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CONTEXTO HISTÓRICO

O ano de 1922 foi bastante simbólico: era o primeiro centenário da independência do


Brasil, e o país passava por uma série de mudanças sociais, políticas e econômicas –
especialmente após o fim da Primeira Guerra Mundial.
A movimento artístico predominante era o parnasianismo (caracterizado por um
pensamento bastante formal, mais preocupado com a forma do que com a mensagem). E a
SAM surgiu como uma intervenção a esse modelo.
Os artistas da Semana de Arte Moderna eram, em sua maioria, descendentes de famílias
cafeeiras de São Paulo, em uma época que predominava a política do “Café com Leite” e por
isso tinham grande influência nos assuntos sociais da cidade.
Boa parte dos artistas também haviam estudado na Europa e trouxeram de lá algumas
tendências artísticas como o futurismo, cubismo, dadaísmo, surrealismo, expressionismo; e
incorporaram técnicas e um lado mais brasileiro para criar suas próprias obras.
OS ARTISTAS
A maioria dos artistas - que tinha possibilidades financeiras para viajar e estudar na
Europa - trouxe para o país diversas tendências artísticas. Assim foi se formando o movimento
modernista no Brasil.

Com isso, São Paulo demonstrava (em confronto com o Rio de Janeiro) novos
horizontes e uma figura de protagonismo na cena cultural brasileira.

Para Di Cavalcante, a semana de arte:


Seria uma semana de escândalos literários e artísticos, de meter os estribos na barriga da
burguesiazinha paulista.

CLUBE DOS CINCO

O Grupo dos Cinco foi responsável, junto a outros artistas, pelo referencial ideológico e
artístico da Semana de Arte Moderna de 1922, realizada no Teatro Municipal de São Paulo.
Desta forma, organizaram as primeiras manifestações do modernismo no Brasil.

Entre os anos de 1922 e 1930, muitas ideias modernistas ganharam força no Brasil. Com
a proliferação de publicações em São Paulo e no Rio de Janeiro, a população começou a ter
acesso a obras com conteúdo crítico e passou a formar suas opiniões e tomar consciência a
respeito da realidade da sociedade brasileira daquele período.

Endossada pelo Grupo dos Cinco, a Semana de Arte Moderna de 1922 é considerada
um ponto culminante da insatisfação dos artistas no que se refere aos modelos importados da
Europa, os chamados "ismos": Cubismo, Surrealismo, Dadaísmo, entre outros. Além disso, os
modernistas tinham o objetivo de reafirmar a cultura nacional, buscando sua pluralidade e
essência através da arte.

A SEMANA DE 22

Foi assim que durante três dias (13, 15 e 17 de fevereiro) essa manifestação artística,
política e cultural reuniu jovens artistas irreverentes e contestadores.

O evento foi inaugurado pela palestra do escritor Graça Aranha: “A emoção estética da
Arte Moderna”; seguido de apresentações musicais e exposições artísticas. O evento estava
cheio e foi uma noite relativamente tranquila.

No segundo dia, houve apresentação musical, palestra do escritor e artista plástico


Menotti del Picchia, e a leitura do poema “Os Sapos” de Manuel Bandeira.
Ronald de Carvalho fez a leitura, pois Bandeira encontrava-se em uma crise de tuberculose.

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Nesse poema, a crítica à poesia parnasiana era severa, o que causou indignação do público,
muitas vaias, sons de latidos e relinchos.

Por fim, no terceiro dia, o teatro estava mais vazio. Houve uma apresentação musical
com mistura de instrumentos, exibida pelo carioca Villa Lobos.
Nesse dia, o músico subiu ao palco vestindo casaca e calçando em um pé sapato e no outro
um chinelo. O público vaiou pensando que se tratasse de uma atitude afrontosa, mas depois foi
explicado que o artista estava com um calo no pé.

As ideias modernistas ganharam âmbito nacional e passaram a ser discutidas durante


todo o século XX, influenciado obras de autores contemporâneos e na arte em geral.

AS OBRAS

As obras, que incluem pinturas, esculturas, peças literárias e musicais, trazem reflexões
que podem ser aplicadas ao contexto contemporâneo, como “Operários”, de Tarsila do Amaral,
a qual trata sobre o período da industrialização brasileira.

Essas obras representavam uma ruptura com as tradições artísticas vigentes e


propunham uma nova forma de ver o mundo, baseada na experimentação e na liberdade
criativa.

A ORIGEM DO ABAPORU

O quadro Abaporu  é uma das mais emblemáticas obras da história da arte no Brasil.

Foi pintado com tinta a óleo pela artista paulistana Tarsila do Amaral no ano de 1928 e
ofertado como um presente de aniversário ao seu marido, na época, o poeta Oswald de
Andrade.

A tela pertence ao modernismo brasileiro e inaugura uma nova fase desse movimento:
a fase antropofágica.

Em 1995, a tela foi vendida para o colecionador argentino Eduardo Costantini em um


leilão pelo valor de 1,43 milhão. Atualmente, a obra se encontra no Museu de Arte Latino-
Americano de Buenos Aires (MALBA).

RELEITURAS DO ABAPORU

(1) Renomado internacionalmente, o artista pernambucano Romero Britto usou a sua


caricata assinatura – cores vivas e padrões geométricos – para reapresentar a obra de Tarsila
do Amaral no estilo pop-art. 

(2) O artista plástico Tarik Klein é a mente por trás do "Calendário Celebridade Vira-
Lata", ano 2021. A obra traz um compilado de releituras artísticas
com fotos de cachorros. O Abaporu, de Tarsila do Amaral, se tornou Auauporu; o Autorretrato,
de Van Gogh, virou Auautorretrato, e Tropical, de Anita Malfatti, só poderia ser um Tropicão.

(3) Graziela Vasconcelos, uma estudante do 9º ano do Centro Educacional Maria


Santíssima, da cidade de Ipojuca, litoral sul do estado de Pernambuco. Desafiada pelo
professor de artes Allison Santos a fazer uma releitura da obra de Tarsila do Amaral, Graziela
inseriu outras referências artísticas, como A Persistência da Memória, de Salvador Dalí (no
relógio que derrete). Além disso, também fez uma reflexão do momento de pandemia que
vivemos.

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“Recentemente estávamos estudando alguns movimentos artísticos como cubismo, futurismo,
entre muitos outros. Mas, o que eu mais gosto de praticar é o surrealismo, poder colocar referências que
não existem para tentar remeter a algo da realidade” contou ao blog ProfLab.

(4) Com cores quentes e fortes, o artista Eduardo Lima retrata “a cultura e o cotidiano
nordestino através da arte”. Foi o que fez, por exemplo, com sua releitura do quadro de Tarsila,
que nomeou de Abaporu do Sertão. 

(5) Para sua releitura de Abaporu, o artista Eloir Jr decidiu incluir referências
à cultura ucraniana no Paraná, a exemplo dos trajes costumeiros. Em outra releitura da mesma
obra, ele homenageia a Polônia com trajes típicos de Lowitcz, na região central do país.

RECEPÇÃO CRITICA DO ABAPORU

Foi inicialmente recebido com críticas negativas e incompreensão por parte da elite
brasileira. Muitos consideravam a obra feia, sem sentido, enquanto outros acusaram de ser
uma representação racista e caricatural dos povos indígenas.

No entanto, ao longo dos anos, se tornou uma das obras mais importantes e
reconhecidas da arte brasileira. A pintura é admira por seu estilo único e sua capacidade de
representar a cultura e a identidade do país de forma original e autentica.

A pintura é um tesouro da arte brasileira e um símbolo da rica herança cultural do país.

O REI DA VELA

Publicado em 1937, O Rei da Vela rompe paradigmas da estética burguesa em um


período de convulsão social – à iminência do Estado Novo (1937-1943), que instituiria
vedações às liberdades individuais. A peça reflete a investigação formal iniciada por Oswald de
Andrade com a Semana de Arte Moderna (1922) e com o movimento antropofágico. É um caso
particular de texto teatral que permanece inédito por três décadas, explicitando a distância
entre os palcos brasileiros e as propostas modernistas.

Na peça, o agiota Abelardo I é um novo rico interessado na ascensão social pelo


casamento com a aristocrata Heloísa, que deseja reverter sua decadência econômica. A
transação matrimonial acontece sob interferência de um representante do capital estrangeiro. A
crítica às relações de poder perfaz um enredo que vincula operações de crédito pessoal às
transações entre nações imperialistas e colonizadas, ao mesmo tempo em que a sexualidade
despudorada fere a moral de uma burguesa conservadora e reacionária.

De acordo com o crítico Décio de Almeida Prado, a subversão do ufanismo praticada em


favor de uma celebração selvagem do “subdesenvolvimento material, mental e artístico” do
país, faz com que O Rei da Vela inaugure o tropicalismo no teatro. No cinquentenário do
espetáculo, em 2017, José Celso e Renato Borghi estreiam no Teatro Oficina uma remontagem
de O Rei da Vela, reafirmando a atualidade da obra para além do seu tempo.

O Rei da Vela é um retrato das relações político-sociais baseadas nos interesses


financeiros e de concentração de poder. Por um lado, é um exercício de encenação de
diferentes gêneros teatrais; por outro, um exercício político de resistência e contracultura diante
de um sistema de censura e autoritarismo.

TEN – GRUPO DE TEATRO EXPERIMENTAL NEGRO

O Teatro Experimental do Negro (TEN) surgiu em 1944, no Rio de Janeiro, como um


projeto idealizado por Abdias Nascimento (1914-2011), com a proposta de valorização social
do negro e da cultura afro-brasileira por meio da educação e arte, bem como com a ambição de
delinear um novo estilo dramatúrgico, com uma estética própria, não uma mera recriação do
que se produzia em outros países.

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Alguns anos antes, aflorara em Abdias uma inquietação perante a ausência dos negros e
dos temas sensíveis à história da população negra nas representações teatrais brasileiras. Em
geral, quando lhes era concedido algum espaço cênico, este vinha para reforçar estereótipos, a
partir do direcionamento dos atores/atrizes negros/as a papéis secundários e pejorativos. 

Por essa razão, o TEN foi pensado para ser um organismo teatral que promovesse o
protagonismo negro. Nas palavras do próprio Abdias do Nascimento, desde que era ainda uma
ideia em gestação, o TEN teria como papel defender a “verdade cultural do Brasil”.

À sua proposta, aderiram de imediato o advogado Aguinaldo de Oliveira Camargo, o


pintor Wilson Tibério, Teodorico Santos e José Herbel. Logo em seguida, foram acompanhados
pelo militante negro Sebastião Rodrigues Alves, Claudiano Filho, Oscar Araújo, José da Silva,
Antônio Barbosa, Arlinda Serafim, Ruth de Souza, Mariana Gonçalves (as três trabalhavam
como empregadas domésticas), Natalino Dionísio, entre outros.

O corpo de atores era formado, inicialmente, por operários, empregados domésticos,


moradores de favelas sem profissão definida e modestos funcionários públicos. O TEN os
habilitou a enxergar criticamente os espaços destinados aos negros no contexto nacional.

Este projeto disponibilizou a seus membros cursos de alfabetização e de iniciação à


cultura geral, além do de noções de teatro e interpretação, mesclando aulas, debates e
exercícios práticos, e contando com a contribuição dos professores Rex Crawford, Maria Yeda
Leite e José Carlos Lisboa, do poeta José Francisco Coelho e do escritor Raimundo Souza
Dantas, que ajudavam o grupo em formação por meio de palestras.

O Teatro Experimental do Negro tinha grandes ambições artísticas e sociais, dentre elas,
estava a exaltação/reconhecimento do legado cultural e humano do africano no Brasil.

Dada à inexistência de peças dramáticas que refletissem sobre a situação existencial do


negro no Brasil, o grupo decidiu interpretar o texto O Imperador Jones, de Eugene O’Neill, que
se dedicava àquele mesmo empreendimento, embora tendo como referência o contexto
estadunidense. O autor cedeu os direitos autorais ao TEN, por simpatizar com a iniciativa e
reconhecer a similitude de condições entre o teatro brasileiro da década de 1940 e o teatro
estadunidense de duas décadas antes.

A estreia da peça se deu em 8 de maio de 1945, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro,


onde nunca antes havia pisado um negro, fosse como intérprete; fosse como público.

A atuação do TEN não se limitava ao teatro ou a uma crítica social restrita à esfera
discursiva. As aspirações do grupo incluíam a melhoria real da qualidade de vida da população
afrodescendente, o que não podia prescindir do engajamento político de artistas, autores,
diretores e demais formadores de opinião. Assim, o TEN organizou o Comitê Democrático Afro-
Brasileiro e, em seguida, a Convenção Nacional do Negro, que apresentou à Constituinte de
1946, entre outras propostas, a inserção da discriminação racial como crime de lesa-pátria.
Merecem destaque também a realização, em 1950, do 1º Congresso do Negro Brasileiro, e a
edição entre os anos de 1948 e 1951 do jornal Quilombo.

O TEN adotava a postura político-discursiva do Negritude, movimento político-estético


que impulsionou a luta pela independência de muitos países africanos, como o Senegal, e
influenciou a busca por libertação dos povos afro-americanos.

As dificuldades financeiras, porém, selaram a história do TEN, no ano de 1961. Todavia,


não obstante o curto tempo de duração do grupo, o Teatro Experimental do Negro, juntamente
com o grupo Os Comediantes, é responsável por inaugurar o teatro moderno brasileiro.
Priorizando seu projeto artístico sem levar em conta o gosto médio da plateia, acostumada com
as fáceis comédias de costume, abrindo mão da profissionalização dos atores, encenando
textos de expoentes da literatura e da nova dramaturgia brasileira, como Jorge Amado,

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Augusto Boal e Nelson Rodrigues, por exemplo, além de suas próprias peças (como Sortilégio,
de Abdias do Nascimento), e atraindo a atenção e a colaboração de outros inovadores como o
diretor Zigmunt Turkov e o cenógrafo Tomás Santa Rosa, o TEN “significou uma iniciativa
pioneira, que mobilizou a produção de novos textos, propiciou o surgimento de novos atores
[Ruth de Souza e Haroldo Costa, por exemplo] e grupos e semeou uma discussão que
permaneceria em aberto: a questão da ausência do negro na dramaturgia e nos palcos de um
país mestiço, de maioria negra.”

O LEGADO – RESULTADO DA SEMANA DE 22

Segundo Anelize Vergara, professora e mestra em história, a Semana de 1922 marcou a


história da arte brasileira que, a partir de então, mostrou para a sociedade a possibilidade de
falar sobre ela mesma, em relação à arte e a outros âmbitos. “É fundamental ressaltar que
naquele contexto o que era popular, regional, ligado ao cotidiano não costumava ser
considerado arte. Portanto, o movimento caminhava no sentido de pensar a brasilidade,
questão comum a outras áreas na época, como a sociologia, a história e a filosofia, além de
estar inserido em um momento de reflexão sobre as artes das escolas artísticas europeias na
conjuntura do pós-guerra”.

“Mais do que abrir movimentos artísticos nomeáveis, arriscaria dizer que o principal
legado da Semana de 22 foi, além de introduzir na nossa cultura a contribuição dos povos
originários e do legado afrodiaspórico, apresentar o conceito antropofágico (movimento criado
por Oswald de Andrade, cujo objetivo era “devorar” a cultura enriquecida por técnicas
importadas e promover uma renovação na arte brasileira) como nossa condição antológica.
Pela característica colonial, não possuímos uma Idade Média, um Renascimento ou um
período clássico próprio. Herdamos isso dos nossos colonizadores. Qual seria então o nosso
mito fundador? A capacidade de adaptar quase que infinitamente diante de contingências de
exploração. Sabemos transformar carência em potência como ninguém. Para um povo com
sérios problemas de autoestima, isso ajudou e muito a autorizar o direto à imaginação”, afirma
Carlos Eduardo Félix, artista plástico e prof. do Departamento de Artes e Design da PUC-Rio.

“O pós-Semana de Arte foi bastante relevante, pois, a partir daí, muitos artistas aderiram
às ideias modernistas e iniciaram seus projetos intelectuais nesse contexto. Mário de Andrade,
por exemplo, viajou pelo Nordeste brasileiro recolhendo músicas e manifestações folclóricas,
algo inédito até então. Di Cavalcanti trouxe uma visão mais política da sua obra, Villa-Lobos, na
música, lançou uma série de composições chamada Choros, muito inspirada por músicas
populares brasileiras. Todas estas mudanças geraram reflexo em autores de outras décadas,
como Graciliano Ramos, Clarice Lispector, Jorge Amado, enfim, autores da década de 1930 e
1940, que eram de uma geração mais nova. Na década de 1960, a Tropicália e o Cinema Novo
também buscaram inspiração no Modernismo com a defesa de uma cultura nacional, desta vez
utilizando a cultura de massa”, reforça a professora Anelize Vergara.

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