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Resumo
A indústria da construção civil no Brasil tem uma grande importância social por
disponibilizar muitos empregos. Uma quantidade significativa destes empregos são ocupa-
dos por operários basicamente sem qualificação profissional. Além disso, as condições de
trabalho impostas são em muitos casos desumanas e portanto fonte de diversos riscos a saú-
de e segurança do trabalhador. O objetivo central, deste estudo, é analisar a conduta do pe-
dreiro no processo construtivo em alvenaria convencional. Para tanto resgatou-se a evolu-
ção histórica do setor, abordando características do perfil da construção civil na região sul
do Brasil, verificando processos de trabalho e a formação profissional destes operários até a
atualidade. Estes dados possibilitaram estabelecer algumas tendências do setor. A
metodologia da análise ergonômica do trabalho é utilizada para estudar a função do pedrei-
ro de alvenaria, diagnosticando principalmente os sintomas do sistema. Com as informações
obtidas propõe-se recomendações viáveis financeiramente que permitam otimizar o desen-
volvimento dos serviços e o conforto do pedreiro. As medidas em apreço visam melhorar as
condições de trabalho e consequentemente a produtividade e qualidade na construção civil,
viabilizando o crescente interesse pela determinação e implantação de benefícios eficazes
aos operários que alicerçam e desenvolvem esta fase física na sociedade. A partir a implan-
tação, no canteiro de obras, de algumas das recomendações propostas, são estimados os
benefícios financeiros e humanos destas melhorias.
Abstract
The industry of civil construction in Brazil has a great social importance for it generates many
jobs. A significant amount of these jobs is basically fulfilled by workers without professional
qualification. Besides, the imposed work conditions are, many times, inhuman. Therefore, this
conditions become a source of several risks to the workers‘ health and safety. The main objective
of this study is to analyse the bricklayer’s behaviour in the process of conventional brickwork
construction. For doing so much of the historical evolution of the sector has been rescued,
approaching characteristics of the profile of the civil construction in the Southern part of
Brazil, verifying work processes and these workers’ professional training up to now. The
gathered data facilitated the establishment of some trends of the sector. The methodology of
the ergonomic analysis of the work is used to study the worker’s role, diagnosing mainly the
symptoms of the system. With the gathered data we intend to provide financially viable advice
that will allow the best development of the services and the worker’s comfort. The measures
in appreciation seek to improve the work conditions and consequently the productivity and
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quality in the civil construction, allowing the growth of the interest for the determination and
establishment of effective benefits to the workers who support and develop the physical phase
in the society. Once established some of the proposed recommendations at the construction
grounds, financial and human benefits of these improvements are expected.
1 Introdução
No Brasil, nas últimas décadas, a indústria da construção civil vem contribuindo com uma
produção que corresponde de 6 a 8 % do PIB (Produto Interno Bruto) nacional. Emprega
6,6% da População Economicamente Ativa, isto é, ocupa três milhões e meio de pessoas –
isto eqüivale a 40% dos empregos gerados na indústria de transformação (PICCHI, 1993).
Uma característica marcante da Construção Civil é sua grande variedade de tarefas, em cada
obra há significativa multiplicidade de atividades; cada tipo de obra gera um produto final
singular, nunca exatamente igual ao outro. Já na instalação provisória de canteiros de obras
observa-se a diferença da maioria das outras indústrias que, por dezenas de anos, permanecem
em instalações fixas. Isto acarreta problemas diversificados, dificultando o estabelecimento de
uma solução padrão relacionada à organização, ao desenvolvimento de medidas relativas à
proteção e a integridade física do trabalhador. A construção civil encontra-se muito ligada aos
fatores humanos: necessita grande quantidade de operários e, a força física do servente ali-
menta a operação manual do pedreiro, carpinteiro e armador . As técnicas construtivas ainda
mantém-se nos padrões artesanais. A mão-de-obra do operário constitui-se quase exclusiva-
mente na manipulação e uso de ferramentas rudimentares (como marretas, colheres de pedrei-
ro, etc.).
Outra característica do setor, segundo SCARDOELLI et al (1994), ocorre por absorver pes-
soas com menor capacitação: população da periferia urbana ou originárias da área rural sem
experiência profissional, e geralmente semi analfabeta. Consultas realizadas em empresas da
construção comprovam a sistemática, geralmente estabelecida, para recrutamento de traba-
lhadores: afixação de placas na própria obra, anúncio em jornais populares e/ou experiência
empregatícia comprovada apenas por registro em carteira profissional. As funções
especializadas (cargos de pedreiro e superiores) exigem seleção mais rigorosa, que consiste
na aplicação de teste prático pertinente à função solicitada. Existem empresas que mantém
cursos de aperfeiçoamento de mão-de-obra – quase sempre direcionada aos profissionais mais
qualificados. O treinamento se realiza no próprio canteiro de obra, em escolas do SENAI ou
outras entidades conveniadas ao setor.
2 Objetivos
3 Metodologia
As etapas básicas estabelecidas por esta metodologia referem-se a: análise da demanda, onde
se buscou subsídios nos aspectos econômicos e sociais da construção civil; análise da tarefa
prescrita e análise da atividade nas diversas etapas do trabalho real (SANTOS & FIALHO,
1995).
Através de contatos estabelecidos com pedreiros, foram realizadas entrevistas que serviram
para sistematizar as observações específicas para identificar as anomalias posturais. O univer-
so pesquisado para os depoimentos foram de 25 pedreiros, de três obras da região de Blumenau/
SC/Brasil. A utilização do roteiro das entrevistas foi previamente elaborado, de forma a carac-
terizar a população da construção civil em seu sentido sócio-cultural-econômico.
A avaliação orgânica e compleição física do trabalhador e o seu conhecimento do ambiente,
constituíram a base para as interferências que, direta ou indiretamente, representam a adequa-
ção técnica e organizacional do posto de trabalho.
cando em um elevado índice de rotatividade. Isto comprova a pouca importância dada aos
recursos humanos na construção de edificações.
Do ponto de vista tecnológico, o avanço da construção é lento – pode ser considerada “atra-
sada” quando comparada a outros ramos industriais. A produção, costumeiramente, é basea-
da na intensa utilização de mão-de-obra, quase não vê acréscimo de maquinário ou adequação
de procedimentos produtivos modernos na sua rotina.
As três principais etapas da metodologia adotada serão descritas a seguir. A análise da tarefa
prescrita, constitui-se na normalização existente quanto a legislação – especificamente a NR-
18 e NR-6 – (MANUAIS, 1997) mas que, devido a falta principalmente de fiscalização efici-
ente, não existe no canteiro de obras (CORDEIRO & OLIVEIRA, 1997).
As reclamações mais freqüentes dos operários para a realização do seu trabalho são: a) trans-
porte ineficiente de materiais dentro da obra, prejudicando o abastecimento do posto de traba-
lho; b) espaço excessivo entre a masseira e o operário; c) acentuado risco de acidente de
trabalho pela ineficiência do sistema de andaimes; d) excessiva variação dos materiais utiliza-
dos, resultando em diversidade do peso, da umidade, da quantidade, da absorção e do
nivelamento; e) realização de tarefas extremamente desconfortáveis para assentamento de
materiais em pontos ao nível do solo; f) constrangimento à postura real pelo abaixar e levantar
freqüente, motivado pela contínua atividade de fornecimento dos materiais da tarefa, no
deslocamento e manuseio constante da massa e dos tijolos ao nível do chão e ao nível do teto;
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Como não existe formalmente um processo de treinamento dos pedreiros, cabe ao engenheiro
responsável da execução da obra, organizar e verificar o correto uso dos insumos. Segundo
SABBATINI (1987), os principais parâmetros a serem observados na execução das alvenarias
são: a) exatidão na locação das paredes; b) precisão no alinhamento, nivelamento e prumo; c)
regularidade no assentamento das unidades; d) preenchimento e regularidade das juntas de
argamassa e; e) coordenação na armação dos tijolos.
Quanto às condições de segurança no trabalho, o contato das mãos com a argamassa exige o
uso de luvas, a falta pode provocar alergia ou ponto de desgaste por abrasão decorrente do
manuseio de tijolos e argamassas. Os pés também merecem atenção: a possibilidade de quedas
de objetos e o risco de acidentes em entulhos acarretam danos quando o calçado é inadequa-
do.
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No canteiro tradicional não existe uma engenharia de produção. Não há o domínio do proces-
so de trabalho, nem o controle do rítmo de produção dos tempos ociosos, nem do modo de
executar as tarefas. Nas fábricas cada trabalhador recebe prescrições precisas sobre as tarefas
diárias e o rítmo também é imposto. No canteiro de obra, ao contrário, são poucos os meca-
nismos de controle.
Cada posto de trabalho possui características próprias, já que o espaço de trabalho, dependen-
do da obra, corresponde geralmente, à área total de um apartamento para cada pedreiro. O
acesso e deslocamento ao posto de trabalho, de uma forma geral, possui condições satisfatórias.
O afastamento dos materiais não apresenta maiores problemas.
Durante o processo de edificação da alvenaria o pedreiro tem uma atuação muito definida:
apanhar os tijolos no nível do solo e, também da mesma forma, o alcance da argamassa. O
tijolo deverá ser assentado em alturas variáveis partindo do nível do chão até a altura da viga
superior. Isto exige constantes e repetidos movimentos. A mão-de-obra, nesta etapa, resume-
se basicamente, no emprego de pedreiro e servente.
As posturas assumidas no trabalho refletem-se nos problemas de saúde e nas queixas constan-
tes de dores lombares. Os pedreiros não recebem treinamento ou orientação para adoção de
posturas corretas na execução das atividades. Praticam uma organização livre do trabalho
oriunda da tradição operária do próprio setor. O pedreiro responde, diretamente, pela execu-
ção da obra. A execução varia em função do tamanho e da complexidade do projeto a realizar.
Reflete, essencialmente, a linguagem da cultura operária. Geralmente condiciona-se, hierar-
quicamente, à supervisão e controle do “mestre-de-obras”.
A altura dos materiais, no entanto, gera situações desfavoráveis. A principal, refere-se à caixa
de argamassa que se encontra ao nível dos pés. Os tijolos também constituem irregularidades,
à medida que a parede é executada, a pilha de tijolos diminui e sua altura vai se tornando
mínima enquanto a altura da parede se torna máxima. No sistema convencional, a colocação
de tijolos é estabelecida a critério do pedreiro, normalmente, costuma colocá-los no lugar
onde serão levantadas as paredes. Posteriormente são empilhados, a critério do servente, em
estoque provisório para levantamento das paredes seguintes. Isto reduz a área de locomoção
e impede o fluxo de transporte contínuo. Em muitos casos o servente precisa auxiliar o
pedreiro na retirada dos tijolos excedentes ou no abastecimento de outros materiais em luga-
res de acesso mais difícil. A seqüência operacional estabelece, primeiramente, a execução de
paredes externas e depois as internas. No levantamento das alvenarias o pedreiro pode esco-
lher a seqüência a seguir, mas normalmente, inicia pelas paredes localizadas frente ao elevador
de materiais. Esta prática restringe o deslocamento e abastecimento de materiais bem como o
espaço para movimentação do pedreiro e para uso de andaimes.
Analisando-se o uso de tijolos, pode-se considerar crítica a falta de meio tijolo no posto de
trabalho. O pedreiro que corta tijolos opera com perda de tempo e desperdício de material, o
que demanda esforços adicionais, inúteis e onerosos.
Como instrumento de trabalho, o pedreiro utiliza, sobretudo, ferramentas manuais tais como:
colher, nível, prumo, linha, metro, em geral todos de sua propriedade. Os equipamentos auxi-
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liares mais utilizados são: andaime, escantilhão para alinhamento das paredes e caixotes para
argamassa, fornecidos pela empresa e normalmente fabricados no próprio canteiro com utili-
zação de tábuas reaproveitadas das fôrmas. Há de se ressaltar que, estas argamasseiras e os
andaimes tornam-se pesados e difíceis de serem movimentados por uma só pessoa.
Não existe uma norma por escrito, que defina os passos de como executar uma tarefa de
assentamento de alvenaria. Normalmente, o pedreiro, no seu dia a dia procede de acordo com
sua experiência prática, obedecendo alguns requisitos, tais como: parede a prumo; início pelas
paredes externas; uniformidade das juntas; início do levantamento pelos cantos e; colocação
da linha guia.
A seqüência de atividades realizadas pelo pedreiro são: chapiscar o pilar ou viga (24 horas
antes de iniciar a parede); assentamento dos tijolos extremos da primeira fiada; instalação e
prumagem da régua guia próxima a estes tijolos; colocar a régua guia para definir o alinha-
mento das fiadas; mexer a argamassa no caixote (argamasseira); assentar tijolos nos cantos;
estender a linha; colocar e espalhar a massa de assentamento; pegar o tijolo na pilha; colocar
a massa na extremidade do tijolo (junta vertical); verificar a adequação dimensional do tijolo;
assentar o tijolo na fiada; retirar o excedente de argamassa para reutilizá-la (rebarba); nivelar
o tijolo; verificar o prumo da parede. Adicionalmente, o pedreiro efetua a movimentação do
andaime e do caixote com a argamassa. Quando a parede é interna, é necessário buscar a
referência de nível para o contra marco da porta e marcar a posição dos tacos que fixarão a
mesma.
levantamento de uma parede. À medida que a parede vai tomando forma ocorrem variações
posturais. No manuseio de outros materiais envolvidos no processo, como tijolo e argamassa,
também acontece a alteração de postura.
Durante toda a atividade o pedreiro é obrigado a permanecer em pé. Isso favorece o apareci-
mento de algumas patologias nos pés e nas pernas. A constante inclinação da coluna para
frente é uma postura que agrava e favorece a aparição de dores nas costas (lombalgias).
Os andaimes tem alturas fixas. Não se regulam às diferentes alturas dos operários. Também
não são adaptados às áreas mais estreitas. Isto obriga o operário a trabalhar com os membros
superiores e inferiores esticados ou encolhidos. Também acontece a improvisação de andai-
mes com os equipamentos que tem à sua disposição. Geralmente provocam um incremento de
esforços. Os operários precisam subir e descer continuamente dos andaimes. Para isso usam
pequenos bancos, apoiados no chão, que aumentam os esforços nas pernas. Os caixotes de
madeira (argamasseira) não são reguláveis e absorvem água da argamassa o que os torna mais
pesados.
6 Recomendações
A construção civil, em quase toda sua totalidade, está calcada em métodos inadequados além
de utilizar muito a improvisação.
Considera-se que se obterá melhorias sensíveis para os trabalhadores (sem grandes custos
para as empresas) com aumento de produtividade na obra com a implantação das seguintes
recomendações (OLIVEIRA, CORDEIRO, ODEBRECHT, 1998):
- Substituição das argamasseiras de madeira por metálicas: são mais leves, não vazam, não
absorvem água e evitam constantes revolvimentos da argamassa para homogenização;
- Utilização de carrinhos para transporte de argamasseiras: meio de transporte de três ro-
das, permitem locomoção com maior quantidade de argamassa, eliminam o desperdício
por transbordamento;
- Porta argamasseira no posto de trabalho do pedreiro: mantida sempre na altura da cintura
do trabalhador, evita o contínuo abaixar e levantar (movimentos curvados) para alcançar
a argamassa a cada tijolo assentado;
- Utilização de cavaletes metálicos para montagem de andaimes, além de tablados de ma-
deira confeccionados exclusivamente para esta finalidade;
- Utilização de escantilhões de perfis metálicos prumados com marcação de escala corres-
pondentes à distância entre fiadas: forma de banir a utilização de pregos e gravetos, oca-
sionam melhor alinhamento e prumada;
- Incentivo às construtoras e empreiteiras de mão-de-obra na utilização dos equipamentos:
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7 Conclusão
8 Referências Bibliográficas
CORDEIRO, Celso Aurélio; OLIVEIRA, Sérgio Amaral de. Análise ergonômica do trabalho:
pedreiro de assentamento de alvenaria. Curso de Pós-graduação em Engenharia e Segu-
rança do Trabalho (lato sensu), Convênio UFSC/FURB: Blumenau, SC. Dez. 1997.
MANUAIS de Legislação Atlas: Segurança e Medicina do Trabalho. São Paulo: Ed. Atlas,
1997.
PICCHI, Flávio Augusto. Sistemas da qualidade: uso em empresas de construção de edifícios.
Tese de Doutorado. Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. São Paulo, SP.
1993. 462p.
OLIVEIRA, Sérgio A; CORDEIRO, Celso A.; ODEBRECHT, Clarisse. Improvements in the
ordinary work conditions of the construction bricklayer. In: 3rd International Conference
Global Safety, Bled: Slovenia, p. 229-234, Jun. 1998.
SABBATINI, Fernando Henrique. Possibilidades do desenvolvimento da alvenaria como es-
trutura de edificações. Novos processos e novos usos. In: VI Simpósio Nacional de
Tecnologia da Construção, São Paulo: Escola Politécnica da USP, out. 1987.
SANTOS, Neri dos; FIALHO, Francisco. Manual de análise ergonômica no trabalho. Curitiba:
Ed. Genesis, 1995.
SCARDOELLI, Lisiane Salermo et al. Melhorias da qualidade e produtividade: iniciativa das
empresas de construção civil. Porto Alegre, RS. 1994. 288p.