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HISTÓRIA DA ARTE

Profa. Dra. Maria Jucilene Silva G. de Sousa

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Caro(a) estudante,

Este é o e-Book da disciplina de História da Arte, para o curso de Licenciatura


em Música e está estruturado em duas unidades.

Na primeira Unidade, são abordados aspectos semânticos da Arte, sob a ótica


de autores renomados e ainda, serão discutidas questões como, a valoração artística e
a hierarquia de objetos artísticos. Apresenta-se ainda nesta unidade, um contexto
histórico sobre Arte, desde os primórdios aos tempos atuais.

Na segunda Unidade, discorreremos sobre temas específicos importantes em


se tratando de Arte. Como por exemplo, a tradição e a não-tradição da Arte, o que se
entende por “História da Arte Velha” e “História da Arte Nova”. São enfatizadas também
as formas de fazer arte de alguns povos, que fizeram parte da História do Brasil, de forma
mais impactante, tais como, os negros, os indígenas e os portugueses.

Não pretendemos esgotar o assunto em História da Arte, mas apenas


apresentar uma síntese das questões mais importantes, para que você possa aprofundar
com as leituras indicadas neste e-Book.

Sugerimos que você leia todo o material e faça suas anotações para que possa
enriquecer seu entendimento e manifestar, com êxito, seu conhecimento nas
avaliações.

Bons Estudos!

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SUMÁRIO

1 UNIDADE: ARTE E SUA SEMÂNTICA, ABORDAGENS E HISTORICIDADE


ARTÍSTICA..................................................................................................................... 4
1.1 Arte: Alguém explica?............................................................................................ 4
1.2 Primeiros desafios em Arte.................................................................................... 8
REFERÊNCIAS................................................................................................................. 22

2 UNIDADE: ESPECIFICIDADES EM ARTES, GOSTO E JUIZO CRÍTICO............................ 23


2.1 A não-tradição histórica, entre o moderno e o contemporâneo........................... 23
2.2 Arte Negra no Brasil, um século de mudanças depois de Nina Rodrigues............. 25
2.3 A arte Indígena: a utilidade da arte......................................................................... 27
2.4 As navegações da Arte em Portugal........................................................................ 30
2.5 História da Arte Nova e História da Arte Velha...................................................... 32
2.6 Juízo ou Prejuízo Estético: entre o gosto pessoal e o universal.............................. 33
REFERÊNCIAS................................................................................................................. 36

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UNIDADE 1
ARTE E SUA SEMÂNTICA, ABORDAGENS E HISTORICIDADE
ARTÍSTICA

Nesta unidade serão apresentados conceitos diversificados sobre Arte,


reiterando a ideia de que, até hoje, não se esgotou as formas de sua conceituação.
Apresenta-se também a sua contextualização histórica desde a Pré-História aos dias
atuais.

1.1 Arte: Alguém explica?

É bastante comum ouvirmos as pessoas falando em arte ao citarem obras


renomadas na área musical, quando estas estão em grandes concertos, ou quando veem
objetos em museus, ou ainda, quando se fotografam ao lado de monumentos famosos
existentes no mundo. Quando ouvem ou veem manifestações artísticas de cunho
popular, ou assistem a um filme produzido por pessoas próximas e até rimas poéticas
proferidas por alguém que conheça de perto, não consideram como Arte, e ainda, fazem
juízos sobre bonito e feio em seus julgamentos.

Sabe-se que a arte faz parte do nosso cotidiano, mesmo quando não a
percebemos. Muitos autores, deram seus olhares semânticos sobre arte, buscando
defini-la de forma significativa, todavia não conseguiram exaurir o teor significativo de
arte. Para Kosik (2002) a arte se mistura profundamente com a realidade social, é a
expressão da prática social e transcendente do ser humano. Já para Merleau-Ponty
(1980), a arte não traduz o mundo, mas constrói o mundo.

Outros Autores renomados conceituaram Arte da seguinte forma: Será Arte


tudo o que eu disser que é Arte (Marcel Duchamp), A Arte é uma mentira que
nos permite dizer a verdade (Pablo Picasso); A arte não tem nada a ver com o

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gosto, não há nada que o prove (Marx Ernst), Enquanto a ciência tranquiliza,
a arte perturba (George Braque). (PAULA, 2006, p 15).

Entende-se, a partir desses conceitos criativos, que não há como esgotarmos


as possibilidades semânticas de definição de Arte. É mister compreendermos por que é
importante estudarmos a Arte.

Habitamos um mundo que vem trocando sua paisagem natural por um


cenário criado pelo homem, pelo qual circulam pessoas, produtos,
informações e principalmente imagens. Se temos que conviver diariamente
com essa produção infinita, melhor será aprendermos a avaliar esta
paisagem, sua função, sua forma e seu conteúdo, o que exige o uso de nossa
sensibilidade estética. Só assim poderemos deixar de ser observadores
passivos para nos tornarmos espectadores críticos, participantes e exigentes.
(COSTA, 1999, p. 09).
É por meio da Arte que o indivíduo busca compreender o mundo, usando sua
capacidade filosófica para construir sua concepção de bem-estar, de acordo com seus
valores e crenças pessoais.

A Arte possibilita o exercício do senso crítico e não é oriunda de virtude inata,


mas se configura sob a égide das experiências e da construção do conhecimento. “A arte
não vive num puro terreno da afetividade imediata. Ela requer, para o criador como para
o consumidor, a posse de um certo número de ferramentas intelectuais e técnicas que
nenhuma espontaneidade permite dispensar.” (PORCHER, 1982, p. 22)

Por isso, faz-se necessário um conhecimento técnico-artístico para dar respaldo


à apreciação da Arte e a uma análise valorativa. Só podemos significar a Arte em nossa
vida, independente do fator de temporalidade, se construirmos saberes, que alicercem
o objeto do nosso conhecimento, que no caso da Arte, são os chamados conteúdos
estruturantes, ou seja, os elementos formais, a composição, os movimentos ou
períodos.

1.1.2 A arte tem valor?

Diante da realidade cruel e insana, de fome, violência, drogas que perpassam a


sociedade, parece irônico falar de Arte. “Mas a Arte só pode ser criada dentro daquilo
que é bonito? E o que é o bonito? Qual beleza podemos expressar? E os artistas? Só

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criam suas artes dentro daquilo, que é considerado, por muitos, como belo?” (PAULA,
2006, p. 26).

Edvard Munch (1863-1944) retratava o ser humano vendo-os a partir das suas
angústias e seus sentimentos. Esse artista expressionista sofria de depressão, mas foi
um artista genial que soube dar a sua dor um valor mais elevado, pois, como se
questiona o filósofo e romancista francês Albert Camus (2021, p. 68): “por que criar se
não for para dar um sentido ao sofrimento, nem que seja para dizer que ele é
inadmissível? A beleza surge neste momento dos escombros da injustiça e do mal”.

Figura 1 - “O grito” de Edvard Munch.

Fonte: Estadão (2018).

Expressionismo foi uma forma de pintar, manifestando o sofrimento, a solidão,


a angústia, a morte e o sufoco. De acordo com Combrich (1993, p. 449):

O Movimento Expressionista surgiu na Alemanha em 1910,


aproximadamente, e seus artistas alimentavam sentimentos tão fortes em
relação ao sofrimento humano, à pobreza, à violência e à paixão, que eram
propensos a pensar que a insistência na harmonia e beleza em arte nascera
exatamente de uma recusa em ser sincero. Não desejavam criar cópias
idealizadas do real e sim uma representação dos sentimentos humanos.

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O problema com o belo e o feio é que os gostos e padrões do que é bonito ou
não variam imensamente. O que ocorre com a beleza, ocorre também com a expressão.
Voltar as costas a obras cuja expressão seja menos ou mais fácil de entender, é um erro.
(GOMBRICH, 1993).

É comum a aceitação de formas ou cores que foram convencionadas como as


únicas corretas, podemos citar por exemplo o céu que deve ser azul, a grama verde, etc.
Se pudéssemos esquecer tudo que armazenamos na nossa mente a respeito de mato
verde, céu azul, e vermos o mundo como se tivéssemos acabado de chegar de outro
planeta, poderíamos nos sentir surpreendidos com as cores.

Um dos grandes inimigos na apreciação de artes é o nosso preconceito.


Segundo Jorge Coli (1995, p. 7) "dizer o que seja a arte é coisa difícil [...] Mas se
buscarmos uma resposta clara e definitiva, decepcionamo-nos: elas são divergentes,
contraditórias".

Para validar o que é ou não arte, nossa cultura possuiu instrumentos


específicos. Um deles, essencial, é o discurso sobre o objeto artístico, ao qual
reconhecemos competência e autoridade. Esse discurso é o que profere o crítico, o
historiador da arte, o perito, o conservador de museu. Mas isso não é suficiente, embora
seja importante, para legitimar um objeto como arte (COLI, 1995).

1.1.3 A hierarquia dos Objetos.

A manifestação do objeto artístico se dá pelo aparato cultural que o envolve: o


discurso, o local, as atitudes de admiração etc. Esses instrumentos não têm a
prerrogativa de descolonizar o artístico do não artístico, mas de criar uma hierarquia dos
objetos artísticos, ou seja, essa pintura ou essa música é mais interessante ou melhor
do que outra, (COLI, 1995).

Não é preciso muito conhecimento para sabermos que Dante é "maior " ou
superior" a Casimiro de Abreu, que Benedito Calixto é "inferior" a Leonardo,
que Bach é o maior de todos os músicos, que o Parthenon é a mais perfeita
obra arquitetural, pois trata se de julgamentos correntes, que parecem óbvios
ou tácitos. [...] isso não quer dizer que tais objetos sejam mais " arte" que
outros". (COLI, 1995, p. 12).

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A hierarquia dos objetos artísticos tem a ver com questões de autoridade
performática, de uma criação para outra, da bagagem artística do criador, do estilo, do
impacto artístico no meio e na história etc., ou seja, não está em pauta o caráter de ser
arte ou não.

1.2 Primeiros desafios em Arte

A expressão da percepção do ser humano sobre si, sobre o outro e sobre o meio
em que vive, se constituiu e ainda constitui uma forma de sua superação. Foi dessa
maneira que a arte evoluiu, com a capacidade humana de criar símbolos (SHINER, 2001).

Segundo Carol Strickland e John Boswell (2014, p. 12), a arte foi inventada há
mais de 25 mil anos. “Em algum momento da era glacial, quando caçadores e coletores
ainda viviam em cavernas, a mentalidade Neanderthal de fazer instrumentos deu lugar
ao impulso Cro-Magnon de fazer imagens”.

1.2.1 Arte pré-histórica.

A arte rupestre se configura num tipo de arte que envolve sinais, símbolos e
desenhos. É um tipo de arte pré-histórica de cunho naturalista, na qual é retratada cenas
da vida cotidiana, como por exemplo, mãe tendo bebê e homens caçando animais para
se alimentar.

As expressões artísticas mais antigas foram encontradas na Europa, em


especial na Espanha, Sul da França e da Itália e datam de aproximadamente
de 25 000 a.C., portanto no período paleolítico. Na França encontramos o
maior número de obras pré-históricas e até hoje em bom estado de
conservação, como foi o caso das cavernas de Altamira, Lascaux e Castilho
(SOARES, 2017, p. 6).

No neolítico já aparecem pinturas com finalidades decorativas e com mais


qualidade estética, ou seja, mais aspectos subjetivos, embora muito próximo de formas
escritas. Essas pinturas denunciavam caráter religioso e místico, relacionado à
fecundidade e adoração.

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Os primeiros “quadros” foram pintados em cavernas, provavelmente 15 mil
anos atrás. As pinturas de bisões, veados, cavalos, bois, mamutes, javali se
situam nos recessos das cavernas, longe das superfícies habitadas e da luz do
sol. Os arqueólogos especulam que os artistas criavam as figuras para garantir
uma boa caça. Muitos animais aparecem trespassados por flechas, e furos nas
paredes indicam que os habitantes das cavernas atiravam lanças nos animais
desenhados (BOSWELL; STRICKLAND, 2014, p. 12).

A arte pré-histórica fazia alusão a rituais comuns à época. Desenhos peculiares


em forma de círculos, cruzes, espirais

Como se sabe, as comunidades pré-históricas eram nômades e a necessidade


de sobrevivência contribuiu para o desenvolvimento da agricultura e, como
consequência, se fixavam por mais tempo nos espaços geográficos que serviam de
plantação. Assim, surgiram as primeiras obras arquitetônicas, feitas de fibras vegetais e
logo após aprenderam a construir templos de grandes pedras, para os mortos. Pelo peso
dessas pedras demoravam muito para construir.

Esses monumentos de pedras foram chamados de "megalíticos" e podem ser


classificados de: dólmens, galerias cobertas que possibilitavam o acesso a
uma tumba; menires, que são grandes pedras cravadas no chão de forma
vertical; e os cromlech, que são menires e dólmens organizados em círculo,
sendo o mais conhecido o de Stonehenge, na Inglaterra. Também
encontramos importantes monumentos megalíticos na Ilha de Malta e Carnac
na França, todos eles com funções ritualísticas (SOARES, 2017, p. 7).

Figura 2 - Stonehenge.

Fonte: O Globo (2021).

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Em se tratando de Escultura, neste período, a arte rupestre continha objetos
domésticos que foram fabricados em ossos, marfim, pecha ou até mesmo de chifre de
animais, e desenhados. Foram feitas também figuras femininas em pedras, por meio de
pedra pontiaguda.

No Neolítico, com a descoberta do fogo, foram produzidos objetos de


Cerâmica, como vasos com ondulações na superfície.

1.2.2 Mesopotâmia, Egito e Creta: Arte para recordar.

Mesopotâmia

A Mesopotâmia foi uma civilização dotada de singularidades sociais, políticas e


econômicas. Na arte, não foi diferente, o berço das civilizações – termo também
utilizado para definir a Mesopotâmia – a influência dos interesses estatais e as práticas
religiosas se notam presentes no contexto artístico e civilizacional da Mesopotâmia.

Seu baluarte era a arquitetura, sendo priorizado a demonstração das riquezas


e belezas nas obras. Os templos e palácios eram sempre construídos de forma muito
exuberantes, consideradas astronômicos. Os principais materiais utilizados nas suas
construções eram a argila, tijolos e ladrilhos.

Figura 3 - Zigurate, Mesopotâmia.

Fonte: Apaixonados por História (2018).

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Outras construções importantes eram as portas das muralhas construídas pelo
imperador Nabucodonosor, com decorações de alto relevo e dedicadas às divindades.

Quando chegamos nas esculturas e pinturas percebemos uma certa


simplicidade, pois eram marcas do baixo clero. As mais desenvolvidas no aspecto técnico
faziam parte do conjunto arquitetônico dos palácios e templos.

Já as músicas do Império Mesopotâmico, eram destinadas a cultos religiosos,


com canções de agradecimento, adorações e lamentações que apresentavam
características dos deuses citados. Assim as danças entravam no mesmo liame, em que
os gestos representavam uma espécie de pedido aos deuses.

Egito

As mais conhecidas construções da antiguidade são as da civilização egípcia,


pois eram um povo muito religioso e representavam essa característica de forma
artística, como as pirâmides, que eram túmulos para que os antigos faraós pudessem
alcançar a vida após a morte. Além disso, a construção de esculturas em formato de
criaturas fantásticas, eram feitas para proteger esses soberanos faraós e reis enterrados
nas pirâmides.

Segundo H. W. Janson (2001), o assunto sobre sepulturas egípcias não se


esgotou, ou seja, há muito o que se aprender sobre elas como, sua origem, construções
etc. Mas uma coisa é certa existia uma hierarquia no que se refere à vida após morte, já
que o legado maior que temos nesse contexto é dos Faraós.

Os egípcios inauguram uma lei artística chamada de “Lei da frontalidade”, pois


nos seus desenhos eram representados uma visão frontal do olho e dos ombros e em
perfil de cabeça, brações e pernas, características notadas por Strickland e Boswell
(2014). Percebe-se assim uma certa padronização do estilo artístico no Egito, pois não
se nota técnicas ou trações diferentes, apenas o intuito de demonstrar de modo
definitivo e preciso os deuses e templos.

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Figura 4 - Pinturas do Templo de Tebas.

Fonte: Prosainc (2021).

Os egípcios visavam sempre a eternidade, inclusive em suas esculturas que


eram feitas em granitos ou diorito para durarem de forma ad eternum.

A figura despojada, de ombros largos e quadris estreitos, usando adorno na


cabeça e tanga, posa rigidamente com os traços para os lados e uma perna
adiante da outra. O tamanho da figura indica sua posição: os faraós são
representados como gigantes sobressaindo entre criados, do tamanho de
pigmeus (BOSWELL; STRICKLAND, 2014, p. 17).

Os Egípcios cultuavam o faraó como deuses, assim sendo, as imagens dos faraós
tiveram certa importância nas primeiras construções egípcias.

Junto ao templo inferior da segunda pirâmide - a de Quefren -, ergue-se a


Grande Esfinge, talhada na própria rocha viva, talvez uma personificação mais
impressionante da realeza divina que as próprias pirâmides. A cabeça real,
emergindo do corpo de um leão, eleva-se a 20 metros de altura e tem,
provavelmente, as feições de Quefren [...]. Tem tal majestade que, mil anos
mais tarde, foi possível pensar que se tratava de uma imagem do rei-sol
(JANSON, 2001, p. 83).

Sendo assim, com o passar da história, as manifestações artísticas foram


assumindo uma espécie de representação histórica de poder, em que eram registrados
através delas os feitos dos faraós durante seus governos.

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Creta

Em Creta (Região localizada no sul da Grécia), suas manifestações artísticas


eram expressas de forma natural, e desenvolveram-se bastante nas artes plásticas,
arquitetura, pintura, escultura e cerâmica, e do mais básico utensílio doméstico até as
grandes construções da região tinha um toque artístico.

Na pintura percebemos a presença de mais figuras humanas. Nas esculturas


utilizavam a esteatita, o marfim e a argila.

Podemos dizer que seu carro chefe seria seus trabalhos com cerâmicas, em que
alcançam quase a perfeição. Seus vasos eram belíssimos, e apesar da queda e
desaparecimento quase total do seu povo, Creta apresenta um suspiro da plástica
helenística.

Figura 5 - Afresco Cretense.

Fonte: UOL (2020).

1.2.3 Grécia: em busca da beleza perfeita das formas

A Grécia influenciou o ocidente em vários aspectos, na Filosofia, Biologia e


principalmente na arte. Todas suas manifestações artísticas, como pintura, escultura e
arquitetura, visavam atingir a perfeição, seus estudos eram em busca das formas mais

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belas, com técnicas inovadoras, estilo e com um alto padrão de qualidade, em que os
artistas buscavam transmitir a simplicidade, isto é, o dia a dia da comunidade grega.

Segundo Cecília Soares (2017), as pinturas gregas tiveram o que podemos


chamar de belle époque, em que os artistas utilizavam uma técnica em que a perspectiva
do público sofria uma certa ilusão, de tal maneira que, formas com duas dimensões
pareciam ter a forma de três. Nessa técnica, chamada de Trompe l’oeil, as pinturas que
compunham os vasos, por exemplo, em sua maioria contavam histórias específicas da
mitologia, mas mostravam o cotidiano da comunidade.

[...] as figuras se destacavam em negro contra um fundo vermelhado. O


artista riscava os detalhes do desenho com uma agulha, expondo a tonalidade
da argila. O estilo de figura vermelha, que teve início por volta de 530 a.C.,
invertia o esquema de cores. As figuras, delineadas contra um fundo negro,
eram compostas pelo vermelho natural da argila com detalhes pintados em
preto (STRICKLAND; BOSWELL, 2014, p. 20).

Nas esculturas gregas, é possível perceber que o intuito dos artistas era a busca
da perfeição, pois nas obras, os escultores tentavam chegar o mais próximo do real,
visando sempre à forma perfeita, e para essa demonstração de detalhes foi usado o
elemento da nudez nas esculturas.

A arquitetura grega teve três grandes principais estilos: o jônico, o dórico e o


coríntio. Suas diferenças eram demonstradas pela parte superior das colunas em suas
estruturas.

Figura 6 - Estilos de arquitetura grega.

Fonte: https://i.pinimg.com/originals/4d/69/aa/4d69aa93b826382878227c17f71c109b.png

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No estilo jônico percebe-se uma certa conectividade com o símbolo feminino,
demonstrando colunas sempre esbeltas e decorativas, apresentando uma conectividade
com o lado de dentro e o de fora; No Dório nota-se que geralmente eles optavam pela
maximização das funcionalidades, sempre apresentando acima dos templos deuses e
heróis de sua mitologia; Já o coríntio, demonstrava-se sempre mais decorativo, trazendo
na sua estrutura, um sino invertido, com folhas de broto de acanto, planta bastante
conhecida na região.

A arte grega diferenciou-se das demais em vários aspectos, porém o mais


notável foram as formas realistas transmitidas pelos artistas em suas obras.

1.2.4 Roma: todos as artes levam a ela

Roma foi um dos maiores impérios que já se consolidaram na terra, no campo


artístico não foi diferente, no seu auge se destacou os afrescos, as esculturas trazendo
uma influência grega e os murais decorativos.

No auge do seu esplendor, o Império Romano estendia-se da Inglaterra ao


Egito e da Espanha ao sul da Rússia. Expostos aos costumes de terras
estrangeiras, os romanos absorveram elementos de culturas mais antigas –
notavelmente da Grécia – e transmitiram essa mistura cultural (greco-
romana) a toda a Europa Ocidental e ao norte da África. A arte romana veio a
ser a pedra fundamental da arte de todos os períodos posteriores (BOSWELL;
STRICKLAND, 2014, p. 24).

Na arquitetura a civilização romana teve um maior destaque histórico, pois


trouxe grandes contribuições técnicas, eles foram os primeiros, por exemplo, a usarem
o concreto nas suas construções. Os romanos queriam algo mais autêntico e resolveram
minimizar a influência das artes gregas nas suas construções, priorizando assim os
espações internos. Ainda, os romanos começaram a desenvolver anfiteatros, locais que
com um espaço interno amplo e que cabiam muitas pessoas. A cultura dos romanos era
dotada de atrações, como lutas de gladiadores, por isso essa necessidade de um local
para suportar um grande contingente de pessoas.

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Figura 7 - Coliseu Romano.

Fonte: Roma pra você (2021).

Na pintura os romanos desenvolveram vários estilos diferentes, como a pintura


em parede de gesso, que transmitia uma impressão que era feita em mármore. Os
pintores de Roma ainda notaram que “a ilusão com gesso poderia ser substituída pela
pintura propriamente dita” (SOARES, 2017, p. 28), através da profundidade aplicada à
pintura. Ainda, os artistas eram caracterizados por valorizarem os pequenos detalhes
das imagens; assim, o estilo mais desenvolvido, apresentava uma pincelada mais sutil,
combinada com a profundidade e a ilusão das perspectivas envolvidas.

Quando se trata das esculturas, os romanos não buscavam corpos e formas


perfeitas, mas buscavam expressar a realidade, as formas com seus traços particulares,
expressando ainda mais a realidade corporal dos gregos.

1.2.5 Idade Média: raio das artes

A Idade Média teve uma forte influência religiosa nos seus diversos contextos,
inclusive na arte. As artes nos vitrais das igrejas e templos era uma marca muito forte
da época, ao retratarem em seu cerne passagens bíblicas. O clero se apossou da arte,
era a apreciação da beleza abstrata da cristandade para a beleza material, culminando
numa farta quantidade de manifestações artísticas como: mosaicos, pinturas e

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esculturas. Foi identificado três estilos de artes diferentes na idade média: gótico,
bizantino e romano (SOARES, 2017).

O estilo Bizantino era caracterizado pelo foco na arquitetura, principalmente


voltada às igrejas e templos religiosos, com ênfase no espaço interno espaçoso e
tamanho estrondoso das construções, em que destacam-se também as cúpulas
sustentadas por colunas. A pintura e as esculturas não tiveram tanto desenvolvimento
devido aos iconoclastas – destruíram imagens religiosas, que se opunham à sua
adoração – ainda assim, as esculturas tiveram obras aprimoradas pela utilização do
marfim. Os mosaicos, como já citados, eram a manifestação artística mais popular da
época, eram pequenos pedaços de pedras, colocadas sobre o cimento fresco da parede,
sempre fazendo referência a passagens religiosas e personagens da religião.

Um outro estilo desenvolvido na Idade Média era o estilo romano, destacando-


se pela arquitetura. As estruturas apresentavam poucas entradas de luz,
transformando-se em um ambiente escuro devido as poucas janelas e as suas paredes
espessas, dando um aspecto visual mais pesado ao ambiente. Além disso, é marcante a
presença de abóbodas e de arcos nas obras arquitetônicas. Na pintura e escultura
prevaleciam temas voltados para a religião, com o intuito de adornar o ambiente.

No estilo gótico, desenvolveu-se ainda mais a utilização de técnicas de


engenharia como as abóbodas e a troca das paredes grossas dos templos românicos por
paredes mais estreitas e janelas maiores, prevalecendo a luz dentro dos ambientes. Sua
principal característica era a verticalidade, optavam pelo tamanho de suas construções,
para ficarem mais próximos dos céus, ou seja, mais próximo de Deus. Outra forma de
arte importante desenvolvida no período gótico foi o fortalecimento das artes em
tapeçaria, tapetes de lã e seda adornavam os templos e casas, demonstrando cenas da
vida cotidiana e contos do povo.

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Figura 8 - Estilos Da Idade Média.

Fonte: UFPE (2005).

1.2.6 O Renascimento: a volta do brilho em telas

A época renascentista ficou marcada pela volta e a redescobertas dos estilos,


grego e romano, mas essa época foi o nascimento de um novo modo de estudos, o
antropocentrismo.

As pinturas, por exemplo, procuravam traduzir as diferentes formas do ser


humano, como a sensualidade e a beleza das formas humanas. Uma das técnicas
utilizadas pelos pintores renascentistas era a matemática através da geometria.

As técnicas inovadoras desenvolvidas pelo renascimento foram a nova


perspectiva das obras, o uso mais intenso de luz e sombras e a presença de uma
composição em pirâmide nas pinturas. Nas esculturas, o renascimento trouxe as
expressões faciais mais intensas, demonstrando justamente a característica
antropocentristas.

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Figura 9 - “Davi” de Michelangelo.

Fonte: UOL (2021).

1.2.7 Século XIX: as ideias por trás das artes

A arte moderna surge por uma ânsia do ser humano de explorar novas formas
e novas cores. Essa nova forma de arte, que utilizava imagens deformadas, cubos, entre
outras formas consideradas exóticas, chegou ao Brasil na Semana de Arte moderna de
1922, influenciadas pelas vanguardas europeias, e “dentre os movimentos
vanguardistas que mais influenciaram a produção artística no Brasil, destacamos os
seguintes: Cubismo, Dadaísmo, Expressionismo, Surrealismo e Futurismo” (FAVENI,
2000, p. 89).

O cubismo, divide-se em duas grandes fases, o cubismo analítico que utilizou


das formas distorcidas, decomposição de objetos e um certo grau de monocromatismo;
na segunda fase temos o cubismo sintético, onde se destaca recortes de jornais, pedaços
de objetos que são utilizados para compor o quadro, temos o início da técnica da
colagem.

O dadaísmo, vem como uma manifestação artístico-social, em que é


considerado por muitos um movimento radical em que os valores antes tratados como
absolutos, são questionados. Eles utilizam o método do choque e do escândalo,
sentimentos esses, que os pintores dessa fase esperavam transmitir com suas obras.

Temos ainda o expressionismo, que também apresenta uma imagem


distorcida, em que são utilizadas cores fortes e até, em algumas circunstâncias,
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violentas. Trazendo consigo as críticas sociais constantes, os artistas tinham como
intuito, as figuras deformadas, fazendo um certo ressurgimento da xilogravura.

O surrealismo, como o próprio nome já denuncia, visava a fuga da realidade, as


obras dos artistas que compunham esse movimento, tinham uma forte presença do
erotismo e metamorfoses. Os surrealistas costumavam utilizar as colagens e
assemblagens para consolidar sua lógica, e assim, elementos considerados por muitos
impossíveis, começavam a fazer sentido.

Por um outro lado, temos o futurismo, criado através do manifesto futurista,


pelo italiano Tommaso Marinetti no ano de 1909. Podemos definir como um movimento
mais tecnocrático pois traz uma espécie de exaltação, a máquina, elogiando a técnica e
ao mesmo tempo a ciência, além de trazer em muitas de suas obras, o debate político-
ideológico.

RESUMO

Nesta Unidade foi possível saber que a arte faz parte do nosso cotidiano,
mesmo quando não a percebemos. Muitos autores, deram seus olhares semânticos
sobre arte, buscando defini-la de forma significativa, todavia, não conseguiram exaurir
o teor significativo de arte, isto é, que não há como esgotarmos as possibilidades
semânticas de definição de Arte. Além disso, a Arte possibilita o exercício do senso
crítico e não é oriunda de virtude inata, mas se configura sob a égide das experiências e
da construção do conhecimento. Para validar o que é ou não arte, nossa cultura possuiu
instrumentos específicos. Um deles, e essencial, é o discurso sobre o objeto artístico, ao
qual reconhecemos competência e autoridade. A manifestação do objeto artístico se dá
pelo aparato Cultural que o envolve: o discurso, o local, as atitudes de Admiração etc.
Esses instrumentos não têm a prerrogativa de descolonizar o artístico do não artístico,
mas de criar uma hierarquia dos objetos artísticos, ou seja, essa pintura ou essa música
é mais interessante ou melhor do que outra. A arte pré-histórica fazia alusão a rituais
comuns à época. Desenhos peculiares em forma de círculos, cruzes, espirais. A
Mesopotâmia foi uma civilização dotada de singularidades sociais, políticas e
econômicas. Na arte, não foi diferente. Os egípcios visavam sempre a eternidade em sua

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arte, inclusive em suas esculturas que eram feitas em granitos ou diorito para durarem
de forma ad eternum. Em Creta (Região localizada no sul da Grécia), suas manifestações
artísticas eram expressas de forma natural, desenvolveram-se bastante nas artes
plásticas, arquitetura, pintura, escultura e cerâmica. Nas esculturas gregas, era possível
perceber o intuito dos artistas gregos, a busca da perfeição, pois nas obras, os escultores
tentavam chegar o mais próximo do real, visando sempre a forma perfeita. A cultura dos
romanos era dotada de atrações, como lutas de gladiadores, por isso essa necessidade
de um local de suportar muitas pessoas. A Idade Média teve uma forte influência
religiosa nos seus diversos contextos, inclusive na arte. As artes nos vitrais das igrejas e
templos era uma marca muito forte da época. A época renascentista ficou marcada pela
volta e a redescobertas dos estilos, grego e romano, mas essa época foi o nascimento
de um novo modo de estudos, o antropocentrismo. A arte moderna surge por uma ânsia
do ser humano de explorar novas formas e novas cores. Essa nova forma de arte, que
utilizava imagens deformadas, cubos, entre outras formas consideradas exóticas,
chegaram ao Brasil na Semana de Arte moderna de 1922.

Atividade complementar

Para um maior aprofundamento de seu conhecimento sobre a História da Arte,


apresenta-se aqui uma sugestão de Atividade:

Assista ao vídeo: “Linha do tempo da História da Arte - Resumo completo”, que pode
ser acessado neste link: https://youtu.be/0xVoAkXUyhE.

Em seguida, faça um mapa mental a respeito dos principais aspectos da História da Arte.

21
REFERÊNCIAS

BOSWELL, J.; STRICLAND, C. Arte comentada: da pré-história ao pós-moderno. Rio de


Janeiro: Nova Fronteira, 2014.

CAMUS, Albert. A inteligência e o cadafalso; tradução de Manuel da Costa Pinto,


Cristina Murachco. – 6ª ed. – Rio de Janeiro: Record, 2021.

COLI, Jorge. O que é Arte. 15ª ed, Editora Brasiliense, São Paulo – SP, 1995 ISBN 85-11-
01046-7.

COSTA, C. Questões de Arte: a natureza do belo, da percepção e do prazer estético. São


Paulo: Editora. Moderna, 1999.

GOMBRICH, E. H. A história da arte. 16. ed. Rio de Janeiro: LTC, 1999.

GOMBRICH, E. H. A História da Arte. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,1993.

GOMBRICH, Ernst Hans; TORROELLA, Rafael Santos; SETÓ, Javier. Historia del arte.
Nueva York: Phaidon,1997.

HISTÓRIA da arte. São Paulo: Centro Universitário Faveni, [2000]. Disponível em:
https://docplayer.com.br/220617269-Centro-universitario-faveni-historia-da-arte-
guarulhos-sp.html. Acesso em: 8 fev. 2023.

JANSON, H. W. História geral da arte: O mundo antigo e a idade média. 2. ed. São Paulo:
Martins Fontes, 2001.

KOSIK, K. Dialética do Concreto. 2ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002.

MERLEAU-PONTY, M. A dúvida de Cézanne. in: Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural,


1980.

PAULA, Carlos Alberto de et al. Arte /vários autores - Curitiba: SEED PR, 2006. Ensino de
Arte. 2. Ensino Médio. 3 História da Arte.

PORCHER, L. Educação Artística: luxo ou necessidade? 3ª ed. São Paulo: Summus,1982.

SHINER, L. The Inventionof Art: a Cultural History. Chicago: Chicago University, 2001,
pp. 111-120.

SOARES, Ana Cecília. História da Arte. INTA - Instituto Superior de Teologia Aplicada.
PRODIPE - Pró-Diretoria de Inovação Pedagógica. 1 Ed. Sobral, 2017.

22
UNIDADE 2
ESPECIFICIDADES EM ARTES, GOSTO E JUÍZO CRÍTICO

Nesta Unidade incitamos uma reflexão sobre a destradicionalização da História


da Arte sob os estudos de Rachel Costa (2013). Caracterizamos a Arte Negra sob a
perspectiva de Nina Rodrigues (1988) e CUNHA (2006). São abordadas questões
polêmicas da Arte indígena, apontadas por NUNES (2011), e ainda, é caracterizado como
Portugal iniciou seus estudos mais enfáticos sobre a sua arte na história do século XIX.
Finalizamos a unidade estabelecendo a diferença entre “História da Arte Velha” e
“História da Arte Nova” (CARDOSO, 2009) e o que significa gosto pessoal e juízo estético
sob a perspectiva de SILVA (2013) e PAREYSON (2001).

2.1 A não-tradição histórica, entre o moderno e o contemporâneo

A História como ciência e como disciplina traz em seu bojo, uma periodização
didática, visando o entendimento dos estudiosos sobre a evolução humana, seja em
qualquer área, em seus respectivos tempos e espaços históricos, dentro do contexto
ocidental. Assim, é possível revisitar o livro “História Universal” de Christopher Cellarius,
no qual a História é dividida em Antiga, Medieval e Novo Período, e somente depois,
com a obra de Hegel, “Lições sobre a Filosofia da História”, é que a denominação
“moderna” foi enfatizada. Da mesma forma, a compreensão de História da Arte está
intimamente ligada a uma maneira de compreender a história e a sua relação com a
arte.

Os termos moderno e contemporâneo acompanham o mesmo tipo de


pensamento. Moderno, no dicionário Aulete, significa: inerente ou
pertencente à época atual, contemporânea. Nesse sentido, eles são
sinônimos, ambos se referindo a uma percepção do presente em relação ao
passado. Logo, os adjetivos moderno e contemporâneo são adotados devido
a uma compreensão da história que parte do presente em direção ao
passado, e eles não são exclusivos da arte, mas fazem parte do imaginário
coletivo ocidental (COSTA, 2013, p. 100).

23
Rachel Costa (2013) propõe que as questões contemporâneas sejam
entendidas a partir do século XIX em diante, e pensada a partir do modo como ela foi
instituída, não concordando com SHINER (2001), o qual afirma que a arte
contemporânea se desenvolveu a partir do século XVIII, embora ambos concordem que
a história da arte não deve ser analisada sob a ótica de periodização.

A autora ainda enfatiza que os dois séculos, XIX e XX cuidaram em dissociar o


trabalho artístico das regras e características manuais, com a capacidade de criar. Isso
deu maior autonomia nos estudos que revisaram as teorias criadas nas décadas
passadas e resultaram em relevantes mudanças, o que ela chamou de
destradicionalização da arte:

A consequência desse processo foi uma autonomia tal que implicou nas
modificações que se sucederam e na necessidade de reformular o arcabouço
teórico e institucional criado. Logo, o objetivo é pensar a arte não em termos
de período, mas em relação ao modo como o Ocidente tanto a criou como se
relacionou com as mudanças decorrentes dessa criação. Denominei esse
longo processo de modificação, muitas vezes associado à modernidade
artística, mas mais longo que a demarcação desse período, de
destradicionalização da arte (COSTA, 2013, p. 101).

Analisa-se que, o que a autora em voga explica com essa denominação de


“destradicionalização da arte”, é a atitude do artista em assumir suas características
peculiares sem os padrões tradicionais impostos culturalmente no fazer artístico
ocidental, e não no aspecto temporal delimitado na periodização. Em outras palavras, o
próprio objeto artístico evidencia aspectos de refutação da técnica de pintura. Como
pode ser visto na refutação do caráter ilusório da técnica de pintura e desenho, da obra:
o trompe l’oeil, de Monet.

Figura 10: Claude Monet, Impressão - Nascer do sol, 1873.

Fonte: Blog Letras (2014).

24
O famoso quadro de Claude Monet, que deu nome ao movimento
Impressionista, é uma expressão dessa ideia. O artista pintou a paisagem de
acordo com o modo como ele a percebia, sem se preocupar com as técnicas
ilusórias tradicionais nesse tipo de pintura. Além de que a cor laranja utilizada
para o sol é uma extravagância. O quadro mostra uma forma de compreender
a paisagem diferente da tradição, que não tem como base a necessidade de
uso de artifícios ilusórios, ou de uma escala de tons que reproduza as cores
do mesmo modo que o olho vê (COSTA, 2013, p. 102).

Com a mesma proposta de confronto da arte tradicional, vários outros


movimentos vanguardistas, abriram caminho para uma nova forma de fazer arte, não
só pelo viés de liberdade artística, mas de criar uma “nova tradição”, na qual há uma
simbiose de pensar aspectos tradicionais com a ideia de não engessamento a eles.

A partir de 1980, os crivos e técnicas tradicionais deixaram de ser necessários


e passaram a ser acessórios, os questionamentos sobre o tecnicismo artístico e os
padrões de cores e imagens, estabeleceram, nesta década, condições para se
caracterizar o que se denomina como contemporaneidade. Não no sentido periódico
praxiológico da palavra, mas de se entender que a contemporaneidade se processa
dentro da substituição de critérios técnicos por liberdade e pluralismo.

2.2 Arte Negra no Brasil, um século de mudanças depois de Nina


Rodrigues

Os pesquisadores consideram complexa a pesquisa feita em Arte Negra no


Brasil, a partir do legado de Raimundo Nina Rodrigues, haja vista que durante esses 100
(cem) anos após sua morte, muita coisa mudou em se tratando dessa temática. Até a
semântica da estrutura do termo ‘raça’ passou por transformação significativa.

Hoje sabemos que todos somos iguais na essência humana e as diferenças


não são consideradas como sinais de inferioridade e sim de diversidade.
Neste contexto, as teorias de Nina foram superadas, mas não se pode incorrer
num anacronismo e avaliar sua obra como se tivesse sido composta na
contemporaneidade. Ela é fruto de seu tempo e o exercício que aqueles
dedicados ao estudo da arte afro-brasileira devem realizar para compreendê-
la é por demais atual: trata- se mesmo de uma necessidade, especialmente
num país como o Brasil, cuja intelectualidade, por vezes, tem dificuldades de
estabelecer predecessores, avaliando criticamente as contribuições
passadas, ultrapassando posições polarizantes. (CUNHA, 2006, p.24).

25
Nina Rodrigues foi o primeiro autor a tratar sobre arte afro-brasileira e a sua
forma de denominar “arte negra” causou divergências, discriminação e perseguições de
seus pares em sua época, pois o consideravam racista. “Nina Rodrigues inaugurou o
campo de estudos sobre arte negra. Publicado inicialmente na Revista Kosmos do Rio
de Janeiro, em 1904, este artigo sintetiza as diligências de Nina Rodrigues sobre arte
negra” (CUNHA, 2006, p.25).

Em sua pesquisa, afirmou que, o que se considerava como arte afro-brasileira


era a produção ritualística e de origem iorubana e fon, os quais, para ele, eram mais
desenvolvidos do que os bantos.

A crítica ao trabalho de Nina perpassa também, pelo fato de ele ter usado o
termo arte com letra maiúscula para significar o ‘belo ocidental’, ou seja, a arte erudita
ocidental. Nesse mesmo contexto, falava que, se os negros tivessem acesso a outros
recursos, em outros espaços, poderiam mostrar muito mais qualidade em sua arte.
Ainda segundo Raimundo Cunha (2006), embora Nina exaltasse as qualidades físicas,
intelectuais, criativas do negro, não as equiparava às potencialidades do branco.

Suas obras procuram justamente evidenciar e reconhecer, em suas palavras, as


diferenças físicas, culturais e morais dos negros brasileiros como integrantes do
patrimônio cultural nacional, ainda que as considere inferiores em relação à
contribuição do branco europeu (ZAMPARONI, 2006, p. 6).

Um exemplo de análise artística feita por Nina Rodrigues, foi sua “referência às
pinturas ideográficas (Figura 11) e ao famoso trono do rei Bêhanzin (Figura 12), os dois
do Daomé” (CUNHA, 2006, p. 26). Nina fez alusão a essa obra relacionando-a a um cofre
sagrado encontrado em uma praia de Salvador: “[...] o cofre sagrado [...] vale o trono de
Bêhanzin” (RODRIGUES, 1988, p. 249). Entende-se que Nina buscava enaltecer a arte
negra brasileira, mas acabou enfatizando a qualidade da arte do Benin.

26
Figura 11 - Pinturas ideográficas estudadas por Nina Rodrigues: Iemanjá.

Fonte: CUNHA (2006).

Figura 12 - Famoso trono do rei Bêhanzin: O cofre sagrado estudado por Nina
Rodrigues.

Fonte: CUNHA (2006).

2.3 A arte Indígena: a utilidade da arte

A arte indígena não se explica na teoria, isso porque materialmente não


existem livros ou artigos que montem e conceituem uma “teoria da arte indígena”, ela

27
é uma arte que se explica pelas tradições, seus elementos são o cotidiano dos pontos
tradicionais. Esse é o principal ponto que diferencia a arte indígena de outros estilos de
arte. Ocorre que, muitos autores problematizaram a conceituação das manifestações
artísticas realizadas pelos indígenas, não considerando-a, a contento, como arte,
justamente por essa falta de teorização, exposição etc. (VELTHEN, 2010).

As manifestações artísticas dos indígenas, tinham ainda uma característica bem


peculiar, ela não foi feita para a contemplação, mas pela sua utilidade, foi o que
percebeu o professor Ulpiano Meneses:

Parece-nos que, nestes casos todos, a deficiência principal esteja em se


considerar uma categoria à parte de objetos – definidos precisamente como
objetos artísticos. Entre outros inconvenientes, cumpre apontar o
estabelecimento de funções unívocas para objetos ou categorias de objetos.
Ora, a transposição de significados e usos, detectada pelas relações de
contexto, ou a associação frequentemente comprovada, de objetos de “valor
estético” a usos não só cerimoniais e ideológicos, mas também econômicos e
tecnológicos, invalida tal postura. Assim, um machado de pedra é tanto um
utensílio para o trabalho agrícola, p. ex., quanto uma oferta funerária, o que
se explica apenas pelo contexto, sem o qual a significação efetiva do objeto é
irrecuperável (MENESES in ZANINI, 1983, p. 21).

Fugindo das raízes consideradas eurocêntricas, as artes dos povos nativos,


eram dotadas de simbolismo e aspectos próprios de beleza. E tomando uma difícil
missão, Darcy Ribeiro, que tinha grande admiração pela cultura e a arte produzida pelos
povos originários (NUNES, 2011), procurou explicar o que seria a arte indígena:

Que é arte índia? Com esta expressão designamos certas criações


conformadas pelos índios de acordo com padrões prescritos, geralmente para
servir a usos práticos, mas buscando alcançar a perfeição. Não todas elas,
naturalmente, mas aquelas entre todas que alcançam tão alto grau de rigor
formal e de beleza que se destacam das demais como objetos dotados de
valor estético. Neste caso, a expressão estética indica certo grau de satisfação
dessa indefinível vontade de beleza que comove e alenta aos homens como
uma necessidade e um gozo profundamente arraigados. Não se trata de
nenhuma necessidade imperativa como a fome ou a sede, bem o sabemos;
mas de mas de uma sorte de carência espiritual, sensível, onde faltam
oportunidades para atendê-la; e de presença observável, gozosa e querida,
onde floresce (RIBEIRO in ZANINI, 1983, p. 49).

A composição do repertório artístico dos povos nativos, se concentram em


mascarás, adornos confeccionados de palha ou penas, que são usados em cultos ou
rituais da sua cultura, e quando tirados de contexto, perdem sua significação original, se
tornando algo sem sentido de se guardar. Necessário citar mais uma vez o professor
Darcy Ribeiro que distingue três componentes fundamentais para essa arte:

28
a de diferenciar o mundo dos homens, regidos pela conduta cultural que se
constrói a si mesma, do mundo dos bichos, comandados por impulsos inatos,
inevitáveis e incontroláveis; a de diferenciar aquela comunidade étnica de
todas as outras, proporcionando um espelho em que ela se vê e se contrasta
com a imagem etnocêntrica que tem de outros povos; cumpre, ainda, a
função geral de dar aos homens coragem e alegria de viver, num mundo cheio
de perigos, mas que pode ser melhorado pela ação dos homens. (RIBEIRO,
1983, p. 52).

A descoberta do novo sempre fascina o ser humano, e com a descoberta desses


objetos confeccionados pelos povos indígenas, não foi diferente. O estudo que tem esse
tema como foco, ficou conhecido como etnografia, fazendo com que surgissem museus
etnográficos, onde são apresentados esses objetos para o público. Contudo, há uma
necessidade antropológica para se observar dentro dessas circunstâncias. Se por um
lado, temos um objeto que é desconhecido em uma primeira vista, do outro, temos a
necessidade de dar o devido cuidado e respeito sobre a significação desses objetos, pois
assim como os povos indígenas apresentam, o objeto sem seu simbolismo histórico e
cultural, perde seu sentido (NUNES, 2011).

A arte dos povos nativos, baseavam-se em artefatos e grafismos, todos os


objetos e técnicas envolvidos na composição dessa forma de manifestação artística,
estão relacionados diretamente com as narrativas míticas e de rituais praticados pelos
indígenas, visando sempre uma aproximação do real com o religioso, isto é, adaptando
elementos da natureza em suas práticas e nos seus objetos.

Figura 13 - Arte indígena.

Fonte: Arte & Sintonia (2020).

29
No mundo da arte, muito ainda se discute sobre o tema, já que não se trata de
um assunto encerrado por completo, uma vez que as funções e formas que a arte deve
assumir, não é a parte que ela detém como um todo, mas onde ela pode se aplicar no
mundo real.

2.4 As navegações da Arte em Portugal

Portugal, vivenciou todas as etapas da arte antes apresentadas pelos


influenciadores do ocidente como a Grécia. Teve o período da arquitetura gótica, isto é
do renascimento, quando chega a Portugal já de uma maneira tardia, justamente
através do comércio marítimo. Ainda, o estilo exuberante e radioso das construções
arquitetônicas foi financiado pelos lucros do comércio marítimo de especiarias. As
pinturas do renascimento português tiveram bastante influência do renascimento
nórdico, seu principal artista da época foi Nuno Gonçalves, responsável pelas obras dos
painéis de São Vicente de Flora.

Figura 14 – “Os painéis de São Vicente de Flora” de Nuno Gonçalves.

Fonte: Público (2023).

O Reino Português sempre privilegiou muito suas construções arquitetônicas,


sendo suas igrejas, os principais pontos turísticos nos dias atuais.

Nos anos 70 e 80, surge uma série de investigadores que produziram estudos
sobre a história da arte portuguesa com um olhar mais objetivo, levantando questões

30
essenciais, como o redescobrimento de patrimônio histórico, abandono de uma visão
“casticista” da arte portuguesa, entre outros. Nisso, fez-se necessário instituições que,
segundo Maria Alexandra Câmara (1998, p. 125), servem para proteger esse patrimônio,
os quais são:

Instituto Português de Museus (IPM), Instituto Português do Patrimônio


Arquitetônico (IPPAR), Direção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais
(DGEMN), Instituto Português de Arqueologia (IPA), Instituto Português de
Conservação e Restauro (IPCR), Comissão Nacional para a Comemoração dos
Descobrimentos Portugueses (CNCDP), Grémio das Empresas de Conservação
e Restauro do Patrimônio Arquitetônico (GEcORPA) e, com especial atenção
para a arte contemporânea: o Centro Cultural de Belém (CCB), o papel da
Fundação Calouste Gulbenkian através do Centro de Arte Moderna (CAM) e
do Museu Gulbenkian, o Museu Nacional de Arte Contemporânea – Casa
Serralves (Porto), o Museu do Chiado, e a coleção Bernardo – Museu de Arte
Moderna em Sintra.

Na modernidade, todas as fases, como o neoclassicismo, romantismo e


realismo, tiveram, cada um, seus estilos próprios em Portugal. A história da arte
portuguesa moderna, se concentra em uma crítica social e útil.

Portugal iniciou seus estudos mais enfáticos sobre sua arte na história no século
XIX. A história da arte surge em Portugal como uma disciplina que proporcionou uma
maior consciência nas práticas científicas do país, trazendo uma grande importância
social.

Figura 15 - Santuário de Sameiro na cidade de Braga, Portugal.

Fonte: Livro de viagens (2014).

31
2.5 História da Arte Nova e História da Arte Velha

Os estudos e discussões sobre a história da arte passaram por metamorfoses,


entre os anos 1970 e 1980, tanto no que diz respeito às questões estéticas e significados,
quanto nas questões metodológicas do ‘fazer artístico” e da metodologia crítica,
principalmente no mundo anglo-americano. Aparece neste contexto, uma dicotomia
traduzida como “Nova e Velha História da Arte”.

A chamada “Nova História da Arte” traz em seu bojo, discussões e pautas


relacionadas à história social, como classe, raça e gênero.

Em decorrência dessas mudanças, o antigo paradigma de “connoisseurismo”,


sofreu forte rejeição, alterando velhas práticas e substituindo-as com nova
ênfase em estruturas teóricas advindas das ciências sociais. Essa “nova”
história da arte - nem tão nova assim- nunca foi inteiramente assimilada no
Brasil (CARDOSO, 2009, p. 106).

A “Nova História da Arte” trata a “História da Arte Velha” como “muito séria”
e, portanto, com características de autossuficiência, e, ainda entende que esta, tem sua
fragilidade em se tratando da sua intelectualidade respeitável. Relacionou a “Velha
Arte” ao conceito de Connoisseurismo, palavra inglesa, hibridada ao idioma francês, que
em Português, se aproxima de expertise ou perito, que, segundo Cardoso (2009)
significa o acervo de conhecimentos aprofundados sobre as obras de arte, em que se
questiona por que meios elas foram feitas, quem as fez, onde foram feitas e as
referências de como foram reconstituídas, quais os padrões de falsificação e vendas.

Ressalta-se que A “Nova História da Arte”, se configura dentro de duas frentes,


uma de cunho descritivo e divergente às formas eruditas de fazer arte, a outra de cunho
analítico, que se baseava na explicação de que a “nova arte”, embora surgida da “velha
arte”, tem mais qualidade e é mais acessível.

Forjou-se assim um modelo narrativo genealógico – a história da arte


moderna como sucessão de “ismos”: neoclassicismo, romantismo, realismo,
impressionismo, simbolismo, expressionismo e assim por diante – o qual
exerceu enorme impacto didático (CARDOSO, 2009, p. 106).

Atualmente, é perceptível dentro do que a mídia propaga sobre o


entendimento de história da arte, que as pessoas precisam saber profundamente sobre

32
os “ismos”, ou seja, esses rótulos pré-estabelecidos e com os nomes dos autores de cada
“ismo” na ponta da língua, classificando-os de forma segregada.

2.6 Juízo ou Prejuízo Estético: entre o gosto pessoal e o universal.

Para Luigi Pareyson (2001), a interpretação e o juízo estético são oriundos da


sensibilidade humana, ou seja, o gosto pessoal - que é a apreciação e assimilação
sensorial individual sobre um objeto artístico - se funde com um processo reflexivo-
sistemático, isto é, análise de pessoas com expertise na área – juízo estético- implicando
numa semiologia do que é belo ou feio.

No entanto, existem ideias divergentes que consideram que no gosto pessoal


não se pode considerar ainda, juízo estético, mas apenas, um impacto sensitivo comum
a todas as pessoas. Faz-se necessário que se mergulhe dentro de um processo reflexivo,
em que se extraia informações complementares para que o juízo seja validado como
verdadeiro.

Nesse âmbito, o juízo seria tanto obra da sensibilidade, quanto da reflexão:


no âmbito da sensibilidade faz tudo: colhe, avalia, aprecia, goza; no âmbito
da reflexão, apenas descreve seu conteúdo e demonstra seus decretos; a
sensibilidade apenas provê o gozo; a reflexão o fundamenta e motiva
mediante o juízo (SILVA, 2013, p.85).

Nesse sentido, vale retomar um conceito de arte, em que esta não deve ser
firmada dentro de subjetividade, dentro dela mesma, mas deve enaltecer o ser humano
como o protagonista do objeto artístico e na sua peculiaridade em fazê-la. Assim, a
compreensão de arte se processa pela dialética daquilo que ela expressa e o discurso
embutido na mesma.

Dessa forma, é possível compreender que a interpretação de uma obra não


está relacionada somente com a finalização desta, mas com a essência do processo de
sua feitura. “A forma artística, além de ser expressão de um mundo acabado, é, na sua
essência, um começo, uma abertura permanente ao diálogo, é uma fonte inesgotável
de significados, capazes de iluminar, de renovar a realidade em sua volta” (SILVA, 2013,
p. 86).

33
Pareyson (2001, p. 238) buscou entender o gosto pessoal e o juízo universal
dentro de um processo de avaliação do objeto artístico, indagando se seria possível
“conciliar a multiplicidade, a mutabilidade e a historicidade do gosto com a unicidade, a
definitividade e a universalidade do juízo”, já que são duas questões opostas, ou seja,
elas poderiam existir, sem que ambas percam a sua importância e se são necessárias à
leitura e à crítica da arte.

O gosto pessoal não implica em avaliação, mas na concepção subjetiva imediata


do objeto artístico; já o juízo universal não tem muito compromisso com a subjetividade,
mas com aspectos objetivos e específicos da obra.

No entendimento de Pareyson (2001), o gosto pessoal tem a ver com a


multiplicidade, a mutabilidade e a historicidade interpretativa do indivíduo e, contribui
no processo avaliativo somente no aspecto subjetivo-interpretativo, não auxilia como
crivo de avaliação.

Nada mais legítimo do que declarar as próprias preferências, mas nada menos
legítimo do que apresentá-las como juízos. Se o gosto alcançar a profundeza
da obra ele contribuirá, para desenvolver a inexauribilidade da obra de arte:
sem comprometer a exatidão da crítica, atestará a riqueza da arte e da
interpretação que se dá a ela. Mas se, o gosto for assumido como critério de
avaliação, pode-se ter uma presunçosa pretensão de universalidade, que
serão apenas preferências pessoais absolutizadas e ilegitimamente
universalizadas (SILVA, 2013, p. 86).

Como já dito, o juízo universal não trabalha com aspectos meramente


subjetivos, isto é, ideias pessoais múltiplas impetradas ao objeto artístico, pois a arte
seria “coisificada”. A universalidade do juízo legitima a obra de arte, a partir de uma
averiguação de como ela é criada, a peculiaridade estilística do artista, a valoração do
objeto artístico e sua efetividade no tempo e no espaço.

RESUMO

Nesta unidade foi possível compreender que as questões contemporâneas


podem ser entendidas como tais, a partir do século XIX em diante, e pensadas a partir
do modo como ela foi instituída. Os dois séculos, XIX e XX, cuidaram em dissociar o
trabalho artístico das regras e características manuais, com a capacidade de criar. Isso
deu maior autonomia nos estudos que revisaram as teorias criadas nas décadas

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passadas e resultaram em relevantes mudanças, o que ela chamou de
“destradicionalização da arte”. A partir de 1980, os crivos e técnicas tradicionais
deixaram de ser necessários e passaram a ser acessórios, os questionamentos sobre o
tecnicismo artístico e os padrões de cores e imagens, estabeleceram, nesta década,
condições para se caracterizar o que se denomina como contemporaneidade. Nina
Rodrigues foi o primeiro autor a tratar sobre arte afro-brasileira e a sua forma de
denominar “arte negra” causou divergências, discriminação e perseguições de seus
pares em sua época, pois o consideravam racista. A arte indígena não se explica na
teoria, isso porque materialmente não existem livros ou artigos que montem e
conceituem uma “teoria da arte indígena”, ela é uma arte que se explica pelas tradições,
seus elementos são o cotidiano dos pontos tradicionais. O Reino Português sempre
privilegiou muito suas construções arquitetônicas, sendo suas igrejas os principais
pontos turísticos nos dias atuais. Nos anos 70 e 80, surge uma série de investigadores
que produziram estudos sobre a história da arte portuguesa com um olhar mais
objetivo, levantando questões essenciais, como o redescobrimento de patrimônio
histórico, abandono de uma visão “casticista” da arte portuguesa, entre outros. A “Nova
História da Arte” trata a “História da Arte Velha” como “muito séria” e, portanto, com
características de autossuficiência, e, ainda entende que esta, tem sua fragilidade em se
tratando da sua intelectualidade respeitável. O gosto pessoal não implica em avaliação,
mas na concepção subjetiva imediata do objeto artístico; já o juízo universal não tem
muito compromisso com a subjetividade, mas com aspectos objetivos e específicos da
obra.

Atividade complementar

Baseado nesta Unidade, se arrisque a escrever um poema sobre as características da


Arte Negra, Indígena e Portuguesa e mostre a seus colegas. Isso também é uma forma
de arte brasileira.

35
REFERÊNCIAS

CARDOSO, R. A história da arte e outras histórias. In: Cultura Visual, n. 12,


outubro/2009, n. Salvador: EDUFBA, p. 105-113.

CÂMARA. Maria Alexandra Trindade Gago da. A História da Arte em Portugal: um


balanço. Universidade Aberta. Arte Portuguesa no século XX (dir. científica Raquel
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VII, n. 14 (jul-dez/2013), pp. 97-110. DOI: 10.22409/1981 4062/v14i/168.

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História da Arte Negra no Brasil. Gazeta Médica da Bahia 2006; 76 (Suplemento 2): 23-
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http://gmbahia.ufba.br/index.php/gmbahia/article/viewFile/299/289. Acesso em: 7
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