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Anpuh Rio de Janeiro

Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro – APERJ


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A CIDADE DO TEATRO E O TEATRO DA CIDADE: IMAGENS DO RIO DE


JANEIRO NO TEATRO DE REVISTA DOS ANOS 1920

Tania Brandão
Professora aposentada colaboradora PPGT UNIRIO

O teatro foi a grande diversão da sociedade brasileira no século XIX. A rigor, a coqueluche
teatral foi iniciada como uma epidemia carioca. O Rio de Janeiro, cidade colonial, transformada com a
vinda da corte portuguesa, começou a assumir ares europeizados, quer dizer, lisboetas e logo franceses,
que projetaram as noites no teatro em um patamar novo. Se as Casas da Ópera coloniais gozaram de
repercussão restrita e reputação duvidosa, outra foi a situação da arte na corte, em especial após a
proclamação da Independência e a Abdicação. Tornou-se parte do ritual elegante ver-se e ser visto nas
platéias, em particular no Real Teatro de São João. 1 A casa, apesar do nome e da ingerência freqüente
do poder em sua administração antes que se tornasse bem público, não fora uma iniciativa do governo,
fora construída por iniciativa de Fernando José de Almeida. A história de sua construção atesta a
variação do pensamento oficial, a princípio metropolitano e a seguir autóctone, a respeito do teatro no
País: de atividade inconveniente e desaconselhável a prática recomendável, por seu caráter de estímulo
à civilidade, útil à formação de bons cidadãos. A oscilação marcou o século XVIII e pode ser
localizada a partir de alguns documentos – na primeira metade do século, proibições ou restrições à
prática do teatro na colônia por autoridades religiosas, na segunda metade, alvará régio reconhecendo
alguma utilidade social ao teatro, ao lado da interdição pela rainha, em 1787, da profissão às mulheres,
são indícios suficientes para revelar uma prática social no mínimo problemática (Galante: 1960).
Ainda que o palco se tornasse o lugar social de encontro da corte e a profissão deixasse de ser
maldita para ser apenas mal vista, a nova dinâmica não acarretou em reversão radical dos antigos
preconceitos. Persistiu sempre, até o século XX, uma aura de transgressão associada à cena. A
polêmica a respeito da que seria a verdadeira natureza do teatro, afinal, percorreu todo o século XIX e
chegou ao século XX, envolveu os diferentes debates teatrais do período. Assim, é possível constatar a
ocorrência de uma situação curiosa. O Rio de Janeiro tornou-se a cidade do teatro, e é bastante

1
Um dos melhores textos sobre a projeção e a função social do teatro na corte é o estudo sobre Martins Pena – Áreas, Vilma
Sant`Ana. Na tapera de Santa Cruz . Uma leitura de Martins Pena. Rio de Janeiro, Martins Fontes, 1987.
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aceitável afirmar que muito da imagem da corte, construída como artifício de poder diante do país, foi
gerado pelo burburinho dos palcos. E esta imagem foi desde sempre uma imagem híbrida, mescla de
poder e pecado, alegria, irreverência e cosmopolitismo. Parece justo defender a idéia de que este perfil,
historicamente associado à cidade, teve origem nas condições históricas da vida teatral carioca. E talvez
se possa ir um pouco mais longe - uma das hipóteses que se pretende examinar nesta pesquisa é a
possibilidade de que o teatro carioca dos anos 1920 tenha prestado uma contribuição decisiva para o
aparecimento do mito da cidade maravilhosa que se espraiou pelo País a partir da década seguinte.
De certa forma, ainda que houvesse no final do século XIX uma guerra surda contra a forma de
teatro então dominante, a do teatro de variedades, todo o teatro brasileiro e mesmo o combatido palco
do can-can e pernas nuas operava a partir da referência ao teatro como prática de civilização. O que
significa reconhecer que o palco se projetou efetivamente como um exercício de vida cortesã e se
tornou uma escola de civilidade. A civilidade alcançou resultados, operou transformações e a principal
delas se deu no interior do próprio teatro e não na platéia ou na sociedade ao redor – após as lições do
naturalismo e da busca de um diálogo próximo, imediato, com as platéias, o teatro do fim do século
XIX inventou a revista de costumes (em um primeiro momento, revista de ano) e passou a operar com
um olhar cidadão, capaz de fixar em tipos e telas pintadas flagrantes da época, recortes teatrais da vida.
Será importante retomar este ponto. Antes, um tema de ordem mais geral precisa ser exposto.
No mesmo período em que esta forma ligeira de construir a cena se afirmara e ganhara
projeção, o teatro sofrera um rebaixamento, segundo a avaliação dos doutos e dos acadêmicos, que
passaram a considerá-lo uma prática desqualificada, uma ocupação menor, distante do que julgavam
ser a verdadeira arte. O melhor exemplo para falar desta nova avaliação é Machado de Assis, que não
vê nos palcos da pachouchada mérito qualquer, só enxerga ali “uma linha de reticências” 2. Outro
exemplo muito significativo é a polêmica que envolveu Artur Azevedo e a sua própria argumentação
defensiva, diante de seus acusadores, que tentavam apontá-lo como o grande artífice da decadência dos
palcos brasileiros, a partir da decadência (que teria provocado) da cena produzida no Rio de Janeiro.
Até mesmo a sua sorte ao longo da história parece relevante para a análise do tema, pois durante
bastante tempo Artur Azevedo foi qualificado como autor de letras ligeiras, escritas em cima da perna,
descartáveis e desprovidas de importância – enfim, um autor menor dedicado a um gênero inferior.
No entanto, o gênero inferior era sucesso em seu tempo, encantava platéias e criava história: foi
o único que estabeleceu continuidade de produção. O segredo era simples. A revista se consolidava

2
Diversos textos críticos do romancista atribuem ao palco nacional uma situação de inferioridade crônica; reproduzem um
raciocínio forte na época, de que o teatro evidenciava o grau de civilização de um povo; portanto, a civilização brasileira
seria precária e, logo, o seu teatro teria que ser indigente.
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como reconhecimento do ato de registro do imediato, o lugar do instantâneo, a orientação para a vida
miúda que passa, a captação dos apetites menos nobres. Talvez a sua pergunta central fosse a respeito,
exatamente, da construção de uma identidade.
O debate histórico não foi inócuo, alcançou resultados curiosos, pois a revista assumiu a sua
inferioridade no panteão do teatro, por vezes sob uma forte capa de ressentimento. Para muitos dos seus
autores, ela surgiu como um ofício de passagem, uma ocupação transitória enquanto não podiam fazer
outra coisa, ou apenas uma forma de ganhar dinheiro. Assim, a condenação imposta pelos literatos
contribuiu para que, no século XX, o palco da revista se consolidasse também como espaço de
transgressão no sentido de surgir como ocupação eventual ou parcial, o que talvez lhe tornasse a verve
mais ácida e mais livre.
Portanto, dois tons até certo ponto contraditórios constroem a cena revisteira, fazem com que a
prática da revista possa ser chamada de olhar cidadão transgressivo. O tom é transgressivo porque o
seu objeto é a vida rotineira, do dia a dia, e porque os seus autores, ao menos enquanto absorvidos no
métier, não estão preocupados com a Academia Brasileira de Letras ou com a aclamação dos nomes
mais respeitados da literatura de seu tempo. Sua preocupação primeira é o seu ofício – para sustentar-
se, sustentar a família ou por gosto mesmo, o que significava necessariamente agradar ao público,
incorporar o dado imediato do momento como estrutura de linguagem. A outra preocupação é a sua
cidade, com quem procuram travar um diálogo vivo e pulsante, impregnado do calor da hora,
interessado em fazer rir antes de qualquer outra coisa.
Quer dizer, diante das mazelas históricas, da realidade mesquinha tropical, o olhar imediato
preocupado com o presente em lugar de cantar a fugacidade do momento, o progresso, a moda, a
mudança e os novos ares, acaba se assumindo como percepção cômica, crítica, irreverência
demolidora, ainda que o tema pudesse ser o momento, o progresso, a moda, a mudança e os novos
ares... Assim, talvez seja possível afirmar que o teatro se impôs ao século XX como o espaço de
construção do ideário urbano carioca.
Ao longo dos anos vinte, quando o gênero revista consolidou a sua aproximação com a música
popular e atraiu para o palco compositores e instrumentistas, intérpretes e passistas, é notável o papel
da revista no universo ideológico-sentimental da cidade. Uma primeira leitura de textos da época
permite apresentar um painel eloqüente de sustentação a estes pontos de vista. A proposta é parte de um
projeto de pesquisa recém iniciado, dedicado ao estudo de textos de teatro de revista coletados nos
arquivos da censura depositados no Arquivo Nacional. A coleção reunida foi selecionada dentre os
textos da década de 1920, em especial textos assinados por Marques Porto, quase todos em colaboração
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com outros autores; uma peculiaridade do gênero ligeiro neste momento é a ocorrência freqüente da
autoria colegiada dos textos. Como as temporadas eram rápidas, há um número elevado de originais e a
escolha foi imprescindível; a opção foi a construção de uma amostra. São escolhas difíceis de fazer: a
amostra construída será uma primeira abordagem, para uma primeira fase de estudos.
Os critérios adotados para a construção da amostra foram: a originalidade ou a expressividade
dos títulos, a evidência de relação de continuidade com outros originais do mesmo autor (hipótese de
existência de uma obra), o sucesso de público na época ou a notoriedade histórica, esta última
estabelecida a partir de comentários de estudiosos ou de contemporâneos – a saber Mario Nunes,
Salvyano Cavalcanti de Paiva, Neyde Veneziano, Roberto Ruiz, Nelson Werneck Sodré. Os textos
escolhidos foram qualificados como amostra reduzida; sua análise será usada para a fixação de
conceitos e procedimentos. Para tentar buscar um contorno de maior impacto na visão do fato teatral
específico, foram incluídas, além das revistas, burletas e uma opereta, não só para estabelecer uma
comparação entre gêneros, mas também para tratar de tentar apontar com mais clareza uma tipologia
das revistas. Foram selecionados para análise os textos:
• PÉ DE ANJO, revista de F. Cardoso de Menezes e Carlos Bittencourt, Música do maestro Bento
Mossorunga, Empresa Paschoal Segreto, Rio de Janeiro, 1920;
• AI, SEU MELO, (foi requerida a substituição do título por “Yáyá fruta do conde” em 22/11/23), revista
de Oduvaldo Viana e Viriato Correia, Teatro Centenário.
• CANALHA DAS RUAS, revista de A. J. Marques Porto e Ari Pavão, música dos maestros Paulino
Sacramento e B. Vivas, Empresa Paschoal Segreto, Rio de Janeiro, 1922;
• PENAS DE PAVÃO, revista de Marques Porto e Affonso de Carvalho, música original e compilada
pelos maestros Sá Pereira e Assis Pacheco, Rio de Janeiro, 1923;
• MINHA TERRA TEM PALMEIRAS, burleta de Marques Porto e Affonso de Carvalho, música do
maestro Sá Pereira, Rio de janeiro, 1923;
• A BOTICA DO ANACLETO, burleta de Marques Porto, música do maestro Assis Pacheco, Companhia
Otília Amorim, Teatro Recreio, 1923;
• À LA GARÇONNE, revista de Marques Porto e Affonso de Carvalho, música de Sá Pereira, Rio de
Janeiro, 1924;
• COMIDAS, MEU SANTO!, revista de Marques Porto e Ary Pavão, Rio de Janeiro, 1925;
• FLOR TAPUYA, opereta de Danton Vampré e Alberto Deodato, Rio de Janeiro, 1925.
A metodologia de trabalho a ser seguida será a da pesquisa histórica; cada texto será lido em
sintonia com a época de sua elaboração no sentido mais amplo do termo, portanto deverá ser olhado
através da História, mas, sobretudo, através da dinâmica teatral vigente ao redor. Dinâmica teatral, vale
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destacar, não significa apenas a indicação da forma de produção teatral, mas também as condições da
temporada. Os textos serão estudados também em relação especular com os jornais, quer dizer, o
noticiário, os modismos, o movimento intelectual; será necessário também considerar o jogo político e
a realidade sócio-econômica. Não se pretende usar o teatro como ilustração anedótica do momento
histórico, como se ele fosse a figurinha decorada de um álbum em que o texto, este sim, seria o
elemento relevante e sério; o objetivo é o de fixar a materialidade histórica do teatro, o que o palco
significou como parte ativa do processo da História de seu tempo.
Afastada a possibilidade de que a arte da cena possa servir como decoração, alguns cortes
radicais com práticas antigas poderão ser pensados. Neste sentido, algumas hipóteses primeiras estão
esboçadas e servirão de bússola para o trabalho de pesquisa. A primeira é relativa à noção de tipo de
época – e a pergunta é relativa a existência do tipo muito mais como procedimento teatral, artifício de
linguagem, do que como realidade objetiva; neste sentido, em que medida o tipo expressaria muito
mais o talento dos artistas, sua habilidade para desenhar quadros sociais esboçados em linhas rápidas e
ácidas, do que recortes objetivos da vida cotidiana. Quer dizer, os tipos não seriam pessoas, não seriam
fotografias de seres dotados de existência concreta, mas criações dos autores e atores, ainda que
contivessem referências às formas de viver contemporâneas.
Em uma aproximação primeira, é possível estabelecer a divisão das personagens – sempre
personagens-tipos, isto é, esquematizadas, não psicologizadas – em subcategorias diferentes, a saber:
alegorias, tipos urbanos, tipos rurais, personalidades históricas. Os tipos implicam necessariamente em
um cálculo de localização, quer dizer, uma territorialização, na verdade um tratamento do espaço
cênico: o tipo carrega consigo o espaço em que vive. De saída, como o trabalho de interpretação supõe
a comunicação direta com a platéia, o espaço da cena não pretende ser espaço de ilusão; em princípio, o
próprio espaço se define como uma composição ditada pelo tipo, para que este possa ser ampliado
como diálogo com a platéia, esforço de sedução. Assim, os lugares representados poderiam ser
identificados como diferentes formas do espaço: espaço urbano, espaço alegórico, espaço institucional,
espaço teatral. Para moldar com impacto o processo de comunicação palco-platéia, com freqüência os
autores cometiam ousadias e transgressões das normas vigentes: nos textos, estes procedimentos
aparecem evidentes através das intervenções (cortes, sugestões de mudança) da censura.
A localização, mesmo que sumária, da história de vida dos autores será instrumento para pensar
a relação autoria-cidadania, em certo sentido incorporando reflexões de Ângela de Castro Gomes
(1999), Mônica Pimenta Velloso (1996) e Marta Metzler (2006) sobre modernismo, invenção,
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transgressão, espírito carioca e espírito clássico no Rio de Janeiro no início do século XX. Ao que tudo
indica, a figura de Marques Porto poderá ser usada como referência modelar para a reflexão3.
Outra hipótese de importância diz respeito ao sentido que se deve atribuir ao ato de simular o
recorte do jogo cotidiano – qual seria o sentido político deste ato? A cena da revista se tornou muito
dinâmica nos anos vinte, um autêntico cadinho, passou a misturar referências do dia a dia, fragmentos
do presente, fatos e imagens da vida urbana, notícias políticas, econômicas e sociais, sátiras, ironias,
deboche, irreverência e inquietude, música e moda, um pouco as cores que se buscava atribuir à capital
federal. Em algum grau o que se via era um ato de exorcismo, purgação de um vazio? Em que medida
este teatro estaria falando de uma cidade capital pobre, entregue a uma dinâmica institucional de
reduzida representatividade para a maioria da população, uma cidade a um só tempo próxima demais
da política e distante demais do poder?

Bibliografia

Assis, Machado de. Críticas. Rio de Janeiro, Jackson, 1934.

Brandão, Tania. “É da pontinha”, in Ruiz, Roberto. O teatro de revista no Brasil – das origens até a
Primeira Guerra Mundial. Rio de Janeiro, FUNARTE / SNT, 19 .

Brandão, Tania. Projeto de pesquisa Salada de frutas – teatro de revista e teatro moderno no Rio de
Janeiro. UNIRIO.Acervo de fontes e relatórios de pesquisa.

Gomes, Ângela de Castro. Essa gente do Rio...Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1999.

Metzler, Marta. O Teatro da natureza. São Paulo: Perspectiva, 2006.

Nunes, Mario. 40 anos de teatro. 1º e 2º. Vol., Rio de Janeiro: SNT, 1956.

O Percevejo. O Teatro de revista no Brasil. Ano 12, n.° 13, 2004.

Sousa, Galante de O teatro no Brasil. Tomo I. Rio de Janeiro: MEC, Instituto Nacional do Livro,
1960.

3
Marques Porto - José Agostinho Marques Porto – nasceu no Rio Grande do Sul, em 06/01/1897, e faleceu em São
Lourenço, em 12/02/1934. Desempenhou múltiplas funções e escreveu mais de 100 peças; foi funcionário da Secretaria de
Guerra, Inspetor da Polícia Marítima, empresário, diretor, ensaiador, membro do Conselho Deliberativo da SBAT. Dentre
os seus textos teatrais, escritos com diversos parceiros, merecem destaque: Canalha das Ruas, Penas de Pavão, Secos e
molhados, A lá garçonne, Mão na roda, Pirão de areia, Chanchada, A louca, Cabocla bonita, Minha terra tem palmeiras,
Botica do Anacleto, Miss Brasil, Paulista de Macaé, A mulata, Prestes a chegar, Ri... de palhaço, Guerra ao mosquito,
Muito me contas, Rabo de saia, Brasil do amor, Prata da casa, Se você jurar, Intrigas da oposição; É do balacobaco; O
que o príncipe não viu; Flor de Sevilha; Ninguém não viu, Não quero mais saber dela, O Bagé, Cangote cheiroso, Melo das
crianças, Os saltimbancos, Microlândia, Cadê as notas?, Mineiro de botas, Dá nela, Pátria amada, Dá no couro, Vai dar
que falar, Segura essa mulher, com Ari Barroso e Velho Sobrinho; Brasil da gente, com Ari Barroso e Gastão Penedro;
Cachorro quente; Manda quem pode; Entra no cordão (as três últimas em parceria com Antônio Quintilhiano); A melhor
das três, com Ari Barroso; O armistício, com Ari Barroso e Carlos Cavaco.
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Sussekind, Flora. As revistas de ano e a invenção do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
Casa de Rui Barbosa, 1986.

Paiva, Salvyano Cavalcanti de. Viva o rebolado. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1991.
Velloso, Mônica Pimenta. Modernismo no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1996.
Veneziano, Neyde. O teatro de revista no Brasil. Dramaturgia e convenções. Campinas: Editora UNICAMP,
1991.
O Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros: influências para a República brasileira.
Tânia Maria Tavares Bessone da Cruz Ferreira
UERJ-Brasil/Pronex/CNPq/Faperj*
Resumo
Esta comunicação analisará as características do Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros
no início da República, as influências intelectuais e políticas por que passou. Com o fim da Monarquia
o IOAB foi afetado de maneira significativa, pois até então, mesmo não tendo feito parte da estrutura
do governo imperial, mereceu a elevada consideração dos altos escalões monárquicos. A corporação
dos advogados, embora presidida desde 1873 por um dos próceres do novo regime, o republicano
histórico Saldanha Marinho, fazia parte do rol das instituições acadêmicas que desfrutavam da proteção
do ex-imperador D. Pedro II, como o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, a Academia Imperial
de Medicina e a Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro, dentre outras. Portanto os novos anos
seriam difíceis e afetaram inclusive a rotina de discussões sobre questões de jurisprudência.
Palavras chave: História do Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros. Advogados na
República. História institucional.
O Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros (IOAB) foi fundado em 1843 com o nome de
Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB). A influência européia em suas origens é inegável e mistura
tradições portuguesas e francesas que deixaram marcas em sua atuação. Durante o período Imperial
obteve uma grande influência em vários setores da vida política, e seus associados e representantes
tinham fácil interlocução com diversos setores políticos e intelectuais. Com o fim da Monarquia (1889)
o IOAB foi afetado de maneira significativa, pois até então, mesmo não tendo feito parte da estrutura
do governo imperial, mereceu a elevada consideração dos altos escalões monárquicos. A corporação
dos advogados, embora presidida, desde 1873, por uma das figuras chave do futuro regime, o
republicano histórico Saldanha Marinho não teve a mesma inserção política e o mesmo brilho do
período imperial. Portanto os novos tempos seriam difíceis e afetariam inclusive a rotina de discussões
sobre questões de jurisprudência.
No entanto em 1892, após alguns anos de reclusão, houve uma retomada das atividades e o
Instituto aproximou-se dos novos poderes constituídos, passando a desempenhar funções de consultor
do governo, tal como costumava atuar em relação aos gabinetes imperiais do Segundo Reinado. A
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interlocução com o poder, ao lado dos debates intelectuais a respeito de jurisprudência, passaram a ser
facilitados, o que foi recebido como um retorno às origens. Em 1901 o IOAB recebeu a convocação da
Câmara dos Deputados para examinar o novo projeto de Código Civil, que tramitava no Legislativoi.
Por solicitação do ministério da Justiça apresentou um plano (...) perfeitamente concebido e de fácil
execução, para ser edificado o Palácio da Justiça. Participou, ainda, dos trabalhos da comissão
incumbida de organizar o Código de Processo Civil e Criminal, sendo ali representado pelos sócios
Drs. João Evangelista Bulhões de Carvalho, Carlos Augusto de Carvalho e Amaro Cavalcantiii. Ainda
no âmbito dos trabalhos regulares que desenvolvia junto ao governo, a corporação dos bacharéis, a
partir de 1897, tornara-se responsável, oficialmente, pelo patrocínio dos réus pobres. Os serviços da
Assistência Judiciária do Distrito Federal funcionavam, inclusive, nas próprias dependências do
Instituto, em uma casa alugada no centro da cidade, à rua da Constituição nº 43.
O IOAB, durante o governo de Rodrigues Alves, pode expressar apoio favorável às autoridades
constituídas, em especial ao ministro J. J. Seabra. Manifestou-se a favor do Decreto nº 939, de 29 de
dezembro de 1902, que alterou a organização administrativa do Distrito Federal, e concedeu amplos
poderes ao prefeito Pereira Passos para promover um conjunto de reformas urbanas, que incluía a
modernização do porto e a remodelação da cidade, com a construção de grandes avenidas e edifícios
públicosiii. Como se sabe, o plano das reformas não visou apenas embelezar a capital do país, livrando-
a dos andrajos coloniais. Elegeu o ideal do progressoiv, como objetivo coletivo da ordem republicana.
Nas palavras do poeta Olavo Bilac: O Brasil entrou – e já era tempo – em fase de restauração do
trabalho. A higiene, a beleza, a arte, o conforto já encontraram quem lhes abrisse as portas (...) O Rio
de Janeiro, principalmente, vai passar e já está passando por uma transformação radical. A velha
cidade, feia e suja, tem os seus dias contadosv.
O entusiasmo com a modernização influiu para que o poeta esquecesse dos métodos pouco
ortodoxos utilizados por Pereira Passos para implementá-la. Na consecução do programa de obras, que
ficou conhecido como o Bota-Abaixo, o prefeito notabilizou-se pelo descumprimento de dispositivos
legais, no processo de desapropriação e demolição das casas condenadas da área central do Rio de
Janeiro. A par disso, o despejo da população pobre que ali residia foi marcado por práticas violentas.
Sobre esses assuntos, tal qual Olavo Bilac, o Instituto permaneceu indiferente.
Do mesmo modo, a corporação dos advogados esquivou-se dos debates que precederam a
votação da lei que tornava obrigatória a vacina contra a varíola em todo o território nacional. Sabe-se
que o projeto enfrentou grande resistência, tanto da população de um modo geral, quanto do próprio
legislativo, sob as mais diferentes alegações. Havia mesmo quem considerasse inconstitucional o poder
público invadir o recesso dos lares, tanto para inspeção e desinfecção, quanto para a remoção de
doentes, o que era qualificado como seqüestro. Outro ponto dos mais controvertidos dizia respeito à
aplicação da vacina, se por médicos do governo, ou da escolha das pessoas, segundo o historiador José
Murilo de Carvalhovi.
Não vem ao caso, entrar em maiores detalhes sobre os desdobramentos provocados pela
promulgação daquela Lei, em 30 de outubro de 1904. Nem tratar do projeto para regulamentá-la,
preparado pelo médico Oswaldo Cruz, e que serviu de estopim dos levantes populares, seguidos da
insurreição da Escola Militar, que conflagraram o Rio de Janeiro entre 11 e 18 de novembro de 1904, e
ficaram conhecidos como Revolta da Vacina. Entretanto, é importante pontuar que o IOAB não se
pronunciou sobre esses acontecimentosvii. Nem esboçou qualquer manifestação sobre a dura repressão
aos revoltosos, movida pelo ministro J.J. Seabra, inclusive com prisões e desterros para a selva
amazônica. Os debates intelectuais e políticos caminhavam por outras searas.
Para o Instituto, a benesse concedida por J. J. Seabra respondia a outros anseios que desde a sua
criação, a Casa de Montezuma vinha lutando para conseguir: instalações próprias. Isto sem falar na
perspectiva de trazer para a futura sede a Biblioteca da corporação, que funcionava nas cercanias do
foro. Ademais, a construção que se erguia na praia da Lapa não era um mero improviso, ou uma
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simples reforma de instalações já existentes. Diga-se de passagem, fato muito corriqueiro no serviço
público. Tratava-se de um (...) palácio, segundo a expressão de Olavo Bilacviii. O projeto concebido
para congregar, em um mesmo espaço, os mais expressivos redutos intelectuais da capital do país,
digno de figurar no novo décor urbano imposto pela modernização de Pereira Passos. Tanto assim, que
o prédio situava-se numa espécie de prolongamento do centro recém remodelado em frente à Praça
Paris. A iniciativa recebeu aplausos de personalidades da elite letrada. Benjamim Franklin de Ramiz
Galvão, o mais entusiasmado com a idéia, resolveu batizar a edificação de Silogeu Brasileiro. A
denominação de Silogeu, aliás, foi dada pelo próprio Ramiz Galvão e significa casa onde se reúnem
sociedades dedicadas às letras e às ciências.
Nas fontes disponíveisix, não encontramos a data precisa da transferência do Instituto e da
respectiva biblioteca para a ala direita do Silogeux. Tudo leva a crer que tenha se efetivado entre o final
de 1905 e o começo de 1906, pois no Relatório do ministério da Justiça relativo àquele exercício, na
listagem dos próprios nacionais, consta o registro do Silogeu Brasileiro, como edifício moderno e
ocupadoxi. Efetivamente a novidade não contribuiu imediatamente para o aumento da freqüência dos
associados que já não compareciam mais às sessões trajando casaca, camisa de peito duro e gravata
plastron, indumentária típica do Segundo Reinado. Em tempos republicanos, adotaram figurinos mais
leves e democráticos, como o paletó de casemira clara e o chapéu de palha, embora nas cerimônias
oficiais continuassem a envergar vestes talares cujo privilégio fora concedido nos tempos do Império,
por D. Pedro II.

Convites para participar de atos cívicos, solenidades públicas, inaugurações, banquetes e outros
acontecimentos do gênero faziam parte do cotidiano do grêmio. Convocado pelo presidente Rodrigues
Alves, o Instituto nomeou uma comissão de sócios para assistir às festividades do dia 7 de setembro de
1904, quando se inaugurou o eixo principal da nova avenida Central, hoje Rio Branco, símbolo da
modernização do país. Aliás, os filiados do IOAB podiam ser vistos com assiduidade nas recepções
oficiais da presidência da República. Isto sem falar nos famosos banquetes oferecidos no Palácio do
Itamaraty pelo Barão do Rio Branco, titular da pasta das Relações Exteriores. Festas,vale acrescentar,
cujos convites eram disputadíssimos pela alta sociedade carioca, conforme revela o advogado e escritor
Rodrigo Octávio, no livro Minhas memórias dos outros xii.
Um ponto a destacar foi a participação e debates que promoveram na Conferência Pan-
Americana, realizada no Rio de Janeiro em 1906. O Instituto além de ceder suas dependências e de
receber convidados internacionais, integrou-se à ciranda de homenagens ao secretário de governo norte
americano Elihu Root, principal personalidade estrangeira presente ao evento, conferindo-lhe ainda o
título de sócio honorárioxiii. A corporação também se fazia notar em cerimônias religiosas, concertos e
exposições de obras de arte, a exemplo da mostra do famoso pintor português José Malhoa organizada
pelo Real Gabinete Português de Leitura, em 1906xiv. Como se vê, o Instituto da Ordem dos
Advogados Brasileiros ocupava lugar de destaque na agitada vida social do Rio de Janeiro da belle
époque e buscava integrar-se às influências européias, sobretudo a francesa que, naquele momento, era
considerado o marco do processo civilizatório.
Mas as festas e amenidades, vez por outra davam lugar a escaramuças jurídicas, por assim dizer.
A questão levantada sobre o direito dos advogados e dos magistrados a tratamento especial, quando
submetidos à prisão preventiva, ensejou uma disputa envolvendo sócios Drs. Carvalho Mourão, Lima
Drumond, Nodden Pinto e Solidonio Leitexv. A República ainda era jovem e os privilégios pareciam
passíveis de serem mantidos.
Para Carvalho Mourão, a concessão de tal prerrogativa era inconstitucionalxvi, ao passo que
outros três jurisconsultos sustentavam tese oposta. A divergência se encerrou com um parecer de
Theodoro Magalhães, que acabou contentando a gregos e troianos, ou seja, de que (...) a igualdade dos
cidadãos perante a lei não pode ser entendida em termos absolutos. A influência européia era
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apreciada nos modos sociais, mas a democracia ainda era um distante objetivo. Para alguns juristas
como o Dr. Magalhães, o privilégio não deveria ser suprimido, mas sim estendido (...) a outras classes
de cidadãos como o médico, o banqueiro e o industrial (...) não há motivo para exclusivismos e a
medida deve ser geral, atenta as condições humilhantes em que fica o cidadão de certa importância e
serviços, quando recolhido à detenção, (...)xvii.

Outra discussão memorável girou em torno da questão se (...) é lícita presença de símbolos
religiosos nas dependências dos tribunais, perante os princípios firmados pela Constituição Federal.
O assunto veio à baila a propósito da conduta do juiz de direito da 5º Vara Criminal do Distrito Federal,
que recolheu da sala das sessões do júri a imagem de Cristo crucificado - atitude que foi duramente
censurada pelo Dr. Pinto Lima, em sessão do Institutoxviii. O estado leigo de modelo europeu ainda
sofria um processo de adaptação, mesmo entre juristas.
As opiniões se dividiram e os debates se aprofundaram. A Carta de 1892 estabeleceu,
efetivamente, a separação entre a Igreja e o Estado. Neste sentido, havia quem tomasse o dispositivo ao
pé-da-letra. Outros reconheciam o princípio, mas não aceitavam o comportamento do magistrado,
justificando que não se poderia desprezar a tradição católica do país. Uma terceira corrente tentava
conciliar as duas posições. A discussão prosseguiu animada por um bom tempo, mas os jurisconsultos
não chegaram a um acordo, acabando por deixar a questão em aberto.
Aliás, o mesmo ocorreu em relação ao indicativo sobre a introdução do divórcio no Brasil.
Tema que, sem dúvida, desencadeou a mais extensa e disputada polêmica no IOAB, no período aqui
estudado. Basta dizer que superou até o longo debate ali travado, a respeito do ingresso de mulheres na
corporação.
A contenda se iniciou na sessão de 16 de maio de 1907, quando o Dr. Marcílio Teixeira de
Lacerda, encarregado de estudar a questão, expôs o seu relatório, defendendo a necessidade da
instituição da lei do divórcio. O Dr. Marcílio iniciou sua intervenção qualificando a causa de nobre e
patriótica:
(...) Nobre porque representava a libertação do Prometheu acorrentado da sociedade, os quais
como o personagem da tragédia grega (...) clamam por justiça e pedem liberdade! (...) Mas tudo em
vão, porque o vozerio estonteante do preconceito domina o grito dos oprimidos e o egoísmo dos bem
casados é surdo às súplicas dos infelizes. (...) Patriótico, porque é a consubstanciação de uma das
mais altas aspirações nacionais (...) um desejo afagado pela maioria da nação...xix´.
Mal havia pronunciado essas palavras introdutórias, Teixeira de Lacerda foi interrompido por
intervenções dos sócios Esmeraldino Bandeira e Pinto Lima. Com muito custo, tantos foram os
comentários, ele conseguiria levar adiante a leitura e concluir sua exposição. A resposta ao relatório
veio de Pinto Lima, que considerou o relatório:
(...) Sua Ex., diz o orador, dá como fim do casamento a cópula carnal, contra isso protestava,
pois aceitava a carapuça de bem casado sem que com isso fosse egoísta; diz que o fim do casamento é
a troca de afeto, o convívio do lar (...) a palavra casamento significa um laço indissolúvel e por isso
não pode ser um contrato, que é temporário (...) O orador entra em várias considerações para
demonstrar a inconveniência do divórcio, a que chama um mal necessário, mas, como só uma minoria
dele necessita, a maioria não pode ser coagida a aceitá-lo; quais, pergunto serão os pais dos filhos de
uma mulher divorciada muitas vezes e outras tantas casadas?xx
Ao final desta réplica, a sessão teve de ser interrompida, face o número de inscrições para
apartes. Instalou-se a contenda, com a formação de dois partidos e a sala das sessões do Instituto
transformou-se em uma arena: de um lado, perfilaram-se os sócios favoráveis à instituição do divórcio,
capitaneados por Teixeira de Lacerda; de outro, aglutinaram-se os que eram contrários, sob a liderança
de Pinto Lima. No primeiro grupo, ocupavam posição de destaque Deodato Maia, Myrthes Gomes de
Campos, Avelar Brandão e Gastão Victória. No segundo, salientavam-se Esmeraldino Bandeira, o
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Visconde de Ouro Preto, Taciano Basílio e Octacílio Câmara. Este último, inclusive, declarava
combater o divórcio:
(...) por princípios utilitaristas; escudado no positivismo comtista repele as conclusões da tese
que (o divórcio) viria dar alforria à pretendida escravização da mulher, porquanto no seu entender a
incapacidade da mulher casada é decorrente do poder marital, (...) chama de utopia o feminismo que
pretende dar à mulher outras funções que não as do larxxi.
As duas facções se mostravam igualmente aguerridas e as escaramuças prosseguiriam com
réplicas e tréplicas a cada sessão. Nesta ocasião, o tema do divórcio passou à ordem do dia no Rio de
Janeiro. Não se falava de outra coisa na cidade, desde que a conhecida revista Kosmos começou a
publicar a novela A Divorciada, de Cunha de Mendesxxii.
Ao que parece, as desditas dos heróis da novela - Paulo Leão e Arlinda, a divorciada, deram um
novo fôlego à facção do Dr. Teixeira de Lacerda. Eles conseguiram aprovar na plenária do IOAB um
indicativo, para que fosse nomeada uma comissão especial, encarregada de formular um projeto de lei,
com vistas à Câmara dos Deputados, (...) que estabeleça o divórcio com a dissolução do vínculo
conjugal, a ser encaminhado ao poder legislativoxxiii.
A questão, todavia, permaneceu na pauta de todas as sessões do Instituto até o final de 1907,
quando foi estabelecida uma trégua, por assim dizer. Suspendeu-se a sua discussão, em nome de um
assunto da mais alta prioridade: a contribuição do Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros aos
festejos que o governo tencionava promover em 1908, para celebrar a passagem do centenário da
“Abertura dos Portos” e que também seria uma forma de retomar e consolidar as relações com países
europeus e americanos.
Desta forma o Instituto foi retomando um lugar de destaque na política e na sociedade, tornando
a se transformar em uma associação mais influente. No entanto, o objetivo de se tornar uma Ordem, no
modelo francês só viria a se realizar na década de trinta, um processo lento e difícil, que levou mais de
noventa anos para se concretizar.

* Pesquisador principal do CEO/PRONEX-CNPQ/FAPERJ: Nação e cidadania no Império: novos horizontes.


Este texto é caudatário dos livros O IAB e os advogados no Império. Brasília: OAB, 2003; O IOAB na Primeira República.
Brasília: OAB, 2003 e OAB. Criação, primeiros percursos e desafios (1930-1945) todos em colaboração com Lúcia Maria
Paschoal Guimarães em História da Ordem dos Advogados do Brasil. Hermann Baeta (org) Brasília: OAB, 2003.
i
Ver publicação do Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros (citado a partir desta nota como IOAB): Atas das
reuniões da Comissão Revisora do Projeto de Código Civil, Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, 1906 (publicação
autorizada pelo Ministro do Interior, Dr. Felix GASPAR).
ii
Brasil, Relatório do Ministro da Justiça e Negócios do Interior José Joaquim SEABRA: 1904-1905, p, 130-131.
iii
Sobre o programa de remodelação do Rio de Janeiro, ver, dentre outros, Jaime Larry BENCHIMOL: Pereira Passos:
um Haussman tropical: a renovação urbana da cidade do Rio de Janeiro no início do século XX, Rio de Janeiro, Secretaria
Municipal e Cultura, Departamento Geral de Documentação e Informação Cultural, Divisão de Editoração, 1992. Ver,
também, Américo FREIRE: Uma capital para a República: poder federal e forças políticas locais no Rio de Janeiro na
virada para o século XX, Rio de Janeiro, Editora Revan, 2000.
iv
Cf. Nicolau SEVCENKO: Literatura como missão: tensões sociais e criação cultural na Primeira República, São
Paulo, Brasiliense, 1985, p. 30.
v
Olavo BILAC, apud Nicolau SEVCENKO, Idem, ibidem.
vi
Sobre a Revolta da Vacina, ver José Murilo de CARVALHO: “Cidadãos ativos: a Revolta da Vacina”, in, Os
bestializados: O Rio de Janeiro e a República que não foi, São Paulo, Companhia das Letras, 1987, p.91-160.
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vii
De acordo com Emilia Viotti da COSTA, Pedro Lessa, [1908], então ministro do Supremo Tribunal Federal, em um
estudo sobre a intervenção oficial em matéria de higiene pública argumentava que o (...) Estado não só podia como devia
obrigar, pelo emprego da força material, ao cumprimento do preceito higiênico, eficaz e inócuo, àqueles que por
ignorância, por preconceito ou por qualquer outro motivo inadmissível não satisfazem esse dever moral. É de se supor que
a opinião do IOAB não fosse muito diferente da opinião externada por Lessa membro honorário da Casa. Cf. Emília Viotti
da COSTA: O Supremo Tribunal Federal e a construção da cidadania; organização Albino Advogados Associados, São
Paulo, IEJE, 2001, p. 40.
viii
Olavo BILAC: “Crônica”, in Kosmos, Rio de Janeiro, nº 4, abril de 1905, p.4
ix
Sobre a problemática das falhas na documentação do IOAB, cf. Plínio DOYLE: Uma vida, Rio de Janeiro, Casa da
Palavra, Fundação Casa de Rui Barbosa, 1999, p. 49-50. DOYLE narra que, ao assumir o cargo de primeiro secretário, na
década de 1930, organizou toda a documentação do grêmio, até então dispersa em pacotes embrulhados por velhos jornais.
Revela, também, que as atas eram lavradas em folhas soltas e não em um livro, como é normal.
x
A Academia Brasileira de Letras instalou-se no flanco esquerdo do Silogeu, em 1905. Já o Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro só veio a se transferir para o prédio em 1913, quando foi erguida uma ala nova para acolhê-lo.
xi
Relatório do Ministro da Justiça e Negócios do Interior Felix Gaspar de Barros e ALMEIDA: 1905-1906, v. 6, p. 26.
xii
Cf. Rodrigo OCTAVIO: Minhas memórias dos outros, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira; Brasília: INL,
1978/1979, v. 3, p. 129.
xiii
IOAB: “Ata da sessão de 02 de agosto de 1906”, Revista do Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros, tomo
XVII, p. 239.
xiv
IOAB : “Ata da sessão de 5 de julho de 1906”. Idem, ibidem, p. 230. A esse respeito, cabe lembrar que o rei de
Portugal D. Carlos I visitou o atelier de José Malhoa, em abril de 1906, onde foi admirar os trabalhos destinados à
exposição no Rio de Janeiro.
xv
IOAB: “Atas das sessões de 9, 16 e 23 de agosto de 1906”, Revista do Instituto da Ordem dos Advogados
Brasileiros, tomo XVII, p. 242-251.
xvi
IOAB:“Atas das sessões de 9, 16 e 23 de agosto de 1906”, Revista do Instituto..., p. 249.
xvii
IOAB:“Atas das sessões de 9, 16 e 23 de agosto de 1906”, Revista do Instituto...,p. 251.
xviii
IOAB: “Ata da sessão de 26 de abril de 1906”, Revista do Instituto...,p. 230.
xix
IOAB: “Ata da sessão de 16 de maio de 1907”. Revista do Instituto…, tomo XVIII, 1907, p. 374.
xx
IOAB: Idem, ibidem, p. 375.
xxi
IOAB: “Ata da sessão de 27 de junho de 1907”, Revista do Instituto..., t. XIX, p.169.
xxii
Cf. Revista Kosmos, Rio de Janeiro, ano IV, nºs 8, 9, 10, de agosto, setembro e outubro de 1907.
xxiii
É interessante observar que nas atas publicadas no tomo XX da Revista do Instituto da Ordem dos Advogados
Brasileiros não consta esta deliberação. Fomos encontrá-la nos documentos manuscritos, entre os Livros organizados por
Plínio DOYLE, aos quais já nos referimos. A deliberação foi tomada na sessão de 08 de agosto de 1908. Cf. IOAB: Livro das
Atas dos anos de 1907, 1908, 1910, Ms.

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