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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO

Juliana Naomi Kohigashi - 10726040


AUH0156- História e Teorias da Arquitetura IV

Fichamento Individual do texto


Arquitetura Moderna Brasileira - Sylvia Ficher e Marlene Milan Acayaba

São Paulo
2022
A obra Arquitetura Moderna Brasileira (Projeto, 1982) foi produzida entre 1978 e
1980 e publicada posteriormente, no ano de 1982. Redigido por Sylvia Ficher - graduada
em Arquitetura pela Universidade de São Paulo, Doutora em História Social pela
FFLCH/USP - e Marlene Acayaba - arquiteta formada na Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade de São Paulo (1973), mestre (1983) e doutora (1991) pela
mesma universidade . As áreas de estudo, de ambas arquitetas, envolvem temas como o
urbanismo, urbanização brasileira e produção arquitetônica, além de se destacarem por
suas notáveis produções acadêmicas. Sob esse viés, o livro assume os últimos cinquenta
anos de arquitetura - com o surgimento da produção arquitetônica moderna por volta de
1930, até 1980 - como um acervo de um conjunto de objetos arquitetônicos e de ideias, cuja
interação sugere uma leitura a partir do lugar, da região do país, de onde cada obra foi
produzida.
Seu conteúdo busca traçar uma visão da arquitetura brasileira, desde as primeiras
manifestações modernistas no país até aquele momento. Para prepará-lo, as autoras
visitaram as principais cidades do país – Rio de Janeiro, Salvador, Recife, Fortaleza e
Curitiba – entrevistando arquitetos, visitando obras e recolhendo material e, onde não
puderam ir, valeram-se de informantes respeitáveis e teses de doutorados para coleta de
dados. Diferentes arquitetos e suas obras dominam de forma completa o texto, e por meio
de uma exaustiva descrição de cada objeto, as autoras tentam fazer do discurso um cenário
preparado para outras ideologias entrarem - por meio do prelúdio da ideia do mapa da ideia
de região, da fixação de parâmetros para uma possível abordagem indutiva da arquitetura
brasileira. Sob um outro prisma, em se tratando da divisão de capítulos, foram selecionados
para análise diferentes regiões do país e suas respectivas peculiaridades arquitetônicas e,
em algumas vezes, como se deu sua influência na escala nacional, criando e difundindo
novas tendências pelo território.

De início, em um contexto histórico, entende-se que o cenário pós guerra não havia
rompido com uma ordem preexistente como observado nas demais localidades do globo.
Aqui, o surgimento do estilo arquitetônico moderno nasceu, de fato, em meio a esse
contexto:

“Aqui a guerra não significara uma ruptura de igual ordem daquela que
ocorrera na Europa e nos Estados Unidos. Pelo contrário, fora a guerra e a
conturbada década que a precedeu o que, em parte, havia permitido que a produção
brasileira preenchesse o vácuo criado no cenário arquitetônico internacional.”
Simpósio Temático Panoramas da Arquitetura Brasileira Moderna e Contemporânea
Dra. Ruth Verde Zein A quatro mãos: Arquitetura Moderna Brasileira, 1978-8. (p.3).

Sendo assim, os capítulos analisados em questão, vislumbram o momento histórico


que seria dedicado a Brasília, do concurso à inauguração, entendendo também,
posteriormente, um marco que vinha sendo rotulado de "após Brasília", marcado por
mudanças estéticas e diversidades de linguagem cuja lógica talvez pudesse ser entendida
nos contextos regionais.
Inicialmente, tem-se tal capítulo destinado a Brasília (1856-60) - que encontrava-se
em um momento pós guerra e dentro de um cenário de rápida industrialização de São
Paulo. Nele, retrata-se sobretudo o processo de concepção e mudança da capital, junto ao
empenho de diversos arquitetos nesse projeto que refletiam em suas características, de
forma nítida, uma profunda influência do urbanismo racionalista - como enunciado pela
Carta de Atenas (1933). O projeto vencedor de Lucio Costa, juntamente com Oscar
Niemeyer, possibilitou uma liberdade nunca vista na concepção dos principais edifícios
institucionais da nova capital federal. Abandonou-se a noção de rua e adotou-se uma
hierarquização das funções urbanas, com grandes espaços verdes entre edifícios isolados e
a separação dos diferentes tipos de circulação, por exemplo, que levaram ao extremo os
parâmetros urbanísticos do século XX. Ali, não foram exigidos estudos econômicos,
geográficos e sociológicos no projeto de construção de Brasília, mas sim a valorização de
soluções originais e critérios formais, sendo possível questionar, atualmente,como essa
monumentalidade única tão almejada acabou por acarretar diversos problemas posteriores,
como o crescimento desordenado e a intensa segregação socioeconômica - repetindo o
típico processo de periferização das cidades brasileiras.
Nesse sentido, com a construção de Brasília, as teorias assimiladas e desenvolvidas
ali foram se concretizando em edifícios, convertendo-se aos poucos em uma contribuição
internacional. Simultaneamente, um processo intenso de regionalização ocorria, com
diferentes tipos de arquitetura surgindo no país, que atendia às necessidades econômicas e
climáticas, mudando, portanto, o caráter monumental da arquitetura e, assim, a cidade
passou a ser o foco de interesse. Deixa de existir, aqui, uma expressão dominante para a
arquitetura brasileira e há uma nova lógica de produção para cada região. São as
denominadas tendências regionais que surgiram após o ano de 1960.
Caminhando para outras áreas do país, vemos que até meados dos anos 50 a
arquitetura, principalmente em São Paulo, era guiada pelos princípios do funcionalismo e do
interesse da industrialização da construção, com um emprego extensivo do concreto
aparente armado. Como exemplo, as autoras citam o ilustre edifício da Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo da USP, edifício projetado em 1961 por Vilanova Artigas e Carlos
Cascaldi, que sintetiza brevemente o rumo da arquitetura nas décadas seguintes. Citam
também, o apreço por grandes balanços, com estruturas arrojadas e principalmente o uso
de concreto armado de Paulo Mendes da Rocha, que adotou caminhos formalistas na linha
da tradição racionalista brasileira. Citam também, projetos famosos de arquitetos como
Joaquim Guedes, Carlos Millan, Fábio Penteado e Eduardo Longo. Aqui: " a preocupação
com o entorno urbano é também um tema caro aos arquitetos paulistas". FICHER, Sylvia,
ACAYABA, Marlene. Arquitetura moderna brasileira. São Paulo: Projeto, 1982. (p.63)
.
Entretanto, inicialmente era sabido que a primeira etapa da arquitetura moderna em
São Paulo apontava para a característica de isolar o edifício de seu entorno e seu uso
deixa de ser diretamente identificado: escolas, residências e clubes, por exemplo,
assumiam uma aparência similar. Suscita-se, desse modo, que tal mudança de
comportamento fosse fruto da possível influência, e amadurecimento, frente ao regionalismo
que vinha a ocorrer no decorrer desses anos.
Em paralelo a isso, toma-se como um exemplo e referência o urbanismo adotado e
previsto para a cidade de Curitiba - capital do Paraná - que obteve um grande planejamento
e desenho urbano da cidade, concretizando um projeto para a cidade como um todo. Seu
plano foi desenvolvido pelo IPPUC (Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de
Curitiba), que teve destaque e originalidade em soluções para fornecer a curto prazo, uma
rede de transporte de massas e equipamentos urbanos que faltavam à cidade. Ali, houve
um ponto raro de interesse a ser estudado: a ênfase na preservação do ambiente urbano,
aliada a melhoria da qualidade de vida e uma recusa constante de soluções convencionais
tecnocráticas. Tais medidas permitiram, com efeito, a manutenção da escala urbana
paralela ao crescimento demográfico, se diferenciando das demais cidades brasileiras.
Partindo para uma análise do processo ocorrido no Rio de Janeiro - ao ser
notavelmente diferente do observado em São Paulo - as autoras retratam um empenho em
estabelecer uma nova arquitetura, principalmente nos anos 30 e 40, que gerou uma relativa
unidade na expressão arquitetônica carioca de vanguarda, como uma linguagem universal.
Sabemos neste momento, que o projeto de Brasília por ser concebido apenas por dois
arquitetos, já não correspondia ao conjunto da arquitetura brasileira. Aqui, havia um
compromisso com o racionalismo e seu intenso urbanismo, com uma nítida diferenciação
nas expressões arquitetônicas da malha tradicional urbana e o sítio acidentado a beira mar -
a arquitetura passa a ter um caráter cênico, sempre se moldando ou nos remetendo à
paisagem. Pontua-se, desse modo, que a mudança da capital para Brasília fez com que a
demanda de projetos institucionais diminuíssem consideravelmente no Rio de Janeiro,
aumentando e diversificando a produção de obras privadas - efeito que recaiu sobre a
atuação dos arquitetos Oscar Niemeyer e Lúcio Costa.
Em uma última instância e observando a região nordeste, vemos que foi
imprescindível o abandono parcial do repertório racionalista até então adotado, sendo
necessária uma acomodação da arquitetura moderna às marcantes características
socioculturais e climáticas locais. A paisagem e o clima se tornam componentes
fundamentais das obras, e soluções como pilotis e brises-soleis são comumente adotadas
nessas latitudes visando superar as altas temperaturas. O arquiteto Paulo Cardoso,
responsável por realizar projetos para agências do Banco do Nordeste, é citado como um
exemplo desse cenário. O mesmo utilizou a arquitetura ao seu favor na tentativa de
contornar os empecilhos climáticos: adotou panos de água e coberturas duplas em seu
projeto para contornar o uso do ar condicionado. Aqui temos a adoção características até
então tidas como peculiares, como pés direitos altos, espaços interligados por paredes de
meia altura ou vazadas, pátios que se ligam ao interior sem solução de continuidade e a
resistência em usar o material de vidro em soluções projetuais - características que foram
necessárias como resposta frente ao ambiente em que as obras estavam inseridas.
Por fim, de um modo geral, o texto se baseia em uma descrição contínua de obras e
edifícios que carregam consigo um compromisso com sua história e momento de projeto,
com a natureza, com os seus métodos e valores. A abordagem histórica, portanto, ocorre
em função de uma teoria que procura explicar os fatos sob a ótica da visão de mundo de
quem a produziu, de suas ideologias. Vemos diferentes casos, cada uma das obras
descritas e apresentadas, cada um dos arquitetos, representa um estágio de assimilação ou
de rebeldia frente a essa nova forma de arquitetura e suas teorias concebida e formalmente
marcada pela construção de Brasília e como seus efeitos se deram ao longo da formação
da arquitetura nacional como um todo.
Referências bibliográficas:

FICHER, Sylvia, ACAYABA, Marlene. Arquitetura moderna brasileira. São Paulo: Projeto,
1982. p. 36-106

Simpósio Temático Panoramas da Arquitetura Brasileira Moderna e Contemporânea Dra.


Ruth Verde Zein A quatro mãos: Arquitetura Moderna Brasileira, 1978-82

Marlene Milan de Azevedo Acayaba, Escavador, 2020. Disponivel em:


<https://www.escavador.com/sobre/1212701/marlene-milan-de-azevedo-acayaba>

Sylvia Ficher, Escavador, 2022. Disponível em:


<https://www.escavador.com/sobre/3616532/sylvia-ficher>.

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