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Prova

❖ A Semana da Arte Moderna


A 100 anos um grande acontecimento passaria a ser um divisor de águas na cultura
brasileira: A Semana de Arte Moderna. O movimento reuniu nomes visionários que
romperam padrões e influenciaram artistas até hoje. O palco dessa revolução cultural foi
justamente o local construído para ser o templo da pura arte europeia, o Theatro
Municipal de São Paulo. Essa manifestação artística seria no futuro o marco inicial do
Modernismo no Brasil.
Mesmo sendo europeias, as Vanguardas tiveram grande influência no mundo todo,
inclusive no Brasil. Nessa época era comum que pessoas com maior poder aquisitivo
fossem estudar na Europa, e isso aconteceu com alguns integrantes do Grupo dos Cinco,
como Oswald de Andrade e Anita Malfatti. Ambos trouxeram ao Brasil uma nova
concepção de arte, influenciando assim, todo o processo de criação da Semana de Arte
Moderna.
Nessa época, os artistas brasileiros buscavam eliminar a influência artística
estrangeira para criar uma identidade cultural para o país. Para isso, inspirados nas
vanguardas europeias, os artistas utilizaram esses movimentos para trazer uma nova
visão da arte para o país. Toda essa renovação artística resultou na Semana da Arte
Moderna de 1922, um movimento que se tornou referência cultural no país.
Essa manifestação artística ocorreu em São Paulo, entre os dias 11 e 18 de
Fevereiro, e reuniu várias áreas da arte como literatura, pintura, escultura e música. Para
romper com o parnasianismo de elite dominante da época, os artistas caracterizaram o
movimento com ausência de formalismos, rupturas com o academicismo, valorização da
cultura brasileira, linguagem coloquial e temáticas cotidianas, o que resultou em críticas
severas do público burguês e aristocrático que, não conseguindo entender, se sentiu
desconfortável as novas visões da arte, já que estavam acostumados a óperas e peças
estrangeiras.
A Semana de 22 ocorreu diante de um cenário repleto de tensões políticas, sociais e
econômicas, durante o período da República Velha, na qual era controlada pelas
oligarquias cafeeiras e pela política que ficou conhecida como Café com Leite. O Brasil
nesse ano comemorava também seu centenário de independência.
Os principais idealizadores dessa manifestação foram Oswald de Andrade e
Mário de Andrade. A manifestação contou com a participação de Anita Malfatti,
Manoel Bandeira, Menotti Del Picchia, Heitor Villa-Lobos, Victor Brecheret, Graça
Aranha, Di Cavalcanti, entre outros. Após a Semana de 22, Oswald de Andrade e
Tarsila do Amaral estariam juntos iniciando o Movimento Antropofágico.
Juntos, tanto as vanguardas quanto a Semana de 22, influenciaram a literatura,
pintura, música, cinema, arquitetura e tantas outras coisas do nosso século,
transformando a arte até os dias atuais.
❖ O Modernismo brasileiro?
Impulsionados por um contexto histórico conturbado, onde grandes transformações
estavam em curso, os artistas e intelectuais passaram a repensar a maneira de produzir
arte e literatura. Eles cada vez mais valorizavam um pensamento crítico. Influenciados
então por acontecimentos históricos, novos ideais e conhecidas correntes de
pensamentos, surge um novo movimento artístico literário, que representou a ruptura de
padrões e a inovação: o mOdeRnisMo.
No Brasil, o Modernismo apareceu como um movimento que valorizava a
independência, a cultura e o cotidiano do brasileiro. Aqui, o Modernismo teve 3 fases
distintas, onde cada uma apresentava singularidades e características que estavam
ligados aos acontecimentos e ao contexto histórico do país.
A primeira fase modernista, conhecida como ”fase heroica”, teve início na Semana
de 22 e durou até 1930. Nesse período, os modernistas buscavam combater a influência
artística da Europa, o parnasianismo e o academicismo para criar uma identidade
original para o país. Trabalhando nisso, os artistas dessa fase conciliaram a influência
das vanguardas com a valorização do que era verdadeiramente brasileiro. Nesse sentido,
podemos ver um nacionalismo ufanista, um resgate a raízes culturais, críticas ao
contexto político do país e uma linguagem coloquial.
Além do “Grupo dos Cinco” outros artistas se destacaram nessa fase, mas na
literatura podemos citar Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Manoel Bandeira.
Nesse mesmo período, são criadas subcorrentes da primeira geração modernista,
diversos grupos e manifestos, além da publicação de algumas revistas que auxiliaram na
divulgação dos ideais modernos.
Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral criariam juntos duas subcorrentes da
primeira geração modernista: o movimento Pau-Brasil e o movimento Antropofágico.
O Movimento do Pau-Brasil foi um movimento que defendia a poesia brasileira de
exportação. Como o pau-brasil foi o primeiro produto brasileiro a ser exportado,
Oswald de Andrade, pensando que a poesia brasileira se tornaria um produto de
exportação, deu esse nome ao movimento. Esse movimento teve início com a
publicação do livro “Pau-Brasil” e do Manifesto da Poesia Pau-Brasil, ambos de
Oswald de Andrade. Trecho do manifesto:
“A poesia existe nos fatos. Os casebres de açafrão e de ocre nos verdes da Favela,
sob o azul cabralino, são fatos estéticos.
O Carnaval no Rio é o acontecimento religioso da raça. Pau-Brasil. Wagner
submerge ante os cordões de Botafogo. Bárbaro e nosso. A formação étnica rica.
Riqueza vegetal. O minério. A cozinha. O vatapá, o ouro e a dança.”
(ANDRADE, Oswald de. Correio da Manhã, 18 de março de 1924.)

O Movimento Antropofágico, por sua vez, marcou essa geração e teve como
principal proposta ajudar a estruturar uma cultura nacional, pensando em assimilar
outras culturas, mas não as copiar.
“O termo antropofágico foi utilizado como associação ao ato assimilar e deglutir.
A ideia, portanto, era de transfigurar a cultura, principalmente a europeia, conferindo
assim, o caráter nacional.”
O movimento tem como origem o Manifesto Antropofágico, de Oswald de Andrade,
publicado em 1928, e tem como símbolo o quadro “Abaporu”, de Tarsila do Amaral,
também de 1928. Trecho do Manifesto Antropofágico:
"Só a Antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente. Única
lei do mundo. Expressão mascarada de todos os individualismos, de todos os
coletivismos. De todas as religiões. De todos os tratados de paz.
Tupi, or not tupi, that is the question."
(ANDRADE, Oswald de. Revista de Antropofagia, Ano 1, No. 1, maio de 1928.)
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Podemos também lembrar de Nietzsche, com sua proposta de Transvaloração
dos valores, que derivou de seu desprezo pelo Cristianismo e por todo o sistema moral
que ele gerava. Para ele, o homem ideal deveria romper com a tradição para que se
criasse o homem real, este que não seguiria os valores impostos pela sociedade e os
valores judaico-cristãos.
Do mesmo modo, o Movimento Antropofágico seguia uma mesma ideia de
romper com o eurocentrismo para se criar algo novo e nacional.
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Outros movimentos foram criados nessa época, como o Verde-Amarelismo e o
Grupo da Anta. O Verde-Amarelismo, formado por Plínio Salgado, surgiu em resposta
ao movimento Pau-Brasil e tinha como proposta a defesa de um nacionalismo
exagerado sem qualquer influência europeia. Esta corrente deu origem à Escola da Anta,
que partindo para a idolatria do tupi, defendia o patriotismo em excesso e apresentava
inclinações nazistas. Elegeu a anta como símbolo nacional.

Semelhantemente, em Portugal, iniciava-se também o Modernismo. Portugal


passaria assim por um dos momentos mais frutíferos e agitados da sua história. Esse
momento promoveria assim a mudança que alguns artistas buscavam no mundo da arte.
Conhecido como "criador de poetas", Fernando Antônio Nogueira Pessoa, foi um
dos maiores escritores do Modernismo português. Tema de muitos estudos e debates, a
capacidade de Fernando Pessoa, de criar outros eus, poetas assim como ele, o
notabilizou na história. Seus heterônimos eram uma multiplicação do próprio autor, mas
com histórias e estilos literários próprios.

Ricardo Reis, um poeta de "características" pagãs, trazia para suas obras a lírica
grega, a sintaxe clássica e referências mitológicas. Se contrastava com Álvaro de
Campos, o poeta do homem moderno, por defender a unidade e a inteireza do ser.
Para ser grande, sê inteiro
“Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou excluí.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive”
O eu-lírico aqui fala sobre não termos vergonha das nossas características e
fraquezas, e sim nos orgulharmos de cada parte que nos compõe, elogiando a inteireza
do ser humano.

Álvaro de Campos, o poeta do homem moderno, representava a modernidade por


demonstrar em si mesmo a fragmentação do homem moderno. Sua poesia era composta
por versos livres, de ritmos explosivos e linguagem coloquial.
Ode Triunfal
À dolorosa luz das grandes lâmpadas eléctricas da fábrica
Tenho febre e escrevo.
Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto
Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos.

Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno!


Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!
Em fúria fora e dentro de mim,
Por todos os meus nervos dissecados fora,
Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto!
Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos,
De vos ouvir demasiadamente de perto,
E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso
De expressão de todas as minhas sensações,
Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!
A poesia fala sobre o triunfo da técnica, das máquinas, dos motores, da velocidade,
da civilização mecânica e industrial, do comércio e dos escândalos da sociedade.
Sempre com muitas emoções.

Alberto Caeiro, um poeta bucólico, considerado por Pessoa como seu mestre,
convidava por meio de suas poesias a "desaprender as ideias para aprender as coisas",
rejeitando estéticas e valores e reconciliando o homem com a natureza. Como sempre
viveu no campo, teve muito contato com a natureza, e trouxe a partir disso uma visão
mais simples e sensorial do mundo.
O Guardados de Rebanhos
“Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender…
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doendo dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo…

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos…


Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar…”
O poema trata da relação do eu-lírico com a realidade pelo sentir apenas essa
realidade, sem a pensar ou imaginar, pois para o autor, a sensação das coisas é superior
à nossa ideia sobre elas.

Embora tenha sido muito ativo no movimento modernista, o único livro de Fernando
Pessoa publicado enquanto vivo foi “Mensagem”. O poeta morreu em 15 de novembro
de 1935 e o Modernismo português durou até o final do Estado Novo, na década 1970.

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