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Herança de ódio
Oduvaldo Viana
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gno a com édia P obre Jerem ias, com Emanuel Cardoso, todas apresenta
das pela C om panhia d o Teatro São José.
Apesar de estar se iniciando na carreira d e autor, O duvaldo Viana
Já tinha presença m arcante nos meios jornalístico e teatral. Tanto assim
que, em 1917, ele estava na luta pela criação da Sociedade de Autores
Teatrais —SBAT, participando como fundador da formação da sua p ri
meira diretoria, junto com Paulo Barreto (João do Rio), Viriato Corrêa,
Raul Pederneiras, Bastos Tigre, Avelino de A ndrade e A genor C arvoli-
va. Mais tarde foi eleito conselheiro perpétuo dessa instituição.
Quando O. Viana tomou a decisão de escrever sozinho e concluiu
Uma peça de tem a regional, Rosa d o sertã o, ofereceu-a às companhias
teatrais do Rio, m as todas a rejeitaram . Ele então desistiu de escrever
para teatro e voltou a trabalhar somente em jornais, onde pelo menos a
parte financeira era m ais segura. Retornou a São Paulo, atendendo a um
chamado da fam ília, m as já havia perdido o em prego público por aban
dono. Ficou seis meses na terra natal trabalhando em A Gazeta. De volta
ao Rio de Janeiro, retomou a carreira jornalística, escrevendo na seção
hum orística “Graves e Agudos”, do jornal Razão, depois no vespertino A
Rua e na Gazeta d e N otícias. Em seguida, trabalhou concomitantemente
de dia em A N oite e à noite em 0 Dia.
Conseguiu então vender sua peça Rosa do sertão para o em presário
Paschoal Segreto que exigiu a m udança do título para A mor d e bandido
e a troca de algum as falas dram áticas para versos, que vão ser musicados
e cantados por Vicente Celestino. Da orquestra fazia parte Villa-Lobos
e do elenco A bigail M aia, L uiza N azareth, A rtur de O liveira e outros.
Apesar dò autor considerá-la horrível, A mor d e bandido rendeu m ais de
cem representações. “Seu sucesso deveu-se ao fato de um a corista do
elenco ter sido assassinada com vinte e sete facadas pelo am ante, cau
sando um escândalo que se transform ou em propaganda da peça pela
im prensa”.40 A partir daí, as com panhias teatrais com eçaram a solici
41 NUNES, Mário. 40 anos de teatro. Rio de Janeiro: Serviço Nacional de Teatro, 1956. p. 5, v. 2.
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de época e m uitos efeitos teatrais. Décio de Almeida Prado fez essa ob
servação: “O duvaldo tinha o senso do teatro, como jogo, improvisação,
palavra puxa palavra”.12 Depois, ele apresentou um a com édia de cos
tumes urbana, A vida é um son h o (28-6-1922), em três atos, com cenário
constituído de um grupo de casinhas de fam ílias modestas, num a ave
nida do C atum bi, no Rio. O autor usou um a linguagem bem popular,
com trocadilhos e gírias, em diálogos curtos do cotidiano. Essa comédia
foi considerada, na época, pelo crítico Alcântara M achado, um a das me
lhores do repertório nacional. N o entanto, a sociedade entre Oduvaldo,
Viriato e V iggiani foi desfeita com as últim as apresentações dessa peça.
É dign a de ser m encionada a revista de Oduvaldo e V iriato Corrêa,
Ai, seu M elo..., com músicas de Roberto Soriano, pela Cia. B rasileira de
Teatro Popular, que inaugurou em 17-3-1922, o C ine-Teatro Centená
rio. O título faz alusão, ao mesmo tempo, ao candidato à presidência
da República A rtu r Bernardes - cuja expressão popular Seu M é, pelo
queixo caprino, fora proibida pela polícia - e a um ju iz de menores cha
mado M elo, que perseguia o teatro de revista. O espetáculo satirizava a
imprensa venal, o jornalista cavador e a eleição fraudulenta, com com
pra de votos pelos políticos poderosos. A censura liberou a revista com a
m udança do título para Yayáfru ta d e co n d e, constando como autor M ário
Floreal, pseudônimo de O. Viana.
Movido pela justa ambição de ter companhia própria, Oduvaldo
Viana fundou com sua mulher, a C ia. Brasileira de Com édias A bigail
M aia, m as, sem dispor de teatro no Rio, em barcaram para São Paulo, es
treando no Teatro Apoio (janeiro de 1923). Segundo inform a M iroel S il
veira, foram apresentados 469 espetáculos seguidos, com um elenco de
prim eira, no qual brilhavam : Apolônia Pinto, G raziela D iniz, A delaide
Coutinho, M argarida M ax, C ordélia F erreira, M anuel D urães, Bran
dão Sobrinho, Jorge D iniz, Palm erin Silva, João L im a, Plácido Ferreira,
João Barbosa, Procópio F erreira e A ída Izquierdo Ferreira. 42
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também pela excursão ao Brasil da atriz argentina A ngelina Pagano. A
partir do final de 1925 até 1927,0 . V iana alternava iniciativas em presa
riais entre Rio e São Paulo, e paralelam ente cuidava do São P aulo Jornal,
que não durou muito.
Em 1928, O duvaldo Viana voltou a São Paulo dirigindo a C ia. Abi-
gail M aia-R au l Roulien, com a idéia de “salvar o teatro” do perigo do
cinem a, organizando um teatro breve, de um só ato. Propunha a criação
do “sainete brasileiro”, gênero em moda na A rgentina —comédia curta,
leve, sem efeitos fortes, devendo apresentar unicam ente o feitio superfi
cial dos personagens —, no qual estarão presentes todas as nacionalidades
que compõem as colônias de im igrantes e seus descendentes. O. Viana
procurou renovar, influenciado pelo cinem a, inventou a peça sintética e
movimentada, apresentando o sainete O castagnaro da festa . Trata-se de
um texto em três quadros, vários cenários, com diálogos rápidos entre
moradores de um cortiço, sem entrar fundo na vida de nenhum deles.
Na festa de estréia, em maio de 1928, no Teatro Apoio, o elenco foi apre
sentado por um convidado especial, vindo do Rio de Janeiro, Álvaro
M oreira. E ram espetáculos de 80 minutos, sem intervalo, em duas ou
três sessões e a preço de cinema.
Depois de m anter-se afastado do palco por algum tempo, Oduvaldo
Viana retorna jogando um pouco “por água abaixo” aqueles sonhos de
um nacionalismo e de um brasileirism o puros, que não tinham respaldo
num a realidade hostil. Oduvaldo colocou em cena cerca de trinta peças
estrangeiras, a m aioria traduzida e adaptada por ele ao meio ambiente
rural e urbano brasileiros. Essa proposta salvadora não deixou de ser
um a tentativa desesperada diante de um a crise evidente, além das di
ficuldades para m anter um a companhia teatral em atividade, com um
m ínim o de respeito pela arte de representar e dignidade para aqueles
que sobrevivem desse ofício.
Em 6 de janeiro de 1929, O Estado d e São P aulo publicou um a nota
melancólica: “a nossa vida teatral atravessa, nesse momento, um perío
do de m aré morta. Funcionam apenas dois teatros de certa importância
num a cidade de um milhão de habitantes”. Como teatrólogo e diretor de
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companhia, O duvaldo Viana era um dos poucos que conseguiam resistir
às crises, inventando saídas para “salvar o teatro”, criando motes publici
tários, pelo menos mantendo acesa a cham a de Dioniso. Por outro lado,
o aproveitamento da literatura dram ática platina antecipava a “política
de boa vizinhança” increm entada pelo presidente Roosevelt, dos E.U.A.,
a partir da grande queda da Bolsa de Nova York, em 1929.
Nesse período ocorreu a invasão no rádio, no cinem a e na indústria
fonográfica pelos norte-am ericanos, sobretudo na A m érica L atina. No
Brasil, a repercussão do cinem a falado cresceu tanto que O. V iana en
tusiasmado pretendia trocar o teatro pelo cinem a, em barcando para os
Estados Unidos com a finalidade de estudar as técnicas do film e sono
ro. Ao voltar, em 1930, não conseguindo apoio para m ontar um estúdio
cinematográfico, como sonhara, retornou ao teatro colocando no palco
brasileiro o que viu em filmes e m usicais assistidos na Broadway, escre
vendo em parceria com L u ís Iglézias a revista teatral Diz isso cantando
(na qual foi lançado o samba B on eca d e p ich e, de A ri Barroso, regravado
cm 1938 por C arm em M iranda e A lm irante, mas gravado inicialm ente
como No m orro (Ehl Eh!), um batuque com Augusto Vasseur e Araci
Cortes). Pelo fato de desnudar as gilrs, a revista foi então classificada
como im própria para menores.
No final do mesmo ano, Oduvaldo organizou com A bigail M aia a
Cia. Brasileira de Espetáculos Modernos, estreando em São Paulo, no
Teatro Apoio, e, em março de 1931, no Teatro L írico, no Rio, com a peça
“de costumes cariocas”, Um tostãozinho d e felicid a d e, de sua autoria. Essa
comédia, encenada na linha do teatro teatral, visual ou espetacular, do
italiano G iulio B ragaglia, era inicialm ente um argum ento para cinem a,
ao ser adaptado para o teatro manteve algum as características, fazen
do uso da projeção cinem atográfica sincronizada para a apresentação
dos créditos e letreiros na abertura da peça. O duvaldo V iana mostra os
bastidores de um teatro, o entra-e-sai dos cam arins, os artistas entrando
pela platéia, fazendo teatro dentro do teatro e quebrando o ilusionismo
ao romper com a quarta parede.
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Em 27 de março de 1931, a com édia Sorriso d e m u lh er foi levada tam
bém no Teatro Lírico, sendo anunciada por O. Viana como uma peça
em três atos e seis jornadas. A estória se desenrola num a fazenda, onde
vivem dois roceiros quarentões e solteiros, sendo que um deles se apai
xona platonicamente por um a cantora de rádio. Interessante a introdu
ção do rádio, que funciona como elo de ligação entre a cidade e o campo.
M ário N unes inform a que “a peça é inspirada em film e da Metro (...). A
encenação é um a preciosidade: exemplo o quadro passado no interior do
carro da Sorocabana”.46
A dram aturgia de Oduvaldo V iana assumiu novas proporções quan
do ele escreveu, em 1931, três peças com temáticas e estruturas piran-
delianas, isto é, peças que trazem a proposta do m etateatro: 0 ven dedor
d e ilusões; O h om em q u e nasceu duas vez es ; e Feitiço... Essa trilogia de co
m édias faz parte de um a nova dram aturgia mais elaborada, na trilha
de um m estre como Pirandello —com cenas acompanhando a dinâm ica
de um film e —, que só fez enriquecer e crescer, tanto na forma como no
conteúdo, a obra de Oduvaldo Viana. A prim eira, O ven d ed or d e ilusões
(24-7-1931), é inspirada em Seis p ersona gens à p rocu ra d e um autor. O
dram a de Pirandello, entre outras análises, questiona o funcionamento
do teatro e os mecanismos da representação, ou seja, da própria criação
artística. O teatralism o da peça de O. Viana se mostra mais na forma,
na estrutura e no desdobramento dos personagem em outros. A comé
dia perm ite a Oduvaldo um tratam ento leve, em tom paródico. A peça
contém o conhecido M onólogo das m ãos, inspirado em M ontaigne, que
deu a Procópio F erreira um dos seus mais famosos m orceaux d e bravoure.
A segunda peça, 0 hom em q u e nasceu duas vezes, se baseia no rom an
ce O fa lecid o M attia Pascal, no qual Pirandello elaborou um a temática
que se tornaria o grande motivo de seu trabalho: a m ultiplicidade de
m áscaras que existe dentro de cada homem. O indivíduo não é “um ”,
mas muitos. O. Viana tem atiza a troca de identidade do protagonista de
sua comédia. Encomendada por Jaim e Costa, só foi levada ao palco em 45
45 Ibidem, v. 4, p. 27.
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1938, no Teatro Glória, um a comédia em três atos e nove quadros, com
proposta de palco giratório. Em 1973, Oduvaldo Viana Filho (V ianinha)
fez um a adaptação dessa peça, com um novo título: M amãe, pa pai está fi
tando roxo!, que foi montada no Teatro da G aleria, no Rio de Janeiro. A
terceira peça, F eitiço..., tem como subtítulo: M étodo m odern o d efelicid a d e
to n ju g a l em três volu m es e o ito gravuras. O enredo desenvolve um tema
preferido pelo autor, o ciúm e, em que ele mais um a vez utiliza o jogo da
Representação pirandelliana, com personagens fingindo que são outros.
Encenada por Procópio F erreira, em 8-11-1931, no Teatro Apoio, em
fèão Paulo, e depois em 9-8-1932, no Teatro A lham bra, no Rio, teve ce
nário divido em dois ambientes. Segundo M ário Nunes, O duvaldo “ins-
pira-se agora, nos bons modelos universais (...) o m aior m érito, porém,
é a arm ação teatral que nada deixa a desejar, igualando-se aos escritores
da França ou da Espanha”.47Feitiço... foi representada em Buenos A ires
e em Lisboa e traduzida para vários idiomas.
Continuando suas atividades teatrais, Oduvaldo escreveu m ais duas
peças para Procópio F erreira: S egredo (1-9-1932), inspirada num conto
de M achado de Assis (0 segred o d e A ugusta), e Fruto p roib id o (26-5-1933),
um a adaptação de 0 livro d e um a sogra, de Aluísio Azevedo. Nesta co
m édia, Oduvaldo fez uso de um recurso brechtiano, isto é, a narração da
estória feita por personagens que se posicionam fora das cenas. No caso,
a avó e a neta são colocadas no lugar da orquestra e o que elas contam é
representado no palco.
Mas, q u e m u lh er! ou M ulher, é um a com édia escrita em 1932, mas
lançada por Procópio F erreira no Teatro Cassino, no Rio de Janeiro em
11 de agosto de 1933. N essa peça, O. Viana desenvolveu um a tem ática
bastante avançada para a época: a liberdade da m ulher e sua participa
ção na vida pública e política do país. A protagonista - um a jornalista e
feminista —disputa e vence um a eleição para deputada na Constituinte.
A qui também foi utilizado o recurso do fingim ento de personagens que
representam outros personagens, em cenas concomitantes, com diálogos
paralelos.
47 Ibidem, v. 4 , p. 6o.
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Keltm í, a dam a da lua (maio de 1933), opereta na qual O duvaldo di
vide a autoria com Afonso Schm idt, é uma grande fantasia, cuja ação se
passa na Ilha do Paraíso e no Reino da Borracha. Os autores realizam
uma sátira à civilização m oderna, parodiando a m oral, a violência e a
ganância dos governantes do m undo.
C anção da felicid a d e, comédia denom inada por O duvaldo “romance
de figuras anim adas, em três volum es e oito capítulos”, foi representada
prim eiram ente em Buenos A ires, em dezembro de 1933; depois no Te
atro Rival do R io de Janeiro, em julho de 1934, pela C ia. D ulcina—Odu
valdo—Odilon, organizada e d irigid a por ele. Os versos da canção-tema
foram m usicados por A ri Barroso. A peça é um m elodram a desenvol
vido com um a temática m ais próxim a da novela de rádio romântica e
sentim ental, gênero ao qual o autor se dedicaria m ais tarde, tornando-se
um mestre.
Sua produção dram atúrgica atin giu a culm inância com AMOR, sá
tira social denom inada com édia-film e, que estreou no Teatro Boa Vista
(7-9-1933), em São Paulo. A peça foi escrita especialmente para Dulcina
de Moraes. Sua personagem L aínha, segundo Sérgio Viotti, “é, sem dú
vida, o papel de um a vida, e quem quer que tenha tido a oportunidade
de interpretá-la sabe que se trata de um presente raro para um a atriz”.48
Considerado o acontecimento dram ático do ano, “AMOR destinava-se a
causar um a certa revolução nos velhos processos cênicos da com édia”,49
sendo colocada em cena pela Cia. D ulcina—Durães—Odilon e sob a dire
ção do autor. A cena é u m passe-par tou t com cinco plateaux. A cenografia
se divide em 16 ambientes, onde se passam os 38 quadros, que ora se
alternam , ora são simultâneos. Décio de A lm eida Prado considera que
O. Viana objetivava outra espécie de abertura em AMOR, ao tentar li
vrar o teatro das restrições de espaço e tempo. “Era a m aneira nacional,
menos sofisticada do que os palcos giratórios europeus, de competir com
o cinem a, roubando-lhe um pouco de sua fluidez narrativa, do seu ritmo
48 VIOTI, Sérgio. Dulcina: primeiros tempos: 1908-1937. Rio de Janeiro: Mine: Fundacen, 1988.
p. 184.
49 0 Estado de São Paulo, 5 set. 1933.
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\ivo e dinâm ico” .50 As cenas fragmentadas em quadros lembram tam
bém histórias em quadrinhos. A peça tem como tema central o ciúm e e a
estória de L aín h a, um a m ulher doentiamente cium enta com seu m arido
submisso A rtur, é contada em flashbacks. À m istura de gêneros —co-
m édia-sátira, m elodram a e tragédia - Oduvaldo Viana soma as formas:
realista de idéias ou de tese, naturalista e épica. AMOR deu um passo à
frente quanto ao que se tinha feito em teatro, até então, na forma e no
conteúdo, principalm ente na am pliação do espaço cênico.
AMOR estreou no Rio de Janeiro (22-3-1934) inaugurando o Teatro
Rival, com D ulcina de M oraes, Odilon Azevedo, Sara Nobre, N orm a
G eraldi, Olavo de Barros, Paulo Gracindo, Carlos G alhardo e Vanda
M archetti. Para essa montagem, Oduvaldo reescreveu o texto, sim plifi
cando para 35 quadros, e fazendo a seguinte observação: “O encenador
poderá escolher o que m ais lhe convier, de conformidade com os re
cursos do palco de que disponha”.51 Com esse procedimento, ele o fere
ceu também a oportunidade de escolha entre dois possíveis desfechos.
AMOR fez sucesso de crítica e de público como nenhum a outra peça,
tanto no Rio de Janeiro como em São Paulo.
A com édia-film e de Oduvaldo Viana foi censurada em Portugal so
frendo cortes no texto e em várias cidades do interior do B rasil, e proi
bida durante algum tempo na capital da República, no governo Vargas.
Porém, foi levada em toda a Am érica L atina e do Norte, inclusive em
Nova Iorque, pela com panhia argentina de P aulina Singerm an.
Já Mascote (30-8-1935), escrita por O duvaldo V iana e Cleómenes
Campos, para a Com panhia D ulcina-O duvaldo-O dilon, é um a comé
dia leve, alegre, e visualm ente moderna. O cenário mostra o hall de um
hotel de luxo, com escadaria, elevador que sobe e desce, porta giratória
de vidro, fonte lum inosa, salão de dança com orquestra etc. A peça foi
encenada no Teatro Rival, com Ducina, O dilon, Paulo Gracindo, Elza
50 PRADO, Décio de Almeida. O teatro brasileiro m oderno : 1930-1980. São Paulo: Perspectiva,
1988. p. 25-26.
51 VIANA, Oduvaldo. Teatro: AMOR; Canção da felicidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasi
leira, 1934. p. 113.
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G omez, Osvaldo L ouzada, S ara Nobre, Norma G eraldy, M anuel Du-
rães, Olavo de Barros, V anda M archetti e Carlos G alhardo. Com esse
espetáculo, O duvaldo se despediu da companhia.
Já separado de A bigail M aia, nesse ano, O duvaldo Viana se casou
com Deocélia (11-3-1935), em barcando para Buenos Aires, a convite da
atriz P aulina Singerm an, para d irig ir os ensaios de AM O R, que estre
aria naquela capital. A peça ficou em cartaz por mais de um ano no
Teatro Cômico.
O teatro escrito e encenado por Oduvaldo V iana não só preparou o
terreno onde germ inaria a dram aturgia rodrigueana, como antecipou
muitos procedimentos técnicos inovadores, m arcando sua passagem
como um dos principais precursores do teatro brasileiro moderno.
A convite do reitor da U niversidade do D istrito Federal, dr. Anísio
T eixeira, O duvaldo Viana tomou posse (30-7-1935) como diretor da Es
cola D ram ática M unicipal (atual Escola de Teatro M artins Pena). Logo
depois ele foi designado tam bém como professor de A rte de Represen
tar da mesm a instituição e de H istória do Teatro no Instituto de Artes.
Entre outras propostas da nova direção da Escola, constava a mudança
para um a sede apropriada, a fundação de um teatro experim ental com
os alunos e a revelação para eles do radioteatro. Duas peças de O. Viana
foram representadas por seus alunos: Mascote, no Instituto de Educação,
e Feitiço..., no Teatro M unicipal. Esta últim a foi apresentada pelo m es
mo elenco nos microfones do estúdio da Rádio N acional. A passagem
de Oduvaldo Viana pela Escola de Arte D ram ática acabou contribuindo
para seu desencanto com o teatro. Seus projetos de reform ulação da Es
cola não saíram do papel, por dependerem de verbas que não lhe foram
liberadas. Ele permaneceu na direção da Escola até meados de 1939.
Seu sonho de fazer cinem a, finalm ente, teve início em 1935 quando
se associou a Oscar Jordão e A dem ar Gonzaga para realizar, na Cinédia,
B onequinha d e seda, sendo dele o argum ento, o roteiro e a direção. O fil
me é estrelado por Gilda de Abreu e Delorges C am inha, tem fotografia e
câm era de Edgar Brasil, m úsica de Francisco M ignone, cenografia de H.
Colombo, montagem de Luciano Trigo e valsa-tem a de G ilda de Abreu.
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Do elenco participam também O duvaldo Viana Filho (com três meses
de idade), Conchita de M oraes, Apoio Correia, Darci C azarré e outros.
Foi um dos primeiros filmes sonoros do cinema nacional, estreando no
Cinem a Palácio, no Rio, em 26-10-1936, e permanecendo em cartaz por
dois meses. Foi exibido também em Portugal, A rgentina e Chile. B on e-
quinha d e seda introduziu recursos técnicos inéditos em nosso cinem a,
como o fundo projetado e o uso da grua, além de melhor marcação de
luz e som direto. É um a comédia m usical, divertida e sem grandes pre
tensões, que mostrava na época a capacidade técnica para dar início a um
cinem a com ercial e popular no Brasil.
Em 1937, Oduvaldo Viana iniciou a produção c direção d e A legria,
também com G ilda de Abreu, m as um desentendimento com o dire
tor da Cinédia interrompeu a film agem antes da conclusão do filme.
As partes rodadas ficaram enlatadas na C inédia. O roteiro foi adaptado,
m ais tarde, para o rádio e, posteriormente, para o teatro, sendo levado ao
palco (1-3-1950) pela C ia. Jaim e Costa, no Teatro Glória.
Apesar de ter sido convidado pelo ministro Capanem a para d irig ir
o Departamento N acional de Teatro, O duvaldo não aceitou porque já
havia assinado contrato com a PAF para d irig ir um a fita em Buenos A i
res, El h om b re q u e n asció dos veces, versão da sua peça de mesmo título,
em 1938. As coisas não saíram tão bem quanto ele esperava. A produtora
argentina não cum priu o contrato, abriu falência e O duvaldo não rece
beu o que lhe deviam , m as o filme foi realizado e entrou em cartaz com
algum sucesso.
O duvaldo V iana só realizaria cinem a novamente em 1949, com Qua
se n o c é u , um a produção dos Estúdios Tupi, de São Paulo, com parte do
elenco de radioteatro que ele d irigia nas Emissoras Associadas: L ia de
A guiar, Paulo Alencar, H eitor de A ndrade, Dionísio Azevedo, Hom e
ro Silva, Lolita Rodrigues, Vida Alves e, em participações especiais, os
meninos: V ianinha, Erlon Chaves e W alter Avancini. No mesmo ano,
V iana d irig iu , ainda, um curta-m etragem de 20 m inutos, Chuva d e estre
las, documentando os bastidores da Rádio T upi de São Paulo. O filme foi
rodado no Sum aré sendo exibido em circuito fechado.
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T erm inadas as film agens de O hom em q u e n asceu duas vez es na capital
portenha, Odirvaldo V iana estava de volta ao B rasil em fins de setem
bro de 1938. Reassum iu as suas funções na Escola de A rte D ram ática e,
finalm ente, aceitou d irig ir a montagem de B ranca d e N eve, dos irmãos
G rim m , no Teatro M unicipal, do Rio de Janeiro, com apoio do maestro
C am argo G uarnieri e o corpo de baile de M aria O lenewa.
A situação política no Brasil se complicou, sobretudo depois da de
cretação do Estado Novo, em 1937.0 campo de trabalho tornou-se bas
tante restrito e a situação financeira da fam ília V iana ficou cada vez m ais
difícil. Em entrevista concedida a um jornal do Rio (7-7-1939), O. Viana
demonstrou am argura e desencanto com o nosso teatro. P ara ele, faltava
ao teatro brasileiro, organização e direção. Ele reclam ava da falta de en
saios e argum entou para justificar, por que ele estava trocando o teatro
pelo cinem a: “No cinema falado eu poderei ensaiar um a peça, dia e noite
durante um mês, dois ou três. Quando m ontá-la, ela ficará gravada como
trabalho definitivo, podendo ser espalhada por todas as cidades do B ra
sil, Portugal, África portuguesa e Repúblicas sul-am ericanas. O ator não
enxertará jam ais, tendo o seu trabalho um im ediato controle do diretor
e do autor”.52 Oduvaldo Viana anunciou nessa entrevista que estava indo
para a A rgentina, onde pretendia fazer teatro e cinem a. Nesse período,
apesar de tudo, escreveu ainda algum as peças que não foram m ontadas
aqui, mas em Buenos Aires: A m u lh er q u e q u er ser boa ; Um diabo co r d e
rosa ; Uma n oite embaixo da p o n te ; e Ele ch ega rá am anhã. A inda sobre sua
desilusão com o teatro, assim ele se expressou: “Eu não deixei o teatro.
O teatro é que me deixou. A liás, não deixou somente a m im . Deixou o
Brasil inteiro. Pelo meu gosto, eu continuava a vida inteira no teatro, es
crevendo e dirigindo peças. É a m inha verdadeira vocação. M as vocação
pede ambiente e incentivo. E am biente e incentivo são coisas que você
não encontra no teatro nacional”.53
52 VIANA, Oduvaldo. As razões políticas que me levaram a trocar o teatro pelo cinema falado.
Documento elaborado pelo autor para publicação. Arquivo da Família Viana, Rio de Ja
neiro, Funarte.
53 Depoimento do autor para o MIS, em 1967, apud VIANA, Deocélia, op. cit., p. 105.
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O duvaldo e Deocélia resolveram morar na A rgentina. Ele aceitou o
convite para orientar a film agem d e AMOR em versão para o espanhol e
para o italiano, além de assistir aos ensaios de M anhãs d e so l e Ele ch ega rá
am anhã. Embarcaram em 17 de novembro de 1939 e lá foram residir.
N a capital portenha ele tomou conhecimento das radionovelas, onde já
eram m uito populares. M as esse não foi o seu prim eiro contato com o
rádio. Em 1933, O. V iana escrevia quadros de m eia hora que iam ao ar
pela Rádio Record de São Paulo, sem analm ente, fazendo parte do grupo
M anuel D urães e César Ladeira.
N a Rádio El M undo, convidado por Carm en Valdez, O duvaldo co
meçou a escrever radionovelas. A princípio, traduziu e adaptou alguns
clássicos brasileiros. P roduziu também um program a de propaganda do
nosso café, com patrocínio do Instituto Brasileiro do C afé, e um radiote-
atro de dez minutos sobre o nosso folclore, traduzindo Catulo da Paixão
Cearense, tornando-se m uito popular, principalm ente no m eio fem ini
no, por causa de “las n ovela s”.
Em dezembro de 1940, voltou ao B rasil oferecendo todo um pacote
de Scripts a várias emissoras do Rio e de São Paulo, sem um m ínim o
resultado. N aquela época ninguém acreditava na receptividade que as
radionovelas teriam m ais tarde. Meses depois, aceitou convite para d iri
g ir a Rádio São Paulo, lançando naquela em issora o gênero que o con
sagraria. A Rádio São Paulo passou a apresentar radionovelas nos três
períodos, chegando a ter no ar, diariam ente, nove novelas.
A prim eira radionovela lançada por O. V iana no Brasil foi P redesti
nada, em 16 de setembro de 1941, terça-feira, às 21h:30m, na Rádio São
Paulo. Porém, O duvaldo e a Rádio São Paulo disputam com a Rádio
N acional esse pioneirismo, porque nos registros históricos consta que a
Rádio Nacional se antecipou ao lançar, em 5 de junho de 1941,Ew busca
da felicid a d e, radionovela do cubano Leandro Blanco, adaptada por G il
berto M artins. Esse episódio não obscurece o pioneirism o de Oduvaldo
V iana porque pertence a ele, de fato, o lançam ento da prim eira radio
novela brasileira.
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P redestinada é um a radionovela inspirada no romance Escrava Isaura,
escrito em 1875 por Bernardo Guimarães, em plena cam panha abolicio
nista. O autor narra a estória de um a escrava branca, bonita e educada,
perseguida por um senhor devasso e cruel. O romancista fez um a obra
anti-escravagista e libertária, num estilo romântico e sentim ental, ob
tendo sucesso, sobretudo entre o público feminino, ganhando também a
sim patia popular contra a escravidão.
O enredo adaptado por O duvaldo para a radionovela Predestinada
não se revela um a cópia fiel do romance. Para começar, tudo se passa em
local e época diferentes, já no século XX, portanto depois da abolição. A
protagonista de Predestinada, M aria Clara, que não é um a escrava, foge
com seu pai para Buenos Aires X por ser injustam ente acusada de um
crim e X, enquanto Isaura foge do assédio do seu senhqrpara Pernam
buco. O duvaldo Viana m antém em sua radionovela a espinha dorsal da
estória de Bernardo G uim arães, qual seja, a busca da liberdade e da rea
lização amorosa, obedecendo à estrutura dram ática básica dos m elodra
mas folhetinescos, nos quais a heroína é a vítim a, tendo no seu encalço o
perseguidor (ou sedutor). P ara socorrer a heroína, surge o justiceiro (ou
protetor), que representa o herói. No m elodram a vigora a m oralidade
burguesa, em que o am or ou a justiça é a m ola diretriz para que o bem
vença o m al.
Tanto a escrava Isaura como M aria C lara protagonizam a heroína,
um a vítim a que se liga ao sofrimento, à resignação e à paciência. N a
adaptação do romance para a radionovela, os personagens Isaura/Maria
C lara, Leôncio/Roberto, Álvaro/Artur, Malvina/Isabel e Miguel/Man-
fredini, como estereótipos que são, m antêm a correspondência nos dois
gêneros, em bora sejam diferentes os nomes, as profissões, os lugares e a l
gum as situações criadas por Oduvaldo. Am bas as tram as term inam com
final feliz, sendo o vilão castigado e a vítim a enaltecida. A linguagem
exageradam ente rom ântica e rebuscada da narrativa de Bernardo G ui
m arães é transform ada por O duvaldo Viana em diálogos m ais simples e
concisos, como do cotidiano da época (1941), sem fugir do conteúdo da
tram a fatalista, em Predestinada.
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Essa radionovela foi então levada ao ar sob a direção do seu autor,
com surpreendente sucesso de audiência, abrindo caminho para a popu
larização desse novo gênero que, a partir daí, tornou-se um a verdadeira
coqueluche nacional. A inda hoje toca de perto o im aginário do público,
haja vista o sucesso nacional e internacional que a adaptação televisiva
de Escrava Isaura ainda faz.
A seguir Oduvaldo lançou as novelas R ecord ações d e amor, Fatalidade
e R enúncia (1942), sucessos que elevaram para 85% o índice de audiência
da Rádio São Paulo. U m acordo foi acertado com a Rádio N acional, pro
piciando o lançamento concomitante dessas radionovelas pela emissora
do Rio de Janeiro, em horário nobre.
Paralelam ente, Oduvaldo V iana produziu pequenas peças de radio-
teatro seriado, que se caracterizam por apresentar um a estória em cada
capítulo, mantendo o mesmo tema e/ou os mesmos personagens. Entre
as prim eiras escritas desde 1941 estão: D elícias d e a m or - focalizando
cenas da vida conjugal de Laínha e A rtur, personagens extraídos de sua
peça AMOR - , e Um p a pin ho d e D ona G en oveva , inicialm ente um mo
nólogo interpretado por Leonor N avarro e depois P apinho cotidia n o , um
diálogo entre Dona Genoveva e Seu Batista.
Apesar de sentir-se saudoso e frustrado com o teatro e o cinem a,
Oduvaldo demonstrou entusiasm o com a nova carreira, à q u al se de
dicava: “No rádio consegui m isturar duas vocações: cinem a e teatro. O
rádio é o grande am igo do povo. O rádio não necessita de cenários, nem
de roupas e sem cenários nem roupas, pode-se fazer um bom teatro ra
diofônico".54
Em 1944, o contrato com a R ádio São Paulo chegou ao fim e O. V ia
na entrou na sociedade de um a nova em issora, a Rádio Panam ericana,
PRH -7, tendo na ocasião assim se expressado: “A prim eira coisa a ser
valorizada em nossa emissora é a redação. N ão vou im provisar escrito
res. Vou buscar o escritor, o bom escritor onde ele estiver e trago-o para
cá. E eu sei perfeitam ente quem são eles e onde estão. A lém disso quero
54 Ibidem, p. 106.
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fazer o rádio popular, como deve ser todo rádio. Mas é preciso dizer
que popular não significa qualidade inferior. O povo está pedindo coisas
boas, com preende perfeitam ente o que é bom. E o rádio afinal, é tam
bém um veículo educativo”.55 A lém de ter levado os melhores artistas da
Rádio São Paulo, Oduvaldo buscou no Rio de Janeiro: M ário Lago, Os
valdo Louzada, Luisa N azareth, Dias Gomes, H élio do Soveral, G ilda
de Abreu e Vicente Celestino.
O duvaldo Viana investiu no rádio toda a experiência acum ulada no
teatro, recrutando nesse m eio o elenco de que necessitava, porque era
um pessoal que dominava as técnicas da interpretação e da dram atur
gia. Tratava-se, então, de um a nova linguagem que se apresentava por
m eio de um veículo novo, aum entando os horizontes do mercado de
trabalho.
N a Panam ericana, dentro da program ação variada, foram irradiados
alguns radioteatros seriados como: M adam eP etibala;Isso mexe, n ãom ex e?
M exe...; C om o nasceram as m elodias (radiofonização da vida de grandes
compositores); Criadores d e ritm os e m elodias (teatralização da vida de
compositores populares); M istério (radioteatro policial); Um bate-papo
das com adres surdas; B ola d e cristal; Tabatinguera (program a de auditó
rio) e G rande Teatro P anam ericano (radionovelas). Liderando o elenco de
radioteatro encontrava-se o casal romântico formado por Sônia M aria
e Nélio Pinheiro, este, indo trabalhar na Rádio Nacional e depois nos
Estados Unidos, foi substituído por César Monteclaro.
A Rádio Panam ericana, no entanto, entrou em crise por falta de ca
pital, e teve que ser vendida. Desse modo,'Oduvaldo V iana fechou con
trato com a Rádio Difusora de São Paulo, no início de 1945, levando com
ele toda a equipe que o acompanhava desde o início na Rádio São Paulo.
Nos estúdios das Emissoras Associadas (Tupi-Difusora), localizados no
Sum aré, ele permaneceu por uns dez anos, produzindo, nessa fase, a
m aior parte da sua dram aturgia radiofônica. Toda a sua produção de
scripts era vendida não só para a Rádio N acional, como para as emissoras
55 Ibidem, p.77.
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filiadas à rede dos Diários Associados de Chateaubriand, em todo o B ra
sil, sendo representada por elencos locais.
O duvaldo apresentou também nas Emissoras Associadas algum as
séries de radioteatro já conhecidas e lançou outras como: P ensão fa m ilia r
b e co d o Paraíso (comédia), E ncontro co m a m o rte (m istério) e Obrigado,
d ou tor (dram a), esta perm anecendo no ar, sem analm ente, de 9-3-1950
a 24-11-1953. Participaram , nessa época, do elenco da Tupi-D ifusora,
radioatores como: W alter Forster, Cesar M onteclaro, Hom ero Silva,
H eitor de A ndrade, Dionísio Azevedo, Newton Prado, L im a D uarte,
Valter Avancini, Paulo G oulart, D aniel Azevedo, José Parisi, Nelson
Pereira, H erlon Chaves, L ia de A guiar, Vida Alves, Iara L ins, Flora
Geni, L aura Cardoso, Norah Fontes, G uiom ar Gonçalves, N éia Simões,
V ilm a Bentivegna, Jessi Fonseca, M aria V idal, Geni Prado, Janete C lair
c muitos outros.
Q uanto à originalidade das novelas, um a observação deve ser feita.
P ara fugir, por certo, do controle da Standard Propaganda, dona da con
ta da C olgate-Palm olive - que com ercializava as radionovelas cubanas,
da qual a m aioria dos autores e emissoras comprava —, O. Viana preferia
ad q u irir originais de novelistas argentinos, por meio da ARG EN TO -
RES (Associação A rgentina de Autores, à qual era filiado), como: Gló
ria F errandiz, Abel Santa C ruz, G raciela Tessaire, Josephine Bernard,
Julio Cesar N odiale e Jules C ardoze. Inspirou-se, tam bém , em obras de
autores clássicos tais como: Charles Dickens, A lexandre D um as Filho,
Afonse D audet, Guy de M aupassant, Stefan Zw eig e Em ily Bronte. Es
creveu ainda m uitas radionovelas baseadas em romances de brasileiros
como: José de Alencar, Bernardo Guim arães, Joaquim M anoel de M ace
do e Manoel Antonio de A lm eida, entre outros. A lgum as das suas peças
teatrais foram adaptadas para o rádio \A legria, M anhãs d e sol, Terra natal,
Vendedor d e ilusões e outras não identificadas. No entanto, O. V iana não
pôde abrir mão do patrocínio da Sydney Ross Company, proprietária
dos horários nobres da Rádio Tupi, durante os quais iam ao ar seus ra-
dioteatros. Por isso ele confessou: “O anunciante é quem m anda no rá
dio. É um verdadeiro ditador: faz o que bem entende, exige o que bem
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quer. O anunciante é, de certa m aneira, o diretor artístico de nossa em is
sora. O homem que fabrica pasta de dentes tem m ais voz dentro de um a
emissora do que o autor inteligente que pretende lançar um programa
melhor e mais agradável”.56
Das 123 radionovelas de O duvaldo Viana (constantes de uma rela
ção no arquivo da Funarte), foram localizados 84 textos, 79 na própria
e cinco na Rádio Nacional: 56 identificados como de autoria exclusiva
dele, 21 escritos em parceria com sua m ulher Deocélia Viana, e sete com
assinatura somente dela. N ão foram encontrados, até o momento, 39
textos. U m número considerável de radionovelas tem dois títulos, o que
corresponde às radionovelas anteriores, de sua autoria, que foram reela-
boradas, sofrendo algum as alterações na estória, aum entando o número
de personagens e de capítulos. Por exemplo: E njeitada (25 capítulos) para
A vida co m eça tod o dia (94 capítulos), E scravos d o passado (20 capítulos)
para Fantasma do passado (34 capítulos), F ascinação (20 capítulos) para
D esperta, cora çã o ! (48 capítulos), F arol da esperança (22 capítulos) para
M aria L eon or (25 capítulos), Ju stiça (26 capítulos) para Pena d e m orte (49
capítulos), e outras. Poucos textos de radionovelas anteriores (das que
têm dois títulos) encontram-se preservados, como: E njeitada, Justiça (nos
arquivos da Rádio Nacional) e Calvário d e m u lh er (no arquivo da F u
narte), sendo que deste últim o existem quatro versões. Sem os textos das
radionovelas originais, tanto os do próprio O duvaldo quanto os textos
estrangeiros traduzidos e adaptados, torna-se difícil, e mesmo impossí
vel, qualquer identificação e análise. Por isso, não é de se estranhar que,
em carta endereçada a seu am igo Paulo Perdigão (25-9-1951), Oduvaldo
V iana tenha escrito: “Sou um industrial de romances em série. Tenho
vontade de voltar ao teatro e fazer cinem a, mas... apenas o rádio no mo
mento, aqui, assegura resultados pecuniários compensadores (...). Já não
sou escritor, sou um a m áquina de escrever”.
Valter Avancini, contratado das Associadas, iniciou sua carreira (as
sim como Erlon Chaves), ainda menino, pelas mãos de Oduvaldo Viana,
56 Ibidem, p. 78.
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como ator no cinem a e depois no rádio, vindo a se tornar um dos m elho
res diretores de telenovelas. Ele se pronunciou assim: “O que eu guardo
do O duvaldo é rcalm ente aquela seriedade absoluta na sua form a de
execução. Ele executava os seus program as, suas novelas, com ensaios
prolongados de mesa, com ensaios gerais abrindo microfone e sonoplas-
tia - onde L im a D uarte se iniciava como ator e sonoplasta - exigindo
um perfeccionismo absoluto. Um homem que fazia do seu trabalho um a
coisa im portante. Eu acho que peguei isso do O duvaldo”.57
A carreira de O duvaldo V iana foi norteada por posições políticas
assumidas. Nas eleições de 1946, concorreu a um a vaga de deputado es
tadual por São Paulo, pelo PCB (Partido Com unista Brasileiro), tendo
conquistado a prim eira suplência.
Em 1953, depois de alguns contratempos por motivos políticos, O du
valdo Viana foi dem itido das Emissoras Associadas. Voltou dois anos
depois, a convite do próprio C hateaubriand, para d irig ir a T V T upi, do
Rio de Janeiro. Sua peça teatral AMOR foi levada pelo G rande Teatro
Tupi, d irigida por Sérgio Brito. M ais tarde, algum as de suas radionove
las, como F atalidade , M arcados p e lo a m or , R enúncia e Mas, q u e m u lh er!
foram adaptadas para telenovelas.
Em 1956, Oduvaldo foi contratado pela Rádio N acional como autor,
ensaiador e diretor de radioteatro. Reprisou algum as das suas radiono
velas, relançando outras, que foram retrabalhadas e rebatizadas com
novos títulos. Produziu também dois radioteatros seriados: M eu papinho
p red ileto (D. Genoveva e Seu Batista), com Consuelo Leandro e Brandão
Filho, irradiado diariam ente de 1958 a 1961; e M arlene, m eu b em , inter
pretado pelo casal L u iz Delfino e M arlene, um program a semanal que
foi ao ar de 1957 a 1959. Perm aneceu nessa emissora até março de 1964,
quando foi afastado como subversivo. A Rádio Nacional continuou
transm itindo suas radionovelas, mas om itindo seu nome. Nessa época, a
adaptação da sua radionovela R enúncia era transm itida pela T V Record.
Em 25 de julho de 1964, seus direitos políticos foram cassados.
57 Depoimento de Valter Avancini, p. 1-3. Dossiê Oduvaldo Viana, Rio de Janeiro, Funarte.
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Esse artista d e m últiplas atividades deixou um a obra de tal alcance,
que m erece ser editada e divulgada. Antes de falecer, em 30 de maio de
1972, aos 80 anos de idade, recebeu de seu não menos importante e fa
moso filho, V ianninha, estas merecidas palavras: “Nem a censura, nem
as pressões dos em presários im pediram que O duvaldo Viana se tornasse
um inovador no teatro, no cinem a e no rádio.”58
58 VIANA FILHO, Oduvaldo. Entrevista a Antonieta Santos. Vianinha fala de Oduvaldo Viana:
nossos problemas são os mesmos. Diário de Notícias, Rio de Janeiro, 13 ago. 1973.
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