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PRIMEIRA GERAÇÃO MODERNISTA

1917 – A exposição de Anita Malfatti causa o primeiro confronto aberto entre o velho
(Monteiro Lobato com o artigo Paranoia ou mistificação) e o novo (jovens artistas de São
Paulo)

O escritor comparou os quadros da artista aos desenhos “que ornam as paredes


internas dos manicômios” e ainda a uma "arte anormal". Afirmando que as
vanguardas não possuíam “nenhuma lógica, sendo mistificação pura”, atribuiu à
pintora “acentuadíssimas tendências para uma atitude estética forçada no sentido
das extravagâncias de Picasso e companhia”.

A Estudante (1915 e 1916) / Crédito: Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand via Wikimedia Commons

A crítica de Lobato aproximou Malfatti de outros pintores e artistas da época, estes a


defenderam publicamente admirando sua autenticidade. Assim seu legado inspirou outros
artistas e a Semana de Arte Moderna de 1922, ajudando a instalar o modernismo no
Brasil, o que mudou de vez os rumos artísticos nacionais.
Características:
- Rompimento com o passado: paródia, piada, sarcasmo.
- Orientação revolucionária: liberdade de expressão, cotidiano, linguagem coloquial.
- Busca da expressão nacional: nacionalismo crítico, primitivismo (Pau-Brasil), folclore
(mitos e lendas)
Os dois principais autores:
- Oswald de Andrade e Mario de Andrade
Oswald de Andrade (1890-1954) escritor e dramaturgo brasileiro, representa uma das
principais lideranças na literatura modernista no Brasil.
Sua atuação fou marcada pelo seu espírito irreverente, polêmico, irônico e combativo.
Tornou-se figura fundamental nos acontecimentos da vida cultural brasileira na primeira
metade do século XX.
Sua obra apresenta de maneira geral, um nacionalismo que busca as origens, sem perder
a visão crítica da realidade brasileira, pois Oswald defendia a valorização de nossas
origens, de nosso passado histórico-cultural de forma crítica, parodiando, ironizando e
atualizando nossa história de colonização.
Polêmico, irônico e gozador, foi o idealizador dos principais manifestos modernistas, o
Pau-Brasil e o Antropofágico. Em 1926, casa-se com Tarsila do Amaral, que faz as
ilustrações de seu primeiro livro de poemas, “Pau-Brasil” e juntos, fundam o Movimento
Antropófago, o qual propõe, na literatura e na pintura, que o Brasil devore a cultura
estrangeira e crie uma cultura revolucionária própria. Foi escrito por Oswald de Andrade e
publicado na primeira edição da Revista de Antropofagia, lançada em 1928.
O Manifesto é considerado até os dias de hoje o principal texto do movimento, segundo o
qual devemos olhar para trás e entender um pouco da história do nosso país, já que até
então, na cultura brasileira costumava-se reproduzir o que se passava no estrangeiro.
O Manifesto Antropófago clamava aos artistas brasileiros por originalidade e criatividade.
Ele pretendia celebrar o nosso multiculturalismo e a miscigenação. A proposta era
devorar o que vinha de fora, assimilar a cultura alheia, sem negar a cultura estrangeira, ao
contrário: absorvê-la, degluti-la, processá-la e misturá-la para dar origem ao que é nosso.
Esse processo tinha a ver com a pesquisa pela nossa identidade nacional, com o objetivo
de promover uma independência cultural, através da intertextualidade e do movimento
de se beber em várias fontes se procurava alcançar uma cultura própria autônoma.
Paródia da Canção do Exílio
Canto de regresso à pátria, de Oswald de Andrade

Rua 15 de Novembro – São Paulo – 1912

Minha terra tem palmares


onde gorjeia o mar
Os passarinhos daqui
Não cantam como os de lá
Minha terra tem mais rosas
E quase que mais amores
Minha terra tem mais ouro
Minha terra tem mais terra
Ouro terra amor e rosas
Eu quero tudo de lá
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte pra São Paulo
Sem que veja a Rua 15
E o progresso de São Paulo
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Já Mário de Andrade (1893-1945), também essencial ao modernismo brasileiro, é
conhecido como um dos mais relevantes escritores do país. Além de poeta e romancista,
foi um estudioso da música e do folclore brasileiro, crítico literário e ativista cultural.
A poesia de Mário de Andrade foi desenvolvida, assim como seus contos e romances, em
duas vertentes: a urbana em um primeiro momento, e a folclórica, posteriormente.
Através de seus poemas é possível entender o contexto social que o Brasil atravessava e
compreender um pouco a história para a construção da identidade nacional.

Ode ao Burguês
Eu insulto o burguês! O burguês-níquel,
o burguês-burguês!
A digestão bem-feita de São Paulo!
O homem-curva! o homem-nádegas!
O homem que sendo francês, brasileiro, italiano,
é sempre um cauteloso pouco-a-pouco!

Eu insulto as aristocracias cautelosas!


Os barões lampiões! os condes Joões! os duques zurros!
que vivem dentro de muros sem pulos;
e gemem sangues de alguns mil-réis fracos
para dizerem que as filhas da senhora falam o francês
e tocam os "Printemps" com as unhas!

Eu insulto o burguês-funesto!
O indigesto feijão com toucinho, dono das tradições!
Fora os que algarismam os amanhãs!
Olha a vida dos nossos setembros!
Fará Sol? Choverá? Arlequinal!
Mas à chuva dos rosais
o èxtase fará sempre Sol!
Morte à gordura!
Morte às adiposidades cerebrais!
Morte ao burguês-mensal!
ao burguês-cinema! ao burguês-tílburi!
Padaria Suissa! Morte viva ao Adriano!
"— Ai, filha, que te darei pelos teus anos?
— Um colar... — Conto e quinhentos!!!
Mas nós morremos de fome!"

Come! Come-te a ti mesmo, oh gelatina pasma!


Oh! purée de batatas morais!
Oh! cabelos nas ventas! oh! carecas!
Ódio aos temperamentos regulares!
Ódio aos relógios musculares! Morte à infâmia!
Ódio à soma! Ódio aos secos e molhados!
Ódio aos sem desfalecimentos nem arrependimentos,
sempiternamente as mesmices convencionais!
De mãos nas costas! Marco eu o compasso! Eia!
Dois a dois! Primeira posição! Marcha!
Todos para a Central do meu rancor inebriante
Ódio e insulto! Ódio e raiva! Ódio e mais ódio!
Morte ao burguês de giolhos,
cheirando religião e que não crê em Deus!
Ódio vermelho! Ódio fecundo! Ódio cíclico!
Ódio fundamento, sem perdão!

Fora! Fu! Fora o bom burgês!…

O romance Macunaíma e a

formação da cultura brasileira


Mário de Andrade queria produzir uma obra que refletisse o Brasil como uma unidade,
fazendo com que as múltiplas características nacionais se unissem criando uma
identidade para a cultura brasileira. Recorreu ao seu vasto conhecimento do folclore
nacional e aos preceitos da produção literária modernista para realizar essa tarefa.
Assim ele faz de Macunaíma a partir de uma colagem de lendas, mitos, tradições,
religiões, falares, hábitos, comidas, lugares, fauna e flora do Brasil. A grande genialidade
da obra foi conseguir unir esses muitos elementos em uma narrativa coesa.
Para isso, Mário de Andrade lança mão de algumas características da composição
modernista. O método de construção do romance como colagem possibilita que o autor
faça uma exposição sincrética da cultura nacional. Misturando lendas indígenas com
inovações tecnológicas, inserindo personagens históricos em contextos diferentes e
criando raízes e justificativas para alguns símbolos nacionais. Mário de Andrade consegue
dessa forma criar uma obra que é um compêndio da cultura brasileira.
A linguagem usada é uma grande mistura de termos indígenas com falares regionais e
estrangeirismos, aproximando-se muito da oralidade. Mário de Andrade nos conta a
história de Macunaíma e da formação da cultura brasileira usando de termos regionais e
de uma escrita próxima da fala, incluindo erros de português em que todos os seus
elementos estão ligados ao propósito de criar uma cultura nacional por meio dos desafios
de um povo que começava a se identificar como nação num enorme território e inúmeras
influências externas.

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