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Com (A) rtes na Educação do SESC

Núcleo de Formação Continuada do Dept. Nacional do SESC

Professora Denise Espirito Santo


(Instituto de Artes, UERJ)
Uma nova onda estética: a periferia
como produção de novos sentidos e
significados”
“Este ensaio [ Aula ] é dedicado ao homem ordinário. Herói comum.
Personagem disseminada. Caminhante inumerável... este herói anônimo vem
de muito longe. É o murmúrio das sociedades.

De todo o tempo, anterior aos textos. Nem os espera. Zomba deles. Mas, nas

representações escritas, vai progredindo. Pouco a pouco ocupa o centro de

nossas cenas científicas”

Michel de Certeau, A invenção do cotidiano


Parte 1

Diversidade cultural e multiculturalismo. Como ancorarmos esses 2 conceitos


aos estudos sobre o cotidiano? (Certeau)

 De que modo os usos, frequencias, apropriações, resignificações das práticas comuns


(práticas sociais) adquirem outro estatuto a partir do protagonismo daqueles que falam
deste lugar que lhes é próprio, ou seja, o lugar do Outro?
 E quando reconhecidas as práticas comuns, que chamamos de poéticas, essas formulam
e atuam com outros agenciamentos que lhes retiram da marginalidade, da obscuridade e
da invisibilidade.
 Das práticas comuns às experiências particulares (Vïdeo nas Aldeias, audiovisual).
 O multiculturalismo não se apresenta como um conjunto de produções “fora” da
engrenagem do capital; ao contrário, suas produções capturam os modos de produção
hegemônicos, constituindo muitas vezes suas próprias formas ou modelos de
funcionamento; mas também o multiculturalismo pode ser capturado e domesticado pela
força e pela engrenagem do capital.
 Não se trata tão somente de um regresso ao indivíduo, um enfoque atomizado, porém
pensar que as formações locais da cultura são sempre fruto das relações sociais, “cada
individualidade é o lugar onde atuam pluralidades."
Tupinambá, o retorno da Terra, 2015
Direção: Daniela Alarcon
Documentário, 25 min. Livre
Reunião de depoimentos e sequencias gravadas
em maio de 2014 na Aldeia Serra do Padeiro, na
terra Indígena Tupinambá de Olivença, sul da
Bahia. O documentário mostra a expropriação e
resistência dos Tupinambá segundo a perspectiva
dos próprios indígenas, para quem a Terra
pertence aos encantados, as entidades mais
importantes de sua cosmologia.
“A noção de periferia é uma construção social relacionada a
práticas e discursos de sujeitos sociais e políticos de um contexto
histórico específico, de ascensão dos chamados movimentos sociais
urbanos, de intensas mudanças na sociedade brasileira: a transição
de regimes políticos autoritários, para uma abertura democrática
[?] e dinâmicas relacionadas à passagem de períodos de intenso
crescimento econômico de base urbana-industrial, para um período
de recessão e agravamento dos problemas urbanos e sociais.”

Periferia: conceitos, práticas e discursos


Giselle Tanaka
http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/16/16137/tde-26052010-133856/pt-br.php
Acesso em 17/4/2017
Virgínia Rodrigues - Canto de Xangô - YouTube
Nação Zumbi – Canto de Xangô – YouTube
A questão da bricolagem
– Martha Rosler, House
beautiful – bringing the
war home.

“supõe que à maneira dos


povos tradicionais os
usuários façam uma
bricolagem com e na
economia cultural
dominante, usando
inúmeras e infinitesimais
metamorfoses da lei,
segundo seus interesses
próprios e suas próprias
regras.” (Certeau, A
invenção do cotidiano)
A questão da bricolagem – Martha Rosler, House beautiful – bringing the war home.
A questão da bricolagem – Martha Rosler, House beautiful – bringing the war home.
Parte 2

Estudos culturais “Os Estudos Culturais são um campo de estudos


relacionado com o estabelecimento do Centre for
Contemporary Cultural Studies (CCCS), em 1964, na
Sob a ótica dos estudos culturais e pós-
Universidade de Birmingham, no Reino Unido.
coloniais, a configuração de novos Influenciaram profundamente os interesses e métodos das
territórios de cultura e arte na cidade análises de estudos que operam com a noção de
como espaços de intensa produção “subcultura”, centraram suas atenções na categoria
epistêmica e de que modo isto vem “juventude”, no contexto das discussões e afirmações de
contribuir para a reconfiguração do que liberdade, intensas na década de 1960. Alguns autores e
entendemos como sistemas de arte e da suas obras, em especial, influenciaram na construção de
própria idea de comunidade, a medida em conceitos e do próprio campo dos “estudos culturais”,
que reconhecemos neste contexto a como os críticos marxistas britânicos Raymond Williams,
emergência de novos atores sociais nesta Edward P. Thompson e Richard Hoggart. Os “estudos
seara da arte, da cultura e da ciência. culturais” britânicos podem ser caracterizados por terem
elaborado um método interdisciplinar de análise, colocando
em discussão outros tipos de “comportamentos
desviantes...”
JOSÉ AUGUSTO ZORZI
ESTUDOS CULTURAIS E MULTICULTURALISMO: uma perspectiva das
relações entre campos de estudos em Stuart Hall. In:
https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/67062/000872115.pdf?
sequence=1
“Os estudos culturais e as correntes do pensamento feminista – Heloisa Buarque de
Holanda salienta a importância que o pensamento feminista adquiriu como
expressão de uma 'tendência teórica inovadora e de forte potencial crítico e político',
mediante ao que ela percebe como a 'ineficácia dos discursos contestatórios da
atualidade'. Tal importância se deve ainda aos estudos de gênero no rumo
originalmente determinado para o desenvolvimento das teorias críticas
contemporâneas, como por exemplo, o pós-modernismo (Owens) e os estudos
culturais (Hall). Argumenta-se que os estudos feministas abriram caminho para
outros questionamentos de discursos periféricos.”

Sandra Regina Goulart de Almeida


A crítica feminista no âmbito dos estudos culturais: uma interrupção indesejada?
In: http://200.144.182.130/revistacrop/images/stories/edicao4_5/v045a03.pdf
Acesso 17/04/2017
Multiculturalismo e Diáspora

A idéia de uma cultura na/da diáspora que se consolida concomitantemente ao


entrelaçamento com outras formas e combinações culturais, ajuda a desestabilizar
as próprias noções de nacionalismo, cultura e identidade que foram concebidos
numa época em que os mercados mundiais estavam por se consolidar na Europa do
século XIX. É como se essa condição híbrida, flutuante e líquida das culturas e de
seus sujeitos nas sociedades globais representasse o principal motor para a
superação dos modelos imperiais encontrados no passado:

“A globalização, obviamente, não é um fenômeno novo. Sua história coincide com


a era da exploração e da conquista européias e com a formação dos mercados
capitalistas mundiais... O apogeu do imperialismo no final do século XIX, as duas
guerras mundiais e os movimentos pela independência nacional e pela
descolonização no século XX marcaram o auge e o término dessa fase.”
Stuart Hall, Da diáspora
culturas populares - cultura de massa

Dona Onete – Jamburana

Mc Carol e Karol Conka – 100% feminista


Corpo, Diversidade e Multiculturalismo

O Corpo como instância de produção epistêmica, como máquina de realização

pedagógica, de trânsito e comunhão de experiências. Corpos no cotidiano das

cidades em atuações que oferecem experiências que contrastam com a aparente

repetição das imagens do dia a dia. Corpo que se apresenta em total sintonia com a

cidade, suas mecânicas e mecanismos dentre os quais está a instituição escolar que,

nos parece, reclama o corpo que lhe dá carne e sentido cotidiano, mas ainda figura

quase apagado na oficialidade dos currículos.


Diversidade cultural, multiculturalismo e Alteridade

Por trás da cor dos olhos, Pulsar Companhia de Dança

Disabled Theater, Jérôme Bell & Theater Hora


Das escutas – atividade proposta
Algumas considerações finais:

“Ao abordarmos a noção de periferia, procurando entender em que medida este conceito
adquire uma centralidade na questão urbana brasileira e como este conceito reforça uma
chave de leitura das contradições da sociedade brasileira, pretendemos contribuir para a
construção de um pensamento urbano que busque constituir os reais problemas das cidades
brasileiras”.

Esta será seguramente uma tarefa mais ampla e complexa que a presente apresentação buscou
de algum modo compensar. Escolhemos explorar esses caminhos, ligando multiculturalismo
às produções poéticas singulares e muitas vezes exteriores ao campo hegemônico da arte e da
cultura, assim como relacionando o multicultural face às configurações do imaginário na era
da globalização e da hegemonia – mais que extenuante, do capital, por entender que
precisamos superar essa visão dicotômica da periferia como um espaço a reboque, para que
possamos avançar na pesquisa urbana enquanto fator determinante ao processo de produção
dos espaços urbanos e de suas questões intrínsecas: a segregação socio-espacial, a
deterioração da qualidade de vida na cidade. Deste modo, podemos construir novas bases para
apreensão e quem sabe, transformar as lógicas efetivas que regem a sociedade.
Uma onda no ar, Helvécio Ratton
Milton Santos
Geógrafo brasileiro

FIM.

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