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Arte e a expressão do mundo.

Tema 2 do 2º bimestre

O mundo é nosso espaço de existência, o lugar no qual nos situamos como se, onde
percebemos, (re) conhecemos e construímos sentidos para nossa trajetória. O artista se insere no
espetáculo do mundo com os olhos atentos e sensíveis para os objetos, as paisagens e a
humanidade. A arte é um campo em que podemos imaginar e criar novas realidades, assim como
tornar visíveis os sentimentos humanos.

Expressionismo e o feio

No século XIX, movimentos como Realismo e o Impressionismo iniciaram um processo de


investigação da realidade que propiciou a chegada dos movimentos de vanguarda modernistas.
No Realismo, o artista Gustave Courbet (1819-1877) propôs a representação não idealizada da
realidade: mostrar o que se via, sem inserir juízos ou adequar a cena para se tornar mais bela. Os
impressionistas dedicaram suas pesquisas pictóricas à apreensão da sensação visual, captando
a luz e o instante no qual se observava a paisagem.

Em nosso imaginário coletivo sobre o conceito de artes, costumamos associar o objeto


artístico ao belo, ou seja, a obra de arte é vista como uma criação humana que tem como um de
seus fundamentos da beleza. No entanto, os questionamentos propostos pelos realistas e
impressionistas possibilitou o nascimento do Expressionismo- um dos primeiros movimentos de
vanguarda-, que se ocupou do feio como uma maneira de exprimir os sentimentos humanos no
contexto da época.

Entretanto, esse não foi o primeiro movimento artístico a retratar o feio. Ao estudarmos os
diversos períodos, movimentos e manifestações artísticas, encontramos obras que relatam
deformações, desproporções e expressões que elegeram a feiura como campo expressivo.
Alguns exemplos são s imagens monstruosas criadas por Francisco de Goya(1746-1828), as
carrancas da região do rio São Francisco, no Brasil, e as representações de figuras maléficas na
Idade Média. No caso do movimento expressionista, a ação de deformar, de modificar as cores e
formas tornou-se um meio de deixar visíveis as dores e angústias pelas quais passava a
humanidade.

O Expressionismo teve duas vertentes: o Fauvismo (ou fovismo), que se manifestou na


França, e o movimento conhecido como A Ponte, na Alemanha. Ambos buscaram romper com os
princípios acadêmicos, entretanto o movimento alemão teve como característica mais relevante à
expressão das inquietações humanas. Ao tratarmos do Expressionismo neste tema, teremos
como foco as manifestações do movimento A Ponte.

Na obra Cena de rua, de Ernst Ludwig Kirchner (1880-1938), aqui reproduzida, é possível
perceber a deformação com o intuito de tornar mais evidente a expressão das figuras retratadas.
A cor não tem correspondência com o real, mas se relaciona com a expressividade e a percepção
do artista sobre a cena criada. Os traços, vigorosos e pouco minuciosos, revelam o gestual, a
intensidade do processo criativo por meio de técnicas de xilogravura, muito utilizada pelos artistas
do movimento. A composição apresenta um cenário urbano, e suscita a sensação de angústia e
de opressão por meio das deformações, das cores e da concentração das figuras no canto
esquerdo. Os expressionistas retomaram a ligação entre o artista e a realidade em que vive,
expondo com dramaticidade a decadência da sociedade e as mazelas humanas.

Arte, cultura popular e denúncia social

Os expressionistas trouxeram, no início do século XX, questionamentos e angústias diante


da realidade que viviam. Estruturaram um pensamento sobre a arte que valorizou a subjetividade,
revelou aspectos conturbados da sociedade e transformou em forma e cor as mazelas humanas.

A arte contemporânea teve início nos anos 1950, tendo como um de seus propulsores
históricos o fim da Segunda Guerra Mundial, cujo cenário de devastação, de perda e de morte
dominou a Europa, juntamente com o bombardeio nuclear e a destruição das cidades de
Hiroshima e Nagasaki, no ano de 1945, no Japão. A crença no progresso, na modernização e no
futuro, tão exacerbada durante o Modernismo, entra em choque com a realidade cruel do mundo
pós- guerra, instaurando o que ficou conhecido como pós- modernidade.

No mundo pós-moderno, a arte se apresenta, cada vez mais, como um espaço de


denúncia e reflexão social e política. No início da arte contemporânea no Brasil (década de 1960
e 1970), artistas como Hélio Oiticida, Lygia Pape, Lygia Clark e Cildo Meireles começam a
trabalhar a criação artística abordando e denunciando o contexto social e político da época.

A série inserções em círculos ideológicos, de Cildo Meirelles, apresentou intervenções em


cédulas e garrafas de Coca-Cola com frases denunciando pessoas desaparecidas e a opressão
durante a ditadura militar brasileira. O artista criava as intervenções nos objetos e os recolocava
no meio de consumo.

A expressão artística como meio de denúncia política e social também está presente na
cultura popular brasileira. A literatura de cordel apresenta histórias em versos que ironizam e
revelam questões sociais e políticas do povo nordestino. A desigualdade social, a estrutura
coronelista que ainda impera no interior, a fome e a migração para outras regiões do pais são
alguns dos temas presentes no cordel.

O carnaval brasileiro, festejo popular conhecido mundialmente, também se estabeleceu


como um espaços de manifestação artística, que engloba Artes visuais , Dança e Música, aberto
para a crítica social e política. Blocos caricatos e de rua têm marchas carnavalescas que abordam
de forma crítica o contexto do país, assim como os sambas-enredo das escolas de samba
costumam trabalhar questões históricas, social, cultural e políticas. O tema das músicas abarca a
criação das fantasias, adereços, carro alegórico, bonecos e coreografias, transformando o espaço
popular do Carnaval em um território crítico e reflexivo.

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