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Acadêmica: Letícia Sala

DA NECESSIDADE DE UMA CONSCIÊNCIA NACIONALISTA

Para Corona, somente uma tendência arquitetônica brasileira possuiu


características verdadeiramente nacionais.
É com a arquitetura neocolonial que se inicia a preocupação brasileira em se
construir uma arquitetura com caráter nacional, marcada por nossas raízes e pela
intenção de se desligar da cultura importada, sendo que ela é vista como essencial ao
desenvolvimento da maturidade artística e a cultura nacional que contribui para um
pensamento moderno. Pode-se relacionar o neocolonial com a “possível gênese” da
arquitetura moderna brasileira, ele é uma antecessor das tendências modernas, e
desconectou o Brasil das tendências europeias agindo como um trampolim para o
modernismo (CARVALHO, 2002).
Segundo Luccas (2005), o surgimento da arquitetura moderna brasileira ocorreu
em um ambiente que perseguia a consolidação de uma ambicionada identidade cultural
nacional, do período da Semana de Arte moderna de 1922, de manifestos como o Pau-
Brasil e Antropofágico, da produção de uma arte moderna e um modernismo literário
brasileiro juntamente com a discussão de adotar o neocolonial como estilo que
representasse o país.
O neocolonial foi visto por muitos como um retorno à única tradição legítima,
levando vários arquitetos a uma nova série de cópias, mas para outros como Lucio
Costa, clareou o problema e os levou a retornar a tradição de uma construção mais
próxima da realidade brasileira, respondendo às exigências do clima, materiais e
necessidades arquitetônicas do povo brasileiro (MINDLIN, 2000).
O movimento modernista que surge com a Semana de 1922 foi um divisor de
águas, de um lado ocorreu uma reatualização do Brasil em relação aos movimentos
culturais e de outro implicou na busca de raízes nacionais, valorizando o que havia de
autêntico no Brasil (OLIVEN, 2001).
Corona afirma que Lucio Costa foi o mestre que levantou o questionamento
sobre as características essenciais da verdadeira arquitetura nacional, e foi a partir dai
que tiveram condições favoráveis para lutar por uma consciência nacional, para
engrandecer nossa arquitetura e impor nossa cultura.
Com esse clima nacionalista, Lucio Costa juntamente com o pensamento
intelectual e politico presente propunha uma arquitetura moderna brasileira sob a
unidade da teoria de uma expressão nativa (LUCCAS, 2005).
Lucio Costa tem grande papel nessa fase da arquitetura brasileira, em suas
analises do período de 1930 a 1940, período que antecede a construção do Ministério da
Educação e Saúde, aponta que “a arquitetura jamais passou, noutro igual espaço de
tempo, por tamanha transformação”. Nesse período de dez anos, no Brasil, a arquitetura
internacional se tornou arquitetura brasileira.
A arquitetura no Brasil e seus processos construtivos refletiam as constantes
mudanças sociais e históricas, desde a colonização até o apogeu do Império e a nova
república. Essa necessidade de adaptação às novas condições do meio e costumes
deixou sua marca na arquitetura brasileira, dando-lhe uma fluidez e uma ausência de
submissão cega à tradição formal que possibilitou essa transformação brusca citada por
Lucio Costa no parágrafo acima (MINDLIN, 2000).
Conforme Corona, os elementos da tradição que foram criados obedecendo a
razões técnicas e expressões de determinado período de desenvolvimento da nossa
sociedade continuam a ser usados na arquitetura atualmente, porém a utilização desses
elementos não deve ser feita simplesmente por copiar algo que foi bom, pois não se
enquadram na realidade de hoje. É necessário compreender que usar determinados
elementos, como sacadas corridas e azulejos, não irá determinar características
brasileiras do conjunto, pois continuaria afastada da realidade atual e longe de ser um
exemplo de arquitetura nacional. A arquitetura de determinado período não pode ser
estudada isoladamente por exemplos dispersos, mas sim, é preciso que seja enquadrada
em um conjunto da expressão cultural do povo.
Dessa forma, conhecendo as forças relativas e interdependentes da cultura
nacional é que se pode perceber em que ponto se acha a arquitetura brasileira e
compreender para que uma verdadeira consciência de características nacionalistas possa
consolidar a unidade de expressão plástica que nossa arquitetura necessita.
O formalismo, racionalismo, organicismo na arquitetura não passam de desvios
na criação artística, causados por contradições contidas na sociedade que não aspiram
nada e por isso à necessidade da criação de uma consciência nacionalista, e esse
desenvolvimento deve ser provocado por todos a fim de tornar o Brasil um pais
independente econômica e culturalmente para se alcançar condições favoráveis a nossa
cultura e assim, a arquitetura nacional passará a ter um vasto campo para seu
desenvolvimento expressando a arte de um povo conforme o meio e sua vida.

REFERÊNCIAS

CARVALHO, E. E. T. A Arquitetura Neocolonial: A Arquitetura como afirmação de


nacionalidade. Dissertação (Pós-graduação) em Arquitetura e Urbanismo da
Universidade Federal da Bahia. Salvador, 2002. Disponível em:
<http://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/12299> Acesso em: 12 out. 2017.

CORONA, E. Da necessidade de uma consciência nacionalista. In: XAVIER, A. (org.).


Depoimento de uma geração – arquitetura moderna brasileira. São Paulo: Cosac &
Naify, 2003.

LUCCAS, L. H. H. Arquitetura moderna e brasileira: O constructo de Lucio Costa


como sustentação. Arquitextos, São Paulo, ano 06, n. 063.07, Vitruvius, set. 2005.
Disponível em: <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/06.063/437>
Acesso em: 12 out. 2017.

MINDLIN, H. E. Arquitetura Moderna no Brasil. Rio de Janeiro: Aeroplano e


IPHAN, 2000.

OLIVEN, R. G. Cultura e Modernidade no Brasil. São Paulo Perspectiva [online].


2001, vol.15, n.2, pp.3-12. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S0102-88392001
000200002> Acesso em: 12 out. 2017.

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