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Resumo Abstract
O presente artigo trata da crescente valo- The present work is about the appreciation
rização da presença feminina nos palcos do of female presence in revue theather around
teatro de revista observada a partir de 1920. 1920’s. The women’s participation in public
São abordadas também a participação das spheres and the carrer of Margarida Max – one
mulheres na esfera social, e a atuação da atriz of the majors stars of early 1900 – are also con-
Margarida Max, que ficou conhecida como sidered.
uma das maiores vedetes do início do século
XX.
Palavras-chave Keywords
Teatro de Revista. Emancipação feminina. Mar- Revue Theatre. Female Emancipating. Marga-
garida Max. rida Max.
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3 Disponível em http://bndigital.bn.br/hemeroteca-digital/
2 Margarida Max foi uma das vedetes mais famosas do teatro Acesso em 02 set 2015
de revista nas décadas de 1920 e 1930. A companhia que le-
vava seu nome era um dos bem sucedidos empreendimentos 4 Expressão cunhada por Anne-Marie Sohn (Collaço, 2008b,
de Manoel Pinto. p.2)
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fera pública”, a partir do estudo, da atuação anos vinte há uma justaposição de melindro-
profissional em carreiras antes masculinas, da sa e mãe-esposa/dona de casa, consideran-
constituição de organizações feministas, e do do que as novas modas e o novo padrão de
consumo (Besse apud Bonadio, 2007, p. 38). feminilidade adotados por estas mulheres se
Bonadio comenta que essa transformação da configurariam como um exemplo de pseu-
mulher em agente consumidor permite que doemancipação: “as mulheres passavam a ter
ela se aproxime do espaço público. E esclare- uma aparência mais jovem, podiam sair sozi-
ce que o ato de sair de casa para fazer com- nhas para as compras e fazer passeios pela
pras, ainda que para o abastecimento do lar, cidade, mas continuavam se preocupando em
teve maior desenvolvimento entre as mulheres manter o casamento e principalmente a honra
após a Primeira Guerra Mundial, com as novas e a moral da mulher casada” (Ibidem, 2007, p.
estruturas de comércio - como as feiras livres 196). Ou seja, mudaram as roupas, os cabelos,
nos bairros. Logo a atividade passou a ser ta- e os hábitos, mas a base da feminilidade con-
refa diária, e se aliou ao lazer e à individualida- tinuava a mesma.
de feminina (Bonadio, 2007). Parece-me que a mulher deseja sua eman-
A autora afirma que em meados da década cipação, quer sustentar tal aparência, porém
de 1920, com a expansão das lojas de depar- ainda não encontra meios de fazê-lo em sua
tamentos, a confecção de roupas prontas ad- totalidade, desvencilhando-se das amarras se-
quire novo status, e os produtos de vestuário culares da sociedade androcêntrica. Segundo
ganham a liderança entre os itens de consumo Bonadio, “no caso brasileiro, o movimento da
feminino. Bonadio associa essa valorização à nova feminilidade se achava muito mais dire-
vontade da mulher da época de “adequar-se cionado à moda e aos costumes cotidianos
à modernidade, à paisagem urbana, exibindo do que à liberação sexual ou às preocupações
as últimas novidades da moda como capital político-trabalhistas” (2007, p.135). Andrade
simbólico” (Bonadio, 2007, p. 40). Ao investi- afirma que
gar a seção de moda da Revista Feminina e
os anúncios do Mappin Stores, a pesquisado- a mulher passou a ser integrada (vo-
tando e até chegando a ocupar lugar
ra conclui que ambos visam a comercializar de destaque em determinados em-
novas imagens para a mulher e promover o preendimentos desenvolvidos no es-
paço público, como o teatro) quan-
consumo como modo de vida – mais do que o do não se colocou como diferença,
vestuário ou artigos de beleza, o que as lojas quando não trouxe consigo o desejo
de projetar um universo próprio de in-
vendem é o modo de vida da melindrosa, por teresses e questões, como as resul-
exemplo. E comenta: “a moda feminina trans- tantes de pertencer ao sexo feminino
numa sociedade de estrutura patriar-
mite aos outros a identidade de uma mulher, calista (Andarade, 2008, p. 17).
ou de um grupo de mulheres, ou aquela com a
qual a consumidora em questão se identifica, Desse modo, a mudança no comportamento
identidade não necessariamente ligada ao pa- ocorre ainda de maneira pouco profunda, sem
pel que a sociedade lhe reserva” (Idem, 2007, a compreensão das singularidades femininas.
p. 193). Nesse sentido, verifica que na imagem A autora avalia que quando as mulheres co-
das mulheres das camadas altas e médias dos meçaram a se autorrepresentar, “percebemos
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1920 o teatro de revista era a maior diversão está o gato? De Geysa Bôscoli e Luiz Iglésias,
do brasileiro, e a vedete, a principal atração. e Guerra ao mosquito, de Marques Porto e
E enumera, entre as exigências para as can- Luiz Peixoto.
didatas ao posto privilegiado, os seguintes Em Comidas, meu santo! De Marques Por-
requisitos: boas cantoras, com requebrados e to e Ary Pavão, Margarida Max desempenhava
gingados, corpos que valorizassem figurinos seis personagens: Estrella, O Beijo, Radioma-
bem cuidados, decotes generosos e pernas nia, Alexandrina (mulata), Louca e Comidas.
bem torneadas à mostra. E ressalta o brilho, à Sobre sua atuação, escreveu Mário Nunes no
época, de Margarida Max. Jornal do Brasil:
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à frente de uma empresa, o feito é digno de danças das sociabilidades e práticas culturais
reconhecimento e registro. A modernidade era cariocas, bem como às transformações relati-
uma característica atribuída à estrela inclusi- vas aos papel feminino na sociedade” (2009,
ve pelos periódicos da época, como pode ser p. 24).
observado na edição de dezembro de 1929 do
jornal A Batalha:
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