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“A Modernidade no Brasil se manifestou na construção civil mais

do que em qualquer outra faceta da sociedade” (LARA, 2008, p. 1).


Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG 1

Universidade Federal de Viçosa


Centro de Ciências Exatas e Tecnológicas
Departamento de Arquitetura e Urbanismo

Um Inventário da Adoção da

Linguagem Arquitetônica Moderna na

Região de Piranga-MG

Bolsista PIBIC/CNPq: Marcelo André Ferreira Leite

Orientadora: PhD. Maria Marta dos Santos Camisassa

Relatório Final, referente ao período de agosto/2012 a julho/2013,

apresentado à Universidade Federal de Viçosa,

como parte das exigências do PIBIC/CNPq.

Viçosa
Minas Gerais - Brasil
Agosto/2013
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG 2

Universidade Federal de Viçosa


Centro de Ciências Exatas e Tecnológicas
Departamento de Arquitetura e Urbanismo

RESUMO

Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga-MG

O desconhecimento da herança cultural transmitida através das obras arquitetônicas ou a falta de interesse e
desconhecimento da sociedade e mesmo por parte das autoridades na preservação dessa forma de acervo tem provocado uma perda
irreparável já que não há nenhum inventário na ampla maioria das cidades brasileiras. Diante deste panorama exige-se uma
ação imediata dos pesquisadores. Essa lacuna é ainda maior quando se trata da produção no interior do país, que pode
impressionar com sua desconhecida extensão, como é observado na Zona da Mata mineira. O desmembramento político-
administrativo da região de Piranga-MG, ocorrido desde o final do século XIX, proporcionou o desenvolvimento de pequenos
núcleos urbanos somando hoje doze municípios. Um crescimento econômico estagnado desde o final do período minerador com a
decadência do ciclo do ouro pode ser percebido principalmente a partir de meados do século passado. Esse processo não
passou imune à construção de novos edifícios coincidindo com o desenvolvimento do Movimento Moderno na arquitetura
brasileira. Todo esse acervo, justamente por se encontrar em locais de difícil acesso, se encontra na periferia dos
interesses de estudos históricos. Neste sentido, tivemos por objetivo analisar e inventariar edifícios com características
de arquitetura moderna na cidade de Piranga e mais onze municípios que apresentam ligação histórico-administrativa e/ou
proximidade geográfica com esta: Alto Rio Doce, Senador Firmino, Cipotânea, Rio Espera, Itaverava, Senhora de Oliveira,
Presidente Bernardes, Brás Pires e Dores do Turvo, Catas Altas da Noruega e Lamim. O presente trabalho visou também
complementar outros projetos de pesquisa desenvolvidos na mesma linha que investigaram cidades nas microrregiões de Ubá,
Viçosa e Ponte Nova, uma vez que a região de Piranga ainda se encontrava sem um levantamento realizado por nossa equipe.
Utilizaram-se metodologias de inventário adotadas pelo DOCOMOMO Internacional e as análises levaram em conta a ficha
técnica da obra; a data de projeto, construção e inauguração, entre outras informações históricas; desenhos técnicos e
acervo fotográfico; a solução formal, espacial e construtiva; o contexto urbano em que o edifício se encontra inserido; a
qualidade técnica e estado de conservação da obra; a importância sociocultural, a qualidade estética e possíveis elementos
decorativos; e a mobilização pró-preservação e recuperação. A partir da análise desses inventários, foram compreendidas as
relações entre a adoção da linguagem arquitetônica moderna e as comunidades locais. A divulgação no meio acadêmico e local
foi feita por meio de apresentação em encontros, fóruns e seminários, de abrangência regional e nacional. Posteriormente,
planeja-se a divulgação destes dados na World Wide Web, para que se abra a consulta a outros pesquisadores, estudantes, e
interessados em geral pela temática.

_____________________________________________________________________ __________________________________________________
Ph. D. Maria Marta dos Santos Camisassa Marcelo André Ferreira Leite
Orientadora Bolsista PIBIC/ CNPq
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG 3

SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................ 4
2. A ARQUITETURA BRASILEIRA .................................................................................. 6
2.1 Arquitetura Colonial e Oitocentista [1500-1850] ............................................................ 6
2.2 Arquitetura Neoclássica, Eclética e Protomoderna (Art Déco e Neocolonial) [1850-1930] ...................... 7
2.3 Arquitetura Moderna [1930-1980] ........................................................................... 10
3. PROBLEMÁTICA ............................................................................................. 12
4. DELIMITAÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO .......................................................................... 13
5. OBJETIVOS ................................................................................................ 16
6. METODOLOGIA .............................................................................................. 16
7. CARACTERIZAÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO ....................................................................... 18
7.1 Primeiras Impressões ...................................................................................... 18
7.2 Evolução Histórica ........................................................................................ 19
8. O PATRIMÔNIO DESCONHECIDO ................................................................................ 28
8.1 Escolas ................................................................................................... 28
8.2 Igrejas e Sedes Paroquiais ................................................................................ 34
8.3 Residências ............................................................................................... 39
8.4 Sedes de Prefeituras Municipais e Fóruns de Comarca ....................................................... 42
8.5 Hospitais e Postos de Saúde ............................................................................... 44
8.6 Edifícios Industriais ..................................................................................... 46
9. CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 48
10. REFERÊNCIAS BILIOGRÁFICAS ................................................................................ 50
11. ANEXOS ................................................................................................... 53
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG 4

1. INTRODUÇÃO

A região de Piranga compreende cidades que tem


suas origens ainda no século XVIII, portanto com
cerca de trezentos anos de história a serem (re)
escritos por esta pesquisa por meio da análise de um
conjunto de obras arquitetônicas – verdadeiros
documentos da realidade local. Muitos dos atuais
municípios dessa parte da Zona da Mata mineira foram
desmembrados ao longo do século XX do território de
Piranga – antiga Vila de Guarapiranga, instituída em
Fig. 1 – Mapa da Comarca de Vila Rica em 1778. Fonte: SOARES, J.
1841 – que por sua vez teve sua origem a partir do M. Das Minas às Gerais: um estudo sobre as origens do processo de
desmembramento de parte do território da ‗Real Cidade formação da rede urbana da Zona da Mata mineira. 2009. 235f.
Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Universidade
de Mariana‘, uma das primeiras aglomerações urbanas Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2009, p. 75 [adaptado
de Minas Gerais. pelo autor].

A ocupação local foi realizada nos sentidos Já na segunda metade do século XIX, a região
norte-sul (partindo de Ouro Preto e de Mariana) e ficou isolada entre duas ferrovias implantadas de sul
oeste-leste (partindo da atual Conselheiro Lafaiete e para norte, que estão com seu trajeto indicado em
de Itaverava). Durante a era colonial e até a vermelho na figura 2 (na página seguinte). A primeira
primeira metade do século XIX, o chamado ‗Sertão do foi a Estrada de Ferro Dom Pedro II (que com a
Leste‘ tinha como limite o Caminho Novo, rota oficial República teve seu nome alterado para Estrada de
pela qual os produtos eram conduzidos da região Ferro Central do Brasil), cujos trilhos seguiram a
mineradora até o porto do Rio de Janeiro e vice- oeste da Zona da Mata mineira (como o Caminho Novo) e
versa. A figura 1 mostra o Caminho Novo em laranja chegaram a Queluz – atual Conselheiro Lafaiete em
(trecho entre Passagem das Congonhas e Mariana), e 1883. A segunda foi a Estrada de Ferro Leopoldina,
algumas localidades (Paróquias – em rosa e Capelas – que percorreu a região a leste de Piranga, alcançando
em amarelo) que são hoje cidades e são abordadas o município de Ponte Nova em 1886. Além dos
nesta pesquisa: Piranga, Calambau (atual Presidente municípios mencionados na figura 1, constam na figura
Bernardes), Tapera (atual Porto Firme), Barra do 2 como Distritos (em rosa ou roxo) as localidades de
Bacalhau (atual Guaraciaba) e Srª do Rozario (atual Itaverava, Catas Altas (atual Catas Altas da
Brás Pires). Noruega), subordinadas ao município limítrofe de
Queluz (atual Conselheiro Lafaiete), assinalado em
vinho; Lamim, Oliveira (atual Senhora de Oliveira),
Conceição do Turvo (atual Senador Firmino), Espera
(atual Rio Espera), São Caetano do Chopotó (atual
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Cipotânea), São José do Chopotó (atual Alto Rio Doce)


e Dores do Turvo, que completam o conjunto das
cidades analisadas.

Fig. 2 – Mapa da Zona da Mata em 1893. Fonte: SOARES, J. M. Das


Minas às Gerais: um estudo sobre as origens do processo de
formação da rede urbana da Zona da Mata mineira. 2009. 235f.
Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Universidade
Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2009, p. 172 [adaptado
pelo autor]. Fig. 3 – Mapa com as rodovias na região em estudo. Fonte: Fonte:
MINAS GERAIS. Departamento de Estradas de Rodagem. Mapa
Durante o século XX, com o predomínio cada vez Rodoviário do Estado de Minas Gerais. Belo Horizonte, 2009. Mapa
maior do transporte rodoviário, foram asfaltadas rodoviário. Escala 1: 1.500.000 [adaptado pelo autor].
estradas estaduais e federais (em sentido oeste-leste
e em sentido sul-norte). Os municípios do entorno de As rodovias BR-482 e MG-124 (figura 3) principal
Piranga ficaram novamente confinados, desta vez entre meio de acesso aos municípios abordados foram
as rodovias que aparecem na figura 3: BR-040, que no asfaltadas apenas bem recentemente, já na primeira
trecho em estudo liga Barbacena a Conselheiro década do século XXI. Somente compreendendo essa
Lafaiete; BR-356 e MG-262, que fazem a conexão entre situação de ‗distanciamento‘ é que podemos iniciar a
Ouro Preto e Ponte Nova; BR-120 e MG-447, que fazem a análise de como as linguagens arquitetônicas
ligação entre Ponte Nova e Ubá; e MG-448 e BR-265 que alcançaram essas localidades, e como influenciaram e
a conecta as cidades de Ubá e Barbacena. foram influenciadas pelo ambiente em que se
implantaram.
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2. A ARQUITETURA BRASILEIRA construções oficiais (figura 4) mais vultosas ou


requintadas, e foi grande a importância da religião
Com o objetivo de auxiliar na leitura deste católica tanto no cotidiano da população – a
relatório, esboçamos como forma de contextualização arquitetura religiosa (figura 5) apresentou maior
um resumo da história da produção arquitetônica no destaque, aprimorando o barroco e o rococó trazidos
Brasil ao longo dos séculos XVI a XX. As datas da Europa – como no processo de urbanização do
mencionadas como subtítulos são apenas aproximações, território (presença das ordens religiosas bem como a
uma vez que nunca um movimento arquitetônico sucede formação de arraiais e paróquias pelo interior)
abruptamente a outro, existindo uma fase de transição (FONSECA, 2001). No contexto urbano, construção e
onde convivem as linguagens anterior e posterior. lote constituíam uma só realidade e as ruas eram
definidas pelas construções (figura 6).
2.1 Arquitetura Colonial e Oitocentista
[1500-1850]

Período que se inicia com a colonização de


exploração do Brasil, efetuada pelos portugueses,
onde a vida era condicionada pelo ambiente hostil
(clima tropical, território desconhecido, vegetação
densa, animais e povos indígenas até então
desconhecidos e hostis ao contato com os europeus) e
pela dificuldade que ocorreu em certos momentos em
relação à obtenção de recursos de subsistência (como Fig. 4 – Câmara Municipal Fig. 5 - Igrejas de São Francisco
durante o período da mineração, quando grande numero de Mariana. Fonte: de Assis e de Nossa Senhora do
de pessoas dirigiu-se a região das minas) disponível em Carmo em Mariana. Fonte:
http://camarademariana.mg. disponível em
(VASCONCELLOS, 1960). Era igualmente difícil o gov.br, acesso em http://camarademariana.mg.gov.br,
transporte e a comunicação entre as capitanias e com 21/07/12. acesso em 21/07/12.
a metrópole, esta última caracterizada por certo
‗desatendimento‘ do poder real.

Na construção, adotaram-se materiais como barro,


madeira, pedra e ferro, e a utilização de técnicas
construtivas como a taipa de mão ou de pilão,
enquanto que a produção e manutenção (tanto na
construção, como no sistema colonial como um todo)
Fig. 6 – Rua com
eram baseadas no trabalho escravo (REIS FILHO, 2004). características coloniais em
A falta de uma economia interna sólida é tida como a Ouro Preto. Fonte: Marcelo
Leite, 25/03/09.
causa de não terem existido residências ou
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2.2 Arquitetura Neoclássica, Eclética e conhecidas pelo nome de Ecletismo, ditavam as regras
Protomoderna (Art Déco e Neocolonial) artísticas da época, valorizando o ornamento e a
[1850-1930] forma, enquanto que paralelamente, países como
Inglaterra, França, Estados Unidos, entre outros, em
O pensamento arquitetônico característico do
plena segunda revolução industrial, realizavam as
século XIX, que surgiu na Europa e posteriormente se
primeiras experimentações com novos materiais como
espalhou pelo restante do globo, fundamentou-se em um
aço e concreto armado.
revivalismo de antigas linguagens. O primeiro
movimento, o Neoclassicismo, originou-se ainda no No Brasil, os modelos Neoclássicos chegaram
século XVIII, onde os construtores buscavam não primeiro ao Rio de Janeiro, com a missão francesa em
infringir nenhuma das regras do que consideravam ‗bom 1816, que contava com a presença de cientistas,
gosto‘ e se baseavam em compêndios nos quais os artistas e arquitetos, etc. Já no fim do Segundo
arquitetos publicavam seus estudos realizados em Império, a abolição da escravatura constituiu uma
ruínas de construções greco-romanas. Quando Napoleão necessidade de mudança no modo de morar e se
ascendeu ao poder na Europa, a arquitetura construir no país, havendo, por exemplo, a demanda
Neoclássica tornou-se símbolo de seu império. Em por novos ambientes como o banheiro, cuja presença no
seguida, o Neogótico passou a disputar espaço com o interior da casa, ou da mesma possuir energia
puro estilo greco-romano. Atraía em especial elétrica, entre outras inovações, conferia status aos
espíritos românticos desenganados do poder da Razão e proprietários da residência. A construção de
ansiavam por um retorno ao que chamavam de Era de Fé ferrovias pode ser vista como um agente difusor da
(GOMBRICH, 2011). arquitetura de caráter eclético, com a implantação de
estações e casas ‗de gosto europeu‘, às margens dos
Além desse historicismo, existiu ainda a
trilhos (MENEZES, 1982). Muitas edificações passaram
utilização de elementos arquitetônicos de outras
a ser construídas elevadas do nível do chão,
culturas (árabe, hindu, chinês, etc.), que fizeram
permitindo porão, e com novos esquemas de
com que surgissem estéticas como o Neomourisco, ou
implantação, como o afastamento lateral ajardinado
então uma mistura de dois ou mais ‗estilos‘. Com o
(REIS FILHO, 2004). Da mesma forma, tais obras
pensamento romântico, advém o nacionalismo, de modo
contavam naquele momento, com maior utilização de
que países como, por exemplo, o Reino Unido, passaram
materiais como o tijolo maciço, o ferro, o vidro, o
a reconhecer o Neogótico como a arquitetura nacional.
ladrilho hidráulico, etc.
Tal profusão de linguagens, que passaram a ser
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Fig. 8 – Teatro
A presença cada vez maior da fotografia, do Municipal do Rio de
Janeiro. Fonte:
cinema, do telefone, do rádio, etc. são outros http://www.revistamemo.
indícios do nascimento da modernidade. O Ecletismo com.br/arquitetura,
acesso em 26/07/12.
tornou-se uma espécie de expressão do poder político
no período da República Velha, como pode ser
evidenciado em obras como as realizadas na Avenida
Rio Branco, no Rio de Janeiro, então capital federal
(figuras 7 e 8) e na Praça da Liberdade, em Belo Fig. 9 – Praça da
Liberdade em 1934.
Horizonte, nova capital estadual, projetada e Fonte: disponível em
inaugurada em 1897 (figuras 9 e 10). No caso de Minas http://www.defender.org
.br/uploads/Artigo1.pdf
Gerais, estado bastante populoso e relativamente
, acesso em 26/07/12.
enriquecido pelo ciclo do ouro e em especial pela
agropecuária, durante a República Velha, era grande a
efervescência cultural. Na virada do século, os
filhos de grandes fazendeiros estudavam na Europa ou
nas capitais culturais nacionais e tomavam
conhecimento das grandes mudanças culturais e
tecnológicas que estavam em curso (VALVERDE, 1958).

Fig. 10 – Palácio
da Liberdade,
principal
edificação ao
redor da Praça da
Liberdade. Fonte:
disponível em
http://www.governo
.mg.gov.br, acesso
em 21/07/12.
Fig. 7 – Avenida Rio Branco, cerca de 1910. Fonte: KOK, G. Rio de
Janeiro na Época da Avenida Central. São Paulo: Bei Comunicação,
2005, p. 7.
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Houve também as chamadas Art Nouveau (no final Fig. 12 – Avenida Rio Branco,
no Rio de Janeiro, tendo ao
do século XIX e primeira década do século posterior) fundo o Edifício A Noite, um
e Art Déco (três primeiras décadas do século XX), que dos primeiros arranha-céus do
Brasil. Fonte: disponível em
antes mesmo da primeira grande guerra apontava na http://www.fotolog.com, acesso
Europa tendo entre suas características mais em 26/07/12.
marcantes uma estilização geometrizada da figuração,
quando não uma definitiva abstração geométrica
(FISCHER, 2012). Assim denominada após a Exposition
Internationale des Arts Décoratifs et Industriels
Modernes, em Paris, a Art Déco (figuras 11, 12 e 13)
inovava com o uso do concreto armado e um início de
racionalização da construção, de certa forma um
protomodernismo, que deu suporte às tipologias
modernas que se tornaram mais comuns a partir da
década de trinta. No Brasil, a Semana de Arte
Moderna, em 1922, afirmou a necessidade de uma
identidade nacional, advindo desse contexto a busca
por uma arquitetura brasileira autêntica, dando Fig. 13 – Edifício Acaiaca, em
Belo Horizonte. Fonte:
origem primeiramente ao movimento Neocolonial, do disponível em
qual participaram arquitetos que posteriormente se http://debidomo.wordpress.com,
acesso em 26/07/12.
afiliariam ao Modernismo. Gradativamente, foi
justamente essa profusão de fontes de inspiração que
gerou um desafio aos arquitetos e artistas na busca
de uma convergência de um ideal contemporâneo de
ordem racionalista com esse ambiente artístico.
Fig. 11 – Biblioteca Mário de
Andrade, em São Paulo. Fonte:
disponível em
http://www.prefeitura.sp.gov.br,
acesso em 21/07/12.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG 10

2.3 Arquitetura Moderna [1930-1980] Estados Unidos, com Frank Lloyd Wright teve origem o
organicismo, no qual se objetivava a arquitetura como
O movimento moderno floresceu tanto das se fosse uma construção da natureza. Os espaços
vanguardas artísticas como das novas tecnologias apesar de funcionais, não precisavam seguir uma
compatíveis com uma produção em massa e da demanda disposição ‗regrada‘, mas era fundamental a
criada pelo aumento populacional e consequente integração do interior com o exterior. Afirmava-se
aceleração da urbanização. Ao longo do século XIX, a que a máquina devia construir a casa, mas não era
cidade passou a ser encarada como ‗morada de todas as preciso que a habitação se parecesse com uma. Na
classes‘ – mesmo que existisse também a preocupação Alemanha, Mies van der Rohe iniciou suas experiências
em contar com a tranquilidade da vida no campo, e com a ‗arquitetura em planos‘, considerando o espaço
surgiu de uma forma nunca antes vista grande demanda uno e indiviso, sem predominância do meio interior ou
por equipamentos urbanos, como hospitais, escolas, do meio exterior (VASCONCELLOS, 1960).
terminais de transporte de passageiros e de carga
(estações ferroviárias, de metrô, rodoviárias e Em nosso país, desde o início do século XX,
aeroportos), agências de comunicação (jornais, postos segundo o arquiteto Hugo Segawa (1998), o desejo de
telefônicos, emissoras de rádio), espaços destinados mudança era latente: uma a elite progressista,
ao esporte, ao lazer, a cultura, instalações positivista, cosmopolita, contrapunha-se à sociedade
administrativas do Estado, novas vias para um novo tradicional, de índole agrária e conservadora. O
tipo de transporte cada vez mais popular – o contato com as vanguardas europeias e seus valores
automóvel, além é claro, da necessidade de suprir a começaram a ser discutidos no Brasil. Após um momento
demanda de moradia, com a criação tanto de conjuntos de pioneirismo, no qual se destaca o ucraniano
habitacionais como de residências unifamiliares, e a radicado em São Paulo Gregori Warchavchik, o primeiro
consequente ampliação e especulação do mercado dos ‗grandes momentos‘ da arquitetura moderna
imobiliário. brasileira foi a construção do Ministério da Educação
e Saúde Pública no Rio de Janeiro (figura 14, na
Nesse contexto de intenso desenvolvimento página seguinte), entre 1936 e 1947, obra de autoria
urbano, a arquitetura procura aproveitar os recursos de uma equipe constituída por Lucio Costa, Oscar
oferecidos pelo sistema industrial, numa tentativa de Niemeyer, Affonso Eduardo Reidy, entre outros, além
tornar a construção civil mais próxima do processo da consultoria do franco-suíço Le Corbusier. Existia
produção em massa (REIS FILHO, 2004). Ao longo do desde o início a idéia de uma integração das artes
século XX, surgiram distintas tendências modernas. Na plásticas com a arquitetura, através de nomes hoje
França, surgiu o racionalismo de Le Corbusier, onde o consagrados, como Portinari (pinturas e azulejos),
homem enquanto ser superior à natureza aspira um Ceschiatti (esculturas), Paulo Werneck (mosaicos) e
espaço interno ideal, funcional, regrado e simples, Burle Marx (paisagismo) (MELLO, 1980).
não necessariamente vinculado a um espaço externo. A
casa era vista como uma ‗máquina de morar‘. Já nos
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autoria de Lucio Costa e Oscar Niemeyer, construída


Fig. 14 – Ministério da Educação e Saúde Pública. Fonte: entre 1956 e 1960. A partir principalmente desta
disponível em www.niemeyer.org.br, acesso em 14/06/12. Fig. 15 –
Grande Hotel de Ouro Preto, de Oscar Niemeyer. Fonte: última, a mídia foi instrumento importante na
http://www.grandehotelouropreto.com.br, acesso em 27/07/12. propagação da estética e do conceito moderno, tendo
essa obra alcançado tanto uma grande repercussão
internacional, como as cidades brasileiras mais
interioranas.

Fig. 16 – Residência Mauro


Carvalho Ramos, projeto do
arquiteto Luzimar Telles, em
Cataguases. Fonte: ALONSO, P. H.
(Org.). Cataguases – Arquitetura
Modernista: Guia do Patrimônio
Cultural. Cataguases: IEDS, 2009,
p. 60.

Fig. 17 – Conjunto da Pampulha.


Fonte: disponível em
www.niemeyer.org.br, acesso em
14/06/12.
Minas Gerais alcançou grande desenvolvimento no
século XX e a cultura e a modernização também foram
utilizadas no estado como estandarte, inclusive com
exemplares fora da capital (figura 15, acima) e na
Zona da Mata mineira (figura 16) que posteriormente
tiveram seu reconhecimento enquanto patrimônio
nacional (o conjunto modernista de Cataguases foi
tombado pelo IPHAN em 1995). No âmbito político,
Juscelino Kubitschek destacou-se como verdadeiro
mecenas da arquitetura e do urbanismo modernos. Isso Fig. 18 – Praça dos Três Poderes
se verifica desde seus tempos como prefeito de Belo e Esplanada dos Ministérios em
construção. Fonte: disponível em:
Horizonte na década de quarenta, quando criou o www.histeo.dec.ufms.br, acesso em
Conjunto da Pampulha (figura 17), projetado por Oscar 14/06/12.
Niemeyer e construído entre 1940 e1943, passando por
governador, no início dos anos cinquenta, com grandes
e modernas obras, para finalmente chegar à
Presidência da República em 1956, com o desfecho
final – a inauguração de Brasília (figura 18),
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG 12

A disseminação do modernismo (e de certa forma arquitetônicas, enquanto inúmeras outras vieram a


também dos movimentos que o antecederam) por todo o desaparecer.
Brasil, nas suas dimensões continentais e culturais
muito peculiares em cada região, teve a participação Os órgãos públicos que zelam pelo patrimônio
de arquitetos formados nas Escolas de Belas Artes, histórico, artístico e cultural, como o IPHAN
Politécnicas ou Independentes, localizadas (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
primeiramente nas capitais estaduais. Mas foi Nacional) estiveram até recentemente voltados apenas
principalmente através de publicações especializadas para a proteção de exemplares arquitetônicos do
ou não, que seus elementos, como o telhado período colonial, abrangendo inclusive aqueles
‗borboleta‘, a fachada mais ‗limpa‘ e desprovida de situados nos locais mais remotos. O conjunto
ornamentos, as janelas ‗em fita‘, os brises, os arquitetônico colonial de Ouro Preto-MG foi tombado
pilotis e até mesmo a idéia da planta livre, entre em 1938 enquanto o conjunto modernista de Cataguases
outras características, foram aplicados por diversos – MG, por exemplo, apenas o foi em 1995. O estudo de
outros profissionais como engenheiros civis, técnicos obras mais recentes, como as do Ecletismo, parece
em edificações ou simplesmente construtores, não focar apenas a produção de cidades de maior porte. Já
necessariamente relacionados aos movimentos nas com relação ao Modernismo, podemos citar como raro
capitais e nem sempre com aplicações fiéis e acertos exemplo o trabalho de alguns professores da
(ARRUDA, 2004). Essa apropriação era feita de acordo Universidade Federal de Uberlândia, que vem fazendo
com os materiais disponíveis, métodos construtivos um inventário da produção arquitetônica moderna no
vigentes e mesmo o gosto e aceitação popular. Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba1.

Soma-se a essa situação o despreparo das


3. PROBLEMÁTICA
prefeituras para efetivas ações de estudo e proteção
do patrimônio dos municípios. Tal situação pode
O estudo na área patrimonial da Arquitetura
inclusive se agravar no caso de cidades de pequena
exige profundo empenho em pesquisas. A produção
população e mais ‗interioranas‘. Nem sempre há órgãos
nacional não foi acompanhada por uma ação de mesmo
municipais como secretarias de patrimônio, e quando
peso e medida em documentação na forma de inventários
existentes existe a carência de profissionais, como
e na proteção dos bens, assim como também não foi
arquitetos e historiadores. Além disso, o estado de
acompanhada de estudos mais regionais, pelo menos até
Minas Gerais possui 853 municípios, o que representa
uma ou duas décadas atrás. A quantidade de registros
muito trabalho a ser feito, assim como revela a
ainda é incipiente, o que torna o estudo mais
grande riqueza cultural que precisa ser catalogada e
difícil, haja vista a dificuldade de se conseguir
preservada.
dados e de comprová-los. Em termos de acervo, muito
do que foi produzido em Minas Gerais entre os séculos
XVII e XX caiu no esquecimento por longo tempo,
1
alterações foram feitas em muitas obras Alguns resultados dessa pesquisa se encontram disponíveis na
World Wide Web em: http://www.arqmoderna.faued.ufu.br.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG 13

Em outras instâncias, felizmente, a conservação fluxo de imigrantes para estudar e/ou trabalhar desde
de exemplares arquitetônicos é o grande debate atual. a fundação da Escola Superior de Agricultura e
No caso das obras modernas, por exemplo, o DOCOMOMO Veterinária (ESAV) em 1926. Com a transformação
Internacional (International Working Party for desta em Universidade Rural do Estado de Minas Gerais
Documentation and Conservation of Buildings, Sites (UREMG) em 1948 e a posterior federalização da
and Neighbourhoods of the Modern Movement) 2 é uma instituição em 1969, passando a ser a Fundação
das principais instituições que contribui para esse Universidade Federal de Viçosa, o crescimento urbano
tipo de trabalho. Criada em 1988 na Holanda, a foi inevitável. Assim, antigas construções –
entidade tem núcleos de trabalho em vários países do residências ou edifícios comerciais de um ou dois
mundo inteiro. O núcleo brasileiro DOCOMOMO | Brasil 3 pavimentos – são vistos como obstáculo ao crescimento
tem recebido o apoio de várias universidades e urbano, passíveis de substituição por edifícios de
agências de fomento à pesquisa além de exercer sua múltiplos andares, ocasionando a perda da memória
atividade-fim com a contribuição, nas duas últimas arquitetônica da cidade.
décadas, para a documentação, a conservação e a
divulgação da produção modernista brasileira. Se em Viçosa há um processo acelerado de
substituição, nos municípios vizinhos, há uma pressão
Em Minas Gerais ainda há muito que se fazer. O pela busca de modernização como forma de acompanhar e
desconhecimento desta herança arquitetônica e, às repercutir os ‗ganhos‘ das cidades vizinhas de maior
vezes, uma falta de interesse mesmo por parte das porte (Viçosa, Ubá, Barbacena, Conselheiro Lafaiete).
autoridades tem provocado uma perda irreparável na Mesmo com uma economia regional estagnada perceptível
ampla maioria das cidades mineiras. Nos 853 nos municípios de pequeno porte da região, o efeito
municípios que compõem o estado, de forma contrária dominó pode se mostrar um risco.
ao que ocorre com exemplares da arquitetura colonial,
o ecletismo e o modernismo ainda sofrem da falta de 4. DELIMITAÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO
uma ação mais eficaz de preservação e estudos
aprofundados, mesmo que haja um acervo visível ao No projeto de pesquisa anterior, intitulado ―A
observador mais atento. E é consenso que a Arquitetura das Sedes dos Três Poderes em Piranga-MG
documentação e o inventário contribuem para a e Municípios Vizinhos‖ (PIBIC/CNPq/UFV 2011-2012) foi
conservação na medida em que dão o devido valor ao feita uma análise dos projetos públicos na cidade de
edifício, conferindo-lhe com propriedade seu caráter Piranga-MG e seus antigos distritos, cujo recorte
histórico e patrimonial. geográfico está delimitado em vermelho na figura 19
(na página seguinte).
Tomando-se como exemplo a cidade de Viçosa, esta
recebeu uma forte influência externa com o constante

2
Site oficial: http://www.docomomo.com.
3
Site oficial: http://www.docomomo.org.br.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG 14

Fig. 19 – Mapa das


regiões em estudo.
Fonte: disponível em
http://www.sidra.ibge.
gov.br, acesso em
27/07/12. [Adaptado
pelo autor].

Como tentativa de cobrir a lacuna na


documentação da produção da arquitetura moderna na
mesma região, foi estipulado um novo recorte
geográfico. Visando a viabilidade do projeto, foi Fig. 20: Quadrilátero inicial. Fonte: MINAS GERAIS. Departamento
de Estradas de Rodagem. Mapa Rodoviário do Estado de Minas
levado em consideração o tempo-limite do presente
Gerais. Belo Horizonte, 2009. Mapa rodoviário. Escala 1:
trabalho, as distâncias e condições das estradas, e 1.500.000.
as opções do transporte coletivo intermunicipal.
Visou-se também a complementação a outros projetos de A partir da listagem dos municípios
pesquisa que tratam do eixo Ponte Nova - Rio Pomba ao compreendidos pelo quadrilátero inicial, foi
longo da rodovia BR-120 e da Estrada de Ferro elaborada a tabela 1 (na página seguinte), que indica
Leopoldina Railway (regiões apresentadas em verde e os municípios na região de estudo que já tinham sido
azul na figura 19 acima), delimitando-se para esta abordados por pesquisas sobre Arquitetura Moderna e
proposta o trecho em torno da cidade de Piranga ao aqueles que ainda se encontram sem esse tipo de
longo das rodovias BR-356 e MG-124 (figura 20). levantamento realizado.
Partindo desse pressuposto, foi delimitado um
quadrilátero inicial em torno das cidades de Viçosa,
Ubá, Rio Pomba e Itaverava, com o intuito de listar
todas as cidades nessa região.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG 15

Tabela 1 - Municípios na região de estudo. Elaborada pelo autor Além desses municípios, foram incluídos também
com base no mapa da figura 20 e dos relatórios finais das
pesquisas mencionadas, 19/07/13. as seis cidades ainda sem levantamento. Destes
últimos, descobriu-se com base na Enciclopédia dos
A Adoção da Linguagem Municípios (IBGE, 1957), que quatro deles (Alto Rio
Moderna em Edifícios
A Arquitetura das Doce, Cipotânea, Rio Espera e Lamim) também
Públicos e Privados em
Sedes dos Três
Viçosa-MG e Municípios apresentam, inclusive, ligação histórica com a cidade
Poderes em Piranga-MG Municípios ainda sem
Vizinhos
e Municípios Vizinhos levantamento de Piranga 5 . Em seguida levado em consideração a
(Demanda Universal -
(PIBIC/CNPq 2011- distância das cidades selecionadas em relação à
FAPEMIG/
2010-2012 e PIBIC/CNPq
2012) Viçosa (tabela 2), a fim de se verificar a
2010-2011) viabilidade econômica e traçar o cronograma das
Porto Firme Piranga Alto Rio Doce viagens. Os municípios são ainda interligados com
Guaraciaba Senador Firmino Cipotânea Viçosa e entre si por meio das rodovias federais BR-
356 e BR-482, rodovias estaduais MG-124, MG-132 e MG-
Senhora de Oliveira Rio Espera
280, além de estradas municipais (figura 21, na
Presidente Bernardes Itaverava página seguinte).

Catas Altas da Tabela 2 - Municípios em estudo e distancias em relação à Viçosa-


Brás Pires
Noruega MG. Elaborada pelo autor com base em: MINAS GERAIS. Departamento
de Estradas de Rodagem. Mapa Rodoviário do Estado de Minas
Dores do Turvo Lamim Gerais. Belo Horizonte, 2009. Mapa rodoviário. Escala 1:
1.500.000.

Cidade Distância de Viçosa-MG (Km)


A partir da tabela 1 foi então delimitado como Piranga 55
objeto de estudo seis das oito cidades abordadas pela Alto Rio Doce 91
pesquisa ―A Arquitetura das Sedes dos Três Poderes em Senador Firmino 52
Piranga-MG e Municípios Vizinhos‖, considerando que Cipotânea 107
esta pesquisa possuía enfoque apenas em edifícios Rio Espera 105
sedes dos poderes (Prefeituras Municipais, Câmaras de Itaverava 103
Vereadores e Fóruns de Comarcas) e não em inventariar Senhora de Oliveira 91
o acervo moderno dessas localidades4. Presidente Bernardes 77
Brás Pires 74
Dores do Turvo 65
4
Porto Firme e Guaraciaba, apesar de terem sido abordadas pela Catas Altas da Noruega 87
pesquisa ―A Arquitetura das Sedes dos Três Poderes em Piranga-MG
e Municípios Vizinhos‖ não foram incluídas no novo projeto, uma Lamim 98
vez que já haviam integrado as duas pesquisas sobre Arquitetura
Moderna conforme a primeira coluna da tabela 1. Desse modo, serão
5
apenas mencionadas nesse relatório, sem o enfoque que terão os Conforme será apresentado no capítulo 7 – Caracterização do
municípios efetivamente selecionados. Objeto de Estudo.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG 16

inicial (tabela 1), abordada por esse projeto de


pesquisa e seus complementares; registrar a
arquitetura de uso público ou privado produzida
durante o período moderno nos municípios
selecionados, elaborando inventários da produção que
tomaram por modelo o formulário-padrão do DOCOMOMO
Internacional; analisar a resposta das comunidades
locais na adoção da linguagem moderna em cada cidade,
num primeiro momento, e da região como um todo num
segundo momento; e divulgar os resultados para a
comunidade acadêmica e a população local sobre o
valor histórico e artístico dessa produção
contribuindo com o conhecimento da história local, a
conscientização e a mudança de cultura de preservação
da cidade. Tomou-se por princípio que a publicação de
resultados da pesquisa e a apresentação em eventos
científicos proporcionariam um amplo conhecimento do
processo histórico da região através da leitura de
seus elementos constitutivos.

6. METODOLOGIA
Fig. 21 - Mapa com as rodovias utilizadas no acesso à região de
estudo (em preto). Fonte: MINAS GERAIS. Departamento de Estradas
de Rodagem. Mapa Rodoviário do Estado de Minas Gerais. Belo Nota-se, em grande maioria dos materiais de
Horizonte, 2009. Mapa rodoviário. Escala 1: 1.500.000 [adaptado divulgação de cidades em geral, uma coleção de
pelo autor]. informações apresentadas sempre semelhantes em seu
conteúdo. Fotos dignas de cartões postais de
5. OBJETIVOS cachoeiras, lugares pitorescos e de belezas naturais,
igrejas, museus e grandes obras são usadas para
A pesquisa teve por objetivo geral levantar e valorizar mais as pousadas e hotéis do que o
inventariar o acervo arquitetônico como forma de patrimônio histórico. Em todas essas formas de
documento edificado da história das cidades a partir divulgação, assim como no ideário popular o
da linguagem moderna adotada em diversos edifícios, significado da palavra monumento está defasado, pois
assim como sua confrontação nos traçados urbanos o seu real significado é muito mais amplo como está
delineados em cada um desses municípios. definido na Carta de Veneza, de maio de 1964:
Os objetivos específicos foram o de concluir o A noção de monumento histórico compreende a
levantamento da região delimitada pelo quadrilátero criação arquitetônica isolada, bem como o
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG 17

sítio urbano ou rural que dá testemunho de e observadas às características e peculiaridades de


uma civilização particular, de uma evolução
significativa ou de um acontecimento cada cidade.
histórico. Estende-se não só às grandes
criações, mas também às obras modestas, que Para auxiliar a catalogação dos edifícios
tenham adquirido, com o tempo, uma utilizaram-se fotografias digitais e desenhos à mão
significação cultural. (CARTA DE VENEZA,
1964. grifo do autor). livre esquemáticos feitos a partir de levantamento in
loco das obras. Para as fotografias, contamos com a
Foram justamente as ―obras modestas‖ o alvo cessão da câmara fotográfica do projeto de pesquisa
deste projeto. Acreditamos que toda civilização tem aprovado pela FAPEMIG no Edital de Demanda Universal
suas particularidades, que estão inseridas em sua 2010, sob coordenação da Prof.ª Marta Camisassa. Os
cultura não só em festividades, mas, principalmente, edifícios selecionados foram inventariados seguindo
no cotidiano e estão materializadas na arquitetura. E os critérios do Guideline Documentation Fiche 2003 do
é essa arquitetura repleta de significados que DOCOMOMO International, que estabelece uma ficha-
entendemos como monumento passível de ser preservado, padrão para a documentação dos edifícios do
mesmo que os cidadãos ainda não tenham isso tão movimento. No Guideline, estão descritos a
claro, pois estão corrompidos com a visão da mídia. O metodologia para o recolhimento das informações
interesse da memória coletiva e da história não deve acerca do exemplar a ser inventariado.
se cristalizar apenas sobre os grandes homens e
acontecimentos, mas sim por todos os homens e As análises descritivas consideraram a ficha
acontecimentos (LE GOFF, 2003). técnica da obra; a data de projeto, construção e
inauguração, entre outras informações históricas;
Partindo desse pressuposto, foram estão desenhos técnicos e acervo fotográfico; a solução
elaboradas – como produto final – fichas de formal, espacial e construtiva; e o contexto urbano
inventário para um total de 9 edifícios escolares, 4 em que o edifício se encontra. Já as análises
igrejas matrizes, 2 sedes paroquiais, 6 residências, críticas levaram em conta qualidade técnica e estado
3 sedes de prefeitura, 2 fóruns de comarca, 1 de conservação da obra; a importância sociocultural,
hospital, 1 posto de saúde e 1 antigo posto de a qualidade estética e possíveis elementos
recebimento e resfriamento de leite para utilização decorativos; e a mobilização pró-preservação e
na produção de laticínios. Para acesso aos municípios recuperação. Os edifícios foram classificados –
foi utilizado o transporte rodoviário intermunicipal segundo os critérios do Building Classification
coletivo, na maioria das vezes, cujas despesas Documentation Fiche 2003 do DOCOMOMO International –
ficaram a cargo do bolsista. em EDC, sigla para tipologias escolares; REL,
Foram realizadas um total de vinte viagens às edifícios de uso religioso; RES, residências; ADM,
doze cidades, por meio das quais foram feitas todas tipologias administrativas, onde foram inseridas as
sedes de prefeituras municipais; LAW, para tipologias
as visitas às obras selecionadas, realizadas as
pesquisas em arquivos/fontes públicas e particulares, relacionadas ao exercício da justiça, onde foram
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG 18

inseridos os fóruns de comarca; HLT, edifícios a importância dessas construções enquanto testemunhas
destinados à saúde e IND; edifício com uso do passado – de modo que com uma análise mais atenta,
relacionado à atividade de produção em escala o observador de tais obras pode descobrir sobre a
industrial. evolução municipal e regional, as influências
recebidas, os costumes, política e economia de
Foram consultadas diversas fontes e arquivos momentos anteriores, etc. Tal realidade pode ser
históricos, como o arquivo das sedes municipais, associada com uma citação do historiador Lucien
secretarias de patrimônio, casas de cultura e Febvre, sobre a necessidade de ampliar a noção de
arquivos particulares, onde foram encontradas documento:
fotografias, livros, projetos arquitetônicos e
estruturais, documentos legais, jornais, etc. As A História faz-se com documentos escritos
[...] Mas pode fazer-se sem documentos
placas oficiais de inauguração fixadas nas próprias escritos, quando não existem. Com tudo que a
obras em estudo revelaram-se de grande utilidade para habilidade do historiador lhe permite
determinar com precisão o contexto histórico de utilizar para fabricar o seu mel, na falta
das flores habituais. [Com] Paisagens e
projeto/construção/inauguração. Além disso, foi telhas. Com as formas do campo e das ervas
grande o número de entrevistas com moradores das daninhas. [...] Com tudo que, pertencendo ao
homem, depende do homem, serve o homem,
cidades – na falta de informações escritas, o exprime o homem, demonstra sua presença, a
testemunho oral foi de fundamental importância para atividade, os gostos e as maneiras de ser do
auxiliar a elaboração das fichas de inventário das homem. (FEBVRE apud LE GOFF, 2003, p.530).

obras analisadas. As escolas em sua maioria foram construídas pela


iniciativa estadual, sendo os projetos elaborados na
A divulgação no meio acadêmico e local foi feita
capital, Belo Horizonte, por uma equipe de arquitetos
por meio de apresentação em encontros, simpósios e
e engenheiros da então Secretaria de Viação e Obras
seminários, de abrangência local, regional e
Públicas – SVOP. Em 1958, foi criada a CARRPE –
nacional, e deverá ser feita também por meio do
Campanha de Reparo e Restauração de Prédios
Simpósio de Integração Acadêmica – SIA/UFV/2013.
Escolares, transformada em 1967 na Comissão de
Construção, Ampliação e Reconstrução dos Prédios
7. CARACTERIZAÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO
Escolares do Estado – CARPE 6 , as quais possuíram um
7.1 Primeiras Impressões grupo de profissionais que ficou a cargo de projetar
exclusive os edifícios escolares padrão que pudessem
Os registros oficiais da história das obras ser executados em qualquer localidade.
inventariadas, quando encontrados, eram uma
verdadeira raridade. De modo que ratificamos a
hipótese de que nessas cidades, os edifícios eram por
6
si só, praticamente os únicos documentos da história Sobre a criação da CARRPE e da CARPE, conferir os decretos
5458, de 15/07/1958 e a lei 4817 de 11/06/1968, disponíveis em:
da arquitetura local. Ficou ressaltada, desta forma, http://www.almg.gov.br.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG 19

Nos projetos e durante as construções, as Firmino, Dores do Turvo, Alto Rio Doce, Brás Pires,
igrejas e sedes paroquiais contaram com a Senhora de Oliveira e Lamim), de Conselheiro Lafaiete
participação de arquitetos e engenheiros de Barbacena (para Rio Espera), de Barbacena (para Cipotânea) e de
e até mesmo do Rio de Janeiro. As residências eram Piranga (para Presidente Bernardes), percebemos a
quase sempre de autoria de construtores locais, dificuldade de acesso a certas cidades, devido ao
quando não executadas diretamente pelo proprietário, número reduzido de horários de ida e volta e a falta
com auxílio de um mestre de obras. de interligação entre municípios vizinhos, como
Cipotânea e Rio Espera - distantes entre si apenas 15
As sedes de prefeituras municipais foram km e sem conexão de transporte coletivo entre si.
construídas em sua grande maioria com recursos Vale lembrar que as rodovias de acesso aos municípios
próprios, e há menção a atuação de engenheiros de abordados foram asfaltadas apenas bem recentemente,
Ubá. Já os fóruns de comarca – da mesma forma que já na primeira década do século XXI, ainda existindo
grande parte das escolas – seguiam projetos-padrão trechos de terra batida, como os percorridos por esta
elaborados por equipes da capital vinculadas a SEOP – pesquisa entre Cipotânea e Rio Espera e entre Senador
Secretaria de Estado de Obras Públicas 7 e executados Firmino e Paula Cândido, esta última fazendo conexão
em diversos municípios pela CODEURB – Companhia de com a cidade de Viçosa.
Desenvolvimento Urbano do Estado de Minas Gerais.
Essa realidade, além de dificultar o acesso, de
Quanto aos hospitais e postos de saúde certa forma também distancia essas cidades da Zona da
inventariados, registramos um caso de construção por Mata dos eixos Ponte Nova – Juiz de Fora e Barbacena
uma associação local de caridade em Senador Firmino, – Conselheiro Lafaiete (esse último já fora da Zona
e um posto de saúde padrão em Piranga, projetado pelo da Mata, correspondendo às mesorregiões do Campo das
DES – Departamento de Engenharia Sanitária da Vertentes e Metropolitana, respectivamente 8 ). Essa
Secretaria Estadual de Saúde, ambos no período que experiência é importante também para pensar a
vai do fim dos anos 50 ao início dos anos 60. Uma distância física e cultural que existia entre essas
última iniciativa de caráter privado foi a construção cidades no passado, com maiores dificuldades de
em Dores do Turvo, de um posto para recebimento e acesso e sem os meios de comunicação e transporte do
resfriamento de leite, propriedade da Cooproleite - qual dispomos hoje.
Cooperativa de Produtores de Leite de Muriaé Ltda.
7.2 Evolução Histórica
Como o transporte coletivo intermunicipal foi o
meio de transporte mais utilizado para as visitas às
Conforme mencionado na introdução, a região de
cidades, partindo-se de Viçosa (para Piranga, Catas
Piranga compreende cidades que tem suas origens ainda
Altas da Noruega e Itaverava), de Ubá (para Senador
7 8
Nome pelo qual passou a ser denominada a antiga SVOP - Cf. IBGE - Divisão Territorial do Brasil - 2013, disponível em:
Secretaria de Viação e Obras Públicas a partir do decreto 15987, ftp://geoftp.ibge.gov.br/organizacao_territorial/divisao_territor
de 31/12/1973. ial/2013/, acesso em 19/07/2013.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG 20

no século XVIII, portanto com cerca de trezentos anos estabelecimentos da Capitania de Minas Gerais em
de história. A ocupação foi realizada nos sentidos 1724, do ponto de vista demográfico e econômico. Num
norte-sul, partindo de Ouro Preto e de Mariana, e relato anônimo sobre Guarapiranga no Código Matoso, o
oeste-leste, partindo da atual Conselheiro Lafaiete e número de ruas e de casas assobradadas, fornece uma
de Itaverava, que provavelmente é a aglomeração indicação da importância da localidade:
urbana mais antiga dentre os municípios em estudo. As
Compõe-se de duas ruas para a parte do rio e
ocupações eram motivadas inicialmente para extração uma [...] para a parte da estrada, com vinte
de ouro, aprisionamento de índios, ou pontos de pouso e cinco moradas de casas de sobrado,
antes de seguir expedição rumo ao leste ou sul cinquenta e cinco térreas, com capacidade
para se fazer uma povoação muito grande pelo
(tabela 3, na página 21). Quando essas atividades terreno, águas, muita terra para mantimentos
iniciais entravam em decadência, a agricultura se e o rio que passa pelo pé dele, navegável
por toda a freguesia (CÓDICE Costa Matoso
tornava a principal atividade, fixando os homens às apud FONSECA, 2011, p. 368-369).
terras, e comercializando o excedente da produção de
subsistência, que chegava inclusive a abastecer Entre 1753 a 1756, foram inúmeras as sesmarias
regiões de maior contingente populacional ou concedidas, nas quais se mencionam grandes ‗roças de
atividade mineradora ainda expressiva, como Ouro milho, casas de vivenda, paióis, senzalas e
Preto e Mariana. Autores como Ribeiro Filho (2004) bananais‘. Ao final do século XVIII, solicitou o
afirmam que já em 1690 existiam extrações de ouro título de Vila, porém sem sucesso – a autonomia
descobertas por paulistas ou portugueses onde hoje se política só seria concedida meio século depois
situam Itaverava, Catas Altas da Noruega, Piranga e (1841).
Senhora de Oliveira.
No que diz respeito à Guaraciaba, Ribeiro Filho
Segundo o Códice Costa Matoso 9 em 1691, (2004, p.51) aponta que em 1704, os filhos do
Francisco Rodrigues de Siqueira e Manoel Pires bandeirante Salvador Fernandes Furtado de Mendonça
Rodovalho exploraram a região do rio Piranga, e que teriam descoberto uma mina de ouro no lugar onde
uma capela com a invocação de Nossa Senhora da atualmente se encontra o município. Teriam ainda
Conceição foi edificada em 1694, advindo daí a encontrado outra mina onde hoje está situada a cidade
denominação primitiva da cidade de Piranga: Nossa de Senador Firmino, no mesmo ano. A hostilidade por
Senhora da Conceição do Guarapyranga. Segundo a parte dos indígenas nesse último local – que atacavam
arquiteta Cláudia Damasceno Fonseca (2011), o local os brancos, destruindo lhes as casas e as roças, fez
figurava entre os vinte mais importantes com que o povoamento fosse intensificado apenas após
uma série de conflitos que culminaram na expulsão (ou
9
Segundo RIBEIRO FILHO (2004, p.51) o Códice Costa Matoso é uma aniquilação) dos nativos, já em meados do século
coletânea elaborada por Caetano da Costa Matoso, Ouvidor-Geral de XVIII, quando grande número de sesmarias foi
Vila Rica entre 1749 e 1752, que reúne documentos dos séculos concedido. Uma capela a Nossa Senhora da Conceição
XVII e XVIII ―e é hoje fonte de referência para qualquer estudo
da história antiga de Minas‖. Atualmente, o Código Matoso se foi edificada em 1753 (BARBOSA, 1971, p. 483-484).
encontra na Biblioteca Mário de Andrade, em São Paulo.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG 21

Já próximo do ano de 1710, Ribeiro Filho (2004) Um último dado a ser considerado foi a evolução
dá por iniciada a ocupação nas regiões de Presidente populacional dos municípios selecionados (tabela 5,
Bernardes e Porto Firme, a primeira, com intuito na página 26), onde se verificou uma estagnação no
primordial de aprisionamento de índios, e a segunda, número de habitantes, pelo menos desde anos 1970. Já
como ponto de pouso antes da travessia do Rio a análise das porcentagens de população rural e
Piranga, em direção ao leste. Nesse mesmo ano, a urbana confirmou uma maioria rural em quase todos os
Enciclopédia dos Municípios (IBGE, 1957) dá como municípios12. Essas informações (histórico da ocupação
certa as expedições rumo ao sul, que partindo das e da formação administrativa e o quadro populacional)
aglomerações mais antigas, fizeram pousos onde hoje foram importantes para o melhor entendimento da
se localizam Lamim, Rio Espera10 e Cipotânea11. dinâmica urbana e seu reflexo na construção de novos
edifícios públicos e privados em cada localidade.
Por fim, parecem ter sido ocupadas Brás Pires
(1750, segundo Ribeiro Filho); Alto Rio Doce
(sesmaria concedida em 1759, conforme Barbosa (1971)
e Dores do Turvo, onde uma primeira capela foi
construída apenas em 1783 (BARBOSA, 1971).

Observamos também a ligação administrativa que


existiu entre as cidades (tabela 4, na página 22 e
figuras 22 a 25, nas páginas 23 a 25). Nove dos doze
municípios percorridos são ex-distritos desmembrados
de Piranga, a cidade com maior população e formação
administrativa mais antiga na região de estudo, que
por sua vez, foi criada a partir do desmembramento de
Mariana, cuja elevação à município ocorreu ainda
durante a Era Colonial. As duas cidades restantes
(Itaverava e Catas Altas da Noruega) foram
emancipadas de Conselheiro Lafaiete, o qual foi
desmembrado do território de Tiradentes, também
durante e Era Colonial.

10
Assim chamada por ser um ponto de encontro e de pouso das
bandeiras que ali se preparavam para descer o rio denominado de
Espera, até a confluência deste como o Rio Xopotó.
11
Cujo nome primitivo era São Caetano do Xopotó, localizada
12
próxima a já citada confluência entre os rios Espera e Xopotó, As exceções foram as cidades de Senador Firmino e Senhora de
lugar que também se transformou em ponto de pouso que antecedia a Oliveira que apresentam, respectivamente, 65% e 57% da população
travessia do Xopotó em direção ao sul. vivendo na área urbana do município.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG 22

Tabela 3 – Informações a respeito da origem de cada núcleo urbano pesquisado. Elaborada pelo autor com base em: RIBEIRO FILHO
(2004); BARBOSA (1971) e IBGE (1957).

Município Nome primitivo Origem segundo RIBEIRO FILHO Origem segundo BARBOSA Origem segundo IBGE (1957)
(2004) (1971)
Itaverava Santo Antônio da Itaberaba 1690, extração de ouro 1726, construção da primeira 1690, extração de ouro
capela de Santo Antônio
Catas Altas Catas Altas da Noruega 1690, extração de ouro 1727, construção da primeira -
da Noruega capela de São Gonçalo
Lamim Divino Espírito Santo do 1760, construção da primeira 1760, construção da primeira 1710
Lamim capela consagrada ao Divino capela consagrada ao Divino
Piranga Nossa Senhora da Conceição 1690, extração de ouro no 1690, extração de ouro no 1704, extração de ouro no
do Guarapyranga Rio Piranga Rio Piranga Rio Piranga
Rio Espera Nossa Senhora da Piedade da - 1760, construção da primeira 1710, pouso das bandeiras
Boa Esperança ou Espera capela de Nossa Senhora da que se preparavam para
Piedade descer até o Rio Xopotó
Senhora de Nossa Senhora da Oliveira 1690, extração de ouro 1758, construção da primeira -
Oliveira capela de Nossa Senhora da
Oliveira
Presidente Santo Antônio do Calambau 1710, aprisionamento de 1733, construção da primeira 1730, extração de ouro no
Bernardes índios capela de Santo Antônio Rio Piranga
Porto Firme Nossa Senhora da Conceição 1710, pouso das bandeiras 1753, construção da primeira -
da Tapera que atravessavam o Rio capela de Nossa Senhora da
Piranga em direção ao leste Conceição
Cipotânea São Caetano do Chopotó - 1703, extração de ouro no 1711, pouso das bandeiras
Rio Xopotó que atravessavam o Rio
Xopotó em direção ao sul
Brás Pires Nossa Senhora do Rozário do 1750 - -
Braz Pires
Guaraciaba Santana de Guaraciaba, 1704, extração de ouro na 1749, construção da primeira -
Santana dos Ferros ou Barra Mina do Bacalhau capela de Santa Ana
do Bacalhau
Alto Rio Doce São José do Chopotó - 1759, concessão de sesmaria 1759, concessão de sesmaria
Senador Nossa Senhora da Conceição 1704, extração de ouro de 1704, extração de ouro de 1704, extração de ouro de
Firmino do Turvo ou Rocha Mina da Rocha Mina da Rocha Mina da Rocha
Dores do Nossa Senhora das Dores do - 1783, construção da primeira 1783, construção da primeira
Turvo Turvo ou Nossa Senhora das capela de Nossa Senhora das capela de Nossa Senhora das
Dores do Pomba Dores Dores
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG 23

Tabela 4 - Formação administrativa dos municípios - em cinza, os abordados por esta pesquisa. Elaborada pelo autor com base em: ALMG,
Assembléia Legislativa do Estado de Minas Gerais (2012); IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (1957, 2012); BARBOSA,
Dicionário Histórico e Geográfico de Minas Gerais (1971). *Originaram outros municípios além dos apresentados na tabela.

Tiradentes* Conselheiro Itaverava


Lafaiete*
Município criado Distrito criado pela Carta Régia de 16/01/1752
pela Carta Régia de Distrito criado pela
12/01/1719 Carta Régia de Emancipado pela Lei 2764 de 30/12/1962
16/01/1752 Catas Altas da Noruega
Emancipado em Distrito criado pela Lei 184 de 03/04/1840
19/09/1790
Emancipado pela Lei 2764 de 30/12/1962
Mariana* Piranga Alto Rio Doce Cipotânea
Município criado Distrito criado pela Distrito criado pelo Ato de 14/07/1832 Distrito criado pela Lei 822 06/07/1857
pela Carta Régia de Carta Régia de
08/04/1711 16/02/1718 Emancipado pelo Decreto 26 de 07/03/1890 Emancipado pela Lei 1039 de 12/12/1953

Emancipado pela Lei Rio Espera Lamim


202 de 01/04/1841 e Distrito criado pela Lei 471 de 01/06/1850 Distrito criado pela Lei 184 de 03/04/1840
suprimido em 1865
Emancipado pela Lei 556 de 30/08/1911 Emancipado pela Lei 2764 de 30/12/1962
Emancipado pela Lei
1537 de 20/07/1868 Senador Firmino Brás Pires
Distrito criado pela Lei 202 de 01/04/1841 Distrito criado pela Lei 471 de 01/06/1850
Transferido para o município de Ubá pela Lei Emancipado pela Lei 1039 de 12/12/1953
843 de 07/09/1923
Dores do Turvo
Emancipado pelo Decreto-Lei 148 de 17/12/1938
Distrito criado pela Lei 471 de 01/06/1850
Emancipado pela Lei 1039 de 12/12/1953
Guaraciaba
Distrito criado pelo Ato de 14/07/1832
Emancipado pela Lei 336 de 27/12/1948
Porto Firme
Distrito criado pela Lei 2402 de 05/09/1877
Emancipado pela Lei 1039 de 12/12/1953
Senhora de Oliveira
Distrito criado pela Lei 1030 de 06/07/1859
Emancipado pela Lei 1039 de 12/12/1953
Presidente Bernardes
Distrito criado pela Lei 2086 de 24/12/1874
Emancipado pela Lei 1039 de 12/12/1953
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG 24

Fig. 22 – Município de Piranga na década de 1920. Fonte: MINAS GERAIS. Serviço de Estatística Geral da Secretaria de Agricultura. Álbum
Chorográphico Municipal. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1927 [Adaptado pelo autor]. As cidades abordadas pela pesquisa estão indicadas
com setas vermelhas. Na coluna lateral, o nome do antigo distrito, o nome atual do município e o ano de sua emancipação.

Piranga (Piranga, 1841).

Guaraciaba (Guaraciaba, 1948).

Porto Seguro (Porto Firme, 1953).


Oliveira (Senhora de Oliveira, 1953).

Calambao (Presidente Bernardes, 1953).

Braz Pires (Brás Pires, 1953).

Conceição do Turvo (Senador Firmino, 1938).

Observação: Os distritos de Dores do Turvo e Braz Pires foram criados em


1850, subordinados ao município de Piranga. Em 1890 Dores do Turvo foi
transferido para o recém-criado município de Alto Rio Doce (conforme figura
neste mapa dos anos 20). Em 1938 Dores do Turvo e Braz Pires foram
transferidos para o recém-criado município de Senador Firmino, onde
permaneceram até a emancipação em 1953.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG 25

Fig. 23 e 24 – Municípios de Alto Rio Doce e Rio Espera na década de 1920. Fonte: MINAS GERAIS. Serviço de Estatística Geral da
Secretaria de Agricultura. Álbum Chorográphico Municipal. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1927 [Adaptado pelo autor]. As cidades
abordadas pela pesquisa estão indicadas com setas vermelhas. Na coluna central, o nome do antigo distrito, o nome atual do município e o
ano de sua emancipação.

São Caetano
Cipotânea
1953

Dores do Turvo
Dores do Turvo
1953

Alto Rio Doce


Alto Rio Doce
1890

Rio Espera
Rio Espera
1911
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG 26

Fig. 25 – Município de Queluz (atual Conselheiro Lafaiete) na década de 1920. Fonte: MINAS GERAIS. Serviço de Estatística Geral da
Secretaria de Agricultura. Álbum Chorográphico Municipal. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1927 [Adaptado pelo autor]. As cidades
abordadas pela pesquisa estão indicadas com setas vermelhas. Na coluna lateral, o nome do antigo distrito, o nome atual do município e o
ano de sua emancipação.

Itaverava
Itaverava
1962
Cattas Altas
Catas Altas
da Noruega
1962

Lamim
Lamim
1962

Observação: O
distrito de Lamim
foi criado em
1840, subordinado
ao município de
Queluz (conforme
figura neste mapa
dos anos 20). Em
1938 foi
transferido para
o município de
Rio Espera, onde
permaneceu até a
emancipação em
1962.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG 27

Tabela 5 - Evolução Populacional dos Municípios. Elaborada pelo autor com base em: 1830 – SOARES, J. M. Das Minas às Gerais: um estudo
sobre as origens do processo de formação da rede urbana da Zona da Mata mineira. 2009. 235f. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e
Urbanismo) – Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2009, p. 221. 1920 – MINAS GERAIS. Serviço de Estatística Geral da
Secretaria de Agricultura. Álbum Chorográphico Municipal. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1927. 1950 – IBGE. Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística. Enciclopédia dos Municípios Brasileiros. Rio de Janeiro: IBGE, 1957. 1970 a 2010 – IBGE. Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística: Séries Históricas e Estatísticas, disponível em: http://seriesestatisticas.ibge.gov.br/series.aspx, acesso em:
20/07/2013 e Sinopse do Censo Demográfico de 2010, disponível em: http://www.censo2010.ibge.gov.br/sinopse/index.php, acesso em:
20/07/2013.

Município/Ano 1830 1920 1950 1970 1980 1991 2000 2010 % %


População População
Urbana Rural
(2010) (2010)
Piranga 1245 41277 36744 16575 15928 16332 17010 17232 35 65
Alto Rio Doce 423 23225 20125 15411 14959 14160 13858 12159 42 58
Porto Firme 1892* 4930 9464 9746 9107 9439 9474 10417 46 54
Guaraciaba 389 8400 - 11685 10573 10541 10262 10223 31 69
Senador Firmino 205 3648 16036 6754 6757 6241 6598 7230 65 35
Cipotânea 66 5368 4963 6259 6331 6240 6345 6547 46 54
Rio Espera 476 5675 12986 8683 7718 7461 6942 6070 40 60
Itaverava - 5241 992** 6998 6214 6341 6388 5799 44 56
Senhora de Oliveira 839* 4612 4426 4739 4812 5089 5643 5683 57 43
Presidente Bernardes 233 5128 8068 8071 6928 6420 5847 5537 30 70
Brás Pires 28 3797 499** 5725 6026 5836 5107 4637 48 52
Dores do Turvo 221 6670 5198 5335 4841 5043 4799 4462 45 55
Catas Altas da Noruega - 4626 640** 3104 3044 3379 3288 3462 41 59
Lamim 270 3202 466** 3741 3483 3572 3587 3452 44 56
*Censo de 1831, considerando livres e cativos (BARBOSA, 1971, p. 381 e 486).
**Apenas a população urbana (IBGE, 1957).
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG 28

8. O PATRIMÔNIO DESCONHECIDO impactando o entorno não somente pelo uso de uma


estética modernista, mas também pelo tamanho de sua
―Os mineiros começaram a desconfiar que implantação, sempre maior em relação aos demais lotes
havia alguma coisa de verdade e de valor
nas velharias que haviam menosprezado‖ urbanos. Talvez apenas as igrejas matrizes consigam
(VASCONCELLOS, 1967, p. 1). ser mais marcantes no contexto local do que essas
Apresenta-se aqui, uma análise das 29 obras obras.
modernas catalogadas, subdividas conforme as
Excetuando-se uma proposta de caráter
tipologias de classificação do DOCOMOMO
particular em Rio Espera - o Ginásio Nossa Senhora do
internacional, correspondendo aos seguintes subitens:
Rosário – idealizado pelo pároco local Monsenhor
1. Escolas; 2. Igrejas e Sedes Paroquiais; 3.
Francisco Miguel Fernandes em 1961 e inaugurado em
Residências; 4. Sedes de Prefeituras Municipais e
Fóruns de Comarca; 5. Hospitais e Postos de Saúde; 6. 1966 13 (figura 26 e ficha A5), todas as demais obras
Edifícios Industriais. catalogadas foram executadas pelo poder público, de
modo a suprir uma considerável demanda.
Uma observação a ser feita é quanto a autoria
das obras. Em apenas 10 das 29 obras investigadas,
obtivemos informações precisas sobre os autores dos
projetos, o que afirma mais uma vez a falta de
registros oficiais. As informações sobre autoria de
cada obra constam nas respectivas fichas de
inventário, que serão mencionadas durante o texto e
se encontram nos anexos A a F. A tabela 6 (na página
seguinte) faz uma apresentação das obras catalogadas
em ordem cronológica
Fig. 26 – Antigo Ginásio Nossa Senhora do Rosário, atual Escola
Monsenhor Francisco Miguel Fernandes em Rio Espera (1966). Fonte:
8.1 Escolas
Marcelo Leite, 24/08/12.

[A] Arquitetura Moderna Para ser ter uma noção dessa necessidade,
[pode ser vista] como Goldemberg (1993) afirma que em 1950 apenas 36,2 %
propaganda de Estado
das crianças de 7 a 14 anos tinha acesso à escola.
(PEDROSA, 1981, p.
258). Janice Theodoro em seu artigo ―A construção da
cidadania e da escola nas décadas de 1950 e 1960‖
Os edifícios escolares foram as construções do
13
período moderno mais comumente encontradas na região O Ginásio Nossa Senhora do Rosário foi posteriormente
estadualizado em 1988, e teve o nome alterado para Escola
em estudo (nove obras inventariadas) quase todas Estadual Monsenhor Francisco Miguel Fernandes em 1990.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG 29

mostra que no estado de São Paulo dos anos sessenta,


apenas 40% das escolas funcionava em edifícios
concebidos exclusivamente para essa finalidade, o
restante funcionando em locais improvisados, situação
bastante semelhante ao encontrado durante o
levantamento histórico realizado nas cidades da Zona
da Mata mineira abordadas pela presente pesquisa.
Para Helena Bomeny no artigo ―O Brasil de JK -
educação e desenvolvimento: o debate nos anos 1950‖ a
situação era alarmante:

Se se considerar que, no final do século


XIX, os países industrializados tinham
alcançado a universalização da educação, ou
seja, tinham vencido a barreira do
analfabetismo, é forçoso admitir que, na
segunda metade do século XX, uma taxa de Fig. 27 – Escola Estadual Padre Vicente Carvalho em Presidente
aproximadamente 40% de analfabetos entre a Bernardes (1962). Fonte: Marcelo Leite, 17/01/12.
população adulta de um país que falava em Fig. 28 – Antigo Ginásio Estadual Gustavo Corção em Dores do
modernização e desenvolvimento era alarmante Turvo (1963). Fonte: Marcelo Leite, 11/01/13.
(BOMENY, s/d, s/p).

Diante desse contexto, a ação do Estado de levar


a educação a todos os pontos do território nacional
se fazia imprescindível, o que originou tanto
propostas financiadas com verba federal, caso da
Escola Estadual Padre Vicente Carvalho em Presidente
Bernardes 14 (figura 27 e ficha A2) quanto a nível
estadual, como o antigo Ginásio Estadual Gustavo
Corção em Dores do Turvo (figura 28 e ficha A3), hoje
com outro uso.

14
Segundo as informações coletadas a Escola Estadual Padre
Vicente Carvalho foi uma iniciativa do então Deputado Federal
Padre Pedro Maciel, natural de Presidente Bernardes, e conforme
comunicações internas do então Departamento Estadual de Obras
Públicas em 1960 (disponíveis no Acervo Setop -
http://www.acervosetop.mg.gov.br), a obra foi realizada apenas
com verba da União, ou seja, sem o intermédio do governo de Minas
Gerais.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG 30

Entre as construções escolares empreendidas pelo


Estado, talvez a característica mais marcante seja a
padronização, uma vez que por meio desta era possível
atender a uma série de requisitos, tais como tornar
mais fácil e racional o processo construtivo;
conceber um projeto funcional e flexível o suficiente
para se adequar às mais variadas demandas, diminuir o
custo total para implantação no maior número de
municípios, etc. Um primeiro exemplo de padronização Fig. 31 e 32 – Escolas Estaduais Quinzinho Inácio em Senhora de
Oliveira (1955) e Emílio Jardim em Coimbra. Fonte: Marcelo Leite,
encontrado parece ser o edifício da Escola Estadual 21/09/12 e Bruno Dalto 20/01/11.
Quinzinho Inácio em Senhora de Oliveira, inaugurada
em 1955 (ficha A1), que apresenta certas semelhanças
com as Escolas Estaduais Maria Aparecida David em
Canaã (figuras 29 e 30) e Emílio Jardim em Coimbra Fig. 33 a 35 – Escolas
Estaduais Quinzinho Inácio em
(figuras 31 e 32) em termos de fachada frontal; e com Senhora de Oliveira (1955) e
a Escola Napoleão Reis em Lamim (figuras 33 e 34), em Napoleão Reis em Lamim.
Fonte: Marcelo Leite,
relação aos pilares retangulares de concreto armado 21/09/12, Tamyres Silveira,
utilizados nas circulações externas e no entorno dos 24/01/11 e Marcelo Leite,
24/08/12.
pátios centrais. Todas as cidades localizadas na Zona
da Mata mineira e abordadas pelas demais pesquisas de
Arquitetura Moderna conduzidas pelo Departamento de
Arquitetura e Urbanismo da UFV.

Fig. 29 e 30 – Escolas
Estaduais Quinzinho Inácio
em Senhora de Oliveira
(1955) e Maria Aparecida Em 1958, no governo estadual de José Francisco
David em Canaã. Fonte: Bias Fortes, tendo como secretário da educação Abgar
Marcelo Leite, 21/09/12 e Renault é instituída a Campanha de Reparo e
Marta Camisassa, 04/11/11.
Restauração dos Prédios Escolares – CARRPE, que em
seu art. 4° determinava dois critérios básicos para
prioridade nas construções escolares:

a) serão reparados ou restaurados em


primeiro lugar os prédios que apresentarem
os índices mais baixos de segurança e
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG 31

higiene; b) em igualdade de condições, os educacional em Minas Gerais. Na Zona da Mata foram


prédios com maior número de classes em diversas as localidades que receberam essas escolas,
funcionamento (MINAS GERAIS, 1958, s/p).
que pelo fato de possuírem vedação metálica deveriam
Após a criação da CARRPE em abril de 1961, ser instalações provisórias até a construção de
primeiro ano da gestão Magalhães Pinto, é proposta edifícios definitivos. No entanto, muitas delas
uma terceira solução para inserção de escolas funcionaram por quase vinte anos, e alguns exemplares
públicas em Minas Gerais. Um plano elaborado pela se encontram em uso ainda atualmente, caso da ‘Escola
Secretaria da Viação e Obras Públicas para a de Lata’ encontrada em Itaverava (figura 36 e ficha
construção, em até um até nove meses (ou seja, até A4). Inaugurada em 1965 16 , serviu como sede da Escola
janeiro de 1962), de 400 novas unidades escolares em Estadual Conselheiro Antão até 1983, quando essa
todo o estado. Para tanto, era especificado no edital escola finalmente ganhou sua sede definitiva, em
que as unidades poderiam ser construídas em outro terreno. Atualmente, a ‗Escola de Lata‘ de
alvenaria, metal, madeira ou qualquer outro material Itaverava abriga a sede da câmara legislativa local e
que pudesse ser pré-fabricado – evidenciando aqui uma uma escola municipal de ensino infantil.
preocupação muito maior com a racionalização e
otimização do tempo de construção, de modo a tornar
viável o prazo (de menos de um ano) estabelecido. Da
mesma maneira, a preocupação com a padronização é
deixada clara no texto, que alerta que as propostas
―deverão obedecer em tudo ao projeto, detalhes e
especificações [elaborados pelo Grupo de Trabalho da
secretaria] aprovados pelo Sr. Secretario da Viação‖.

A Construtora Adersy Ltda. de Belo Horizonte,


foi a vencedora do edital de concorrência, utilizando
um sistema construtivo baseado em estrutura - pilares
e vigas de aço, com vedação – cobertura e paredes –
em telhas metálicas 15 , caracterizado por uma
Fig. 36 – ‗Escola de Lata‘ em Itaverava. Fonte: Marcelo Leite,
austeridade estética. As chamadas ‗Escolas de Lata‘,
12/09/12.
como ficaram conhecidas em todo o país (existindo
16
propostas similares em outros estados da federação, A maior parte das ‗escolas de lata‘ parece ter sido concluída
apenas em 1965, quando foram ‗recebidas‘ por engenheiros do
como São Paulo) pela sua facilidade e economia de estado. Em diversas comunicações disponíveis no Acervo Setop, são
construção, agilizaram assim, o desenvolvimento apontados como causa desse atraso o fato da Secretaria de Viação
e Obras Públicas ter demorado a divulgar a lista das cidades onde
seriam construídas as unidades, e também por inadequação de uma
15
Apesar do exemplar em estudo ter sido encontrado os materiais série de terrenos disponibilizados pelas prefeituras, que por se
básicos mencionados, sabe-se que em outras localidades, as mostraram inviáveis para construção, tiveram que ser descartados,
paredes podem ter sido executadas em alvenaria. e demandando a busca por novos locais para implantação.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG 32

Em 1968, sendo governador de Minas Gerais Israel comum nas menores cidades ou em bairros das cidades
Pinheiro e concluída a empreitada das ‗Escolas de maiores (como Viçosa); e o padrão de dois pavimentos,
Lata‘, a Campanha CARRPE, por meio da lei 4817 é implantado nas cidades de pequeno porte que contavam
transformada na Comissão de Construção, Ampliação, com um contingente populacional um pouco mais
Reparo e Conservação dos Prédios Escolares do Estado expressivo, ou em bairros de cidades de maior porte
– CARPE. Eram funções básicas da comissão, conforme o (chegando a ocorrer inclusive em cidades como Ponte
art. 3°: manter índices mínimos de segurança, higiene Nova, Juiz de Fora e Belo Horizonte). As tabelas 7 e
e eficiência em todos os edifícios escolares; 8 informam as escolas CARPE mencionadas pelos
cadastrar todos os prédios da rede estadual, com projetos de Arquitetura Moderna desenvolvidos no
informações sobre o estado de conservação e as Departamento de Arquitetura e Urbanismo da UFV.
facilidades de mão—de-obra, materiais e transporte em
Tabela 7 – Escolas padrão CARPE 1 pavimento identificadas.
todos os municípios; elaborar projetos de novas Elaborada pelo autor.
obras, ampliações e reformas; executar e fiscalizar o
processo construtivo; e projetar, fabricar e zelar Consta na pesquisa
Nome da escola
pelo o mobiliário a ser utilizado nas escolas. de Arquitetura
Cidade estadual
Moderna na região de
(ano inauguração)
(forma)
Em uma época de desenvolvimento do parque
Brás Pires São Luís (1978) Piranga (citada)
industrial nacional, a preocupação em economia para o
Catas Altas da
estado e a necessidade de construção de inúmeras Noruega (fig. 37 e
Gustavo Augusto da Piranga
Silva (1979) (inventariada)
escolas no estado, claramente identificáveis em uma ficha A7)
política reformista, demandavam a criação de um Cipotânea (fig. 38 e José Dias Pedrosa Piranga
sistema modular que pudesse facilitar um processo de ficha A6) (1978) (inventariada)
pré-fabricação in loco de um arcabouço pronto para Coimbra
Arnaldo Dias de
Viçosa (citada)
Andrade Filho
receber elementos padronizados como esquadrias, peças
sanitárias e mobiliário. Desse modo, o grupo de Prof. Biolkino de
Divinésia Ubá (inventariada)
Andrade (1979)
arquitetos e engenheiros da comissão criou projetos
Dores do Turvo Terezinha Pereira Piranga (citada)
padrão, que ficariam conhecidos como padrão CARPE, a
Mariana de Paiva
serem implantados em todo território estadual, Guidoval
(1978)
Ubá (inventariada)
substituindo as instalações provisórias (como as
José Albino Leal Viçosa
provisórias ‗escolas de lata‘, outros imóveis em Pedra do Anta
(1971) (inventariada)
condições inadequadas, imóveis que fossem alugados e Dr. Sólon Ildefonso Viçosa
Porto Firme
não propriedade do governo, etc.). (1982) (inventariada)
Ormindo de Sousa
Na região foram identificadas duas distinções São Geraldo Ubá (inventariada)
Lima (1982)
básicas do padrão CARPE, no que diz ao respeito ao Prof. João Loyola
Tocantins Ubá (inventariada)
número de pavimentos – o padrão de um pavimento, mais (1980)
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG 33

Tabela 8 - Escolas padrão CARPE 2 pavimentos identificadas.


Elaborada pelo autor.

Consta na pesquisa
Nome da escola
de Arquitetura
Cidade estadual
Moderna na região
(ano inauguração)
de (forma)
José Ermelindo de Viçosa
Araponga
Souza (inventariada)
Itaverava (fig. 39 Conselheiro Antão Piranga
e ficha A9) (1983) (inventariada)
Otávio Soares
Ponte Nova Viçosa (citada)
(1979)
Senador Firmino
Prof. Cícero Torres Piranga
(fig. 40 e
Galindo (1982) (inventariada)
ficha A8)

Fig. 39 e 40: Escolas Estaduais


Conselheiro Antão em Itaverava e Prof.
Cícero T. Galindo em Senador Firmino.
Fig. 37 e 38 – Escolas Estaduais Gustavo A. da Silva em Catas Crédito das imagens: Marcelo Leite,
Altas da Noruega e José D. Pedrosa em Cipotânea. Fonte: Marcelo 28/02/13 e 11/01/13.
Leite, 07/03/13 e 18/07/13.

O projeto padrão consiste basicamente, em dois


blocos paralelos, de um ou dois pavimentos cada,
ligados por um terceiro bloco de circulação
horizontal (e vertical nos do segundo tipo). O espaço
entre os dois blocos, com cerca de 10 metros de
largura, é utilizado como pátio de recreação. Para as
tipologias maiores, de uma forma geral, segue-se a
seguinte distribuição: no térreo ficam dispostos os
sanitários, o refeitório, a cantina, o setor
administrativo, o setor pedagógico e três salas de
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG 34

aula. No segundo pavimento, ficam dispostas as demais 1987, os novos edifícios destinados ao funcionamento
salas de aula (FERREIRA, 2006). de escolas públicas continuam a ser construídos com
base no padrão CARPE, devido a seu custo
Na concepção original do projeto, os dois blocos relativamente baixo, e uma boa aceitação por parte de
deveriam ser implantados com as maiores fachadas seus usuários.
orientadas para Norte e Sul, sendo a fachada Sul a
das maiores aberturas. A circulação entre as salas 8.2 Igrejas e Sedes Paroquiais
deveria ser feita pela face norte do edifício,
através de varandas que se prolongam por toda a Entre as ocorrências de
extensão do mesmo. Essas varandas são protegidas pela igrejas modernistas
construídas no Brasil
projeção do beiral (com balanço de 2m) e nos segundos
houve diversos casos em
pavimentos, por um guarda-corpo de 1m de altura. O que antigos templos
objetivo de se propor uma circulação aberta era católicos foram
garantir a ventilação cruzada nos diversos ambientes demolidos para dar
da escola (FERREIRA, 2006). As varandas de amplos lugar a novas
edificações (SILVEIRA,
beirais tinham ainda a finalidade de sombrear a face 2011, p. 63).
norte da edificação, mais sujeita a incidência solar,
diminuindo a temperatura interna. Na mesma lógica de Apesar das escolas de estética moderna terem
conforto térmico, eram as fachadas sul, sem sido a tipologia mais identificada nas cidades
incidência solar direta (ou seja, menor calor) que percorridas, as obras mais marcantes no contexto
deviam receber as maiores janelas, responsáveis pela local são sem dúvida as igrejas matrizes – que
iluminação natural no interior. parecem capazes de abrigar toda a população local –
sejam elas oitocentistas, ecléticas ou
O sistema construtivo compunha-se de estrutura inevitavelmente modernas, como ocorre em alguns
aparente, composta por vigas e pilares pré-fabricados municípios visitados.
em concreto armado, e laje pré-fabricada, composta
por vigotas de concreto espaçadas por uma fiada de Por meio da leitura de leitura de Marcus
tijolo cerâmico, armação e uma pequena camada de Gonçalves da Silveira: Templos modernos, templos ao
concreto. A vedação era em alvenaria de tijolo Chão: a trajetória da arquitetura religiosa
cerâmico maciço, também aparente, e a cobertura feita modernista e a demolição de antigos templos católicos
com amplas águas de telhas capa-e-canal. A ausência no Brasil (editora Autêntica, 2011), percebe-se que
de revestimentos, conferindo austeridade a todo o os edifícios religiosos não estiveram imunes a onda
conjunto. Interessante notar, para concluir, que no modernizadora, cujo mais conhecido exemplo é
período que vai desde o princípio dos anos noventa provavelmente a construção do Santuário Nacional de
até os dias de hoje, apesar da demanda ter diminuído Nossa Senhora Aparecida no município homônimo situado
significativamente e da CARPE ter sido extinta em
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG 35

no interior do estado de São Paulo (figura 41, na


página seguinte).
Fig. 51 – Santuário
O Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, Nacional de Aparecida em
construção (1957). Fonte:
conhecido popularmente por Basílica Nova de http://aparecidaantiga11.
Aparecida, foi projetado pelo arquiteto Benedito blogspot.com.br, acesso
em: 25/07/13.
Calixto de Jesus Netto entre 1947 e 1949 e possui
bastante semelhança com o Santuário Nacional da
Imaculada Conceição em Washington, este de autoria de
Charles Maginnis (1918), que apresenta uma linguagem Na região em estudo, todas as obras religiosas
eclética com motivos inspirados no românico e no catalogadas foram construídas durante o período no
bizantino 17 . Entretanto, apesar da estética da qual Dom Oscar de Oliveira esteve à frente da
Basílica de Aparecida remeter mais ao eclético do que Arquidiocese de Mariana (1960-1988), o que pode ser
propriamente ao moderno, a tecnologia e materiais mais um indício de que a intenção de modernizar as
empregados em sua construção são mais próximos dessa paróquias tenha partido ‗de cima‘ e não
segunda linguagem arquitetônica, tais como o necessariamente das comunidades locais. A primeira
acabamento em tijolo cerâmico aparente das imensas das igrejas modernas identificadas a ser inaugurada
fachadas, ou o uso de concreto armado na para se foi a Matriz de Nossa Senhora da Oliveira em 1971, na
obter a gigantesca nave, ou ainda o uso de estrutura cidade homônima (figura 42 e ficha B1). Implantada no
metálica para construção de sua torre lateral, centro da Praça Monsenhor José Justiniano Teixeira, o
chamada Torre Brasília - cuja doação de aço pela edifício configurou uma nova centralidade ao pequeno
Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) foi autorizada município, ao mesmo em que manteve de pé a antiga
pelo próprio Presidente Juscelino Kubitscheck em matriz, localizada na Praça São Sebastião, que passou
1956. E o próprio período de construção da basílica – a ser uma igreja consagrada ao Sagrado Coração de
entre 1955 e 1980 18 – coincide com o contexto Jesus (figura 43, na página seguinte).
histórico do modernismo na arquitetura brasileira, de
modo que se pode afirmar que a construção do
santuário pode ter servido como um modelo de
abrangência nacional.
Fig. 42 – Matriz de Nossa
Senhora da Oliveira (1971).
Fonte: Marcelo Leite,
07/03/13.

17
Cf. BARBOSA (2011).
18
Cf. SANTUÁRIO NACIONAL (2011).
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG 36
Fig. 63 – Acima, a atual Matriz
de Nossa Senhora da Oliveira, na
Praça Monsenhor José Justiniano Modernos, Templos ao Chão‖. Grande número de
Teixeira. Abaixo, a Antiga Matriz habitantes da cidade ainda se recente pela demolição
de Nossa Senhora da Oliveira,
atual igreja do Sagrado Coração da antiga matriz, edifício com mais de 250 anos na
de Jesus. Fonte: Cedido pela época de sua destruição, com aspetos de arquitetura
Prefeitura Municipal de Senhora
de Oliveira, 26/01/12. colonial, oitocentista e eclética (figura 46), que
parecem ser linguagens mais valorizadas como
―patrimônio‖ do que a arquitetura moderna.

Mas diferentemente do ocorrido em Senhora de


Oliveira, muitas cidades a onda modernizadora foi
acompanhada da demolição dos antigos templos de cem,
duzentos e até trezentos anos de história, quando
havia a intenção de se manter o poder religioso na
tradicional praça central - núcleo inicial das áreas Fig. 74 – Atual Matriz
urbanas. Os outros três exemplos encontrados na de Nossa Senhora da
Conceição em Piranga.
região pesquisada correspondem a esse caso: são as Fonte: Marcelo Leite,
Matrizes de Piranga, Brás Pires e Lamim. 15/12/12. Fig. 45 –
Vista panorâmica da
A Matriz de Nossa Senhora da Conceição de matriz e seu entorno.
Fig. 46 – Antiga
Piranga, foi inaugurada em 1975 (figura 44 e ficha matriz, demolida em
B2) e desde então, uma parte da população local é 1969 para construção
da nova igreja. Fonte:
bastante hostil à arquitetura moderna do templo, Arquivo do
considerando-a de extremo mau gosto, o que pode ser Conhecimento ‗Cláudio
em parte explicado pela questão da escala Manoel da Costa‘.
―desproporcional‖ entre o edifício e seu entorno com
muitas características remanescentes dos séculos
XVIII, XIX e início do XX (figura 45), fato comentado
no livro de Marcus Gonçalves da Silveira (2011, p.
33) ―igrejas modernistas incrustadas em típicas
praças do interior foram realmente capazes de
produzir inquietação‖, sendo que o caso de Piranga
chega inclusive a ser mencionado em ―Templos
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG 37

Destaca-se ainda na história da construção da


moderna matriz em Piranga, a atuação tanto de
profissionais de abrangência regional região, como
Hilton Grossi 19 - autor do projeto arquitetônico -
quanto de profissionais de grandes centros, como
Leopoldo Schimmelpfeng 20 - responsável pelo cálculo
estrutural da nova igreja. Da mesma forma, em Brás
Pires, consta no acervo da sede paroquial que o
projeto da atual Matriz de Nossa Senhora do Rosário,
inaugurada em 1980 (figura 47 e 48 e ficha B4), foi
elaborado por Monsenhor Guilherme Schubert 21 e
executado pela construtora Boratto & Cia, de
Fig. 47: Atual Matriz de Nossa Senhora do Rosário em Brás
Barbacena, que esteve envolvida na construção das Pires. Fonte: Marcelo Leite, 26/01/12. Fig. 48: Antiga matriz,
quatro igrejas catalogadas22. demolida em 1973. Fonte: disponível em:
http://www.facebook.com/bras.pires, acesso em: 03/07/13.

A Matriz do Divino Espírito Santo em Lamim (figuras


49 e 50 na página seguinte e ficha B3), apesar de sua
estética mais próxima do ecletismo do que do
19
Hilton da Paixão Grossi (c. 1930-2012) era natural de Mercês- modernismo propriamente dito, revelou uma grande
MG e formou-se arquiteto pela antiga Faculdade de Engenharia de
Juiz de Fora. Nos anos 50, mudou-se para Barbacena, onde foi semelhança com a Igreja de São João Batista em
professor da EPCAR – Escola Preparatória de Cadetes do Ar e Conselheiro Lafaiete (figura 51) e levanta a suspeita
projetou o restaurante Cabana da Mantiqueira, entre outras obras de ter se utilizado o mesmo projeto para as duas 23 e
na cidade. Chegou a desenvolver projeto para a residência de um
político egípcio, no Cairo, aparentemente não executado Cf. semelhanças mesmo com a Igreja de Nossa Senhora do
FALECE... (2012). Carmo em Belo Horizonte (figura 52), que pode ter
20
Leopoldo Schimmelpfeng era engenheiro civil e residia no Rio de
Janeiro, onde se sabe que trabalhou na Divisão de Águas (órgão do servido de ‗inspiração‘ para o projeto das
24
então Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio) entre as supracitadas .
décadas de 1930 e 1950, pelo menos. Também colaborou com o
cálculo estrutural do Edifício Jardim Amazonas, em Copacabana,
projetado por Álvaro Vital Brasil em 1962 e construído em 1969.
Para mais informações, consultar CZAJKOVSKI (2001). 23
A matriz em Lamim foi inaugurada em 1976, enquanto que a igreja
21
Monsenhor Guilherme Schubert (1913-1998) era Doutor em Teologia em Conselheiro Lafaiete parece ter sido inaugurada em 1970,
e entre os anos 1960 a 1990 exerceu diversas funções tais como as segundo consta no site da paróquia
de Presidente da Comissão de Arte e Música Sacra do Rio de (http://paroquiasj.no.comunidades.net) acessado em 25/07/13. As
Janeiro, arquivista do Cabido Metropolitano do Rio de Janeiro e matrizes de Senhora de Oliveira e Brás Pires também apresentam
membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Cf. HAZAN uma semelhança considerável.
(2013) e PEREIRA (2013). 24
A Igreja de Nossa Senhora do Carmo em Belo Horizonte foi
22
Além da Construtora Boratto & Cia. são mencionados os nomes dos construída entre 1946 e 1963, conforme o site da paróquia
engenheiros José Boratto e Humberto Wilke Boratto, em toda (http://igrejadocarmo.com.br/sobre-a-paroquia.html) acessado em
documentação consultada nas quatro cidades: Piranga, Senhora de 25/07/13, portanto sete anos antes das obras parecidas
Oliveira, Brás Pires e Lamim. identificadas na região em estudo.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG 38

Além das igrejas, muitas sedes paroquiais também


foram construídas durante o período em análise,
acompanhando as características e tendências da
arquitetura residencial do período moderno (tema do
próximo subcapítulo), sendo catalogas pela pesquisa
dois exemplares: a Sede da Paróquia do Divino
Espírito Santo em Lamim, inaugurada em 1968 (figura
53 e ficha B5) e a Sede da Paróquia de São Gonçalo do
Amarante em Catas Altas da Noruega, inaugurada em
1973 (figura 54 e ficha B6).

Fig. 53: Sede da Paróquia


do Divino Espírito Santo em
Lamim. Fig. 54: Sede da
Paróquia de São Gonçalo do
Amarante. Fonte: Marcelo
Leite, 07 e 15/03/13.

Fig. 49: Atual Matriz do Divino Espírito Santo em Lamim. Fonte:


Marcelo Leite, 24/08/12. Fig. 50: Imagem tirada entre 1964 e
1967 mostrando a igreja antiga (oitocentista, à frente) e a
igreja nova (moderna, atrás). Fonte: Cedida pela Sede da
Paróquia do Divino Espírito Santo, 15/03/13. Fig. 51: Igreja de
São João Batista em Conselheiro Lafaiete. Fonte: disponível em:
http://paroquiasj.no.comunidades.net, acesso em 25/07/13. Fonte:
52: Igreja de Nossa Senhora do Carmo em Belo Horizonte, que se
diferencia de suas versões menores apenas na torre que é lateral
ao invés de central, e é claro, num acabamento mais apurado.
Fonte: disponível em: http://www.arquidiocesebh.org.br, acesso
em 25/07/13.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG 39

8.3 Residências Com base na bibliografia mencionada, elaboramos


a tabela 9, que compara o número de as
Causas para a características modernas incorporadas as
disseminação e
popularização da
residências analisadas com o número de
estética moderna: os características tradicionais que persistiram em
grandes edifícios tais construções.
públicos modernos; as
mídias; as redes Tabela 9 – Características modernas e tradicionais identificadas
pessoais de amigos e na tipologia residencial (6 casas avaliadas no total). Elaborada
parentes; e a imitação pelo autor com base em LARA (2008).
de construções vizinhas
Características N° Características N°
(LARA, 2008, p. 62). modernas casas tradicionais casas
Marquises ou
As obras de caráter mais popular encontradas Varanda com
varandas em 6 0
telhado.
foram as residências, as quais quase sempre eram concreto armado
Aberturas Aberturas
construídas pelos proprietários com a ajuda de um assimétricas na 6 simétricas na 0
mestre de obras ou construtor licenciado, sem a fachada. fachada.
participação direta de arquitetos ou engenheiros no Placas
cerâmicas,
processo. Na região de abrangência desta pesquisa, Fachada
pastilhas, pedra
5 revestida apenas 1
foram seis as residências catalogadas dentro de um São Tomé à vista
com pintura.
ou azulejos na
conjunto bastante amplo. fachada.
Pequeno corredor
Um ponto a ser destacado é o fato de que, nas articulando o
4
Quartos abrindo
2
residências se torna mais evidente que a modernização acesso à áreas para salas.
privadas.
empreendida muitas vezes era muito mais de caráter Telhado
Telhado
estético e ‗de fachada‘ do que propriamente uma invertido 3
triangular (duas
3
ou quatro
modernização de caráter funcional ou ‗na planta‘, (borboleta).
águas).
conforme analisado pela referencia básica consultada Volume Volume
2 4
para essa tipologia, o livro The Rise of Popular trapezoidal. quadrangular.
Cozinha próxima Cozinha nos
Modernist Architecture in Brazil, do professor do setor social.
1
fundos.
5
Fernando Luiz Lara:

O interior das casas muitas vezes continuava Por meio da tabela 9, verifica-se que todas as
a seguir uma distribuição espacial
residências analisadas incorporam a técnica de
remanescente do século XIX – com quartos se
abrindo para as salas de jantar e áreas construção em concreto armado, apresentando lajes e
molhadas (cozinha e banheiros) localizadas marquises feitas desse material; a despreocupação com
no fundo das residências (LARA, 2008, p.9). a simetria na fachada também é outra unanimidade
encontrada. A maioria confirmou o ‗modernismo de
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG 40

fachada‘ por meio da utilização de materiais de Em relação à distribuição espacial, a maior


acabamentos típicos, como as placas cerâmicas, parte das habitações mostrou em suas plantas sinais
pastilhas, a pedra São Tomé à vista e azulejos; a de modernização ao proporcionarem maior privacidade
única exceção encontrada nesse ponto foi a residência ao setor íntimo. Contudo, coberturas em duas águas e
do Padre Pedro Maciel Vidigal 25 em Presidente volumetrias quadrangulares se mostraram alguns dos
Bernardes (figura 55 e ficha C2) que, entretanto aspectos que mais se mantiveram tradicionais nas
apresentou em seu interior um interessante mobiliário moradias estudadas. Nesse sentido, as residências de
e acervo artístico típico do período moderno (figura José Ribeiro de Magalhães em Brás Pires (figuras 57 e
56). 58 ficha C1) e de José Dionísio Milagres em Piranga
(figuras 59 e 60 e ficha C6) revelaram um verdadeiro
paradoxo, ao serem obras que apresentam uma planta
mais tradicional (com a maior parte dos quartos se
abrindo para as salas de estar de jantar) ao mesmo
tempo em que foram as duas únicas moradias que
apresentam uma volumetria nitidamente trapezoidal
característica da arquitetura moderna.

Fig. 55: Residência Padre Pedro Vidigal (1961) em Presidente


Bernardes. Fig. 56: Luminária remanescente dos anos 60, cujo
design é inspirado na forma de um satélite. Fonte: Marcelo
Leite, 26/01/13.

Fig. 57 e 58: Residência José R. de Magalhães em Brás Pires


25
O qual durante o mandato como Deputado Federal viabilizou a (1960), fachada frontal e croqui da volumetria. Fig. 59 e 60:
construção - com verba da União - da atual Escola Estadual Padre Residência José D. Milagres em Piranga (1969): fachada frontal e
Vicente Carvalho em Presidente Bernardes, a qual foi abordada no croqui da volumetria Fonte: Marcelo Leite, 15/12/12 e 28/06/13.
subcapítulo 8.1 deste relatório.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG 41

Em relação a disposição do setor social nas localizam na mesma rua, onde existe outra obra com
plantas, a residência que mais revelou avanços foi a características modernas (figura 65).
de Custódio Fernandes Cabral em Senador Firmino
(figuras 61 e 62 e ficha C4): apresenta sala de estar
e jantar integrada e cozinha próxima ao setor social, Fig. 63 e 64:
Residências José
características encontradas apenas nessa obra dentre Damasceno Couto Pai
as analisadas. (1962) e Filho (1966)
em Alto Rio Doce. Fig.
65: Vista de outra
residência de estética
moderna, vizinha à
residência José
Damasceno Couto Pai.
Fonte: Marcelo Leite,
23/04/13.

Fig. 61 e 62:
Residência Custódio F.
Cabral em Senador
Firmino (1963):
Fachada frontal e
croqui da planta
baixa. O ambiente n° 9
é a sala de estar-
jantar e o ambiente n°
2 é a cozinha.
Fonte: Marcelo Leite,
10/01/13.

Finalizando, as residências de José Damasceno


Couto (figura 63 e ficha C3) e José Damasceno Couto
Jr. (figura 64 e ficha C5) em Alto Rio Doce,
evidenciam duas das quatro principais formas de
propagação da arquitetura residencial moderna: as
redes de parentes e amigos (visto que pai e filho
construíram para si casas nessa linguagem) e a
imitação de obras vizinhas - as residências se
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG 42

8.4 Sedes de Prefeituras Municipais e Fóruns de paredes externas (à frente destas), sugerindo algum
Comarca tipo de modulação. A obra se destaca por ser uma das
duas obras dentre todo o conjunto catalogado que foi
Foram identificadas e catalogadas três sedes de inventariada pelo poder público local, em 2012 26.
Prefeituras Municipais – em Dores do Turvo, Porto
Firme e Brás Pires, e dois Fóruns - das Comarcas de A sede da Prefeitura Municipal de Brás Pires
Senador Firmino e Piranga. A sede da Prefeitura (figura 69 e ficha D3), construída na década de 1980,
Municipal de Dores do Turvo (figura 66 e ficha D1) já possui três pavimentos (as anteriores possuíam
possui elementos característicos do modernismo, como apenas dois) e o programa de necessidades
marcação das esquadrias sugerindo ritmo e modulação, estabelecido no projeto original buscava integrar à
simetria nas fachadas frontal e lateral direita, o sede da Prefeitura outros serviços públicos, tais
telhado tipo ‗borboleta‘, etc, bem como os materiais como agência bancária, agência de correio, posto
e tecnologias empregados - construção em concreto telefônico, delegacia de polícia e um salão para
armado, esquadrias metálicas, tacos de madeira, pisos cerimônias ou festividades públicas. As
em cerâmica São Caetano, cobogós cerâmicos, etc. características formais também são um pouco
(figura 67). diferentes, neste caso a modulação está expressa no
ritmo entre as áreas de chapisco grosso pintadas de
amarelo e as áreas revestidas com tijolo cerâmico
avermelhado. Janelas metálicas estão centralizadas
nos planos de tijolos. A cobertura é em uma água com
telha de fibrocimento (talvez um novo material no
contexto histórico da construção).

Fig. 66 – Sede da Prefeitura Municipal de Dores do Turvo


(1969). Fig. 67 - Escada que conduz do hall de entrada à
recepção, destacando-se o uso da cerâmica São Caetano no piso e
o cobogó esmaltado em azul e amarelo como guarda-corpo da
escada. Fonte: Marcelo Leite, 19/01/12.

A sede da Prefeitura Municipal Porto Firme


(figura 68 e ficha D2) foi implantada num lote com
pequena inclinação no sentido fundos-testada, com uma Fig. 68 – Sede da Prefeitura Municipal de Porto Firme (1981).
planta baseada em um amplo hall (no térreo e Fig. 69 - Sede da Prefeitura Municipal de Brás Pires (1981).
pavimento superior), a partir do qual se distribuem Fonte: Marta Camisassa, 29/05/12 e Marcelo Leite, 27/01/12.
as repartições públicas e os serviços de apoio. As 26
A outra obra é a Matriz do Divino Espírito Santo em Lamim
fachadas frontais e laterais apresentam elementos de (abordada no subcapítulo anterior) bem como a praça homônima que
concreto (pilares e/ou ‗brises‘) destacados das compõe seu entorno, inventariadas em 2010 e 2012,
respectivamente.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG 43
Fig. 70 – Fórum
Dr. Raul de
Já os Fóruns de Comarca, subordinados ao Barros Fernandes
em Senador
Tribunal de Justiça de Minas Gerais, foram Firmino (1986).
construídos por iniciativa do governo estadual, com Fonte: Marcelo
Leite, 19/01/12.
base em projetos arquitetônicos, estruturais (e em Fig. 71 – Fórum
alguns casos até mesmo de paisagismo e mobiliário) Dr. Luiz Romualdo
elaborados pela então Secretaria Estadual de Obras da Silva em
Piranga (1982).
Públicas – SEOP, e executados em todo estado pela Fonte: Marcelo
Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado de Leite, 15/12/12.
Minas Gerais – CODEURB. Os projetos estaduais eram
chamados de ‗projetos-padrão‘, uma vez que
deveriam/poderiam ser implantados em diversas
localidades do estado, numa tentativa de suprir de
forma mais rápida a grande demanda verificada nos
municípios. Podem ser inseridos, portanto, na mesma
lógica da construção dos edifícios escolares,
abordada no subcapítulo 8.1.

O Fórum Dr. Raul de Barros Fernandes, sede da


Comarca de Senador Firmino (figura 70 e ficha D4),
embora seja a última sede moderna construída na
região em estudo (1986), adota características comuns
das décadas anteriores, como as lajes inclinadas, as
marquises esbeltas e os pilares também esbeltos em
Durante o estudo dos desenhos técnicos do fórum
‗V‘ (presentes na varanda lateral), além de brises
de Piranga (disponíveis no arquivo da comarca),
verticais e horizontais. Já o Fórum Dr. Luiz Romualdo
descobriu-se que além de Piranga (Zona da Mata), a
da Silva, sede da Comarca de Piranga (figura 71 e
obra-padrão estava prevista para ser executada nas
ficha D5) destacou-se pela qualidade dos espaços e
seguintes cidades: Boa Esperança e Campestre (Sul de
grandes vãos para aberturas (‗peles de vidro‘ e
Minas); Campina Verde (Triângulo Mineiro); Coração de
‗janelas em fita‘); por associar outras artes e
Jesus (Norte de Minas); Medina (Jequitinhonha) e
técnicas para compor sua arquitetura (como o
Perdões (Oeste de Minas), conforme é descrito no
paisagismo) e tirar partido da estrutura para fazer a
projeto arquitetônico. Foi perceptível ainda, certa
composição artística, utilizando-se os pilares de
semelhança entre o Fórum de Piranga e os Fóruns da
concreto parar compor uma arcada/colunata que envolve
Comarca de Teixeiras e Ervália (figuras 72 e 73, na
o edifício.
página seguinte), municípios localizados a 12 e 33 km
de Viçosa, respectivamente. Descobriu-se como autor
da obra um arquiteto de maior renome – Cuno Lussy,
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG 44

que teve inclusive seu nome adicionado por Carlos 8.5 Hospitais e Postos de Saúde
Krouaner no Dicionário Enciclopédico de Arquitetura
de Nikolaus Pevsner, John Fleming e Hugh Honour, Prosseguindo com o enfoque nas obras de uso
quando da tradução, revisão e ampliação do dicionário público, a presente pesquisa encontrou também
para a língua portuguesa, em 197727. dois exemplares de arquitetura hospitalar, sendo
também nesse ponto uma importante complementação
às pesquisas anteriores da mesma linha, que já
haviam identificado outras obras da área de
saúde. Um resumo das obras identificadas dessa
tipologia é apresentado na tabela 10.

Tabela 10 – Exemplares de arquitetura hospitalar identificados.


Elaborada pelo autor.

Obra Cidade Inauguração Consta na


Fig. 72 – Fórum
pesquisa de
Governador Bias Fortes
Arquitetura
em Teixeiras (1978).
Moderna na
Fonte: Tamyres Silveira,
região de
22/08/10. Fig. 73 –
/forma
Fórum Felício
Vasconcellos em Ervália Hospital Guaraciaba 1956 Viçosa/
(1979). Fonte: Santana inventariado
disponível em: Hospital São Senador 1958 Piranga/
http://www.latinoamerica João de Deus Firmino inventariado
24.com, acesso em Posto de Piranga 1961 Piranga/
26/07/13. Saúde Dr. inventariado
Sólon
Ildefonso
Centro de Viçosa 1964 Viçosa/
Saúde inventariado
Posto Médico Ubá 1968 Ubá/
Odontológico inventariado
do IPSEMG
Maternidade Ubá 1969 Ubá/ citado
e Hospital
27 Infantil
O Dicionário Enciclopédico de Arquitetura revela que Cuno Lussy Santa Isabel
nasceu no Rio de Janeiro em 1921. Filho de suíços - radicou-se em Anexo do Visconde do 1984 Ubá/
Belo Horizonte desde 1941, onde se formou arquiteto em 1948 pela Hospital São Rio Branco inventariado
Escola de Arquitetura da UFMG, onde também lecionou João Batista
posteriormente. Preocupa-se com os aspectos construtivos e
apresenta inovações técnicas interessantes quanto ao conforto
ambiental e a novas formas de emprego de materiais tradicionais.
São exemplos de sua arquitetura os projetos da Escola de Tais obras são mais um exemplo
Veterinária da UFMG, em Belo Horizonte, e uma fazenda em São empreendimentos governamentais construídos numa
Pedro dos Ferros. (PEVSNER et al., 1977, p.169).
tentativa de suprir a enorme carência da
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG 45

população de certos serviços básicos, sendo os trabalhou para o então Departamento de


da relacionados à saúde um dos mais essenciais. Engenharia Sanitária (D.E.S.) da Secretaria
Uma das primeiras iniciativas partiu do governo Estadual de Saúde e Assistência - a padronização
federal, por meio do já mencionado Padre Pedro parece ter sido executada também no município de
Maciel Vidigal 28 , ao tomar iniciativa de Lagoa Santa, conforme os desenhos técnicos
construir o Hospital Santana em Guaraciaba encontrados no Acervo Setop.
(figura 74).

Fig. 75 – Posto de
Saúde Dr. Sólon
Ildefonso em
Piranga. Fonte:
Marta Camisassa,
29/05/12. Fig. 76 -
Posto Médico
Odontológico do
IPSEMG em Ubá.
Fonte: Cedido pelo
Arquivo Histórico
de Ubá, 29/02/12.
Fig. 74 – Hospital Santana em Guaraciaba. Fonte: Tamyres
Silveira, 31/01/11.

Em Piranga, mais uma descoberta de projeto-


padrão: um Posto de Higiene, mais tarde
rebatizado como Posto de Saúde Dr. Sólon
Ildefonso (figura 75 e ficha E2). Com autoria do Em Ubá, a construção de um Posto Médico
arquiteto Galileu Reis 29 - que nos anos 1950 Odontológico (figura 76) do IPSEMG – Instituto
de Previdência dos Servidores do Estado de Minas
28
Natural de Presidente Bernardes, onde também viabilizou a
construção da Escola Estadual Padre Vicente Carvalho (ver
Gerais em 1968 já sugere uma importância
subcapítulo Escolas) e cuja casa foi catalogada pela presente regional. A fachada os materiais tradicionais do
pesquisa (ver subcapítulo Residências). contexto moderno - concreto armado, acabamento
29
Galileu Reis trabalhou também como professor da Escola
de Arquitetura da UFMG, na Fundação João Pinheiro e no em pedra São Tomé à vista, tijolos cerâmicos
IEPHA – Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e aparentes e pastilhas. Brises horizontais fixos
Artístico de Minas Gerais, conforme disponível em:
http://www.iepha.mg.gov.br, acesso em 31/05/13.
protegem a janela da copa dos raios solares nos
horários mais quentes, além de tornar o espaço
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG 46

mais reservado. Na porta de acesso há uma 8.6 Edifícios Industriais


considerável marquise junto à entrada.
Finalizando a apresentação dos resultados,
A pesquisa se deparou ainda com casos em encontramos em Dores do Turvo, um antigo Posto
que a construção e a manutenção de hospitais não de Recebimento e Resfriamento de Leite da
se restringiram apenas a empreendimentos do Cooproleite Muriaé (ficha F1) atualmente
poder público. Houve também a atuação das desativado e convertido em garagem da frota de
associações de caridade locais, como a São João veículos da Prefeitura Municipal. Inaugurado em
de Deus, em Senador Firmino, construtora e 1976, o conjunto compreendia, além das
mantenedora do Hospital São João de Deus, instalações próprias para o recebimento e
construído em 1958 (figura 77 e ficha E1) e a resfriamento da matéria-prima, um laboratório
Associação Beneficente Católica, em Ubá, para análise e fiscalização da qualidade do
construtora e mantenedora do Hospital Santa leite e um escritório de representação da
Isabel, construído entre 1963 e 1969 (figura cooperativa no município (figuras 79 e 80), e um
78). mercado para venda de gêneros alimentícios e
suplementos para gado (figura 81, na página
seguinte).
Fig. 79 – Posto de
Recebimento e
Resfriamento da
Cooproleite Muriaé em
Dores do Turvo. Fig.
80 – Detalhe do
balanço de cerca de
3m da marquise do
edifício principal.
Fonte: Marcelo Leite,
18/09/12.

Fig. 77 – Hospital São


João de Deus em Senador
Firmino. Fonte:
Marcelo Leite 10/01/13.
Fig. 78 – Hospital
Santa Isabel em Ubá.
Fonte: disponível em:
http://www.hospitalsant
aisabel.com.br, acesso
em: 29/02/12.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG 47

Fig. 82 e 83 – Fotografias
Fig. 81 – Antigo mercado do Posto de Recebimento e Resfriamento da inauguração do posto da
da Cooproleite Muriaé em Dores do Turvo, atualmente convertido na Cooproleite em Bicuíba,
sede do ―Clube da Melhor Idade‖. Fonte: Marcelo Leite, 10/01/13.
distrito do município de
Raul Soares, nos dão uma
noção da importância
socioeconômica de tal
O edifício servia como ponto de coleta da atividade no contexto
produção leiteira dos municípios de Dores do histórico local. Fonte:
Turvo, Senador Firmino, Alto Rio Doce, Brás http://professorelizeu-
geografia.blogspot.com.br,
Pires, Cipotânea e Senhora de Oliveira,
acesso em: 01/06/13.
refletindo mais uma proposta de modernização,
desenvolvimento e integração econômica na região
da Zona da Mata mineira. Do posto de Dores do
Turvo, o leite depois de resfriado era Em 1989 a unidade da Cooproleite em Dores do
transferido para Muriaé para ser transformado Turvo foi vendida a SPAM – Sociedade Produtora de
nos produtos Tartaruga (leite, queijo, manteiga, Alimentos Manhuaçu, que em 1993 foi comprada pela
etc.), ou era comercializado com outras empresas Parmalat 31 , que assumiu o controle sobre todas as
como a SPAM 30 . Além de Dores do Turvo, tem-se unidades da antiga empresa. Entretanto, apenas quatro
conhecimento de pelo menos mais outro posto de anos depois (1997) a Parmalat encerrou as atividades
recebimento de leite da empresa, em Bicuíba, da unidade em Dores do Turvo, e o terreno - conforme
distrito do município de Raul Soares (figuras 82 contrato estabelecido entre a Prefeitura Municipal e
e 83). a antiga Cooproleite Muriaé - retornou ao poder
público, que atualmente utiliza a área do galpão e do
bloco principal como garagem da frota municipal. O
mercado e o jardim existente em sua lateral foram
cedidos ao CMI - Clube da Melhor Idade de Dores do
30
A SPAM - Sociedade Produtora de Alimentos Manhuaçu - por sua Turvo.
vez, era conhecida por produzir a manteiga Mimo e o leite Toda
Vida, possuindo diversas unidades nos estados de Minas Gerais,
31
Rio de Janeiro e Espírito Santo. Cf. SERRA (2012). Cf. SERRA (2012).
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG 48

9. CONSIDERAÇÕES FINAIS Foi comum que obras nos dessem a impressão de


serem modernas apenas pelas suas fachadas, às vezes
Através da análise empreendida, percebemos o apenas pela sua fachada frontal, enquanto que a
poder de influencia que as linguagens arquitetônicas, solução espacial ou formal adotada (volumetria,
especialmente o modernismo, cuja origem deu-se em implantação, plantas baixas) ainda remetia a um
outros países (e no Brasil chegaram primeiramente às contexto mais tradicional ou antigo, conforme foi
grandes capitais estaduais) conseguiram infiltrar-se detalhado na seção que apresentou a arquitetura
no modo de construir tradicional, avançando através residencial. De qualquer forma, houve uma grande
do interior do país. De forma recíproca, constatamos reprodução de formas, materiais, imagens, cores, etc,
como os diferentes métodos tradicionais e as que por mais que não trouxessem consigo o ‗ideal de
especificidades de cada local, também implicaram numa um movimento‘ arquitetônico e fossem apenas
adaptação das novas linguagens que chegavam. ‗modismos‘, nos revelam a imensa capacidade de
reprodução em massa da arquitetura. A tabela 11
Acredita-se que muitos elementos arquitetônicos,
mostra a ocorrência nas obras catalogadas de alguns
bem como materiais e tecnologias empregados, podem
elementos modernos que se tornaram bastante populares
ter sido usados não pelo seu caráter funcional, mas
ao longo dos anos 1950 a 1980.
talvez apenas para fins estéticos – advindos de uma
necessidade em se evidenciar a ‗modernização local‘ Tabela 11 – Elementos modernos popularizados e sua ocorrência nas
no momento de construção. Um exemplo está no uso dos 29 obras catalogadas. Elaborada pelo autor com base em LARA
(2008) e NIEMEYER (1957).
brises – ―elemento arquitetônico de proteção com a
finalidade principal de interceptar os raios solares, Elementos modernos popularizados N° obras
quando estes forem inconvenientes‖ (Cf. CORONA e Marquises, varandas, balanços ou casca s em
21
concreto armado
LEMOS, 1972, p.81) - que com a popularização da
Janelas ‗em fita‘ 12
arquitetura moderna, passou a ser utilizado apenas
Telhado invertido (borboleta) 8
com a finalidade de compor esteticamente as fachadas,
Paredes inclinadas 5
e não necessariamente por sua finalidade técnica
Brises 5
(figuras 84 e 85).
Figs. 84 e 85 - Pilar metálico em ‗V‘ 3
Exemplos de Murais externos decorativos 3
brises de
concreto no
entorno das
janelas (escola Também cabe aqui comentar sobre os processos de
em Rio Espera e construção adotados. Quando se aborda o tema da
casa em Brás arquitetura moderna, embora muito se comente a
Pires). Fonte: respeito de racionalização e pré-fabricação em
Marcelo Leite,
15/03 e
relação ao processo construtivo, comprovamos que em
28/06/13. muitos casos o processo de construção – a técnica da
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG 49

produção da estrutura em concreto armado in loco, por Tabela 12 – Materiais modernos popularizados e sua ocorrência nas
29 obras catalogadas. Elaborada pelo autor.
exemplo, (figuras 86 a 88) - ainda era (e é) mais
artesanal do que racionalizada. Acabamentos modernos popularizad os N° obras
Janelas metálicas 29
Estrutura em concreto armado 28
Telha metálica ou de fibrocimento 13
Piso em tacos de madeira 11
Azulejo placas 15x15 cm (branco ou amarelo) 11
32
Piso em cerâmica São Caetano (fig. 89) 9
Piso em ladrilho hidráulico 33 (fig. 90) 7
34
Painel de cobogós (fig. 91) 6
Parede c/ pedra São Tomé à vista (fig. 92) 6
Parede c/ placas cerãmicas retangulares 6
Parede em tijolo aparente 5
Figs. 86 a 88: montagem da Piso ‗granilite‘ 5
estrutura de concreto armado Parede revestida c/ pastilhas 35 3
na Escola Estadual Mons. Piso em pedra polida 3
Francisco Fernandes em Rio
Espera (1961-1966), Matriz
do Divino Espírito Santo em
Lamim (1964-1976) e Sede da
Prefeitura Municipal de Brás
32
Pires (1980-1891). Fonte: A Cerâmica São Caetano era a maior e a mais tradicional
Cedido pelas respectivas fabricante de artefatos cerâmicos dos anos 50. Cf. SEGAWA, H.
Oswaldo Arthur Bratke: Vila Serra do Navio e Vila Amazonas. In:
instituições.
GUERRA, A. (Org.). Textos fundamentais sobre a história da
arquitetura moderna brasileira. São Paulo: Romano Guerra, 2010,
v. 2, p. 130. Com o tempo, passou a ser um modismo o uso da
cerâmica quebrada em pequenos pedaços de várias cores (mais
Outro ponto a ser destacado é a utilização de comuns vermelho, amarelo e preto) formando verdadeiros mosaicos.
33
Ladrilho hidráulico: placas de cimento decoradas, utilizadas
materiais, que da mesma forma que os elementos para dar acabamento aos pisos que necessitam ser
arquitetônicos, também acabaram se tornando muito impermeabilizados, tais como pátios, copas, cozinhas, banheiros,
etc. Cf. CORONA e LEMOS, 1972, p. 294.
recorrentes nas obras modernas, e que se destacam por 34
Cobogó, combogó ou combogê: tijolo furado ou elemento vazado
uma qualidade considerável, em muitos casos superior feito de cimento empregado na construção de paredes perfuradas,
a dos atuais materiais de acabamento. A tabela 12 cuja função principal seria a de separar o interior do exterior,
sem prejuízo da luz natural e da ventilação. Cf. CORONA e LEMOS,
apresenta esses materiais comuns na arquitetura 1972, p.138.
35
moderna, e sua ocorrência nas obras catalogadas. Pastilha: pequena peça de revestimento, quadrada ou hexagonal,
de cerâmica, porcelana ou vidro, de diminuta espessura. Na
Arquitetura Moderna brasileira, muito empregadas no revestimento
externo de edifícios. Cf. CORONA e LEMOS, 1972, p. 362.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG 50

presenciados em outras obras contemporâneas de pouca


qualidade. As visitas também influenciaram a postura
de muitos servidores públicos locais, que foram
induzidos a voltar o olhar para os edifícios, fato
que pode incentivar uma política de
resgate/organização dos arquivos públicos e mesmo a
criação de instituições/ações municipais que
resguardem a história local.

10. REFERÊNCIAS BILIOGRÁFICAS

ALMG. Assembléia Legislativa do Estado de Minas


Gerais. Denominações Urbanas. Disponível em
http://www.almg.gov.br, acesso em 20/11/11.

ALONSO, P. H. (Org.). Cataguases – Arquitetura


Modernista: Guia do Patrimônio Cultural. Cataguases: IEDS,
2009.

ARRUDA, A. M. A popularização dos elementos da casa


Figs. 89 a 92: Alguns dos materiais mais comumente empregados:
moderna em Campo Grande, Mato Grosso do Sul. In:
piso em mosaico de Cerâmica São Caetano (Residência José D. Couto Arquitextos, Portal Vitruvius, abr. 2004. Disponível em:
– Alto Rio Doce); piso em ladrilho hidráulico (Matriz do Divino http://www.vitruvius.com.br/revistas, acesso em: 14/06/12.
Espírito Santo – Lamim); cobogó cerâmico (Escola Estadual Padre
Vicente Carvalho – Presidente Bernardes) e pedra São Tomé à vista
BARBOSA, A. M. L. Basílica de Aparecida é cópia
(Sede da Paróquia de São Gonçalo do Amarante – Catas Altas da
adaptada do Santuário de Washington D.C. In: O Lince,
Noruega). Fonte: Marcelo Leite, 26/01, 07/03, 15/03 e 23/04/13.
História, cultura e educação, mai./jun. 2011. Disponível
em: http://www.jornalolince.com.br, acesso em: 25/07/13.
Por fim, passamos a compreender melhor o risco
decorrente da descaracterização/falta de manutenção BARBOSA, W. A. Dicionário Histórico e Geográfico de
em que se encontram muitas obras. Contudo, um dos Minas Gerais. Belo Horizonte: Promoção da Família, 1971.
mais importantes resultados dessa pesquisa é algo que
BOMENY, H. O Brasil de JK - educação e
denominamos ‗educação patrimonial instantânea‘ - desenvolvimento: o debate nos anos 1950. Disponível em:
Nossa passagem por cada uma dessas cidades despertou http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/JK/artigos/Educacao/A
a curiosidade dos moradores locais, curiosidade essa nos1950, acesso em: 22/07/13.
que logo se transformou em interesse através do (re)
CORONA, C; LEMOS, C. Dicionário de Arquitetura
conhecimento das obras modernas de qualidade como de Brasileira. São Paulo: Edart, 1972.
importância para a cidade – ou servindo como um
alerta aos verdadeiros ‗absurdos construtivos‘
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG 51

CZAJKOVSKI, J. Guia da Arquitetura Moderna no Rio de GOLDEMBERG, J. O repensar da educação no Brasil.


Janeiro. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2001. Estudos Avançados, São Paulo, v. 17, n. 18, mai./ago.
1993, p. 65-137.
ESTAÇÕES Ferroviárias do Brasil: Conselheiro
Lafaiete. Disponível em: GOMBRICH, E. H. A Era da Razão. In: _____________. A
http://www.estacoesferroviarias.com.br, acesso em: História da Arte. 16. Ed. Tradução de Álvaro Cabral. Rio
26/07/12. de Janeiro: LTC, 2011, p. 457-473.

______________________________________: Ponte Nova. _______________. A Ruptura na Tradição. In:


Disponível em: http://www.estacoesferroviarias.com.br, _____________. A História da Arte. 16. Ed. Tradução de
acesso em: 26/07/12. Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: LTC, 2011, p. 475-497.

FALECE o arquiteto Hilton Grossi. Barbacena Online, GUERRA, A. (Org.). Textos fundamentais sobre a
09/10/2012. Disponível em: história da arquitetura moderna brasileira. São Paulo:
http://www.barbacenaonline.com.br, acesso em 31/01/13. Romano Guerra, 2010.

FERREIRA, F. C. Procedimento de avaliação de conforto HAZAN, M. C. O acervo musical do arquivo do cabido


ambiental e eficiência energética aplicado a um caso metropolitano do Rio de Janeiro. Disponível em:
típico da Rede Estadual de Escolas Públicas de Minas http://www.acmerj.com.br/CMRJ_HIST.htm. Acesso em:
Gerais. 2006. 251f. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e 30/06/13.
Urbanismo) – Universidade Federal de Minas Gerais, Belo
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Disponível em: http://eleganciadascoisas.wordpress.com,
FICSHER, S. Antônio Garcia Moya, um arquiteto da acesso em: 06/02/13.
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26/07/12. Estatística. Enciclopédia dos Municípios Brasileiros. Rio
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FONSECA, C. D. Arraiais e Vilas D’El Rei: Espaço e e 500-509; v. 25, p. 73-75 e 175-178; v. 26, p. 355-360,
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ICOMOS. Conselho Internacional de Monumentos e ____________. Lei n° 4817, de 11 de junho de 1968.


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Técnicos de Monumentos Históricos. Veneza: ICOMOS, 1964. jun. 1968. Disponível em: http://hera.almg.gov.br, acesso
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LEITE, M. A. F., CAMISASSA, M. M. S. A Arquitetura NIEMEYER, O. Considerações sobre a arquitetura


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vizinhos: um inventário e uma análise formal. Viçosa, MG, Plásticas, ano 3, n. 7, fev. 1957, p. 5-10.
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MELLO, S. Arquitetura Moderna em Minas Gerais. In: Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de
Seminário Sobre a Cultura Mineira – Período Contemporâneo, Uberlândia. História e Preservação: Documentação da
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Seminário Sobre a Cultura Mineira – Século XIX, 3., 1982. Brasília. São Paulo: Perspectiva, 1981, p. 255-264.
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Disponível em: http://www.naya.org.ar. Acesso em:
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escolares do estado. Belo Horizonte: Diário do Executivo PEVSNER, N., FLEMING, J., HONOUR, H., Dicionário
de Minas Gerais, 16 jul. 1968. Disponível em: Enciclopédico de Arquitetura. Tradução, revisão e
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2009. Mapa rodoviário. Escala 1: 1.500.000 [adaptado pelo 10. Ed. São Paulo: Perspectiva, 2004.
autor].
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG 53

RIBEIRO FILHO, A. B. Desbravamento, caminhos antigos VASCONCELLOS, S. Arquitetura: Dois Estudos. Porto
e povoamento nos sertões do leste: uma aventura de Alegre: Instituto Estadual do Livro, 1960.
pioneiros. Viçosa, MG: Centro de Referência do Professor,
2004. ________________. Relato onde se prova que turismo em
Minas não é só Ouro Preto. Estado de Minas, Belo
RODRIGUES, G. T., CAMISASSA, M. M. S. A adoção da Horizonte, 04/08/1967. Turismo, p. 1.
linguagem arquitetônica moderna na microrregião de Ubá-MG:
inventário e análise formal. Viçosa, MG, 2012. VIDIGAL, P. M. Os Antepassados – A Sua Terra. Belo
Horizonte: Imprensa Oficial, v. 1, 1979.
SANTUÁRIO NACIONAL de Nossa Senhora da conceição
Aparecida. Cronologia histórica da Basílica Nova ou
Santuário Nacional de Nossa Senhora da Conceição 11. ANEXOS
Aparecida. Disponível em:
http://www.santuarionacional.com.br, acesso em: 25/07/13. O relatório contém sete anexos, organizados da
seguinte maneira:
SERRA,F. A. R. Parmalat no Brasil durante a era
Grisendi. Leiria: Instituto Politécnico, 2012. ANEXO A – Fichas de Inventário – Escolas – página 54
SILVEIRA, M. M. G. Templos modernos, templos ao Chão: ANEXO B – Fichas de Inventário – Igrejas e Sedes
a trajetória da arquitetura religiosa modernista e a
demolição de antigos templos católicos no Brasil. Belo
Paroquiais – página 120
Horizonte: Autêntica, 2011.
ANEXO C – Fichas de Inventário – Residências – página
SILVEIRA, T. V. L., CAMISASSA, M. M. S. A adoção da 166
linguagem moderna nos edifícios públicos e privados em
Viçosa-MG e municípios vizinhos: um inventário e uma ANEXO D – Fichas de Inventário – Sedes de Prefeituras
análise formal. Viçosa, MG, 2011. Municipais e Fóruns de Comarca – página 208

SOARES, J. M. Das Minas às Gerais: um estudo sobre as ANEXO E – Hospitais e Postos de Saúde – página 248
origens do processo de formação da rede urbana da Zona da
Mata mineira. 2009. 235f. Dissertação (Mestrado em ANEXO F – Edifícios Industriais – página 248
Arquitetura e Urbanismo) – Universidade Federal de Minas
Gerais, Belo Horizonte, 2009. ANEXO G - Material Publicado – página 271
THEODORO, J. A construção da cidadania e da escola
nas décadas de 1950 e 1960. Disponível em:
http://www.historia.fflch.usp.br/sites/historia.fflch.usp.
br/files/texto_escolas_paulistas.pdf, acesso em: 22/07/13.

VALVERDE, O. Estudo regional da Zona da Mata de Minas


Gerais. Revista Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro,
v. 20, n. 1, 1958.
A

Escolas
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG 54
N° ficha - n° página – nome da obra, município, ano de inauguração.
Observação: Para todas as fichas, no item 2 – História do Edifício – será adotada a
seguinte notação após as datas de projeto, construção e inauguração das obras:
(E) – Quando se tratar de uma data exata, proveniente de fontes como placas de
inauguração, projetos, historiografias locais, documentos oficiais, etc.;
(A) – Quando se tratar de uma data aproximada, proveniente de fontes como entrevistas,
documentos não-oficiais, hipóteses, etc.
ANEXO A – Escolas

A1 - Página 55 – Escola Estadual A6 - Página 91 – Escola


Quinzinho Inácio, Senhora de Estadual José Dias Pedrosa,
Oliveira, 1955. Cipotânea, 1978. [Padrão
CARPE]

A2 - Página 62 – Escola Estadual


Padre Vicente Carvalho, Presidente
Bernardes, 1962. A7 - Página 98 – Escola
Estadual Gustavo Augusto da
Silva, Catas Altas da Noruega,
1979. [Padrão CARPE]

A3 - Página 70 – Ginásio Estadual A8 - Página 105 – Escola


Gustavo Corção, Dores do Turvo, Estadual Professor Cícero
1963. Torres Galindo, Senador
Firmino, 1982. [Padrão CARPE]

A4 - Página 77 – Antiga sede da


Escola Estadual Conselheiro Antão A8 - Página 113 – Escola
(Escola de Lata), Itaverava, 1965. Estadual Conselheiro Antão,
Itaverava, 1983. [Padrão
CARPE]

Fotos da página anterior: 1) Construção da E. E. Mons. Francisco M.


Fernandes em Rio Espera (1961-1966); 2) Multidão em torno de JK
A5 - Página 84 – Escola Estadual inaugurando a E. E. Padre Vicente Carvalho em Presidente Bernardes
Monsenhor Francisco Miguel (1962); 3) G. E. Gustavo Corção visto ao fundo de um desfile em Dores
Fernandes, Rio Espera, 1966. do Turvo nos anos 1960; 4) E. E. São José em Alto Rio Doce (1965); 5)
Fachada da E. E. Cel. José Ildefonso em Piranga, data desconhecida 6)
Antiga escola de lata em Brás Pires, substituída pela atual E. E. São
Luís em 1978 (no padrão CARPE); 7) Inauguração da E. E. Antônio M. do
Espírito Santo em Nova Serrana-MG, 1978 (padrão CARPE).
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG 55

A1 - ESCOLA ESTADUAL QUINZINHO INÁCIO

Fachada Frontal.
Fonte: Marcelo
Leite,
21/09/12.

MG-124 sentido Brás Pires, Senador Firmino, Divinésia.

Igreja do Sagrado Coração de Jesus (antiga Matriz)

Praça São Sebastião

Praça Monsenhor
Ribeirão OliveiraJosé Justiniano Teixeira

Matriz de Nossa Senhora da Oliveira

Escola Estadual Quinzinho Inácio

Situação. Fonte: Googlemaps, acesso em


20/01/13. Adaptado pelo autor.
MG-124 sentido Lamim, Rio Espera, Catas Altas da
Noruega.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG 56

1. IDENTIDADE DO EDIFÍCIO e da igreja matriz de Nossa Senhora da Oliveira (ver


croquis volumetria e implantação). A escola possui ainda
Nome do edifício: Escola Estadual Quinzinho Inácio uma quadra poliesportiva coberta (fot.5) e um anexo (fot.
Variante ou nome anterior: 6) de dois pavimentos, situados próximos do limite
Endereço: Praça Monsenhor José Justiniano Teixeira, n° posterior do terreno. Existem afastamentos de cerca de 3m
171– Centro em relação aos limites laterais (fot. 7 e 8) e frontal
Cidade: Senhora de Oliveira (fot. 9) do terreno, em sua maioria cimentados, com uma
Estado: MG parte aproveitada como jardim. A calçada em frente é
CEP: 36470-000 estreita em se tratando de um local de grande circulação e
País: Brasil aglomeração, possuindo entre 1,0 a 1,5 m de largura. O
Coordenadas geográficas: 20.79°S 43.34°W acesso principal se faz por meio de um portão para
Classificação/tipologia: Educacional – EDC pedestres com 3 m de largura na testada do lote, que
Estado de proteção e data: Nenhum. conduz ao pátio central. A circulação vertical no bloco
anexo é feita apenas por meio de uma escada. No primeiro
pavimento existem nove salas de aula (fot. 10),
2. HISTÓRIA DO EDIFÍCIO biblioteca, sala de informática, laboratório, uma sala
multiuso, refeitório (fot. 11), e instalações
Proposta original: Edifício escolar para o município de administrativas e de apoio (ver croquis plantas baixas).
Senhora de Oliveira No pavimento superior do anexo existem mais cinco salas de
Datas: Projeto em 1953 (A); construção entre 18/04/1953 e aula.
03/02/1955 (E); inauguração em 13/02/1955 (E) (fot. 1)
Autor do projeto e colaboradores: Construção: O sistema construtivo utilizado compõe-se de
Outros associados ao projeto: Edgard Alfenas, prefeito do estrutura em pilares, vigas e lajes de concreto armado,
município de Senhora de Oliveira em 1955 permitindo grandes vãos para aberturas („janelas em fita‟)
Alterações significativas: 1969 (E): Reforma (297 m2) e e vedação em tijolos cerâmicos. Os pilares de concreto se
ampliação (531 m2) realizadas pela CARPE - Comissão destacam por seu ritmo, configurando o espaço do pátio
[Estadual] de Construção, Ampliação e Reconstrução de central (fot. 12). O piso atual é todo em cerâmico, não
Prédios Escolares1 (fot. 2 e 3); 1993 (E): Ampliação (120 original. O pátio interno possui é todo cimentado. As
m2) com construção de duas salas de aula, laboratório e janelas são todas metálicas, dos tipos basculante e
biblioteca; 1997 (E): Ampliação; 2003 (E): Reforma e pivotante com basculante na bandeira superior, pintadas na
ampliação realizada em parceira entre os governos estadual cor vinho e com cerca de 2 m de altura, sendo as do térreo
e municipal, com construção da quadra; 2012: reforma na com grades. As paredes são todas pintadas com tinta bege
quadra até cerca de 1 m de altura, e de creme dessa altura até o
Uso atual: Escola Estadual Quinzinho Inácio teto, que recebe pintura branca, ou forros de PVC branco,
Estado de conservação: Bom. como no refeitório. A cozinha possui azulejo branco em
todas as paredes, placas de 15x15 cm (fot. 13 e 14). A
3. DESCRIÇÃO fachada frontal recebe acabamento com pedra a vista até a
altura de 1m, seguindo-se pintura até o teto. As portas
são de madeira almofadada pintadas de marrom escuro. A
Descrição geral: edifício de um pavimento com pátio
cobertura dos blocos é em duas águas com telhas cerâmicas,
interno (fot. 4), de linguagem moderna, com volumetria
salvo uma marquise2 em laje de concreto armado situada na
simples e implantado em um grande lote com declive no
fachada frontal (fot. 15). A quadra possui estrutura e
sentido fundos-testada, rebaixado 50 cm em relação ao
cobertura metálica (fot. 16).
nível da rua, e voltado para os fundos do salão paroquial

1
Segundo a placa afixada no pátio central da escola, a reforma 2
contou “com a colaboração patriótica do nobre Deputado Cyro Marquise: laje em edifícios, logo acima do andar térreo para
Aguiar Maciel” a mesma figura política mencionada como proteger os pedestres do sol e da chuva. Cf. CORONA e LEMOS,1972,
„incentivadora‟ do Posto de Saúde Dr. Sólon Ildefonso de Piranga, p.315.
inaugurado em 1961.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG 57

Contexto: O entorno da Praça Monsenhor José Justiniano Social: O edifício reflete uma proposta de modernização de
Teixeira apresenta volumetria simples, onde predominam prédios escolares empreendida à época de sua construção,
edificações de apenas um a três pavimentos (embora exista quando muitas escolas do interior do estado ainda não
uma edificação com seis pavimentos), implantadas em possuíam uma sede própria para essa finalidade, estando
terrenos pouco acidentados e com pequenos afastamentos em abrigadas em edifícios provisórios. Apresenta de inovador
relação o limite dos lotes. As calçadas, quando a proposta de um espaço socializante, com atividades que
existentes, são geralmente cimentadas, de aproximadamente incluem o ensino, os esportes, as artes, etc. A história
1 m, e há pouca arborização. As vias são pavimentadas com da escola se encontra desconhecida por grande parte da
bloquetes de concreto hexagonais de concreto. A circulação população de Senhora de Oliveira. Concentra grande parte
de veículos e pedestres é intensa devido aos ônibus do ensino publico do município, possuindo atualmente um
intermunicipais e veículos que fazem os percursos Brás total de 1000 alunos, matriculados no Ensino Fundamental,
Pires - Lamim ou vice-versa. Convivem no entorno imóveis Ensino Médio e Educação de Jovens e Adultos, distribuídos
de linguagem contemporânea, moderna e eclética. Os usos em seus três turnos (matinal, vespertino e noturno).
existentes são o residencial (predominante), o comercial e
o misto, além dos usos institucional (Escola Estadual Cultural e estética: O partido arquitetônico adotado
Quinzinho Inácio), serviços de comunicação (posto da possui elementos marcantes do Modernismo na Arquitetura –
Telemig) e religioso (igreja matriz, salão e casa grandes vãos para aberturas („janelas em fita‟), marcação
paroquial). O prédio de seis andares e a torre da Matriz das esquadrias e dos pilares sugerindo ritmo e modulação,
de Nossa Senhora da Oliveira são os elementos marquise, bem como os materiais e tecnologias empregados –
arquitetônicos mais verticalizados no entorno imediato3. estrutura em concreto armado, esquadrias metálicas, pedra
à vista, etc., que podem ter sido utilizados por questões
4. AVALIAÇÃO de racionalização, padronização4, funcionalidade e
economia.
Técnica: A obra mantém integridade física no geral. Alguns
problemas identificados foram a falta de acessibilidade ao Histórica: Em uma escala maior a obra arquitetônica está
prédio principal, devido ao desnível de 50 cm em relação à associada com o contexto histórico dos anos 50-60 do
rua, e também ao segundo do anexo, já que só existem século XX, no qual o Brasil populista governado por
escadas para circulação vertical; o desbotamento ou Getúlio Vargas (eleito em 1950) e Juscelino Kubitschek
surgimento de manchas de umidade nos materiais de (eleito em 1955), procurava a modernização (o slogan de JK
acabamento; o manchamento da placa metálica de – crescer 50 anos em 5 nos dá um bom exemplo do espírito
inauguração; e a substituição completa do piso original, e desse tempo). Nessa época nas capitais federal e estadual
parcial do teto (forro de PVC no refeitório). o Movimento Moderno Brasileiro florescia, e suas maiores
expressões foram justamente construções estatais:
Ministério de Educação e Saúde Pública no Rio de Janeiro,
Conjunto Arquitetônico da Pampulha em Belo Horizonte, e o
auge, a construção de Brasília em 1960. O ano de 1964
3
A presença de um edifício de seis pavimentos na região central marca o fim desta „República Populista‟ estabelecida por
de uma cidade de pequeno porte como Senhora de Oliveira evidencia Vargas e JK, e o início do Regime Militar, com o golpe de
uma acelerada descaracterização. Conforme inventário da atual 31/03/1964, que derrubou João Goulart (vice de Jânio
sede da Casa da Cultura de Senhora de Oliveira, localizada na
Praça São Sebastião, próxima de onde se situa a matriz, os
4
autores afirmam “São consideradas descaracterizantes um posto de O prédio da E. E. Quinzinho Inácio apresenta certa semelhança
gasolina atrás da igreja [antiga matriz] e o prédio da Prefeitura com as sedes da E. E. Maria Aparecida David (Canaã), E. E. Emílio
Municipal” (ASSIS, et alli, 2009, p.2). No próprio inventário da Jardim (Coimbra), em termos de fachada frontal, e com as sedes da
Praça São Sebastião, também consta informação semelhante: “Novos E. E. Napoleão Reis (Lamim) e E. E. José A. Leal (Pedra do Anta),
prédios romperam o singelo jogo do casario colonial e reformas em relação aos pilares retangulares de concreto armado utilizados
afetaram as características tradicionais das antigas edificações, nas circulações externas (como as no entorno dos pátios
trazendo novas cores, elementos e ritmos diferentes. [A centrais). Todas as cidades citadas se localizam Zona da Mata
Prefeitura Municipal] destoa do entorno e descaracteriza o mineira e foram abordadas pelas pesquisas de Arquitetura Moderna
ambiente” (PEREIRA, H. N. et alli, 2003, p.5). do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da UFV.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG 58

Quadros) e instalou junta provisória até a eleição IBGE – Cidades@: Piranga – MG. Disponível em:
indireta do General Castelo Branco, ainda naquele ano. http://www.ibge.gov.br/cidadesat/link.php?codmun=316600.
Foi dentro desse contexto, se efetuou a „modernização‟ das Acesso em: 19/11/2011.
instalações educacionais da região5.
MELLO, S. Arquitetura Moderna em Minas Gerais. In:
Mobilização pró-preservação e recuperação: O edifício está Seminário Sobre a Cultura Mineira – Período Contemporâneo,
bem conservado e continua a desempenhar sua função 2., 1980. Anais do II Seminário Sobre a Cultura Mineira –
original, entretanto não há nenhuma mobilização pró- Período Contemporâneo. Belo Horizonte: Conselho Estadual
preservação. O edifício, com características de linguagem de Cultura de Minas Gerais/Imprensa Oficial, 1980, p. 39-
moderna e momento histórico de construção relativamente 55.
recente, dificilmente é encarado pela maioria da população
local como algo passível de preservação, uma vez que o PEDROSA, M. A Arquitetura Moderna no Brasil. In: Dos
senso comum geralmente nos leva a crer que apenas obras de Murais de Portinari aos Espaços de Brasília. Org. Aracy
períodos mais antigos (como o colonial, o oitocentismo ou Amaral. São Paulo: Perspectiva, 1981, p. 255-264.
o ecletismo) devem ser preservadas ou merecem prioridade
nessa mobilização.
PEREIRA, H. N., ARAÚJO, R. S., MILAGRES, Z. R., SILVA, M.
N. M., SOUZA, J. B. Inventário da Praça São Sebastião.
Avaliação geral: O edifício da Escola Estadual Quinzinho Senhora de Oliveira: Prefeitura Municipal, 2003.
Inácio pode ser considerado como uma expressão da
„modernização‟ e desenvolvimento (sobretudo no aspecto
educacional) do município diante do contexto histórico de RIBEIRO FILHO, A. B. Desbravamento, caminhos antigos e
sua construção. povoamento nos sertões do leste: uma aventura de
pioneiros. Viçosa: Centro de Referência do Professor,
2004.
5. DOCUMENTAÇÃO
SOUZA, V. L. Linguagem, oralidade e comunicação local: o
ASSIS, A. P., MARCOLINI, A. R., PEREIRA, H. N. Inventário alto falante na comunidade mineira de Senhora de Oliveira.
do sobrado à Praça São Sebastião, 122. Senhora de 2008. 239 f. Dissertação [Mestrado em Educação,
Oliveira: Adriana Paiva de Assis – Consultoria na Área de Administração e Comunicação] – Universidade São Marcos,
Patrimônio Cultural/Prefeitura Municipal de Senhora de São Paulo, 2008.
Oliveira, 2003-2009.
Material visual anexado: Fotografias e desenhos à mão
BARBOSA, W. A. Dicionário Histórico e Geográfico de Minas livre.
Gerais. Belo Horizonte: Promoção da Família, 1971, p. 486.
Pesquisador/data: Marcelo André Ferreira Leite / 09/2012-
CORONA, C; LEMOS, C. Dicionário de Arquitetura Brasileira. 07/2013.
São Paulo: Edart, 1972.

IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.


Enciclopédia dos Municípios Brasileiros. Rio de Janeiro:
IBGE, 1957, v.27, p. 296-299.

5
O crítico de arte Mário Pedrosa afirma: “[A] arquitetura
moderna [pode ser vista] como propaganda de Estado” (PEDROSA,
1981, p. 258).
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG 59

6. ANEXOS

[da esquerda p/ à direita e de cima p/ baixo] Fot. 1: Placa de


inauguração. Fot. 2 e 3: Placa de reforma e ampliação pela CARPE em
1969. Fot. 4: Pátio interno. Fot. 5: Quadra. Fot. 6: Área de
ligação do anexo (visto em primeiro plano) com o edifício principal
(ao fundo). Fot. 7: Fachada lateral esquerda. Fot. 8: Fachada
lateral direita. Crédito das imagens, Marcelo Leite, 07/03/2013.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG 60

[da esquerda p/ à direita e de cima p/


baixo] Fot. 9: Fachada frontal. Fot.
10: Sala de aula. Fot. 11: Refeitório.
Fot. 12: Pilares no pátio interno. Fot.
13 e 14: Cozinha. Fot. 15: Detalhe da
marquise de entrada na fachada frontal.
Fot. 16: Detalhe das coberturas do
prédio principal, da quadra e do anexo
(na lateral direita). Ao fundo, vista
posterior da Matriz de Nossa Senhora da
Oliveira. Crédito das imagens, Marcelo
Leite, 07/03/2013.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG 61
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG
62

A2 - ESCOLA ESTADUAL PADRE VICENTE CARVALHO

Fachadas Frontal e Lateral Esquerda. Fonte:


Marcelo Leite, 17/01/12.

Escola Estadual Padre Vicente Carvalho

Principal acesso à BR-482 (conduz


aos municipios de Piranga, Porto
Firme e Catas Altas da Noruega).

Praça Cônego Lopes

Câmara Municipal de Presidente Bernardes

Matriz de Santo Antônio

Residência Padre Pedro Maciel Vidigal

Rio Piranga

Situação. Fonte: Googlemaps, acesso em


16/01/13. Adaptado pelo autor.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG
63

1. IDENTIDADE DO EDIFÍCIO metade do tamanho da sala de aula). A biblioteca foi


deslocada para uma antiga sala de aula. Também foi
Nome do edifício: Escola Estadual Padre Vicente Carvalho substituída a porta que conduz ao terraço superior
Variante ou nome anterior: Ginásio Estadual de Presidente Uso atual: Escola Estadual Padre Vicente Carvalho
Bernardes; Ginásio Municipal Santo Antônio; Centro Estado de conservação: Bom.
Educacional Padre Vidigal
Endereço: Rua São José, n° 25– Centro 3. DESCRIÇÃO
Cidade: Presidente Bernardes
Estado: MG Descrição geral: edifício com dois pavimentos, de
CEP: 36475-000 linguagem moderna, com volumetria simples e implantado em
País: Brasil „U‟ em um lote com declive no sentido fundos-testada (ver
Coordenadas geográficas: 20.76°S 43.18°W croquis volumetria e implantação). A escola possui ainda
Classificação/tipologia: Educacional – EDC uma quadra poliesportiva descoberta, situada próxima do
Estado de proteção e data: Nenhum. limite lateral direito do terreno (fot. 7 e 8). Existem
grandes afastamentos aproveitados como jardim - o frontal
(fot. 9), com 3 m; o lateral esquerdo (fot. 10) com 2,60
2. HISTÓRIA DO EDIFÍCIO m; e o posterior com 8 m. A calçada em frente é estreita
em se tratando de um local de grande circulação e
Proposta original: Edifício escolar destinado ao Ensino aglomeração, possuindo entre 1,0 a 1,5 m de largura. O
Médio em Presidente Bernardes (visto que a cidade já acesso principal se faz por meio de um portão para
possuía edifícios destinados ao Ensino Fundamental desde pedestres com 2 m de largura na fachada frontal, elevado
1944) da via cerca de 1 m, que conduz ao hall. Além desse,
Datas: Levantamento do terreno realizado em 06/19601 (fot. existem outros dois acessos: um na extrema direita da
1 a 4); projeto e construção em 1961 (A); inauguração em fachada frontal, com 2,20 m de largura, também elevado da
21/01/19622 (E) (fot. 5 e 6) via em 1 m, que conduz ao pátio interno (fot. 11) e à
Autor do projeto e colaboradores: quadra; e um portão com 3 m de largura na fachada lateral
Outros associados ao projeto: Antônio Quintão Carneiro, esquerda, que conduz aos fundos do terreno. A circulação
Prefeito de Presidente Bernardes em 1962; Padre Pedro vertical é feita apenas por meio de escadas (fot. 12 e
Macial Vidigal, Deputado Federal em 1962, natural de 13). O térreo (ver croquis plantas baixas) possui três
Presidente Bernardes; Oliveira Brito, Ministro da Educação salas de aula (fot. 14 e 15), refeitório (fot. 16), sala
e Cultura em 1962, o qual ofereceu os primeiros móveis dos professores, secretaria (fot. 17) e diretoria. No
escolares (carteiras, mesas, armários, etc.)3 pavimento superior existem mais quatro salas de aula, a
Alterações significativas: Em 2012, a antiga biblioteca biblioteca a sala de informática e uma varanda (fot. 18).
foi divida (com uso de divisórias de madeira) em uma sala A área total construída é de 815m2.
de aula (maior) e uma sala de computação (menor, cerca de
Construção: O sistema construtivo utilizado compõe-se de
1 estrutura em pilares, vigas e lajes de concreto armado,
Cf. comunicação interna do antigo Departamento de Obras permitindo grandes vãos para aberturas („janelas em fita‟)
Públicas, levantamento realizado pelo Eng. Wady Nagem. e vedação em tijolos cerâmicos ou cobogós4 (fot. 19). O
2
Cf. placa de inauguração afixada na parede da Diretoria, onde piso é em tacos de madeira nas salas de aula, salas da
se lê: ”o Deputado Padre Pedro Maciel Vidigal, auxiliado pelo administração e biblioteca; cerâmico (fot. 20) no hall,
[ex] Presidente Juscelino Kubitschek e pelo Ministro da Educação circulação, escadas, banheiros, despensa, cozinha e
e Cultura, Deputado Oliveira Brito, mandou construir para os refeitório (sendo nesse último de um tipo mais recente que
meninos de sua terra natal este prédio escolar que com as bênçãos
da Igreja dadas pelo Arcebispo Dom Oscar de Oliveira, está sendo
4
inaugurado hoje, 21 de janeiro de 1962, sendo Presidente da Cobogó, combogó ou combogê: tijolo furado ou elemento vazado
República o Dr. João Goulart, Primeiro Ministro o Dr. Tancredo feito de cimento empregado na construção de paredes perfuradas,
Neves e Prefeito Municipal o Dr. Antônio Quintão Carneiro”. cuja função principal seria a de separar o interior do exterior,
sem prejuízo da luz natural e da ventilação. Cf. CORONA e LEMOS,
3
Cf. VIDIGAL, 1979, p.168. 1972, p.138.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG
64

nos demais ambientes); cimentado no pátio interno, na quanto a Ladeira Coronel Feliciano Vidigal são
quadra, na varanda e nos fundos. As janelas são todas pavimentadas com blocos hexagonais de cimento. A
metálicas, do tipo de correr com basculante na bandeira circulação de veículos e pedestres é tranquila,
superior, pintadas na cor azul claro e com cerca de 2 m de intensificada graças à presença da Escola Estadual Padre
altura, todas gradeadas. As paredes externas possuem Vicente Carvalho, da Prefeitura Municipal (localizada a
acabamento em pastilhas5 cerâmicas da cor azul claro, com dois lotes de distância da escola) e do comércio local. A
outros detalhes em alguns planos: na fachada frontal, arborização/vegetação é escassa, existindo pouca
recebe também acabamento em pedra São Tomé, na mureta quantidade de árvores de pequeno porte ao longo da via e
junto à calçada, no térreo e na varanda superior, até 1 m no recuo frontal da escola. Convivem no entorno imóveis
de altura, além de argamassa pintada de vermelho com das linguagens colonial/oitocentista, eclética, moderna e
frisos horizontais na lateral das janelas. Na fachada contemporânea. Os usos existentes são o residencial, o
lateral esquerda, recebe também acabamento em pedra São comercial, o misto e o religioso, além do uso
Tomé, no térreo, até 1 m de altura. Na fachada lateral institucional (administrativo e educacional). A torre da
direita, da mesma forma que no pátio interno e nas Igreja Matriz é o elemento arquitetônico mais
circulações, pintura marrom até altura de 1,5 m e pintura verticalizado do entorno imediato.
creme até o teto. As paredes internas das salas da
administração e da biblioteca são bege até 1,5 m de altura 4. AVALIAÇÃO
e creme até o teto. Nas salas de aula, as paredes são
pintadas de creme do piso ao teto. Banheiros e cozinha tem
paredes com azulejos. O teto é em pintura branca em todos Técnica: A obra mantém integridade física no geral. Alguns
os ambientes, exceto na cozinha, onde é em forro de problemas identificados foram a falta de acessibilidade
madeira. As portas são de madeira (algumas lisas, outras tanto em relação ao térreo quanto em relação ao segundo
com acabamento almofado), pintadas de marrom. A cobertura pavimento, já que só existem escadas para circulação
é em duas águas invertida („telhado borboleta‟) com telhas vertical; o desbotamento, descascamento ou surgimento de
onduladas de fibrocimento, oculta por platibanda. manchas de umidade nos materiais de acabamento; o
apodrecimento de alguns tacos de madeira; a falta de
algumas placas cerâmicas no piso e na parede; o
Contexto: O volume se encontra inserido num trecho da Rua manchamento da placa metálica de inauguração; e a pichação
São José compreendido entre a Praça Cônego Lopes e a na parede da varanda superior.
Ladeira Coronel Feliciano Vidigal, que faz esquina com a
primeira junto ao lote da escola. O entorno apresenta
volumetria simples, onde predominam edificações de apenas Social: O edifício reflete uma proposta de modernização de
um ou dois pavimentos implantadas em terrenos com prédios escolares empreendida à época de sua construção,
característica mais plana na região frontal e inclinada quando muitas escolas do interior do estado ainda não
nos fundos. Nos terrenos à esquerda (no sentido de quem possuíam uma sede própria para essa finalidade, estando
parte da Praça Central) os fundos encontram um barranco, abrigadas em edifícios provisórios. Apresenta de inovador
que serve como limite entre esses lotes e os lotes com a proposta de um espaço socializante, com atividades que
frente para a Rua do Cruzeiro (traçada no platô situado na incluem o ensino, os esportes, as artes, etc. A história
parte superior do barranco). Nos terrenos situados à da escola se encontra desconhecida por grande parte da
direita da Matriz os fundos confrontam com o remanescente população de Presidente Bernardes. Concentra grande parte
da mata ciliar do Rio Piranga, situado mais abaixo dos do ensino publico do município, possuindo atualmente um
terrenos. São pequenos os afastamentos em relação ao total de 650 alunos, matriculados no Ensino Fundamental,
limite dos lotes. A maioria das construções possui Ensino Médio e Educação de Jovens e Adultos, distribuídos
cobertura em telha cerâmica „tipo colonial‟, podendo haver em seus três turnos (matinal, vespertino e noturno).
também coberturas feitas com telha de fibrocimento ou
apenas em laje de concreto armado. Tanto a Rua São José Cultural e estética: O partido arquitetônico adotado
possui elementos marcantes do Modernismo na Arquitetura –
5
Pastilha: pequena peça de revestimento, quadrada ou hexagonal, grandes vãos para aberturas („janelas em fita‟), marcação
de cerâmica, porcelana ou vidro, de diminuta espessura. Na das esquadrias sugerindo ritmo e modulação, bem como os
Arquitetura Moderna brasileira, muito empregadas no revestimento materiais e tecnologias empregados – estrutura em concreto
externo de edifícios. Cf. CORONA e LEMOS, 1972, p. 362. armado, esquadrias metálicas, cobogós, pastilhas
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG
65

cerâmicas, pedra à vista, etc., que podem ter sido 5. DOCUMENTAÇÃO


utilizados por questões de racionalização, padronização,
funcionalidade e economia. BARBOSA, W. A. Dicionário Histórico e Geográfico de Minas
Gerais. Belo Horizonte: Promoção da Família, 1971, p. 386.
Histórica: Em uma escala maior a obra arquitetônica está
associada com o contexto histórico dos anos 50-60 do CORONA, C; LEMOS, C. Dicionário de Arquitetura Brasileira.
século XX, no qual o Brasil populista governado por São Paulo: Edart, 1972.
Getúlio Vargas (eleito em 1950) e Juscelino Kubitschek
(eleito em 1955), procurava a modernização (o slogan de JK
– crescer 50 anos em 5 nos dá um bom exemplo do espírito IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
desse tempo). Nessa época nas capitais federal e estadual Enciclopédia dos Municípios Brasileiros. Rio de Janeiro:
o Movimento Moderno Brasileiro florescia, e suas maiores IBGE, 1957, v.26, p. 441-444.
expressões foram justamente construções estatais:
Ministério de Educação e Saúde Pública no Rio de Janeiro, IBGE – Cidades@: Senador Firmino – MG. Disponível em:
Conjunto Arquitetônico da Pampulha em Belo Horizonte, e o http://www.ibge.gov.br/cidadesat/link.php?codmun=315310.
auge, a construção de Brasília em 1960. O ano de 1964 Acesso em: 13/11/2011.
marca o fim desta „República Populista‟ estabelecida por
Vargas e JK, e o início do Regime Militar, com o golpe de
MELLO, S. Arquitetura Moderna em Minas Gerais. In:
31/03/1964, que derrubou João Goulart (vice de Jânio
Seminário Sobre a Cultura Mineira – Período Contemporâneo,
Quadros) e instalou junta provisória até a eleição
2., 1980. Anais do II Seminário Sobre a Cultura Mineira –
indireta do General Castelo Branco, ainda naquele ano.
Período Contemporâneo. Belo Horizonte: Conselho Estadual
Foi dentro desse contexto, se efetuou a „modernização‟ das
de Cultura de Minas Gerais/Imprensa Oficial, 1980, p. 39-
instalações educacionais da região6.
55.

Mobilização pró-preservação e recuperação: O edifício está


PEDROSA, M. A Arquitetura Moderna no Brasil. In: Dos
muito bem conservado (provavelmente o edifício educacional
Murais de Portinari aos Espaços de Brasília. Org. Aracy
mais preservado dos oito analisados por esta pesquisa) e
Amaral. São Paulo: Perspectiva, 1981, p. 255-264.
continua a desempenhar sua função original, entretanto não
há nenhuma mobilização pró-preservação. O edifício, com
características de linguagem moderna e momento histórico RIBEIRO FILHO, A. B. Desbravamento, caminhos antigos e
de construção relativamente recente, dificilmente é povoamento nos sertões do leste: uma aventura de
encarado pela maioria da população local como algo pioneiros. Viçosa: Centro de Referência do Professor,
passível de preservação, uma vez que o senso comum 2004.
geralmente nos leva a crer que apenas obras de períodos
mais antigos (como o colonial, o oitocentismo ou o VIDIGAL, P. M. Os Antepassados – A Sua Terra. Belo
ecletismo) devem ser preservadas ou merecem prioridade Horizonte: Imprensa Oficial, v. 1, 1979.
nessa mobilização.
Material visual anexado: Fotografias e desenhos à mão
Avaliação geral: O edifício da Escola Estadual Padre livre.
Vicente Carvalho pode ser considerado como uma expressão
da „modernização‟ e desenvolvimento (sobretudo no aspecto
educacional) do município diante do contexto histórico de Pesquisador/data: Marcelo André Ferreira Leite / 08/2012-
sua construção. 07/2013.

6
O crítico de arte Mário Pedrosa afirma: “[A] arquitetura
moderna [pode ser vista] como propaganda de Estado” (PEDROSA,
1981, p. 258).
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG
66

6. ANEXOS [da esquerda p/ à direita e de cima p/ baixo] Fot. 1 e 2: Telegramas enviados (em 01/06/60 de Nova Era-MG e em 03/06/60 de
Ubá-MG) pelo então Deputado Federal Padre Pedro M. Vidigal ao Eng. Antônio C. M. Moura, na época Chefe do Departamento de
Obras Públicas (vinculado à Secretaria de Viação de Obras Públicas de Minas Gerais), solicitando um topógrafo para ir à
Presidente Bernardes realizar o levantamento dos terrenos onde seriam construídas a atual Escola Estadual Padre Vicente
Carvalho e a Sede da Paróquia de Santo Antônio. Fot. 3: Ofício de 10/06/60 delegando ao Eng. Wady Nagem o serviço em
Presidente Bernardes. Fot. 4: Parecer final do Eng. Wady Nagem, 17/06/60, onde se menciona que a obra seria realizada apenas
com verba federal. Crédito das imagens, disponível em: http://www.acervosetop.mg.gov.br/setop/, acesso em: 06/07/2013.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG
67
[da esquerda p/ à direita e de cima p/ baixo] Fot. 5: “O povo assiste a inauguração do „Centro Educacional Padre Vidigal‟” (VIDIGAL,
1979, p.358). Fot. 6: Placa de inauguração. Fot. 7 e 8: Vista parcial da quadra e do pátio, a partir da circulação superior. Fot. 9:
Fachada frontal vista de outro ângulo. Fot. 10: Fachada lateral esquerda. Fot. 11: Pátio interno, com vista para a circulação inferior
e superior. Fot. 12: Circulação inferior, com vista para escada. Fot. 13: Circulação superior. Crédito das imagens, Marcelo Leite,
17/01, 18/04/2012 e 26/01/2013.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG
68

[da esquerda p/ à direita e de cima


p/ baixo] Fot. 14 e 15: Sala de aula.
Fot. 16: Refeitório. Fot. 17:
Secretaria. Fot. 18: Varanda
superior, voltada para a fachada
frontal. Fot. 19: Detalhe do painel
de cobogós na fachada frontal (entre
o hall e a diretoria). Fot. 20:
Detalhe do piso cerâmico, com
distinção de cor entre a circulação
inferior (cinza) e a escada
(amarelo). Crédito das imagens,
Marcelo Leite, 17/01, 18/04/2012 e
26/01/2013.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG
69
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG
70

A3 - GINÁSIO ESTADUAL GUSTAVO CORÇÃO

Fachadas Frontal e Lateral Direita.


Fonte: Marcelo Leite, 11/01/13.

Posto de Recebimento e Resfriamento da Cooproleite Muriaé

Ribeirão Dores do Turvo

Prefeitura Municipal de Dores do Turvo

Praça Cônego Agostinho José Rezende

MG-280 sentido Alto Rio Doce, Cipotânea, Desterro do Melo.

Acessos à MG-280 sentido Senador Firmino, Divinésia, Brás Pires.

Matriz de Nossa Senhora das Dores

Ginásio Estadual Gustavo Corção

Situação. Fonte: Bingmaps, acesso em


29/06/13. Adaptado pelo autor.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG
71

1. IDENTIDADE DO EDIFÍCIO estreita em se tratando de um local de grande


circulação e aglomeração, possuindo entre 1,0 a 1,5
Nome do edifício: Ginásio Estadual Gustavo Corção m de largura. O acesso principal se faz por meio de
Variante ou nome anterior: APAE – Associação de Pais um portão para pedestres com 2 m de largura na
e Amigos dos Excepcionais de Dores do Turvo testada do lote, que conduz a uma rampa que sobre os
Endereço: Praça Cônego Agostinho José de Rezende, n° cerca de 3m existentes entre o nível da rua e o
199 – Centro platô onde se implanta o edifício. Além desse,
Cidade: Dores do Turvo existe o acesso lateral direito, uma escada que
Estado: MG desce da Igreja Matriz de Nossa Senhora das Dores e
CEP: 36513-000 conduz ao pátio lateral do antigo Ginásio (fot. 2 e
País: Brasil 3). A circulação vertical interna é feita apenas por
Coordenadas geográficas: 20.97°S 43.18°W meio de escada (fot. 4). A área total construída é
Classificação/tipologia: Educacional - EDC de 368m2. O pavimento inferior possui seis salas de
Estado de proteção e data: Nenhum. aula (fot. 5 e 6 e croquis plantas baixas),
secretaria/diretoria no bloco principal, e
refeitório, cozinha, despensa e depósito de
2. HISTÓRIA DO EDIFÍCIO
materiais de limpeza no bloco anexo (fot. 7 e 8). No
pavimento superior está o salão principal (fot. 9 e
Proposta original: Edifício destinado ao uso escolar 10), uma varanda com vista para a Praça Cônego
para o município Agostinho José de Rezende (fot. 11), uma cozinha de
Datas1: Projeto, construção e inauguração em 1963(A) apoio (desativada), e depósitos de mobiliário.
Autor do projeto e colaboradores: José Alves Amaral2
(provavelmente), construtor em Ubá
Construção: O sistema construtivo utilizado compõe-
Outros associados ao projeto: Governo do Estado de
se de estrutura em pilares, vigas e lajes de
Minas Gerais; Padre José de Oliveira Resende3
concreto armado e vedação em tijolos cerâmicos. O
Alterações significativas: Em 2001 (A) foi
piso é cimento polido nas salas de aula, cerâmico no
construído um anexo de um pavimento, que ocupa parte
anexo, ladrilho hidráulico (fot. 12) nos banheiros,
do afastamento lateral esquerdo, utilizado como
circulações internas, sala da administração e maior
cozinha e refeitório
parte do pavimento superior. Tacos de madeira
Uso atual: Sede da APAE (Associação de Pais e Amigos
recobrem o piso na área central do salão superior
dos Excepcionais) de Dores do Turvo
(fot. 13). As janelas são todas metálicas, do tipo
Estado de conservação: Bom.
de correr com basculante na bandeira superior no
salão superior, e basculante nos demais ambientes,
3. DESCRIÇÃO pintadas na cor cinza e com cerca de 2 m de altura,
algumas no pavimento térreo gradeadas ou cobertas
Descrição geral: edifício principal com dois com tela. As paredes externas possuem acabamento em
pavimentos, de linguagem moderna, com volumetria pintura na cor ocre. As paredes internas são da
simples e implantado em um lote em declive no mesma cor, exceto as salas de aula, o anexo e os
sentido fundos-testada (fot. 1 e croquis implantação tetos, pintados de branco. A porta principal é
e volumetria). Existem grandes afastamentos metálica com ornamentos florais, enquanto as demais
aproveitados como jardim. A calçada em frente é são de madeira lisa, pintadas de marrom. A cobertura
é em duas águas invertida („telhado borboleta‟) com
1
telhas onduladas de fibrocimento, oculta por
Cf. MAROTTA, 2013. platibanda (fot. 14).
2
Idem 1.
3
Idem 1.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG
72

Contexto: O volume se encontra inserido na Praça Social: O edifício reflete uma proposta de
Cônego Agostinho José Rezende. O entorno apresenta modernização de prédios escolares empreendida à
volumetria simples, onde predominam edificações de época de sua construção, quando muitas escolas do
apenas um a três pavimentos, implantadas em terrenos interior do estado ainda não possuíam uma sede
relativamente planos e com pequenos afastamentos em própria para essa finalidade, estando abrigadas em
relação o limite dos lotes. A maioria das edifícios provisórios. Apresenta de inovador a
construções possui cobertura em telha cerâmica, proposta de um espaço socializante, com atividades
havendo também coberturas feitas em laje de concreto que incluem o ensino, os esportes, as artes, etc.
armado, telhas metálicas ou de fibrocimento. As vias (fot. 15). A história do antigo ginásio se encontra
que fazem o contorno da Praça são todas asfaltadas. desconhecida por grande parte da população de Dores
A circulação de veículos e pedestres é tranquila, do Turvo. Além de ginásio estadual, o prédio
intensificada pela presença de um Terminal funcionou como sede de uma escola normal e como
Rodoviário localizado na lateral da Praça Cônego salão paroquial, antes de se tornar sede da APAE
Agostinho (próximo à Prefeitura e à Igreja Matriz) Dores do Turvo.
que recebe ônibus da linha Ubá – Dores do Turvo -
Alto Rio Doce. A Praça possui vegetação composta de Cultural e estética: O partido arquitetônico adotado
gramíneas, arbustos e árvores de pequeno e grande possui elementos marcantes do Modernismo na
porte, embora a maior parte de sua área tenha sido Arquitetura – grandes vãos para aberturas, marcação
transformada em piso cimentado. Convivem no entorno das esquadrias sugerindo ritmo e modulação, telhado
imóveis das linguagens colonial/oitocentista, borboleta, bem como os materiais e tecnologias
eclética, moderna e contemporânea, contudo, o empregados – estrutura em concreto armado,
Terminal Rodoviário, principalmente por suas grandes esquadrias metálicas, etc., que podem ter sido
dimensões, além de materiais diferentes dos utilizados por questões de racionalização e
utilizados pelas construções adjacentes, torna-o uma economia, além da intenção estética modernizadora.
edificação de impacto no entorno, bem como a
relativa falta de arborização/área gramada da Praça.
Histórica: Em uma escala maior a obra arquitetônica
Os usos existentes são o residencial, o comercial o
está associada com o contexto histórico dos anos 50-
misto e o religioso, além do uso institucional. A
60 do século XX, no qual o Brasil populista
Igreja Matriz, com duas torres laterais e
governado por Getúlio Vargas (eleito em 1950) e
implantação em elevada em relação à Praça, é o
Juscelino Kubitschek (eleito em 1955), procurava a
elemento arquitetônico mais verticalizado do entorno
modernização (o slogan de JK – crescer 50 anos em 5
imediato.
nos dá um bom exemplo do espírito desse tempo).
Nessa época nas capitais federal e estadual o
4. AVALIAÇÃO Movimento Moderno Brasileiro florescia, e suas
maiores expressões foram justamente construções
Técnica: A obra mantém integridade física no geral. estatais: Ministério de Educação e Saúde Pública no
Alguns problemas identificados foram a falta de Rio de Janeiro, Conjunto Arquitetônico da Pampulha
acessibilidade tanto em relação ao térreo quanto em em Belo Horizonte, e o auge, a construção de
relação ao segundo pavimento, já que só existem Brasília em 1960. O ano de 1964 marca o fim desta
escadas para circulação vertical; o desbotamento, „República Populista‟ estabelecida por Vargas e JK,
descascamento ou surgimento de manchas de umidade e o início do Regime Militar, com o golpe de
nos materiais de acabamento; o apodrecimento de 31/03/1964, que derrubou João Goulart (vice de Jânio
alguns tacos de madeira; e a falta de algumas placas Quadros) e instalou junta provisória até a eleição
cerâmicas no piso. indireta do General Castelo Branco, ainda naquele
ano. Foi dentro desse contexto, se efetuou a
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG
73

„modernização‟ das instalações educacionais da a Cultura Mineira – Período Contemporâneo. Belo


região4. Horizonte: Conselho Estadual de Cultura de Minas
Gerais/Imprensa Oficial, 1980, p. 39-55.
Mobilização pró-preservação e recuperação: O
edifício está relativamente conservado, embora não MAROTTA, F. Construção do Ginásio Estadual Gustavo
desempenhe mais sua função original e não haja Corção. [Dores do Turvo]: Residência de Fábio
nenhuma mobilização pró-preservação. O edifício, com Marotta, 10/01/2013. Entrevista concedida a Marcelo
características de linguagem moderna e momento Leite.
histórico de construção relativamente recente,
dificilmente é encarado pela maioria da população PEDROSA, M. A Arquitetura Moderna no Brasil. In: Dos
local como algo passível de preservação, uma vez que Murais de Portinari aos Espaços de Brasília. Org.
o senso comum geralmente nos leva a crer que apenas Aracy Amaral. São Paulo: Perspectiva, 1981, p. 255-
obras de períodos mais antigos (como o colonial, o 264.
oitocentismo ou o ecletismo) devem ser preservadas
ou merecem prioridade nessa mobilização.
RIBEIRO FILHO, A. B. Desbravamento, caminhos antigos
e povoamento nos sertões do leste: uma aventura de
Avaliação geral: O edifício do antigo Ginásio pioneiros. Viçosa: Centro de Referência do
Estadual Gustavo Corção pode ser considerado como Professor, 2004.
uma expressão da „modernização‟ e desenvolvimento
(sobretudo no aspecto educacional) do município
Material visual anexado: Fotografias e desenhos à
diante do contexto histórico de sua construção.
mão livre.
5. DOCUMENTAÇÃO
Pesquisador/data: Marcelo André Ferreira Leite /
09/2012-07/2013.
BARBOSA, W. A. Dicionário Histórico e Geográfico de
Minas Gerais. Belo Horizonte: Promoção da Família,
1971, p. 173.

IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e


Estatística. Enciclopédia dos Municípios
Brasileiros. Rio de Janeiro: IBGE, 1957, v.25, p.
73-5.

IBGE – Cidades@: Dores do Turvo – MG. Disponível em:


http://www.ibge.gov.br/cidadesat/link.php?codmun=312
330. Acesso em: 08/11/2011.

MELLO, S. Arquitetura Moderna em Minas Gerais. In:


Seminário Sobre a Cultura Mineira – Período
Contemporâneo, 2., 1980. Anais do II Seminário Sobre

4
O crítico de arte Mário Pedrosa afirma: “[A] arquitetura
moderna [pode ser vista] como propaganda de Estado” (PEDROSA,
1981, p. 258).
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG
74

6. ANEXOS

[da esquerda p/ à direita e de cima p/ baixo] Fot. 1: Vista do edifício e seu entorno. Fot. 2 e 3: Fachada lateral direita,
e fachada posterior, vistas do pátio lateral da Igreja de Nossa Senhora das Dores. Fot. 4: Circulação inferior, vista da
escada. Fot. 5: Circulação de acesso às salas de aula. Na próxima página, fot. 6: Sala de aula. Fot. 7: Fachada lateral
esquerda. Fot. 8: Anexo, no limite dos afastamentos lateral esquerdo e posterior. Fot. 9 e 10: Salão superior. Fot. 11:
Varanda superior. Fot. 12: Ladrilho hidráulico. Créditos das imagens: Marcelo Leite e Graça Calve, 10/01 e 01/02/2013,
disponível em: http://www.facebook.com/groups/doresdoturvo/, acesso em 02/06/2013.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG
75

[da esquerda p/ à direita] Fot. 13: Encontro do ladrilho hidráulico, com o taco de madeira e o piso de cimento polido, no salão
superior. Fot. 14: Vista da cobertura. Fot. 15: Vista do Ginásio Estadual durante desfile cívico nos anos 1960. Créditos das
imagens: Marcelo Leite e Graça Calve, 10/01 e 01/02/2013, disponível em: http://www.facebook.com/groups/doresdoturvo/, acesso em
02/06/2013.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG
76
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG
77

A4 - ANTIGA SEDE DA ESCOLA ESTADUAL CONSELHEIRO ANTÃO (ESCOLA DE LATA)

Fachada Frontal. Fonte: Marcelo Leite,12/09/12.

BR-482 sentido Conselheiro Lafaiete, Ouro Branco, Cristiano Otoni.

Atual Sede da E. E. Conselheiro Antão

Praça Juca Pena

BR-482 sentido Catas Altas da


Noruega, Lamim, Piranga.

Ribeirão Vassouras

Antiga Sede da E. E. Conselheiro Antão (Escola de Lata)

Matriz de Santo Antônio (Tombada pelo IPHAN)

Situação. Fonte: Bingmaps, acesso em


13/07/13. Adaptado pelo autor.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG
78

1. IDENTIDADE DO EDIFÍCIO utilizada como Plenário (fot. 1) e divisória de madeira,


porta envidraçada e forro de PVC na sala da
Nome do edifício: Antiga Sede da Escola Estadual Presidência/contabilidade da Câmara (fot. 2 e 3). A partir
Conselheiro Antão (Escola de Lata) de 2006,passa a abrigar também, em caráter provisório, a
Variante ou nome anterior: Câmara Municipal de Itaverava / Escola Municipal Telésforo Cândido de Rezende, tendo sido
Escola Municipal Telésforo Cândido de Rezende executada para essa instalação uma ampliação com colocação
Endereço: Rua Pinto Paraíso, s/n – Centro de telhas metálicas, divisórias de madeira (fot. 4 e 5) e
Cidade: Itaverava piso cerâmico ao longo de parte da fachada posterior
Estado: MG Uso atual: Sede da Câmara Municipal de Itaverava/Escola
CEP: 36440-000 Municipal Telésforo Cândido de Rezende
País: Brasil Estado de conservação: Regular.
Coordenadas geográficas: 20.67°S 43.61°W
Classificação/tipologia: Educacional – EDC 3. DESCRIÇÃO
Estado de proteção e data: Nenhum.
Descrição geral: Edificação de um pavimento, com
2. HISTÓRIA DO EDIFÍCIO volumetria simples e partido quadrangular, implantada em
terreno plano com acesso por meio de rampa de asfalto e
Proposta original: Sede provisória para a Escola Estadual muro de arrimo na parte posterior do lote (ou seja,
Conselheiro Antão, fundada em 1954 (até então funcionava provavelmente houve obras de terraplanagem). A obra se
em um prédio alugado), até a construção e inauguração de encontra possui apenas um pequeno afastamento (cerca de
uma sede definitiva, o que ocorreu apenas em 1983 3m) na lateral direita, aproveitado como jardim (fot. 6 e
Datas1: Projeto em 1961 (A); edital de concorrência croquis implantação e volumetria). O acesso principal se
(Secretaria de Viação e Obras Públicas de Minas Gerais, faz por meio de duas portas (cerca 1m de largura) na
para “construção de 400 novos grupos escolares” a serem fachada frontal (fot. 7). Enquanto escola possui cinco
edificados em diversos municípios) publicado em 15/04/1961 salas de aula, ambiente utilizado como refeitório e pátio
(E); data limite para envio das propostas em 31/05/1961; (fot. 8), cozinha com despensa e dois banheiros. Outra
resultado do processo licitatório em 13/06/1961; parte do edifício é utilizada como sede da Câmara
construções iniciadas em 27/10/1961 (em todo o estado); Municipal, abrigando sala da Presidência e contabilidade,
inauguração (da escola em Itaverava) em 28/06/1965(E) recepção e secretaria. A maior das salas de aula
Autor do projeto e colaboradores2: Grupo de trabalho (originalmente duas salas que foram unidas em uma única) é
subordinado ao Gabinete do Secretário Estadual de Viação e utilizada também como plenário da Câmara (ver croqui
Obras Públicas de Minas Gerais planta baixa). A área construída é cerca de 470 m2.
Outros associados ao projeto3: Construtora Adersy Ltda.
(Belo Horizonte), vencedora do processo licitatório. Em Construção: O sistema construtivo utilizado compõe-se de
Itaverava (circunscrição de Conselheiro Lafaiete, conforme estrutura mista de concreto armado com pilares e vigas de
subdivisão de trabalho elaborada pela Adersy), o aço, com vedação e cobertura utilizando telhas metálicas
engenheiro do estado responsável pelo recebimento da obra trapezoidais. O sistema permite grandes vãos para
foi Otávio de Araújo Couto aberturas - „janelas em fita‟ metálicas, do tipo
Alterações significativas: Com a transferência da Escola basculante, as maiores com cerca de 2m de altura e as
Estadual Conselheiro Antão para a sede definitiva menores com cerca de 50 cm de altura. A parte lateral
construída pela CARPE em 1983, o edifício ficou sem uso esquerda da edificação, onde se situam a secretaria da
até 1997, quando se tornou sede da Câmara Municipal de Câmara e a cozinha da escola, foi construída em concreto
Itaverava. Dessa mudança de uso acarretaram mudanças armado com vedação em tijolos cerâmicos, mas mantendo a
físicas, como a colocação de piso cerâmico em todo o mesma cobertura. Todas as peças metálicas de vedação e
prédio, estrado de madeira e forro de PVC na sala das aberturas são pintadas em azul-claro, exceto as telhas
da cobertura, que atualmente estão enferrujadas, sem
1
resquício de pintura. Existem ainda portas internas de
Cf. ACERVO Setop (2013). madeira com ventilação na bandeira superior, em algumas
2
Idem 1. salas de aula (fot. 9). As paredes em alvenaria recebem
3
Idem 1.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG
79

pintura interna e externa na cor creme. O forro original é Cultural e estética: O partido arquitetônico adotado possui
em madeira de pinus, ainda existente em alguns ambientes elementos marcantes do Modernismo na Arquitetura – grandes
como a recepção/secretaria (fot. 10). A cobertura é em uma vãos para aberturas („janelas em fita‟), marcação das
água, com inclinação descendente voltada para a parte esquadrias sugerindo ritmo e modulação, bem como os
posterior. O piso, antes todo em tacos de madeira, foi materiais e tecnologias empregados – estrutura, vedação,
substituído por placas cerâmicas em todo o prédio. esquadrias e telhas metálicas e telhas metálicas, que podem
ter sido utilizados por questões padronização e
Contexto: O volume se encontra inserido na Rua Pinto funcionalidade, além de rápida construção no contexto
Paraíso (fot. 11), ao lado da Igreja Matriz de Santo histórico original.
Antônio, tombada pelo IPHAN, de arquitetura
colonial/oitocentista (fot. 12). Na mesma rua se encontra Histórica: A gestão do governador Magalhães Pinto (1961-
um posto telefônico, de linguagem moderna. Nas imediações 1966) proliferou as chamadas „Escolas de Lata‟ em todo o
também se encontram residências e um edifícios comerciais. estado, pela sua facilidade e economia de construção,
O entorno possui volumetria simples, predominando agilizando assim, o desenvolvimento educacional em Minas
edificações de apenas um ou dois pavimentos (salvo a Gerais (ESCOLA, 2010). Em uma escala maior a obra
Matriz, cuja cumeeira e torres laterais atingem três arquitetônica está associada com o contexto histórico do fim
pavimentos de altura), com pouco ou nenhum afastamento em dos anos 50 e início dos anos 60 do século XX, no qual o
relação ao limite dos lotes. As calçadas são cimentadas, Brasil populista governado por Juscelino Kubitschek (eleito
de aproximadamente 1 a 1,5, e no entorno há arborização em 1955) procurava a modernização (o slogan de JK – crescer
apenas nos fundos dos lotes. A via de acesso à Escola é 50 anos em 5 nos dá um bom exemplo do espírito desse tempo).
pavimentada com bloquetes de concreto hexagonais. A Muitos municípios da região foram emancipados nessa data,
circulação de veículos e pedestres é tranquila, entre eles Itaverava (que obteve autonomia em 1962). Nessa
intensificada graças à presença da Câmara/Escola. Convivem época nas capitais federal e estadual a arquitetura moderna
no entorno imóveis das linguagens colonial/oitocentista, era a predominante, sendo as maiores expressões modernas no
eclética, moderna e contemporânea, bem como os usos Brasil justamente construções estatais: Ministério de
institucional, religioso, residencial, misto e comercial Educação e Saúde Pública no Rio de Janeiro (1935-1945),
(com predomínio desse último). Conjunto Arquitetônico da Pampulha em Belo Horizonte (1940-
1943), e o auge, a construção de Brasília (1956-1960)
4. AVALIAÇÃO (MELLO, 1982). Em 1964 chega ao fim esta „República
Populista‟ estabelecida por Vargas e JK, e se inicia o
Regime Militar, com o golpe de 31/03/1964, que derrubou João
Técnica: A obra mantém integridade física no geral. Alguns
Goulart (vice de Jânio Quadros) e instalou junta provisória
problemas identificados foram o enferrujamento de algumas
até a eleição indireta do General Castelo Branco, ainda
telhas metálicas na cobertura e no tapamento lateral; o
naquele ano. Características do Movimento Moderno
desbotamento ou descascamento em alguns pontos da pintura
Brasileiro, cujas maiores expressões são justamente
nos fechamentos laterais (metálicos ou em alvenaria) e nas
construções públicas, continuaram a ser difundidas durante
telhas da cobertura.
os anos 60, 70 e 80 e certamente noções e detalhes para
finalidades construtivas/técnicas/funcionais (mesmo que em
Social: O edifício reflete uma proposta de modernização de caráter provisório, como o caso das Escolas de Lata)
prédios escolares empreendida à época de sua construção, chegaram a diversas regiões de Minas Gerais.
quando muitas escolas do interior do estado ainda não
possuíam uma sede própria para essa finalidade, estando
abrigadas em edifícios provisórios. Apresenta de inovador
Mobilização pró-preservação e recuperação: O edifício
proposta de um espaço socializante, com atividades que
apresenta estado de conservação regular e continua a
incluem o ensino, os esportes, as artes, etc. A história
desempenhar sua função original, juntamente com uma nova
da escola se encontra desconhecida por grande parte da
função, entretanto não há nenhuma mobilização pró-
população de Itaverava. Concentra parte do ensino publico
preservação. O edifício, com suas características de
do município, possuindo atualmente um total de 100 alunos,
linguagem moderna e momento histórico de construção
matriculados no Ensino Infantil - maternal (vespertino) e
relativamente recente, dificilmente é encarado pela
na educação de Jovens e Adultos (noturno).
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG
80

maioria da população local como algo passível de IBGE – Cidades@: Itaverava – MG. Disponível em:
preservação, uma vez que o senso comum geralmente nos leva http://www.ibge.gov.br/cidadesat/link.php?codmun=313390.
a crer que apenas obras de períodos mais antigos (como o Acesso em: 13/05/2012.
colonial, o oitocentismo ou o ecletismo) devem ser
preservadas ou merecem prioridade nessa mobilização. MELLO, S. Arquitetura Moderna em Minas Gerais. In:
Seminário Sobre a Cultura Mineira – Período Contemporâneo,
Avaliação geral: O edifício da antiga Escola Estadual 2., 1980. Anais do II Seminário Sobre a Cultura Mineira –
Conselheiro Antão pode ser considerado como uma expressão Período Contemporâneo. Belo Horizonte: Conselho Estadual
da „modernização‟ e desenvolvimento (sobretudo no aspecto de Cultura de Minas Gerais/Imprensa Oficial, 1980, p. 39-
educacional) do município diante do contexto histórico de 55.
sua construção.
PEDROSA, M. A Arquitetura Moderna no Brasil. In: Dos
5. DOCUMENTAÇÃO Murais de Portinari aos Espaços de Brasília. Org. Aracy
Amaral. São Paulo: Perspectiva, 1981, p. 255-264.
ACERVO Setop. Grupos escolares em Minas Gerais. Disponível
em: http://www.acervosetop.mg.gov.br, acesso em: RIBEIRO FILHO, A. B. Desbravamento, caminhos antigos e
13/07/2013. povoamento nos sertões do leste: uma aventura de
pioneiros. Viçosa: Centro de Referência do Professor,
BARBOSA, W. A. Dicionário Histórico e Geográfico de Minas 2004.
Gerais. Belo Horizonte: Promoção da Família, 1971, p. 362-
363. Material visual anexado: Fotografias e desenhos à mão
livre
ESCOLA de lata é tombada pelo Patrimônio Cultural em
Cachoeira Dourada. Disponível em: Pesquisador/data: Marcelo André Ferreira Leite / 09/2012-
http://www.jornaldopontal.com.br/index.php?ac=news&id=3097 07/2013.
. Acesso em 23/02/2013.

IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.


Enciclopédia dos Municípios Brasileiros. Rio de Janeiro:
IBGE, 1957, v.24, p. 500-509.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG
81

6. ANEXOS

[da esquerda p/ à direita e de cima p/ baixo] Fot. 1: Plenário da Câmara. Fot. 2: Sala da contabilidade da Câmara. Ao fundo à
esquerda, acesso ao gabinete do Presidente. Fot. 3: Vista do acesso envidraçado da sala da contabilidade da Câmara, em contraste com
a estrutura metálica pintada em azul. Fot. 4 e 5: Corredor criado após a construção de mais três salas de aula, utilizando-se com
fechamento lateral divisórias de madeira branca (à direita). Na parte superior da imagem 5, é possível visualizar o encontro entre o
antigo beiral da escola de lata, e a cobertura metálica criada para o acréscimo. Fot. 6: Jardim na lateral direita, atualmente sem
manutenção. Créditos das imagens: Marcelo Leite, 28/02/2013.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG
82

[da esquerda p/ à direita e de cima p/ baixo] Fot. 7: Vista parcial da fachada frontal. À esquerda, acesso principal à escola. À
direita, acesso principal à Câmara. Fot. 8: Vista do pátio interno/ refeitório. Na parte superior, também é possível visualizar o
encontro entre o antigo beiral da escola de lata (à direita) e a cobertura metálica criada para o acréscimo (à esquerda). Fot 9:
Posta metálica com ventilação na bandeira superior, aparentemente o padrão de portas empregado em toda edificação original, hoje
existe apenas essa. Fot. 10: Vista do forro em madeira de pinus, que provavelmente era o material de forro original também para as
salas de aula. Fot. 11 e 12, entorno imediato, destacando-se a Matriz de Santo Antônio, bem tombado pelo IPHAN. Créditos das imagens:
Marcelo Leite, 28/02/2013.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG
83
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG 84

A5 - ESCOLA ESTADUAL MONSENHOR FRANSCISCO MIGUEL FERNANDES

Fachadas Lateral Direita e Posterior.


Fonte: Marcelo Leite, 24/08/12.

Acesso à MG-124 (conduz aos municípios de Lamim,


Senhora de Oliveira e Catas Altas da Noruega).

Matriz de Nossa Senhora da Piedade

Praça da Piedade

Rio Espera

Praça do Rosário

Escola Estadual Monsenhor Francisco


Miguel Fernandes

Igreja de Nossa Senhora do Rosário

Situação. Fonte: Bingmaps, acesso em


12/07/13. Adaptado pelo autor.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG 85

1. IDENTIDADE DO EDIFÍCIO Fernandes, estadualizada em 1988 e com sua denominação


atual instituída em 19905
Nome do edifício: Escola Estadual Monsenhor Francisco Estado de conservação: Regular.
Miguel Fernandes
Variante ou nome anterior: Ginásio Nossa Senhora do 3. DESCRIÇÃO
Rosário
Endereço: Praça do Rosário, n° 107 – Centro Descrição geral: edifício com dois pavimentos, de
Cidade: Rio Espera linguagem moderna, com volumetria simples e implantado em
Estado: MG „L‟ em um lote com declive no sentido testada-fundos (ver
CEP: 36460-000 croquis volumetria e implantação). A escola possui ainda
País: Brasil blocos anexos e uma quadra poliesportiva descoberta,
Coordenadas geográficas: 20.85°S 43.47°W próximos ao limite lateral esquerdo do terreno (fot. 2).
Classificação/tipologia: Educacional – EDC Nos fundos do lote, com acesso independente e afastamento
Estado de proteção e data: Nenhum. em relação à Rua São José, se encontra a Igreja de Nossa
Senhora do Rosário (fot. 3). Com exceção da igreja, as
2. HISTÓRIA DO EDIFÍCIO outras edificações não possuem afastamentos consideráveis
em relação aos limites do terreno. A calçada em frente é
Proposta original1: Construir uma escola-internato e uma estreita em se tratando de um local de grande circulação e
nova sede para a igreja de Nossa Senhora do Rosário2, aglomeração, possuindo entre 1,0 a 1,5 m de largura. O
conjunto esse que ficaria sob a administração de uma ordem acesso principal se faz por meio de dois portões para
de irmãs de caridade pedestres com 2 m de largura na testada (fot. 4), que
Datas3: Projeto da escola em 1961 (A); construção da escola conduzem a um dos anexos onde funcionam a recepção, a
de 1961 a 1965 (fot. 1) (A), projeto e construção da secretaria e a diretoria no nível térreo. Além desses, há
igreja em 1967 (A); inauguração da escola em 09/02/1966 mais dois acessos frontais no edifício principal (fot. 5),
(E); inauguração da igreja em 1967 (A) que conduzem ao antigo hall de entrada (hoje apenas hall
Autor do projeto e colaboradores: de escada) (fot. 6) e a biblioteca. O bloco principal se
Outros associados ao projeto: Monsenhor Francisco Miguel conecta ainda com os anexos por mais duas entradas, uma
Fernandes, pároco de Rio Espera entre 1940 e 1989; Dom através do pátio interno; outra através da circulação
Oscar de Oliveira, arcebispo de Mariana entre 1960 e 1988 superior de um dos anexos. Um antigo acesso feito
Alterações significativas4: 1974: reforma e modificação do descendo-se as escadas laterais entre o edifício principal
acesso principal (que antes era feito na fachada voltada e a igreja, e um antigo acesso entre o nível superior da
para a Igreja do Rosário, passou a ser feito pela Praça do escola e a nave da igreja (fot. 7), estão hoje
Rosário). Realizada pela CARPE em quatro meses. 2010-2011: desativados. A circulação vertical no edifício principal é
reforma e ampliação, com construção de mais três blocos na feita apenas por meio de escadas, mas uma vez que o anexo
lateral esquerda do terreno que se interliga à parte principal, possui uma rampa, o
Uso atual: Escola Estadual Monsenhor Francisco Miguel problema da acessibilidade é resolvido. O térreo do
edifício principal, (ver croquis plantas baixas) possui um
refeitório com acesso pelo pátio interno, auditório (fot.
1
Cf. JORNAL por dentro da escola (2011). 8) com cozinha de apoio, biblioteca, sala de informática,
2
A antiga Igreja do Rosário, construída em 1860, foi demolida no laboratório de ciências, arquivos, almoxarifado e
início da década de 1960 para construção em seu terreno, do banheiros. No pavimento superior existem 10 salas de aula
Ginásio Nossa Senhora do Rosário. A atual igreja foi construída (fot. 9), duas salas da supervisão (fot. 10), sala de
nos fundos da escola, com acesso independente pela Rua São José. leitura, setor de reprografia, banheiros e o hall superior
Cf. JORNAL por dentro da escola (2011). da antiga escadaria principal (fot. 11).
3
Idem 1.
4 5
Cf. JORNAL por dentro da escola (2011) e placa de reinauguração, Cf. Regimento Interno da Escola Estadual Mons. Francisco Miguel
referente à segunda reforma. Fernandes (2010).
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG 86

Construção: Para o bloco original, o sistema construtivo torre da Igreja do Rosário é o elemento arquitetônico mais
utilizado compõe-se de estrutura em pilares, vigas e lajes verticalizado do entorno imediato.
de concreto armado, permitindo grandes vãos para aberturas
(„janelas em fita‟) e vedação em tijolos cerâmicos. O piso 4. AVALIAÇÃO
é em granilite, na circulação; e cerâmico nos demais
ambientes (sendo que as diversas salas o piso original era
em tacos de madeira, e onde se situa atualmente o Técnica: A obra mantém integridade física no geral. Um
auditório, havia antes um pátio cimentado). Com exceção do problema identificado foi a dificuldade de acessibilidade
granilite original, todos os pisos cerâmicos foram tanto em relação ao térreo quanto em relação ao segundo
assentados durante a última reforma (2010-2011). As pavimento, já que no prédio principal só existem escadas
janelas são todas metálicas, do tipo de basculante, para circulação vertical (dependendo do edifício anexo e
pintadas na cor amarelo e com cerca de 2 m de altura. As sua rampa para tornar o edifício principal acessível).
paredes externas são pintadas de amarelo, com brises6,
horizontais e verticais, no entorno das janelas, que são Social: O edifício reflete uma proposta de modernização de
pintados em vermelho. As paredes internas são creme até prédios escolares empreendida à época de sua construção,
1,5 m de altura e branco até o teto, também branco. Nos quando muitas escolas do interior do estado ainda não
banheiros e cozinha, paredes azulejadas. As portas possuíam uma sede própria para essa finalidade. Apresenta
externas são metálicas, pintadas de amarelo. As portas de inovador a proposta de um espaço socializante, com
internas são de madeira, algumas envernizadas, outras atividades que incluem o ensino, os esportes, as artes,
pintadas de amarelo. A cobertura é quatro águas com telha etc. A história da escola se encontra desconhecida por
cerâmica. grande parte da população de Rio Espera. Concentra grande
parte do ensino publico do município, possuindo atualmente
Contexto: O volume se encontra inserido num trecho da Rua um total de 760 alunos, matriculados no Ensino
São José que se abre conformando a Praça do Rosário (fot. Fundamental, Ensino Médio e Educação de Jovens e Adultos,
12). O entorno apresenta volumetria simples, onde distribuídos em seus três turnos (matinal, vespertino e
predominam edificações de apenas um ou dois pavimentos noturno).
implantadas em terrenos planos e com pequenos afastamentos
em relação ao limite dos lotes. A maioria das construções Cultural e estética: O partido arquitetônico adotado
possui cobertura em telha cerâmica „tipo colonial‟, possui elementos marcantes do Modernismo na Arquitetura –
podendo haver também coberturas feitas com telha de grandes vãos para aberturas („janelas em fita‟), marcação
fibrocimento ou apenas em laje de concreto armado. Tanto a das esquadrias sugerindo ritmo e modulação, uso de brises,
Rua São José quanto a Praça do Rosário são pavimentadas bem como os materiais e tecnologias empregados – estrutura
com blocos hexagonais de cimento. A circulação de veículos em concreto armado, esquadrias metálicas, piso granilite,
e pedestres é tranquila, intensificada graças à presença tacos de madeira, etc., que podem ter sido utilizados por
da Escola Estadual Mons. Francisco Miguel Fernandes e da questões de racionalização, padronização, funcionalidade e
Igreja do Rosário. A arborização/vegetação é escassa, economia.
existindo pouca quantidade de árvores de pequeno porte ao
longo da via, na praça e nos pequenos recuos que tem os
Histórica: Em uma escala maior a obra arquitetônica está
lotes. Convivem no entorno imóveis das linguagens
associada com o contexto histórico dos anos 50-60 do
colonial/oitocentista, eclética, moderna e contemporânea.
século XX, no qual o Brasil populista governado por
Os usos existentes são o residencial, o comercial, o misto
Getúlio Vargas (eleito em 1950) e Juscelino Kubitschek
e o religioso, além do uso institucional (educacional). A
(eleito em 1955), procurava a modernização (o slogan de JK
– crescer 50 anos em 5 nos dá um bom exemplo do espírito
desse tempo). Nessa época nas capitais federal e estadual
6
Brise: elemento arquitetônico de proteção com a finalidade o Movimento Moderno Brasileiro florescia, e suas maiores
principal de interceptar os raios solares, quando estes forem expressões foram justamente construções estatais:
inconvenientes. Cf. CORONA e LEMOS, 1972, p.81. Com a Ministério de Educação e Saúde Pública no Rio de Janeiro,
popularização da arquitetura moderna, o brise passou a ser Conjunto Arquitetônico da Pampulha em Belo Horizonte, e o
utilizado apenas com a finalidade estética de compor as fachadas, auge, a construção de Brasília em 1960. O ano de 1964
e não mais por sua finalidade técnica.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG 87

marca o fim desta „República Populista‟ estabelecida por IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
Vargas e JK, e o início do Regime Militar, com o golpe de Enciclopédia dos Municípios Brasileiros. Rio de Janeiro:
31/03/1964, que derrubou João Goulart (vice de Jânio IBGE, 1957, v.27, p. 46-50.
Quadros) e instalou junta provisória até a eleição
indireta do General Castelo Branco, ainda naquele ano. IBGE – Cidades@: Rio Espera – MG. Disponível em:
Foi dentro desse contexto, se efetuou a „modernização‟ das http://www.ibge.gov.br/cidadesat/link.php?codmun=315520.
instalações educacionais da região7. Acesso em: 13/11/2011.

Mobilização pró-preservação e recuperação: O edifício está JORNAL "por dentro da escola". Rio Espera: E. E. Mons.
muito bem conservado em termos físicos, devido Francisco M. Fernandes, n. 3, 08 abr. 2011.
pincipalmente a sua última reforma. Entretanto, as
reformas pelas quais passou acabaram por descaracterizar
certos aspectos originais, com substituição tanto de MELLO, S. Arquitetura Moderna em Minas Gerais. In:
materiais de acabamento, quanto de ambientes e funções, Seminário Sobre a Cultura Mineira – Período Contemporâneo,
motivo pelo qual se considera o estado de conservação – 2., 1980. Anais do II Seminário Sobre a Cultura Mineira –
enquanto exemplar da arquitetura do período moderno – Período Contemporâneo. Belo Horizonte: Conselho Estadual
regular. Ainda desempenha sua função original, entretanto de Cultura de Minas Gerais/Imprensa Oficial, 1980, p. 39-
não há nenhuma mobilização pró-preservação. O edifício, 55.
com características de linguagem moderna e momento
histórico de construção relativamente recente, PEDROSA, M. A Arquitetura Moderna no Brasil. In: Dos
dificilmente é encarado pela maioria da população local Murais de Portinari aos Espaços de Brasília. Org. Aracy
como algo passível de preservação, uma vez que o senso Amaral. São Paulo: Perspectiva, 1981, p. 255-264.
comum geralmente nos leva a crer que apenas obras de
períodos mais antigos (como o colonial, o oitocentismo ou
REGIMENTO interno
o ecletismo) devem ser preservadas ou merecem prioridade
nessa mobilização.
RIBEIRO FILHO, A. B. Desbravamento, caminhos antigos e
povoamento nos sertões do leste: uma aventura de
Avaliação geral: O edifício da Escola Estadual Monsenhor
pioneiros. Viçosa: Centro de Referência do Professor,
Francisco Miguel Fernandes pode ser considerado como uma
2004.
expressão da „modernização‟ e desenvolvimento (sobretudo
no aspecto educacional) do município diante do contexto
histórico de sua construção. Material visual anexado: Fotografias e desenhos à mão
livre.
5. DOCUMENTAÇÃO
Pesquisador/data: Marcelo André Ferreira Leite / 08/2012-
07/2013.
BARBOSA, W. A. Dicionário Histórico e Geográfico de Minas
Gerais. Belo Horizonte: Promoção da Família, 1971, p. 407.

CORONA, C; LEMOS, C. Dicionário de Arquitetura Brasileira.


São Paulo: Edart, 1972.

ESCOLA Estadual Monsenhor Francisco Miguel Fernandes.


Regimento Interno, 2010.

7
O crítico de arte Mário Pedrosa afirma: “[A] arquitetura
moderna [pode ser vista] como propaganda de Estado” (PEDROSA,
1981, p. 258).
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG 88

6. ANEXOS

[da esquerda p/ direita e de cima p/ baixo] Fot. 1: Imagem da construção do prédio principal, entre 1961 e 1966. Fot. 2: Imagem área
do conjunto. Ao fundo à esquerda, em cinza, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário. Ao fundo formando um volume em „L‟, o edifício
principal, construído e inaugurado nos anos 1960. A frente, três volumes anexos, construídos durante a ampliação 2010-2011. Em
primeiro plano, a quadra poliesportiva. Fot. 3: Vista do largo e fachada frontal da Igreja de Nossa Senhora do Rosário, e parte da
fachada posterior da escola. Fot. 4: Fachada frontal, voltada para a Praça do Rosário, e parte da fachada lateral direita. Fot. 5:
Parte da fachada frontal, vista de outro ângulo, focalizando apenas o edifício principal. A porta à extrema esquerda é o acesso
direto à biblioteca. Fot. 6: Detalhe dos antigos acessos e comunicações com da escola com a igreja. Crédito das Imagens: 1: JORNAL
"por dentro da escola". Rio Espera: E. E. Mons. Francisco M. Fernandes, n. 3, 08 abr. 2011. 2: Disponível em:
http://monsenhorfrancisco.webnode.com.br, acesso em: 12/07/13. 3 a 6: Marcelo Leite, 24/08/12 e 15/03/13.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG 89

[da esquerda p/ direita e de cima p/ baixo] Fot. 7: Detalhe dos antigos acessos e comunicações com da escola com a igreja. Fot. 8:
Auditório (antigo pátio coberto). Fot. 9: Sala de aula. Fot. 10: Uma das salas da Supervisão. Fo.11: Hall superior da antiga escadaria
de acesso principal. Fot. 12: Fachadas frontal e lateral direita, conformando a esquina entra a Praça do Rosário e a Rua São Jose.
Crédito das Imagens: Marcelo Leite, 24/08/12 e 15/03/13.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG 90
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG 91

A6 - ESCOLA ESTADUAL JOSÉ DIAS PEDROSA

Pátio Interno.
Fonte: Marcelo Leite, 18/07/13.

Praça Nair Barbosa

Matriz de São Caetano

Rio Xopotó

Escola Estadual José Dias Pedrosa

Acesso à MG-132 sentido Alto Rio Doce,


Desterro do Melo, Dores do Turvo.

Situação. Fonte: Bingmaps, acesso em


18/07/13. Adaptado pelo autor.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG 92

1. IDENTIDADE DO EDIFÍCIO volumetria e implantação). A esse volumes originais foram


feitos os acréscimos descritos no item 2, mantendo de
Nome do edifício: Escola Estadual José Dias Pedrosa certa forma a volumetria original. A quadra se encontra a
Variante ou nome anterior: esquerda dos edifícios, num platô intermediário entre o
Endereço: Rua Capitão Gomes, s/n – Centro térreo e o pavimento superior do bloco posterior. Existem
Cidade: Cipotânea afastamentos aproveitados como jardim, sendo o frontal o
Estado: MG mais generoso (cerca de 8 m). A calçada em frente é
CEP: 36265-000 estreita em se tratando de um local de grande circulação e
País: Brasil aglomeração, possuindo cerca de 1 m de largura; há,
Coordenadas geográficas: 20.90°S 43.37°W entretanto uma espécie de praça em frente à escola, que
Classificação/tipologia: Educacional – EDC auxilia no embarque/desembarque de veículos com estudantes
Estado de proteção e data: Nenhum. e funcionários e outras atividades ligadas ao
funcionamento da escola (fot. 4 e 5). O acesso principal
se faz por meio de um portão para pedestres com 3 m de
2. HISTÓRIA DO EDIFÍCIO largura na testada, que conduz a escadaria de acesso. A
circulação vertical (entre o nível do bloco inferior-
Proposta original: Sede definitiva para a Escola Estadual frontal (fot. 6), passando pelo pátio coberto (fot. 7 e
José Dias Pedrosa, que desde 1965 funcionava de forma 8), chegando ao bloco superior- posterior) é feita apenas
provisória em uma escola de lata por meio de escadas e/ou degraus externos. A escola possui
Datas: Projeto e construção em 1977(A); inauguração em ao todo 15 salas de aula, laboratório de ciências,
1978 (E) 1 (fot. 1) biblioteca (fot. 9) e sala de informática, além de todas
Autor do projeto e colaboradores: CARPE - Comissão as instalações de apoio como salas da administração,
[Estadual] de Construção, Ampliação e Reconstrução de refeitório, cozinha e banheiros (croqui planta baixa).
Prédios Escolares
Outros associados ao projeto: Eng. Roberto Pereira da Construção: O sistema construtivo utilizado compõe-se de
Silva, Presidente da CARPE a época da inauguração da obra2 estrutura em pilares, vigas e lajes de concreto armado,
Alterações significativas: 1998 (E) (fot. 2): implantação permitindo grandes vãos para aberturas e para beirais
de um novo bloco, com sala de informática implantado amplos, que funcionam como circulação principal (fot. 10 a
paralelamente ao volume do pátio coberto, configurando um 12). A vedação é em tijolos cerâmicos. A estrutura de
fechamento ao pátio interno; ampliação do bloco original concreto se destaca nos prédios principais por meio de
inferior, no sentido do limite lateral esquerdo do lote; pintura na cor cinza. O piso interno original é todo em um
2008 (E) (fot. 3): ampliação - construção de mais três tipo de ladrilho hidráulico cinza (fot. 13), exceto em
salas de aula num segundo pavimento em cima da parte alguns ambientes que sofreram reforma ou nas áreas
esquerda do bloco original superior – acesso exclusivo por acrescidas ao partido original. Já a pavimentação externa
rampa é cimentada. As janelas são todas metálicas, do tipo de
Uso atual: Escola Estadual José Dias Pedrosa correr com basculante na bandeira superior pintadas na cor
Estado de conservação: Bom. cinza e com cerca de 2 m de altura, algumas com grades
(nos banheiros as janelas são apenas basculantes, cerca de
3. DESCRIÇÃO 50 cm de altura). As paredes em tijolo cerâmico se
encontram revestidas com pintura na cor creme. Nos
banheiros, são azulejadas com placas de 15x15 cm na cor
Descrição geral: dois edifícios originais de um pavimento,
branca. As portas são de madeira almofada envernizada. O
de linguagem moderna, volumetria simples e partido
teto recebe tinta branca. A cobertura dos blocos é duas
implantado em „H‟ em um grande lote acidentado (croquis de
águas de telhas cerâmicas, com estrutura de madeira
aparente e oitão vedado com muxarabi, aparente em pontos
1 do pátio coberto.
Cf. Placa de inauguração.
2
Cf. Idem nota 1.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG 93

Contexto: O entorno possui volumetria simples, questões de racionalização, padronização, funcionalidade e


predominando edificações de apenas um ou dois pavimentos, economia.
salvo as torres da Igreja Matriz de São Caetano (fot. 14),
ao final da Rua Capitão Gomes, com altura equivalente a Histórica: Em uma escala maior a obra arquitetônica está
cinco pavimentos, que podem ser avistadas da escola. De associada com o contexto histórico dos inicio dos anos 80
maneira geral, as construções apresentam pouco ou nenhum do século XX, no qual o Brasil o Brasil dominado pela
afastamento em relação o limite dos lotes. As calçadas são ditadura militar possuía eleições indiretas para os cargos
geralmente cimentadas, de aproximadamente 1 a 1,5m, e no públicos, politicamente estava reduzido a apenas dois
entorno há arborização apenas numa pequena praça em frente partidos (ARENA – Aliança Renovadora Nacional) e MDB
à escola e nos fundos dos lotes. A via em frente à escola (Movimento Democrático Brasileiro), social e culturalmente
é pavimentada com bloquetes hexagonais de concreto. A estava sujeito à intervenção dos órgãos governamentais de
circulação de veículos e pedestres é tranquila, censura e economicamente vivia o chamado „milagre
intensificada apenas no início e fim de cada turno econômico‟. Este último esteve diretamente ligado às obras
escolar, ou por veículos – incluindo-se o ônibus de infraestrutura produzidas pelo Estado – construção da
intermunicipal – que fazem o percurso nos sentidos Ponte Rio-Niterói, abertura da Rodovia Transamazônica, bem
Cipotânea – Alto Rio Doce e vice-versa. Convivem no como a construção de edifícios públicos, iniciada
entorno imóveis das linguagens eclética, moderna e primeiramente pelas esferas de governo Federal e Estadual,
contemporânea (com predomínio dessa última), bem como os não apenas nas regiões metropolitanas das capitais, mas
usos institucional, comercial, misto e residencial (com também no interior dos estados, tais como sedes dos Poder
predomínio desse último). Judiciário. Vivencia-se nos anos 80 a transição do Regime
Militar para o Regime Democrático. Em 1985 Tancredo Neves
4. AVALIAÇÃO foi eleito (mesmo que indiretamente) o primeiro civil para
o cargo de Presidente da República após cerca de 20 anos
Técnica: A obra mantém integridade física no geral. Alguns de ditadura. Antes dele, já haviam sido restauradas
problemas identificados foram a falta de acessibilidade em eleições para outros cargos, como o de Governador de
relação aos diferentes níveis da obra já que as escadas Estado e Prefeito de Capitais, entretanto, a população
ainda são a principal forma de circulação vertical. também ansiava pela volta das eleições diretas para
Presidência, fato que voltaria a ocorrer apenas em 1989.
Foi dentro desse contexto de „renovação política‟ que se
Social: O edifício reflete uma proposta de modernização de efetuou a „renovação física‟ das instalações educacionais
prédios escolares empreendida à época de sua construção, da região 3 . Características do Movimento Moderno
quando muitas escolas do interior do estado ainda não Brasileiro, cujas maiores expressões são justamente
possuíam uma sede própria para essa finalidade, estando construções estatais (como o Ministério de Educação e
abrigadas em edifícios provisórios. Apresenta de inovador Saúde Pública no Rio de Janeiro e o Conjunto Arquitetônico
a proposta de um espaço socializante, com atividades que da Pampulha em Belo Horizonte) (MELLO, 1982) e que tem
incluem o ensino, os esportes, as artes, etc. A história como ápice a construção de Brasília em 1960, continuaram a
da Escola se encontra desconhecida por grande parte da ser difundidas durante os anos 70 e 80 e certamente noções
população de Cipotânea. Concentra grande parte do ensino e detalhes (para finalidades
publico do município, possuindo atualmente um total de 800 construtivas/técnicas/funcionais) chegaram a diversas
alunos matriculados no Ensino Fundamental, Ensino Médio e regiões de Minas Gerais4.
Educação de Jovens e Adultos, distribuídos em seus três
turnos (matinal, vespertino e noturno).

Cultural e estética: O partido arquitetônico adotado 3


O crítico de arte Mário Pedrosa afirma: “[A] arquitetura
possui elementos marcantes do Modernismo na Arquitetura – moderna [pode ser vista] como propaganda de Estado” (PEDROSA,
grandes vãos para aberturas, marcação das esquadrias 1981, p. 258).
sugerindo ritmo e modulação, bem como os materiais e 4
Projetos estatais como os da CARPE frequentemente eram
tecnologias empregados – estrutura em concreto armado, padronizados, de modo a facilitar sua implantação nas mais
esquadrias metálicas, que podem ter sido utilizados por diversas localidades do estado. Um exemplo é que o projeto da
Escola Estadual José Dias Pedrosa é o mesmo executado em Brás
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG 94

Mobilização pró-preservação e recuperação: O edifício está Período Contemporâneo. Belo Horizonte: Conselho Estadual
bem conservado e continua a desempenhar sua função de Cultura de Minas Gerais/Imprensa Oficial, 1980, p. 39-
original, entretanto não há nenhuma mobilização pró- 55.
preservação. O edifício, com características de linguagem
moderna e momento histórico de construção relativamente PEDROSA, M. A Arquitetura Moderna no Brasil. In: Dos
recente, dificilmente é encarado pela maioria da população Murais de Portinari aos Espaços de Brasília. Org. Aracy
local como algo passível de preservação, uma vez que o Amaral. São Paulo: Perspectiva, 1981, p. 255-264.
senso comum geralmente nos leva a crer que apenas obras de
períodos mais antigos (como o colonial, o oitocentismo ou
o ecletismo) devem ser preservadas ou merecem prioridade RIBEIRO FILHO, A. B. Desbravamento, caminhos antigos e
nessa mobilização. povoamento nos sertões do leste: uma aventura de
pioneiros. Viçosa: Centro de Referência do Professor,
2004.
Avaliação geral: O edifício da Escola Estadual José Dias
Pedrosa pode ser considerado como uma expressão da
„modernização‟ e desenvolvimento (sobretudo no aspecto Material visual anexado: Fotografias e desenhos à mão
educacional) do município diante do contexto histórico de livre
sua construção.
Pesquisador/data: Marcelo André Ferreira Leite / 04/2013-
5. DOCUMENTAÇÃO 07/2013.

ACERVO Setop. Grupos escolares em Minas Gerais. Disponível


em: http://www.acervosetop.mg.gov.br, acesso em:
13/07/2013.

BARBOSA, W. A. Dicionário Histórico e Geográfico de Minas


Gerais. Belo Horizonte: Promoção da Família, 1971, p. 126.

IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.


Enciclopédia dos Municípios Brasileiros. Rio de Janeiro:
IBGE, 1957, v.24, p. 443-445.

IBGE – Cidades@: Cipotânea – MG. Disponível em:


http://www.ibge.gov.br/cidadesat/link.php?codmun=311630.
Acesso em: 18/07/2013.

MELLO, S. Arquitetura Moderna em Minas Gerais. In:


Seminário Sobre a Cultura Mineira – Período Contemporâneo,
2., 1980. Anais do II Seminário Sobre a Cultura Mineira –

Pires (E. E. São Luís), Catas Altas da Noruega (E. E. Gustavo A.


da Silva), Dores do Turvo (E. E. Terezinha Pereira), Divinésia
(E. E. Prof. Biolkino de A. Campomizzi Filho), Porto Firme (E. E.
Dr. Sólon Ildefonso), São Geraldo (E. E. Ormindo de S. Lima),
Guidoval (E. E. Mariana de Paiva) e Tocantins (E. E. Prof. João
Loyola), cidades da Zona da Mata mineira abordadas pelas
pesquisas de Arquitetura Moderna do Departamento de Arquitetura e
Urbanismo da UFV.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG 95

6. ANEXOS

[da esquerda p/ à direita e de cima p/ baixo] Fot. 1: Placa de inauguração. Fot. 2: Placa da ampliação de 1998. Fot. 3: Placa da
ampliação de 2008. Fot. 4 e 5: Entorno imediato, rua de acesso à escola. Fot. 6: Vista parcial do bloco inferior original. Créditos
das imagens: Marcelo Leite, 18/07/2013.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG 96

[da esquerda p/ à direita e de cima p/ baixo] Fot.


7: Pátio Coberto, vista lateral direita. Fot. 8:
Pátio Coberto, vista interna. Fot. 9: Biblioteca.
Fot. 10: Circulação principal do bloco inferior,
vista esquerda. Fot. 11: Circulação principal do
bloco inferior, vista direita. Fot. 12: Circulação
principal do bloco superior. Fot. 13: Ladrilho
hidráulico. Fot. 14: Matriz de São Caetano. Créditos
das imagens: 7 a 13: Marcelo Leite, 18/07/2013. 14:
disponível em: http://www.latinoamerica24.com,
acesso em 19/07/2013.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG 97
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG
98

A7 - ESCOLA ESTADUAL GUSTAVO AUGUSTO DA SILVA

Pátio Interno.
Fonte: Marcelo Leite, 07/03/13.

Igreja de São Gonçalo do Amarante


(Tombada pelo IPHAN)

Escola Estadual Gustavo Augusto da Silva

Sede da Paróquia de Gonçalo do


Amarante

Acesso à BR-482 sentido Lamim,


Itaverava, Piranga.

Situação. Fonte: Googlemaps, acesso em


28/01/13. Adaptado pelo autor.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG
99

1. IDENTIDADE DO EDIFÍCIO 3. DESCRIÇÃO

Nome do edifício: Escola Estadual Gustavo Augusto da Silva Descrição geral: três edifícios de um pavimento, de
Variante ou nome anterior: linguagem moderna, com volumetria simples e sendo o
Endereço: Rua 29 de Julho, n° 237 – Centro partido original (com apenas dois edifícios) implantado em
Cidade: Catas Altas da Noruega „H‟ em um grande lote de 5433 m2 no alto de um morro
Estado: MG (croquis de volumetria e implantação). O terceiro edifício
CEP: 36450-000 foi implantado em um platô abaixo do volume principal em
País: Brasil „H‟ (cerca de 1,5 m) e mais próximo ao limite lateral
Coordenadas geográficas: 20.69°S 43.49°W direito do terreno (fot. 2 e 3). A quadra se encontra a
Classificação/tipologia: Educacional – EDC esquerda dos volumes principais, num platô elevado em
Estado de proteção e data: Nenhum. cerca de 1,5 m (fot. 4). Existem grandes afastamentos
aproveitados como jardim (fot. 5). A calçada em frente é
2. HISTÓRIA DO EDIFÍCIO estreita em se tratando de um local de grande circulação e
aglomeração, possuindo cerca de 1 m de largura. O acesso
principal se faz por meio de um portão para pedestres com
Proposta original: Sede definitiva para a Escola Estadual 3 m de largura na testada (fot. 6), existindo à esquerda
Gustavo Augusto da Silva, fundada em 1900 e que desde 1920 do portão principal um portão secundário, com cerca 1 m de
funcionou em diversos locais cedidos até a construção do largura. A circulação vertical (entre os três platôs) é
prédio atual feita apenas por meio de escadas externas. Os blocos
Datas: Projeto e construção em 1978(A); inauguração em originais possuem juntos oito salas de aula, biblioteca,
13/03/1979 (E) (fot. 1) refeitório (fot. 7) e instalações administrativas e de
Autor do projeto e colaboradores: CARPE - Comissão apoio. O anexo funciona atualmente como mais quatro salas
[Estadual] de Construção, Ampliação e Reconstrução de de aula (croqui planta baixa).
Prédios Escolares
Outros associados ao projeto: Mário Lobo Neiva, Prefeito
Municipal à época da inauguração da obra1 Construção: O sistema construtivo utilizado compõe-se de
Alterações significativas: Uma reforma e a construção de estrutura em pilares, vigas e lajes de concreto armado,
mais um bloco (não constante no projeto original, mas permitindo grandes vãos para aberturas e vedação em
mantendo uma volumetria semelhante), denominado “Auditório tijolos cerâmicos aparentes (fot. 8). A estrutura de
Nair de Rezende Gonçalves de Araújo”, com mais duas salas concreto se destaca nos prédios principais por meio de
de aula além do auditório propriamente dito, foi realizada pintura na cor amarelo (externa) ou branca (interna). O
entre abril de 2001 e outubro de 2002, tendo sido piso é todo em cerâmica São Caetano 2 vermelha, com exceção
reinaugurada a escola em 14/11/2003. Atualmente, o dos banheiros, do refeitório e do bloco do auditório, que
auditório foi convertido em duas salas de aula, com uso de possuem piso cerâmico, e das áreas externas, onde o piso é
uma parede divisória de madeira. Outra reforma e a cimentado. As janelas são todas metálicas, do tipo de
construção de uma quadra poliesportiva descoberta foi correr com basculante na bandeira superior, pintadas na
realizada entre 08/04 e 31/08/2009. Atualmente, existe cor cinza e com cerca de 2 m de altura, todas com grades.
também um projeto datado de 07/2012 (ainda não executado)
que prevê uma ampliação da escola com a construção de um
novo bloco e a reforma e cobrimento da quadra.
Uso atual: Escola Estadual Gustavo Augusto da Silva 2
A Cerâmica São Caetano era a maior e a mais tradicional
Estado de conservação: Bom. fabricante de artefatos cerâmicos dos anos 50. Cf. SEGAWA, H.
Oswaldo Arthur Bratke: Vila Serra do Navio e Vila Amazonas. In:
GUERRA, A. (Org.). Textos fundamentais sobre a história da
arquitetura moderna brasileira. São Paulo: Romano Guerra, 2010,
v. 2, p. 130. Para mais informações sobre a Cerâmica São Caetano,
ver referência HISTÓRIA... no item 5.

1
Cf. Placa de inauguração.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG
100

Nos blocos principais, nas paredes voltadas para o pátio principais e auditório), já que existem apenas escadas
coberto ou corredores, existem aberturas basculantes no como forma de circulação vertical.
alto, cerca de 40 cm antes do encontro com as vigas (fot.
9). As janelas da fachada frontal do bloco do auditório e Social: O edifício reflete uma proposta de modernização de
as janelas do antigo „camarim‟ são do tipo basculante. As prédios escolares empreendida à época de sua construção,
paredes internas são em tijolo cerâmico aparente, de tons quando muitas escolas do interior do estado ainda não
avermelhados, e as paredes externas alternam entre vãos possuíam uma sede própria para essa finalidade, estando
com tijolos aparentes e vãos com janelas e pintura na cor abrigadas em edifícios provisórios. Apresenta de inovador
amarelo (fot. 10). No bloco do auditório, as paredes a proposta de um espaço socializante, com atividades que
externas e internas recebem apenas pintura na cor amarelo. incluem o ensino, os esportes, as artes, etc. A história
Nos blocos principais, as laterais das lousas, da mesma da Escola se encontra desconhecida por grande parte da
forma recebem azulejo branco, da mesma forma que nos população de Catas Altas na Noruega. Concentra grande
banheiros, onde seguem até 2 m de altura, no encontro com parte do ensino publico do município, possuindo atualmente
uma camada de 40 cm de parede pintada até o encontro com a um total de 780 alunos matriculados no Ensino Fundamental,
viga. As portas são de madeira almofada envernizada. O Ensino Médio, Educação de Jovens e Adultos e Curso Normal
teto recebe tinta branca. A cobertura dos blocos é em duas (magistério), distribuídos em seus três turnos (matinal,
águas de telhas cerâmicas, com estrutura de madeira vespertino e noturno).
aparente e oitão vedado com muxarabi nos blocos principais
(fot. 11) e estrutura oculta por oitão de alvenaria no
bloco do auditório. Cultural e estética: O partido arquitetônico adotado
possui elementos marcantes do Modernismo na Arquitetura –
grandes vãos para aberturas, marcação das esquadrias
Contexto: O entorno possui volumetria simples, sugerindo ritmo e modulação, bem como os materiais e
predominando edificações de apenas um ou dois pavimentos, tecnologias empregados – estrutura em concreto armado,
salvo a cumeeira da Igreja de São Gonçalo do Amarante - esquadrias metálicas, tijolos aparentes, etc., que podem
tombada pelo IPHAN - com altura equivalente a três ter sido utilizados por questões de racionalização,
pavimentos (fot. 12) e a torre central da Igreja Matriz de padronização, funcionalidade e economia. Entretanto, o
Nossa Senhora das Graças (ao final da Avenida Nossa bloco do auditório (mais recente) apesar da volumetria
Senhora das Graças) com altura equivalente a quatro parecida, não dialoga com os blocos originais devido
pavimentos, que podem ser avistadas da escola. De maneira principalmente aos materiais utilizados no acabamento.
geral, as construções apresentam pouco ou nenhum
afastamento em relação o limite dos lotes. As calçadas são
geralmente cimentadas, de aproximadamente 1 a 1,5m, e no Histórica: Em uma escala maior a obra arquitetônica está
entorno há arborização apenas numa pequena praça em frente associada com o contexto histórico dos inicio dos anos 80
à escola e nos fundos dos lotes. A via em frente à escola do século XX, no qual o Brasil o Brasil dominado pela
e a Avenida Nossa Senhora das Graças são asfaltadas, ditadura militar possuía eleições indiretas para os cargos
possuindo esta última via um pequeno canteiro central públicos, politicamente estava reduzido a apenas dois
gramado (cerca de 50 cm de largura). A circulação de partidos (ARENA – Aliança Renovadora Nacional) e MDB
veículos e pedestres é tranquila, intensificada apenas no (Movimento Democrático Brasileiro), social e culturalmente
início e fim de cada turno escolar. Convivem no entorno estava sujeito à intervenção dos órgãos governamentais de
imóveis das linguagens eclética, moderna e contemporânea censura e economicamente vivia o chamado „milagre
(com predomínio dessa última), bem como os usos econômico‟. Este último esteve diretamente ligado às obras
institucional, comercial, misto e residencial (com de infraestrutura produzidas pelo Estado – construção da
predomínio desse último). Ponte Rio-Niterói, abertura da Rodovia Transamazônica, bem
como a construção de edifícios públicos, iniciada
primeiramente pelas esferas de governo Federal e Estadual,
4. AVALIAÇÃO não apenas nas regiões metropolitanas das capitais, mas
também no interior dos estados, tais como sedes dos Poder
Técnica: A obra mantém integridade física no geral. Alguns Judiciário. Vivencia-se nos anos 80 a transição do Regime
problemas identificados foram a falta de acessibilidade em Militar para o Regime Democrático. Em 1985 Tancredo Neves
relação aos diferentes níveis da obra (quadra, blocos foi eleito (mesmo que indiretamente) o primeiro civil para
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG
101

o cargo de Presidente da República após cerca de 20 anos da „modernização‟ e desenvolvimento (sobretudo no aspecto
de ditadura. Antes dele, já haviam sido restauradas educacional) do município diante do contexto histórico de
eleições para outros cargos, como o de Governador de sua construção.
Estado e Prefeito de Capitais, entretanto, a população
também ansiava pela volta das eleições diretas para 5. DOCUMENTAÇÃO
Presidência, fato que voltaria a ocorrer apenas em 1989.
Foi dentro desse contexto de „renovação política‟ que se
efetuou a „renovação física‟ das instalações educacionais BARBOSA, W. A. Dicionário Histórico e Geográfico de Minas
da região 3 . Características do Movimento Moderno Gerais. Belo Horizonte: Promoção da Família, 1971, p. 121.
Brasileiro, cujas maiores expressões são justamente
construções estatais (como o Ministério de Educação e HISTÓRIA do piso de caquinhos das casas paulistas.
Saúde Pública no Rio de Janeiro e o Conjunto Arquitetônico Disponível em:
da Pampulha em Belo Horizonte) (MELLO, 1982) e que tem http://eleganciadascoisas.wordpress.com/2011/06/21/a-
como ápice a construção de Brasília em 1960, continuaram a historia-do-piso-de-caquinhos-das-casas-paulistas-2/.
ser difundidas durante os anos 70 e 80 e certamente noções Acesso em: 06/02/2013.
e detalhes (para finalidades
construtivas/técnicas/funcionais) chegaram a diversas
IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
regiões de Minas Gerais4.
Enciclopédia dos Municípios Brasileiros. Rio de Janeiro:
IBGE, 1957, v.24, p. 500-509.
Mobilização pró-preservação e recuperação: O edifício está
bem conservado e continua a desempenhar sua função
IBGE – Cidades@: Catas Altas da Noruega – MG. Disponível
original, entretanto não há nenhuma mobilização pró-
em:
preservação. O edifício, com características de linguagem
http://www.ibge.gov.br/cidadesat/link.php?codmun=311540.
moderna e momento histórico de construção relativamente
Acesso em: 05/11/2011.
recente, dificilmente é encarado pela maioria da população
local como algo passível de preservação, uma vez que o
senso comum geralmente nos leva a crer que apenas obras de MELLO, S. Arquitetura Moderna em Minas Gerais. In:
períodos mais antigos (como o colonial, o oitocentismo ou Seminário Sobre a Cultura Mineira – Período Contemporâneo,
o ecletismo) devem ser preservadas ou merecem prioridade 2., 1980. Anais do II Seminário Sobre a Cultura Mineira –
nessa mobilização. Período Contemporâneo. Belo Horizonte: Conselho Estadual
de Cultura de Minas Gerais/Imprensa Oficial, 1980, p. 39-
55.
Avaliação geral: O edifício da Escola Estadual Gustavo
Augusto da Silva pode ser considerado como uma expressão
PEDROSA, M. A Arquitetura Moderna no Brasil. In: Dos
Murais de Portinari aos Espaços de Brasília. Org. Aracy
3
O crítico de arte Mário Pedrosa afirma: “[A] arquitetura Amaral. São Paulo: Perspectiva, 1981, p. 255-264.
moderna [pode ser vista] como propaganda de Estado” (PEDROSA,
1981, p. 258). RIBEIRO FILHO, A. B. Desbravamento, caminhos antigos e
4
Projetos estatais como os da CARPE frequentemente eram povoamento nos sertões do leste: uma aventura de
padronizados, de modo a facilitar sua implantação nas mais pioneiros. Viçosa: Centro de Referência do Professor,
diversas localidades do estado. Um exemplo é que o projeto da 2004.
Escola Estadual Gustavo A. da Silva é o mesmo executado em Brás
Pires (E. E. São Luís), Cipotânea (E. E. José D. Pedrosa), Dores
Material visual anexado: Fotografias e desenhos à mão
do Turvo (E. E. Terezinha Pereira), Divinésia (E. E. Prof.
livre
Biolkino de A. Campomizzi Filho), Porto Firme (E. E. Dr. Sólon
Ildefonso), São Geraldo (E. E. Ormindo de S. Lima), Guidoval (E.
E. Mariana de Paiva) e Tocantins (E. E. Prof. João Loyola), Pesquisador/data: Marcelo André Ferreira Leite / 08/2012-
cidades da Zona da Mata mineira abordadas pelas pesquisas de 07/2013.
Arquitetura Moderna do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da
UFV.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG
102

6. ANEXOS

[da esquerda p/ à direita e de cima p/ baixo] Fot. 1: Placa de inauguração. Fot. 2:


Contraste entre anexo (esquerda) e bloco original menor (direita). Fot. 3: Contraste
entre anexo (à frente) e bloco original maior (ao fundo a esquerda). Fot. 4: Quadra
poliesportiva descoberta, em cota elevada em relação ao restante do conjunto. Fot. 5:
Perspectiva do conjunto: em primeiro plano, o bloco original menor, seguido do bloco
original menor (a direita) e o volume ao fundo (na extrema direita). Fot. 6: Vista do
portão de acesso principal (a esquerda) e da área aproveitada como jardim em frente aos
blocos. Créditos das imagens: Marcelo Leite, 03/08/2012 e 07/03/2013.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG
103

[da esquerda p/ à direita e de cima p/ baixo] Fot. 7: Refeitório. Fot. 8: Sala de aula, vista para as janelas. Fot. 9: Sala de aula,
detalhe da ventilação superior. Fot. 10: Parte da fachada o bloco original maior, voltada para o pátio interno, evidenciando-se a
modulação e os materiais de acabamento. Fot. 11: Vista do bloco original menor, evidenciando-se o oitão em muxarabi, a cobertura
cerâmica em duas águas e fachada voltada para o pátio interno. Fot. 12: Igreja de São Gonçalo do Amarante, bem tombado pelo IPHAN,
localizada nas proximidades da Escola Estadual Gustavo Augusto da Silva. Créditos das imagens: Marcelo Leite, 03/08/2012 e
07/03/2013.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG
104
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG
105

A8 - ESCOLA ESTADUAL PROF. CÍCERO TORRES GALINDO

Fachada Frontal. Fonte: Marcelo Leite,


10/01/13.

MG-124 sentido Brás Pires,


Senhora de Oliveira, Lamim.
Hospital São João de Deus
Matriz de Nossa Senhora da
Conceição
Praça Raimundo Carneiro

Prefeitura Municipal de Senador


Firmino
Fórum Dr. Raul de Barros Fernandes
Residência Custódio Fernandes
Cabral
Escola Estadual Prof. Cícero Torres
Galindo

MG-124 sentido Divinésia,


Paula Cândido, Ubá.

Rio Turvo
Situação. Fonte: Googlemaps, acesso em
MG-280 sentido Dores do Turvo, Alto Rio Doce, 16/01/13. Adaptado pelo autor.
Cipotânea.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG
106

1. IDENTIDADE DO EDIFÍCIO Fonseca; projeto padrão de laje pré-moldada e caixa


d‟água subterrânea: desenho de Guilherme Bomfim
Nome do edifício: Escola Estadual Prof. Cícero Machado; projeto padrão hidráulico: arq. Niomar
Torres Galindo Alves de Rezende e desenho de Edmundo Pimenta
Variante ou nome anterior: (Gaffraga);
Endereço: Rua João Custódio de Moura, n° 118– Centro Outros associados ao projeto:
Cidade: Senador Firmino Alterações significativas: 1991 (A): construção de
Estado: MG dois blocos anexos onde funcionam a biblioteca e a
CEP: 36540-000 serraria, respectivamente; 2008 (E): mudança de
País: Brasil parte da secretaria e da sala de informática para o
Coordenadas geográficas: 20.91°S 43.09°W pavimento superior, em decorrência de uma enchente
Classificação/tipologia: Educacional – EDC que danificou parte dos equipamentos eletrônicos e
Estado de proteção e data: Nenhum. arquivos; 03/2009-11/2009 (E): construção da quadra
poliesportiva
Uso atual: Escola Estadual Prof. Cícero Torres
2. HISTÓRIA DO EDIFÍCIO
Galindo
Estado de conservação: Bom.
Proposta original: Sede definitiva para a Escola
Estadual Prof. Cícero Torres Galindo, fundada em
3. DESCRIÇÃO
1954
Datas1: projeto padrão arquitetônico de 12/1974
(modificado em 06/1976) (E) (fot. 1 a 3); Projeto Descrição geral: dois edifícios com dois pavimentos,
padrão estrutural de 1979 (E); projeto padrão de de linguagem moderna, com volumetria simples e
soluções de escadas de 05/1979 (E); projeto padrão implantados em „H‟ em um grande lote plano
de esquadrias de ferro de 03/1980; projeto padrão de (provavelmente houve obras de terraplanagem) próximo
laje pré-moldada e caixa d‟água subterrânea de ao rio Turvo (ver croquis volumetria e implantação).
08/1980 (E); projeto padrão hidráulico de 11/1980; A escola possui ainda uma quadra poliesportiva
construção entre 1978 e 1982(A); inauguração em 1982 coberta (fot.6 e 7), situada próxima do limite
(A) posterior do terreno. Existem grandes afastamentos
Autor do projeto e colaboradores2: CARPE – Comissão aproveitados como jardim - só o afastamento frontal
[Estadual] de Construção, Ampliação e Reconstrução (o menor) possui 8 m(fot. 8). A calçada em frente é
de Prédios Escolares; projeto padrão arquitetônico: estreita em se tratando de um local de grande
redesenho de Hélio Ribas; projeto padrão estrutural: circulação e aglomeração, possuindo entre 1,0 a 1,5
eng. Darlan Francis de A. Silva e arq. Niomar Alves m de largura. O acesso principal se faz por meio de
de Rezende; projeto arquitetônico padrão e de um portão para pedestres com 3 m de largura na
soluções de escadas: arq. Fernando Luiz Teixeira testada do lote, que conduz ao pátio central. A
Torres, desenho de Otaviano de Oliveira Filho; circulação vertical é feita por meio de uma escada e
projeto padrão de esquadrias de ferro: Wallace de uma rampa, vedadas com cobogós3 cerâmicos (fot. 9
Corradi Mello, desenho de Maria Beatriz de Marco e 10). No primeiro pavimento se encontram a
biblioteca, salas da administração, três salas de

1
Segundo informações encontradas na Escola Estadual Prof. Cícero 3
Cobogó, combogó ou combogê: tijolo furado ou elemento vazado
Torres Galindo e também na Escola Estadual Conselheiro Antão em feito de cimento empregado na construção de paredes perfuradas,
Itaverava-MG, cujo prédio possui grande semelhança com o edifício cuja função principal seria a de separar o interior do exterior,
da Escola Estadual Prof. Cícero Torres Galindo. sem prejuízo da luz natural e da ventilação. Cf. CORONA e LEMOS,
2
Idem nota 1. 1972, p.138.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG
107

aula, refeitório e cozinha. No pavimento superior, Contexto: O volume se insere no fim da Rua João
se situam a sala de informática, a secretaria e mais Custódio de Moura (rua sem saída com cerca de 100 m
oito salas de aula (ver croquis plantas baixas). de comprimento) junto a uma área aberta que serve
tanto para conter um número considerável de pessoas
Construção: O sistema construtivo utilizado compõe- aglomeradas (visto que se trata de uma escola, o
se de estrutura em pilares, vigas e lajes de fluxo no início e fim de cada turno tende a ser
concreto armado (fot.11), permitindo grandes vãos intenso) quanto como rotatória de veículos (fot.15).
para aberturas („janelas em fita‟) (fot.12) e O entorno apresenta volumetria simples, onde
vedação em tijolos cerâmicos. A estrutura de predominam edificações de apenas um ou dois
concreto se destaca em todo o prédio por meio de pavimentos implantadas em terrenos relativamente
pintura na cor bege. O piso é todo em cerâmica São planos e com pequenos afastamentos em relação o
Caetano4 vermelha, com exceção dos banheiros, que limite dos lotes. A maioria das construções possui
possuem piso cerâmico branco, do pátio coberto, em cobertura em telha cerâmica, havendo também
placas cimentícias de 40x40 cm, dos corredores e do coberturas feitas com telha de fibrocimento/metálica
pátio interno, cimentados. O pátio interno possui ou laje de concreto. Alguns imóveis transformaram a
canteiros com vegetação de médio porte em suas cobertura em terceiro pavimento através da
laterais, próximas aos edifícios. As janelas são instalação de cobertura descolada sustentada por
todas metálicas, do tipo de correr com basculante na estrutura metálica. Todas as vias próximas à Escola
bandeira superior, pintadas na cor azul escuro e com são pavimentadas com paralelepípedos de pedra. A
cerca de 2 m de altura, sendo as do térreo com circulação de veículos e pedestres é tranquila na
grades. Nas paredes voltadas para o pátio coberto ou Rua João Custódio de Moura, porém mais intensa nas
corredores, existem aberturas basculantes no alto, ruas vizinhas devido ao trânsito de veículos
cerca de 40 cm antes do encontro com as vigas (incluindo ônibus intermunicipais) que fazem os
(fot.13). As paredes são em tijolo cerâmico percursos no sentido Divinésia – Brás Pires e vice-
aparente, de tons avermelhados, tanto externa quanto versa, ou Divinésia – Dores do Turvo e vice-versa.
internamente, exceto os banheiros, com azulejo Nas proximidades, se encontra o Hospital São João de
branco até 2 m de altura, seguidos por uma camada de Deus, também em linguagem moderna, e a Praça
40 cm de parede pintada de azul claro até o encontro Raimundo Carneiro, núcleo central do município.
com a viga. As portas são de madeira almofadada Convivem no entorno imóveis das linguagens eclética,
envernizada. O teto recebe tinta branca sobre um moderna e contemporânea. Os usos existentes são o
chapisco grosso. A cobertura dos blocos é em duas comercial, o misto, o institucional e o residencial
águas com telhas cerâmicas, estrutura de madeira (este último o predominante). A torre da Igreja
aparente e oitão vedado com muxarabi (fot.14). Matriz de Nossa Senhora da Conceição é o elemento
arquitetônico mais verticalizado que pode ser visto
do entorno imediato.

4. AVALIAÇÃO
4
A Cerâmica São Caetano era a maior e a mais tradicional Técnica: A obra mantém integridade física no geral.
fabricante de artefatos cerâmicos dos anos 50. Cf. SEGAWA, H.
Existem vigas e lajes com balanços de 1,5 m que
Oswaldo Arthur Bratke: Vila Serra do Navio e Vila Amazonas. In:
GUERRA, A. (Org.). Textos fundamentais sobre a história da formam as circulações nos piso superior de todos os
arquitetura moderna brasileira. São Paulo: Romano Guerra, 2010, blocos, além do patamar das escadas, o que
v. 2, p. 130. Para mais informações sobre a Cerâmica São possivelmente constituía uma inovação no momento de
Caetano, ver referência HISTÓRIA... no item 5. sua construção, em relação ao modo de construir
local. Alguns problemas identificados foram a falta
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG
108

de acessibilidade em relação aos segundos pavimentos da Ponte Rio-Niterói, abertura da Rodovia


dos blocos, já que a rampa existente possui Transamazônica, bem como a construção de edifícios
inclinação muito acima do valor recomendado de 8% e públicos, iniciada primeiramente pelas esferas de
o desbotamento ou descascamento da pintura em alguns governo Federal e Estadual, não apenas nas regiões
pontos do edifício. metropolitanas das capitais, mas também no interior
dos estados, tais como os prédios escolares.
Social: O edifício reflete uma proposta de Vivencia-se nos anos 80 a transição do Regime
modernização de prédios escolares empreendida à Militar para o Regime Democrático. Em 1985 Tancredo
época de sua construção, quando muitas escolas do Neves foi eleito (mesmo que indiretamente) o
interior do estado ainda não possuíam uma sede primeiro civil para o cargo de Presidente da
própria para essa finalidade, estando abrigadas em República após cerca de 20 anos de ditadura. Antes
edifícios provisórios. Apresenta de inovador a dele, já haviam sido restauradas eleições para
proposta de um espaço socializante, com atividades outros cargos, como o de Governador de Estado e
que incluem o ensino, os esportes, as artes, etc. A Prefeito de Capitais, entretanto, a população também
história da escola se encontra desconhecida por ansiava pela volta das eleições diretas para
grande parte da população de Senador Firmino. Presidência, fato que voltaria a ocorrer apenas em
Concentra grande parte do ensino publico do 1989. Foi dentro desse contexto de „renovação
município, possuindo atualmente um total de 820 política‟ que se efetuou a „renovação física‟ das
alunos, matriculados no Ensino Fundamental, Ensino instalações educacionais da região5. Características
Médio e Educação de Jovens e Adultos, distribuídos do Movimento Moderno Brasileiro, cujas maiores
em seus três turnos (matinal, vespertino e noturno). expressões são justamente construções estatais (como
o Ministério de Educação e Saúde Pública no Rio de
Janeiro e o Conjunto Arquitetônico da Pampulha em
Cultural e estética: O partido arquitetônico adotado
Belo Horizonte) (MELLO, 1982) e que tem como ápice a
possui elementos marcantes do Modernismo na
construção de Brasília em 1960, continuaram a ser
Arquitetura – grandes vãos para aberturas („janelas
difundidas durante os anos 70 e 80 e certamente
em fita‟), marcação das esquadrias sugerindo ritmo e
noções e detalhes (para finalidades
modulação, bem como os materiais e tecnologias
construtivas/técnicas/funcionais) chegaram a
empregados – estrutura em concreto armado,
diversas regiões de Minas Gerais6.
esquadrias metálicas, cobogós, tijolos aparentes,
etc., que podem ter sido utilizados por questões de
racionalização, padronização, funcionalidade e Mobilização pró-preservação e recuperação: O
economia. edifício está bem conservado e continua a
desempenhar sua função original, entretanto não há
nenhuma mobilização pró-preservação. O edifício, com
Histórica: Em uma escala maior a obra arquitetônica
está associada com o contexto histórico do inicio
5
dos anos 80 do século XX, no qual o Brasil dominado O crítico de arte Mário Pedrosa afirma: “[A] arquitetura
pela ditadura militar possuía eleições indiretas moderna [pode ser vista] como propaganda de Estado” (PEDROSA,
para os cargos públicos, politicamente estava 1981, p. 258).
6
reduzido a apenas dois partidos (ARENA – Aliança Projetos estatais como os da CARPE frequentemente eram
Renovadora Nacional) e MDB (Movimento Democrático padronizados, de modo a facilitar sua implantação nas mais
diversas localidades do estado. Um exemplo é o projeto de
Brasileiro), social e culturalmente estava sujeito à
edifício escolar executado em Senador Firmino, que também foi
intervenção dos órgãos governamentais de censura e executado em Itaverava (E. E. Conselheiro Antão) e Araponga (E.
economicamente vivia o chamado „milagre econômico‟. E. José E. de Souza), cidades da Zona da Mata mineira abordadas
Este último esteve diretamente ligado às obras de pelas pesquisas de Arquitetura Moderna do Departamento de
infraestrutura produzidas pelo Estado – construção Arquitetura e Urbanismo da UFV.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG
109

características de linguagem moderna e momento IBGE – Cidades@: Senador Firmino – MG. Disponível
histórico de construção relativamente recente, em:
dificilmente é encarado pela maioria da população http://www.ibge.gov.br/cidadesat/link.php?codmun=316
local como algo passível de preservação, uma vez que 570. Acesso em: 05/11/2011.
o senso comum geralmente nos leva a crer que apenas
obras de períodos mais antigos (como o colonial, o MELLO, S. Arquitetura Moderna em Minas Gerais. In:
oitocentismo ou o ecletismo) devem ser preservadas Seminário Sobre a Cultura Mineira – Período
ou merecem prioridade nessa mobilização. Contemporâneo, 2., 1980. Anais do II Seminário Sobre
a Cultura Mineira – Período Contemporâneo. Belo
Avaliação geral: O edifício da Escola Estadual Prof. Horizonte: Conselho Estadual de Cultura de Minas
Cícero Torres Galindo pode ser considerado como uma Gerais/Imprensa Oficial, 1980, p. 39-55.
expressão da „modernização‟ e desenvolvimento
(sobretudo no aspecto educacional) do município PEDROSA, M. A Arquitetura Moderna no Brasil. In: Dos
diante do contexto histórico de sua construção. Murais de Portinari aos Espaços de Brasília. Org.
Aracy Amaral. São Paulo: Perspectiva, 1981, p. 255-
5. DOCUMENTAÇÃO 264.

BARBOSA, W. A. Dicionário Histórico e Geográfico de RIBEIRO FILHO, A. B. Desbravamento, caminhos antigos


Minas Gerais. Belo Horizonte: Promoção da Família, e povoamento nos sertões do leste: uma aventura de
1971, p. 483-484. pioneiros. Viçosa: Centro de Referência do
Professor, 2004.
CARPE, Comissão [Estadual] e de Ampliação e Reforma
de Prédios Escolares. Projeto padrão de colégio Material visual anexado: Fotografias e desenhos à
estadual com nove salas. 1974-1980. Pranchas tamanho mão livre.
A1, preto e branco.
Pesquisador/data: Marcelo André Ferreira Leite /
CORONA, C; LEMOS, C. Dicionário de Arquitetura 09/2012-07/2013.
Brasileira. São Paulo: Edart, 1972.

HISTÓRIA do piso de caquinhos das casas paulistas.


Disponível em:
http://eleganciadascoisas.wordpress.com/2011/06/21/a
-historia-do-piso-de-caquinhos-das-casas-paulistas-
2/. Acesso em: 06/02/2013.

IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e


Estatística. Enciclopédia dos Municípios
Brasileiros. Rio de Janeiro: IBGE, 1957, v.27, p.
294-296.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG
110

6. ANEXOS

[da esquerda p/ à direita e de cima p/ baixo] Fot. 1 a 3: Projeto padrão arquitetônico (rótulo CARPE, planta baixa do térreo e do
pavimento superior). Fot. 4: Sala de aula. Fot. 5: Pátio coberto utilizado como refeitório, com a entrada para a cozinha ao fundo.
Fot. 6 e 7: Quadra poliesportiva, vista interna e placa de inauguração (na próxima página). Fot. 8: Afastamento frontal. Fot. 9 e 10:
Escada, vista do patamar em balanço e dos cobogós. Fot. 11: Pátio interno, destacando-se as lajes e vigas em balanço das circulações
superiores. Fot. 12: abertura basculante superior das salas de aula. Fot. 13: Vista do pátio interno, destacando-se as janelas amplas
e a modulação. Fot. 14: Cobertura em duas águas, com empena do telhado em muxarabi. Fot. 15: Espaço de aglomeração em frente ao
portão da escola. Créditos das imagens: 1 a 3: Cedido pela E. E. Prof. Cícero T. Galindo, 22/04/2013. 4 a 15: Marcelo Leite, 10/01 e
22/04/2013.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG
111
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG
112
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG
113

A9 - ATUAL SEDE DA ESCOLA ESTADUAL CONSELHEIRO ANTÃO

Fachada Lateral Direita. Fonte:


Marcelo Leite, 28/02/13.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG
114

Outros associados ao projeto: Aloísio Marcos Vasconcelos,


1. IDENTIDADE DO EDIFÍCIO Presidente da CARPE a época da inauguração da obra
Alterações significativas: Mais um bloco (não constante no
Nome do edifício: Atual Sede da Escola Estadual projeto original, mas mantendo uma linguagem semelhante)
Conselheiro Antão foi construído em data desconhecida. O muro que circunda o
Variante ou nome anterior: terreno foi construído entre 11/2002 e 09/2003. O projeto
Endereço: Rua Francisco Coleta, n° 250 – Centro da quadra coberta a esquerda dos blocos escolares data de
Cidade: Itaverava 04/2007.
Estado: MG Uso atual: Escola Estadual Conselheiro Antão
CEP: 36440-000 Estado de conservação: Bom.
País: Brasil
Coordenadas geográficas: 20.67°S 43.61°W 3. DESCRIÇÃO
Classificação/tipologia: Educacional – EDC
Estado de proteção e data: Nenhum. Descrição geral: Três edifícios com dois pavimentos, de
linguagem moderna, com volumetria simples e sendo o
2. HISTÓRIA DO EDIFÍCIO partido original (com apenas dois edifícios, fot. 4)
implantado em „H‟ em um grande lote plano (provavelmente
Proposta original: Sede definitiva para a Escola Estadual houve obras de terraplanagem) próximo ao ribeirão
Conselheiro Antão, fundada em 1954 e que desde 1965 Vassouras (ver croquis implantação e volumetria). O
funcionava de forma de provisória em uma escola de lata terceiro edifício foi implantado atrás do volume principal
Datas1: Projeto padrão estrutural em 1979 (E); projeto em „H‟, mais próximo ao limite posterior do terreno. A
arquitetônico padrão e de soluções de escadas em 05/1979 escola possui ainda duas quadras, sendo a situada à
(E) (fot. 1 e 2); projeto padrão de esquadrias de ferro em direita dos volumes principais uma quadra descoberta,
03/1980; projeto padrão de laje pré-moldada e caixa d‟água provavelmente mais antiga, e a situada à esquerda dos
subterrânea em 08/1980 (E); projeto padrão hidráulico em volumes principais uma quadra poliesportiva coberta.
11/1980; projeto de implantação em 01/1982; construção Existem grandes afastamentos aproveitados como jardim - só
entre 1982 e 1983(A); inauguração em 04/1983 (E) (fot. 3) o afastamento frontal (o menor) possui 8 m. A calçada em
Autor do projeto e colaboradores2: CARPE – Comissão frente é estreita em se tratando de um local de grande
[Estadual] e de Ampliação e Reforma de Prédios Escolares; circulação e aglomeração, possuindo entre 1,0 a 1,5 m de
projeto padrão estrutural: eng. Darlan Francis de A. Silva largura. O acesso principal se faz por meio de um portão
e arq. Niomar Alves de Rezende; projeto arquitetônico para pedestres com 3 m de largura na fachada frontal,
padrão e de soluções de escadas: arq. Fernando Luiz passando por uma escada pavimentada em concreto com 3,60 m
Teixeira Torres, desenho de Otaviano de Oliveira Filho; de comprimento até o pátio central (fot. 5). A circulação
projeto padrão de esquadrias de ferro: Wallace Corradi vertical é feita apenas por meio de escadas, vedadas com
Mello, desenho de Maria Beatriz de Marco Fonseca; projeto cobogós4 cerâmicos (fot. 6). No primeiro pavimento se
padrão de laje pré-moldada e caixa d‟água subterrânea: encontram as salas da administração, três salas de aula
desenho de Guilherme Bomfim Machado; projeto padrão (fot. 7), refeitório (fot. 8), cozinha e pátio interno
hidráulico: arq. Niomar Alves de Rezende e desenho de formado pelos dois volumes principais (fot. 9). No
Edmundo Pimenta (Gaffraga); projeto de implantação: Altino pavimento superior (fot. 10), se situam duas salas de
Barbosa Caldeira3, desenho de Expedito Lázaro informática e mais seis salas de aula (ver croquis plantas
baixas).
1
Cf. Projeto arquitetônico encontrado na escola.
2
Idem 1.
3
Segundo as informações constantes em seu currículo do Sistema
Lattes, Altino Barbosa Caldeira formou-se em Arquitetura e Geografia/Tratamento da Informação Espacial. Disponível em:
Urbanismo pela Escola de Arquitetura da UFMG em 1973, e trabalhou http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=P64681
como Engenheiro Arquiteto para a CARPE entre 1976 e 1987. 1. Acesso em: 17/04/2013.
4
Atualmente é Professor Adjunto na PUC-MG, atuando nos cursos de Cobogó, combogó ou combogê: tijolo furado ou elemento vazados
graduação em Arquitetura e Urbanismo e de pós-graduação em feito de concreto. Cf. CORONA e LEMOS, 1972.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG
115

Construção: O sistema construtivo utilizado compõe-se de circulações no piso superior de todos os blocos (fot. 13),
estrutura em pilares, vigas e lajes de concreto armado, além do patamar das escadas, o que possivelmente
permitindo grandes vãos para aberturas („janelas em fita‟) constituía uma inovação no momento de sua construção, em
e vedação em blocos cerâmicos. O piso é cimentado em quase relação ao modo de construir local. Um problema
todo o prédio, com exceção de alguns ambientes como a identificado foi a falta de acessibilidade tanto ao térreo
secretaria, a diretoria e a sala dos professores, que dos edifícios (que possui um desnível de cerca de 2,30 m
possui pavimentação em ladrilho hidráulico (fot. 11) e em relação ao nível da rua) quanto aos segundos pavimentos
salas do bloco construído mais recentemente, que são em de todos os blocos, já que as escadas são o único modo de
piso cerâmico. As janelas são todas metálicas, do tipo circulação vertical.
basculante, pintadas na cor cinza escuro e com cerca de 2
m de altura. Nas paredes voltadas para o pátio coberto ou Social: O edifício reflete uma proposta de modernização de
corredores, existem aberturas basculantes no alto, cerca prédios escolares empreendida à época de sua construção,
de 40 cm antes do encontro com as vigas. O revestimento quando muitas escolas do interior do estado ainda não
externo é feito com pintura branca, destacando-se os possuíam uma sede própria para essa finalidade, estando
pilares, vigas e lajes da estrutura, bem como o entorno abrigadas em edifícios provisórios (como a escolas de
das janelas com pintura laranja escuro. A pintura interna lata, no caso de Itaverava). Apresenta de inovador a
nas paredes é branca, destacando-se as paredes das janelas proposta de um espaço socializante, com atividades que
com pintura laranja-claro. Nos banheiros, as paredes tem incluem o ensino, os esportes, as artes, etc. A história
azulejo branco até 2 m de altura, seguidos por camada de da Escola se encontra desconhecida por grande parte da
40 cm de parede pintada até o encontro com a viga. As população de Itaverava. Concentra grande parte do ensino
portas são de madeira envernizada. O teto recebe tinta publico do município, possuindo atualmente um total de
branca sobre um chapisco grosso. A cobertura dos blocos é 810, matriculados no Ensino Fundamental, Ensino Médio e
quatro águas com telhas cerâmicas sobre laje, nos blocos Educação de Jovens e Adultos, distribuídos em seus três
mais antigos, e em duas águas com telhas cerâmicas e turnos (matinal, vespertino e noturno).
estrutura de madeira aparente, no bloco de construção mais
recente.
Cultural e estética: O partido arquitetônico adotado
possui elementos marcantes do Modernismo na Arquitetura –
Contexto: O entorno possui volumetria simples, grandes vãos para aberturas („janelas em fita‟), marcação
predominando edificações de apenas um ou dois pavimentos, das esquadrias sugerindo ritmo e modulação, bem como os
com exceção da cumeeira e das torres laterais da Igreja materiais e tecnologias empregados – estrutura em concreto
Matriz de Santo Antônio, tombada pelo IPHAN (fot. 12) que armado, esquadrias metálicas, etc., que podem ter sido
pode ser avistada da escola e que atinge três pavimentos utilizados por questões de racionalização, padronização,
de altura. De uma forma geral é pequeno ou inexistente o funcionalidade e economia. O paisagismo se encontra
afastamento em relação o limite dos lotes. As calçadas são integrado à arquitetura, uma vez que o projeto de
geralmente cimentadas, de aproximadamente 1 a 1,5 m, e no implantação contém diretrizes para colocação de certas
entorno há arborização apenas nos fundos dos lotes. A via espécies nativas como ipê-amarelo, ipê-vermelho,
em frente à Escola é asfaltada. A circulação de veículos e quaresmeira-roxa, quaresmeira-rosa e flamboyant vermelho
pedestres é intensa devido ao fato da Rua Francisco Coleta (não foi executado).
ser trecho da BR-482, interligando Itaverava com as
cidades vizinhas de Conselheiro Lafaiete e Catas Altas da
Noruega. Convivem no entorno imóveis das linguagens Histórica: Em uma escala maior a obra arquitetônica está
eclética, moderna e contemporânea (com predomínio dessa associada com o contexto histórico dos inicio dos anos 80
última), bem como os usos institucional, comercial, misto do século XX, no qual o Brasil o Brasil dominado pela
e residencial (com predomínio desse último). ditadura militar possuía eleições indiretas para os cargos
públicos, politicamente estava reduzido a apenas dois
partidos (ARENA – Aliança Renovadora Nacional) e MDB
4. AVALIAÇÃO (Movimento Democrático Brasileiro), social e culturalmente
estava sujeito à intervenção dos órgãos governamentais de
Técnica: A obra mantém integridade física no geral. censura e economicamente vivia o chamado „milagre
Existem vigas e lajes com balanços de 1,5 m que formam as econômico‟. Este último esteve diretamente ligado às obras
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG
116

de infraestrutura produzidas pelo Estado – construção da Avaliação geral: O edifício da Escola Estadual Conselheiro
Ponte Rio-Niterói, abertura da Rodovia Transamazônica, bem Antão pode ser considerado como uma expressão da
como a construção de edifícios públicos, iniciada „modernização‟ e desenvolvimento (sobretudo no aspecto
primeiramente pelas esferas de governo Federal e Estadual, educacional) do município diante do contexto histórico de
não apenas nas regiões metropolitanas das capitais, mas sua construção.
também no interior dos estados, tais como sedes dos Poder
Judiciário. Vivencia-se nos anos 80 a transição do Regime 5. DOCUMENTAÇÃO
Militar para o Regime Democrático. Em 1985 Tancredo Neves
foi eleito (mesmo que indiretamente) o primeiro civil para
o cargo de Presidente da República após cerca de 20 anos BARBOSA, W. A. Dicionário Histórico e Geográfico de Minas
de ditadura. Antes dele, já haviam sido restauradas Gerais. Belo Horizonte: Promoção da Família, 1971, p. 362-
eleições para outros cargos, como o de Governador de 363.
Estado e Prefeito de Capitais, entretanto, a população
também ansiava pela volta das eleições diretas para CARPE, Comissão [Estadual] e de Ampliação e Reforma de
Presidência, fato que voltaria a ocorrer apenas em 1989. Prédios Escolares. Projeto padrão de colégio estadual com
Foi dentro desse contexto de „renovação política‟ que se nove salas. 1974-1980. Pranchas tamanho A1, preto e
efetuou a „renovação física‟ das instalações educacionais branco.
de Itaverava e região5. Características do Movimento
Moderno Brasileiro, cujas maiores expressões são
CORONA, C; LEMOS, C. Dicionário de Arquitetura Brasileira.
justamente construções estatais (como o Ministério de
São Paulo: Edart, 1972.
Educação e Saúde Pública no Rio de Janeiro e o Conjunto
Arquitetônico da Pampulha em Belo Horizonte) (MELLO, 1982)
e que tem como ápice a construção de Brasília em 1960, IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
continuaram a ser difundidas durante os anos 70 e 80 e Enciclopédia dos Municípios Brasileiros. Rio de Janeiro:
certamente noções e detalhes (para finalidades IBGE, 1957, v.24, p. 500-509.
construtivas/técnicas/funcionais) chegaram a diversas
regiões de Minas Gerais6 (fot. 14). IBGE – Cidades@: Itaverava – MG. Disponível em:
http://www.ibge.gov.br/cidadesat/link.php?codmun=313390.
Mobilização pró-preservação e recuperação: O edifício está Acesso em: 13/05/2012.
bem conservado e continua a desempenhar sua função
original, entretanto não há nenhuma mobilização pró- MELLO, S. Arquitetura Moderna em Minas Gerais. In:
preservação. O edifício, com características de linguagem Seminário Sobre a Cultura Mineira – Período Contemporâneo,
moderna e momento histórico de construção relativamente 2., 1980. Anais do II Seminário Sobre a Cultura Mineira –
recente, dificilmente é encarado pela maioria da população Período Contemporâneo. Belo Horizonte: Conselho Estadual
local como algo passível de preservação, uma vez que o de Cultura de Minas Gerais/Imprensa Oficial, 1980, p. 39-
senso comum geralmente nos leva a crer que apenas obras de 55.
períodos mais antigos (como o colonial, o oitocentismo ou
o ecletismo) devem ser preservadas ou merecem prioridade
nessa mobilização. PEDROSA, M. A Arquitetura Moderna no Brasil. In: Dos
Murais de Portinari aos Espaços de Brasília. Org. Aracy
5
Amaral. São Paulo: Perspectiva, 1981, p. 255-264.
O crítico de arte Mário Pedrosa afirma: “[A] arquitetura
moderna [pode ser vista] como propaganda de Estado” (PEDROSA,
RIBEIRO FILHO, A. B. Desbravamento, caminhos antigos e
1981, p. 258).
6 povoamento nos sertões do leste: uma aventura de
Projetos estatais como os da CARPE eram padronizados de modo a
pioneiros. Viçosa: Centro de Referência do Professor,
facilitar sua implantação nas mais diversas localidades do
2004.
estado. Um exemplo é o projeto de edifício escolar construído em
Itaverava, também executado em Senador Firmino (E. E. Prof.
Cícero T. Galindo) e Araponga (E. E. José E. de Souza), cidades Material visual anexado: Fotografias e desenhos à mão
da Zona da Mata mineira abordadas pelas pesquisas de Arquitetura livre. Pesquisador/data: Marcelo André Ferreira Leite /
Moderna do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da UFV. 09/2012-07/2013.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG
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[da esquerda p/ à direita e de cima p/ baixo] Fot. 1 e 2: Projeto padrão arquitetônico (rótulo CARPE e planta baixa do
térreo). Fot. 3: Placa de inauguração. Fot. 4: Blocos originais, vista a partir do limite posterior do terreno. Fot. 5: À
6. ANEXOS
esquerda, vista parcial do pátio interno. À direita, vista da escada de acesso à escola (o nível da rua é mais alto que o
da edificação). Créditos das imagens: 1 e 2: Cedido pela E. E. Conselheiro Antão. 3 a 5: Marcelo Leite, 28/02/2013.

[da esquerda p/ à
direita] Fot. 6: Vista
dos blocos originais,
destacando-se o volume
da caixa de escada
(vedada com cobogós
cerâmicos) ao centro.
Fot. 7: Sala de aula.
Créditos das imagens:
Marcelo Leite,
28/02/2013.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG
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[da esquerda p/ à direita e de cima p/ baixo] Fot. 8: Vista


de um dos blocos originais, destacando-se o refeitório
semiaberto no pavimento inferior. Fot. 9: Pátio interno.
Fot. 10: Circulação central do pavimento superior
(interligação entre os dois blocos principais). Fot. 11:
Ladrilho hidráulico utilizado como pavimentação em alguns
ambientes. Fot. 12: Matriz de Santo Antônio, bem tombado
pelo IPHAN. Fot. 13: Circulação lateral superior em um dos
blocos, correspondente ao balanço de cerca de 1,5 m. Fot.
14: Vista do pátio interno da E. E. Prof. Cícero T. Galindo
em Senador Firmino-MG, onde foi executado o mesmo projeto
padrão CARPE que o de Itaverava. Créditos das imagens: 8 a
11 e 13 e 14: Marcelo Leite, 10/01, 28/02 e 15/03/2013. 12:
Disponível em: http://italostephanarquiteto.blogspot.com.br,
acesso em: 14/07/2013.
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Igrejas e Sedes Paroquiais
B
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG 120
N° ficha - n° página – nome da obra, município, ano de inauguração.
Observação: Para todas as fichas, no item 2 – História do Edifício – será adotada a
seguinte notação após as datas de projeto, construção e inauguração das obras:
(E) – Quando se tratar de uma data exata, proveniente de fontes como placas de
inauguração, projetos, historiografias locais, documentos oficiais, etc.;
(A) – Quando se tratar de uma data aproximada, proveniente de fontes como entrevistas,
documentos não-oficiais, hipóteses, etc.
ANEXO B – Igrejas e Sedes Paroquiais

B1 – página 121 - Matriz de Nossa B4 – página 143 - Matriz de


Senhora da Oliveira, Senhora de Nossa Senhora do Rosário, Brás
Oliveira, 1971. Pires, 1980.

B2 – página 128 - Matriz de Nossa


Senhora da Conceição, Piranga,
1975.

B5 – página 150 - Sede da


Paróquia do Divino Espírito
B3 – página 136 - Matriz do Divino Santo, Lamim, 1968.
Espírito Santo, Lamim, 1976.

Fotos da página anterior: 1) Antiga Matriz de Nossa Senhora da


Conceição em Piranga (demolida em 1969); 2) Vista da nova matriz em B6 – página 158 - Sede da
Piranga e seu entorno; 3) Construção da Matriz do Divino Espírito Santo Paróquia de São Gonçalo do
em Lamim (1964-1976); 4) Vista da matriz antiga em Lamim, junto com a
Amarante, Catas Altas da
nova em construção, antes de sua demolição em 1967; 5) Sede da Paróquia
Noruega, 1973.
de São Gonçalo do Amarante em Catas Altas da Noruega (1973); 6) e 7)
Construção da nova Matriz de Nossa Senhora do Rosário em Brás Pires
(1975-1980); 8) Antiga Matriz em Brás Pires (demolida em 1973); 9)
Inauguração da Sede da Paróquia do Divino Espírito Santo em Lamim
(1968).
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG
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B1 - MATRIZ DE NOSSA SENHORA DA OLIVEIRA

Fachada Frontal. Fonte: Marcelo Leite, 07/03/13.

Ribeirão Oliveira
MG-124 sentido Brás Pires, Senador Firmino, Divinésia.
Igreja do Sagrado Coração de Jesus (antiga Matriz)

Praça São Sebastião


Praça Monsenhor José Justiniano Teixeira

Matriz de Nossa Senhora da Oliveira

Escola Estadual Quinzinho Inácio

Situação. Fonte: Googlemaps, acesso em


20/01/13. Adaptado pelo autor.
MG-124 sentido Lamim, Rio Espera, Catas Altas da
1. IDENTIDADE DO EDIFÍCIO
Noruega.

1. IDENTIDADE DO EDIFÍCIO Centro


Cidade: Senhora de Oliveira
Nome do edifício: Matriz de Nossa Senhora de Oliveira Estado: MG
Variante ou nome anterior: CEP: 36470-000
Endereço: Praça Monsenhor José Justiniano Teixeira, s/n – País: Brasil
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG
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Coordenadas geográficas: 20.79°S 43.34°W 3), e na lateral direita, mais três entradas para a
Classificação/tipologia: Religioso–REL nave (fot. 4 e 5), acessadas por meio de escadas com
Estado de proteção e data: Nenhum. 7 degraus. Além de nave (fot. 6 e 7) e altar (fot. 8
e 9), existe o coro na parte superior frontal (fot.
2. HISTÓRIA DO EDIFÍCIO 10); a capela do Santíssimo (fot. 11) e a sacristia
nos fundos do altar; e na lateral esquerda à nave
uma arcada semiaberta, o memorial Monsenhor José
Proposta original: Nova Matriz para a Paróquia de
Justiniano Teixeira, a pia batismal (fot. 12) e o
Nossa Senhora da Oliveira
acesso à torre sineira (croqui planta baixa). A área
Datas: Projeto e construção em 1971 (A); inauguração
construída é de aproximadamente 1000 m2.
em 01/08/1971 (E) 1
Autor do projeto e colaboradores:
Outros associados ao projeto: Monsenhor José Construção: O sistema construtivo utilizado compõe-
Justiniano Teixeira, pároco de Senhora de Oliveira se de estrutura em pilares, vigas e lajes de
entre 1947 e 2002; Dom Oscar de Oliveira, arcebispo concreto armado, permitindo grandes vãos, amplas
de Mariana entre 1960 e 1988. aberturas e vedação em tijolos cerâmicos. O piso é
Alterações significativas: 2003 (A): construção do predominantemente em granito (fot. 13), com exceção
memorial Monsenhor José Justiniano Teixeira; 2005- do altar, em mármore, dos corredores centrais da
2007 (A): modificações no altar; 2009-2011 (A): nave, em porcelanato negro (fot. 14), e da pia
troca do piso de toda a nave. batismal e do memorial José Justiniano Teixeira, em
Uso atual: Matriz da Paróquia de Nossa Senhora da um piso cerâmico aparentemente mais antigo2 (fot.
Oliveira 15). As janelas são todas metálicas, do tipo
Estado de conservação: Bom. basculante, pintadas de branco, com as frontais e as
primeiras laterais fixas, formando um vitral em cruz
com vidros azuis. A pintura externa é branca, e as
3. DESCRIÇÃO
paredes internas são recobertas com madeira até 2 m
de altura, recebendo pintura branca até o teto,
Descrição geral: edifício térreo de pé direito também branco, com o vigamento em destaque. As
equivalente a três pavimentos, mais torre lateral portas são de madeira almofadada pintadas de cinza
esquerda com cinco pavimentos, em linguagem moderna, escuro. A cobertura é em duas águas com telhas
volumetria simples e implantado em lote plano cerâmicas, exceto a torre, que é coberta com laje de
(provavelmente houve obras de terraplanagem) com concreto armado.
frente para a Praça Monsenhor José Justiniano
Teixeira e fundos para o Salão Paroquial e a Escola
Contexto: O entorno da Praça Monsenhor José
Estadual Quinzinho Inácio (ver croquis volumetria e
Justiniano Teixeira apresenta volumetria simples,
implantação). Existem afastamentos laterais
onde predominam edificações de apenas um a três
aproveitados como jardim. A praça em frente é ampla,
pavimentos (embora exista uma edificação com seis
uma vez que se trata de um local de aglomeração,
pavimentos), implantadas em terrenos pouco
possuindo cerca de 50 m de comprimento e 25 m de
acidentados e com pequenos afastamentos em relação o
largura. O acesso principal se faz por meio de três
limite dos lotes. As calçadas, quando existentes,
portas frontais com cerca de 3m de largura cada uma,
são geralmente cimentadas, de aproximadamente 1 m, e
centralizadas em relação à fachada frontal, que
há pouca arborização. As vias são pavimentadas com
conduzem a nave. Existem ainda na fachada lateral
esquerda mais duas entradas para a nave (fot. 1 a
2
O piso cerâmico encontrado é bastante semelhante com o piso
cerâmico que recobre as áreas externas da Escola Estadual Padre
1
Cf. SOUZA (2008) e ENCONTRO... (2013). Vicente Carvalho, em Presidente Bernardes.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG
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bloquetes de concreto hexagonais de concreto. A Contudo, a história da Matriz de Nossa Senhora da


circulação de veículos e pedestres é intensa devido Oliveira se encontra desconhecida por grande parte
aos ônibus intermunicipais, caminhões e outros da população local.
veículos que fazem os percursos Brás Pires - Lamim
ou vice-versa. Convivem no entorno imóveis de Cultural e estética: O partido arquitetônico adotado
linguagem contemporânea, moderna e eclética. Os usos possui elementos marcantes do Modernismo na
existentes são o residencial (predominante), o Arquitetura – grandes vãos internos, grandes vãos
comercial e o misto, além dos usos institucional para aberturas, marcação sugerindo ritmo e
(Escola Estadual Quinzinho Inácio), serviços de modulação5, bem como os materiais e tecnologias
comunicação (posto da Telemig) e religioso (matriz, empregados – estrutura em concreto armado,
salão e casa paroquial). O prédio de seis andares e esquadrias metálicas, que podem ter sido utilizados
a torre da Matriz são os elementos arquitetônicos por questões de racionalização e economia, além da
mais verticalizados no entorno imediato3. intenção estética modernizadora. A semelhança das
igrejas de Senhora de Oliveira e Brás Pires (cidades
4. AVALIAÇÃO distantes entre si 17 km) se revela muito
considerável, o que levanta uma hipótese de que
Técnica: A obra mantém integridade física no geral. possa ter se utilizado o mesmo projeto para as duas
Um problema identificado foi o desbotamento da obras, ou ser essa uma semelhança estética
pintura em alguns pontos das fachadas. intencional.

Social: O edifício reflete uma proposta de Histórica: Em uma escala maior a obra arquitetônica
modernização de edifícios religiosos empreendida à está associada com o contexto histórico dos anos 70
época de sua construção, e que na região de estudo do século XX, no qual o Brasil dominado pela
também ocorre em Piranga, Brás Pires e Lamim4. ditadura militar possuía eleições indiretas para os
cargos públicos, politicamente estava reduzido a
apenas dois partidos (ARENA – Aliança Renovadora
3
A presença de um edifício de seis pavimentos na região central Nacional) e MDB (Movimento Democrático Brasileiro),
de uma cidade de pequeno porte como Senhora de Oliveira evidencia social e culturalmente estava sujeito à intervenção
uma acelerada descaracterização. Conforme inventário da atual dos órgãos governamentais de censura e
sede da Casa da Cultura de Senhora de Oliveira, localizada na economicamente vivia o chamado „milagre econômico‟.
Praça São Sebastião, próxima de onde se situa a matriz, os Este último esteve diretamente ligado às obras de
autores afirmam “São consideradas descaracterizantes um posto de infraestrutura produzidas pelo Estado – construção
gasolina atrás da igreja [antiga matriz] e o prédio da Prefeitura da Ponte Rio-Niterói, abertura da Rodovia
Municipal” (ASSIS, et alli, 2009, p.2). No próprio inventário da Transamazônica, bem como a construção de edifícios
Praça São Sebastião, também consta informação semelhante: “Novos
públicos, iniciada primeiramente pelas esferas de
prédios romperam o singelo jogo do casario colonial e reformas
afetaram as características tradicionais das antigas edificações, governo Federal e Estadual, não apenas nas regiões
trazendo novas cores, elementos e ritmos diferentes. [A metropolitanas das capitais, mas também no interior
Prefeitura Municipal] destoa do entorno e descaracteriza o dos estados. Características do Movimento Moderno
ambiente” (PEREIRA, H. N. et alli, 2003, p.5). Brasileiro, cujas maiores expressões foram
4
Cf. SILVEIRA (2011, p. 63), “Entre as ocorrências de igrejas construções estatais (como o Ministério de Educação
modernistas construídas no Brasil [...] houve – assim como no
caso da cidade mineira de Ferros – diversos casos em que antigos de outras cidades, escapou da demolição, mas a cidade não ficou
templos católicos foram demolidos para dar lugar às novas ilesa dessa onda modernizadora dos templos católicos.
edificações [...] um processo que parece ter alcançado proporções
5
bem maiores”. A antiga matriz de Senhora de Oliveira, diferente É bastante nítido o uso de uma modulação de 4x4 m no edifício.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG
124

e Saúde Pública no Rio de Janeiro e o Conjunto IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e


Arquitetônico da Pampulha em Belo Horizonte) (MELLO, Estatística. Enciclopédia dos Municípios
1982) e que tem como ápice a construção de Brasília Brasileiros. Rio de Janeiro: IBGE, 1957, v.27, p.
em 1960, continuaram a ser difundidas durante os 296-299.
anos 70 e 80 e certamente noções e detalhes (para
finalidades construtivas/técnicas/funcionais) IBGE – Cidades@: Senhora de Oliveira – MG.
chegaram a diversas regiões de Minas Gerais. Disponível em:
http://www.ibge.gov.br/cidadesat/link.php?codmun=316
Mobilização pró-preservação e recuperação: O 600. Acesso em: 19/11/2011.
edifício possui bom estado de conservação e continua
a desempenhar a função original, entretanto não há MELLO, S. Arquitetura Moderna em Minas Gerais. In:
nenhuma mobilização pró-preservação. O edifício, com Seminário Sobre a Cultura Mineira – Período
características de linguagem moderna e momento Contemporâneo, 2., 1980. Anais do II Seminário Sobre
histórico de construção relativamente recente, a Cultura Mineira – Período Contemporâneo. Belo
dificilmente é encarado pela maioria da população Horizonte: Conselho Estadual de Cultura de Minas
local como algo passível de preservação, uma vez que Gerais/Imprensa Oficial, 1980, p. 39-55.
o senso comum geralmente nos leva a crer que apenas
obras de períodos mais antigos (como o colonial, o
PEREIRA, H. N., ARAÚJO, R. S., MILAGRES, Z. R.,
oitocentismo ou o ecletismo) devem ser preservadas
SILVA, M. N. M., SOUZA, J. B. Inventário da Praça
ou merecem prioridade nessa mobilização.
São Sebastião. Senhora de Oliveira: Prefeitura
Municipal, 2003.
Avaliação geral: O edifício da Matriz de Nossa
Senhora da Oliveira pode ser considerado como uma
RIBEIRO FILHO, A. B. Desbravamento, caminhos antigos
expressão da „modernização‟ e desenvolvimento
e povoamento nos sertões do leste: uma aventura de
(sobretudo no campo religioso) do município diante
pioneiros. Viçosa: Centro de Referência do
do contexto histórico de sua construção.
Professor, 2004.
5. DOCUMENTAÇÃO
SILVEIRA, M. M. G. Templos modernos, templos ao
Chão: a trajetória da arquitetura religiosa
ASSIS, A. P., MARCOLINI, A. R., PEREIRA, H. N. modernista e a demolição de antigos templos
Inventário do sobrado à Praça São Sebastião, 122. católicos no Brasil. Belo Horizonte: Autêntica,
Senhora de Oliveira: Adriana Paiva de Assis – 2011.
Consultoria na Área de Patrimônio
Cultural/Prefeitura Municipal de Senhora de
SOUZA, V. L. Linguagem, oralidade e comunicação
Oliveira, 2003-2009.
local: o alto falante na comunidade mineira de
Senhora de Oliveira. 2008. 239 f. Dissertação
BARBOSA, W. A. Dicionário Histórico e Geográfico de [Mestrado em Educação, Administração e Comunicação]
Minas Gerais. Belo Horizonte: Promoção da Família, – Universidade São Marcos, São Paulo, 2008.
1971, p. 486.
Material visual anexado: Fotografias e desenhos à
ENCONTRO com a paz em Senhora de Oliveira. Diário do mão livre.
Rio Doce, 09/03/2013. Disponível em:
http://www.drd.com.br/news.asp?id=500999225666642189
01, acesso em: 06/06/2013.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG 125
1

Pesquisador/data: Marcelo André Ferreira Leite / 09/2012-07/2013.

6. ANEXOS

[da esquerda p/ à direita e de cima p/ baixo] Fot. 1 e 2: Fachada lateral esquerda. Fot. 3: Vista interna da lateral esquerda.
Fot. 4: Fachada lateral direita. Fot. 5: Vista interna da lateral direita. Fot. 6: Nave, vista para a entrada principal e o
coro. Crédito das imagens, Marcelo Leite, 21/09/2012 e 07/03/2013.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG
126

[da esquerda p/ à
direita e de cima p/
baixo] Fot. 7 e 8:
Nave, vista para o
altar. Fot. 9:
Detalhe da imagem de
Cristo no altar.
Fot. 10: Entrada
principal e parte
inferior do Coro,
com vista para os
acessos à Torre, a
Pia Batismal e ao
Memorial Monsenhor
José Justiniano
Teixeira. Fot. 11:
Capa do Santíssimo.
Fot. 12: Vista do
acesso a Pia
Batismal. Crédito
das imagens, Marcelo
Leite, 18/09/2012 e
07/03/2013.

[da esquerda p/ à direita] Fot. 13 a 15: Pisos: Granito, Porcelanato Negro e Cerâmico. Crédito das imagens, Marcelo Leite, 18/09/2012 e
07/03/2013.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG
127
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG
128

B2 - MATRIZ DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO

Fachada Frontal. Fonte: Marcelo Leite 15/12/12.

Matriz de Nossa Senhora da Conceição


Câmara Municipal de Piranga
Praça Coronel Amantino Maciel

Prefeitura Municipal de Piranga

Residência José Dionísio Milagres

BR-482 sentido Presidente Bernardes, Porto Firme, Viçosa.

Rio Piranga

BR-482 sentido Catas Altas da Noruega, Lamim, Itaverava.

Situação. Fonte: Prefeitura Municipal de Piranga,


13/01/12. Adaptado pelo autor.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG
129

1. IDENTIDADE DO EDIFÍCIO Myriam, 1974 (Faiança, Belo Horizonte).


Outros associados ao projeto: Padre Antônio Teixeira
Nome do edifício: Matriz de Nossa Senhora da Filho, pároco de Piranga entre 1965 e 1977; Dom
Conceição Oscar de Oliveira, arcebispo de Mariana entre 1960 e
Variante ou nome anterior: 1988.
Endereço: Praça Coronel Amantino Maciel, s/n – Alterações significativas: O altar de pedra
Centro original, de pequenas dimensões, foi ampliado por
Cidade: Piranga meio de um tablado de madeira.
Estado: MG Uso atual: Matriz da paróquia de Nossa Senhora da
CEP: 36480-000 Conceição.
País: Brasil Estado de conservação: Bom.
Coordenadas geográficas: 20.68°S43. 29°W
Classificação/tipologia: Religioso – REL 3. DESCRIÇÃO
Estado de proteção e data: nenhum
Descrição geral: edifício térreo de pé direito
2. HISTÓRIA DO EDIFÍCIO equivalente a três pavimentos, mais torre posterior
com cinco pavimentos, em linguagem moderna,
Proposta original: Nova matriz para a paróquia de volumetria simples e implantado em lote em aclive no
Nossa Senhora da Conceição. sentido fundos-testada com frente para a Praça
Datas: Demolição da antiga matriz iniciada em 1969 Coronel Amantino Maciel e fundos para a Casa
(A); projeto da nova matriz de 1969 (A); construção Paroquial (ver fot. 4, 5, croquis volumetria e
da nova matriz iniciada em 07/09/1969 (E) e implantação). Praticamente não existem afastamentos,
inauguração em 21/09/1975 (E) (fot. 1). de modo que o volume parece „transbordar‟ em direção
Autor do projeto e colaboradores: Projeto as caçadas, ruas e lotes limites. A praça em frente
arquitetônico – Arquiteto Hilton Grossi1; projeto é ampla, uma vez que se trata de um local de
estrutural – Engenheiro Leopoldo Schimmelpfeng2; aglomeração, possuindo cerca de 80 m de comprimento
execução da obra – Construtora Boratto e Cia., de e 50 m de largura. O acesso principal se faz por
Barbacena; pinturas na capela do Santíssimo (fot. 2) meio de duas portas frontais com cerca de 4m de
– Elba Seabra do Carmo, 07/1975 (de Conselheiro largura cada uma, que conduzem a nave. Existem ainda
Lafaiete); painel na fachada frontal (fot. 3) – na fachada lateral esquerda e direita mais duas
entradas e uma na fachada posterior, todas com 4 m
1 de largura. Além de nave (fot. 6 e 7) e altar (fot.
Hilton da Paixão Grossi (c. 1930-2012) era natural de Mercês-MG
8), existe o coro na parte superior de toda a nave;
e formou-se arquiteto pela antiga Faculdade de Engenharia de Juiz
de Fora. Nos anos 50, mudou-se para Barbacena, onde foi professor a sacristia e uma sala com equipamentos de som nos
da EPCAR – Escola Preparatória de Cadetes do Ar e projetou o fundos do altar; e a capela do Santíssimo aos fundos
restaurante Cabana da Mantiqueira, entre outras obras na cidade. (fot. 9), fora da nave principal e sob o volume da
Chegou a desenvolver projeto para a residência de um político torre sineira, cujo acesso à parte superior é feito
egípcio, no Cairo, aparentemente não executado Cf. FALECE... através do coro no volume principal (croqui planta
(2012). baixa). A área construída é de aproximadamente de
2
Leopoldo Schimmelpfeng era engenheiro civil e residia no Rio de cerca de 2000 m2. O acesso ao coro e a torre é feito
Janeiro, onde se sabe que trabalhou na Divisão de Águas (órgão do exclusivamente por meio de escadas.
então Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio) entre as
décadas de 1930 e 1950, pelo menos. Também colaborou com o
cálculo estrutural do Edifício Jardim Amazonas, em Copacabana, Construção: O sistema construtivo utilizado compõe-
projetado por Álvaro Vital Brasil em 1962 e construído em 1969. se de estrutura em pilares, vigas e lajes de
Para mais informações, consultar CZAJKOVSKI (2001). concreto armado, permitindo grandes vãos, amplas
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG
130

aberturas e vedação em tijolos cerâmicos. O piso é A circulação de veículos e pedestres é intensificada


todo em pedra polida (fot. 10), com exceção do pelo transito de veículos (incluindo-se os ônibus
altar, que além de pedra polida recebeu uma intermunicipais e caminhões), que faz o percurso nos
ampliação em assoalho de madeira. As janelas são sentidos Porto Firme – Catas Altas da Noruega ou
todas metálicas e fixas, com basculante na bandeira vice-versa. O poder político é representado pela
superior, pintadas de cinza. A pintura externa é Prefeitura Municipal, ao lado da matriz, e pela
cinza com detalhes em laranja/salmão no térreo, Câmara Municipal, situada no n° 10 da Praça Coronel
pintura cinza sob chapisco grosso, na altura do Amantino Maciel, posicionada de frente para matriz.
coro, sob a cúpula, a cúpula é toda em concreto Convivem no entorno imóveis das linguagens
aparente e a torre é pintada com cor laranja/salmão. colonial/oitocentista, eclética, moderna e
As paredes internas são recobertas com madeira até 2 contemporânea, bem como os usos comercial,
m de altura, recebendo pintura creme atém o teto da residencial, misto, institucional e religioso. A
cúpula, pintado de azul. Na parede dos fundos do torre da matriz é o elemento mais verticalizado do
altar há um painel de azulejos assinado por Pierre entorno imediato.
Cardin3 (fot. 11); na parede interna da fachada
frontal há um painel em bronze com alusão à Santa 4. AVALIAÇÃO
Ceia (fot. 12). As portas são todas metálicas, de
correr, pintadas de cinza escuro com acabamento
Técnica: A obra mantém integridade física no geral.
interno em madeira. Em torno das portas, no
Um problema identificado foi o manchamento de pontos
interior, a parede recebe acabamento com azulejos
da estrutura de concreto armado, como parte dos
verdes (fot. 13). A cobertura da nave é em cúpula de
pilares, da cúpula e da torre.
concreto armado aparente (fot. 14) e a torre é
coberta com laje de concreto armado.
Social: O edifício reflete uma proposta de
modernização de edifícios religiosos empreendida à
Contexto: O volume acompanha o declive do terreno no
época de sua construção, e que na região de estudo
sentido da Praça Coronel Amantino Maciel para a Rua
também ocorre em Brás Pires, Senhora de Oliveira e
São Antônio. A obra se encontra em um entorno de
Lamim. Contudo, a população local é bastante hostil
volumetria simples, onde predominam edificações de
à arquitetura moderna da matriz, considerando-a de
apenas um ou dois pavimentos, a maioria delas com
extremo mau gosto, o que pode ser em parte explicado
cobertura em telha cerâmica; de uma forma geral,
pela questão da escala „desproporcional‟ entre o
edificações com pouco ou nenhum afastamento em
edifício e seu entorno com muitas características
relação o limite dos lotes. Muitos imóveis na
remanescentes dos séculos XVIII, XIX e início do XX4.
região foram inventariados pelo Município, e a Praça
Há também um grande número de habitantes de Piranga
Coronel Amantino Maciel, tombada a nível municipal,
que ainda se recente pela demolição da antiga
possui vegetação abundante e equipamentos urbanos,
matriz, edifício com mais de 250 anos na época de
entre eles um coreto também tombado. As vias que
sua destruição, com aspetos de arquitetura colonial,
delimitam a praça são pavimentadas com
oitocentista e eclética (fot. 15), linguagens mais
paralelepípedos de pedra, enquanto que a Rua Santo
Antônio, na lateral direita da matriz, é asfaltada.

4
3 Cf. SILVEIRA (2011, p. 33) “igrejas modernistas incrustadas em
Pierre Cardin (n. em 1922) é um conhecido designer ítalo-
francês, em atividade desde os anos 1940. Apesar de especializado típicas praças do interior foram realmente capazes de produzir
no ramo de moda e vestuário, chegou a cursar Arquitetura em sua inquietação”. Inclusive o caso da matriz moderna de Piranga é
juventude e também trabalha com azulejos e mobiliários Cf. mencionado em seu livro “Templos Modernos, Templos ao Chão”.
PIERRE... (2013).
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG
131

valorizadas como „patrimônio‟ do que a linguagem da Ponte Rio-Niterói, abertura da Rodovia


arquitetônica moderna5. Transamazônica, bem como a construção de edifícios
públicos, iniciada primeiramente pelas esferas de
Cultural e estética: O partido arquitetônico adotado governo Federal e Estadual, não apenas nas regiões
possui elementos marcantes do Modernismo na metropolitanas das capitais, mas também no interior
Arquitetura – uso da cúpula permitindo grandes vãos dos estados. Características do Movimento Moderno
internos, grandes vãos para aberturas, marcação Brasileiro, cujas maiores expressões foram
sugerindo ritmo e modulação, bem como os materiais e construções estatais (como o Ministério de Educação
tecnologias empregados – estrutura em concreto e Saúde Pública no Rio de Janeiro e o Conjunto
armado, esquadrias metálicas, que podem ter sido Arquitetônico da Pampulha em Belo Horizonte) (MELLO,
utilizados por questões de racionalização e 1982) e que tem como ápice a construção de Brasília
economia, além da intenção estética modernizadora. em 1960, continuaram a ser difundidas durante os
Além da intenção estética modernizadora. São anos 70 e 80 e certamente noções e detalhes (para
notáveis também os painéis decorativos em diversos finalidades construtivas/técnicas/funcionais)
locais da matriz - uma tentativa de integrar as chegaram a diversas regiões de Minas Gerais.
artes plásticas com a arquitetura, da mesma forma
que diversas obras modernas de renome6. Mobilização pró-preservação e recuperação: O
edifício possui bom estado de conservação e continua
Histórica: Em uma escala maior a obra arquitetônica a desempenhar a função original, entretanto não há
está associada com o contexto histórico dos anos 70 nenhuma mobilização pró-preservação. O edifício, com
do século XX, no qual o Brasil dominado pela características de linguagem moderna e momento
ditadura militar possuía eleições indiretas para os histórico de construção relativamente recente,
cargos públicos, politicamente estava reduzido a dificilmente é encarado pela maioria da população
apenas dois partidos (ARENA – Aliança Renovadora local como algo passível de preservação, uma vez que
Nacional) e MDB (Movimento Democrático Brasileiro), o senso comum geralmente nos leva a crer que apenas
social e culturalmente estava sujeito à intervenção obras de períodos mais antigos (como o colonial, o
dos órgãos governamentais de censura e oitocentismo ou o ecletismo) devem ser preservadas
economicamente vivia o chamado „milagre econômico‟. ou merecem prioridade nessa mobilização. Pelo
Este último esteve diretamente ligado às obras de contrário, a maior parte da população considera a
infraestrutura produzidas pelo Estado – construção matriz de Piranga como um exemplo de „arquitetura de
mau gosto‟.
5
Cf. SILVEIRA (2011, p. 63), “Entre as ocorrências de igrejas Avaliação geral: O edifício da Matriz de Nossa
modernistas construídas no Brasil [...] houve – assim como no Senhora da Conceição pode ser considerado como uma
caso da cidade mineira de Ferros – diversos casos em que antigos expressão da „modernização‟ e desenvolvimento
templos católicos foram demolidos para dar lugar às novas (sobretudo no campo religioso) do município diante
edificações [...] um processo que parece ter alcançado proporções do contexto histórico de sua construção.
bem maiores”.
6
5. DOCUMENTAÇÃO
Um exemplo clássico são os painéis pintados por Portinari no
edifício do Ministério da Educação e Saúde Pública no Rio de
Janeiro, atual Palácio Gustavo Capanema, e na Capela de São ALONSO, P. H. (Org.). Cataguases - arquitetura
Francisco de Assis, na Pampulha, Belo Horizonte. Na Zona da Mata modernista: guia do patrimônio cultural. Cataguases:
mineira, podemos citar também o painel elaborado por Djanira para IEDS, 2009.
a fachada da Matriz de Santa Rita de Cássia em Cataguases-MG (Cf.
ALONSO, 2009).
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG
132

BARBOSA, W. A. Dicionário Histórico e Geográfico de a Cultura Mineira – Período Contemporâneo. Belo


Minas Gerais. Belo Horizonte: Promoção da Família, Horizonte: Conselho Estadual de Cultura de Minas
1971, p. 362-363. Gerais/Imprensa Oficial, 1980, p. 39-55.

CZAJKOVSKI, J. Guia da Arquitetura Moderna no Rio de PIERRE Cardin. Site oficial. Disponível em:
Janeiro. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2001. http://www.pierrecardin.com/, acesso em 08/06/2013.

FALECE o arquiteto Hilton Grossi. Barbacena Online, PREFEITURA MUNICIPAL DE PIRANGA. Mapa da Área Urbana
09/10/2012. Disponível em: do Município. Piranga.
http://www.barbacenaonline.com.br/noticias.php?c=960
8&inf=11, acesso em 31/01/2013. RIBEIRO FILHO, A. B. Desbravamento, caminhos antigos
e povoamento nos sertões do leste: uma aventura de
GOMES, M. A. Piranga, viajando pela história - a pioneiros. Viçosa: Centro de Referência do
primeira paróquia de minas, 2ª parte: A galeria dos Professor, 2004.
padres 1900-1999. Mariana: Gráfica Mariana, 1999.
SILVEIRA, M. M. G. Templos modernos, templos ao
IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Chão: a trajetória da arquitetura religiosa
Estatística. Enciclopédia dos Municípios modernista e a demolição de antigos templos
Brasileiros. Rio de Janeiro: IBGE, 1957, v.26, p. católicos no Brasil. Belo Horizonte: Autêntica,
355-360. 2011.

IBGE – Cidades@: Piranga – MG. Disponível em: Material visual anexado: Fotografias e desenhos à
http://www.ibge.gov.br/cidadesat/link.php?codmun=315 mão livre.
080. Acesso em: 20/08/2011.
Pesquisador/data: Marcelo André Ferreira Leite /
MELLO, S. Arquitetura Moderna em Minas Gerais. In: 08/2012-07/2013.
Seminário Sobre a Cultura Mineira – Período
Contemporâneo, 2., 1980. Anais do II Seminário Sobre
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG
133

6. ANEXOS

[da esquerda p/ à direita


e de cima p/ baixo] Fot.
1: Placa de inauguração.
Fot. 2: Um dos dois
painéis de Elba Seabra.
Fot. 3: Painel de Myriam
(Faiança). Fot. 4: Vista
lateral direita. Fot. 5:
Vista panorâmica da
matriz e seu entorno.
Fot. 6 e 7: Vistas da
nave central. Fot. 8:
Vista do altar.
Créditos das imagens:
Marcelo Leite,
15/12/2012; (5) Arquivo
do Conhecimento Cláudio
Manoel da Costa.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG
134

[da esquerda p/ à direita e de


cima p/ baixo] Fot. 9: Capela do
Santíssimo. Fot. 10: Detalhe do
piso de pedra polida na nave
central. Fot. 11: Painel de
azulejos Pierre Cardin. Fot. 12:
Painel em bronze alusivo à Santa
Ceia. Fot. 13: Painel de azulejos
das portas laterais. Fot. 14:
Detalhe da ligação pilar-cúpula
de concreto. Fot. 15: Antiga
matriz cerca de 10 anos antes de
sua demolição. Créditos das
imagens: Marcelo Leite,
15/12/2012; (15) Arquivo do
Conhecimento Cláudio M. da Costa.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG
135
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG
136

B3 - MATRIZ DO DIVINO ESPÍRITO SANTO

Fachada Frontal. Fonte: Marcelo Leite, 24/08/12.

MG-124 sentido Catas Altas da Noruega, Itaverava, Piranga.

Praça Divino Espírito Santo

Matriz do Divino Espírito Santo

Sede da Paróquia do Divino Espírito Santo

MG-124 sentido Rio Espera, Senhora de Oliveira, Brás Pires.

Situação. Fonte: Bingmaps, acesso em


29/06/13. Adaptado pelo autor.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG
137

1. IDENTIDADE DO EDIFÍCIO 3. DESCRIÇÃO

Nome do edifício: Matriz do Divino Espírito Santo Descrição geral: edifício térreo de pé direito equivalente
Variante ou nome anterior: a três pavimentos, mais torre central com altura
Endereço: Praça Divino Espírito Santo, s/n – Centro equivalente a seis pavimentos (culminando em um mirante de
Cidade: Lamim planta oitavada), em linguagem moderna, volumetria simples
Estado: MG e implantado em lote plano com frente para a Praça do
CEP: 36455-000 Divino Espírito Santo2 (ver fot. 2 a 5 e croquis volumetria
País: Brasil e implantação). Existem consideráveis afastamentos
Coordenadas geográficas: 20.79°S 43.47°W laterais, frontais e de fundos. A praça em frente é ampla,
Classificação/tipologia: Religioso – REL uma vez que se trata de um local de aglomeração,
Estado de proteção e data: Edifício inventariado em 2010 e entretanto se encontra em aclive no sentido da via em
entorno (Praça Divino Espírito Santo) inventariado em direção a porta principal. O acesso principal se faz por
2012. meio de uma porta frontal com cerca de 3m de largura,
centralizadas em relação à fachada frontal, que conduz à
2. HISTÓRIA DO EDIFÍCIO nave. Existem ainda na fachada lateral esquerda mais duas
entradas para a nave e uma entrada para a sacristia, e na
lateral direita, mais duas entradas para a nave. Além de
Proposta original: Nova matriz para a paróquia do Divino nave e altar (fot. 6 e 7), existe o coro na parte superior
Espírito Santo de Lamim frontal (fot. 8), e sob o coro, o acesso à torre e uma
Datas: Projeto arquitetônico/estrutural de 1962 (A); sala utilizada para catequese; ao lado do altar, se
construção de 14/04/1964 a 02/10/1976 (E); projeto de encontram a capela do Santíssimo (fot. 9) e a sacristia.
acabamento interno de 1971 (A); inauguração em 02/10/1976 Nos fundos do altar, uma capela dedicada a Nossa Senhora
(E) 1 (fot. 1) das Dores, atualmente convertida em sala da catequese, e
Autor do projeto e colaboradores: Eng. Humberto Wilke um banheiro (croqui planta baixa).
Boratto (Barbacena-MG), projeto arquitetônico/estrutural;
Arq. Celestino Artigas (Pouso Alegre-MG), projeto de
acabamento interno, estátuas do Cristo e do Divino Construção: O sistema construtivo utilizado compõe-se de
Outros associados ao projeto: Padre Newton Henriques estrutura em pilares, vigas e lajes de concreto armado,
Malta, pároco de Lamim entre 1960 e 1978; Dom Oscar de permitindo grandes vãos, amplas aberturas e vedação em
Oliveira, arcebispo de Mariana entre 1960 e 1988; tijolos cerâmicos. O piso é predominantemente em ladrilho
Construtora Boratto e Cia. (Barbacena), provável hidráulico (fot. 10), com exceção do altar e dos degraus
responsável pela execução; Francisco Franklin da Fonseca, em mármore. As janelas são todas metálicas, do tipo
construtor; José de Paula Ferreira e Vicente Gomes Silva, basculante, pintadas de cinza, existindo na fachada
mestres de obras; Manoel Santiago de Oliveira, armador; frontal um vitral em arco, com acesso a uma sacada. A
Thierson (Belo Horizonte-MG), serviço de sonorização e pintura externa é creme, com detalhes (como pilares,
iluminação à mercúrio; Dari/Davi Pinolati (Barbacena-MG), calhas, etc.) pintados em ocre. As paredes internas são
ladrilho hidráulico; Zanatta (Três Rios-RJ), altar de recobertas com madeira até 2 m de altura, recebendo
mármore; José Assis Nogueira, bancos de madeira; João pintura branca atém o teto, também branco, com vigamento
Gonçalves Pereira, armário da sacristia;
Alterações significativas: 2
Ainda segundo o Livro do Tombo e o acervo fotográfico da
Uso atual: Matriz da Paróquia do Divino Espírito Santo de
paróquia, tem-se conhecimento de obras de terraplanagem, onde o
Lamim
morro atrás da antiga matriz foi parcialmente desmontado para
Estado de conservação: Bom.
implantar o novo edifício, e parte do volume de terra escavado
foi deslocado para a esquerda, a fim de construir um platô
elevado que deixasse a sede paroquial no mesmo nível da igreja a
ser construída. O local a frente da nova matriz, onde se situava
a antiga igreja, foi transformado na atual Praça do Divino
1 Espírito Santo.
Cf. a placa de inauguração e o Livro do Tombo da Paróquia do
Divino Espírito Santo de Lamim.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG
138

em destaque. A exceção é a capela do Santíssimo, onde a Piranga, Senhora de Oliveira e Brás Pires3. Contudo, a
madeira é substituída por placas de mármore, revestindo história da Matriz do Divino Espírito Santo se encontra
toda parede do altar e até 2m de altura nas demais desconhecida por grande parte da população local.
paredes. As portas são de madeira almofadada pintadas de
cinza escuro. A cobertura é duas águas com telhas Cultural e estética: O partido arquitetônico adotado
cerâmicas (fot. 11 e 12). possui elementos marcantes do Modernismo na Arquitetura –
grandes vãos internos, grandes vãos para aberturas,
Contexto: O volume se encontra inserido na Praça do Divino marcação sugerindo ritmo e modulação, bem como os
Espírito Santo, que no passado já foi parcialmente ocupada materiais e tecnologias empregados – estrutura em concreto
pela antiga matriz, demolida em 1967 após três anos do armado (fot. 13 a 15), esquadrias metálicas, que podem ter
início da construção na nova igreja. A parte defronte a sido utilizados por questões de racionalização e economia,
atual matriz se apresenta em aclive na direção da igreja, além da intenção estética modernizadora. A semelhança da
enquanto que a parte defronte a casa paroquial é plana e Matriz do Divino Espírito Santo de Lamim e da Igreja de
rebaixada em relação ao volume mencionado. O entorno São João Batista em Conselheiro Lafaiete (cidades
apresenta volumetria simples, onde predominam edificações distantes entre si 50 km) se revela muito considerável, o
de apenas um a dois pavimentos, implantadas em terrenos que levanta uma hipótese de que possa ter se utilizado o
relativamente planos e com pequenos afastamentos em mesmo projeto para as duas obras, ou ser essa uma
relação o limite dos lotes. A maioria das construções semelhança estética intencional.
possui cobertura em telha cerâmica, havendo também
coberturas feitas em laje de concreto armado, telhas Histórica: Em uma escala maior a obra arquitetônica está
metálicas ou de fibrocimento. Essa praça, bem como as vias associada com o contexto histórico do fim dos anos 60 e
próximas, são todas pavimentadas com pedra fincada. A início dos anos 70 do século XX, no qual o Brasil dominado
circulação de veículos e pedestres é tranquila, pela ditadura militar possuía eleições indiretas para os
intensificada pela presença de ônibus intermunicipais, cargos públicos, politicamente estava reduzido a apenas
caminhões e outros veículos que fazem os percursos Senhora dois partidos (ARENA – Aliança Renovadora Nacional) e MDB
de Oliveira – Catas Altas da Noruega e vice-versa. (Movimento Democrático Brasileiro), social e culturalmente
Convivem no entorno imóveis das linguagens estava sujeito à intervenção dos órgãos governamentais de
colonial/oitocentista, eclética, moderna e contemporânea. censura e economicamente vivia o chamado „milagre
A arborização e vegetação rasteira urbana existente se econômico‟. Este último esteve diretamente ligado às obras
concentram apenas na praça mencionada. Os usos existentes de infraestrutura produzidas pelo Estado – construção da
são o residencial, o comercial o misto, o religioso e o Ponte Rio-Niterói, abertura da Rodovia Transamazônica, bem
institucional. A Igreja Matriz do Divino Espírito Santo, como a construção de edifícios públicos, iniciada
com sua torre central, é o elemento arquitetônico mais primeiramente pelas esferas de governo Federal e Estadual,
verticalizado do entorno imediato. não apenas nas regiões metropolitanas das capitais, mas
também no interior dos estados. Características do
4. AVALIAÇÃO Movimento Moderno Brasileiro, cujas maiores expressões
foram construções estatais (como o Ministério de Educação
Técnica: A obra mantém integridade física no geral. Um e Saúde Pública no Rio de Janeiro e o Conjunto
problema identificado foi de acessibilidade, visto que
para se atingir qualquer das portas da igreja, é preciso 3
Cf. SILVEIRA (2011, p. 63), “Entre as ocorrências de igrejas
subir a escadaria e a rampa frontal ou então subir pela
rua pavimentada com pedra fincada e depois as rampas modernistas construídas no Brasil [...] houve – assim como no
laterais. caso da cidade mineira de Ferros – diversos casos em que antigos
templos católicos foram demolidos para dar lugar às novas
Social: O edifício reflete uma proposta de modernização de edificações [...] um processo que parece ter alcançado proporções
edifícios religiosos empreendida à época de sua bem maiores”. A antiga matriz de Lamim, da mesma forma que
construção, e que na região de estudo também ocorre em ocorrido em outras cidades, não escapou da demolição e da onda
modernizadora dos templos católicos.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG
139

Arquitetônico da Pampulha em Belo Horizonte) (MELLO, 1982) LIVRO do Tombo da Paróquia do Divino Espírito Santo de
e que tem como ápice a construção de Brasília em 1960, Lamim.
continuaram a ser difundidas durante os anos 70 e 80 e
certamente noções e detalhes (para finalidades MELLO, S. Arquitetura Moderna em Minas Gerais. In:
construtivas/técnicas/funcionais) chegaram a diversas Seminário Sobre a Cultura Mineira – Período Contemporâneo,
regiões de Minas Gerais. 2., 1980. Anais do II Seminário Sobre a Cultura Mineira –
Período Contemporâneo. Belo Horizonte: Conselho Estadual
Mobilização pró-preservação e recuperação: O edifício de Cultura de Minas Gerais/Imprensa Oficial, 1980, p. 39-
possui bom estado de conservação, continua a desempenhar a 55.
sua função original e foi em inventariado em 2010 (e a
praça defronte em 2012), revelando que existe uma RIBEIRO FILHO, A. B. Desbravamento, caminhos antigos e
significativa identificação da obra com a identidade povoamento nos sertões do leste: uma aventura de
local. pioneiros. Viçosa: Centro de Referência do Professor,
2004.
Avaliação geral: O edifício da Matriz do Divino Espírito
Santo pode ser considerado como uma expressão da SILVA, L. M. Construção da Matriz do Divino Espírito
„modernização‟ e desenvolvimento (sobretudo no campo Santo. [Lamim]: Sede da Paróquia do Divino Espírito Santo,
religioso) do município diante do contexto histórico de 15/03/2013. Entrevista concedida a Marcelo Leite.
sua construção.
SILVEIRA, M. M. G. Templos modernos, templos ao Chão: a
5. DOCUMENTAÇÃO trajetória da arquitetura religiosa modernista e a
demolição de antigos templos católicos no Brasil. Belo
BARBOSA, W. A. Dicionário Histórico e Geográfico de Minas Horizonte: Autêntica, 2011.
Gerais. Belo Horizonte: Promoção da Família, 1971, p. 262-
263. VILELA, C. Inventário da Igreja Matriz do Divino Espírito
Santo. Lamim: Adriana Paiva de Assis – Consultoria na Área
CUNHA, E. J. R; ASSIS, A. P. Inventário da Praça do Divino de Patrimônio Cultural/Prefeitura Municipal de Lamim,
Espírito Santo. Lamim: Adriana Paiva de Assis – 2010.
Consultoria na Área de Patrimônio Cultural/Prefeitura
Municipal de Lamim, 2011-2012. Material visual anexado: Fotografias e desenhos à mão
livre.
IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
Enciclopédia dos Municípios Brasileiros. Rio de Janeiro: Pesquisador/data: Marcelo André Ferreira Leite / 08/2012-
IBGE, 1957, v.27, p. 46-50. 07/2013.

IBGE – Cidades@: Lamim – MG. Disponível em:


http://www.ibge.gov.br/cidadesat/link.php?codmun=313790.
Acesso em: 09/06/2013.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG
140

6. ANEXOS

[Da esquerda p/ direita e de cima p/ baixo] Fot. 1: Placa de inauguração. Fot. 2: Imagem tirada entre 1964 e 1967 mostrando a igreja
antiga (oitocentista, a frente) e a igreja nova (moderna, atrás). Fot. 3: Da mesma época, essa imagem mostra que a diferença de nível
entre a praça e o lote onde atualmente se implanta a sede da paróquia (esquerda da matriz) era bem menor que a existente hoje. Isso
se deve ao fato que o morro atrás da antiga matriz foi parcialmente desmontado para implantar o novo edifício, e parte do volume de
terra escavado foi deslocado para a esquerda, a fim de construir um platô elevado que deixasse a sede paroquial no mesmo nível da
igreja a ser construída. As Fot. 4 mostra esse morro apenas parcialmente desmontado, de modo que o mesmo ainda auxiliava na
construção, como na Fot. 5, que registra a execução do telhado. Fot. 6: Nave, com altar ao fundo. Fot. 7: Detalhe das imagens de
Cristo, do Divino e de Maria, junto ao altar em mármore. Fot. 8: Nave, com porta principal e coro ao fundo. Crédito das imagens:
Cedidas pela Sede da Paróquia do Divino Espírito Santo, 15/03/2013; Marcelo Leite, 15/03/13.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG
141

[Da esquerda p/ direita e de cima p/ baixo] Fot. 9: Capela do Santíssimo. Fot. 10: Ladrilho
hidráulico. Fot. 11 e 12: Vista da cobertura, tirada do lato do morro remanescente na posterior
da atual igreja. Fot. 13 a 15: Fotos tiradas durante a execução da obra, utilizando-se estrutura
em concreto armado (construção da nave, construção da torre e acabamentos). Crédito das imagens:
Cedidas pela Sede da Paróquia do Divino Espírito Santo, 15/03/2013; Marcelo Leite, 15/03/13.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG
142
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG
143

B4 - MATRIZ DE NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO

Fachada Frontal. Fonte: Marcelo Leite, 26/01/12.

MG-124 sentido Senhora de Oliveira, Lamim, Catas Altas da Noruega.


Rio Xopotó

Residência José Ribeiro de Magalhães

Sede da Prefeitura Municipal de Magalhães Brás Pires

Praça Capitão Vilela

Matriz de Nossa Senhora do Rosário

MG-124 sentido Senador Firmino, Divinésia, Situação. Fonte: Googlemaps, acesso em


Ubá. 23/01/13. Adaptado pelo autor.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG
144

1. IDENTIDADE DO EDIFÍCIO Alterações significativas:


Uso atual: Matriz da Paróquia de Nossa Senhora do Rosário
Nome do edifício: Matriz de Nossa Senhora do Rosário Estado de conservação: Bom.
Variante ou nome anterior:
Endereço: Praça Capitão Vilela, s/n – Centro 3. DESCRIÇÃO
Cidade: Brás Pires
Estado: MG Descrição geral: edifício térreo de pé direito equivalente
CEP: 36542-000 a três pavimentos, mais torre lateral esquerda com seis
País: Brasil pavimentos, em linguagem moderna, volumetria simples e
Coordenadas geográficas: 20.92°S 43.24°W implantado em lote com declive no sentido testada-fundos
Classificação/tipologia: Religioso – REL (fot. 2) e frente para a Praça Capitão Vilela (ver croquis
Estado de proteção e data: Nenhum. volumetria e implantação). O afastamento frontal é
aproveitado como jardim e acesso principal (fot. 3 e 4),
2. HISTÓRIA DO EDIFÍCIO enquanto os laterais apenas como formas de acesso
secundário. A praça em frente é ampla, uma vez que se
Proposta original: Nova Matriz para a Paróquia de Nossa trata de um local de aglomeração, possuindo cerca de 50 m
Senhora do Rosário1 (fot. 1) de comprimento e 25 m de largura. O acesso principal se
Datas: projeto em 1975 (A); construção de 01/07/1975 a faz por meio de três portas frontais com cerca de 3m de
27/07/1980 (E) e inauguração em 27/07/1980 (E) largura cada uma, centralizadas em relação à fachada
Autor do projeto e colaboradores: Mons. Dr. Guilherme frontal, que conduzem a nave. Existem ainda na fachada
Schubert2 lateral esquerda mais duas entradas para a nave (fot. 5),
Outros associados ao projeto: Padre José Maria Quintão e na lateral direita, mais duas entradas para a nave (fot.
Rivelli (Padre Zizinho), pároco de Brás Pires entre 1946 e 6), todas as portas acessadas por meio de escadas ou
19933; Dom Oscar de Oliveira, arcebispo de Mariana entre rampas. Além de nave (fot. 7 e 8) e altar (fot. 9 e 10),
1960 e 1988; José Boratto, da Construtora Boratto e Cia. existe a capela do Santíssimo (fot. 11 e 12) e a sacristia
(Barbacena), responsável pela execução; Joaquim Bento nos fundos do altar; e na lateral esquerda o acesso à
Magalhães, Presidente da Comissão de Locação da Nova torre sineira (croqui planta baixa). A área construída é
Matriz de Nossa Senhora do Rosário de aproximadamente 510 m2.

1 Construção: O sistema construtivo utilizado compõe-se de


Cf. o Livro do Tombo da Paróquia de Nossa Senhora do Rosário, a
estrutura em pilares, vigas e lajes de concreto armado,
antiga Matriz foi demolida em 10/1973 e durante os dois anos
permitindo grandes vãos, amplas aberturas e vedação em
seguintes foi instituída uma comissão, presidida por Joaquim
tijolos cerâmicos. O piso é todo em pedra polida. As
Bento Magalhães (morador do município) com a finalidade de
janelas são todas metálicas, dos tipos basculante e de
estudar e escolher um terreno para implantação da nova matriz
correr, pintadas de branco, com as frontais e as
entre as seguintes opções: o lote no alto do morro do cemitério,
posteriores fixas, formando um vitral em cruz com vidros
que era a preferência da maior parte da população local à época;
verdes (fot. 13). A pintura externa é branca, e as paredes
um terreno distante 1 km do núcleo central, onde se cogitava
internas são recobertas com madeira até 2 m de altura,
também a implantação da nova sede da Prefeitura Municipal (o que
recebendo pintura branca até o teto, também branco, com o
poderia ocasionar um deslocamento da centralidade original para
vigamento em destaque. As portas são metálicas pintadas de
essa outra região); e o terreno da Praça Capitão Vilela, no mesmo
vinho, com bandeiras em vidro. A cobertura é duas águas
lugar onde se situava a antiga matriz, que foi por fim o
com telhas de fibrocimento, exceto a torre, que é coberta
escolhido.
2 com uma laje curva de concreto armado.
Monsenhor Guilherme Schubert (1913-1998) era Doutor em Teologia
e entre os anos 1960 a 1990 exerceu diversas funções tais como as
de Presidente da Comissão de Arte e Música Sacra do Rio de Contexto: O volume se encontra inserido na Praça Capitão
Janeiro, arquivista do Cabido Metropolitano do Rio de Janeiro e Vilela (fot. 14) cujo entorno apresenta volumetria
membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Cf. HAZAN simples, e onde predominam edificações de apenas um, dois
(2013) e PEREIRA (2013). ou três pavimentos (o que facilita a visibilidade do
3
Cf. FERREIRA et al (2011). prédio da Matriz), implantadas em terrenos pouco
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG
145

acidentados e com pequenos afastamentos em relação o grandes vãos internos, grandes vãos para aberturas,
limite dos lotes. Algumas construções transformaram a marcação sugerindo ritmo e modulação5, bem como os
cobertura em terceiro pavimento através da instalação de materiais e tecnologias empregados – estrutura em concreto
cobertura descolada sustentada por estrutura metálica. As armado, esquadrias metálicas, que podem ter sido
vias de automóveis que circundam a Praça Capitão Vilela utilizados por questões de racionalização e economia, além
são pavimentadas com paralelepípedos de pedra. A da intenção estética modernizadora. A semelhança das
circulação de veículos e pedestres é tranquila, igrejas de Brás Pires e Senhora de Oliveira (cidades
intensificada graças à presença da Matriz, da Prefeitura e distantes entre si 17 km) se revela muito considerável, o
da Câmara Municipal, e periodicamente pelos ônibus que levanta uma hipótese de que possa ter se utilizado o
intermunicipais e outros veículos que fazem os percursos mesmo projeto para as duas obras, ou ser essa uma
no sentido Senador Firmino - Senhora de Oliveira ou vice- semelhança estética intencional. É notável também o painel
versa. A Praça possui vegetação composta de gramíneas, decorativo na fachada frontal (fot. 16) - uma tentativa de
pequenos arbustos e árvores de menor porte. Convivem no integrar as artes plásticas com a arquitetura, da mesma
entorno imóveis das linguagens colonial/oitocentista, forma que diversas obras modernas de renome6.
eclética, moderna e contemporânea (fot. 15). Os usos
existentes são o residencial, o comercial, o misto, o Histórica: Em uma escala maior a obra arquitetônica da
religioso e o nstitucional. A torre da Igreja Matriz de está associada com o contexto histórico dos anos 70 do
Nossa Senhora do Rosário é o elemento arquitetônico mais século XX, no qual o Brasil dominado pela ditadura militar
verticalizado do entorno imediato. possuía eleições indiretas para os cargos públicos,
politicamente estava reduzido a apenas dois partidos
4. AVALIAÇÃO (ARENA – Aliança Renovadora Nacional) e MDB (Movimento
Democrático Brasileiro), social e culturalmente estava
Técnica: A obra mantém integridade física no geral. Alguns sujeito à intervenção dos órgãos governamentais de censura
problemas identificados foram o descascamento da pintura e e economicamente vivia o chamado „milagre econômico‟. Este
o surgimento de manchas de umidade em alguns pontos das último esteve diretamente ligado às obras de
fachadas; e internamente, danificação em alguns pontos do infraestrutura produzidas pelo Estado – construção da
piso, ao longo do corredor central da nave. Ponte Rio-Niterói, abertura da Rodovia Transamazônica, bem
como a construção de edifícios públicos, iniciada
primeiramente pelas esferas de governo Federal e Estadual,
Social: O edifício reflete uma proposta de modernização de não apenas nas regiões metropolitanas das capitais, mas
edifícios religiosos empreendida à época de sua também no interior dos estados. Características do
construção, e que na região de estudo também ocorre em Movimento Moderno Brasileiro, cujas maiores expressões
Piranga, Senhora de Oliveira e Lamim4. Contudo, a história foram construções estatais (como o Ministério de Educação
da Matriz de Nossa Senhora do Rosário se encontra e Saúde Pública no Rio de Janeiro e o Conjunto
desconhecida por grande parte da população local. Arquitetônico da Pampulha em Belo Horizonte) (MELLO, 1982)
e que tem como ápice a construção de Brasília em 1960,
Cultural e estética: O partido arquitetônico adotado continuaram a ser difundidas durante os anos 70 e 80 e
possui elementos marcantes do Modernismo na Arquitetura – certamente noções e detalhes (para finalidades
construtivas/técnicas/funcionais) chegaram a diversas
regiões de Minas Gerais.
4
Cf. SILVEIRA (2011, p. 63), “Entre as ocorrências de igrejas
modernistas construídas no Brasil [...] houve – assim como no
5
caso da cidade mineira de Ferros – diversos casos em que antigos É bastante nítido o uso de uma modulação de 3x3 m no edifício.
6
templos católicos foram demolidos para dar lugar às novas Um exemplo clássico são os painéis pintados por Portinari no
edificações [...] um processo que parece ter alcançado proporções edifício do Ministério da Educação e Saúde Pública no Rio de
Janeiro, atual Palácio Gustavo Capanema, e na Capela de São
bem maiores”. A antiga matriz de Brás Pires, da mesma forma que Francisco de Assis, na Pampulha, Belo Horizonte. Na Zona da Mata
outras cidades, não escapou da demolição e dessa onda mineira, podemos citar também o painel elaborado por Djanira para
modernizadora dos templos católicos. a fachada da Matriz de Santa Rita de Cássia em Cataguases-MG (Cf.
ALONSO, 2009).
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG
146

Mobilização pró-preservação e recuperação: O edifício MELLO, S. Arquitetura Moderna em Minas Gerais. In:
possui bom estado de conservação e continua a desempenhar Seminário Sobre a Cultura Mineira – Período Contemporâneo,
a função original, entretanto não há nenhuma mobilização 2., 1980. Anais do II Seminário Sobre a Cultura Mineira –
pró-preservação. O edifício, com características de Período Contemporâneo. Belo Horizonte: Conselho Estadual
linguagem moderna e momento histórico de construção de Cultura de Minas Gerais/Imprensa Oficial, 1980, p. 39-
relativamente recente, dificilmente é encarado pela 55.
maioria da população local como algo passível de
preservação, uma vez que o senso comum geralmente nos leva PEREIRA, M. D. G. Tramas populares: rebelião religiosa na
a crer que apenas obras de períodos mais antigos (como o construção da devoção à escrava Anastácia. Disponível em:
colonial, o oitocentismo ou o ecletismo) devem ser http://www.naya.org.ar/religion/XJornadas/pdf/1/1-
preservadas ou merecem prioridade nessa mobilização. dias.pdf. Acesso em: 30/06/2013.

Avaliação geral: O edifício da Matriz de Nossa Senhora do RIBEIRO FILHO, A. B. Desbravamento, caminhos antigos e
Rosário pode ser considerado como uma expressão da povoamento nos sertões do leste: uma aventura de
„modernização‟ e desenvolvimento (sobretudo no campo pioneiros. Viçosa: Centro de Referência do Professor,
religioso) do município diante do contexto histórico de 2004.
sua construção.
SILVEIRA, M. M. G. Templos modernos, templos ao Chão: a
5. DOCUMENTAÇÃO trajetória da arquitetura religiosa modernista e a
demolição de antigos templos católicos no Brasil. Belo
ALONSO, P. H. (Org.). Cataguases - arquitetura modernista: Horizonte: Autêntica, 2011.
guia do patrimônio cultural. Cataguases: IEDS, 2009.
Material visual anexado: Fotografias e desenhos à mão
BARBOSA, W. A. Dicionário Histórico e Geográfico de Minas livre.
Gerais. Belo Horizonte: Promoção da Família, 1971, p. 82.
Pesquisador/data: Marcelo André Ferreira Leite / 09/2012-
FERREIRA, R. S; BOTELHO, M. I. V. Entre o projeto 07/2013.
romanizador e o Vaticano II: a congada no município de
Brás Pires-MG. Revista de Ciências Humanas, Viçosa, v. 11,
n. 2, p. 344-358, jul./dez. 2011.

HAZAN, M. C. O acervo musical do arquivo do cabido


metropolitano do Rio de Janeiro. Disponível em:
http://www.acmerj.com.br/CMRJ_HIST.htm. Acesso em:
30/06/2013.

IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.


Enciclopédia dos Municípios Brasileiros. Rio de Janeiro:
IBGE, 1957, v.24, p. 241-243.

IBGE – Cidades@: Senhora de Oliveira – MG. Disponível em:


http://www.ibge.gov.br/cidadesat/link.php?codmun=315080.
Acesso em: 19/11/2011.

LIVRO do Tombo da Paróquia de Nossa Senhora do Rosário de


Brás Pires.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG
1147

6. ANEXOS

[Da esquerda p/ direita e de cima p/ baixo] Fot. 1: Imagem da antiga matriz de Nossa Senhora do
Rosário, demolida em 1973. Fot. 2: Fachada posterior, onde é possível ver o desnível de cerca
de 2 m da frente para os fundos do terreno (aproveitado como porão sob a sacristia e a capela
do Santíssimo). Fot. 3 e 4: Fachada frontal: marquise de entrada, acessos. Fot. 5: Fachadas
frontal e lateral direita. Fot. 6: Fachada lateral esquerda. Fot. 7 e 8: Nave com vistas para o
altar e as portas principais, respectivamente. Crédito das imagens: 1: disponível em:
http://www.facebook.com/bras.pires?fref=ts, acesso em: 03/07/2013. 2 a 8: Marcelo Leite,
28/06/2013.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG
148

[Da esquerda p/ direita e de cima p/ baixo] Fot.


9: Altar, vista frontal. Fot. 10: Altar, detalhe
do acesso à capela do Santíssimo e a pia
batismal à direita. Fot. 11: Capela do
Santíssimo. Fot. 12: Detalhe da imagem de Cristo
e de pintura retratando a Santa Ceia, na Capela
do Santíssimo. Fot. 13: Detalhe do vitral Fot.
14: Entorno, vista para Praça Capitão Vilela.
Fot. 15: Entorno, vista lateral esquerda em
direção ao prédio da prefeitura (ao fundo) e ao
lote vago ao lado da matriz, até março/2013
ocupado por uma edificação de linguagem
colonial. Fot: 16: Detalhe do mural de Nossa
Senhora do Rosário na fachada frontal. Crédito
das imagens: Marcelo Leite, 28/06/2013.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG
149
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG
150

B5 - SEDE DA PARÓQUIA DO DIVINO ESPÍRITO SANTO

Fachada Frontal. Fonte: Marcelo Leite, 15/03/13.


Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG
151

1. IDENTIDADE DO EDIFÍCIO

3. DESCRIÇÃO
Nome do edifício: Sede da Paróquia do Divino
Espírito Santo Descrição geral: edifício com dois pavimentos, de
Variante ou nome anterior: linguagem moderna, com volumetria simples e
Endereço: Praça Divino Espírito Santo, n° 3 – Centro implantado em um lote em declive nos sentidos
Cidade: Lamim fundos-testada3 (ver fot. 2 e croquis implantação e
Estado: MG volumetria). Existem afastamentos na frente e na
CEP: 36455-000 lateral direita do terreno - aproveitados como
País: Brasil jardim (fot. 3), na lateral esquerda e nos fundos –
Coordenadas geográficas: 20.79°S 43.47°W edícula, fogão de lenha e horta (fot. 4),
Classificação/tipologia: Religioso – REL construídas junto aos limites do lote. A calçada em
Estado de proteção e data: Entorno (Praça Divino frente ao terreno é estreita, possuindo entre 1,0 a
Espírito Santo) inventariado em 2012. 1,5 m de largura. O acesso principal se faz por meio
de dois portões com 1,5 m de largura na lateral
2. HISTÓRIA DO EDIFÍCIO direita, que conduzem respectivamente, a varanda
frontal e ao hall inferior. Além desse acesso,
existe uma garagem semienterrada sob o pavimento
Proposta original: Nova sede para a paróquia do
térreo, cujo portão se encontra voltado para a Praça
Divino Espírito Santo de Lamim
Divino Espírito Santo. A circulação vertical
Datas: Projeto de 06/1967 (A); construção de
interna é feita apenas por meio de escada. O
19/06/1964 a 27/11/1968 (A); inauguração em
pavimento inferior contém o escritório paroquial,
27/11/1968 (E) 1 (fot. 1)
sala de estar, uma suíte, um dormitório, dois
Autor do projeto e colaboradores: Eng. Humberto
banheiros sociais, copa, sala de jantar, cozinha com
Wilke Boratto (Barbacena-MG), projeto
despensa, e numa cobertura anexa junto à fachada
arquitetônico/estrutural2
posterior, outra cozinha com fogão a lenha e outra
Outros associados ao projeto: Padre Newton Henriques
despensa. O pavimento superior possui uma suíte,
Malta, pároco de Lamim entre 1960 e 1988; Dom Oscar
três dormitórios, banheiro social, capela, um quarto
de Oliveira, arcebispo de Mariana entre 1960 e 1988
menor, utilizado para passar e armazenar a roupa
Alterações significativas: Substituição do piso
limpa e duas varandas – a frontal, coberta (fot. 5)
original em quase todos os ambientes; construção de
– e a posterior originalmente descoberta, mas hoje
cozinha anexa à fachada posterior; transformação de
coberta (croquis plantas baixas).
um dos dormitórios superiores em capela
Uso atual: Sede da Paróquia do Divino Espírito Santo
de Lamim Construção: O sistema construtivo utilizado compõe-
Estado de conservação: Bom. se de estrutura em pilares, vigas e lajes de
concreto armado e vedação em tijolos cerâmicos. O

3
Ainda segundo o Livro do Tombo e o acervo fotográfico da
1
Cf. Livro do Tombo e acervo fotográfico da Paróquia do Divino paróquia, tem-se conhecimento de obras de terraplanagem, onde o
Espírito Santo de Lamim. A sede paroquial foi oficialmente morro atrás da antiga matriz foi parcialmente desmontado para
inaugurada mesmo estando ainda em fase de acabamento. implantar o novo edifício, e parte do volume de terra escavado
2
O mais provável, uma vez que é de sua autoria o projeto da foi deslocado para a esquerda, a fim de construir um platô
Matriz, e considerando-se que as duas obras foram executadas elevado que deixasse a sede paroquial no mesmo nível da igreja a
simultaneamente. ser construída.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG
152

piso externo inferior é em cerâmica São Caetano4 volumetria simples, onde predominam edificações de
vermelha na varanda e no passeio lateral esquerdo. A apenas um a dois pavimentos, implantadas em terrenos
varanda superior frontal possui piso em ladrilho relativamente planos e com pequenos afastamentos em
hidráulico (fot. 6), o mesmo utilizado na nave relação o limite dos lotes (fot. 10). A maioria das
central da igreja matriz. As áreas sociais e íntimas construções possui cobertura em telha cerâmica,
eram todas revestidas com tacos de madeira e as havendo também coberturas feitas em laje de concreto
áreas de apoio e serviços (copa, cozinha) armado, telhas metálicas ou de fibrocimento. Essa
provavelmente eram revestidas com cerâmica São praça, bem como as vias próximas, são todas
Caetano, contudo, quase todo o piso interno foi pavimentadas com pedra fincada. A circulação de
substituído por um piso cerâmico bem mais recente. A veículos e pedestres é tranquila, intensificada pela
única exceção é o piso da suíte superior, que ainda presença de ônibus intermunicipais, caminhões e
mantém uma cerâmica São Caetano hexagonal original, outros veículos que fazem os percursos Senhora de
de coloração amarelo-canário (fot. 7). A parede Oliveira – Catas Altas da Noruega e vice-versa.
externa frontal inferior é revestida com pedra São Convivem no entorno imóveis das linguagens
Tomé à vista; as demais paredes externas recebem colonial/oitocentista, eclética, moderna e
pintura creme. As paredes internas e tetos são contemporânea. A arborização e vegetação rasteira
pintadas de creme, sendo nas áreas de apoio e urbana existente se concentra apenas na praça
serviço (copa, cozinha e banheiros) revestidas mencionada. Os usos existentes são o residencial, o
também, até 1,5 m de altura, com azulejo comercial o misto, o religioso e o institucional. A
branco/amarelo claro (fot. 8), placas de 15x15 cm; Igreja Matriz do Divino Espírito Santo, com sua
As janelas são todas metálicas, dos tipos de correr torre central, é o elemento arquitetônico mais
e basculante (no térreo gradeadas), enquanto as verticalizado do entorno imediato (fot. 11).
portas são todas em madeira, todas as esquadrias
pintadas de cinza. A cobertura é duas águas 4. AVALIAÇÃO
invertida (telhado borboleta) com telhas de
fibrocimento (fot. 9).
Técnica: A obra mantém integridade física no geral.
Alguns problemas identificados foram o surgimento de
Contexto: O volume se encontra inserido na Praça do manchas de umidade em alguns pontos das fachadas.
Divino Espírito Santo, que no passado já foi
parcialmente ocupada pela antiga matriz, demolida em
Social: O edifício reflete uma proposta de
1967 após três anos do início da construção na nova
modernização de edifícios destinados ao uso
igreja. A parte defronte a atual matriz se apresenta
religioso que foi empreendida à época de sua
em aclive na direção da igreja, enquanto que a parte
construção, e que na região de estudo também ocorre
defronte a casa paroquial é plana e rebaixada em
em Piranga, Senhora de Oliveira, Brás Pires e Catas
relação ao volume mencionado. O entorno apresenta
Altas da Noruega. Contudo, a história da Matriz do
Divino Espírito Santo e da Sede Paroquial se
encontra desconhecida por grande parte da população
4
A Cerâmica São Caetano era a maior e a mais tradicional local. Ao mesmo tempo, uma vez que se trata também
fabricante de artefatos cerâmicos dos anos 50. Cf. SEGAWA, H. uma forma de habitação, o edifício também evidencia
Oswaldo Arthur Bratke: Vila Serra do Navio e Vila Amazonas. In: uma modernização de residências (e em última análise
GUERRA, A. (Org.). Textos fundamentais sobre a história da de seus próprios moradores) de caráter mais popular,
arquitetura moderna brasileira. São Paulo: Romano Guerra, 2010, uma vez que neste período (e de certa forma até os
v. 2, p. 130. Para mais informações sobre a Cerâmica São dias de hoje) a grande maioria das casas brasileiras
Caetano, ver referência HISTÓRIA... no item 5. não eram projetadas por arquitetos, mas construídas
por seus próprios proprietários com a ajuda de um
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG
153

mestre de obras e outros trabalhadores ‘não governado por Getúlio Vargas (eleito em 1950) e
qualificados’. Outro ponto a ser destacado é o fato Juscelino Kubitschek (eleito em 1955), procurava a
de que essa modernização era muito mais de caráter modernização (o slogan de JK – crescer 50 anos em 5
estético, e ‘de fachada’ do que propriamente uma nos dá um bom exemplo do espírito desse tempo).
modernização de caráter funcional ou ‘na planta’. O Nessa época nas capitais federal e estadual o
interior das casas muitas vezes continuava a seguir Movimento Moderno Brasileiro florescia, e suas
uma distribuição espacial remanescente do século XIX maiores expressões foram construções estatais:
– com áreas molhadas (cozinha e banheiros) Ministério de Educação e Saúde Pública no Rio de
localizadas no fundo das residências (LARA, 2008). Janeiro, Conjunto Arquitetônico da Pampulha em Belo
Aos fundos do terreno, era muito comum também a Horizonte, e o auge, a construção de Brasília em
presença de uma edícula, onde se encontrariam mais 1960. O ano de 1964 marca o fim desta ‘República
dependências de apoio e serviços, e o tradicional Populista’ estabelecida por Vargas e JK, e o início
fogão a lenha, que já não poderia ficar no interior do Regime Militar, com o golpe de 31/03/1964, que
de uma ‘residência moderna’. derrubou João Goulart (vice de Jânio Quadros) e
instalou junta provisória até a eleição indireta do
Cultural e estética: O partido arquitetônico adotado General Castelo Branco, ainda naquele ano. Foi
possui elementos marcantes do Modernismo na dentro desse contexto, se efetuou a ‘modernização’
Arquitetura – grandes vãos para aberturas, telhado arquitetônica na região.
borboleta, uso do pilar metálico em ‘V’, brises5,
pequenas marquises6 (fot. 12), bem como os materiais Mobilização pró-preservação e recuperação: O
e tecnologias empregados – estrutura em concreto edifício está bem conservado, ainda desempenhando
armado, esquadrias metálicas, Cerâmica São Caetano, sua função original, porém não há nenhuma
tacos de madeira, pedra à vista, etc., utilizados mobilização pró-preservação. O edifício, com
para promover além de uma nova arquitetura um novo características de linguagem moderna e momento
modo de vida, dentro de seu contexto histórico histórico de construção relativamente recente,
local. Como causas para a disseminação e dificilmente é encarado pela população local como
popularização da estética moderna, LARA (2008, p. algo passível de preservação, uma vez que o senso
62), aponta quatro grandes fontes: os grandes comum geralmente nos leva a crer que apenas obras de
edifícios públicos modernos; as mídias; as redes períodos mais antigos (como o colonial, o
pessoais de amigos e parentes; e a imitação de oitocentismo ou o ecletismo) devem ser preservadas
construções vizinhas. ou merecem prioridade nessa mobilização.

Histórica: Em uma escala maior a obra arquitetônica Avaliação geral: O edifício-sede da Paróquia do
está associada com o contexto histórico dos anos 50- Divino Espírito Santo pode ser considerado como uma
60 do século XX, no qual o Brasil populista expressão da ‘modernização’ e desenvolvimento
(sobretudo nos campos religioso e habitacional) do
município diante do contexto histórico de sua
5
Brise: elemento arquitetônico de proteção com a finalidade construção.
principal de interceptar os raios solares, quando estes forem
inconvenientes. Cf. CORONA e LEMOS, 1972, p.81. Com a
popularização da arquitetura moderna, o brise passou a ser 5. DOCUMENTAÇÃO
utilizado apenas com a finalidade estética de compor as fachadas,
e não mais por sua finalidade técnica. BARBOSA, W. A. Dicionário Histórico e Geográfico de
6
Marquise: Laje em balanço em edifícios, logo acima do andar Minas Gerais. Belo Horizonte: Promoção da Família,
térreo para proteger os pedestres do sol e da chuva. Cf. CORONA e 1971, p. 262-263.
LEMOS, 1972, p.315.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG
154

CORONA, C; LEMOS, C. Dicionário de Arquitetura a Cultura Mineira – Período Contemporâneo. Belo


Brasileira. São Paulo: Edart, 1972. Horizonte: Conselho Estadual de Cultura de Minas
Gerais/Imprensa Oficial, 1980, p. 39-55.
CUNHA, E. J. R; ASSIS, A. P. Inventário da Praça do
Divino Espírito Santo. Lamim: Adriana Paiva de Assis RIBEIRO FILHO, A. B. Desbravamento, caminhos antigos
– Consultoria na Área de Patrimônio e povoamento nos sertões do leste: uma aventura de
Cultural/Prefeitura Municipal de Lamim, 2011-2012. pioneiros. Viçosa: Centro de Referência do
Professor, 2004.
HISTÓRIA do piso de caquinhos das casas paulistas.
Disponível em: SILVA, L. M. Construção da Sede da Paróquia do
http://eleganciadascoisas.wordpress.com/2011/06/21/a Divino Espírito Santo. [Lamim]: Sede da Paróquia do
-historia-do-piso-de-caquinhos-das-casas-paulistas- Divino Espírito Santo, 15/03/2013. Entrevista
2/. Acesso em: 06/02/2013. concedida a Marcelo Leite.

IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e SILVEIRA, M. M. G. Templos modernos, templos ao


Estatística. Enciclopédia dos Municípios Chão: a trajetória da arquitetura religiosa
Brasileiros. Rio de Janeiro: IBGE, 1957, v.27, p. modernista e a demolição de antigos templos
46-50. católicos no Brasil. Belo Horizonte: Autêntica,
2011.
IBGE – Cidades@: Lamim – MG. Disponível em:
http://www.ibge.gov.br/cidadesat/link.php?codmun=313 VILELA, C. Inventário da Igreja Matriz do Divino
790. Acesso em: 09/06/2013. Espírito Santo. Lamim: Adriana Paiva de Assis –
Consultoria na Área de Patrimônio
LARA, F. L. The Rise of Popular Modernist Cultural/Prefeitura Municipal de Lamim, 2010.
Architecture in Brazil. Gainesville: University
Press of Florida, 2008. Material visual anexado: Fotografias e desenhos à
mão livre.
LIVRO do Tombo da Paróquia do Divino Espírito Santo
de Lamim. Pesquisador/data: Marcelo André Ferreira Leite /
08/2012-07/2013.
MELLO, S. Arquitetura Moderna em Minas Gerais. In:
Seminário Sobre a Cultura Mineira – Período
Contemporâneo, 2., 1980. Anais do II Seminário Sobre
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG
155

6. ANEXOS

[Da esquerda p/ direita e de cima p/ baixo] Fot. 1: Foto da inauguração da sede paroquial. Fot. 2: Foto tirada entre 1964 (início da
construção da matriz) e 1968 (inauguração da sede paroquial), que mostra a antiga ocupação do lote e a velha configuração urbana,
modificada com os empreendimentos religiosos modernos durante os anos 60 e 70. Fot. 3: Fachadas frontal e lateral direita. Fot. 4:
Vista lateral direita, com destaque em primeiro plano para edícula (aparentemente outra garagem). Fot. 5: Varanda frontal. Fot. 6:
Detalhe do pilar em ‘V’ e do ladrilho hidráulico na varanda frontal superior. Crédito das imagens: Cedidas pela Sede da Paróquia do
Divino Espírito Santo, 15/03/2013; Marcelo Leite, 15/03/13.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG
156

[Da esquerda p/ direita e de cima p/ baixo] Fot. 7: Banheiro da suíte superior. Fot. 8: Detalhe do azulejo branco com faixa
ornamental em azul, na copa. À direita, vista da sala de jantar. Fot. 9: Vista da cobertura, da via entre a sede paroquial e a igreja
matriz e de parte do entorno. Fot. 10: Vista lateral esquerda, evidenciando pouco afastamento em relação ao limite dos lotes. Fot.
11: Vista frontal da Matriz do Divino Espírito Santo, com a sede paroquial à esquerda. Fot. 12: Detalhe das marquises frontal e
lateral direita, ao fundo. Crédito das imagens: Cedidas pela Sede da Paróquia do Divino Espírito Santo, 15/03/2013; Marcelo Leite,
15/03/13.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG
157
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG 158

B6 - SEDE DA PARÓQUIA DE SÃO GONÇALO DO AMARANTE

Fachada Frontal. Fonte: Marcelo Leite, 07/03/13.

Igreja de São Gonçalo do Amarante


(Tombada pelo IPHAN)

Escola Estadual Gustavo


Augusto da Silva

Sede da Paróquia de Gonçalo do


Amarante

Acesso à BR-482 sentido Lamim,


Itaverava, Piranga.

Situação. Fonte: Googlemaps, acesso em


28/01/13. Adaptado pelo autor.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG 159

1. IDENTIDADE DO EDIFÍCIO meio de circulação vertical) que conduz a varanda frontal


(fot. 4 e 5) e a recepção (fot. 6). Além desse acesso,
Nome do edifício: Sede da Paróquia de São Gonçalo do existe uma garagem semienterrada sob o pavimento térreo
Amarante (fot. 7), cujo portão se encontra a direita do acesso de
Variante ou nome anterior: Presbitério Dom Oscar pedestres na fachada frontal. A sede paroquial é composta
Endereço: Rua 29 de Julho, n° 62 – Centro pela recepção, secretaria, escritório paroquial, arquivo
Cidade: Catas Altas da Noruega (fot. 8), circulação (fot. 9), duas suítes, dormitório,
Estado: MG sala de estar, copa (fot. 10 e 11), cozinha (fot. 12),
CEP: 36450-000 área de serviço, depósitos, banheiro social e despensa
País: Brasil (croquis plantas baixas).
Coordenadas geográficas: 20.69°S 43.49°W
Classificação/tipologia: Religioso – REL Construção: O sistema construtivo utilizado compõe-se de
Estado de proteção e data: Nenhum. estrutura em pilares, vigas e lajes de concreto armado e
vedação em tijolos cerâmicos. O piso externo, das áreas de
2. HISTÓRIA DO EDIFÍCIO circulação e apoio (copa, cozinha, etc.) é em cerâmica São
Caetano2, em placas das cores preto, vermelho e creme,
creme (fot. 13). As áreas sociais e íntimas eram todas
Proposta original: Nova sede para a paróquia de São revestidas com tacos de madeira, contudo, quase todo esse
Gonçalo do Amarante de Catas Altas da Noruega tipo de piso interno foi substituído por um piso cerâmico
Datas: Projeto de 1973 (A); construção em 1973 (A); bem mais recente, da mesma forma que externamente, na
inauguração em 08/10/1973 (E) 1 (fot. 1) escada de acesso. As paredes externas são revestidas com
Autor do projeto e colaboradores: pintura creme, sendo a fachada frontal inferior com pedra
Outros associados ao projeto: Padre Luiz Gonzaga Pinheiro, São Tomé à vista; O peitoril da varanda e da escada de
pároco de Catas Altas da Noruega entre 1949 e 1995; Dom acesso é todo em cobogó cerâmico3. As paredes internas e
Oscar de Oliveira, arcebispo de Mariana entre 1960 e 1988 tetos são pintadas de creme, sendo a copa revestida também
Alterações significativas: Substituição do piso original até 2m de altura com azulejos azuis, e na cozinha,
em alguns ambientes; transformação - de dois dormitórios revestidas completamente com azulejo branco, placas de
simples em suítes; de um dormitório em depósito; de uma 15x15 cm; As janelas são todas metálicas, dos tipos de
antiga dependência de empregada em despensa. correr com basculante na bandeira superior, enquanto as
Uso atual: Sede da Paróquia de São Gonçalo do Amarante de portas e armários embutidos são todos em madeira
Catas Altas da Noruega
Estado de conservação: Bom.

3. DESCRIÇÃO
2
A Cerâmica São Caetano era a maior e a mais tradicional
Descrição geral: edifício com um pavimento, de linguagem fabricante de artefatos cerâmicos dos anos 50. Cf. SEGAWA, H.
moderna, com volumetria simples e implantado em um lote em Oswaldo Arthur Bratke: Vila Serra do Navio e Vila Amazonas. In:
declive no sentido fundos-testada (fot. 2 e 3 e croquis GUERRA, A. (Org.). Textos fundamentais sobre a história da
implantação e volumetria). Existem afastamentos apenas em arquitetura moderna brasileira. São Paulo: Romano Guerra, 2010,
relação ao limite posterior do terreno, cerca de 5 m, v. 2, p. 130. Para mais informações sobre a Cerâmica São
aproveitado como jardim. A calçada em frente ao terreno é Caetano, ver referência HISTÓRIA... no item 5.
estreita, possuindo entre 1,0 a 1,5 m de largura. O acesso
principal se faz por meio um portão com 1,5 m de largura à 3
Cobogó, combogó ou combogê: tijolo furado ou elemento vazado
esquerda na testada do lote, onde há uma escada (único
feito de cimento empregado na construção de paredes perfuradas,
cuja função principal seria a de separar o interior do exterior,
1
Cf. Placa de inauguração, que atualmente se encontra no Museu e sem prejuízo da luz natural e da ventilação. Cf. CORONA e LEMOS,
Arquivo Histórico Padre Luiz Gonzaga Pinheiro. 1972, p.138.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG 160

almofadada envernizada. A cobertura é em quatro águas com destacado é o fato de que essa modernização era muito mais
telhas cerâmicas. de caráter estético, e ‘de fachada’ do que propriamente
uma modernização de caráter funcional ou ‘na planta’. O
Contexto: O entorno possui volumetria simples, interior das casas muitas vezes continuava a seguir uma
predominando edificações de apenas um ou dois pavimentos, distribuição espacial remanescente do século XIX – com
salvo a cumeeira da Igreja de São Gonçalo do Amarante - áreas molhadas (cozinha e banheiros) localizadas no fundo
tombada pelo IPHAN - com altura equivalente a três das residências (LARA, 2008).
pavimentos (fot. 14) e a torre central da Igreja Matriz de
Nossa Senhora das Graças (ao final da Avenida Nossa Cultural e estética: O partido arquitetônico adotado
Senhora das Graças) com altura equivalente a quatro possui elementos marcantes do Modernismo na Arquitetura –
pavimentos, que podem ser avistadas da escola. De maneira grandes vãos para aberturas, marquise curva4 (fot. 16), bem
geral, as construções apresentam pouco ou nenhum como os materiais e tecnologias empregados – estrutura em
afastamento em relação o limite dos lotes. As calçadas são concreto armado, esquadrias metálicas, Cerâmica São
geralmente cimentadas, de aproximadamente 1 a 1,5m, e no Caetano, tacos de madeira, pedra à vista, cobogó cerâmico,
entorno há arborização apenas numa pequena praça em frente etc., utilizados para promover além de uma nova
à Escola Estadual Gustavo A. da Silva (fot. 15), também em arquitetura um novo modo de vida, dentro de seu contexto
linguagem moderna, e nos fundos dos lotes. A Avenida Nossa histórico local. Como causas para a disseminação e
Senhora das Graças é asfaltada, possuindo um pequeno popularização da estética moderna, LARA (2008, p. 62),
canteiro central gramado (cerca de 50 cm de largura). A aponta quatro grandes fontes: os grandes edifícios
circulação de veículos e pedestres é tranquila, públicos modernos; as mídias; as redes pessoais de amigos
intensificada apenas no início e fim de cada turno da e parentes; e a imitação de construções vizinhas.
escola citada. Convivem no entorno imóveis das linguagens
eclética, moderna e contemporânea (com predomínio dessa Histórica: Em uma escala maior a obra arquitetônica está
última), bem como os usos institucional, comercial, misto associada com o contexto histórico do início dos anos 70
e residencial (com predomínio desse último). do século XX, no qual o Brasil dominado pela ditadura
militar possuía eleições indiretas para os cargos
4. AVALIAÇÃO públicos, politicamente estava reduzido a apenas dois
partidos (ARENA – Aliança Renovadora Nacional) e MDB
Técnica: A obra mantém integridade física no geral. Alguns (Movimento Democrático Brasileiro), social e culturalmente
problemas identificados foram o surgimento de manchas de estava sujeito à intervenção dos órgãos governamentais de
umidade em alguns pontos das fachadas e a falta de censura e economicamente vivia o chamado ‘milagre
acessibilidade, uma vez que só existe uma escada como meio econômico’. Este último esteve diretamente ligado às obras
de acesso à sede paroquial. de infraestrutura produzidas pelo Estado – construção da
Ponte Rio-Niterói, abertura da Rodovia Transamazônica, bem
como a construção de edifícios públicos, iniciada
Social: O edifício reflete uma proposta de modernização de primeiramente pelas esferas de governo Federal e Estadual,
edifícios destinados ao uso religioso que foi empreendida não apenas nas regiões metropolitanas das capitais, mas
à época de sua construção, e que na região de estudo também no interior dos estados. Características do
também ocorre em Piranga, Senhora de Oliveira, Brás Pires Movimento Moderno Brasileiro, cujas maiores expressões
e Lamim. Contudo, a história da Sede Paroquial se encontra foram construções estatais (como o Ministério de Educação
desconhecida por grande parte da população local. Ao mesmo e Saúde Pública no Rio de Janeiro e o Conjunto
tempo, uma vez que se trata também uma forma de habitação, Arquitetônico da Pampulha em Belo Horizonte) (MELLO, 1982)
o edifício também evidencia uma modernização de e que tem como ápice a construção de Brasília em 1960,
residências (e em última análise de seus próprios continuaram a ser difundidas durante os anos 70 e 80 e
moradores) de caráter mais popular, uma vez que neste certamente noções e detalhes (para finalidades
período (e de certa forma até os dias de hoje) a grande
maioria das casas brasileiras não eram projetadas por
arquitetos, mas construídas por seus próprios 4
Marquise: Laje em balanço em edifícios, logo acima do andar
proprietários com a ajuda de um mestre de obras e outros térreo para proteger os pedestres do sol e da chuva. Cf. CORONA e
trabalhadores ‘não qualificados’. Outro ponto a ser LEMOS, 1972, p.315.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG 161

construtivas/técnicas/funcionais/estéticas) chegaram a IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.


diversas regiões de Minas Gerais. Enciclopédia dos Municípios Brasileiros. Rio de Janeiro:
IBGE, 1957, v.24, p. 500-509.
Mobilização pró-preservação e recuperação: O edifício está
bem conservado, ainda desempenhando sua função original, IBGE – Cidades@: Catas Altas da Noruega – MG. Disponível
porém não há nenhuma mobilização pró-preservação. O em:
edifício, com características de linguagem moderna e http://www.ibge.gov.br/cidadesat/link.php?codmun=311540.
momento histórico de construção relativamente recente, Acesso em: 05/11/2011.
dificilmente é encarado pela população local como algo
passível de preservação, uma vez que o senso comum LARA, F. L. The Rise of Popular Modernist Architecture in
geralmente nos leva a crer que apenas obras de períodos Brazil. Gainesville: University Press of Florida, 2008.
mais antigos (como o colonial, o oitocentismo ou o
ecletismo) devem ser preservadas ou merecem prioridade
nessa mobilização. MELLO, S. Arquitetura Moderna em Minas Gerais. In:
Seminário Sobre a Cultura Mineira – Período Contemporâneo,
2., 1980. Anais do II Seminário Sobre a Cultura Mineira –
Avaliação geral: O edifício-sede da Paróquia de São Período Contemporâneo. Belo Horizonte: Conselho Estadual
Gonçalo do Amarante pode ser considerado como uma de Cultura de Minas Gerais/Imprensa Oficial, 1980, p. 39-
expressão da ‘modernização’ e desenvolvimento (sobretudo 55.
nos campos religioso e habitacional) do município diante
do contexto histórico de sua construção.
RIBEIRO FILHO, A. B. Desbravamento, caminhos antigos e
povoamento nos sertões do leste: uma aventura de
5. DOCUMENTAÇÃO pioneiros. Viçosa: Centro de Referência do Professor,
2004.
BARBOSA, W. A. Dicionário Histórico e Geográfico de Minas
Gerais. Belo Horizonte: Promoção da Família, 1971, p. 121. SILVEIRA, M. M. G. Templos modernos, templos ao Chão: a
trajetória da arquitetura religiosa modernista e a
CORONA, C; LEMOS, C. Dicionário de Arquitetura Brasileira. demolição de antigos templos católicos no Brasil. Belo
São Paulo: Edart, 1972. Horizonte: Autêntica, 2011.

HISTÓRIA do piso de caquinhos das casas paulistas. Material visual anexado: Fotografias e desenhos à mão
Disponível em: livre
http://eleganciadascoisas.wordpress.com/2011/06/21/a-
historia-do-piso-de-caquinhos-das-casas-paulistas-2/. Pesquisador/data: Marcelo André Ferreira Leite / 08/2012-
Acesso em: 06/02/2013. 07/2013.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG 162

6. ANEXOS

[Da esquerda para direita e de cima para baixo] Fot. 1: Placa


de inauguração. Fot. 2 e 3: Imagens que mostram que existia
uma elevação natural do lote em relação à rua, desde antes da
construção da sede paroquial, tendo sido feito apenas o
nivelamento do terreno para construção da edificação. Na
primeira imagem, à esquerda, o Salão Paroquial, e o terreno da
sede à direita. Na segunda imagem, a sede já construída, e ao
fundo, aspecto do entorno antes da construção da Escola
Estadual Gustavo A. da Silva, localizada à direita da sede
paroquial. Fot. 4 e 5: Varanda. Fot. 6: Recepção. Fot. 7:
Garagem. Fot. 8: Armário embutido no Arquivo. Crédito das
imagens: Cedidas pelo Museu e Arquivo Histórico Padre Luiz
Gonzaga Pinheiro e Marcelo Leite, 03/08/12 e 07/03/13.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG 163

[Da esquerda para direita e de


cima para baixo] Fot. 9:
Circulação interna. Fot. 10:
Copa. Fot. 11: Porta de entrada,
armário embutido e acesso à
circulação na copa. Fot. 12:
Armário embutido e revestimento
em azulejo na cozinha. Fot. 13:
Detalhe do piso da cozinha. Fot.
14: Igreja de São Gonçalo do
Amarante. Fot. 15: Escola
Estadual Gustavo A. da Silva.
Fot. 16: Detalhe da marquise
curva, do peitoril em cobogó
cerâmico e do revestimento em
pedra São Tomé à vista, na
varanda. Crédito das imagens:
Marcelo Leite, 03/08/12 e
07/03/13.
Um Inventário da Adoção da Linguagem Arquitetônica Moderna na Região de Piranga – MG 164

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