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MUTAÇÕES NOS COMPORTAMENTOS E NA CULTURA

No início do século XX, as cidades eram o principal foco de atençã o das


populaçõ es, atraindo milhares de pessoas devido à empregabilidade crescente que
oferecia – devido ao desenvolvimento da indú stria –, à s melhores condiçõ es de
vida, ligadas à disponibilizaçã o das necessidades bá sicas (canalizaçã o, alimento,
energia) e, sobretudo, à s novas formas atividades que iam surgindo no espaço
urbano, nomeadamente aquelas ligadas à educaçã o, à banca, ao consumismo, ao
lazer e, por fim, ao ó cio. Ora, esta concentraçã o quase asfixiante de massas teve,
obviamente, consequências: a dispersã o espacial trouxe o anonimato e a
indiferença pelo pró ximo, o espaço individual passou a ser restrito, investindo-se
mais no espaço pú blico e coletivo.
Entã o, assistia-se igualmente a uma crise de valores que tudo colocava em
questã o e que produzia mudanças significativas nas mentalidades. Além do
individualismo e da superficialidade das relaçõ es, a descrença na civilizaçã o
ocidental e a anomia eram uma constante, dados os efeitos negativos determinados
pela guerra, as perdas humanas e materiais, a violência, o sofrimento e a invasã o
de sensaçõ es tremendas. Além disso, o facto de começar a prevalecer acima de
tudo a ambiçã o e a acumulaçã o de bens, estimuladas pela produçã o caó tica do
capitalismo, as sociedades privilegiaram o materialismo e o consumo mais do que
nunca em vez da condiçã o e da dignidade humana.
Ainda, o valor tradicional absoluto da ciência foi reprovado, dando lugar a
um relativismo quase total dos fenó menos ligado à relevâ ncia de outras formas de
conhecimento, ou de inteligência, como a intuiçã o; os preceitos religiosos, cívicos e
morais eram abandonados; a pró pria democracia foi contestada, tendo sido
substituída por regimes autoritá rios e personalizados; a razã o do homem é
desmistificada pela psicaná lise de Freud, que admite vá rias etapas de consciência e
concede importâ ncia à preponderâ ncia dos acontecimentos traumá ticos e dos
problemas sociais nos consequentes comportamentos do indivíduo.

Por outro lado, é nesta altura que se iniciam os principais e mais afincados
movimentos feministas de sempre. As mulheres, que tinham permanecido no seu
país durante a guerra, enquanto os homens partiam para o combate nas
trincheiras, tinham igualmente ocupado os seus postos de trabalho e o seu estatuto
dentro da família, tendo sido capazes de superar as suas fraquezas e sobreviver
sozinhas, na ausência de figuras masculinas. Os governos cedem-lhes o direito à
instruçã o e à educaçã o, o acesso a profissõ es de nível superior e ao mundo dos
serviços e à intervençã o no seio da família. E sã o elas pró prias a demandar a
igualdade de oportunidades e de direitos perante a Naçã o e a Justiça, algo nunca
antes visto. Tudo isto tem consequências, por exemplo, ao nível do vestuá rio e da
postura perante a sociedade.
A arte no início do século

Todas estas mutaçõ es têm consequências nas mentalidades e, por


conseguinte, no modo de compreender a vida em sociedade e de o representar, que
é, aliá s, o papel dos artistas. Assim, nascem vá rias correntes diferentes inspiradas
no novo estado natural das coisas e do mundo.

FAUVISMO: é um movimento pictó rico francês caracterizado principalmente por


um modernismo agressivo, onde é empregada uma simplificaçã o geral das formas
e da perspetiva – quase ausente – e onde se exprime uma orquestraçã o de cores
puras (amarelo e vermelho berrantes), ordenadas em cada tela de maneira
autó noma. Nã o se trata de dar uma transcriçã o fiel do mundo, mas de exprimir as
sensaçõ es e as emoçõ es que ele provoca no pintor. Alguns pintores: Moreau,
Matisse, Marquet, Camoin, Manguin.

EXPRESSIONISMO: é uma corrente intelectual e artística fundada na


subjetividade, na revolta, na violência, ou, por outro lado, a espiritualidade. Foi
essencialmente marcado pelo simbolismo, baseando-se no irrealismo da cor – já
aplicado pelos fauvistas –, por deformaçõ es, pela estilizaçã o abrupta da figura
humana e das pró prias paisagens. Pretendia, assim, ser o reflexo de uma captura
do estado de alma do artista, as suas emoçõ es, a sua individualidade. Por isso,
aborda temá ticas relacionadas com os sentimentos e as sensaçõ es mais fortes,
como o amor, a paz, a felicidade (O Cavaleiro Azul) e o medo, o horror, o sexo, a
miséria (A Ponte). Alguns pintores: Edvard Munch, Ernest Kirchner, Emil Nolde,
Heckel.

CUBISMO: é um movimento artístico que mais ruturas realiza sobre a arte clá ssica,
pois “esbate” completamente a realidade em si mesma, fragmentando-a em
elementos geométricos regulares, com o intuito de conseguir visualizar na íntegra
o objeto representado, através de uma ó tica alargada de todos os â ngulos e de
todas as formas. Constró i-se em três fases: a primeira, liderada por Cézanne, a fase
experimental, no qual se destaca o quadro Les Demoiselles d’Avignon, de Picasso; a
segunda, a fase analítica que contempla a dissecaçã o do objeto em mú ltiplas
facetas numa gama restrita de cores surdas; e a terceira, a fase sintética,
caracterizada pela introduçã o da cor e de outros elementos, como algarismos,
recortes de jornal, e por um abstracionismo menor, sendo possível identificar mais
facilmente o objeto. Esta corrente baseia-se muito na influência da arte africana (as
má scaras), tal como o expressionismo, e na ausência de perspetiva.

FUTURISMO: Propunha a aniquilaçã o de toda e qualquer forma de tradiçã o, a


destruiçã o das grandes obras artísticas e literá rias do passado, anunciando uma
pintura e uma literatura mais adaptadas à era das má quinas, do movimento, da
velocidade e do futuro. Um verdadeiro hino à vida moderna e uma glorificaçã o do
futuro. Linhas elípticas, circulares, pontos de fuga, movimento, regresso da
perspetiva, jogos de contrastes luminosos e sombreados, cores agressivas e
repetitivas.

ABSTRACIONISMO: nã o pretendia retratar a realidade, mas sim libertar-se dela e


criar imagens oníricas, distantes dos sentidos e da intelectualizaçã o das sensaçõ es.
Utilizava uma linguagem universal, que permitia ao pú blico compreender pela sua
pró pria subjetividade. Neste integram-se vá rias correntes: o abstracionismo lírico,
o geométrico, o neoplasticismo e o suprematismo.

DADAÍSMO: Segundo este movimento, a autêntica arte seria a antiarte,


caracterizada pelo uso da troça, do insulto e da crítica, como modo de destruir a
ordem e estabelecer o caos. O seu ú nico princípio é a incoerência. Nada significa
alguma coisa, nem mesmo o nome do movimento. É a chamada «ready made» que
dá valor artístico a um objeto que normalmente o nã o tem.

SURREALISMO: reú ne características do dadaísmo, adicionando-lhe uma


dimensã o internacional. É fortemente influenciado pelas teses de Freud e da
psicaná lise, pois enfatiza o papel do subconsciente no ato da criaçã o. Pretendia
destruir o racionalismo e imprimir uma importâ ncia pela psicologia das
profundezas intuitivas do ser humano. Pintava sobretudo paisagens absurdas,
onde conviviam objetos fora do seu contexto natural, ora utilizando técnicas
académicas e realistas, ora idênticas à quelas do abstracionismo.

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