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HISTÓRIA 12ANO

PORTUGAL NO PRIMEIRO PÓS-GUERRA – TENDÊNCIAS CULTURAIS: ENTRE O NATURALISMO


E AS VANGUARDAS

O MODERNISMO – INTRODUÇÃO

Nas primeiras décadas do séc XX, um movimento cultural revolucionou as artes e a literatura,
reivindicando a liberdade de criação e recusando todo o tipo de constrangimento: o
modernismo.

Os precursores deste movimento construíram as vanguardas, isto é, tendências inovadoras,


no campo artístico e literário, que rejeitaram os modelos do passado e abriram novos
caminhos e que se afirmaram através da redação e publicação de manifestos, livros e revistas.

 Influência dos progressos tecnológicos e das inovações científicas da época (ex: teoria da
relatividade de Einstein; a teoria de Freud sobre o inconsciente...) e dos choques
ideológicos e conflitos bélicos de proporções trágicas.
 Inspiração na arte de outros continentes, sobretudo, Oceânia e África.
 Valorização da liberdade e/ou da espontaneidade de criação artística, em corte profundo
com o passado, rompendo com as normas académicas e com os valores estéticos
tradicionais, herdados do Renascimento.
 Desafio ao gosto e aos valores morais dominantes, de tradição burguesa e/ou
intervenções radicais, provocatórias e escandalosas.
 Rutura com a representação tradicional, recusando a representação mimética da
realidade, buscando além do aparente.
 Permanente pesquisa, adotando uma atitude de experimentalismo: procura de novas
técnicas, novos materiais, novos meios de expressão artística.
 Adoção de novos objetos temáticos, de índole abstrata ou projetados pelo inconsciente
humano, desligando os temas da realidade sensível.

AS VANGUARDAS ARTÍSTICAS

FAUVISMO (FRANÇA 1905-1908)


 INFLUÊNCIAS/ORIGEM
 Influências: Impressionismo, Pós-impressionismo e Primitivismo.
 Surgido no contexto artístico e cultural parisiense de início do século, favorável à
rutura e à afirmação da modernidade, o Fauvismo constituiu a primeira vanguarda do
século XX, revelando o poder da cor.
 Cerca de 1908, o Fauvismo extinguiu-se, abrindo caminho a novos percursos.
 CARACTERÍSTICAS GERAIS
 Rutura com o academismo: recusa das regras académicas e afirmação da liberdade de
criação estética.
 Abordagem da pintura como uma linguagem autónoma, independente da
experiência visual da realidade – a realidade é representada através do
instinto/perceção do pintor, que exprime, na tela, as suas sensações externas (capta o
que sente ser essencial do objeto).
 Valorização da cor relativamente à forma, desenhando com cor – utilização da cor
como forma de expressão de emoções estéticas/plásticas.
 Recurso a cores fortes e vibrantes, por vezes aplicadas de forma arbitrária (forma
livre, não naturalista) e expressiva, em pinceladas curtas ou em grandes manchas que
delimitam planos.
 Simplificação das formas, abandonando o desenho tradicional: contornos com traços
escuros, reduzindo o objeto às linhas essenciais e eliminando o pormenor.
 Tratamento do espaço de modo mais livre ou intuitivo, com tendência para a
bidimensionalidade: desvalorização/distorção da perspetiva clássica (geométrica);
esbatimento dos volumes OU ausência de modelado OU ausência de sombreados;
quebra do sentido de proporção.
 Temas ligeiros, tranquilos e agradáveis ao observador, sem carácter interventivo OU
sem intencionalidade social, política ou psicológica: paisagens e retratos.
 ARTISTAS: Henri Matisse; Maurice de Vlaminck; André Derain.

EXPRESSIONISMO (ALEMANHA, 1905-1911)


 INFLUÊNCIAS/ORIGEM
 Influências: Pós-impressionismo (Van Gogh), Primitivismo e Fauvismo.
 O Expressionismo surgiu, nos tempos conturbados que antecederam e acompanharam
a 1ª Guerra Mundial, na Alemanha. Sendo uma reação à representação objetiva do
mundo exterior, encara a arte como expressão do mundo subjetivo do artista e um
reflexo do seu impulso criador.
 Não foi um movimento unitário, apresentando 2 grupos distintos: Die Brücke (“A
ponte”) e Der Blaue Reiter (“O Cavaleiro Azul”).
 O grupo de Die Brücke foi fundado em 1905, na cidade de Dresden. Liderado por
Ernst Ludwig Kirchner, este grupo de artistas autodidatas pretendia romper com o
passado e abalar a ordem estabelecida (sociedade burguesa e a arte oficial,
naturalista). Após a 1ª Guerra Mundial o grupo dissolveu-se, mas influenciou o
movimento Die Neue Sachlichkeit (Nova Objetividade, Berlim, a partir de 1912),
que manteve vivo o Expressionismo até ser acusado pelos nazis de fazer “arte
degenerada”.
 O grupo Der Blaue Reiter (“O Cavaleiro Azul”), fundado em 1910, em Munique,
por Vassily Kandinsky e Franz Marc, pretendia unir, sob o mesmo ideal artístico,
artistas diversos, ultrapassando barreiras culturais e ideológicas. Apesar da sua
curta duração (1910-1913), teve uma enorme influência na evolução da arte, pois
esteve na origem do abstracionismo.
 CARACTERÍSTICAS GERAIS
 Grupo Die Brücke (“A Ponte”) defendeu uma arte impulsiva e instintiva, associada à
expressão subjetiva do artista, recusando as regras académicas da arte oficial e
recorrendo a diversos meios para intensificar a expressão (cor e forma, sobretudo).
Defendeu, também, uma arte ligada à vida real, que denunciasse o conservadorismo e
o artificialismo da sociedade burguesa e as desigualdades e tensões sociais associadas
ao desenvolvimento do capitalismo industrial – arte interventiva que visava abalar a
ordem estabelecida.
 Execução espontânea e temperamental: esboços rápidos e toscos, pincelada forte
e rápida, telas aparentemente inacabadas, com espaços por pintar.
 Livre aplicação de cores intensas e contrastantes, sem correspondência com o
real (não naturalistas).
 Formas simplificadas e muitas vezes destorcidas, com contornos a negro e traço
anguloso.
 Uso expressivo da cor e da deformação, meios de expressão subjetiva da
interioridade do artista (emoções e inquietações sobre o mundo e a vida),
intensificando a mensagem da obra.
 Representação de temas emocionalmente pesados, com uma forte componente
de crítica social, afrontando a sociedade da época, excessivamente conservadora e
moralista (provocando desconforto, angústia e repulsa): retratos e ambientes
urbanos que expressam a decadência da vida moderna (miséria social, angústia,
desespero, solidão humana...)
 Grupo Der Blaue Reiter (“O Cavaleiro Azul”) encarava a arte como uma atividade do
espírito, resultado de uma “necessidade interior”. Revelou uma expressividade mais
tranquila e menos dramática e um maior grau de intelectualização.
 Temáticas que privilegiam o valor espiritual e a dimensão poética do homem:
reconquista da pureza da natureza e cenas sociais.
 Desenho menos pesado, com uma execução refletida e pensada.
 Simplificação das formas, com tendência para a abstração dos motivos.
 Valorização da cor na construção da forma, usada de forma arbitrária (cores não
naturais) e expressiva, representando diferentes estados de espíritos.
 Composições equilibradas, orientadas maioritariamente por linhas circulares e
sinuosas.
 ARTISTAS: Ernst Ludwig Kirchner Fritz Bleyl; Erich Heckel; Karl Schmidt-Rottluff; Vassily
Kandinsky; Franz Marc; August Macke; Paul Klee.

CUBISMO (FRANÇA, 1907-1909)


 INFLUÊNCIAS/ORIGEM:
 Influências: Cézanne (geometrização do real e perspetiva dual), Primitivismo
(estilização volumétrica da arte africana). Teoria da Relatividade de Einstein (novos
conceitos científicos de espaço, tempo e movimento). 
 Fundado por Picasso e Braque, em Paris, dominou entre 1907 e 1914.
 Picasso e Braque valorizaram o lado material da realidade, preocupando-se com os
problemas da forma e do espaço. 
 O Cubismo é considerado a maior revolução artística do pós Renascimento, tornando-
se uma referência para outros movimentos artísticos do século XX.
 CARACTERRÍSTICAS GERAIS:
 O Cubismo rompeu com a tradição naturalista e com a representação do espaço
segundo as leis da perspetiva, isto é, a partir de um ponto de vista fixo e único, num
instante concreto (ilusão de realidade, já que se baseia na premissa de que o
observador está imóvel). Recusando esta imagem visual e parcelar da realidade, o
Cubismo pretendeu mostrar o constante movimento do mundo e a mudança de
aparência das coisas: o olhar cubista, em movimento, observa o objeto a partir de
diferentes pontos de vista e introduz, na pintura, uma quarta dimensão – o tempo. A
imagem visual e parcelar das coisas é, assim, substituída por uma imagem mental e
total.

 Fase experimental, dita “cézaniana” (1907-1909):


A obra As Meninas de Avinhão (1907), de Pablo Picasso, é considerada a obra inicial Do
Cubismo. No seguimento desta obra, Georges Braque e Pablo Picasso realizaram uma série
de experimentações, sob influência de Cézanne e da arte africana, que romperam com o
conceito clássico de Belo e com as regras de composição válidas até então.
Caracterizaram se por: 
- Geometrização das formas.
- Simplificação das formas, reduzindo os objetos/figuras aos seus traços essenciais, sem
detalhes descritivos.
- Inspiração na arte africana no tratamento dos rostos (rostos-máscaras).
- Distorção e rejeição das proporções naturais.
- Simplificação das composições.
- Início do desdobramento da realidade em planos.
- Introdução de vários ângulos de visão OU sobreposição de perspetivas.
- Temática: paisagens e figura humana em atelier.

 ARTISTAS: Georges Braque; Pablo Picasso; Juan Gris

 Fase analítica (1909-1912):


Dando seguimento à geometrização e redução extrema das formas, a análise exaustiva
dos objetos conduziu, nesta fase: 
- à representação dos motivos a partir de vários ângulos de visão simultâneos – pinta-se
não só o que se vê do objeto, mas o que se sabe que existe (aquilo que recordamos) e à
fragmentação do espaço e da forma em múltiplos planos, que se dispersam pela
superfície do quadro.
- à destruição da perspetiva, reduzindo os objetos à bidimensionalidade, sem o efeito de
profundidade – abandono do claro-escuro clássico e diluição dos contornos das formas
(simples linhas retas, diagonais e arcos), cujo volume se espalma, originando uma fusão
entre as figuras e o espaço envolvente.
- ao papel secundário da cor – redução da paleta, quase monocromática, para não
perturbar o rigor geométrico da representação: azul, castanho e cinzento são as cores mais
utilizadas.
- a uma separação crescente entre a realidade e representação, tornando-se os objetos
quase irreconhecíveis devido à excessiva decomposição ou estilhaçamento – aproximação
à abstração.
- Temática: naturezas-mortas com objetos do quotidiano e retratos.

 Fase sintética (1912-14):


Na tentativa de reconstruir o objeto pintado, que era quase irreconhecível na fase
analítica, os Cubistas iniciam um processo de síntese caracterizado por: 
- redução do espaço e das formas a planos esquematizados e aos elementos essenciais.
- retorno à policromia – cores vibrantes, frequentemente lisas.
- inserção de materiais de uso quotidiano na tela (collage) e a aplicação de letras
impressas à pintura (lettering), introduzindo aspetos da vida real nas obras de arte.

Em conclusão, o Cubismo apresenta várias características inovadoras, nomeadamente:


 a simplificação extrema da forma, reduzindo as figuras e os objetos aos seus traços
essenciais e dispensando os elementos acessórios.
 a geometrização das formas, isto é, decomposição das figuras e dos objetos em formas
geométricas.
 a redução dos volumes à bidimensionalidade do plano, ou seja, a conceção da pintura
enquanto um plano, pondo fim à perspetiva e restabelecendo a bidimensionalidade dos
objetos.
 a representação dos motivos a partir de vários ângulos de visão – perspetivas múltiplas e
simultâneas.
 a fragmentação dos planos (rotação, sobreposição e interceção), como se o pintor
pretendesse inserir no quadro uma 4.ª dimensão, o tempo.
 a experimentação de novas técnicas como o collage e o lettering, inserindo na tela
fragmentos da própria realidade, que criam novos planos (relevo), enriquecem o colorido,
acentuam a verosimilhança.
 uma nova abordagem do objeto artístico, com a diluição da fronteira entre a pintura e a
escultura e a conversão do quadro num objeto em si mesmo (tableau-objet),
independente da realidade exterior.

FUTURISMO (ITÁLIA-FRANÇA, 1909):


 INFLUÊNCIAS/ORIGEM:
 Influências: Expressionismo (a nível emocional) e Cubismo (a nível plástico e estético). 
 Iniciado pelo escritor italiano Filippo Marinetti, no seguimento da publicação de O
Manifesto Futurista (1909), o Futurismo propôs a rejeição do passado e dos valores
tradicionais, de inspiração burguesa, e anunciou o nascimento de uma nova estética
condizente com a era do progresso industrial e tecnológico.
 Surgiu na literatura, estendeu-se às artes plásticas, arquitetura, fotografia, música,
teatro, traje e decoração… 
 Os meios/estratégias de afirmação e de difusão usados pelo Futurismo foram
múltiplos: manifestos divulgados em jornais/revistas/cartazes/panfletos; sessões
públicas em cafés-teatro, sempre irreverentes, escandalosas, provocatórias e, mesmo,
agressivas.
 Muitos dos futuristas mostraram uma posição favorável à participação na I Guerra
Mundial, glorificando a guerra enquanto exemplo heroico da aventura moderna
(expressão de força e energia de um povo) e manifestando posições nacionalistas
exacerbadas. A violência do conflito desacreditou o movimento, travando o
desenvolvimento da estética futurista.
 Foi, no entanto, adotado pelo regime fascista, graças à valorização da guerra e da
industrialização.
 CARACTERÍSTICAS GERAIS:
O Futurismo propôs a renovação radical dos temas, das formas e das linguagens artísticas,
repudiando o passado e glorificando as conquistas da vida moderna e o futuro. Está associado:

 à rutura total com a arte do passado (Adros e Museus; academismo), afirmando a


liberdade de criação estética e exaltando a inovação e a intuição (por oposição ao
racionalismo).
 ao elogio da tecnologia e do dinamismo da vida moderna, símbolos da modernidade.
 ao recurso à geometrização.
 ao recurso à decomposição das formas em vários planos e à representação
simultânea dos diferentes ângulos do objeto, de inspiração cubista.
 à expressão do dinamismo OU da continuidade do movimento no espaço e no
tempo, através da sucessão e sobreposição das formas representadas – imagens
fundidas/encadeadas do mesmo objeto, em posições que variam progressivamente
(sensação de energia/movimento/velocidade) – influência do cinema.
 à utilização de linhas dinâmicas, diagonais e angulosas, que atravessam a tela.
 à decomposição da luz e das cores em pequenas pinceladas (divisionismo) produzindo
efeitos de vibração: cores fortes e contrastantes. 
 Temática dominada pelos elementos do mundo industrial – a vida agitada e ruidosa
das cidades/as máquinas/a energia/o movimento/a velocidade… são
elementos centrais das obras futuristas.,
 ARTISTAS: Giacomo Balla; Carlo Carrá; Umberto Boccioni; Gino Severini; Luigi Russolo.

ABSTRACIONISMO (ALEMANHA-RÚSSIA-HOLANDA, a partir de 1910)

 INFLUÊNCIAS/ORIGEM:
 Influências: Impressionismo (tratamento intuitivo da cor), Expressionismo (Grupo O
Cavaleiro Azul) e outros (folclore russo, música…); Cubismo e Futurismo. 
 Desde os finais do século XIX, partindo do Expressionismo, do Cubismo e do Futurismo,
vários artistas, em diversos países da Europa, exploraram novas forma de criar: não
queriam copiar a natureza, nem nas formas nem nas cores; pretendiam construir um
mundo novo, pondo de lado qualquer referência figurativa. Assim, abriu-se um
caminho de grande liberdade, que privilegiou a organização das cores e das formas no
espaço pictórico e que se autonomizou em definitivo da realidade.
 O abstracionismo concretizou-se através de 2 tendências (2 teorias da arte abstrata):
 Abstracionismo lírico/expressionista que encara a arte como uma “necessidade
interior” do artista – teoria subjetiva.
 Abstracionismo geométrico, que considera a arte um meio de expressão da “realidade
pura” – teoria objetiva.

 CARACTERÍSTICAS GERAIS:
 Abstracionismo lírico/expressionista – Alemanha
Em 1910, na Alemanha, o pintor expressionista Vassily Kandinsky rompeu com a arte
figurativa, usando uma linguagem abstrata. Defendeu:
 Criação de uma arte livre, nascida da meditação e da necessidade interior do
artista e não da necessidade de representar a realidade material: exprime o
mundo interior do artista (emoções/estados de espírito e ideias), na procura
de harmonia espiritual - predominância da subjetividade sobre a objetividade
(teoria subjetiva).
 Anulação de elementos figurativos identificáveis nas obras, considerados
desnecessários e prejudiciais à pintura – defende o desaparecimento de
objetos reconhecíveis para que as vibrações provenientes das formas e das
cores possam ser apreendidas pelo observador (considera que as cores e
as formas, ao reproduzirem “figuras”, perdem a sua força expressiva, já que
observador não as consegue dissociar do significado do objeto representado).
 Livre combinação de elementos pictóricos sobre a tela (formas, linhas e
cores), com capacidade expressiva e um valor e significado próprios, sem
correspondência com o mundo visível, produzindo uma composição vibrante e
sugerindo emoções/estados de espírito e ideias.
 Desenvolvimento de uma arte não narrativa e não descritiva, semelhante à
música (sons de cor): uma linguagem universal, que se dirige à perceção
sensorial, sem qualquer tipo de obstáculo cultural; produz vibrações intensas,
que podem ser apreendidas/sentidas pelo observador; deve formar uma
correta combinação de formas e cores, ou seja, uma composição meticulosa,
de forma a criar ritmos e harmonias visuais sobre a tela e, assim, despertar
emoções diversas em que a vê.
 ARTISTAS: Vassily Kandinsky

 Abstracionismo geométrico – Holanda:


Do Cubismo e do Futurismo, nasceu o Neoplasticismo (Holanda) com origem na obra de
Piet Mondrian, Theo van Doesburg e Georges Vantongerloo e no Grupo De Stijl (a partir de
1917).
Libertando a obra de arte da realidade concreta, caracteriza-se por:
 Rejeição do objetivo de expressar o íntimo do artista: a pintura deve pôr de lado o
individualismo e refletir as verdades universais, os valores essenciais e permanentes da
vida - é um meio de expressar a “realidade pura”, procurando o equilíbrio e a
harmonia através da geometria.
 Supressão de toda a emoção pessoal ou subjetividade da obra de arte e de tudo o
que é efémero ou acessório – linguagem puramente plástica, abstrata, matemática e
racional, limitada ao essencial.
 Procura da máxima simplicidade e equilíbrio, com elementos básicos organizados de
forma rigorosa num espaço bidimensional: figuras geométricas elementares,
delimitadas por linhas verticais e horizontais, que se intersetam em ângulo reto, numa
estrutura ortogonal, usando cores primárias e cores neutras.
 Rejeição de referentes reais e/ou figurativos.

 ARTISTAS:
 Neoplasticismo: Piet Mondrian; Theo van Doesburg
 Suprematismo: Kasimir Malevich

DADAÍSMO (SUÍÇA E EUA, a partir de 1916)


 INFLUÊNCIAS/ORIGEM:
 Influências: Cubismo (execução técnica) e outras (Anarquismo, Niilismo de
Nietzsche...) 
 O Dadaísmo foi a manifestação mais extremista e radical do movimento de subversão
artística do início do século, surgindo em Zurique (Suíça), durante a 1ª Guerra
Mundial. 
 O Dadaísmo nasceu do horror da guerra e do desprezo pela civilização industrial e pela
hipocrisia dos valores burgueses, considerados responsáveis pelo estado violento e
caótico do mundo e pela inquietação espiritual associados à 1ª Guerra Mundial – se o
mundo deixara de fazer sentido, então a arte teria de refletir o caos em que o mundo
se transformara.
 No final da Guerra, os artistas dispersaram-se e difundiram o movimento (Berlim,
Hanover, Colónia, Paris, Nova Iorque), que atingiu o apogeu cerca de 1920. 
 O Dadaísmo influenciou os mais importantes movimentos artísticos da 2ª metade do
século XX e desembocou no movimento surrealista.
 CARACTERÍSTICAS GERAIS:
O Dadaísmo propunha-se contestar o sistema sociopolítico dominante e as suas regras,
atacando as realizações e os valores que lhe estavam associados nomeadamente os conceitos
estéticos e as tradições artísticas. Assumiu uma atitude irreverente, irónica, provocatória e
agressiva, em performances que assumiram o nonsense como forma de comunicação do
movimento (declamação de “poemas simultâneos”, música de ruído e a criação de manifestos
contra tudo e contra todos, entre outros).

 Questionamento do conceito académico e tradicional de “arte” como materialização


da beleza, de “obra de arte” original, manual e única (transformada em
algo absurdo/insólito), e do estatuto do “artista criador” – a verdadeira arte seria a
ANTIARTE. 
 Ausência de compromisso entre artista e público – exaltação da espontaneidade e do
caráter anárquico e individualista da criação artística: com Dada, não há regras, pois
cada um é livre de criar como entender.
 Dessacralização da arte através da utilização de objetos comuns, que
descontextualizados e colocados em espaços expositivos, são transformados em
objetos de arte – trivialização da arte e valorização do trivial.
 Valorização do processo criativo em detrimento da obra final OU criação da obra de
arte como um ato de reflexão e uma atitude, e não como resultado da mestria técnica
– é o começo da arte como ideia.
 Execução plástica influenciada pelo cubismo sintético (colagens), mas também por
técnicas originais:
 os objects-trouvés (colocação na tela de um elemento tridimensional).
 os ready-made (objetos comuns, de produção industrial, retirados do seu contexto
e transformados em obra de arte).
 os merzbilders (utilização de objetos quotidianos degradados na pintura executada
pelo artista).
 os rayographs (fotografias realizadas sem máquina, pelo contacto direto da luz
com o papel fotográfico e os objetos).
 as fotomontagens (integração de várias imagens autónomas numa só).
 Temática provocatória, irónica, insólita e incongruente – nonsense.
 ARTISTAS: Hans Arp; Francis Picabia; Kurt Schwitters; Max Ernst; Marcel Duchamp; Man
Ray.

SURREALISMO (FRANÇA, 1924)


 INFLUÊNCIAS/ORIGEM:
 Influências: Romantismo, Simbolismo, Dadaísmo e Psicanálise de Freud. 
 Movimento estético que emergiu no pós 1ª Guerra Mundial (em Paris), associado à
rutura de André Breton com o Dadaísmo e que se desenvolveu, em Paris.
 Surgiu na literatura e estendeu-se às artes plásticas, à fotografia, ao cinema e à
música.  
 O movimento surrealista reagiu contra o racionalismo e o convencionalismo burguês e
defendeu a liberdade individual e a exploração do inconsciente, manifestando uma
forte influência de Freud e reconhecendo o método da psicanálise como meio de se
chegar à verdade de cada indivíduo.

 CARACTERÍSTICAS GERAIS:
Caracteriza-se por:
 Deslocação do objeto da obra de arte da realidade exterior para o mundo da
interioridade – a arte é vista como um meio de exploração e de projeção do
inconsciente do artista, sendo uma manifestação do psiquismo dos seus autores.
 Criação artística sem a intervenção da razão e sem limitações morais, devendo
cada artista encontrar a sua via pessoal de acesso ao seu inconsciente,
frequentemente em estado semi-hipnótico, decorrente de alucinações provocadas
por álcool, fome ou drogas. 
 Aplicação do “automatismo psíquico” como modo criativo de funcionamento do
pensamento, espontâneo e aleatório – prática da livre fluência automática das
imagens que brotam do inconsciente, sem a preocupação com um sentido lógico. 
 Extrema diversidade de estilos dos surrealistas, não se prendendo com aspetos
formais: uso de linguagem figurativa realista ou de linguagem mais abstrata;
recurso a nível plástico, com recurso a técnicas clássicas (traço rigoroso e desenho
pormenorizado) e de técnicas novas, herdadas do Cubismo e do Dadaísmo
(colagem, assemblage…).
 Temática inspirada no irracional, no inconsciente, no onírico (sonho): associações
improváveis e desconcertantes, mundos irreais e inquietantes, povoados por
criaturas zoomórficas e outros “monstros”, formas híbridas e delirantes, objetos
inexistentes, com símbolos e signos diversos – gosto pela representação do
mistério e do insólito e pela ambiguidade do significado.
 ARTISTAS: Max Ernst; Joan Miró; René Magritte; Yves Tanguy; Salvador Dalí

LITERATURA
Os escritores das primeiras décadas do século XX foram marcados pelo clima de desencanto,
ceticismo e de relativismo e (tal como os artistas plásticos) procuraram novas formas de
expressão, pondo em causa os valores, as tradições literárias e as convenções existentes e
introduzindo novas tendências:

 Modernidade das obras a nível temático, percorrendo todas as vias possíveis da expressão
escrita, num processo experimental:
 abandono da descrição, linear e previsível, da realidade concreta.
 papel mais ativo do leitor na construção do sentido da narrativa não linear:
 maior interesse pela subjetividade e, mesmo, pela vida psicológica e interior das
personagens (corrente psicológica da literatura), do que pela ação – “Em Busca do
Tempo Perdido”, de Marcel Proust (caracterização profunda das personagens
retratadas e a sua relação com o tempo).
 nova conceção do espaço e do tempo.
 reivindicação de total liberdade do ser humano, do direito a tudo ousar, sem
impedimentos de caráter moral ou ético – André Gide.

 Modernidade da obra a nível formal (novas formas de expressão ao nível da linguagem):


 os poemas caligramados de Apollinaire.
 os textos dadaístas, sem qualquer linguagem reconhecível (destruindo a própria
conceção de poesia, alicerçada na beleza das palavras e na evocação de imagens).
 os escritos automáticos dos surrealistas, invadindo o mundo dos sonhos e do
inconsciente.

TENDÊNCIAS CULTURAS EM PORTUGAL NO PRIMEIRO PÓS-GUERRA: ENTRE O


NATURALISMO E AS VANGUARDAS
Nas primeiras décadas do século XX, em Portugal, havia uma forte resistência à inovação –
conservadorismo (explicada em parte pelo condicionamento da liberdade de expressão e pela
limitada informação sobre os debates filosóficos e estéticos da época).
A arte e literatura estavam marcadas pelo classicismo racionalista e pelo naturalismo,
associadas à necessidade de vincar a identidade rural do país.

ESTÉTICA NATURALISTA
 CARACTERÍSTICAS GERAIS
As obras das exposições oficiais caracterizavam-se por:
 obediência às regras académicas, associadas à tradição renascentista.
 execução cuidada e traço rigoroso – formas detalhadas, volumetria das figuras e
acabamento perfeito.
 respeito pelas regras da perspetiva tradicional – tridimensionalidade obtida pela
aplicação de jogos de luz e sombra ou pela sucessão de planos.
 aplicação naturalista da cor – cores naturais e sóbrias e uso de gradações cromáticas.
 pintura de “ar livre”, com expressão realista, que procura captar um “instantâneo da
realidade”.
 Temáticas: pintura de género ou cenas do quotidiano ou de costumes da vida
popular/campestre; motivos retirados da natureza ou paisagens.

 ARTISTAS:
 Pintura: José Malhoa (1855-1933); Columbano Bordalo Pinheiro (1857-1929)
 Escultura: António Teixeira Lopes (1866-1942)

Apesar do conservadorismo cultural dos republicanos, foi com a Primeira República que
surgiram os primeiros sinais de mudança na cena cultural nacional, devido às circunstâncias
políticas e sociais do país e ao próprio contexto político europeu. Grupos de intelectuais e
artistas apresentaram novas propostas estéticas e literárias que, sem prejuízo da originalidade
nacional, incorporaram ideias/práticas das vanguardas europeias (revistas, manifestos,
exposições independentes, estratégias provocatórias...).

Distinguiram-se, em Portugal, 2 gerações de modernistas: Primeiro Modernismo (1911-1920)


e Segundo Modernismo (pós 1920).

PRIMEIRO MODERNISMO (1911-1920)


 INFLUÊNCIAS/ORIGEM:
 Antes da guerra: Exposição Livre de 1911; I Exposição dos Humoristas de 1912
 Durante a guerra: Lisboa - Revista Orpheu (1915) e revista Portugal Futurista (1917);
Norte – núcleo ligado às artes plásticas, com Amadeo de Souza-Cardoso, casal
Delaunay e Eduardo Viana.

 CARACTERÍSTICAS GERAIS:
 movimento provocatório que visava abalar a sociedade e as suas convenções –
estranheza, polémica e indignação do público face às manifestações e obras das novas
correntes estéticas.
 rutura com os valores do naturalismo e do academismo, opondo-se ao gosto burguês
dominante – defesa da liberdade da criação estética.
 reflexo das tendências de vanguarda europeias, com forte inspiração no futurismo, no
cubismo e no primitivismo.
 novos valores plásticos – simplificação do desenho, desconstrução do espaço e uso de
cores fortes e contrastantes.
 inauguração, na literatura, de novos métodos de escrita – abandono ou desvalorização
da pontuação, da apresentação gráfica, do encadeamento do discurso e da
inteligibilidade do texto.

 ARTISTAS:
 Antes da guerra: Manuel Bentes; Emmérico Nunes; Cristiano Cruz; Jorge Barradas;
António Soares; Stuart Carvalhais; Mily Possoz. 
 Depois da guerra: Mário de Sá-Carneiro; Fernando Pessoa; Almada Negreiros; Santa-
Rita Pintor; Amadeo de Souza-Cardoso; Eduardo Viana.

SEGUNDO MODERNISMO (PÓS 1920):


 INFLUÊNCIAS/ORIGEM:
 Anos 20 e início dos anos 30: Revista Contemporânea (1922-26) e Revista Presença
(1927-40); Exposições independentes, ilustração de periódicos e decoração
modernista de espaços públicos; Linguagem arquitetónica modernista, de influência
funcionalista. 
 A partir 1933: Apropriação do Modernismo pelo Estado Novo.

 CARACTERÍSTICAS GERAIS:
 maior individualidade do modernismo português face à Europa, com a introdução de
características próprias.
 afastamento da urbanidade e distanciamento da vida intelectual lisboeta.
 valorização da ingenuidade na arte enquanto valor essencial da criação artística.
 inspiração na arte popular portuguesa.
 maior densidade psicológica e expressividade a nível temático, na pintura.
 escultura com elementos expressionistas – simplificação dos volumes e formas,
facetação das superfícies, busca do essencial sem pormenor descritivo.
 arquitetura com linguagem modernista – racionalidade e simplicidade do traço (linhas
retas), uso do vidro e do betão armado, ausência de elementos decorativos, terraços e
coberturas planas.

 ARTISTAS: José Régio, Branquinho da Fonseca; João Gaspar Simões; Almada Negreiros;


Eduardo Viana; Dórdio Gomes; Júlio Reis Pereira; Sarah Afonso; Carlos Botelho;
António Soares; Mário Eloy; Maria Helena Vieira da Silva; Bernardo Marques; Abel
Manta; António Pedro….

A GRANDE DEPRESSÃO E O SEU IMPACTO SOCIAL


NAS ORIGENS DA CRISE:
Em meados dos anos 20, a prosperidade norte-americana assentava já em bases frágeis:
 dificuldades em setores fundamentais da economia por não conseguirem acompanhar a
conjuntura de crescimento económico – pequenas e médias empresas não conseguiam
concorrer com as grandes empresas que controlavam os mercados de forma monopolista.
 persistência de um desemprego crónico em resultado da mecanização e da racionalização
do trabalho – redução da procura.
 recurso maciço ao crédito para adquirir bens e ações e para investir nos setores produtivos
(poder de compra artificial) – endividamento da população e das empresas.
 canalização da poupança e do crédito para negócios financeiros, fazendo inflacionar o
valor das ações de empresas.
 crescentes dificuldades das empresas norte-americanas dada a diminuição das
exportações para os países da Europa Ocidental (que começavam a recuperar a sua
capacidade produtiva).
 saturação dos mercados, tanto na agricultura como em alguns setores da indústria
(particularmente no ramo automóvel), devido ao crescimento excessivo da oferta face à
insuficiente procura de bens.

Superprodução agrícola e industrial: o excesso de produção provocou uma acumulação de
stocks, a estagnação da produção, a descida de preços e a redução dos lucros – acumulação de
prejuízos e endividamento.
Especulação financeira sobre o valor das ações das empresas devido à intensa procura, com
uma cotação em bolsa muito acima do seu valor real (lucros em queda, não havendo
dividendos pelos acionistas).

Crescimento de um ambiente de preocupação de investidores – pânico levou à acumulação
de ordens de venda de ações na bolsa de Wall Street, em Nova Iorque.

AS DIMENSÕES DA CRISE
 violenta queda do valor das ações cotadas em Wall Street (Crash de Wall Street), em
resultado da acumulação de ordens de venda (sem compradores no mercado financeiro).
 Ruína do sistema financeiro, associada à continuada queda do valor das ações e ao não
reembolso dos créditos, com a rutura da Bolsa de Valores, a falência de bancos e a ruína
de investidores particulares.
 Ruína do sistema empresarial, com a falência de grandes unidades industriais e agrícolas,
associada à perda do valor de mercado das ações e à sua descapitalização (retirada de
investimentos e restrições ao crédito).
 Aumento significativo do desemprego industrial e da miséria, acentuando a diminuição da
procura.
 Agravamento da conjuntura de deflação (quebra de preços) devido à diminuição da
procura e à acumulação de stocks (superprodução) – paralisação da economia e descida do
produto nacional bruto.
 Ruína de muitos capitalistas, na sequência da crise das bolsas de valores e do
encerramento de empresas.
 Ruína de muitos agricultores que, atingidos pelas dificuldades da indústria e pela redução
da procura, se viram obrigados a hipotecar as quintas e a destruir stocks para conter a
deflação.
 Ruína das classes médias urbanas, empobrecidas pela perda do emprego e pela perda de
investimentos.
 Aumento da miséria associada ao elevado desemprego, agravada pela ausência de
mecanismos de proteção social (não havia segurança social) – aumento de população
despejada das suas habitações por incumprimento no pagamento das rendas levando ao
crescimento dos bairros de lata na periferia; generalização das dificuldades dos
desempregados levou à distribuição gratuita de alimentos pelas instituições de caridade.
 Intensificação da agitação sociopolítica, como consequência da miséria com a agudização
de comportamentos xenófobos e racistas.

Persistência dos efeitos da crise – desmoronamento do sonho americano.

A MUNDIALIZAÇÃO DA CRISE E A PERSISTÊNCIA DA CONJUNTURA DEFLACIONISTA


A dependência acentuada das economias e finanças mundiais face aos EUA, no decurso e
após a guerra, provocou o alargamento da crise a todo o mundo:
 Retirada dos capitais norte-americanos da Europa, com a consequente falência de bancos
e de numerosas empresas – Áustria e Alemanha ficaram numa situação económica e social
insustentável.
 Rutura do sistema financeiro global, com a falência de bancos e bolsas de valores, com a
desvalorização monetária (sobretudo nos países da Europa), levando à desorganização dos
pagamentos internacionais.
 Adoção de políticas económicas protecionistas, como o aumento das taxas sobre as
importações), criando dificuldades acrescidas a outros países que, por sua vez, deixaram
de importar, acentuando a deflação a nível mundial.
 Alastramento da crise às colónias e aos países menos desenvolvidos (Ásia, África e América
do Centro e do Sul), dependentes da exportação de matérias-primas e de produtos
alimentares, devido à redução da procura por parte dos países industrializados (EUA e
países europeus) e à quebra de preços, lançando no desemprego milhares de
trabalhadores, nomeadamente na Austrália, Nova Zelândia e na Índia, no México e Brasil.
 Retração do comércio internacional, em volume e em valor, como consequência da
diminuição da procura, da desestruturação do sistema financeiro e da adoção de medidas
protecionistas por parte dos países industrializados.
 Queda generalizada dos preços e dos índices de produção e falência de empresas nos
países industrializados, devido à interdependência mundial da economia.
 Aumento do desemprego e da miséria dos trabalhadores em todo o mundo, agravados
pela ausência de mecanismos estatais de proteção social.

Face à ausência de políticas eficazes dos governos liberais e à persistência da conjuntura


deflacionista, surgiu o reconhecimento das fraquezas do capitalismo liberal), incapaz de
autorregulação, que conduziu a:
 um apelo a uma maior intervenção do Estado na regulação das atividades económicas e
financeiras (garantir emprego e incentivar o consumo) e na criação de medidas públicas
para combater os efeitos sociais da crise – EUA e governos de consenso e de unidade
nacional na Europa (Reino Unido, França e Espanha).
 uma adesão a projetos políticos autoritários, com a adoção de modelos socioeconómicos
de cunho corporativo, alternativos ao capitalismo liberal, seguindo o modelo fascista –
Itália, Alemanha e Portugal.

AS OPÇÕES TOTALITÁRIAS NA ITÁLIA E NA ALEMANHA


FATORES QUE CONTRIBUÍRAM PARA A ASCENSÃO AO PODER DO PARTIDO NACIONAL
FASCISTA
 Descontentamento com a “vitória mutilada” da Itália na Primeira Guerra Mundial: apesar
de ter contribuído para a vitória e de ter sofrido pesados custos materiais e humanos, não
viu as suas reivindicações totalmente satisfeitas, tanto territoriais como financeiras –
ressentimento nacionalista.
 Dificuldades do país decorrentes da participação na Primeira Guerra Mundial e da
profunda crise económico-financeira do pós-guerra: destruições no Nordeste do país e
dificuldades de reconversão da indústria, redução da produção agrícola e industrial,
elevado défice orçamental, forte endividamento, aumento de impostos, desvalorização da
moeda e inflação.
 Agravamento das condições de vida, na sequência da crise económica e financeira do pós-
guerra e do aumento do desemprego, provocando o empobrecimento da pequena e
média burguesia, principal apoio eleitoral da monarquia parlamentar (profissões liberais,
quadros do comércio e da indústria, rendeiros e pequenos proprietários) e aumentando a
miséria das classes populares rurais e urbanas e dos ex combatentes – agitação social.
 Intensificação da contestação social nos campos e nas fábricas, neste contexto de crise e
sob influência da revolução bolchevique, através de pilhagens/manifestações/greves, e,
sobretudo, da ocupação e gestão de fábricas pelos operários e da ocupação de terras
incultas pelos camponeses – avanço dos partidos de esquerda e dos sindicatos, fazendo
temer uma revolução bolchevique.
 Aumento do descrédito social do regime demoliberal, paralisado por disputas
partidárias, corrupção e crises parlamentares, considerado fraco e incapaz de solucionar os
problemas socioeconómicos e de defender os interesses nacionais – agravamento das
dificuldades económicas e da instabilidade social, receio da propagação do bolchevismo
entre os latifundiários e industriais e insatisfação com a desordem provocada pelas greves
constantes por parte das classes médias, indignação dos nacionalistas face à assinatura do
Tratado de Rapallo (12 de novembro de 1920) com o Reino dos Sérvios, Croatas e
Eslovenos para resolver os conflitos territoriais existentes (Fiúme, por exemplo).
 Ambiente propício à eclosão de radicalismos de direita, depois de falhadas as tentativas de
solução de esquerda e as manobras parlamentares no quadro do regime liberal: fundação,
por iniciativa de Benito Mussolini, dos Fasci Italiani di Combattimento (23 de março de
1919), e que era composto por antigos combatentes nacionalistas fanáticos e inadaptados
à vida civil e por ativistas nacionalistas preocupados com as questões sociais, organizados
militarmente – a 9 de novembro de 1921, o movimento fascista transformou-se em
partido político, o Partido Nacional Fascista Italiano, contando com a adesão  de muitos
membros das classes médias e com poderosos apoios (apoio financeiro dos  latifundiários
e industriais e simpatia de alguns elementos da família real – a rainha e o duque de Aosta,
primo do rei).
 Fragilização dos sindicatos e das organizações políticas de esquerda devido à violência das
“expedições punitivas” dos squadristi, milícias armadas do Partido Nacional Fascista
(ameaça, espancamento, disparos e fogo posto - grevistas, sedes de organizações
socialistas, dirigentes sindicalistas ou socialistas e câmaras municipais geridas por forças de
esquerda): clima de violência impune e de terror.
 Impacto, na opinião pública, do recurso ao uso da violência para intimidar/reprimir os
adversários políticos e do recurso à propaganda para difundir os seus princípios
ideológicos, convencendo a população da incapacidade do governo liberal para solucionar
a crise e instabilidade do país e apresentando o movimento fascista como a única força
capaz de preencher o vazio de poder político, manter a ordem, defender os interesses
nacionais e salvar a Itália do “perigo bolchevista”.
 Convite, pelo rei Vítor Emanuel III, a Mussolini para liderar um novo governo
multipartidário (29 de outubro de 1922), na sequência do pedido de demissão do governo
(27 de outubro de 1922) e da Marcha sobre Roma de milhares de Camisas Negras, numa
manifestação de força, subversiva, do movimento fascista (28 de outubro de 1922) -
depois de chegado ao poder pelas vias legais, o novo poder manteve, durante três
anos, uma fachada parlamentar.
 Triunfo do Partido Nacional-Fascista nas eleições de 1924, garantindo a maioria absoluta
no Parlamento, com recurso a diversos meios ilícitos, nomeadamente à violência sobre os
adversários políticos e ao controlo dos meios de comunicação (ex: criação oficial de uma
força militar do partido, a Milícia Voluntária para a Segurança Nacional (1923)).
 Instauração de uma ditadura, a partir de 1925, com a aprovação de legislação diversa,
passando Mussolini a governar por decreto e com direito de veto sobre o parlamento,
limitado a um papel consultivo (ex: criação da OVRA (Organização para a Vigilância e a
Repressão do Antifascismo), a polícia política do regime; dissolução dos partidos e
sindicatos não fascistas; proibição do direito à greve; supressão da liberdade de imprensa,
instaurando a censura; fundação do Tribunal Especial do Estado para “julgar” crimes
políticos; reintrodução da pena de morte).
FATORES QUE CONTRIBUÍRAM PARA A ASCENSÃO AO PODER DO PARTIDO NACIONAL-
SOCIALISTA DOS TRABALHADORES ALEMÃES
 Sentimento de humilhação patriótica dos Alemães face à desonra da rendição e da derrota
e às duras imposições do Tratado de Versalhes, nomeadamente a perda de território, a
exigência de indemnizações (apesar de renegociadas e reduzidas pelos Planos Dawes e
Young, em 1924 e em 1929, não foram suspensas), a cláusula da culpa de guerra e a
redução do estatuto político-militar do país, excluindo a Alemanha da ordem geopolítica
do pós-guerra – os dirigentes da nova República de Weimar foram vistos, por
muitos Alemães, como os responsáveis pelos termos duros de paz.
 Dificuldades de reconstrução económico-financeira do pós guerra, em resultado da
destruição e desorganização do setor produtivo, das imposições do Tratado de Versalhes,
originando uma grave crise económico-financeira e social – dependência de financiamento
externo, reduzida produção, elevada taxa de desemprego, desvalorização da moeda,
inflação galopante, aumento do custo de vida e generalização da miséria social. A
ocupação da rica zona do Rur pela França dificultou, ainda mais, a recuperação do país e
agravou o sentimento de humilhação.
 Ambiente de forte agitação social e política, com manifestações, greves e tentativas de
golpes de estado por grupos de esquerda e sindicatos (entre 1919 e 1921) e com um
crescimento do peso eleitoral dos partidos de esquerda, provocando o receio da
propagação da revolução bolchevista entre as classes médias e a classe alta – a
radicalização social e política que transformou a Alemanha num país quase ingovernável.
 Agravamento da radicalização social e política, com o aparecimento, em 1920, do
Partido  Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães, liderado por Hitler (1921-45): o
recurso à violência pela força paramilitar nazi (1921, SA) intimidaram os opositores
(sindicalistas, socialistas e comunistas) e os discursos inflamados do seu presidente
incitaram ao ódio contra os traidores/inimigos da nação alemã (os “criminosos de
Novembro “e os judeus) e alargaram o número de militantes e apoiantes; em 1923, o
NSDAP leva a cabo, uma tentativa falhada de golpe de estado contra República de Weimar,
que leva à prisão dos cabecilhas, nomeadamente Hitler, assim como à ilegalização do
partido e do seu braço armado, a SA.

 Com a prisão de Hitler e a ilegalização do partido, terminou o primeiro período de


sucesso do DAP/NSDAP (1919-1923), que se fracionou. 
 Entre 1924/25-1929, o período de estabilidade que surgiu na Alemanha (recuperação
da economia e controlo da inflação, desocupação do Rur e da Renânia, integração do
país na SDN, etc.) acalmou a radicalização social e política e reduziu a oposição à
República de Weimar, não permitindo o crescimento de partidos extremistas.
 Mas, entre 1929-33, o Partido Nazi voltou a entrar numa fase promissora.

A crise de 1929 bloqueou a recuperação alemã, originando uma depressão


prolongada, com graves consequências económico-financeiras e sociais, que
acabariam por precipitar o colapso do sistema político democrático de Weimar. Foi,
neste contexto, que o Partido Nazi acabou por conseguir chegar ao poder.
 Impacto económico-financeiro da mundialização da crise de 1929 que, devido à retração
dos créditos norte-americanos e à contração do comércio internacional, originou
na Alemanha uma depressão prolongada: falência de bancos e de empresas alemãs, sem
investimentos nem créditos estrangeiros disponíveis; redução da procura para as
exportações; quebra da produção; quebra acentuada dos preços, acentuando o ciclo
vicioso da crise; aumento significativo da miséria das populações, vítimas da perda de
poupanças, dos cortes salariais ou do desemprego, face à ausência de mecanismos de
proteção social.
 Impotência da democracia liberal alemã e dos partidos do sistema face às dificuldades
sentidas no país, com sucessivas quedas de governo e eleições – o descontentamento
aumentou o descrédito social na democracia parlamentar alemã e alimentou o
crescimento eleitoral dos partidos de protesto, como o Partido Comunista e o Partido
Nazi, cujas organizações paramilitares se defrontavam nas ruas, aumentando a violência e
deixando o país à beira da guerra civil: os extremos políticos atacavam os partidos do
sistema democrático alemão, intensificando a agitação social e a polarização política.
 Intensificação da radicalização com o crescente sucesso do Partido Nazi, cujas milícias
armadas (SA e SS) recorreram à violência para imporem a sua ideologia e intimidarem os
dissidentes, os opositores e os “culpados” dos males nacionais (comunistas e judeus) e
cuja propaganda explorou os efeitos da crise e o ressentimento contra o Tratado de
Versalhes, atacou o parlamentarismo da República de Weimar e o “judeo- bolchevismo” e
defendeu a criação de um “espaço vital para o povo alemão – a ideia de um renascimento
nacional, com uma Grande  Alemanha, forte e rica, uma comunidade nacional,
homogénea, racialmente pura, que permitisse ultrapassar as divisões de classe, incutindo
na população ideais antidemocráticos e racistas (sobretudo, antissemitas).
 Aumento progressivo do peso eleitoral do Partido Nazi, com os votos de protestos dos
eleitores descontentes e com o apoio crescente de vários setores da sociedade (alta
burguesia industrial e financeira, classes médias, agricultores arruinados e
desempregados), que receavam o avanço do comunismo e tinham esperança num governo
forte que proporcionasse estabilidade política e criasse condições para o desenvolvimento
económico: em 1930, o NSDAP passa de 9º para o 2º partido mais votado.
 Chegada do Partido Nazi ao poder:
 indigitação de Hitler para o cargo de Chanceler (30 janeiro de 1933), pelo Presidente
da República da Alemanha, na sequência dos bons resultados eleitorais em 1932.
 supressão dos mecanismos que lhe haviam permitido a chegada ao poder: com a
suspensão das liberdades civis (estado de emergência decretado a 28 de fevereiro de
1933) e uma violenta vaga de perseguições e prisões de opositores, na sequência do
incêndio do Reichtag (27 de fevereiro de 1933), cuja responsabilidade foi atribuída aos
comunistas pelos nazis; com a aprovação da Lei de  Concessão de Plenos Poderes (23
de março de 1933), na sequência da vitória nas eleições de março de 1933,
autorizando o novo chefe de Governo a ignorar a Constituição, a contornar o
parlamento e a governar por decreto – pouco depois, os partidos políticos
foram abolidos, os opositores socialistas presos e aprovadas diversas medidas que
transformaram a Alemanha numa ditadura.
 Acumulação dos cargos de Chanceler e de Presidente da República, em agosto de
1934, após a morte de Hindenburg: Hitler torna-se chefe de Governo, chefe de Estado
e comandante-chefe das Forças Armadas.

OS PRINCÍPIOS IDEOLÓGICOS DO FASCISMO E DO NAZISMO


 Exaltação nacionalista, com a afirmação da supremacia e da unidade da Nação, cujos
interesses se sobrepõem aos interesses individuais e de grupos – exaltação do passado
glorioso e da grandeza do país.
 Afirmação do totalitarismo do Estado que, enquanto representante da Nação, controla a
vida social, económica e cultural através de várias instituições, submetendo os interesses
individuais e impondo um modelo ideológico uniforme.

 antissocialismo: condenação das doutrinas socialistas, recusando o princípio da luta de
classes e o internacionalismo operário – o socialismo era entendido como uma
doutrina que promovia a desordem social e um modelo económico contrário aos
interesses da grande burguesia industrial e das classes médias.
 antiliberalismo: recusa dos princípios demoliberais, como o pluripartidarismo, a
soberania nacional ou a separação de poderes, e domínio de um partido único, de
onde era proveniente a elite dirigente – o liberalismo, centrado na defesa dos direitos
e liberdades individuais, era visto, enquanto sistema político, pouco eficaz, que
enfraquecia o Estado.
 Afirmação do autoritarismo, com:
 Supremacia do poder executivo sobre o poder legislativo (nenhum organismo de
representação popular controla o governo) OU 
 culto do chefe, entendido como um homem providencial, que simbolizava e encarnava
a Nação e que guiava o povo, com uma autoridade quase absoluta.

Confiança e obediência cega das massas às elites governativas.
 Defesa do corporativismo, em Itália, para promover para combater a luta de classes e
garantir a ordem, com a submissão de todos os interesses ao interesse do Estado.
 Dirigismo económico do Estado, associado à defesa de um modelo económico fortemente
intervencionista e nacionalista, a fim de garantir a autarcia do país: coordenação de toda a
vida económica e social pelo Estado e sujeição dos interesses dos indivíduos e grupos aos
interesses da comunidade.
 Militarismo OU exercício do poder assente na força e na violência como forma de
afirmação das capacidades dos homens e dos povos - valorização do exercício físico e do
treino militar e desprezo pelos valores e qualidades intelectuais; promoção das
demonstrações de força (desfiles e paradas) e de ações de intimidação sobre os opositores
(polícia política e milícias).
 Imperialismo expansionista, com a defesa do alargamento do espaço de influência e,
mesmo, da expansão territorial para engrandecer e assegurar as necessidades de
desenvolvimento da nação (terras, matérias-primas, mão de obra, etc.) – defesa da
constituição de uma Grande Alemanha com a conquista de um “espaço vital”
(Lebensraum).
 Racismo, adotado como política do Estado nazi, assentava na crença na superioridade do
povo alemão (de uma suposta da «raça ariana») e no desprezo por indivíduos e povos
considerados inferiores, que procurou submeter e eliminar (judeus, eslavos, ciganos, etc.).

DIRIGISMO ECONÓMICO DO ESTADO


Os totalitarismos fascista e nazi consideram que o liberalismo económico privilegia os
interesses individuais aos interesses da comunidade.  
Na tentativa de resolver o problema do desemprego e de relançar a economia (atingida pela
crise do pós-guerra e pelos efeitos da Grande Depressão), estes regimes adotam políticas
económicas fortemente intervencionistas e nacionalistas (OU protecionistas), colocando toda
a vida económica e social ao serviço do Estado e sujeitando os interesses dos indivíduos e dos
grupos sociais aos interesses da comunidade.
 Objetivo: garantir a autossuficiência/autarcia da Nação.

Em Itália:
 Lançamento de grandes campanhas de produção (ex: a Batalha do Trigo, a partir de 1925)
e de grandes trabalhos, nomeadamente a recuperação de terras para a agricultura e a
criação de novas povoações (ex: a Batalha da Bonificação para a secagem dos pântanos
pontinos), todos amplamente difundidos pela propaganda.
 Rigoroso controlo do comércio por parte do Estado (volume das importações e
exportações), nomeadamente com a subida dos direitos alfandegários e limitações ao
consumo.
 Lançamento de programas de industrialização, submetendo a iniciativa privada ao controlo
do Estado: através da criação do Instituto Imobiliário Itálico e do Instituto para a
Reconstrução Industrial, promoveu se a intervenção do Estado no setor industrial e o
financiamento a empresas em dificuldades.
 Enquadramento das atividades laborais em corporações, facilitando a planificação da
economia (aquisição de matérias-primas, volume de produção, tabelamento de preços e
salários).
 Adoção de uma política expansionista, com a conquista da Etiópia (1935-36), para
assegurar as necessidades do país (exploração de minérios e fontes de energia para criação
de produtos de síntese química).

Resultados positivos à custa de grandes sacrifícios da população (trabalho, impostos,
racionamento ao consumo e, mesmo, guerra).

Na Alemanha:
 Abolição dos sindicados livres e enquadramento dos trabalhadores alemães na Frente de
Trabalho Nacional-Socialista e em atividades recreativas e culturais, motivando-os através
de um discurso nacionalista.
 Combate ao desemprego através de uma política de grandes trabalhos e obras públicas
(autoestradas, aeródromos, linhas férreas, pontes) OU através da ocupação por alemães
“arianos” de empregos antes exercidos por judeus alemães.
 Lançamento de um programa de rearmamento e reconstituição das forças militares
(contrariando as disposições do Tratado de Versalhes) OU apoio ao crescimento das
indústrias dos setores metalúrgico/siderúrgico, químico e de energia elétrica e ao
desenvolvimento do setor da aviação e automóvel.
 Estímulo ao consumo privado (aquisição de automóveis Volkswagen) como meio de
animar a economia.
 Disponibilização, a grandes industriais e ao Estado, de mão-de-obra forçada (trabalhadores
judeus e eslavos).
 Fixação de preços para evitar práticas especulativas.
 Adoção de uma política expansionista para assegurar as necessidades do povo alemão a
nível de terras, mão-de-obra e matérias-primas.

Apoio do grande capital 
Autossuficiência (em cereais, açúcar e manteiga) e redução das importações

NACIONALISMO E IMPERIALISMO NAZIS


 Adoção de uma política expansionista agressiva para engrandecer e assegurar as
necessidades do povo alemão – crescente agressividade, perante a ineficácia e o
descrédito da Sociedade das Nações, a política não intervencionista das democracias
europeias e a política isolacionista dos EUA.
 Violação das determinações de Versalhes, com os investimentos na indústria de
armamento, com o restabelecimento do serviço militar obrigatório e com a remilitarização
da Renânia (1936).
 Estabelecimento de alianças político-militares com a Itália e com o Japão (Pacto de Aço)
OU com a URSS (Pacto Germano-soviético).
 Intervenção militar na guerra civil espanhola, em apoio das forças nacionalistas,
contrariando a SDN.
 Formação de uma «Grande Alemanha» para unir todos os povos de origem germânica,
através da anexação ou conquista de territórios na Europa: reintegração da zona do Sarre,
em 1935, anexação da Áustria e início da ocupação da Checoslováquia (Sudetas), em 1938.
 Expansionismo militar imperialista para a conquista do «espaço vital», com a ocupação do
restante território da Checoslováquia e da Polónia OU com o início da Segunda Guerra
Mundial, em 1939. 
 Ocupação violenta de uma parte significativa de territórios europeus e outros, no decurso
da Segunda Guerra Mundial, com milhões de mortos e de prisioneiros (ex: soviéticos).

RACISMO NAZI
 Defesa de uma política de Estado assente na crença da existência de raças superiores e
raças inferiores, defendendo a superioridade do povo alemão e desprezando indivíduos e
povos considerados inferiores, que procurou submeter e eliminar (judeus, eslavos,
ciganos, etc.). 
 Eugenismo como forma conseguir um suposto «apuramento da raça ariana» através do
fomento da natalidade entre indivíduos com características “perfeitas” e da proibição de
casamentos mistos, da esterilização forçada ou da eliminação dos alemães “degenerados”
(nomeadamente, pessoas com deficiências físicas e mentais, doentes crónicos, velhos
incapacitados e homossexuais). 
 Antissemitismo, considerando os judeus como a «raça inferior» e responsáveis por todos
os males que afetavam a Alemanha, originando uma perseguição sistemática e o
assassinato de milhões de judeus (Holocausto):
 política de perseguição aos judeus através de leis discriminatórias e de atos de
violência organizada, reduzindo os seus direitos cívicos e boicotando as suas
atividades económicas/profissionais para os intimidar e segregar: em 1933, boicote a
lojas judaicas e interdição do exercício de cargos públicos e profissões liberais; em
1935, publicação das Leis  de Nuremberga, que proibiram os casamentos e as relações
íntimas entre os judeus alemães e os “arianos” e privaram os alemães de origem
judaica da cidadania; em 1938, confiscação  de bens e encerramento de lojas e
empresas de alemães de origem judaica, proibição do exercício de qualquer profissão
e da frequência de espaços públicos – Noite de Cristal, uso obrigatório da estrela de
David e segregação em guetos (a partir de 1939).
 política de deportação dos judeus para campos de concentração onde eram sujeitos a
trabalhos forçados OU ao extermínio sistemático e em massa (“solução final” OU
genocídio).
 Perseguição e eliminação, em todos os territórios ocupados, de outras “raças” ou de
elementos socialmente inadaptados (ciganos, eslavos, homossexuais e opositores
políticos) enviados para campos de concentração e de extermínio, onde eram sujeitos a
trabalhos forçados ou ao extermínio sistemático.

PRÁTICAS POLÍTICAS DOS REGIMES FASCISTA E NAZI MECANISMOS DE ENQUADRAMENTO


DE MASSAS DE REPRESSÃO POLÍTICA
 Doutrinação da juventude por parte do Estado, através do controlo da educação escolar e
do lazer OU de organizações oficiais da juventude (Juventude Fascista, na Itália; Juventude
Hitleriana, na Alemanha) - obediência, disciplina, ordem. 
 Criação de organizações de enquadramento das massas para disseminar os ideais
fascista/nacional-socialista e para garantir o controlo da sociedade:
 organizações oficiais dos trabalhadores para garantir a total adesão ao ideário do
regime: criação das corporações italianas e da Frente do Trabalho Nacional-Socialista
alemã e proibição dos sindicatos livres.
 organizações recreativas e culturais para o enquadramento e a ocupação dos tempos
livres dos trabalhadores, motivando-os através de um discurso nacionalista:
Dopolavoro na Itália; Kraft durch Freude na Alemanha.
 Recurso à propaganda como estratégia de doutrinação social, através da ação de
instituições governativas (Ministério da Imprensa e da Propaganda → Ministério da
Cultura Popular (a partir de 1937), na Itália; Ministério da Cultura e da Propaganda, na
Alemanha) e de meios diversos (cartazes, comícios, desfiles/manifestações de massas,
radiodifusão, imprensa, cinema).
 Instrumentalização das atividades culturais e artísticas para transmitir o ideário
fascista/nacional-socialista, censurando a expressão de ideias contrárias ao regime e
perseguindo os intelectuais e artistas que as defendiam. 
 Ação das milícias de caráter paramilitar para incutir um clima de medo e de terror entre os
opositores políticos ao regime: Milícia Voluntária para a Segurança Nacional (1923), na
Itália; Secções de Assalto (S.A., 1920) e Secções de Segurança (S.S., 1925), na Alemanha). 
 Aparelho policial repressivo para garantir o totalitarismo do Estado através do controlo da
população pela vigilância social, pela denúncia ou pela violência: criação de poderosas
forças de polícia política como a Organização de Vigilância e Repressão do Antifascismo
(OVRA, 1925), em Itália, e a Gestapo (1933), na Alemanha.
 Uso da repressão e do terror como forma de controlar/suprimir opositores políticos,
elementos «antissociais» ou minorias, muitos enviados para campos de concentração.

Garantir o controlo da sociedade
Submeter os interesses individuais ao interesse do estado

O ESTALINISMO
A morte de Lenine (janeiro de 1924) deu origem a uma luta pelo poder na URSS, acabando
com a vitória de Estaline (Secretário-Geral do PCUS) sobre a fação liderada por Trotsky (ala
mais esquerdista do Partido) e a fação associada a Zinoviev, Kamenev e Boukharine (ala mais à
direita do Partido).
Assim, entre 1928 e 1953, Estaline tornou-se o líder incontestado da URSS. 
Estaline empenhou-se:
 na reconstrução económica da U.R.S.S. e na sua transformação em potência mundial.
 na construção da sociedade socialista, sem classes, reafirmando a supremacia do
proletariado sobre os demais grupos sociais e recusando os princípios da democracia
liberal e o pluripartidarismo.

Conseguiu-o através:
 de um controlo da economia por parte do Estado, através da coletivização agrícola e da
planificação da economia.
 de um reforço do totalitarismo do Estado, através da burocratização do Partido
Comunista e do aumento da repressão sobre a população.

A POLÍTICA ECONÓMICA
 Empenho na recuperação do atraso económico e modernização do país e na sua
transformação em potência mundial, competindo como os “inimigos” capitalistas. 
 Reafirmação do objetivo de destruir o sistema capitalista e o poder económico da
burguesia, defendendo a abolição da propriedade privada dos meios de produção. 
 Abandono da Nova Política Económica, com o recuo na política de abertura parcial à
iniciativa privada, devido à contradição entre os seus efeitos sociais e os princípios
ideológicos do marxismo (reaparecimento de uma classe de agricultores abastados e de
homens de negócios). 
 Dirigismo estatal da economia, através da coletivização/nacionalização dos meios de
produção e da planificação da economia. 
 Recurso a uma forte campanha de propaganda de enaltecimento do modelo
económico socialista.

A COLETIVIZAÇÃO DOS CAMPOS


A coletivização da terra era vista como essencial à modernização da agricultura e da indústria
ao fornecer alimentos e matérias-primas e ao libertar mão de obra rural.
 A coletivização da terra assentou na criação de kolkhozes: quintas coletivas/cooperativas
de produção (terras e equipamentos entregues pelos camponeses à comunidade), em que
uma parte da produção ficava para o Estado e a restante era distribuída pelos
camponeses, de acordo com o trabalho efetuado.
Foram, assim, abolidas as explorações camponesas individuais e eliminados os kulaks. 
 Com vista à modernização da agricultura, foram criadas, a partir de 1930, pelo Partido
Comunista, as Estações de Máquinas e Tratores, que disponibilizavam máquinas e
técnicos a um grupo de Kolkhozes. Pretendia-se, através da mecanização, aumentar a
produção de alimentos e libertar mão-de-obra para as indústrias. 
 Além das quintas coletivas, existiam ainda os Sovkhozes: quintas do Estado, cultivadas por
mão de obra assalariada.

Meios:
 Expropriação de terras e confisco gado aos proprietários rurais (Kulaks). 
 Obrigatoriedade de trabalho coletivo ou assalariado.

Resultados:
 Rejeição da coletivização por parte de muitos proprietários rurais, nomeadamente com o
abate de gado (em vez de o entregar à coletividade), apesar da propaganda oficial difundir
a adesão dos camponeses à medida. 
 Uso da violência sobre os camponeses que mostraram resistência à coletivização, sendo
muitos Kulaks deportados para a Sibéria ou, mesmo, executados. 
 Crescimento da área cultivada e da produção (sobretudo de trigo, algodão e beterraba
para açúcar) – portanto, resultados satisfatórios.

A PLANIFICAÇÃO DA ECONOMIA
O setor industrial desenvolveu-se graças a uma rigorosa planificação económica.
Com o objetivo de transformar a URSS numa potência industrial, foram lançados os planos
quinquenais, ou seja, planos de desenvolvimento/modernização das indústrias e das
infraestruturas.
 Elaborados por um organismo do Estado (GOSPLAN), recusavam a livre iniciativa e a livre
concorrência e permitiam ao Estado dirigir a economia de acordo com as necessidades de
desenvolvimento do país, de forma a garantir a aceleração da indústria e a modernização
das infraestruturas e da agricultura (ao fornecer instrumentos/máquinas/tecnologia
agrícolas), a promover o crescimento económico e o pleno emprego.
 Fixavam as áreas de investimento prioritárias e as metas de produção a atingir e
estabeleciam os recursos a mobilizar (nomeadamente, investimentos, necessidades
técnicas, mão de obra), para um período de 5 anos.

1º Plano Quinquenal (1928/1932)


 Desenvolvimento prioritário da indústria pesada. 
 Investimentos de base em infraestruturas (caminhos de ferro, canais e estações de
maquinaria agrícola).
 Nacionalização das empresas (quase desaparecimento do setor privado).
2º Plano Quinquenal (1933/1937)
 Desenvolvimento da indústria ligeira e dos bens de consumo (indústrias alimentares,
vestuário e calçado).

3º Plano Quinquenal (1938/1943)


 Desenvolvimento prioritário das indústrias pesada e química. 
 Promoção da produção de energia hidroelétrica.
Interrompido pela 2.ª Guerra Mundial, em 1941.

Meios:
 Rigorosa coleta fiscal para a realização de investimentos maciços.
 Recurso a técnicos estrangeiros e aposta na formação de mão de obra especializada
(engenheiros e outros especialistas), com vista à modernização. 
 Recurso a uma forte campanha de propaganda de enaltecimento do modelo económico
socialista, exaltando a sua capacidade de produção e competitividade para incentivar a
dedicação da população ao trabalho. 
 Adoção de medidas coercivas (nomeadamente, a instituição da caderneta de trabalho
obrigatória e a possibilidade de despedimento por ausência injustificada, sem aviso prévio)
para garantir a mão de obra necessária ao cumprimento das metas. 
 Criação de armazéns estatais, para organizar o comércio e garantir o abastecimento de
bens à população. 
 Imposição do dirigismo estatal da economia através do recurso à violência.

Resultados:
 Afirmação da URSS como grande potência económica:
 industrialização em massa.
 promoção do desenvolvimento técnico dos processos produtivos na indústria e na
agricultura.
 criação de infraestruturas ao nível dos transportes, da habitação, saúde e do ensino.
 aumento da produtividade e da produção – fontes energéticas (carvão, petróleo e
eletricidade), ferro e aço – e crescimento do rendimento nacional per capita com
taxas elevadas.
 Secundarização da produção de bens de consumo, conduzindo a um baixo nível de vida
da população, apesar da modernização do país.

O TOTALITARISMO DO ESTADO
 Exercício do poder político – a burocratização do partido:
 Afirmação de um regime totalitário, com o sistema de partido único, o PCUS, que
monopoliza o poder e se confunde com o próprio Estado – inexistência de
pluripartidarismo e recusa dos princípios da democracia liberal.
 Consolidação de um Partido Comunista burocratizado e disciplinado, com o
afastamento dos adversários políticos.
 Promoção do culto da personalidade, exaltando a liderança de Estaline através da
propaganda OU através das organizações de enquadramento de massas:
acumulando as funções de Secretário Geral do Partido Comunista e Chefe do Governo,
Estaline surge como o chefe incontestado da União Soviética, o grande construtor do
socialismo e o grande responsável pelo desenvolvimento do país, com qualidades e
capacidades geniais, capaz de entusiasmar multidões e de suscitar a admiração dos
cidadãos, que o veneravam como o “pai dos Povos”.

 Controlo ideológico e repressão sobre a população:


 Russificação e submissão das diferentes regiões a Moscovo e obrigatoriedade de uso
de passaporte dentro da URSS, apesar da manutenção do princípio da igualdade e da
soberania dos povos da URSS, num estado multinacional e federal (Constituição de
1936).
 Recurso à propaganda para enaltecer as realizações do regime e promover o culto do
chefe, usando a produção cultural e artística e os diversos meios de comunicação
(jornais, cartazes, canções, filmes, livros, pinturas, estátuas, etc.) para influenciar e
mobilizar a população.
 Criação de organizações de enquadramento da população ligadas ao Estado e ao
Partido Comunista: destinadas a doutrinar as crianças e jovens nos valores do regime
– Pioneiros e Juventude Comunista; destinadas a enquadrar os trabalhadores em
sindicatos controlados pelo Partido Comunista com vista ao controlo da economia e
das relações laborais.
 Implementação da censura aos meios de comunicação social, vigiando toda a
produção cultural e artística de forma a impedir a divulgação de ideias diferentes.
 Criação de uma nova polícia política, a NKVD (Comissariado do Povo para os
Assuntos Internos), para vigiar dirigentes e cidadãos e para reprimir/prender/julgar
sumariamente possíveis opositores ao regime, usando a violência física e psicológica
– repressão crónica, sobretudo a partir de 1934.
 Instauração de processos políticos no interior do aparelho de Estado e no PCUS,
eliminando membros que divergissem da linha oficial – perseguição, prisão e
eliminação de dirigentes bolcheviques históricos e heróis da revolução, elementos da
administração e membros destacados do Exército Vermelho.
 Criação de gulag, campos de reabilitação OU deportações em massa para a Sibéria,
mantendo milhões de pessoas presas em condições desumanas e sob apertada
vigilância e obrigando-as a trabalhos forçados em grandes projetos do Estado (ex:
construção de cidades) ou, mesmo, condenando-as à morte – nomeadamente
os Kulaks que resistiram à coletivização, escritores, artistas, cientistas ou todos os que
fossem considerados antissoviéticos.

 Custos:
 Para implantar o socialismo, Estaline criou um regime totalitário e repressivo, que
subordinou a liberdade individual ao interesse da coletividade, controlando, muitas
vezes pela força, todos os aspetos da vida da população (apesar dos direitos e
liberdades fundamentais estarem estabelecidos na Constituição de 1936).
“Depurou” a URSS de opositores e instalou um clima de terror em todo o país.
 Mas, para além de ter feito inúmeras vítimas, o governo ditatorial de Estaline acabou
por pôr em causa o objetivo da revolução: a construção de uma sociedade sem
classes, porque ao produzir uma elite dirigente (Nomenklatura), constituída por
pessoas com funções no Partido e no Estado (políticos, diretores das cooperativas
agrárias e das fábricas, intelectuais do Partido Comunista, funcionários do Estado,
etc.), criou novas desigualdades sociais.

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