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ARQUITETURA EM PALMAS – TO:


Considerações sobre uma
modernidade extemporânea
Marianna Cardoso

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I SAMA – Seminário de arquitetura moderna na Amazônia
17,18 e 19 de fevereiro de 2016.

ARQUITETURA EM PALMAS – TO:


Considerações sobre uma modernidade extemporânea

CARDOSO, MARIANNA G. P.; REIS, PATRICIA O. B. (2)

1. Universidade Federal do Tocantins. Curso de Arquitetura e Urbanismo.


Avenida NS 15, 109 Norte, Campus UFT Palmas, Coordenação de Arquitetura e
Urbanismo, Bloco Bala 2, Plano Diretor Norte, CEP 77001-090, Palmas - TO.
mariannagpc@uft.edu.br
2. Universidade Federal do Tocantins. Curso de Arquitetura e Urbanismo.
Quadra 508 Norte, QI 13, Alameda 11 HM 02, Lote 02 - A Residencial Trianon Bloco A,
Apto. 403. Plano Diretor Norte. CEP. 77006-652. Palmas - TO.
patriciaorfila@uft.edu.br

RESUMO

Após quase três décadas da sua fundação, a cidade de Palmas apresenta um conjunto de
edifícios considerável e já se percebe a formação de um repertório arquitetônico local. Dentro
desse contexto este artigo pretende analisar o conjunto de edifícios que simbolizam a produção
arquitetônica da cidade, centrando-se especificamente nos edifícios institucionais construídos
ao longo da década de 1990. Adotando a monumentalidade modernista, os prédios das
instituições públicas se consolidam como o conjunto de referência regional, sinalizando os
ensejos de uma identidade edilícia palmense e indícios de valor patrimonial. Seus diferentes
usos e tipologias, também revelam uma diversidade, tanto formal quanto construtiva. Assim,
dentro da variedade edificada pretende-se discutir o patrimônio arquitetônico palmense
estabelecendo relações entre modernidade, contemporaneidade, identidade, na tentativa de
responder as seguintes questões: a arquitetura em Palmas enquadra-se em um cenário de
modernidade tardia ou já superada? Poderá essa arquitetura consolidar-se como patrimônio
arquitetônico brasileiro?

Palavras-chave: Arquitetura; Palmas; Patrimônio


I SAMA – Seminário de arquitetura moderna na Amazônia
17,18 e 19 de fevereiro de 2016.
I SAMA – Seminário de arquitetura moderna na Amazônia
17,18 e 19 de fevereiro de 2016.

Introdução

A história da arquitetura de Palmas ainda não foi escrita, não obstante dos
estudos que tiveram como objetivo construir a memória do planejamento da cidade1.
Os trabalhos que se dedicam a seus edifícios ainda são poucos e não aprofundam a
temática, caracterizando-se como simplórias catalogações de exemplares avulsos.
Essa fragilidade é descrita por Souza ao afirmar que “se São Paulo teve Vilanova
Artigas e Rino Levi, e tem Paulo Mendes da Rocha, o Rio de Janeiro teve Lucio Costa,
Eduardo Reidy e os irmãos Roberto, Brasília tem Oscar Niemeyer e Lelé, e Manaus
tem Severiano Porto, em Palmas não se nota a influência de lideranças fortes, que
pudessem apontar um caminho” (SOUZA, 2007). Outrossim, no aspecto do
planejamento urbano de Palmas Segre nos indica: “Se em Brasília há invenção, como
afirmou muito entusiasmado Le Corbusier, em sua última viagem ao Brasil em 1962,
em Palmas não houve inovação alguma do ponto de vista do urbanismo” (SEGRE,
2004).

Nesse sentido, o presente artigo se propõe a explorar a história arquitetônica


por meio dos edifícios que representam a arquitetura local e que se estabelecem como
importante conjunto patrimonial da região norte do país.

É preciso, no entanto, ressaltar que o desenvolvimento da arquitetura


palmense está atrelado ao processo de implantação do plano urbanístico. Dessa
forma, seguindo o mesmo processo de construção das cidades inteiramente
planejadas, como Chandigarh e Brasília, a história da arquitetura em Palmas
acompanha o desenvolvimento da cidade e a sua forma urbana pode ser encarada,
também, como uma arquitetura.

A malha da cidade é marcada por quadras regulares de aproximadamente


600m x 700m, separadas por grandes avenidas que interceptam o plano de norte a sul
e de leste a oeste, imprimindo à paisagem urbana um aspecto de espalhamento.
“Dispersos na paisagem e construídos paulatinamente, os edifícios projetados para as
principais instituições públicas foram imprimindo à cidade aspecto arquitetônico-

1
Os livros: “A segregação planejada: Goiânia, Brasília e Palmas” (MORAIS, Maria, 2006) e “Palmas - um
projeto e múltiplos olhares” (REIS, Patricia, 2015, Org.); as teses: “Paisagem e Urbanidade, os limites do
projeto urbano na conformação de lugares em Palmas” (COCOZZA, Glauco, 2007), “Girassóis de Pedra –
Imagens e metáforas de uma cidade em busca do tempo” (SILVA, Valéria, 2008); “A concepção de
Palmas (1989) e sua condição moderna” (VELASQUES, 2010); dissertações e artigos científicos:
“Palmas, cidade nova ou apenas uma nova cidade?” (SEGAWA, Hugo, 1991), “A gênese de Palmas”
(LIRA, Elizeu, 1995), “O desenho urbano de Palmas” (TRINDADE, Dirceu, 1999), retratam as questões
urbanísticas de Palmas, .
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urbano semelhante ao de Brasília” (CARVALHO, G.O. M.; MATOS, M. C. REIS, P. O.


B, 2014).

A percepção dialética entre a “arquitetura” e “urbanismo” é necessária na


leitura e escrita da história da arquitetura palmense, todavia, o foco deste estudo é no
patrimônio edificado.

O recorte analisado centra-se no conjunto arquitetônico da Praça dos Girassóis


e entorno imediato, com o critério temporal de análise dos edifícios institucionais da
primeira década após a fundação da cidade. Observa-se que, mesmo tendo sido
projetados no fim do século XX, os edifícios possuem um forte diálogo com o
modernismo. No caso particular do conjunto da Praça dos Girassóis, os edifícios
guardam forte identidade entre si, tanto pelo partido arquitetônico, quanto pelos
materiais e técnicas construtivas. Os demais edifícios, apesar de apresentarem uma
linguagem arquitetônica diversificada, apresentam resquícios da influência do
movimento moderno brasileiro, como será evidenciado posteriormente.

Dessa forma apresenta-se um mapeamento arquitetônico de doze edifícios


institucionais, que estão divididos em dois grupos: os edifícios do conjunto da Praça
dos Girassóis (Palácio Araguaia, Tribunal de Justiça, Assembleia Legislativa,
Secretarias do Estado e Memorial Coluna Prestes) e os edifícios do entorno imediato
ao centro cívico (Tribunal de Contas do Estado (2), Tribunal Regional Eleitoral (3),
Delegacia da Receita Federal (4), Centro de Ensino Médio (5), Palacinho (6), Espaço
Cultural (7) e Prefeitura Municipal).2

Após a apresentação desse panorama edificado, inserem-se algumas


considerações acerca da arquitetura palmense e suas associações ao movimento
moderno brasileiro, salientando-se os temas referentes a uma modernidade
extemporânea, tardia, destacando o caráter de monumentalidade, identidade entre o
conjunto arquitetônico estudado e possibilidades de um regionalismo por meio da
análise dessa arquitetura. Por fim, à guisa de conclusão fazem-se questionamentos
sobre o patrimônio moderno e como a arquitetura palmense se insere neste contexto.

1. A gênese de uma arquitetura palmense

2
As pesquisas acerca da Arquitetura Tocantinense vêm sendo desenvolvidas no Grupo de Pesquisa em
Arquitetura Contemporânea (GPAC), que abarca o acervo de imagens e entrevistas apresentadas neste
artigo.
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Mesmo em um quadro temporal recente é possível evocar uma história


arquitetônica local e perceber a consolidação de um conjunto de edifícios que
apresentam uma certa historicidade e que representam a constituição de uma
arquitetura singular, sobretudo os edifícios institucionais da primeira década da
construção da cidade (1990).

Dentro desse conjunto arquitetônico precursor é possível identificar duas


categorias distintas, os edifícios implantados na praça cívica da cidade e os prédios
que são adjacentes a ela, dispostos em diferentes pontos da malha urbana, como
pode-se ver na figura 1.

Figura 1- Mapa de localização dos edifícios.

Autor: Paulo DN, 2016.


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1.1 O conjunto arquitetônico da Praça dos Girassóis

Na Praça dos Girassóis (1) - marco inicial da nova capital do Tocantins e centro
administrativo do Estado - estão localizados os edifícios dos poderes representativos,
corresponde ao centro cívico da cidade.

A praça tornou-se uma referência simbólica, pela localização privilegiada


dentro do traçado urbano e pela disposição e monumentalidade dos prédios públicos
que a compõem. Sua localização corresponde ao cruzamento das duas avenidas mais
importantes da cidade, a Av. Theotônio Segurado e a Av. Juscelino Kubitschek. Fazem
parte dela o Palácio Araguaia (sede do poder executivo), a Assembleia Legislativa
(Palácio João D´Abreu), o Palácio da Justiça (Palácio Feliciano Machado Braga), o
Memorial Coluna Prestes e as Secretarias do Estado. É considerada uma das maiores
praças3 da América Latina, com extensão de aproximadamente 570 mil metros
quadrados.

Cada inserção simbólica neste espaço tem uma lógica moldada, embora não
seja autoexplicativa, inclusive a desmesurada extensão da praça, que não se justifica
pelo que nela existe, a paisagem cotidiana, que é resultado da grandiosidade do
espaço, vendo bem, transbordamento de monotonia, dir-se-ia. A figura 2 destaca os
principais prédios e elementos simbólicos da praça.

3
Além de prédios institucionais abriga também os seguintes monumentos: o Relógio do Sol (com seis
metros de altura), o Cruzeiro (símbolo religioso), Monumento aos Pioneiros, Monumento à Biblia, Praça
Krahô (homenagem aos grupos indígenas do Tocantins) e o Monumento aos 18 do Forte de Copacabana.
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Figura 2 - Praça dos Girassóis (imagem manipulada por REIS, 2011).

Fonte: Google Earth (2009).

A monumentalidade que a praça e seus edifícios exercem na cidade é o traço


mais marcante dessa arquitetura urbana, que representa ao mesmo tempo distinção e
grandeza. Os edifícios oficiais estão isolados e impõem-se no contexto urbanístico,
inclusive topográfico, eles não poderiam passar despercebidos ou perderiam o sentido
da sua existência, o de propagandear ou materializar as realizações do político
responsável, pela localização e edificação privilegiada.

1.1.1 O Palácio Araguaia e suas sucessivas descaracterizações

O Palácio Araguaia na figura 3, por exigência do governador, foi localizado em


ponto estratégico do relevo. De acordo com os técnicos responsáveis pelo projeto, a
frase proferida pelo governador Campos foi a seguinte: “Eu quero o palácio lá no topo
daquele morro”.4 A escolha confluiu à parte mais elevada da área escolhida, isso

REIS, P. Modernidades Tardias no Cerrado: Discursos e Práticas na História de Palmas – TO


4

(1990-2010). Tese de Doutorado. Rio de Janeiro: UFRJ, 2011.


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mudou um pouco a localização do eixo e o desenho da praça central. Foi um


redesenho em função da resolução pessoal do governador de colocar o palácio nesse
ponto mais alto que poderia ser visto de todos os lados.

O prédio depois de inaugurado passou por várias intervenções tanto na sua


fachada quanto em seu entorno, por exemplo: foram adicionados dois pórticos de
cinco metros de altura por trinta metros de largura, que seriam as entradas para
estacionamentos privativos, nos sentidos leste-oeste. Houve também a eliminação de
uma praça original elíptica, a adição e depois a retirada de um monumento à Lua,
além de acréscimo de elementos na cobertura do edifício e a aplicação de painéis nas
vigas do seu coroamento.

Alguns artistas foram solicitados pelo gestor e suas obras fortaleceram os


interesses e os valores da elite política que ora se constituía em Palmas. Logo nos
primeiros anos da cidade, a arte foi voltada à produção de obras vinculadas à
elaboração de emblemáticos trabalhos dessa natureza e o Palácio Araguaia é um bom
exemplo dessa prática, pois foi objeto de sucessivas descaracterizações ao longo dos
últimos anos e nenhuma delas autorizadas pelos autores do projeto original.

Maurício Bentes, artista carioca, veio ao Tocantins em 2001, a convite do


governador. O objetivo da viagem foi realizar um estudo sobre uma obra que
posteriormente foi intitulada de “frontispício”. Tratava-se de um globo dourado com
raios, que representavam o “sol alado”, elementos simbólicos e com conotações
exotéricas destoante da proposta do projeto.

Nos dias 15 e 21 de outubro de 2006 os globos foram retirados com maçarico


por solicitação do governador em exercício e guardados, com a alegação emitida em
nota oficial da Secretaria de Comunicação do Estado, que citava levantamento
realizado pela Fundação Cultural, de que a instalação dos acessórios não obedeceu a
todos os trâmites técnicos-legais, relativos à Lei de Direitos Autorais, uma vez que não
consta no projeto arquitetônico original.

Em 23 de setembro de 2011 um novo elemento foi inserido à fachada do


Palácio, desta vez uma reprodução gigantesca do Brasão do Estado do Tocantins, no
mesmo lugar de onde foram retirados os globos. A nota de serviços descrevia
trabalhos de “restauração das frisas e confecção de obras de arte para o Palácio
Araguaia.”
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Figura 3 – Palácio Araguaia com o Brasão do Tocantins, elemento inserido em 2011 e não
fazia parte do projeto original. Em destaque, também, o alto-relevo na viga de coroamento,
obra do artista Maurício Bentes. Foto: Acervo GPAC (2016)

Conforme o exposto, constata-se visível descaracterização do Palácio


Araguaia, com a inserção, retirada e reinserção de elementos que não faziam parte do
projeto original dos arquitetos Ernani Vilela e Maria Luci da Costa.

O gestor encomendou novas obras a Maurício Bentes, que criou painéis


(denominados “Frisas” pela Secretaria de Cultura do Estado) de imagens que
relatavam a história oficial do Tocantins. Os painéis foram fixados em volta do Palácio,
no coroamento do prédio e, também, não faziam parte do projeto inicial do edifício.

Os painéis de Bentes em alto-relevo, denominados de “frisas” no projeto que


originou a sua criação, são sucessivas imagens monocromáticas a céu aberto, feitos
em fibras de vidro e gravadas nas vigas de concreto do Palácio. São painéis que
contam a História Oficial do Tocantins.

Bentes mudou-se para Palmas e executou outras obras na Praça, são elas: o
Monumento aos 18 do Forte de Copacabana, a escultura de Luiz Carlos Prestes sob
uma coluna, no Memorial Coluna Prestes (projeto de Oscar Niemeyer) e o Monumento
aos Pioneiros. O artista deixou inclusive projetos inconclusos, amplamente divulgados
nos jornais da cidade no período de idealização e concretização.
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1.1.2 A complementação dos três poderes: o Tribunal de Justiça e a


Assembleia Legislativa

Os prédios da Assembleia Legislativa (figura 4) e do Tribunal de Justiça (figura


5) são projetos de Manoel Balbino de Carvalho Neto e de Luiz Fernando Cruvinel
Teixeira respectivamente, ambos construídos em 1990.

Figura 4 - Palácio João D´Abreu, Palmas, Tocantins (Sede do Legislativo).

Foto: Acervo GPAC (2016)

Figura 5 - Palácio Feliciano Machado Braga (Sede do Judiciário)

Foto: Acervo GPAC (2016).


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Os prédios possuem a forma de prismas regulares, tem um caráter horizontal


na paisagem da praça, ou seja, uma característica que confere peso e sensação de
estabilidade estrutural, além do que a identidade arquitetônica se completa pela
utilização de tijolo aparente e concreto em quase todas as fachadas

A presença de elementos como brises, pergolados, jardins internos e


superfícies espelhadas demonstram o mínimo de preocupação com as condições
climáticas do lugar, embora internamente sejam utilizados sistemas de
acondicionamento artificial. Para o arquiteto Edson Eloy Souza (2007), por exemplo, o
prédio da Assembleia Legislativa:

“Como os demais edifícios da praça, o partido utilizado para sua


solução volumétrica leva em conta a criação de um sombreamento
com expressivos quebra-sóis verticais, complementados por pérgulas
e abas destinados a amenizar os rigores do clima diretamente sobre
as áreas de trabalho e circulação. Dois generosos pátios internos
pergolados fazem a transição do exterior para o interior. Três
pavimentos administrativos superiores em plantas que formam um H
com os vazios dos pátios e um subsolo destinado ao plenário
resolvem o programa arquitetônico.” (SOUZA, 2007).

A escala monumental é a característica mais notável da linguagem


arquitetônica da Praça dos Girassóis, os prédios possuem um caráter palaciano que
lembram a disposição e a grandeza do eixo monumental do Plano Piloto de Brasília.

1.1.3 As secretarias: os ministérios do Estado

Projeto de Ernani Vilela e Maria Luci, de 1990 os prédios das secretarias do


Estado (figura 6) possuem plantas semelhantes, similares a “contrafortes com floreiras
em tijolos à vista”.5

5
VILELA, Ernani. Arquiteto e urbanista de prédios institucionais da Praça dos Girassóis. Correspondência
eletrônica enviada à autora da tese durante o ano de 2008.
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Figura 6 - Secretarias de Estado – Projeto dos arquitetos Ernani Vilela, Maria Luci da Costa e
Luiz Fernando Cruvinel Teixeira. Fonte: Acervo GPAC, 2016.

Partindo de uma planta retangular simples, estes edifícios foram reproduzidos


12 vezes nos três quadrantes da praça, ficando somente o quadrante sudeste
incompleto e remetem em menor escala os ministérios da capital federal. Com apenas
dois pavimentos, cada edificação é pousada em um talude revestido de material
cerâmico, que eleva o conjunto e fecha cada edifício em si, delimitando assim as
fronteiras com o espaço exterior.

Adotando os mesmos materiais de revestimento dos edifícios dos três poderes,


os edifícios das secretarias reforçam a ideia de conjunto da praça e se inserem na
lógica da identidade desejada pelos arquitetos.

1.1.4 A intervenção posterior: o Memorial Coluna Prestes

Em 2001 foi construído na Praça dos Girassóis o Memorial Coluna Prestes


(figura 7), um projeto desenvolvido ainda na década de 90 por Oscar Niemeyer para a
Barra da Tijuca, mas que não foi executado. Um encadeamento de questões políticas
levaram o projeto a ser construído no Tocantins.6

6
FILHO, Luís Carlos Prestes. Depoimento concedido a Patrícia Orfila Barros dos Reis. Palmas: 03 de
dezembro de 2009.
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O prédio abriga um acervo de aproximadamente trezentas peças que


pertenceram a Luiz Carlos Prestes e aos membros da Coluna, fotografias, filmes,
livros, armas, móveis, documentos diversos, dois diários particulares com
reconstituição do movimento tenentista à Revolução de 1930.

Figura 7 – Memorial Coluna Prestes, Projeto de Oscar Niemeyer

Fonte: Acervo GPAC, 2016.

Com uma volumetria simples bem característica das obras de Niemeyer, um


cilindro monocromático branco pousado no solo, contornado por uma rampa vermelha,
o pequeno edifício de 570 metros quadrados possui apenas um pavimento e um
subsolo. A rampa curva externa ao edifício possibilita tanto o acesso ao interior do
mesmo como a estátua de Luís Carlos Prestes, sobre uma coluna inserida em um
diminuto espelho d’água.

No pavimento térreo encontra-se a única sala de exposição e no subsolo existe


um miniauditório e toda a estrutura técnica (palco, plateia, camarim, cabine de
projeção e sanitários).

Apesar de ser a única obra de um arquiteto renomado pela crítica nacional e


internacional, o edifício não possui qualquer relação com o conjunto edificado da praça
e por esse motivo é alvo de constantes questionamentos sobre sua inserção no local.
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1.2 O conjunto arquitetônico do entorno

1.2.1. O Palacinho

Construído em 1989, o Palacinho (figura 8) foi uma das primeiras edificações


da cidade, servindo como sede provisória do Poder Executivo de 1 de janeiro de 1990
a 9 de março de 1991. Em madeira e com uma planta baixa ortogonal, o edifício de
dois pavimentos abriga hoje um museu. Não foram encontrados documentos que
comprovem a autoria deste projeto, mas em entrevista com o arquiteto Ernani Vilela
em 2008, o mesmo afirmou ser o autor da obra.

Figura 8 – Palacinho, Projeto do Arquiteto Ernani Vilela. Foto: GPAC, 2016

O edifício da Prefeitura Municipal (figura 9), localizado em área institucional nas


margens da avenida Teotônio Segurado, na quadra 502 sul, em espaço planejado
para ser o Paço Municipal da cidade - projetado em 1989 também pelo
GRUPOQUATRO.
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Figura 9 – Prefeitura de Palmas, Projeto GRUPOQUATRO, 1990


Foto: GPAC, 2016.

Uma vez que a praça central da cidade abrigaria a sede do poder estadual, foi
implantada mais ao sul uma praça para servir a estrutura municipal. O projeto do Paço
não foi concluído, apenas o edifico destinado à prefeitura, que se impõe no centro da
praça.

1.2.2. A Escola de Ensino Médio

A Escola de Ensino Médio (1993) foi idealizada para ser uma arquitetura
protagonista, que acompanhasse as intenções metodológicas de melhoria dos
espaços de ensino profissionalizante no Tocantins, figura 10.
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Figura 10 – Escola de Ensino Médio,


Projeto de Edison Eloy de Souza e Pedro Lopes Jr, 1993
Fonte: Arquivo pessoal de Pedro Lopes Jr, 2016.

Os arquitetos Edison Eloy de Souza e Pedro Lopes Jr pesquisaram a melhor


maneira de dispor espaços de laboratórios de biologia, gabinete odontológico,
informática, biblioteca, refeitório, áreas de convívio, esporte, praça central para a
realização de encontros, dentre outros e perceberam que não iriam conseguir colocar
todas essas funções num único volume, de modo que distribuíram o partido em cinco
blocos, nos quais enfatizaram os aspectos de convivência, bem como de conforto
ambiental, privilegiando a ventilação natural, garantindo ao prédio “respiração natural”,
nas palavras do arquiteto Pedro Lopes, que enfatiza, também, que os arquitetos
decidiram não esconder os telhados, respeitando o clima e adaptando a arquitetura à
região norte.

1.2.3. Espaço Cultural

Construído em 1996, de autoria de Paulo Henrique Paranhos, o Espaço


Cultural (figura 11) é um complexo arquitetônico formado por vários edifícios, são eles:
salas, auditórios, teatro, camarins, sanitários, lanchonete, biblioteca, cinema e uma
grande praça coberta por treliças metálicas espaciais, característica estrutural
marcante deste edifício.
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Figura 11 – Espaço Cultural José Gomes Sobrinho, Arquiteto Paulo Henrique Paranhos, 1996.
Foto: GPAC, 2016.

O Espaço Cultural é um projeto premiado nacional e internacionalmente, e,


segundo o arquiteto Paulo Henrique Paranhos:

“Ele surge da intenção de preservar a paisagem circundante


enriquecendo a mancha verde no traçado da capital, preservar as
perspectivas da serra para quem transita na Av Teotônio assim como
manter continuidade da paisagem do grande parque em sua
vizinhança, fez com que fosse criado um edifício que, de forma sutil,
se inteirasse com a topografia natural.” 7

O teatro, denominado Fernanda Montenegro, tem capacidade para acomodar


500 pessoas e o cinema 209. A grande área coberta pode abrigar aproximadamente 5
mil pessoas e é utilizada para a realização de shows e grandes eventos.

1.2.4. O prédio da Delegacia da Receita Federal e do projeto do Tribunal


Regional Eleitoral

O projeto do arquiteto Sergio Teperman, o prédio da Delegacia da Receita


Federal (1998), conta com expressivos vãos internos que permitem setorização dos
espaços com o uso de divisórias. Neste edifício destacam-se os elementos vazados

7
Depoimento cedido aos estudantes Carolina Vasconcelos, Jéssica Cabral, Ricardo Freitas e Vitor
Colliccio em 2014, para a exposição intitulada Arquitetura Contemporânea em Palmas – TO.
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em cerâmica para a proteção climática que envolvem os dois blocos de três


pavimentos, a proteção está colocada a uma curta distância das paredes, garantindo
sombreamento e ventilação.

Projeto do escritório GRUPOQUATRO, o Tribunal de Contas do Estado (1999)


tem 7.892 m² de área construída, possui quatro pavimentos-tipo, com subsolo. O
prédio acompanha a identidade visual de conjunto da Praça dos Girassóis, o jogo de
blocos volumétricos, o uso de elementos vazados de cerâmica aparente e a intenção
de proteger fachadas contra os rigores climáticos são características que se repetem
na maioria dos exemplares estudados, confirmando a adaptação da arquitetura às
exigências regionais.

No projeto do Tribunal Regional Eleitoral (1996 - 1997), figura 12 os arquitetos


Edison Eloy de Souza e Pedro Lopes Junior tinham com premissa tentar controlar a
luminosidade e o conforto interno dos ambientes, tendo em vista que o prédio ficaria
totalmente exposto a uma insolação desfavorável para a implantação. Fizeram
estudos de funcionalidade do edifício, com subsolo, estacionamento, auditório,
refeitório e estudaram um brise externo colocado sobre as aberturas do edifício.
Segundo o arquiteto Edison Eloy de Souza (2007):

“O projeto traz estrutura de concreto independente das vedações,


modulado em duplo balanço, instalações prediais com "shafts"
visitáveis em todos os pavimentos e sistema de ar-condicionado
central. O destaque visual e estrutural fica com a marquise de
entrada, com pilares em forma de V que nascem do subsolo da
garagem”.
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Figura 12 – Tribunal Regional Eleitoral, Arquitetos Edison Eloy de Souza e Pedro Lopes Jr,
2003. Foto: GPAC, 2016.

Ao longo da sua execução, esta obra sofreu inúmeras modificações indevidas,


como por exemplo: na cobertura estava prevista área de restaurante e café com
pergolado e concreto aparente, com vistas para o lago de Palmas, que não foi
executada.

2. A herança modernista

Em visão panorâmica, o modernismo pode ser caracterizado pela ruptura com


a tradição, pelo uso de novos materiais e pela precisão funcional, racionalismo e
expressividade. Para Montaner (2012)

“A arquitetura moderna desenvolveu-se em dois períodos


marcadamente distintos: o entreguerras, período de experimentos de
vanguarda, de textos programáticos e de obras-manifesto, mas de
produção limitada, condicionada a partir de 1929 pela crise
econômica; e o pós-guerra, de 1945 a 1965, em que a arquitetura não
só se expandiu e se realizou de maneira mais produtivista e massiva,
como também se transformou a fim de se adaptar à cultura de cada
lugar.” (MONTANER,2012, p.137)

Entendemos o caso da arquitetura de Palmas como uma modernidade que se


expressa fora de seu tempo, tardia, extemporânea. Palmas surge quando “a
modernidade já é considerada patrimônio” (MONTANER, p.152). Uma modernidade à
margem – fora dos centros hegemônicos internos e externos, uma modernidade tardia
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no sentido de recepção tardia dos princípios modernos, atrelados ao plano urbanístico,


a arquitetura institucional e os monumentos da capital tocantinense.

Pontuamos também que o planejamento da capital do novo estado, bem como


a a produção arquitetônica dos primeiros prédios foram marcados por um processo de
subserviência técnica e autoritarismo do gestor, sobretudo na escolha da localização
de prédios institucionais significativos, intervenções em detalhes construtivos e
decorativos.

Em entrevista com arquiteto Pedro Lopes, coautor do Tribunal Regional


Eleitoral e da Escola de Ensino Médio, destacamos trechos que reforçam a percepção
de unidade do conjunto arquitetônico da praça.

“Basta você observar a tipologia dos edifícios, seus materiais, cores,


linhas, formas, então existe sim esse formalismo, foi intencional
inclusive o desenho disso, para que tivesse uma família de edifícios
8
que caracterizasse a cidade administrativa.”

Os princípios que definem as características desse conjunto remetem à


formação acadêmica dos arquitetos, como é o caso do projeto do Palácio Araguaia, de
Ernani Vilela e Maria Luci da Costa. Ernani vivenciou em sua escola de formação
(Universidade de Brasília) o auge do movimento moderno brasileiro, cujos cânones
estão expressos na arquitetura racionalista e monumental da própria Capital Federal.
A influência que esta geração de arquitetos brasileiros teve é notória nas
características de suas obras.

3. Palmas e seu patrimônio arquitetônico

A inscrição de Brasília na lista do patrimônio mundial da Unesco em 1987 abriu


a questão da preservação do patrimônio moderno no Brasil. As ações de tombamento
das obras-símbolo do Movimento Moderno se multiplicaram nos últimos anos, em
parte impulsionadas pela atuação dos órgãos de preservação como
UNESCO/ICOMOS internacionalmente, IPHAN e alguns ligados às instâncias
estaduais e municipais no cenário nacional. Soma a esta parcela institucional o
trabalho desempenhado pelo DOCOMOMO e pelas pesquisas acadêmicas na
temática.

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LOPES, Pedro. Depoimento concedido a Patrícia Orfila Barros dos Reis. Palmas: 10 de junho de
2009.
I SAMA – Seminário de arquitetura moderna na Amazônia
17,18 e 19 de fevereiro de 2016.

Contudo, embora seja possível verificar avanços no desenvolvimento de


políticas de proteção deste patrimônio recente em todo o mundo, o resguardo das
obras arquitetônicas do modernismo revela-se mais laborioso quando comparado às
obras de outros períodos. Mesmo após a ampliação do conceito de patrimônio, a qual
muito se transformou desde o Der Moderne Denkmalkultus, de Alois Riegl do início do
século XX, saindo da noção de monumento e partindo para um aporte culturalista, a
característica presente do repertório moderno provoca entraves nos processos de
proteção. No caso da modernidade tardia de Palmas a discussão sobre a defesa de
um possível patrimônio é praticamente ausente.

A única obra salvaguardada pelo Estado é o Palacinho, e pode-se afirmar que


esta proteção se deve muito mais a uma atribuição histórica, por ter sido a primeira
edificação institucional, do que por razões ligadas a valores arquitetônicos da
edificação. No contexto nacional, a atenção ao patrimônio tocantinense tem-se se
restringido a conjuntos coloniais, de Natividade e Porto Nacional, e ao patrimônio
natural arqueológico do Estado.

Nesse sentido como atribuir um valor de patrimônio ao conjunto arquitetônico


em Palmas? O conjunto edificado palmense pode ser considerado patrimônio
arquitetônico brasileiro? Se há de fato uma inclinação à proteção, quais seriam as
obras e como seria a política de preservação empregada?

De fato, consideramos que as obras apresentadas possuem um valor para a


história da cidade e constituem-se como algo particular na história da arquitetura
brasileira. Todavia, dado o estágio inicial da pesquisa desenvolvida pelo Grupo de
Pesquisa em Arquitetura Contemporânea (e falta de consolidação de pesquisas
anteriores sobre o tema) ainda não conseguimos mensurar as dimensões desta
atribuição patrimonial.

Dentro deste contexto o GPAC tem desde 2015 se engajado em inventariar as


obras arquitetônicas da cidade, e para o biênio de 2016-2017 o inventário será
ampliado. O documento é um primeiro passo para um futuro estudo de proteção e
tombamento, e constitui-se como uma importante ação neste quesito. Ressalta-se que
são muitas as questões e é preciso um esforço conjunto dos órgãos da gestão e dos
pesquisadores para a formulação de respostas mais concretas.

Enquanto não há um debate preciso, as edificações a cada ano sofrem


modificações a critérios dos gestores e mudanças significativas alteram as
características originais dessas obras. Assim, mesmo que em estágio inicial, a
pesquisa do GPAC visa atuar também na tentativa de evitar reformas abusivas,
I SAMA – Seminário de arquitetura moderna na Amazônia
17,18 e 19 de fevereiro de 2016.

abandono e até mesmo demolição dos prédios que expressam a cultura, a história e,
por que não, a identidade da cidade.

Por fim, sublinha-se a necessidade de se deslocar o eixo de atenção da história


da arquitetura no Brasil, englobando as produções da região amazônica, e sobrelevar
o fato de que a região norte, em específico Palmas, possui um conjunto edificado
moderno a ser descoberto e valorizado nacionalmente.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

CARVALHO, G.O. M.; MATOS, M. C. REIS, P. O. B. Apontamentos urbano-


arquitetônicos sobre um quatro de século de Palmas (Tocantins – Brasil): Plano,
processo de consolidação e aspectos contemporâneos da cidade. Arquiteturas do
Mar, dar Terra e do Ar. Lisboa: Editora da Academia de Escolas de Arquitetura e
Urbanismo de Língua Portuguesa, 2014.

FILHO, Luiz Carlos Prestes. Depoimento concedido a Patrícia Orfila Barros dos
Reis. Palmas: 03 de dezembro de 2009.

LOPES, Pedro. Depoimento concedido a Patrícia Orfila Barros dos Reis. Palmas:
10 de junho de 2009.

MONTANER, Josep M.; A modernidade superada: ensaios sobre arquitetura


contemporânea. Editora G. Gili, São Paulo, 2012.

SEGRE, Roberto. Arquitetura Brasileira Contemporânea. Rio de Janeiro: Viana &


Mosley, 2004, p. 19.

SOUZA, Edson Eloy. Planejar no Cerrado. Revista Arquitetura & Urbanismo. Coluna
Intersecção. Edição 159 - junho 2007.

REIS, P. Modernidades Tardias no Cerrado: Discursos e Práticas na História de


Palmas – TO (1990-2010). Tese de Doutorado. Rio de Janeiro: UFRJ, 2011.

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