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Herança de ódio
Oduvaldo Viana

Coordenação e edição de texto


L aura do Carm o

e d iç o es Casa de Rui Barbosa

Rio de Janeiro, 2007


A T R A JE T Ó R IA A R T Í S T I C A IN O V A D O R A
DE O D U V A L D O V IA N A

Jean ette Ferreira da Costa i9

Na historiografia do teatro brasileiro, a obra de O duvaldo Viana não


tem sido devidam ente valorizada. Seu nome quase sempre é lembrado
apenas como um dos participantes da “geração Trianon”, sendo citadas
1 somente três ou quatro peças de sua autoria, assim mesmo classificadas
: entre as “com ediazinhas de costumes”. Da sua produção no rádio nem
se fala, já que o radioteatro é considerado um a forma dram ática menor,
gozando o desprezo da crítica, em bora tenha merecido sempre o aplau­
so do público ouvinte, com surpreendente popularidade nas décadas de
1940 e 1950.
É necessário esclarecer que a partir de algum as pesquisas e estudos
recentes, a obra de Oduvaldo Viana ganhou um a nova avaliação, m e­
recendo sair do ostracismo a que foi relegada. Pode-se considerar, en­
tão, que O duvaldo Viana foi um renovador do teatro brasileiro, tanto
na dram aturgia como na encenação - ao escrever m ais de trinta peças,
traduzir e adaptar outras trinta de autores diversos, d irig ir quase todas
elas, introduzindo técnicas inovadoras na dram aturgia e nas montagens
dos espetáculos —, além de defender e lutar pela prosódia brasileira no
palco. Produziu para o rádio m ais de cem radionovelas e inum eráveis
program as e peças radiofônicas. Realizou cinema no Brasil e na A rgen­
tina, como roteirista e diretor. Assum iu a direção da T V Tupi, no Rio
de Janeiro, onde teve algum as das suas radionovelas adaptadas para te­
lenovelas. Oduvaldo Viana exerceu por quase cinquenta anos as funções
de jornalista, teatrólogo, diretor, em presário, professor, cineasta e radia-

Doutora em Teatro pela Universidade do Rio de Janeiro.


lista, sendo consagrado e festejado na sua época, fazendo história nesses
meios de comunicação.
Filho de um diretor de grupo escolar, o professor Justiniano Viana, e
de d. Leonor, O. Viana, nasceu em 27 de fevereiro de 1892, no Brás, em
São Paulo. Desde cedo ele tinha a m an ia das letras, fundando um jor-
nalzinho, o Z ig-Z ag, com seu colega de escola e amigo Afonso Schmidt.
M ais tarde, em 1906, os dois criaram a Aurora Paulistana, órgão de litera­
tura, hum orism o e crítica. Continuando a tentar a literatura, aos 14 anos
ele escreveu um livro de poemas, H ora d e angústia. Em 1909, iniciou sua
carreira profissional como revisor do D iário da M anhã, trabalhando de­
pois como repórter e redator de A P latéia. Em seguida, fundou com um
grupo de sonhadores o semanário O M om ento, de vida efêmera.
Para atender o desejo do pai de vê-lo como um diploma, entrou para
a Escola de Odontologia de São Paulo, mas não completou o curso, indo
trabalhar como escriturário e bibliotecário do Instituto Bacteriológico
de São Paulo. Continuou a colaborar em A Platéia, escrevendo sem anal­
mente contos humorísticos. Em 1914, viajou como correspondente de
guerra desse jornal, para Portugal e Espanha. Existe um a outra versão,
segundo a qual Oduvaldo teria zarpado para a Europa atrás de um a
bailarina espanhola. O certo é que ele se viu em má situação financeira
em Portugal, onde, com o apoio de A ndré Brun, publicou Feira d e ladra,
livro de contos humorísticos. De volta ao B rasil, em 1915, Oduvaldo re­
solveu acum ular as funções de funcionário público com as de redator do
jornal D iário da N oite. A inda nesse ano, ele participa de um concurso de
comédias em um ato com a peça A migos d e infância, sendo prem iado em
terceiro lugar. Ele largou tudo em São Paulo, e embarcou para o Rio de
Janeiro. A peça foi representada no Teatro Recreio, em julho de 1916.
Nesse mesmo mês estreou no Palácio Teatro, em São Paulo, a opereta de
sua autoria A ordenança do coron el, com música de Eduardo Bourdot.
Já no Rio de Janeiro, O duvaldo Viana foi convidado a colaborar com
outros autores, escrevendo as revistas Dá cá o p é (1916), com C ândido de
Castro, V ocêé um b ich o! (1917), com Cardoso de Menezes, e nesse último

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gno a com édia P obre Jerem ias, com Emanuel Cardoso, todas apresenta­
das pela C om panhia d o Teatro São José.
Apesar de estar se iniciando na carreira d e autor, O duvaldo Viana
Já tinha presença m arcante nos meios jornalístico e teatral. Tanto assim
que, em 1917, ele estava na luta pela criação da Sociedade de Autores
Teatrais —SBAT, participando como fundador da formação da sua p ri­
meira diretoria, junto com Paulo Barreto (João do Rio), Viriato Corrêa,
Raul Pederneiras, Bastos Tigre, Avelino de A ndrade e A genor C arvoli-
va. Mais tarde foi eleito conselheiro perpétuo dessa instituição.
Quando O. Viana tomou a decisão de escrever sozinho e concluiu
Uma peça de tem a regional, Rosa d o sertã o, ofereceu-a às companhias
teatrais do Rio, m as todas a rejeitaram . Ele então desistiu de escrever
para teatro e voltou a trabalhar somente em jornais, onde pelo menos a
parte financeira era m ais segura. Retornou a São Paulo, atendendo a um
chamado da fam ília, m as já havia perdido o em prego público por aban­
dono. Ficou seis meses na terra natal trabalhando em A Gazeta. De volta
ao Rio de Janeiro, retomou a carreira jornalística, escrevendo na seção
hum orística “Graves e Agudos”, do jornal Razão, depois no vespertino A
Rua e na Gazeta d e N otícias. Em seguida, trabalhou concomitantemente
de dia em A N oite e à noite em 0 Dia.
Conseguiu então vender sua peça Rosa do sertão para o em presário
Paschoal Segreto que exigiu a m udança do título para A mor d e bandido
e a troca de algum as falas dram áticas para versos, que vão ser musicados
e cantados por Vicente Celestino. Da orquestra fazia parte Villa-Lobos
e do elenco A bigail M aia, L uiza N azareth, A rtur de O liveira e outros.
Apesar dò autor considerá-la horrível, A mor d e bandido rendeu m ais de
cem representações. “Seu sucesso deveu-se ao fato de um a corista do
elenco ter sido assassinada com vinte e sete facadas pelo am ante, cau­
sando um escândalo que se transform ou em propaganda da peça pela
im prensa”.40 A partir daí, as com panhias teatrais com eçaram a solici­

40 Depoimento de Oduvaldo Viana para o Museu da Imagem e do Som (MIS), em 13 de ou­


tubro de 1967, apud VIANA, Deocélia. Companheiros de viagem. São Paulo: Brasiliense,
1984. p. 59-
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tar-lhe peças, e teve início, assim, a carreira de Oduvaldo V iana como
comediógrafo.
O ano de 1919 foi promissor para o novo autor. Após o sucesso de
Amor d e ban d ido , ele teve um va u d eville encenado, O alm ofadinha ', depois
uma “fantasia-feérica”, em parceria com Roberto Soriano, O clu b e dos
pierrots, considerada pela crítica um avanço em teatro ligeiro. Em segui­
da, ele entregou à em presa de Paschoal Segreto a revista Viva a R epública.
é uma crítica à P rim eira República, que vinha decepcionando a todos,
sobretudo aos pobres. Nota-se aí, um a referência à R epú blica das B ru-
zundangas, de L im a Barreto, que m anifestara, durante um depoimento à
revista C om édia, a intenção de ter o seu am igo como parceiro num a peça
que se cham aria A felicid a d e da B ruzundanga. No final de 1919, entrou
em cartaz o m usical F lor da n oite, estrelado por A bigail M aia e Vicente
Celestino, secundados por Procópio F erreira, M anuel D urães e outros.
Uma montagem espetacular da em presa de Segreto, para a qual Odu­
valdo caprichou na indicação dos cenários, da ilum inação, na descrição
dos tipos, na música de Adalberto C arvalho e na grande movimentação
das cenas. Continuam aqui presentes na dram aturgia de O. Viana os
dois segmentos polarizados da sociedade: a elite europeizada e m oderna
da cidade e a população m arginalizada dos subúrbios e favelas, os que
têm um status garantido e os que disputam um lugar ao sol “à tapa”.
Esses primeiros tempos foram positivamente de treinam ento para o
nosso comediógrafo, iniciando pelos gêneros chamados ligeiros. N atu­
ralmente o trabalho paralelo exercido na imprensa propiciava-lhe um
conhecimento dos ambientes diversificados da cidade e um a experiên­
cia com o dia-a-dia da população. Foram necessários empenho e tempo
para fam iliarizar-se com os bastidores do palco, até ser considerado “um
rato de teatro”. E Oduvaldo Viana estava apenas começando, m uito ain­
da tinha pela frente.
Sua prim eira comédia de costumes de tema regionalista, Terra natal
(5-5-1920), trata dos problemas econômico-financeiros que os fazendei­
ros da velha política do “café com leite” enfrentavam com a m oderni­
zação e o progresso chegando à vida ru ral. Oduvaldo carregou nos por­
menores realistas das cenas. A comédia foi encenada pela Com panhia
Alexandre Azevedo, no Teatro T rianon, ficando um mês em cartaz e
voltando em reprises várias vezes. Posterior mente, a em presa apresen­
tou, tam bém de Oduvaldo, A casa d e tio P edro (21 -12-1920), em três atos
com cenários distintos, passados prim eiram ente num a casa de subúrbio
do Rio, depois num a noite de carnaval, em casa de gente rica, em Santa
Teresa e, finalizando, num a casa de praia no C aju. A com édia ridicula­
riza os modos, costumes e aparência de um determ inado grupo social.
Concebida tam bém n a linha realista-naturalista, mostra em cena: cães,
pássaros, ruídos de trem , de autom óvel, orquestra de baile e ladrão que
assalta de lanterna na mão. Nessa peça, a criança que aparece em alg u ­
m as cenas é Bibi F erreira, com poucos meses de idade.
No Teatro Trianon, foi lançado um m ovimento pela nacionalização
do nosso teatro e O duvaldo V iana se destacou como o seu grande líder.
Tanto que, em 1921, ele estava à frente de um a cam panha pela adoção
da prosódia brasileira no palco, substituindo o “tu” lusitano pelo “você”
brasileiro. Surgiu d aí um a nova empresa no Teatro Trianon, dirigida
por Viriato C orreia, Oduvaldo Viana e N icolino V iggiani, que, segundo
o crítico M ário N unes, “deu-nos peças bem ensaiadas e com desusado
rigor de encenação, e apoiou tudo por um reclam e à am ericana, verda­
deira novidade no nosso m eio”.'11 Estreou com peças novas e algum as re­
prises de autores brasileiros: Nossos papás, de Ribeiro Couto; O nde canta
o sabiá, de Gastão Tojeiro; Ju riti, de Viriato C orreia; O d em ôn io fa m ilia r,
de José de A lencar e O m inistro do S uprem o, de A rm ando Gonzaga. U m a
nova criação de Oduvaldo Viana foi levada à cena, M anhãs d e so l (21-10-
1921), comédia de costumes com tema nacional-rcgionalista e urbano.
A peça começa num a cidadezinha do interior e term ina num ambiente
requintado do Rio de Janeiro. Tem um a tram a simples e ingênua, mas
defende o divórcio - um a audácia naquele tempo - , apresentando tipos41

41 NUNES, Mário. 40 anos de teatro. Rio de Janeiro: Serviço Nacional de Teatro, 1956. p. 5, v. 2.
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de época e m uitos efeitos teatrais. Décio de Almeida Prado fez essa ob­
servação: “O duvaldo tinha o senso do teatro, como jogo, improvisação,
palavra puxa palavra”.12 Depois, ele apresentou um a com édia de cos­
tumes urbana, A vida é um son h o (28-6-1922), em três atos, com cenário
constituído de um grupo de casinhas de fam ílias modestas, num a ave­
nida do C atum bi, no Rio. O autor usou um a linguagem bem popular,
com trocadilhos e gírias, em diálogos curtos do cotidiano. Essa comédia
foi considerada, na época, pelo crítico Alcântara M achado, um a das me­
lhores do repertório nacional. N o entanto, a sociedade entre Oduvaldo,
Viriato e V iggiani foi desfeita com as últim as apresentações dessa peça.
É dign a de ser m encionada a revista de Oduvaldo e V iriato Corrêa,
Ai, seu M elo..., com músicas de Roberto Soriano, pela Cia. B rasileira de
Teatro Popular, que inaugurou em 17-3-1922, o C ine-Teatro Centená­
rio. O título faz alusão, ao mesmo tempo, ao candidato à presidência
da República A rtu r Bernardes - cuja expressão popular Seu M é, pelo
queixo caprino, fora proibida pela polícia - e a um ju iz de menores cha­
mado M elo, que perseguia o teatro de revista. O espetáculo satirizava a
imprensa venal, o jornalista cavador e a eleição fraudulenta, com com­
pra de votos pelos políticos poderosos. A censura liberou a revista com a
m udança do título para Yayáfru ta d e co n d e, constando como autor M ário
Floreal, pseudônimo de O. Viana.
Movido pela justa ambição de ter companhia própria, Oduvaldo
Viana fundou com sua mulher, a C ia. Brasileira de Com édias A bigail
M aia, m as, sem dispor de teatro no Rio, em barcaram para São Paulo, es­
treando no Teatro Apoio (janeiro de 1923). Segundo inform a M iroel S il­
veira, foram apresentados 469 espetáculos seguidos, com um elenco de
prim eira, no qual brilhavam : Apolônia Pinto, G raziela D iniz, A delaide
Coutinho, M argarida M ax, C ordélia F erreira, M anuel D urães, Bran­
dão Sobrinho, Jorge D iniz, Palm erin Silva, João L im a, Plácido Ferreira,
João Barbosa, Procópio F erreira e A ída Izquierdo Ferreira. 42

42 O Estado de São Paulo, de 1 set. 1966.



Depois do sucesso obtido em São Paulo, O duvaldo e A bigail parti­
ram em excursão para Porto A legre, Pelotas, e de lá para M ontevidéu,
no Teatro U rquiza (12-10-1923), e Buenos Aires, no Teatro Odeon (31-
10-1923), com Ú ltima ilusão. Nesta peça, O duvaldo Viana am bienta a sua
estória na cidade de São Paulo, abrindo o prim eiro ato com os persona­
gens num a noite boêmia de um bar movimentado, sendo os principais:
duas instrum entistas de um a orquestra fem inina, dois jornalistas, um
poeta, um rapaz rico e um a atriz. Em M ontevidéu, diziam os telegra­
mas: “No final do terceiro ato o pano subiu oito vezes e houve um a salva
de palmas ao cenário do quarto ato. A assistência deu vivas ao B rasil”/3
A companhia dirigida pelo autor foi a prim eira a atravessar as nossas
fronteiras, levando peças e artistas brasileiros para outro país. Oduvaldo
Viana é saudado pela imprensa “como um bandeirante no campo da
cultura”.4'’ Este pioneirismo lhe valeu um voto de louvor da C âm ara dos
Deputados, outro da Academ ia B rasileira de Letras, e um Pergam inho
do Conselho M unicipal. Afonso Schm idt lem bra que Oduvaldo chegou
a ser proclamado, num banquete de cinco m il talheres para representan­
tes de teatro, jornal, rádio e outras artes, ciudadano d e ia B oca.K
Quando a com panhia retornou a São Paulo, em fins de 1923, an un ­
ciou nos jornais a tem porada da C ia. de Com édias de Prosódia B rasi­
leira, assum indo assim , um a posição revolucionária no cenário teatral.
Já no Teatro Trianon, no Rio de Janeiro, O duvaldo e sua com panhia
perm aneceram em cartaz de janeiro a agosto de 1924, quando ele e
A bigail se retiraram da em presa. Ele resolveu então realizar um velho
projeto, fundar um vespertino, o São P aulo Jorn a l, porém só conseguiu
o seu intento em 1926. Nessa fase, O duvaldo V iana em presariou Leo­
poldo Fróes, dirigindo a sua tem porada no Teatro Apoio, em São Paulo,
negociando a ida da com panhia dele a Buenos Aires. Ao retornar da
A rgentina, Fróes continuou sob a adm inistração de O duvaldo, fazendo
um a to u m ée pelo interior paulista e m ineiro. O duvaldo foi responsável435

43 NUNES, Mário, op. cit., v. 2, p. 86.


44 Ibidem, v.2, p , 73.
45 Jornal Papel e Tinta, São Paulo, 1 mar. 1950.

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também pela excursão ao Brasil da atriz argentina A ngelina Pagano. A
partir do final de 1925 até 1927,0 . V iana alternava iniciativas em presa­
riais entre Rio e São Paulo, e paralelam ente cuidava do São P aulo Jornal,
que não durou muito.
Em 1928, O duvaldo Viana voltou a São Paulo dirigindo a C ia. Abi-
gail M aia-R au l Roulien, com a idéia de “salvar o teatro” do perigo do
cinem a, organizando um teatro breve, de um só ato. Propunha a criação
do “sainete brasileiro”, gênero em moda na A rgentina —comédia curta,
leve, sem efeitos fortes, devendo apresentar unicam ente o feitio superfi­
cial dos personagens —, no qual estarão presentes todas as nacionalidades
que compõem as colônias de im igrantes e seus descendentes. O. Viana
procurou renovar, influenciado pelo cinem a, inventou a peça sintética e
movimentada, apresentando o sainete O castagnaro da festa . Trata-se de
um texto em três quadros, vários cenários, com diálogos rápidos entre
moradores de um cortiço, sem entrar fundo na vida de nenhum deles.
Na festa de estréia, em maio de 1928, no Teatro Apoio, o elenco foi apre­
sentado por um convidado especial, vindo do Rio de Janeiro, Álvaro
M oreira. E ram espetáculos de 80 minutos, sem intervalo, em duas ou
três sessões e a preço de cinema.
Depois de m anter-se afastado do palco por algum tempo, Oduvaldo
Viana retorna jogando um pouco “por água abaixo” aqueles sonhos de
um nacionalismo e de um brasileirism o puros, que não tinham respaldo
num a realidade hostil. Oduvaldo colocou em cena cerca de trinta peças
estrangeiras, a m aioria traduzida e adaptada por ele ao meio ambiente
rural e urbano brasileiros. Essa proposta salvadora não deixou de ser
um a tentativa desesperada diante de um a crise evidente, além das di­
ficuldades para m anter um a companhia teatral em atividade, com um
m ínim o de respeito pela arte de representar e dignidade para aqueles
que sobrevivem desse ofício.
Em 6 de janeiro de 1929, O Estado d e São P aulo publicou um a nota
melancólica: “a nossa vida teatral atravessa, nesse momento, um perío­
do de m aré morta. Funcionam apenas dois teatros de certa importância
num a cidade de um milhão de habitantes”. Como teatrólogo e diretor de
52
companhia, O duvaldo Viana era um dos poucos que conseguiam resistir
às crises, inventando saídas para “salvar o teatro”, criando motes publici­
tários, pelo menos mantendo acesa a cham a de Dioniso. Por outro lado,
o aproveitamento da literatura dram ática platina antecipava a “política
de boa vizinhança” increm entada pelo presidente Roosevelt, dos E.U.A.,
a partir da grande queda da Bolsa de Nova York, em 1929.
Nesse período ocorreu a invasão no rádio, no cinem a e na indústria
fonográfica pelos norte-am ericanos, sobretudo na A m érica L atina. No
Brasil, a repercussão do cinem a falado cresceu tanto que O. V iana en­
tusiasmado pretendia trocar o teatro pelo cinem a, em barcando para os
Estados Unidos com a finalidade de estudar as técnicas do film e sono­
ro. Ao voltar, em 1930, não conseguindo apoio para m ontar um estúdio
cinematográfico, como sonhara, retornou ao teatro colocando no palco
brasileiro o que viu em filmes e m usicais assistidos na Broadway, escre­
vendo em parceria com L u ís Iglézias a revista teatral Diz isso cantando
(na qual foi lançado o samba B on eca d e p ich e, de A ri Barroso, regravado
cm 1938 por C arm em M iranda e A lm irante, mas gravado inicialm ente
como No m orro (Ehl Eh!), um batuque com Augusto Vasseur e Araci
Cortes). Pelo fato de desnudar as gilrs, a revista foi então classificada
como im própria para menores.
No final do mesmo ano, Oduvaldo organizou com A bigail M aia a
Cia. Brasileira de Espetáculos Modernos, estreando em São Paulo, no
Teatro Apoio, e, em março de 1931, no Teatro L írico, no Rio, com a peça
“de costumes cariocas”, Um tostãozinho d e felicid a d e, de sua autoria. Essa
comédia, encenada na linha do teatro teatral, visual ou espetacular, do
italiano G iulio B ragaglia, era inicialm ente um argum ento para cinem a,
ao ser adaptado para o teatro manteve algum as características, fazen­
do uso da projeção cinem atográfica sincronizada para a apresentação
dos créditos e letreiros na abertura da peça. O duvaldo V iana mostra os
bastidores de um teatro, o entra-e-sai dos cam arins, os artistas entrando
pela platéia, fazendo teatro dentro do teatro e quebrando o ilusionismo
ao romper com a quarta parede.

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Em 27 de março de 1931, a com édia Sorriso d e m u lh er foi levada tam ­
bém no Teatro Lírico, sendo anunciada por O. Viana como uma peça
em três atos e seis jornadas. A estória se desenrola num a fazenda, onde
vivem dois roceiros quarentões e solteiros, sendo que um deles se apai­
xona platonicamente por um a cantora de rádio. Interessante a introdu­
ção do rádio, que funciona como elo de ligação entre a cidade e o campo.
M ário N unes inform a que “a peça é inspirada em film e da Metro (...). A
encenação é um a preciosidade: exemplo o quadro passado no interior do
carro da Sorocabana”.46
A dram aturgia de Oduvaldo V iana assumiu novas proporções quan­
do ele escreveu, em 1931, três peças com temáticas e estruturas piran-
delianas, isto é, peças que trazem a proposta do m etateatro: 0 ven dedor
d e ilusões; O h om em q u e nasceu duas vez es ; e Feitiço... Essa trilogia de co­
m édias faz parte de um a nova dram aturgia mais elaborada, na trilha
de um m estre como Pirandello —com cenas acompanhando a dinâm ica
de um film e —, que só fez enriquecer e crescer, tanto na forma como no
conteúdo, a obra de Oduvaldo Viana. A prim eira, O ven d ed or d e ilusões
(24-7-1931), é inspirada em Seis p ersona gens à p rocu ra d e um autor. O
dram a de Pirandello, entre outras análises, questiona o funcionamento
do teatro e os mecanismos da representação, ou seja, da própria criação
artística. O teatralism o da peça de O. Viana se mostra mais na forma,
na estrutura e no desdobramento dos personagem em outros. A comé­
dia perm ite a Oduvaldo um tratam ento leve, em tom paródico. A peça
contém o conhecido M onólogo das m ãos, inspirado em M ontaigne, que
deu a Procópio F erreira um dos seus mais famosos m orceaux d e bravoure.
A segunda peça, 0 hom em q u e nasceu duas vezes, se baseia no rom an­
ce O fa lecid o M attia Pascal, no qual Pirandello elaborou um a temática
que se tornaria o grande motivo de seu trabalho: a m ultiplicidade de
m áscaras que existe dentro de cada homem. O indivíduo não é “um ”,
mas muitos. O. Viana tem atiza a troca de identidade do protagonista de
sua comédia. Encomendada por Jaim e Costa, só foi levada ao palco em 45

45 Ibidem, v. 4, p. 27.

54
1938, no Teatro Glória, um a comédia em três atos e nove quadros, com
proposta de palco giratório. Em 1973, Oduvaldo Viana Filho (V ianinha)
fez um a adaptação dessa peça, com um novo título: M amãe, pa pai está fi­
tando roxo!, que foi montada no Teatro da G aleria, no Rio de Janeiro. A
terceira peça, F eitiço..., tem como subtítulo: M étodo m odern o d efelicid a d e
to n ju g a l em três volu m es e o ito gravuras. O enredo desenvolve um tema
preferido pelo autor, o ciúm e, em que ele mais um a vez utiliza o jogo da
Representação pirandelliana, com personagens fingindo que são outros.
Encenada por Procópio F erreira, em 8-11-1931, no Teatro Apoio, em
fèão Paulo, e depois em 9-8-1932, no Teatro A lham bra, no Rio, teve ce­
nário divido em dois ambientes. Segundo M ário Nunes, O duvaldo “ins-
pira-se agora, nos bons modelos universais (...) o m aior m érito, porém,
é a arm ação teatral que nada deixa a desejar, igualando-se aos escritores
da França ou da Espanha”.47Feitiço... foi representada em Buenos A ires
e em Lisboa e traduzida para vários idiomas.
Continuando suas atividades teatrais, Oduvaldo escreveu m ais duas
peças para Procópio F erreira: S egredo (1-9-1932), inspirada num conto
de M achado de Assis (0 segred o d e A ugusta), e Fruto p roib id o (26-5-1933),
um a adaptação de 0 livro d e um a sogra, de Aluísio Azevedo. Nesta co­
m édia, Oduvaldo fez uso de um recurso brechtiano, isto é, a narração da
estória feita por personagens que se posicionam fora das cenas. No caso,
a avó e a neta são colocadas no lugar da orquestra e o que elas contam é
representado no palco.
Mas, q u e m u lh er! ou M ulher, é um a com édia escrita em 1932, mas
lançada por Procópio F erreira no Teatro Cassino, no Rio de Janeiro em
11 de agosto de 1933. N essa peça, O. Viana desenvolveu um a tem ática
bastante avançada para a época: a liberdade da m ulher e sua participa­
ção na vida pública e política do país. A protagonista - um a jornalista e
feminista —disputa e vence um a eleição para deputada na Constituinte.
A qui também foi utilizado o recurso do fingim ento de personagens que
representam outros personagens, em cenas concomitantes, com diálogos
paralelos.

47 Ibidem, v. 4 , p. 6o.

55
Keltm í, a dam a da lua (maio de 1933), opereta na qual O duvaldo di­
vide a autoria com Afonso Schm idt, é uma grande fantasia, cuja ação se
passa na Ilha do Paraíso e no Reino da Borracha. Os autores realizam
uma sátira à civilização m oderna, parodiando a m oral, a violência e a
ganância dos governantes do m undo.
C anção da felicid a d e, comédia denom inada por O duvaldo “romance
de figuras anim adas, em três volum es e oito capítulos”, foi representada
prim eiram ente em Buenos A ires, em dezembro de 1933; depois no Te­
atro Rival do R io de Janeiro, em julho de 1934, pela C ia. D ulcina—Odu­
valdo—Odilon, organizada e d irigid a por ele. Os versos da canção-tema
foram m usicados por A ri Barroso. A peça é um m elodram a desenvol­
vido com um a temática m ais próxim a da novela de rádio romântica e
sentim ental, gênero ao qual o autor se dedicaria m ais tarde, tornando-se
um mestre.
Sua produção dram atúrgica atin giu a culm inância com AMOR, sá­
tira social denom inada com édia-film e, que estreou no Teatro Boa Vista
(7-9-1933), em São Paulo. A peça foi escrita especialmente para Dulcina
de Moraes. Sua personagem L aínha, segundo Sérgio Viotti, “é, sem dú­
vida, o papel de um a vida, e quem quer que tenha tido a oportunidade
de interpretá-la sabe que se trata de um presente raro para um a atriz”.48
Considerado o acontecimento dram ático do ano, “AMOR destinava-se a
causar um a certa revolução nos velhos processos cênicos da com édia”,49
sendo colocada em cena pela Cia. D ulcina—Durães—Odilon e sob a dire­
ção do autor. A cena é u m passe-par tou t com cinco plateaux. A cenografia
se divide em 16 ambientes, onde se passam os 38 quadros, que ora se
alternam , ora são simultâneos. Décio de A lm eida Prado considera que
O. Viana objetivava outra espécie de abertura em AMOR, ao tentar li­
vrar o teatro das restrições de espaço e tempo. “Era a m aneira nacional,
menos sofisticada do que os palcos giratórios europeus, de competir com
o cinem a, roubando-lhe um pouco de sua fluidez narrativa, do seu ritmo

48 VIOTI, Sérgio. Dulcina: primeiros tempos: 1908-1937. Rio de Janeiro: Mine: Fundacen, 1988.
p. 184.
49 0 Estado de São Paulo, 5 set. 1933.

56
\ivo e dinâm ico” .50 As cenas fragmentadas em quadros lembram tam ­
bém histórias em quadrinhos. A peça tem como tema central o ciúm e e a
estória de L aín h a, um a m ulher doentiamente cium enta com seu m arido
submisso A rtur, é contada em flashbacks. À m istura de gêneros —co-
m édia-sátira, m elodram a e tragédia - Oduvaldo Viana soma as formas:
realista de idéias ou de tese, naturalista e épica. AMOR deu um passo à
frente quanto ao que se tinha feito em teatro, até então, na forma e no
conteúdo, principalm ente na am pliação do espaço cênico.
AMOR estreou no Rio de Janeiro (22-3-1934) inaugurando o Teatro
Rival, com D ulcina de M oraes, Odilon Azevedo, Sara Nobre, N orm a
G eraldi, Olavo de Barros, Paulo Gracindo, Carlos G alhardo e Vanda
M archetti. Para essa montagem, Oduvaldo reescreveu o texto, sim plifi­
cando para 35 quadros, e fazendo a seguinte observação: “O encenador
poderá escolher o que m ais lhe convier, de conformidade com os re­
cursos do palco de que disponha”.51 Com esse procedimento, ele o fere­
ceu também a oportunidade de escolha entre dois possíveis desfechos.
AMOR fez sucesso de crítica e de público como nenhum a outra peça,
tanto no Rio de Janeiro como em São Paulo.
A com édia-film e de Oduvaldo Viana foi censurada em Portugal so­
frendo cortes no texto e em várias cidades do interior do B rasil, e proi­
bida durante algum tempo na capital da República, no governo Vargas.
Porém, foi levada em toda a Am érica L atina e do Norte, inclusive em
Nova Iorque, pela com panhia argentina de P aulina Singerm an.
Já Mascote (30-8-1935), escrita por O duvaldo V iana e Cleómenes
Campos, para a Com panhia D ulcina-O duvaldo-O dilon, é um a comé­
dia leve, alegre, e visualm ente moderna. O cenário mostra o hall de um
hotel de luxo, com escadaria, elevador que sobe e desce, porta giratória
de vidro, fonte lum inosa, salão de dança com orquestra etc. A peça foi
encenada no Teatro Rival, com Ducina, O dilon, Paulo Gracindo, Elza

50 PRADO, Décio de Almeida. O teatro brasileiro m oderno : 1930-1980. São Paulo: Perspectiva,
1988. p. 25-26.
51 VIANA, Oduvaldo. Teatro: AMOR; Canção da felicidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasi­
leira, 1934. p. 113.
57
G omez, Osvaldo L ouzada, S ara Nobre, Norma G eraldy, M anuel Du-
rães, Olavo de Barros, V anda M archetti e Carlos G alhardo. Com esse
espetáculo, O duvaldo se despediu da companhia.
Já separado de A bigail M aia, nesse ano, O duvaldo Viana se casou
com Deocélia (11-3-1935), em barcando para Buenos Aires, a convite da
atriz P aulina Singerm an, para d irig ir os ensaios de AM O R, que estre­
aria naquela capital. A peça ficou em cartaz por mais de um ano no
Teatro Cômico.
O teatro escrito e encenado por Oduvaldo V iana não só preparou o
terreno onde germ inaria a dram aturgia rodrigueana, como antecipou
muitos procedimentos técnicos inovadores, m arcando sua passagem
como um dos principais precursores do teatro brasileiro moderno.
A convite do reitor da U niversidade do D istrito Federal, dr. Anísio
T eixeira, O duvaldo Viana tomou posse (30-7-1935) como diretor da Es­
cola D ram ática M unicipal (atual Escola de Teatro M artins Pena). Logo
depois ele foi designado tam bém como professor de A rte de Represen­
tar da mesm a instituição e de H istória do Teatro no Instituto de Artes.
Entre outras propostas da nova direção da Escola, constava a mudança
para um a sede apropriada, a fundação de um teatro experim ental com
os alunos e a revelação para eles do radioteatro. Duas peças de O. Viana
foram representadas por seus alunos: Mascote, no Instituto de Educação,
e Feitiço..., no Teatro M unicipal. Esta últim a foi apresentada pelo m es­
mo elenco nos microfones do estúdio da Rádio N acional. A passagem
de Oduvaldo Viana pela Escola de Arte D ram ática acabou contribuindo
para seu desencanto com o teatro. Seus projetos de reform ulação da Es­
cola não saíram do papel, por dependerem de verbas que não lhe foram
liberadas. Ele permaneceu na direção da Escola até meados de 1939.
Seu sonho de fazer cinem a, finalm ente, teve início em 1935 quando
se associou a Oscar Jordão e A dem ar Gonzaga para realizar, na Cinédia,
B onequinha d e seda, sendo dele o argum ento, o roteiro e a direção. O fil­
me é estrelado por Gilda de Abreu e Delorges C am inha, tem fotografia e
câm era de Edgar Brasil, m úsica de Francisco M ignone, cenografia de H.
Colombo, montagem de Luciano Trigo e valsa-tem a de G ilda de Abreu.
58
Do elenco participam também O duvaldo Viana Filho (com três meses
de idade), Conchita de M oraes, Apoio Correia, Darci C azarré e outros.
Foi um dos primeiros filmes sonoros do cinema nacional, estreando no
Cinem a Palácio, no Rio, em 26-10-1936, e permanecendo em cartaz por
dois meses. Foi exibido também em Portugal, A rgentina e Chile. B on e-
quinha d e seda introduziu recursos técnicos inéditos em nosso cinem a,
como o fundo projetado e o uso da grua, além de melhor marcação de
luz e som direto. É um a comédia m usical, divertida e sem grandes pre­
tensões, que mostrava na época a capacidade técnica para dar início a um
cinem a com ercial e popular no Brasil.
Em 1937, Oduvaldo Viana iniciou a produção c direção d e A legria,
também com G ilda de Abreu, m as um desentendimento com o dire­
tor da Cinédia interrompeu a film agem antes da conclusão do filme.
As partes rodadas ficaram enlatadas na C inédia. O roteiro foi adaptado,
m ais tarde, para o rádio e, posteriormente, para o teatro, sendo levado ao
palco (1-3-1950) pela C ia. Jaim e Costa, no Teatro Glória.
Apesar de ter sido convidado pelo ministro Capanem a para d irig ir
o Departamento N acional de Teatro, O duvaldo não aceitou porque já
havia assinado contrato com a PAF para d irig ir um a fita em Buenos A i­
res, El h om b re q u e n asció dos veces, versão da sua peça de mesmo título,
em 1938. As coisas não saíram tão bem quanto ele esperava. A produtora
argentina não cum priu o contrato, abriu falência e O duvaldo não rece­
beu o que lhe deviam , m as o filme foi realizado e entrou em cartaz com
algum sucesso.
O duvaldo V iana só realizaria cinem a novamente em 1949, com Qua­
se n o c é u , um a produção dos Estúdios Tupi, de São Paulo, com parte do
elenco de radioteatro que ele d irigia nas Emissoras Associadas: L ia de
A guiar, Paulo Alencar, H eitor de A ndrade, Dionísio Azevedo, Hom e­
ro Silva, Lolita Rodrigues, Vida Alves e, em participações especiais, os
meninos: V ianinha, Erlon Chaves e W alter Avancini. No mesmo ano,
V iana d irig iu , ainda, um curta-m etragem de 20 m inutos, Chuva d e estre­
las, documentando os bastidores da Rádio T upi de São Paulo. O filme foi
rodado no Sum aré sendo exibido em circuito fechado.
59
T erm inadas as film agens de O hom em q u e n asceu duas vez es na capital
portenha, Odirvaldo V iana estava de volta ao B rasil em fins de setem­
bro de 1938. Reassum iu as suas funções na Escola de A rte D ram ática e,
finalm ente, aceitou d irig ir a montagem de B ranca d e N eve, dos irmãos
G rim m , no Teatro M unicipal, do Rio de Janeiro, com apoio do maestro
C am argo G uarnieri e o corpo de baile de M aria O lenewa.
A situação política no Brasil se complicou, sobretudo depois da de­
cretação do Estado Novo, em 1937.0 campo de trabalho tornou-se bas­
tante restrito e a situação financeira da fam ília V iana ficou cada vez m ais
difícil. Em entrevista concedida a um jornal do Rio (7-7-1939), O. Viana
demonstrou am argura e desencanto com o nosso teatro. P ara ele, faltava
ao teatro brasileiro, organização e direção. Ele reclam ava da falta de en­
saios e argum entou para justificar, por que ele estava trocando o teatro
pelo cinem a: “No cinema falado eu poderei ensaiar um a peça, dia e noite
durante um mês, dois ou três. Quando m ontá-la, ela ficará gravada como
trabalho definitivo, podendo ser espalhada por todas as cidades do B ra­
sil, Portugal, África portuguesa e Repúblicas sul-am ericanas. O ator não
enxertará jam ais, tendo o seu trabalho um im ediato controle do diretor
e do autor”.52 Oduvaldo Viana anunciou nessa entrevista que estava indo
para a A rgentina, onde pretendia fazer teatro e cinem a. Nesse período,
apesar de tudo, escreveu ainda algum as peças que não foram m ontadas
aqui, mas em Buenos Aires: A m u lh er q u e q u er ser boa ; Um diabo co r d e
rosa ; Uma n oite embaixo da p o n te ; e Ele ch ega rá am anhã. A inda sobre sua
desilusão com o teatro, assim ele se expressou: “Eu não deixei o teatro.
O teatro é que me deixou. A liás, não deixou somente a m im . Deixou o
Brasil inteiro. Pelo meu gosto, eu continuava a vida inteira no teatro, es­
crevendo e dirigindo peças. É a m inha verdadeira vocação. M as vocação
pede ambiente e incentivo. E am biente e incentivo são coisas que você
não encontra no teatro nacional”.53

52 VIANA, Oduvaldo. As razões políticas que me levaram a trocar o teatro pelo cinema falado.
Documento elaborado pelo autor para publicação. Arquivo da Família Viana, Rio de Ja­
neiro, Funarte.
53 Depoimento do autor para o MIS, em 1967, apud VIANA, Deocélia, op. cit., p. 105.
60
O duvaldo e Deocélia resolveram morar na A rgentina. Ele aceitou o
convite para orientar a film agem d e AMOR em versão para o espanhol e
para o italiano, além de assistir aos ensaios de M anhãs d e so l e Ele ch ega rá
am anhã. Embarcaram em 17 de novembro de 1939 e lá foram residir.
N a capital portenha ele tomou conhecimento das radionovelas, onde já
eram m uito populares. M as esse não foi o seu prim eiro contato com o
rádio. Em 1933, O. V iana escrevia quadros de m eia hora que iam ao ar
pela Rádio Record de São Paulo, sem analm ente, fazendo parte do grupo
M anuel D urães e César Ladeira.
N a Rádio El M undo, convidado por Carm en Valdez, O duvaldo co­
meçou a escrever radionovelas. A princípio, traduziu e adaptou alguns
clássicos brasileiros. P roduziu também um program a de propaganda do
nosso café, com patrocínio do Instituto Brasileiro do C afé, e um radiote-
atro de dez minutos sobre o nosso folclore, traduzindo Catulo da Paixão
Cearense, tornando-se m uito popular, principalm ente no m eio fem ini­
no, por causa de “las n ovela s”.
Em dezembro de 1940, voltou ao B rasil oferecendo todo um pacote
de Scripts a várias emissoras do Rio e de São Paulo, sem um m ínim o
resultado. N aquela época ninguém acreditava na receptividade que as
radionovelas teriam m ais tarde. Meses depois, aceitou convite para d iri­
g ir a Rádio São Paulo, lançando naquela em issora o gênero que o con­
sagraria. A Rádio São Paulo passou a apresentar radionovelas nos três
períodos, chegando a ter no ar, diariam ente, nove novelas.
A prim eira radionovela lançada por O. V iana no Brasil foi P redesti­
nada, em 16 de setembro de 1941, terça-feira, às 21h:30m, na Rádio São
Paulo. Porém, O duvaldo e a Rádio São Paulo disputam com a Rádio
N acional esse pioneirismo, porque nos registros históricos consta que a
Rádio Nacional se antecipou ao lançar, em 5 de junho de 1941,Ew busca
da felicid a d e, radionovela do cubano Leandro Blanco, adaptada por G il­
berto M artins. Esse episódio não obscurece o pioneirism o de Oduvaldo
V iana porque pertence a ele, de fato, o lançam ento da prim eira radio­
novela brasileira.

6i
P redestinada é um a radionovela inspirada no romance Escrava Isaura,
escrito em 1875 por Bernardo Guimarães, em plena cam panha abolicio­
nista. O autor narra a estória de um a escrava branca, bonita e educada,
perseguida por um senhor devasso e cruel. O romancista fez um a obra
anti-escravagista e libertária, num estilo romântico e sentim ental, ob­
tendo sucesso, sobretudo entre o público feminino, ganhando também a
sim patia popular contra a escravidão.
O enredo adaptado por O duvaldo para a radionovela Predestinada
não se revela um a cópia fiel do romance. Para começar, tudo se passa em
local e época diferentes, já no século XX, portanto depois da abolição. A
protagonista de Predestinada, M aria Clara, que não é um a escrava, foge
com seu pai para Buenos Aires X por ser injustam ente acusada de um
crim e X, enquanto Isaura foge do assédio do seu senhqrpara Pernam ­
buco. O duvaldo Viana m antém em sua radionovela a espinha dorsal da
estória de Bernardo G uim arães, qual seja, a busca da liberdade e da rea­
lização amorosa, obedecendo à estrutura dram ática básica dos m elodra­
mas folhetinescos, nos quais a heroína é a vítim a, tendo no seu encalço o
perseguidor (ou sedutor). P ara socorrer a heroína, surge o justiceiro (ou
protetor), que representa o herói. No m elodram a vigora a m oralidade
burguesa, em que o am or ou a justiça é a m ola diretriz para que o bem
vença o m al.
Tanto a escrava Isaura como M aria C lara protagonizam a heroína,
um a vítim a que se liga ao sofrimento, à resignação e à paciência. N a
adaptação do romance para a radionovela, os personagens Isaura/Maria
C lara, Leôncio/Roberto, Álvaro/Artur, Malvina/Isabel e Miguel/Man-
fredini, como estereótipos que são, m antêm a correspondência nos dois
gêneros, em bora sejam diferentes os nomes, as profissões, os lugares e a l­
gum as situações criadas por Oduvaldo. Am bas as tram as term inam com
final feliz, sendo o vilão castigado e a vítim a enaltecida. A linguagem
exageradam ente rom ântica e rebuscada da narrativa de Bernardo G ui­
m arães é transform ada por O duvaldo Viana em diálogos m ais simples e
concisos, como do cotidiano da época (1941), sem fugir do conteúdo da
tram a fatalista, em Predestinada.
62
Essa radionovela foi então levada ao ar sob a direção do seu autor,
com surpreendente sucesso de audiência, abrindo caminho para a popu­
larização desse novo gênero que, a partir daí, tornou-se um a verdadeira
coqueluche nacional. A inda hoje toca de perto o im aginário do público,
haja vista o sucesso nacional e internacional que a adaptação televisiva
de Escrava Isaura ainda faz.
A seguir Oduvaldo lançou as novelas R ecord ações d e amor, Fatalidade
e R enúncia (1942), sucessos que elevaram para 85% o índice de audiência
da Rádio São Paulo. U m acordo foi acertado com a Rádio N acional, pro­
piciando o lançamento concomitante dessas radionovelas pela emissora
do Rio de Janeiro, em horário nobre.
Paralelam ente, Oduvaldo V iana produziu pequenas peças de radio-
teatro seriado, que se caracterizam por apresentar um a estória em cada
capítulo, mantendo o mesmo tema e/ou os mesmos personagens. Entre
as prim eiras escritas desde 1941 estão: D elícias d e a m or - focalizando
cenas da vida conjugal de Laínha e A rtur, personagens extraídos de sua
peça AMOR - , e Um p a pin ho d e D ona G en oveva , inicialm ente um mo­
nólogo interpretado por Leonor N avarro e depois P apinho cotidia n o , um
diálogo entre Dona Genoveva e Seu Batista.
Apesar de sentir-se saudoso e frustrado com o teatro e o cinem a,
Oduvaldo demonstrou entusiasm o com a nova carreira, à q u al se de­
dicava: “No rádio consegui m isturar duas vocações: cinem a e teatro. O
rádio é o grande am igo do povo. O rádio não necessita de cenários, nem
de roupas e sem cenários nem roupas, pode-se fazer um bom teatro ra­
diofônico".54
Em 1944, o contrato com a R ádio São Paulo chegou ao fim e O. V ia­
na entrou na sociedade de um a nova em issora, a Rádio Panam ericana,
PRH -7, tendo na ocasião assim se expressado: “A prim eira coisa a ser
valorizada em nossa emissora é a redação. N ão vou im provisar escrito­
res. Vou buscar o escritor, o bom escritor onde ele estiver e trago-o para
cá. E eu sei perfeitam ente quem são eles e onde estão. A lém disso quero

54 Ibidem, p. 106.

63
fazer o rádio popular, como deve ser todo rádio. Mas é preciso dizer
que popular não significa qualidade inferior. O povo está pedindo coisas
boas, com preende perfeitam ente o que é bom. E o rádio afinal, é tam ­
bém um veículo educativo”.55 A lém de ter levado os melhores artistas da
Rádio São Paulo, Oduvaldo buscou no Rio de Janeiro: M ário Lago, Os­
valdo Louzada, Luisa N azareth, Dias Gomes, H élio do Soveral, G ilda
de Abreu e Vicente Celestino.
O duvaldo Viana investiu no rádio toda a experiência acum ulada no
teatro, recrutando nesse m eio o elenco de que necessitava, porque era
um pessoal que dominava as técnicas da interpretação e da dram atur­
gia. Tratava-se, então, de um a nova linguagem que se apresentava por
m eio de um veículo novo, aum entando os horizontes do mercado de
trabalho.
N a Panam ericana, dentro da program ação variada, foram irradiados
alguns radioteatros seriados como: M adam eP etibala;Isso mexe, n ãom ex e?
M exe...; C om o nasceram as m elodias (radiofonização da vida de grandes
compositores); Criadores d e ritm os e m elodias (teatralização da vida de
compositores populares); M istério (radioteatro policial); Um bate-papo
das com adres surdas; B ola d e cristal; Tabatinguera (program a de auditó­
rio) e G rande Teatro P anam ericano (radionovelas). Liderando o elenco de
radioteatro encontrava-se o casal romântico formado por Sônia M aria
e Nélio Pinheiro, este, indo trabalhar na Rádio Nacional e depois nos
Estados Unidos, foi substituído por César Monteclaro.
A Rádio Panam ericana, no entanto, entrou em crise por falta de ca­
pital, e teve que ser vendida. Desse modo,'Oduvaldo V iana fechou con­
trato com a Rádio Difusora de São Paulo, no início de 1945, levando com
ele toda a equipe que o acompanhava desde o início na Rádio São Paulo.
Nos estúdios das Emissoras Associadas (Tupi-Difusora), localizados no
Sum aré, ele permaneceu por uns dez anos, produzindo, nessa fase, a
m aior parte da sua dram aturgia radiofônica. Toda a sua produção de
scripts era vendida não só para a Rádio N acional, como para as emissoras

55 Ibidem, p.77.
64
filiadas à rede dos Diários Associados de Chateaubriand, em todo o B ra­
sil, sendo representada por elencos locais.
O duvaldo apresentou também nas Emissoras Associadas algum as
séries de radioteatro já conhecidas e lançou outras como: P ensão fa m ilia r
b e co d o Paraíso (comédia), E ncontro co m a m o rte (m istério) e Obrigado,
d ou tor (dram a), esta perm anecendo no ar, sem analm ente, de 9-3-1950
a 24-11-1953. Participaram , nessa época, do elenco da Tupi-D ifusora,
radioatores como: W alter Forster, Cesar M onteclaro, Hom ero Silva,
H eitor de A ndrade, Dionísio Azevedo, Newton Prado, L im a D uarte,
Valter Avancini, Paulo G oulart, D aniel Azevedo, José Parisi, Nelson
Pereira, H erlon Chaves, L ia de A guiar, Vida Alves, Iara L ins, Flora
Geni, L aura Cardoso, Norah Fontes, G uiom ar Gonçalves, N éia Simões,
V ilm a Bentivegna, Jessi Fonseca, M aria V idal, Geni Prado, Janete C lair
c muitos outros.
Q uanto à originalidade das novelas, um a observação deve ser feita.
P ara fugir, por certo, do controle da Standard Propaganda, dona da con­
ta da C olgate-Palm olive - que com ercializava as radionovelas cubanas,
da qual a m aioria dos autores e emissoras comprava —, O. Viana preferia
ad q u irir originais de novelistas argentinos, por meio da ARG EN TO -
RES (Associação A rgentina de Autores, à qual era filiado), como: Gló­
ria F errandiz, Abel Santa C ruz, G raciela Tessaire, Josephine Bernard,
Julio Cesar N odiale e Jules C ardoze. Inspirou-se, tam bém , em obras de
autores clássicos tais como: Charles Dickens, A lexandre D um as Filho,
Afonse D audet, Guy de M aupassant, Stefan Zw eig e Em ily Bronte. Es­
creveu ainda m uitas radionovelas baseadas em romances de brasileiros
como: José de Alencar, Bernardo Guim arães, Joaquim M anoel de M ace­
do e Manoel Antonio de A lm eida, entre outros. A lgum as das suas peças
teatrais foram adaptadas para o rádio \A legria, M anhãs d e sol, Terra natal,
Vendedor d e ilusões e outras não identificadas. No entanto, O. V iana não
pôde abrir mão do patrocínio da Sydney Ross Company, proprietária
dos horários nobres da Rádio Tupi, durante os quais iam ao ar seus ra-
dioteatros. Por isso ele confessou: “O anunciante é quem m anda no rá­
dio. É um verdadeiro ditador: faz o que bem entende, exige o que bem
65
quer. O anunciante é, de certa m aneira, o diretor artístico de nossa em is­
sora. O homem que fabrica pasta de dentes tem m ais voz dentro de um a
emissora do que o autor inteligente que pretende lançar um programa
melhor e mais agradável”.56
Das 123 radionovelas de O duvaldo Viana (constantes de uma rela­
ção no arquivo da Funarte), foram localizados 84 textos, 79 na própria
e cinco na Rádio Nacional: 56 identificados como de autoria exclusiva
dele, 21 escritos em parceria com sua m ulher Deocélia Viana, e sete com
assinatura somente dela. N ão foram encontrados, até o momento, 39
textos. U m número considerável de radionovelas tem dois títulos, o que
corresponde às radionovelas anteriores, de sua autoria, que foram reela-
boradas, sofrendo algum as alterações na estória, aum entando o número
de personagens e de capítulos. Por exemplo: E njeitada (25 capítulos) para
A vida co m eça tod o dia (94 capítulos), E scravos d o passado (20 capítulos)
para Fantasma do passado (34 capítulos), F ascinação (20 capítulos) para
D esperta, cora çã o ! (48 capítulos), F arol da esperança (22 capítulos) para
M aria L eon or (25 capítulos), Ju stiça (26 capítulos) para Pena d e m orte (49
capítulos), e outras. Poucos textos de radionovelas anteriores (das que
têm dois títulos) encontram-se preservados, como: E njeitada, Justiça (nos
arquivos da Rádio Nacional) e Calvário d e m u lh er (no arquivo da F u ­
narte), sendo que deste últim o existem quatro versões. Sem os textos das
radionovelas originais, tanto os do próprio O duvaldo quanto os textos
estrangeiros traduzidos e adaptados, torna-se difícil, e mesmo impossí­
vel, qualquer identificação e análise. Por isso, não é de se estranhar que,
em carta endereçada a seu am igo Paulo Perdigão (25-9-1951), Oduvaldo
V iana tenha escrito: “Sou um industrial de romances em série. Tenho
vontade de voltar ao teatro e fazer cinem a, mas... apenas o rádio no mo­
mento, aqui, assegura resultados pecuniários compensadores (...). Já não
sou escritor, sou um a m áquina de escrever”.
Valter Avancini, contratado das Associadas, iniciou sua carreira (as­
sim como Erlon Chaves), ainda menino, pelas mãos de Oduvaldo Viana,

56 Ibidem, p. 78.

66
como ator no cinem a e depois no rádio, vindo a se tornar um dos m elho­
res diretores de telenovelas. Ele se pronunciou assim: “O que eu guardo
do O duvaldo é rcalm ente aquela seriedade absoluta na sua form a de
execução. Ele executava os seus program as, suas novelas, com ensaios
prolongados de mesa, com ensaios gerais abrindo microfone e sonoplas-
tia - onde L im a D uarte se iniciava como ator e sonoplasta - exigindo
um perfeccionismo absoluto. Um homem que fazia do seu trabalho um a
coisa im portante. Eu acho que peguei isso do O duvaldo”.57
A carreira de O duvaldo V iana foi norteada por posições políticas
assumidas. Nas eleições de 1946, concorreu a um a vaga de deputado es­
tadual por São Paulo, pelo PCB (Partido Com unista Brasileiro), tendo
conquistado a prim eira suplência.
Em 1953, depois de alguns contratempos por motivos políticos, O du­
valdo Viana foi dem itido das Emissoras Associadas. Voltou dois anos
depois, a convite do próprio C hateaubriand, para d irig ir a T V T upi, do
Rio de Janeiro. Sua peça teatral AMOR foi levada pelo G rande Teatro
Tupi, d irigida por Sérgio Brito. M ais tarde, algum as de suas radionove­
las, como F atalidade , M arcados p e lo a m or , R enúncia e Mas, q u e m u lh er!
foram adaptadas para telenovelas.
Em 1956, Oduvaldo foi contratado pela Rádio N acional como autor,
ensaiador e diretor de radioteatro. Reprisou algum as das suas radiono­
velas, relançando outras, que foram retrabalhadas e rebatizadas com
novos títulos. Produziu também dois radioteatros seriados: M eu papinho
p red ileto (D. Genoveva e Seu Batista), com Consuelo Leandro e Brandão
Filho, irradiado diariam ente de 1958 a 1961; e M arlene, m eu b em , inter­
pretado pelo casal L u iz Delfino e M arlene, um program a semanal que
foi ao ar de 1957 a 1959. Perm aneceu nessa emissora até março de 1964,
quando foi afastado como subversivo. A Rádio Nacional continuou
transm itindo suas radionovelas, mas om itindo seu nome. Nessa época, a
adaptação da sua radionovela R enúncia era transm itida pela T V Record.
Em 25 de julho de 1964, seus direitos políticos foram cassados.

57 Depoimento de Valter Avancini, p. 1-3. Dossiê Oduvaldo Viana, Rio de Janeiro, Funarte.
67
Esse artista d e m últiplas atividades deixou um a obra de tal alcance,
que m erece ser editada e divulgada. Antes de falecer, em 30 de maio de
1972, aos 80 anos de idade, recebeu de seu não menos importante e fa­
moso filho, V ianninha, estas merecidas palavras: “Nem a censura, nem
as pressões dos em presários im pediram que O duvaldo Viana se tornasse
um inovador no teatro, no cinem a e no rádio.”58

58 VIANA FILHO, Oduvaldo. Entrevista a Antonieta Santos. Vianinha fala de Oduvaldo Viana:
nossos problemas são os mesmos. Diário de Notícias, Rio de Janeiro, 13 ago. 1973.
68

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