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Esse julgamento estético das formas é totalmente subjetivo, tendo em vista a apreciação
de alguns e a antipatia de outros. É importante, porém, salientar que desde seu princípio
o Modernismo tende a ser polêmico quanto a sua apresentação – e é nesse ponto que está
caracterizado seu espírito revolucionário, por meio da ruptura com o status quo
tradicionalista.
Essas características formais, que até hoje geram críticas, são claramente notáveis, por
exemplo, naquela que foi considerada a primeira residência modernista construída no
Brasil em 1927 (Figura 1), projetada pelo arquiteto Gregori Warchavchik (1896-1972),
então recém-chegado ao país. Warchavchik foi um dos primeiros arquitetos a contestar a
produção neocolonial na arquitetura daquele período.
Figura 1. Casa da Rua Santa Cruz, em São Paulo, projetada pelo arquiteto Gregori Warchavchik. Fonte:
Shutterstock. Acesso em: 08/09/2020.
Em relação à escala urbana, a construção de Brasília marca um importante momento da
história do país e era a grande promessa, em termos de progresso, que o Brasil tanto
almejava. Construída no mandato de Juscelino Kubitschek (1902-1976), no final da
década de 1950, os preceitos do Modernismo foram aplicados em Brasília pelo arquiteto
Lúcio Costa (1992-1998) com seu Plano Piloto, vencedor do concurso realizado para a
execução do projeto urbanístico da nova cidade. A concepção tinha definições claras de
setorização urbana – em regiões habitacionais, de lazer e a organizacionais –, acentuadas
por um eixo central de escala monumental com edifícios projetados por Oscar Niemeyer
(1907-2012).
Brasília tem zonas bem definidas e divididas, o que, na teoria, permitiria uma disposição
facilitada dos diversos serviços, atendendo às necessidades dos seus moradores. O
automóvel, porém, que se torna o meio de transporte ideal para a locomoção na cidade,
não é um produto acessível a todos os cidadãos, que acabam tendo a necessidade de
caminhar pelo tecido urbano e utilizar o transporte público – e, como os serviços e os
locais de trabalho são distantes das residências, o transporte público torna-se insuficiente
devido à alta demanda. Em horários não comerciais, as áreas centrais ficam vazias,
favorecendo a crescente violência urbana em um país que sempre fora tão desigual, e a
escala torna a caminhabilidade inviável, posto que esta é muito distante da escala humana
e torna a caminhada muito mais longa. Isso posto, os aspectos modernistas da cidade de
Brasília serão mais aprofundados posteriormente.
EXPLICANDO
O positivismo foi uma doutrina filosófica do século XIX formulada pelo filósofo Auguste
Comte (1798-1857), - decorrente do Iluminismo. Com ênfase na sociedade industrial e
com grande inclinação para as questões sociais, o positivismo baseava-se na ciência como
única verdade absoluta.
Podemos, então, notar a presença da corrente positivista no Brasil no final do século XIX,
com a criação da bandeira do país com os dizeres “Ordem e progresso” – definindo-o
como uma nação que estava a caminho do futuro –, e também na Era Vargas, quando é
implementado o Estado Novo. O cientificismo pode ser identificado como uma das
origens do aspecto racional do Modernismo, levando-se em consideração tanto seus
aspectos ideológicos quanto as técnicas construtivas da época.
Ainda no final do século XIX, Paris era uma das principais cidades do mundo ocidental.
Conhecida como Cidade Luz, ou Ville Lumière, Paris ainda tinha grande influência sobre
as artes no início do século XX. O espírito inovador e progressista da cidade era
disseminado pelo mundo por intelectuais, e acabaria por entusiasmar algumas figuras
importantes que compunham a classe artística brasileira.
CITANDO
As cinco características essenciais para uma construção moderna eram defendidas por Le
Corbusier como “os cinco pontos para uma nova arquitetura”. São eles: (1) pilotis; (2)
terraço-jardim; (3) planta livre; (4) fachada livre; e (5) janela em fita. Esses seriam os
principais componentes da arquitetura moderna (MACIEL, 2002).
A busca pela identidade nacional estava, então, em um dilema: como adquirir uma nova
roupagem nacionalista com um estilo arquitetônico importado? Como já abordado, os
ideais racionalistas corbusianos do estilo internacional eram universais, resultando em
uma arquitetura padronizada. Entretanto, no Brasil, graças a um arquiteto modernista que
questionou a dureza da forma universal, pudemos obter um estilo próprio, tipicamente
brasileiro, e que seria um dos maiores influenciadores da arquitetura contemporânea:
Oscar Niemeyer.
Niemeyer, ainda jovem, fez parte a equipe de Le Corbusier no projeto do Edifício Gustavo
Capanema e conhecia bem os princípios do estilo internacional. Todavia, segundo o
próprio arquiteto, em diversas entrevistas que deu ao longo de sua carreira, a arquitetura
devia ser mais do que linhas ortogonais engessadas. Niemeyer acreditava que as formas
podiam expressar mais do que apenas funcionalidade e que o objeto construído podia ser,
também, um objeto de admiração, despertando sensações e sentimentos em seus usuários.
Nesse ponto, podemos observar uma ressignificação de alguns aspectos que a arquitetura
neocolonial valorizava como ideia: a arquitetura como arte.
Em Brasília, Niemeyer ganhou espaço para criar diversos edifícios icônicos da arquitetura
moderna, que, próximos do funcionalismo e um pouco distantes do estilo internacional,
tomam espaço na quebra do paradigma da arquitetura moderna e iniciam uma
importante transição arquitetônica, que ganhará força, sobretudo, na segunda metade
do século XX. A partir daí, a arquitetura moderna brasileira ganha um caráter singular
que ainda influencia arquitetos contemporâneos em todo o mundo.
A aspereza das construções modernas demonstra o desprezo que seus projetistas tinham
pela arquitetura tradicional. A retirada de ornamentos e a honestidade formal seriam
fundamentais para uma arquitetura genuinamente moderna. Esses preceitos, de certa
forma, influenciaram a arquitetura contemporânea, e é possível identificá-los em grande
parte de suas obras, ainda que com outra leitura.
Ainda hoje, muitas pessoas não são inclinadas a gostar desse estilo arquitetônico devido
às características anteriormente mencionadas, embora já não ocorra o estranhamento
inicial. O brutalismo – vertente da arquitetura modernista –, por exemplo, tem como
premissa permitir que a estrutura em concreto dos edifícios fique aparente, deixando
inclusive as marcas das formas em que o material foi moldado.
É possível ver essa crítica de maneira bastante ácida no filme francês Playtime, do diretor
Jacques Tati, no qual os personagens demonstram certa dificuldade em se adaptar às
invenções da vida moderna na grande metrópole de Paris. Nesse filme, há uma cena
(Figura 3) em que a vida dos moradores de um edifício é completamente exposta devido
ao tratamento em vidro da fachada.
ASSISTA
A comédia visual Playtime – Tempo de diversão, do cineasta francês Jacques Tati (1967),
na qual ele também atua como o memorável personagem Sr. Hulot, é uma crítica bem-
humorada ao estilo de vida moderno, apresentando a cidade de Paris com um aspecto bem
diferente do qual estamos acostumados a ver. Aqui, a estética futurista e fria toma conta
da cidade, e o homem é forçado a lidar com as novas tecnologias da vida moderna.
Vale ressaltar que existe uma diferença considerável quando nos referimos à "moradia"
como unidade habitacional e à "casa" propriamente dita. As unidades dos conjuntos
habitacionais, apesar de terem espaços bem divididos e garantirem, muitas vezes, o
conforto ambiental, figuravam uma experiência muito diferente daquela da casa
modernista. A casa modernista unifamiliar teria espaços também funcionais, mas
amplos, o que permitiria ao morador um desfrute diferenciado de seu entorno com, por
exemplo, vegetações preexistentes ou jardins antrópicos. A qualidade de vida nas casas
modernas é sem dúvida excelente, e sua estética, cujo apreço é subjetivo, configura uma
discussão mais rasa dentro do âmbito desse estudo.
O construtivismo russo apresenta-se como uma das vanguardas europeias que mais
influenciaram a ideologia modernista. Uma das frases mais célebres do movimento
construtivista é atribuída ao arquiteto e artista russo Lazar Markovich Lissitzky (1890-
1941), mais conhecido como El Lissitzky: “Uma arte construtivista não é a que decora,
mas a que organiza a vida”.
Essa perspectiva surge após um período de intensos conflitos mundiais que causaram
danos irreversíveis à humanidade. As atenções estavam voltadas para a reconstrução de
uma sociedade marcada por tragédias, e era preciso que o Estado assumisse o papel de
reparador social e reorganizasse as comunidades mais atingidas pela guerra, além, claro,
de reestruturar a sociedade sumariamente industrial que havia ocupado os grandes centros
urbanos.
Com toda essa percepção de bem-estar coletivo, os arquitetos modernos assumem a
missão de tornar realidade os pensamentos e premissas que transformariam a sociedade
em justa e igualitária para todos os seus cidadãos. Esses ideais eram cada vez mais
hegemônicos e cada vez mais reafirmados pelos intelectuais mais influentes como o
caminho certo para a humanidade.
O Brasil, por sua vez, passava por um período de reinvenção da sua imagem para o mundo
com a implementação do Estado Novo – e nunca chegou a ter, de fato, um projeto de
Welfare State, apesar de ocorrerem algumas políticas assistencialistas na Era Vargas. De
certo modo, quando os arquitetos importam o modelo moderno de urbanismo para o
Brasil, além de não se extrair um estudo prévio do que funcionaria em aspectos de espaço
urbano implementados na cultura brasileira, não existe, de fato, um alinhamento com os
planos governamentais.
A intenção dos arquitetos era de uma mudança social significativa para o país, e as
intenções governamentais eram puramente estéticas. O poder público estava preocupado
em atribuir ao Brasil a imagem de uma nação que olhava para o futuro, deixando de ser,
de uma vez por todas, um país atrasado, como eles julgavam.
Nesse ponto, era esperado que as divergências filosóficas entre arquitetos e o poder
público causariam os diversos problemas que surgiram mais tarde. A arquitetura e do
urbanismo descolados de políticas públicas não teriam o poder transformador esperado.
Essa percepção é confirmada ao longo das décadas que seguiram à experiência
modernista no Brasil e no mundo.
Outra importante observação parte da análise do lugar que esses arquitetos modernos
ocupavam dentro da sociedade. Todas as discussões ocorridas nos CIAMs sobre
arquitetura e cidade foram realizadas a partir de um olhar da classe média. Os conceitos
modernistas, de modo geral, partem de um discurso atribuído a uma classe mais abastada,
da qual arquitetos e intelectuais daquele período faziam parte. A utopia de mudança social
por meio da arquitetura parte de uma análise limitada dos verdadeiros causadores de
tamanha desigualdade social. Seria, então, ingenuidade pensar que apenas a reformulação
de um tecido urbano ou a implementação de um novo edifício poderia transformar a
realidade social de um país.
No Brasil, Juscelino Kubitschek tomava posse em 1956, e teve como principal promessa
de campanha a transferência e a construção da nova capital do país. O local onde seria a
nova capital já havia sido proposto há muitas décadas e se tornou um consenso: o Planalto
Central do Brasil. Essa concordância sobre a localidade exata da nova capital do país
parte, principalmente, da intenção de povoamento da região central do território nacional
e do distanciamento da capital das regiões costeiras, ou seja: tratava-se de um projeto de
interiorização.
Lúcio Costa, então seguidor dos preceitos estritamente modernistas, foi o vencedor do
concurso nacional elaborado pela Novacap. O Plano Piloto proposto por Costa (Figura
8) consiste na intersecção de dois eixos: o eixo monumental (leste-oeste), onde ficam os
principais edifícios do governo federal; e o eixo habitacional (norte-sul), onde estão
localizadas as habitações, divididas em superquadras. Bem ao centro de Brasília,
localiza-se a estação rodoviária. Um dos preceitos rodoviaristas para a capital era que não
houvesse cruzamentos de vias, e a solução para isso foi utilizar elevados para a melhor
fluidez do trânsito.
Figura 8. Esboço do Plano Piloto de Brasília por Lúcio Costa. Fonte: BARATTO, 2017b.
Brasília nasce não apenas com o objetivo de ser a mais nova capital do Brasil, resultado
de um plano de interiorização do país, mas também como a materialização do pretensioso
objetivo de figurar uma nova imagem nacional perante o mundo, determinando o destino
do urbanismo.
A construção de Brasília foi um marco na história do Brasil e responsável pela migração
de trabalhadores em busca de trabalho na construção civil (Figura 9). Os candangos,
como eram chamados, deixavam seu local de origem rumo à nova capital em busca de
emprego e melhores condições de vida. Muitos deles migraram com suas famílias, outros
foram contando com a própria sorte. Como Brasília ainda estava sendo construída, não
havia locais de habitação, o que levou os trabalhadores a improvisar moradias e ocupar
espaços ao redor e dentro do Plano Piloto.
Figura 9. Candango caminhando em direção a Brasília e cartaz mostrando o debate que existia sobra a
transferência da capital brasileira. Fonte: BARATTO, 2018.
A necessidade de realocação, por parte do poder público, das famílias que ocupavam
irregularmente a região do Plano Piloto deu origem às então chamadas cidades-satélite.
As cidades-satélite eram agrupamentos próximos à capital que hoje compõem diferentes
Regiões Administrativas do Distrito Federal. Às famílias que deviam deixar as “invasões”
na capital, seriam destinados assentamentos nessas regiões, fora do traçado central de
Brasília.
Nesse ponto, podemos, então, constatar que os ideários modernistas nunca seriam
concretizados sem alinhamento com o poder público. Se o poder público não estivesse
disposto a implementar políticas sociais em união com os modelos de cidade que eram
propostos, o objetivo final da erradicação da desigualdade social nunca seria atingido. O
exemplo de Brasília mostra-nos que apenas o desenho urbano e arquitetônico não tem o
poder de mudança social. Após algumas experiências urbanas decepcionantes ao redor do
mundo, o Modernismo entra em profunda cser_educacional, que se acentua na segunda
metade do século XX.
O processo de interiorização do Brasil também não ocorreu como esperado, tendo em
vista que grande parte da população brasileira continuaria ocupando as capitais costeiras
muito tempo depois da inauguração da nova capital. Mesmo com todos os esforços,
Brasília ainda não configurava-se atrativa o suficiente para os brasileiros deixarem os
limites continentais e migrarem para o centro do país.
O projeto de Brasília receberia, ainda, avaliações negativas em relação à composição
urbana. Uma das maiores críticas feitas ao Plano Piloto de Lúcio Costa é a utilização –
ou não – da escala humana. Com a priorização dos edifícios e do automóvel, a escala
humana deixa de ser favorecida. As ruas são muito largas, os edifícios, muito distantes, e
a caminhabilidade é massiva (Figura 10). Assim, o espaço urbano torna-se inóspito e
bastante hostil ao pedestre.
Ademais, não é apenas em Brasília que podemos observar essa segregação territorial.
Alguns planos diretores para as metrópoles brasileiras, desenvolvidos ao longo do século
XX, foram caracterizados pelas influências funcionalistas e viriam moldar o conceito das
cidades brasileiras ainda hoje, agregando diversos problemas de cunho social, limitando
o direito à cidade e evoluindo para um intenso processo de gentrificação.
Figura 10. Vista aérea do Eixo Monumental de Brasília. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 08/09/2020.
Um grande problema dos planos urbanísticos modernos para as cidades brasileiras está
justamente em sua implementação parcial. As cidades não são projetadas com
homogeneidade e também não há um planejamento para seu crescimento natural. O
próprio exemplo de Brasília mostra que o traçado planejado do Plano Piloto é bem
destoante do resto da malha urbana da região administrativa, e que não existe uma
interligação deixa de ser favorecida.
DA UTOPIA AO DECLÍNIO
O maior equívoco do urbanismo moderno foi justamente ter como base modelos de
cidades e moradia que não tinham precedentes na história. A proposta moderna não se
baseava em melhorar o que já existia, mas em como as cidades supostamente deviam ser,
partindo de um modelo imaginário e julgando os aspectos do presente a partir de um
modelo ainda inexistente (HOLSTON, 2010). Brasília, que pretendia mudar a realidade
social do Brasil, já nasce com fortes problemas sociais e de segregação espacial,
demonstrando que o projeto urbanístico sozinho não tem o poder de mudar a sociedade –
mas, sim, as políticas públicas e o interesse privado. Niemeyer compreendeu as limitações
do poder transformador da arquitetura diante dos problemas sociais e assumiu a
contradição de sua prática profissional perante suas ideologias pessoais.
Figura 11. Maquete de modelo das superquadras em Brasília. Fonte: IBGE, [19--].
O conceito de escola-parque é um dos maiores legados da história do Modernismo
brasileiro. O acesso integral à cidade e à melhor qualidade de vida também se estendiam
ao acesso a uma educação pública satisfatória. Na década de 1950, o educador Anísio
Teixeira (1900-1971) estava à frente do INEP (na época, Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas) e havia desenvolvido um projeto educacional que denominou de educação
progressiva.
Esse programa, objeto de estudo de Teixeira por vários anos, consistia em um novo
modelo de educação básica para as escolas públicas que transcendia o espaço da sala de
aula, oferecendo ao estudante diversas outras oportunidades de práticas e aprendizado em
espaços diferenciados ao longo de um complexo, por tempo integral.
DICA
A forma sob pilotis proporcionava um espaço livre e coberto a nível do solo, que podia
ser utilizado como área de lazer mesmo em dias de chuva. O gabarito dos edifícios tem
um limite de até seis pavimentos, mais a área sob pilotis, garantindo que mesmo as
unidades mais altas tivessem uma conexão próxima com o nível da quadra, onde, por
exemplo, as crianças estariam brincando e as mães pudessem ter uma comunicação direta
com elas.
Figura 12. Vista aérea da Superquadra 308 Sul. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 08/09/2020.
Apesar da nobre intenção de se obter uma cidade voltada à coletividade, Brasília ainda
apresenta vários problemas morfológicos que foram alvo de críticas após sua inauguração
e ainda o são atualmente. A experiência com a nova capital foi suficiente para o
surgimento de discussões sobre como as cidades devem ser projetadas, sendo, inclusive,
um exemplo para o urbanismo contemporâneo de como não deveria ser a estrutura urbana.
Muitas dessas críticas são, na verdade, direcionadas à metodologia projetual do
urbanismo moderno. Segundo Gehl (2013, p. 196):
DICA
Em seu livro Cidade para pessoas, o arquiteto Jan Gehl esmiúça todos os parâmetros a
serem considerados pelo planejamento urbano contemporâneo, tendo a escala humana
como protagonista. São discutidos os problemas que o autor encontrou em Brasília em
sua visita, assim como os problemas e soluções encontrados em outras cidades ao redor
do mundo.
Esse conceito equivocado de planejamento urbano rodoviarista, alheio aos pedestres, foi
disseminado aos montes pelo mundo afora e ainda se apresenta como um modelo
urbanístico praticado nas escolas de arquitetura e urbanismo. Ainda que feito em caráter
pontual nos planos de intervenção urbana, o modelo moderno de cidade não é bem-visto
pelos urbanistas contemporâneos e é também bastante criticado pela população de modo
geral, que expressa suas insatisfações no cotidiano, principalmente na questão do
transporte público.
Todavia, o fator mais relevante responsável pela ruína do Pruitt-Igoe, muito mais do que
escolhas equivocadas de projeto, foi o fato de que os Estados Unidos passavam por um
período intenso de tensões raciais. Inicialmente, devido às leis de segregação racial do
período, as moradias foram divididas entre negros e brancos. O conjunto denominado
“Pruitt” foi destinado aos moradores negros, enquanto o “Igoe” foi destinado aos
moradores brancos. Em meados da década de 1950, as leis de segregação começaram a
ser derrubadas, e a divisão racial dentro do conjunto habitacional também deixou de
existir legalmente.
O desmonte dessa divisão, porém, não agradou os moradores brancos, que, tendo
condições e posses suficientes para viver em outro local, deixaram o Pruitt-Igoe. Com
essa debandada, alguns moradores negros que também tinham condições financeiras
acabaram se mudando, restando no conjunto apenas as famílias negras de baixa renda.
Figura 13. Demolição do conjunto habitacional Pruitt-Igoe em 1972. Fonte: FIEDERER, 2017.
SINTETIZANDO
A arquitetura moderna estabelece-se inicialmente no Brasil com um caráter muito mais
estético do que ideológico, e buscou atribuir ao País uma nova identidade nacional,
propondo uma ruptura com as leituras estéticas de períodos anteriores. A partir disso,
temos a importação do modelo moderno por alguns arquitetos importantes do período,
como Gregori Warchavchik, Affonso Reidy, Lúcio Costa e Oscar Niemeyer. A atuação
desses arquitetos proporcionou um rico acervo arquitetônico moderno nacional.
Esse é um modelo urbano que influencia muitos arquitetos e urbanistas ainda atualmente,
mas que foi alvo de duras críticas sobre a tessitura urbana e teve uma contribuição
significativa para a restrição de acesso à cidade e para a segregação territorial, não sendo,
porém, o principal causador de tais problemas sociais.
Podemos verificar que as ações de política habitacional por parte de gestão pública têm
um poder muito mais transformador no que diz respeito ao urbanismo e inclusão social,
mas, ainda assim, não podemos excluir a importância de um bom projeto urbano e o seu
poder reformador.
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