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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

CENTRO TECNOLÓGICO
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL
CURSO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL

Silvana dos Reis Aguiar

PROJETO EXECUTIVO DE UM SISTEMA DE WETLAND CONSTRUÍDO PARA


TRATAMENTO DE ESGOTO DOMÉSTICO

Florianópolis
2020
Silvana dos Reis Aguiar

PROJETO EXECUTIVO DE UM SISTEMA DE WETLAND CONSTRUÍDO PARA


TRATAMENTO DE ESGOTO DOMÉSTICO

Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em


Engenharia Sanitária e Ambiental do Centro Tecnológico
da Universidade Federal de Santa Catarina como
requisito para a obtenção do título de
Bacharel/Licenciado em Engenheira Sanitarista e
Ambiental
Orientador: Prof. Dr. Pablo Heleno Sezerino

Florianópolis
2020
Ficha de identificação da obra elaborada pelo autor,
através do Programa de Geração Automática da Biblioteca Universitária da UFSC.

Reis Aguiar, Silvana dos


Projeto executivo de um sistema de wetland construído
para tratamento de esgoto doméstico / Silvana dos Reis
Aguiar ; orientador, Pablo Heleno Sezerino, 2020.
65 p.

Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) -


Universidade Federal de Santa Catarina, Centro Tecnológico,
Graduação em Engenharia Sanitária e Ambiental,
Florianópolis, 2020.

Inclui referências.

1. Engenharia Sanitária e Ambiental. 2. Tratamento


descentralizado de esgoto. 3. Wetlands construídos. 4.
Wetland em modelo francês. 5. Projeto de dimensionamento.
I. Heleno Sezerino, Pablo . II. Universidade Federal de
Santa Catarina. Graduação em Engenharia Sanitária e
Ambiental. III. Título.
Silvana dos Reis Aguiar

PROJETO EXECUTIVO DE UM SISTEMA DE WETLAND CONSTRUÍDO PARA


TRATAMENTO DE ESGOTO DOMÉSTICO

Trabalho submetido à banca examinadora como parte dos requisitos para Conclusão do Curso
em Graduação em Engenharia Sanitária e Ambiental – TCC II.

Florianópolis, 14 de Agosto de 2020.

________________________
Prof.ª Maria Elisa Magri, Dra.
Coordenadora do Curso

Banca Examinadora:

________________________
Prof. Pablo Heleno Sezerino, Dr.
Orientador
Universidade Federal de Santa Catarina

Prof.ª Maria Elisa Magri, Dra.


Avaliadora
Universidade Federal de Santa Catarina

Prof.ª Maria Eliza Nagel Hassemer, Dra.


Avaliadora
Universidade Federal de Santa Catarina
Este trabalho é dedicado aos meus queridos pais.
AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos que fizeram parte deste ciclo que se finaliza. Em especial, aos meus
pais Neíta e Silvano, pelo incentivo de tornar o meu sonho de ingressar em uma universidade
federal uma realidade. Além de todo o amor, apoio e amparo durante os anos de graduação,
essa conquista só existe porque vocês tornaram possível.
As minhas irmãs Maíra e Luíza, que são um exemplo para mim e sempre acreditaram
na minha capacidade. Obrigada por todo amor, amizade, apoio, conselhos e por proporcionarem
ainda mais luz, leveza, força e alegria com a vinda dos meus sobrinhos ao mundo.
Aos meus avós (in memorian) pelos grandes ensinamentos da vida, por depositarem o
seu amor mais puro e passarem valores como respeito, honestidade, empatia e família. Esta
base me fortalece e me encoraja a viver os grandes desafios da vida.
As minhas melhores amigas por apoiarem todas as minhas decisões e por tornarem
todos esses anos da minha vida mais leve e feliz, sou grata a cada uma por suas palavras de
conforto, trocas de energias, aprendizados e por me inspirarem de todas as maneiras possíveis.
Aos meus colegas, parceiros e grandes amigos que ganhei neste caminho longo da
graduação. Esta trajetória só foi muito especial e maravilhosa pois vocês estiveram presentes
nela, tornaram tudo mais fácil e agradável. Sou eternamente grata aos meus amigos Fabiola e
Junior por me incentivarem a fazer intercâmbio e por viverem esta experiência comigo, com
certeza foi a melhor escolha da minha vida.
Aos colegas de trabalho da Rotária pelos aprendizados adquiridos durante esses meses
de estágio. Em especial a Heike, por compartilhar ideias e projetos que auxiliaram na escolha
do tema e por disponibilizar informações essenciais para o desenvolvimento deste trabalho.
Agradeço ao professor Pablo Heleno Sezerino pela orientação e contribuição
dedicadas a este trabalho.
A persistência é o menor caminho do êxito.
Charles Chaplin,1940
RESUMO

A proposta de tratamento descentralizado de esgoto doméstico em locais desprovidos de rede e


tratamento de esgoto é uma alternativa para a universalização do saneamento no Brasil. A
ecotecnologia dos wetlands construídos vem mostrando aplicabilidade de uso para este cenário.
Neste contexto, o presente trabalho apresenta o projeto executivo de um sistema de wetlands
construídos composto por uma primeira etapa de wetland em modelo francês adaptado ao clima
subtropical, seguido por uma etapa de pós-tratamento com um wetland horizontal e um vertical.
O projeto teve como finalidade o tratamento do esgoto doméstico gerado em uma empresa de
engenharia e em duas residências adjacentes gerando um equivalente populacional (EP) de 30
pessoas e, a partir da implantação do sistema, tornar-se uma unidade de pesquisa. As etapas
executadas no trabalho apresentaram o dimensionamento dos módulos, o reservatório para o
sistema de bombeamento, os poços de passagem entre os filtros, bem como o detalhamento dos
módulos destacando os aspectos construtivos e uma estimativa de custo e eficiência de
tratamento. Com base em recomendações da literatura para dimensionamento, os módulos
wetlands apresentaram as seguintes dimensões: (i) wetland francês modificado com 24,5 m² de
área superficial; (ii) wetland horizontal com 13,75 m² de área superficial; (iii) wetland vertical
com 6,25 m² de área superficial. O custo estimado para implantação do sistema para um EP de
30 pessoas foi de R$ 21.425,76, o que representou um valor de R$ 714,19/hab e R$ 396,77/m²,
englobando todos os gastos de mão de obra, materiais e equipamentos necessários para o
funcionamento dos wetlands, exceto o gasto relacionado ao funcionamento do sistema de
bombeamento na alimentação dos filtros. As eficiências previstas foram embasadas no que a
literatura recomenda para formatos semelhantes aos apresentados no projeto, com previsão de
desempenho global de 85% para DQO, 90% para DBO e 90% para SS, produzindo um efluente
tratado em acordo com o que determinam as normativas para o lançamento no ambiente.

Palavras-chave: Tratamento descentralizado de esgoto. Wetlands construídos. Wetland em


modelo francês. Projeto de dimensionamento. Custo de implantação.
ABSTRACT

The proposal for decentralized treatment of domestic wastewater in places without network and
wastewater treatment is an alternative for universalize the sanitation in Brazil.
The ecotechnology constructed wetlands has been showing the use’s applicability for this
scenario. In this context, the present work features the exectuive project of a constructed
wetlands system composed of a first wetland stage in a french model adapted to the subtropical
climate, followed by a aftertreatment stage with a horizontal and a vertical wetland. The project
has aimed the treatment of domestic wastewater generated in na engineering company and in
two adjacente residences generating a population equivalent (PE) of 30 people, and from the
implantation of the system become a research unit. The steps performed in the work presented
the dimensioning of the modules, the tank for the pumping system, the wells between the filters,
as well as the details of the modules highlighting the construction aspects and a cost and
treatment efficiency’s estimative. Based on the literature recommendations for sizing, the
welands modules presented the following dimensions: (i) modifed french wetland with 24,5 m²
of surface área; (ii) horizontal wetland with 13,75 m² of surface área; (iii) vertical wetland with
6,25 m² of surface área. The estimated cost to implemente the system for na PE of 30 people
was R $ 21,425.7, wich represented a value of R $ 714.19/inhab and R $ 396.77/m², including
all labor expenses of work, materials and necessary equipment for the functioning of the
wetlands, except the expense related to the operation of the pumping system in the suppy of the
filters. The foreseen efficiencies were based on the literature recommends for formats similar
to those presented in the project, with an overall performance forecast of 85% for COD, 90%
BOD and 90% for SS, producing na efluente treated according with the regulations for lauch
into the environment.

Keywords: Descentralized wastewater treatment. Constructed wetlands. French model


wetland. Sizing project. Implantation cost.
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Perfil longitudinal do wetland construído de escoamento vertical ............ 19


Figura 2 - Perfil longitudinal do wetland construído de escoamento horizontal
subsuperficial.............................................................................................................. 20
Figura 3 - Planta básica de um Sistema Francês de WC. ........................................... 21
Figura 4 – Wetland de Tratamento Tipo Fito-Filtro................................................... 24
Figura 5 – Localização empresa Rotária do Brasil..................................................... 32
Figura 6 – Localização sistema de wetlands. ............................................................. 32
Figura 7 - Sistema de wetlands................................................................................... 44
Figura 8 – Modelo francês executado pela empresa Rotária del Peru ....................... 46
Figura 9 - Estrutura sistema de wetlands.................................................................... 47
Figura 10 - Manta PEAD geomembrana .................................................................... 48
Figura 11 – Viveiro da ETE Madri de macrófitas em wetlands para tratamento de lodo
.................................................................................................................................... 49
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Recomendações de granulometria e profundidade de material filtrante .. 30


Tabela 2 - Contribuição diária de despejos por tipo de prédio e de ocupantes. ......... 33
Tabela 3 - Parâmetros de projeto ................................................................................ 38
Tabela 4 - Tabela da estimativa de custos da preparação do terreno e movimento de
terra ............................................................................................................................. 50
Tabela 5 – Tabela da estimativa de custos dos elementos construtivos ..................... 51
Tabela 6 – Tabela da estimativa de custos dos tubos, conexões e materiais com o valor
total do orçamento ...................................................................................................... 52
Tabela 7 - Eficiências esperadas para a 1ª etapa ........................................................ 55
Tabela 8 - Eficiências esperadas para o wetland horizontal ....................................... 55
Tabela 9 - Eficiências esperadas para o wetland vertical ........................................... 56
Tabela 10 - Parâmetros de lançamento de efluentes líquidos no solo ........................ 56
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas


CA Carga Orgânica Aplicada
DBO Demanda Bioquímica de Oxigênio
DN Diâmetro Nominal
DQO Demanda Química de Oxigênio
EP Equivalente Populacional
ETE Estação de Tratamento de Esgoto
GWT Global Wetland Tecnology
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
N Nitrogênio
NTK Nitrogênio Kjeldahl
PEAD Polietileno de Alta Densidade
PVC Policroleto de Vinila
SBR Sequencing Batch Reactor
SF Sistema Francês
SINAPI Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices
SNIS Sistema Nacional de Informação sobre Saneamento
SST Sólidos Suspensos Totais
TAH Taxa de Aplicação Hidráulica
TAO Taxa de Aplicação Orgânica
UFSC Universidade Federal de Santa Catarina
WC Wetland Construído
WCFH Wetland Construído de Fluxo Horizontal
WCFV Wetland Construído de Fluxo Vertical
WTFF Wetland Tipo Fito-Filtro
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 15
2 OBJETIVOS ........................................................................................................ 16
2.1 Objetivo geral ........................................................................................................ 16

2.2 Objetivos específicos ............................................................................................. 16

3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ........................................................................... 17


3.1 Tratamento descentralizado ................................................................................... 17

3.2 Wetlands construídos ............................................................................................. 18

3.3 Wetlands construídos de fluxo vertical .................................................................. 19

3.4 Wetlands construídos de fluxo horizontal ............................................................. 20

3.5 Wetlands construídos em sistema francês.............................................................. 20

3.5.1 Adaptação do Sistema Francês para clima tropical: Wetland tipo Fito Filtro
(WTFF) ................................................................................................................. 23

3.6 Elementos constituintes do sistema de wetlands ................................................... 25

3.6.1 Meio Filtrante....................................................................................................... 25

3.6.2 Macrófitas Aquáticas........................................................................................... 26

3.6.3 Microrganismo ..................................................................................................... 26

3.7 Critérios de dimensionamento ............................................................................... 27

3.8 Parâmetros construtivos ......................................................................................... 29

4 METODOLOGIA ................................................................................................ 31
4.1 Caracterização da área de estudo ........................................................................... 31

4.2 Parâmetros de projeto ............................................................................................ 33

4.2.1 Equivalente populacional .................................................................................... 33

4.2.2 Contribuição per capita de esgoto ...................................................................... 33

4.2.3 Características do afluente.................................................................................. 34

4.2.4 Critérios para o dimensionamento ..................................................................... 34

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO......................................................................... 36
5.1 Cálculo da vazão afluente do esgoto bruto ............................................................ 36

5.2 Reservatório de armazenamento e vazão de aplicação .......................................... 36

5.3 Dimensionamento dos módulos............................................................................. 37

5.3.1 Módulo 1 – Wetland tipo Fito-Filtro .................................................................. 37

5.3.2 Módulo 2 – Wetland de fluxo horizontal com brita .......................................... 40

5.3.3 Módulo 3 – Wetland de fluxo vertical com areia ............................................... 42

5.4 Caracterização do sistema...................................................................................... 44

5.4.1 Wetland tipo Fito-Filtro ....................................................................................... 45

5.4.2 Wetland de fluxo horizontal ................................................................................ 46

5.4.3 Wetland de fluxo vertical ..................................................................................... 46

5.4.4 Aspectos construtivos .......................................................................................... 47

5.4.4.1 Estrutura ................................................................................................................ 47

5.4.4.2 Impermeabilização ................................................................................................ 48

5.4.4.3 Macrófitas .............................................................................................................. 49

5.5 Estimativa de custos .............................................................................................. 50

5.6 Eficiência esperada ................................................................................................ 54

5.7 Avaliação crítica .................................................................................................... 57

6 CONCLUSÃO ...................................................................................................... 59
REFERÊNCIAS................................................................................................... 60

APÊNDICE A – Vista superior, vista lateral 1 e detalhes ............................... 63

APÊNDICE B – Vista superior, vista lateral 2, corte e tabela de quantitativo


............................................................................................................................... 65
15

1 INTRODUÇÃO

O tratamento de esgotos é a atividade necessária no meio urbano e rural para a


promoção da saúde da população e meio ambiente. No Brasil, 53,2% dos municípios são
conectados à rede de esgoto, dos quais apenas 46,3% coletam e tratam os esgotos gerados
(SNIS, 2018). O índice de atendimento com esses serviços é, portanto, baixo e apresenta uma
situação mais agravante na zona rural, onde grande parte das localidades não é contemplada
com esses serviços ou são ineficientes, quando existem.
A ausência de sistemas centralizados de esgoto sanitário em municípios menores está
relacionada ao alto custo de implantação, operação e manutenção tanto da rede coletora quanto
da estação de tratamento. A reduzida densidade populacional dos municípios de pequeno porte
e as taxas referentes aos serviços, tornam-se insuficientes para cobrir os custos necessários para
este modelo de tratamento. Visto isso, as alternativas de esgotamento sanitário descentralizados
tornam-se a opção mais viável para atender as demandas de sistema individual ou para pequenas
comunidades e vilas.
Existem inúmeras alternativas de tecnologias para o tratamento descentralizado de
águas residuárias tipo esgotos sanitário e domésticos, inclusive em destaque como tanques
sépticos e filtros anaeróbios. Porém, outras tecnologias vêm sendo intensamente pesquisadas,
o que é o caso dos wetlands construídos.
Os sistemas de wetlands construídos normalmente são utilizados como tratamento de
uma grande variedade de efluentes, destacando-se esgotos domésticos, efluentes industriais e
agrícolas (SEZERINO et al., 2018). Este sistema de tratamento dispõe de processos naturais
que envolvem a interação do plantio de macrófitas aquáticas com o solo e com a população
microbiana presente no meio filtrante.
Na literatura estão presentes algumas associações de wetlands, e dentre elas está o
wetland vertical do sistema francês. Este modelo destaca-se por ser um sistema econômico e
eficiente, pois é capaz de tratar o efluente bruto não advindo de nenhum tratamento preliminar,
e ainda não requer descarte de lodo ao longo de muitos anos de operação. O arranjo tradicional
abrange dois estágios em série (três unidades em paralelo no primeiro estágio e duas unidades
no segundo), os quais são alimentados intermitentemente a fim de garantir uma secagem parcial
do lodo de esgoto bruto sob a superfície do filtro. Porém, em regiões de clima quente, espera-
se que o processo de secagem possa acontecer apenas no primeiro estágio, não exigindo o
segundo estágio, o que pode trazer economias consideráveis (HOFFMANN et al., 2013).
16

Dentro deste contexto, o trabalho tem como foco o desenvolvimento do projeto


executivo de um sistema de tratamento de esgoto doméstico empregando um arranjo
tecnológico composto por módulos de primeira etapa de wetland construído do sistema francês
como tratamento primário, seguido de uma unidade de wetland horizontal e uma de wetland
vertical com vistas a produção de efluente tratado com reduzido potencial poluidor.

2 OBJETIVOS

2.1 Objetivo geral


Desenvolver um projeto executivo de uma unidade de tratamento de esgoto
empregando a ecotecnologia dos wetlands construídos baseado no sistema francês como
tratamento primário, seguido de um wetland horizontal e um wetland vertical para o pós-
tratamento do efluente.

2.2 Objetivos específicos


- Desenvolver o memorial de cálculo e estimar a eficiência esperada dos módulos de
wetlands construídos empregados no tratamento de esgoto doméstico;
- Descrever as etapas construtivas relacionadas à implantação dos módulos de
wetlands construídos empregados no tratamento de esgoto doméstico;
- Confeccionar o orçamento para implantação dos módulos de wetlands construídos
empregados no tratamento de esgoto doméstico;
- Confeccionar os detalhamentos executivos do sistema de wetlands.
17

3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1 Tratamento descentralizado

Para a infraestrutura de saneamento básico, os sistemas de tratamento de esgoto


descentralizados podem ser enquadrados como sistemas autônomos utilizados para tratamento
de pequenas vazões, tais como, residências, condomínios, construções isoladas e pequenas
comunidades, nas quais, os resíduos podem ser processados no local ou tratados em outras
unidades. Assim sendo, o esgoto é coletado, tratado e descartado (ou reutilizado) próximo ao
local de geração (LARSEN et al., 2013).
Dos Santos et al. (2015) constatam que o paradigma técnico do saneamento básico
foi tradicionalmente voltado para sistemas centralizados por intermédio de uma extensa rede
de coleta, as águas residuais são encaminhadas para estações de tratamento de efluentes com
grande capacidade, a fim de permitir ganhos operacionais à medida que se agregam mais
usuários à rede. Entretanto, tais técnicas necessitam de altos investimentos tanto em sua
construção, quanto na sua operação e manutenção (MASSOUD, 2008), o que torna relevante o
debate sobre a utilização de soluções alternativas para regiões de baixa densidade em
populacional.
Ainda segundo Dos Santos et al. (2015), as comunidades rurais e periurbanas, as quais
apresentam, em geral, baixa densidade populacional, comprometem a diluição dos custos para
a implantação de sistemas complexos de coleta, afastamento e tratamento de esgoto, reduzindo
a viabilidade técnica e operacional de tais soluções. Dessa forma, a adoção de sistemas de
tratamento de esgoto descentralizados em países em desenvolvimento não é apenas uma solução
de longo prazo para pequenas comunidades, mas a mais confiável e a de custo mais efetivo
(MASSOUD, 2008).
18

3.2 Wetlands construídos

Segundo Vymazal (2010) os wetlands construídos (WC) são sistemas de engenharia


que foram projetados e construídos para utilizar os processos naturais envolvendo vegetação de
macrófitas aquáticas, solo, e material microbiano associado, para auxiliar no tratamento de
águas residuárias. Von Sperling e De Paoli (2013) citam que a remoção de poluentes em
wetlands construídos ocorre por meio de uma intensa diversidade de interações entre os
sedimentos, o meio suporte, microrganismos, plantas, atmosfera e o efluente que se move
dentro do sistema. Em comparação com outros sistemas de tratamento de efluentes domésticos,
as vantagens do WC são o baixo custo de instalação, operação e manutenção, a simples
operação, mecanização reduzida e uma alta eficiência na remoção de cargas orgânicas (DBO e
DQO), sólidos sedimentáveis e nutrientes solúveis. Além disso, é uma técnica robusta, pouco
vulnerável a variações de vazão e de concentrações do afluente (DOTRO et al., 2017) e fornece
benefícios indiretos, como área verde, habitats para a vida selvagem e áreas educacionais.
Os sistemas de wetlands construídos existem em diferentes modalidades para o
tratamento de águas residuárias. De acordo com a literatura, os WC podem ser classificados em
dois grandes grupos, chamados sistemas de lâmina livre ou de escoamento superficial e sistemas
de escoamento subsuperficial.
Os sistemas subsuperficiais são constituídos por um leito filtrante, onde são cultivadas
espécies vegetais, e ao percolar pelo maciço filtrante, há a atenuação de diversos contaminantes
presentes no esgoto. Os WC subsuperficiais são classificados em fluxo horizontal (WCFH) ou
vertical (WCFV). A diferença do WCFV e o WCFH, além da direção do fluxo, está no
lançamento do afluente, sendo no primeiro o fluxo intermitente, isto é, o afluente é lançado em
bateladas na superfície do meio filtrante, o que garante o transporte de ar para dentro do leito
(MATOS e MATOS, 2017). Enquanto no WCFH, a alimentação é contínua o que gera reações
anóxicas e anaeróbias.
Os WCFV possuem uma maior eficiência no tratamento e requerem uma menor área
em comparação aos leitos de fluxo horizontal, necessitando cerca da metade de espaço.
Contudo, a facilidade de lançamento do WCFH possibilita uma operação simplificada e é uma
técnica mais comum em países em desenvolvimento (HOFFMANN et al., 2011).
O presente estudo aborda as modalidades de escoamento subsuperficial com fluxo
vertical e horizontal de WC.
19

3.3 Wetlands construídos de fluxo vertical

Nas unidades de wetlands de fluxo vertical o esgoto é introduzido intermitentemente


sobre a superfície do filtro e percolando o maciço do filtro de forma ascendente ou descendente,
sendo o descendente o mais o comum (Figura 1). O seu interior é preenchido por material
filtrante (do tipo areia ou brita) e as plantas são colocadas diretamente sobre ele. O efluente
filtrado é coletado no fundo por meio de um conjunto de tubulações. Em wetlands de fluxo
vertical a aplicação de esgoto de forma intermitente proporciona um maior arraste de oxigênio
para dentro do sistema. Dessa forma, o sistema em condições aeróbias beneficia o processo de
nitrificação, além da oxidação da matéria orgânica (SEZERINO et al., 2018). A aeração ainda
pode ser melhorada quando há a instalação de tubos de aeração no sistema.

Figura 1 - Perfil longitudinal do wetland construído de escoamento vertical

Fonte: Adaptado de Von Sperling e Sezerino (2018)

Para Cooper et al. (1996), a remoção de nitrogênio é bastante dependente do


suprimento de oxigênio do sistema. No entanto, a remoção de nitrogênio nos sistemas de
wetlands de fluxo vertical é limitada, devido à baixa ocorrência de desnitrificação no sistema.
O maior problema em sistemas como esse ocorre devido a obstrução completa do
filtro, consequentemente isto está relacionado ao balanço correto da carga orgânica aplicada e
da quantidade de oxigênio entre o meio filtrante. Segundo Molle et al. (2006), os processos-
chave para assegurar um tempo de operação longo ao filtro são otimizar a aeração no meio para
assegurar condições aeróbias, e o controle do crescimento da biomassa anexa ao meio para
mineralizar os depósitos orgânicos provenientes da retenção de SS no topo dos filtros.
20

3.4 Wetlands construídos de fluxo horizontal

Nos wetlands construídos de escoamento subsuperficial de fluxo horizontal, (Figura


2), as águas residuárias são inseridas na zona de entrada do leito, geralmente composta por brita,
e, através do meio filtrante, são drenadas pela gravidade de maneira horizontal até a zona de
saída (SEZERINO et al., 2018). Segundo Dornelas (2008) muitas unidades são construídas com
um fundo inclinado de 0,5 a 1%, com o propósito de prover um gradiente hidráulico suficiente
para assegurar o fluxo subsuperficial no leito.

Figura 2 - Perfil longitudinal do wetland construído de escoamento horizontal subsuperficial

Fonte: Adaptado de Von Sperling e Sezerino (2018)

Neste sistema pode haver a presença de um controlador de nível com a utilização de


uma tubulação elevada, a qual permite a saturação do meio filtrante. Assim, resulta na criação
de um ambiente anaeróbio e anóxico, favorecendo o processo de desnitrificação (Sezerino et
al., 2018).

3.5 Wetlands construídos em sistema francês

O sistema francês é uma variante dos wetlands construídos de fluxo vertical, com fases
alternadas de alimentação e repouso. A característica diferencial deste sistema é que ele pode
receber esgoto bruto diretamente na primeira etapa e consiste basicamente de dois estágios.
21

O primeiro estágio é composto por 3 filtros em paralelo, com fases alternadas de


alimentação e repouso (geralmente 3,5 dias de alimentação e 7 de repouso), e que recebem o
esgoto bruto como afluente. A grande vantagem dessa rotatividade é manter a condição aeróbia,
garantir o controle do crescimento da biomassa e evitar a colmatação a partir da mineralização
dos depósitos orgânicos retidos na camada superficial (MOLLE, 2014).
O segundo estágio contém duas células filtrantes em paralelo que recebem o efluente
da primeira etapa, servindo de polimento da matéria orgânica ainda não removida e, intensifica
o processo de nitrificação (MOLLE et al., 2005). A alimentação neste estágio acontece
usualmente por 3,5 dias e repousa pelo mesmo período de tempo. Um esquema de como
funciona o SF pode ser visto na Figura 3.

Figura 3 - Planta básica de um Sistema Francês de WC.

Fonte: Adaptado de Dotro et al. (2017)


22

Segundo Von Sperling e Sezerino (2018) o primeiro estágio objetiva principalmente a


remoção de matéria orgânica e sólidos em suspensão, como também a nitrificação, com a
remoção parcial do nitrogênio amoniacal. E o segundo estágio é caracterizado por proporcionar
o polimento do efluente, além da complementação na remoção de matéria orgânica e sólidos
em suspensão e, principalmente, remoção amoniacal por nitrificação, devido as condições
aeróbias do meio. No entanto, o processo de desnitrificação nesse sistema de tratamento com
escoamento vertical possui uma baixa eficiência, como já citado anteriormente. Isto ocorre,
devido à falta de um ambiente saturado que possa promover uma zona anóxica para a
desnitrificação.
De acordo com Dotro (2017) o sistema francês (SF) vem ganhando força para o
tratamento de esgotos descentralizados ou de pequenas comunidades. Na França, o SF de
wetlands é o principal sistema aplicado para comunidades com capacidade inferior a 2000
equivalente populacional (MOLLE, 2014).
Molle (2003) afirmou que a sedimentação de material particulado, a filtração e a
interceptação resultam em um depósito de partículas na superfície do filtro, sendo que tanto a
filtração quanto a interceptação melhoram sua eficiência com o tempo, resultante da menor
porosidade da camada depósito, em relação ao meio filtrante. O acúmulo de detritos que ocorre
na zona das raízes das macrófitas forma uma camada orgânica, denominado biofilme, a qual
torna-se um componente que pode favorecer o desempenho do tratamento, assim como pode
limitar alguns processos. No SF é necessário 1 a 2 anos para desenvolver a camada que atinja
um desempenho ótimo de tratamento.
A sedimentação do material particulado, a decomposição e a incorporação de sólidos
ao biofilme ocorrem simultaneamente e são, portanto, responsáveis pela redução na
concentração de sólidos suspensos totais (PHILIPPI & SEZERINO, 2004). No entanto, a
medida que o afluente é percolado no meio filtrante, a condutividade hidráulica inerente ao
material tende a reduzir.
As cargas hidráulicas e orgânicas, assim como o processo de operação (alimentação
em batelada, intercalação entre os períodos de alimentação e descanso) devem ser controlados,
a fim de facilitar a mineralização da matéria orgânica (MOLLE et al., 2005).
23

Caso não haja um monitoramento e controle desses processos, pode haver limitações
na taxa de transferência de oxigênio e, também, a redução da taxa de mineralização da camada
orgânica. A ocorrência de uma destas limitações, pode desencadear num impacto no processo
e ampliar a taxa de colmatação do filtro. No entanto, sabendo a importância da colmatação para
o funcionamento do filtro, é necessário manter um equilíbrio para que não atinja um nível em
que afete a durabilidade e a desempenho do sistema. A camada de lodo depositada sobre o filtro
cresce aproximadamente 2,5 cm/ano no carregamento nominal, segundo Molle (2014) e deve
ser removida quando atinge 20 cm, o que é previsto para acontecer depois de 10 a 15 anos
(DOTRO et al., 2017).

3.5.1 Adaptação do Sistema Francês para clima tropical: Wetland tipo Fito Filtro
(WTFF)

Os primeiros SF operam desde os anos 1980 e a aplicação em escala começou a partir


de 1999. As avaliações de Molle et al. (2005) mostraram um desempenho estável em todos os
casos e eficiências médias de remoção de 90% da DQO, 95% dos SST e 85% de NTK no
sistema de duas etapas. Segundo Hoffmann et al. (2013) os autores também fizeram uma
classificação das eficiências específicas da primeira e segunda etapa. Estas experiências foram
essenciais para a formação da base de estudos para wetlands de SF adaptados para condições
climáticas do Brasil, que resultaram na pesquisa prévia no Brasil (PLATZER et al., 2007;
HOFFMANN et al., 2011).
Sócios da empresa Rotária do Brasil Ltda em parceria com a Global Wetland
Tecnology (GWT) introduziram no mercado o novo conceito para a primeira etapa do Sistema
Francês em clima quente: Wetland tipo Fito Filtro (Figura 4). Este modelo provou, mesmo
ainda com referências limitadas, a possibilidade de aumento de cargas aplicadas com o aumento
da temperatura do ambiente.
24

Figura 4 – Wetland de Tratamento Tipo Fito-Filtro

Fonte: Site Rotária do Brasil (2020)

Em climas quentes ainda existem poucas experiências do SF, contudo, algumas


aplicações do WTFF mostraram um potencial muito alto já na primeira etapa de tratamento,
com 80 a 95% de remoção de DQO e nitrificação, em alguns casos, completa. Devido às
condições climáticas serem mais amenas, no que se refere à temperatura, as experiências com
o sistema de WTFF mostraram que o primeiro estágio dividido em apenas 2 áreas, ao invés de
3 partes do SF, era suficiente. Isto é, as condições locais a secagem dos sólidos ocorre mais
rapidamente que no clima frio, sendo não necessária a alternância em 3 partes (HOFFMANN
et al., 2013).
Uma vez que o tratamento careça do polimento do efluente para alguma variedade de
reuso ou se em determinada região não alcançar a eficiência desejada, há a possibilidade de uso
de diferentes tecnologias para pós-tratamento que substituem o 2º estágio clássico do sistema
francês. Neste sistema serão testadas duas tecnologias de pós tratamento, um wetland de fluxo
horizontal com brita e um wetland de fluxo vertical com areia. Em uma experiência realizada
no Peru, foram analisados para o tratamento de esgoto bruto, uma primeira etapa com o WTFF
e segunda etapa de wetland vertical com areia, e como resultado, a primeira etapa mostrou uma
eficiência de 96% em remoção de DQO e DBO5 e, com a segunda etapa, obteve-se uma

remoção quase completa de DQO, DBO5 e turbidez (HOFFMANN et al., 2013). Contudo,
quando busca-se uma opção mais econômica e, muitas vezes não encontra-se areia disponível
no local para este tipo de tratamento, surge a possibilidade de complementar o tratamento da
primeira etapa com um wetland horizontal com brita em que se tem um sistema baseado
totalmente na brita tratando esgoto bruto.
25

Além do tratamento de esgoto doméstico, esta adaptação do WC de SF para climas


quentes pode ser utilizada para outros diversos efluentes com alto teor de sólidos.

3.6 Elementos constituintes do sistema de wetlands

Nos sistemas de tratamento de wetlands construídos existem vários fatores que


influenciam no desempenho de remoção de poluentes e se destacam como principais elementos
constituintes o material filtrante, as macrófitas e os microrganismos.

3.6.1 Meio Filtrante

O material filtrante é o elemento de sustentação das macrófitas, aderência do biofilme


e o agente responsável pela filtragem do esgoto nos wetlands construídos. (SEZERINO et al.,
2018). Cada material possui características distintas, como a porosidade e a permeabilidade
(que afetam a condutividade hidráulica do sistema), que interferem positivamente no
escoamento do efluente retendo-a por mais tempo e auxiliando o tratamento (PHILIPPI &
SEZERINO, 2004).
Busca-se um material filtrante que possua um bom potencial reativo, capaz de
promover adsorção de compostos inorgânicos presentes no efluente, de maneira tal, que permita
a retenção dos sólidos sem que ocorra uma rápida colmatação (SEZERINO, 2006).
A escolha do meio suporte deve estar associada ao tipo de tratamento a ser empregado
no sistema. Recomenda-se utilizar materiais economicamente viáveis e que sejam facilmente
encontrados na região em que será implantado, buscando-se manter a simplicidade
característica da tecnologia. Lembrando-se que as macrófitas aquáticas adaptam-se a uma
grande variedade de sedimentos em diferentes granulometrias, como areias, britas e solos
naturais (PHILIPPI & SEZERINO, 2004). Encontram-se recomendações na literatura da
utilização de britas e areias para finalidades de tratamento secundário e terciário de águas
residuárias.
26

3.6.2 Macrófitas Aquáticas

As macrófitas aquáticas são componentes essenciais para a operação e correto


funcionamento dos wetlands construídos, visto que nas raízes destes vegetais cultivados nos
leitos de tratamento, fixam-se bactérias que recebem oxigênio conduzido pela planta do caule
até as raízes através de um sistema chamado de aerênquima, bem como uma ampla gama de
outros organismos, incluindo fungos e protozoários que desempenham papel fundamental na
ciclagem dos nutrientes e biomassa bacterianas (BRIX, 1993).
De acordo com Tanner (1996), para que as macrófitas sejam adequadas em wetlands
construídos, elas devem apresentar os seguintes critérios citados por Stefanakis et al. (2014):
- Devem adaptar-se bem às condições ecológicas do ambiente e mostrar um
crescimento e propagação de raízes acelerado;
- Precisam ser tolerantes a uma variedade de poluentes presentes em águas residuárias
(e.g. matéria orgânica, nutrientes, patógenos) juntamente com uma alta capacidade de remoção,
direta ou indiretamente;
- É preferível o uso de espécies facilmente encontradas no mercado ou em algum
ambiente análogo, para que possam ser transplantadas ao filtro.

3.6.3 Microrganismo

Segundo Kadlec e Knight (1996), nos sistemas de wetlands construídas observa-se o


desenvolvimento de uma comunidade bem heterogênea de microrganismos que engloba fungos,
protozoários, algas, artrópodes e bactérias, sendo o último grupo o mais representativo atuante
na decomposição da matéria carbonácea, nitrificação e desnitrificação. Estes microrganismos,
encontrados nos filtros plantados, podem apresentar-se suspensos no próprio efluente e/ou
aderidos ao meio suporte do leito filtrante e nas raízes das plantas, formando o biofilme
microbiológico responsável pela filtração e consequente remoção de nutrientes dos efluentes
(RODRIGUEZ, 2003).
27

A ação dos microrganismos na remoção de matéria orgânica ocorre pela necessidade


de energia e fonte de carbono para seu crescimento de reprodução. Existem os microrganismos
heterotróficos, que utilizam o carbono orgânico para seu metabolismo e os demais que utilizam
do carbono inorgânico (CO2) são chamados autotróficos. De acordo com Bitton (2005) ambos
os processos podem ocorrer pela via anaeróbia ou aeróbia, sendo que na última o grupo mais
significativo é o heterotrófico, que apresenta maior taxa de degradação de matéria orgânica na
presença de oxigênio.

3.7 Critérios de dimensionamento

No momento presente ainda não existem normas técnicas brasileiras para o


dimensionamento de wetlands construídos no tratamento de águas residuárias. No entanto, há
alguns modelos na literatura que podem ser parâmetros para o dimensionamento de wetlands
construídos no Brasil e em locais de clima tropical. Dentre os mais pertinentes, destacam-se o
“Guide de dimensionnement de la filière tropicalisée” criado por Molle e Latune, em 2017, e o
“Dimensionamento de Wetlands no Brasil” criado em 2018 por Von Sperling e Sezerino.
Segundo essas literaturas, os principais fatores para o dimensionamento dos wetlands
construídos são as cargas orgânicas e hidráulicas aplicadas nas áreas dos filtros.
Para wetlands construídos em sistema francês, são apresentados alguns parâmetros que
se recomenda para o dimensionamento do primeiro estágio no Brasil e em locais de clima
tropical, conforme segue (MOLLE et al., 2017; VON SPERLING et al., 2018):

- Carga orgânica aplicada com lançamentos máximos no leito de 350 gDQO/m².d e


150 gDBO/m².d;
- Sólidos suspensos totais com carga limite de 150 gSST/m².d no leito do primeiro
estágio;
- Taxa hidráulica de até 0,75 m/d, também para o leito que está recebendo a aplicação
do efluente;
- Carga de nitrogênio total no leito limitado em 30 gN/m².d;
- Área superficial mínima de 0,8 m²/E.P;
Para o dimensionamento de etapas subsequentes (como wetland vertical e horizontal)
são apresentadas algumas recomendações de eficiências esperadas no primeiro estágio de
tratamento (VON SPERLING e SEZERINO, 2018):
28

- DBO > 80%;


- DQO > 75%;
- SST > 80%;
- Namoniacal < 50%.

Na literatura há também orientações para o dimensionamento de wetlands de fluxo


horizontal em climas quentes. Segundo Molle et al. (2017) o dimensionamento para estes filtros
se baseia em dois conceitos: um vinculado à hidráulica e outro à degradação de poluentes. A
concepção hidráulica para o dimensionamento determina, através de uma equação, a seção
hidráulica (largura e profundidade) do filtro para garantir que o efluente escoe dentro do maciço
filtrante. E a degradação dos poluentes está associada ao desempenho do tratamento recorrente
à fixação do tempo de permanência do efluente no sistema para garantir a eficiência necessária.
Assim que definida a largura, a partir do conceito hidráulico de dimensionamento, é proposto
um modelo para o dimensionamento, o qual se baseia em um coeficiente de degradação dos
poluentes para a estimação do tempo de permanência do efluente no wetland. Esta configuração
de dimensionamento ainda não foi testada em sistemas executados em clima tropical, então não
é garantido que seja uma solução otimizada.
O documento organizado por Von Sperling e Sezerino (2018) para o dimensionamento
de wetlands construído no Brasil, sugere o dimensionamento para filtros de fluxo horizontal
recebendo esgoto pré-tratado, como também para wetlands do modelo francês, adaptado para o
Brasil, recebendo esgoto bruto e, propõe o dimensionamento para uma segunda etapa do
“sistema francês” com filtro vertical. Todos baseados na aplicação da carga orgânica e
hidráulica no sistema.
Há modelos aplicáveis, para unidades de wetlands de fluxo vertical com areia,
baseados no balanço de oxigênio necessário a atividade de remoção da matéria carbonácea
(PLATZER et al., 2007). A baixa carga recebida nesta etapa (devido à provável alta eficiência
da primeira etapa) sugere uma iminente otimização do dimensionamento (HOFFMANN et al.,
2013).
Com alguns dos fatores apresentados de dimensionamento e atentando à população
que será atendida como parâmetros, é possível obter o dimensionamento dos wetlands
construídos para o tratamento do esgoto doméstico.
29

3.8 Parâmetros construtivos

Holffman et al. (2011) apresentam algumas condições necessárias para a construção e


funcionamento dos wetlands construídos no tratamento de águas residuárias, tais como:
- Climas sem longos períodos gelados são preferíveis, mesmo que WC com
escoamento subsuperficial funcionem em climas frios;
- É preferível situações de luz solar e ambientes de sombra total devem ser evitados.
Especialmente para WC de escoamento subsuperficial, é muito importante que a área da
superfície possa secar completamente, caso contrário o risco de obstrução pode aumentar
devido ao crescimento excessivo de biofilme em condições úmidas;
- As plantas utilizadas devem ser adaptadas para o crescimento em condições
parcialmente submersas, ao clima local e nas condições de luz solar/sombra;
- Como em todos os processos de tratamento biológico o afluente não deve conter
substâncias tóxicas, embora o alto tempo de retenção torne os WC mais resistentes a eventos
tóxicos em comparação com sistemas de maior carga;
- É necessária uma equipe de manutenção bem treinada para executar as tarefas básicas
de manutenção.
Existem algumas considerações gerais sobre a construção dos WC de escoamento
subsuperficial que, geralmente, são utilizados, conforme segue (HOLFFMANN et al., 2011):
- É recomendado uma borda livre de 15 cm para o acúmulo de água;
- A superfície deve ser plana e horizontal para impedir a distribuição desigual
(significa que no caso dos wetlands de fluxo horizontal, o esgoto está fluindo através da
superfície do WC para a saída, mas não infiltrando e, consequentemente, não recebendo
tratamento;
- A área de entrada e a disposição dos tubos devem garantir uma distribuição uniforme
das águas residuárias, sem admitir curtos-circuitos no fluxo;
- A seleção correta do material filtrante é crucial;
- O esgoto é aplicado no leito através de tubos de distribuição que possuem pequenos
orifícios distribuídos igualmente ao longo do comprimento dos tubos;
- Os tubos de drenagem coletam o efluente tratado na base abaixo do leito filtrante;
- É necessário um revestimento na base do WC para poder vedar o leito filtrante da
base do filtro, podendo ser uma manta em PVC, uma camada de argila, uma base de concreto,
etc;
30

- O revestimento evita o contato do esgoto com as águas subterrâneas, mas não melhora
a qualidade do efluente e não impede a obstrução do filtro;
- As desvantagens são os custos adicionais, a dificuldade de encontrar um fornecedor
local, poluição ambiental durante a produção das mantas de PVC e o custo para instalação.

Além disso, seguindo a literatura de Von Sperling e Sezerino (2018) e Molle et al.
(2017) são recomendados para a primeira etapa dos wetlands de sistema francês em clima
tropical alguns valores de granulometria e profundidade dos materiais filtrantes, como mostra
a Tabela 1.

Tabela 1 – Recomendações de granulometria e profundidade de material filtrante


1ª Etapa Sistema Francês - clima
Von Sperling e Sezerino (2018) Molle et al. (2017)
tropical
Hsup (filtrante) 30 a 80 cm 30 a 80 cm
Hint (transição) 10 a 20 cm 10 a 20 cm
Hinf (drenante) 20 a 30 cm 10 a 20 cm
Brita 0
GLsup (filtrante) 2 a 6 mm
(4,8 a 9,5 mm)
Brita 2
GLint (transição) 20 mm
(19 a 25 mm)
Brita 3
GLinf (drenante) 20 a 60 mm
(25 a 50 mm)

Tabela 1 – Legenda
Legenda:
Hsup - altura da camada superior do meio suporte (camada principal, de filtração);
Hint - altura da camada intermediária, de transição;
Hinf - altura da camada inferior, de drenagem;
Glsup - granulometria do leito na camada superior do meio filtrante;
Glint - granulometria do leito na camada intermediária;
Glinf - granulometria do leito na camada inferior, de drenagem.
Fonte: Elaborado pela autora (2020)
31

4 METODOLOGIA

O presente trabalho está inserido no projeto da empresa Rotária do Brasil Ltda, com o
desenvolvimento de um sistema de wetlands construídos objetivando o tratamento de esgoto
doméstico, como também futuras pesquisas de eficiência do sistema com apenas a primeira
etapa do sistema francês (WTFF) e, também, com a inclusão de pós-tratamento de um wetland
horizontal com brita comparado com um wetland vertical com areia. O esgoto a ser tratado no
sistema provém da edificação da empresa Rotária do Brasil, onde há um total de 44 funcionários
ativos que trabalham no escritório, somado ao esgoto de duas residências localizadas ao lado
da empresa, onde habitam um total de 8 pessoas.
O projeto contempla a execução de três wetlands construídos, sendo a primeira etapa
um wetland vertical para o recebimento do esgoto bruto, como o modelo francês, porém
adaptado para as condições locais de clima, com dois filtros em paralelo, chamado Wetland tipo
Fito Filtro (WTFF), como apresentado na revisão. A segunda etapa compreende um wetland
horizontal completamente saturado, com a utilização de brita como material filtrante. O terceiro
wetland construído será de fluxo vertical com areia como meio filtrante, sendo que, poderá
atuar como segunda ou terceira etapa de tratamento, isto dependerá da eficiência do wetland
horizontal.

4.1 Caracterização da área de estudo

O objeto de estudo apresenta o projeto de um sistema de wetlands que será instalado


nas imediações da empresa Rotária do Brasil Ltda, localizada em uma região suburbana do
bairro Santo Antônio de Lisboa, no município de Florianópolis/SC. Na Figura 5 é apresentada
a localização da empresa no munícipio de Florianópolis e na Figura 6, é possível observar o
local onde será implantado o sistema de wetlands.
O local é caracterizado pela ausência de uma rede coletora de esgoto e, diante disso, a
empresa procura soluções para tratar o esgoto gerado, bem como, soluções eficientes de
tratamento descentralizado que possam ampliar referências para pesquisa e mercado.
Atualmente o esgoto da empresa é tratado por um reator de lodos ativados operado em bateladas
sequenciais (SBR) em escala real.
32

Figura 5 – Localização empresa Rotária do Brasil

Fonte: Google Earth (2020)

Figura 6 – Localização sistema de wetlands.

Fonte: Google Earth (2020)


33

4.2 Parâmetros de projeto

4.2.1 Equivalente populacional

Um dos fatores de maior importância para o dimensionamento de wetlands


construídos, que permite avaliar a quantidade de poluentes emitidos por uma pessoa, é expressa
em equivalente habitacional. Como o sistema do trabalho presente vai tratar o esgoto
proveniente de uma empresa e de duas residências, é necessário encontrar, da maneira mais
precisa, os valores que representam a contribuição de carga orgânica e esgoto gerados. De
acordo com o guia de dimensionamento de wetlands em clima tropical (MOLLE et al., 2017),
existem coeficientes de correção para avaliação de capacidade de pequenos ambientes
coletivos. A empresa Rotária, é caracterizada basicamente por escritórios, então entra na
categoria de escritório para o coeficiente de correção, o qual é definido como 50 % do número
total de pessoas que trabalham diariamente neste ambiente.

4.2.2 Contribuição per capita de esgoto

A contribuição per capita de esgoto pode ser definida pelo consumo de água per capita
multiplicado pelo coeficiente de retorno (C). No entanto, há normativas que estabelecem
recomendações de contribuição de esgoto diária per capita para determinado tipo de ocupação.
A ABNT NBR 13969 (ABNT, 1997) apresenta valores médios de contribuição de esgoto (L/d)
conforme a Tabela 2.

Tabela 2 - Contribuição diária de despejos por tipo de prédio e de ocupantes.

Fonte: Adaptado de ABNT NBR 13969, (ABNT, 1997).


34

4.2.3 Características do afluente

A identificação das características do esgoto bruto que entra no sistema de tratamento


é essencial para o dimensionamento da planta. O conhecimento das características do efluente
associado aos parâmetros de qualidade recomendados para a destinação final, permitem definir
o tratamento que pode ser adotado.
A especificação do esgoto sanitário varia quantitativa e qualitativamente conforme a
sua utilização. A contribuição de esgoto depende de inúmeros fatores, como a região atendida,
atividades desenvolvidas, hábitos de higiene, nível socioeconômico, nível de cultura e outras
causas comportamentais (JORDÃO, 2009). Dentre os vários elementos que compõe as águas
residuárias, é preferível utilizar parâmetros que representam o potencial poluidor e que definem
a qualidade do esgoto. A DBO representa a quantidade de oxigênio consumida por
microrganismos, presentes em uma determinada amostra de efluente, para realizar a
decomposição da matéria orgânica carbonácea. Enquanto a DQO, corresponde à quantidade de
oxigênio necessária para oxidar a matéria orgânica através de um agente químico. Os sólidos
suspensos presentes no esgoto representam a fração orgânica e inorgânica do efluente. E o
nitrogênio está presente no esgoto em forma de amônia, em sua maioria, e o restante em forma
orgânica.

4.2.4 Critérios para o dimensionamento

O objeto de estudo compreende um sistema com três diferentes estágios de wetlands,


o que infere na definição de dimensionamento que melhor se emprega em cada um, atendendo
a carga aplicada e a finalidade do tratamento.
Para a falta de critérios específicos de dimensionamento são definidos, conforme a
ABNT NBR 12209 (ABNT, 1992), valores de carga orgânica de 54 g de DBO5 /hab.d e de
sólidos suspensos de 60 g de SS/hab.d. Da mesma forma, segundo a ABNT NBR 12209
(ABNT, 2011) podem ser usados valores na faixa de 90 a 120 g de DQO/hab.d e 8 a 12 g
N/hab.d.
Os critérios de dimensionamento que se aplicam como parâmetros para a construção
de wetlands de fluxo vertical em sistema francês com clima tropical são apresentadas abaixo,
como já descrito anteriormente (MOLLE et al., 2017; VON SPERLING et al., 2018):
35

- carga de aplicação aceitável de 350 gDQO/m².d e 150 gDBO/m².d;


- carga de sólidos limite de 150gSST/m².d;
- taxa hidráulica máxima de 0,75 m/d;
- área superficial eficiente para climas quentes de 0,8 m²/E.P.

Os parâmetros e informações utilizadas para o dimensionamento dos wetlands do pós-


tratamento foram fundamentados de acordo com o documento de dimensionamento para
wetland construídos no Brasil (VON SPERLING e SEZERINO, 2018), levando em
consideração a remoção adotada na primeira etapa do tratamento, conforme segue:

- taxa de aplicação orgânica superficial máxima de 20 gDBO/m².d;


- taxa de aplicação orgânica superficial máxima para wetland horizontal, pós um pré-
tratamento, de 15 gDBO/m².d;
- taxa de aplicação hidráulica superficial limite de 0,40 m/d;
- taxa de aplicação orgânica máxima na seção transversal do wetland horizontal de 250
gDBO/m².d.
36

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Neste tópico são apresentados os cálculos da vazão afluente do esgoto bruto, da vazão
de aplicação alimentada pelas bombas no reservatório, do dimensionamento dos módulos do
sistema proposto, assim como, a caracterização do sistema, os aspectos construtivos aplicados
no projeto, a estimativa de custos e eficiência esperada do sistema.
As plantas finais do projeto do sistema de wetlands com vista superior, vista lateral,
cortes, detalhes e tabela de quantitativo podem ser encontradas nos Apêndices A e B.

5.1 Cálculo da vazão afluente do esgoto bruto

Segundo Von Sperling e Sezerino (2018) a vazão afluente que deve ser considerada
no dimensionamento é a vazão média, e sendo caracterizado como um sistema individual e
unifamiliar a vazão a ser atribuída no projeto é a vazão doméstica.
Usualmente, a vazão doméstica é obtida através da população de projeto e de um valor
estipulado de contribuição diária de esgoto per capita.
Conforme citado anteriormente, o coeficiente de correção de equivalência
populacional para escritórios é de 0,5, assim o número de funcionários ativos é dado conforme
equação (1).

𝐸. 𝑃 = 0,5 × 44 = 22 𝑝𝑒𝑠𝑠𝑜𝑎𝑠 (1)

Assim, somado aos 8 contribuintes das residências tem-se um equivalente


populacional de 30 pessoas. Para efeitos de segurança no dimensionamento, foi atribuído
residências de alto padrão como ocupação, que considera uma maior contribuição de esgoto
(160 L/hab.d). O cálculo da vazão média de esgoto é definido pela equação (2).

𝑄𝑚𝑒𝑑 = 𝑃𝑜𝑝.× 𝐶𝑜𝑛𝑡𝑟𝑖𝑏𝑢𝑖çã𝑜 𝑝𝑒𝑟 𝑐𝑎𝑝𝑖𝑡𝑎 = 30 × 160 = 4,8 𝑚3 /𝑑 (2)

5.2 Reservatório de armazenamento e vazão de aplicação

O sistema contará com um reservatório para armazenamento e distribuição do efluente


através de um sistema de bombeamento. O reservatório utilizado será um modelo de caixa
d’água com 5000 L de capacidade de armazenamento.
37

O tanque comportará duas bombas trituradoras, que serão utilizadas intermitentemente


para a alimentação do sistema wetlands. As duas bombas operam em alternância, o sistema
será programado por automação, de forma que a cada 3,5 dias é alimentada uma metade da
superfície do filtro de forma intercalada.
A bomba trituradora atua como uma bomba centrífuga, mas equipada com um sistema
de trituração na entrada, o que permite a redução das partículas menores formando uma massa
homogênea do efluente, não se fazendo necessário o uso do gradeamento como pré-tratamento.
Como o sistema receberá um reduzido fluxo de vazão por aplicação optou-se por utilizar
bombas trituradoras de menor potência encontradas no mercado, sendo o modelo o CLAW-
XSP14-7/1.1ID escolhido para o sistema.
A vazão de aplicação da bomba é definida a partir dos números de aplicações diárias
de efluente. Em wetlands de fluxo vertical é necessário um grande intervalo entre as aplicações
diárias para garantir que a superfície seque durante o repouso. Para a alimentação do sistema
presente adotou-se um número médio de 6 aplicações diárias, assim a vazão de cada aplicação
é calculada conforme a equação 3.

𝑄𝑚𝑒𝑑 4,8 𝑚³/ 𝑑


𝑄𝑎 = = = 0,8 𝑚3 𝑝𝑜𝑟 𝑎𝑝𝑙𝑖𝑐𝑎çã𝑜
6 6 (3)

5.3 Dimensionamento dos módulos

5.3.1 Módulo 1 – Wetland tipo Fito-Filtro


O dimensionamento de wetlands construídos envolve algumas variáveis, e como já
descrito anteriormente, segundo Molle et al. (2017) e Von Sperling e Sezerino (2018) as cargas
orgânicas e hidráulicas aplicadas à área superficial são os principais aspectos para o
dimensionamento de wetlands do sistema francês em climas tropicais.
Para o dimensionamento da primeira etapa do sistema foram adotados os valores
encontrados na literatura como parâmetros de projeto básico de unidades de tratamento de
esgoto doméstico.
38

Então, como ponto de partida foram adotados os seguintes valores: 54 gDBO5 /hab.d,
60 g SS/hab.d, 120 gDQO/hab.d (ABNT NBR 12209, 1992 e 2011) e 3,5 gN/hab.d (conforme
dados antes registrados pela Rotária). Assim, considerando o equivalente populacional do
projeto igual a 30 pessoas, tem-se os valores apresentado na Tabela 3.

Tabela 3 - Parâmetros de projeto

Parâmetro Valor Unidade

E.P 30 pessoas
DBO 1620 gDBO/d
DQO 3600 gDQO/d
SS 1800 gSS/d
NTK 105 gNTK/d
Q 4,8 m³/d
Fonte: Elaborado pela autora (2020)

São apresentados no guia de dimensionamento para wetlands em clima tropical


(MOLLE et al., 2017) limites de taxa hidráulica e cargas orgânicas aplicáveis, bem como,
relação de área superficial por habitante equivalente, os quais possibilitam, de modos distintos,
a determinação da área requerida de um filtro.
A definição de qual critério melhor se aplicou para a definição da área requerida seguiu
as recomendações de concentração de saída para as cargas aplicáveis e taxa hidráulica e garantiu
a relação mínima recomendada de área superficial e equivalente populacional. Considerando a
relação de 0,8 m²/E.P., a área superficial requerida pôde ser obtida através da equação (4).

𝐴𝑟 = 30 𝐸. 𝑃. × 0,8 𝑚2 / 𝐸. 𝑃. = 24 𝑚² (4)

Assim, cada leito filtrante com uma área superficial de 12 m². No entanto, como se
trata de um sistema de escoamento vertical, as relações geométricas entre comprimento e
largura são menos relevantes, e estão mais associadas com a distribuição adequada da vazão
afluente em toda a superfície. Adotou-se para este filtro dois leitos de iguais dimensões (L:C =
1:1), sendo 12 m² a área de cada leito, obtém-se uma raiz quadrada de 3,46 m para largura e
comprimento, por motivos de facilidade construtiva arredondou-se este valor para 3,5 m,
39

configurando assim uma área superficial para cada leito de 12,25 m² e resultando em uma área
total de 24,5 m².
Desta forma, as cargas orgânicas aplicadas (CA) para DQO, DBO, SS e NTK do
mesmo modo que a taxa de aplicação hidráulica (TAH), para a área total calculada, são
definidas pelas equações 5, 6, 7, 8 e 9.

3600 𝑔/𝑑 (5)


𝐶𝐴𝐷𝑄𝑂 = = 146,9 𝑔𝐷𝑄𝑂/𝑚2 . 𝑑
24,5

1620 𝑔/𝑑 (6)


𝐶𝐴𝐷𝐵𝑂 = = 66,1 𝑔𝐷𝐵𝑂/𝑚2 . 𝑑
24,5

1800 𝑔/𝑑 (7)


𝐶𝐴𝑆𝑆 = = 73,5 𝑔𝑆𝑆/𝑚2 . 𝑑
24,5

105 𝑔/𝑑 (8)


𝐶𝐴𝑁𝑇𝐾 = = 4,29 𝑔𝑆𝑆/𝑚2 . 𝑑
24,5

𝑄𝑚𝑒𝑑 4,8 𝑚3 / 𝑑 (9)


𝑇𝐴𝐻 = = = 0,196 𝑚/𝑑
𝐴𝑟 24,5

Os valores obtidos estão dentro do que se recomenda para carga orgânica aplicada e
taxa de aplicação hidráulica possibilitando este método aplicado como dimensionamento.
Segundo o guia de Molle et al. (2017) outro método que é recomendado a ser utilizado
é a partir da carga orgânica aplicada. Como citado anteriormente, segundo Molle et al. (2017)
os filtros operam com uma carga orgânica aplicada de até 350 gDQO/m².d. De acordo com esta
recomendação, calcula-se uma área requerida conforme a equação 10:
40

3600 𝑔𝐷𝑄𝑂/𝑑 (10)


𝐴𝑟 = = 10,29 𝑚2
350𝑔𝐷𝑄𝑂/ 𝑚². 𝑑

Desta forma, considerando que serão 2 leitos, tem-se uma área total de 20,58 m².
Assim a carga de SS aplicada (𝐶𝐴𝑆𝑆 ), a carga de DBO aplicada (𝐶𝐴𝐷𝐵𝑂 ) e a taxa de aplicação
hidráulica (TAH) são obtidas seguindo as equações 11, 12 e 13:

𝑄𝑚𝑒𝑑 4,8 𝑚3 / 𝑑 (11)


𝑇𝐴𝐻 = = = 0,23 𝑚/𝑑
𝐴𝑟 20,58

1620 𝑔/𝑑 (12)


𝐶𝐴𝐷𝐵𝑂 = = 78,71 𝑔𝐷𝐵𝑂/𝑚2 . 𝑑
20,58

1800 𝑔/𝑑 (13)


𝐶𝐴𝑆𝑆 = = 87,46 𝑔𝑆𝑆/𝑚2 . 𝑑
20,58

Os valores obtidos de cargas aplicadas de SS e DBO, a partir deste método, não estão
dentro do que a literatura recomenda como limite. Desta forma, adotou-se o método calculado
primeiramente para fins de dimensionamento, por garantir a relação 0,8 m²/EH e as
concentrações máximas de 75 gSS/m².d e 75 gDBO/m².d.

5.3.2 Módulo 2 – Wetland de fluxo horizontal com brita

Na literatura não se encontram muitas referências para o dimensionamento de filtros


horizontais com brita utilizados como pós tratamento. Como um dos objetivos deste sistema é
a comparação de eficiência do filtro vertical com o filtro horizontal como pós-tratamento,
optou-se por uma geometria semelhante entres os dois filtros, mas com uma maior distância
possível entre entrada e saída do efluente no filtro horizontal, para garantir que o esgoto percole
determinado tempo no leito entrando em contato com as raízes e bactérias decompositoras.
Conforme experiências realizadas com o WTFF, inicialmente considerou-se os
seguintes percentuais de redução das cargas aplicadas e taxa hidráulica na primeira etapa
41

(MOLLE et al., 2017; VON SPERLING et al., 2018): 85% de DBO, 75% de DQO, 85% de
SST, 40% de NTK e 1% na vazão.
Isto posto, definiu-se a largura e comprimento do filtro em 2,5 m e 5,5 m
respectivamente, que multiplicados obtém-se uma área superficial de 13,75 m².
Em posse do valor da área superficial do leito filtrante, calculou-se a taxa de aplicação
orgânica superficial (𝑇𝐴𝑂𝐷𝐵𝑂 ) utilizando a relação entre a carga de DBO afluente ao wetland e
área requerida adotada, como mostra a equação (14).

𝐶𝐴𝐷𝐵𝑂 243 𝑔. 𝐷𝐵𝑂/ 𝑑 (14)


𝑇𝐴𝑂𝐷𝐵𝑂 = = = 17,67 𝑔. 𝐷𝐵𝑂/𝑚². 𝑑
𝐴𝑟 13,75 𝑚²

No documento de dimensionamento para wetlands construídos no Brasil (VON


SPERLING e SEZERINO, 2018) recomenda-se para o dimensionamento de wetlands de fluxo
horizontal uma taxa de aplicação orgânica máxima de 15 g.DBO/m².d. Contudo, considerando
que a primeira etapa do tratamento (WTFF) é capaz de atingir uma eficiência em até 96% de
remoção de carga orgânica, optou-se por considerar como parâmetro uma taxa de aplicação
orgânica superficial limite de 20 g.DBO/m².d, a qual é usado como referência em wetlands do
2º estágio no sistema francês, conforme Von Sperling e Sezerino (2018). Ou seja, a taxa
calculada é aceitável dentro do contexto o qual será aplicada.
Para a verificação da taxa de aplicação orgânica máxima na seção transversal, o qual
visa evitar cargas aplicadas excessivas na seção transversal, que poderiam implicar maiores
acúmulos de sólidos na zona de entrada e assim, gerar uma colmatação mais rápida, é adotado
como parâmetro para wetlands horizontais uma taxa limite de 250 g.DBO/m².d (VON
SPERLING e SEZERINO, 2018). Assim, calculou-se conforme equação (15) a taxa de
aplicação orgânica na seção transversal (𝑇𝐴𝑂𝑡𝑟.𝐷𝐵𝑂 ).

𝐶𝐴𝐷𝐵𝑂 243 𝑔. 𝐷𝐵𝑂/ 𝑑 (15)


𝑇𝐴𝑂𝑡𝑟.𝐷𝐵𝑂 = = = 162 𝑔. 𝐷𝐵𝑂/𝑚². 𝑑
𝐴𝑡 2,5 𝑚 × 0,6 𝑚

A partir deste valor é provável de constatar que o risco de colmatar o filtro por excesso
de sólidos na entrada do filtro é baixo, pois o valor calculado está bastante inferior ao limite
adotado.
42

5.3.3 Módulo 3 – Wetland de fluxo vertical com areia

Assim como o filtro horizontal dimensionado anteriormente, o wetland de fluxo


vertical foi dimensionado com o objetivo de realizar um pós-tratamento do efluente advindo do
WTFF. Como espera-se, conforme experiências realizadas pela empresa Rotária, que a primeira
etapa do sistema obtenha uma eficiência acima do que a norma exige, as dimensões destes
filtros foram adotadas de acordo com o enquadramento geral do sistema.
Para a definição das dimensões do leito optou-se por uma relação de 1:1 (L:C), assim
como os dois leitos do WTFF. Adotou-se uma mesma largura do filtro horizontal de 2,5 m e,
consequentemente, um comprimento de 2,5 m. Assim, tem-se uma área superficial de 6,25 m².
Desta forma, tem-se a mesma redução das cargas aplicadas e taxa hidráulica com os
seguintes percentuais de redução: 85% de DBO, 75% de DQO, 85% de SST, 40% de NTK e
1% na vazão.
A partir da área calculada é possível verificar se os valores de taxa de aplicação
orgânica superficial e taxa de aplicação hidráulica seguem o que é recomendado na literatura
para wetland vertical como segunda etapa de tratamento.
Como atestam as notas técnicas, segundo Von Sperling e Sezerino (2018), o valor
limite para a taxa de aplicação orgânica superficial para segunda etapa do “sistema francês” é
20 g.DBO/m².d. Com o valor de área adotado, e com a carga orgânica obtida após a remoção
adotada no WTFF, tem-se como taxa de aplicação orgânica, o valor dado pela equação (16).

𝐶𝐴𝐷𝐵𝑂 243 𝑔. 𝐷𝐵𝑂/ 𝑑 (16)


𝑇𝐴𝑂𝐷𝐵𝑂 = = = 38,88 𝑔. 𝐷𝐵𝑂/𝑚². 𝑑
𝐴𝑟 6,25 𝑚²

É evidente que a taxa calculada ultrapassa extremamente o valor real recomendado.


Assim como a verificação da taxa de aplicação hidráulica, a qual tem como valor limite
proposto de 0,40 m/d para segunda etapa no “sistema francês”, conforme a equação (17).

𝑄𝑚𝑒𝑑 4,752 𝑚3 /𝑑 (17)


𝑇𝐴𝐻 = = = 0,76 𝑚/𝑑
𝐴𝑟 6,25 𝑚²
43

Com estas informações é possível interpretar que as dimensões adotadas para o filtro
foram precipitadas considerando a carga orgânica e hidráulica que serão aplicadas.
Assim, recomenda-se aplicar para este wetland a metade da vazão de alimentação do
sistema para que o seu tratamento seja atendido.
Desta maneira, assumindo que a vazão alimentada no filtro será metade da vazão,
calculou-se uma nova taxa de aplicação hidráulica para verificação do limite admitido,
conforme equação (18).

𝑄𝑚𝑒𝑑 /2 2,376 𝑚³/𝑑 (18)


𝑇𝐴𝐻 = = = 0,38 𝑚/𝑑
𝐴𝑟 6,25 𝑚²

Sabendo-se que o WTFF será alimentado com 6 aplicações ao longo do dia, vazão
média reduzida em 6 vezes por aplicação, e que o wetland vertical com areia será alimentado
por gravidade vindo do WTFF, pressupõe-se que as dimensões adotadas possam suportar as
cargas aplicadas. Porém, caso não venha a ter êxito, sugere-se reduzir a vazão à metade com a
instalação de uma bomba para alimentar o wetland, a qual atende a taxa de aplicação hidráulica
limite pela área de atuação.
Dado que este wetland funcionará como pós-tratamento do WTFF ou poderá atuar
como um complemento ao pós-tratamento do WCFH, o objetivo, além de tratar o esgoto, é a
pesquisa que poderá ser realizada com base nos variados valores de carga que poderão ser
aplicados com a finalidade de encontrar a melhor eficiência. Com base em experiências já
mencionadas no texto, espera-se que a eficiência no WTFF possa cumprir como objetivo de
tratamento, o que flexibiliza os wetlands construídos como pós-tratamento para a exploração
na pesquisa.
44

5.4 Caracterização do sistema

Foram projetados para o sistema 4 leitos de wetlands, como indicado na Figura 7, que
totalizam uma área de 54 m². Além dos filtros, o sistema contará com três poços idênticos para
armazenamento e posterior distribuição do efluente com as seguintes dimensões: 80 cm de
diâmetro com 100 cm de altura.

.
Figura 7 - Sistema de wetlands

Fonte: Elaborado pela autora (2020)

O sistema funcionará a partir da chegada do esgoto bruto em uma elevatória existente


no local, a qual comportará o esgoto oriundo da empresa e o esgoto pós caixa de gordura gerado
nas residências. O esgoto na elevatória será bombeado para uma caixa d’água, com capacidade
de 5000 L, em que terão duas bombas trituradoras instaladas para o bombeamento do esgoto
até a primeira etapa do sistema, o WTFF. O sistema de recalque será controlado por automação
e regulado com o nível da elevatória. Os intervalos reais de funcionamento das bombas ficarão
registrados em um banco de dados, disponível via internet. O sistema de automação e controle
online é realizado pelo sistema SCADAweb da empresa Rotária do Brasil.
45

Após passarem pela primeira etapa, o efluente será distribuído por gravidade para a
etapa de pós-tratamento. Antes disto, o efluente coletado pelos drenos do WTFF é encaminhado
para o primeiro poço, o qual permite conduzir o efluente para o wetland horizontal ou para o
wetland vertical, através de dois registros de manobra que serão instalados para controle do
direcionamento pretendido. O segundo poço poderá receber o efluente tratado do wetland
horizontal como também o efluente do primeiro poço, tratado apenas na primeira etapa. O
terceiro poço, localizado ao lado do wetland vertical, terá fluxo livre do primeiro e do segundo
poço para a possibilidade de tratar o efluente como segunda ou terceira etapa de pós-tratamento.
Por fim, o efluente tratado será destinado para valas de infiltração.
Todos os três wetlands terão uma altura de 1,10 m, sendo que o wetland horizontal
será posicionado 1,1 m abaixo da base do WTFF e, o wetland vertical, com a base 1,1 m abaixo
do wetland horizontal. Os poços 1, 2 e 3 estarão dispostos 20 cm abaixo da base de cada filtro.
As dimensões das tubulações de alimentação e dos drenos que coletarão o efluente
tratado seguem referências de algumas experiências realizadas pela empresa e recomendações
da literatura. A escolha do material e da granulometria do meio filtrante dos wetlands foram
determinadas, prioritariamente, em função da disponibilidade e custo do material.

5.4.1 Wetland tipo Fito-Filtro

Este módulo compreende uma área superficial de 24,5 m², cada célula possui
dimensões de 3,5 m x 3,5 m. Conforme recomendações de Molle et al. (2017) e de uma
experiência realizada pela Rotária no Peru, o material filtrante será disposto em ordem crescente
de granulometria ao longo da profundidade do filtro, com 40 cm de brita #0 (6,4 mm) na camada
filtrante, 20 cm de brita #1 (12,7 mm) na camada de transição, 20 cm de brita #2 (19,1 mm) na
camada drenante e 30 cm de borda livre.
Cada bomba trituradora alimentará um leito com o esgoto bruto, a distribuição do
efluente ocorrerá através de uma tubulação em PVC DN 75 centralizada acima da superfície de
cada leito, que espalhará o esgoto com aplicação intermitente (6 pulsos por dia). A Figura 8
apresenta um exemplo de como funciona esta distribuição. As duas bombas serão operadas em
alternância, com 3,5 dias de alimentação e 3,5 dias de repouso, compondo um ciclo total de
cerca de 7,0 dias. O esgoto tratado será coletado por um tubo corrugado perfurado para
drenagem (DN 100) centralizado no fundo de cada leito, que serão conectados à um duto
flexível (DN 75) para a regulação do nível do efluente, dentro de um poço de passagem.
46

Figura 8 – Modelo francês executado pela empresa Rotária del Peru

Fonte: Hollfmann et al. (2013)

5.4.2 Wetland de fluxo horizontal

O filtro horizontal dispõe de uma área efetiva de 13,75 m², terá como profundidade
50 cm de borda livre e 60 cm de material filtrante, sendo 40 cm de brita #0 (6,4 mm) na camada
filtrante e 20 cm de brita #1 (12,7 mm) ocupando a camada de transição e drenagem. A
distribuição do efluente no wetland horizontal ocorrerá através de um tubo em PVC DN 100,
localizado na superfície transversal da borda do filtro. A tubulação terá furos de 20 mm de
diâmetro espaçados a cada 10 cm. No fundo do filtro, na borda transversal oposta ao tubo de
entrada, estará disposta a tubulação de coleta do efluente com um diâmetro nominal – DN 100
em PVC e, também conectado à um duto DN 75 que adentrará um poço para controlar o nível,
permitindo a saturação do meio filtrante.

5.4.3 Wetland de fluxo vertical

O wetland de fluxo vertical configura uma área superficial de 6,25 m², o filtro terá 60
cm de borda livre e será preenchido com 50 cm de uma areia existente nas dependências da
empresa. Para a distribuição do esgoto na superfície do filtro, serão utilizados dois tubos
perfurados manualmente a cada 15 cm, em PVC DN 50. O uso de dois tubos para a distribuição
tem como objetivo a possibilidade de isolar um dos tubos para deixar secar uma área em casos
de problemas operacionais, como a colmatação devido ao excessivo crescimento da biomassa
e falta de condição aeróbia no sistema.
47

Assim como os outros dois wetlands, o efluente tratado será coletado por um dreno
corrugado perfurado em PVC (DN 100) centralizado no fundo do leito, que será conectado em
um duto flexível DN 75, passando também por um poço, onde será possível controlar o nível.

5.4.4 Aspectos construtivos

5.4.4.1 Estrutura
A escolha da estrutura de wetlands construídos e como ela pode ser executada varia
em função das condições específicas de cada projeto. As estruturas podem ser escavadas ou
erguidas acima do solo. No estudo presente os leitos da primeira etapa (Fito-filtro) foram
construídos acima do terreno com blocos de concreto e as outras duas etapas foram ligeiramente
escavadas, para o nivelamento correto da diferença de nível e, construídas também com blocos
de concreto, conforme a Figura 9. Os poços para a passagem e controle do nível dos wetlands
serão tubos de concreto armado pré-moldados de seção circular.

Figura 9 - Estrutura sistema de wetlands

Fonte: Imagem capturada pela autora (2020)


48

5.4.4.2 Impermeabilização
Para que o sistema funcione sem vazamentos, é necessário garantir a estanqueidade,
isto é, o isolamento da estrutura. Isto permite reduzir as interações com a água subterrânea,
mantendo a qualidade da água, evitando a contaminação do lençol freático. Deste modo, neste
projeto as paredes internas dos wetlands construídos serão impermeabilizados com mantas de
geomembranas em polietileno PEAD de 1mm de espessura, como mostra a Figura 10.

Figura 10 - Manta PEAD geomembrana

Fonte: Imagem capturada pela autora (2020)

Para a aplicação da geomembrana o ideal é fazer uma inspeção da superfície,


compactando-a e isentando-a de qualquer tipo de depressão e alteração de inclinação do terreno
que não estejam previstas no projeto. Os poços de passagem serão impermeabilizados com uma
tinta específica aplicáveis em tubos de concreto.
49

5.4.4.3 Macrófitas
É importante fazer uma escolha cuidadosa da vegetação a ser empregada, visto que ela
possui importante função para o sucesso do sistema. E para melhor critério de seleção na
determinação da planta utilizada, estão o potencial de crescimento, a capacidade de
sobrevivência e adaptação da espécie ao local onde será inserida e o custo para transporte e
manutenção (INTERNATIONAL WATER ASSOCIATION, 2000). Como já citado
anteriormente, é preferível utilizar espécies facilmente encontradas no mercado ou em um
ambiente análogo para simplificar o transplantio.
A empresa Rotária opera e presta manutenção para a ETE Madri, localizada no
munícipio de Palhoça-SC, onde há um sistema de wetlands para o tratamento de lodo da
estação. Este sistema funciona como um viveiro que comporta variadas espécies de macrófitas,
conforme apresentado na Figura 11, as quais estão sendo testadas conforme adaptação ao
sistema.
Figura 11 – Viveiro da ETE Madri de macrófitas em wetlands para tratamento de lodo

Fonte: Site Rotária do Brasil (2020)

Para os wetlands do sistema do presente projeto serão transplantas mudas das seguintes
espécies: Cyperus giganteus (Papiros brasileiro), Cyperus papyrus Nanus (Mini Papiro),
Cyperus alternifolius (Papiros Chinês), Chrysopogon zizanioides (Vetiver) e outras espécies
das famílias Heliconiaceae (Helicônia) e da Araceae (Copo de leite). Esta variedade de
macrófitas possibilitará uma ampla pesquisa e estudo de qual planta melhor se adequará.
50

5.5 Estimativa de custos

A estimativa de custos dos materiais para a implantação e mão de obra deste projeto
foi levantada com base nas tabelas do Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da
Construção Civil (SINAPI) do estado de Santa Catarina do ano de 2020. Alguns itens foram
orçados em lojas de construção quando não constavam no SINAPI.
O SINAPI é uma ferramenta amplamente utilizada para orçamento de obras públicas
e também privadas, sendo os dados originados por fornecedores de materiais de construção civil
e empresas construtoras. O sistema é uma produção conjunta do IBGE e da Caixa Econômica
Federal e, o qual é revisado e atualizado mensalmente conforme variação de valores de cada
estado do país (IBGE, 2020).
Nos custos de implantação considerou-se a preparação do terreno e movimento de
terra, os elementos construtivos para a construção dos wetlands, poços e caixas para válvulas e
reservatório e as tubulações, conexões e equipamentos da parte hidráulica do sistema, sendo
que todos os itens incluem a mão de obra dos serviços. Esta estimativa de custos não isenta a
elaboração de um orçamento completo quando o projeto estiver em fase de implantação, e das
demais etapas que se julguem necessários à perfeita execução e operação dos equipamentos.
A Tabela 4, 5 e 6 apresentam um orçamento prévio para a implantação do sistema,
com a descrição, valor unitário, quantidade e custo de cada item, assim como o valor total
estimado.

Tabela 4 - Tabela da estimativa de custos da preparação do terreno e movimento de terra

Preparação do terreno e movimento de terra - Sistema de wetlands

Valor
Descrição Unidade Quantidade Custo
Unitário
Escavação vertical a céu aberto, incluindo carga,
descarga e transporte em solo. Frota de 3 caminhões m³ R$ 6,76 35 R$ 236,60
basculantes de 14 m³.
Execução e compactação de aterro com solo,
m³ R$ 6,62 117,55 R$ 778,18
escavação, carga e transporte
Roçada fina m² R$ 1,29 230 R$ 296,70
Subtotal R$ 1.311,48
Fonte: Elaborado pela autora (2020)
51

Tabela 5 – Tabela da estimativa de custos dos elementos construtivos

Elementos construtivos - Sistema de wetlands

Valor
Descrição Unidade Quantidade Custo
Unitário

Alvenaria de blocos de concreto estrutural 14x19x39


cm (espessura 14 cm), fbk=4,5 mpa, para paredes m² R$ 67,96 62,2 R$ 4.227,11
com área líquida menor ou igual a 6m².

Tampa caixa válvulas aço galvanizado 100x80 cm un R$ 386,00 1 R$ 386,00

Impermeabilização com manta termoplástica, PEAD,


m² R$ 19,63 100,05 R$ 1.963,98
geomembrana lisa, E=1,00 mm
Pintura impermeabilizante para concreto m² R$ 15,27 1,6 R$ 24,43
Anel para poço de visita circular para esgoto, em
concreto pré-moldado, diâmetro interno = 0,80 m; un R$ 55,00 6 R$ 330,00
altura = 0,5 m.
R$
Caixa d'agua fibra de vidro para 5000 L, com tampa. un 1 R$ 1.690,09
1.690,09
Pedra britada nº 0, ou pedrisco (4,8 a 9,5 mm) posto
m³ R$ 79,80 14,8 R$ 1.181,04
pedreira/fornecedor, sem frete

Pedra britada nº 1, ou pedrisco (9,5 a 19 mm) posto


m³ R$ 62,50 7,65 R$ 478,13
pedreira/fornecedor, sem frete

Pedra britada nº 2, ou pedrisco (19 a 38 mm) posto


m³ R$ 62,50 4,9 R$ 306,25
pedreira/fornecedor, sem frete
Assentamento de tubos e conexões PVC DN 100 m R$ 1,34 19,81 R$ 26,55
Assentamento de tubos e conexões PVC DN 75 m R$ 1,05 56,91 R$ 59,76
Assentamento de tubos e conexões PVC DN 50 m R$ 0,75 8 R$ 6,00
Subtotal R$ 10.679,33
Fonte: Elaborado pela autora (2020)
52

Tabela 6 – Tabela da estimativa de custos dos tubos, conexões e materiais com o valor total do orçamento

Tubos, conexões e materiais da distribuição e coleta do efluente - Sistema de wetlands

Valor
Descrição Unidade Quantidade Custo
Unitário
Adaptador PVC soldável DN 75 mm un R$ 32,81 2 R$ 65,62
União PVC soldável DN 75 mm un R$ 102,45 2 R$ 204,90
Tubo PVC, soldável DN 75 mm m R$ 25,72 46 R$ 1.183,12
Curva 90º PVC, soldável DN 75 mm un R$ 34,78 18 R$ 626,04
Joelho 90º PVC, soldável DN 75 mm un R$ 70,83 2 R$ 141,66
Curva 45º PVC, soldável DN 75 mm un R$ 20,64 4 R$ 82,56
Curva 22º PVC, soldável DN 75 mm un R$ 19,81 4 R$ 79,24
Registro gaveta bruto em latão forjado bitola 3" un R$ 241,97 3 R$ 725,91
Válvula de retenção horizontal, de bronze 3'' un R$ 333,10 2 R$ 666,20
TE PVC soldável DN 75 mm un R$ 39,41 2 R$ 78,82
Tubo PVC, soldável DN 100 mm m R$ 51,55 10,48 R$ 540,24
Curva 90º PVC, soldável DN 100 mm un R$ 117,99 3 R$ 353,97
Curva 45º PVC, soldável DN 100 mm un R$ 89,01 4 R$ 356,04
Registro gaveta bruto em latão forjado bitola 4" un R$ 504,18 3 R$ 1.512,54
Tubo PVC, soldável DN 50 mm m R$ 9,10 7,8 R$ 70,98
Curva 90º PVC, soldável DN 50 mm un R$ 9,89 4 R$ 39,56
Registro gaveta bruto em latão forjado bitola 2" un R$ 117,90 1 R$ 117,90
TE PVC soldável DN 50 mm un R$ 6,61 1 R$ 6,61
Tubo PVC corrugado perfurado DN 100 mm para
m R$ 28,52 11,05 R$ 315,15
drenagem
Tubo PVC série R DN 75 mm m R$ 11,72 7,82 R$ 91,65
Redução excêntrica PVC série R DN 100x75 mm un R$ 10,46 4 R$ 41,84
Joelho 90º PVC, série R DN 75 mm un R$ 11,30 8 R$ 90,40
Bomba trituradora submersível - CLAW-XSP14-
un R$ 1.022,00 2 R$ 2.044,00
7/1.1ID 1,5HP - 220 V
Subtotal R$ 9.434,95

TOTAL R$ 21.425,76
Fonte: Elaborado pela autora (2020)
53

Conforme o orçamento apresentado estima-se que a obra terá um custo de R$ 21.425,76,


o qual inclui a movimentação de terra, o material e instalação de todo o sistema. Contudo, neste
orçamento não estão previstos os custos do sistema de automação para o controle online do
recalque das bombas, das valas de infiltração previstas para o lançamento do efluente tratado,
o alinhamento do terreno com calçadas e o paisagismo do local. Estas etapas não estimadas
ainda podem sofrer alterações durante a implantação do sistema, então optou-se por não
apresentar no orçamento.
Em uma análise técnica, considerando a população atendida (30 EP), a área ocupada
pelos wetlands e o valor prévio do sistema tem-se um valor resultante de R$ 714,19/habitante
e R$ 396,77/m². Uma vez que o custo seja considerado alto para a implantação do sistema é
importante considerar os custos que serão gerados pelo gerenciamento e manutenção do
sistema. Wetlands construídos costumam ser uma boa alternativa para o tratamento
descentralizado por apresentarem fácil manutenção, baixo consumo de energia, ausência de
produtos químicos, baixo odor, ou seja, por serem tecnologias mais independentes o que torna
uma opção simples e viável economicamente. Contudo, um dos pontos a ser questionado sobre
a escolha de WC ou mesmo o tratamento descentralizado em si para o tratamento de efluentes
é o gerenciamento do lodo fecal. Tecnicamente os WC são considerados tratamentos
secundários e seu funcionamento depende ainda de um tratamento primário, como, por
exemplo, uma fossa séptica, um reator anaeróbio e outros, os quais geram lodo fecal com uma
frequência relativamente alta e ainda carecem de um tratamento final para o mesmo.
No entanto o SF, ou WTFF utilizado no projeto, são vantajosos por tratarem o esgoto
bruto sem produzir lodos fecais em um longo período, resultando em uma opção ainda mais
favorável economicamente. E como a empresa Rotária está investindo neste projeto também
com a finalidade de realizar pesquisas da eficiência com diferentes combinações dos WC, o
orçamento prévio obtido pode ser flexibilizado, pois se o objetivo fosse unicamente o
tratamento talvez o sistema apresentasse outra logística.
54

5.6 Eficiência esperada

Estudos anteriores provaram que um sistema francês pode alcançar eficiências


superiores a 85% em remoção dos principais parâmetros orgânicos como DQO, SST e NTK.
Segundo avaliações descritas por Molle et a. (2005) todas as experiências realizadas na França
com o sistema tradicional francês de duas etapas chegaram a uma média de remoção de 90%
da DQO, 95% de SST e 85% de NTK.
Em uma pequena cidade no Peru, chamada Chincha, a Rotária do Peru desenvolveu
uma ETE com SF como tecnologia para tratar o esgoto doméstico de um asilo com o objetivo
de recuperação do efluente tratado para irrigação das áreas e jardins. Segundo Hoffmann et al.
(2013) foi a primeira aplicação do “Sistema Francês” em escala real na América Latina.
A cidade é caracterizada por um clima quente (20ºC a média anual) e seco com baixa
precipitação anual. Isto é, para o dimensionamento e implantação do sistema foi preciso fazer
ajustes para adaptar ao clima local. O WC desenvolvido foi o modelo WTFF com uma segunda
etapa de WCFV com areia.
Após dois anos de análises os resultados mostraram uma alta eficiência já na primeira
etapa do tratamento com remoção de 96% de DQO e DBO5, sendo muito mais que outras
tecnologias de pré-tratamento alcançam, como fossa séptica e tanque imhoff que chegam a 40%
remoção (HOFFMANN et al., 2013). As análises comprovaram uma relação com a temperatura,
na qual a nitrificação progride durante o verão e melhores eficiências de remoção do DQO com
maiores cargas hidráulicas. A segunda etapa de tratamento deste sistema completou a remoção
de DBO5, DQO e Amônio e da turbidez até quase 100%.
Com base na experiência citada e, sabendo que a temperatura média anual de
Florianópolis é próxima a 20ºC, espera-se que o WTFF do sistema deste projeto possa ter
eficiências na remoção de parâmetros orgânicos semelhantes ao sistema desenvolvido no Peru.
Para o dimensionamento do WTFF as eficiências estimadas foram semelhantes ao documento
de dimensionamento de WC no Brasil de Von Sperling e Sezerino (2018), e por uma questão
de segurança optou-se por assumir valores mais próximos ao limite inferior da faixa. A Tabela
7 apresenta os valores de eficiência de remoção mínimos para o WTFF.
55

Tabela 7 - Eficiências esperadas para a 1ª etapa


Eficiências de remoção

Eficiências de remoção esperadas mínimas Eficiência do WTFF (1ª etapa)

DBO 85 %
DQO 75 %
SS 85 %
N total < 40 %
Fonte: Elaborado pela autora (2020)

Para a etapa de pós-tratamento com o WCFH com brita pós um WTFF não há
experiências desenvolvidas pela empresa Rotária que possam trazer como referência uma
eficiência esperada para o sistema. Contudo, o documento desenvolvido por Von Sperling e
Sezerino (2018) apresenta uma estimativa de eficiência em remoção esperada para um filtro
horizontal com brita pós o 1º estágio do SF no Brasil. Como o dimensionamento do WCFH foi
definido conforme o documento citado, espera-se eficiências mínimas conforme os valores
apresentados mostrados na Tabela 8.

Tabela 8 - Eficiências esperadas para o wetland horizontal


Eficiências de remoção
Eficiências de remoção esperadas mínimas Eficiência do WCFH (pós tratamento)
DBO 90 %
DQO 85 %
SS 90 %
N total < 50 %
Fonte: Elaborado pela autora (2020)

O wetland vertical com areia presente no sistema como pós-tratamento do WTFF


possui diferentes referências na literatura quanto ao desempenho na eficiência pois é semelhante
à 2ª etapa do tradicional SF. No sistema presente, o dimensionamento deste filtro foi elaborado
com o propósito de atender os parâmetros recomendados no documento de Von Sperling e
Sezerino (2018). Desta forma, mesmo com algumas modificações e diferenças do WCFV
desenvolvido para este sistema, a eficiência esperada para esta etapa será com base nos valores
mínimos proposto no documento, conforme apresenta a Tabela 9.
56

Tabela 9 - Eficiências esperadas para o wetland vertical


Eficiências de remoção
Eficiências de remoção esperadas mínimas Eficiência do WCFV (pós tratamento)
DBO 90 %
DQO 85 %
SS 90 %
N total < 50 %
Fonte: Elaborado pela autora (2020)

Conforme os valores de eficiências estimadas apresentados neste estudo é importante


verificar se está de acordo com o que as normativas determinam para o lançamento de efluentes
nos corpos receptores. Neste sistema o objetivo é lançar o efluente tratado em valas de
infiltração, e para a verificar se o tratamento cumpre o atendimento aos requisitos de modo a
evitar a poluição do solo, a resolução CONAMA 430/11 prevê parâmetros de lançamento de
efluentes em corpos hídricos. Apesar de que esta norma não se aplica ao lançamento de
efluentes no solo, ela apresenta no Art. 2º que “a disposição de efluente no solo, mesmo tratados,
não poderá causar poluição ou contaminação das águas superficiais e subterrâneas” (CONAMA
430, 2011). Desta forma, conclui-se que esta norma pode ser aplicada como parâmetros no
lançamento de efluentes no solo, pois ela também apresenta os principais parâmetros para a
verificação. Pela inexistência de uma normativa que apresente todos os parâmetros de
lançamento do efluente no solo, é válido considerar normativas que apresentem valores mais
restritivos para o lançamento de efluentes. A Tabela 10 apresenta normativas com parâmetros
de lançamento de acordo com os parâmetros previstos no sistema.

Tabela 10 - Parâmetros de lançamento de efluentes líquidos no solo

WTFF + WTFF + Resolução CONAMA Lei nº 14675/2009


Parâmetros WTFF
WCFH WCFV 430 (BRASIL, 2011) (SC, 2009)

75% ou 85% ou 85% ou


DQO ND ND
187,5 mg/L 28,12 mg/L 28,12 mg/L
60 mg/L ou Eficiência
85% ou 90% ou 5,06 90% ou 5,06 120 mg/L ou Eficiência
DBO5 de remoção de carga de
50,62 mg/L mg/L mg/L de remoção de 60%
80%
85% ou 56 90% ou 5,6 90% ou 5,6 Eficiência de remoção de
SS ND
mg/L mg/L mg/L 20%
40% ou 50% ou 6,56 50% ou 6,56
Ntotal ND ND
13,12 mg/L mg/L mg/L
Nota: ND - não definido
Fonte: Adaptado pela autora (2020)
57

Os resultados previstos de DBO obtidos na etapa de tratamento e pós-tratamento


atendem às normativas apresentadas em termos de eficiência de remoção, assim como
concentração do efluente final. Estas normativas não definem parâmetros de lançamento para
DQO, mas tendo conhecimento que o lançamento em rede pluvial, conforme a NBR
13969/1997 (ABNT,1997), admite uma concentração do efluente final inferior a 150 mg/L,
supõe-se que para o lançamento no solo esse valor também possa ser aceitável. Desta forma, a
1ª etapa do tratamento, segundo esta normativa, não teria uma remoção de DQO suficiente para
o lançamento, porém na prática espera-se eficiências superiores às apresentadas.
Em todas as etapas a remoção de sólidos é superior ao mínimo permitido, que é de
20% de eficiência de remoção. Como no Brasil não há resoluções que preveem a remoção de
nitrogênio total, apenas de nitrogênio amoniacal, foi considerado para este projeto a eficiência
que pode se esperar com o tratamento de acordo com o que a literatura recomenda, o que não
exclui a possibilidade de levantar este parâmetro como pesquisa após a implantação.

5.7 Avaliação crítica

Este trabalho apresenta um projeto executivo de um sistema de wetlands para o


tratamento de esgoto doméstico e para posterior espaço de pesquisa com diferentes aplicações
de cargas e funcionalidade das etapas. O objetivo de promover a pesquisa neste sistema sucede
da necessidade de promover opções mais favoráveis economicamente e com uma boa
eficiência, para que atinja um número maior de pessoas que não são atendidas com um
tratamento básico de esgoto. A primeira etapa do sistema, constituída pelo primeiro estágio do
modelo francês adaptado, provou em outras experiências que tem a capacidade de tratar o
esgoto bruto e lançar o efluente tratado em condições adequadas no corpo receptor,
notadamente quando este é o solo. Porém, em cada local de aplicação o funcionamento dos
módulos do sistema pode ter um desempenho diferente devido às condições locais de
temperatura, carga orgânica, presença de oxigênio, etc. Diante disso, uma vez que a primeira
etapa do sistema não venha a fornecer um efluente de qualidade mínima para o lançamento no
corpo receptor ou para alguma variedade de reuso, uma etapa de pós-tratamento pode garantir
o polimento final do efluente necessário para a sua destinação.
58

O wetland vertical com areia como segunda etapa ou como um pós-tratamento da


primeira etapa do modelo francês comprovou em algumas experiências, citadas anteriormente,
ser eficiente e garantiu remoções, em alguns casos, elevadas em termos de cargas orgânicas. O
wetland horizontal com brita, segundo a literatura, pode alcançar eficiências semelhantes a uma
segunda etapa de wetland vertical com areia, com alta remoção de carga orgânica e sólidos
suspensos. A utilização de um filtro horizontal com brita para o pós-tratamento possibilita um
tratamento de esgoto bruto com apenas um tipo de material filtrante, o que torna atrativo por
ser um elemento encontrado com mais frequência na natureza e por ter um menor custo no
mercado. Outro fator relevante é o fato de o wetland horizontal ser saturado, o que possibilita
gerar um ambiente anóxico no filtro que favorece a desnitrificação, podendo assim alcançar alta
remoção de nitrogênio do efluente, tornando um sistema ainda mais completo em termos de
eficiência de remoção de nutrientes.
Conforme apresentado por Molle (2003) é essencial a função da camada depósito
formada na superfície do filtro para melhorar o comportamento hidráulico de filtração. A
matéria orgânica fica aprisionada nesta camada e impacta a distribuição do efluente na
superfície filtrante, então caso não tenha um controle na carga aplicada e no tempo de repouso
na primeira etapa do sistema, pode haver deficiências na taxa de transferência de oxigênio. Uma
vez que o filtro apresente uma taxa de colmatação que extrapole o desempenho do sistema,
pode-se estar fornecendo ar ao filtro por meio de aeradores. Contudo, espera-se que com as
condições locais de temperatura, controle das cargas de aplicação e da intermitência das
bombas, o funcionamento hidráulico do sistema venha a ter um excelente desempenho gerando
um efluente de boa qualidade.
59

6 CONCLUSÃO

Mediante a proposta de elaboração de um projeto executivo, o presente trabalho propôs


o dimensionamento de um sistema de wetlands para atender um EP de 30 pessoas com um
WTFF como tratamento primário e, para o pós-tratamento, um WCFH e um WCFV com o
objetivo de comparar o funcionamento destes módulos. A principal dificuldade foi adaptar o
que a literatura recomenda para o dimensionamento de WC com a proposta do sistema deste
projeto, pois é uma alternativa inovadora e com poucas experiências realizadas em escala real.
A etapa do wetland tipo Fito-Filtro é caracterizada por tratar o esgoto bruto
independente de um tratamento primário e do serviço de gestão de lodo. O projeto também
possibilita, para posterior pesquisa, tratar o esgoto doméstico unicamente com brita como
material filtrante em WC, quando a combinação é o WTFF com o WCFH como pós-tratamento.
O propósito de comparar o funcionamento das etapas é buscar uma alternativa de tratamento
que possa ser eficiente e mais vantajosa economicamente.
O custo estimado para a implantação deste sistema foi de R$ 21.425,76, representando
um custo de R$ 714,19 por pessoa atendida pelo tratamento e um custo de R$ 396,77 por metro
quadrado implantado. O orçamento apresentado não incluiu custos de processos que podem
passar por modificações durante a implantação, é apenas um orçamento prévio que engloba a
etapa de movimentação do terreno, materiais, tubos, conexões, equipamentos e a mão de obra
desses serviços. O projeto objetiva uma alternativa para tratar o esgoto doméstico de um sistema
individual e a aplicação de pesquisas de cunho acadêmico e posterior oferta no mercado. Diante
disso, para que este sistema tenha uma análise de custo comparativa a outras tecnologias de
tratamento, deveria ter como finalidade apenas o tratamento do efluente, dado que o sistema
poderia ter outro formato.
As eficiências de tratamento esperadas para este projeto foram embasadas no que a
literatura recomenda para sistemas semelhantes e estão em conformidade com o que as
normativas determinam para o lançamento de efluentes tratados no corpo receptor. Para os
parâmetros orgânicos é previsto uma alta eficiência de remoção em todas as etapas propostas
de tratamento, enquanto a remoção de nutrientes esperada apresenta valores de remoção abaixo
de 50%. Contudo, em iminentes pesquisas pode-se estudar uma melhora na remoção de
nitrogênio com o wetland horizontal, devido a sua completa saturação que produz um ambiente
anaeróbio facilitador no processo de desnitrificação.
60

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63

APÊNDICE A – Vista superior, vista lateral 1 e detalhes


65

APÊNDICE B – Vista superior, vista lateral 2, corte e tabela de quantitativo

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