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Mosteiro de
Alcobaça.
O Claustro do
Silêncio e a Sala
das Conclusões
Irene Frazão
Conservadora-restauradora,
Direção-Geral do Património Cultural
Maria Fernandes
Arquiteta,
Direção-Geral do Património Cultural
Isabel Costeira
Arqueóloga, Direção-Geral do
Património Cultural, Mosteiro de
Alcobaça
Filipa Avellar
Investigadora nas áreas de epigrafia
e paleografia
J
Claustro do Silêncio, pormenor
de gárgula no piso superior.
Antes e depois da intervenção.
MSaavedra; Nova Conservação,
2013 e 2014.
ficos (cartelas), onde se executou o regramento grafitando a conservação e restauro das pinturas que se encontravam sujas
traço fino linhas duplas paralelas para nortear o texto, regular e alteradas e parcialmente ocultas por caiação, dos azulejos
o tamanho da letra e delimitar os espaços interlineares. O uso com faltas e degradados, das cantarias cobertas por inúmeros
de linhas auxiliares grafitadas a fino é característica do atelier estratos de caiações, além da realização de sondagens siste-
epigráfico de Alcobaça, e prática que vem dos tempos medie- máticas na sanca e paramentos rebocados. Nestas sondagens
vais. Note-se que as inscrições n.os 6, 7 e 8 têm emendas, es- pesquisou-se a existência de camadas com acabamentos sig-
pecialmente em palavras que foram divididas pela mudança de nificativos, procurando encontrar uma solução de apresenta-
linha, indiciando erros na ordinatio talvez pela intervenção de ção para a sanca e paredes que estivesse relacionada com as
um segundo ordinator menos experiente (2.ª fase). Por último, diversas ocupações, autenticidade, valor estético coerente e
as inscrições foram definitivamente pintadas a preto por um em harmonia com o património integrado existente. Resulta-
ou mais pintores especializados na pintura a fresco (3.ª fase). dos obtidos: a conservação e restauro da pintura devolveu uni-
As oito inscrições pintadas, em letra capital quadrada, nas car- dade e esplendor ao teto, enriquecendo a leitura do espaço.
telas do teto da sala, entre uma decoração de ferroneries e A intervenção na pintura foi também ensejo para o estudo das
brutescos, cumprem na perfeição a sua funcionalidade: a de epígrafes cuja leitura era difícil, desse estudo se apresentando
publicitar e perpetuar uma memória. Após 1755, a mudança da breve nota neste mesmo artigo. Durante o tratamento dos azu-
Caza dos Reys para a localização atual permite que, em 1765, lejos, uma observação mais detalhada permitiu concluir que a
Fr. Nuno Leitão reduza a aula este espaço de sabedoria. Trans- grande lacuna que um dos painéis apresentava mais não era do
formada na Caza dos Atos Literários do novo Colégio de Nossa que o negativo da forma da mísula que suportava a escultura
Senhora da Conceição, receberá os retratos de todos os mon- de S. Bernardo quando aqui era a Sala dos Reis. Essa evidência
ges da Ordem que foram lentes condutários na Universidade histórica, significativa para a história do monumento, foi por
de Coimbra. isso mantida, sendo descartado o preenchimento com azule-
jos inicialmente previsto e que foi realizado para outras zonas
O património integrado da Sala das que apresentavam pequenas faltas resultantes de degrada-
Conclusões ção. Quanto às cantarias, que se pretendia apresentar a des-
coberto, verificou-se que algumas eram feitas em argamassa,
Esta sala de grandes dimensões teve diversas ocupações levando a crer que os vãos onde existiam tenham sido aber-
desde o final do século XVI: Casa Grande da Portaria, Casa dos tos posteriormente. Também as várias sondagens na sanca e
Reis (séc. XVII), Sala das Conclusões (2.ª metade do séc. XVIII), nas paredes foram, ao invés do que se esperava, totalmente
repartição de finanças (séc. XX). Do seu património integrado inconclusivas para a determinação de um anterior programa
destacam-se especialmente o teto pintado de brutescos, atri- decorativo que pudesse ser recuperado ou servisse de ponto
buído a Francisco Ferreira de Araújo, e os painéis de azulejos de partida para o tratamento cromático destas superfícies. As-
de padronagem azul e branco. Os objetivos principais eram a sim, tanto estas como as «cantarias» acabaram por ser apenas
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I K O K
Sala das Conclusões. Teto após Sala das Conclusões, teto. Cartela Sala das Conclusões, teto. Sala das Conclusões, em
a intervenção (fotomontagem). depois de Intervenção. Trabalhos de limpeza 1949, quando funcionava
Numeração das cartelas, a partir da Epígrafe: Tende sempre presente em pintura mural. como repartição das
direita e no sentido dos ponteiros do que todos cremos ser alguma coisa Nova Conservação, 2013. finanças.
relógio: 3 (SAP VI.12,14), 2 (SL 110.10), quando na verdade nada somos SIPA/DGPC.
1 (MELIFL PARF. SERM.42), 8 (SAB 6.11), (MELIFL PARF. SERM. 42) Sala das Conclusões,
7 (SAB 8.13), 6 (SAP 8.17-18), 5 (SAP MSaavedra/Nova Conservação, painel de azulejos. Trabalhos
12.19), 4 (SAP 10.21; 11.1-2). 2013 e 2014. de restauro.
Nova Conservação, 2014. Nova Conservação, 2013.
unificadas por meio de uma caiação de acabamento, levemen- Conclusões. Relatório de Intervenção. Arquivo DGPC/Departamento
te pigmentada. Com a presente intervenção, o espaço da Sala de Estudos, Projetos, Obras e Fiscalização (DEPOF), dezembro de
2013 [texto policopiado].
das Conclusões foi recuperado e valorizado do ponto de vista
material e estético2; mas foi também uma oportunidade para Nova Conservação — Mosteiro de Alcobaça. Requalificação e
conhecer melhor o monumento não só através dos estudos Valorização do Claustro D. Dinis. Relatório de Intervenção. Arquivo
DGPC/DEPOF, dezembro de 2013 [texto policopiado].
que a apoiaram ou foram por ela suscitados, mas também pelo
exame e análise das evidências físicas das espécies que consti- SANTOS, Fr. Manoel dos — Descrição do Real Mosteiro de Alcobaça.
tuem o património integrado da Sala. Alcobaciana, Colectânea Histórica, Arqueológica, Etnográfica e
Artística da Região de Alcobaça, introdução e notas por Aires
Augusto Nascimento. Alcobaça: Tipografia Alcobacense, L.da, n.º 3,
NOTAS 1979, p. 41.
1. A demolição do cineteatro do refeitório ocorreu em 1928, as FICHA TÉCNICA
alterações na igreja decorreram entre 1930 e 1934 e as demolições
e posteriores consolidações e correções no Claustro do Silêncio Conservação e restauro de materiais pétreos no Claustro do Silêncio
desenvolveram-se entre 1937 e 1955. O Instituto Português Data do projeto: 2010.
do Património Arquitetónico e Arqueológico (IPPAR) retomou Data da obra: 2013.
os trabalhos no Claustro a partir de 1986 com campanhas de Dono de Obra: DGPC.
conservação e substituição de coberturas. Fiscalização: Antónia Tinturé, Maria Fernandes.
Coordenação de segurança em obra: Júlio Antunes.
2. Para uma descrição completa desta intervenção deve ser Adjudicatário: Nova Conservação, L.da
consultado: Nova Conservação. Mosteiro de Alcobaça. Conservação Diretor técnico: Nuno Proença.
e Restauro de Elementos Decorativos, Tecto, Azulejos e Cantarias Coordenação em obra: Alexandre Sá Viana.
da Sala das Conclusões. Relatório de Intervenção. Arquivo DGPC/ Conservação e restauro da pintura mural do teto,
Departamento de Estudos, Projetos, Obras e Fiscalização (DEPOF), azulejos e cantarias da Sala das Conclusões
dezembro de 2013 [texto policopiado]. Data do projeto: 2010.
BIBLIOGRAFIA E FONTES Data da obra: 2013.
Dono de obra: DGPC.
FIGUEIREDO, Fr. Manoel de. — Historia Corográfica da Comarca de Fiscalização: Irene Frazão, Antónia Tinturé, Maria Fernandes.
Alcobaça 1781-1784, cap. «Das partes que formam o grande Mosteiro Investigação histórica: Isabel Costeira e Filipa Avellar.
de Alcobaça» (fls 23-24). BNL Alc. 1492. Coordenação de segurança em obra: Júlio Antunes.
Adjudicatário: Nova Conservação, L.da
Mosteiro de Alcobaça/Real Abadia de Santa Maria de Alcobaça.
Coordenação de equipas em obra:
SIPA, ficha de inventário. Disponível em www:<URL:http://www.
Alexandre Sá Viana (cantarias e gradeamento).
monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=4719. Consultado
Alexandra Joaquim (pintura mural).
em 14 de abril de 2015.
Fernando Duarte (revestimento azulejar).
Nova Conservação — Mosteiro de Alcobaça. Conservação e Restauro Estudo analítico e laboratorial: Laboratório Hércules,
de Elementos Decorativos, Tecto, Azulejos e Cantarias da Sala das Universidade de Évora.