Você está na página 1de 3

IFPI- INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO PIAUÍ/

CAMPUS COCAL
DISCIPLINA: LÍNGUA PORTUGUESA 3º ANO; JANEIRO DE 2024
PROFª. Ma. FLAVIANA DE CASTRO SILVA
APONTAMENTO PARA CONCLUSÃO DO ESTUDO SOBRE ARTISTAS BRASILEIROS DO INÍCIO
DO SÉCULO XX: LEITURA E POSTERIOR ATIVIDADE EM SALA DE AULA.

A VANGUARDA BRASILEIRA
O Modernismo brasileiro iniciou-se oficialmente em 1922, com a realização da
Semana de Arte Moderna.
Porém, desde a década de 1910 já vinham ocorrendo manifestações artísticas
de um grupo que formava a vanguarda modernista brasileira, entre eles os
escritores Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Ronald de Carvalho, Manuel
Bandeira e dos pintores Anita Malfatti e Di Cavalcanti.
Entre os fatos que precederam a Semana de Arte Moderna destacam-se a
criação da revista de artes O Pirralho, dirigida por Oswald de Andrade e Emílio
de Menezes, em 1911; a exposição de obras do pintor russo Lasar Segall, em
1913; a participação do poeta brasileiro Ronald de Carvalho, em 1915, na
fundação da revista Orpheu, que deu início ao Modernismo em Portugal; a
publicação, em 1917, de várias obras de poesia, entre elas, Há uma gota de
sangue em cada poema, de Mário de Andrade (que usou o nome Mário Sobral),
e A cinza das horas, de Manuel Bandeira.
Contudo, o fato mais marcante desse período foi uma exposição da pintora
paulista Anita Malfatti, realizada em 1917, que provocou por parte do escritor e
crítico do jornal O Estado de S. Paulo Monteiro Lobato uma violenta crítica,
intitulada “Paranoia ou mistificação?”
A SEMANA DE ARTE MODERNA
Em 1921, o grupo modernista que realizaria a Semana estava completamente
organizado e amadurecido para o evento. Esse grupo planejava desde 1920 uma
ação dos artistas novos “que fizesse valer o Centenário!”.
Ainda em 1921, chegou da Europa Graça Aranha- escritor consagrado do Pré-
modernismo e membro da Academia Brasileira de Letras- muito entusiasmado
com as vanguardas artísticas europeias, ele apoiou o grupo paulista e isso foi o
impulso que faltava.
A Semana de Arte Moderna ocorreu entre 13 e 18 de fevereiro de 1922, no Teatro
Municipal de São Paulo, com a participação de artistas do Rio de Janeiro e de
São Paulo.
Durante toda a semana, o saguão do teatro esteve aberto ao público. Nele havia
uma exposição de artes plásticas com obras de Anita Malfatti, Vicente do Rego
Monteiro, Zina Aita, Di Cavalcanti, Harberg, Brecheret, Ferrignac e Antonio Moya.
Nas noites dos dias 13, 15 e 17 realizaram-se saraus com apresentação de
conferências, leituras de poemas, dança e música.
A primeira noite foi aberta com uma conferência de Graça Aranha, intitulada “A
emoção estética na arte moderna”, na qual o escritor pré-modernista, em
linguagem tradicional e acadêmica, manifestou seu apoio à arte moderna. À
conferência, seguiram-se declamação de poemas, por Guilherme de Almeida e
Ronald de Carvalho, e execução de músicas de Ernâni Braga e Villa-Lobos.
Contrastando com o comportamento da plateia na noite anterior, a segunda foi a
mais importante e a mais tumultuada das três noites da Semana. Foi aberta por
Menotti Del Picchia, com uma conferência em que negava a filiação do grupo
modernista ao futurismo de Marinetti, mas defendia a integração da poesia com
os tempos modernos, a liberdade de criação e, ao mesmo tempo, a criação de
uma arte genuinamente brasileira.
Quando se iniciou a leitura de poemas e fragmentos de prosa, a plateia teve
reações surpreendentes, ora vaiando, relinchando, latindo, gritando, ora
aplaudindo.
No intervalo entre uma parte e outra do programa, na escadaria do hall do teatro,
Mário de Andrade fez, em meio a caçoadas e ofensas, uma pequena palestra
sobre as artes plásticas ali expostas.
Na segunda parte do programa, um número de dança e o concerto de Guiomar
Novaes acalmaram os ânimos da plateia.
A IMPORTÂNCIA DA SEMANA
A Semana de Arte Moderna, vista isoladamente, não deveria merecer tanta
atenção. Os jornais da época, por exemplo, não lhe dedicavam mais do que
algumas poucas colunas e a opinião pública ficou distante. Seus participantes
não tinham sequer um projeto artístico comum; unia-os apenas o sentimento de
liberdade de criação e o desejo de romper com a cultura tradicional. Foi, portanto,
um acontecimento bastante restrito aos meios artísticos, principalmente de São
Paulo.
Apesar disso, a Semana foi aos poucos ganhando uma enorme importância
histórica. Primeiramente porque representou a confluência das várias tendências
de renovação que, empenhadas em combater a arte tradicional, vinham
ocorrendo na cultura brasileira antes de 1922. Mário de Andrade, em 1942, em
uma conferência comemorativa dos vinte anos da Semana, afirmou: “O
Modernismo, no Brasil, foi uma ruptura, foi um abandono de princípios e de
técnicas consequentes, foi uma revolta contra o que era a inteligência nacional”.
Em segundo lugar porque conseguiu chamar a atenção dos meios artísticos de
todo o país e, ao mesmo tempo, aproximar artistas com ideias modernistas que
até então se encontravam dispersos. A partir daí, em São Paulo e em várias
outras cidades de todo o país, formaram-se grupos de artistas e intelectuais que
fundaram revistas de arte e literatura, publicaram manifestos, enfim, levaram
adiante e aprofundaram o debate acerca da arte moderna.
Além disso, a Semana, ao aproximar artistas de diferentes áreas- escritores,
poetas, pintores, escultores, arquitetos, músicos e bailarinos-, permitiu o
intercâmbio de ideias e de técnicas, o que ampliaria os diversos ramos artísticos
e os atualizaria em relação ao que se fazia na Europa.
Os reflexos da Semana fizeram-se sentir em todo o decorrer dos anos 1920,
atravessaram a década de 1930 e, de alguma forma, têm relação com a arte que
se faz hoje.

Fonte: Cereja, William Roberto- Conecte: literatura brasileira/ William Roberto Cereja, Thereza
Cochar Magalhães.- São Paulo: Saraiva, 2011. – (Coleção projeto conecte), p. 390 a 393.

Você também pode gostar