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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE TECNOLOGIA
CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

a cidade PROPOSTA DE INTERVENÇÃO PARA


AS FACHADAS DOS EDIFÍCIOS
HISTÓRICOS DE UMA FRAÇÃO DO
descoberta BAIRRO CIDADE ALTA, NATAL/RN

GABRIELA ALMEIDA ARAÚJO

Natal, RN
2021
GABRIELA ALMEIDA ARAÚJO

a cidade descoberta
PROPOSTA DE INTERVENÇÃO PARA AS
FACHADAS DOS EDIFÍCIOS HISTÓRICOS DE UMA
FRAÇÃO DO BAIRRO CIDADE ALTA, NATAL/RN
Trabalho Final de Graduação apresentado ao Curso de
Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte, no semestre 2021.1, como requisito para
a obtenção do grau de Arquiteta e Urbanista.

Profº. Drº. José Clewton do Nascimento


Orientador

NATAL, RN
2021
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Prof. Dr. Marcelo Bezerra de Melo Tinôco - DARQ - ­CT

Araújo, Gabriela Almeida.


A cidade descoberta: proposta de intervenção para as fachadas
dos edifícios históricos de uma fração do bairro Cidade Alta,
Natal/RN / Gabriela Almeida Araújo. - 2021.
134f.: il.

Monografia (Graduação) - Universidade Federal do Rio Grande


do Norte, Centro de Tecnologia, Departamento de Arquitetura.
Natal, RN, 2021.
Orientador: José Clewton do Nascimento.

1. Patrimônio cultural - Monografia. 2. Patrimônio histórico


edificado - Monografia. 3. Centro histórico - Monografia. 4.
Intervenção - Monografia. 5. Fachadas - Monografia. 6. Cidade
Alta - Natal/RN - Monografia. I. Nascimento, José Clewton do.
II. Título.

RN/UF/BSE15 CDU 719

Elaborado por Ericka Luana Gomes da Costa Cortez - CRB-15/344


GABRIELA ALMEIDA ARAÚJO

a cidade descoberta
PROPOSTA DE INTERVENÇÃO PARA AS
FACHADAS DOS EDIFÍCIOS HISTÓRICOS DE UMA
FRAÇÃO DO BAIRRO CIDADE ALTA, NATAL/RN
Trabalho Final de Graduação apresentado ao Curso de
Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte, no semestre 2021.1, como requisito para
a obtenção do grau de Arquiteta e Urbanista.
Aprovação em 14 de Setembro de 2021

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________________
Profº. Drº. José Clewton do Nascimento
Orientador

_____________________________________________
Profº. Drº.George Alexandre Ferreira Dantas
Examinador interno

_____________________________________________
Profª. Ma. Mônica Rosário Alves
Examinadora externa
resumo ¨
Ao caminhar pelas principais ruas da Cidade Alta, bairro histórico do município de
Natal-RN, é difícil perceber a presença de edifícios representativos de épocas passadas
que ainda mantêm traços de suas características originais. Se tivermos um olhar mais
atento, no entanto, é possível identificar exemplares da arquitetura antiga “escondidos”,
descaracterizados, mal conservados e muitas vezes com grandes placas de propaganda
e elementos publicitários obstruindo suas fachadas. Apesar de estranho pensar que um
centro histórico reconhecido como Patrimônio Cultural Nacional ainda se apresente
dessa forma, essa situação parece ser recorrente no Brasil. Quando não completamente
substituído, o casario antigo, com o desenvolvimento das cidades, acaba passando por
diversas modificações para abrigar novos tipos de uso. No caso do centro histórico de
Natal, apesar da existência de instrumentos de proteção ao patrimônio, acredita-se que
esses não são suficientes para a devida manutenção, conservação e preservação das
características históricas das edificações de valor patrimonial que ali se encontram.
Compreendendo os métodos e conceitos utilizados no campo do patrimônio cultural e
de intervenções em áreas de interesse histórico, considerando o contexto histórico da
área frente ao desenvolvimento urbano da cidade, bem como entendendo as
transformações no casario antigo em decorrência das mudanças de uso e dinâmica do
espaço urbano e os instrumentos de proteção ao patrimônio incidentes, este trabalho
busca analisar o estado no qual se encontram as edificações históricas de uma fração
do bairro Cidade Alta a fim de desenvolver uma proposta de intervenção para as
fachadas dessas que contribua para uma maior conservação e preservação de suas
características históricas e para a valorização do patrimônio cultural da cidade de Natal.

Palavras-Chave:
Patrimônio Cultural; Patrimônio histórico edificado; Centro histórico; Intervenção;
fachadas, Cidade Alta (Natal-RN)
¨ abstract
When walking through the main streets of Cidade Alta, a historical neighbourhood in
the city of Natal-RN, it’s difficult to notice the presence of representative buildings of
past times that still maintain traces of their original characteristics. If we take a closer
look, however, it’s possible to identify examples of historical architecture “hidden”,
uncharacterized, poorly maintained and oftentimes with big billboards and other
publicity elements obstructing their facades. Odd as it may be to think that a historical
centre that is nationally recognized still presents itself in this manner, this situation
seems to be recurrent in Brazil. When not completely replaced as collateral of the
development of a city, the historical constructions end up going through all manner of
modifications to house new types of use. When considering the historic centre of Natal,
despite the existence of protection mechanisms that ensure the preservation of
heritage sites, It is believed that these mechanisms are in fact not sufficient to ensure
the proper maintenance, conservation and preservation of the historical characteristics
that these heritage sites have. In accordance with the methods and concepts used in
the field of cultural heritage and of interventions in areas of historical interest,
considering the historical context of the area in view of the urban and economic
development of the city, as well as understanding the transformations made to the
historical buildings due to the changes in use and dynamic of the urban space and the
instruments of protections that apply to these heritage sites, this work seeks to analyse
the state in which a fraction of the historical buildings of the Cidade Alta
neighbourhood can be found in order to develop an intervention proposition to the
facades of these buildings that contribute to a bigger conservation and maintenance
of their historical characteristics and to the appreciation of the cultural heritage of
Natal.

Key words:
cultural heritage; Built historical heritage; historical centre; intervention; facades.
LISTA DE TABELAS

Tabela 01 - Conservação dos Edifícios por uso 69


Tabela 02 - Preservação dos Edifícios por uso 70
Tabela 03 - Porcentagem das modificações nas fachadas 72

LISTA DE SIGLAS

CI - Conservação Integrada
DEPAM - Departamento de Patrimônio Material e Fiscalização
ICOMOS - International Council on Monuments and Sites
IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
MuSA - Morfologia de usos da arquitetura
PRAC - Plano de reabilitação de áreas urbanas centrais
PUB Rio - Plano Urbanístico Básico da Cidade do Rio de Janeiro
SEMURB - Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo
SPHAN - Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte
UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
ZEPH - Zona Especial de Preservação Histórica
ZEIH - Zona Especial de Interesse Histórico
LISTA DE FIGURAS 1

Figura 1 – Subzonas do Corredor Cultural 36


Figura 2 – Elementos componentes das fachadas 37
Figura 3 – Instalações e anúncios no Corredor Cultural 38
Figura 4 – Toldos, instalações e anúncios no Corredor Cultural 39
Figura 5 – Cores das fachadas no Corredor Cultural 40
Figura 6 – Centro de Florianópolis 41
Figura 7 – Guia Rápido Florianópolis - pag. 01 44
Figura 8 – Guia Rápido Florianópolis - pag. 02 45
Figura 9 – Delimitação da área da ZEPH 51
Figura 10 – Delimitação das poligonais de tombamento e de entorno do Centro Histórico de Natal 53
Figura 11 – Recorte do bairro Cidade Alta com destaque para a Avenida Rio Branco e a Rua João Pessoa 57
Figura 12 – Cabeçalho do quadro referente ao inventário das edificações 58
Figura 13 – Exemplo de análise da porcentagem de descaracterização. Edificação localizada na Rua João Pessoa 59
Figura 14 – Recorte da área de estudo com destaque para seus 03 trechos definidos 60
Figura 15 – Edificações selecionadas para a análise 61
Figura 16 – Edificações na Av. Rio Branco com fachadas descaracterizadas 62
Figura 17 – Filiação estilística das edificações 63
Figura 18 – Manchas referentes às áreas de tombamento e entorno definidas pelo IPHAN 63
Figura 19 – Uso das edificações 64

1
Todas as imagens sem fonte foram produzidas pela autora.
Figura 20 – Edificações selecionadas para a análise no trecho 01 da Av. Rio Branco 65
Figuras 21 e 22 – Edificações selecionadas para a análise no trecho 02 da Av. Rio Branco 66
Figura 23 – Edificações selecionadas para a análise no trecho 02 da Rua João Pessoa 67
Figura 24 - Big Boi - edificação localizada na Rua João Pessoa 72
Figura 25 - Santana Artesanato - edificação localizada na Rua João Pessoa 72
Figura 26 - Farmafórmula - edificação localizada na Rua João Pessoa 73
Figura 27 - Arroba Festas - Edificação localizada na esquina da rua João Pessoa com a avenida Rio Branco 73
Figura 28 - Anexo IHGRN - Edificação localizada na rua João Pessoa 74
Figura 29 - Anexo IHGRN, na Rua João Pessoa 74
Figura 30 - Edifícios no entorno da Praça Padre João Maria 75
Figura 31 - Edifícios na Av. Rio Branco 76
Figura 32 - Edifícios na Av. Rio Branco 76
Figura 33 - Edifícios da Batel, Farmácia Santa Sara e Maçonaria 77
Figura 34 - Edificações totalmente descaracterizadas 86
SUMÁRIO

LISTA DE TABELAS 12

LISTA DE SIGLAS 12

LISTA DE FIGURAS 13

INTRODUÇÃO 17

CAP. 1 24
SOBRE O PATRIMÔNIO 24

1.1. REFLEXÕES SOBRE O PATRIMÔNIO 24


1.2. ESTUDOS DE CASO 34
Normatização em áreas de preservação patrimonial
1.2.1. CORREDOR CULTURAL_____________________________________. 34
Rio de Janeiro | RJ
1.2.2. COMUNICAÇÃO VISUAL EM ÁREAS DE PRESERVAÇÃO CULTURAL . 41
Florianópolis | SC

CAP. 2 46
SOBRE O “CENTRO” DE NATAL
2.1. UM BREVE APANHADO HISTÓRICO 47
2.1.1. RUA JOÃO PESSOA E AVENIDA RIO BRANCO 49
2.2. ASPECTOS RELACIONADOS À LEGISLAÇÃO URBANA E PATRIMONIAL DE NATAL 50

CAP. 3 57
CIDADE ALTA: ONTEM E HOJE 57

3.1. ONTEM E HOJE: AS EDIFICAÇÕES QUE MUDARAM DE USO 61


3.1.1. AV. RIO BRANCO 65
3.1.2. RUA JOÃO PESSOA 67
3.2. A ATUAÇÃO DOS REUSOS NO “ESTADO” DO PATRIMÔNIO EDIFICADO 68
3.2.1. ESTADO DE CONSERVAÇÃO 68
3.2.2. ESTADO DE PRESERVAÇÃO 69
3.2.3. ESTADO DE PRESERVAÇÃO - PORCENTAGEM DA MODIFICAÇÃO 70
3.2.4. O “ANTES” E O “DEPOIS”: ALGUNS CASOS 71
3.3. O QUE SE PODE AFIRMAR SOBRE A ÁREA 75

CAP. 4 79
DA CIDADE DESCOBERTA 79

4.1. PROPOSTA DE INTERVENÇÃO PARA FACHADAS 81


4.1.1. PINTURA 81
4.1.2. VOLUMES 83
4.1.3. PLACAS E ANÚNCIOS PUBLICITÁRIOS 83
4.1.4.INSTALAÇÕES PREDIAIS 84
4.1.5. ABERTURAS 85
4.2. PRODUÇÕES VISUAIS PARA A PROPOSTA 85

CONSIDERAÇÕES FINAIS 96

REFERÊNCIAS 98
INTRODUÇÃO
Ao caminharmos pelas principais ruas da Cidade Alta, vezes com enormes placas de propaganda e elementos
bairro histórico do município de Natal, no Rio Grande do publicitários obstruindo suas fachadas.
Norte, conhecido popularmente como “Centro”, é difícil
Apesar de estranho pensar que um centro histórico
perceber a presença de edifícios representativos de épocas
reconhecido como Patrimônio Cultural Nacional ainda se
passadas que ainda mantêm traços de suas características
apresente dessa forma, essa situação parece ser recorrente
originais. Considerando que o bairro em questão foi, junto
no Brasil. Quando não completamente substituído, o casario
com o bairro da Ribeira, foco de surgimento da capital e
antigo, com o desenvolvimento dessas áreas, acaba
conta com parte de seu território inserido na poligonal de
passando por diversas modificações para abrigar novos tipos
tombamento e entorno do Centro Histórico de Natal,
de uso. No caso de Natal, esse fenômeno pode ser melhor
delimitada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
compreendido ao analisarmos a história do desenvolvimento
Nacional (IPHAN) em 2010, era de se esperar que a
urbano da cidade e sua expansão para além dos bairros da
quantidade fosse mais representativa.
Cidade Alta e da Ribeira.
Ambiente de diversos usos e funções, de uma
dinâmica única de interação entre pessoas e o ambiente O bairro Cidade Alta, até meados dos anos 1940, era
urbano, o Centro possui áreas mais residenciais, as primeiras majoritariamente residencial, possuindo apenas pequenos
igrejas de Natal, praças tradicionais, e avenidas e ruas mais comércios e poucos serviços. Após a Segunda Guerra
comerciais as quais se mantém, até os dias atuais, como um Mundial, contudo, muitos dos estabelecimentos comerciais
local de vitalidade na cidade. São nessas que, apesar de à da Ribeira – bairro que deteve por um longo período de
primeira vista não se notar, se tivermos um olhar mais atento tempo esta função – migraram para o Centro, fazendo com
é possível identificar exemplares da arquitetura antiga que esse sofresse as primeiras grandes transformações de
“escondidos”, descaracterizados, mal conservados e muitas seu conjunto edilício. Muitos edifícios considerados históricos
foram demolidos para dar lugar a grandes lojas de de estudo ser integrante do Conjunto Arquitetônico,
departamentos, outros tiveram de ser profundamente Urbanístico e Paisagístico de Natal, essas não são suficientes
modificados, antigas casas e sobrados viraram novos pontos para a devida manutenção, conservação e preservação das
comerciais, edifícios institucionais, pontos de serviço, entre edificações de valor patrimonial que ali se encontram. Não
outros. foram ainda elaboradas e publicadas diretrizes mais diretas
que visem uma melhoria concreta do estado no qual se
Algumas fachadas mantiveram-se preservadas, outras
encontram as edificações históricas - para as que já sofreram
passaram por modificações, e há as que foram
modificações -, ou que visem indicações de formas de
completamente descaracterizadas. Esquadrias, estruturas e
modificar, em função da mudança de uso ou outros motivos,
revestimentos de parte das edificações foram alterados e,
uma edificação de valor patrimonial mantendo suas
em certos casos, totalmente substituídos. Essas alterações
características estilísticas e ainda alcançando a
ocorreram não apenas nessa época, mas a cada momento
funcionalidade que se é desejada.
em que algum desses edifícios incorporava um novo tipo de
atividade. Julga-se, também, que haja um descaso por parte da
população proprietária ou locatária desses imóveis com a
É certo que o processo de reuso de edificações é um
questão do patrimônio. Talvez pela falta de conhecimento ou
grande aliado quando se trata da preservação de sítios
compreensão sobre o valor histórico desses prédios, estes
históricos. De qualquer forma, a transformação desse
acabam por modificá-los seguindo critérios exclusivamente
conjunto antigo para novos usos deve, imprescindivelmente,
funcionais, não levando em consideração as características
levar em consideração as características e traços históricos a
compositivas destes. Além disso, a falta de critérios quanto à
fim de conservá-los.
comunicação visual nessas áreas faz com que a poluição
Ademais, acredita-se que apesar da existência de visual causada pelos elementos publicitários utilizados nas
instrumentos de proteção ao patrimônio e de parte da área

18
fachadas das edificações dificulte a leitura da paisagem possibilidade de reconhecer-se nos antigos edifícios
histórica do local. situados na área.

A partir dos diversos percursos feitos pelas ruas da Além disso, considera-se importante destacar o
Cidade, tenham sido eles a caminho da escola - O Colégio conjunto edilício que possui características ou traços
Imaculada Conceição, hoje Unifacex, centenário - , da loja de estilísticos que remetem a épocas passadas, mesmo que não
meu pai -localizada há mais de 40 anos no térreo de um tão exuberantes, para além da poligonal de tombamento e
edifício histórico da maçonaria, em frente ao antigo Cinema entorno. Têm-se como crença que as ruas e avenidas mais
Nordeste- , do trabalho de minha mãe - o SINTE-RN, cuja movimentadas e com maior fluxo de pedestres pelo centro,
sede é o reuso de um antigo casarão- , à procura de objetos as que possuem maior atividade comercial e de serviços, são
que só se encontram por lá ou a passeio e fotografando, onde se identifica a maior quantidade de edifícios num
desenvolvi, com o decorrer dos anos, um laço afetivo de estado de descaracterização mais avançado ou com grandes
memória e identidade com tal local tão significativo e modificações.
histórico para a minha pessoa, assim como para cidade. Para
Julga-se que seria interessante destacar também
além da inquietação sentida já anteriormente à graduação
nessas avenidas a arquitetura remanescente do que já foram
em Arquitetura e Urbanismo, após os conhecimentos
um dia ruas que mantinham um considerável grau de
adquiridos no curso, a necessidade de estudar melhor as
preservação, e cuja memória dos que ainda vivem
questões relacionadas ao patrimônio e ao centro da cidade
certamente seria evidenciada, caso estes estivessem em
em si resultaram no interesse de desenvolver um trabalho
maior evidência.
que tivesse como universo de estudo a área em questão.
Devemos chamar a atenção a existência de ações de
Acredita-se que esse sentimento de pertencimento e
intervenção urbana e normatização em centros históricos de
reconhecimento esteja diretamente ligado e relacionado
outros estados do país, tais como o caso do projeto do
com a história destes lugares, bem como com a

19
corredor cultural no Rio de janeiro, o projeto de lei em do patrimônio cultural e de intervenções em áreas de
Florianópolis que teve como produto um guia de interesse histórico; estudar o contexto histórico da área
comunicação visual para intervenções no património frente ao desenvolvimento urbano da cidade, entendendo as
cultural, ou a ação realizada recentemente em Manaus transformações no casario antigo em decorrência das
denominada “Manaus Mais Limpa”, que retirou mais de 130 mudanças de uso e dinâmica do espaço urbano; bem como
itens de poluição visual das ruas, dentre eles vários no centro os instrumentos de proteção ao patrimônio incidentes; e
histórico, dando destaque a edificações antigas que não se levantar o estado de preservação, conservação e tipo de
podiam enxergar devido a elementos publicitários. modificações feitas nas edificações do recorte,
compreendendo a atuação dos reusos em suas condições
Neste sentido, coloca-se o seguinte questionamento:
atuais.
Quais os entraves normativos, sociais e culturais que
impedem a legibilidade dos edifícios históricos do bairro Foram elencados, para a realização do trabalho,
Cidade Alta como patrimônio cultural e de que forma é procedimentos, técnicas e fontes de dados a serem
possível contorná-los? utilizados a fim de se alcançarem os objetivos definidos.
Utilizou-se do levantamento documental a partir de
O objetivo geral do presente trabalho, portanto, é
pesquisa bibliográfica, documental e de fontes audiovisuais,
desenvolver uma proposta de intervenção para as fachadas
utilizando-se de livros, monografias, teses, dissertações, leis, e
dos edifícios históricos de uma fração do bairro Cidade Alta,
publicações em jornais e revistas; da elaboração de fichas de
que preserve suas características históricas, bem como
inventário das edificações estudadas, bem como de quadros,
contribua para a valorização do patrimônio cultural da
tabelas e colagens.
cidade.
Quanto à estrutura do trabalho, essa apresenta-se em
Quanto aos objetivos específicos, pretende-se
quatro tópicos: o primeiro é composto pelo referencial
compreender os métodos e conceitos utilizados no campo
teórico-conceitual e estudos de casos; o segundo, por um

20
breve apanhado histórico sobre a área de estudo juntamente mais especificamente, da Avenida Rio Branco e da Rua João
à uma análise dos aspectos relacionados à legislação urbana Pessoa, e o outro faz um apanhado sobre os instrumentos de
e patrimonial desta; o terceiro, por uma análise urbana da proteção ao patrimônio incidentes na área tendo em vista a
área estudada e o quarto pela proposta de intervenção a análise da eficiência dessas para a proposição de estratégias
qual se propõe este trabalho. que busquem a valorização das características das
construções históricas e, assim, do patrimônio cultural.
Primeiramente, para uma melhor compreensão da
realidade focada, foram adotados alguns conceitos – Posteriormente, foi feita a análise urbana da área de
defendidos por autores como Françoise Choay, Carlos Lemos, estudo identificando o estado no qual encontra-se o
Jean-Michel Leniaud, Adriana Fabre Dias, Heitor Silva e Silvia conjunto arquitetônico desta a partir do levantamento por
Puccioni, e apresentados em documentos como a Carta de meio de fichas de inventário – contendo informações sobre
Veneza, a Declaração de Amsterdã, a Carta de Washington, a os usos, gabarito, filiação estilística, níveis de preservação e
Carta de Burra e os artigos 215 e 216 da Constituição Federal conservação –, fotografias e pesquisa em meios digitais e
de 1988 – para fundamentar as questões levantadas sobre ferramentas como o Google Maps, que serviu de base para a
patrimônio cultural, centros históricos, preservação, elaboração de mapas, gráficos e análises de suas
conservação, memória, identidade, intervenções e características.
comunicação visual em áreas de interesse histórico
Por fim, serão apresentados no último capítulo
patrimonial.
diretrizes e estratégias que contribuam para uma maior
Na etapa seguinte, teve-se o levantamento conservação e preservação das características históricas das
documental sobre a área estudada. Essa etapa apresenta-se edificações do recorte selecionado a partir de esquemas
dividida em dois tópicos nos quais um discorre brevemente visuais com desenhos, fotografias e fotocolagens que, além
sobre a história do surgimento e desenvolvimento urbano da de serem produtos de indicação das sugestões de
cidade de Natal, a inserção do Bairro Cidade Alta nesta e, requalificação das fachadas, também são uma forma de

21
manifestação artística provocativa, convidando o leitor a ver
a cidade como ela poderia ser.

Considera-se que o trabalho em questão irá contribuir


nas discussões acerca da preservação e conservação do
patrimônio histórico da cidade, de intervenções nesses tipos
de edifício e das novas dinâmicas de uso surgentes na
sociedade atual, sendo, dessa forma, significativo para os
estudos em Arquitetura e Urbanismo.

22
23
CAP. 1 como sendo não um artefato intencional, criado para fins
memoriais, mas sim um corpus de edifícios pré-existentes

SOBRE O PATRIMÔNIO escolhidos em razão de seu valor para a história e/ou de seu
valor estético. Adriana Fabre Dias (2005) escreve que o
REFERENCIAL TEÓRICO-CONCEITUAL E LEGISLAÇÃO
patrimônio arquitetônico, ou patrimônio edificado, diz

Para o desenvolvimento da pesquisa e uma melhor respeito justamente às edificações que obtiveram

compreensão da realidade focada, foram adotados alguns significação histórica e cultural em uma sociedade

conceitos que serão abordados no presente tópico, para específica.

fundamentar as questões levantadas sobre patrimônio, Não obstante, também segundo Choay, o patrimônio

preservação, conservação, centros históricos, memória, é formado pelo ambiente construído das sociedades

identidade, intervenções e comunicação visual em áreas de humanas, sinônimo de patrimônio edificado no espaço

interesse histórico patrimonial. Além disso, serão pelos homens e qualificado em diversas categorias como

apresentados estudos de caso de normatização em áreas de patrimônio construído, arquitetônico, monumental, urbano

valor histórico a serem utilizados como referências para a ou paisagístico.

elaboração da proposta de intervenção que aqui será posta. As definições e conceitos do campo de estudos do
patrimônio foram se transformando com o passar do
1.1. REFLEXÕES SOBRE O PATRIMÔNIO tempo. O Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (SPHAN), hoje, Instituto do Patrimônio Histórico e
Para Jean-Michel Leniaud (1992, p.01) patrimônio pode
Artístico Nacional (IPHAN), em seu artigo 1º do decreto-lei nº
ser definido como “um conjunto de coisas do passado que
25 de 1937, ano também de sua criação, estabeleceu como
são transmitidas às gerações futuras em razão de seu
patrimônio histórico e artístico nacional o conjunto de bens
interesse histórico e estético”. Seguindo o mesmo raciocínio,
no País, móveis e imóveis, cuja conservação seja de interesse
Françoise Choay (2011) defende o monumento histórico
público “quer por sua vinculação a fatos memoráveis da

24
história do Brasil, quer por seu excepcional valor “exemplares”. O artigo em questão tratava, ainda, da questão
arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico”, da poluição visual em bens tombados:
destacando a importância de obras de maiores escalas, Sem prévia autorização do Serviço do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional,
monumentais, de importância histórica a nível nacional e não se poderá, na vizinhança da coisa
não abarcando tanto outras mais modestas ou conjuntos tombada, fazer construção que impeça ou
reduza a visibilidade, nem nela colocar
históricos importantes para determinadas regiões. anúncios ou cartazes. (BRASIL, 1937)

Nessa mesma década, a Carta de Atenas (1931),


A noção de patrimônio nesse momento permeava o
primeira de várias outras cartas patrimoniais que viriam a ser
conceito de “cidade-patrimônio/cidade-monumento”, que
publicadas a partir de conferências e congressos
surgiu na década de 30 como, também, uma forma política
internacionais, dizia respeito muito mais, também, apenas
de afirmação e construção de uma identidade nacional de
aos monumentos em si, bem como pontuava como
arte e arquitetura brasileira (SANT’ANNA, 2017).
“danificadoras” somente as ações do tempo e de
Rufinoni (2013) pontua que o documento, apesar de intempéries. Mais para frente, com o avanço nos estudos
privilegiar os monumentos considerados notáveis, também sobre patrimônio, as outras cartas foram passando a
diz respeito à manutenção de sítios e paisagens, naturais ou considerar também os centros e conjuntos históricos, os
criadas pelo homem, contemplando, assim, alguns fatores culturais, o desenvolvimento social e urbano, etc.
conjuntos urbanos, mas associando sua valorização à sua
Todavia, a Carta de Atenas também trazia importantes
excepcionalidade. Além disso, a autora destaca que o Artigo
considerações como a necessidade de, na vizinhança e
18 do Decreto-lei, que trata da questão do entorno dos bens
arredores dos monumentos de arte ou de história, respeitar,
tombados, encaminhou a gradativa compreensão do valor
na construção dos edifícios, o caráter e a fisionomia das
patrimonial relacionado às associações entre monumento e
cidades e suprimir toda publicidade, presença abusiva de
ambiente, bem como contribuiu para a consolidação da
postes ou fios, de toda indústria ruidosa e altas chaminés a
ideia de tutelar contextos urbanos não precisamente

25
fim de não interferir na conservação e valorização das A definição de "significação cultural” viria a ser
edificações. definida pela Carta de Burra, publicada em 1999 pelo
ICOMOS Austrália, como "sinônimo de significado
Além disso, a carta pontuou, sobre o papel da
patrimonial e de valor cultural; significa valor estético,
educação e respeito aos monumentos, que a melhor
histórico, científico ou espiritual para as gerações passadas,
garantia de conservação de monumentos e obras de arte
atual ou futura”. Tal documento apresentaria uma série de
vem do respeito e do interesse dos próprios povos, um ideal
definições e linhas de orientação para a conservação e a
que viria a ser reafirmado e reforçado em outras cartas
gestão de sítios com significado cultural, argumentando que
publicadas nos anos seguintes.
estes enriquecem a vida das pessoas propiciando um
A partir da década de 60, com documentos como a sentido de ligação entre a elas, a paisagem, o passado e as
Carta de Veneza (ICOMOS, 1964), as noções sobre o experiências vividas, de forma que refletem a diversidade das
patrimônio foram se expandindo para além dos comunidades ao representar “quem somos e qual foi o
monumentos isolados. Na carta em questão, publicada com passado que nos formou”.
o título de “carta internacional sobre a conservação e Ademais, sobre o assunto, podemos remeter à Carta
restauração de monumentos e sítios”, a definição de de Veneza a qual definiu, anteriormente, em seu art. 4º, que
monumento histórico passou a ser considerada como sendo a conservação dos monumentos deveria, primordialmente,
“a criação arquitetônica isolada, bem como o sítio urbano ou exigir manutenção permanente, trazendo, em seu art. 5º,
rural que dá testemunho de uma civilização particular, de que:
uma evolução significativa ou de um acontecimento A conservação de monumentos é sempre
favorecida por sua destinação e uma função
histórico” incluindo não apenas grandes obras e útil à sociedade; tal destinação é, portanto,
desejável, mas não pode nem deve alterar a
monumentos, como também outras mais modestas e os
disposição ou a decoração dos edifícios. É
sítios que tivessem uma significação cultural. somente dentro destes limites que se deve
conceber e se pode autorizar as

26
modificações exigidas pela evolução dos O que hoje necessita de proteção são as
usos e costumes. (Carta de Veneza, 1964) cidades históricas, os bairros urbanos
antigos e aldeias tradicionais {...}. A proteção
O documento também definiu restauração como desses conjuntos arquitetônicos só pode ser
concebida dentro de uma perspectiva
uma operação que tem como objetivo conservar e revelar os global, tendo em conta todos os edifícios
valores estéticos e históricos do monumento, respeitando com valor cultural, dos mais importantes
aos mais modestos, sem esquecer os da
seus materiais originais e as contribuições válidas de todas as época moderna, assim como o ambiente
em que se integram. Essa proteção global
épocas para a edificação; devendo os elementos que tiverem contemplará a proteção pontual dos
de ser destinados a substituir frações já não mais existentes monumentos e sítios isolados. (Declaração
de Amsterdã, 1975)
das obras “integrar-se harmoniosamente ao conjunto,
A declaração traz que a conservação do patrimônio
distinguindo-se, todavia, das partes originais a fim de que a
arquitetônico deve ser tida como objetivo de planejamento
restauração não falsifique o documento de arte e de
urbano e territorial, sendo os poderes locais particularmente
história”.
responsáveis por sua proteção.
A carta de veneza introduziu às discussões os O documento indica uma série de diretrizes
como a participação de diferentes esferas
conjuntos urbanos, que viriam a ser melhor incluídos a partir
do poder público, a colaboração de equipes
da Declaração de Amsterdã (1975), a qual apresentou dentre multidisciplinares, a conscientização das
comunidades envolvidas e a busca por
as suas considerações essenciais que o patrimônio critérios e procedimentos específicos a
compreende não só as construções isoladas de valor serem empregados na elaboração e
aplicação de tais programas. (RUFINONI,
excepcional e seu entorno, como também os conjuntos, 2013, p. 153)
bairros de cidades e aldeias que apresentem um interesse Foi nela introduzida a questão da função social nas
histórico ou cultural, sendo de dever comum protegê-los da discussões sobre o patrimônio e a conceituação de
negligência, deterioração, demolição deliberada, novas conservação integrada, “a conservação integrada conclama à
construções em desarmonia e circulação excessiva. responsabilidade os poderes locais e apela para a

27
participação dos cidadãos”, bem como a definição de O escrito traz, ainda, que os conjuntos e sua
diversos princípios para esta. ambiência deveriam ser efetivamente protegidos contra
quaisquer deteriorações, principalmente aquelas resultantes
ZANCHETI (2003) define o conceito de CI apresentado
de utilizações impróprias, acréscimos fúteis e transformações
pela declaração como uma “abordagem de integração do
exageradas e insensíveis que atentam contra sua
planejamento da cidade contemporânea e de áreas urbanas
autenticidade, bem como toda forma de poluição.
patrimoniais para a sua utilização, segundo novos usos e
necessidades sociais”. Além disso, a recomendação apresenta uma série de
definições sobre o que se considera um conjunto histórico
Em 1976, a Organização das Nações Unidas para a
ou tradicional, o que é ambiência e o que é salvaguarda:
educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), em sua
Conjunto histórico ou tradicional: todo agrupamento
conferência geral, elaborou um documento relativo à de construções e espaços que constituam um
assentamento humano, tanto no meio urbano quanto
salvaguarda dos conjuntos históricos e sua função na vida no rural, cuja coesão e valor são reconhecidos no ponto
contemporânea denominado “Recomendação de Nairóbi”, de vista arqueológico, arquitetônico, pré-histórico,
histórico, estético ou sócio-cultural, podendo
no qual destacou, dentre suas considerações, que os distinguir-se especialmente, dentre outros, as cidades
históricas e os bairros urbanos antigos.
conjuntos históricos ou tradicionais integram o cotidiano
humano, fazem parte da presença viva do passado que lhes Ambiência: quadro natural ou construído que influi na
percepção estática ou dinâmica dos conjuntos ou a
formou, tendo um valor e dimensão suplementares; eles se vincula de maneira imediata no espaço, por
laços sociais, econômicos ou culturais
constituem testemunhos da diversidade das criações
culturais, religiosas e sociais da humanidade e são, portanto, Salvaguarda: identificação, proteção, conservação,
restauração, reabilitação, manutenção e revitalização
de vital importância para cada ser humano que enxerga de conjuntos históricos ou tradicionais e de seu
entorno. (UNESCO, 1976)
neles a expressão de suas histórias e fundamentos de sua
identidade. Cerca de 10 anos após a publicação dessas
recomendações, em 1987, A Carta de Washington ou Carta

28
Internacional para a salvaguarda das Cidades Históricas, volume, estrutura, escala, estilo, materiais, cor; as relações da
definiu os princípios, objetivos, métodos e instrumentos de cidade com o ambiente natural e o criado pelo homem; e as
ação necessários à proteção, conservação e restauro, bem “vocações diversas da cidade adquiridas ao longo de sua
como o desenvolvimento e adaptação harmoniosa à vida história”.
contemporânea, das cidades históricas, no sentido de
Seguindo as definições, conceitos e recomendações
“favorecer a harmonia da vida individual e social e perpetuar
que vinham sendo discutidos internacionalmente houve
o conjunto de bens, mesmo modestos, que constituem a
também, no Brasil, a expansão da ideia de patrimônio. Como
memória da humanidade”.
conta Rufinoni (2013), o conceito de patrimônio
Reafirmando os ideais já apresentados pela histórico-artístico associado à monumentalidade e aos
Declaração de Amsterdã e a Recomendação de Nairóbi, a grandes exemplares como símbolos da nação foi
carta define como imprescindível ao sucesso da salvaguarda gradativamente dando lugar para uma noção de patrimônio
das cidades a participação e envolvimento de seus mais ampla, abrangendo a “dimensão cultural de variados
habitantes, além de destacar que as intervenções num artefatos, assim como a compreensão de seus complexos
bairro ou cidade histórica devem sempre levar em conta os vínculos com a realidade social, econômica e política”,
problemas específicos de cada caso particular. incluindo novos cenários patrimoniais e permitindo a
valorização de diversificadas manifestações culturais,
No tópico sobre princípios e objetivos do documento,
materiais e imateriais.
são postos como valores a preservar o caráter histórico das
A Constituição Federal brasileira de 1988, em seu
cidades e um conjunto de elementos materiais e espirituais
Artigo 216, então, substituiu a denominação de “Patrimônio
que determinam a imagem destes locais, estando dentre
Histórico e Artístico” por “Patrimônio Cultural Brasileiro”,
eles a forma urbana, formada pelos espaços livres e a malha
conceituando patrimônio cultural como os bens, materiais e
fundiária; as relações entre os edifícios, espaços livres e
imateriais, “tomados individualmente ou em conjunto,
espaços verdes; a forma e o aspecto dos edifícios, seu

29
portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos mutiladas, nem, sem prévia autorização
especial do Serviço de Patrimônio Histórico
diferentes grupos formadores da sociedade brasileira”. e Artístico Nacional, ser separadas, pintadas
Incluindo, dessa forma: ou restauradas” (BRASIL, 1937, p.04)

I - as formas de expressão; O IPHAN, em sua página oficial, traz que os bens


II - os modos de criar, fazer e viver;
III - as criações científicas, artísticas e tombados se subdividem em bens móveis e imóveis,
tecnológicas; estando dentre eles as edificações, os conjuntos urbanos, as
IV - as obras, objetos, documentos,
edificações e demais espaços destinados às coleções e acervos, os equipamentos urbanos e de
manifestações artístico-culturais;
infraestrutura, as ruínas, paisagens, jardins, parques
V - os conjuntos urbanos e sítios de
valor histórico, paisagístico, artístico, históricos, terreiros e sítios arqueológicos.
arqueológico, paleontológico, ecológico e
científico. (BRASIL, 1988)
Como já explanado, os conjuntos urbanos vieram
O artigo determinou, ainda, que o poder público, sendo incluídos nas discussões sobre patrimônio desde a
juntamente com a colaboração da comunidade, deveria Carta de Veneza, estando inclusive citados na Constituição
promover e proteger o patrimônio cultural brasileiro através de 88. Um outro conceito associado à esse é o de centro
de inventários, registros, tombamentos e outras formas de histórico, definido de acordo com o Termo Geral de
preservação. Referência para a preservação de sítios históricos urbanos,
publicado pelo Ministério da Cultura em 2003, como um
Nesse contexto, o tombamento é uma ação
“sítio urbano localizado em área central da área-sede do
administrativa, regulamentada pelo Decreto-lei 25/37 e
município, seja em termos geográficos, seja em termos
realizada pelo Poder Público, que tem como objetivo a
funcionais e históricos”
preservação de bens de valor histórico, arquitetônico,
cultural, ambiental e de valor afetivo para a população, Heitor Silva (2012) escreve que os centros históricos
impedindo a destruição e/ou descaracterização dos mesmos: contém uma série de características que os diferenciam e
“As coisas tombadas não poderão, em caso
podem ser resumidas em, dentre outras, a localização na
nenhum, ser destruídas, demolidas ou

30
área central, a preservação integral ou parcial da trama
De acordo com o IPHAN, até a publicação das
urbana, possibilitando a leitura do seu traçado original, a
orientações para a elaboração de Diretrizes e Normas de
existência de elementos arquitetônicos de valor reconhecido
Preservação para áreas urbanas tombadas, em 2010,
e em número considerável, o parcelamento do solo e o
existiam 94 conjuntos urbanos protegidos no Brasil através
desempenho de papéis de “centro urbano” na trama
do tombamento, situados em 70 diferentes cidades
funcional da cidade.
brasileiras e sendo eles compostos por alguns núcleos
Sobre conjuntos urbanos tombados e cidades históricos como os do Rio de Janeiro, Salvador, Belém, Recife,
históricas, o IPHAN traz que estes representam as referências e outros por parques históricos. Contudo, é constatado que
urbanas do país, sendo possível identificar e vivenciar, menos de 10% dessas áreas tombadas em nível nacional
através da sua preservação, os processos de transformação possuem normativas eficazes no que diz respeito às
do Brasil ao longo dos períodos históricos. intervenções nos conjuntos históricos, o que leva, em muitos
casos, a perda, má conservação e descaracterização do
Todavia, segundo Carlos Lemos (1981), o grande
patrimônio cultural.
desafio em preservar o patrimônio, particularmente
Analisando a questão, verifica-se que os
arquitetônico, é que tal ação exige o apoio do estado e de critérios até hoje adotados para a
preservação de áreas urbanas tombadas –
outros tipos de entidades oficiais. em forma de normas de preservação ou
diretrizes estabelecidas pela auto-aplicação
Ainda atualmente, o tombamento é considerado um do Decreto-Lei nº 25/37 – não evitaram a
degradação dos sítios urbanos tombados
instrumento central na prática preservacionista do Brasil pelo IPHAN. (IPHAN, 2010, p. 17)
(MEDEIROS, 2014), sendo pontuado pelo documento de
GAI e SCHWANZ ( 2020) trazem, também, que ainda
Normatização de Cidades Históricas como o principal meio
percebe-se que muitas cidades brasileiras sofrem com o
de proteção às cidades históricas e ao patrimônio cultural
brasileiro.

31
processo de descaracterização, apesar dos avanços na área recuperar um centro, atualmente, engloba, dentre outras, a
de patrimônio. melhoria da imagem da cidade através da valorização da sua
história de forma a criar um sentimento de pertencimento.
São diversas as formas de tentar reverter esse quadro
em algum nível, existem as ações de restauração, de A Carta de Lisboa, publicada no 1º Encontro
intervenção, de recuperação, de revitalização, de reabilitação, Luso-Brasileiro de Reabilitação Urbana Lisboa, de 21 a 27 de
de reutilização e de requalificação urbana, por exemplo, para Outubro de 1995, traz as seguintes definições, no seu Artigo
áreas históricas que necessitem atenção. 1º, para os temos renovação, reabilitação, revitalização e
requalificação urbana:
A portaria Iphan nº 420, de 22 de dezembro de 2010,
define intervenção como qualquer modificação do aspecto Renovação Urbana: desenvolvida em áreas
urbanas degradadas onde não mais se reconhece
físico - serviços de manutenção, conservação, reforma,
um valor patrimonial arquitetônico ou de
demolição, construção, restauração, recuperação, ampliação, conjunto a preservar, consiste na demolição das
adaptação, arruamento, parcelamento, colocação de estruturas morfológicas e tipológicas existentes e
substituição por novas edificações
publicidade -, das condições de visibilidade ou da ambiência contemporâneas, conferindo à àrea uma nova
do bem edificado tombado ou de sua área de entorno. estrutura e funcionalidade.

Reabilitação Urbana: consiste em uma série de


Vargas e Castilho (2005) trazem que a ideia da intervenções, das condições físicas, de
intervenção em centros urbanos de valor histórico e infra-estrutura, melhoria em equipamentos, etc,
objetivando a valorização das potencialidades
patrimonial pressupõe, justamente, a identificação de um econômicas, sociais e funcionais de uma área
processo evidente de degradação do mesmo, de forma que visando a melhora da qualidade de vida da
população residente na medida que mantém as
para a realização de tal ação deve-se analisar a herança
características e a identidade do local.
histórica do local, seu caráter funcional e seu
Revitalização Urbana: similar à reabilitação,
posicionamento na malha urbana. Elas escrevem, ainda, que baseia-se em ações que tem como finalidade a
melhora econômica e social de uma fração da
32
cidade que encontra-se em decadência, uma "refuncionalização dirigida e estratégica”, empregando
independente da área em questão apresentar
novas funções ligadas ao capitalismo global, voltadas para o
características de destaque ou não.
turismo, cultura, negócios, comércios e residências.
Requalificação Urbana: engloba operações,
principalmente, de mudança de atividade para Ainda segundo Sotratti (2015), todavia, o termo
locais normalmente de habitação, adaptando a
área às atividades mais coerentes com os “requalificação” é o mais atual entre eles, trazendo propostas
contextos atuais. que tem como base a recuperação e a valorização “das
(CARTA DE LISBOA, 1995)
origens e das verdadeiras representações sociais,
Sobre reabilitação a nível de um edifício, o documento
humanizando e controlando o sistema de exclusão das
traz que tal ação diz respeito à recuperação de uma
cidades contemporâneas”, na medida que tentam almejar a
construção a partir da resolução de problemas construtivos,
inclusão social de populações marginalizadas em ambientes
funcionais, de segurança, higiênicos, etc, melhorando seu
salubres e revalorizados, renovando identidades alicerçadas
desempenho e modernizando-a. Já Silvia Puccioni (2001)
nas produções socioculturais do local.
define reabilitação no contexto de edificações como o
processo pelo qual um edifício é adaptado para um novo uso
ou função, sem alterar as partes que são significativas ao seu
valor histórico.

De acordo com Sotratti (2015), todas as


denominações, revitalização, reabilitação, renovação e
requalificação urbana dizem respeito à mesma estratégia
de valorização de áreas de valor patrimonial - que, em meio
às transformações do espaço urbano, permaneceram-se
inalteradas e/ou em processos de degradação - através de

33
1.2. ESTUDOS DE CASO
Normatização em áreas de preservação patrimonial

1.2.1. CORREDOR CULTURAL_____________________________________.


Rio de Janeiro | RJ

O centro do Rio de Janeiro, ao longo do século XX,


passou por grandes transformações urbanas tendo em vista
a expansão da cidade. Modificaram-se ruas, avenidas foram
abertas, edifícios antigos foram substituídos por outros
novos, alguns de seus marcos geográficos, vários morros,
aterros, foram postos abaixo. (RIOARTE, 2002)

NASCIMENTO (2018) escreve, a partir de outros


autores, que o processo de verticalização da cidade do Rio já
vinha em processo de ascensão desde os anos 30, fora
ficando mais significativa a partir da década de 50 e entre os
anos 50 e 70 os projetos urbanos para a cidade, apesar de
afirmarem ter como foco a conciliação de interesses,
utilizando-se do termo “renovação preservadora”, pouco
levaram em consideração o patrimônio histórico edificado,
permitindo concessões a torres de edifícios e transformações
viárias agressivas.

34
Ela traz à discussão, ainda, que as políticas de O Corredor Cultural é uma Zona Especial do centro
patrimônio histórico no Brasil, até metade da década de 70, histórico do Rio de Janeiro reconhecida através da Lei nº
pouco haviam abrangido a preservação do Centro do Rio, 506 de 17 de Janeiro de 1984, a qual definiu as “condições de
possuindo apenas ações pontuais de preservação a preservação, reconstituição e renovação das edificações,
monumentos, mostrando-se, assim, insuficientes diante do bem como de revitalização de usos e espaços físicos de
cenário na cidade. Em 1975, todavia, com a fusão dos estados recreação e lazer” (RIO DE JANEIRO, 1984) elencando uma
do Rio de Janeiro e Guanabara, houve a necessidade do série de normas e orientações para a preservação
desenvolvimento de uma nova configuração administrativa, paisagística e ambiental de boa parte da área central do
o que teve como consequência a elaboração de um Plano município. (RIOARTE, 2002)
Urbanístico Básico da Cidade do Rio de Janeiro (PUB Rio)
O processo de planejamento de ações para essa zona
tendo em vista a criação de um novo Plano Diretor.
contou com participação efetiva da comunidade desde as
Esse plano, entregue em 1976 e publicado em 1977, já primeiras discussões do plano em 1979 e mostrou-se um
tratava das questões relacionadas à “preservação ambiental instrumento eficaz na relação governo-população.(RIOARTE,
das áreas com características culturais e históricas para a IPP, 2002). Além disso, NASCIMENTO o considera como uma
comunidade” (PUB Rio, 1976, p. 244 apud NASCIMENTO, experiência seminal na história do patrimônio cultural
2018, p.120), destacando a cidade antiga, seu esvaecimento e brasileiro”.
seu valor para a qualidade do meio urbano. Através de O projeto do Corredor Cultural é, salvo
engano, a realização de preservação urbana
decretos municipais de preservação da área central, o plano mais reconhecida e saudada do Brasil.
contribuiu para a parada de demolições tendo em vista a Desde sua promulgação como lei em 1983
que projetos homônimos são realizados em
verticalização. A referida autora afirma que o PUB Rio “foi diversas cidades do país tentando
reconstituir seus êxitos e aliar preservação a
importante para dar o respaldo legal e talvez conceitual a legislação urbana. (NASCIMENTO, 2018, p.
ações de preservação como o Corredor Cultural”. 118).

35
edifícios da área; e na subzona de renovação foi estabelecido
Foram definidas três subzonas para a Zona Especial
limite de gabarito para as novas edificações, seguindo o
do Corredor Cultural, a Subzona de Preservação Ambiental, a
projeto integrado do conjunto arquitetônico ao qual
Subzona de Reconstituição e a Subzona de Renovação,
pertence. (RIO DE JANEIRO, 1984)
orientadas a partir dos artigos 4, 5 e 6 da Lei. Na subzona de
preservação ambiental foi estabelecida a manutenção das Além disso, foram definidas normas quanto à pintura
características arquitetônicas, artísticas e decorativas do das fachadas, fiação, encanamentos, instalações prediais,
conjunto de fachadas e telhados, o condicionamento das cores, materiais e dimensões dos elementos de
modificações de uso e alterações internas e externas nos comunicação visual das fachadas, letreiros e toldos. No que
edifícios à aprovação pelos órgãos competentes e a diz respeito aos letreiros, os anúncios paralelos às fachadas
reconstrução total ou parcial dos prédios quando deveriam ser posicionados em função dos vãos de porta
conservadas suas características de fachada e volumetria existentes, respeitando os elementos construtivos originais,
originais; na subzona de reconstituição foi permitida a permitindo altura livre de 2,20m e com altura máxima de
recuperação dos elementos arquitetônicos, artísticos e 0,50m, os anúncios perpendiculares deveriam ser instalados
decorativos do conjunto de fachadas e coberturas dos com altura livre de 2,80m e dimensões máximas de

36
0,80x0,50x0,20m, e além desse, tinham-se também os tipológicas e usos; orientações sobre o que se pode ou não
anúncios pintados sobre a fachada. fazer nos imóveis e terrenos da área e qual procedimento
deve seguir-se para tal; a legislação urbanística da área e
Na época, foi também desenvolvido um manual do
condições das edificações; informações sobre projetos de
Corredor Cultural, tendo como público alvo os proprietários,
recuperação de prédios preservados e como projetar em
locatários e usuários da área com o objetivo de orientar sobre
área de renovação; sugestões sobre como intervir nos
as regras gerais estabelecidas pela lei de uma forma mais
prédios de forma a valorizar suas características históricas,
simplificada e de fácil entendimento, com esquemas,
artísticas e estilísticas; como desenvolver o projeto de uma
imagens, mapas e fotografias, inclusive dos principais
nova edificação respeitando a ambiência do local e visando
elementos que compõe as fachadas dos edifícios históricos,
uma harmonia com o conjunto; questões sobre a
etc.
conservação, estabilidade e proteção dos edifícios, de forma
Existe no documento a descrição das áreas a intencionar uma maior durabilidade; e, por fim, os
componentes do Corredor com suas características encaminhamentos legais de questões relacionadas aos
órgãos dos serviços públicos.

37
38
39
Sobre as pinturas das fachadas, o Corredor Cultural é
caracterizado por uma grande variedade de cores, os
padrões iam seguindo as tendências do momento e o que se
tinha ofertado/disponível em cada época, não seguindo
normas prefixadas e ficando a critério dos proprietários se as
cores do seu prédio harmonizariam com as dos vizinhos, se
destacariam, se seguiriam padrões de cores mais discretos
ou tons mais chamativos.(RIOARTE, 2002)
Como sugestões apresentadas para a Zona, têm-se:
As cores a serem aplicadas nos diversos
elementos que compõem as fachadas
devem seguir as relações abaixo:
● Os ornatos e frisos devem ser
pintados em tons mais claros do
que o fundo das paredes;
● Recomenda-se que os gradis
sejam pintados em cores mais
escuras do que aquelas
empregadas nas esquadrias, por
exemplo: preto, verde-colonial,
grafite e marrom;
● As cores das esquadrias podem se
manter em tons mais claros, assim
como os ornatos, ou em tons mais
contrastantes com o fundo das
fachadas;
(RIOARTE, 2002)

40
1.2.2. COMUNICAÇÃO VISUAL EM ÁREAS DE PRESERVAÇÃO CULTURAL .
Florianópolis | SC

A Lei Complementar nº482 de 17 de Janeiro de 2014


instituiu o Plano Diretor de Urbanismo do Município de
Florianópolis, que dispôs sobre a política de desenvolvimento
urbano, o plano de uso e ocupação, os instrumentos
urbanísticos e o sistema de gestão. Em seu Artigo 125,
Capítulo VIII, a Lei definiu as “Áreas de Preservação Cultural
(APC)” como aquelas destinadas à preservação, valorização e
promoção dos sítios de interesse cultural.

A áreas em questão foram subdivididas em Área de


interesse Histórico-Cultural (APC1), Áreas de Interesse
Paisagístico (APC2), Áreas arqueológicas, terrestres e
subaquáticas (APC3) e Locais de Memória e Áreas de
Interesse Cidadão (APC4). A APC1 é destinada à preservação
do patrimônio cultural.

I-APC1- Áreas de Interesse Histórico-Cultural


destinam-se à preservação do patrimônio
cultural, abrangendo o arquitetônico,
artístico, paisagístico, tecnológico,
urbanístico dentre outros, incluindo
assentamentos, conjuntos, espaços,
edificações, monumentos e objetos;
(FLORIANÓPOLIS, 2014)

41
O Capítulo IX da Lei complementar, de título “Da É estipulado, ainda, que as edificações da área devem
Paisagem e do Patrimônio Cultural” traz uma série de artigos manter sua autenticidade e integridade, respeitando os
referentes às APCs. Dentre outros, é definido que a materiais e técnicas compatíveis com o sistema construtivo
manutenção, conservação, restauração, renovação, do edifício em questão a ser preservado, e mantendo
reabilitação, reforma, ampliação, construção, demolição, coberturas, elementos estruturais, aberturas e ornamentos; e
comunicação visual, pintura, instalação de quaisquer que novas construções deverão estar em harmonia com o
elementos externos às fachadas e controle climático do conjunto pré-existente, observando implantação, limite de
ambiente interno das edificações; os projetos de volume e gabarito de forma a respeitar as características
construções, ampliações, reformas, pinturas, comunicação volumétricas e compositivas dos edifícios históricos e seu
visual de edificações situadas no entorno de bens protegidos entorno.
deverão ser aprovados; bem como a realização de obras de
A prefeitura de Florianópolis, em parceria com o
desmonte, aterro, desmatamento, de infraestrutura,
Ministério Público de Santa Catarina, desenvolveu uma ação
pavimentação e quaisquer modificações de relevo e
que teve como produto um guia rápido de comunicação
paisagem deverão passar e ser aprovados pelos órgãos
visual em áreas de preservação cultural, no qual são
competentes.
apresentados esquemas sobre o que seria proibido e o que
Ademais, a lei incentiva a elaboração de planos de seria permitido quanto a colocação de anúncios e toldos,
urbanização específicos que visem a limitação do uso e pinturas em fachadas de edifícios históricos, padrões de
ocupação do solo nas APCs ou entorno de bens tombados cores para pinturas a depender da filiação estilística, etc, que
isoladamente e, também, de planos de preservação e podem ser vistos a seguir.
estímulo de moradia para populações tradicionais,
objetivando preservar contextos culturais.

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45
CAP. 2
SOBRE O “CENTRO” DE NATAL
Este capítulo foi desenvolvido por meio de
levantamento documental a partir de pesquisa bibliográfica,
documental e de fontes audiovisuais, utilizando-se de livros,
artigos, monografias, teses, dissertações e publicações em
jornais e revistas, sobre a área a ser estudada. Sendo dividido
em dois tópicos nos quais um irá discorrer brevemente sobre
a história do surgimento e desenvolvimento urbano da
cidade de Natal, a inserção do Bairro Cidade Alta nesta e,
mais especificamente, da Avenida Rio Branco e da Rua João
Pessoa, e o outro sobre as instrumentos de proteção ao
patrimônio incidentes, tendo em vista a análise da eficiência
dessas para a proposição de estratégias que busquem a
valorização das características das construções históricas e,
assim, do patrimônio cultural.

46
2.1. UM BREVE APANHADO HISTÓRICO de um relato de Adriano Verdonck, que a cidade tinha entre
trinta e cinco e quarenta casas de barro e palha, vivendo os
Uma das primeiras cidades a ser fundada no Brasil, habitantes “mais abastados” em sítios; entre 1633-1654 houve
Natal surgiu em 1599, já com status de cidade (CASCUDO, a invasão holandesa (VIEGAS, 2018) e Gaspar Barléu relatou a
1980). Conforme documento publicado pela SEMURB, em cidade no período de 1634-44 como de “aspecto triste e
2009, o bairro Cidade Alta foi seu local de “nascimento”. O acabrunhada pelas ruínas e vestígios de guerra” (apud
sítio primordial da cidade do Natal – hoje, local onde fica a NATAL, 2007); enquanto em 1722 a cidade é relatada pelo
praça André de Albuquerque –, foi escolhido por localizar-se Capitão-Mor José Pereira Fonseca como possuindo cerca de
num chão elevado, à margem do Rio Potengi. trinta casas e em seus arredores mato fechado, em 1729, João
Cíntia Camila Liberalino Viegas (2018) conta que a Maia Gama informa que Natal tinha em torno de 50-60 casas
história de Natal começa oficialmente a ser descrita a partir e mais outras em fazendas perto da cidade; em 1732 têm-se
da primeira missa na igreja matriz, provavelmente realizada a construção do pelourinho; em 1777, Domingos Monteiro da
em 25 de dezembro de 1599. A capital do Rio Grande do Rocha traz que o povoado tinha cerca de 118 casas no largo;
Norte, porém, se desenvolveu paulatinamente, nos 100 e em 1810 o viajante inglês Henry Koster escreve que a
primeiros anos da cidade, os relatos que se têm de visitantes cidade tinha em torno de seiscentos ou setecentos
enviados em funções públicas destacavam a presença de habitantes.
poucos moradores e residências no local, sendo o casario Até o começo do século XIX, como afirma Câmara
existente descrito sempre como modesto, muitas vezes em Cascudo (1980) e outros autores citados por ele, Natal era
palha ou barro (VIEGAS, 2018). retratada da seguinte forma:
“A mais velha vila de casas era no lado
O documento “Natal não-há-tal” publicado pela poente, com os posteriores para o rio. [...] O
Prefeitura da cidade em 2007, traz uma série de notas que capitão-mor José Pereira da Fonseca disse
para dom João V que Natal era “uma cidade
documentam a evolução da capital: até 1630, é tido, a partir de trinta casas”. Em abril de 1722 devia ser.
Quase cem anos depois, o inglês Henry

47
Koster, olhando a cidade em novembro de Foi no final do século XIX e início do século XX que
1810, escreve: “As construções foram feitas
numa elevação a pequena distância do rio, Natal passou por maior processo de desenvolvimento.
formando a cidade propriamente dita Conforme Giovana Oliveira (2006):
porque contém a Igreja Matriz. Consiste
n’uma praça cercada de residências, tendo
apenas o pavimento térreo, as igrejas que Os vinte e cinco primeiros anos do poder
são três, o Palácio, a Câmara e a prisão. republicano em Natal, entre 1889 e 1913,
[...]Três ruas desembocam nesta quadra, caracterizam-se pelo grande investimento
mas elas não possuem senão algumas que o poder público realizou para
casas de cada lado. A cidade não é calçada transformar essa cidade, resolvendo
em parte alguma e anda-se sobre uma problemas de insalubridade; assegurando a
areia solta, o que obrigou alguns habitantes limpeza e o asseio das ruas, becos, praças e
a fazerem calçadas de tijolos ante suas residências, reformando esteticamente
moradas. Esse lugar conterá seiscentos ou ruas; introduzindo no cenário urbano o
setecentos habitantes. As três igrejas eram sistema de abastecimento de água e
Matriz, Rosário e Sant’Antônio” (CASCUDO, esgoto, iluminação, {...}, transportes (bondes,
1980, p. 125 e 126) comunicação (telégrafo e telefonia);
dotando a cidade de infra-estrutura urbana
Ele escreve, ainda, que a cidade até o final do século geral (escolas, hospitais, cadeia pública,
bancos, teatro, cinema); reconstruindo e
XIX se limitava à poucas ruas, dentre elas a Rua da Igreja construindo novos edifícios e executando as
Matriz (primeira rua da cidade), a Rua da Palha (hoje, Vigário obras do porto de Natal. (OLIVEIRA, 2006,
p.111)
Bartolomeu), a Rua da Luz (hoje, Vaz Gondim, a Rua Nova
Desta época em diante, então, a cidade se
(atual Av. Rio Branco), a Rua do Sarmento (hoje Rua João
desenvolveu num ritmo mais constante, segundo Oliveira
Pessoa) e a Rua dos Tocos (hoje Rua Princesa Isabel).
(2008), no final da década de 1930, existiam dois eixos de
VIEGAS (2018) traz que “Apesar do título de “cidade”, o destaque na cidade, um na Avenida Tavares de Lira, na
aspecto de uma pequena povoação ou aldeia permaneceu Ribeira, e o outro na Avenida Rio Branco, na Cidade Alta, que
durante séculos, mesmo com o seu crescimento gradual. se apresentava como uma espécie de limite da área urbana.
No período correspondente à Segunda Guerra Mundial,
quando as tropas norte-americanas se instalaram em Natal,

48
é contado que a Ribeira apresentou um expressivo
desenvolvimento econômico. Ao fim da Guerra, porém, o
2.1.1. RUA JOÃO PESSOA E AVENIDA RIO BRANCO
movimento na Ribeira diminuiu e muitos estabelecimentos
comerciais migraram para a Cidade Alta, ao redor da Av. Rio A rua João Pessoa e a avenida Rio Branco são eixos de
Branco, e para o Alecrim (PINTO, 1971). destaque do Centro desde os primórdios de suas fundações,
a João Pessoa, antes Rua do Sarmento e Pedro Soares, foi
Na Cidade Alta houve um processo maior
de substituição de edificações no trecho uma das primeiras ruas da cidade, e foi, ainda, onde existiu a
comercial entre a Avenida Rio Branco, a Rua
primeira “feira” de Natal, o primeiro local de comércio
João Pessoa, a Rua Princesa Isabel e a Rua
Ulisses Caldas. Nesta área houve uma (CASCUDO, 1980). A avenida Rio Branco, antes Rua Nova, por
significativa substituição de edificações
para dar lugar a grandes lojas de sua vez, servia, até meados do século XIX, de limite leste da
departamento (ex: C&A), a bancos (ex: cidade, com casas apenas voltadas para o lado nascente e do
Banco do Brasil) e a Assembléia Legislativa
do Estado. (ASSUNÇÃO, 2014) lado oposto um “espesso matagal”.

Este processo migratório do comércio da Ribeira para


O prolongamento da avenida Rio Branco, no trecho
a Cidade Alta, que até então era maioritariamente
entre o Baldo e a Rua Apodi, foi inaugurado em 1916, como
residencial, com poucos comércios, ocasionou diversas
uma iniciativa do Presidente da Intendência, Romualdo
transformações na morfologia do bairro, decorrentes de
Galvão. O trecho que ligava a Cidade Alta a Ribeira foi
novas construções, reformas e demolições.
inaugurado apenas em 1935, pelo prefeito Miguel Bilro.

Todavia, a relação entre essas vias é algo importante a


ser destacado. Presente em diversos relatos sobre os tempos
antigos da Cidade Alta, a nomenclatura “Grande Ponto” foi o

49
termo pelo qual a esquina da João Pessoa com a Avenida Rio 2.2. ASPECTOS RELACIONADOS À LEGISLAÇÃO URBANA E
Branco foi chamada por muito tempo, como conta Cascudo:
PATRIMONIAL DE NATAL
O Grande Ponto tem uma história bem
diversa da que suponhamos existir. É, Foi apenas em 1990, com a Lei Municipal n° 3.942, a
incontestavelmente, a situação geográfica
mais popular da cidade. Localiza, fixa, qual instituiu a Zona Especial de Preservação Histórica
delimita. Todo natalense conhece o Grande (ZEPH), que Natal passou a ter sua primeira legislação
Ponto. Nada recorda o nome. Entretanto, é
inegável para toda população - "Você se elaborada a fim de proteger o patrimônio histórico da
encontra comigo no Grande Ponto", "Vamos
cidade.
chegar no Grande Ponto". [...] O Grande
Ponto, ao contrário, era um lugar de
passagem, uma fixação puramente Art. lº- Para atender aos objetivos e
topográfica. Era, na geografia da cidade, diretrizes gerais , de que trata o art. 35 da lei
ponto fixo. (CASCUDO, 1981) nº 3.175/84, fica instituída a Zona Especial de
Preservação Histórica - ZEPH, visando a
preservação de prédios e sítios notáveis
pelos valores históricos, arquitetônicos,
culturais e paisagísticos. (NATAL, 1990, p.1)

Antes disso, nada havia. Valéria de Souza Ferraz, Edja


Bezerra Faria Trigueiro e Marcelo Bezerra de Tinoco (2007)
escrevem que, enquanto nos anos 70-80, no mundo e no
Brasil, o patrimônio construído já vinha sendo debatido
como “importante fator de valorização urbana de centros
antigos”, em Natal, estava acontecendo “o mais devastador
processo de desmonte da arquitetura legada de épocas
pregressas”.

50
A lei de 1990 definiu – além de prescrições quanto a Figura 9 – Delimitação da área da ZEPH.

usos, gabaritos máximos permitidos, densidade demográfica


e demais normas urbanísticas – que não seria permitido, a
partir de então, nenhuma demolição ou parcelamento do
solo sem prévia autorização do Órgão de Preservação
Histórica do Município. A ZEPH (Figura 9) contemplava o
bairro da Ribeira, uma fração do bairro Cidade Alta e uma
pequena porção do bairro das Rocas e tinha como objetivo
“a preservação de sítios notáveis pelos valores históricos,
arquitetônicos, culturais e paisagísticos”. (NESI, 2002, p.13
apud VIEGAS, 2018, p.78)

Após isso, em 2000, a Lei nº 5.191 instituiu diretrizes


sobre “a preservação e tombamento do patrimônio histórico,
cultural e natural do Município de Natal”, definindo como
patrimônio da cidade “as obras, objetos, documentos, móveis
e imóveis de valor histórico, cultural, paisagístico, ecológico e Fonte: IPHAN (2010). Adaptado pela autora.
arquitetônico”.
a ser contemplado com programas de reabilitação urbana
Maria Augusta Wanderley Seabra de Melo (2015) traz
como o PRAC/Ribeira, iniciado em 2005, e o ReHabitar, de
que, a partir do século XXI, o sítio histórico de Natal passou a
2007. Essas iniciativas, porém, não obtiveram muito sucesso.
ser alvo de interesse de preservação tanto pelos órgãos
Segundo Ferraz, Trigueiro e Tinoco (2007), foram realizadas
públicos quanto pela iniciativa privada, principalmente no
ações pontuais como o restauro de alguns edifícios públicos,
âmbito do turismo. Tendo começado, a partir deste

51
a recuperação de fachadas e o incentivo à implantação de a solicitação de tombamento apresentada em 2008, através
equipamentos turísticos-culturais. do Processo de Tombamento nº 1558-T-08, aprovada em 2010
pelo Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural e
Ainda em 2007, o novo Plano Diretor de Natal, regido
homologada em 2014.
pela Lei Complementar nº 082, criou a Zona Especial de
Interesse Histórico (ZEIH), que ampliou a área abarcada pela Foram apresentadas duas propostas para a poligonal
ZEPH incorporando, em sua totalidade, os bairros Cidade de tombamento do Sítio Histórico de Natal nesse processo. A
Alta e Ribeira. O plano também introduziu os instrumentos primeira, segundo MEDEIROS (2014), baseava-se sobretudo
de preempção — previsto pelo Estatuto da Cidade, dá no patrimônio monumental edificado e nos espaços
preferência ao Poder Público Municipal quando em públicos, deixando a constituição morfológica do bairro num
situações de compra de imóveis urbanos de interesse plano secundário. A segunda (referente à poligonal atual),
histórico, cultural ou ambiental — , e a Operação Urbana elaborada após a vinda da equipe do IPHAN Central à Natal,
Consorciada (CUC) — conjunto integrado de intervenções incluiu o bairro da Ribeira, mas excluiu trechos do bairro
em parceria público-privada —. (MEDEIROS, 2014) Cidade Alta, anteriormente incluídos, com a justificativa do
casario se apresentar demasiado alterado.
Além disso, em 2006, o IPHAN, juntamente do
Departamento de Patrimônio Material e Fiscalização VIEGAS (2018) traz que apesar do conjunto
(DEPAM), iniciou uma série de estudos - cuja metodologia foi arquitetônico urbanístico e paisagístico de Natal ter tido
baseada em pesquisa histórica, entrevistas com usuários e como foco do processo de tombamento a configuração da
levantamento das edificações (dividido em dois tipos, os das malha urbana do sítio, cujos quarteirões ainda se mantém
edificações notáveis e das edificações de vários tempos que como nos séculos XVII E XVIII, evidenciando a colonização
compunham o restante do sítio) - que visavam o portuguesa, o que motivou o pedido de tombamento do
tombamento a nível federal do Centro Histórico de Natal, conjunto foi a grande concentração de edifícios com
esses resultaram na compilação de um dossiê que embasou

52
Figura 10 – Delimitação das poligonais de tombamento e de características históricas e identitárias, notáveis e modestos,
entorno do Centro Histórico de Natal.
existentes no local. Ela destaca, também, que na medida que
a proposta acatada ressalta o período colonial, ela
desconsidera outros tempos da história do meio urbano de
Natal.

A poligonal de tombamento e entorno foi definida


pelo IPHAN, dessa forma, de acordo com os seguintes
critérios:
Na Cidade Alta, ainda hoje importante
centro administrativo e religioso,
recortou-se o tecido de ocupação mais
antiga onde estão implantadas diversas
edificações protegidas em âmbito estadual
e outras duas tombadas individualmente
pelo próprio IPHAN. Descendo para a
Ribeira – por onde passava o caminho de
acesso à fortaleza dos Reis Magos –, área de
entrada e saída da cidade inicialmente pelo
rio Potengi e posteriormente pela ferrovia,
destacou-se o tecido que guarda maior
harmonia entre a estrutura de quadras e
lotes e o volume das edificações. (IPHAN,
2008, P/ 187-188)

A partir de então, o Conjunto Arquitetônico,


Urbanístico e Paisagístico do município de Natal foi
“reconhecido como Patrimônio Cultural Nacional [...]
devendo, portanto, ser preservado e protegido de qualquer
Fonte: IPHAN (2010). Nota: Adaptado pela autora.

53
dano ou destruição, para usufruto de todas as gerações à antiga cidade colonial. A poligonal de
entorno engloba o marco sul da colonização
presentes e futuras” (IPHAN, 2010, s/p). da cidade, a Santa Cruz da Bica e
complementa a proteção ao traçado
O tombamento do Centro Histórico se sobrepôs à urbano que corresponde ao antigo
perímetro urbano de Natal, quando da sua
legislação já existente na cidade, configurando um formação, a partir de 1599 (Processo de
Tombamento nº 1558-T-08, fl. 45)
instrumento de proteção mais rigoroso do que a lei referente
a ZEPH, por exemplo. Explicitando que a área definida como de entorno,
apesar de alterada, ainda possui características morfológicas
Sobre áreas de entorno e tombamento e suas
pertinentes.
diferenciações, o documento de Normatização de Cidades
Históricas: orientações para a elaboração de diretrizes e Uma reportagem do jornal Tribuna do Norte, redigida
Normas de Preservação para áreas urbanas tombadas” traz por Luana Ferreira e publicada em 2010, de título “Centro
que a definição da poligonal de entorno deve ser relacionada histórico de Natal agora é patrimônio cultural” apresenta
a “preservação da ambiência dos bens tombados, uma série de perguntas e respostas sobre as mudanças
funcionando como uma área de amortecimento entre esta e impostas pelo novo tombamento.
o restante da cidade, não sendo atribuída a ela um valor Dentre elas, é possível extrair as seguintes
específico independente ou diferente da área tombada”. determinações: edificações tombadas não poderão – sob
De toda forma, no caso de Natal, o processo de nenhum pretexto – serem destruídas, demolidas ou
tombamento indica que esta foi definida a partir da seguinte mutiladas; ou sofrer alterações, reparações e restaurações
justificativa: sem prévia autorização do IPHAN; é vetada a execução de
Objetivando a manutenção da ambiência novas construções que impeçam ou reduzam a visibilidade
do denominado “Centro Histórico de Natal”
do patrimônio tombado; caso o proprietário de determinada
delimitou-se uma área de entorno que,
apesar das modificações, ainda mantém no edificação tombada queira conservar o imóvel mas não
traçado das ruas e logradouros, e no
gabarito das suas edificações, as referências tenha recursos para tal, o IPHAN – se requerido – poderá

54
custear as reformas; não existem impedimentos para a
venda, aluguel ou herança do bem tombado, desde que o
IPHAN seja previamente notificado, em virtude de sua
preferência pela compra (no caso de venda); em caso de
reformas indevidas, deve-se a obra ser embargada pelo
IPHAN, o proprietário notificado e multado, e o dano
reparado.
Todavia, essas determinações são definidas para
qualquer bem regido pelo instrumento de tombamento. Um
documento de normatização para o Sítio Histórico de Natal
vem sendo desenvolvido pela Superintendência do
IPHAN/RN, bem como está sendo encaminhada uma
legislação discutida na revisão do plano diretor vigente,
ainda sob forma de minuta.

55
56
CAP. 3
Figura 11 – Recorte do bairro Cidade Alta com destaque para a
Avenida Rio Branco e a Rua João Pessoa
CIDADE ALTA: ONTEM E HOJE
ANÁLISE URBANA DA ÁREA

O Universo de estudo da presente pesquisa abrange


uma fração do bairro Cidade Alta, centro histórico da cidade
de Natal, incluindo algumas de suas principais vias. Em
detrimento da história de surgimento da cidade, e tendo
como objetivo escolher ruas mais comerciais, que possuam
um certo agrupamento de edificações de valor patrimonial,
foram selecionadas a Av. Rio Branco e a Rua João Pessoa. As
ruas em questão são integrantes, em parte, da Poligonal de
Tombamento e Entorno do Centro Histórico de Natal Fonte: Google Maps.
delimitada pelo IPHAN, em 2010. Nota: Adaptado pela autora.

No presente capítulo, será feita uma análise urbana da


Decidiu-se observar o trecho da Rua João Pessoa que
área, identificando o estado no qual se encontra o conjunto
vai da sua esquina com a Rua Santo Antônio ao seu
arquitetônico da área a partir de um inventário dos edifícios
cruzamento com a Av. Deodoro da Fonseca e o trecho da Av.
contendo informações sobre os usos, gabarito, filiação
Rio Branco que vai de seu início, no Baldo, até a Rua Juvino
estilística, níveis de preservação e conservação e os tipos de
Barreto, limite do Bairro Cidade Alta (Figura 11).
modificações feitas nestes, que servirá de base para a

57
elaboração de mapas, gráficos e análises de suas íntegra no Caderno 02 do presente trabalho, onde
características. encontram-se os apêndices e anexos, eles compõem o
Apêndice A.
O inventário dos edifícios conterá informações sobre
os níveis de preservação e conservação, o período/filiação Os quadros foram idealizados de forma que a
estilística, o uso, gabarito e identificação do imóvel, para o primeira coluna contém um número referente a cada
preenchimento do quadro com os tópicos a seguir: edificação, o qual foi definido a partir do percurso
apresentado anteriormente; a segunda, intitulada “imóvel”,
Figura 12 – Cabeçalho do quadro referente ao inventário das
edificações. concerne o nome pelo qual o edifício é conhecido, o que
está presente na sua fachada, ou o nome fantasia do
estabelecimento; e a coluna “período” considera a filiação
estilística (colonial, eclético, protomodernista e modernista)
de quaisquer elementos históricos identificados nas
edificações – tendo em vista que muitos dos prédios
Fonte: Produzido pela autora.
considerados apresentam-se descaracterizados – .
Apesar de serem analisados em conjunto, preferiu-se
A coluna “Tombamento”, a qual foi subdividida em
elaborar quadros separados para a Av. Rio Branco e para a
dois tópicos “Edificações” – para a classificação daquelas
Rua João Pessoa, visto que, para o preenchimento destes,
tombadas independentes da área na qual estão inseridas – e
realizou-se um percurso de cada rua separadamente –
“Área” – para identificar as áreas de proteção na qual as
primeiramente, a rua João Pessoa, iniciando na praça Padre
edificações se inserem, ou seja, se estas estão na área de
João Maria e finalizando na av. Deodoro da Fonseca; e, em
entorno da poligonal de tombamento definida pelo IPHAN,
seguida, a Av. Rio Branco, iniciando no Baldo e finalizando na
na área de tombamento, ou em nenhuma.
rua Juvino Barreto –. Os quadros podem ser consultados na

58
No que concerne o “Uso do imóvel”, considerou-se Figura 13 – Exemplo de análise da porcentagem de
descaracterização. Edificação localizada na Rua João Pessoa.
como opções o “comercial” “institucional”, “serviço”,
“residencial” – para um caso específico no qual a residência
era anteriormente um hotel – e “misto” – nesta última,
decidiu-se criar uma outra opção “misto com comercial no
térreo”, visto que todas as edificações mistas, com exceção
de uma, se apresentam dessa forma–.

Quanto ao estado de conservação, classificou-se este


como “ótimo”, “bom”, “regular” ou “precário”, de acordo com
a integridade dos aspectos físicos das edificações, ou seja, de
suas estruturas, pintura, esquadrias, entre outros elementos.
Fontes: Imagem 1 advinda do acervo pessoal da autora e alterada
Sobre o tópico referente à “Preservação”, onde por esta; Imagem 2 obtida do livro “380 anos de história
foto-gráfica da Cidade de Natal (1599 a 1979)” de João Maurício.
considerou-se a manutenção das características históricas e
estilísticas das edificações, acreditou-se ser melhor para a A figura acima diz respeito ao subtópico

análise a separação entre a parte da fachada do pavimento “Porcentagem da modificação”, para o qual criou-se um

térreo da parte pertencente aos outros pavimentos, visto que método de análise de fachadas que se baseia no cálculo da

existem muitas edificações que possuem características e relação entre a área total das fachadas dos edifícios e a área

usos diferentes em cada um deles. A preservação das que foi modificada ou descaracterizada destes. Para a

fachadas das edificações foi classificada como “preservada”, realização desse cálculo, o software utilizado será o Autocad.

“modificada” ou “descaracterizada”. A partir de imagens antigas de como eram as edificações ou


da percepção atual do que é remanescente das

59
características originais delas, serão definidas manchas nas Figura 14 – Recorte da área de estudo com destaque para seus 03
trechos definidos.
áreas modificadas a serem calculadas.

Definiu-se que, para a etapa do inventário e


levantamento das edificações analisadas, que iriam ser
consideradas todas as que apresentassem qualquer traço,
mesmo que singelo, característico de uma filiação estilística
ou período específico; visto que muitas das edificações da
área já se encontram em um elevado estado de
descaracterização.

Na etapa onde serão apresentadas as fotografias


referentes às edificações selecionadas, para uma melhor
Fonte: Google Maps.
visualização destas, separou-se a área de estudo em três Nota: Alterado pela autora.
trechos, dois na avenida Rio Branco e um relativo à rua João Quanto a realização do inventário e elaboração dos
2
Pessoa (Figura 14).Feito o levantamento e inventário , foram mapas, quadros e análises, além do levantamento in loco e
elaborados os mapas das edificações analisadas, destacando das fotografias tiradas, foram utilizadas fotos antigas do site
seus usos, filiações estilísticas e área na qual estão inseridas do município, da Secretaria de Meio Ambiente e Urbanismo
(quanto à legislação). de Natal (SEMURB), do inventário e mapa do MUsA/RN, e do
livro “380 Anos de História Foto-gráfica da Cidade de Natal
1599-1979” de João Maurício, da publicação “Natal Ontem e

2
Hoje” de autoria da prefeitura de Natal, entre outras fontes,
Foram utilizados, além dos inventários realizados em visita in loco, os
disponíveis no site da MuSA/UFRN e os realizados pelos alunos do 7º período do
curso de Arquitetura e Urbanismo da UFRN para a disciplina de Projeto Integrado
05, em 2019.
60
para uma maior compreensão sobre como era cada edifício 3.1. ONTEM E HOJE: AS EDIFICAÇÕES QUE MUDARAM DE USO
e quais mudanças foram realizadas nele.
Como previamente explicitado, foram levantadas
No que diz respeito à última etapa, será feita uma todas as edificações que apresentassem qualquer traço
contraposição das informações adquiridas nos objetivos característico de um período específico ou filiação estilística
anteriores para a elaboração de gráficos comparativos, (colonial, eclético, protomodernista e modernista). Dessa
quadros e tabelas. forma, selecionou-se um total de 58 edificações (Figura 15),
das quais 20 se encontram na Rua João Pessoa e 38 na
Avenida Rio Branco. Os quadros com todas as informações
coletadas sobre as construções encontram-se no Apêndice
A.
Figura 15 – Edificações selecionadas para a análise.

Fonte: Google Maps.


Nota: Alterado pela autora.

61
A amostra de edificações com as características
desejadas – edifícios com possível valor patrimonial que
mudaram de uso com o passar do tempo, passando por
alterações – mostrou-se maior que o esperado.
Percebeu-se que muitas edificações antigas passam,
realmente, despercebidas por uma mirada desatenta, sendo
possível identificá-las apenas se fizermos um esforço maior.
Por muitas possuírem enormes placas de propaganda,
geralmente só é possível visualizar suas reais fachadas se
estivermos do lado oposto da rua. Este é o caso de muitas
das construções localizadas na Av. Rio Branco, por exemplo.
Tiveram casos de edificações, ainda, que só foram incluídas
no levantamento após o reconhecimento de suas
características estilísticas por meio de antigas fotografias,
tamanhas as modificações em suas formas atuais (Figura 16).

Todavia, no que diz respeito às características das


construções levantadas, têm-se que vinte e cinco possuem
elementos que as identificam como ecléticas (42,1%), dezoito
como protomodernistas (31,6%), quatorze como modernistas
(24,5%) e apenas uma como colonial (1,8%).

62
Figura 17 – Filiação estilística das edificações.

Figura 18 – Manchas referentes às áreas de tombamento e entorno


definidas pelo IPHAN.

Fonte: Google Maps.


Fonte: Google Maps.
Nota: Alterado pela autora.
Nota: Alterado pela autora.
No que se refere às atividades desempenhadas nos
Quanto à legislação, quarenta edificações se
imóveis, vinte e seis são de uso comercial (45,6%), vinte são
encontram na área de entorno definida pela poligonal de
de uso misto com comercial no pavimento térreo (35,0%),
tombamento do centro histórico (70,3%), sete se encontram
oito são de uso institucional (12,3%), duas são de serviço
na área tombada (12,2%), e o restante (17,5%), dez, não está
(3,5%), uma é de uso misto com serviço no térreo (1,8%) e
em nenhuma área de proteção; de todos os imóveis, apenas
uma é residêncial – no passado assumia a função de serviço
o anexo do Instituto Histórico e Geográfico do RN e o antigo
– (1,8%).
Liceu Industrial - Atual Instituto Federal de Ciência Educação
e Tecnologia do Rio Grande do Norte, são tombados a nível
estadual.

63
(22,8%) e nove preservados (14,0%) – todas as edificações que
Figura 19 – Uso das edificações.
possuem o pavimento térreo preservado, apresentam seus
demais pavimentos (quando existentes) também
preservados –. Sobre os outros pavimentos dos edifícios –
relativos às 48 edificações de gabarito superior a um
pavimento – averiguou-se que vinte e cinco apresentam-se
modificados (53,2%), dezessete preservados (36,2%) e apenas
cinco descaracterizados (10,6%).

Como pode-se perceber, a relação entre os


pavimentos se dá de forma que enquanto a maioria dos
pavimentos térreos apresentam-se descaracterizados, a
Fonte: Google Maps. maioria dos outros mostram-se modificados; a porcentagem
Nota: Alterado pela autora.
de preservação sobe de 14% – nos térreos – para 36,2% – nos
A respeito do gabarito das edificações, dez são térreas,
demais pavimentos – ; e o índice de pavimentos
vinte e sete possuem dois pavimentos, dezesseis possuem
descaracterizados cai de 63,2% – nos térreos – para apenas
três e apenas cinco mais de três. Com relação ao estado de
8,5% – nos demais pavimentos.
conservação dos edifícios, 16 caracterizam-se como “regular”
(43,2%), 14 como “bom” (37,8%), 6 como “ótimo” (13,5%) e 2 Com relação às porcentagens, aproximadas, das

como “precário” (5,4%). modificações realizadas nas fachadas dos edifícios,


observou-se a presença de dez edificações cujas fachadas
Conquanto, no que concerne o estado de preservação
foram modificadas de 0 a 30% (15,8%), dezenove de 31 a 60%
dos pavimentos térreos das edificações, trinta e seis
(33,4%) e vinte e nove, a maioria, de 61 a 100% (50,8%).
encontram-se descaracterizados (63,2%), treze modificados

64
3.1.1. AV. RIO BRANCO Figura 20 – Edificações selecionadas para a análise no trecho 01 da
Av. Rio Branco.
A avenida Rio Branco, separada em dois trechos para
uma maior facilidade na identificação de suas edificações
selecionadas (Figuras 20, 21 e 22), contou com uma amostra
de 38 edificações, das quais dezessete são de uso comercial;
quatorze, misto com comercial no térreo; seis institucionais;
e uma, residencial.

Os trechos foram separados por critérios puramente


geográficos – sendo o eixo de separação localizado,
aproximadamente, no meio da avenida – mas
perceberam-se algumas características singulares que
acabaram por diferenciá-los de outras formas. O trecho 01
(Figura 20) apresenta edificações mais dispersas, possuindo
quatro edificações institucionais com características, duas
ecléticas comerciais, quatro de uso misto com comercial no
térreo – das quais, duas são protomodernistas, uma era
modernista e a outra, originalmente, eclética –. Sendo assim,
o trecho possui 66,6% de seus edifícios com características
ecléticas, 22,2%, protomodernistas, e apenas 11,1%, Fonte: Google Maps e acervo pessoal da autora.
Nota: Alterado pela autora.
modernistas.
O trecho 02 (Figuras 21 e 22), por sua vez, possui um
grande aglomerado de edificações (vinte e quatro) em sua

65
primeira metade, das quais a maioria possui traços
protomodernistas (treze) ou modernistas (oito), possuindo,
apenas quatro traços ecléticos. Dessas, doze são comerciais,
doze mistas com comercial no térreo e apenas uma
institucional. Quanto à segunda metade do trecho, essa se
assemelha mais ao trecho 01 da avenida, possuindo uma
menor quantidade de edifícios (quatro), mais dispersos, dos
quais três são ecléticos – dois de uso misto com comercial no
térreo e um institucional –, totalizando 75%, e um é colonial
(25%) de uso residencial.

Figuras 21 e 22 – Edificações selecionadas para a análise no trecho


02 da Av. Rio Branco.

Fonte: Google Maps e acervo pessoal da autora.


Nota: Alterado pela autora.

66
Essas diferenciações podem se explicar pela maior
concentração de atividade comercial na fração plana da
Avenida, que certamente passou por maiores modificações e
modernizações, possuindo assim a maioria de suas
edificações modernistas ou protomodernistas.

3.1.2. RUA JOÃO PESSOA

Da rua João Pessoa, foram selecionadas 20


edificações (Figura 23), das quais nove são de uso comercial;
seis, misto com comercial no térreo; duas, serviço; duas,
institucional; e uma, misto com serviço no térreo.

Dentre as edificações selecionadas, existem as que


estão localizadas na área tombada definida pela Poligonal
de tombamento e entorno do centro histórico de Natal, as
que estão na área de entorno e as que não se incluem na
delimitação. As primeiras são as localizadas até o limite da
Praça Padre João Maria, as segundas deste até a Av. Rio
Branco e as terceiras da Av. Rio Branco em diante.

67
3.2. A ATUAÇÃO DOS REUSOS NO “ESTADO” DO PATRIMÔNIO Tabela 01 - Conservação dos Edifícios por uso

EDIFICADO
3.2.1. ESTADO DE CONSERVAÇÃO

Com relação ao estado de conservação dos edifícios e


seus respectivos usos, das edificações de uso misto com
comercial no térreo têm-se onze classificadas como “bom”
(55,0%), oito “regular” (40,0%) e uma “precária” (5,0%);
institucional, seis “ótimo” (85,7%) e uma “bom” (14,3%);
comercial, duas “ótimo” (7,7%), treze “bom” (50,0%), nove
“regular” (34,6%) e duas “precário (7,7%); serviço, duas “ótimo”
(100%); misto com serviço no térreo, uma “bom” (100% ); e,
residencial, uma “bom” (100% ); como é possível ver na Tabela
01.

Analisando tais dados, averigua-se que todas as


edificações de uso residencial e misto com serviço no térreo
estão em boa conservação, todas as institucionais estão em
ótima ou boa conservação, e as comerciais e mistas com
comercial no térreo estão, em sua maioria, em bom ou
regular estado de conservação. Além disso, percebeu-se a Fonte: Elaborada pela autora.

presença do estado “precário” apenas nos edifícios de uso


comercial e misto com comercial no térreo.

68
3.2.2. ESTADO DE PRESERVAÇÃO
Tabela 02 - Preservação dos Edifícios por uso
No que concerne ao estado de preservação das
fachadas das edificações (Tabela 02), foram analisadas as
fachadas dos pavimentos térreos e dos demais pavimentos
de forma discriminada, como já descrito anteriormente, no
início do capítulo.

Dessa forma, constatou-se que, das fachadas térreas


dos edifícios de uso misto com comercial no térreo,
dezesseis são classificadas como descaracterizadas (80,0%) e
quatro como modificadas (20,0%); das institucionais, duas
como modificadas (28,6%) e cinco como preservadas (71,4%);
das comerciais, dezenove como descaracterizadas (73,1%),
cinco como modificadas (19,2%) e duas como preservadas
(7,7%); das de serviço, uma como descaracterizada (50,0%) e
uma como preservada (50,0%); da residencial, uma como
Fonte: Elaborada pela autora.
modificada (100,0%); e da mista com serviço no térreo, uma
como descaracterizada (5,6%), doze como modificadas
como modificada (100,0%).
(66,7%) e cinco como preservadas (27,7%); das institucionais,
Quanto às fachadas dos outros pavimentos – uma como modificada (33,3%) e duas como preservadas
referentes às 47 edificações de gabarito superior a um (66,7%); das comerciais, três como descaracterizadas (14,3%),
pavimento –, apurou-se que, das fachadas dos edifícios de dez como modificadas (47,6%) e oito como preservadas
uso misto com comercial no térreo, uma foi classificada (38,1%); das de serviço, duas como preservadas (100,0%); da

69
residencial, uma como modificada (100,0%); e da mista com 3.2.3. ESTADO DE PRESERVAÇÃO - PORCENTAGEM DA MODIFICAÇÃO
serviço no térreo, uma como modificada (100,0%).
Acerca das porcentagens, aproximadas, das
Por conseguinte, é possível inferir as seguintes modificações realizadas nas fachadas das edificações (Tabela
considerações: em contrapartida à maioria das fachadas 03), verificou-se que: das fachadas dos edifícios de uso misto
térreas das edificações de uso comercial e misto com com comercial no térreo, quatro foram classificadas como de
comercial no térreo classificarem-se como 0 a 30% modificadas (20%), nove como de 31 a 60% (45%) e
“descaracterizadas”, a maioria das fachadas de seus outros sete como de 61 a 100% (27,7%); das institucionais, cinco
pavimentos classificam-se como “modificadas”; enquanto como de 0 a 30% (71,4%) uma como de 31 a 60% (14,3%) e
nos pavimentos térreos dos estabelecimentos desses usos uma como de 61 a 100% (14,3%) ; das comerciais, três como
havia nenhuma – no caso das mistas com comercial no de 0 a 30% (11,5%), dez como de 31 a 60% (38,5%) e treze como
térreo – ou poucas (7,7%) – no caso das comerciais – de 61 a 100% (50,0%); das de serviço, uma como de 31 a 60%
edificações preservadas, nos pavimentos superiores esse (50,0%) e uma como de 61 a 100% (50,0%); da residencial, uma
número subiu para 27,7% e 38,1%, respectivamente; no caso como de 31 a 60% (100,0%); e da mista com serviço no térreo,
das edificações de serviço, o número de fachadas uma como de 31 a 60% (100,0%).
preservadas passou de 50,0% no pavimento térreo para 100%
Desta forma, nota-se que as fachadas das edificações
nos pavimentos superiores; os pavimentos – térreo e
de uso misto com comercial no térreo foram, em sua
superiores – das edificações de uso institucional são, em sua
maioria, modificadas de 31 a 60%, existindo um certo
maioria, preservados.
equilíbrio dentre as outras porcentagens; as das edificações
de uso comercial, como podia-se esperar, foram em sua
maioria, modificadas de 31 a 60%, existindo um certo
equilíbrio dentre as outras porcentagens; as das edificações
de uso comercial, como podia-se esperar, foram

70
modificadas, predominantemente, de 61 a 100%; e as das 3.2.4. O “ANTES” E O “DEPOIS”: ALGUNS CASOS
edificações institucionais, as quais foram menos
Ilustrando algumas das apurações realizadas
modificadas, 71,4% classificam-se como de 0 a 31%.
anteriormente, podemos trazer, como exemplo de
Tabela 03 - Porcentagem das modificações nas fachadas edificações comerciais ou mistas com uso comercial no
térreo, as quais possuem seus pavimentos térreos
descaracterizados ou modificados e seus pavimentos
superiores mais preservados, o caso do prédio onde
localiza-se o Big Boi (nº 01 do quadro referente à rua João
Pessoa), o relativo à Farmafórmula (nº 07 do quadro
referente à rua João Pessoa), o identificado como Santana
Artesanato (nº 13 do quadro referente à rua João Pessoa) e a
atual Le Ju Biju (nº 14 do quadro da Av. Rio Branco).

No caso do Big Boi, a edificação que anteriormente


seguia a mesma linguagem visual nos pavimentos térreo e
superior, hoje possui o térreo completamente
descaracterizado, como é possível constatar na figura 24. As
esquadrias foram completamente substituídas, os vãos
modificados e os detalhes estilísticos “apagados”; além disso,

Fonte: Elaborada pela autora. as placas de identificação do estabelecimento comercial


obstruem grande parte da fachada. Com o edifício da
Santana Artesanato, as consequências das transformações
foram ainda mais descaracterizadoras. Além da completa

71
quatro janelas no pavimento superior, hoje só possui três
Figura 24 - Big Boi - edificação localizada na Rua João Pessoa.
janelas e a marcação relativa à três portas.

Figura 25 - Santana Artesanato - edificação localizada na Rua João


Pessoa.

Fonte: 1, 2 e 3 - 380 anos de história foto-gráfica da Cidade de Natal


(1599 a 1979); 4, 5 - Acervo pessoal da autora; 6 - Google Maps.
Nota: Compilação produzida pela autora.

destruição do pavimento térreo, uma fração completa da


lateral do edifício foi “desmembrada” e remodelada em um Fonte: 1, 2 - Desconhecida; 3, 4 - Acervo pessoal da autora.
Nota: Compilação produzida pela autora.
novo edifício com características contemporâneas (Figura
A situação da Farmafórmula, todavia, é mais reversível.
25). Se observadas, atentamente, as fotos comparativas entre
As modificações foram feitas em apenas parte do pavimento
o antes e depois, é possível perceber que o edifício o qual
térreo do edifício (Figura 26 ). Ainda é possível perceber, por
antigamente continha quatro portas no pavimento inferior e

72
exemplo, as marcas do arco da porta de entrada, localizada impossibilitando até mesmo de averiguar-se quão
na esquina do prédio, escondidas por baixo da placa de descaracterizada essa se encontra no pavimento térreo.
identificação do estabelecimento. Além disso, a pintura em 2014 ainda dava destaque aos
detalhes e ornamentos do edifício, enquanto atualmente
Figura 26 - Farmafórmula - edificação localizada na Rua João
Pessoa. pouco consegue se notar pela falta de manutenção.

Figura 27 - Le Ju Biju- edificação localizada na Rua João Pessoa.

Fonte: 1 - Desconhecida; 2 - Acervo pessoal da autora. Fonte: 1 - 380 anos de história foto-gráfica da Cidade de Natal (1599
Nota: Compilação produzida pela autora. a 1979); 2 - Google Maps, 3 - Acervo pessoal da autora.
Nota: Compilação produzida pela autora.
O edifício onde atualmente situa-se a Le Ju Biju,
localizado na esquina da Av. Rio Branco com a Rua Coronel
Cascudo, além de possuir suas fachadas obstruídas por Outro caso interessante a ser observado – que se

placas publicitárias, percebe-se que da segunda imagem na encaixa, de certa forma, nessa mesma categoria – é o do

Figura 27 (datada de 2014) para a terceira (de 2021), houve o prédio da Arroba Festas (nº 09 do quadro referente à avenida

acréscimo de mais bancas comerciais informais, tapando, Rio Branco). Conseguiram-se identificar, a partir das

assim, ainda mais a fachada lateral do edifício e

73
fotografias antigas e atuais, quatro diferentes fases da pavimento superior, a partir do fechamento de suas
edificação (Figura 27). esquadrias.
Todavia, no que diz respeito às edificações de uso
Figura 28 - Arroba Festas - Edificação localizada na esquina da rua
João Pessoa com a avenida Rio Branco. institucional – as quais foram constatadas serem, em sua
maioria, mais preservadas – temos como exemplo o caso do
anexo do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do
Norte - IHGRN (nº 03 do quadro referente à rua João Pessoa).
Como pode-se observar na figura 28, não houveram
modificações na fachada do edifício.

Figura 29 - Anexo IHGRN, na rua João Pessoa.

Fonte: 1, 2 - Desconhecida; 3, 4 - 380 anos de história foto-gráfica da


Cidade de Natal (1599 a 1979); 5, 6 - Google Maps; 7 - Acervo pessoal.
Nota: Compilação produzida pela autora.

A primeira, e acredita-se que a original, com


características que remetem ao protomodernismo; a
segunda – após passar por uma série de modificações,
dentre elas a substituição de todas as esquadrias inferiores e
superiores, e a demolição do parapeito – ao modernismo; a
terceira, já em meados dos anos 2000, com o pavimento
térreo ainda mais descaracterizado e uma grande placa de
identificação do prédio obstruindo parte da fachada; e a Fonte: 1, 2 - 380 anos de história foto-gráfica da Cidade de Natal
(1599 a 1979); 3 - Acervo pessoal da autora; 4 - Google Maps.
última, em 2019, com uma maior descaracterização no Nota: Compilação produzida pela autora.

74
3.3. O QUE SE PODE AFIRMAR SOBRE A ÁREA sociedade; tal destinação é, portanto, desejável, mas não
pode nem deve alterar a disposição ou a decoração dos
Retomando a ideia de que patrimônio consiste em edifícios” não são propriamente seguidas no caso estudado.
uma série de edifícios pré-existentes escolhidos em razão de
seu valor histórico ou estético (CHOAY, 2011), ou em A rua João Pessoa e a avenida Rio Branco possuem

edificações que obtiveram significação histórica e cultural uma quantidade significativa de edificações com traços

em uma sociedade específica (DIAS, 2005), não há dúvidas característicos de períodos ou estilos específicos que

quanto à importância dos edifícios – com características denotam as marcas da história do local na qual estão

remetentes à períodos ou estilos específicos – inseridas, as quais atribuíram, com o passar do tempo, novos

remanescentes no Centro da cidade de Natal. usos e atividades. Estas, porém, encontram-se, na maioria
dos casos, descaracterizadas, escondidas ou modificadas.
Além disso, todas as características destacadas por
Heitor Silva (2012), relativas aos centros históricos, como a Existem as que tiveram adições de elementos ou

localização na área central, a preservação integral ou parcial partes anexas que obstruíram parte de suas fachadas ou não

da trama urbana, a existência de elementos arquitetônicos harmonizaram com o conjunto da edificação (Figura 30);

de valor reconhecido e em número considerável, o Figura 30 - Edifícios no entorno da Praça Padre João Maria.
parcelamento do solo e o desempenho de papéis de “centro
urbano” na trama funcional da cidade; podem ser total ou
parcialmente identificadas na área de estudo.

Todavia, no que diz respeito à conservação e


preservação dos edifícios, as definições da Carta de Veneza
(1964) as quais dizem que “a conservação de monumentos é
sempre favorecida por sua destinação e uma função útil à
Fonte: 1, 2 - Acervo pessoal da autora.

75
as que só foram possíveis a identificação de maiores
Figura 32 - Edifícios na Av. Rio Branco.
características originais dada a falta de manutenção e
consequente degradação das placas publicitárias (Figura 31);

Figura 31 - Edifícios na Av. Rio Branco.

Fonte: 1, 2 - Acervo pessoal da autora.

ou as cujas placas em forma de marquises que avançam


quase que sobre todo o comprimento da fachada apenas
permitem a visualização de parte das fachadas dos edifícios
quando do outro lado da rua ou avenida. (Figura 32) Essas,
maioria na área de estudo, geralmente aliam tal problema ao
da descaracterização nos pavimentos térreos, a ser mostrado
a seguir.

Fonte: 1, 2 - Acervo pessoal da autora.

76
Foi constatado que grande parte dos edifícios maioria das edificações encontra-se em bom ou regular
analisados foram, de fato, modificados de alguma forma. estado de conservação – levando em consideração apenas o
Outrossim, averiguou-se que as edificações de uso aspecto físico dos prédios, e não a manutenção das
institucional são as mais conservadas e preservadas; as de características históricas, as quais foram consideradas no
uso misto com comercial no térreo e comercial são as mais julgamento da preservação dos edifícios –.
descaracterizadas; e existe uma diferença entre os
Tais características referentes a um considerável
pavimentos térreo e superior das edificações, muitas das
descaso com o patrimônio, no entanto, poderiam ter sido
edificações descaracterizadas no térreo foram apenas
remediadas, ou até evitadas, caso o poder público tivesse
modificadas nos pavimentos superiores, existindo, ainda, as
aberto os olhos para essa questão um pouco antes. As
que mantiveram-se preservadas. (Figura 33)
primeiras leis de proteção ao patrimônio do centro histórico
Figura 33 - Edifícios da Batel, Farmácia Santa Sara e Maçonaria. de Natal surgiram, como explanado, apenas em 1990,
quando muitas das edificações do local já haviam sido
modificadas ou descaracterizadas.

Todavia, a legislação vigente mais rigorosa


corresponde apenas a uma pequena parcela da área de
estudo (área tombada). Existe a delimitação da área de
entorno definida pela poligonal de tombamento do IPHAN,
mas não existem diretrizes específicas para ela. Outrossim,
Fonte: 1, 2 e 3 - Acervo pessoal da autora.
parte da área de estudo não está inserida em nenhuma área
Nota: Compilação produzida pela autora.
de proteção, o trecho da rua João Pessoa entre a av. Rio
Quanto ao estado de conservação dos edifícios dos
Branco e a av. Deodoro da Fonseca.
demais usos, observou-se que este não é alarmante, a

77
78
CAP. 4
DA CIDADE DESCOBERTA
O QUE SE PODE FAZER

O objetivo geral deste trabalho, apresentado desde a


introdução, foi o de desenvolver uma proposta de
intervenção para as fachadas de uma fração do bairro
Cidade Alta, no centro histórico de Natal, que preserve suas
características históricas e estilísticas valorizando o
patrimônio cultural da cidade.

Retomando a definição de “intervenção” pela portaria


iphan nº420/2010, apresentada no primeiro capítulo, temos
que tal contempla qualquer modificação do aspecto físico,
das condições de visibilidade ou da ambiência do bem
edificado ou de sua área de entorno. Vargas e Castilho (2005)
trazem que a ideia da intervenção em centros históricos
pressupõe, justamente, a identificação de um processo
evidente de degradação do mesmo, que, como vimos, é algo
de certa forma presente na área estudada. Elas escrevem
também que recuperar um centro engloba a melhoria da
imagem da cidade através da valorização da sua história de

79
forma a criar um sentimento de pertencimento, algo formada pela UFRN, Livia Nobre de Oliveira, a partir de sua
pretendido por o que se colocará aqui. dissertação de mestrado de mesmo título.

Por fatores como o curto prazo para elaboração A revista possui uma diagramação de fácil leitura e foi
devido ao semestre encurtado como consequência da toda ilustrada pela autora. Ela se estrutura de forma que
pandemia causada pelo vírus SARS-CoV-2, dentre outros, possui um tópico inicial sobre o que é patrimônio e como
optou-se por desenvolver uma proposta mais provocativa, vemos nossa própria história, outro de reconhecimento do
ampla e conceitual, sem prender-se tanto a normas e casario antigo de Caicó e como ele se apresenta, estilos,
metodologias de projeto tradicionais. estado de conservação e preservação, em seguida parte para
um dicionário ilustrado dos principais elementos
Dessa forma, serão apresentadas neste capítulo
arquitetônicos que compõem o casario antigo, seguido de
diretrizes e estratégias que contribuam para uma maior
uma espécie de manual com sugestões de soluções para
conservação e preservação das características históricas das
mudanças inadequadas em edificações históricas quanto a
edificações do recorte selecionado a partir de esquemas
vitrines, publicidade, segurança, reformas e, por fim, traz
visuais com desenhos, fotografias e fotocolagens que, além
apontamentos sobre o uso de cores nessas edificações.
de serem produtos de indicação das sugestões de
requalificação das fachadas, também são uma forma de Escolheram-se essas referências, dentre outros
manifestação artística provocativa, convidando o leitor a ver motivos, principalmente pela presença de esquemas visuais
a cidade como ela poderia ser. e desenhos que facilitam a leitura e compreensão do que se
pretende comunicar, além de poderem ser como uma
Além dos estudos de caso, apresentados no capítulo 1
espécie de convite a olhar e realmente perceber os edifícios.
e utilizados como referência visual e de resoluções para a
elaboração da proposta, fez-se uso, também, da revista O título “cidade descoberta”, dado ao trabalho, veio,
"Arcaicó", publicação desenvolvida pela arquiteta caicoense, justamente, da ideia de trazer à mostra uma cidade que

80
muitas vezes as pessoas não vêem ou dão a devida atenção. 4.1. PROPOSTA DE INTERVENÇÃO PARA FACHADAS
Todo o estudo sobre o estado de descaracterização e
preservação das edificações do universo de estudo, feito no Feita toda a análise urbana da área e o apanhado de

capítulo anterior, foi também uma forma de trazer a tona informações levantadas no trabalho, foram elencados alguns

esse conjunto arquitetônico/edilício tão pouco notado; os pontos chaves para a proposta de intervenção, sendo eles:

imóveis que só são possíveis a identificação a partir de


❖ pintura e uso de cores nas fachadas;
fotografias ou visualizações de cerca de 10 anos atrás na
❖ volumes incompatíveis com as edificações;
ferramenta do Google Maps, os que possuem uma série de
❖ placas e anúncios publicitários;
placas e anúncios publicitários tapando suas fachadas,
❖ instalações prediais;;
aqueles que foram murados e já não se tem a mesma
❖ aberturas
visualização da arquitetura como se tinha há pouco tempo
atrás, dentre outros. a serem apresentados de forma mais detalhada a seguir.

Toda essa “descoberta” só foi possível graças a esse 4.1.1. PINTURA

levantamento e análise, o qual, de certa forma, faz parte


Sobre pintura e uso de cores, comparando-se os
dessa proposta também, que se tornou, com o decorrer do
estudos de caso realizados, têm-se que enquanto o do
desenvolvimento do trabalho, mais como uma provocação
corredor cultural trouxe a questão das cores contando sua
para chamar atenção ao que poderia ser o centro da Cidade
evolução histórica, a questão da limitação inicial de acesso
e como poderíamos visualizá-lo caso esses problemas
apenas ao branco, tons neutros e pastéis — o que levou a
detectados fossem pautados e resolvidos.
ambiência e paisagem histórica a serem reconhecidas dessa
forma, por assim dizer — dando apenas sugestões quanto a
escolha de cores para pinturas dos prédios no corredor
cultural, o guia de florianópolis trouxe resoluções mais

81
restritivas em seu texto, condicionando a escolha de cores edificações, não diferenciando o pavimento térreo dos
aos estilos arquitetônicos dos edifícios, uma postura não tão outros.
comum na área, tendo em vista que os estilos arquitetônicos
Tendo em vista que se objetiva aqui é resgatar um
no Brasil por muitas vezes até se misturam e vemos
pouco da ambiência histórica do local, procurar proporcionar
residências com elementos estilísticos de épocas diferentes
uma maior harmonia na paisagem, que ficaria
em uma mesma fachada, por exemplo.
comprometida com o uso de cores fortes e muito
Todavia, as sugestões trazidas pelo projeto do contrastantes, de impacto no visual, e valorizar o patrimônio
Corredor Cultural foram de tons mais claros para ornatos e cultural, indica-se a utilização de tons neutros e pastéis, além
frisos, bem como para o fundo das edificações, cores mais do branco, para a pintura das fachadas. Além disso, é
escuras e similares a metais para os gradis e as cores das indicada apenas a pintura com tintas a base de cal ou
esquadrias em tons mais claros, como os ornamentos, ou mineral, sendo desaprovada a utilização de quaisquer
contrastantes com o fundo das fachadas. revestimentos cerâmicos ou de outros materiais
incompatíveis (acm, metálicos, com gesso) com as fachadas.
Na Revista Arcaicó, Livia Nobre traz que o uso de
combinações de cores mais próximas, menos contrastantes, Um padrão identificado na área de estudo foi o da
tende a favorecer as características históricas dos edifícios, diferenciação entre pavimento térreo e superiores quanto a
indicando que a combinação de branco costuma ser bem cores, revestimentos e linguagem visual. Buscando a
vista. Ela escreve, ainda, sobre a importância de diferenciar as visualização da unidade dos edifícios históricos em sua
cores do fundo das edificações com a dos ornamentos, completude, indica-se a pintura na mesma cor em toda a
respeitando seus detalhes estilísticos, e de limitar-se a um edificação, sem diferenciação nos pavimentos ou em
mesmo esquema cromático para todos os pavimentos das diferentes estabelecimentos localizados no mesmo imóvel.
Além disso, tendo em vista também a valorização do
patrimônio cultural, têm-se que os ornamentos e frisos

82
deverão ser destacados em outra cor diferente do fundo das Dessa forma, foi estabelecida a recomendação da
fachadas, seguindo o esquema de cores já apresentado retirada desses volumes incompatíveis adicionados às
acima. edificações que obstruem ou comprometem a unidade das
fachada de alguma forma, bem como a muros mantidos em
Ainda sobre pintura, extraiu-se a partir das referências
suas alturas e formas originais de forma a não comprometer
a indicação do uso de, para marquises já existentes e
a harmonia do conjunto e visualização das fachadas. Sobre a
originais das edificações, padronizar suas cores com as dos
marquise, recomenda-se apenas a manutenção das já
detalhes e ornamentos da construção, para novos toldos,
originárias das edificações, podendo serem instalados, nos
utilizar cores correspondentes com as do edifício.
casos necessários, toldos que respeitem as características e
4.1.2. VOLUMES cores dos edifícios.

Foram identificadas na área de estudo edificações 4.1.3. PLACAS E ANÚNCIOS PUBLICITÁRIOS


com a presença de alguns elementos incompatíveis com
Sobre placas e anúncios publicitários, viu-se até este
suas características originais ou que, de alguma forma,
ponto que um grande problema de boa parte das
impediram a visualização dessas. Um muro construído que
edificações da área estudada foi a presença de placas de
impede a visualização da fachada, um anexo colado a uma
identificação dos estabelecimentos apresentando grandes
edificação que nada condiz com seu estilo, além de tapar
dimensões, obstruindo parte, senão completamente, das
partes da edificação, um telhado adicionado que poluiu
fachadas dos edifícios históricos, impedindo muitas vezes a
visualmente uma fachada e tornou difícil a sua real
visualização de suas características formais..
compreensão e marquises, aliadas a placas publicitárias,
colocadas de forma a impedir a visualização das edificações Dentre os estudos de referência, o Guia de
por quem anda nas calçadas adjacentes aos edifícios. Comunicação Visual em áreas de Preservação Cultural deixa
bem clara a proibição da colocação de placas, anúncios e

83
faixas que ocultem os elementos das fachadas, indicando o para o térreo, por exemplo, e perpendiculares para os usos de
que seria permitido colocar nesse sentido. O manual “Como outros pavimentos.
recuperar, reformar ou construir seu imóvel no Corredor
Pensou-se em propor normas quanto a tipos de
Cultural” também traz esquemas visuais sobre o que seria
materiais, cores e fontes dos anúncios e placas a serem
permitido quanto a placas nas edificações de valor
instaladas, mas o leque de alternativas é tamanho que
patrimonial, sendo estas as placas paralelas, de acordo com
julgou-se melhor apenas pontuar que dentre as referências,
as dimensões máximas indicadas, as perpendiculares e
ambas tendem a uma abordagem na qual uma menor
também a opção de nomes pintados diretamente nas
quantidade de informações no anúncio era almejada, de
paredes do edifício.
forma a não poluir as placas e dificultar a leitura sobre o que
Sendo assim, indica-se a supressão de quaisquer se quer dizer de cada local.
placas e elementos de publicidade que comprometam a
4.1.4.INSTALAÇÕES PREDIAIS
visualização das fachadas e de seus elementos originais.
Outrossim, aponta-se a utilização de placas perpendiculares, O projeto do Corredor Cultural traz como pauta na

placas paralelas que sigam a dimensões máximas questão das instalações prediais a fiação e encanamentos

correspondentes aos tamanhos dos vãos de abertura dos ditos presentes de forma excessiva e desordenada nos

estabelecimentos, ou os nomes dos estabelecimentos imóveis da área e os equipamentos de ar-condicionados,

pintados diretamente na parede, desde que respeitem a tidos como “um elemento estranho na arquitetura antiga”

harmonia do edifício. (RIOARTE, 2002).

Para edificações com diferentes usos em pavimento O projeto traz como sugestão a utilização de

térreo e superiores, indica-se a utilização de placas paralelas “conduítes” especiais ou algo como argolas metálicas a
serem presas embaixo de sacadas, por exemplo, para
organizar e esconder melhor os fios presentes nas fachadas.

84
Para as tubulações de águas pluviais, é indicado que estas de abertura (para os já alterados) de lojas em um mesmo
sempre devem ser embutidas nas paredes e ligadas nas edifício e/ou pavimento.
redes das ruas, não devendo ficarem expostas nas fachadas
Ademais, em casos que se julguem possíveis,
das edificações, como é o caso de alguns imóveis na área
propõe-se fazer uma recomposição das aberturas originais
estudada, se observado ao caminhar pelo bairro. Serão
do edifício, seguindo as marcações das existentes nos
adotados na presente proposta essas mesmas resoluções
pavimentos superiores ainda preservados ou fotografias
indicadas.
antigas (a depender do caso).
Sobre condicionadores de ar, aconselha-se que estes
sejam “escondidos” em toldos, quando existentes —
4.2. PRODUÇÕES VISUAIS PARA A PROPOSTA
alternativa apresentada também pelo projeto do corredor
Seguindo a ideia da proposta esquemática e visual,
cultural que, além dessa, trouxe a alternativa de instalação
utilizando ferramentas como desenhos e fotocolagens, a
no vão entre as portas, para equipamentos de
seguir será apresentado um pequeno guia com um resumo
ar-condicionado ainda dos tipos de embutir — ou realocados
das considerações feitas nos outros subtópicos
de forma a não obstruir as fachadas.
anteriormente apresentados, denominado "Pequeno Guia

4.1.5. ABERTURAS Ilustrado para uma Cidade a ser descoberta”.

Percebeu-se, em alguns casos analisados, a presença Além do guia, têm-se duas colagens representando,

de imóveis com diferentes estabelecimentos em um mesmo caso fossem feitas as modificações da proposta de

pavimento cujas aberturas dos vãos seguiam alturas intervenção — como alteração de elementos publicitários,

diferentes. Tendo em vista obter um maior equilíbrio e padronização na pintura de cores dos pavimentos térreo e

harmonia visual, indica-se a padronização da altura dos vãos superior, bem como destaque dos ornamentos, e

85
recomposição de aberturas seguindo o padrão das originais do Edifício Amaro Mesquita, um dos primeiros edifícios
—, como ficariam as edificações requalificadas. verticais da cidade, localizado na esquina da Av. Rio Branco
com a rua João Pessoa, onde hoje funciona no térreo a
Tais colagens são referentes uma ao edifício na
farmácia Globo; e o outro, localizado na subida da Av. Rio
esquina da Rua João Pessoa com a Rua Gonçalves Lêdo,
Branco, aparenta ser uma residência.
onde funciona a organização da Irmandade do Bom Senhor
Jesus dos Passos e farmácia de manipulação FarmaFórmula Figura 34 - Edificações totalmente descaracterizadas.

e outra ao Edifício Xavier, localizado na Av. Rio Branco, pouco


depois do cruzamento com a Av. Princesa Isabel no sentido
cidade alta-ribeira, nele funcionam diversos
estabelecimentos.

Por fim, uma ideia que surgiu, entre orientações e


conversas sobre o trabalho, foi a de desenvolver produções
visuais como os chamados "lambe-lambe''. Aliado a isso,
pensou-se em, para edificações que foram identificadas
como outrora com características históricas mas que hoje
em dia nada mais se identifica delas, foram completamente Fonte: Google Maps..
Nota: Compilação produzida pela autora.
descaracterizadas, fazer uma chamada provocativa para o
fato de que ali, um dia, já se foi visto uma edificação de valor Tais produções serão apresentadas, na ordem em que

histórico, mas hoje não mais. Sendo assim, foram feitos foram descritas no texto deste tópico, a seguir.

lambe-lambes provocativos com a chamada “aqui jaz uma


edificação histórica” e a frase “já pensou se eu ainda fosse
assim?” para duas edificações específicas. Dessas, uma é a

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CONSIDERAÇÕES FINAIS estudado em um trabalho de pesquisa realizado no oitavo
período do curso que analisava a relação entre a

Tendo em vista que ao final do capítulo 3 e no início descaracterização do patrimônio histórico edificado da Av.

do capítulo 4 foram feitas uma série de conclusões sobre o Rio Branco e Rua João Pessoa e o tipo de uso/atividade

que foi apresentado, focaremos essas considerações nas desenvolvido nele.

realizações que acreditam-se ter sido alcançadas com o


Devido aos reajustes necessários a serem feitos para a
desenvolver desse trabalho e como pode-se dar a sua
elaboração de um trabalho final de graduação em meio a
contribuição.
um contexto de pandemia, que teve como consequência

Antes disso, todavia, existem algumas considerações semestres encurtados e assim um menor tempo de

importantes a serem destacadas. O contexto no qual se desenvolvimento deste, decidiu-se utilizar a pesquisa já

insere a elaboração deste trabalho foi singular de diversas realizada como base para o estudo aqui escolhido, no lugar

formas, como já apresentado no prólogo. A pandemia da do desenvolvimento de um reuso para uma edificação

COVID-19, que se estende desde março de 2020, modificou residencial localizada no início da subida da Av. Rio Branco,

todo o nosso entorno e modo de viver, o isolamento social tema para o qual se havia desenvolvido o Plano de Trabalho

impossibilitou que maiores visitas fossem feitas à área de na disciplina de Introdução ao Trabalho Final de Graduação,

estudo, o acesso a bibliografias e conteúdos didáticos foi cursada no 9º período da graduação.

limitada, e todo o processo de orientações e


Se houve alguma dúvida, todavia, sobre a escolha do
desenvolvimento do trabalho foi feito de forma remota e
tema aqui desenvolvido, é certo que ela foi devidamente
online.
sanada. Na medida em que foi-se avançando com os

Para além disso, o tema aqui apresentado não foi o estudos sobre patrimônio cultural, os estudos de referência,

inicialmente pretendido pela autora, mas foi, em parte, o as conclusões sobre como se encontra o conjunto edilício
histórico da área e, por fim, no resultado da proposta e os

96
produtos visuais, houve a certeza de que o trabalho cumpriu por exemplo, conservação integrada. Despertar o interesse
o que se propôs. pelo tema de patrimônio nas pessoas que realmente vivem e
usufruem do bairro e do centro histórico é algo que já
Sobre os pontos nos quais seria interessante um
deveria ser intrínseco ao planejamento das cidades mas, em
maior aprofundamento, impossibilitado devido ao curto
alguns casos, infelizmente, não é. Por fim, faz-se necessário a
prazo já apontado, sentiu-se que o tópico no qual se analisa
compreensão da importância do Patrimônio Cultural na
o contexto histórico da cidade de Natal poderia ter sido
relação das pessoas com a cidade e sua história.
melhor desenvolvido e dado mais atenção, caso possível.

Além disso, acredita-se que seria interessante a


extensão do universo de estudo para uma maior parte do
bairro Cidade Alta, visto que os casos identificados estão
presentes em várias outras ruas e avenidas tais quais a Av.
Princesa Isabel, a Rua Ulisses Caldas, a Rua Felipe Camarão, a
Rua General Osório, a Av. Deodoro da Fonseca, entre outras.

Abarcar a questão da poluição visual de forma mais


ampla, incluindo a questão de anúncios no geral, de fiação
de postes que obstruem a paisagem das fachadas, entre
outros, também agregaria.
Outro aspecto extremamente importante, que não foi
abordado por todos os motivos já explanados, é o da questão
da educação patrimonial, essencial para a conservação e
preservação de centros históricos segundo os conceitos de,

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102
apêndices ¨
APÊNDICE A - Quadros de edificações levantadas na Rua João Pessoa e Av. Rio Branco
APÊNDICE B - A evolução de algumas das edificações

anexos ¨
ANEXO 01 - INVENTÁRIOS DO MuSA
ANEXO 02 - INVENTÁRIOS DA TURMA DO 7º PERÍODO
APÊNDICE A
Quadros de edificações levantadas na Rua João Pessoa e Av. Rio Branco
APÊNDICE B
A evolução de algumas das edificações
ANEXO 01 - INVENTÁRIOS DO MuSA
ANEXO 02 - INVENTÁRIOS DA TURMA DO 7º PERÍODO

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