Você está na página 1de 16

AULA 5

ERGONOMIA

Profª Silvana Bastos Stumm


CONVERSA INICIAL

Nesta aula, falaremos sobre os postos de trabalho, abrangendo alguns


conceitos convencionais e ergonômicos. Você irá perceber que muitos aspectos
são intrínsecos ao trabalho diário dos profissionais da área de ergonomia, mas é
importante que você também os conheça. Dessa forma, será mais fácil entender
como os projetos são pensados e testados e a importância dos temas que serão
abordados nesta aula. Além disso, esses tópicos auxiliarão em avaliações que
você possa ser requisitado a estudar e acompanhar. As temáticas de hoje serão:
posto de trabalho sob a ótica da ergonomia; projeto ergonômico do posto de
trabalho; arranjo físico; dimensionamento do posto de trabalho; e outros
dimensionamentos.

TEMA 1 – POSTO DE TRABALHO SOB A ÓTICA DA ERGONOMIA

No começo de nossas aulas, fizemos algumas abordagens sobre o


engenheiro Taylor (1995), lembra-se? Da mesma forma, quando tratamos de
postos de trabalho, precisamos referenciá-lo novamente e analisar a sua visão
sobre o tema. Taylor (1995) desenvolveu a padronização de métodos e de
instrumentos de trabalho, entendendo que, para se obter um resultado ideal, deve-
se optar pelo método com menor tempo empregado na realização de uma tarefa.
Essa é a visão tradicional. Se você retornar ao que discutimos em aulas
anteriores, lembrará que conversamos rapidamente sobre isso quando
abrangemos a organização do trabalho.
Segundo Barnes (1977, p. 18), sobre esse mesmo enfoque, o estudo de
movimentos e de tempos é definido como:

[...] estudo sistemático dos sistemas de trabalho com os seguintes


objetivos: (1) desenvolver o sistema e o método preferido, usualmente
aquele de menor custo; (2) padronizar esse sistema e método; (3)
determinar o tempo gasto por uma pessoa qualificada e devidamente
treinada, trabalhando num ritmo normal, para executar uma tarefa ou
operação específica; e (4) orientar o treinamento do trabalhador no
método preferido.

Entretanto, para termos o melhor método, dependemos das seguintes


etapas, afirma Barnes (1977):

• desenvolver o método preferido: projeto de métodos;


• padronizar a operação: registro do método padronizado;
• determinar o tempo-padrão: medidas de trabalho.
2
Essa forma de trabalho nem sempre era eficaz a longo prazo, como dizem
Iida e Buarque (2016), pois os movimentos tornavam-se repetitivos, levando à
fadiga muscular. A partir da década de 1990, tais conceitos foram revistos, visando
melhorar a qualidade de produtos e de serviços e obter a certificação ISO
9000:2015, série de normas voltada à gestão da qualidade e à otimização de
processos (ABNT, 2015).
Em ergonomia, o estudo do posto de trabalho, de acordo com Faria (1984),
consiste na análise da tarefa a ser executada para identificar e avaliar os aspectos
psicofisiológicos pertinentes à atividade; e no estudo da natureza e das condições
referentes à atividade, com a finalidade de melhor adaptar o trabalho à natureza
do homem. Após essa breve e necessária introdução, podemos, agora, abordar o
posto de trabalho sob a ótica da ergonomia. De acordo com Iida e Buarque (2016),
sob o ponto de vista da ergonomia, os postos de trabalho são desenvolvidos para
reduzir as exigências físicas e cognitivas do trabalhador. Diferentemente do que
acontecia na chamada era tradicional.
Nesse contexto, verificamos que os maquinários, os equipamentos e outros
elementos ferramentais são adaptados às necessidades do trabalho e às
características do trabalhador (lembre-se da Norma Regulamentadora n. 17/1978
– NR 17, conforme Brasil, 1978). Segundo Iida e Buarque (2016), com essas
adaptações, promove-se o equilíbrio biomecânico, reduzindo-se assim a carga
mental e o estresse, há aumento da satisfação e da segurança do trabalhador,
além de se gerar aumento de produtividade.
Outro aspecto fundamental em relação ao posto de trabalho refere-se às
zonas de alcance. Segundo Abrahão et al. (2009), a facilidade de acesso depende
das exigências da atividade; do volume ou peso dos documentos/objetos; da
disposição dos equipamentos e comandos; da posição sentada e em pé; e da
variabilidade da antropometria. Conforme Iida e Buarque (2016), na zona de
alcance dos movimentos corporais devem ficar os objetos/materiais a serem
manipulados e as informações devem ser facilmente percebidas. Se precisarmos
manipular objetos e documentos situados fora do alcance dos braços, haverá
movimento do tronco, tanto para trabalho na posição sentada quanto na em pé.
É importante esclarecer que qualquer concepção de posto de trabalho que
não possibilite ao usuário alguma liberdade pode provocar resultado contrário do
esperado. Deve ser permitido ao trabalhador mudar o local de

3
objetos/ferramentas/equipamentos, pois isso, além de lhe proporcionar maior
conforto, também personaliza seu espaço.

TEMA 2 – PROJETO ERGONÔMICO DO POSTO DE TRABALHO

A elaboração do projeto do posto de trabalho acontece depois da


verificação de alguns aspectos e ela não necessariamente implicará que se trate
de um projeto novo. Existem situações que necessitam de alguns ajustes e podem
ser resolvidas com algumas adaptações, às vezes, bastante simples, como mudar
a cadeira ou colocar um suporte para apoio dos pés. Vamos, então, às definições.
Para Faria (1984), o posto de trabalho é a unidade primária operativa
correspondente a cada trabalhador e a sua respectiva tarefa. Considera-se essa
unidade elementar. Entendemos, assim, que o posto de trabalho é parte
integrante do planejamento da estrutura produtiva e da estratégia global da
empresa. Trata-se da “[...] menor unidade produtiva, onde trabalham uma ou mais
pessoas”, conforme Iida e Buarque (2016). E, para elaborar o seu projeto, seis
etapas são recomendadas. Vamos estudá-las separadamente.

2.1 Objetivos, especificações e recursos

Inicialmente, a administração da empresa define os objetivos, as


especificações principais e quais recursos estão disponíveis. Como anteriormente
dissemos, nem sempre se faz um projeto novo ou se realizam alterações bruscas
no posto existente. Consideram-se nessa etapa questões tecnológicas,
financeiras e a delimitação de prazo, juntamente com as necessidades do
trabalhador. No entanto, a visão, a postura, os alcances e o espaço para
movimentos necessários devem estar em conformidade com a capacidade do
usuário. Em função das restrições, muitas vezes a solução encontrada ainda não
é a ideal.

2.2 Características principais

Para executar o projeto, é fundamental ter conhecimento da tarefa, do tipo


de equipamento, das posturas exigidas para desempenho da função, do ambiente
laboral. A análise desses aspectos deve levar em consideração fadigas, dores,
desconfortos ambientais como ruído e calor, e outros fatores preponderantes
como doenças ocupacionais, absenteísmo e rotatividade.

4
2.3 Projeto

O projeto do posto de trabalho é dividido em arranjo físico e


dimensionamento. O arranjo físico tem natureza qualitativa e é nessa fase que se
estabelece o leiaute das posturas básicas e dos movimentos do usuário em função
dos equipamentos, máquinas ou ferramentas que serão usados. Na fase de
dimensionamento, de natureza quantitativa, inicia-se o levantamento
antropométrico e, em seguida, dos elementos materiais do posto de trabalho.
Arranjo físico e dimensionamento são nossos próximos temas.

2.4 Construção e teste do modelo

A construção de um modelo (em metal, madeira, papelão) auxilia na


verificação dos arranjos e dimensionamento do posto de trabalho. Em alguns
casos, há necessidade de se revisar as características do projeto, para que todos
os elementos se encaixem no espaço definido.

2.5 Construção e teste do protótipo

Nessa etapa, é construído o protótipo com materiais reais e que serão


usados para fabricar o posto de trabalho. Por ser real, ele permite testes de
movimento, velocidade e força, além de possibilitar medir iluminamento, ruído e
outros fatores.

2.6 Manuais de uso

Uma vez aprovado o protótipo, são elaboradas especificações para a


fabricação efetiva do posto de trabalho. Essas especificações devem conter os
desenhos técnicos, os materiais, bem descritos, bem como os processos
produtivos. Com base nisso, elabora-se o manual de uso do posto de trabalho
com indicações de instalação.
De um modo geral, essas são as etapas para elaboração do projeto do
posto de trabalho. Lembre-se de que existem características pessoais, como
indivíduos que estão fora do padrão da maioria da população. Em casos assim, o
projeto deve permitir fácil adaptação.

5
TEMA 3 – ARRANJO FÍSICO

Apesar de já termos feito menção ao termo arranjo físico, é neste tema que
vamos abordá-lo mais especificamente, iniciando com sua conceituação. Também
denominado leiaute, o arranjo físico é o estudo da disposição de tudo que compõe
o posto de trabalho. Imagine seu local de trabalho e de que forma os elementos
estão dispostos. Como é o arranjo do seu posto? Para Slack, Chambers e
Johnston (2009), o arranjo físico refere-se ao local onde máquinas, equipamentos,
ferramentas, instalações de um modo geral e usuários estarão dispostos. Decidir
por um ou outro tipo de arranjo afeta diretamente a organização da empresa.
Contudo, essa disposição pode mudar ao longo do tempo, conforme as
necessidades da organização.
Arranjo físico, de acordo com Chiavenato (2005),

[...] é a disposição física dos equipamentos, pessoas e matérias, da


maneira mais adequada ao processo produtivo. Significa a colocação
racional dos diversos elementos combinados para proporcionar a
produção de produtos ou serviços. Quando se fala em arranjo físico, se
pressupõe o planejamento do espaço físico a ser ocupado e utilizado.

Alguns critérios são básicos, segundo Iida e Buarque (2016), para que esse
arranjo físico seja bem elaborado. Os seis mais importantes estão no Quadro 1.

Quadro 1 – Critérios para um bom arranjo físico

CRITÉRIO COMPONENTE/ELEMENTO POSIÇÃO


Importância O mais importante Em destaque
Frequência de uso Os mais usados Em destaque e de fácil
alcance
Agrupamento funcional Semelhantes formam subgrupos Organizados em blocos
Sequência de uso Acionado primeiro Primeira posição
Intensidade de fluxo Maior intensidade de fluxo Próximos
Ligações preferenciais Elementos ligados/correlacionados Próximos
Fonte: Elaborado com base em Iida; Buarque, 2016.

Existem basicamente quatro tipos de arranjo: posicional, por processo,


linear e celular. Todavia, alguns autores ainda citam o misto, que englobaria todos
os outros tipos. Chiavenato (2005), por exemplo, adota a possibilidade de três
arranjos: de processo, de produto e estacionário. Vamos falar daqueles quatro
tipos e dividi-los em subtemas.

6
3.1 Arranjo físico posicional

Também denominado estacionário por Chiavenato (2005), o arranjo físico


posicional permite grande flexibilidade em sua estrutura. Nesse tipo de arranjo,
segundo Slack, Chambers e Johnston (2009), enquanto o produto permanece fixo
ao longo de todo o processo, os trabalhadores, as máquinas e qualquer tipo de
material se movimentam para realizar as operações necessárias. Exemplo:
produções de aeronaves e navios.

3.2 Arranjo físico por processo

O arranjo físico por processo, também conhecido como arranjo funcional,


segundo Chiavenato (2005), é usado quando os trabalhadores e as
máquinas/equipamentos/ferramentas estão organizados conforme as
especialidades. Nesse caso, são os produtos que se movimentam no decorrer do
processo. Pode-se ter um setor, de acordo com Slack, Chambers e Johnston
(2009), dividido em várias áreas. Entretanto, afirma Chiavenato (2005) que, por
esse ser um sistema de produção em lotes, pode haver paralisações entre o
término de um lote e o início de outro. Exemplo: indústrias siderúrgicas e hospitais.

3.3 Arranjo físico linear

O arranjo físico linear, por produto ou de linha, caracteriza-se pela


disposição de equipamentos e materiais conforme a sequência operacional. Os
materiais se movem de forma linear, tornando mais ágil o controle do processo, e
são fabricados em grande quantidade. É de fácil planejamento e controle, mas
não permite flexibilidade (Slack; Chambers; Johnston, 2009; Chiavenato, 2005).
Exemplo: indústrias automobilísticas.

3.4 Arranjo físico celular

No arranjo físico celular, os maquinários/equipamentos/ferramentas são


agrupados em células para fabricação do produto, ou seja, todos os equipamentos
necessários estão em um só local e fabricam os produtos de forma integral. Dessa
maneira, de acordo com Slack, Chambers e Johnston (2009), os fluxos de
produção permanecem em uma mesma área. Exemplo: indústrias têxteis.

7
Devemos lembrar que o formato do arranjo físico pode contribuir para a
melhoria do seu local de trabalho e para o fluxo de processos e informações. É
possível haver no ambiente laboral o arranjo misto, que combina vários, como
mencionamos no início deste tema. Contudo, é necessário haver planejamento e
observação dos critérios básicos para um bom arranjo físico.

TEMA 4 – DIMENSIONAMENTO DO POSTO DO TRABALHO

Ao conversarmos sobre dimensionamento do posto de trabalho, você irá


relembrar um pouco a nossa abordagem sobre posturas (conforme aulas
anteriores). Percebemos vários desconfortos nos locais de trabalho, relacionados
aos postos. Muitas vezes, um pequeno ajuste no encosto de uma cadeira resolve
futuros problemas lombares. Outras vezes, cortar os pés de uma mesa, ajustar a
altura da tela de um computador também podem resolver e prevenir problemas.
No entanto, sabemos que nem sempre é tão simples assim, pois, em muitas
situações, dependemos de recursos humanos e financeiros que nem sempre
estão disponíveis. Outrossim, dimensionar corretamente o posto de trabalho é
essencial para que o trabalhador desempenhe bem as suas funções e não
submeta sua estrutura física a esforços desnecessários.
Na etapa de dimensionamento, os erros mais comuns que ocorrem,
segundo Iida e Buarque (2016), referem-se à altura, aos alcances, aos espaços
insuficientes, à disposição dos mostradores e controles, aos arranjos dos
materiais e ferramentas. Em qualquer dimensionamento fazemos uso, também,
dos dados antropométricos. Abordaremos, a seguir, as dimensões mais
importantes para um correto dimensionamento de um posto de trabalho. No
decorrer da explanação, alguns pontos de nossas aulas anteriores estarão no
contexto. Acompanhe.

4.1 Altura

4.1.1 Trabalho em pé

Determina-se a altura ideal da mesa de trabalho, conforme estudamos, de


acordo com a função que o operador irá executar. Segundo Dul e Weerdmeester
(2017), essa altura relaciona-se também com as dimensões corporais e as
preferências do usuário. De acordo com Iida e Buarque (2106), a bancada de
trabalho deve ficar na altura dos cotovelos. Além disso, os braços devem ficar
8
pendendo para baixo quando os trabalhos exigirem precisão. Para trabalhos
leves, pode-se reduzir a altura em até 5 cm e, para pesados, em até 25 cm. A
mesma bancada de trabalho, conforme Dul e Weerdmeester (2017), se usada por
várias pessoas, deve ter altura regulável, com faixa de ajustes de no mínimo de
25 cm também. Para Iida e Buarque (2106), para execução de tarefas com
necessidade de pressão para baixo e sem exigência de precisão, recomenda-se
a superfície de até 30 cm abaixo do cotovelo.

4.1.2 Trabalho sentado

Apesar de a postura sentada oferecer mais conforto ao trabalhador,


também altura e ajustes devem ser observados. Cadeiras que permitem regular
assento e encosto são as mais indicadas para essa situação. A altura do assento,
conforme Iida e Buarque (2016), deve ficar na altura poplítea, entre 35,1 cm a 48
cm contados a partir do piso. Considera-se a altura adequada, afirmam Dul e
Weerdmeester (2017), quando a coxa fica corretamente apoiada no assento e os
pés, no chão. Da mesma forma, o encosto da cadeira deve ter 30 cm de altura,
permitir o apoio da região lombar e ter um vão de 10 cm a 20 cm em relação ao
assento. Segundo Iida e Buarque (2016), a superfície de trabalho deve ficar na
altura do cotovelo ou de 2 cm a 3 cm abaixo.

4.2 Alcances

De acordo com Iida e Buarque (2016, p. 312), o alcance normal sobre a


bancada “[...] pode ser traçado pela ponta do polegar, girando-se o antebraço em
torno do cotovelo, com o braço caído naturalmente na lateral do corpo”. No
máximo, esse traçado é realizado com os braços esticados e sem flexão do dorso.
É importante, dizem Dul e Weerdmeester (2017), que os alcances sejam limitados,
evitando assim se inclinar ou girar o corpo. Essas indicações são tanto para o
trabalho realizado na posição em pé quanto para o realizado na posição sentada.
Nessas duas situações, é fundamental que ferramentas, materiais e objetos de
uso estejam ao alcance do usuário, sem que para pegá-los tenha que se
rotacionar o tronco.

9
Figura 1 – Alcances

Fonte: Elias Dahlke, com base em Iida; Buarque, 2016.

4.3 Posturas alternadas

A mudança das posturas em relação ao trabalho alivia tensões e problemas


de saúde que possam vir a ocorrer. Há postos projetados de tal forma que
possibilitam a alternância de posturas e, para isso, a bancada é dimensionada
para o trabalho em pé. O assento deve ser alto e ter apoio para os pés, entre 40
cm a 50 cm abaixo do assento, como informam Iida e Buarque (2016).

4.4 Movimentações

Para que sejam possíveis as movimentações corporais, conforme Iida e


Buarque (2016), é necessário haver folgas e tolerâncias nas dimensões do posto
de trabalho. Espaços diminutos restringem os movimentos e podem provocar
estresse e erros. Entre o assento e a parte inferior da mesa, para que se
acomodem as pernas, sugere-se um vão de no mínimo 20 cm; o espaço frontal
deve ser livre entre 60 cm a 80 cm e deve haver folga também nas laterais.

4.5 Folgas

Outro ponto importante quando dimensionamos o posto de trabalho é


pensarmos nas folgas em corredores, passagens e escadas, conforme afirmam
Iida e Buarque (2016). A largura mínima recomendada para corredores,
passagens e escadas é de 90 cm, no entanto, se esse valor for
superdimensionado, isso provocará mais gasto de energia e posturas

10
inadequadas. Do mesmo modo, se subdimensionado, causará problemas ao
trabalhador.

4.6 Trabalho visual

4.6.1 Posição em pé

Na posição em pé, para a média das mulheres, os olhos devem ficar à


altura de 150 cm; para a média dos homens, em 160 cm. Esses valores são
considerados como máximos, portanto, atividades visuais devem ficar abaixo
dessa altura.

4.6.2 Posição sentada

Na posição sentada, para a média das mulheres a altura dos olhos deve
ficar 73 cm acima do assento; para a média dos homens, a 79 cm. Da mesma
forma que para a posição em pé, esses valores são considerados como máximos,
portanto, atividades visuais devem ficar abaixo dessa altura.
Todos os dimensionamentos que estudamos são pensados de forma
global, todavia, há casos particulares, que veremos no nosso próximo tema.

TEMA 5 – OUTROS DIMENSIONAMENTOS

Adaptar os postos de trabalho aos dimensionamentos particulares, sob a


ótica ergonômica, tem o mesmo objetivo que em outros casos. Pensamos em
redução das exigências biomecânicas, manutenção das posturas corretas,
manutenção dos objetos ao alcance dos movimentos corporais e facilidade de
percepção das informações. Trabalhador e posto de trabalho devem estar
integrados, permitindo a execução das suas tarefas com conforto, eficiência e
segurança.
A preocupação com o posto, segundo Kruger (2007), em qualquer caso,
engloba os movimentos corporais necessários para execução das tarefas de
trabalho, o tempo gasto nesses movimentos e, principalmente, o bem-estar do
trabalhador. Lembremos que as mãos são responsáveis pelo acionamento e
controle das máquinas, equipamentos, instrumentos e ferramentas diversas; a
cabeça define a posição ideal para visualizar painéis formados por controles e
mostradores; o alcance desses comandos é determinado pelos braços e pelas

11
pernas; o alcance de controles com necessidade de se aplicar mais força deve
ser realizado pelos pés, deixando as mãos livres.
Respeitando os critérios mencionados, vamos conversar sobre o uso do
computador que, independentemente da função exercida, é comumente utilizado;
e sobre casos específicos que devem ser considerados, na concepção do projeto.
O dimensionamento para o uso do computador, de um modo geral, envolve a
postura dos usuários, o tipo de assento, a mesa, a visualização da tela, a
iluminação local, aspectos essenciais para que a saúde do trabalhador não seja
prejudicada. Se pensarmos no objetivo maior de hospitais, casas de saúde e
maternidades, imediatamente entendemos que é atender aos pacientes. No
entanto, em um consultório, por exemplo, o médico, durante a anamnese do
paciente, permanece sentado ao digitar os dados do paciente no computador. O
seu computador está sobre a superfície de trabalho. Nessa situação, a postura
deve permanecer relaxada e não ereta, como se sugeriu por muito tempo.

Figura 2 – Regras da boa postura

Crédito: Inspiring/Shutterstock.

É importante, como nos dimensionamentos anteriores, haver espaço


suficiente para movimentações do corpo e para a acomodação das pernas. A
profundidade da bancada deve possibilitar uma distância entre os olhos do usuário
e a tela entre 50 cm a 70 cm, acrescentando-se, ainda, a profundidade da própria
bancada, ou seja, um total variando entre 110 cm a 120 cm, conforme
recomendam Abrahão et al. (2009). Para monitores mais finos, a profundidade da
superfície de trabalho total pode variar entre 70 cm a 80 cm. Os computadores

12
mais modernos apresentam telas de cristal líquido (LCD), possibilitando menor
profundidade reservada à bancada de trabalho. A altura da tela pode ser ajustável,
mas a altura superior não deve passar da linha dos olhos. O teclado deve estar
alinhado à altura dos cotovelos, o que mantém a articulação do punho mais
confortável. Mas lembre-se de que a realização de ajustes deve ser possível.

Figuras 3 e 4 – Exemplos de postura de trabalho usando computador

Créditos: Artbesouro/Shutterstock; 360 Production/Shutterstock.

Outro ponto relevante é o apoio para os pés, que, contudo, não deve ser
usado por períodos prolongados, mas sim para variar a postura de trabalho.
Apoiar os pés no chão também é importante, pois evita que surjam problemas de
circulação. Em relação ao assento, deve-se observar uma inclinação regulável
entre 90º a 120º, segundo Iida e Buarque (2016), e uma altura suficiente para
proporcionar uma postura confortável. Além de todas essas observações, o posto
de trabalho deve ter iluminação de forma tal que não ocorram reflexos na tela,
nem tampouco ela torne a visão do usuário desconfortável. Existem maneiras
corretas de iluminamento que evitam problemas e desconfortos e mantêm a saúde
visual do usuário preservada.

13
Seguindo o mesmo raciocínio, temos os casos específicos, para os quais
faz-se necessário adaptar o posto de trabalho às características do trabalhador.
Por serem projetos onerosos, como mencionam Iida e Buarque (2016), as
concepções, em âmbito geral, atendem ao todo, contudo permitem adaptações.
Nesse perfil estão os portadores de deficiência, segundo Iida e Buarque (2016, p.
699), “a deficiência incide de forma diferenciada para cada habilidade humana:
locomoção, visão, audição, memória)”. O indivíduo que apresenta determinada
deficiência normalmente desenvolve habilidades outras. Para que seja possível
integrar esse trabalhador ao ambiente laboral, algumas necessidades precisam
ser observadas, como nos descrevem Vanderheiden e Jordan (2012) e Iida e
Buarque (2016):

• Percepção: os indivíduos devem ser capazes de perceber o todo; saber


onde estão os controles e suas ações, como os comandos liga e desliga,
por exemplo; entender os resultados dos movimentos dos controles e as
informações (visuais ou auditivas).
• Compreensão: as pessoas devem ser capazes de compreender e de ter
fácil acesso às informações de funcionamento de equipamentos,
ferramentas e do próprio posto de trabalho, sendo-lhes possível ativar ou
desativar um comando agilmente.
• Operação: os trabalhadores devem ser capazes de realizar todas as
funções pertinentes a sua tarefa no tempo habitual, com a mesma
privacidade e segurança que outros usuários.
• Acessibilidade: os postos de trabalho devem ser dimensionados de forma
que seja fácil acessá-los e operá-los, sem exigência de habilidades
específicas. As áreas de circulação devem ter, ao menos, largura de 120
cm, permitindo a passagem de cadeiras de roda e de pessoas que façam
uso de muletas ou bengalas. Os passeios, calçadas e passarelas devem
ter rampas com largura mínima de 120 cm e declividade máxima de 12,5%.
• Cadeirantes: a largura de passagens, corredores e postos de trabalho
deve ser dimensionada a fim de permitir a circulação de cadeiras de roda.
As dimensões são estabelecidas por meio da norma ABNT NBR 9050:2020
(ABNT, 2020) e os objetos a serem manipulados devem estar no espaço
de alcance do trabalhador.

14
Figura 5 – Posto de trabalho acessível

Crédito: Goodluz/Shutterstock.

A ergonomia vem desenvolvendo, ao longo do tempo, diversos estudos


pensando na integração de pessoas que tenham algum tipo de deficiência.
Quando nos referimos aos projetos ergonômicos, a inclusão é de todos,
portadores ou não de deficiência, portanto, o posto de trabalho deve permitir
adaptações conforme a necessidade individual do trabalhador. Além disso, deve-
se permitir às pessoas que personalizem seu espaço, logicamente respeitando
alguns limites. O espaço imposto de forma rígida poderá causar prejuízos à saúde
física e mental e resultar em queda de produtividade do trabalhador.

Figura 6 – Postura correta versus postura errada

Crédito: Miki022/Shutterstock.

Devemos seguir sempre algumas regras básicas, como evitar posturas


curvadas e imobilidade dos braços estendidos, procurar trabalhar sentados,
movimentar os braços e o corpo.

15
REFERÊNCIAS

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. ABNT NBR ISO 9000:2015:


sistemas de gestão da qualidade – fundamentos e vocabulário. Rio de Janeiro, 30
set. 2015.

_____. ABNT NBR 9050:2020: acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços


e equipamentos urbanos. Rio de Janeiro, 3 ago. 2020.

ABRAHÃO, J. I. et al. Introdução à ergonomia: da prática à teoria. São Paulo:


Edgard Blucher, 2009.

BARNES, R. M. Estudo de movimentos e de tempos: projeto e medida do


trabalho. São Paulo: Edgard Blucher, 1977.

BRASIL. Ministério do Trabalho. NR 17 – Ergonomia. In: _____. Portaria n. 3.214,


de 8 de junho de 1978. Diário Oficial da União, Brasília, 6 jul. 1978. Disponível
em: <https://enit.trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/NR-
17.pdf>. Acesso em: 7 dez. 2020.

CHIAVENATO, I. Administração de materiais: uma abordagem introdutória. 3.


ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.

DUL, J.; WEERDMEESTER, B. Ergonomia prática. São Paulo: Edgard Blucher,


2017.

FARIA, N. M. Organização do trabalho. São Paulo: Atlas, 1984.

IIDA, I.; BUARQUE, L. Ergonomia: projeto e produção. São Paulo: Edgard


Blucher, 2016.

KRUGER, J. A. Ergonomia e segurança do trabalho. Goiânia, 2007. Apostila


para curso de pós-graduação em Gestão da Produção da Fatesg.

SLACK, N.; CHAMBERS, S.; JOHNSTON, R. Administração da produção. 3.


ed. São Paulo: Atlas, 2009.

TAYLOR, F. W. Princípios de administração científica. 8. ed. São Paulo: Ed.


Atlas, 1995.

VANDERHEIDEN, G. C.; JORDAN, J. B. Design for people with fucntional


limitations. In: SALVENDY, G. (Ed.). Handbook of Human Factors and
Ergonomics. Nova York: Wiley & Sons, 2012. p. 1.409-1.441.

16

Você também pode gostar