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Assim, o orador, à semelhança de Santo António, foi pregar aos peixes já que os homens
não o ouviam: “ […] quero hoje, à imitação de Santo António, voltar-me da terra ao mar, e já
que os homens se não aproveitam, pregar aos peixes […]”.
É evidente, então, a crítica dirigida aos homens através dos peixes, cujas virtudes são, por
contraste, metáfora dos defeitos humanos. Isto mostra, então, a superioridade dos peixes
relativamente à natureza humana: “Oh grande louvor verdadeiramente para os peixes, e
grande afronta e confusão para os homens!”. Por outro lado, os seus vícios são directamente
metáfora dos vícios dos homens, evidenciando o orador, de forma alegórica, os maiores
defeitos humanos: “Mas para que conheçais a que chega a vossa crueldade, considerai, peixes,
que também os homens se comem vivos assim como vós.”. Eis aqui uma crítica implícita à
exploração social.
Podemos, assim, concluir que o sermão é uma sátira social, que se serve da alegoria,
recurso que auxiliou o padre António Vieira na crítica à exploração dos homens, exercida,
sobretudo, pelos colonos sobre os índios, e ainda na crítica aos holandeses que pretendiam
apoderar-se da Baía.