Você está na página 1de 43

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

FACULDADE DE ARQUITETURA, ENGENHARIA E TECNOLOGIA


DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO

A ANTIGA SEDE DOS CORREIOS E TELÉGRAFOS EM CUIABÁ

EVILLYN BIAZATTI DE ARAÚJO


LUÍSA TEIXEIRA BATTISTETTI
SEBASTIÃO OSCAR GASPAR
VICTÓRIA FERREIRA SOARES TAPAJÓS

CUIABÁ
SETEMBRO DE 2017
EVILLYN BIAZATTI DE ARAÚJO
LUÍSA TEIXEIRA BATTISTETTI
SEBASTIÃO OSCAR GASPAR
VICTÓRIA FERREIRA SOARES TAPAJÓS

A ANTIGA SEDE DOS CORREIOS E TELÉGRAFOS EM CUIABÁ

TRABALHO FINAL DA DISCIPLINA DE ARQUITETURA BRASILEIRA I

ARTIGO DE APRESENTAÇÃO REFERENTE AO


SEMINÁRIO DA DISCIPLINA DE ARQUITETURA
BRASILEIRA I, DO DEPARTAMENTO DA
ARQUITETURA E URBANISMO DA
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO –
UFMT.

PROF. Dr. RICARDO SILVEIRA CASTOR

CUIABÁ
SETEMBRO DE 2017
INTRODUÇÃO

Este trabalho tem como objetivo analisar o histórico do Departamento de Correios


e Telégrafos (DCT) de Cuiabá, Mato Grosso, assim como sua arquitetura. Para tanto,
utilizou-se como principais referências bibliográficas as obras “O Art Déco na obra
getuliana - moderno antes do modernismo” (2014), de Márcio Vinícius Reis, “Arquitetura
Moderna em Mato Grosso: diálogos, contrastes e conflitos” (2013), de Ricardo Silveira
Castor, bem como informações obtidas através de depoimentos do geógrafo Aníbal
Alencastro.
Durante a análise de nosso objeto de estudo, foram identificados diversos
elementos inerentes ao Art Déco, e, para o aprofundamento desta abordagem, foi
necessário um breve estudo acerca deste estilo, apresentando suas características e
contexto histórico na Europa e, posteriormente, no Brasil. Ao investigar a difusão do Art
Déco no Brasil, foram mencionadas políticas que influenciaram na consolidação do estilo
no país, sobretudo durante o governo Vargas. Adiante, foram abordadas as tipologias
dos Departamentos de Correios e Telégrafos (DCT) no país, exemplificando-as, para,
finalmente, analisar o DCT de Cuiabá, Mato Grosso.
CONTEXTO HISTÓRICO

EUROPA

O estilo Art Déco foi inicialmente utilizado na França e teve, como momento
marcante, a Exposição Internacional de Artes Decorativas e Industriais Modernas de
1925. Esta grande exposição reuniu artistas de diversos países, servindo como uma
forma de evidenciar a França - país vitorioso na 1ª Guerra Mundial - e seus artistas a
nível internacional. A Exposição de 1925 trouxe, como principal temática, o estilo
decorativista, porém moderno e industrial.

Figura 01. Pôster da Exposição de 25. Transcrição: “Ministério do Comércio e da Indústria. Paris, 1925.
Exposição Internacional das Artes Decorativas e Industriais Modernas. Abril - Outubro”.
Fonte: Robert Bonfils.
É nesse sentido que o estilo Art Déco - abreviação de Arts Décoratifs - se
encontra. O Art Déco se desenvolveu no início do século XX e foi utilizado tanto na
arquitetura, quanto em objetos de decoração e expressões artísticas diversas - pintura,
escultura, cinema e moda. Assim como o Art Nouveau e outras vanguardas e vertentes
modernistas, o Art Déco, inicialmente, emergiu como um estilo democrático, que viria a
ser acessível a todos, porém, na prática, configurou-se como o estilo da burguesia da
época, sendo caracterizado por sua monumentalidade e pelo uso de materiais
inovadores e nobres, como o ferro, o concreto armado e o granito.

Figuras 02, 03 e 04. Pôsteres em estilo Art Déco. Disponíveis em:


<http://www.internationalposter.com/poster-details.aspx?id=FRL00474>
<http://www.internationalposter.com/poster-details.aspx?id=ITL24443>
<http://www.internationalposter.com/poster-details.aspx?id=FRL21592>. Acesso em: 07 set. 2017.

Figura 05. Monumento às Bandeiras, Rio de Janeiro. Escultura em estilo Art Déco. Disponível em
<http://designculture.com.br/o-que-e-art-deco>. Acesso em: 07 set. 2017.
Figura 06. Chaise Longue, 1928, Le Corbusier, Pierre Jeanneret e Charlotte Perriand. Mobiliário em estilo
Art Déco. Disponível em: <http://www.herancacultural.com.br/blog/2013/11/lc4-le-corbusier/>. Acesso em:
07 set. 2017.

O Art Déco pode ser classificado como uma vertente do Modernismo, pois tem
características em comum com o estilo. Associado à modernidade, o Art Déco utiliza uma
linguagem industrial, fazendo uso de novos materiais e tecnologias. Apesar de ser
considerado um estilo decorativista, caracteriza-se pelo minimalismo, utilizando apenas
ornamentos pontuais, ao contrário de estilos anteriores, excessivamente adornados.
Outra característica que o aproxima do Modernismo é o racionalismo e o uso de figuras
geométricas puras. O Art Déco realizava um jogo de volumetrias, com a predominância
das linhas retas, sobretudo verticais, de modo a transmitir a sensação de que o edifício
é mais alto. Por fim, assim como o Modernismo, o Art Déco remetia à modernidade e a
grandes centros urbanos, sendo considerado um estilo cosmopolita.
Todas estas características são muito bem descritas em “O Art Déco na obra
getuliana - moderno antes do modernismo”, tese de doutorado de Márcio Vinícius Reis
pela FAUUSP orientada por Carlos Lemos:

“O Art Déco se define como Arte [...]; O Art Déco se define como Decorativo [...]; O Art
Déco se define como estilo Industrial, isto é, associado à sociedade industrial nascente, implícitas
aí todas as suas consequências, sobretudo tecnológicas; [...] o Art Déco se define como estilo
Moderno lato sensu, isto é, associa sua imagem a tudo o que, então, poder-se-ia definir como
tal: arranha-céus, automóveis, aviões, cinema, rádio, música popular, moda/vestuário e
emancipação da mulher. Propõe-se, portanto, como estilo intrinsecamente cosmopolita.”

Entretanto, apesar de moderno, o Art Déco se diferencia de algumas vertentes do


Modernismo ao permitir variações. Enquanto muitos arquitetos modernistas buscam por
um estilo internacional e padronizado, o Art Déco faz uso de regionalismos de acordo
com o local onde é produzido. Além disso, o estilo Art Déco pode se manifestar sob
diferentes vertentes, de forma mais proeminente ou mais sutil. Pode fazer uso de formas
mais puras e minimalistas, aproximando-se do racionalismo modernista, ou ter caráter
mais decorativista e ornamentado. Percebe-se, no Art Déco, a influência de vanguardas
modernistas, como o futurismo, o construtivismo e o cubismo.

Figura 07. Palais de Chaillot nos Jardins de Trocadéro, Paris, França. Percebe-se o predomínio de formas
geométricas puras e o jogo volumétrico com as mesmas. Ainda que a edificação não tenha dimensões
monumentais, ela apresenta monumentalidade e imponência, com os ornamentos sutis no coroamento e com o
ritmo dos pilares, que contrastam com a horizontalidade da construção, conferindo verticalidade à mesma. Fonte:
BRYANT, Jon. 10 of the best European cities for art déco design. Disponível em:
<https://www.theguardian.com/travel/2016/sep/08/10-best-european-cities-for-art-deco-design>. Acesso
em: 07 set. 2017.
Figura 08. Hoover Building, Londres, Inglaterra. A edificação é pouco ornamentada e usa formas
geométricas puras e linhas retas, presentes até mesmo nas esquadrias. A horizontalidade da construção
é quebrada pelos pilares, proeminentes. A entrada é destacada em um jogo volumétrico, recurso comum
no estilo Art Déco. Fonte: BRYANT, Jon. 10 of the best European cities for art déco design. Disponível em:
<https://www.theguardian.com/travel/2016/sep/08/10-best-european-cities-for-art-deco-design>. Acesso
em: 07 set. 2017.

Figura 09. Mossehaus, Berlim, Alemanha. Uma das características que mais chamam a atenção nesta
edificação é a curva na esquina, onde são utilizados materiais como concreto armado e ferro. A curva ou
o chanfro em esquinas são recursos bastante comuns no estilo Art Déco. Além disso, destaca-se a entrada
marcada e, principalmente, o escalonamento no coroamento da edificação, característico do Art Déco. As
formas geométricas puras e o minimalismo nas ornamentações estão presentes em toda a construção,
inclusive nos pilares e nas esquadrias. Fonte: BRYANT, Jon. 10 of the best European cities for art déco
design. Disponível em: <https://www.theguardian.com/travel/2016/sep/08/10-best-european-cities-for-art-
deco-design>. Acesso em: 07 set. 2017.
BRASIL

Durante o período do Estado Novo (1937-1945) do então governo de Getúlio


Vargas, o país passou por uma política nacional de desbravamento do oeste brasileiro,
política que ficou conhecida como “Marcha para Oeste”. A partir desta política, tem início
uma série de obras oficiais, encomendadas pelo Estado para diversas repartições
públicas, no intuito de dotar de infraestrutura urbana determinadas regiões do Oeste.
Neste período histórico, havia uma articulação política que visava a mudança da
capital de Mato Grosso de Cuiabá para Campo Grande, cidade que até então era dotada
de melhor infraestrutura urbana em relação à antiga capital. Nesse sentido, a ascensão
de Vargas ao governo foi determinante para a reafirmação de Cuiabá como capital de
Mato Grosso, visto que a capital se torna essencial para o desenvolvimento do programa
de ocupação das fronteiras à oeste, impedindo assim o sucesso da articulação da cidade
morena.
Ao passo que Cuiabá recebe notória importância para a execução da política
nacional, fez-se urgente dotá-la de uma melhor infraestrutura, a qual pudesse fazer jus
à sua posição de “Portal da Amazônia” (CASTOR, 2013, pág. 11). O interventor de Mato
Grosso durante esse período (1937-1945) foi Júlio Müller, que, a partir da política
varguista, encomendou uma série de obras oficiais, as quais constituíram parte da
infraestrutura urbana essencial de Cuiabá. Um número significativo de obras oficiais foi
encomendado à construtora Coimbra Bueno & Cia, com sede no Rio de Janeiro.
A cidade de Cuiabá mostra a importância dada ao decorativismo europeu nas
obras públicas realizadas, no ínterim de 1910 a 1930. Nesse cenário, destacam-se o
Palácio da Instrução (1914), em estilo eclético, e a sede dos Correios e Telégrafos (1937),
em estilo Art Déco.
A construção da sede dos Correios e Telégrafos em Cuiabá integrou parte de um
programa de política nacional do então Departamento dos Correios e Telégrafos (DCT).
O DCT foi responsável, a partir de 1931, por projetos e construções de agências postais
e telegráficas no país, as quais foram projetadas segundo padronizações, embasadas
na classificação dos serviços prestados pelas agências (REIS, 2014, pag 12). Nesse
contexto, o estilo Art Déco foi amplamente utilizado na arquitetura postal do DCT,
especialmente por representar, juntamente com o concreto armado, parte da
modernidade e tecnologia aclamada no Brasil afora.
O Art Déco se consolidou nas obras públicas até o início de 1950 (REIS, 2014, pág.
15), e durante todo esse trajeto, é possível encontrar diversas tipologias no estilo em
edifícios públicos brasileiros. Nesse sentido, essas variações tipológicas são frutos da
característica do Art Déco como estilo sem princípios doutrinais, aberto às diversidades
plástico-formais. Importante também é a relação que os edifícios no estilo Art Déco se
comportam com espaço urbano, especialmente quanto à sua implantação, quase sempre
localizado em área central da cidade.
Nesse ínterim de 1930 a 1950, foram erguidos numerosos edifícios públicos na
região Centro-Oeste do país. Nesse cenário, construtoras como a Coimbra Bueno & Cia
e Pederneiras S/A (ALENCASTRO, 2017), também arquitetos como Frederico João Urlass,
foram responsáveis por diversos exemplares Art Déco que situados no oeste brasileiro.
Um dos exemplos das obras erguidas é o plano de construção de Goiânia, como capital
de Goiás, elaborado pelo então interventor Pedro Ludovico, em conjunto com a
participação do arquiteto Attílio Corrêa Lima e da Construtora Coimbra Bueno & Cia.
Figura 10. Cartão postal da Construtora Coimbra Bueno & Cia. Intensamente influenciada pela política
getulista de desbravamento do Centro-Oeste, a construtora ficou incubida do planejamento e construção
de Goiânia, em escala urbanística e arquitetônica. Fonte: GASSIEBAYLE, Felix Conrado. Postais.
Disponível em: <http://www.conradoleiloeiro.com.br/peca.asp?ID=1522809>. Acesso em: 12 set. 2017.

Nesse mesmo período entre-décadas, Goiânia passa por um intenso processo de


construção edilícia no estilo Art Déco. Um exemplar desse período é o Teatro Goiânia
(Figura 11).
Figura 11. Teatro Goiânia, em Goiânia - GO. A construção ocorreu entre 1940-42. O edifício faz parte do
conjunto arquitetônico projetado para a cidade de Goiânia. Arquiteto: Jorge Félix. Fonte: Wikipédia, Teatro
Goiânia. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Teatro_Goi%C3%A2nia>. Acesso em: 12 set 2017.
Foto: Naldo Mundim.

O estilo Art Déco, no contexto da política getulista, não se limita a “Marcha para
Oeste”. É possível notar o estilo em outras obras públicas do período getulista, se
excetuando a política do Departamento de Correios e Telégrafo. A partir dessa
constatação, é possível analisar que o Art Déco esteve marcado sutilmente como uma
breve linguagem oficial. Naquele período, ocorreu na Europa a famigerada ascensão das
diferentes vanguardas arquitetônicas, como o Art Déco e o Modernismo corbusiano. Na
perspectiva do conceito de modernização e desenvolvimento do país, promovido por
Getúlio Vargas, a adoção de um estilo moderno nas obras públicas representaria bem a
consolidação de uma modernidade brasileira. No entanto, frente aos estilos modernos
do período, o Art Déco se constitui como o mais aberto às diversas linguagens, excluindo
o “radicalismo plástico-formal abstrato” (REIS, 2014, pág. 202) das outras correntes
modernas.
A exemplo dessas obras arquitetônicas, há o Estádio do Pacaembu, na cidade de
São Paulo (Figura 12).
Figura 12. Estádio do Pacaembu, São Paulo - SP. Construção entre os anos de 1938-40. Projeto do
Escritório Técnico Ramos de Azevedo - Severo e Villares (São Paulo, Governo do Estado de. Conselho
de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico. São Paulo/Pacaembu. s/d) Fonte:
Wikipédia, Estádio do Pacaembu. Disponível em:
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Est%C3%A1dio_do_Pacaembu> . Acesso em: 12 de set de 2017. Foto:
Rafael Neddermeyer.

A partir do exemplo supracitado, pode-se avaliar uma das características do Art


Déco: a tripartição do edifício em base, corpo e coroamento. A tripartição trata-se de uma
característica da arquitetura clássica, que foi incorporada pelo estilo Art Déco.

Figura 13. Demonstração gráfica da tripartição do edifício Art Déco no Estádio do Pacaembu, São Paulo.
Imagem alterada. Foto: Rafael Neddermeyer.
Em Cuiabá, o estilo Art Déco aparece na década de 30, com a construção da Sede
do Departamento de Correios na Praça da República, pela construtora Pederneiras S/A,
instalada no Rio de Janeiro.

Figura 14. Sede dos Correios e Telégrafos de Cuiabá (MT), construída na década de 30, pela Construtora
Pederneiras S/A. Foto da década de 60. Fonte: IBGE, Acervo fotográfico do. Disponível em:
<http://www.biblioteca.ibge.gov.br/index.php/biblioteca-catalogo?view=detalhes&id=424506>. Acesso em:
12 de set de 2017. Foto: Acervo do IBGE.

Em seguida, o estilo se consolida com as Obras Oficiais do Estado de Mato


Grosso, a exemplo dessas obras, há a Secretaria Geral (Figura 15), que além do edifício
no estilo Art Déco, possui o letreiro das fachadas na linguagem Art Déco.
Figura 15. Antiga Secretaria Geral de Cuiabá, localizada na Avenida Pres. Getúlio Vargas. Atual Arquivo
Público do Estado. Foto da década de 50, s/a. Fonte: IBGE, Acervo fotográfico do. Disponível em:
<http://www.biblioteca.ibge.gov.br/index.php/biblioteca-catalogo?view=detalhes&id=424542>. Acesso em:
12 de set de 2017. Foto: Acervo do IBGE.

Além desse repertório do período getulista, o Art Déco retoma a Cuiabá com a
chegada do arquiteto de origem alemã Frederico João Urlass. O arquiteto já havia
consolidado um repertório em Mato Grosso (hoje Mato Grosso do Sul), na cidade de
Campo Grande, entre outras. Em Cuiabá, talvez a obra mais célebre deste arquiteto
tenha sido o Hotel Centro América (Figura 16), localizado na travessa da Avenida Getúlio
Vargas com a Rua Galdino Pimentel, situado de frente à Praça da República. A
linguagem Art Déco do edifício foi utilizada como recurso para enfatizar a antiga catedral
de Cuiabá, em adobe, situada de frente à Praça da República (CASTOR, 2013, 203). O hotel
foi demolido na década de 90, e hoje o seu terreno é ocupado pela loja Riachuelo.
Figura 16. Hotel Centro América, Cuiabá - MT, inaugurado em 1954 (CASTOR, 2013, pag. 203). Nota-se
na extremidade esquerda do edifício o atual Palácio Alencastro (Prefeitura Municipal de Cuiabá) e à direita
do hotel, o edifício Maria Joaquina. Fotografia sem data de tiragem. Fonte: IBGE, Acervo fotográfico do.
Disponível em: <http://www.biblioteca.ibge.gov.br/index.php/biblioteca-
catalogo?view=detalhes&id=441540>. Acesso em: 12 de set de 2017. Foto: Acervo do IBGE.

A Praça da República ainda hoje é excelente marco para o vislumbre dos


diferentes estilos nas obras públicas em Cuiabá, como mostram as figuras 17 e 18.

Figura 17. Cartão postal. Vista de cima da Praça da República, Cuiabá - MT. Nota-se em seu entorno, da
esquerda para a direita: Sede dos Correios e Telégrafos, Thesouro do Estado e Palácio da Instrução.
Fotografia sem autor referenciado, cartão postal recebido em 1981. Fonte: Flickr. Acervo fotográfico do
usuário “pequena .”. Disponível em: <https://www.flickr.com/photos/pequena-/12001318073>. Acesso em:
12 de set de 2017.
Figura 18. Vista de cima da Praça da República, Cuiabá - MT. Nota-se ao fundo, o edifício do Hotel
Centro América, à esqueda, e o Palácio do Comércio, à direita. Na extremidade direita se situa o Morro
da Luz, e ao fundo, a torre da Energisa (antiga Cemat). Fotografia sem autor referenciado. Fonte:
Pinterest. Acervo fotográfico do Museu da Imagem e do Som (MISC) de Cuiabá. Disponível em:
<https://br.pinterest.com/pin/852165560711909871/?lp=true>. Acesso em: 12 de set de 2017.

A partir dos exemplos supracitados, pode-se observar como a política pública


brasileira esteve ligada à disseminação do estilo Art Déco pelo Brasil, especialmente na
região Centro-Oeste do país. É importante ressaltar as contribuições do arquiteto
Frederico João Urlass, da Construtora Pederneiras S/A e da Construtora Coimbra Bueno
& Cia para a consolidação desse processo de difusão do estilo.

VARIAÇÕES TIPOLÓGICAS DOS EDIFÍCIOS DOS CORREIOS NO BRASIL

Foram elaborados aproximadamente 92 projetos para as agências dos correios


em todo território brasileiro, os tipos dos edifícios estavam intimamente ligados à
categoria de classe desses, essas classes eram definidas pela hierarquização das
agências determinada pelo DCT (Departamento de Correios e Telégrafos). Foram
estabelecidas tipologias baseadas nessas classes, as principais e mais recorrentes eram
as do tipo I, II e III e o tipo DR, os tipos I e variações pertenciam à 3ª classe, os tipos II e
III à quarta classe, sendo agências mais simples, de cidades do interior e as DRs,
Diretorias Regionais, pertenciam à 1ª e 2ª classes, pois se tratavam de edifícios maiores
e eram implantados em capitais ou grandes cidades. No que diz respeito à forma dos
edifícios, prevalecia a conformação base, corpo e coroamento e estipulação de um eixo
de simetria na composição da fachada e espaço interno.

EDIFÍCIOS TIPO I, II E III

O projeto dos edifícios que se inserem no tipo I foi desenvolvido para as agências
de 3ª classe, onde a agência fica no térreo (com áreas internas separadas para os
serviços, espaço do hall, gerência, tesouraria, almoxarifado e instalações sanitárias), e
no pavimento superior (com entrada lateral independente), uma moradia funcional (três
quartos, sala, cozinha e banheiro).

Figura 19. Edifício tipo I, Guarabira-PB e Pesqueira-PE. Fonte: REIS, Márcio Vinicius. O art déco na Obra
Getuliana: moderno antes do modernismo. 2014. 279 p. Tese (Doutorado em História e Fundamentos
da Arquitetura e Urbanismo)- Arquitetura e Urbanismo, FAUUSP, São Paulo, 2014.
Figura 20. Edifício tipo I, Petrolina- PE e Camocim - CE. Fonte: REIS, Márcio Vinicius. O art déco na Obra
Getuliana: moderno antes do modernismo. 2014. 279 p. Tese (Doutorado em História e Fundamentos
da Arquitetura e Urbanismo)- Arquitetura e Urbanismo, FAUUSP, São Paulo, 2014.

Os edifícios tipo II eram agências de 4 classe, edifício simples com apenas um


pavimento, remetendo à residências urbanas, em alguns casos apresentava um segundo
pavimento, sua planta se assemelhava ao tipo I.

Figura 21. Edifício tipo II, Quixeramobim- CE. Fonte: REIS, Márcio Vinicius. O art déco na Obra Getuliana:
moderno antes do modernismo. 2014. 279 p. Tese (Doutorado em História e Fundamentos da
Arquitetura e Urbanismo)- Arquitetura e Urbanismo, FAUUSP, São Paulo, 2014.
Figura 22. Edifício tipo II, Princesa Isabel- PB e Picuí- PB. Fonte: REIS, Márcio Vinicius. O art déco na
Obra Getuliana: moderno antes do modernismo. 2014. 279 p. Tese (Doutorado em História e
Fundamentos da Arquitetura e Urbanismo)- Arquitetura e Urbanismo, FAUUSP, São Paulo, 2014.

O tipo III, também de 4ª classe, possuíam apenas um pavimento, fazendo


referência aos edifícios domésticos, este tipo, de uma forma mais marcante, tinha
algumas características do estilo neocolonial, contrapunha-se em alguns aspectos à
geometria do art deco.

Figura 23. Edifício tipo III, Princesa Isabel- PB. Fonte: REIS, Márcio Vinicius. O art déco na Obra
Getuliana: moderno antes do modernismo. 2014. 279 p. Tese (Doutorado em História e Fundamentos
da Arquitetura e Urbanismo)- Arquitetura e Urbanismo, FAUUSP, São Paulo, 2014.

TIPOS I, II E III ESPECIAL E TIPOS IV,V,VI,VII E VIII

Além dos tipos já mencionados, existem os edifícios tipo I,II e III especiais, que
configuram os edifícios tipos já mencionados porém com algumas alterações como por
exemplo entrada num plano proeminente, brises horizontais, muitos ressaltam mais os
pontos focais, como entrada, e apresentam mais ênfase no jogo volumétrico na fachada
incorporando-se até à geometria da calçada. Esses tipo especiais se apresentavam mais
parecidos com a tipologia das DRs.
Além dos tipos I,II e III e I, II e III especiais, existem mais cinco tipos especiais,
IV,V,VI,VII e VIII. O tipo especial IV é o que mais remete aos tipos I, II e III, no que diz
respeito à volumetria, é característico deste tipo, a presença de elementos verticais
repetidos com ritmo frequente na fachada, se assemelhando com brises (Figura 24). A
principal marca dos tipos V, VI, VII e VIII, são as pilastras que marcam a fachada e
sustentam a arquitrave desenha com o nome “correios e telégrafos” (Figura 25).

Figura 24. Edifício tipo especial IV, Araguari-MG. Fonte: REIS, Márcio Vinicius. O art déco na Obra
Getuliana: moderno antes do modernismo. 2014. 279 p. Tese (Doutorado em História e Fundamentos
da Arquitetura e Urbanismo)- Arquitetura e Urbanismo, FAUUSP, São Paulo, 2014.
Figura 25. Edifício tipo especial V, Campo Belo- MG. Fonte: REIS, Márcio Vinicius. O art déco na Obra
Getuliana: moderno antes do modernismo. 2014. 279 p. Tese (Doutorado em História e Fundamentos
da Arquitetura e Urbanismo)- Arquitetura e Urbanismo, FAUUSP, São Paulo, 2014.

Figura 26. Edifício tipo especial VI, Porto Feliz- SP. Fonte: REIS, Márcio Vinicius. O art déco na Obra
Getuliana: moderno antes do modernismo. 2014. 279 p. Tese (Doutorado em História e Fundamentos
da Arquitetura e Urbanismo)- Arquitetura e Urbanismo, FAUUSP, São Paulo, 2014.
Figura 27. Edifício tipo especial VII, Manhuaçu- MG. Fonte: REIS, Márcio Vinicius. O art déco na Obra
Getuliana: moderno antes do modernismo. 2014. 279 p. Tese (Doutorado em História e Fundamentos
da Arquitetura e Urbanismo)- Arquitetura e Urbanismo, FAUUSP, São Paulo, 2014.

Figura 28. Edifício tipo especial VIII, Três Lagoas-MS. Fonte: REIS, Márcio Vinicius. O art déco na Obra
Getuliana: moderno antes do modernismo. 2014. 279 p. Tese (Doutorado em História e Fundamentos
da Arquitetura e Urbanismo)- Arquitetura e Urbanismo, FAUUSP, São Paulo, 2014.

DIRETORIAS REGIONAIS (DRs)

Os edifícios tipo DRs- Sede das diretorias regionais, são construções para
acomodarem as diretorias regionais e as agências no mesmo edifício, rede de pequenas
agências implantadas primeiramente no nordeste, sobretudo nas capitais e mais tarde
nas cidades de médio porte. Eram edifícios maiores que todos os outros tipos,
pertenciam às 1ª e 2ª classes, possuíam algumas características cubistas, predominava
o jogo entre as formas prismáticas remetendo à edifícios modernista, possuíam
volumetria geometrizada particulares do Art Déco e eram implantados geralmente em
esquinas, nas áreas centrais da cidade.

Figura 29. Edifício tipo DR, Aracaju- SE e Cuiabá- MT. Fonte: REIS, Márcio Vinicius. O art déco na Obra
Getuliana: moderno antes do modernismo. 2014. 279 p. Tese (Doutorado em História e Fundamentos
da Arquitetura e Urbanismo)- Arquitetura e Urbanismo, FAUUSP, São Paulo, 2014.

Figura 30. Edifício tipo DR, Vitória-ES e Campanha-MG. Fonte: REIS, Márcio Vinicius. O art déco na Obra
Getuliana: moderno antes do modernismo. 2014. 279 p. Tese (Doutorado em História e Fundamentos
da Arquitetura e Urbanismo)- Arquitetura e Urbanismo, FAUUSP, São Paulo, 2014.
Figura 31. Edifício tipo DR, Maceió- AL e Barbacena- MG (linha de cima), Franca- SP e Sorocaba- SP
(linha de baixo). Fonte: REIS, Márcio Vinicius. O art déco na Obra Getuliana: moderno antes do
modernismo. 2014. 279 p. Tese (Doutorado em História e Fundamentos da Arquitetura e Urbanismo)-
Arquitetura e Urbanismo, FAUUSP, São Paulo, 2014.

DEPARTAMENTO DOS CORREIOS E TELÉGRAFOS DE CUIABÁ

O geógrafo Aníbal Alencastro aponta, em relato oral, que o terreno hoje ocupado
pelo prédio dos Correios era inicialmente residência do Juiz de Fora, que se envolveria
posteriormente em um escândalo e abandonaria a edificação. Esta então seria ocupada
pelo colégio Liceu Cuiabano por alguns anos, contudo, com o crescimento populacional
e o aumento do número de alunos, a estrutura já não comportava o uso do colégio, que
se mudou para um novo endereço.
A edificação na Praça da República estava desocupada e então fora demolida.
Somente na década de 30 é que a Construtora Pederneiras começaria a construção do
prédio dos Correios, fazendo uso do concreto armado como material construtivo.
Ainda de acordo com Aníbal, Cuiabá não possuía tanto mão de obra qualificada
quanto matéria prima adequada para o preparo do concreto armado. Assim, o Rio Cuiabá
foi dragado em busca da areia para sua produção. Já o aço e a mão de obra, foram
trazidos do Rio de Janeiro.
O prédio dos Correios tem planta baixa em formato U, abrigando um pátio interno.
O piso é em taco e ladrilho hidráulico (encontrado principalmente nas alas laterais do
primeiro pavimento, cozinhas e banheiros). A cobertura original é em laje plana que se
projeta para o exterior do edifício, como a marquise. As esquadrias são em ferro e vidro,
podendo ser do tipo basculante ou de abrir. O fechamento entre pilares e vigas de
concreto armado se dá com alvenaria de tijolos. Já quanto à tipologia, segue a das
Diretorias Regionais.
De acordo com Márcio Vinícius Reis em sua tese de doutorado intitulada Art déco
na Obra Getuliana: moderno antes do modernismo”, é uma reprodução da DR de Aracaju
em Sergipe, que, por sua vez, se baseou na DR de São Luís no Maranhão.

CORREIOS DE CUIABÁ

Figura 32. Sede dos Correios e Telégrafos de Cuiabá (MT), construída na década de 30, pela Construtora
Pederneiras S/A. Foto da década de 60. Fonte: IBGE, Acervo fotográfico do. Disponível em:
http://www.biblioteca.ibge.gov.br/index.php/biblioteca-catalogo?view=detalhes&id=424506>. Acesso em:
12 de set de 2017. Foto: Acervo do IBGE.
CORREIOS DE ARACAJU

Figura 33. Edifício tipo DR, Aracaju- SE e Cuiabá- MT. Fonte: REIS, Márcio Vinicius. O art déco na Obra
Getuliana: moderno antes do modernismo. 2014. 279 p. Tese (Doutorado em História e Fundamentos
da Arquitetura e Urbanismo)- Arquitetura e Urbanismo, FAUUSP, São Paulo, 2014.
CORREIOS DE SÃO LUÍS

Figura 34. Edifício tipo DR, São Luís- MA e Cuiabá- MT. Fonte: REIS, Márcio Vinicius. O art déco na Obra
Getuliana: moderno antes do modernismo. 2014. 279 p. Tese (Doutorado em História e Fundamentos
da Arquitetura e Urbanismo)- Arquitetura e Urbanismo, FAUUSP, São Paulo, 2014.
Todavia, ainda com a regularidade das tipologias, o prédio dos Correios facilita e
complementa a leitura do terreno, quase como se fossem feitos um para o outro.
Localizado numa esquina, apresenta um chanfro entre a fachada voltada para Praça da
República e a fachada voltada para a Rua 13 de Junho, indicando continuidade da
edificação, reforçada pelo sequenciamento das janelas. O edifício é composto por três
blocos verticais articulados, que sugerem o caimento do terreno através da diferença de
gabarito. Entretanto, os três blocos são interligados por um cinta de alvenaria na altura
do peitoril das janela, quase como se fossem amarrados, garantindo a unidade da
edificação. A entrada é bem marcada hierarquicamente através de um grande pórtico
levemente avançado em relação ao restante do volume, havia ainda a escada que
conduzia ao interior do edifício.
Todas estas características são muito bem descritas em “Arquitetura Moderna em
Mato Grosso: diálogos, contrastes e conflitos”, tese de doutorado de Ricardo Silveira
Castor pela FAUUSP orientada por Hugo Massaki Segawa:

“[...] o prédio dos Correios apresenta-se como uma sequência de blocos articulados, resultando numa
volumetria mais complexa e dinâmica. O resultado sugere um efeito de escalonamento entre os três blocos
paralelos que compõem a fachada, em sintonia com o caimento do terreno. A reforma posterior que
ampliou a terceira ala, à direita de quem entra no prédio, só fez reforçar essa impressão. A relativa
autonomia dos blocos é garantida visualmente por meio de leves recuos, recortes e diferenças de gabarito.
Nada que possa comprometer a unidade do conjunto, realçada com sutileza pela faixa horizontal de
alvenaria que percorre a meia altura as três alas frontais, amarrando-as.
[...] Ao invés da platibanda a esconder um telhado cerâmico, como no casarão vizinho, o que se vê agora
é uma laje plana de concreto, que se projeta para além do plano da fachada a título de beiral. É clara a
relação visual da linha do beiral com a marquise de concreto em balanço e com as vergas do mesmo
material que cortam indistintamente as janelas do térreo. Pena que essas peças tenham sido removidas
posteriormente, pois garante mais iluminação ao saguão do térreo sem prejuízo da modulação das
modernas esquadrias metálicas, do tipo basculante. Além disso, elas compunham uma faixa contínua que
alcançava a marquise frontal e as bandeiras dos três portais de acesso. Para completar, uma profusão de
caixa de ar-condicionado na fachada, a inclusão de platibandas, a supressão de duas janelas do térreo e
a abertura de outras tantas no andar superior acabaram por arruinar as qualidades originais do histórico
edifício. ”

O prédio do Correios passou por diversas intervenções e ampliações, que acabam


por descaracterizar o edifício original. Internamente a edificação também sofreu
descaracterizações, as ampliações trouxeram novo tipo de cobertura: em telha de
fibrocimento e até mesmo apêndices em policarbonato. O pátio interno que funciona
como suspiro, garantindo iluminação e ventilação natural, hoje se mostra como um
espaço esquecido, destinado aos exaustores dos aparelhos de ar condicionado. Com a
criação de novos ambientes, foram instaladas paredes divisórias que delimitam
corredores sem ventilação natural ou mecânica, contando apenas com iluminação
artificial. O piso original quase não pode ser encontrado, por outro lado, em boa parte do
segundo e terceiro pavimento, o piso flutuante se faz presente com intuito de
proporcionar maior flexibilidade das instalações hidro sanitárias nas novas salas.
Figura 35. Planta Baixa original, pavimento térreo do Departamento de Correios e Telégrafos de Cuiabá,
MT. Fonte: Área de Engenharia da Superintendência Estadual de Mato Grosso da Empresa Brasileira de
Correios e Telégrafos - ECT.
Figura 36. Planta Baixa original, segundo pavimento do Departamento de Correios e Telégrafos de Cuiabá,
MT. Fonte: Área de Engenharia da Superintendência Estadual de Mato Grosso da Empresa Brasileira de
Correios e Telégrafos - ECT.
Figura 37. Corte Longitudinal do Departamento de Correios e Telégrafos de Cuiabá, MT. Fonte: Área de
Engenharia da Superintendência Estadual de Mato Grosso da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos
- ECT.

Figura 38. Vista Frontal do Departamento de Correios e Telégrafos de Cuiabá, MT. Fonte: Área de
Engenharia da Superintendência Estadual de Mato Grosso da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos
- ECT.
Figura 39. Planta Baixa ampliação, terceiro pavimento do Departamento de Correios e Telégrafos de
Cuiabá, MT. Fonte: Área de Engenharia da Superintendência Estadual de Mato Grosso da Empresa
Brasileira de Correios e Telégrafos - ECT.

Figura 40. Planta Baixa ampliação, segundo pavimento do Departamento de Correios e Telégrafos de
Cuiabá, MT. Fonte: Área de Engenharia da Superintendência Estadual de Mato Grosso da Empresa
Brasileira de Correios e Telégrafos - ECT.
Figura 41. Planta Baixa projeto de ampliação, segundo e terceiro pavimentos do Departamento de Correios
e Telégrafos de Cuiabá, MT. Fonte: Área de Engenharia da Superintendência Estadual de Mato Grosso
da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos - ECT.

Figura 42. Projeto de ampliação, alterações na fachada, planta e cobertura do Departamento de Correios
e Telégrafos de Cuiabá, MT. Fonte: Área de Engenharia da Superintendência Estadual de Mato Grosso
da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos - ECT.
Figura 43. Pátio interno do Departamento de Correios e Telégrafos de Cuiabá, MT. Fonte: elaborada pelos
autores.

Figura 44. Pátio interno do Departamento de Correios e Telégrafos de Cuiabá, MT. Fonte: elaborada pelos
autores.
Figuras 45 e 46. Pátio interno do Departamento de Correios e Telégrafos de Cuiabá, MT. Fonte: elaborada
pelos autores.

Figura 47. Frontão no Departamento de Correios e Telégrafos de Cuiabá, MT. Fonte: elaborada pelos
autores.
Figuras 48 e 49. Escadas no Departamento de Correios e Telégrafos de Cuiabá, MT. Fonte: elaborada
pelos autores.

Figuras 50 e 51. Divisória das salas do Departamento de Correios e Telégrafos de Cuiabá, MT. Fonte:
elaborada pelos autores.
Figura 52. Esquadria e vista de sala do Departamento de Correios e Telégrafos de Cuiabá, MT. Fonte:
elaborada pelos autores.

Figura 53. Vista da Praça da República de sala do Departamento de Correios e Telégrafos de Cuiabá, MT.
Fonte: elaborada pelos autores.
Figura 54. Área de acesso público do Departamento de Correios e Telégrafos de Cuiabá, MT. Fonte:
elaborada pelos autores.

Figura 55 Área de acesso público do Departamento de Correios e Telégrafos de Cuiabá, MT. Fonte:
elaborada pelos autores.
Figura 56. Caixa postal em ferro fundido do Departamento de Correios e Telégrafos de Cuiabá, MT. A Área
de Engenharia da Superintendência Estadual da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos informa que
não possui registro sobre a data de anexação deste caixa de coleta na fachada da antiga Sede dos
Correios e Telégrafos. Contudo, a caixa não se encontra no projeto arquitetônico original. Fonte: elaborada
pelos autores.

CONCLUSÃO

A partir da análise de contexto histórico e dos exemplos citados, foi possível


compreender como a flexibilidade, no sentido de abertura da linguagem do Art Déco foi
essencial para a disseminação do estilo no território brasileiro. A sua ampla aplicação
nas artes plásticas, visuais e arquitetônicas faz-se de notória atenção como recurso de
difusão Europa afora.
Ainda é importante citar como essa versatilidade ajudou a explorar o conceito de
modernização do país, através da sua utilização nas obras públicas. Nesse passo, as
políticas públicas, especialmente do governo de Getúlio Vargas, contribuíram para tal
disseminação em escala nacional.
A política exerceu uma ação direta sobre a criação da Sede dos Correios e
Telégrafos, a qual se consolida como um marco na transformação estilista da arquitetura
no Estado, mostrando bem a transição do eclético ao modernismo. Essa transição ocorre
em todas as regiões brasileiras, mas se tratando do município de Cuiabá, de origem
colonial, tal transição é de muita relevância. Menos de duas décadas antes da ditadura
getulista, as políticas públicas que influíam sobre as obras edilícias eram, em sua
maioria, neocoloniais e ecléticas.
Nessa perspectiva, o Correios propicia a visibilidade de um estilo novo e moderno,
de técnicas construtivas novas e desconhecidas por Cuiabá. Alguns anos após sua
construção, as Obras Oficiais contribuíram para a maior visibilidade da técnica, a qual
seria também reforçada posteriormente, quando projetos modernistas se consolidam em
Cuiabá, como é o caso do Palácio Alencastro.
Importante ressaltar as tipologias arquitetônicas como importante instrumento de
difusão do Art Déco a partir das agências criadas no país. Embora tenha ocorrido
alterações posteriores na antiga Sede, a tipologia se mostra como um elemento de
distinguibilidade. Nesse passo ainda, é de relevância do Estado que o edifício da antiga
Sede dos Correios seja um patrimônio cultural tombado, visto que há elementos valiosos
tanto para a comunidade acadêmica, quanto para a sociedade em geral.
Esses elementos podem se destrinchar quanto: à tipologia, ao estilo, à
implantação (em região de entorno, cercada por bens tombados pelo Estado de Mato
Grosso), ao tempo de construção e data, às técnicas e materiais, assim como à
representatividade que faz de uma antiga política pública nacional, entre outros fatores.
A dificuldade de encontrar acervos bibliográficos e fotográficos (antigos) sobre este
edifício é relevante também, e uma compilação das suas informações gerais seria de
utilidade pública, visto que informações podem ser perder, como é o caso do registro da
caixa de coleta, situada na fachada do edifício, que se perdeu no próprio acervo do ECT
ao longo do tempo (Informação passada por mensagem de celular, por Joilson Lopes da Silva,
Arquiteto e Urbanista da Gerência Técnica da Superintendência Estadual de Mato Grosso, ECT, 2017).
Essas considerações são relevantes para a manutenção do edifício como patrimônio da
sociedade cuiabana, mato-grossense e brasileira.
A partir do exposto, conclui-se que este presente trabalho acadêmico contribuiu
para a melhor compreensão do estilo Art Déco, tendo como objeto de estudo o edifício
da antiga Sede dos Correios e Telégrafos de Cuiabá (MT). A pesquisa realizada
contribuiu para o entendimento da região central de Cuiabá, especialmente com o apoio
do célebre geógrafo Aníbal Alencastro, que recebeu a equipe com grande hospitalidade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
REIS, Márcio Vinicius. O art déco na Obra Getuliana: moderno antes do modernismo. 2014.
279 p. Tese (Doutorado em História e Fundamentos da Arquitetura e Urbanismo)- Arquitetura e
Urbanismo, FAUUSP, São Paulo, 2014.

ALENCASTRO, Aníbal. Aníbal Alencastro: depoimento. 08 ago de 2017. Entrevistadores:


ARAUJO, E. B.; BATTISTETTI, L. T.; GASPAR, S. O.; TAPAJÓS, V. F. S. Cuiabá: Residência
Alencastro, 2017.

CASTOR, R. S. Arquitetura Moderna em Mato Grosso: diálogos, contrastes e conflitos. Tese


(Doutorado). Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo. São Paulo,
2013.
CASTOR, Ricardo Silveira. Modernidade e primitivismo na arquitetura de Mato Grosso:
Confrontos da segunda metade do século 20. 2010. Disponível em:
<http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/11.126/3637>. Acesso em: 08 set. 2017.

Você também pode gostar