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O que é Arte

Por que a necessidade da arte?


“Porque o homem não se basta”.
Ferreira Gullar

Por que milhões de pessoas leem livros, ouvem música,


vão ao teatro e ao cinema?
 Por que reagimos em face dessas “irrealidades” como se
ela fossem a realidade intensificada?
 Que estranho, misterioso divertimento é esse?
 Um dos males da sociedade atual é que a própria
angústia da condição humana só pode ser sentida por
uns poucos. Esse tipo de angústia é hoje em dia um
privilégio dos que dispõem de ócio.
E, se alguém nos responde que almejamos escapar
de uma existência insatisfatória para uma
existência mais rica através de uma experiência
sem riscos, então uma nova pergunta se apresenta:
Por que nossa própria existência não nos basta?
Por que esse desejo de completar a nossa vida
incompleta através de outras figuras e outras
formas?
Por que, da penumbra do auditório, fixamos o nosso
olhar admirado em um palco iluminado, onde
acontece algo que é fictício e que tão
completamente absorve a nossa atenção?
Fischer, Ernst. A Necessidade da Arte. 9. ed. Rio de Janeiro: LTC, 1987, p. 12.
O Que é Arte
Dizer o que é Arte é coisa difícil
• A nossa ideia diante da “arte” é de
admiração: sabemos, diante deles,
predispomo-nos a tirar o chapéu.
• Arte são certas manifestações da
atividade humana diante das quais nosso
sentimento é admirativo, isto é: nossa
cultura possui uma noção que denomina
solidamente algumas de suas atividades e
as privilegia.
Mona Lisa
Davi
Guernica - Pablo Picasso, 1937
Ao expor, em 1917, um vaso sanitário como se fosse obra de arte, Marcel Duchamp o assinou
com o pseudônimo R. Mutt seguido da data de “concepção da peça” – 1917. É possível que até
hoje cultores e críticos da invasão das galerias pela materialidade do trato fecal, não se tenham
dado conta de que Mut é a palavra alemã para vira-lata.
• A arte é noção sólida e privilegiada, ela possui
limites imprecisos?
• Para decidir o que é ou não arte, nossa cultura
possui instrumentos específicos. Um deles,
essencial, é o discurso sobre o objeto
artístico, ao qual reconhecemos competência e
autoridade.
- O discurso do critico, do historiador da arte,
o perito, conservador de museu – São eles
que conferem o estatuto de arte a um objeto?
- Nossa cultura também prevê locais específicos
onde pode manifestar-se, locais que dão
estatuto de arte a um objeto?
Os Modos dos Discursos
o O que cria uma hierarquia dos objetos
artísticos?
o Por que Charles Chaplin é considerado gênio e
o cearense Chico Anísio não é?
o Os objetos são mais “arte” que outros e os
“artistas” melhores que outros?
o A critica,tem o poder não só de atribuir o
estatuto de arte a um objeto, mas de
classificar numa ordem de excelências,
segundo critérios próprios.
o Existe um conceito de obra-prima?
o A obra-prima, no passado, era julgada a partir
de critérios precisos de fabricação, por
artesãos que dominavam perfeitamente as
técnicas necessárias.
o Cézanne é tido hoje em dia como um dos
maiores nomes da pintura de todos os tempos.
Porém, não podemos esquecer que o
reconhecimento do seu valor foi tardio:
enquanto viveu, o consenso geral recusou-se a
julgá-lo positivamente, e esse também foi o caso
de Van Gogh.
II A Busca do Rigor
• Os discursos que determinam o estatuto e o
objeto das artes não são unânimes nem
constantes. Sua segurança enquanto critério de
julgamento já pode ser, num primeiro tempo,
questionada: eles podem ser contraditórios
tanto na atribuição do estatuto da arte quanto na
determinação da hierarquia. P.25
• O instrumento primeiro e mais frequente desse
desejo de rigor é o das categorias de
classificações estilísticas. P.25
Os estilos
 Falando de arte, referimo-nos a impressionismo,
surrealismo, romantismo, rococó, a um estilo
cretense, helenístico ou egípcio. P. 31
Que estilo é tal pintor?
 Essa atitude pode ser pacificadora, mas não é
satisfatória. Pois as obras são complexas, e é
de sua natureza escapar às classificações;
pois as classificações são complexas e nunca
se reduzem a uma definição formal e lógica;
pois a relação entre as obras e os conceitos
classificatórios é, sobretudo, complexa. P. 31
Wölfflin, Princípios Fundamentais da História da
Arte, 1915.
Cinco categorias duplas, em oposição, que permitiram caracterizar
o classicismo e o barroco. São as seguintes:
1. O classicismo é linear, o barroco, pictural;
2. O classicismo utiliza planos, o barroco, a profundidade;
3. O classicismo possui uma forma fechada, o barroco, aberta;
4. O classicismo é plural, o barroco, unitário;
5. O classicismo possui uma luz absoluta, o barroco, relativa.

Michelangelo na primeira década do século XVI, Sagrada Família


com João Batista e Rubens em 1630 representa a Sagrada
Família acrescentada Sant’Ana.
Michelangelo Buonarroti, A Sagrada Família
Peter Paul Rubens, A Sagrada Família
Diferenças consideráveis:
 O aspecto plástico, tátil, que no quadro de
Michelangelo atraía nossas mãos, diminui muito: ao
caráter palpável dos volumes substituiu-se sua
aparência puramente visual.
 Os limites lineares deixaram de ser preciosos, as
carnes e os tecidos não refletem mais a luz e
passaram a ser o suporte de uma vibração luminosa
introduzindo um modelo muito menos definido.
 Os objetos não se encontram mais isolados entre si,
mas se ligam, através de passagens suaves, uns aos
outros.
Rafael, A Escola de Atenas
Peter Paul Rubens, O Rapto das Sabinas
Jacques-Louis David, As Sabinas
III Arte para Nós

 História da arte, critica, museu, teatro, cinema


de arte, salas de concerto, revistas
especializadas: instrumentos da instauração
da arte em nosso mundo. Eles selecionam o
objeto artí, apresentam-no ou tentam
compreendê-lo – por meio deles a arte existe.
 (...) as obras possuem com que uma
“essência” artística, um valor “em si”,
intrínseco e imanente, que lhes garantia o
“ser” obra de arte, ser perene (...). P.65-66
 A noção de arte que hoje possuímos – leiga,
enciclopédica – não teria sentido para a artesão
– artista que esculpia os portais românticos ou
fabricava os vitrais góticos.
 Desse modo, o “em si” da obra de arte, ao qual
nos referimos, não é uma imanência, é uma
projeção. Somos nós que enunciamos o “em si”
da arte, aquilo que nos objetos é, para nós, arte.
 (...) É difícil delimitar a linha que separa os
objetos artísticos dos não artísticos: isso vem
em parte do fato de que essa vocação
enciclopédica do “para nós” é onívora.

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