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ORIGEM DA ARQUITETURA MODERNA EM CAMPINA GRANDE:

OBRAS PRECURSORAS E SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA A


ARQUITETURA REGIONAL. 1900-1950.

AFONSO, ALCILIA, (1); ARAÚJO, CINTHYA (2)

1. UFCG. CTRN. UAEC. Professora Doutora do Curso de Arquitetura e Urbanismo.


Coordenadora do Grupo de pesquisa Arquitetura e Lugar.
Rua Antonio de Sousa Lopes. 100. Apto 1302 A. Catolé. Campina Grande. Paraíba
E-mail: kakiafonso@hotmail.com

2. UFCG. CTRN. Aluna da graduação do Curso de Arquitetura e Urbanismo.


Pesquisadora PIBIC do Grupo de pesquisa Arquitetura e Lugar.
Avenida Elpídio de Almeida. 2081. Apto 102 A. Sandra Cavalcante. Campina Grande. Paraíba
E-mail: cinthya.sobreiraa@gmail.com

RESUMO
O presente artigo pretende apresentar informações referentes à produção da arquitetura moderna na
cidade de Campina Grande, tratando especificamente, sobre uma obra precursora e suas
contribuições para a arquitetura regional, classificada como proto moderna, ou Art Déco, que faz
parte do acervo que vem sendo pesquisadas pelo Grupo Arquitetura e Lugar, cadastrado no CNPq. O
artigo possui como objetivo, avançar além da necessária constatação documental e descritiva da obra
em si, realizando simultaneamente, reflexões históricas e arquitetônicas, bem como, considerações
teóricas. Justifica-se por seu ineditismo em resgatar a produção arquitetônica proto moderna da
cidade de Campina Grande, contribuindo com a inserção da mesma no cenário nacional, difundindo o
valor dessa produção. A pesquisa que embasa este artigo adota como metodologia, uma linha
voltada para a pesquisa histórica, trabalhando com as ferramentas da história oral (PORTELLI, 2009),
a fim de colher depoimentos de personagens que viveram e vivenciaram fatos no local, ou mesmo,
relacionados com as variantes da pesquisa. Como também, está embasada na pesquisa
arquitetônica e urbanística proposta por SERRA (2006), GASTÓN e ROVIRA (2007). Apoia-se ainda
em estudos de textos de pesquisadores que vêm investigando a produção do cenário local. Espera-
se com este encontro, a interação e a discussão com a comunidade profissional e acadêmica
interessada na preservação do patrimônio moderno, na história da arquitetura e do urbanismo, assim
como a inserção deste importante acervo no rol dos bens culturais e arquitetônicos.

Palavras chave: Arquitetura Moderna; Patrimônio Histórico; História da Arquitetura.

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1.Introdução. A protomodernidade.

A linguagem Déco foi uma tendência francesa que surgiu devido a um movimento
internacional de design, destacando-se no período de 1925 a 1939, se estendendo pelas
artes decorativas, arquitetura, design de interiores e desenho industrial, assim como nas
artes visuais, na moda, na pintura, nas artes gráficas e cinema. Pode-se afirmar que, de
certa maneira, misturou diversos estilos e movimentos, tais como, o construtivismo, o
cubismo, Bauhaus, Art Nouveau, o modernismo e o futurismo.

A arquitetura de tendências Art Déco adotou- em nome da economia e da modernidade- as


fachadas de linhas puras, libertando-se do excesso decorativo e exuberância do Art
Nouveau- e agora, superfícies planas expressam os materiais, eliminando-se os desenhos
simbólicos e fantasiosos.

O termo Art Déco só veio a ser de fato empregado em 1966, fazendo referência à Exposição
Internacional de Artes Decorativas e Industriais Modernas, que ocorreu em Paris, em 1925.

Características tais como, princípios de hierarquização, expressos em formas escalonadas


presentes nas platibandas e na ênfase ao acesso principal estão presentes nesta produção,
observado-se ainda que, a construção, muitas vezes, estrutura-se através de uma
composição volumétrica integrando formas geométricas – prismas retangulares, elementos
cilíndricos, volumes arredondados ou planos, verticais ou horizontais.

Em prédios altos foi comum uma composição de prismas retangulares de diferentes alturas,
gerando um escalonamento solidário, com ênfase na altura e busca de monumentalidade.
Este período é marcado pelo rigor geométrico e predominância de linhas verticais, havendo
a tendência de tornar, através da percepção, o edifício mais alto.

Destaca-se ainda o uso do concreto armado, das esculturas com forma de animais, o uso
dos tons de rosa e a geometrização das formas.

O Art Déco tornou-se uma linguagem acessível a todas as camadas sociais: às elites, às
classes médias e às classes populares- conquistou o gosto popular e disseminou-se em
grandes e pequenas residências e em prédios comerciais, popularizando-se em cidades
grandes e pequenas, convertendo-se em marco do cenário urbano brasileiro das décadas
de 1930 e 1940.

No Brasil, despertou o interesse das mais variadas camadas da população, não sendo aqui,
exclusividade de nenhuma delas em especial, mas há de se reconhecer uma produção
importante encontrada nas cidades de Goiânia, em Goiás, e de Campina Grande, na
Paraíba.

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SEGAWA (1997, p.61), escreveu sobre a importância do Art Déco no inicio do século XX:

"O Art Déco foi o suporte formal para inúmeras tipologia arquitetônicas que
se afirmavam a partir dos anos de 1930. O cinema (e por associação,
alguns teatros), a grande novidade entre os espetáculos de massa que
mimetizava as fantasias da cultura moderna, desfilava sua tecnologia
sonora e visual em deslumbrantes salas do Rio de Janeiro, em São Paulo
e algumas outras capitais em verdadeiros monumentos Déco: algumas
sedes de emissoras de rádio forma construídas ao gosto, como a Rádio
Cultura de São Paulo, de Elisário Bahiana,ou a tardia(1948) sede da rádio
jornal do Comércio de Recife, do engenheiro Antonio Hugo Guimarães. A
maioria dessas construções forma demolidas."

Conforme colocou acima Segawa, edifícios com diferentes usos, tais como cinemas,
escolas, teatros, estádios de futebol, terminais de passageiros, residências, empregaram o
Art Déco, e exemplos dessas edificações podem ser encontradas em obras como o
Elevador Lacerda de Salvador, a Estação Ferroviária de Goiânia, a Biblioteca Municipal de
Campina Grande, o estádio de Futebol do Pacaembú e o Jockey Clube de São Paulo, entre
outros.

2.O Art Déco em Campina Grande.

2.1. O cenário urbano no início do século XX.

Como esclarecimentos iniciais para a compreensão do objeto de estudo, serão colocadas


aqui, algumas informações sobre a localização do município de Campina Grande e sua
formação histórica.

Campina Grande está localizada na região agreste do estado da Paraíba, nordeste


brasileiro, e "durante as primeiras cinco décadas do século XX foi uma das maiores
produtoras de algodão do país, exportando o chamado “ouro branco” para várias cidades do
mundo, bem como, implantando na cidade, fábricas têxteis importantes e empresas
beneficiadoras do produto", conforme escreveu AFONSO (2015).

A cidade é considerada polo de oito microrregiões que compõem o Compartimento da


Borborema – área que abrange 79 municípios, 44% do território paraibano e uma população
que soma mais de um milhão de habitantes (figura 1). Segundo ARANHA (2001), o apogeu
econômico de Campina Grande se deu quando o trem chegou à cidade, em 1907,
impulsionando o comércio local, e a população deu um salto de mais de 600%, chegando à

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marca de 130 mil habitantes no transcurso de pouco mais de três décadas- a cidade virou
um polo atrativo de pessoas que foram trabalhar em volta da indústria algodoeira.

Figura 1. Mapa de localização de Campina Grande na Paraíba.

Fonte: Wikipédia e Google Maps. Adaptado pela autora.

A ferrovia, atrelada à infra estrutura que compunha o ciclo do algodão, trouxe a implantação
de várias fábricas, escritórios, galpões de armazenamento, que configuraram uma nova
forma urbana para a cidade de Campina Grande.

Até 1931, a Paraíba liderava o ranking de produção algodoeira no Brasil, e Campina Grande
chegou a ser denominada como a “Liverpool do sertão”, exportando o produto para a
Europa e para vários outros continentes (Basílio, 2009). Nas décadas de 20 e 30, a cidade
atraiu empresas de outros lugares, como Pernambuco, e vários empresários investiram na
cidade, tais como os irmãos Marques de Almeida, o empresário José Tavares de Moura,
entre outros.

De acordo com estimativas de 2014, sua população é de 402.912 habitantes, sendo a


segunda cidade mais populosa da Paraíba, possuindo uma população estimada em
630. 788 habitantes.

Está a uma altitude média de 555 metros acima do nível do mar. A área do
município abrange 594,2 km². Fazem parte do município de Campina Grande os seguintes
distritos: Catolé de Boa Vista, Catolé de Zé Ferreira, São José da Mata, Santa Terezinha e
Galante.

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2.2. A adoção do estilo Art Déco na cidade.

AFONSO (2015), em artigo que tratou sobre a preservação do patrimônio arquitetônico de


Campina Grande no século XXI, observou que, como somente em 1864, o lugar da antiga
aldeia campinense, após se desenvolver foi transformado em cidade, possui um acervo de
bens imóveis que pode ser classificado por estilos arquitetônicos, que vão desde o
neoclássico, o ecletismo, o Art déco, a linguagem moderna, até uma produção arquitetônica
contemporânea com tendências variadas.

"Observa-se a existência na contemporaneidade, de poucos exemplares


neoclássicos, alguns ecléticos, mas, o que mais caracteriza o acervo
patrimonial campinense, destacando-se no cenário regional, é o conjunto
de arquitetura Art déco no centro histórico urbano (grifo das autoras), e a
preservação de vários exemplares isolados modernos diluídos nos bairros
periféricos ao centro." (AFONSO, 2015)

O estilo tornou-se símbolo da grande reforma urbana empreendida pelo prefeito Vergniaud
Wanderley na tentativa de modernizar a “Liverpool Brasileira”, segunda praça algodoeira do
mundo, especificamente em 1936, quando ele inicia o remodelamento do centro tradicional
através de várias leis de cunho sanitarista e urbanístico.

Dessa maneira, o acervo campinense de Art déco (figura 2) é um dos mais importantes no
cenário nacional, com bens possuidores de grande qualidade arquitetônica, e está
localizado e concentrado na área do centro histórico da cidade de Campina Grande.

Figura 2: Edifícios Art Déco em Campina Grande.

Fonte: Aquarelas de Isabella Eloy. CAU. UAEC. CTRN.UFCG

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O centro histórico campinense é tombado em nível estadual, através de Decreto estadual de
No. 25.139 de 28 de junho de 2004, que homologou a deliberação de No.25/2003 do
Conselho de proteção dos bens históricos culturais- CONPEC, órgão de orientação superior
do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do estado da Paraíba- IPHAEP, que delimitou
o Centro Histórico inicial de Campina Grande (figura 3). Por grande parte dos exemplares
Art déco existentes estarem implantados na zona do Centro histórico, encontram-se
preservados, apesar de já terem sofrido alterações antes do processo de tombamento da
área.

Figura 3. Mapa de localização do Centro histórico de Campina Grande. PB.

Fonte: Imagem produzida pela equipe da UFCG.

O Decreto "criou a proteção para os conjuntos arquitetônicos das principais ruas do centro
campinense (figura 4), ratificando e consolidando a importância patrimonial
que lhes fora atribuída pelo programa Campina Déco" (QUEIROZ, 2010).

Figura 4. Rua Maciel Pinheiro. Exemplo da Arquitetura Art Déco na cidade.

Fonte: Rossi. 2010.

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A partir desse contexto de desenvolvimento na cidade, preparado pela implantação de uma
linguagem proto moderna, que foi consolidada através de ações públicas municipais, além
do desenvolvimento econômico e decorrente do ciclo algodoeiro, foi que a arquitetura
Moderna encontrou terreno fértil para sua emergência e difusão, ganhando status de
progresso, conforme colocou ROCHA E QUEIROZ (2007):

“Sua inserção no cenário local aconteceu em meio a um processo de


renovação da paisagem urbana campinense que se iniciou na década de
1930 (principalmente da sua região central), atravessou os anos 1940 e
chegou aos 1950 com o mesmo intuito e discurso de construção de uma
cidade moderna, civilizada, burguesa, pronta para o livre desenvolvimento do
capital.”

Os primeiros traços modernos surgiram na década de 1930 e 1940 com pequenas


modificações nas casas e edifícios que divulgaram ao público os primórdios de uma nova
fase de modernidade e inovação. São mudanças que trabalham seus elementos básicos, a
caracterização de unidades elementares simples e a construção da complexidade através
do simples.

Figura 5. Exemplares Art Déco.Campina Grande. 1934,1936,1937/ Arq Lic. Isaac Soares.

Fonte: Acervo QUEIROZ, Marcus V.

Pouquíssimos prédios ecléticos sobreviveram a esse choque de ordem que em menos de


15 anos muda totalmente a feição da cidade. Construtores da região e arquitetos formados
na Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro montaram seus escritórios para
atender ao grande número de clientes compulsórios dessa “modernização por decreto” à
qual se deve a notável unidade estilística do centro da cidade (Figura 5).
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Apesar de boa parte do acervo histórico Art Decó (Figura 6) , e outros estilos artísticos como
o ecletismo, ter sido apagado das ruas da nossa cidade, alguns exemplares significantes
como o edifício da Biblioteca Municipal, Cine Teatro Capitólio, a sede dos Correios e
Telégrafos, a atual sede da Prefeitura (antigo Grande Hotel), entre outros, ainda estão
preservados e tombados pela prefeitura.

Figura 6. Projetos em estilo Art Déco.Campina Grande.

Fonte: Acervo QUEIROZ, Marcus V.

E juntamente com a conscientização da população e dos órgãos públicos, pode-se garantir


que esse importante acervo esteja sempre presente no rol dos bens culturais e
arquitetônicos da cidade.

3. Um estudo de caso específico: O Grande Hotel- Atual sede da Prefeitura Municipal


de Campina Grande.

O prefeito Vergniaud Wanderley buscava em sua gestão, construir obras arrojadas para a
época, com o intuito de deixar marcas de sua administração na cidade. Desta forma, houve
a substituição de muitos casarios antigos, perdendo-se assim, importantes monumentos

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históricos. Nesse contexto, em 1932, foi construído o Grande Hotel, um ambiente
requintado, amplo e luxuoso. Quatro décadas após, o edifício torna-se sede da Prefeitura
Municipal de Campina Grande, mantendo-se acomodada no mesmo, até os dias de hoje.

Figura 7. Mapa de Localização do Grande Hotel (Atual Sede da Prefeitura Municipal).

Fonte: Modelo feito pela autora.

Localizado na esquina da Avenida Floriano Peixoto com a rua Maciel Pinheiro (figura 7), o
edifício da Prefeitura Municipal de Campina Grande (figura 8), em estilo Art Déco, compõe o
cenário campinense tão marcado por esta arquitetura, com grande número de exemplares
situados na última via citada.

Figura 8 : Sede da Prefeitura Municipal de Campina Grande.

Fonte: Aquarela de Isabella Eloy.2015

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Seu entorno, dialoga com o Museu Assis Chateaubriand, posicionado a sua frente, que
adotou o estilo eclético. Observando-se contudo na edificação do Museu, uma forte
influência neoclássica, obtidas através de uma sobriedade e o rigor formal na fachada
principal, que foram quebrados pela introdução de elementos decorativos ecléticos que
aparecem, sobretudo, na ornamentação das janelas. O Museu Assis Chateaubriand/
FURNE (figura 9) é projeto do arquiteto italiano Hermenegildo Di Lascio (1884-1957),
graduado na Argentina e radicado em João Pessoa, que atuava tanto na iniciativa privada
quanto na pública. Diferentemente de muitas obras das proximidades, que abrangem
atividades comerciais e tem parte de suas fachadas encobertas por propagandas, este por
ser administrativo, mantém sua integridade.

Figura 9 : Sede do Museu Assis Chateaubriand.Entorno da Sede da Prefeitura

Fonte: Aquarela de Marco Sousa Junior.CAU.UAEC.CTRN.UFCG

A Prefeitura Municipal de Campina Grande (Figura 10) foi edificada com cimento e concreto
armado, com colunas evidentes dando suporte ao balcão. Pela ausência de informações,
nada sabe-se sobre a queda d`água do telhado que encontra-se encoberto.

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Figura 10: Prefeitura Municipal de Campina Grande.

Fonte: Acervo Pessoal.

Nota-se a exaltação da monumentalidade oriunda de um design abstrato. Apesar da


configuração horizontal, os elementos mais elevados somados ao plano circular da fachada
principal, destacam-se e dão a ideia de verticalização, havendo a tendência de perceber o
edifício mais alto.

As formas geométricas são evidenciadas por meio das linhas retas estilizadas, que seguem
o estilo da Art Déco com influência de Miami, com formas puras e pouca ornamentação,
havendo a racionalização do volume.

O balcão, em formato arredondado mantendo a configuração da fachada principal, sobressai


e a evidencia. Este, aliado ao parapeito, remetem a inspiração náutica, que é referência na
arquitetura da época- característica tipicamente da linguagem Art Déco.

Os andares são dispostos de maneira escalonada, com acesso por uma escadaria em ‘U’
(figura 11). O centro da obra dispõe de um vácuo protegido por parapeito, que permite a
visualização dos demais pavimentos, como visto no ângulo demonstrado abaixo. A solução
da escada desperta interesse devido à sua forma e ao resultado plástico e construtivo
obtido, enriquecendo espacialmente o edifício, uma vez que criou transparências espaciais
ricas internamente, possibilitando o diálogo entre os ambientes.

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Figura 11: Fotos Internas da escadaria do Antigo Grande Hotel.

Fonte: Acervo Pessoal.

As esquadrias originais em vidro com caxilhos de metal, são mantidas e dispostas em ritmo,
no qual proporciona o agrupamento. As mesmas, rasgam a fachada de maneira ininterrupta
quando posicionadas em esquinas, dando a ideia de continuidade e aprimoramento de
técnicas construtivas.

O edifício é constituído por 4 pavimentos- térreo e mais três, onde foi distribuído o programa
de necessidades da Sede municipal, e são dispostas salas e departamentos de diversos
setores públicos. A distribuição atual foi realizada da seguinte forma (figura 12):

No térreo, funciona atualmente, a Secretaria da Fazenda e a Secretaria de Economia; No


primeiro pavimento, além do Gabinete do Prefeito e salas destinadas a algumas secretarias
de apoio do gabinete, possui, também, alguns outros ambientes de apoio a Secretaria da
Fazenda, como a Contadoria Geral.

No segundo pavimento encontram-se as seguintes secretarias: Secretaria de Administração,


Secretaria de Agricultura e Secretaria de Educação e Cultura. E no último pavimento, tem-se
a Procuradoria Geral do Município, a Secretaria da Fazenda, a Secretaria de Educação e
Cultura, a Superintendência de Obras e Urbanismo, além de uma sala destinada a reuniões.

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o o
Figura12. Plantas Baixas do pavimento térreo, 1º Pavimento, 2 Pavimento e 3 Pavimento.

Fonte: Arquivo Público Municipal de Campina Grande.

Apenas, no pavimento térreo, o piso é original. Hexágonos são posicionados peça por peça,
formando a configuração de flores espaçadas. Vislumbra-se a delicadeza e sutileza do
trabalho minucioso, exemplo de uma ornamentação discreta símbolo do estilo arquitetônico.
Diferentemente deste, os demais andares são compostos por cerâmica.

4. Conclusão.

Observa-se com esse artigo que Campina Grande possui um grande acervo de edifícios e
residências proto modernas projetadas entre o recorte cronológico 1900 a 1950 e, algumas,
com um ótimo estado de conservação, como no estudo de caso abordado nesse artigo.
Além de possuir, ainda, interessados e estudiosos, que se preocupam com o patrimônio
histórico e material da cidade, como o projeto Campina Decó, citado no texto, que
determinou uma poligonal denominada de “Centro Antigo de Campina Grande” valorizando
assim, a importância de salvaguardar o patrimônio moderno campinense.

AFONSO (2015) observou que a preservação do patrimônio arquitetônico de Campina


Grande no século XXI, composto pelo acervo visto anteriormente, vem se dando através de
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resgates documentais realizados, principalmente pela Academia, que através de projetos de
pesquisas vêm documentando e realizando ações de educação patrimonial.

As instituições públicas criaram mecanismos legais para a preservação desse acervo, tais
como a Lei Municipal nº 3721/1999, e o Decreto Estadual nº 25.139/2004.

Através do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da Paraíba- IPHAEP,


dezoito imóveis encontram-se tombados em nível estadual, enquanto que o IPHAN, não
realizou nenhum tombamento, ainda, na cidade.

Em nível municipal, existe um departamento que tenta desenvolver um trabalho de


educação patrimonial, dialogando com o IPHAEP, com a UFCG/ Universidade Federal de
Campina Grande e com a Universidade Estadual de Campina Grande, no sentido de buscar
parcerias e se fortalecer no trabalho de preservação do acervo.

Observa-se contudo, que intervenções práticas de restauração e revitalização das obras


arquitetônicas não vêm sendo realizadas. A prioridade da preservação está voltada para o
acervo de Art déco, e para imóveis isolados concentrados na área do Centro histórico.

Faz-se necessário uma maior abordagem sobre a temática da falta de conscientização dos
órgãos competentes e da própria comunidade acerca da escassez de divulgação desse rico
e importante bens culturais e arquitetônicos, além da falta de estrutura nos Arquivos
Públicos, onde boa parte dos documentos da época são desconcentrados em um único
ambiente, dificultando o acesso aos registros originais, assim como a precariedade no
ambiente onde situa-se os mesmos.

O antigo Grande Hotel, como situa-se dentro do perímetro do Centro Histórico- é


conservado e preservado, contudo, nota-se que intervenções práticas de restauração e
revitalização das obras arquitetônicas fora da poligonal não vêm sendo realizadas e são
desprotegidas e esquecidas pelo poder público e pela população.

Aos poucos, noticias lembram-nos tardiamente como tal edifício, que acaba de ser demolido
ou descaracterizado, foi importante para a construção da história da cidade.

Por fim, acredita-se que com este trabalho, haja uma maior interação e discussão com a
comunidade profissional e acadêmica interessada na preservação do patrimônio moderno,
na história da arquitetura e do urbanismo, assim como a inserção deste importante acervo
no rol dos bens culturais e arquitetônicos. Além de abordar sobre as possibilidades de
intervenções com parceiros reforçando a intenção de ações mais práticas.

Espera-se que as pesquisas que vêm sendo realizadas pelo Grupo Arquitetura e Lugar,
obtenham resultados, não somente como registro de edificações, mas como registro de
uma memória que não merece ser apagada.
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Assim, antes de ser um registro histórico da Campina Grande de ontem, espera-se que
esse trabalho funcione como porta para a compreensão e a reflexão da cidade de hoje,
colaborando para a elaboração da cidade futura. É necessário refletir sobre seus próprios
feitos e buscar soluções adequadas aos seus problemas.

Não se pode esquecer que os espaços públicos, as paisagens culturais urbanas, a


arquitetura e o urbanismo têm um papel determinante nas condições de vida das
populações urbanas.

Há que se preservar os edifícios históricos, os espaços públicos e o valor urbanístico e


arquitetônico que eles representam. A criação e preservação de espaços, equipamentos e
serviços urbanos funcionais e bem concebidos é uma tarefa que deve ser desenvolvida
conjuntamente pelas instituições nacionais, regionais e locais, e também pelos cidadãos e
pelas empresas.

É bastante pertinente aqui, colocar as questões feitas por MONTANER e MUXI (2011,
p.168) sobre esse cenário contemporâneo da discussão da relação cidade/ história/
memória e patrimônio:

“Quem possui o interesse em recordar? Que grupo ou classe social, dos


diversos que confluem em cada cidade, tem o poder de definir a memória?
Como cada cidade vai construindo seu imaginário à custa da ênfase em
alguns aspectos e do esquecimento dos outros? Porque para recordar
certos fatos é preciso esquecer os outros?”

Pode-se observar que, na contemporaneidade, as cidades, como arquivos da história e da


memória coletiva, constituídas de seus respectivos acervos patrimoniais, vêm cada vez
mais, desenvolvendo um processo de “apagamento da memória” ou passando por
processos de “traumas urbanos”, como tão bem colocaram os autores catalãs MONTANER
e MUXI (2011).

A dissolução da memória- um dos meandros dos processos contemporâneos de


urbanização- atinge a memória plural e complexa, através de mecanismos políticos que
pretendem impor novas identidades coletivas e manipuladas do social. Os autores
colocaram sobre o tema:

“Podemos falar de um apagamento sistemático da memória coletiva que


ocorre em situações não explicitamente traumáticas, sem conflitos sociais
aparentes, de uma maneira lenta e oculta, como consequência do
desenvolvimento capitalista e neoliberal das grandes urbes, que querem
estabelecer identidades simples para o controle interno e a comunicação

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externa, voltadas aos investimentos e ao turismo, e que se transmite
através de campanhas publicitárias”. MONTANER e MUXI (2011,p.159).

São inquietações atuais dessa natureza que poder-se-ão ser discutidas e refletidas por nós,
pesquisadores da área de arquitetura e documentação.

Referências Bibliográficas

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