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3. IPHAN
Rua Odete Soares Nunes, 3643, Jóquei, Teresina, Piauí
claudicruz06@hotmail.com
RESUMO
Considerando a produção arquitetônica do Movimento Moderno no Brasil como importante para a
formação da paisagem urbana do século XX, este artigo se propõe a ressaltar que essa produção
mais recente, por vezes mesclada às elaborações contemporâneas, carece ainda de maior
valorização e reconhecimento enquanto patrimônio cultural. Nessa perspectiva, a preservação da
produção modernista, que tanto se destacou em âmbito nacional e internacional por suas
peculiaridades, é uma preocupação. A partir da análise de intervenções promovidas em uma
edificação modernista localizada em Teresina, capital do estado do Piauí, este estudo busca elencar
como os elementos caracterizadores dessa arquitetura estão sendo alterados sem a observação de
critérios preservacionistas. Tem-se como objeto de estudo o Terminal Rodoviário Governador Lucídio
Portela (1983), que desde sua implantação vem sofrendo modificações, perpetuando a perda de
elementos importantes do estilo brutalista nele adotado. Assim, além de colaborar para identificar o
legado do Modernismo piauiense, registrando suas particularidades, aponta-se a necessidade de
aguçamento do senso crítico quanto à sua preservação, para tal patrimônio não se perca na história e
na memória e que as gerações futuras possam alcança-lo.
Teresina, capital do Piauí, situada entre os rios Poti e Parnaíba, foi fundada no ano
de 1852 após a transferência da sede do governo de Oeiras, sul da então Província, para
uma região mais centralizada do território piauiense. Cidade planejada e implantada em um
contexto arquitetônico de feições neoclássicas e ecléticas, sua expansão urbana
inicialmente manteve-se delimitada entre esses rios, mas a partir da década de 1950 o
processo de urbanização ultrapassou esses limites e recebeu as influências modernistas
correntes no país, desde o contexto sociocultural e político até arquitetônico, passando a
incorporar novas linguagens.
Tendo como ponto de partida a produção modernista deste período, o objetivo geral
desse estudo é investigar as transformações arquitetônicas inferidas no Terminal Rodoviário
de Teresina, desde a década de 1980 até o ano de 2018, considerando-o como parte do
patrimônio histórico-cultural da cidade, ou seja, a partir de uma percepção patrimonial sobre
o mesmo. Os objetivos específicos são: identificar as características da obra em estudo que
contribuem para a formação da paisagem urbana de Teresina; pontuar as alterações
arquitetônicas sofridas ao longo dos anos e analisá-las, não apenas a partir dos elementos
que o caracterizam como modernista, mas também na perspectiva histórica, buscando
estabelecer eventuais conexões entre o contexto histórico, político, econômico e
sociocultural, e as intervenções e alterações ocorridas na edificação.
Segundo Lira (2012), apesar das cartas patrimoniais serem antigas, elas são
capazes de dar respostas a problemas específicos da Arquitetura Moderna, visto que as
ações de conservação e restauro em edifícios ditos tradicionais são mais precisas, e que
nas obras modernas os conceitos ainda estão sendo formados. Portanto, as premissas
explicitadas nesses documentos possibilitam um direcionamento nas intervenções, mas
também estimulam a formação de novas cartas, voltadas nas instigações do Modernismo.
Fonte: IBGE
3.1. As intervenções
Pode-se constatar que toda edificação foi pintada com tinta lavável nas alvenarias
nas cores cinza e branca, desrespeitando o concreto no seu estado bruto, característica
essencial da corrente brutalista (Figura 02). Além disso, a área administrativa foi revestida
com pinturas diferentes da concepção original, configurando outra linguagem descontínua
em relação à existente, que por um lado marca e deixa claro o tempo como memória de
uma produção, mas por outro apresenta incompatibilidade com a arquitetura original.
Além disso, a linguagem estrutural dos quiosques das companhias dos ônibus é não
compatível com a original. Os revestimentos e soluções adotadas evidenciam as diferenças
de concepção arquitetônica, como o uso de estrutura metálica, vidro e placas de ACM com
diferentes tipos de iluminação de LED, que, também provocam poluição visual.
Dessa forma, ressalta-se a importância deste estilo como parte da história, tanto
nacional quanto local e que, devido a esta participação na produção modernista, merece ser
perpetuado na memória das gerações não apenas como o elemento físico, mas também
como parte de uma memória e paisagem urbana.
Com a análise das recentes intervenções realizadas nesta obra, é possível concluir
que existe a necessidade de um programa de proteção específico para o patrimônio
moderno e de ampliação do conhecimento sobre suas especificidades, a partir das quais
pode-se identificar e elencar valores históricos, arquitetônicos, culturais e sociais que o
distingue de uma obra arquitetônica comum.
BASTOS, Maria Alice Junqueira; ZEIN, Ruth Verde. Brasil. Arquiteturas após 1950. São
Paulo, Perspectiva, 2010.
ESCOLA Paulista. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São
Paulo: Itaú Cultural, 2017. Disponível em:
http://enciclopedia.itaucultural.org.br/termo8817/escola-paulista>. Acesso em: 15 set. 2018.
ZEIN, Ruth Verde. A Arquitetura da Escola Paulista Brutalista, 1953-1973. 2005. 197 f.
Tese (Doutorado em Arquitetura) – PROPAR-UFRGS, Porto Alegre. Disponível em:
<http://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/5452>. Acesso em: 01 mar. 2019.