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século XIX
Este movimento é extremamente influenciado pelo ideal positivista, visto que segue o triunfo
das ciências exatas e experimentais para melhor compreensão da sociedade. A arte pretende,
desta maneira, carregar nas suas obras um conteúdo completamente empírico. Esta fidelidade
à realidade, diferente do realismo do período Renascentista que representava principalmente
a natureza e os seus detalhes, limita-se a uma reprodução de factos. Naquele momento, os
factos diziam respeito, principalmente, às divergências sociais, ao labor dos trabalhadores, à
vida urbana e às imperfeições de uma sociedade hipócrita e das suas instituições. A classe
social mais criticada pelo realismo, pela predominante concentração da riqueza da sociedade,
foi a alta burguesia, que ocupava e controlava a maioria e os mais lucrativos negócios e viviam
com muito luxo, ostentação e poder. Por consequência desta hierarquia desproporcionada da
sociedade de classes, existia muita exploração, miséria e péssimas condições da classe
operária, sendo esta a questão mais explorada pelos artistas e escritores realistas.
Esta corrente artística, afirma-se não só na pintura como também na literatura. O simbolismo
literário foca-se também numa realidade transcendente. A escrita é uma tentativa de conciliar
o real ao imaginário, salvando uma humanidade corrupta. Era destinada à elite, visto que era
de complexa interpretação e exigia um maior intelecto. Através da poesia, o simbolismo
recorre ao encanto das palavras, sendo assim, a rima e as sílabas perdem a relevância. Já a
linguagem na poesia é enigmática, vaga e deixa ao leitor o papel da interpretação. Recorre-se a
recursos expressivos como metáforas, comparações, onomatopeias, sinestesias, aliterações e
assonâncias para transmitir musicalidade e sensações, e a estrutura poética era
maioritariamente constituída por sonetos. No simbolismo existe influência romântica pelo
subjetivismo, pela irracionalidade e pelos temas melancólicos. A poesia de Gérard, de Nerval e
de Stéphane Mallarmé, escritores franceses, aborda os mistérios do mundo e do universo
pelas sensações e pelas palavras. A força desta escrita está naquilo que é deixado por dizer e
por imaginar.
Um período histórico que surge e contraria a perceção pessimista que o simbolismo tem dos
acontecimentos decorrentes do século XIX, é a Belle Époque. Este foi um período de alteração
da cultura na Europa, perante o final da Guerra Franco-Prussiana, em 1871. A sociedade
europeia situava-se numa relativa estabilidade e paz, simultaneamente a um período de
desenvolvimento económico das principais potências. As alterações culturais vieram
acompanhadas de uma nova forma de vivência e de pensar. Surgiram cabarés, que são
estabelecimentos de espetáculos e de convívio, o cinema, um estilo de dança, chamado
cancan, entre outras variadas inovações. Na pintura Dança no Moulin Rouge, de Henri de
Toulouse-Lautrec, é representada esta dança e este convívio comum da época. Na pintura
vemos o Moulin Rouge, um cabaré elegante e que ainda hoje existe. É observável que no salão
de dança os homens dialogam, com casacos escuros e cartola vestidos, já as mulheres exibem
chapéus extravagantes e plumas. No centro as figuras dançam e no fundo um empregado
serve bebidas aos senhores. Em geral, a Belle Époque culmina no desenvolvimento dos
transportes, da comunicação e na instauração da terceira república francesa. O otimismo, a
paz, o “bem-estar” económico do país e todas as inovações científicas e culturais fazem-nos
crer que esta era uma “Idade de Ouro”, onde a arte impressionista e a Arte Nova nasceram. A
música, a literatura, o teatro e as artes visuais ganharam reconhecimento e assumiram um
papel fundamental para os costumes da sociedade da época.
Durante a Belle Époque, surge o Impressionismo, como reação à pintura realista e naturalista.
Este movimento artístico e literário surge em Paris, em meados de 1870. Um grupo de jovens
artistas contrariou as técnicas de pintura realista ensinadas pela academia, que representa as
instituições vocacionadas para a educação, cultura e ciência. No entanto, a natureza e a figura
humana são temas ainda abordados nas obras impressionistas, à semelhança do estilo
refutado. A diferença é que, em vez do artista se focar na autenticidade do naturalismo, foca-
se nos aspetos formais e na estética, sendo esta a principal inovação. O conteúdo das obras é
baseado nas perceções quanto ao que observavam.
É comum nas pinturas vermos representados cafés, jardins, teatros, festas e margens de rios,
fazendo, assim, referência a elementos comuns e característicos da Belle Époque. Isso é visto
na pintura Camille e Jean na Colina, de Claude Monet, onde vemos representada uma colina e
uma figura feminina, cujo vestido se confunde com o céu, representando a natureza. Em
termos de técnicas de pintura, os impressionistas procuram captar a luz e as cores naturais.
Desta forma, a pintura não é realizada em ateliers, mas ao ar livre. No caso da pintura A Noite
Estrelada, do ilustre Vicent Van Gogh, o pintor representou a vista que tinha da sua cela (Saint-
Remy, em França). Numa carta que destinou ao irmão escreveu: “Através da janela com barras
de ferro eu posso ver um campo cercado de trigo (…) acima do qual, durante a manhã, eu vejo
o sol nascer com toda a sua glória.” Nesta pintura, Van Gogh utilizou cores escuras, atribuiu
uma emoção à natureza e à noite. Estas escolhas, e a árvore desenhada em primeiro plano,
simbolizam a profunda depressão em que o artista se encontrava. Acredita-se que a árvore
representada alcança o céu e está ligada à morte e ao eventual suicídio de Van Gogh. Nesta
corrente artística, as pinceladas eram pequenas, fortes e sobrepostas. Os contornos eram
diluídos e as formas eram subtis, como demonstrado também na pintura anteriormente
referida. A palete era colorida e o preto e cinzento foram descartados, ou seja, a luminosidade
ganhou destaque.
A Arte Nova, também surgida na Belle Époque e ao contrário das restantes correntes artísticas,
unifica a vontade da existência de uma arte característica e particular daquele período
histórico, juntamente das evoluções do mundo industrial que se difundiram por toda a Europa
e por outras grandes potências económicas, como os Estados Unidos da América. Surge
também com o objetivo de introduzir a vertente estética num mundo que havia sido
praticamente dominado pela industrialização, e consequentemente, pelo mau gosto. Todavia,
ao invés de lutar contra a influência das máquinas no mundo artístico, como fez a sua maior
influenciadora, a corrente artística Arts&Crafts, a Arte Nova utiliza-as ao seu favor. Sendo
assim, é muito presente a utilização de materiais recentemente lançados pelo mercado
industrial, como o ferro, o vidro, o mármore, o betão e algumas madeiras exóticas,
tencionando explorar e procurar a beleza nestes objetos industrializados. Para além disso, é
explorado o aspeto naturalista, a curvatura das formas, a presença da figura feminina, a
valorização de formas orgânicas e fluídas e até a influência da arte japonesa.
A harmonia das construções era um fator essencial desta corrente artística modernista. Como
divulgou-se para a arquitetura, para a pintura e para o design de interiores, os projetos da Arte
Nova visavam uma obra de arte completa. Desta maneira, todos os elementos constituintes de
um determinado projeto, como a parte externa, interna e os móveis de uma casa da Alta
Burguesia, deveriam ser compatíveis. Estavam sempre presentes formas curvas e assimétricas,
através do repertório vegetalista, da representação do corpo da mulher, das superfícies
onduladas e entrelaçadas ou de animais frágeis e delicados.
No que diz respeito aos elementos mais particulares, como móveis, louças e joalharia, a Arte
Nova mostrava-se muito inovadora. Um grande exemplo são os candeeiros de Louis Tiffany,
que através de pedaços de vidro unidos com chumbo e cobre, criava desenhos de animais e
plantas. As joias de René Lalique mostram referências não só à natureza, através de animais
como borboletas e abelhas, como também à figura feminina num estado melancólico e
inspirado na Idade Média. Em Portugal, houve destaque na cerâmica, através de pratos em
forma de alface ou couve e travessas em forma de peixe, criadas, principalmente, na sede
situada em Caldas da Rainha.
Finalmente, a pintura da Arte Nova diferencia-se das demais formas de expressão do mesmo
movimento artístico pela influência da arte japonesa. Esta influência surge da admiração
ocidental face a um estilo artístico japonês chamado Ukiyo-e, caracterizado pelos traços
espessos, a ousada utilização da cor e uma variedade de técnicas e superfícies. As estampas
japonesas florais, em geral, encantavam a Europa, e os pintores europeus implementaram
estas características nas suas obras, como podemos ver na pintura Gismonda, de Alphonse
Mucha.
A arte nova teve grande sucesso, foi divulgada pelas grandes exposições internacionais e
aplicada a qualquer objeto do quotidiano. As formas leves e graciosas transformaram-se em
moda, e esta popularidade fez com que existisse desgaste e cansaço deste estilo artístico.
Mesmo assim, deu importantes contributos para a Modernidade e marcou a Belle Époque.
Em suma, vemos que ao longo da segunda metade do século XIX, a população teve contacto
com uma diversidade de movimentos artísticos e literários, dos quais se destacaram o
Realismo, o Simbolismo, o Impressionismo e a Arte Nova. A verdade é que todos eles se
complementam e compartilham características, afinal, todos surgiram durante o mesmo
período histórico. Havia diferentes perceções e opiniões dos eventos turbulentos do século, e
estas eram refletidas na arte e nos diferentes estilos. O mundo tornou-se mais moderno,
industrializado, capitalista e científico. A expressão de opiniões, a crítica e a manifestação
daquilo que sentiam e queriam mudar, tornava-se mais forte do que nunca. Todos estes
fatores, em conjunto, contribuíram para a singularidade e variedade do campo artístico e
literário desta época.
A Carruagem de Terceira Classe, de Honoré Daumier Enterro de Ornans, de Gustave Coubert As Respigadoras, de Jean-François Millet
SIMBOLISMO
Duas Mulheres Taitianas, de Paul Gauguin Parau na te varua ino, de Paul Gauguin
IMPRESSIONISMO
ARTE NOVA