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Céline Veríssimo
¡DALE! / UFBA, MALOCA / UNILA, PPGPPD e CAU / UNILA, DAMG / UPT
ISSN: 2965-4904
500 años” (QUIJANO, 1999, p. 141), encontrando-se subjacente às múltiplas hierarquias
da universalidade de um só mundo no pensamento ocidental moderno. Assim, tudo
o que foge da hegemonia branca heteronormativa eurocêntrica gera na sua gênese
os conflituosos dualismos: natureza-humano; brancos-não brancos; homem-mulher;
sul-norte; pobres-ricos; campo-cidade; legalidade-ilegalidade; centro-periferia; cidade
formal-cidade informal, entre muitos outros que corrompem e destroem mundos
outros. Sem dúvida, o caminho para a decolonização passa por eliminar a moder-
nidade-colonialidade para um futuro pluriversal, “um mundo onde caibam outros
mundos”, segundo o movimento Zapatista, onde os outrora oprimidos construiriam
alianças políticas de luta entre si para celebrar a diversidade da vida.
Indo além dos espaços físicos e lugares, a contribuição social, cultural e simbólica
africana e afrodiaspórica tem sido, historicamente, desconsiderada desde os discursos
oficiais até a produção de teorias e conhecimentos acadêmicos. A presença negra
é, então, resultado de movimentos de resistência e sobrevivência que, ao longo do
tempo, têm sido decisivos não só para a permanência dessa população em determi-
nados espaços da cidade, mas também para a continuidade de sua produção cultural
contemporânea, onde quer que ela se manifeste.
Encerrando a seção “artigos”, Luís Almeida traduziu para português o texto “Re-
fazendo cidades africanas”, que apresenta o livro de 2004 For the City Yet to Come:
Changing African Life in Four Cities, de autoria do célebre AbdouMaliq Simone, atual-
mente professor da Universidade de Sheffield, que se dedica há mais de vinte anos ao
estudo das cidades africanas como ativista, professor, pesquisador e assessor de ONGs
e governos locais. O autor mostra-nos as nuances, obscuridades e criatividades por
detrás da vida urbana das várias Áfricas e elabora uma análise crítica ao sofrimento e
injustiças da vida urbana. Simone contesta a visão convencional de “cidades falhadas”,
argumentando que a compreensão dos centros urbanos em África passa por conhecer
as origens históricas de cada cidade em particular e, não menos importante, também
conhecer de perto os saberes locais, que são fortemente imbuídos na cultura, que
se refletem nos sistemas sociais, econômicos e políticos “informais” que dão vida e
forma às cidades.
A seção “resenha” encerra este primeiro número deste dossiê Cidades africanas.
Aqui, ao autor português David Viana, das Universidades do Porto e Portucalente,
coube a tarefa de resenhar o livro The History of African Cities South of the Sahara:
From the Origins to Colonization, da renomada historiadora francesa Catherine Co-
query-Vidrovitch, que faz uma importante discussão sobre as cidades e a urbanização
africanas. Na resenha “Aprendendo com as cidades africanas’’, Viana descreve como
o livro evidencia a necessidade de compreender os diversos períodos da história
das cidades africanas, sem reduzi-las ao processo moderno-colonial. Além disso,
ressalta a complexidade de atores e processos que configuram as cidades africanas,
articulando a história urbana da África à história do próprio continente, levando em
conta os distintos contextos culturais, geográficos, políticos, econômicos, entre outros,
ao longo do tempo e do espaço. Por fim, Viana afirma que ao aprendermos sobre a
história das cidades africanas, aprendemos muito sobre o passado, o presente e o
futuro da urbanização per se.
Referências
CARNEIRO, Sueli. A construção do outro como QUIJANO, Aníbal. ¡Qué tal raza! Ecuador De-
não-ser como fundamento do ser. Tese (Dou- bate, n. 48, p. 141-151, 1999. disponível
torado em Educação) - Universidade de São em: https://repositorio.flacsoandes.edu.ec/
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FANON, Frantz. Pele negra, máscaras brancas. SANTOS, Boaventura de Sousa. Para além do
São Paulo: Ubu Editora, 2020. pensamento abissal: das linhas globais a uma
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65682014000100019. Acesso em: 14 maio 2022.
Notas
1 Para os textos do dossiê, optamos por acolher as diversas formas do idioma português,
respeitando as diferenças e particularidades das maneiras como é escrito nos diversos paí-
ses da comunidade lusófona.
2 Capulana é o termo na língua tsonga usado em Moçambique para chamar o pano que,
tradicionalmente, as mulheres vestem à volta da cintura como saia, vestido e na cabeça,
emoldurando o rosto.
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