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Apresentação
A arquitetura é uma atividade complexa que requer o estudo de variados elementos para que, ao
final, o resultado seja interessante. Assim, uma das etapas para saber fazer arquitetura diz respeito
aos estudos sobre os elementos primários, sobre as diferentes formas e sobre os espaços e suas
composições.
Bons estudos.
Uma das mais famosas casas do mundo, a Casa da Cascata (Casa Kaufmann), projetada pelo
arquiteto americano Frank Lloyd Wright, em 1934, foi considerada uma introdução da arquitetura
moderna em seu país. Essa edificação é uma referência sobre o estudo da forma, pois foi inovadora
para sua época e evidencia muito a composição de volumes retangulares.
Imagine que você foi o arquiteto responsável por essa edificação e precisa explicar de forma
bastante objetiva, em pelo menos um parágrafo, quais são as características evidentes da
edificação. Explique o que é possível perceber através dos planos, da forma como um todo e da sua
articulação com o meio em que está inserida, como se fosse uma explicação do seu próprio projeto.
Infográfico
Os elementos primários referem-se ao ponto, à reta, ao plano e ao volume. Esses elementos podem
ser vistos como etapas, pois, ao utilizar vários pontos, você terá uma reta. Ao utilizar várias retas,
você pode formar um plano e, ao juntar vários planos, você terá um volume. Esse é um raciocínio
muito básico, mas é por meio dele que as formas são criadas na arquitetura.
Nesta sessão do Infográfico, veja um pouco mais sobre cada um desses elementos, sobre como eles
se transformam em duas e três dimensões e como essas dimensões são utilizadas nos projetos de
arquitetura.
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Conteúdo do livro
Algumas definições de arquitetura descrevem a disciplina como o jogo da manipulação das formas
sob a luz. Essa definição parece correta, mesmo que às vezes não se saiba exatamente quais formas
seriam manipuladas e, em alguns casos, o que é a forma. Para executar projetos com qualidade, o
profissional deve conhecer a geometria que estará presente em suas obras.
No capítulo Introdução à arquitetura: elementos primários, forma e espaço, base teórica desta
Unidade de Aprendizagem, você vai saber quais são os elementos primários envolvidos na forma
arquitetônica, desde as formas primitivas bidimensionais, como o círculo e o quadrado, até os
sólidos puros, ou platônicos, que podem ser combinados para formar projetos, como nos exemplos
citados neste capítulo.
Boa leitura.
ARQUITETURA
E URBANISMO
Introdução
A arquitetura sempre esteve ligada à geometria, seja no processo de
representação — utilizando a geometria descritiva —, seja no processo
criativo, no qual formas básicas são combinadas para gerar o espaço
arquitetônico. Ao longo da história, é possível observar uma preferência
por composições em que sejam identificáveis as formas primitivas que as
geraram, aumentando a importância do conhecimento sobre o assunto
por parte dos projetistas.
Neste capítulo, você identificará os elementos primários na compo-
sição arquitetônica e como eles podem ser combinados em projetos.
Também estudará sobre o conceito de forma, quais são as figuras primi-
tivas bidimensionais, bem como os sólidos primários e platônicos, com
exemplos de diversos períodos da história.
dispostos sob a luz” (LE CORBUSIER, 2007, p. 102). Menos conhecida — como
é comum com frases célebres — é a justificativa que o mestre suíço apresenta
após o aforismo: “[…] nossos olhos foram feitos para ver formas na luz; sombra
e luz revelam as formas: cubos, cones, esferas, cilindros e pirâmides são as
grandes formas primárias que a luz revela bem” (LE CORBUSIER, 2007, p. 102).
Para Le Corbusier (2007), a arquitetura trata da manipulação de formas de
modo que sejam percebidas da maneira mais clara possível por quem as observa.
Ainda no mesmo livro, o autor expande sua apologia à combinação de formas
simples como a base da arquitetura de qualidade ao elogiar as construções romanas
em um capítulo chamado “A lição de Roma”, cuja ilustração você pode ver na
Figura 1. “A luz toca as formas puras e as retribui com juros. Massas simples
desenvolvem superfícies imensas que se apresentam com uma variedade carac-
terística, de acordo com o tipo de questão que se apresenta: cúpulas, abóbadas,
cilindros, prismas retangulares ou pirâmides” (LE CORBUSIER, 2007, p. 200).
Círculo
O círculo é a epítome da forma ideal, uma vez que qualquer ponto que seja
posicionado sobre sua aresta se encontrará exatamente à mesma distância do
centro da figura do que outro ponto qualquer posicionado sobre essa mesma
linha. Talvez por essa característica, essa forma é comumente associada a
divindades e outros fenômenos de difícil explicação:
(a) (b)
Figura 4. (a) Composições com círculos e seções de círculos; (b) planta baixa da Assembleia
Legislativa de Chandigarh (Le Corbusier).
Fonte: (a) Ching (2013, p. 39); (b) Ching, Jarzombek e Prakash (2019, p. 758).
Quadrado
Chama-se quadrado o polígono formado por quatro arestas de mesma dimen-
são. Trata-se de uma figura intuitiva que pode ser desenhada e identificada
facilmente. Munari (2012, p. 5) afirma que “[...] o quadrado é fortemente
ligado com o homem e suas construções, arquitetura, estruturas harmônicas,
8 Introdução à arquitetura: elementos primários, forma e espaço
(a) (b)
Figura 5. (a) Rotações de quadrados; (b) elevação da Casa del Fascio (Giuseppe Terragni).
Fonte: (a) Ching (2013, p. 41); (b) Alonso Pereira (2010, p. 270).
Triângulo
A terceira figura pura mais comum em composições arquitetônicas é o triângulo,
que está presente na arquitetura desde tempos imemoráveis, sendo possível
encontrá-lo na arquitetura egípcia produzida por volta do ano 2.500 a.C. Esse
fato deve-se à estabilidade da figura quando apoiada sobre uma de suas arestas,
como é possível ver na Figura 6a, que traz um corte da Pirâmide de Quéops.
Introdução à arquitetura: elementos primários, forma e espaço 9
(a) (b)
Ching (2013), por sua vez, classifica como formas primárias as esferas, os
cilindros, os cones, as pirâmides e os cubos. A justificativa de Ching (2013, p.
58) para elencar essas formas como as primárias deve-se ao fato de que estas
podem ser “[...] ampliadas ou postas em rotação de modo a gerarem formas vo-
lumétricas ou sólidos distintos”. Além disso, ao explicar a origem desses sólidos,
o autor defende que sua origem e natureza geométrica são atributos relevantes:
Esfera
A característica definidora da esfera, e o que a torna uma forma única entre os
sólidos geométricos, é o fato de que, assim como acontece com o círculo, todos
os pontos posicionados sobre sua superfície estarão equidistantes do centro
da esfera. Essa figura é formada, segundo Ching (2013), pela revolução de um
semicírculo em torno do seu diâmetro, constituindo uma forma centralizadora
e extremamente concentrada.
De um ponto de vista pictórico, as esferas são os únicos sólidos que são
percebidos com a mesma forma independentemente do ângulo de vista, inexis-
tindo distorções por pontos de vista distintos. Desse modo, a esfera sempre é
percebida como um círculo. A Figura 8a mostra como se dá essa percepção. Na
arquitetura, os exemplos de uso de esferas variam desde as cúpulas e abóbadas,
citadas por Le Corbusier (2007), até os projetos em que esferas completas
são utilizadas. O caso mais emblemático do uso de esferas é o Cenotáfio
de Newton, projeto teórico realizado pelo arquiteto francês Étienne-Louis
Boullée em 1784 (Figura 8b).
(a) (b)
Figura 8. (a) Esfera e sua percepção: um círculo; (b) cenotáfio para Newton (Etienne-Louis
Boullée).
Fonte: (a) Ching (2013, p. 44); (b) Boullée (2020a, 2020b).
12 Introdução à arquitetura: elementos primários, forma e espaço
Cilindro
A exemplo da esfera, o cilindro também é considerado um sólido de revolução.
No entanto, sua geração se dá pela revolução de um retângulo sobre um de
seus lados, gerando uma forma que é centralizada em relação ao seu eixo de
revolução. Ching (2013) apresenta o cilindro como estável, quando repousa
sobre uma das faces circulares, e instável, quando seu eixo central for incli-
nado. Sua percepção visual é bastante interessante, uma vez que, ao olhar
um cilindro perpendicularmente ao seu eixo de rotação, o que é visto é um
retângulo, enquanto que, ao olhar paralelamente a esse eixo, ele é percebido
como um círculo. A Figura 9a demonstra esse efeito.
Existem muitos exemplos do uso do cilindro como elemento compositivo
na arquitetura. Alguns projetos de torres podem ser descritos como cilindros
alongados; alguns templos da Antiguidade também utilizavam o cilindro como
forma geradora. Na Grécia, esse tipo de templo recebeu o nome de Tholos e,
até hoje, é possível encontrar ruínas que demonstram sua geometria, como a
que pode ser vista na Figura 9b, do Tholos de Delphi.
(a) (b)
Figura 9. (a) Cilindro e sua percepção: um círculo e um retângulo; (b) Tholos de Delphi.
Fonte: (a) Ching (2013, p. 44); (b) furud/Pixabay.com.
Cone
Último dos sólidos de revolução, o cone é gerado pela revolução de um triângulo
retângulo sobre um de seus catetos. A exemplo do cilindro, segundo Ching
(2013), esse sólido é bastante estável quando apoiado sobre a base circular,
mas ganha instabilidade quando é inclinado ou invertido, deixando seu vértice
como apoio, gerando um estado precário de equilíbrio.
Introdução à arquitetura: elementos primários, forma e espaço 13
(a) (b)
Figura 10. (a) O cone e sua percepção: um triângulo e um círculo; (b) Catedral Metropolitana
de Brasília (Oscar Niemeyer).
Fonte: (a) Ching (2013, p. 45); (b) Thorge/Pixabay.com.
Pirâmide
Esse interessante sólido é formado por uma base quadrada a partir da qual
faces triangulares se encontram em um vértice central. Suas propriedades de
estabilidade são semelhantes às do cone, com a exceção de que a pirâmide, ao
contrário do cone, possui faces laterais planas, podendo, portanto, repousar
sobre estas com considerável estabilidade. Visualmente, as pirâmides são
percebidas como triângulos ao serem observadas por sua lateral e, como um
quadrado, quando observadas de modo perpendicular à sua base. A Figura 11a
demonstra como a sua percepção assemelha-se à do cone, com a diferença de
que a sua base quadrada confere um aspecto mais duro e angular.
As pirâmides estão presentes na arquitetura há milênios e, em razão de sua
estabilidade, foram uma das primeiras formas a permitir construções em grande
escala, como as pirâmides egípcias. Na arquitetura do século XX, foram ressigni-
ficadas em projetos como a ampliação do Museu do Louvre, em Paris (Figura 11b).
14 Introdução à arquitetura: elementos primários, forma e espaço
(a) (b)
Figura 11. (a) Pirâmide e sua percepção: um triângulo e um quadrado; (b) Pirâmide do
Louvre (I. M. Pei).
Fonte: (a) Ching (2013, p. 45); (b) 139904/Pixabay.com.
Cubo
Esse sólido, com o qual todos estamos acostumados a trabalhar e manipular,
é formado por seis quadrados iguais dispostos de modo que todos os ângulos
entre as faces sejam retos. Segundo Ching (2013), é uma forma estática devido
à igualdade de suas dimensões, que carece de movimento e direção aparentes.
Sua percepção visual pode ser transformada de acordo com o ponto de vista,
mas sua forma é tão estável e estática que se mantém, segundo Ching (2013),
claramente reconhecível, independentemente do ângulo de visualização. A
figura percebida ao olhar para um cubo será um quadrado quando o observador
se posicionar perpendicularmente ao objeto, como demonstra a Figura 12a.
O cubo e suas variações dimensionais — os paralelepípedos — são as
formas mais encontradas em projetos de arquitetura ao longo da história. Os
prismas de base retangular formam a base da arquitetura ocidental desde a
Antiguidade. Para ilustrar esse uso, a Figura 12b traz um projeto inusitado
realizado na Holanda, projetado por Piet Blom, em 1984 — as Casas Cubo.
Introdução à arquitetura: elementos primários, forma e espaço 15
(a) (b)
Figura 12. (a) O cubo e sua percepção: um quadrado; (b) Casas Cubo (Piet Blom).
Fonte: (a) Ching (2013, p. 45); (b) Broesis/Pixabay.com.
CHING, F. D. K. Arquitetura: forma, espaço e ordem. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2013.
CHING, F. D. K.; JARZOMBEK, M.; PRAKASH, V. História global da arquitetura. 3. ed. Porto
Alegre: Bookman, 2019.
LE CORBUSIER. Toward an architecture. Los Angeles: Getty Publications, 2007.
MUNARI, B. Square, circle, triangle. Nova York: Princeton Architectural Press, 2016.
POTTMANN, H. et al. Architectural geometry. Exton, PA: Bentley Institute Press, 2007.
VITRUVIUS. Ten books on architecture: The Project Gutenberg. 2006. Disponível em:
https://www.gutenberg.org/files/20239/20239-h/20239-h.htm. Acesso em: 22 abr. 2020.
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Dica do professor
A forma é um dos fatores mais relevantes na arquitetura, pois é por meio dela que as edificações
são percebidas e se destacam na paisagem. A forma de uma edificação é iniciada por um elemento
básico, como, por exemplo, um cubo que vai sofrendo ajustes, adições, subtrações, sobreposições,
entre outras ações que vão gerar como resultado final uma obra de forma singular.
Nesta Dica do Professor, saiba alguns aspectos referentes aos elementos primários, às formas e à
inserção delas no espaço. Você também terá detalhes sobre transformação da forma, aberturas e
propriedades do espaço arquitetônico.
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Exercícios
1) Todo projeto de arquitetura é formado por elementos primários, conhecidos como ponto,
reta, plano e volume. Um desses elementos primários tem como característica a
bidimensionalidade.
Assinale a alternativa que apresenta corretamente esse elemento, juntamente com suas
propriedades.
Assinale a alternativa que contém as figuras primárias identificadas por meio da forma.
4) O movimento moderno foi um marco para a arquitetura, pois trouxe novas ideias sobre a forma
das edificações. Nesse contexto, também surgiram obras diferenciadas que se tornaram famosas
ao longo do tempo, uma vez que se destacaram nesse momento da história. Um dos exemplos é a
Casa Edith Farnsworth, do arquiteto Mies Van Der Rohe.
Sobre essa edificação, e no que diz respeito aos elementos horizontais e às aberturas, assinale a
alternativa correta.
A) Identificamos um plano base, um plano de cobertura e a abertura em planos.
C) Identificamos o plano de base elevado, o plano de cobertura e aberturas entre dois planos.
5) As aberturas nos planos de fechamento influenciam de forma direta a relação visual interior
e exterior de um cômodo. Suas características podem influenciar o grau de fechamento do
plano, a vista e a iluminação. Sobre as aberturas, assinale a alternativa correta.
A) As aberturas localizadas ao longo das arestas dos planos de fechamento do espaço fortalecem
visualmente as quinas do volume, promovendo uma continuidade visual e a interação com os
espaços adjacentes.
B) Uma abertura pode estar localizada na própria quina dos planos da parede ou na quina da
parede com o teto, mas somente nesta segunda opção é que teremos efetivamente a
abertura em um canto no espaço.
C) Na abertura entre dois planos, uma abertura pode se estender verticalmente entre o piso e o
teto e horizontalmente entre duas paredes.
D) O tamanho, o formato e a localização da abertura são determinantes na configuração de um
cômodo. Podemos influenciar a ventilação e a iluminação natural do espaço, mas essa
abertura não terá relação com o "foco" no ambiente.
E) A luz do sol através das aberturas projeta sombras nas superfícies dos planos e, através dessa
projeção, conseguimos perceber o tamanho da abertura, mas dificilmente seu desenho.
Na prática
As formas e os elementos primários são importantes na concepção dos projetos e estão presentes
no nosso dia a dia nas mais variadas tipologias arquitetônicas. Entender essas formas e saber
identificá-las nas obras facilita a criação de repertório arquitetônico e, consequentemente, colabora
para o treino da criatividade.
Este Na Prática traz o exemplo da edificação Casa da Música, localizada na Cidade de Porto, em
Portugal. Entenda sua forma final e os elementos identificadores do espaço.
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Saiba +
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor:
Introdução à arquitetura
Entender a arquitetura requer a interpretação dos elementos gráficos. Este livro é uma excelente
obra, que traz os principais aspectos da arquitetura de forma acessível. Confira.
Forma e espaço
Na arquitetura, ao pensarmos a forma de uma edificação, também devemos pensar como serão os
espaços internos, pois isso está totalmente relacionado. Leia mais sobre essa relação neste artigo.
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