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A formação de Curitiba sempre destacou a valorização dos

ILÉ ĘWA ODUUA


imigrantes europeus do século XIX como símbolo e razão de seu
progresso, enquanto subestimou a contribuição da população negra em
sua história.

Entretanto, ainda que haja esforço na negação das contribuições


dos negros na memória e patrimônio cultural da cidade, a participação
desta comunidade na capital paranaense se fez e faz presente. Espaços
de ação cultural com enfoque na valorização das manifestações culturais
afro-brasileiras se fazem urgentes e necessários, assegurando-lhes
infraestrutura fundamental para que sua viabilização, com espaços
multifuncionais, com adequadas condições de mobilidade,acesso e
segurança.

Na capital paranaense, a Vila Torres destaca-se como um dos


erê
Itib

Av
locais de maior relevância histórica para a cultura negra em Curitiba, sílio

.C
ra
especialmente em termos de musicalidade e religiosidade. Nos anos 1930 R. B

om
e 1940, quando ainda era conhecida como Vila Tassi, os residentes desse

.F
ran
território deram origem à primeira escola de samba da capital, a lendária R.

co
Escola de Samba Colorado. Segundo Roberto Fonseca (FREITAS, 2009) rg
io
Ve
1, a escola era formada 90% por negros, quase todos moradores da nc
i
comunidade Vila Tassi - que posteriormente, após 1949, deixou de existir
e a Vila Capanema (atual Vila Torres), na mesma região, tornou-se a nova
sede da Escola.

Cerca de 80 anos depois, e 16 anos após o fim da Escola de


Samba Colorado, em 2000, nasceu, neste mesmo local, o primeiro bloco is
afro de Curitiba. Em 2017, o Bloco Afro Pretinhosidade (BAP) se Re
dos
o
estabeleceu na região com o objetivo de promover a cultura do samba asc
arr
reggae em Curitiba. Contando com o apoio da comunidade, a iniciativa a rC
ltaz
Ba
busca a descentralização das festas, movimentando a economia local. R.

Dado crescimento do Bloco, com mais de 50 membros ativos em mapa de contexto mapa de situação
sua bateria e dança, e do adensamento construtivo na Vila, é notável a
falta de espaços com capacidade para abrigar suas atividades, tantos de
seus integrantes, quanto dos foliões e apoiadores. Por isso, após análise
aos arredores da Vila, um terreno de cerca de 13.300m2 se destaca a 210
m de distância da atual sede. Este terreno conta com as características mapa de situação
ideais para oferecer à comunidade negra curitibana e região um espaço
de qualidade, de fácil acesso e segurança das suas atividades. A nova
sede recebe o nome de Ilé Ęwa Oduua, a “Casa dos Preciosos
Descendentes”, filhos de Odùduwà, a divindade a qual se origina o povo
negro de asé 2.

O projeto fundamenta-se na aplicação do Afrofuturismo como


meio para reinterpretar conceitos arquitetônicos contemporâneos, à luz
das construções africanas e afro-brasileiras, como kraals 3, quilombos e
casas de candomblé. Assim, busca-se olhar para o passado como
estratégia para construir um futuro, incorporando uma cosmovisão negra
do mundo, à semelhança de Sankofa 4. Quando aplicado à concepção
arquitetônica, isso se reflete na adição de volumes independentes e na
valorização de áreas verdes, tal qual os kraals utilizados como locais de
culto aos orixás, nas oferendas a Iroko nos candomblés, nas sombras dos
eucaliptos da Vila Tassi durante os sambas.

1 FREITAS, João Carlos de. Colorado; A primeira Escola de Samba de Curitiba. Edição do autor, 2009.

2O termo "Povo de Asé" é utilizado no candomblé para se referir a população negra africana, de origem iorubá.
CECÍLIA E. A origem da palavra axé. Disponível em: <https://pt.babbel.com/pt/magazine/origem-da-palavra-axe>.

Durante a ocupação holandesa na África do Sul houve a criação do dialeto africaans e designava o mesmo significado.
3
Após um tempo, a palavra passou a caracterizar todo aldeamento humano cercado por paliçadas. VISTA AÉREA
4 Símbolo de sabedoria e herança africana adotado pelo afrofuturismo afro-americano (não apenas estadunidense), que
significa “nunca é tarde para voltar e apanhar o que ficou para trás”. (NASCIMENTO, 2008 apud OLIVEIRA, 2016)

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CENTRO DE AÇÃO CULTURAL ILÉ ĘWA ODUUA 1/8
A concepção do espaço se inspira nos
assentamento multifamiliares africanos,
conhecidos como kraal1, onde as
habitações não buscam a
monumentalidade dos monoblocos, mas
distribuir espacialmente as atividade na ANÁLISE DO SÍTIO SETORIZAÇÃO ENSAIO DE VOLUMES
implantaçao, através de edificações
monofuncionais. Um conjunto de kraal
forma um kilombo, ou seja, um
aldeamento.
Neste quilombo há dois kraals: um para as
atividades e serviços; outro dedicado há
um terreiro de candomblé e suas
instalações.

multifuncional / religioso
cultural
A partir do eixo, o primeiro kraal é
disposto sobre um formato com dois administrativo público
núcleos, concebendo assim a forma de
cabaça, o que na iniciação do candomblé
se conhece como igbá-orí – uma cabaça
construída durante a iniciação que contém
elementos individuais da pessoa (unhas,
cabelos etc.). Assim, este espaço se
Em se tratando de um terreno com caráter Como uma das premissas do BAP é a A setorização, a partir da definição dos Por fim, a via se propõe a ser um
propõe a ser para a comunicade negra a
triangular, primeiramente buscamos o eixo descentralização do carnaval, alinhamos a principais programas de atuação do BAP, boulevard, apenas com acesso aos
sua conexão com o divino ancestral.
principal para nortear o melhor uso do direção do eixo paralelamente a R. Manoel se dispõe ao longo da via, gerando pedestres, onde acontecem as principais
espaço, direcionando a travessia até os Martins de Abreu, onde acontecem as espaços de acesso privados, público e de atividades do Bloco com a comunidade, se
dois pontos de diminuição dos fluxos de saídas do bloco na comunidade. recolhimento. portando como uma extensão das saídas
carros. na Vila.
Na entrada do quilombo, a trança de Esú
se apresenta como portal gerado pela
maquise que se estende a todo o
complexo de edificações, e, através dela,
se faz o contato entre "nós" e os orixás.
Para mais, representa também o exú do
Bloco, o Seu Tranca Rua, quem auxilia na
abertura dos caminhos.

A via do eixo principal mergulha nas


referências nos patterns do artista visual
nigeriano, de origem étnica iorubá, Laolu
Senbanjo, e assim, gera o fator de maior
impacto visual no projeto. Além disso, os
tons de vermelho marcam a via como um blocos
presente dedicado a Oyá, Iansã, a orixá do
Bloco Afro Pretinhosidade, a quem
pedimos permissão.

Os pilotis que sustentam parcialmente a


marquise, também trazem referências à layout
Iansã. Além da função estrutural, a
disposição destes elementos, sempre em
frente aos prédios, representa o véu de
Oyá que cobre as fachadas e as proteje.

marquise
Ao centro do pátrio principal, se destaca
uma grande escultura vertical, para romper implantação
o gabarito horizontalizado das edificações.
Essa torre referencia o poder da nação de
1:1000
asé, buscando inspiração no também
iorubano Olowe se Ise, um dos mais
importantes artistas iorubás do século 20.

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CENTRO DE AÇÃO CULTURAL ILÉ ĘWA ODUUA 2/8
planta térreo 4,00

1:500 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13

0,05
0,00
9•
20• 5•
5• 5• 12•
10

0,05
0,00
8 7 6 5 4 3 2 1
4•
6•

0,00
7•
5•

1• 0,00 02 11•
0,00
01

5•
10•

0,05
6• B
5•
2•
C
6•
-0,80

0,05
13•

0,15

0,05
17•
5• 3• S

8•
D
-1,55

17•

5•
i = 4%

5
35
-1,7
B
18• 15•
68
-1,93

17• 1• acesso 1 / portal de Exú 13• acesso terreiro


-1,90

-2,00
2• administração / enfermaria / almoxarifado 14• Ilé Oyá / barracão de Iansã
-2
,4
0

-2,00 3• salão de reuniões 15• quartos dos pais e filhos de santo

4• café / refeitório 16• cozinha


14•
5• banheiros 17• ojúbo dos orixás
A
5•

19• 16• 6• sala de aula 18• roça/ bosque de Iroko

7• mídiateca 19• cisterna


23• S

8• salão de ensaio / paredão para instrumentos 20• estacionamento / carga e descarga


17•

22• 9• galeria / salão da memória BAP 21• mezanino


C 21•
-3
,0
0

10• pátio principal / local de ensaio 22• sala de manutenção de instrumentos

24• 11• acesso 2 23• estúdio de gravação

elevação 01 5 12• playground / quadra poliesportiva 24• praça de bolso


1:500
10

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CENTRO DE AÇÃO CULTURAL ILÉ ĘWA ODUUA 3/8
corte c-c
1:500
5

10
elevação 02
1:500
5

10

pingadeira
manta asfáltica / drenagem

laje nervurada

parede tijolo maciço


MARQUISE

placa difursor acústico


rufo encosto
cobertura cabo metálico
placa cimentícia
i =2%

treliça metálica
painel reverberação acústica
forro madeira

perfil metálico ucd

viga concreto

piloti madeira / Iansã

manta asfáltica / drenagem


viga concreto / baldrame

piso interno
solo compactado
corte b-b
1:50 paver externo contrapiso
base metálica piloti
0.5 0,00
0,05

1
MARQUISE

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CENTRO DE AÇÃO CULTURAL ILÉ ĘWA ODUUA 4/8
EXTERNO / SALÃO DE ENSAIO

INTERNO / SALÃO DE ENSAIO SALÃO / MEZANINO SALA DE AULA

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CENTRO DE AÇÃO CULTURAL ILÉ ĘWA ODUUA 5/8
barracão
1:200

1 • coroa de Iansã 2• patamar ogãs 3• cisterna


cozinha dos orixás / wc.
16.5m 1:200
3•
10m

10.5m
1•
2• BARRACÃO

-1,930

-1,7
-1,9

6m
35
68

5
6m 6m

quarto filhos de quarto pais de


santo santo
1:200 1:200

QUARTO / COZINHA ORIXÁS

TERREIRO

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CENTRO DE AÇÃO CULTURAL ILÉ ĘWA ODUUA 6/8
PÁTIO DE ENSAIO SALA DE REUNIÕES / ADMINISTRAÇÃO PÁTIO DE ENSAIO

ACESSO 1 / PORTAL DE EXÚ

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CENTRO DE AÇÃO CULTURAL ILÉ ĘWA ODUUA 7/8
VISTA AÉREA / PÁTIO CENTRAL

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