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GUARULHOS – SP
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 3
2 ARTE: INTERFACES E PERSPECTIVAS .............................................................. 4
2.1 Construção do conceito de arte ............................................................................ 4
3 ARTE E HISTÓRIA ................................................................................................. 9
3.1 A história da arte e a trajetória das expressões artísticas ..................................... 9
3.2 Compreendendo as artes cênicas musicais e da dança na contemporaneidade 21
3.3 Compreendendo as artes plásticas, visuais e literárias na contemporaneidade . 25
4 ARTE E SOCIOLOGIA .......................................................................................... 28
4.1 Arte e sociedade, um binômio indissociável ....................................................... 30
5 ARTE E COMUNICAÇÃO ..................................................................................... 37
5.1 Por que as comunicações e as artes estão convergindo? .................................. 37
5.2 A relação entre a Comunicação e a Arte ao longo das eras ............................... 39
6 O SISTEMA DA ARTE E A INDÚSTRIA CULTURAL ........................................... 44
6.1 Ideologia e Mercadoria........................................................................................ 47
6.2 Mimese e pseudo-individuação ........................................................................... 49
6.3 Semiformação e experiência, ou a razão ‘comum e cativa’ ................................ 53
7 MOVIMENTOS DA ARTE MODERNA E DAS VANGUARDAS ............................ 60
7.1 Vanguardas europeias ........................................................................................ 60
7.2 Modernidade e vanguarda artística na América Latina ....................................... 70
7.3 A Semana de Arte Moderna no Brasil ................................................................. 76
8 O IMPACTO DA COMUNICAÇÃO DE MASSA E DA RESPONSABILIDADE
TÉCNICA (FOTOGRAFIA E CINEMA) NA ARTE ..................................................... 79
8.1 A fotografia e a arte ............................................................................................ 79
8.2 Cinema e arte ..................................................................................................... 83
9 MOVIMENTOS ARTÍSTICOS CONTEMPORÂNEOS: DO PÓS-GUERRA AO
INÍCIO DO SÉCULO XXI........................................................................................... 86
9.1 O desenvolvimento da arte pós-moderna ........................................................... 86
9.2 Sobre a Pop Art e o seu desenvolvimento .......................................................... 91
9.3 Os artistas da Pop Art ......................................................................................... 95
9.4 A Pop Art no Brasil ............................................................................................ 100
9.5 A Minimal Art e as suas características ............................................................ 103
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1 INTRODUÇÃO
Prezado aluno!
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável -
um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma
pergunta , para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum
é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em
tempo hábil.
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que
lhe convier para isso.
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser
seguida e prazos definidos para as atividades.
Bons estudos!
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2 ARTE: INTERFACES E PERSPECTIVAS
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Em contrapartida, nossa tranquilidade se desfaz quando nos deparamos com
objetos artísticos que não se conformam exclusivamente à apreciação admirativa.
Percebemos que, à noção sólida e privilegiada, o conceito de arte agrega também
limites imprecisos.
Exemplificamos a pluralidade do conceito de arte com dois ícones da arte
ocidental, ilustrados pela Figura 1. Não há dúvidas que a escultura Davi, de
Michelangelo, é uma obra de arte. Entretanto, quando nos deparamos com um
mictório de louça — absolutamente idêntico a todos os mictórios masculinos do mundo
inteiro — conservado no acervo de um consagrado museu, assinado por R. Mutt e
datado de 1971, nos sentimos automaticamente incomodados em atribuir a esse
objeto o mesmo status conferido a Davi, uma vez que esse mictório não corresponde
exatamente à ideia que temos de “arte”. Trata-se da Fonte (1917), obra de Marcel
Duchamp, um importante artista do século XX, e sim, é arte. Investigando a construção
do conceito ocidental de arte, conseguiremos compreender o fenômeno representado
pela Fonte e o status de arte a ela concedido.
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Os aspectos em comum de produções tão distintas — como uma pintura
renascentista, uma catedral gótica ou um poema de Homero, por exemplo — adquirem
um conceito geral de arte no mundo Ocidental a partir do século XVIII. É incontestável
que, antes disso, a palavra “arte” já era utilizada para designar habilidades especiais
de algumas realizações: pintura, escultura, música, teatro, etc (EAGLETON, 2005).
Esse conceito geral de arte está associado à noção do “belo” no Ocidente, decorrente
dos conhecimentos da estética, um ramo da filosofia. Para Deleuse e Guattari (2010,
p. 10): “A filosofia é a arte de formar, de inventar, de construir conceitos”.
Os conceitos têm a necessidade de ter personagens conceituais que
contribuam para a sua definição — os personagens ou os “objetos” da filosofia são,
em grande parte, a arte, o artista e a criação artística, seja esta de qualquer categoria:
música, teatro, artes plásticas, literatura. Sob esse aspecto, a filosofia da arte pode
ser entendida como um ramo da estética, uma vez que a atividade artística promove
a emergência do belo. A estética tem como objeto todas as poéticas, sejam elas de
uma arte compromissada ou não, realista ou idealista, naturalista ou lírica, figurativa
ou abstrata, douta ou popular. (SOUZA, 2019).
A função da arte modificou-se ao longo da história humana desde a sua origem.
O homem adequou à arte as mudanças ocorridas na sociedade, nos seus costumes,
na sua religiosidade, na sua forma de fazer política, de conceber a ética. Na busca
humana de fazer de seu espaço algo significativo, a arte sempre teve, desde o início
da humanidade, um papel essencial na compreensão do universo, na relação dialética
com a realidade, com os fenômenos e com a sua imaginação lúdica. O homem sempre
teve necessidade da arte, visto que ela está extremamente ligada à sua humanidade.
A arte está completamente impregnada do universo humano (FISCHER, 2002).
Há de se destacar também que durante muito tempo a validade da arte estava
centrada na sua função na sociedade, ou seja, a obra de arte só tinha validade
mediante a função que ela desempenhava dentro da sociedade. A arte emerge da
vida e, por isso, vem carregada de funcionalidade, porém esta não afeta em nada sua
suficiência, ou seja, sua autonomia. Fischer (2002) defende que a arte quer ser
contemplada por leis que lhe são próprias, sem abdicar da totalidade dos seus valores
espirituais, sociais e éticos, de forma que toda a plenitude de significado e de funções
que a obra irradia advém, na verdade, da sua própria realidade de arte. Assim, a obra
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não adquire validade pela função, e sim possui uma função justamente por ser
suficiente.
Quando enfocamos, por exemplo, a arte clássica, observamos que ela era uma
produção de arte que não era entendida em primeiro plano como arte, “[...] mas como
formas que se encontravam no meio religioso ou também no mundano, como
decoração do próprio mundo em seus atos de destaque: o culto, a representação dos
soberanos e outros” (GADAMER, 1985, p. 27).
O responsável pela independência do fato estético, frente à finalidade utilitária
da arte, foi o filósofo alemão Immanuel Kant (séc. XVIII), que o fez a partir de sua
expressão - agradar desinteressado - ou seja, a arte deveria ter validade e,
entretanto, não ser incluída em objetivos puramente finalistas. Assim, a arte tem
validade e funcionalidade dentro da sociedade porque ela é um produto humano,
gerado da vida, que emerge da vida, trazendo em si todos os âmbitos da vida humana,
podendo, portanto, ser significativa a cada um deles. Gadamer (1985, p. 28) assim
define o termo - agradar desinteressado - de Kant: “Sem qualquer fim objetivo, sem
qualquer expectativa de utilitarismo, o belo preenche-se numa espécie de auto
definição e respira na auto representação”.
Circundando a definição do conceito de arte, nos deparamos com a
necessidade de fornecer uma resposta objetiva e clara para a pergunta: “O que é
arte?”. Embora não haja uma definição exata, objetiva e cientificamente comprovada,
o termo “arte” remete a dois conceitos básicos, segundo Ferreira (2014, documento
on-line):
[...] um mais restrito, pois trata da arte como ‘obra de arte’, circunscrita na
história da arte, feita por artistas e na maioria das vezes localizada em
instituições artísticas; o outro é mais amplo, pois concebe a arte como o
conjunto de atos criadores ou inovadores presentes em qualquer cultura
humana.
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concepção cotidiana que se refere a contextos eruditos ou populares que não
pertencem ao “mudo da arte” (FERREIRA, 2014).
Há algumas possibilidades específicas do objeto artístico que permitem
classificar o conceito de arte. As chamadas definições estéticas destacam como
condição necessária a intenção de provocar experiências estéticas; as definições
institucionalistas se referem ao caráter condicional da legitimação da obra pelas
instâncias da teoria e da crítica da arte, cumprindo certas regras e procedimentos; e
as definições históricas identificam a relação das produções artísticas com uma
determinada tradição histórica (ALMEIDA, 2014).
Arthur Danto (1924–2013), filósofo e crítico de arte norte-americano, é um
importante interlocutor sobre o conceito restrito de arte, e sua teoria se funda na
construção de uma definição de arte histórica e socialmente relacionada com o mundo
da arte. Danto (2010) não afirma que algo pode ser considerado arte apenas pela
afirmação do artista e pela legitimação por parte dos críticos e curadores. O autor
pressupõe que objetos ou eventos podem ser reconhecidas como obras de arte por
conter determinadas características que as coisas banais não possuem. Em seus
estudos, investiga quais são essas características e como é possível fundamentar
uma teoria que abranja todas as obras de arte, de modo a diferenciá-las dos objetos
comuns.
Corroborando com a teoria de Danto (2006), Mammi (2012) reconhece que o
conceito moderno de arte surge no Renascimento, porém seu significado (da arte) tem
a ver com algo atemporal e inesgotável. O autor concorda com a perspectiva dantiana
(relativa ao pensamento de Danto) de que tudo pode, em um primeiro momento, ser
arte. Não porque é legitimado pelo mundo da arte, mas sim quando passa a
desempenhar um papel fundamental na totalidade da cultura: a possibilidade de gerar
novas experiências significativas. Temos, então, a visão atemporal e eminentemente
significativa, ou produtora de significados da arte, na qual o que conta é a atualização
do que ela é a cada momento, mesmo provindo de um passado distante. É a sua
capacidade de inaugurar novos campos de experiência. Seu significado pertence ao
agora. Conforme defende Mammi (2012, p. 9):
Talvez seja próprio da obra de arte não pertencer a nenhum tempo específico
– ou talvez a todos, mas sempre como se proviesse de outro tempo, passado
ou futuro. Quem sabe um dia outra civilização, ou uma outra fase desta,
desvelará a valência artística de uma luta de Ali, ou de um número de dança
de Astaire. Uma obra de arte é um objeto que sobrevive à vida e à intenção
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que a gerou, e a todos os discursos produzidos sobre ela. Nesse sentido, “o
que resta” é, simplesmente, sinônimo de “arte”.
3 ARTE E HISTÓRIA
A história da arte está relacionada à cultura dos mais variados povos existentes.
Ela atravessa os tempos, criando e contando o passado e recriando o presente. A arte
está presente à nossa volta, e, com ela, construímos a história de uma sociedade.
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Cada objeto artístico apresenta uma finalidade. Desde a pré-história, o homem
sempre criou elementos que o ajudassem a superar suas necessidades e a vencer
desafios.
Existem objetos do homem que representam seus sentimentos, algo que a
utilidade pública muitas vezes não consegue questionar, somente considerando a sua
beleza. Esses objetos são conhecidos como obras de arte. Elas fazem parte da cultura
do povo e são capazes de ilustrar situações sociais ou não.
A arte pode ser definida como fruto da criação do homem e de seus valores
junto à sociedade. Dentro dela existem vários procedimentos e técnicas utilizadas
para compor uma obra. Ela é uma necessidade que faz o homem se comunicar e
refletir sobre as questões sociais e culturais dentro da sociedade.
O campo artístico nos revela os valores, costumes, crenças e modos de agir de
um povo. Ao detectar um conjunto de evidências perceptíveis na obra, o intérprete da
arte se esforça na tarefa de relacionar esses vestígios com algum traço do período
em que foi concebida. A partir dessa ação, a arte passa a ser interpretada com um
olhar histórico, que se empenha em decifrar aquilo que o artista disse com a obra.
Conhecendo a história da arte, você irá perceber que uma manifestação de
clara evidência “artística” pode não ser encarada como tal pelo seu autor ou sociedade
em que surge. Além disso, ao estabelecermos um olhar atento à manifestação artística
de um único artista, podemos reconhecer que os seus trabalhos não só refletem o
tempo em que viveu, mas também demonstram a sua relação particular, o diálogo
singular que estabeleceu com seu tempo (ESCOSTEGUY, 2017). De acordo com o
crítico de cinema Ricciotto Canudo, existem sete tipos de arte, que, no século XX, em
1923, foram regulamentados pelo Manifesto das Sete Artes. O objetivo do crítico era
estabelecer uma ordem estética e comunicativa paras as principais artes existentes.
Elas ficaram relacionadas da seguinte forma:
Música
A música existe e sempre existiu como produção cultural, pois, de acordo com
estudos científicos, desde que o ser humano começou a se organizar em tribos
primitivas pela África, a música era parte integrante do cotidiano dessas pessoas.
Acredita-se que a música tenha surgido há 50.000 anos, quando as primeiras
manifestações foram feitas no continente africano, expandindo-se pelo mundo com o
dispersar da raça humana pelo planeta. A música, ao ser produzida ou reproduzida, é
influenciada diretamente pela organização sociocultural e econômica local, contando,
ainda, com as características climáticas e o acesso tecnológico que envolvem toda a
relação com a linguagem musical. A música possui a capacidade estética de traduzir
os sentimentos, atitudes e valores culturais de um povo ou nação e é uma linguagem
local e global. Na pré-história, o ser humano já produzia uma forma de música que lhe
era essencial, pois sua produção cultural constituía de utensílios para serem utilizados
no dia a dia. Já na cultura egípcia, por volta de 4.000 anos a.C., alcançou-se um nível
elevado de expressão musical, pois era um território que preservava a agricultura, e
esse costume levava às cerimônias religiosas, durante as quais as pessoas batiam
espécies de discos e paus uns contra os outros, utilizavam harpas, percussão,
diferentes formas de flautas e também cantavam. (ESCOSTEGUY, 2017).
A teoria musical só começou a ser elaborada no século V a.C., na Antiguidade
Clássica, e a música renascentista ficou marcada pelo período do século XIV, durante
o qual os artistas pretendiam compor uma música mais universal, buscando se
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distanciarem das práticas da Igreja. Havia um encantamento pela sonoridade
polifônica, pela possibilidade de variação melódica. Após, surge a Música Clássica e,
neste momento, diversas novidades, como a orquestra, que toma forma e começa a
ser valorizada. As composições para instrumentos, pela primeira vez na história da
música, passam a ser mais importantes do que as compostas para canto, surgindo a
“música para piano”. (ESCOSTEGUY, 2017). A imagem abaixo ilustra os maiores
ícones da música clássica:
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Dança
Sem música, não há dança. Sem movimento corporal, também não. A dança,
portanto, apenas ocorre quando o corpo executa movimentos a partir de um
determinado ritmo, e isso acontece desde a Era Paleolítica. Nessas eras, a dança
estava diretamente relacionada à sobrevivência, pois os homens, vivendo em tribos
isoladas e alimentando-se de caça, pesca, vegetais e frutos colhidos da natureza,
criavam rituais em forma de dança que impediriam eventos naturais de prejudicar
essas atividades. (ESCOSTEGUY, 2017).
As danças na Índia, por sua vez, têm origem na invocação do Shiva (deus da
dança). Com suas danças e músicas, os hindus procuravam uma união com a
natureza. Assim a dança de Shiva tinha por tema a atividade cósmica. Ela exprimia
os eventos divinos. O ritmo da dança estava associado à criação contínua do mundo,
à destruição de algumas formas para o nascimento de outras. Os vários estilos de
dança, sempre relacionados a deuses, tinham o mesmo princípio, o de que “o corpo
inteiro deve dançar”. É por isso que as danças indianas apresentam movimentos muito
elaborados de pescoço, olhos, boca, mãos, ombros e pés. (ESCOSTEGUY, 2017).
Escosteguy (2017) lembra que a Idade Média, chamada de “idade das trevas”
pelos humanistas do Renascimento, foi um período contraditório para a dança. Nessa
época, a Igreja se tornou autoridade constituída. Manifestações corporais foram
proibidas, uma vez que a dança foi vinculada ao pecado. Os teatros foram fechados
e eram usados apenas para manifestações e festas religiosas. A Igreja, porém, não
conseguiu interferir nas danças populares dos camponeses, que continuaram a fazer
suas festas nas épocas de semeadura e colheita e no início da primavera. Para não
afrontar a Igreja, essas danças eram camufladas com a introdução de personagens
como anjos e santos. Posteriormente, essas manifestações foram incorporadas às
festas cristãs, com a introdução da dança dentro das igrejas.
A partir do Renascimento, houve mudanças marcantes, como a renovação em
muitos âmbitos da vida social e cultural, pois as cortes reais também se
transformaram. Pela necessidade de ostentar suas riquezas, passaram a comemorar,
com grandes festas, datas como: nascimento, casamento, aniversário etc. A dança se
desenvolve particularmente em Florença, na Itália, no palácio da família Médici, onde,
nas festas, eram apresentados espetáculos chamados de trionfi (triunfos), que
simbolizavam riqueza e poder.
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Cabe ressaltar que, em 1500, no carnaval de Veneza, foi encenado um dos
triunfos mais suntuosos, no qual os dançarinos usavam máscaras bordadas com fios
de ouro e pedras preciosas, leques de plumas e mantos de seda adamascada. Em
1581, o primeiro “balé da corte”, intitulado Le Ballet Comiquede la Reine (O Balé
Cômico da Rainha – neste caso, o termo “cômico” deve ser entendido no sentido de
“dramaturgia de uma comédia”), foi um grande espetáculo que durou seis horas, com
participação de carros alegóricos e efeitos cênicos.
No século XVII, o balé é a modalidade que surgiu e marcou época, pois foi
nesse século que Luís XIV criou uma companhia de dança, com vinte bailarinos, para
a famosa Ópera de Paris. Os vestidos, compridos e pesados, impediam o virtuosismo
de movimentos verticais. O sonho de voar de Ícaro, Leonardo da Vinci e Santos
Dumont também são o sonho dos bailarinos dessa época. Os temas para o balé
começam a exigir a ilusão do voo e, para isso, os cenógrafos utilizaram alavancas e
roldanas para erguer os bailarinos. (ESCOSTEGUY, 2017).
No século XIX, o balé criava um mundo de ilusão, esboçando o ideal das
concepções românticas. A fada, a feiticeira, o vampiro e outros seres imaginários eram
seus personagens. No século XX, anuncia-se como o tempo do progresso, das
descobertas científicas, da rapidez, de expansão de fronteiras, da modernidade.
Grandes transformações nas tradições e valores adotados até então marcam esse
momento de início da era industrial. Nasce uma nova sociedade com outros anseios
e necessidades.
Na fase modernista da história da dança, o que vai separar o clássico do
moderno não é simplesmente a técnica, mas, também, o pensamento que norteou sua
elaboração. Nos Estados Unidos e na Europa, apareceram novos modos de dançar
bastante diferentes da tradição clássica em relação aos espaços utilizados, à
concepção de dança e aos movimentos do corpo.
No momento de transição para a era contemporânea, nas décadas de 1940 e
1950, alguns coreógrafos passam a questionar os modos de se construir a dança,
criando uma verdadeira revolução na modernidade. Na fronteira entre a dança
moderna e a contemporânea, está o coreógrafo e bailarino Merce Cunningham. Os
pioneiros da dança moderna se dedicaram à construção das fundações de uma nova
dança. Cunningham, chamado pelos críticos de precursor da dança contemporânea,
posiciona-se contra a permanência de modelos acadêmicos na dança moderna.
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Cunningham buscou novas fórmulas e, com seus parceiros – o compositor John
Cage, uma das mais interessantes figuras do mundo da música contemporânea, e o
artista plástico Robert Rauchenberg, um dos expoentes da pop art –, constrói uma
nova estética para a dança, lançando os princípios da dança contemporânea. A dança
contemporânea não impõe modelos rígidos; os corpos dos artistas não têm um padrão
preestabelecido, bem com os tipos físicos. São gordos, magros, altos, baixos e de
diferentes etnias. A maioria desses trabalhos incorpora novos movimentos e não mais
os movimentos convencionais do balé ou das técnicas de dança moderna.
(ESCOSTEGUY, 2017).
Pintura
A pintura, por sua vez, acompanha o ser humano por toda a sua história. Ainda
que durante o período grego clássico ela não tenha se desenvolvido tanto quanto a
escultura, a pintura foi uma das principais formas de representação dos povos
medievais, do Renascimento até o século XX.
A pintura surgiu na pré-história quando os homens das cavernas faziam as
pinturas rupestres. Arte rupestre, pintura rupestre ou, ainda, gravura rupestre são os
nomes dados às mais antigas representações pictóricas conhecidas – com as mais
antigas datadas do período Paleolítico Superior (40.000 a.C.) –, gravadas em abrigos
ou cavernas, em suas paredes e tetos rochosos ou também em superfícies rochosas
ao ar livre, mas em lugares protegidos.
No entanto, é a partir do século XIX, com o crescimento da técnica de
reprodução de imagens, graças à Revolução Industrial, que a pintura de cavalete
perde o espaço que tinha no mercado. Até então, a gravura era a única forma de
reprodução de imagens, trabalho muitas vezes realizado por pintores. Com o
surgimento da fotografia, porém, a função principal da pintura de cavalete, a
representação de imagens, enfrenta uma competição difícil. Essa é, de certa maneira,
a crise da imagem única e o apogeu de reprodução em massa. (ESCOSTEGUY,
2017).
Durante o século XX, a pintura de cavalete se mantém pela difusão das galerias
de arte, mas a técnica da pintura continua a ser valorizada por vários tipos de
designers, especialmente na publicidade.
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Devido ao fato de grandes obras de arte – tais como a Mona Lisa e A Última
Ceia – do renascentista Leonardo Da Vinci serem pinturas a óleo, a técnica é
historicamente considerada uma das mais tradicionais das artes plásticas.
Escultura
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Constantin Brancusi e Henry Moore, tornaram-se célebres dentro das vanguardas
modernistas, que, até hoje, seguem influenciando a produção contemporânea de
esculturas.
Teatro
O teatro teve sua origem no século VI a.C., na Grécia, surgindo das festas
dionisíacas realizadas em homenagem ao deus Dionísio, deus do vinho, do teatro e
da fertilidade. Essas festas – que eram rituais sagrados, procissões e recitais que
duravam dias seguidos – aconteciam uma vez por ano na primavera, períodos em que
se fazia a colheita do vinho naquela região.
O teatro grego que hoje conhecemos surgiu, segundo historiadores, de um
acontecimento surpresa: quando um participante desse ritual sagrado resolveu vestir
uma máscara humana, ornada com cachos de uvas, subiu em seu tablado em praça
pública e disse: “Eu sou Dionísio! ”. Todos ficam espantados com a coragem desse
ser humano de se colocar no lugar de um deus, ou melhor, fingir ser um deus. Esse
acontecimento é o marco inicial da ação dramática. (ESCOSTEGUY, 2017).
Com o passar do tempo, as celebrações ao deus Dionísio ficaram cada vez
mais elaboradas. Dessa forma, durante tais celebrações os gregos começaram a
representar cenas da vida da própria divindade. Nessa época, todos os papéis eram
interpretados por homens, já que não era permitida a participação de mulheres nas
representações.
Paralelos a esse acontecimento sociocultural, vão surgindo os prédios teatrais
gregos – bem como as arquibancadas, que eram feitas de pedra –, e sua utilização
pelos cidadãos gregos era democrática; todos podiam assistir com a mesma
qualidade de visão as tragédias, comédias e sátiras.
Poucas manifestações teatrais parecem ter resistido nessa época. Apenas
alguns artistas percorriam as cortes de reis e nobres, como malabaristas, trovadores
(poetas que cantavam poemas ao som de instrumentos musicais), imitadores e jograis
(intérpretes de poemas ou canções românticas, dramáticas ou sobre feitos heroicos).
Na China antiga, o budismo usava o teatro como forma de expressão religiosa.
No Egito, um grande espetáculo popular contava a história da ressurreição de Osíris
e da morte de Hórus. Na Índia, acredita-se que o teatro tenha surgido com Brama.
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No Brasil, o teatro foi obra dos jesuítas, empenhados em catequizar os índios
para o catolicismo e coibir os hábitos condenáveis dos colonizadores portugueses. O
padre José de Anchieta (1534–1597), em quase uma dezena de autos inspirados na
dramaturgia religiosa medieval e, sobretudo, em Gil Vicente, notabilizou-se nessa
tarefa, de preocupação mais religiosa do que artística. (ESCOSTEGUY, 2017).
Já os fundamentos estéticos vivenciados no século XIX, entre público e artistas,
no âmbito do teatro, foram desafiados e ampliados no século XX, expandindo-se em
experiências e inovações teatrais. Naquele momento, o “naturalismo” cênico
dominava as convenções teatrais, e, em seguida, no início do século XX, novos
movimentos e experimentações artísticas começaram a surgir em oposição às regras
dominantes.
Na era Pós-moderna, uma dramaturgia que se assume fora do textocentrismo
nasce com as experiências de criação coletiva privilegiada por inúmeras equipes
artísticas. Macunaíma - espetáculo de Antunes Filho de 1978, pode ser considerado
o marco instaurador da pós-modernidade no Brasil. Associando códigos da
intertextualidade, da paródia, da ironia, do humor, ele soube preencher o palco nu com
signos impactantes e oferecer uma nova face ao homem brasileiro, assim como a
instaurar um renovado padrão de teatralidade. (ESCOSTEGUY, 2017).
Literatura
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aproximadamente 2000 a.C., e o Livro dos Mortos, escrito em Papiro de Ani em
aproximadamente 1250 a.C.
O Egito, que detinha a intuição mística de um mundo sobrenatural, atiçou a
imaginação dos gregos e dos romanos. Da cultura hebraica, a principal herança
literária para o Ocidente veio de seus primeiros manuscritos, como o Antigo
Testamento da Bíblia.
Muitos textos se expandiram por forma oral durante vários e vários séculos
antes que fossem escritos, e esses são difíceis de datar.
A chamada literatura clássica, que engloba toda a produção greco-romana
entre os séculos V a.C. e V d.C., influenciou toda a literatura do Ocidente. Todos os
gêneros importantes de literatura – épica, lírica, tragédia, comédia, sátira, história,
biografia e prosa narrativa – foram criados pelos gregos e pelos romanos, e as
evoluções posteriores são, na maioria, extensões secundárias. (ESCOSTEGUY,
2017).
As primeiras manifestações da literatura brasileira foram fortemente marcadas
pelo modelo literário de Portugal, já que nossos primeiros escritores ou eram
portugueses de nascimento ou brasileiros com formação universitária em Portugal.
Com o passar do tempo, surge a literatura moderna, que foi um movimento
da literatura brasileira que surgiu em 1920 e se estendeu até meados de 1978.
Dividido em três fases principais, a literatura moderna reúne características
inconfundíveis, como a liberdade de expressão, contextualização e inclusão do
cotidiano, linguagem coloquial e novas técnicas de escrita. Nesse novo estilo
moderno, todas as normas e parâmetros da criação artística foram rompidos. Os
autores do modernismo passam a valorizar o retrato da vida cotidiana. A vida
burguesa sai do cenário artístico.
Quanto à escrita, os versos aparecem livres, sem as formas fixas de sonetos e
versos. As frases curtas são mais valorizadas. A fragmentação do texto e recortes
também ganham espaço na literatura moderna. Muitos autores utilizam várias vozes
narrativas nos seus textos. Os sinais de pontuação desaparecem.
O pós-modernismo na literatura brasileira consiste num período em que os
autores apresentam um amadurecimento, tanto na poesia quanto na prosa. O pós-
modernismo atuou como uma intensificação dos traços da modernidade.
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Cinema
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Entretanto, seria nas três primeiras décadas do século XX que o cinema
afirmar-se-ia como arte. Isso ocorreu sobretudo pela ação de artistas interessados em
teatro, mágicos (e ilusionistas) e todo tipo possível de efeito cênico. Um dos principais
nomes dessa fase do cinema foi Georges Meliès, que dirigiu Viagem à Lua, em 1902,
conseguindo, com esse filme, efeitos visuais verdadeiramente impressionantes para
a época.
Os primeiros filmes gravados em terras brasileiras foram desenvolvidos no fim
do século XIX, quando o Brasil ainda enfrentava problemas sérios em relação à
energia elétrica, o que dificultava muito a produção dos filmes no país. Os filmes de
ficção só começaram a surgir no Brasil no início do século XX. A partir de 1905, houve
o que ficou conhecido como a “Belle Epoque” (Bela Época) do cinema nacional,
marcado pelas produções inspiradas na ópera e no que se chamou de “cinema
cantado”. Em 1930, foi edificado o primeiro estúdio de cinema do Brasil: a Cinédia,
que produziu sátiras dos filmes de Hollywood, chanchadas e os primeiros filmes
carnavalescos, que dominaram a produção cinematográfica nacional até a década de
1950. (ESCOSTEGUY, 2017).
De qualquer forma, o que se vê hoje no cinema é um movimento no sentido de
romper com o dispositivo que imperou ditatorialmente por mais de cem anos e buscar
inspiração para mudanças no campo das artes visuais. Por outro lado,
contraditoriamente, percebemos, no campo das artes visuais, um movimento inverso,
no sentido de buscar formas e conteúdos do cinema, como a narração e o
documentário, a projeção em sala escura, e assim por diante. Se o cinema e a arte
contemporânea puderem se encontrar em algum lugar no meio do caminho para trocar
experiências, talvez esse encontro seja produtivo para os dois no sentido de superar
os atuais impasses.
Barbosa (1978) defende que os novos métodos de ensino de Arte não são
resultantes simplesmente da junção da Arte e da educação, muito menos da oposição
entre elas, mas da sua interpenetração.
O professor é o instrumento principal para as transformações no ensino de arte
– ele é o diferencial, o colaborador para a eficácia do bom aproveitamento dos
21
conteúdos. Segundo Barbosa (1978, p. 50), “[...] sua tarefa é oferecer a comida que
alimenta o aprendiz e também organizar pistas, trilhas instigantes para descobertas
de conhecimentos, pelos alunos e visitantes, alimentando-se também [...]”. Como tal,
é necessário que ele entenda a importância do seu posicionamento e compromisso
diante da questão, buscando, em parceria com as instituições de educação, possíveis
soluções para a melhoria da qualidade do ensino.
24
3.3 Compreendendo as artes plásticas, visuais e literárias na
contemporaneidade
25
associado aos dias atuais. Sobre esse assunto, Escosteguy faz o seguinte
comentário:
26
retirando-a do seu lugar habitual e transpondo-a para um universo onde apenas
homens e mulheres dotados de subjetividade podem percebê-la.
A arte, em geral, e a literatura, em particular, são atividades cujas grandezas
residem nessa sublime “inutilidade”. A literatura é fruição, é mergulhar no prazer que
a leitura pode oferecer. O prazer estético que a literatura proporciona nos torna mais
atentos àquilo que é impalpável, torna-nos sensíveis às dores do mundo.
“A literatura existe porque a vida não basta” – foi assim que o mestre Fernando
Pessoa definiu a literatura. O que seria da vida se não houvesse os momentos de fuga
que nos permitem abstrair e, assim, amenizar o dia a dia e suas inúmeras obrigações
que preenchem de vazio nossos dias. Se, para Pessoa, escrever é esquecer, para o
leitor, ler é esquecer, é permitir-se entrar em sintonia com a palavra, com o estado de
fruição que só a arte nos permite experimentar. A vida não basta; para isso, existe a
literatura, para preencher os vazios que a realidade não consegue perceber.
(ESCOSTEGUY, 2017).
Ler, assim sendo, não é uma atitude passiva; não se reduz a uma simples
decodificação de sinais gráficos, mas pressupõe uma atividade de reconstrução de
sentidos. Ela não é um ato solitário porque envolve o diálogo com o interlocutor, que
pode ser com diversos escritores. No momento em que fazemos o cruzamento de um
texto com outro, que introduzimos questões, os interlocutores se ampliam. Nesse
sentido, a leitura é sempre escritura; são processos geminados. O texto literário
apresenta sempre dupla escritura–leitura; ele é uma rede de conexões atravessada
por várias formações discursivas. Leitura e escrita são processos que se completam
e complementam.
É por meio da literatura, diz Escosteguy (2017), que os alunos desenvolvem a
imaginação, o hábito de leitura, o pensamento crítico e suas emoções. E, mesmo
sabendo que o ensino de literatura não está tão presente nas escolas como deveria,
deve ser tomando cuidado para não tornar monótona essa disciplina tão importante.
A arte literária é de fundamental importância para o desenvolvimento das
pessoas – para nossa formação social –, contemplando os mais variados aspectos
que vão desde a linguagem, passando pela sensibilidade, emoção até a criticidade e
exercício de reflexão que são fundamentais para as diferentes aprendizagens. Pelas
leituras, nos apropriamos de um vasto conhecimento sobre diferentes lugares e
27
descobrimos um novo mundo de culturas e saberes, muitas vezes sem fisicamente
sairmos do lugar.
Ler é um processo contínuo, pois envolve uma compreensão que não se esgota
na decodificação da palavra escrita, mas que se antecipa e se alonga na inteligência
do mundo. Para Orlandi (2003), a produção do sentido está no modo como a leitura
se relaciona entre o dito e o compreendido. O ato de ler implica, segundo Freire
(1989), na percepção crítica, na interpretação, na reescrita e na reelaboração do que
lemos.
4 ARTE E SOCIOLOGIA
28
O motivo desta presença marcante tem sido objeto de incessantes
investigações sobre a natureza da criação artística, os fatores internos e externos
envolvidos e a função do artista na sociedade. As inúmeras respostas variam desde
a função da arte como substituta da vida, mantenedora de equilíbrio com o meio,
caminho para o alcance da totalidade, anseio de união da individualidade com o social;
passam pela busca da verdade permanente expressa na arte, de algo que tenha
significação transcendente, para além da simples descrição do real; e alcançam o
entendimento de que o homem necessita da arte, incluindo aí a inerente parcela mito-
mágica, para conhecer e transformar o mundo, ou seja, a arte como imprescindível
meio de conhecimento e transformação (BAY, 2006).
Fonte: https://www.lotsearch.net/
29
tempo, mas sim o contexto histórico. Ao examinar a relação da obra com o meio
procurando no fenômeno artístico uma origem ancorada na função social, a sociologia
vê a arte essencialmente como uma maneira de comunicação entre os indivíduos e
seus grupos. Sua proposição fundadora é de que a arte e a realidade são em si uma
mesma coisa, não havendo distanciamento entre ambas. Enfocando
predominantemente as relações inter-humanas derivadas da arte como fator de
convivência, a sociologia negligencia a questão da estética, fator relevante, uma vez
que intrínseco à arte. (BAY, 2006).
Fonte: https://revistagloborural.globo.com/
30
Isso contribuiu para o entendimento da arte como sendo reflexo da realidade
social e também como uma forma de conhecimento capaz de interagir nela, com o
poder de modificá-la. Atribuindo a arte um caráter libertador, via a possibilidade de ela
exercer tal função através da representação formal e realista dos conteúdos da luta
de classes. Todavia, Marx não ousou aplicar literalmente o método dialético no estudo
da arte, pois embora a tomasse como um reflexo da realidade, relegada à condição
secundária da superestrutura, admitia sua capacidade de expressar a beleza,
entendendo que o artista necessitava conceber a obra antes de realizala. Marx
observou que em certos períodos havia uma defasagem entre o desenvolvimento
artístico e o da produção material, entrando em jogo outros fatores como natureza e
raça (BAY, 2006). Mencionou o exemplo dos gregos, que considerava crianças
normais, mas com alto grau de desenvolvimento artístico:
...a dificuldade não está na idéia de que a arte e a epopéia gregas estejam
ligadas a certas formas de desenvolvimento social. A dificuldade está em
compreender por que ainda hoje nos proporcionam um prazer artístico e
valem, em certos aspectos, como norma e modelo insuperáveis. (MARX, 79,
pág.35)
31
Seus estudos psicanalíticos sobre alguns artistas o levaram a asseverar que o
artista não seria um neurótico, mas que, ao contrário, ao criar realizaria também um
processo de adequação à realidade circundante, ao conscientemente transformar
seus impulsos inconscientes. Observa-se que nesta afirmação já se delineia o papel
social da arte como mediadora, como fator de adaptação do indivíduo à sociedade.
Freud acreditava que a arte teria o poder de liberar o artista de suas fantasias,
permitindo-lhe exorcizar os fantasmas interiores, canalizando-os para a obra, num
processo catártico e terapêutico. Desta maneira entendeu que o ponto inicial de
criação era a própria vida do artista, a qual determinaria a temática, o estilo e toda
forma plástica, de tal maneira que a obra poderia ser vista como um substituto das
fantasias geradas pelo seu inconsciente.
Um conceito chave no entendimento da ideia freudiana de arte é o de
sublimação, o mecanismo de derivação das pulsões sexuais em direção a objetivos
de outra ordem; tal processo, ao qual o autor atribui a possibilidade de realização da
cultura, viabilizaria também o processo de criação da obra de arte. O artista seria para
ele um tipo de pessoa propensa à sublimação, correlacionada à estrutura de
personalidade fundamentalmente narcisista, a qual descobre na arte a forma de
realizar suas fantasias de poder e de criação. Igualmente o narcisismo teria a função
de tentar ultrapassar a condição mortal do artista, atendendo à necessidade humana
de busca de imortalidade. (BAY, 2006). Percebe-se assim a arte constituindo-se como
um elemento intermediário entre a realidade e a imaginação, entre o interno e o
externo, o individual e o social:
Fonte: https://br.pinterest.com/
O outro ponto da explicação de Freud para a arte, de que a obra artística traz
em sua gênese um valor simbólico, apresenta-se atualmente mais significativo, sob o
ponto de vista da investigação sobre a origem de arte, do que sua teoria que enfatiza
mecanismos inconscientes do criador e do receptor. Os simbolismos dos sonhos têm
estreita correspondência com simbolismos expressos nas criações artísticas, que
nada mais são do que suas transformações. (BAY, 2006). Mas como as
representações nos sonhos constituem-se basicamente em imagens visuais, Freud
via os sonhos como um complexo sistema de escritura, correlacionada às escritas
pictográficas e aos hieróglifos, nos quais alguns elementos servem como marcadores
33
que apontam para determinados significados somente identificáveis num certo
contexto. Para ele isto foi um indício de que a lógica dos sonhos não estaria ancorada
no logos consciente, mas que, do mesmo modo que a escritura artística, seria regida
por regras próprias, sendo impossível tentar traduzí-las em outra linguagem. Pode-
se dizer que Freud considerou a obra de arte um todo analisável em si mesmo, no
qual a modificação em um simples elemento desencadeia a constituição de um outro
e diverso conjunto. (BAY, 2006). Essa constatação possibilitou o desenvolvimento de
abordagens posteriores sobre a criação e interpretação da obra de arte, como as de
Gaston Bachelard (poética da imagem), Gilbert Durand (mitocrítica), Hans Robert
Jauss (estética da recepção), Wolfgang Iser (efeito estético), dentre outros.
Convertendo conteúdos psíquicos como fantasias e sonhos, ou sublimando as forças
da libido, o que se extrai da teoria freudiana é que a arte em relação ao social tem
função mediadora, de promover a adaptação do indivíduo e garantir o equilíbrio das
sociedades.
Com o objetivo de criar uma história dos distintos modos de subjetivação dos
seres humanos, uma demonstração de seu pensamento multifacetado e da ruptura
epistemológica que promoveu, Michael Foucault, deixou em sua obra algumas
opiniões importantes sobre arte. Ainda que este tema não tenha sido seu principal
objeto de estudos, é possível encontrar, de forma esparsa e basicamente nas
Conferências, algumas ideias e conceitos sobre arte e sua inserção na sociedade.
Segundo Bay (2006),
34
ausência de sentido. Para ele, ao re-inventar um outro diálogo a arte estaria
expressando o homem moderno em sua experiência trágica.
A arte ao cumprir o papel de vigília e contestação, apontaria os limites e a
interação entre o real e o possível, entre a palavra e a imagem, isto é, entre o homem
e seu simbólico, entre a continuidade e a ruptura. Pode-se inferir que Foucault
percebeu o artista como agente desencadeador de mudanças, polemizador e crítico
da ordem presente na medida em que constrói significações novas, entre o real e o
possível. Assim enquanto intelectual e produtor de cultura, seria ele capaz de mobilizar
e desestabilizar, apontando ou desencadeando novos caminhos para reflexão; daí a
probabilidade de vê-lo como um intelectual específico foucaultiano. (BAY, 2006).
Fonte: https://www.culturagenial.com/
35
Na obra de arte a essência revelada seria a invisibilidade profunda do que se
vê, e ao mesmo tempo, solidária com a visibilidade de quem vê, do fruidor participante.
A obra procuraria auto-representar-se através dos elementos que a compõem,
tornando-se então apresentação da própria representação, bem mais que a simples
semelhança explícita, acena a uma similitude presente, mas não dita: “É, talvez, por
meio desta linguagem nebulosa, anônima, sempre meticulosa e repetitiva, porque
demasiado ampla, que a pintura, pouco a pouco, acenderá suas luzes”. (FOUCAULT,
op. Cit., pág. 12.).
O filósofo italiano Umberto Galimberti, por sua vez, aborda a arte e a implicação
dela na sociedade a partir da impossibilidade da existência de uma sem a outra. Este
co-pertencer é para ele essencial, uma vez que afastar o homem da expressão
espiritual propiciada pela arte, equivaleria a limitá-lo a condição animal; da mesma
forma a arte em sua materialidade não existiria sem o homem, estaria restrita ao
domínio do espírito. (BAY, 2006). Deste modo vinculados e pertencentes à terra, arte
e homem encontrar-se-iam prisioneiros de um destino perecível muito embora ambos
tendam para o eterno. Assim a arte seria um enobrecimento da condição humana e
concretizaria a tensão do homem para além da espessura opaca e escura da matéria,
através de uma entrega à debilidade e efemeridade da mesma matéria que viabiliza
sua comunicação. Diz ele: “O homem não tem nenhum valor se não consegue exprimir
algo que transcenda sua vida biológica, e a arte é uma forma desse transcender. Mas
também a arte não tem nenhum valor se não reflete o ultrapassar do homem, a sua
superação da condição animal”. (GALIMBERTI, 2003, pág. 186).
Ao estudar os vestígios do sagrado na civilização ocidental atual, Galimbert
(2003) considera a arte uma de suas últimas pegadas. Para ele, a dimensão do
sagrado, embora pareça não mais estar entre nós numa época em que a técnica
dessacralizou tudo o que nos rodeia, continuaria a existir fora e dentro de nós, no
inconsciente ou na loucura. Esta região misteriosa, que é tudo o que antecede a razão,
as regras e a organização civil, pertence ao domínio do sagrado o qual age dentro de
nós, que desprovidos de rito e sacrifícios para nos defendermos, nos encontramos
expostos diretamente a ele. Os resultados seriam as angústias e ansiedades, por
vezes loucuras, violências e outras sociopatias, para as quais nem mais a psicanálise
tem sido suficiente. (BAY, 2006).
36
Galimberti acredita que se faz necessário a reconstrução de liturgias, cantos,
danças e outras situações em que a comunidade se recolha, pois se continuarmos
esquecendo ou ignorando o sagrado, não mais teremos humanidade; do mesmo
modo que se nos deixarmos tomar totalmente por ele, chegaremos a devastação. É
imperativo termos então uma relação ambivalente para com o sagrado se quisermos
evitar a dissolução da personalidade e a aceleração das doenças sociais, na relação
do indivíduo com a coletividade. No entender dele a arte seria uma possível
alternativa, pois:
5 ARTE E COMUNICAÇÃO
Segundo Lucia Santaella (2008), no mundo antigo e na Idade Média, o que hoje
chamamos de artes visuais era considerado como artesanato utilitário dentro do
mesmo paradigma de outros tipos de artesanato, tais como fabricação de móveis,
sapatos etc. Esse quadro só se modificou no Renascimento, quando os artistas
conseguiram levantar o status das artes ao colocar em destaque seu caráter
intelectual e teórico.
37
A autora (2008) comenta ainda que durante o século XVIII, o sistema das artes
foi esquematizado em cinco belas artes: pintura, escultura, arquitetura, poesia e
música. O adjetivo “belas” (em inglês fine) implicava, além da beleza, a habilidade, a
superioridade, a elegância, a perfeição e a ausência de finalidades práticas ou
utilitárias, em contraste com o artesanato mecânico e aplicado.
A arquitetura, a pintura e a escultura eram as três principais artes visuais da
Europa, durante um bom tempo, pelo menos do Renascimento até meados do século
XIX. Essas artes se desenvolveram e consolidaram muito em razão do apoio dos
indivíduos e grupos mais ricos e poderosos daquelas sociedades: reis, príncipes,
aristocratas, a Igreja, mercadores, governos nacionais, conselhos municipais etc. As
mudanças trazidas pela Revolução Industrial, pelo desenvolvimento do sistema
econômico capitalista e pela emergência de uma cultura urbana e de uma sociedade
de consumo alteraram irremediavelmente o contexto social no qual as belas artes
operavam. Desde então e cada vez mais, nossa cultura foi perdendo a proeminência
das “belas letras” e “belas artes” para ser dominada pelos meios de comunicação.
Nesse contexto, as expressões “meios de massa” e “cultura de massa”
denotam os sistemas industriais de comunicação, sistemas de geração de produtos
simbólicos, fortemente dominados pela proliferação de imagens. Trata-se de produtos
massivos porque são produzidos por grupos culturais relativamente pequenos e
especializados, e são distribuídos a uma massa de consumidores. Na lista dos meios
de massa incluem-se geralmente a fotografia, o cinema, a televisão, a publicidade, os
jornais, as revistas, os quadrinhos, os livros de bolso, a internet. Uma característica
comum aos meios de massa está no uso de máquinas, tais como câmeras, projetores,
impressoras, satélites, entre outras, capazes de gravar, editar, replicar e disseminar
imagens e informação. Os produtos culturais gerados por esse sistema são baratos,
seriados, amplamente disponíveis e passíveis de um a distribuição rápida.
(SANTAELLA, 2008).
Alguns acreditam e afirmam que os meios de massa tiveram origem com a
invenção da prensa manual gutenberguiana, que permitiu a reprodução do livro.
Entretanto, esse processo reprodutivo não é comparável às situações em que bilhões
de indivíduos são expostos cotidianamente a um espectro de meios de massa, uma
experiência que só foi inaugurada no século XX.
38
Diversos especialistas defendem que a comunicação identifica-se
exclusivamente com comunicação de massas, enquanto as artes se restringem ao
universo das “belas artes”. Se nos limitarmos a essas visões parciais tanto da
comunicação quanto da arte, a pergunta sobre as possíveis convergências de ambas
não faz sentido. Entretanto, além de parciais, essas visões são, sobretudo,
anacrônicas. Alimentar o separatismo conduz a severas perdas tanto para o lado da
arte quanto para o da comunicação. (SANTAELLA, 2008).
Fonte: https://portalidea.com.br/
39
também chamada de era de Gutenberg, propiciou a reprodutibilidade da escrita em
cópias geradas a partir de uma matriz. (SANTAELLA, 2008).
Processos comunicativos conforma novos ambientes culturais, sendo capaz de
alterar as interações sociais e a estrutura social em geral. Isto assim se dá
especialmente porque os meios de comunicação são inseparáveis do nível de
desenvolvimento das forças produtivas de uma dada sociedade, de modo que eles
estão sempre inextricavelmente atados ao modo de produção econômico-político-
social.
Para o tema da convergência entre as comunicações e as artes, Santaella
(2008) afirma que as eras culturais que devem nos interessar são aquelas que
entraram em vigor a partir da cultura de massas, pois, antes disso, dificilmente
poderíamos encontrar modos de convergência entre ambas. Isso se explica, em
primeiro lugar, porque, ainda que a comunicação seja intrínseca ao ser humano, foi
só no momento histórico em que a comunicação massiva começou a se instaurar, a
partir da revolução industrial, que os dois campos, comunicações e artes, também
começaram a se entrecruzar. Antes disso, no entanto, desde o Renascimento, a
cultura limitava-se a uma divisão em dois campos nitidamente separados: de um lado,
a cultura erudita, isto é, a cultura superior das “belas letras” e das “belas artes”,
privilégio das classes economicamente dominantes; de outro, a cultura popular,
produzida pelas classes subalternas responsáveis pela preservação ritualística da
memória cultural de um povo.
Desde a Revolução Industrial, temos testemunhado um crescimento
significativo das mídias e dos signos que por elas transitam. Por isso não é nenhuma
novidade afirmar que, no século XIX, a Revolução Industrial trouxe consigo máquinas
capazes de expandir a força física, muscular dos trabalhadores e, portanto, máquinas
responsáveis pela aceleração da produção de bens materiais para o mercado
capitalista. Junto com as máquinas de produção de bens materiais, embora pouco
lembrado e destacado, também surgiram máquinas de produção de bens simbólicos,
máquinas mais propriamente semióticas, como a fotografia, a prensa mecânica e o
cinema. Essas são máquinas habilitadas para produzir e reproduzir linguagens e que
funcionam, por isso mesmo, como meios de comunicação.
43
distribuída, do ciberespaço compartilhado, da comunicação não local, dos ambientes
multiusuários, dos sites colaborativos, da web TV, dos netgames, as artes digitais,
também chamadas de “artes interativas”, desenvolvem-se nos mesmos ambientes
que servem às comunicações, tornando porosas e movediças as fronteiras
intercambiantes das comunicações e das artes. (SANTAELLA, 2008).
Como se pode constatar, tanto de um ponto de vista histórico quanto de um
ponto de vista sincrônico, as convergências entre as comunicações e as artes
constituem uma questão que, além de inegável, é multifacetada.
Ari Fernando Maia (2000), lembra de que há mais de dois séculos, escrevia a
respeito das artes um filósofo alemão:
Fonte: https://www.todamateria.com.br/
45
de algo melhor. A arte enquanto duplicação do existente apontando algo
melhor deixou de existir no âmbito da indústria cultural. (MAIA, 2000, p. 23).
46
A leitura que o filósofo faz de sua época é aguda o suficiente para atingir a
nossa: “Atualmente, quando buscas mais sutis e um gosto mais fino reduziram a
princípios a arte de agradar, reina entre nossos costumes uma uniformidade
desprezível e enganosa, e parece que todos os espíritos se fundiram num mesmo
molde” (ROUSSEAU, 1997, p.192).
O adestramento dos sentidos para a incorporação dos indivíduos à maquinaria
do sistema faz uso da técnica e da ‘cultura’ para criar uma situação em que os
indivíduos se sentem felizes sem de fato sê-lo. (MAIA, 2000).
47
ideias, em alguma medida dizem respeito à realidade material sem que, no entanto, a
realidade material se revele diretamente por meio delas. (MAIA, 2000).
Poderiam, no entanto, os homens produzir ideias que tivessem como origem
sua realidade material e que, ao mesmo tempo, refletissem essa realidade apenas
parcialmente? Para Marx e Engels (1989) é a partir do momento em que,
historicamente, surge a divisão de trabalho como forma social dominante: “a
consciência está em condições de se emancipar do mundo e de passar à formação
da teoria ‘pura’, teologia, filosofia, moral etc” (p.27).
Há ainda outra consequência dessa divisão do trabalho, pois o próprio processo
de trabalho ocorre como uma força objetiva contra a qual o sujeito nada pode. O
trabalho alienado, origem das fantasmagorias que impedem a liberdade dos
indivíduos, desdobra-se ainda no ‘fetichismo da mercadoria’. Segundo Marx (1988):
Durante o século XIX, Marx e Engels defenderam que não é possível uma
educação para a liberdade num mundo objetivamente não livre, o que deve nos levar
a uma série de novas questões sobre a realidade social de nosso século, em que a
incorporação total da esfera da cultura ao modo técnico de produção industrial e sua
incorporação à propaganda transformaram qualitativamente a contradição apontada.
(MAIA, 2000).
De acordo com Adorno (1998), o cerne da questão é um progressivo
fechamento das brechas que permitiam alguma autonomia aos indivíduos, a tal ponto
que já não se pode falar em indivíduo sem uma enorme série de ressalvas que
praticamente inviabilizam a realização de seu conceito. Segundo o autor:
As malhas do todo são atadas cada vez mais conforme o modelo do ato de
troca. Este permite à consciência individual cada vez menos espaço de
manobra, passa a formá-la de antemão, de um modo cada vez mais radical,
cortando-lhe a priori a possibilidade da diferença, que se degrada em mera
nuance no interior da homogeneidade da oferta. Simultaneamente, a
49
aparência de liberdade torna a reflexão sobre a própria não-liberdade
incomparavelmente mais difícil do que antes, quando esta estava em
contradição com uma não-liberdade manifesta, o que acaba reforçando a
dependência (p.9-10).
50
objetivamente a liberdade, a beleza e a felicidade, a cultura afirmativa, enquanto
promessa de liberdade, beleza e felicidade, inevitavelmente estava em contradição
com relação a seu conceito; mas hoje é difícil falar em um conceito de cultura sem a
intervenção da crítica à sociedade. Ao contrário do que parece, o amplo acesso à
‘cultura’ funciona como anti-esclarecimento; os não esclarecidos acreditam estar
amplamente esclarecidos, e além disso, identificam sua ‘personalidade’ à escolha das
mercadorias oferecidas e, nesta mesma medida, sucumbem à ideologia. (MAIA,
2000).
Atualmente, a indústria cultural impele os indivíduos a uma falsa mimese, à
adesão inconteste ao existente. Segundo Adorno (1993, p. 176):
51
Por pseudo-individuação entendemos o envolvimento da produção cultural de
massa com a auréola da livre escolha ou do mercado aberto, na base da própria
estandardização. A estandardização de hits musicais mantém os usuários
enquadrados, por assim dizer, escutando por eles. A pseudo-individuação, por sua
vez, os mantém enquadrados, fazendo-os esquecer que o que eles escutam já é
sempre escutado por eles, ‘pré-digerido’. (ADORNO, 1994).
As necessidades atendidas pela indústria cultural são, portanto, criadas pela
mesma sociedade que ela justifica: a necessidade de diversão, de abandono de si
mesmo e de fuga da realidade cruel do trabalho são atendidas de modo perverso pela
indústria. Sobre isso, Adorno e Horkheimer (1991) comentam que “divertir-se significa
estar de acordo (...) divertir significa sempre não ter que pensar nisso, esquecer o
sofrimento até mesmo onde ele é mostrado (...) A liberação prometida pela diversão
é a liberação do pensamento como negação (p. 135) ”.
Fonte: https://www.clicksociologico.com/
53
Os objetos de ‘arte’ que são reprodutíveis, segundo Benjamin, começam a ser
produzidos para serem reproduzidos. Assim, o cinema exercita nos indivíduos novas
capacidades, percepções e reações que serão depois generalizadas e radicalizadas
pela televisão. A hipótese de Benjamin (1984) é que: “transformações sociais muitas
vezes imperceptíveis acarretam mudanças na estrutura da recepção, que serão mais
tarde utilizadas pelas novas formas de arte” (p.185). Estas, por sua vez, fazem o
trabalho de condicionar a percepção do mundo segundo os parâmetros do existente.
O mundo é visto como é - está -, mas isto, pelo menos desde Hegel, é somente a
aparência, não o Real.
A distração, necessidade criada e satisfeita pela sociedade, está presente
também na própria recepção das mercadorias culturais. A apreensão pode se dar por
distração ou recolhimento. A primeira seria uma recepção tátil, isto é, aquela que se
efetua menos pela atenção que pelo hábito, em que o sujeito deixa-se levar pelo fluxo
dos estímulos a que está submetido; a segunda, ao contrário, implica uma atitude de
contemplação, ao mesmo tempo de distanciamento e de mergulho no objeto, de
conhecimento e de estranhamento (BENJAMIN, 1994, p.193). Além disso, a recepção
tátil, baseada no hábito, rege a estruturação do sistema perceptivo e prevalece ao
universo da ótica.
Traduzindo os termos originais do alemão utilizados por Benjamin, Ramos-de-
Oliveira (1998) torna mais precisa a significação que se quer explicitar, distinguindo
recepção passiva e vivência (Erlebnis) de recepção ativa, crítica e experiência
(Erfahrung):
55
audição das massas gravitam em torno do reconhecimento (...) O princípio básico
subjacente a isso é o de que basta repetir algo até torná-lo reconhecível para que ele
se torne aceito” (p.130). Mas, na recepção musical, com relação à música séria, o
sentido da obra é captado tendo como ponto de partida o reconhecimento, mas, a
partir deste o ouvinte experimenta a novidade relativa à composição. “O sentido
musical é o Novo - algo que não pode ser subsumido sob a configuração do
conhecido, nem a ele ser reduzido, mas que brota dele, se o ouvinte vem ajudá-lo”
(p.131).
A relação entre o reconhecido e o novo é destruída na música popular, assim
como nas demais mercadorias padronizadas da indústria cultural, pois o
reconhecimento mecânico é a única possibilidade de apreensão de uma mercadoria
sempre igual, cuja distinção é feita em pequenos detalhes. Se com relação à obra de
arte o reconhecimento vinha em auxílio da compreensão, mas não coincidia com ela,
na música popular eles coincidem de modo fatídico. Adorno analisa também a
televisão. Suas características ideológicas incidem, principalmente, sobre dois
aspectos interligados: suas características formais como meio técnico e o conteúdo
dos programas que transmite. Suas possibilidades como meio educacional estão
atualmente submetidas à necessidade de funcionar como ideologia, dadas suas
relações com o poder. Segundo Adorno (1995, p.80):
56
A diferença entre a imagem real e a imagem apresentada pela televisão - onde
a imagem é fragmentada, editada, dissolvida - não é sentida como problemática, pois
as mensagens - os estímulos - que ocorrem no mundo real estão igualmente
fragmentadas e dissolvidas sob a forma mercadoria. A reprodução da fragmentação
na televisão deveria ser experimentada com desprazer, mas não é isso o que ocorre.
(MAIA, 2000).
Segundo Adorno (1969), há uma espécie de ‘formação reativa’ que transforma
o ódio em admiração pelas imagens:
Além disso, o sujeito é ainda impelido sempre para sua interioridade; o que
quer que aconteça é sempre algo ‘individual’, algo que a psicologia ingênua
não se cansa de reforçar. Se a possibilidade de transformações sociais
significativas está vinculada a ações coletivas, o mundo das mercadorias está
bem cuidado, pois os indivíduos mal são capazes de se comunicar, e aquilo
que comunicam, na maioria das vezes, já é pré-moldado, é mera repetição
dos padrões ideológicos que incorporaram em sua formação, principalmente,
por meio da indústria cultural. (MAIA, 2000)
57
a oportunidade de amar compulsivamente aquilo que se odeia, entre outras formas de
‘defesa’, são realizadas com o auxílio da indústria cultural, em especial, da televisão.
Em suma, um enfraquecimento do ego que se torna incapaz de cumprir
adequadamente suas funções, de um modo que vai muito além daquilo que Freud
havia imaginado, já que, segundo Adorno (1993): “a doença própria de nossa época
consiste precisamente no que é normal” (p.50). Se para o grande psicólogo a
possibilidade de contato com a realidade, a experiência, estaria submetida às leis da
dinâmica da personalidade e esta teria como principal instância o inconsciente,
atualmente a própria personalidade é constituída de modo a parecer a-histórica e
nesse ‘véu’ ideológico é mantida, violentamente, pela sociedade que incorporou a si
mesma a esfera da cultura e as contradições que apontavam para algo melhor que o
existente. (MAIA, 2000).
Mas se não é o ego individual que realiza o recalcamento dessas
representações e experiências, que são oferecidas em massa, é este mesmo ego
individual que deve se adaptar a essa nova situação, o que leva a crer que o discurso
ideológico não tem uma qualidade inconsciente, em termos freudianos. Segundo
Adorno (1969):
Mas o próprio Adorno (1994) ao discutir a música popular, aponta uma questão
que parece ser fundamental:
58
se por demais visível. A não autonomia do espírito, do indivíduo, se afirmada
irrefletidamente, é também ideológica pois é o próprio sujeito que se envolve
‘conscientemente’ com os produtos ideológicos oferecidos pela indústria cultural. A
mera afirmação de que a atuação dos sujeitos se faz de modo puramente inconsciente
retira deles não só toda a responsabilidade sobre suas ações, mas coloca a situação
de um modo que anula toda negatividade, toda possibilidade de superação das
condições dadas, que depende das atuações individuais. A vontade mobilizada
conscientemente para manter o autoengano poderia ser mobilizada em outra direção,
em direção à consciência. (MAIA, 2000).
Se, evidentemente, a crítica à indústria cultural é urgente e fundamental, é
preciso um cuidado também fundamental ao fazê-la, pois, segundo Maar (1998): “A
indústria cultural oriunda do processo valorativo da produção capitalista tardia produz
um objeto que conduz sua crítica ao abismo” (p.45). Isso porque a crítica somente é
efetiva se voltada às relações materiais de produção e ao trabalho social, que são as
condições básicas do fetiche que se reproduz na esfera do que um dia foi chamado
de cultura.
Por outro lado, a possibilidade de crítica ao modo de produção implica uma
‘duplicação’, uma saída da realidade unidimensional que tem como ponto de apoio a
teoria - evidentemente uma teoria social -, mas que também pode ter como ponto de
apoio complementar uma realidade - no sentido de uma obra, de uma proposta –
estética; isto não significa projetar uma utopia no sentido de algo para além do
existente, mas observar no existente suas melhores possibilidades, as brechas que
apontam para algo melhor. Apesar das antinomias de uma arte que, tentando se
manter fiel às suas próprias exigências intrínsecas, está mergulhada em uma
realidade heterônoma, o elogio de Adorno a Schönberg, suas análises da música
popular, da regressão da audição, da televisão, do horóscopo e dos ocultismos nos
periódicos etc, demonstram que a crítica à indústria cultural, quando aponta, a partir
dela para além dela, é crucial. (MAIA, 2000).
59
7 MOVIMENTOS DA ARTE MODERNA E DAS VANGUARDAS
Segundo Jana Cândida Castro dos Santos (2019), o início do século XX, após
a Revolução Industrial, é marcado por grandes mudanças culturais e científicas, no
qual se questionam a física clássica, mecanicista e determinada característica dos
períodos anteriores — século XVIII e XIX. Alonso Pereira (2010) nos revela que neste
momento, dados a Teoria da Relatividade de Einstein e o princípio de indeterminação
de Heisenberg, assim como a nova decomposição atômica dos corpos e a crise das
geometrias euclidianas, a sensação de progresso — própria do século XIX — se vê
abalada, abrindo caminho para uma nova etapa cultural.
No campo arquitetônico, por exemplo, as vanguardas artísticas e os
experimentalismos dos anos seguintes à Primeira Guerra Mundial trazem as principais
contribuições. Os resultados dos experimentalismos são, de forma geral, os “[...]
processos envolvidos na decomposição do volume arquitetônico e no reconhecimento
da importância da normatização e da mecanização no desenho dos ambientes
construídos” (ALONSO PEREIRA, 2010, p. 227).
Na sequência apresentamos um pouco de cada um dos principais movimentos,
suas características e contribuições culturais e artísticas.
Fonte: https://guiadoestudante.abril.com.br/
60
Impressionismo
Fonte: https://super.abril.com.br/
61
Para captarem as imagens passageiras, os pintores impressionistas
trabalhavam com rápidas pinceladas, tornando muitas vezes a imagem de difícil
visualização. No entanto, com o tempo, o público percebeu que para entender um
quadro impressionista dever-se-ia observá-lo de longe. Além da França, o
Impressionismo repercutiu em toda a Europa, em terras americanas e brasileiras, mas
sempre em busca de “[...] romper com a imagem de ateliê e com os limites do
desenho” (MATTOS, 2003, p. 61).
Mais do que captar a realidade, buscava-se expressar as múltiplas realidades
criadas pela luz e reflexos dos corpos que apareciam ao contemplá-las, ou seja, para
os artistas impressionistas a luz era a principal preocupação. (SANTOS, 2019).
Pós-Impressionismo
62
Fonte: https://santhatela.com.br/
Tem destaque também a obra de Vincent Van Gogh (1853–1890), que através
de sua arte buscou expressar seu estado emocional e abriu caminho para o
desenvolvimento do Expressionismo. (SANTOS, 2019). Na figura abaixo vemos sua
tela “Campo de Trigo com Ciprestes”, de 1989.
Fonte: https://br.pinterest.com/
63
Pontilhismo
Fonte: https://www.historiadasartes.com/
Expressionismo
O Expressionismo, por sua vez, foi um movimento artístico que surgiu no início
do século XX, na Alemanha, e propunha “[...] a arte como a expressão do mundo
interior do artista” (MATTOS, 2003, p. 63), e assim buscava a expressividade, mesmo
que fosse necessário distorcer as figuras representadas. Segundo Proença (2009, p.
251), o movimento procurou “[...] expressar as emoções humanas e interpretar as
angústias que caracterizaram psicologicamente o homem do início do século”.
64
As obras expressionistas pautaram-se no uso de cores fortes e contornos
abruptos, marcadas por uma atmosfera densa, beirando o irreal. Os expressionistas
acreditavam na sinceridade de suas obras, mesmo que se distanciasse da beleza, e
fugiam das regras tradicionais em relação a composição, regularidade da forma e
harmonia das cores (SANTOS, 2019). Destacam-se os trabalhos do pintor norueguês
Edvard Munch (1853–1944), do pintor belga James Ensor (1860–1949) e do pintor e
escritor austríaco Oskar Koloschka (1886–1980). É importante ressaltar o trabalho dos
muralistas mexicanos Siqueiros, Orozco e Rivera, abordando os problemas sociais de
sua terra (MATTOS, 2003). Na figura abaixo, vemos a famosa obra “O Grito”, de
Edvard Munch.
O Expressionismo, com seu clima melancólico e inquietante, historicamente é
considerado o primeiro grande movimento da pintura moderna — ora abandonado ora
retomado muitas vezes ao longo de todo o século XX (PROENÇA, 2009).
Fonte: https://www.todamateria.com.br/
Fauvismo
Cubismo
66
e a apresentação de todos os seus lados simultaneamente, como revela Proença
(2009). O movimento ficou marcado pela fragmentação e justaposição de figuras
geometrizadas. São destaques os artistas: Pablo Picasso (1881–1973), Georges
Braque (1882–1963) e Jules-Fernand-Henri Léger (1881–1955). Na figura a seguir,
vemos uma obra de Pablo Picasso.
Fonte: https://www.moma.org/
Abstracionismo
Futurismo
Esse movimento tem seu início em meados de 1910, marcado por um texto
literário do escritor italiano Felippo Marinetti. Denominado de Manifesto Futurista, o
texto expunha propostas para o novo estilo. A partir disso, tornou-se comum um texto
literário para acompanhar as manifestações artísticas e suas definições. O Futurismo
condenava a devoção aos grandes mestres e elementos do passado, evidenciando
apenas o presente. Segundo Mattos (2003, p. 63), os futuristas exaltavam “[...] a
máquina e as realizações da ciência moderna, através do dinamismo nas telas”. Para
representar a realidade dinâmica, utilizavam cores vivas e formas que evocassem o
movimento. Destacam-se os artistas Carlo Carrà (1881–1966), Umberto Boccioni
(1882–1916), Giacomo Balla (1871–1958) e Luigi Russolo (1885–1947). Na figura a
seguir, temos um exemplo de obra futurista, de Umberto Boccioni.
Vemos que as diferentes vanguardas aconteceram em um período
relativamente curto, em meio a um contexto marcado por progressos industriais,
grandes conflitos políticos e intensas mudanças sociais. Os experimentalismos nas
68
artes, nas pinturas, esculturas e outras, abre caminho para uma nova forma de se
expressar frente às adversidades vividas pelo homem do início do século XX.
Essas mudanças nas artes plásticas desencadearam uma nova fase na
arquitetura, abrindo caminho para o Movimento Moderno. As tendências artísticas,
marcadas por “[...] formas abstratas e integração entre espaço, movimento, luz e até
mesmo o som”, se refletiram nas experiências arquitetônicas (PROENÇA, 2009, p.
276).
Fonte: https://pt.wahooart.com/
O De Stijl
Fonte: https://laart.art.br/
Do ponto de vista literário, nesse período surgiu um público leitor que estimulou
o tratamento de certos temas diferentes daqueles que predominavam nas obras
procedentes do exterior, principalmente a bibliografia francesa. Assim, ampliou-se o
mercado editorial em espanhol e em português. Difundiram-se obras de poetas latino-
americanos, como Cesar Vallejo (Peru), Pablo Neruda (Chile) e Nicolás Guillén
(Cuba). Da mesma forma, houve uma proliferação de romances, que pretendiam dar
a conhecer a sociedade latino-americana, suas características e seus problemas.
Podemos citar Mariano Azuela e Carlos Fuentes (México), Alejo Carpentier (Cuba),
José Eustasio Rivera (Colômbia), Rómulo Gallegos (Venezuela), Jorge Icaza
(Equador), Roa Basolltos (Peru), Miguel Angel Asturias (Guatemala), Jorge Luis
Borges, Julio Cortázar, Beatriz Guido, Ernesto Sábato, Juan Carlos Onetti (Argentina)
e, no Brasil, José Lins do Rego, Graciliano Ramos, Jorge Armado, entre outros. Esses
autores assemelham-se por uma narrativa que permite conhecer mais os problemas
e as realidades desses países. (BAUER, 2020).
Houve também um florescimento de ensaios e do teatro. De acordo com
Capelato (2005, documento on-line),
Fonte: https://sylviacolombo.blogfolha.uol.com.br/
[...] o pintor uruguaio Torres-García, em uma de suas obras [...] virou o mapa
da América do Sul de ponta cabeça [Figura 2] e com relação a essa imagem,
afirmou: “Nós temos ideia da nossa verdadeira posição, nos vemos não como
o resto do mundo gostaria de nos ver”. A obra expressa não apenas o desejo
74
de definir uma identidade própria, rompendo com a tradicional dependência
do sul em relação ao norte, mas também o dilema de muitos artistas latino-
americanos relacionados à seguinte questão: como produzir uma arte não
colonizada.
Fonte: https://br.pinterest.com/
75
Na arquitetura, são dignos de destaque: Oscar Niemeyer e Lucio Costa (Brasil),
José Vilagrán García (México), Sérgio Larrain (Chile). Na música, tivemos Heitor Villa-
Lobos (Brasil), Carlos Chávez e Silvestre Revueltas (México), Alberto Ginastera
(Argentina) (BEYHAUT; BEYHAUT, 1985).
Como transformações culturais impulsionadas pela modernização, podemos
citar ainda as revistas literárias, os cafés, as associações, os cineclubes, grupos
teatrais, oficinas artesanais (BEYHAUT; BEYHAUT, 1985). Quanto à dança, a relação
com o corpo mudou significativamente a partir das vanguardas:
77
e ultrapassados, e, de maneira geral, rechaçavam as tendências artísticas do século
XIX.
Artistas ligados ao movimento modernista brasileiro tiveram grande contato
com representantes das vanguardas europeias. Este foi o caso, por exemplo, de
Tarsila do Amaral, uma das mais expressivas representantes do modernismo no Brasil
dos anos 1920. A artista não participou da Semana de Arte Moderna de 1922 porque
estava na Europa, mas quando voltou ao Brasil, junto com o literato Oswald de
Andrade, integrou-se no movimento modernista. O casal teve uma participação
decisiva na renovação cultural brasileira (CAPELATO, 2005, documento on-line).
Fonte: https://vejasp.abril.com.br/
Fonte: https://digartmedia.wordpress.com/
80
Na contramão da maioria dos críticos, Benjamin não se posicionou contra o
surgimento das tecnologias reprodutivas da imagem, argumentando que a invenção
da fotografia havia transformado a própria natureza da arte. Em meio ao debate sobre
o assunto, a questão levantada por Benjamin (1975, p.19-20) no seu ensaio sobre A
obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica foi inquietante: “Gastaram-se
vãs sutilezas a fim de se decidir se a fotografia era ou não arte, porém não se indagou
antes se essa própria invenção não transformaria o caráter geral da arte”.
Santaella (2008) lembra que após a Segunda Guerra Mundial as ideias de
Benjamin foram retomadas por alguns críticos importantes como André Malraux,
Edgar Wind e John Berger. Em seu livro Vozes do Silêncio, Malraux (1954) propôs
sua teoria do museu sem muros com os seguintes argumentos: (a) os museus
mudaram irreversivelmente o modo como a arte é experimentada; (b) as milhares de
reproduções fotográficas da arte constituem um “museu imaginário”, portanto, um
museu sem muros; (c) o museu imaginário dá continuidade ao museu físico,
disponibilizando ao indivíduo a arte de todos os tempos e todos os espaços.
(SANTAELLA, 2008).
Wind (1960), por sua vez, durante a conferência sobre “A mecanização da arte”,
desenvolveu a ideia de que a reprodução fotográfica da arte age retroativamente
sobre o modo como experienciamos diretamente as obras de arte. Por isso mesmo, o
receptor tem muitas vezes uma sensação de anticlímax quando vê uma obra pela
primeira vez, depois de tê-la visto repetidamente em variadas reproduções.
Em uma série sob o título de Modos de ver, preparada para a televisão, sob a
direção de Michael Dibb (BBC 2, 1972), Berger retomou as ideias de Benjamin,
colocando ênfase no potencial político, da nova situação resultante dos ambientes ou
linguagens da imagem (cf. WALKER, 1994, p.74).
Em suma, as preocupações e predições de que a fotografia provocaria a morte
da pintura ficaram longe de se realizar, pois, contrariando os críticos conservadores,
a fotografia trouxe novos estímulos para a pintura de maneiras variadas, pois a
fotografia transformou, antes de tudo, os nossos modos de ver. Ela trouxe para nós
possibilidades de visualização que seriam impossíveis a olho nu. Ela acabou por
revelar que nosso próprio olhar é também fruto de uma construção com potenciais e
limites definidos, uma construção dependente de pontos de vista física e culturalmente
instituídos, dependente da proximidade ou distância físicas e ideológicas que
81
estabelecemos com os objetos percebidos. Podemos afirmar que, de certa forma, foi
a fotografia que acabou com o mito de que nosso olhar é algo natural e inocente.
A partir de 1839, a pintura passou a dialogar com a fotografia, e esse diálogo
continua até hoje. Os pioneiros da fotografia instantânea ou cronofotografia, Etienne-
Jules Marey e Eadweard Muybridge, exerceram uma profunda influência sobre os
artistas, desde o futurismo, especialmente Giacomo Baila, Mareei Duchamp e Kurt
Schwitters, até os cineastas de vanguarda de meados do século XX, como Hollis
Frampton e Stan Brakhage. Seurat, Degas e outros artistas encantaram-se com a
habilidade da câmera para capturar a sucessão do movimento em imagens fixas.
Quando propuseram uma estética mecanística, os futuristas estavam abraçando a
tecnologia fotográfica e aplicando-a em suas pinturas. (SANTAELLA, 2008).
A partir da invenção da fotografia, os pintores deixaram seus ateliês para flagrar
a vida cotidiana do mesmo modo que os fotógrafos. Segundo Virílio (1994, p. 52):
Fonte: https://www.causaoperaria.org.br/
Dentre todos, Santaella (2008) afirma que Eisenstein é aquele que chama a
atenção pela interação dinâmica que promoveu entre arte, tecnologia e vida no
período vanguardista da União Soviética, de 1915 a 1932. Ele despontou como um
novo tipo de artista midiático, com formação em matemática, engenharia e arte, tendo
sido, por alguns anos durante sua juventude, o designer teatral do diretor vanguardista
V. Meyerhold. Promovendo ligações entre o construtivismo, o cubismo e a cultura
teatral e poética do Oriente, Eisenstein desenvolveu uma teoria e uma prática de
montagem cinematográfica que lhe permitiu manipular respostas emocionais por meio
de processos de justaposições tensas de imagens que a edição cinematográfica
possibilita. Dada sua formação na tecnologia da engenharia aliada à sua sensibilidade
estética, Eisenstein representa o paradigma perfeito do artista tecnológico
(MACHADO, 1982).
Santaella (2008) comenta algo muito significativo ocorrido na ocasião. Segundo
a autora,
85
com essas invenções que, no estado da arte atual, encontram-se na incorporação da
animação computacional tridimensional e no frenesi dos efeitos especiais.
A segunda metade do século XX foi composta por uma série de eventos que
romperam com a ideia moderna de linearidade entre os movimentos artísticos. Além
das inovações tecnológicas que acarretaram a disseminação de informações com
certa rapidez, houve a consolidação das lutas políticas contra o racismo e em prol da
liberdade das mulheres. O mundo pós-guerra estava pronto para estabelecer uma
nova relação entre arte e vida ao romper com os limites da arte moderna.
Com o surgimento da Pop Art, nos anos 1960, ficou difícil continuar a
delimitação da produção artística a partir das ideias de evolução histórica da arte
86
moderna. Afinal, Greenberg, o principal crítico modernista, havia se colocado contra o
novo estilo artístico. Para ele, tal estética rompia com os preceitos de originalidade e
expressividade da arte moderna. A Pop Art, por exemplo, apresentava réplicas de
objetos de consumo, como as caixas de sabão Brillo produzidas por Andy Warhol.
Esse trabalho mostrava que não seria mais possível distinguir a arte dos objetos
cotidianos e da realidade a partir da simples constatação visual. A ruptura com a ideia
de arte enquanto algo original é levada a novos caminhos por Mike Bidlo, que realiza
cópias de obras de diversos artistas, principalmente modernistas. Entre suas diversas
réplicas, encontra-se Not Warhol (Figura abaixo). Nesse trabalho, o artista reproduz
as Brillo Boxes de Warhol. As questões sobre originalidade e reprodutibilidade tornam-
se centrais nesse tipo de produção e refletem uma das dimensões de análise da Pós-
Modernidade: a confusão entre o real e a fantasia. (BATISTA, 2019).
Fonte: https://br.pinterest.com/
[...] novidade não mais podia ser critério de julgamento pois a novidade ou a
originalidade, como eram percebidas, não podiam ser alcançadas, podendo
até mesmo se mostrar fraudulentas. Tudo já havia sido feito; o que restava
era juntar fragmentos, combiná-los e recombiná-los (ARCHER, 2012, p. 156).
A certa altura ficou claro que não mais se tinha um modo satisfatório de
pensar, como ficou evidente pela necessidade de se inventar o termo “pós-
moderno”. Esse termo em si mesmo denunciava a relativa fraqueza do termo
“contemporâneo” como passível de comunicar um estilo. [...] Mas talvez o
termo “pós-moderno” de fato pareceu [...] designar certo estilo que podemos
aprender e reconhecer, do mesmo modo como aprendemos e reconhecemos
exemplos do barroco ou do rococó (DANTO, 2006, p. 14).
Fonte: http://www.syberberg.de/
Os artistas pós-modernos não buscam uma obra estável e original, pois muitos
estruturam as suas produções a partir de citações, cópias, referências. Eles fazem
colagens fora do senso histórico, sem organizar o tempo de modo linear; por isso, são
acusados de produzir uma arte superficial. As suas obras podem comportar diferentes
modos de organização e produção. As obras de Anselm Kiefer, como Maikäfer Flieg
89
(figura abaixo), por exemplo, examinam a noção de identidade alemã a partir do ponto
de vista histórico. A série de pinturas do artista chamada Terra devastada, de 1974,
explora paisagens esfumaçadas pela queima de palha e pela guerra (ARCHER,
2012).
O feminismo também ganha corpo na arte pós-moderna, principalmente nas
produções de Jenny Holzer, Sherrie Levine, Louise Lawler, Bárbara Kruger e Cindy
Sherman. As estratégias adotadas por tais artistas são diversas. Cindy Sherman, por
exemplo, questiona a relação entre o feminismo e o consumo. As suas fotografias da
série Imagens de vômito apresentam corpos distorcidos e comida podre com cores
atraentes. Holzer também explora a relação entre feminismo e consumismo ao colocar
pôsteres em camisetas ou cabines telefônicas com frases do tipo “Proteja-se do que
eu quero” (ARCHER, 2012).
Fonte: https://br.pinterest.com/
90
A abertura propiciada pela arte pós-moderna deu destaque à arte pública,
inclusive à arte do grafite, que estava se difundindo em diversos locais do mundo. As
obras de Keith Haring, que representam figuras de animais e pessoas, ocupam o
espaço das estações de metrô, posteriormente marcando presença nas galerias de
arte. Muitas de suas obras consistem em cartazes negros com desenhos em giz, como
mostra a imagem abaixo.
O espaço da arte também é problematizado e ampliado por Jan Hoet, que toma
emprestadas áreas das residências de diversas famílias para realizar a sua exposição
Chambres d’Amis. Para visitar a exposição, as pessoas deveriam utilizar um mapa
das obras a fim de transitar por entre a cidade e bater nas portas das casas onde os
objetos estavam expostos.
Com relação ao uso de novos materiais pela arte, há uma série de artistas que
exploram materialidades específicas. Reinhard Mucha utiliza objetos encontrados no
espaço da exposição para criar as suas obras compostas por portas, materiais
descartados, etc. A utilização de materiais industriais para produzir arte também
ganha destaque na Pós-Modernidade. Esse tipo de material já era comum entre os
dadaístas, principalmente nas obras de Marcel Duchamp que ficaram conhecidas
como ready-made. Entretanto, artistas como Haim Steinbach tinham interesse no
estilo de vida propiciado pela ampla possibilidade de consumo de objetos
industrializados. A sua obra Relacionados e Diferentes explora a relação entre a
diversidade de modos de consumo (BATISTA, 2019).
A Pop Art foi o movimento de transição entre a arte moderna, ainda guiada
pelos movimentos de vanguarda, e a arte pós-moderna, centrada na integração entre
as diferentes correntes artísticas e as imagens da atualidade. O termo inglês pop art
pode ser traduzido como “arte popular”. Entretanto, a Pop Art não trata das mesmas
questões que costumam ser englobadas pela expressão “arte popular”. Afinal, a Pop
Art trabalha com imagens da cultura de massa, enquanto a arte popular refere-se à
arte produzida por comunidades específicas.
De acordo com Archer (2012), as experimentações artísticas do final da década
de 1950 que prezavam pelo corriqueiro e pelo acaso convergiram em dois movimentos
artísticos: o Minimalismo e a Pop Art. Enquanto o Minimalismo trabalhava com uma
91
abordagem formal, evitando os excessos ao produzir uma arte impessoal, a Pop Art
utilizava imagens da cultura de massa para criar produções mecânicas e sem
expressão, uma espécie de reprodução voltada ao consumo.
No que diz respeito aos temas da Pop Art, sua própria banalidade era uma
afronta aos críticos. Sem uma evidência mais clara de que o material havia
passado por algum tipo de transformação ao ser incorporado à arte, não se
podia dizer que a própria arte ofereceria qualquer coisa que a vida já não
proporcionasse (ARCHER, 2012, p. 11)
92
A Pop Art tornou o cenário artístico mais dinâmico, possibilitando a livre
comercialização das obras. Os artistas aceitaram a arte como produto, e a imprensa
divulgava a ideia de uma arte divertida. A oposição à arte expressionista abstrata
parecia ser a melhor saída para o artista da época, que não precisava continuar
contestando a burguesia por meio de atitudes boêmias. Lembre-se de que as
vanguardas artísticas buscavam uma arte de ruptura com os sistemas sociais,
principalmente de ruptura com a burguesia. Os artistas viviam uma imensa
contradição: ao mesmo tempo em que negavam a ordem social estabelecida,
precisavam ser aceitos para conseguirem comercializar as suas obras. Entretanto, a
partir da Pop Art, os artistas passaram a viver entre os burgueses, pois não tinham
medo de serem confundidos com eles. Como certa vez “[...] disse Warhol [...]: nada é
mais burguês do que ter medo de ser burguês”. (WOLFE, 2009, p. 93).
Além de contestar o Expressionismo Abstrato que tomava conta do mercado
norte-americano, a Pop Art buscava romper com a distinção entre cultura de elite e
cultura de massa. Tal ruptura, contudo, não foi bem-sucedida. Afinal, as pinturas
criadas na Pop Art não atingiam o grande público e recebiam um alto valor agregado
quando eram comercializadas nas galerias de arte, devido à sua autenticidade. Seria
mais coerente dizer que a Pop Art contaminou a cultura de elite com a cultura de
massa.
Em suma, a Pop Art surgiu como uma arte jovem e de ampliação da atuação
do artista, que poderia utilizar qualquer imagem que a cultura de massa lhe
oferecesse. Nas palavras do artista Richard Hamilton (apud FARTHING, 2011, p. 484–
485), a Pop Art buscava ser: “[...] popular (feita para o grande público); efêmera
(extinção em curto prazo); descartável (facilmente esquecível); barata; produzida em
massa; jovem (dirigida para a juventude); espirituosa; sexy; ‘macetada’; glamourosa;
big business”. Como se pode perceber, produzir arte para o consumo deixou de ser
um problema ético entre os artistas.
Os artistas de vanguarda se opunham ao consumismo e à cultura de massa.
Já os artistas da Pop Art não se preocupavam com a separação entre a arte e o
consumo. Na verdade, os artistas da Pop Art se interessavam por uma nova
abordagem, baseada em princípios estéticos que utilizavam as referências da cultura
de massa para criar uma arte desprovida de crítica social. É claro, contudo, que houve
93
produções artísticas que foram exceções ao fazer críticas ao consumismo e à
massificação.
A Pop Art começou a decair ainda no final da década de 1960. Ela se constituiu
como uma referência da arte pós-moderna ao questionar a relação do artista com o
mercado da arte num mundo repleto de propagandas e imagens vinculadas à
94
sociedade de consumo. Pode-se dizer que a Pop Art liberou o artista do puritanismo
que buscava um distanciamento entre a arte e o mercado. Dessa perspectiva, o artista
poderia experimentar todas as imagens do mundo para criar arte sem se preocupar
com a expressão ou com a produção de crítica social.
A Pop Art não foi um movimento coerente. Assim, cada artista explorava à sua
maneira as imagens midiáticas e os produtos de consumo de massa. Alguns
produziam colagens de imagens advindas de revistas ou anúncios publicitários,
enquanto outros utilizavam técnicas de serigrafia, pintura ou escultura a fim de
representar objetos de consumo. Os primeiros artistas a trabalhar com a nova estética
foram os ingleses, mas os norte-americanos deram grande repercussão ao
movimento. (BATISTA, 2019).
Richard Hamilton (1922–2011) participava do Grupo Independente, que havia
se formado em Londres para discutir arte contemporânea na década de 1920. O
interesse comum entre os integrantes do grupo era a cultura de massa e a sua
reprodutibilidade (FARTHING, 2011). Hamilton elaborou uma colagem com o título O
que é que torna os lares de hoje tão diferentes, tão atraentes? (Imagem abaixo),
consagrando-se como um dos artistas pioneiros de um novo modo de pensar as
contaminações entre arte erudita e cultura de massa.
A obra de Hamilton é referência para o surgimento da Pop Art. Nela, o artista
utiliza colagens de revistas americanas para produzir um lar totalmente vinculado aos
novos ideais pop, que focavam na representação de uma arte jovem e sexy que fosse
descartável. Na imagem, um fisiculturista segura um pirulito vermelho de dimensão
colossal numa sala repleta de utensílios ultramodernos; uma mulher nua aparenta
estar sentada no sofá numa pose sexy, enquanto outra vestida faz a limpeza do
ambiente; por trás da televisão, há quadros dependurados na parede, e um deles
refere-se a um recorte de história em quadrinhos. Além disso, a translucidez da janela
da sala permite a visualização de um ambiente moderno, repleto de propagandas nas
fachadas dos estabelecimentos.
Hamilton ilustrou como a intimidade do lar das pessoas estava sendo
reconfigurada a partir da invasão das imagens midiáticas de consumo. A
transformação não se dava apenas nos objetos de consumo, mas no próprio corpo
95
dos sujeitos, que precisavam ser magros e ter músculos definidos, símbolos de
sensualidade e sexualidade. Em Swingeing London III, Richard Hamilton continou
revelando o seu interesse pela dimensão doméstica. A obra retrata a prisão de Mick
Jagger e de Robert Fraser devido às drogas. Hamilton utilizou uma fotografia
jornalística como base para a pintura.
Fonte: [O que é que torna os lares de hoje tão diferentes, tão atraentes?]
96
que repetia diversas vezes a mesma imagem, omitindo o gesto artístico da pincelada
— tão valorizada na arte moderna, principalmente no Expressionismo Abstrato.
[...] queria ser uma máquina, [...] que no futuro todas as pessoas seriam
famosas por quinze minutos e [...] que todos nós bebemos Coca-Cola e
nenhuma soma de dinheiro dará ao presidente dos EUA uma garrafa melhor
do que aquela que o vagabundo de esquina bebe (ARCHER, 2012, p. 11).
97
O artista Roy Lichtenstein criticava abertamente o Expressionismo Abstrato ao
produzir pinturas detalhadas voltadas à comercialização. As suas obras retratam
quadros de histórias em quadrinhos, ilustrando a futilidade desse tipo de arte, que
transformava a violência e a guerra em temas para heróis agressivos. As pinturas de
Lichtenstein possuem uma aplicação técnica extremamente elaborada que simula a
textura industrial com que os quadrinhos eram impressos.
Como o resultado era tão seco e “não emocional”, era possível acreditar que
não fora realizada absolutamente nenhuma interpretação. Seus quadros, à
primeira vista, pareciam ter um estilo tão mecânico quanto o material original,
embora seja evidente [...] a ideia da arte como atividade expressiva das
emoções, está sendo considerada de modo irônico (ARCHER, 2012, p. 6).
99
9.4 A Pop Art no Brasil
A expansão da Pop Art foi rápida. Essa corrente artística teve reverberações
no Brasil logo após o seu surgimento, principalmente em São Paulo e no Rio de
Janeiro. Afinal, na década de 1960, o Brasil já possuía alguns grandes centros que
disseminavam produções artísticas de relevância mundial. Já acontecia, por exemplo,
a Bienal de Arte de São Paulo. Além disso, circulavam publicações da área.
Entretanto, a arte de referência pop produzida no Brasil era muito diferente das
produções dos artistas norte-americanos. “Se lá percebe-se o tratamento distanciado,
irônico e cool que artistas como Lichtenstein e Warhol dão às imagens de segunda
geração com que trabalham, aqui é nítido um engajamento do artista brasileiro em
relação à imagem escolhida no ‘banco de dados’” (CHIARELLI, 2002, p. 104). Desse
modo, a frieza com que os artistas norte-americanos tratavam as imagens foi
substituída no Brasil por uma intenção retórica de crítica social.
Diversos artistas utilizaram referências pop em sua arte. Chiarelli (2002) afirma
que José Roberto Aguilar (1941), Rubens Gerchman (1942–2008) e Antônio Dias
(1944–2018) foram os artistas que começaram a seguir a nova estética ainda na
década de 1960. Mais tarde, outros artistas exploraram os caminhos abertos pela Pop
Art, entre eles Humberto Espíndola (1943), Antônio Henrique Amaral (1935–2015) e
João Câmara (1944).
Rubens Gerchman foi um dos artistas que introduziram a estética pop no Brasil.
As suas obras retratam cenas advindas da vida moderna, tais como partidas de
futebol, histórias em quadrinhos ou imagens de telenovelas. O cotidiano, portanto, era
parte importante do trabalho de Gerchman, que considerava digno de ser tema da
pintura tudo o que encontrava em seu entorno, como as pessoas transitando nas ruas
ou os casais namorando.
Além disso, as suas obras fazem uso recorrente das imagens midiáticas. De
acordo com Macedo e Chisté (2016), o uso de imagens midiáticas no trabalho de
Gerchman está ligado ao período em que o artista viveu nos Estados Unidos e à sua
experiência profissional como diagramador da editora Manchete. “Imagens que
ocupam os meios de comunicação de massa passam a figurar nas gravuras de
Gerchman. Dessa forma, as manchetes de jornal ou a experiência cotidiana de uma
partida de futebol ganham a dimensão estética” (MACÊDO; CHISTÉ, 2016,
documento on-line).
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Entre as diversas exposições e mostras, a Estética do futebol e outras imagens
contém gravuras retratando os ídolos e as imagens que circundam esse esporte. Ora
o artista retrata os lances da partida de futebol, dando ênfase aos dribles e gols
marcantes, ora se atém aos retratos aproximados dos jogadores, revelando a sua
pessoalidade.
Na pintura Os super-homens (Figura abaixo), o artista retratou jogadores de
futebol posando para uma foto antes da partida. A frase “Os super-homens” foi escrita
na parte superior da imagem, passando a ideia de que aqueles jogadores eram
responsáveis por trazer alegria às pessoas que viviam a ditadura militar. Ao mesmo
tempo em que a obra apresenta uma estética pop, ela também traz uma crítica social
à ditadura. Durante o período em que o artista esteve nos Estados Unidos, ele também
ajudou na articulação do boicote à Bienal de São Paulo, que havia sido censurada
pelo regime ditatorial.
Para Judd, o aspecto vazio desta arte era sintomático do que ele via como a
crescente irrelevância das atitudes estéticas tradicionais. Seu trabalho era
simples e formalmente aplainado por um desejo de não empregar efeitos
composicionais. A composição enfatiza relações internas entre as várias
partes de uma obra e, com isso, minimiza o impacto da obra como um todo
(ARCHER, 2012, p. 46).
Na figura abaixo, você pode observar uma obra de Donald Judd e ver como ele
explora os elementos da visualidade por meio da construção de objetos similares aos
fabricados pelas indústrias. Todo gesto expressivo é evitado para dar forma a um
objeto mecânico, numa atitude similar à que levou aos ready-made de Duchamp. Judd
utilizou o mínimo de elementos compositivos — no caso, o retângulo, que é repetido
inúmeras vezes na estrutura do objeto. Todas as faces são retangulares, inclusive a
parte vazada do paralelepípedo.
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Fonte: [Donald Judd] (2013, documento on-line).
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projetos a partir de materiais prontos ou contratando outras pessoas para construí-los.
A obra Diagonal de 25 de maio de 1963, de Dan Flavin (Figura abaixo), consiste numa
lâmpada fluorescente amarela disposta na parede, formando uma linha diagonal com
ângulo de 45 graus. O artista não pretendia expressar sentimentos ou emoções, pois
criava um ambiente único ao brincar com a luz para transformar a galeria de arte. As
suas obras que exploram luzes fluorescentes rompem definitivamente com a divisão
entre pintura e escultura ao unir as duas linguagens artísticas para alterar os aspectos
do espaço. (BATISTA, 2019).
Minha obra é [...] estética porque não possui forma transcendente, nem
qualidades intelectuais ou espirituais. Materialista, porque é feita com seus
próprios materiais, sem pretensão de empregar outros. E é comunista, porque
sua forma é acessível a todos os homens (ANDRE apud FARTHING, 2011,
p. 522).
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Na obra Plano em aço e zinco (Figura abaixo), ele dispôs no chão 18 placas de
aço e 18 de zinco, formando uma imagem que lembra um tabuleiro de xadrez. A obra
possibilita que as pessoas caminhem sobre ela ou a explorem por meio do tato. Desse
modo, André cria uma nova relação entre obra e observador, que não precisa observar
a distância e de maneira passiva.
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REFERÊNCIAS
BIBLIOGRAFIA BÁSICA
STANGOS, Nikos. Conceitos da arte moderna. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.,
2000.
ZOLBERG, Vera L. Para uma sociologia das artes. São Paulo: SENAC-SP, 2006.
BILBIOGRAFIA COMPLEMENTAR
BAY, Dora Maria Dutra. Arte e Sociedade: pinceladas num tema insólito. Cadernos
de Pesquisa Interdisciplinar em Ciências Humanas. ISSN 1678-7730 Nº 78 –
FPOLIS, Março de 2006.
COLI, Jorge. O que é Arte. 15ª ed. Editora Brasiliense, São Paulo – SP, 1995.
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SANTAELLA, Lucia. Por que as comunicações e as artes estão convergindo? —
São Paulo: Paulus, 2005.
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