta discreta, aquisição rara
Tratamento ambulatorial, serviços de cirurgia,
29 hopitalização, exames diversos, consulta médica G1.3.4 Essenciais, oferta muito discreta, aquisição rara
30 Consulta e tratamento dentário G1.3.4 Essenciais, oferta muito discreta, aquisição rara
31 Artigos escolares (e.g.:mochila escolar, merendeira) G2.2.4 Necessários, oferta discreta, aquisição rara
32 Livros didáticos e revistas técnicas G2.2.4 Necessários, oferta discreta, aquisição rara
33 Outras (educação, e.g: uniforme, matricula) G2.2.4 Necessários, oferta discreta, aquisição rara
34 Cursos regulares (exceto superior) G2.3.1 Necessários, oferta muito discreta, aquisição diária
35 Curso superior G2.3.1 Necessários, oferta muito discreta, aquisição diária
36 Outros cursos G3.2.2 Luxo, aquisição semanal
37 Periódicos, livros e revistas não didáticos G3.1.1 Luxo, aquisição diária
38 Celular e acessórios G3.2.4 Luxo, aquisição rara
39 Brinquedos e jogos G3.2.4 Luxo, aquisição rara
387
Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
(Conclusão)
Outras (e.g. porte de arma, equipamentos de
40 ginástica e demais despesas similares) G3.3.4 Luxo, aquisição rara
41 Diversões e esportes G3.2.2 Luxo, aquisição semanal
42 Fumo G3.1.2 Luxo, aquisição semanal
Cabelereiro, manicuro e pedicuro, outros serviços
43 pessoais (depilação, maquiagem, etc.) G3.1.3 Luxo, aquisição mensal
Consertos de artigos pessoais (e.g.: sapateiro,
44 relojoeiro, chaveiro) G3.2.4 Luxo, aquisição rara
45 Outras (despesas diversas) G3.2.4 Luxo, aquisição rara
46 Comunicação (e.g.: correio, telefone público) G2.3.4 Necessários, oferta muito discreta, aquisição rara
47 Serviços profissionais (cartório, advog., cont.) G2.3.4 Necessários, oferta muito discreta, aquisição rara
48 Jogos e apostas G3.1.3 Luxo, aquisição mensal
49 Cerimônias familiares e religiosas e festas G3.2.4 Luxo, aquisição rara
50 Imóveis de uso ocasional G3.2.4 Luxo, aquisição rara
51 Impostos e contribuições G2.3.4 Necessários, oferta muito discreta, aquisição rara
52 Pensões, mesadas e doações G2.2.4 Necessários, oferta discreta, aquisição rara
53 Serviços bancários G2.2.4 Necessários, oferta discreta, aquisição rara
54 Previdência privada G3.2.4 Luxo, aquisição rara
55 Outras (seguro de vida, asilo etc.) G3.2.4 Luxo, aquisição rara
56 Imóvel (reforma) G3.2.4 Luxo, aquisição rara
57 Outros investimentos (ativos: títulos, terrenos etc.) G3.2.4 Luxo, aquisição rara
58 Imóvel (aquisição) G3.2.4 Luxo, aquisição rara
Empréstimo pessoais, carnê de mercadorias e
59 prestação de imóvel G2.2.4 Necessários, oferta discreta, aquisição rara
388
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APÊNDICE VI - PADRÕES DE CONTEÚDO POR CÔMODO
SEGUNDO AS CLASSES DE RENDA FAMILIAR
Quantidade de Quantidade de
Cômodo bens /Classe de Cômodo bens /Classe de
renda renda
Quarto de casal A B C D E Cozinha A B C D E
Cama de casal 1 1 1 1 1 Estante 1 1 1 0 0
Colchão de casal 1 1 1 1 1 Fogão 1 1 1 1 1
Guarda-roupa 1 1 1 1 1 Exaustor 1 1 0 0 0
Cômoda 1 1 0 0 0 Forno elétrico 1 0 0 0 0
Criado 1 1 1 0 0 Microondas 1 1 0 0 0
Escrivaninha 1 0 0 0 0 Geladeira 1 1 1 1 1
TV 1 1 0 0 0 Freezer 1 0 0 0 0
Vídeo-cassete 1 0 0 0 0 Processador de alimentos 1 1 0 0 0
Micro-system 1 0 0 0 0 Lavadora de pratos 1 1 0 0 0
Telefone s/ fio 1 1 0 0 0 Copa A B C D E
Ar condicionado 1 0 0 0 0 Estante 1 1 1 1 1
Radio 0 1 0 0 0 Mesa - cadeiras 1 1 1 1 1
Ventilador 0 1 1 0 0 Escritório/biblioteca A B C D E
Quarto de solteiro A B C D E Estante 1 1 1 1 1
Cama de solteiro 1 1 1 1 1 Mesa - cadeiras 1 1 1 1 1
Colchão de solteiro 1 1 1 1 1 Telefone s/ fio 1 1 0 0 0
Guarda-roupa 1 1 1 1 1 Microcomputador 1 1 1 0 0
Cômoda 1 0 0 0 0 Área de serviço A B C D E
Criado 1 0 0 0 0 Aspirador de pó 1 1 0 0 0
Escrivaninha 1 1 0 0 0 Máquina de lavar roupas 1 1 1 0 0
TV 1 0 0 0 0 Secadora de roupas 1 0 0 0 0
Micro-system 1 0 0 0 0 Tanquinho 0 0 0 1 0
Ventilador 1 1 0 0 0 Sala adicional A B C D E
Radio 0 1 0 0 0 Estante 1 1 1 1 1
Sala A B C D E Sofá 1 1 1 1 1
Estante 1 1 1 1 1
Sofá 1 1 1 1 0
TV (grande dimensão) 1 1 1 1 0
Vídeo-cassete 1 1 1 0 0
Telefone s/ fio 1 1 1 1 0
Micro-system 1 1 1 0 0
Radio 0 0 0 1 0
Mesa - cadeiras 0 0 0 0 1
389
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APÊNDICE VII – TIPOS DE ATIVIDADES DAS UNIDADES
ECONÔMICAS
(Continua)
Divisão ou
Ordem Atividade Venda2
Seção1
1 Veículos automotores 50 1
2 Peças para veículos 50 1
3 Motocicletas, peças e acessórios 50 1
4 Produtos agropecuários in natura e produtos alimentícios para animais 51 2
5 Produtos alimentícios, bebidas e fumo 51 2
6 Fios texteis, tecidos, artefatos de tecidos e de armarinho, vestuário e calçados 51 2
7 Eletrodomésticos e outros equipamentos de uso pessoal e doméstico 51 2
8 Produtos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, odontológicos e veterinários 51 2
9 Artigos de escrit. e de papelaria; papel e seus artefatos; livros, jornais, etc. 51 2
10 Outros artigos de uso pessoal e doméstico 51 2
11 Comércio de produtos intermediários, resíduos e sucatas 51 2
12 Comércio de máq., aparelh. e equip. de uso agropec., comercial e indust. 51 2
13 Comércio de mercadorias em geral 51 2
14 Hipermercados e supermercados 52 1
15 Outros tipos de comércio não especializ. predominância de prod. aliment. 52 1
16 Comércio não especializ. sem predominância de prod. Aliment. 52 1
17 Produtos alimentícios, bebidas e fumo 52 1
18 Tecidos e artigos de armarinho 52 1
19 Artigos do vestuário e complementos 52 1
20 Calçados, artigos de couro e viagem 52 1
21 Combustíveis e lubrificante 50 1
22 Produtos farmacêuticos, médicos, veter., ortopéd., de perf. e comésticos 52 1
23 Máq. e aparelh. de uso doméstico e pessoal, discos, instr. musicais, etc. 52 1
24 Móveis, artigos de iluminação e outros artigos de residência 52 1
25 Mat. de constr., ferrag., ferrament. e prod. metalúrg.; vidros; tintas e madeiras 52 1
26 Equip. e materiais para escritório, informática e comunicação 52 1
27 Livros, jornais, revistas e papelaria 52 1
28 Gás liquefeito de petróleo (GLP) 52 1
29 Outros produtos 52 1
30 Comércio de artigos usados 52 1
31 Serviços de alojamento (hoteis, pousadas etc) 55 1
32 Serviços de alimentação (restaurantes, bares etc) 55 1
33 Atividades recreativas e culturais 92 1
34 Serviços pessoais 93 1
35 Atividades de ensino continuado 80 1
36 Telecomunicações 64 2
37 Atividades de informática 72 1
38 Serviços audiovisuais 92 2
39 Agências de notícias e serviços de jornalismo 92 2
40 Serviços técnico-profissionais 74 1
41 Seleção, agenciamento e locação de mão-de-obra temporária 74 2
42 Serviços de investigação, segurança, vigilância e transporte de valores 74 2
43 Serviços de limpeza em edificações e outros serviços prestados às empresas 74 1
44 Transporte ferroviário e metroviário 60 2
45 Transporte rodoviários de passageiros 60 2
46 Transporte rodoviário de cargas 60 2
47 Transporte aquaviário 61 2
48 Transporte aéreo 62 1
49 Agências de viagens e organizadoras de viagens 63 1
390
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(Conclusão)
Divisão ou 2
Ordem Atividade Venda
Seção1
50 Serviços auxiliares dos transportes 63 2
51 Correio e outras atividades de entrega 64 1
52 Atividades imobiliárias 70 1
53 Aluguel de veículos, máquinas e objetos pessoais e domésticos 71 1
54 Manutenção e reparação de veículos 50 1
55 Manutenção e reparação de objetos pessoais e domésticos 52 1
56 Manutenção e reparação de máquinas de escritório e de informática 72 2
57 Serviços auxiliares da agricultura 1 2
58 Agentes de comércio e representação comercial 51 2
59 Serviços auxiliares, financeiros, dos seguros e da previdência complementar 65,66,67 (J) 1
60 Limpeza urbana e esgoto 90 2
61 Agricultura, pecuária e serviços relacionados 1 2
62 Silvicultura, exploração florestal e serviços relacionados 2 2
63 Pesca, aquicultura e serviços Relacionados 5 2
64 Extração de carvão mineral 10 2
65 Extração de petróleo e gás natural e serviços relacionados 11 2
66 Extração de minerais metálicos 13 2
67 Extração de minerais não-metálicos 14 2
68 Fabricação de produtos alimentícios e bebidas 15 2
69 Fabricação de produtos do fumo 16 2
70 Fabricação de produtos têxteis 17 2
71 Confecção de artigos do vestuário e acessórios 18 2
72 Preparacão e fabricação de artefatos de couro, artigos de viagem e calçados 19 2
73 Fabricação de produtos de madeira 20 2
74 Fabricação de celulose, papel e produtos de papel 21 2
75 Edição, impressão e reprodução de gravações 22 2
76 Fab. de coque, ref. de petróleo, elab. de comb. nucleares e prod. de álcool 23 2
77 Fabricação de produtos químicos 24 2
78 Fabricação de artigos de borracha e plástico 25 2
79 Fabricação de produtos de minerais não-metálicos 26 2
80 Metalurgia básica 27 2
81 Fabricação de produtos de metal - exceto máquinas e equipamentos 28 2
82 Fabricação de máquinas e equipamentos 29 2
83 Fabricação de máq. para escritório e equipamentos de informática 30 2
84 Fabricação de máq., aparelhos e materiais elétricos 31 2
85 Fabricação de material eletr. e de aparel. e equip. de comunic. 32 2
86 Fab. de equip. de médico-hosp., de precisão, para automação ind., relógios 33 2
87 Fabricação e montagem de veículos automotores, reboques e carrocerias 34 2
88 Fabricação de outros equipamentos de transporte 35 2
89 Fabricação de Móveis e Indústrias Diversas 36 2
90 Reciclagem 37 2
91 Eletricidade, gás e água Quente 40 2
92 Captação, tratamento e distribuição de água 41 2
93 Construção 45 2
94 Pesquisa e desenvolvimento 73 2
95 Administração pública, defesa e seguridade social 75 1
96 Saúde e serviços sociais 85 1
97 Atividades associativas 91 1
391
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APÊNDICE VIII - INDICADORES DE ENCADEAMENTO E FATORES
MULTIPLICADORES DA PRODUÇÃO
Conforme mencionado no item 8.9.3.1, nas análises preliminares para estudo da importância
relativa dos setores na economia, considerou-se o uso de indicadores de encadeamento para
frente e para trás e de fatores multiplicadores.
Nestas análises preliminares foi utilizada o Índice Puro de Ligação (GHS) que leva em conta,
além dos coeficientes técnicos intersetoriais, o valor absoluto da produção.75 Em Silva et al.
(2003), o índice foi calculado para os setores produtivos de Minas Gerais, a partir de
informações de produção e consumo do ano de 1996. O índice incorpora a relação entre todos
os setores da economia mineira e também destas com São Paulo e o resto do Brasil. Ele é,
portanto, inter-setorial e inter-regional. Embora para os objetivos deste trabalho um índice
independente seria preferível (aquele que considera apenas as relações inter-setoriais), Silva et
al. (2003), ao elaborar um índice inter-setorial dependente, ou seja, com a incorporação das
relações inter-regionais, e um independente, ressalta que não foram encontradas diferenças
significativas entre os dois.
75
Os coeficientes técnicos mostram a relação entre as compras totais do setor junto aos outros setores e a sua
produção total.
392
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APÊNDICE IX – INFORMAÇÕES E PESOS DOS SETORES NO
PROTÓTIPO SEGUNDO CÓDIGO CNAE
Número de Pessoal Salários Peso
CNAE
Empresas Ocupado (R$ de 2000)
1 688 688 1.397.245 0,0119
2 328 328 748.586 0,0064
11 6 6 22.100 0,0002
13 242 242 664.200 0,0057
14 149 149 306.388 0,0026
15 3311 3311 2.508.445 0,0214
16 52 52 16.805 0,0001
17 625 625 504.214 0,0043
18 2597 2597 1.648.260 0,0141
19 930 930 482.688 0,0041
20 243 243 157.675 0,0013
21 230 230 329.991 0,0028
22 1654 1654 1.536.967 0,0131
23 40 40 79.739 0,0007
24 940 940 1.237.175 0,0105
25 442 442 451.861 0,0039
26 663 663 798.750 0,0068
27 1264 1264 2.306.070 0,0197
28 1164 1164 1.057.809 0,0090
29 864 864 1.254.413 0,0107
30 96 96 101.021 0,0009
31 260 260 356.895 0,0030
32 124 124 114.476 0,0010
33 280 280 253.058 0,0022
34 620 620 849.004 0,0072
35 44 44 69.634 0,0006
36 1304 1304 976.886 0,0083
37 60 60 27.617 0,0002
40 5523 5523 10.331.348 0,0881
41 846 846 1.351.651 0,0115
45 13490 13490 10.112.231 0,0862
50 6296 6296 6.453.460 0,0550
51 5488 5488 8.419.268 0,0718
52 28409 28409 26.780.768 0,2283
55 8968 8968 6.039.779 0,0515
60 7919 7919 7.441.048 0,0634
61 29 29 659.982 0,0056
62 214 214 326.502 0,0028
63 1421 1421 1.399.847 0,0119
64 2229 2229 2.628.100 0,0224
393
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65 3544 3544 5.892.621 0,0502
66 600 600 777.692 0,0066
67 840 840 1.488.848 0,0127
70 6041 6041 5.513.066 0,0470
71 1007 1007 900.612 0,0077
72 2156 2156 3.251.465 0,0277
73 530 530 672.892 0,0057
74 29135 29135 45.893.088 0,3912
75 71019 71019 117.299.734 1,0000
80 21322 21322 25.954.326 0,2213
85 10955 10955 17.943.231 0,1530
90 1074 1074 513.669 0,0044
91 4695 4695 3.814.709 0,0325
92 3101 3101 3.734.143 0,0318
93 1570 1570 985.270 0,0084
99 1 1 15.643 0,0001
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