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Comunicação e cibermídia,
D. C. Araujo (ed.), 306-327.
Porto Alegre: Sulina, 2006.
Metaimagens e imagens auto-referenciais1
Winfried Nöth
Resumo
Este ensaio examina os critérios de distinção entre linguagem, metalinguagem e linguagem auto-
referencial, apontando paralelismos e diferenças entre signos, metassignos, e auto-referência em
linguagem e imagem. Em contraste com imagens que representam objetos em um mundo não
pictórico, metaimagens são imagens que representam imagens, enquanto imagens auto-referenciais
se referem a elas mesmas. Essas categorias de representação pictórica se sobrepõem. Existem
metaimagens auto-referenciais que falam delas mesmas enquanto imagens ou sob as condições nas
quais elas foram produzidas; existem metaimagens que representam, citam, ou comentam sobre
outras imagens sem serem auto-referenciais; e existem imagens auto-referenciais que meramente se
referem a elas mesmas sem serem metaimagens. Tanto na linguagem quanto nas imagens, auto-
referência é a fonte do paradoxo, sendo a metalepse um dos modos paradoxais da auto-referência
visual e verbal.
Palavras-chaves
auto-referência, signo, imagem, metaimagem, espelho, metalepse, enquadramento, paradoxo, ícone,
índice.
Imagens são signos que representam o mundo visual ou visualmente imaginável. Desde os
desenhos rupestres, a função comunicativa da imagem se baseia na sua similaridade com aquilo que
representa. Um desenho de um elefante, uma pintura de uma paisagem, e uma fotografia de Sir
Winston Churchill são signos pictóricos que guardam similaridades com os objetos que eles
representam. Imagens que são similares ao objeto que eles representam são signos icônicos.
Linguagem, por contraste, consiste na maioria de signos simbólicos, uma vez que palavras
usualmente não contêm similaridade aos seus objetos, mas podem ser associados com o que eles se
referem a partir do conhecimento, hábito e convenção (cf. Santaella & Nöth 1998).
Apesar dessa diferença essencial entre palavras e imagens, existem também similaridades
fundamentais no sue potencial semiótico. Tanto as palavras quanto as imagens podem evocar a
imagem de, ou se referirem a, objetos ausentes. Na sua lista de características da linguagem,
Charles Hockett (1977) introduz o termo deslocamento para descrever o potencial semiótico da
linguagem para se referir a objetos remotos no tempo e no espaço (cf. Nöth 1990: 236). Derrida
(1972: 9) discute essa característica como um aspecto do signo em geral quando ele afirma: “Um
signo representa o que está presente em sua ausência”. Entretanto, a generalização de que todos os
signos referem-se a algo ausente não pode se sustentar desde que os signos podem também se
referir a algo que está presente. Imagens no espelho e sombras, apesar dos argumentos contrários de
Eco (1986), são signos indiciais, imagens que indicam a presença do seu objeto, e, como veremos
adiante, signos auto-referenciais são também signos que se referem aos seus objetos na sua
presença.
Apesar do seu potencial para indicar objetos na sua ausência ou na sua presença, seria errado
dizer que referência a, ou representação de, objetos é necessariamente a função primária de
imagens. Por exemplo, a arte rupestre pré-histórica muito provavelmente serviu a propósitos
1Textotraduzido por Adriana Amaral. Doutora em Comunicação Social pela PUCRS, Professora e Pesquisadora do
Programa de Mestrado em Comunicação e Linguagens da UTP (Universidade Tuiuiti do Paraná).
mágicos e rituais e não a representacionais (Anati 1994), e pinturas da história da arte mais recente
não são arte por causa do que elas mostram (função referencial) mas devido a como elas
apresentam (função estética). Não obstante, a partir da perspectiva da cultura da mídia atual,
deslocamento é certamente uma das características mais importantes das imagens, uma vez que é
evidentemente um pré-requisito da comunicação global.
O presente artigo é sobre uma outra maneira na qual a imagem pode ser não-
representacional; ele trata de metaimagens e imagens auto-referenciais. Metaimagens são imagens
sobre imagens (Mitchell 1994: 35-82; Alessandria 1996). Em vez de se referirem ao mundo dos
objetos não-imagéticos, eles se referem a outras imagens. Imagens auto-referenciais referem-se a
elas mesmas, ou seja, elas possuem os seus objetos de referência dentro e não fora do seu quadro
imagético próprio. Auto-referência é o oposto de toda a referência ou simplesmente referência, no
sentido no qual Derrida (1972: 9) tinha em mente quando escreveu a respeito da ausência do objeto e
de como os signos são tradicionalmente definidos como referentes, ou substitutos, ou algo mais, que
não é signo.
Imagens e metaimagens
O termo metaimagem foi cunhado depois do termo metalinguagem, que significa, linguagem
sobre a linguagem. Termos como vogal, consoante, palavra, sentença, conjugação ou declinação
são palavras metalingüísticas, signos verbais que se referem a nada além da linguagem.
Metalinguagem é o oposto de linguagem-objeto. Palavras que pertencem á linguagem-objeto são
palavras que possuem seus referentes no mundo não verbal, por exemplo, pato, amor, ou liberdade.
Por analogia, o termo metaimagem deveria designar uma imagem a respeito de uma imagem ou
uma imagem de uma imagem. O termo imagem-objeto pode ser útil para designar imagens comuns
que não são metaimagens, como a imagem de um pato voador ou um leopardo. Em vez de imagem
objeto nós podemos simplesmente usar o termo imagem toda vez que houver risco de confusão.
Alguns exemplos de metaimagens:
O critério de acordo com o qual essas imagens são metaimagens são os seguintes: (1) a (3)
são imagens representando outra imagem; a imagem (2) se refere tanto ao que quanto ao como a
outra imagem representa; (3) é uma imagem a respeito de pintar imagens; (4) não é uma imagem de
uma imagem mas uma imagem sobre tirar uma foto; a diferença entre as metaimagens do tipo (1)
ou (2) e (3) ou (4) podem ser descritas com Mitchell (1994: 37) como a diferença entre mostrar
mostrando e mostrar o mostrador; (5) é o caso das imagens com duas leituras em conflito (coelho
ou pato?; mulher velha ou dama elegante? etc; cf. Mitchell 1994: 47-57). Tais imagens não
representam outras imagens; elas incluem uma segunda imagem como uma leitura alternativa e
assim criam um diálogo visual entre as duas leituras; o exemplo (6) requer dois comentários
adicionais. (a) “Espelho teichoscópico” é provavelmente um neologismo; teichoscopia é o antigo
dispositivo dramático para estender as limitações do cenário dramático visível à audiência através
da introdução de um mensageiro que narra o que ele, a partir de sua perspectiva privilegiada (por
exemplo, enquanto está em pé em um muro), está discernindo na distância concedida à audiência.
Analogamente, um espelho teichoscópico é um espelho que estende o cenário imagético através da
adição de uma vista a partir de uma perspectiva que, de outra forma seria inacessível. (b) uma
imagem espelhada não é usualmente considerada uma imagem mas também não é uma cena do
“mundo-real”; em vez disso, é uma reflexão de tal cena, e como tal é um signo indicial desse campo
de visão que não é o seu próprio. Conseqüentemente, um espelho teichoscópico é certamente um
signo, e a imagem de tal espelho (na verdade de qualquer espelho) é certamente um metassigno.
Vamos incluir a imagem teichoscópica descrita na categoria de metaimagens mesmo que, conforme
mencionado acima, uma imagem de espelho não seja realmente uma imagem.
A maioria dos metassignos no contexto das imagens são mensagens verbais, mas esses não
são os tópicos desse artigo (ver Mitchell 1994 sobre “metaimagens que falam”; Santaella & Nöth
1999; Nöth 2003b). Exemplos típicos de como as palavras funcionam como signos sobre as
imagens são o título da imagem, a assinatura do pintor, a legenda de uma foto impressa, ou a cópia
física de um anúncio.
Metaimagem auto-referencial
(7) uma imagem mise en abyme, ou seja, uma imagem que represente uma cena que
contenha uma imagem dessa cena (cf. Owens 1978; Conant 2005)
(8) uma imagem de um pintor “citando” um trabalho seu mais antigo
(9) uma imagem de um espelho teichoscópico refletindo a sua própria imagem a partir de
outro espelho
(10) uma imagem de um fotógrafo tirando a sua própria foto em frente a um espelho
(11) uma imagem mostrando uma dama olhando para um espelho que reflete a sua própria
imagem
(12) um desenho de uma mão (Escher) ou de um homem (Steinberg) que desenha ele ou
ela mesmo
Em contraste a essas imagens (1) a (6), imagens (7) a (12) não representam outras imagens,
mas elas mesmas; (7) contém ela mesma em uma imagem menor; (8) representa ela própria em uma
imagem de seu próprio pintor; (9) é uma imagem auto-refletida do espelho; (10) é uma auto-
referência “mostrando o mostrador” de sua própria imagem em contraste à (4) que era a mostra do
mostrador de uma imagem diferente; (11) é auto-referencial sob a condição de que o retrato da
pessoa apareça duas vezes em uma visão similar (e não, por exemplo, uma vez de forma frontal e
outra vez em uma perspectiva dorsal); (12) é auto-referencial de uma maneira metaléptica (ver
abaixo): a imagem inclui a sua própria representação que parece ser o produto da sua própria
representação;
Metaimagens nos dão então uma evidência de uma característica semiótica que as imagens
tem em comum com a linguagem, a característica de reflexividade, como Hockett (1977) a chama,
isto é, o potencial da linguagem para criar a sua própria metalinguagem. Enquanto a linguagem
possui uma classe particular de signos que servem exclusivamente como metassignos verbais, as
imagens, com uma exceção, não possuem repertório de signos de metassignos pictóricos. A exceção
é o quadro emoldurado, um tópico para o qual nos dirigiremos adiante.
(13) cocorocó
(14) quick
(15) português
(16) longíssimo
(17) preto
(18) negrito
Todas essas palavras apresentam similaridade com o que elas se referem. Cocorocó é uma
palavra onomatopaica; a sua forma acústica é similar ao evento acústico á qual ela se refere. (14) a
(18) são palavras que contêm uma das qualidades às quais elas se referem, ou em sua pronúncia ou
na sua forma escrita. A palavra inglesa quick (rápido) tem ela mesma uma pronúncia rápida,
consistindo em uma sílaba com uma vogal curto; slow, o contrário, tem uma pronúncia longa. A
palavra português é um signo auto-referencial e metalingüístico; não é apenas uma palavra da
língua portuguesa que se refere a ela mesma (português é evidentemente uma palavra portuguesa),
mas também soa português na sua pronúncia e tem uma ortografia portuguesa. Longíssimo é
relacionalmente (ou seja, diagramaticamente) icônico: a forma do superlativo tem o dobro de
sílabas que a sua forma base longo. Preto em qualquer tipografia que não seja colorida e negrito,
digitado em negrito, são palavras iconicamente auto-referenciais nas suas formas escritas. Exemplos
de expressões indicialmente auto-referenciais são:
(19) a (21) pertencem às chamadas expressões autodêicticas (cf. Harweg 1990). Tais expressões se
referem às circunstâncias do ato de fala. Os pronomes em primeira pessoa, eu, mim, nós, são índices
que se referem ao falante, expressões tal como aqui, nessa cidade se referem ao local, e agora, hoje,
esse mês ao tempo da fala no momento da sua elocução. Outros modos de auto-referência indicial
ocorrem em atos de fala ilocucionários, tais como prometo, aceito, aposto, te peço. A própria
elocução de uma promessa constitui a obrigação à qual a promessa se refere. Finalmente, o eu que
fala numa forma contínua, como em estou chegando, não apenas se refere a algo que está sendo
feito mas também à simultaneidade do discurso sobre o que está sendo feito. A mãe que diz Estou
chegando não está apenas chegando, ela também diz (auto-referencialmente) que ela está chegando.
(O filho que diz Estou ouvindo fala auto-referencialmente? Ele pode ouvir enquanto ele está
falando?)
O critério para distinguir entre auto-referência em linguagem pode servir para elucidar a
natureza da auto-referência em imagens, em particular aquelas que não são metaimagens. Considere
os exemplos de imagens de objetos iconicamente auto-referenciais:
(28) um auto-retrato
(29) o auto-retrato de Van Gogh
(30) um original de Rubens
(31) uma cena Rococo pintada por Watteau
(32) minha foto do passaporte
Uma característica indicial de auto-referência pictorial que será discutida na próxima sessão
é o enquadramento. É um metassigno ou um metassigno auto-referencial? A resposta depende da
maneira que o enquadramento é considerado como algo que é parte da imagem ou que é
considerado como algo externo à imagem. No primeiro caso, o enquadramento é um metassigno
auto-referencial, no segundo caso é um metassigno, mas não um auto-referencial. O título da
próxima sessão pressupõe a primeira das duas formas de ver um enquadramento.
Existem duas maneiras fundamentais nas quais uma imagem pode ser dita como enquadrada.
A primeira é relacionada ao espaço que uma imagem ocupa em um campo visual. Vamos chamá-la
de enquadramento espacial. A sua mensagem é basicamente: “O espaço que eu delimito é uma
imagem.” A segunda é um enquadramento em um sentido metafórico. Ela se refere às
circunstâncias que fazem a informação pictorial uma mensagem emitida por um remetente e
endereçada a um destinatário. Em analogia à terminologia introduzida por Christian Metz (1991) no
contexto dos estudos fílmicos, esse tipo de enquadramento será chamado enquadramento
enunciativo.
Por um lado, o enquadramento material da imagem é parte da imagem uma vez que ela
marca a imagem como um objeto de um certo valor que merece ser preservado, exibido, vendido ou
possuído. Por outro lado, o enquadramento material não é parte da imagem. Por exemplo, ele pode
ser trocado por uma nova moldura e a imagem permanecerá essencialmente a mesma. Essa
ambigüidade do material de enquadramento, que parece ser e não ser uma parte da imagem ao
mesmo tempo, cessa quando uma imagem emoldurada é descrita e então transformada em uma
metaimagem. Como parte da metaimagem, o enquadramento pintado é claramente uma imagem
objeto de um enquadramento material.
Separada de seu enquadramento espacial, uma mensagem pictórica não contém nenhum
outro repertório sígnico “segmental” para identificar características auto-referenciais ou
metapictoriais da imagem. Ao contrário da linguagem, que possui um rico vocabulário de termos
metalingüísticos e de palavras dêicticas para identificar o emissor e o receptor no tempo e no
espaço, imagens estão sem um repertório de metassignos, e indicadores de referência de auto ou
metapictoriais devem ser inferidos pelo observador a partir de uma evidência indireta. Tais
inferências podem ser ambíguas ou desnorteadoras, e o jogo com tais ambigüidades tem sido muito
utilizado para criar imagens paradoxais, por exemplo, imagens representando janelas que parecem
ser pintadas em paredes ou o oposto, imagens que parecem janelas com a paisagem vista através
delas. Retornaremos a essas ambigüidades entre imagens e metaimagens ou entre imagens e
imagens auto-referenciais abaixo, após uma breve exemplificação das categorias analíticas
discutidas até então.
Figura 1. Uma metaimagem sobre a imagem de um leopardo (Veja 38.33 [Ago. 17], 2005, p. 140).
A mensagem pictórica dessa publicidade mostra uma pilha de três imagens sobrepostas,
cada uma delas representando um leopardo. A imagem no topo é uma foto instantânea incompleta
de um leopardo, tirada em um disparo cujo foco cortou a cabeça e o rabo do leopardo nas suas
margens esquerda e direita. Abaixo, as outras duas imagens complementam as partes que faltam
com a sua sobreposição, de forma que a cabeça e o rabo que faltam da primeira foto são
complementares, resultando em uma imagem completa do leopardo. A segunda imagem do
leopardo no conjunto é um desenho de carvão de um leopardo do mesmo tamanho, do qual nós
vemos apenas o rabo enquanto o tronco dele está aparentemente escondido abaixo da primeira foto
que a cobre parcialmente. A imagem abaixo das duas primeiras imagens é uma pintura a óleo de um
leopardo com a assinatura do pintor no canto direito; ela serve para complementar a cabeça que
falta na foto instantânea, enquanto o resto é coberto pelas outras duas imagens sobrepostas.
A mensagem visual dessa publicidade pode ser lida de duas maneiras. Ela pode ser vista
como uma imagem de três imagens, ou ela pode ser interpretada como uma imagem construída de
três representações parciais de um leopardo. Lida como uma imagem de três imagens, a mensagem
é interpretada como uma metaimagem na qual cada imagem sozinha contém uma mensagem sobre
as outras duas imagens. Por exemplo: (1) as três imagens do leopardo complementam uma a outra
da esquerda para a direita (2) a primeira imagem do leopardo está no topo, enquanto a segunda e a
terceira estão abaixo de duas outras imagens; (3) a terceira projeta-se para a direita, a segunda para
a esquerda, etc.
Lida como uma imagem de um leopardo, a mensagem pictorial é vista como uma
metaimagem auto-referencial em dois grandes aspectos. Primeiro, é uma imagem sobre tirar fotos.
Ela mostra o que acontece quando o fotógrafo falha ao selecionar o próprio foco; ela mostra
algumas das diferenças específicas entre três gêneros pictóricos de fotografia colorida, desenho em
carvão preto e branco, e pintura a óleo; ela mostra três tipos de enquadramento, emoldurado por
uma margem branca, por um enquadramento imaterial e por uma moldura de madeira; ela cria a
imagem mental de três imagens completas do mesmo tamanho pictorial, que são signos icônicos
uma da outra, etc. Em segundo lugar, a foto no topo do conjunto é auto-referencial de uma forma
muito diferente. Ela é uma foto instantânea, o que significa, que é rapidamente produzida. Além
disso, foi tirada aparentemente muito rapidamente, pois o resultado foi, infelizmente, de uma
imagem incompleta. A rapidez de tirar a foto inscrita na fotografia com esses defeitos é uma
imagem da rapidez do leopardo em movimento rápido. A imagem que representa rapidez de uma
forma metafórica contém ela mesma a característica da rapidez, e nesse sentido, é uma imagem
auto-referencial.
Das três imagens, a foto instantânea e a pintura a óleo são claramente marcadas por um
enquadramento material que é a margem branca no caso da foto e a moldura de madeira no caso da
pintura. O desenho a carvão, por contraste, tem apenas o enquadramento imaterial, que é a borda do
papel branco. Além disso, o primeiro e o segundo enquadramentos da pilha são marcados por uma
sombra indicando a direção da sua iluminação, que vem do topo esquerdo. Os enquadramentos
enunciativos indicam o primeiro emissor pictorial como um fotógrafo, o segundo como uma pessoa
que faz rascunhos e o terceiro como um pintor. Considerada como uma imagem, o emissor é o
designer da publicidade que integrou as três mensagens em uma; é a agência de publicidade se
endereçando àqueles por quem eles foram contratados, entre outros; é o provedor de internet se
remetendo aos clientes potenciais, etc.
Fotorrealismo. Pode uma imagem ser uma total auto-representação, na qual a imagem
representada seja coextensiva com a representação? Parece impossível para uma imagem ser auto-
referencial em sua totalidade. Cada imagem seria auto-referencial de si mesma, e como poderíamos
distinguir entre a representação e a imagem representada se ambas são coextensivas? Não obstante,
aproximações ao caso fronteiriço da auto-representação total pictorial parecem existir. Considere
uma pintura fotorrealista. Tal pintura cria a ilusão de ser uma fotografia, mas ela finge, ao mesmo
tempo, não ser nada além de uma pintura. Sendo uma imagem completa de uma imagem, a pintura
foto-realista é uma metaimagem como qualquer cópia é, mas também é auto-referencial. É uma
imagem que se refere, ao mesmo tempo, a dois tipos de imagens que não existem realmente como
dois objetos separados. Muitas pinturas fotorrealistas não são sequer cópias de fotos existentes, e
mesmo que elas sejam, a referência delas à foto da qual elas são as cópias são completamente
marginais. Uma vez que a referência à foto é apenas mental, a imagem descritiva e descrita podem
ser chamadas de co-extensivas.
Imitações. Cópias e cópias fraudulentas (imitações) são metaimagens quando é sabido que
elas não são as originais. Ambas são imagens que representam outras imagens tão fielmente quanto
possível, mas enquanto elas não escondam o que elas são, suas designações metapictoriais como
cópia e imitações enfatizam a diferença entre a representação e a imagem representada. Uma cópia,
por assim dizer, carrega a mensagem “Eu não sou o original”. Ela ainda se refere, ao mesmo tempo,
enfatiza a sua diferença em relação ao original. Com esse distanciamento, a cópia declara ser ela
mesma uma metaimagem totalmente referencial. O mesmo acontece com a imitação que é
conhecida por ser uma imitação (falsa). Uma imitação que é tida como original, por contraste, é
vista como um original, não é uma metaimagem.
É por isto que imagens parecem precisar muito mais de uma mensagem auto-referencial
fundamental do tipo “Eu sou uma imagem”. A questão já havia sido levantada na mitologia grega.
Plínio conta a lenda de dois pintores, Zeuxis e Parrhasios, que competiram por um prêmio para
melhor pintura (Nat. hist. xxxv: 65). Zeuxis expôs uma imagem de uvas tão bem pintadas que os
pássaros se aproximaram delas para pegá-las. Orgulhoso por ter iludido os pássaros a tomar sua
imagem por real, Zeuxis virou-se para o seu competidor e pediu a ele que removesse a cortina que
encerrava a pintura do competidor. Parrhasios estava triunfante. A cortina havia sido pintada, e a
sua obra de arte não tinha apenas iludido os pássaros, mas até mesmo o seu companheiro pintor, que
acreditou que a cortina pintada fosse uma cortina real. A lenda é sobre a ilusão da arte através das
imagens (cf. Moeller 2003). Ambos os pintores obtiveram sucesso em esconder a mensagem auto-
referencial básica através da qual as suas pinturas carregam a mensagem “Eu sou uma imagem”.
Conclusões e prospecções
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Winfried Nöth é professor de Lingüística e Semiótica e diretor do Centro Interdisciplinar de
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Católica de São Paulo (PUC/SP), membro honorário da Associação Internacional de Semiótica
Visual e presidente da Associação Alemã de Semiótica (2000-2004). Livros: Handbook of
Semiotics (1990; 2a ed. rev. alemã 2000; trad. croata, 2004; trad. port., no prelo, 2006 [EDUSP]),
Panorama da semiótica de Platão a Peirce (1995), A semiótica no século XX (1996), Semiotics of
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Landkarten [Mapas…] als synoptisches Medium (1998, com D. Schmauks), Medientheorie und die
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