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SPAM HISTÓRICO
Entre os diversos objetivos da Sociedade Pró-Arte Moderna (SPAM), o
principal deles era promover manifestações artísticas orientadas para o
modernismo do Brasil. A SPAM foi criada na cidade de São Paulo no ano de
1932, pouco depois do Movimento Constitucionalista, e seguia o caminho
aberto há 10 anos pela Semana de Arte Moderna.
A criação da Sociedade Pró-Arte Moderna foi espontânea. Na cidade de São
Paulo existiam alguns intelectuais e artistas entusiastas da modernização da
arte em suas diversas vertentes. No dia 23 de novembro do ano de 1932,
após diversos entendimentos, os criadores da SPAM juntaram-se na casa de
Gregori Warchavchik, considerado um dos principais nomes da primeira
geração de arquitetos modernistas do Brasil, e lá formaram as bases do grupo
pró-arte moderna.
Porém, apesar da diversidade de ideias trocadas entre os interessados, a
Sociedade Pró-Arte Moderna só viria a ser realmente fundada no dia 22 de
dezembro de 1932. E foi uma ideia de um idealizador da Semana de Arte
Moderna, Mário de Andrade, que influenciou este novo movimento. Seguindo
o conselho do escritor, a Sociedade Pró-Arte Moderna reuniu pessoas com
bastante influência na elite paulistana. Entre os nomes selecionados estavam
os de: Paulo Mendes de Almeida, Sérgio Milliet, John Graz, Vittorio Gobbis,
Wasth Rodrigues, Olívia Guedes Penteado, Anita Malfatti, Paulo Prado, Lasar
Segall, Camargo Guarnieri, Tarsila do Amaral, Hugo Adami, Rossi Osir,
Menotti Del Picchia, entre outras figuras importantes.Após a criação, foram
traçados os objetivos e metas do grupo, entre eles estavam: promoção de
exposições, reuniões para interessados em literatura, concertos, palestras e
conferências. Também tinham como intuito estreitar a relação entre
apreciadores de arte e os artistas, organizar, uma vez por ano, o mês da arte
e dar início à instalação de uma sede.Um pouco do espírito que pairava sobre
a Sociedade Pró-Arte Moderna na época foi registrado em uma carta de Mário
de Andrade enviada para Lasar Segall, pintor, escultor e gravurista judeu
brasileiro nascido na Lituânia. A data da carta é do dia nove de fevereiro de
1931 e em um dos trechos lemos:
"uma coisa que vai alegrar você - a quase realização daquela nossa velha
idéia, lembra-se? - de um centro de arte moderna juntamente com d. Olívia
Guedes Penteado e com outras algumas senhoras de nossa melhor
sociedade; estou tentando dar a essa ideia uma forma palpável, útil. Creio que
faremos para principiar uma espécie de club que se chamará 'Sala Moderna',
na qual exporemos quadros, estátuas, livros e faremos ouvir musicistas,
escritores exclusivamente modernos, nacionais e estrangeiros".
CAM Histórico
O Clube dos Artistas Modernos - CAM foi criado em 24 de novembro de 1932,
um dia depois da fundação da Sociedade Pró - Arte Moderna - SPAM. As
duas agremiações artísticas formadas na cidade de São Paulo expressam,
antes de mais nada, o êxito do associativismo como estratégia de atuação
dos artistas na vida cultural do país ao longo da década de 1930. E sinalizam
uma atitude de independência em relação às instituições existentes no
período, por exemplo, a Escola Nacional de Belas Artes - Enba. Tributários
das conquistas estéticas do modernismo, os grupos dialogam de formas
distintas com esse legado recente. A Spam, capitaneada por Lasar Segall
(1891 - 1957), tem como principais integrantes as figuras do primeiro
modernismo, parecendo filiar-se mais diretamente aos organizadores da
Semana de Arte Moderna de 1922. O CAM, por sua vez, liderado por Flávio
de Carvalho (1899 - 1973), se afirma pela marcação de distâncias em relação
à Spam, tentando fazer valer um tom mais autônomo, mais irreverente e
"menos elitista" em suas atividades e realizações. Como afirma
provocativamente Flávio de Carvalho: "Detestamos elites; não temos sócios
doadores".
O primeiro andar do edifício da rua Pedro Lessa, 2 - na parte baixa do viaduto
Santa Ifigênia -, é escolhido como a sede social do clube, local onde se
realizam festas, concertos, exposições e palestras, e se encontram uma
biblioteca e um bar. Não por acaso no mesmo prédio funcionam também os
ateliês de Antonio Gomide (1895 - 1967), Carlos Prado (1908 - 1992) e Di
Cavalcanti (1897 - 1976), parceiros na aventura de criação do CAM. A idéia
de constituição do grupo surge no salão de chá do antigo Mappin, na praça do
Patriarca, centro da cidade, lembra o historiador Paulo Mendes de Almeida,
onde estavam, além dele e de Flávio de Carvalho, Arnaldo Barbosa (1902 -
1981) e Vittorio Gobbis (1894 - 1968). O espírito da associação é promover
intercâmbios entre diversas artes, estimular debates, divulgar novas criações
e defender os interesses da classe artística. Do conjunto de suas realizações
depreende-se um forte engajamento político e social, simpatias em relação à
experiência soviética e a crítica cerrada ao Estado e à Igreja brasileiros. Mas
tudo isso regado a festas e diversão. O dia da inauguração do CAM evidencia
o caráter festivo e teatral que marca os eventos da entidade. Antonio Gomide,
Carlos Prado, Di Cavalcanti e Flávio de Carvalho pintam grandes painéis que
decoram o salão. A cantora Nair Duarte Nuque traz um imenso bolo que é
degustado entre gritos e cânticos. Enquanto isso, o compositor Frank Smith
serve vodca com pimenta aos convidados, provenientes dos mais diferentes
setores da vida artística e intelectual do país. Essa diversificação de público e
propósitos marca as atividades do CAM: exposições de arte - entre elas, uma
mostra gráfica da expressionista alemã Käthe Kollwitz (1867-1945), e outra de
cartazes russos -; recitais de música erudita e popular - concertos de
Camargo Guarnieri (1907 - 1993), Lavínia Viotti, Elsie Houston e Marcelo
Tupinambá -; conferências - de Caio Prado Jr. (1907 - 1990) recém-chegado
da então União Soviética, de Jorge Amado (1912 - 2001) sobre a vida nas
fazendas de cacau, de Tarsila do Amaral (1886 - 1973), sobre arte proletária,
do mexicano David A. Siqueiros (1896 - 1974) etc.
O CAM, essa "invulgar instituição" como quer P. M. de Almeida, funciona
como um espaço de encontro e de manifestações culturais, com grande
vocação crítica e anárquica. Vocação, aliás, característica das atuações de
Flávio de Carvalho. O tom anticlerical e de crítica aos valores burgueses
orienta a encenação do Bailado do Deus Morto, em novembro de 1933, no
CAM, primeiro espetáculo ligado ao Teatro da Experiência, concebido por
Flávio de Carvalho como amplo e variado laboratório de pesquisas. O
espetáculo, espécie de teatro-dança, combina tendência expressionista,
elementos da tragédia clássica e efeitos plásticos na montagem, colocando
ênfase mais na ação cênica que no texto dramático. Os atores - Hugo Adami
(1899 - 1999), Carmem Melo, os sambistas Risoleta e Henricão, Guilhermina
Gainor e Dirce de Lima - encenam uma narrativa alegórica que tematiza as
relações dos homens com seus deuses. Após três exibições da peça, o teatro
é fechado pela polícia. A censura e as dificuldades financeiras levam ao
encerramento das atividades do CAM, no fim de 1933, a despeito das
manifestações de apoio que recebem de artistas e intelectuais expressivos no
momento.