Foto:Prefeiitura de Nova Lima

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 Nova Lima - Raposos - Rio Acima - 14 a 20 de Setembro de 2023
Foto:Lucas Mendes
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A Banqueta
80 anos de história
Saber que o Teatro Municipal Manoel Franzen de
Lima celebrou 80 anos de história em 7 de setembro
é importante, bem como ter ciência do estilo
arquitetônico eclético em Art Déco, projetado pelo
italiano Raffaello Berti. Entretanto, isso são
detalhes, que talvez tenham mais relevância para
aqueles que são da área da arquitetura e do design.
Com certeza, a maior parte da população
nova-limense vai saber dizer, com propriedade e
riqueza de detalhes, sobre a vida que aconteceu ali,
em cima do palco e também na plateia do teatro.
Pensando nisso, e para homenagear esse
importante estabelecimento, o Jornal Banqueta
preparou uma edição especial com todas as suas
páginas de matérias, dedicadas a essa casa.
Vida e cotidiano
O que seria do teatro sem seu público? São pelas
lembranças das pessoas que viveram a Era de Ouro
do teatro municipal que uma das reportagens desta
edição se dedica. E é por causa dessas lembranças,
recontadas inúmeras vezes, que a história se faz e
que é possível deixar marcado no imaginário social
o glamour dessa casa de espetáculo. Os contos,
recheados de saudade, confirmam que o palco do
teatro trouxe arte para a cidade, mas foi ali também
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Possibilidade de chuva no fim de semana.
O jornal A Banqueta de Notícias se
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Quinta-feira
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publicações assinadas que
Sexta-feira
exprimam conotações políticas,
religiosas ou sociais, por não Sol entre nuvens
refletirem as convicções desta
Edição Especial 2
que a vida e o cotidiano nova-limenses
aconteceram, e tudo isso reforça a importância de
manter suas portas abertas.
Bastidores
O que seria do teatro sem os atores? Na década de
1950, Nova Lima teve como ponto alto no teatro, as
apresentações da Sociedade Artística Teatral
(Soarte), único grupo atuante naquele período; em
1992 foi a vez da peça “Em busca de nossas raízes”
fazer sucesso. Mas quem foram as pessoas por
detrás dessas movimentações? O nome da Sala de
Espetáculos do teatro traz um registro: Paulo
Lisboa. Você sabe quem é? Tão importante quanto
saber o estilo arquitetônico do teatro, é também
conhecer a história das pessoas que contribuíram
para construir o movimento cultural na cidade.
Porque, se o município consegue fortalecer a
formação de grandes artistas, o legado não será
individual, mas coletivo, tendo como consequência
o incentivo para que novas pessoas se interessem
em ser protagonistas da história de Nova Lima.
Tudo isso reforça, mais uma vez, como é essencial
as manutenções estruturais, mas principalmente de
manter essa casa aberta ao público e aos artistas
locais.
Sábado
Mín: 16º Máx: 34º Sol entre nuvens Mín: 17º Máx: 29º
Domingo
Mín: 19º Máx: 26º Sol entre nuvens Mín: 18º Máx: 31º
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 Nova Lima - Raposos - Rio Acima - 14 a 20 de Setembro de 2023
Foto: A Banqueta
Vida e arte se misturam
Teatro Municipal Manoel
Franzen de Lima também vive
por meio da memória.
Lembranças de nova-limenses
confirmam que espetáculos e
cotidiano da sociedade se
entrelaçam
O Teatro Municipal Manoel Franzen de Lima foi
palco-revelação de muitos artistas nova-limenses.
Também recebeu grandes shows musicais com
nomes, como Moacir Franco, Jamelão, Agnaldo
Timóteo, entre muitos outros. Sessões de cinema,
concurso de mini miss, comícios, concertos,
conferências, convenções, festivais de dança e de
música, formaturas, lançamentos de CDs, DVDs e
livros, óperas, palestras, peças teatrais, recitais,
reuniões, saraus, seminários, shows, treinamentos,
entre outras atividades culturais preencheram esse
lugar durante mais de meio século. Em 7 de
setembro o teatro fez aniversário de 80 anos e é por
meio da memória da população nova-limense,
guardiã de centenas de histórias que teve como
pano de fundo o teatro, é que ele também vive. A
revista “Em busca de nossas lembranças – Teatro
Municipal Manoel Franzen de Lima”, publicada em
2020 e organizada pelo Núcleo de Atividades
Literárias de Nova Lima - na qual essa matéria se
baseia - traz diversas lembranças, permeadas de
saudade, que confirmam que o palco dessa casa de
espetáculo fala de arte, mas também da vida.
Poeirinha
O teatro já era necessidade antes mesmo de Nova
Lima se tornar município. Na Praça Bernardino de
Lima, onde hoje é a sede do Sindicato dos Mineiros,
A Banqueta
havia o popular “Poeira” ou “Poeirinha”, que desde
1852 oferecia sessões de cinema e peças teatrais,
tanto da cidade quanto de outros municípios.
Possuía instalações precárias, era coberto de folhas
de zinco e, quando chovia, o barulho era
ensurdecedor. Dizem que na época do cinema mudo
havia sempre um pianista que acompanhava os
filmes apresentados com músicas adaptadas à ação
das películas e que os espetáculos terminavam lá
pelas duas horas da manhã, com o povo aplaudindo.
Após a inauguração do Teatro Municipal, em 1943,
esse antigo espaço foi demolido.
Cinema
Nesse novo espaço, mais estruturado, até o ator
estadunidense Marlon Brandon já passou, dentre
tantas outras celebridades, que fizeram o povo
nova-limense suspirar. Não vieram em carne e osso,
mas sim por meio da tela do cinema, que funcionava
ali no teatro, por volta de 1950, com sessões aos
domingos, às 18h e às 20h, e em outro período, às
segundas-feiras, às 19h. Quando era dia de faroeste,
alguns pais levavam os filhos para assistirem, e salas
inteiras da Escola Estadual Augusto de Lima não
retornavam após o intervalo, porque desciam em
peso para assistirem a esses clássicos.
Matinês
Para alegrar as crianças, as matinês dominicais eram
uma das atrações mais esperadas e permitidas pelos
pais, quando a produtividade e o comportamento
escolar fossem bons. Em cada domingo, às 14h,
passava um capítulo de uma série. A meninada
comparecia em peso, gritava e batia os pés no chão,
em uma torcida barulhenta para começar logo a
sessão. Flash Gordon, Roy Rogers, Tarzan, o Rei das
Selvas. Davam gargalhadas com as comédias de
Mazzaropi, Zé Trindade e Grande Otelo. As cadeiras
Edição Especial 4
de madeira no teatro acabavam por obrigar as
crianças a se sentarem direito e a ficarem
quietinhas, porque elas se dobravam e
escorregavam, dando motivos de risos e de broncas.
No escurinho do cinema
Sissi, a Imperatriz, La Violetera, Salomão e a Rainha
de Sabá, Quando o Setembro vier, Candelabro
italiano, A bela da tarde, Cleópatra, O sol por
testemunha, foram alguns longas-metragens que
estiveram em cartaz e arrancaram suspiros da
plateia. No palco da vida, houve beijos no “escurinho
do cinema”, que elevavam a temperatura do
ambiente, e a ação do “Cupido”, visto que o local era
propício para flertes e encontros. Também por isso,
os pais de família não permitiam que suas filhas
fossem sozinhas, com seus namorados, para não
ficarem “mal faladas”. Daí, fazia-se necessário a
presença de mais alguém - que era chamado de
“vela” - para evitar o risco da “mão boba” na
escuridão do cinema. Os namoros, noivados e
rompimentos também eram notícias - ou fofocas
semanais - no teatro.
Classe social
Não à toa, a roupa para estar no teatro era escolhida
a dedo. As moças caprichavam na indumentária,
penteados e maquiagem, e desfilavam pelo tapete
vermelho. No centro do teatro, verdadeira passarela
da moda esnobe e sofisticada da época, ao som de
lindas músicas, que antecediam o início dos filmes.
Os preços dos ingressos eram diferenciados. Em
geral, a classe média ficava no primeiro piso. No
segundo, nos camarotes, autoridades e famílias mais
abastadas. Já no terceiro e arquibancadas, pessoas
com menos recursos. No momento que antecedia ao
filme e espetáculo, circulavam vendedores de balas,
bombons e chocolates, com tabuleiros decorados de
 5 A Banqueta Edição Especial
forma atrativa. O traje dos baleiros era tipo
“soldadinho de chumbo”, com franjas douradas nos
ombros da farda e detalhes dourados no chapéu,
tipo guarda real.
Condor
Contam que nos anos de 1950 a 1980, quando se ia
ao cinema e o filme a ser exibido era uma produção
da Condor Filmes, todos ficavam à espera da
aparição, na tela, da imagem da ave (condor).
Quando aparecia, a plateia emitia sons e fazia gestos
para assustá-la. Em seguida, ela voava e a diversão
era transformar a situação em realidade: o público
espantava o condor para voar. Em uma determinada
noite, bem na hora da cena que o condor levantaria
voo, um adolescente, que estava na parte superior,
soltou uma galinha que tinha levado escondido.
Assustada, saiu esbarrando nas pessoas que
estavam presentes. A situação causou susto, mas
também muita risada.
Breve histórico
São 80 anos de muitas histórias que passaram pelo
palco e pela plateia do teatro municipal, que foi
inaugurado em 7 de setembro de 1943. O projeto
arquitetônico foi feito em 1939, pelo italiano
Raffaello Berti (1900-1972), um dos fundadores da
Escola de Arquitetura da Universidade Federal de
Minas Gerais. Com estilo eclético, há presença
arquitetônica italiana do início do século XX, um
exemplo expressivo da arquitetura Art Déco no
Brasil. A obra foi uma iniciativa do prefeito da época,
Antônio Manoel Franzen de Lima, e contava com o
apoio do então governador do estado, Benedito
Nova Lima - Raposos - Rio Acima - 14 a 20 de Setembro de 2023
Valadares, ainda na época do Estado Novo. Por
questões políticas, as obras foram paralisadas. O
empresário Francisco Crepelo, em uma empreitada
particular, deu continuidade às obras. O teatro
chegou a ser a segunda maior casa de espetáculos
de Minas Gerais. Em 1989, seu nome foi alterado
para homenagear o ex-prefeito idealizador da obra.
Estrutura
O teatro tem três pavimentos. Há um salão de
entrada, com escadas e pisos de mármores preto e
branco. São quatro camarins de diferentes
tamanhos, dez instalações sanitárias e uma sala de
multimeios. Acomoda 699 pessoas
confortavelmente. Abrigou uma escola de balé e três
grupos de teatros locais. Em 1995, foi fechado por
problemas técnicos e reaberto em 1997. Em 2000,
foi tombado como Patrimônio Histórico e Artístico de
Nova Lima. Depois houve restauração da acústica e
do sistema de segurança, substituição das cadeiras
por poltronas estofadas e a construção de um
acesso e de lugares reservados para pessoas com
deficiências. Foi reaberto em 2004, ficou quase 15
anos sem reforma estrutural, até que em 2020
houve contratação do projeto de prevenção de
incêndio e pânico, implementação do projeto de
aumento de carga de energia, substituição das
poltronas, novas pinturas interna e externa,
manutenção das portas, mecanização cênica e
substituição do carpete.
O teatro hoje
Já em 2021, o teatro recebeu a instalação de vidros
de proteção, guarda-corpo, sistema de alarmes de
incêndio com sensores infravermelhos, sinalização,
pintura de corrimões, além de treinamento de
brigadista para os funcionários. Com isso, pela
primeira vez, o teatro conquistou o Auto de Vistoria
do Corpo de Bombeiros (AVCB) que certifica que a
edificação possui todas as condições de segurança
em caso de pânico, além de equipamentos para
combate a incêndio, seguindo as normas técnicas.
Agora, o local passa pela instalação de ar
condicionado, que iniciou em maio e tem previsão
de entrega em outubro deste ano. Para instalar os
equipamentos de refrigeração, foram necessárias
uma série de intervenções. No total, com todas as
reformas ocorridas nesta gestão, a Prefeitura de
Nova Lima informa que foi investido R$ 1,6 milhão.
Formação de atores
Segundo o Governo Municipal, por causa da
pandemia da Covid-19, o espaço ficou fechado
durante o período estabelecido pela Organização
Mundial da Saúde (OMS). Em 2022, foi realizado
espetáculos sendo o destaque as 17 atrações do
Festival Viva Arte com a presença de público para
prestigiar teatro, dança, música, literatura dentre
outros, além de eventos, como a apresentação do
Encontro Municipal de Dança, o Recital de Música da
Escola Zé Fuzil, a Mostra Cinema na Cidade com a
exibição dos filmes “Marte Um” e “Juntos e
Enrolados”, o Espetáculo infantil “A Rainha da Neve”.
A prefeitura também afirma que em breve retomará
o papel do teatro, de formação de atores e técnicos
de artes cênicas, para qualificar os profissionais da
cidade e gerar oportunidades de atuação na área.
Nova Lima - Raposos - Rio Acima - 14 a 20 de Setembro de 2023 A Banqueta Edição Especial 6
7 A Banqueta Edição Especial Nova Lima - Raposos - Rio Acima - 14 a 20 de Setembro de 2023
 Nova Lima - Raposos - Rio Acima - 14 a 20 de Setembro de 2023
Em celebração aos 80 anos
do Teatro Municipal Manoel
Franzen de Lima, a memória e o
legado de Paulo Lisboa, icônico
ator e diretor nova-limense,
cujo nome adorna a sala de
espetáculos da casa, reacende
O teatro é uma arte que transcende o tempo. O
legado de grandes artistas permanece vivo, ainda
depois de falecidos, não só na memória, mas
também nas paredes dos espaços que tanto
amaram. Esse é o caso da Sala de Espetáculos do
Teatro Municipal Manoel Franzen de Lima, que
completou 80 anos, já que ela carrega o nome de
um grande talento: Paulo Lisboa. O nova-limense,
que foi ator e diretor, deixou sua marca na história
das artes cênicas brasileira, com atuações
inesquecíveis e direções revolucionárias. Seu talento
o levou a ser reconhecido também na Espanha,
Portugal, Venezuela e Cuba. Após sua partida, em
1996, Nova Lima, ciente da enorme perda, decidiu
homenagear esse ilustre filho da terra dando o seu
nome à referida sala. A decisão foi certeira porque,
ainda hoje, Paulo, o “Patrono do Teatro de Nova
Lima”, serve de estímulo e referência para atores,
diretores, escritores e entusiastas da dramaturgia,
que se apresentam ou assistem a espetáculos nesse
local.
Influência do avô
Paulo Lisboa não emergiu no universo das artes
cênicas simplesmente por um talento inato. Ele
reforçou a paixão e um legado que vem de
gerações. Seu avô, Pedro Barbosa da Silva, não
apenas se destacava ao desfilar em todos os “Bloco
dos Sujos”, nos carnavais de Nova Lima, mas
também possuía uma inegável vocação para o
teatro. Em 1954, Pedro, juntamente com um seleto
grupo de entusiastas, fundou a Sociedade Artística
Teatral (Soarte), um dos pioneiros grupos de teatro
amador da cidade. Os espetáculos do Soarte, no
teatro municipal, eram sempre com a casa cheia.
Também faziam sucesso em outras cidades mineiras,
como Sabará e Itabirito. Paulo, que absorveu a arte
e a dedicação de seu avô, continuou a tradição
familiar, capturando e encantando plateias por onde
passava.
A Banqueta
Patrono
do teatro
Talento avassalador
Filho de Antônio Cassemiro “Totó” e Dalva Barbosa,
Paulo nasceu em 30 de abril de 1960. Começou sua
carreira artística em 1978, em grupos teatrais
amadores. Mergulhou no mundo da dança, estudou
ballet clássico e dança contemporânea na renomada
Escola de Teatro do Palácio das Artes. Sua estreia
no cenário profissional ocorreu em 1980, em Nova
Lima e Belo Horizonte, com destaque para a sua
participação em "Delito Carnal", sob direção de Eid
Ribeiro, e "Assembleia de Mulheres", dirigida por
Bernardo Mata Machado. Em 1981, deu início a uma
frutífera parceria com o encenador, belo horizontino,
Carlos Rocha. Já, em 1982 e 1984, gravou dois
filmes: “Vivos ou mortos”, e “100% Brasileiro”. Nos
anos seguintes, durante a década de 80,
protagonizou peças emblemáticas como "O
Processo", "A Metamorfose" e "A Toca", todas
inspiradas na obra de Franz Kafka. Além de
“Esperando Godot", de Samuel Beckett, e "Grande
Sertão: Veredas", baseada na obra de Guimarães
Rosa.
Destaque estadual
Não demorou muito e o talento e a dedicação do
ator nova-limense, foram reconhecidos em toda
Minas Gerais. Em 1986 recebeu o prêmio
“Ceschiatti” de melhor ator, com a peça “Antígona”.
Em seguida, por dois anos seguidos, em 1988 e
1989, levou para casa, o Troféu Fundação de Artes
Cênicas (FUNDACEM), de Melhor Ator de Minas
Gerais. Em 1988, a convite do então prefeito de
Nova Lima, Paulinho Damasceno, Paulo Lisboa
assumiu a Chefia do Departamento Municipal de
Cultura, e introduziu uma série de projetos culturais
que enriqueceram a sua cidade natal. Neste mesmo
ano, o ator viaja para a Alemanha, através de uma
bolsa de estudos do Goethe Institut, buscando o seu
aperfeiçoamento em um curso de mímica, por três
meses.
Destaque nacional
Também em 1989, Paulo rompe os limites de Minas
Gerais, e recebe o prêmio de melhor ator, da 3ª
Mostra Nacional de Teatro de Franca/SP. Em 1990,
na XVI Mostra Nacional de Teatro de Campina
Grande, na Paraíba, também recebe o prêmio de
melhor ator. Em 1991, no III Festival Nacional de
Teatro, realizado em Resende/RJ, foi considerado o
melhor ator.
Edição Especial 8
Destaque internacional
O aclamado ator não só encantou o público mineiro,
mas também deixou sua marca em diversos países
europeus, além de Venezuela e Cuba. No início da
década de 90, em Caracas, na Venezuela, se
destacou ao apresentar a peça "Josefina, a cantora
e a toca", com a Companhia Absurda. Esse sucesso
desencadeou um encontro frutífero entre o grupo
mineiro e o Centro Latino Americano de Teatro, que
culminou em um convite para Paulo participar do
Festival de Cuba. A jornada continuou, levando-o em
uma turnê de oito meses na Espanha, que passou
pelas Ilhas Canárias, Cádiz, Madrid, Leon e San
Sebastian. Além disso, Paulo continuou viajando pela
Europa com a peça "Fragmentos Kafikianos", uma
produção da Companhia Absurda.
Carreira em Portugal
Ao participar do Festival Internacional de Teatro
Expressão Ibérica (FITEI), em Portugal, o ator fixou
residência, em 1992, na cidade de Lisboa. Além de
atuar, sua habilidade como diretor ganhou destaque
internacional, ao assumir a direção do Círculo de
Iniciação Teatral da Academia de Coimbra (CITAC),
em Portugal. Sob sua batuta, espetáculos notáveis
como "Os Olhos" (1993) e "O Processo" (1994)
foram apresentados. Aliás, "O Processo" foi tão
aclamado que garantiu ao nova-limense uma
menção honrosa no prestigiado concurso "O Teatro
na Década", promovido pelo Clube Português de
Belas Artes e Ideias, além de representar Portugal
na Bienal de Jovens Criadores da Europa e
Mediterrâneo. Foi sua afinidade com o CITAC que
despertou a ambição de criar novos projetos.
Inspirado por essa relação e pelas experiências
compartilhadas com amigos da Companhia Absurda,
em viagens pela Europa, que em 1994, Paulo fundou
o grupo Visões Úteis, na cidade do Porto, em
Portugal, onde encenou obras do icônico Kafka. No
mesmo ano, mostrou sua versatilidade ao interpretar
"I Love You Maria!", de Dario Fo.
Idas e vindas
Paulo retorna ao Brasil para dirigir a Cia. Boca de
Cena, em Salvador/BA, na produção "Sambas e
Tragédias", além de representar "I Love You Maria!".
Com a peça "Josefina, a cantora", que ele havia
apresentado na Venezuela, Paulo ficou em cartaz por
um ano inteiro, rodando todo o Brasil. Tal
performance fez tanto sucesso, que ele ficou
conhecido nacionalmente. Em seguida, o ator volta
para Portugal, para dar continuidade a peça “A
Metamorfose”, que ele já havia adaptado. Em 1996,
o ator retorna à Nova Lima.
Paulo é patrono e nome de sala
O ator nova-limense sempre manteve uma
inabalável dedicação à sua arte. Mesmo diante dos
inúmeros desafios que um artista teatral pode
enfrentar, perseverou buscando concretizar seus
sonhos com determinação e resiliência. Sua
trajetória inspirou muitos artistas em Nova Lima,
estabelecendo-se como uma referência de
tenacidade e paixão. Sua trajetória de sucesso foi
interrompida aos 36 anos, em 19 de abril de 1996,
quando o ator faleceu, mas o artista não ficou
esquecido. Para homenageá-lo, a Câmara Municipal
denominou, em 1998, a plateia do Teatro Manoel
Franzen de Lima, como Sala de Espetáculos Paulo
Lisboa. E, recentemente, em 2021, o prefeito João
Marcelo (Cidadania), outorgou Paulo Lisboa como
“Patrono do Teatro Novalimense”.
9 A Banqueta Edição Especial Nova Lima - Raposos - Rio Acima - 14 a 20 de Setembro de 2023
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11 A Banqueta Edição Especial Nova Lima - Raposos - Rio Acima - 14 a 20 de Setembro de 2023

Foto:Lucas Mendes
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 Nova Lima - Raposos - Rio Acima - 14 a 20 de Setembro de 2023
O Teatro Municipal Manoel Franzen de Lima foi
considerado a segunda maior casa de espetáculos
de Minas Gerais. Mas o que seria desse local sem os
braços e cabeças - criativas - para colocar vida ali
dentro? No fim das contas, é por meio das pessoas,
e também da união delas, que é possível se fazer
arte. Na década de 1950, Nova Lima teve como
ponto alto no teatro, as apresentações da Sociedade
Artística Teatral (Soarte), único grupo atuante
naquele período, composto por atores e atrizes da
cidade, que teve como um dos fundadores Pierre
Duarte. Outras duas pessoas de destaque, na
história do teatro, é Luiz Pedro Pires do Couto,
coordenador da peça “Em busca de nossas raízes”,
e também a Margarida Maria da Cunha, mais
conhecida - não à toa - como Margarida “do teatro”,
importante funcionária do local.
Pierre Duarte
Pierre Duarte nasceu em Diogo Vasconcelos, antigo
distrito de Mariana/MG, em 1931. Quando tinha 15
anos foi morar em Raposos, junto com seus pais, e
no final da década de 1950 mudou-se para Nova
Lima, onde vive até hoje, no bairro Retiro. Sempre
trabalhou como protético dentário, inicialmente no
Sesi, em Belo Horizonte, e a partir de 1953, em Nova
Lima. Mesmo depois de aposentado ainda fazia
alguns atendimento em sua casa, mas nas horas
A Banqueta
vagas, Pierre se dedicou à sua paixão: as artes.
Contribuição
Apaixonado pelas artes em geral, se destacou como
um dos melhores atores da época. Participou de
vários “Bloco dos Sujos” com suas criativas
fantasias. Também atuou na Escola de Samba
Unidos do Rosário, foi diretor do Centro Ideal Clube
e do Villa Nova. A história da arte dramática
nova-limense não seria a mesma se não fosse pela
participação de Pierre, aliado aos seus amigos, que
fundaram, em 4 de agosto de 1954, a Sociedade
Artística Teatral (Soarte), que encenava peças de
famosos autores brasileiros, no teatro municipal.
Soarte
O grupo sobreviveu por cerca de 10 anos e teve seu
período áureo de 1958 a 1964. Com estatuto próprio
e personalidade jurídica, a Soarte teve diversos
sócio-fundadores e cotistas. A ideia do nome partiu
de outro fundador, Oswaldo Chaves, junto a Pierre
que foi também responsável pelo desenho do
emblema. A lotação do teatro era constantemente
superada nos espetáculos montados pelo grupo.
“Lembro que tinha uma senhora que levava um
banquinho, ela colocava no meio, porque não tinha
mais cadeira para sentar”, lembra Pierre. Com
Edição Especial 14
capacidade, na época, para 900 pessoas, o teatro
chegou a ser ocupado, nessas ocasiões, por um
público, aproximado, de 1.300 espectadores.
Sucesso
A companhia teatral levava seus espetáculos para
outras cidades como Sabará, Itabirito e João
Monlevade. Peças e atores eram consagrados pela
plateia, como exemplo na apresentação da obra “Os
maridos atacam de madrugada”, que o público pedia
sempre, a repetição da cena do diálogo entre os
personagens “Faraco”, um mendigo filósofo, e
Fagundes, um marido frustrado, interpretados por
Pierre e Oswaldo. Para a escolha das peças, a
companhia recebia o catálogo da Sociedade
Brasileira de Atores Teatrais. Outras peças de
maiores sucesso foram: O hóspede do quarto
número 2; O mundo não me quis; Deus lhe pague;
Irene; Chuvas de verão; e A felicidade pode esperar.
Os melhores atores se revezavam na função de
diretor artístico.
Luiz Pedro Pires do Couto
Outra pessoa de importância para as artes cênicas
da cidade foi Luiz Pedro Couto. Ele nasceu em 1944,
em Nova Lima, e se graduou, pela Universidade
15 A Banqueta Edição Especial
Federal de Minas Gerais (UFMG), em Arquitetura e
Urbanismo, em 1969. Aos 19 anos iniciou sua vida
laboral, como professor de desenhos em algumas
escolas do município e em Rio Acima. Quando fez
70 anos se aposentou, mas não encerrou seus
trabalhos profissionais na área. Agora, aos 79 anos,
atua como cafeicultor no Sul de Minas Gerais.
Durante toda a sua vida, participou da organização
de festas populares e religiosas da cidade. Teve
também atuação ativa na Escola de Samba Unidos
do Rosário, ao lado do amigo, Pierre Duarte.
“Em busca de nossas raízes”
“Em busca de nossas raízes” foi uma peça, com
estreia em 1992, escrita por Maria Efigênia Dias
Lloyd (1931-2002), dirigida por Telma Lacerda e
coordenada por Luiz Pedro, de grande sucesso. “Ela
remonta às origens de Nova Lima desde a chegada
do bandeirante Domingos Rodrigues da Fonseca
Leme, em 1701, retratando a formação do nosso
povo, costumes e tradições”, explica Luiz. Nessa
peça, o quadro que narra o despertar da cidade foi
apresentado pelos alunos da Escola Municipal de
Teatro. “Foi um grande teatro vivo, que contou com
a participação de artistas amadores locais,
apresentada em três dias consecutivos, em seções
que tiveram a duração de duas horas e meia cada”,
conta.
A arte pulsa em Nova Lima
Diversas outras cenas da peça evidenciavam a rotina
da sociedade nova-limense. “Desde a inauguração
do teatro, a história de vida dos nova-limenses
foram permeadas por fatos estritamente vinculados
à esse estabelecimento. Com efeito, retornando no
Nova Lima - Raposos - Rio Acima - 14 a 20 de Setembro de 2023
tempo, nossas lembranças alcançam
acontecimentos ocorridos naquele cenário urbano,
até hoje preservado: praça, igreja e teatro. Tais
reminiscências nos levam à conclusão de que Nova
Lima sempre prestigiou e vivenciou as artes cênicas,
esforçando-se para buscar todas as manifestações
a ela inerentes. Inclusive, recebemos um convite do
atual secretário de Cultura, Djalma Ricardo e
estamos avaliando a possibilidade de reeditar a peça
‘Em busca de nossas origens’”, revela Luiz.
Margarida “do teatro”
Para além dos atores, um teatro, para existir em
perfeito funcionamento, também precisa de
funcionários. Um exemplo disso é a história de
Margarida Maria da Cunha, de 79 anos, nascida em
Raposos, e conhecida como Margarida “do teatro”.
O apelido faz jus à pessoa: ela dedicou 30 anos da
sua vida ao teatro municipal. Começou na vida
laboral aos 15 anos, no depósito de pão, no Bonfim,
de Dona Clemer Otero. Ao sair do emprego, pediu
para trabalhar no teatro e, por lá, começou na
bilheteria. “Tinha o senhor Geraldo da Batatinha, os
fiscais, a Câmara Municipal funcionava na parte de
cima do teatro, tinha também a Dona Joana, que
fazia café quando tinha reunião”, lembra.
Faz de tudo
Ela conta que quem a ajudou muito foi Dona
Terezinha Sales e Dona Clemer Otero. “Elas me
ensinavam a fazer contas de matemática,
principalmente a dividir. Eu não sabia, estudei
somente até o quarto ano primário. Se não fosse
pela bondade delas, não teria conseguido trabalhar
na bilheteria”. Depois de muitos anos de trabalho na
bilheteria, Margarida atuou também como gerente
do teatro. “Eu tomava conta, olhava, consertava
bandô. Um dia o pessoal da limpeza faltou e o cheiro
estava horrível, então lavei o teatro de cima a baixo,
mesmo não sendo minha função, porque as pessoas
não poderiam entrar ali com ele naquele estado. Se
precisasse, eu passava as roupas dos artistas. Mas
não posso me queixar, conheci muitas celebridades,
como Sidney Magal, Elisabeth Savalla, tenho até o
retrato dela, Tom Cavalcante, Gretchen, e tantos
outros artistas”, diz.
Dedicação
Quando funcionava o cinema, existiam sessões em
todos os turnos. “Tinha uma sessão só para homens
e eu falava com eles para procurarem uma igreja.
Uma vez Padre Oswaldo foi conversar comigo na
bilheteria e ficou reparando nas pessoas que
entravam. Quando chegou domingo, puxou a orelha
de todos”, revela. Sobre os boatos de o teatro ser
mal assombrado, Margarida confirma. “Já ouvi me
chamarem três vezes, mas não era ninguém”. Outra
lembrança marcante foi em relação ao seu pai, que
nunca tinha ido ao cinema. “Um dia eu o levei e
assistimos um filme juntos e ainda comemos
pipoca”. Como gratidão a todo o seu trabalho em
prol do Teatro Municipal Manoel Franzen de Lima,
Margarida recebeu o Título de Cidadã Honorária de
Nova Lima, que é claro, não poderia deixar de ser
realizado no teatro. “Fico até com vontade de chorar
quando passo pelo teatro, ele foi a minha vida”,
encerra.
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