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I Encontro África - Brasil de Ergonomia V Congresso Latino - Americano de Ergonomia

IX Congresso Brasileiro de Ergonomia III Seminário de Ergonomia da Bahia

CONDIÇÕES DE TRABALHO DO PEDREIRO DE ASSENTAMENTO


DE ALVENARIA

Clarisse Odebrecht; Sérgio Amaral de Oliveira; Celso Aurélio Cordeiro.


Laboratório de Ergonomia, Higiene e Segurança do Trabalho
Universidade Regional de Blumenau – FURB
Rua Antônio da Veiga, 140. C.P. 1507, Blumenau, S.C., Brasil. CEP.: 89.010-971,Fone:
(+55)47-321-0255, FAX: (+55)47-322-8818, e-mail: clarisse@furb.rct-sc.br

Palavras – Chave: legislação, construção civil, acidentes de trabalho, postura inadequada,


treinamento e recrutamento.

Resumo
A indústria da construção civil no Brasil tem uma grande importância social por
disponibilizar muitos empregos. Uma quantidade significativa destes empregos são ocupa-
dos por operários basicamente sem qualificação profissional. Além disso, as condições de
trabalho impostas são em muitos casos desumanas e portanto fonte de diversos riscos a saú-
de e segurança do trabalhador. O objetivo central, deste estudo, é analisar a conduta do pe-
dreiro no processo construtivo em alvenaria convencional. Para tanto resgatou-se a evolu-
ção histórica do setor, abordando características do perfil da construção civil na região sul
do Brasil, verificando processos de trabalho e a formação profissional destes operários até a
atualidade. Estes dados possibilitaram estabelecer algumas tendências do setor. A
metodologia da análise ergonômica do trabalho é utilizada para estudar a função do pedrei-
ro de alvenaria, diagnosticando principalmente os sintomas do sistema. Com as informações
obtidas propõe-se recomendações viáveis financeiramente que permitam otimizar o desen-
volvimento dos serviços e o conforto do pedreiro. As medidas em apreço visam melhorar as
condições de trabalho e consequentemente a produtividade e qualidade na construção civil,
viabilizando o crescente interesse pela determinação e implantação de benefícios eficazes
aos operários que alicerçam e desenvolvem esta fase física na sociedade. A partir a implan-
tação, no canteiro de obras, de algumas das recomendações propostas, são estimados os
benefícios financeiros e humanos destas melhorias.

Abstract

The industry of civil construction in Brazil has a great social importance for it generates many
jobs. A significant amount of these jobs is basically fulfilled by workers without professional
qualification. Besides, the imposed work conditions are, many times, inhuman. Therefore, this
conditions become a source of several risks to the workers‘ health and safety. The main objective
of this study is to analyse the bricklayer’s behaviour in the process of conventional brickwork
construction. For doing so much of the historical evolution of the sector has been rescued,
approaching characteristics of the profile of the civil construction in the Southern part of
Brazil, verifying work processes and these workers’ professional training up to now. The
gathered data facilitated the establishment of some trends of the sector. The methodology of
the ergonomic analysis of the work is used to study the worker’s role, diagnosing mainly the
symptoms of the system. With the gathered data we intend to provide financially viable advice
that will allow the best development of the services and the worker’s comfort. The measures
in appreciation seek to improve the work conditions and consequently the productivity and
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quality in the civil construction, allowing the growth of the interest for the determination and
establishment of effective benefits to the workers who support and develop the physical phase
in the society. Once established some of the proposed recommendations at the construction
grounds, financial and human benefits of these improvements are expected.

1 Introdução

No Brasil, nas últimas décadas, a indústria da construção civil vem contribuindo com uma
produção que corresponde de 6 a 8 % do PIB (Produto Interno Bruto) nacional. Emprega
6,6% da População Economicamente Ativa, isto é, ocupa três milhões e meio de pessoas –
isto eqüivale a 40% dos empregos gerados na indústria de transformação (PICCHI, 1993).

Uma característica marcante da Construção Civil é sua grande variedade de tarefas, em cada
obra há significativa multiplicidade de atividades; cada tipo de obra gera um produto final
singular, nunca exatamente igual ao outro. Já na instalação provisória de canteiros de obras
observa-se a diferença da maioria das outras indústrias que, por dezenas de anos, permanecem
em instalações fixas. Isto acarreta problemas diversificados, dificultando o estabelecimento de
uma solução padrão relacionada à organização, ao desenvolvimento de medidas relativas à
proteção e a integridade física do trabalhador. A construção civil encontra-se muito ligada aos
fatores humanos: necessita grande quantidade de operários e, a força física do servente ali-
menta a operação manual do pedreiro, carpinteiro e armador . As técnicas construtivas ainda
mantém-se nos padrões artesanais. A mão-de-obra do operário constitui-se quase exclusiva-
mente na manipulação e uso de ferramentas rudimentares (como marretas, colheres de pedrei-
ro, etc.).

Outra característica do setor, segundo SCARDOELLI et al (1994), ocorre por absorver pes-
soas com menor capacitação: população da periferia urbana ou originárias da área rural sem
experiência profissional, e geralmente semi analfabeta. Consultas realizadas em empresas da
construção comprovam a sistemática, geralmente estabelecida, para recrutamento de traba-
lhadores: afixação de placas na própria obra, anúncio em jornais populares e/ou experiência
empregatícia comprovada apenas por registro em carteira profissional. As funções
especializadas (cargos de pedreiro e superiores) exigem seleção mais rigorosa, que consiste
na aplicação de teste prático pertinente à função solicitada. Existem empresas que mantém
cursos de aperfeiçoamento de mão-de-obra – quase sempre direcionada aos profissionais mais
qualificados. O treinamento se realiza no próprio canteiro de obra, em escolas do SENAI ou
outras entidades conveniadas ao setor.

No processo produtivo da construção civil pode-se verificar a ocorrência de vários fatores ou


agentes que ocasionam danos à saúde do trabalhador. Na maioria dos canteiros de obra é
desrespeitada a legislação vigente. Observa-se condições inseguras de trabalho como: máqui-
nas sem proteção, ferramentas improvisadas, instalações elétricas deficientes, entre outras – o
que resultam em riscos operacionais, que podem levar a acidentes de trabalho.

O aparecimento dos riscos estão vinculados principalmente, às condições inseguras de reali-


zação do trabalho: projetos inadequados de áreas de trabalho, de equipamentos e de ferra-
mentas, impõem ao trabalhador excessivas e desnecessárias solicitações que resultam no apa-
recimento de dores lombares, fadiga precoce, hérnia de disco, perda da produtividade, inci-
dência de erros na execução do trabalho, etc.
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2 Objetivos

A proposta principal deste trabalho foi a analise do subsistema – serviços de alvenaria, no


complexo universo de profissionais envolvidos com a atividade da construção civil. Para tan-
to: a) avalia-se a execução de tarefas do pedreiro de alvenaria; b) estabelece-se a compreen-
são do aspecto ergonômico do posto de trabalho – Pedreiro de Alvenaria –, na construção
civil. Verifica-se o constrangimento postural imposto ao trabalhador; c) propor formas de
conscientização dos dirigentes das empresas de construção civil e; d) estabelecimento de sub-
sídios para um programa de possíveis modificações nos equipamentos utilizados pelo pedreiro
de alvenaria, identificando-se as variáveis do sistema com base nas recomendações
ergonômicas, visando maior rapidez de execução, melhor padrão de qualidade e execução
mais satisfatória das atividades.

3 Metodologia

Este estudo, do posto de trabalho do pedreiro de alvenaria na construção civil, fundamenta-se


na metodologia da análise ergonômica do trabalho.

As etapas básicas estabelecidas por esta metodologia referem-se a: análise da demanda, onde
se buscou subsídios nos aspectos econômicos e sociais da construção civil; análise da tarefa
prescrita e análise da atividade nas diversas etapas do trabalho real (SANTOS & FIALHO,
1995).

Através de contatos estabelecidos com pedreiros, foram realizadas entrevistas que serviram
para sistematizar as observações específicas para identificar as anomalias posturais. O univer-
so pesquisado para os depoimentos foram de 25 pedreiros, de três obras da região de Blumenau/
SC/Brasil. A utilização do roteiro das entrevistas foi previamente elaborado, de forma a carac-
terizar a população da construção civil em seu sentido sócio-cultural-econômico.
A avaliação orgânica e compleição física do trabalhador e o seu conhecimento do ambiente,
constituíram a base para as interferências que, direta ou indiretamente, representam a adequa-
ção técnica e organizacional do posto de trabalho.

Para o registro da atividade real do trabalho usou-se equipamento fotográfico e câmara de


vídeo.

4 Características Gerais dos Trabalhadores da Construção Civil

Historicamente, pode-se afirmar que a aprendizagem profissional se dá na prática. O trabalha-


dor começa como servente, passa a meia-colher (um estágio intermediário), torna-se pedrei-
ro, especializando-se chega a mestre-de-obra – cargo que se caracteriza pelo acúmulo de
experiências no setor.

Não existem etapas de integração ou adaptação experimental – o operário apresenta-se e


começa a trabalhar. Recebe as informações necessárias à execução diária de tarefas imediatas.
O contingente de mão-de-obra da construção civil não encontra colocação ou aproveitamen-
to em outros ramos industriais. É um operário colocado à margem do mercado de empregos.

O treinamento de pessoal é pouco incentivado, configura-se uma desqualificação geral impli-


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cando em um elevado índice de rotatividade. Isto comprova a pouca importância dada aos
recursos humanos na construção de edificações.

A alta rotatividade, o elevado índice de acidentes do trabalho, o grau de insatisfação predomi-


nante entre os operários leva a concluir que, o desenvolvimento da função recursos humanos
encontra-se aquém das necessidades do setor de edificações. Devido aos baixos salários do
setor a rotatividade apoia-se, intrinsecamente, em processos paralelos de obtenção de vanta-
gens pecuniárias, provenientes da utilização do FGTS pelos empregados. Além disso, as osci-
lações do setor, as condições e relações do trabalho; os procedimentos de recrutamento e
seleções adotados são características próprias do processo de desqualificação profissional
(PICCHI, 1993).

A realidade do mercado atual é o mecanismo fundamental que objetiva a competitividade. A


conseqüência imediata é a sobrevivência e o fortalecimento da empresa. Mas, o entendimento
pleno desse mecanismo será possível quando se estruturar plenamente a noção e alcance da
gestão de qualidade.

Do ponto de vista tecnológico, o avanço da construção é lento – pode ser considerada “atra-
sada” quando comparada a outros ramos industriais. A produção, costumeiramente, é basea-
da na intensa utilização de mão-de-obra, quase não vê acréscimo de maquinário ou adequação
de procedimentos produtivos modernos na sua rotina.

Identifica-se ainda, que o próprio consumidor, cria obstáculos ao avanço da tecnologia: os


altos lucros obtidos na construção de obras não geram racionalização e pesquisa qualitativa, e
cria também a falta de exigência qualitativa. Deve-se salientar ainda a instabilidade governa-
mental, falta de estímulo à pesquisa e planejamento, entre outros, dificultando o estabeleci-
mento de fluxos padrões de produção que inviabilizam a utilização de máquinas e equipamen-
tos em profusão.

5 Desenvolvimento da Análise Ergonômica do Trabalho

As três principais etapas da metodologia adotada serão descritas a seguir. A análise da tarefa
prescrita, constitui-se na normalização existente quanto a legislação – especificamente a NR-
18 e NR-6 – (MANUAIS, 1997) mas que, devido a falta principalmente de fiscalização efici-
ente, não existe no canteiro de obras (CORDEIRO & OLIVEIRA, 1997).

5.1 Análise da demanda

As reclamações mais freqüentes dos operários para a realização do seu trabalho são: a) trans-
porte ineficiente de materiais dentro da obra, prejudicando o abastecimento do posto de traba-
lho; b) espaço excessivo entre a masseira e o operário; c) acentuado risco de acidente de
trabalho pela ineficiência do sistema de andaimes; d) excessiva variação dos materiais utiliza-
dos, resultando em diversidade do peso, da umidade, da quantidade, da absorção e do
nivelamento; e) realização de tarefas extremamente desconfortáveis para assentamento de
materiais em pontos ao nível do solo; f) constrangimento à postura real pelo abaixar e levantar
freqüente, motivado pela contínua atividade de fornecimento dos materiais da tarefa, no
deslocamento e manuseio constante da massa e dos tijolos ao nível do chão e ao nível do teto;
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g) falta de desempenho no trabalho devido as constantes dores lombares.

A partir destas reclamações verificou-se as condições de trabalho estabelecendo o estudo pela


evolução principalmente do comportamento postural do pedreiro, ao longo de sua jornada de
trabalho.

5.2 Análise da tarefa

Como não existe formalmente um processo de treinamento dos pedreiros, cabe ao engenheiro
responsável da execução da obra, organizar e verificar o correto uso dos insumos. Segundo
SABBATINI (1987), os principais parâmetros a serem observados na execução das alvenarias
são: a) exatidão na locação das paredes; b) precisão no alinhamento, nivelamento e prumo; c)
regularidade no assentamento das unidades; d) preenchimento e regularidade das juntas de
argamassa e; e) coordenação na armação dos tijolos.

Os resultados apresentados a seguir foram obtidos por meio de entrevistas.

A população é constituída por trabalhadores exclusivamente do sexo masculino e com faixa


etária entre 45 e 49 anos. A escolaridade é baixa, a maioria possui escolaridade de primeiro
grau incompleto e, são provenientes dos arredores da cidade de Blumenau. Alguns advém do
setor rural e, iniciaram-se bem cedo nos serviços de construção.

A permanência do operário na atividade depende das etapas contratadas para realização da


obra. Em empresas, a estabilidade reflete a experiência pessoal na prestação de serviço. A
remuneração é baixa, oscilando na faixa de 4 a 7 salários mínimos. A jornada de trabalho
compreende habitualmente o período das 07:00 às 17:00 horas, com intervalo de 1 (uma) hora
para almoço e 15 minutos em cada turno para o café. A alimentação geralmente é fornecida
pelos empregadores. A atividade está exposta a riscos constantes e a condições inseguras,
gerando comprometimento à saúde, à segurança e à produtividade.

O meio ambiente gera alterações no posto de trabalho de assentamento de alvenaria. Quando


a obra não está coberta o pedreiro sujeita-se a intempéries. Na maioria das vezes as paredes de
alvenaria ocorrem em prédios cobertos e protegido do sol e das chuvas.

Os fatores físicos-ambientais caracterizam-se basicamente por: a) ambiente arquitetônico: li-


nhas retas e acabamentos grotescos; b) ambiente térmico: condições térmicas naturais do
ambiente de trabalho; c) ambiente sonoro: presença de diversas fontes de ruídos provocados
por serviços adjacentes ao local de trabalho, isto é, serviços tais como: serra circular; cami-
nhões que interferem na realização das tarefas; motor de retroescavadeira; bombas de concre-
to, motores de betoneiras e guinchos, etc; d) ambiente luminoso: prejudicado quando se trata
do interior da edificação. Na maioria das vezes, a iluminação é natural. Em casos de necessi-
dade, ocorre a instalação de lâmpadas incandescentes de caráter provisório para execução da
tarefa.

Quanto às condições de segurança no trabalho, o contato das mãos com a argamassa exige o
uso de luvas, a falta pode provocar alergia ou ponto de desgaste por abrasão decorrente do
manuseio de tijolos e argamassas. Os pés também merecem atenção: a possibilidade de quedas
de objetos e o risco de acidentes em entulhos acarretam danos quando o calçado é inadequa-
do.
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5.3 Análise da Atividade

No canteiro tradicional não existe uma engenharia de produção. Não há o domínio do proces-
so de trabalho, nem o controle do rítmo de produção dos tempos ociosos, nem do modo de
executar as tarefas. Nas fábricas cada trabalhador recebe prescrições precisas sobre as tarefas
diárias e o rítmo também é imposto. No canteiro de obra, ao contrário, são poucos os meca-
nismos de controle.

Cada posto de trabalho possui características próprias, já que o espaço de trabalho, dependen-
do da obra, corresponde geralmente, à área total de um apartamento para cada pedreiro. O
acesso e deslocamento ao posto de trabalho, de uma forma geral, possui condições satisfatórias.
O afastamento dos materiais não apresenta maiores problemas.

Durante o processo de edificação da alvenaria o pedreiro tem uma atuação muito definida:
apanhar os tijolos no nível do solo e, também da mesma forma, o alcance da argamassa. O
tijolo deverá ser assentado em alturas variáveis partindo do nível do chão até a altura da viga
superior. Isto exige constantes e repetidos movimentos. A mão-de-obra, nesta etapa, resume-
se basicamente, no emprego de pedreiro e servente.

As posturas assumidas no trabalho refletem-se nos problemas de saúde e nas queixas constan-
tes de dores lombares. Os pedreiros não recebem treinamento ou orientação para adoção de
posturas corretas na execução das atividades. Praticam uma organização livre do trabalho
oriunda da tradição operária do próprio setor. O pedreiro responde, diretamente, pela execu-
ção da obra. A execução varia em função do tamanho e da complexidade do projeto a realizar.
Reflete, essencialmente, a linguagem da cultura operária. Geralmente condiciona-se, hierar-
quicamente, à supervisão e controle do “mestre-de-obras”.

A altura dos materiais, no entanto, gera situações desfavoráveis. A principal, refere-se à caixa
de argamassa que se encontra ao nível dos pés. Os tijolos também constituem irregularidades,
à medida que a parede é executada, a pilha de tijolos diminui e sua altura vai se tornando
mínima enquanto a altura da parede se torna máxima. No sistema convencional, a colocação
de tijolos é estabelecida a critério do pedreiro, normalmente, costuma colocá-los no lugar
onde serão levantadas as paredes. Posteriormente são empilhados, a critério do servente, em
estoque provisório para levantamento das paredes seguintes. Isto reduz a área de locomoção
e impede o fluxo de transporte contínuo. Em muitos casos o servente precisa auxiliar o
pedreiro na retirada dos tijolos excedentes ou no abastecimento de outros materiais em luga-
res de acesso mais difícil. A seqüência operacional estabelece, primeiramente, a execução de
paredes externas e depois as internas. No levantamento das alvenarias o pedreiro pode esco-
lher a seqüência a seguir, mas normalmente, inicia pelas paredes localizadas frente ao elevador
de materiais. Esta prática restringe o deslocamento e abastecimento de materiais bem como o
espaço para movimentação do pedreiro e para uso de andaimes.

Analisando-se o uso de tijolos, pode-se considerar crítica a falta de meio tijolo no posto de
trabalho. O pedreiro que corta tijolos opera com perda de tempo e desperdício de material, o
que demanda esforços adicionais, inúteis e onerosos.

Como instrumento de trabalho, o pedreiro utiliza, sobretudo, ferramentas manuais tais como:
colher, nível, prumo, linha, metro, em geral todos de sua propriedade. Os equipamentos auxi-
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liares mais utilizados são: andaime, escantilhão para alinhamento das paredes e caixotes para
argamassa, fornecidos pela empresa e normalmente fabricados no próprio canteiro com utili-
zação de tábuas reaproveitadas das fôrmas. Há de se ressaltar que, estas argamasseiras e os
andaimes tornam-se pesados e difíceis de serem movimentados por uma só pessoa.

Não existe uma norma por escrito, que defina os passos de como executar uma tarefa de
assentamento de alvenaria. Normalmente, o pedreiro, no seu dia a dia procede de acordo com
sua experiência prática, obedecendo alguns requisitos, tais como: parede a prumo; início pelas
paredes externas; uniformidade das juntas; início do levantamento pelos cantos e; colocação
da linha guia.

Dadas as características de imobilidade da construção civil, o posto de trabalho é que é móvel,


tendo que percorrer todos os locais da obra, por mais inacessíveis que sejam. Pouco pode-se
fazer para melhoria do nível de ocupação de espaço.

A falta de conformidade de tijolos e argamassa (principais entradas do sistema) representam


os mais acentuados problemas do pedreiro: a) tijolos que variam de fornecedor para fornece-
dor, variam até de uma para outra entrega; b) argamassa que sofre variação na composição,
apresentando-se ora mais fina ou mais grossa; c) temperatura ambiente que determina maior
ou menor absorção dos tijolos (mais ou menos secos, absorvendo mais ou menos água da
argamassa), o que influencia o processo de assentamento e nivelamento.

A seqüência de atividades realizadas pelo pedreiro são: chapiscar o pilar ou viga (24 horas
antes de iniciar a parede); assentamento dos tijolos extremos da primeira fiada; instalação e
prumagem da régua guia próxima a estes tijolos; colocar a régua guia para definir o alinha-
mento das fiadas; mexer a argamassa no caixote (argamasseira); assentar tijolos nos cantos;
estender a linha; colocar e espalhar a massa de assentamento; pegar o tijolo na pilha; colocar
a massa na extremidade do tijolo (junta vertical); verificar a adequação dimensional do tijolo;
assentar o tijolo na fiada; retirar o excedente de argamassa para reutilizá-la (rebarba); nivelar
o tijolo; verificar o prumo da parede. Adicionalmente, o pedreiro efetua a movimentação do
andaime e do caixote com a argamassa. Quando a parede é interna, é necessário buscar a
referência de nível para o contra marco da porta e marcar a posição dos tacos que fixarão a
mesma.

Observações que merecem atenção:

Em todo inicio de levantamento de paredes de alvenaria, é necessário levantar os cantos. Sua


prumada é feita um a um e para cada fiada a mais a linha é novamente esticada. A cada fiada,
os pedreiros abandonam a colher e buscam o prumo para garantir a verticalidade destes tijo-
los, isto sem contar com as verificações posteriores do prumo. A fixação da linha nos tijolos
através de pregos e gravetos implica na imprecisão dos alinhamentos, além de ocorrerem
quedas constantes da linha. O tempo despendido na operação variou de 18 a 25 segundos,
sem contar com o tempo de arrastar as argamasseiras de madeira de um lado para outro. A
descontinuidade da operação é identificada, portanto, como um dos grandes problemas do
assentamento dos tijolos, uma vez que na execução de uma parede de 2,65 m de altura e 3,50
m de comprimento foram contados cerca de 56 interrupções.

O pedreiro realiza diversos movimentos posturais a cada tijolo assentado no processo de


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levantamento de uma parede. À medida que a parede vai tomando forma ocorrem variações
posturais. No manuseio de outros materiais envolvidos no processo, como tijolo e argamassa,
também acontece a alteração de postura.

Na execução das alvenarias a postura de trabalho não é estática. É comum a adoção de


posturas desfavoráveis em maior grau que outras. As piores posturas ocorrem no assentamen-
to das primeiras fiadas, ao nível do chão. Outras alterações ocorrem quando está finalizando a
parede. Nesta etapa o pedreiro sustenta o tijolo acima do nível dos ombros.

Durante toda a atividade o pedreiro é obrigado a permanecer em pé. Isso favorece o apareci-
mento de algumas patologias nos pés e nas pernas. A constante inclinação da coluna para
frente é uma postura que agrava e favorece a aparição de dores nas costas (lombalgias).

Algumas atividades exigem, permanentemente, a inclinação frontal e a rotação do tronco.


Este fato deve-se à posição do caixote com argamassa e dos tijolos cerâmicos ao nível dos pés
(esteja o operário no chão ou sobre andaimes). Estas atividades são: mexer argamassa no
caixote, pegar argamassa no caixote, pegar tijolos na pilha e colocar o assentamento do tijolo.

Os andaimes tem alturas fixas. Não se regulam às diferentes alturas dos operários. Também
não são adaptados às áreas mais estreitas. Isto obriga o operário a trabalhar com os membros
superiores e inferiores esticados ou encolhidos. Também acontece a improvisação de andai-
mes com os equipamentos que tem à sua disposição. Geralmente provocam um incremento de
esforços. Os operários precisam subir e descer continuamente dos andaimes. Para isso usam
pequenos bancos, apoiados no chão, que aumentam os esforços nas pernas. Os caixotes de
madeira (argamasseira) não são reguláveis e absorvem água da argamassa o que os torna mais
pesados.

6 Recomendações

A construção civil, em quase toda sua totalidade, está calcada em métodos inadequados além
de utilizar muito a improvisação.

Considera-se que se obterá melhorias sensíveis para os trabalhadores (sem grandes custos
para as empresas) com aumento de produtividade na obra com a implantação das seguintes
recomendações (OLIVEIRA, CORDEIRO, ODEBRECHT, 1998):
- Substituição das argamasseiras de madeira por metálicas: são mais leves, não vazam, não
absorvem água e evitam constantes revolvimentos da argamassa para homogenização;
- Utilização de carrinhos para transporte de argamasseiras: meio de transporte de três ro-
das, permitem locomoção com maior quantidade de argamassa, eliminam o desperdício
por transbordamento;
- Porta argamasseira no posto de trabalho do pedreiro: mantida sempre na altura da cintura
do trabalhador, evita o contínuo abaixar e levantar (movimentos curvados) para alcançar
a argamassa a cada tijolo assentado;
- Utilização de cavaletes metálicos para montagem de andaimes, além de tablados de ma-
deira confeccionados exclusivamente para esta finalidade;
- Utilização de escantilhões de perfis metálicos prumados com marcação de escala corres-
pondentes à distância entre fiadas: forma de banir a utilização de pregos e gravetos, oca-
sionam melhor alinhamento e prumada;
- Incentivo às construtoras e empreiteiras de mão-de-obra na utilização dos equipamentos:
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maior difusão de aprovação no canteiro, melhor organização das obras, diminuição de


acúmulos de entulhos;
- Implantação de sistema permanente de treinamento e instrução no canteiro de obra,
viabilizando a aquisição de constantes melhorias e maior percepção de qualidade e segu-
rança de vida ao pedreiro do posto de trabalho de assentamento de alvenaria.

7 Conclusão

A evolução da organização do trabalho impõe ao setor da construção civil, a capacidade de


análise da realidade e também a previsão e controle das etapas de trabalho, dos detalhes
posturais e modos operatórios de cada operário.

A ergonomia, estudando o comportamento do homem em relação ao seu trabalho frente às


condições ambientais, constitui-se um direcionamento para a correção de aspectos
insatisfatórios. A ciência ergonômica vem oferecer um conhecimento prático através de dados
disponíveis neste contexto de atividades onde as mãos obreiras têm poucas funções criativas.

A identificação dos mecanismos geradores da postura inadequada de maneira simples, fácil e


objetiva, evidencia a eliminação dos prejuízos à saúde e à integridade dos trabalhadores. A
instituição do trabalho, instantaneamente incorporada a diretrizes produtivas e saneadoras,
compatibilizam um ambiente de trabalho não conflitivo e psicologicamente mais favorável. A
relação de produção, de gestão e de trabalho, envolvem segmentos conjunturais nos quais se
possam evidenciar instâncias sociais, políticas e econômicas pertinentes ao setor.

Com a ação conjunta entre empregadores e empregados, governo e sindicatos poder-se-á,


racionalmente, estabelecer parâmetros e conquistas ergonômicas que desafiarão a problemá-
tica da segurança do trabalho nas atividades de construção civil.

8 Referências Bibliográficas

CORDEIRO, Celso Aurélio; OLIVEIRA, Sérgio Amaral de. Análise ergonômica do trabalho:
pedreiro de assentamento de alvenaria. Curso de Pós-graduação em Engenharia e Segu-
rança do Trabalho (lato sensu), Convênio UFSC/FURB: Blumenau, SC. Dez. 1997.
MANUAIS de Legislação Atlas: Segurança e Medicina do Trabalho. São Paulo: Ed. Atlas,
1997.
PICCHI, Flávio Augusto. Sistemas da qualidade: uso em empresas de construção de edifícios.
Tese de Doutorado. Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. São Paulo, SP.
1993. 462p.
OLIVEIRA, Sérgio A; CORDEIRO, Celso A.; ODEBRECHT, Clarisse. Improvements in the
ordinary work conditions of the construction bricklayer. In: 3rd International Conference
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SABBATINI, Fernando Henrique. Possibilidades do desenvolvimento da alvenaria como es-
trutura de edificações. Novos processos e novos usos. In: VI Simpósio Nacional de
Tecnologia da Construção, São Paulo: Escola Politécnica da USP, out. 1987.
SANTOS, Neri dos; FIALHO, Francisco. Manual de análise ergonômica no trabalho. Curitiba:
Ed. Genesis, 1995.
SCARDOELLI, Lisiane Salermo et al. Melhorias da qualidade e produtividade: iniciativa das
empresas de construção civil. Porto Alegre, RS. 1994. 288p.

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