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RESUMO
O presente artigo pretende apresentar informações referentes à produção da arquitetura moderna na
cidade de Campina Grande, tratando especificamente, sobre uma obra precursora e suas
contribuições para a arquitetura regional, classificada como proto moderna, ou Art Déco, que faz
parte do acervo que vem sendo pesquisadas pelo Grupo Arquitetura e Lugar, cadastrado no CNPq. O
artigo possui como objetivo, avançar além da necessária constatação documental e descritiva da obra
em si, realizando simultaneamente, reflexões históricas e arquitetônicas, bem como, considerações
teóricas. Justifica-se por seu ineditismo em resgatar a produção arquitetônica proto moderna da
cidade de Campina Grande, contribuindo com a inserção da mesma no cenário nacional, difundindo o
valor dessa produção. A pesquisa que embasa este artigo adota como metodologia, uma linha
voltada para a pesquisa histórica, trabalhando com as ferramentas da história oral (PORTELLI, 2009),
a fim de colher depoimentos de personagens que viveram e vivenciaram fatos no local, ou mesmo,
relacionados com as variantes da pesquisa. Como também, está embasada na pesquisa
arquitetônica e urbanística proposta por SERRA (2006), GASTÓN e ROVIRA (2007). Apoia-se ainda
em estudos de textos de pesquisadores que vêm investigando a produção do cenário local. Espera-
se com este encontro, a interação e a discussão com a comunidade profissional e acadêmica
interessada na preservação do patrimônio moderno, na história da arquitetura e do urbanismo, assim
como a inserção deste importante acervo no rol dos bens culturais e arquitetônicos.
A linguagem Déco foi uma tendência francesa que surgiu devido a um movimento
internacional de design, destacando-se no período de 1925 a 1939, se estendendo pelas
artes decorativas, arquitetura, design de interiores e desenho industrial, assim como nas
artes visuais, na moda, na pintura, nas artes gráficas e cinema. Pode-se afirmar que, de
certa maneira, misturou diversos estilos e movimentos, tais como, o construtivismo, o
cubismo, Bauhaus, Art Nouveau, o modernismo e o futurismo.
O termo Art Déco só veio a ser de fato empregado em 1966, fazendo referência à Exposição
Internacional de Artes Decorativas e Industriais Modernas, que ocorreu em Paris, em 1925.
Em prédios altos foi comum uma composição de prismas retangulares de diferentes alturas,
gerando um escalonamento solidário, com ênfase na altura e busca de monumentalidade.
Este período é marcado pelo rigor geométrico e predominância de linhas verticais, havendo
a tendência de tornar, através da percepção, o edifício mais alto.
Destaca-se ainda o uso do concreto armado, das esculturas com forma de animais, o uso
dos tons de rosa e a geometrização das formas.
O Art Déco tornou-se uma linguagem acessível a todas as camadas sociais: às elites, às
classes médias e às classes populares- conquistou o gosto popular e disseminou-se em
grandes e pequenas residências e em prédios comerciais, popularizando-se em cidades
grandes e pequenas, convertendo-se em marco do cenário urbano brasileiro das décadas
de 1930 e 1940.
No Brasil, despertou o interesse das mais variadas camadas da população, não sendo aqui,
exclusividade de nenhuma delas em especial, mas há de se reconhecer uma produção
importante encontrada nas cidades de Goiânia, em Goiás, e de Campina Grande, na
Paraíba.
"O Art Déco foi o suporte formal para inúmeras tipologia arquitetônicas que
se afirmavam a partir dos anos de 1930. O cinema (e por associação,
alguns teatros), a grande novidade entre os espetáculos de massa que
mimetizava as fantasias da cultura moderna, desfilava sua tecnologia
sonora e visual em deslumbrantes salas do Rio de Janeiro, em São Paulo
e algumas outras capitais em verdadeiros monumentos Déco: algumas
sedes de emissoras de rádio forma construídas ao gosto, como a Rádio
Cultura de São Paulo, de Elisário Bahiana,ou a tardia(1948) sede da rádio
jornal do Comércio de Recife, do engenheiro Antonio Hugo Guimarães. A
maioria dessas construções forma demolidas."
Conforme colocou acima Segawa, edifícios com diferentes usos, tais como cinemas,
escolas, teatros, estádios de futebol, terminais de passageiros, residências, empregaram o
Art Déco, e exemplos dessas edificações podem ser encontradas em obras como o
Elevador Lacerda de Salvador, a Estação Ferroviária de Goiânia, a Biblioteca Municipal de
Campina Grande, o estádio de Futebol do Pacaembú e o Jockey Clube de São Paulo, entre
outros.
A ferrovia, atrelada à infra estrutura que compunha o ciclo do algodão, trouxe a implantação
de várias fábricas, escritórios, galpões de armazenamento, que configuraram uma nova
forma urbana para a cidade de Campina Grande.
Até 1931, a Paraíba liderava o ranking de produção algodoeira no Brasil, e Campina Grande
chegou a ser denominada como a “Liverpool do sertão”, exportando o produto para a
Europa e para vários outros continentes (Basílio, 2009). Nas décadas de 20 e 30, a cidade
atraiu empresas de outros lugares, como Pernambuco, e vários empresários investiram na
cidade, tais como os irmãos Marques de Almeida, o empresário José Tavares de Moura,
entre outros.
Está a uma altitude média de 555 metros acima do nível do mar. A área do
município abrange 594,2 km². Fazem parte do município de Campina Grande os seguintes
distritos: Catolé de Boa Vista, Catolé de Zé Ferreira, São José da Mata, Santa Terezinha e
Galante.
O estilo tornou-se símbolo da grande reforma urbana empreendida pelo prefeito Vergniaud
Wanderley na tentativa de modernizar a “Liverpool Brasileira”, segunda praça algodoeira do
mundo, especificamente em 1936, quando ele inicia o remodelamento do centro tradicional
através de várias leis de cunho sanitarista e urbanístico.
Dessa maneira, o acervo campinense de Art déco (figura 2) é um dos mais importantes no
cenário nacional, com bens possuidores de grande qualidade arquitetônica, e está
localizado e concentrado na área do centro histórico da cidade de Campina Grande.
O Decreto "criou a proteção para os conjuntos arquitetônicos das principais ruas do centro
campinense (figura 4), ratificando e consolidando a importância patrimonial
que lhes fora atribuída pelo programa Campina Déco" (QUEIROZ, 2010).
Figura 5. Exemplares Art Déco.Campina Grande. 1934,1936,1937/ Arq Lic. Isaac Soares.
O prefeito Vergniaud Wanderley buscava em sua gestão, construir obras arrojadas para a
época, com o intuito de deixar marcas de sua administração na cidade. Desta forma, houve
a substituição de muitos casarios antigos, perdendo-se assim, importantes monumentos
Localizado na esquina da Avenida Floriano Peixoto com a rua Maciel Pinheiro (figura 7), o
edifício da Prefeitura Municipal de Campina Grande (figura 8), em estilo Art Déco, compõe o
cenário campinense tão marcado por esta arquitetura, com grande número de exemplares
situados na última via citada.
A Prefeitura Municipal de Campina Grande (Figura 10) foi edificada com cimento e concreto
armado, com colunas evidentes dando suporte ao balcão. Pela ausência de informações,
nada sabe-se sobre a queda d`água do telhado que encontra-se encoberto.
As formas geométricas são evidenciadas por meio das linhas retas estilizadas, que seguem
o estilo da Art Déco com influência de Miami, com formas puras e pouca ornamentação,
havendo a racionalização do volume.
Os andares são dispostos de maneira escalonada, com acesso por uma escadaria em ‘U’
(figura 11). O centro da obra dispõe de um vácuo protegido por parapeito, que permite a
visualização dos demais pavimentos, como visto no ângulo demonstrado abaixo. A solução
da escada desperta interesse devido à sua forma e ao resultado plástico e construtivo
obtido, enriquecendo espacialmente o edifício, uma vez que criou transparências espaciais
ricas internamente, possibilitando o diálogo entre os ambientes.
As esquadrias originais em vidro com caxilhos de metal, são mantidas e dispostas em ritmo,
no qual proporciona o agrupamento. As mesmas, rasgam a fachada de maneira ininterrupta
quando posicionadas em esquinas, dando a ideia de continuidade e aprimoramento de
técnicas construtivas.
O edifício é constituído por 4 pavimentos- térreo e mais três, onde foi distribuído o programa
de necessidades da Sede municipal, e são dispostas salas e departamentos de diversos
setores públicos. A distribuição atual foi realizada da seguinte forma (figura 12):
Apenas, no pavimento térreo, o piso é original. Hexágonos são posicionados peça por peça,
formando a configuração de flores espaçadas. Vislumbra-se a delicadeza e sutileza do
trabalho minucioso, exemplo de uma ornamentação discreta símbolo do estilo arquitetônico.
Diferentemente deste, os demais andares são compostos por cerâmica.
4. Conclusão.
Observa-se com esse artigo que Campina Grande possui um grande acervo de edifícios e
residências proto modernas projetadas entre o recorte cronológico 1900 a 1950 e, algumas,
com um ótimo estado de conservação, como no estudo de caso abordado nesse artigo.
Além de possuir, ainda, interessados e estudiosos, que se preocupam com o patrimônio
histórico e material da cidade, como o projeto Campina Decó, citado no texto, que
determinou uma poligonal denominada de “Centro Antigo de Campina Grande” valorizando
assim, a importância de salvaguardar o patrimônio moderno campinense.
As instituições públicas criaram mecanismos legais para a preservação desse acervo, tais
como a Lei Municipal nº 3721/1999, e o Decreto Estadual nº 25.139/2004.
Faz-se necessário uma maior abordagem sobre a temática da falta de conscientização dos
órgãos competentes e da própria comunidade acerca da escassez de divulgação desse rico
e importante bens culturais e arquitetônicos, além da falta de estrutura nos Arquivos
Públicos, onde boa parte dos documentos da época são desconcentrados em um único
ambiente, dificultando o acesso aos registros originais, assim como a precariedade no
ambiente onde situa-se os mesmos.
Aos poucos, noticias lembram-nos tardiamente como tal edifício, que acaba de ser demolido
ou descaracterizado, foi importante para a construção da história da cidade.
Por fim, acredita-se que com este trabalho, haja uma maior interação e discussão com a
comunidade profissional e acadêmica interessada na preservação do patrimônio moderno,
na história da arquitetura e do urbanismo, assim como a inserção deste importante acervo
no rol dos bens culturais e arquitetônicos. Além de abordar sobre as possibilidades de
intervenções com parceiros reforçando a intenção de ações mais práticas.
Espera-se que as pesquisas que vêm sendo realizadas pelo Grupo Arquitetura e Lugar,
obtenham resultados, não somente como registro de edificações, mas como registro de
uma memória que não merece ser apagada.
4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação
Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro
Assim, antes de ser um registro histórico da Campina Grande de ontem, espera-se que
esse trabalho funcione como porta para a compreensão e a reflexão da cidade de hoje,
colaborando para a elaboração da cidade futura. É necessário refletir sobre seus próprios
feitos e buscar soluções adequadas aos seus problemas.
É bastante pertinente aqui, colocar as questões feitas por MONTANER e MUXI (2011,
p.168) sobre esse cenário contemporâneo da discussão da relação cidade/ história/
memória e patrimônio:
São inquietações atuais dessa natureza que poder-se-ão ser discutidas e refletidas por nós,
pesquisadores da área de arquitetura e documentação.
Referências Bibliográficas
QUEIROZ, Marcus Vinicius Dantas de. "Art Déco em Campina Grande (Pb):
Valorização, Patrimonialização E Esquecimento". in Revista UFG / Julho 2010 / Ano XII nº 8