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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

LUCAS MEDEIROS MENDES DA SILVA

RELATÓRIO FINAL
(Período no qual esteve vinculado ao Programa 08/2018 a 10/2019)

PROGRAMA DE IC: PIBIS/ FUNDAÇÃO ARAUCÁRIA:

A POPULAÇÃO NEGRA AFRICANA E A DIÁSPORA NA ARQUITETURA:


INFLUÊNCIAS E INTER-RELAÇÕES AFRO-BRASILEIRAS NA ARQUITETURA

Relatório apresentado à Superintendência de Inclusão,


Políticas Afirmativas e Diversidade - SIPAD da
Universidade Federal do Paraná como requisito parcial da
conclusão das atividades de Iniciação Científica ou
Iniciação em desenvolvimento tecnológico e Inovação -
Edital 2019
Orientador (a): Prof.(a). João Morais da Silva Neto
Título do Projeto: Núcleo de pesquisas de relações raciais,
ciência e tecnologia da UFPR

CURITIBA
2019
RESUMO

Durante todo o período de emigração forçada e também após a abolição da


escravatura, as produções científicas dos povos africanos e afrodescendentes foram
subjugadas como primitivas e não civilizadas, e na arquitetura não foi diferente.
Mesmo com obras que ainda encantam o mundo e causam curiosidades em
arqueólogos, engenheiros e arquitetos pela complexidade e pelo domínio de técnicas
construtivas avançadas, ainda sim o povo negro é visto como incapaz de produzir boa
arquitetura, e o domínio europeu no imaginário popular e nas grades curriculares
nacionais e internacionais são absolutos. No Brasil achar bons documentos dessa
arquitetura negra se faz uma missão dificílima, tanto pela falta de informação sobre os
cativos quanto pela falta de documentação dessa arquitetura. As fontes são escassas
e as pesquisas andam a passos lentos, talvez pela ausência do povo negro dentro
dos ambientes acadêmicos e consequentemente no campo das pesquisas. Mesmo
com poucas obras bibliográficas, destacam-se Arquitetura Popular Brasileira (2004) e
Inter-relações Afro-brasileira na Arquitetura (2014), ambas de Günter Weimer, e
tentam trazer características e referências sobre o caráter da nossa arquitetura
popular. Esta pesquisa tem como objetivo buscar e analisar referências à influência
causada pela diáspora africana no desenvolvimento arquitetônico e urbano no Brasil,
para além do eurocentrismo acadêmico e do elitismo em que os estudos da área se
propõem a apresentar. Visou-se a revisão analítica das obras de Weimer, Inter-
relações Afro-brasileiras na Arquitetura fazendo uma leitura fundada no autor de
alguns traços dessa arquitetura nos quilombos e kraals espalhados pelo país, e em
senzalas nas fazendas mais conservadas. Outros artigos e documentos. Os
resultados obtidos com a pesquisa revelaram-se importantes não só para demonstrar
que essa arquitetura existe e se faz presente no cotidiano brasileiro, mas também para
influenciar mais pesquisadores e servir de base para pesquisas futuras.

INTRODUÇÃO

A população negra africana chegou ao Brasil por meio do sequestro e violência,


objetificando seus corpos como materiais de uso e troca. Ainda assim, construiu-se
para além do físico e material, uma sociedade repleta de sabores multivariados que
tinham em grande parte o rastro e a raiz africana. No entanto, houve uma imposição
colonial que gerou o apagamento dessas contribuições – concebido através de uma
ideologia etnocêntrica- gerando a hipervalorização da própria culturas europeias, a
desumanização dos povos africanos e indígenas, e também a demonização dos
traços e de toda relação do belo africano (nas Artes e na Arquitetura), demarcando
assim uma história que soterrou as contribuições dos povos dominados. Essa
formação histórica de estruturas de dominação racial penetra no DNA brasileiro por
mais de cinco séculos, estabelecendo-se nos diversos campos da sociedade,
adquirindo autonomia própria e se manifestando no preconceito nas diferentes áreas
do saber e do conhecimento (Cf. documentário Guerras do Brasil, ep.1. Netflix, 2018).
Através do sangue e do trabalho escravo dos africanos - regime que marcou as
bases econômicas e culturais de nosso país com grande intensidade a partir do século
XVII -, foi através de diferentes tipos de resistências do povo negro que se realizaram
algumas manifestações culturais. Com o passar do tempo, processos históricos,
sociais, políticos, econômicos e culturais acabaram por marcar o Brasil, sobretudo a
partir da ditadura de Getúlio Vargas, como o país do samba, do futebol, do carnaval,
da feijoada e da mulata. A produção negra só é bem vista quando produz
entretenimento. A beleza negra só é bela quando a sexualização a acompanha. A arte
só é arte quando diverte ou estereotipa corpos negros.
É nítido que dentro do campo acadêmico há insuficiência de dados e
informações sobre a produção e contribuição negra na ciência brasileira e universal.
Talvez isso se dê pelo fato de que esses espaços ainda sejam constituídos em sua
maioria por corpos e mentes brancas, onde o eurocentrismo segue como verdade
hegemônica. Na arquitetura praticamente não há exceções. As grades curriculares,
tanto no Brasil quanto em África, ainda são baseadas em conhecimentos e
bibliografias europeias, e são poucos os professores que escrevem e ensinam sobre
a arquitetura e urbanismo não branco (norte-americano e europeu) produzidas ao
redor do mundo - América Latina, África, Ásia (com exceção da arquitetura
contemporânea japonesa), Oriente Médio, Oceania – e, são menores ainda as
universidades e docentes que abrem espaços para que pesquisas como esta
aconteçam.
Para compreender a importância do que as arquiteturas africanas e afro-
americanas é necessário entender e revisar, no campo às ideias, as construções
ideológicas as quais somos submetidos desde a primeira infância, e refazer uma
análise cotidiana sobre como vemos a contribuição negra nesta área. Ainda hoje, nas
mídias, tanto nas tradicionais quanto nas mídias sociais, é possível enxergar a
depreciação das produções africanas. O Egito negro construiu impérios, dominou
fórmulas e equações matemáticas complexas, além da geometria – e através disso
criou cidades e obras arquitetônicas colossais que se perpetuam por milênios – da
medicina, agropecuária, mas todo seu conhecimento (que antecede o
desenvolvimento europeu) hoje é subestimado, baseando-se em ideias que remetem
ao racismo pseudocientífico e ao racialismo dos séculos XVIII e XIX ao considerarem
a impossibilidade de sociedades negras terem criado grandes civilizações, ou, para
citar um exemplo de absurdo disparate veiculado fora do mundo acadêmico,
baseando-se nas ideias de que alienígenas pudessem ter influenciado em séculos de
adaptações, tentativas, erros e acertos (DÄNIKEN1; ERICH, 1968). Ademais, temos o
reforço de tais ideias através de um tipo de interpretação branca sobre as produções
africanas (sobretudo do passado) por meio do fenômeno cinematográfico conhecido
como whitewashing, que acontece desde os primórdios do cinema. Com isso, a
branquitude acaba por tentar apagar, tomar para si e até mesmo recontar a história
de povos não-brancos, da maneira que bem entendem - e não raramente, de modo
fortemente fantasioso e/ou estereotipado.
Dentre a literatura produzida no Brasil em referência a essa arquitetura afro-
brasileira há duas obras sólidas sobre o tema: Arquitetura Popular Brasileira (2005) e
Inter-relações Afro-brasileiras na Arquitetura (2014), ambas de Günter Weimer. Na
primeira, Günter relata a obsessão em que a arquitetura no Brasil em só valorizar a
arquitetura erudita, copiando as modas que eram produzidas na arquitetura
internacional e ignorando nossa arquitetura popular, e traz também as influências de
diversas culturas e povos que moldaram o caráter dessa arquitetura popular. Na
segunda obra, Günter explora as etnias diversas da África e suas formas de se
organizarem, e busca saber a história desses povos no Brasil, suas contribuições e
adaptações as novas condições em que os negros, então cativos, foram obrigados a
se submeter para sobreviver.
Esta pesquisa tem como premissa umas dessas obras de Weimer, Inter-
relações Afro-brasileiras na Arquitetura (2015), no objetivo de buscar e analisar
referências à influência causada pela diáspora africana no desenvolvimento
arquitetônico e urbano no Brasil, para além do eurocentrismo acadêmico e do elitismo

1 Däniken, Erich. Eram os deuses astronxautas?. Suíça: Melhoramentos, 1968.


em que os estudos da área se propõem a apresentar. Busca-se também destacar a
vinda desses africanos para o Brasil, indo além do que elas se tornaram no Novo
Mundo, ou seja, meramente “negros”. Tratar essas pessoas como apenas negros e
não como pessoas de fato, faz com que se enxergue esse grupo como literalmente
uma sub-raça (nos termos sociológicos), onde caucasianos são vistos não como uma
raça em si, mas como o padrão da humanidade, acima do conceito de raça.
Considerando, neste estudo, como afirma Guimarães (1999) raça como um conceito
que não corresponde a nenhuma realidade natural, mas como algo que denota uma
forma de classificação social hierárquica, baseada numa atitude negativa frente a
certos grupos sociais, no intuito da dominação, submissão e violência. Para além das
contribuições que literalmente trazem os traços africanos, meu objetivo é mostrar que
se faz influente tudo aquilo que a experiência do negro aqui modifica ou cria, mesmo
que não haja características diretamente africanas, seja ela criada para aprisionar,
habitar ou trabalhar.
Cabe destacar a dificuldade em encontrar boas fontes e documentos para
desenvolver pesquisas, muitas vezes soterrados em interpretações de fatos que
historicamente prejudicaram as atuais pesquisas. A meta desta pesquisa é tentar
entender o percurso da arquitetura originaria da África em suas contribuições para a
cultura brasileira, suas características etimológicas, como ela se adaptou ao Brasil e
onde ela está hoje, buscando as origens étnicas e regiões dos indivíduos que
emigraram forçadamente para as terras tupiniquins, como esses “tráfico” ocorreu,
compreendendo desde a captura dessas pessoas, o primeiro embarque e a seleção,
os processos ao decorrer das negociações, embarcação final e o desembarque nos
principais portos brasileiros. E, para finalizar, a readaptação dessas pessoas com
suas técnicas e conhecimentos arquitetônicos hereditários/empíricos, que para além
da necessidade de habitar e residir, tornou-se resistência.
Assim em esta pesquisa primeiramente fará um resgate dos povos originários
da África e suas condições de habitação e vivencia (pois, é através de suas tentativas,
erros e acertos em que a melhor disposição arquitetônica é desenvolvida),
organização familiar, costumes, etc. Posteriormente, seguimos mostrando como a
interferência dos europeus na experiência de vida africana se estende para as terras
americanas, buscando quais locais “serviram”, em maior quantidade, o Brasil com
mão de obra cativa e como essa distribuição acontecia nos portos até Lei Euzébio de
Queiroz. A seguir, como a condição de escravidão força esses povos a se unirem
como um só, e como os conhecimentos africanos são aplicados aqui em experiências
completamente diferentes das funções que eram direcionados em África, e também
como fora vista por algumas pessoas que relataram isso de perto. Busco trazer estas
citações de autores que exploraram fisicamente estas arquiteturas, e com isso, dar ao
leitor descrições que permitam criar/recriar estes ambientes, e o contexto aos quais
estão/estavam inseridos, em suas próprias mentes.

DESENVOLVIMENTO

Introduzir os estudos sobre a imigração africana para o Brasil, já em sua


apresentação, enfrentam dificuldades e isso acontece porque, segundo Weimer
(2014, p.158), mostra-se uma postura ideológica baseada em uma visão eugênica2.
Entender a vinda dos cativos africanos para nosso país como um “tráfico de escravos”,
é, por si só, uma abordagem estruturalmente racista. Uma postura similar se aplica ao
crime de lenocínio que popularmente é conhecido como “tráfico de mulheres”. Tráficos
referem-se a materiais e mercadorias relacionados a drogas ou contrabandos.
Migrações referem-se ao deslocamento de animais ou seres-humanos, forçados ou
não, de um local para outro (WEIMER, 2014).
Um dos problemas mais frequentes em pesquisas sobre essa imigração é a
precariedade nos registros. Há muito tempo intelectuais brasileiros entraram num
consenso de que os senhores de escravos tomavam inúmeras medidas na intenção
de prevenir supostas revoltas por parte dos escravizados. Entre essas medidas a
aquisição de escravos provenientes de culturas diferentes era a mais “completa”: os
portos se localizavam nas costas africanas ou em ilhas marítimas e recebiam escravos
das mais diversas regiões do continente. No embarque a seleção iniciava-se, e
posteriormente, já nos portos brasileiros (em grandes portos como Salvador e Rio de
Janeiro, ou nos menores como São Luiz e Recife) os critérios de heterogeneidade
cultural mantinham-se na redistribuição dos escravos. Acreditava-se que essa

2 Termo criado por Francis Galton (1883) que consistia na tentativa do melhoramento genético
humano. No entanto esse termo passou a ser manipulado a partir de variadas ideologias. No Brasil,
durante o século XX, acreditava-se que os negros eram responsáveis pela proliferação de inúmeros
problemas de saúde e pragas. O governo então iniciou uma série de políticas de higienização, na
tentativa de tentar embranquecer a população brasileira, mas o grande índice de mestiçagem tornara
inalcançável para o Brasil ser lido como uma nação, de fato.
separação pudesse inabilitar a possibilidade de comunicação entre os africanos, o que
poderia resultar em rebeliões ou fugas em alguma língua inelegível para os senhores.
Por parte de Weimer (2014) há dúvidas quanto a efetividade deste tipo de
precaução, uma vez que a existência de línguas veiculares entre os cativos não os
impedia de se comunicar por completo. Ele diz que: “a única forma efetiva de evitar a
troca de informações entre os cativados seria impedir o contato mútuo, o que –
comprovadamente - não existiu” (Weimer, 2014, p. 158).3 A convivência entre os
cativos era constante em quase todas as atividades e tarefas diárias. Mesmo que
careça de fundamentos este argumento, ainda sim a comunicação entre o dominador
e o dominado teria de acontecer em algum idioma, e mesmo que não falantes da
língua do dominador (ou seja, boçais) uma hora ou outra seria necessário que os
escravos compreendessem esse idioma (se tornassem ladinos), e a partir disso nada
impediria que formassem grupos para arquitetar fugas, rebeliões ou qualquer ato de
repúdio.
O problema que assombra estudos como estes é a precariedade de
referências. Essa precariedade deve-se em parte as autoridades da época, e cita-se
o fato de que Ruy Barbosa, no posto de ministro, tenha mandado destruir a
documentação referente a registros de cativos para evitar indenizações por parte dos
escravocratas que saíram perdendo com a abolição em ação. Mesmo assim, essas
atitudes não seriam as razões principais dessa precariedade. Através da Lei Euzébio
de Queiroz, de 1850, o comércio transoceânico de escravos foi proibido, mas não
impediu o contrabando. O crime durou até o governo inglês perceber e apreender os
navios negreiros, reconduzindo-os até os portos de embarque e adicionando os navios
capturados à marinha inglesa. No entanto, a objetificação imposta sobre os
escravizados é uma das principais razões citadas pelo autor para a falta de
informações sobre os principais afetados dessa história: “não haveria a necessidade
premente de procedimentos burocráticos mais sofisticados: um escravo vinha para
trabalhar até a exaustão de suas forças, quando então era simplesmente substituído
por outro igualmente anônimo e ao qual estava reservado o mesmo inexorável fim”
(Weimer, 2014, p. 159)4.

3WEIMER, Günter. Inter-relações afro-brasileiras na arquitetura, Porto Alegre: EDIPUCRS, 2014, p.


158.
4 Idem, ibidem, pag. 159.
Como principal fonte de escravizados para o Brasil, a colônia portuguesa de
Angola foi a que mais facilmente sofreu com a migração forçada de sua população
para o nosso país. Mauricio de Nassau, então administrador da colônia holandesa no
Nordeste brasileiro, foi à Luanda com a intenção de abastecer os engenhos de açúcar
do Brasil, mas tinha como meta a conquista não só de Angola – que já sofria com a
diminuição absoluta de sua população litorânea, devido à incessante captura para uso
de mão de obra no Novo Mundo - como das Ilhas de São Tomé e Príncipe por serem
áreas estratégicas de reembarque. Também por questões geográficas é possível
deduzir que a população negra do Norte e Nordeste brasileiro provém das regiões da
costa atlântica da África central, meridional e do Sul, isso pelo fato de que se
procurava traçar o caminho mais curto entre os continentes. É sabido também que os
cativos eram trazidos das colônias lusitanas, e isso significa que os principais centros
de imigração para o nosso país eram Angola, Guiné e Moçambique, e isso também
indica que as características arquitetônicas africanas que temos, principalmente nas
cidades mais antigas do Brasil vieram não somente, mas principalmente destes locais.
Apesar de serem consensuais é necessária cautela quanto a essa visão
aparentemente lógica. Vale lembrar que os cativos eram prioritariamente
encaminhados para os centros de reembarque do continente africano e
posteriormente para outros centros no Brasil onde eram distribuídos para todo o país,
ou seja, mesmo que Luanda esteja mais perto de Recife do que do Rio de Janeiro, os
“paralelos terrestres”, como cita o autor, são postos em xeque a partir dessa análise.
Entretanto, o autor ainda afirma que: “...em visitas nossas à caatinga, foi possível
constatar que no semiárido a presença mais vigorosa é a das tradições construtivas
do sul da Angola, que apresenta condições ambientais semelhantes às do interior
nordestino” (Weimer, 2014, p. 160)5. Através dessas informações seria lógico que os
senhores de engenho dessem preferência à compra de africanos provenientes do Sul-
angolano, e isso afirmaria o contrário à teoria de que a maioria dos cativos enviados
ao nordeste vinham da costa do Golfo da Guiné. Por isso é tão complicado elaborar
teses e teorias sobre a maior ou menor condensação de cativos em determinadas
regiões do país.
De qualquer forma, as tradições arquitetônicas dos povos bantos são
encontradas de Norte a Sul. Entre os principais e mais eminentes grupos étnicos

5 Idem, ibidem, pag. 160.


responsáveis pela formação cultural do caráter cultural brasileiro, segundo dados
obtidos pelo Atlas of the Transatlantic Slave Trade, estão os povos Bantos e
Sudaneses6. Os bantos são os maiores influenciadores na cultura afro-brasileira, não
só no contexto da arquitetura, mas de maneira geral, pois, além de serem mais
numerosos, eram também originários das regiões da “costa” e da “contra costa",
maiores “fornecedores” de africanos cativos para o Brasil, e tinham como destino
principal os portos de Pernambuco e Rio de Janeiro. Mas nem só de Angola e
Moçambique foi feita essa imigração. A Bahia era a parada principal dos povos
sudaneses (principalmente de cultura iorubá), o que seria a região de Camarões,
Benin, Gabão, Nigéria, Chade, etc. Entretanto, após a emigração desses povos para
a América, suas características étnicas foram simplesmente resumidas à “negros”, e
a mesclagem desses diferentes estilos/entendimentos de sociedade fez com que a
readaptação à nova forma de vida multicultural fosse absolutamente necessária (e
forçada), por exemplo: a poligamia foi abolida por completo e substituída pela
monogamia; substituição dos nomes africanos por novos portugueses – muitas vezes
era dado como sobrenome o porto de embarque dos escravizados, por exemplo: Maria
Benguela, Benedito Luanda, etc.; religião tornara-se o principal suporte e conexão
com africanidade; etc.

6 Mapas introdutórios por David Eltis e David Richardson, Universidade de Yale, 2010.
Figura 1 - Mapa do comércio transatlântico

Fonte: Slave Voyage, 2010.7

ARQUITETURA VERNACULAR AFRICANA

Refere-se a arquitetura vernácula todo o tipo de arquitetura em que se emprega


materiais e recursos do próprio ambiente em que a edificação é construída. Desse
modo, ela apresenta caráter local ou regional. Dentre os traços marcantes da
arquitetura africana destaca-se o método de povoamento dos espaços em forma de
kraal8 (Não foi encontrada nenhuma palavra da língua portuguesa que tenha
significado compatível). Um kraal consiste em um assentamento familiar com uma
cerca delimitando seu contorno9, e cada família demanda uma quantidade variável de
edificações monofuncionais, as chamadas “cubatas”. É característico dos “kraals”

7
Idem, ibidem.
8 Foi observado duas formas de escrita (kraal e krall), porém ambas têm o mesmo significado.
9 No norte e nordeste de Angola, prefere-se a cerca viva de minguengue e mulemba, enquanto no

centro e sul prioriza-se a paliçada. As estacas podem ser simplesmente fincadas no chão ou receber
um reforço com a amarração superior num pau transversal ou, ainda, ser vergadas e presas sob
pressão entre três galhos horizontais. Essas três formas podem ser facilmente encontradas no sertão
nordestino do Brasil. Entre os Bienos, essas paliçadas se transformam em fortaleza, e os Chunhamas
se defendem construindo verdadeiros labirintos. (WEIMER, 2014, p.113).
também conter apenas uma entrada em todo o perímetro cercado, uma construção
principal pertencente ao “chefe” da família, a existência de áreas para plantação,
arvores frutíferas e de sombra (morada dos orixás), além de curral para os animais,
etc. Há certa diferença entre os kraals bantos e sudaneses, principalmente devido a
questão geográfica/climática.
Os sudaneses são essenciais na formação cultural brasileira e sua arquitetura,
(ênfase para os povos Iorubá) e apesar da variedade cultural a compreensão da mão
de obra cativa vinda dali, precisa ser vista de maneira geral. Ocupam uma estreita
faixa de terra entre o Golfo e o Saara, e seguem desde o atlântico até próximo das
regiões dos Grandes Lagos. Essa região (países periféricos ao Golfo da Guiné, entre
Senegal e Cabo Verde, até Nigéria e Camarões) foi de suma importância no “envio”
de mão de obra cativa para o Brasil, e consequentemente importante também na
formação cultural do país. Também foi uma região de muita disputa por potências
coloniais e por isso trocou-se inúmeras vezes de “donos”, e à Portugal restaram
apenas 3 regiões de ponto de embarque: Guiné-Bissau (antiga Guiné Portuguesa); as
ilhas São Tomé e Príncipe (na latitude do que hoje seria o Gabão); o arquipélago de
Cabo Verde (em frente a Senegal). Hoje os sudaneses ocupam uma área que se
divide em 20 países com população e extensão bem diferentes entre si 10.
Devido à grande variação de ecossistemas desenvolveu-se tipologias
arquitetônicas mais variadas. Quanto mais ao Norte mais altos eram os muros para
se protegerem dos fortes ventos quentes vindos do deserto (as chamadas “casas-
castelo”), e as cubatas seguiam um padrão mais cilíndrico devido ao uso da argila
encontrada no solo, além do uso de materiais como palha e sapê, normalmente
usados como cobertura11. Nas áreas intermediárias, região das savanas, o clima mais
ameno permite kraals com muros mais baixos e menos compactos, trivialmente
chamados de casas-pátio (WEIMER, 2005). A região fornece a madeira que serve na
aplicação de taipas para que as paredes sejam apiloadas, técnica conhecida no Brasil
como taipa de pilão (razão pelas quais algumas construções são retangulares ou

10 Informações mais detalhadas sobre populações, superfícies e composições étnicas podem ser
encontradas em Almanaque Abril Mundo 2000. Rio de Janeiro: Abril, 2000. Segundo Weimer as
informações são bastante incompletas e as etnias que formam as diversas nações são bem mais
numerosas.
11 Construções em palha são extremamente eficazes em regiões secas ou desérticas. A palha tem

propriedade de isolamento, absorve o calor do sol, permitindo que o calor interior seja
eliminado porque o material é capaz de respirar. O mesmo acontece nas paredes de barro. As
paredes absorvem o calor durante o dia e irradiam o calor durante a noite tornando o interior mais
quente do que o ar exterior noturno. (Jon Stojkowski, 2015, ArchDaily).
quadradas), e a cobertura recebe folhas de palmeira entrelaçadas, formando uma
estrutura de fibras secas tecidas. Essa forma de organizar o espaço faz com que haja
ampla circulação do ar e evita efeitos causados pela radiação solar e excesso de
umidade. Nas regiões mais litorâneas (super úmidas e de florestas densas) os kraals
são mais abertos. As tipologias de casa de planta quadrada ou retangular são em
número maior que a dos Bantos (WEIMER, 2005), e ao contrário da cultura banta, os
sudaneses preferem deixar a porta do lado direito da casa. Como esta região tem
muitos mangues, lagunas e lagos, foi necessário que aprendessem a construir
também acima das águas, em palafitas, onde a temperatura ambiente era mais baixa,
e isso fez com que em alguns aldeamentos a população quase não pisasse em solo
firme. De fato, na região da grande floresta equatorial, casas com planta retangular,
chamadas cubatas de mocambo (mocambo = construção com duas águas12), já se
faziam presentes antes mesmo da influência islâmica e da colonização europeia,
embora a presença desse tipo de construção tenha sido deixada de lado no imaginário
europeu (consequentemente do resto do mundo), e tenha-se criado uma associação
direta entre África e cabanas redondas.
Segundo Weimer (2005), os mocambos são influenciadores nas construções
populares no Brasil. Ele afirma que os telhados “duas águas” eram comuns nas casas
mais simples por influência dessa arquitetura que ele afirma ter sido desenvolvido no
Noroeste de Angola e costa de Guiné Bissau. Também afirma que há semelhança
entre as varandas brasileiras e as encontradas em Moçambique e Angola, o que indica
que as técnicas foram importadas dos respectivos países. Entretanto, Roberto
Conduru (2013), diz que só é possível afirmar a gênese de uma construção quando
ela é vista em apenas um lugar. No caso da varanda e principalmente do telhado “V”,
são característicos em diversas outras civilizações, inclusive na Grécia Antiga.
Os aldeamentos sudaneses são conhecidos como tabancas, e são formados
por um agrupamento de kraals. Esse aldeamento é mais complexo do que a dos
bantos, primeiramente por serem mais antigos, e isso implica uma maior
experimentação em sua organização, e sua disposição assemelha-se ao conceito de
“zoneamento de usos” dos europeus. A forma de organizar os espaços internos da
aldeia, em geral, acontece mais espacialmente do que fisicamente, sendo assim é
possível identificar as individualidades de cada kraal. Além disso, os sudaneses

12Telhados duas águas são telhados com dois caimentos, ou seja, dois lados por onde a água
escorre.
cultivavam bosques sagrados (conhecidos no Brasil como “terreiros”) para suas
práticas religiosas.
Os bantos13 são a maior população africana, e seus domínios se estendem
desde as florestas tropicais centrais e a área centro-oriental, até o extremo sul do
continente (WEIMER, 2014) e de uma forma geral, é um território com vasta riqueza
mineral. São povos de pele relativamente clara, mesmo que classificados como
escuros no Brasil. Todavia, a maior parte de sua população vive do pastoreio e da
agricultura, onde a divisão social do trabalho é definida por gênero – homens são
encarregados do pastoreio enquanto mulheres cuidam da agricultura. Como a fauna
é rica, muitas tribos vivem da caça e recoleta, e nesse âmbito os homens são
responsáveis pela caça e as mulheres pela coleta de fruto e raízes. As organizações
familiares são complexas, e a estrutura matrilinear é dominante nas comunidades
agrícola-pastoril (a menos nas comunidades de pastoreio nômade e de recoleta, onde
a estrutura é patrilinear), e vale dizer que nessas sociedades é o marido quem deixa
seus familiares para se juntas aos da esposa, onde o kraal é construído nas
mediações do kraal da sogra.
As formas mais comuns utilizadas pelos bantos são as cubatas em planta
circular, redondas, e com o telhado cilíndrico, mas que casam com uma grande
variabilidade de coberturas também. Há evidências de que as cúpulas são os formatos
de origem das cubatas, visto que os Koisans (ou Khoinsans) empregam esse tipo de
cobertura tradicionalmente, e eles se constituem como os povos mais antigos a
ocuparem a região. É possível identificas diversos outros formatos de construções. Na
fronteira entre Angola e Namíbia há cubatas mais recentes que vêm dando preferência
para formatos que lembram tronco, e nesse caso a estrutura é fincada no chão e
podem ter apoio central. Já a cubata dos Lundas, no nordeste de Angola, e também
dos Ganguelas, no sudoeste de Angola, as paredes verticais formam um cilíndrico, e
recebem uma cúpula que cria um minúsculo beirado. Já as cubatas de mocambo eram
pouco comuns entre os bantos, e característico apenas no Norte de Angola e na ilha
de Madagascar, mesmo hoje havendo uso maior, utilizando blocos de adobe
assentados com terra e cobertura de palha seca. A junção desses kraals formam
aldeamentos são conhecidos como quilombos. (kilombo) palavra Quimbundo que

13O nome foi dado pelo linguista alemão Wilhelm Bleek (1827-1875), pois em diversas línguas bantas
a palavra bantu significa “gente”, “povo” ou “pessoas”, segundo Hans Joachim Störing, op. cit. p. 219.
significa “vila”, “aldeia” ou “cidade”. No Brasil o termo tomou outro significado, mais
voltado para um agrupamento de escravos fugidos /rebeldes. Outra forma de
aldeamento, mais raras, mas não menos importante são as sanzalas. Esse método,
embora endêmico em regiões de Angola, Camarões e Gabão, se adaptou muito bem
as condições no Brasil.

ADAPTAÇÕES AFRICANAS EM TERRAS BRASILEIRAS E A


ARQUITETURA NO BRASIL
A arquitetura popular do período colonial já era diversificada, e nesse âmbito a
produção africana que se destaca com maior êxito é o quilombo. Agora esses povos
tribais que antes eram Fulas, Mandingas, Quimbundos, Achantis, etc., são reduzidos
a meros “negros”, e isso implica na necessidade de uma nova forma de organização,
já que a individualidade cultural de cada um havia ficado para trás e, agora, com todas
essas diferenças entre cada indivíduo – o que também significam compreensões
arquitetônicas e urbanas diferentes - precisavam se sujeitar, segundo Weimer, a um
tipo de “nova unidade africana” para sobreviverem. Isso gera reflexos até hoje no
continente africano, e influencia na dificuldade de compreender a distribuição
geográfica e as manifestações culturais de cada etnia, uma vez que o território
africano fora dividido não como os africanos o compreendiam, mas como os europeus
quiseram. Guerras intertribais forçadas pela convivência de tribos rivais numa mesma
unidade política, e que aqui tiveram de ser enfrentadas desde o desembarque em
terras americanas. Era questão de sobrevivência a organização em comunidades,
famílias, onde o apoio mútuo por parte de seus integrantes fosse de suma importância,
e suas culturas ou línguas ascendentes não fossem mais seus legados, mas sim a
convivência conjunta. É claro que esse tipo de mudança deve ter gerado conflitos e
tensões logo de cara, mas fora necessário abrir mão das individualidades. Um fato
que chama atenção para a formação dos quilombos aqui em comparação aos
africanos, é que os negros quase sempre constituíam a maioria da população que os
habitavam, além de que na maioria das vezes eram os dominadores dos territórios.
Sabe-se que os quilombos americanos não eram lugares exclusivamente negros mas
sim multiétnicos, onde também haviam indígenas (inclusive muitos quilombos
recebem nomes indígenas, provavelmente pela localização em áreas onde as línguas
indígenas eram hegemônicas, ou pela integração de indígenas que, perseguidos por
escravocratas, encontravam refúgio nesses territórios) e até mesmo brancos com
problemas com a justiça, ou que se sentiam inseguros em seus assentamentos
mesmo estes sendo casos muito raros. Comerciantes brancos que, pelo fato da sua
cor não levantavam suspeitas, conseguiam manter relações comerciais recíprocas
com os quilombolas, apesar de as autoridades dificultares ao máximo essas ações.
Em levantamento feito por Márcia Amantino14 (2003) sobre os quilombos do sudeste
brasileiro, é notável que os comerciantes foram os principais aliados dos quilombolas,
pois ajudavam com trocas de manufaturas por itens de suas necessidades,
principalmente armas de pólvora, chumbo e informações sobre as expedições
organizadas pelos colonizadores para mata-los. Os escravos também eram grandes
aliados, trocavam informações e serviços nas periferias das fazendas, sempre ao cair
da noite. Até mesmo alguns fazendeiros mantinham relações diplomáticas com os
quilombolas, e chegavam a contratar serviços dos mesmos mediante a acordos
remunerados, e até mesmo proteção.
Aqui os quilombos parecem surgir já no século XVI na tentativa de reconstruir
o modo de vida africano, mas são interpretados não mais como um agrupamento de
kraals e sim como um “esconderijo de negros fugidos”. Entender os quilombos como
um território livre da escravidão é um equívoco cometido com absurda constância,
uma vez que a escravidão na América é uma extensão da mesma cometida em África.
Apesar da importância, os quilombos são vistos com certo desdém e menosprezados
pela história oficial. Mas essa postura também é equivocada, aliás, o primeiro território
americano livre do poder colonial foi o palenque (expressão em espanhol para
quilombo) de San Basílio, na Colômbia.15 No Brasil, o quilombo que mais se sobressai
ao anonimato dos demais é o Quilombo dos Palmares, mas ironicamente não era bem
um quilombo. Diferente da origem quimbunda que remete à “aldeia”, o Quilombo dos
Palmares era uma federação profusa de aldeias espalhadas por um território que se
estendia de Alagoas até Pernambuco, bem ao modelo das federações-aldeias
sudanesas orientais vistas anteriormente (WEIMER, 2014). Dentre os grandes
quilombos, Edilson Carneiro (1966, p. 25-26) cita a Cerca Real do Macaco como o
“mais importante”:

14 AMANTINO, Márcia. Sobre os quilombos do sudeste brasileiro nos séculos XVII e XIX. In:
FLORENTINO, Manolo; MACHADO, Cacilda (Org.). Ensaios sobre a escravidão. Belo Horizonte:
EdUFMG, 2003, p. 235-262.
15 O Palenque foi dado como território livre pelo rei Carlos V, em 1713, quase sem anos após sua

fundação (1621) e reconhecido como Patrimônio da Humanidade pela UNESCO, em 2005.


Em 1675, este mocambo das faldas da Serra da Barriga, à margem do
Mundáu, já era a capital dos Palmares, resistência do rei Ganga-Zumba16.
Este era o Grande Palmares a que se referia Gaspar Barléus, na ocasião
habitada por 5000 negros. A expedição Blaer-Reijmbach (1645) calculava os
habitantes em 1500 almas, contando mulheres e crianças – cálculo
provavelmente pessimista, pois esse mocambo se compunha de 2000
casas.17

O governador Pedro de Almeida (1630-1679), trinta anos após as citações de


Barléus, descreve o perímetro como uma metrópole entre outras cidades e
povoações, cercada com uma cerca de pau-a-pique, treneiras18 e por fora se
espalham estepes19 de ferro e de fojos20, além de abundante em água, pois era
banhada pelo rio Cachingi. Não foi possível achar nenhum documento ou imagem em
que o quilombo fosse representado, aliás, achar fotos ou representações destes
quilombos mais antigos, de uma maneira geral, é quase que impossível. Segundo
Weimer, por falta de documentação ou por ausência de pesquisas, a existência dos
primeiros quilombos brasileiros jaz sepultada na bruma dos tempos de antanho.
Entretanto, o quilombo do Buraco do Tatú (Salvador, Bahia, 1763), descoberto por
Reis Filho no Arquivo Histórico Ultramarino, em Lisboa, é um dos raros documentos
remanescentes em que podemos ver como esses espaços de refúgio funcionavam
quase que em detalhes.

16 Ganga (sacerdote africano, pai de santo). Zumba (do trovão, equivalente a Xangô). Seu sucessor
foi seu sobrinho, Francisco Nzumbi (do quimbundo “alma iluminada”), conhecido como Zumbi dos
Palmares.
17 CARNEIRO, Edison. O quilombo dos Palmares. Rio de Janeiro: Civilizações Brasileiras, 1966, p.

25-26.
18 Termo não mais utilizado, mas que se trata de aberturas camufladas com a função de permitir a

fuga caso o território seja tomado.


19 Hoje se refere a pontas de vidros postas sobre muros, mas na tradição africana eram feitos de

bambus ou madeira fincadas no chão e revestidas como palhas, e eram usadas para caça de animais
de porte e como arma de guerra. Os quilombolas o aperfeiçoaram com a utilização de ferro ao invés
da madeira.
20 Covas fundas cobertas com vegetação, usadas como armadilhas tanto para animais, quanto para

invasores.
Figura 2 - Quilombo Buraco do Tatu, Itapuã, Bahia, 1763.

Fonte: Günter Weimer, Inter-relações afro-brasileiras na arquitetura, 2014.

Em uma leitura dinâmica sobre a sociedade de então, é possível perceber que


de um lado havia o Estado, disposto a destruir qualquer rastro da existência negra
dentro dessa formação rebelde. Do outro lado havia uma rede complexa de interesses
propícios e dispostos a uma convivência pacífica e/ou com apoio mútuo para com
estes negros. Os quilombos também se dividiam em dois tipos, segundo Weimer: os
autossuficientes e os dependentes.
Os quilombos autossuficientes sobreviviam a partir da criação de animais de
pequeno porte, plantação de plantas alimentícias (frutas e raízes, feijão, milho e até
cana com a qual confeccionavam cachaça e açúcar), algodão (com que produziam
suas vestes), etc. Além disso, suas armas eram artesanais e usadas sobretudo para
a caça. Basicamente esses quilombos não dependiam de trocas, mas isso não quer
dizer que não aconteciam, tanto pacifica quanto violentamente. Em Minas gerais, por
exemplo, há quilombos que produziam artigos de metal, armas, panelas, talheres, etc.,
isso indica que dispunham de um grande domínio técnico metalúrgico. Em alguns
quilombos, como o de Ambrózio, é possível perceber que segurança era primordial
vivendo nessas condições. Nesse caso foram encontrados fossos com
aproximadamente 2 metros de largura e 3 de profundidade. Também tentavam
construir seus aldeamentos próximos de brejos onde apenas barcos de pequeno porte
poderiam acessar, o que daria tempo de alguma reação contra invasores.
Os quilombos dependentes, pelo fato de não terem a oportunidade de
desfrutar das mesmas condições, dependiam basicamente de furtos e assaltos. Eram
os alvos principais de capitães do mato, e o preço por suas cabeças variavam
dependendo da distância de onde eram capturados, etc. Aqui o termo “quilombo”
recebia um significado completamente diferente de sua origem, e qualquer grupo de
mais de 4 negros – mesmo que não houvesse nenhum tipo de assentamento
relacionados a eles – eram considerados quilombolas, e o local de estadia, quilombo.
Eram basicamente nômades, pois estavam sempre se deslocando a qualquer
suspeita de espionagem ou presença de um indivíduo estranho em seu meio.
Segundo o professor Rafael Sânzio, em entrevista ao jornal O Globo (2017) 21,
o pensamento de que quilombos são elementos do Brasil colonial e imperial precisa
ser desmistificado. Com a expansão das favelas em metrópoles como Rio de Janeiro,
Recife e São Paulo os quilombos que antes eram rurais, hoje foram abraçados pelas
cidades, e isso mostra que os quilombos não são coisas do passado, mas
contemporâneos, presentes nas cidades brasileiras, mesmo que o urbanismo não
considere isso.
Já a senzala é a tipologia arquitetônica africana mais estudada. Baseada nas
sanzalas africanas, as senzalas sofreram mais modificações que os quilombos. Seu
conceito deixou de ser uma construção longa de uso coletivo (como era em África), e,
apesar de manterem a formação de aldeamento individualizado, acabaram por tomar
formas construídas, subordinadas (quase que domésticas), integrantes de um
conjunto de edificações diversificadas como nos engenhos de cana de açúcar, nos
diversos tipos de fazendas agrícolas ou pecuaristas, nos arraiais de mineração ou nos
incipientes conglomerados urbanos (WEIMER, 2014). O historiador Stanley Stein
(1990, p.70-71) descreve uma senzala como:
Um telhado feito de telhas, às vezes um corredor externo para
refrescar, fechado por sólidas barras de madeira, nunca assoalhado. Os
estreitos cubículos sem janelas dos escravos casados – escravos solteiros,
homens e mulheres viviam em senzalas separadas – continham o pouco que

21 Informações disponíveis através do site O Globo, 2017.


um escravo podia ter: uma cama ou tarimba de tábuas apoiadas sobre dois
cavaletes de serraria, coberta com uma esteira de capim trançado, talvez um
pequeno baú de madeira, e na parede alguns prendedores e diversas cuias
para guardar feijão, arroz ou gordura de porco22.

Há pesquisadores que dizem que o conceito pode ser aplicado a qualquer tipo
de habitação de negros, independentes ou não, individuais ou não. Para Weimer
(2015, p.174), conceitua-se senzala apenas construções habitacionais em fila
(contínua ou descontínuas), com ou sem avarandados frontais (como nas ilhas
atlânticas) quando a qualificamos “de renque”. Sendo um conjunto de habitações
geminadas, construções isoladas não se encaixam, e são denominadas de
“choupanas” ou “cabanas”. Percebe-se também que a história não fez questão de
representar essas senzalas, não há remanescentes de senzalas dos séculos XVI e
XVII, e as análises são basicamente buscadas através de engenhos preservados e
nas casas-grandes. A partir da grandeza das construções dos senhores de engenho
é possível perceber a submissão e precariedade das habitações dos negros em
contraste violento com a monumentalidade da casa-grande, e que nada tinham em
comum com à paisagem quase que paradisíaca apontada nos desenhos de Manuel
Bandeira e reproduzidos em Casa-Grande & Senzala (WEIMER, 2014). Sendo assim,
é necessário sempre recorrer a documentos históricos para compreender como eram
essas edificações e sua importância plástica na paisagem das fazendas coloniais.
Numa citação do naturalista suíço Johann J. von Tschudi em sua expedição pelo
Brasil, descreve as ações e os espaços dos negros que viviam numa fazenda em que
visitou no Rio de Janeiro:
No pátio em que se encontra a casa-grande, existem em geral dois
edifícios compridos, de construção primitiva, as chamas senzalas ou
habitações dos negros, onde os homens são alojados separadamente das
mulheres. Ao longo dessas construções as tarimbas 23 cerca de três pés (99
cm) acima do chão, e no centro um corredor bastante largo e alguns fogões
primitivos [...]. Os negros gostam de reunir-se ao cair da noite ao redor do
fogo, fumando, palestrando e gesticulando, em grande algazarra. As
tarimbas, das quais cada uma mede 2,5 a 3 pés (0,75 a 0,9 m) de largura,
são separadas umas das outras por uma divisão de madeira de 3 pés (0,9 m)
de altura, tendo na frente uma esteira ou um cobertor para tapar a entrada do
lado do corredor. Cada negro possui de 3 a 4 cobertores, que usam também
como colchão, se não preferem utilizar-se da esteira. Um pequeno travesseiro
completa a cama primitiva.
A tarimba é bastante comprida para permitir colocar em suas
extremidades um baú no qual um respectivo dono guarda seus pertences. As
senzalas possuem janelas com grades, ou então uma pequena abertura
abaixo do teto a 12 pés (3,6 m) acima do solo, que permite a ventilação e a

22 STEIN, Stanley. Vassouras: um município brasileiro do café, 1850 – 1900. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1990, p. 70-71.
23 Estrado de madeira ou cama rude de madeira.
iluminação suficiente para todo o recinto. Atrás das senzalas ficam as
privadas, que são, às vezes substituídas por bacias cheias de água até a
metade, e que, colocadas no corredor, são diariamente esvaziadas e
devidamente limpas. Os negros casados vivem em menores devidamente
separados.
As senzalas ficam abertas até as 22h da noite, havendo até lá, um
convívio misto nas mesmas. A um sinal dado por uma campainha, os homens
e as mulheres se retiram, cada qual para a sua habitação e o guarda fecha a
porta a chave, abrindo-as na manhã seguinte, uma hora antes de iniciar a
tarefa diária. As crianças dormem com as mães, as maiores possuem suas
tarimbas individuais, dormindo em geral duas crianças em cada uma 24.

Em leitura minuciosa sobre essa descrição, é possível perceber que Tschudi


foi o único dos viajantes que entende as aberturas contínuas entre a parede e o teto
como um detalhe que permite ventilação cruzada (em qualquer que seja a direção do
vento) e também iluminação. Isso demonstra que as técnicas construtivas africanas
estavam ainda presentes no imaginário dos negros por terem excelente adaptação ao
clima quente. Os demais escritores, muito mal informados, retratam a falta de janelas
e as grades no vão entre a parede e o teto como uma maneira de evitar supostas
fugas por conta dos cativos, um equívoco um tanto tolo, pois como os escravos
produziam a própria moradia com taipa e teto de palha (sem forro), seria
absolutamente acessível arquitetar uma fuga a partir desses materiais. Mais absurdo
ainda é pensar que por conta desse documento ser primário, vários autores
contemporâneos ainda insistem nessa versão.
Quando entra em vigor a Lei Euzébio de Queiroz, a condição de vida nas
senzalas melhorou consideravelmente, o mesmo no campo de trabalho, além do
aumento nas riquezas e produtividade das fazendas. A taxa de mortalidade dos pretos
também diminuiu, visto que em alguns locais, como na freguesia de Lamim (MG), a
média era somente até os 25 anos de idade25. Após a abolição da escravatura (1888)
as senzalas perderam sua função, mas não deixaram de existir. Com isso lhes foram
designadas novas funções, por exemplo moradia para os imigrantes europeus que
viam para o Brasil.
As enxovias são outra parte sombria de uma arquitetura de encarceramento
que os escravos foram condicionados a vivenciar. Segundo Houaiss (2001) a
etimologia da palavra enxovia vem do árabe (ax + xauîa) e traz o significado de prisão
úmida e escura. Esse tipo de arquitetura hostil traz prováveis relações com as Casas

24 TSCHUDI, Johann Jakob. Viagem às Províncias do Rio de Janeiro e São Paulo. Belo Horizonte/
São Paulo: Itatiaia/EdUSP, 1980, p. 56-58.
25 Paróquia do Divino Espírito Santo de Lamim-MG. Livro de Óbitos n° 1 (1859-1883) e Livro de

Óbitos n° 2 (1877-1903)
de Câmara e Cadeia, onde uma escadaria imperial na fachada dá acesso ao piso de
cima que recebe a câmara municipal, e no piso térreo o recebia a cadeia pública.
Muitas das vezes eram os únicos prédios públicos nos municípios, e se localizavam
normalmente no centro, próximo ao pelourinho.
Alguns defendem que essas edificações sugiram juntamente com o período
escravocrata. Outros, como Bastide (1971), dizem que deve ter surgido juntamente
com a descoberta do ouro em Minas Gerais. Com proibição das migrações forçadas
as senzalas se transferiram aos poucos para dentro da casa-grande. Os porões eram
as novas moradias dos cativos, e dali tinham acesso a um pátio central onde recebiam
vigilância vinda das varandas postas no segundo piso da casa do senhoril. O pátio era
fechado por muros altos e pela edificação, e os escravos (na regra) só passavam
pelos portões para ir trabalhar no garimpo e voltar.
Com a abolição da escravatura e a industrialização ainda engatinhando no
Brasil, os negros e negras agora livres viam a oportunidade nos estabelecimentos
fabris. Mesmo com salários miseráveis e sem nenhum tipo de ressarcimento pelas
centenas de anos de calamidade e sofrimento ao qual foram expostos, a necessidade
de morar ainda existia. Uma onda migratória saindo das zonas rurais às cidades a
procura de trabalho e moradia. Os cortiços então tornaram-se moradia e se
proliferaram nos quintais das casas urbana. Até a virada do século XIX era comum o
licenciamento para construções de cortiços, mesmo em áreas mais valorizadas
(WIEMER, 2014). Com a chegada do republicanismo os cortiços foram proibidos, e o
direito à moradia também.
Com a desculpa de ser necessário acabar com os cortiços e fazer uma limpeza
da cidade, foi que a reforma urbana do Rio de Janeiro aconteceu, e ficou conhecido
como “abertura da Avenida Central”. Através da reforma do Prefeito Passos, onde
foram abertas novas vias e artérias que “limparam” o centro da cidade de pobres, eles,
de fato, saíram do centro da cidade, mas ao destruir os quarteirões onde essa
população habitava, e sem opções de se estabeleceram em outros lugares na cidade,
essas pessoas viram nas encostas dos morros a única saída. “[...]. Eles (cortiços)
deixaram de ser construídos no século XX parcialmente pelo decreto do controle de
aluguéis por Getúlio Vargas e, enfim, pela proibição legal de construí-los, baseado nas
teorias sanitaristas do miasma e na crença de que as doenças que surgiam eram
inerentes à sua forma construtiva. A proibição dos cortiços está intimamente ligada
ao surgimento das favelas no Brasil, pois criava uma barreira legal para a construção
de moradias populares, excluindo grande parte da população à autoconstrução da
favela” (LING, 2013). As políticas de “higiene” de Osvaldo Cruz transformaram o
“problema cortiço” num problema urbano gigantesco. Ao expulsar a população pobre
de suas moradias sem pensar numa solução adequada de habitação para os mesmos,
ele basicamente deu início a tragédia urbana que se estabelece no Rio de Janeiro até
hoje, e segue sendo varrida para de baixo do tapete. Problemas específicos do Rio
de Janeiro tomaram proporções, segundo Weimer, criminosas, como a ocupação de
encostas de morros com terrenos propícios a deslizamentos que não acontecem por
um “milagre”. Nas letras de “Eu Sou Favela” (2004), o sambista “embaixador das
favelas”, Bezerra da Silva, faz uma análise do perfil das condições dessa população,
a partir da perspectiva de quem vivência a experiência de habitar nos morros:
Sim, mas eu sou favela, e posso falar de cadeira. Minha gente é
trabalhadeira e nunca teve assistência social. Ela só vive lá, porque para o
pobre não tem outro jeito, apenas só tem o direito a um salário de fome e uma
vida normal. A favela é um problema social [...].

Mano Brown (Racionais Mc’s) descreve bem a perspectiva de um morador em


situação de risco no morro, na música Homem na Estrada (1993):
Equilibrado num barranco, um cômodo, mal-acabado e sujo. Porém,
seu único lar, seu bem e seu refúgio. Um cheiro horrível de esgoto no quintal.
Por cima ou por baixo, se chover será fatal. Um pedaço do Inferno aqui é
onde eu estou. Até o IBGE passou aqui e nunca mais voltou. Numerou os
barracos, fez uma pá de perguntas. Logo depois esqueceram [...].

Entende-se a formação da favela como uma resultante direta do processo de


escravidão. Nela os reflexos do impedimento dos direitos civis dos negros se
materializam e se misturam com a necessidade de readaptação ao espaço em que o
povo negro da diáspora fora sujeito após serem retirados os direitos à moradia. A
“nova unidade africana” em que os negros cativos foram obrigados a se organizar, se
vê representada nas comunidades, onde não existem mais raízes africanas diretas
com as tribos da qual são herdados os conhecimentos, mas podemos perceber que
ainda está enraizado os métodos de construção empíricos (hoje mesclados com nova
técnicas e materiais), o convívio em grupos, as religiões de matriz africana nos
terreiros dos morros, etc. A autoconstrução nos morros e guetos espalhados pelo
Brasil podem ser percebidos, segundo a música Favela Vive 226 como quilombos de
madeirite e concreto.

CONCLUSÃO

Com essa pesquisa foi possível perceber a dificuldade em achar documentos


e materiais confiáveis dos temas estudados. Ademais, é necessário fazer uma leitura
da maneira como nossos ancestrais se organizavam comunidade, como
compreendiam a experiência de habitar, suas técnicas construtivas, traços e métodos
desenvolvidos com milhares de anos de tentativas, erros e acertos, para aí então
conseguir visualizar os mesmos na nossa arquitetura popular. A escassez das fontes
recebe o mesmo fantasma que assombra o déficit identitário da população negra da
diáspora. Mas é possível também ver como nenhuma omissão escapa à história. O
Brasil traz fortes vínculos, ainda existentes, com sua herança africana, e suas
contribuições são vistas no dia a dia da população brasileira, nas periferias, nos
morros, etc. É necessário abandonar essa forma grosseira e colonial de compreender
o mundo através das perspectivas europeias, e começar a ensinar desde cedo que o
Brasil tem em seu DNA marcas de uma África forte, rica e desenvolvida, e buscar
políticas equânimes, que retratem o papel da população negra na sociedade brasileira
e permita a ascensão desse povo. Caso contrário, nosso país terá sempre um padrão
inalcançável como objetivo de realização, e seguirá repetindo os mesmos erros de
abandono e desleixo com os filhos da diáspora. É necessário conhecer nosso
passado, não somente para não o repetir, mas pensar nos problemas consequentes
do mesmo, supera-los, e assim melhoramos como sociedade.

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