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ASSENTAMENTO DE PISOS CERÂMICOS: IDENTIFICAÇÃO DE

POSTURAS AGRESSIVAS COM A UTILIZAÇÃO DO MÉTODO OWAS

Beatriz Becker Wiginescki (1), Janilce Negrão Messias (2), Silvana Bastos Stumm (3) e
José Adelino Krüger (4)
(1) PPGCC - Programa de Pós-Graduação em Construção Civil, UFPR - Universidade Federal do
Paraná, Curitiba (PR) – e-mail: beatriz@ssignum.arq.br
(2) PPGCC - Programa de Pós-Graduação em Construção Civil, UFPR - Universidade Federal do
Paraná, Curitiba (PR) – e-mail: janilce@ufpr.br
(3) PPGCC - Programa de Pós-Graduação em Construção Civil, UFPR - Universidade Federal do
Paraná, Curitiba (PR) – e-mail: silvana_stumm@uol.com.br
(4) PPGCC - Programa de Pós-Graduação em Construção Civil, UFPR - Universidade Federal do
Paraná, Curitiba (PR) – e-mail: jakruger@creapr.org.br

RESUMO
Proposta: A construção civil apresenta uma grande variedade de ocupações, significando uma
acentuada incidência de atividades manuais, que são necessárias para a execução de uma série de
tarefas. O manuseio e o transporte de materiais submetem os trabalhadores a grandes exigências
físicas. Para a execução de muitas tarefas é necessária a manutenção de posturas agressivas. Esses
intensos esforços físicos causam importantes reações fisiológicas no sistema músculo-esquelético dos
trabalhadores. Os principais objetivos do presente estudo foram: (1) analisar as posturas de trabalho
adotadas na tarefa de assentamento de pisos cerâmicos; (2) identificar as posturas mais problemáticas
da tarefa; e (3) propor recomendações para melhorias no trabalho de assentamento. Método de
pesquisa/Abordagens: Foi realizado um estudo de caso com a observação de assentadores de pisos
cerâmicos em dois canteiros de obras. Foi utilizado o Método OWAS (Ovako Working Posture
Analysis System), proposto por Karhu et al. (1977). O método identifica as posturas mais utilizadas no
trabalho em relação às costas, aos braços e às pernas, além de estimar os pesos carregados. É utilizado
um código de quatro números para a identificação, demonstrando a agressividade das posturas. Foi
também utilizado um código de cores, segundo o qual a cor verde á associada a uma postura menos
agressiva e a cor vermelha a uma postura mais agressiva. As situações intermediárias são
caracterizadas por uma graduação de cores entre as extremidades. Resultados: Com base nas posturas,
nos códigos numéricos e na escala de cores, foi possível propor algumas melhorias, almejando
minimizar os efeitos nocivos das posturas inadequadas à saúde dos operários. A principal contribuição
deste estudo é a possibilidade de minimização dos distúrbios músculo-esqueléticos causados por
posturas desfavoráveis. Posturas mais adequadas possibilitam a redução dos acidentes e dos
afastamentos do trabalho, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores.
Contribuições/Originalidade: Análise ergonômica da atividade de assentamento de pisos cerâmicos.

Palavras-chave: construção civil, ergonomia, Método OWAS, pisos cerâmicos

ABSTRACT
Propose: Civil construction presents a great variety of occupations, meaning an accentuated incidence
of manual activities, which are necessary to the execution of a significant diversity of tasks. Handling
and transporting materials put the worker through major physical demand. To the execution of the
great variety of tasks on civil construction sites, it is necessary in most cases the maintenance of
aggressive postures. These intense physical efforts cause important physiologic reactions in the
workers’ musculoskeletal system. The main objectives of this study were to: (1) analyze working
postures adopted in tile setting tasks on building construction sites; (2) identify the most problematic
postures in different tile setting tasks; and (3) develop recommendations for work improvements of tile
setting on building construction sites. Methods: Tile setters in two construction sites were observed
while they set ceramic tiles on the floor, using dry set mortar The OWAS method (Ovako Working
Posture Analysis System), proposed by Karhu et al. (1977), was used. The OWAS method identifies
the most common work postures for the back, arms and legs, and estimates the load handled. The
method utilizes a four-digit code to describe various postures of the back, upper limbs, lower limbs
and the force needed, and identifies the aggressiveness of the tasks. A four number code is used in the
identification, showing the aggressiveness of the postures. It was also used a color code where the
green color is associated to a less aggressive posture and the red color is associate to a more aggressive
posture. The intermediate situations are characterized by a color graduation between the extremes.
Findings: Based on the postures, the numerical codes and the color graduation, it was possible to
present some improvements, aiming to lessen the harmful effects of the inadequate postures to the
workers’ health. This work main contribution is the possibility of minimizing the musculoskeletal
disorders caused by harmful postures. More appropriated postures allow the reduction of accidents and
health licenses, contributing to improve the workers life quality. Originality/value: Ergonomic
analysis of ceramic flooring tiles setting.

Keywords: civil construction, ergonomics, OWAS Method, ceramic tiles

1 INTRODUÇÃO
1.1 Aspectos da construção civil
Indivíduos pertencentes ao setor da construção submetem-se diariamente a tarefas árduas, na maioria
das vezes prejudiciais à estrutura muscular do corpo humano. Essa realidade se deve ao fato de as
atividades desenvolvidas na execução de obras solicitarem esforços musculares muito além da
capacidade física de cada um.
Contribuem, ainda, o peso dos materiais utilizados, a ausência de equipamentos adequados ao
transporte dos insumos e em decorrência disso o afastamento dos trabalhadores causado por acidentes
nos canteiros de obras. Entre outras situações agressivas podem ser citadas a necessidade de
manutenção de posturas inadequadas para se alcançar certas alturas e a realização dos trabalhos na
maior parte do tempo sujeitos a intempéries.
Conseqüentemente cresce o número de indivíduos com sérios problemas físicos sendo várias vezes
necessário o afastamento por longos períodos, e até mesmo sem possibilidades de retorno a esse
mercado.
1.2 Antropometria
Antropometria, como parte das ciências humanas, trata das medidas do corpo e mais especificamente
do tamanho, da forma, força, mobilidade, flexibilidade e capacidade de trabalho (PHEASANT e
HASLEGRAVE, 2006). É um importante ramo da Ergonomia preocupado com as dimensões e
proporções humanas e suas variações.
Conforme citam Santos e Fujão (2003), na era romana já existia a relação entre antropometria e
design. Vitrúvius, arquiteto romano do século I AC, era favorável ao projeto de edifícios em função de
determinados princípios estéticos do corpo humano. Para ele o estudo das proporções humanas era
fundamental na elaboração de um projeto (SANTOS e FUJÃO, 2003).
1.3 Segurança do trabalho e a Ergonomia
Ergonomia, segundo Iida (2000), é o estudo da adaptação do trabalho ao homem. Wisner (1987) a
define como o conjunto de conhecimentos científicos relativos ao homem e necessários para a
concepção de ferramentas, máquinas e dispositivos que possam ser utilizado com o máximo de
conforto, segurança e eficácia.
Conforme Pheasant e Haslegrave (2006), Ergonomia é a ciência do trabalho, das pessoas que o fazem
e como fazem, das ferramentas e equipamentos utilizados, o local onde trabalham e os aspectos psico-
sociais da situação de trabalho.
Considerando-se que o objetivo da Ergonomia é a melhoria das condições de trabalho que afetam a
comodidade, a segurança e a saúde do trabalhador, é possível perceber uma conexão entre a segurança
e a Ergonomia. A melhoria das condições e os ambientes de trabalho nos canteiros de obras também
apresentam reflexos na segurança, como conseqüência de ambiente limpos e organizados, com fluxos
ordenados e perfeita visibilidade. Medidas adotadas sobre a segurança do trabalho visam distanciar o
trabalhador de situações de risco ou conceder-lhe proteção adequada quando seja inevitável sujeitar-se
a elas. Como por meio destas medidas o que se pretende é manter o trabalhador no perfeito desfrute de
suas capacidades físicas e mentais, verifica-se a perfeita relação da segurança com a Ergonomia, que
persegue o mesmo objetivo.
1.4 A Ergonomia e posturas de trabalho
Estudos sobre Ergonomia têm mostrado que a relação entre o trabalho e a postura pode causar graus
diferentes de desconforto e tensões no sistema muscular dos trabalhadores (SCOTT e LAMBE, 1996).
Segundo Kandel et al. (1991) postura é essencialmente a posição das várias partes do corpo em relação
às outras e ao meio ambiente e é fundamental para se realizar um determinado movimento de forma
correta.
Diversas são as tarefas associadas a posturas e movimentos difíceis. Esse aspecto combinado a
atividades físicas pesadas resulta em problemas musculares identificados na vida laboral decorrentes
de transportes manuais, cargas máximas, cargas estáticas, vibrações, trabalhos repetitivos entre outros.
(PINZKE e KOPP, 2001).
1.5 A postura no assentamento de pisos cerâmicos
Para Davis (2001), os trabalhadores que desempenham a tarefa de assentamento de pisos cerâmicos e
permanecem fazendo extensas quantidades dessa instalação podem estar expostos a mais de quatro
horas por dia de rebaixamento. Os esforços decorrentes dessa atividade poderiam ser minimizados
com a alternância entre ajoelhar e agachar; alternar as tarefas de rebaixar com o aprendiz de
acabamento e também com tarefas diferentes da de instalação de pisos (DAVIS, 2001).
Outro aspecto importante a ser considerado é o uso de protetores de alta qualidade nos joelhos e
levantar-se sempre que possível. Esses protetores devem reduzir a força interna sobre o joelho e não
apenas distribuir o esforço. Essas práticas reduziriam a quantidade de vezes que o trabalhador se
submeteria a uma posição de rebaixamento a um nível abaixo do nível de perigo.
De acordo com Fiedler et al. (1999) há uma grande utilidade no uso das análises de posturas no
trabalho para a solução de problemas de queda de produtividade e aumento de acidentes no trabalho. É
possível realizar a correção de posturas inadequadas por meio de treinamentos específicos com a
finalidade de adoção de posturas mais seguras, saudáveis e confortáveis.

2 OBJETIVO
O objetivo deste artigo é apresentar a análise feita a partir do acompanhamento de posturas usadas
para o assentamento de pisos cerâmicos por meio do método OWAS.

3 METODOLOGIA
3.1 Método OWAS
O método OWAS se baseia em exemplos de posturas laborais, codificadas e analisadas (LI e LEE,
1999). Desenvolvido na Finlândia entre 1974 e 1978 o método OVAKO Working Posture Analysing
System ou OWAS, foi proposto pelos pesquisadores Karhu, Kansi e Kuorinka em conjunto com o
Instituto Finlandês de Saúde Ocupacional (KARHU et al., 1977). Este método foi criado com o
objetivo de analisar as posturas de trabalho na indústria do aço. A análise é feita inicialmente pela
identificação de atividades que exigem levantamento manual de cargas, seguida pela separação em
categorias baseadas no sacrifício imposto ao trabalhador. (CASTRO, 2007).
Surgiu com o objetivo de aprimorar os métodos de trabalho identificando posturas prejudiciais na
execução das tarefas. Dessa forma definiram-se: quatro posturas das costas, três dos braços, sete das
pernas e três categorias de força. Um grupo de especialistas determinou o efeito no sistema muscular,
supervisionado por ergonomistas internacionais (PORTICH e GUIMARÃES, 2001).
Segundo Castro (2007), os objetivos do sistema de análise apresentado pelo método OWAS são
realizar inventários das atividades humanas no trabalho, apresentando uma indicação das principais
inter-relações entre estas atividades e uma descrição do trabalho em sua totalidade. As técnicas
envolvem a observação dos comportamentos, em uma análise do estudo de movimentos no trabalho de
maneira mais realista, e a explicitação de seus determinantes.
Quando se analisam problemas de posturas de trabalho na indústria, duas questões são importantes: o
que é mais viável na análise das posturas ou como as posturas podem ser analisadas de acordo com um
critério de escolhas? (KARHU, 1977). Esse problema é bastante complicado e a literatura científica
sobre os efeitos de doenças e controles epidemiológicos ainda é escassa, como cita Karhu (1977). A
maioria dos trabalhos elaborados naquela época era em função do senso comum.
O método OWAS é utilizado para classificar as posturas como adequadas ou inadequadas, e usar parte
desta análise para a correção ou para a adoção de uma situação mais confortável, de acordo com a
Ergonomia (KARHU et al., 1977). As posturas de trabalho para a coluna, os braços e as pernas,
adaptadas pelos autores deste artigo, são indicadas na Tabela 1. Apresentando-se cores, de verde a
vermelho, indicando a agressividade das posturas com graduação de uma situação “melhor” a outra
situação “pior”.
3.2 Análise postural do assentamento de pisos cerâmicos utilizando o Método OWAS
A Tabela 1, a seguir, mostra as posturas de trabalho de acordo com o Método OWAS:

1 2 3 4
COSTAS RETAS CURVAS RETAS CURVAS
E TORCIDAS E TORCIDAS

1 2 3
BRAÇOS AMBOS UM DELES AMBOS LEVANTADOS
ABAIXADOS LEVANTADO

1 2 3 4 5 6 7
APOIO EM APOIO EM APOIO EM APOIO EM APOIO EM MOVI- SENTADO
AMBAS AS UMA DAS AMBAS AS UMA UM DOS MENTO COM AS
PERNAS PERNAS PERNAS PERNAS PERNA JOELHOS DAS PERNAS
RETAS RETAS FLEXIONA- FLEXIONA- PERNAS SEM
DAS DA APOIO

Tabela 1 – Análise de posturas de trabalho segundo o Método OWAS

As fotografias colocadas na seqüência foram obtidas em situações reais de trabalho, e permitem um


estudo mais detalhado das posturas, classificando-as em classes, com base nas posturas
estandardizadas definidas por Karhu et al. (1977). Cada postura de trabalho corresponde a um código
numérico e permite caracterizar a agressividade de cada postura de trabalho. Neste estudo, foram
selecionados sete momentos, julgados mais significativos na tarefa de assentamento de pisos
cerâmicos.
Na primeira situação, retratada na Figura 1, adiante, o trabalhador assenta peças cerâmicos no piso. Na
analise postural da coluna, verifica-se que está curvada para frente e torcida para o lado direito, onde
se assentam os pisos. Esta situação corresponde ao número 4, pior situação, cor vermelha. Os braços
estão abaixados, situação correspondente ao número 1, melhor situação, cor verde. Para as pernas se
observou em alguns momentos o apoio em um dos joelhos, que se alterna com o apoio em ambas as
pernas flexionadas. Optou-se por indicar a pior situação, número 5, cor alaranjada. As cores
posicionadas em torno da extremidade direita, com cores vermelhas, indicam as situações onde se
devem tomar atitudes para melhorar as posturas de trabalho, seja alternando trabalhadores para
executar as tarefas, seja alternando outros serviços para que se seja permitido um período de descanso
ao trabalhador, aliviando o esforço sobre alguns grupos musculares.

POSTURAS DE TRABALHO
C 4
B 1
P 5

Figura 1 – Assentamento de pisos cerâmicos no piso

Na segunda situação, retratada, na Figura 2, a seguir, o trabalhador corta pisos cerâmicos com o apoio
na coxa, e algumas vezes no joelho. Na analise postural da coluna, verifica-se que está curvada para
frente e torcida para o lado direito, onde se apóia a peça. Esta situação corresponde ao número 4, pior
situação, cor vermelha. Os braços estão ambos abaixados, situação correspondente ao número 1,
melhor situação, cor verde. As pernas estão retas, número 1, melhor situação, cor verde. Verifica-se a
necessidade de se modificar apenas a postura da coluna, com a recomendação de utilizar uma bancada
sobre a qual o trabalhador possa cortar a peça sem curvar a coluna.

POSTURAS DE TRABALHO
C 4
B 1
P 1

Figura 2 – Corte de pisos cerâmicos com o apoio da coxa

Na terceira situação, retratada na Figura 3, a seguir, o trabalhador prepara e coleta a argamassa


colante. Na análise postural da coluna, verifica-se que está curvada para frente e torcida para o lado
direito, onde se encontra o recipiente para a preparação e armazenagem da argamassa. Esta situação
corresponde ao número 4, pior situação, cor vermelha. Os braços estão ambos abaixados, situação
correspondente ao número 1, melhor situação, cor verde. As pernas estão retas, número 1, melhor
situação, cor verde. Verifica-se a necessidade de se modificar apenas a postura da coluna, com a
recomendação de utilizar uma bancada sobre a qual o trabalhador possa preparar a argamassa sem
curvar a coluna.
POSTURAS DE TRABALHO
C 4
B 1
P 1

Figura 3 - Preparo e coleta da argamassa colante

Na quarta situação, retratada na Figura 4, a seguir, o operário aplica e espalha a argamassa colante no
local onde será assentado o piso cerâmico. Na analise postural da coluna verifica-se que está curvada
para frente e torcida para o lado direito, onde se aplica e espalha a argamassa. Esta situação
corresponde ao número 4, pior situação, cor vermelha. Os braços estão abaixados, situação
correspondente ao número 1, melhor situação, cor verde. Para as pernas percebe-se que o operário
alterna o apoio nas pernas flexionadas. Situação correspondente ao número 4, cor alaranjada. Nesta
analise foram identificadas duas situações com alto grau de esforço postural, sendo assim devem ser
tomadas atitudes para melhorar as posturas de trabalho, por meio da troca de trabalhadores para
executar as tarefas, ou a realização de outros serviços menos danosos permitido um período de
descanso ao trabalhador, aliviando o esforço sobre alguns grupos musculares.

POSTURAS DE TRABALHO
C 4
B 1
P 4

Figura 4 – Aplicação de argamassa colante

Na quinta situação, demonstrada na Figura 5, a seguir, o operário apanha uma peça de piso cerâmico.
Na analise postural da coluna verifica-se que está curvada para frente e torcida para o lado esquerdo,
onde se encontrava a peça cerâmica. Esta situação corresponde ao número 4, pior situação, cor
vermelha. Os braços estão abaixados, situação correspondente ao número 1, melhor situação, cor
verde. Ambas as pernas estão flexionadas, correspondente ao número 3, situação intermediária, cor
amarela.Verifica-se a necessidade de uma melhor programação na disposição dos pisos cerâmicos por
parte do operário, de maneira que estes estejam sempre próximos de seu local de aplicação. Também é
necessário neste caso tomar atitudes voltadas a melhora das posturas de trabalho, por meio de rodízio
de tarefas ou rodízio de operários para a atividade, permitindo períodos de descanso ao trabalhador.

POSTURAS DE TRABALHO
C 4
B 1
P 3

Figura 5 – O operário apanha uma peça de piso cerâmico


Na sexta situação, retratada na Figura 6, a seguir, o operário corrige imperfeições de nivelamento. Na
analise postural da coluna verifica-se que está curvada para frente e torcida para o lado. Esta situação
corresponde ao número 4, pior situação, cor vermelha. Um dos braços está abaixado e o outro está
levantado para a realização da correção, situação correspondente ao número 2, situação intermediária,
cor amarela. Ambas as pernas estão apoiadas sobre o joelho, situação não apresentada na tabela de
analises, sendo assim foi adotada a situação 4, apoio sobre um dos joelhos, correspondente ao número
5, cor alaranjada. Como esta atividade apresenta situações criticas para coluna, braços e pernas, são
necessárias atitudes para a melhora das posturas de trabalho, através do rodízio de atividades e de
trabalhadores, de maneira a não permitir a sobrecarga de atividades que requeiram demasiado esforço
postural.

POSTURAS DE TRABALHO
C 4
B 2
P 5

Figura 6 – O operário corrige imperfeições de nivelamento

Na sétima situação, retratada na Figura 7, a seguir, o operário aplica rejunte entre as peças cerâmicas.
Na análise postural da coluna verifica-se que está curvada para frente e torcida para o lado direito,
onde se aplica o rejunte. Esta situação corresponde ao número 4, pior situação, cor vermelha. Os
braços estão abaixados, situação correspondente ao número 1, melhor situação, cor verde. Para as
pernas percebe-se que o operário alterna o apoio nas pernas flexionadas. Situação correspondente ao
número 4, cor alaranjada. Nesta análise foram identificadas duas situações com alto grau de esforço
postural, sendo assim devem ser tomadas atitudes para melhorar as posturas de trabalho, por meio da
troca de trabalhadores para executar as tarefas, ou a realização de outros serviços menos danosos
permitido um período de descanso ao trabalhador, aliviando o esforço sobre alguns grupos musculares.

POSTURAS DE TRABALHO
C 4
B 1
P 4

Figura 7 – Aplicação de rejunte nas peças cerâmicas

4 ANÁLISE DE RESULTADOS
A análise realizada neste estudo possibilita apontar as situações criticas relacionadas a saúde do
operário que trabalha no assentamento de pisos cerâmicos. Ao realizar a análise individual de cada
situação é possível identificar atividades menos ou mais danosas ao operário. Entretanto, o
assentamento de pisos cerâmicos é um trabalho normalmente realizado pelo mesmo operário, ou seja,
a análise também deve ser realizada no conjunto de situações que contemplem a total realização da
atividade. A Tabela 2, a seguir, demonstra um resumo geral das situações encontradas.
SITUAÇÃO
1 2 3 4 5 6 7 Média
C 4 4 4 4 4 4 4 4
B 1 1 1 1 1 2 1 1,14
P 5 1 1 7 3 5 7 4,14
Tabela 2 – Resumo das análises realizadas

Por meio desta análise é possível verificar as regiões do corpo que sofrem maior impacto durante a
atividade realizada pelo operário, conseqüentemente direcionando as ações corretivas apropriadas para
assegurar a saúde do trabalhador.
A região das costas é visivelmente aquela que sofre maior impacto durante a execução das atividades
relacionadas. Em todas as situações estudas esta região esteve sujeita ao pior grau de esforço, número
4, cor vermelha. Isto se dá principalmente pelas características da atividade, ou seja, a aplicação de um
produto no piso por um longo período.
A região dos braços é a mais favorecida na realização destas atividades, na maior parte das situações
os braços se mantiveram abaixados, apresentado um baixo grau de esforço ao trabalhador. A média
obtida foi 1,14, se enquadrando na cor verde.
A região das pernas também sofre um alto impacto durante a execução das atividades. Na maioria das
situações o operário se encontrava abaixado, sentado sobre as duas pernas ou ajoelhado, apresentado
um grande esforço nas articulações. A média obtida foi 4,14, cor alaranjada.
A análise realizada através do Método OWAS neste estudo não levou em consideração os esforços
relacionados a pesos carregados durante a execução das atividades estudadas, ou seja, não foram
estabelecidas escalas para analise e medição das cargas levantadas. Entretanto os esforços totais do
trabalhador relacionando posturas e pesos foram levados em consideração para o preenchimento das
tabelas.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo foi realizado com a intenção de apontar a situação dos assentadores de piso cerâmico
durante a execução de seu trabalho, em relação a questões de saúde do trabalho e Ergonomia.
Com base nos resultados encontrados neste estudo é possível traçar uma linha de medidas para
prevenção de futuras lesões pela realização da atividade de assentamento de piso, e também
minimizando a fadiga e estresse físico do trabalhador. Dentre as medidas possíveis seguem abaixo
algumas recomendações que devem ser posteriormente desenvolvidas para proporcionar essas
melhorias aos trabalhadores:
ƒ alternância de trabalhadores para executar as tarefas, para que o mesmo trabalhador não esteja
sujeito ao esforço por período prolongado;
ƒ alternância dos serviços para que se seja permitido um período de descanso ao trabalhador,
aliviando o esforço sobre alguns grupos musculares;
ƒ alternância de posturas de agachamento com posturas de ajoelhamento durante a execução das
atividades;
ƒ uso de bancadas de trabalho para realização de cortes nas peças cerâmicas e para o preparo da
argamassa colante, adequadas ergonomicamente para evitar as posturas identificadas no
estudo;
ƒ adequação das distâncias entre o local onde as peças cerâmicas serão assentadas e onde estarão
armazenadas as peças cerâmicas, para que o trabalhador não tenha que se deslocar mais do
que o necessário ao carregar as peças cerâmicas.
Este trabalho está voltado apenas para a análise das posturas de assentamento de pisos cerâmicos. Para
uma melhoria real na qualidade de vida do trabalhador desta área seria necessária também uma analise
das demais atividades realizadas dentro desta mesma especialidade, por exemplo o assentamento de
revestimentos cerâmicos nas paredes.
É importante ressaltar que para um maior grau de eficiência nas melhorias é necessário um grau de
comprometimento com a adoção das medidas recomendadas tanto por parte do empregador quanto por
parte do próprio trabalhador.

6 REFERÊNCIAS

CASTRO, Eduardo Breviglieri Pereira. Métodos diretos de análise postural – Método OWAS.
Material didádico da disciplina de Ergonimia, UFJF, Juiz de Fora, MG, 2007.
DAVIS, G. Ergonomic best practices in the masonry, stonework, tile setting industries. WISHA
Policy and Technical Services, Washington State Department of Labor and Industries, December
2001.
FIELDER, MILTON CÉSAR; MENEZES, NATÁLIA S.; AZEVEDO, ISAAC NUNO C.;
MOREIRA DA SILVA, JOSÉ REINALDO. Avaliação biomecânica dos trabalhadores em
marcenarias no Distrito Federal. Ciência Florestal, Santa Maria, v. 13, n. 2, p. 99-109.
KARHU, O.; KANSI, P.; KUORINKA, I. Correcting working postures in industry: a practical method for
análisis. Applied Ergonomics, v. 8, n. 4, p. 199-201, Dec. 1977.
KANDEL, E.R.; SCHWARZ, J.H.; JESSEL, T.M. Principles of Neural Science. Elsevier, 1991. Fourth
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IIDA, I. Ergonomia: projeto e produção. Editora Edgard Blücher Ltda. São Paulo, 2000.
PINZKE, S.; KOPP, L. Marker-less systems for tracking working postures - results from two
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PHEASANT, S; HALESGRAVE, C. M. Bodyspace: anthromopetry, ergonomics and the design of
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PORTICH, P.; GUIMARÃES, L. B. M. Avaliação ergonômica da “pindura”: pendura de peças automotivas
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SANTOS, R.; FUJÃO, R. Antropometria. Universidade de Évora, Portugal. Fev. 2003.
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WISNER, A. Por dentro do trabalho. Ergonomia: método e técnica.Editora FTD SA. São Paulo,
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