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THIAGO VERONEZZI
não tem semelhança alguma com o original. O que importa para sua obra são as formas e cores,
trabalham o volume e a textura. Artistas abstratos usam concepções matemáticas em suas
esculturas, como é o caso de Helaman Ferguson, que descobriu um ponto comum entre a
matemática e a arte.
A escultura abstrata se caracterizou pelo afastamento dos moldes naturalistas, em favor da
representação das formas geométricas puras, mais racionais, ou as simbólicas, consideradas uma
síntese das formas orgânicas. É preciso, no entanto, falar de peças, objetos e instal ações, já que o
tridimensional se desenvolveu a partir da combinação de materiais completamente alheios aosque a
escultura havia conhecido até então, com exceção do dadaísmo e do cubismo.
A partir da arte abstrata o limite entre escultores e pintores se dissolveu ainda mais. Por isso,
embora se faça referência a artistas dedicados principalmente à escultura, como Henry Moore ou
Constantin Brancusi, houve muito outros que fizeram experiências interdisciplinares, como os
neoplásticos holandeses ou os minimalistas americanos e ingleses. Na escultura abstrata surgiram
correntes diversas, muitas vezes de acordo com as da pintura, que possibilitam sua classificação.
A escultura orgânica, que tem seus antecedentes mais imediatos no dadaísmo, agrupou todos
os artistas que ainda buscavam a representação da subjetividade humana e de seu próprio
simbolismo interno, sem abandonar totalmente as formas figurativas. Quanto à escultura
racionalista, ela se caracterizou pelo rigor de suas formas volumétricas, chegando em al guns casos,
como os neo-abstratos, a reduzir a função da escultura à mera ocupação do espaço.
A exemplo da pintura, a escultura abstrata chega ao auge graças ao interesse que despertou
em marchands e colecionadores e aos programas estatais que deram aos artistas oportunidade de
popularizar suas obras, utilizando-as na decoração urbana. Como ocorreu antes, com os mecenas do
renascimento, as cidades passaram por uma renovação estética em que as novas peças da arte
abstrata se integraram, em praças e calçadas, com as mais importantes dos séculos passados.
O Simbolismo nas artes e a sua relação com o real como referente; imagens
simbólicas e religião.
A história do simbolismo mostra que tudo pode assumir uma significação simbólica: objetos
naturais (pedras, plantas, animais, homens, vales e montanhas, lua e sol, vento, água e fogo) ou
fabricados pelo homem (casas, barcos ou carros) ou mesmo formas abstratas (os números, o
triângulo, o quadrado, o círculo). De fato, todo o cosmos é um símbolo em potencial.
O simbolismo esteve presente na pintura europeia do final do século XIX, embora nesta
época não tenha sido considerado um movimento artístico. Assim como na poética simbolista, eram
rejeitadas as formas naturalistas e realistas, aderindo às formas abstratas para representar o mundo
real.
Um dos iniciadores do movimento foi Jean Moréas, que através do seu Manifesto
Simbolista, de 1886, rejeitava as ideias realistas e naturalistas, defendendo a aproximação entre a
ideia e a sensibilidade.
Tal qual na literatura, nas artes plásticas o simbolismo apresentava como forte característica
o misticismo e a ligação entre o mundo material e o espiritual. Através de pinturas e imagens estes
temas e esta visão de mundo eram expressos.
Elementos como cores e linhas eram utilizados, e entendidos como tendo grande
expressividade, representando ideias através da sugestão.
A inspiração vinha de ideias como movimento, vida, morte, arte, perversidade, etc. Muitos
artistas plásticos apresentam traços do movimento simbolista em suas obras.
Alguns dos nomes mais conhecidos das artes plásticas simbolistas são Paul Gauguin - em
suas telas abandonava a perspectiva e delineava as figuras utilizando contornos pretos. As cenas
evocavam temas religiosos e mágicos, como em Cristo Amarelo. Também se destacaram os
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franceses Gustave Moreau (1826-1898) e Odilon Redon (1840-1916)-, Gustave Moreau e Odilon
Redon.
Outras características simbolistas encontradas nas artes plásticas são o subjetivismo, a
musicalidade e o transcendentalismo.
Os pintores simbolistas davam preferência a temáticas ligadas à religião, à morte ou ao
pecado, com forte teor moralizante. Alguns conceitos românticos eram retomados, especialmente os
de pintores como William Blake e Philipp Otto Runge, os quais falaram sobre a simbologia da cor e
a relação entre forma e cromatismo.
Nas artes plásticas, o Simbolismo acabou sendo mais uma atitude espiritual do que um
programa estético, pois não houve uma uniformidade estilística entre as obras. Acabou tendo uma
repercussão mais significativa nas artes decorativas e gráficas, pois era essencialmente um estilo
decorativo e ornamental. Foi um dos principais precursores do Expressionismo e do Surrealismo.
A partir de 1890, o simbolismo difundiu-se por toda a Europa e pelo resto do mundo.
Arte e política
Como vimos, foi na Idade Média que as ciências tomaram consciência da importância e
racionalidade da arte, o que possibilitou não só o resgate de dignidade perante a comunidade
científica, como também a evidencia de seu papel político e ideológico. Cientistas, artistas, críticos
e público passaram a compreender o papel social da arte e, muitos deles, a exigir que a produção
artística tivesse predominantemente objetivos de intervenção social. Esta é a proposta da arte
chamada de engajada, ou seja, aquela que, convencida de seu papel persuasivo, compromete-se
com um determinado ideário político em prol do qual atua.
Não se trata do simples reconhecimento dos vínculos existentes entre poder e arte,
sobejamente estudados na forma como as monarquias e as igrejas faziam uso dos artistas para sua
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apologia e visualidade. Estamos nos referindo a artistas que, conscientes do seu papel político,
colocam sua produção a serviço de uma ideia e de um projeto político.
O socialismo foi a doutrina política que mais se deteve na análise da função da arte. Surgido
no século XIX, desenvolvia uma crítica severa ao capitalismo e à sociedade burguesa em seus mais
diferentes aspectos, inclusive a arte. Para os teóricos socialistas a produção artística atendia aos
interesses da burguesia, de forma alienada, catártica e escapista. Os socialistas acreditavam que a
verdadeira arte é a que promove a conscientização política e a mobilização do povo para a luta
revolucionária, através da denúncia dos conflitos sociais e do incitamente ao inconformismo.
De acordo com esses princípios, nos países em que a revolução socialista se tornou
vitoriosa, especialmente na ex-União Soviética, a arte se viu atrelada às propostas políticas do
partido comunista, num trabalho explícito de divulgação de seus ideais. Para isso elegia-se como
estilo oficial do estado comunista uma arte patriótica, figurativa, que exaltasse o povo em suas
atividades produtivas em seu cotidiano. As manifestações artísticas deveriam ser otimistas e exercer
uma importante função pedagógica de estimular o público na aceitação dos ideais igualitários e
coletivistas.
Mais tarde os socialistas reconheceram que o poder revolucionário da arte não está num
determinado estilo ou tema, mas no desenvolvimento da livre expressão, que, por ter origem nos
sentimentos mais íntimos do ser humano, é sempre contestadora e libertária.
Esta capacidade de propor uma leitura crítica da realidade que nos cerca se manifesta diante
de situações de coerção. Muitos artistas submetidos ao poder absoluto dos reis conseguiram, através
de sua criatividade e talento, expressar sua particular visão de mundo. Pintores como Velázquez e
Goya, encarregados pela corte espanhola da pintura dos retratos reais, imprimiram em suas obras
traços inequívocos de decadência e vilania.
Se o conhecimento das relações que a arte mantém com a ação política – tanto conservadora
quanto revolucionária – abriu espaço para o reconhecimento de sua importância, também alertou os
poderosos para o controle da produção artística, através de regulamentações e dispositivos que
cercearam a liberdade dos artistas. Principalmente os regimes autoritários estabeleceram rígida
censura às partes e, embora essa tentativa de controle da produção artística não seja nova na
história, ela se tornou mais radical a partir do século XIX, à medida que a profissionalização e
autonomia dos artistas garantiram-lhe maior liberdade criativa.
No Brasil, a censura esteve presente nos diversos momentos de sua história, com a corte
portuguesa e a Igreja Católica se revezando na função fiscalizadora de nossa produção artísticas
desde os tempos coloniais. E, quando proclamada a independência, a monarquia se incumbiu de
continuar vigiando nossos hábitos culturais. Para isso proibiu o uso de outra língua que não o
português e investiu contra o Barroco, que caiu em desapreço por suas raízes ao mesmo tempo
religiosas e mestiças. Os templos tiveram então suas paredes caiadas e o branco cobriu alegorias e
madonas mulatas.
Com a república, houve o legado autoritário da monarquia e novos mecanismos de controle
da arte se estabeleceram. O Modernismo, pelo seu caráter renovador e por ter coincidido com a
tendência totalitária da década de 1930, foi um dos movimentos mais cerceados da primeira metade
do século XX. Nessa época, o Teatro de Experiência, dirigido por Flávio de Carvalho foi fechado
pela polícia, e durante todo o Estado Novo a censura usou de rigor e arbitrariedade contra os
artistas. O Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) transformou-se num grande ministério
com os objetivos de promover e fiscalizar a produção artística e os meios de comunicação.
Com o final dos regimes autoritários no mundo e o contato com artistas estrangeiros, muitos
dos quais emigraram para o Brasil, nas décadas de 1940 e 1950, as artes amadureceram e as
instituições artísticas se legitimaram. Quando, enfim, atingimos um ponto de sintonia com a
produção internacional da arte e quando uma infra-estrutura mínima para promover a formação de
novos artistas já existia nas maiores cidades, houve o golpe militar de 1964. O controle e a
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fiscalização da arte que, na verdade, jamais haviam se ausentado das políticas culturais
desenvolvidas no Brasil, atingiram um patamar insustentável de repressão após 1968, com a
promulgação do AI-5. Foram vetadas músicas de artistas famosos como Chico Buarque e Caetano
Veloso, peças de teatro foram proibidas no dia de estreia, novelas de televisão, romances e
espetáculos foram considerados imorais ou subversivos, isto é, capazes de subverter a ordem social
e política.
A produção artística dessa época, entretanto, foi das mais representativas, principalmente
por mostrar a capacidade de resistência e denúncia dos artistas. De forma sutil e velada, eles
conseguiram enfrentar a censura e transmitir suas mensagens. Compositores usaram pseudônimos
para escapar da censura – caso de Chico Buarque que, na década de 1970, compôs algumas músicas
com o pseudônimo de Julinho da Adelaide – e autores de telenovelas criaram enredos nos quais
incríveis metáforas teciam duras críticas à sociedade – por exemplo, Jorge Andrade, na novela O
Grito, em 1975. Nessa trama um edifício inteiro não conseguia dormir em razão de uma criança
doente que acordava gritando.
O desenvolvimento dos meios de comunicação de massa fez com que os governos criassem
dispositivos ainda mais rígidos de censura para o cinema, o rádio e a televisão.
A censura foi extinta no Brasil em 1988 e desde então ao governo cabe somente a indicação
da faixa etária a que se destina a obra ou o programa. Mas as questões ligadas à função política da
arte e às relações desta com o poder ainda não se encontram definidas. O advento da rede mundial
de computadores, a Internet, sobre a qual, até o momento, não há nenhum mecanismo político
centralizados de controle, traz à tona novamente essas questões, avivando a discussão acerca da
liberdade de expressão.
Mas o controle sobre a produção artística, que era privilégio do Estado, hoje é exercido pelo
mercado. Com o enfraquecimento das instituições públicas, mecanismos de financiamento da
produção artística foram criados e, através deles, as empresas privadas podem atuar sobre a arte,
patrocinando espetáculos, edições de livros e realização de filmes, em troca de abonos das dívidas
contraídas junto ao Estado. Trata-se, de alguma forma, do antigo mecenato renascentista, quando os
artistas, no alvorecer de sua autonomia e profissionalização, empregavam-se nas cortes europeias. A
escolha por este ou aquele espetáculo, todavia, foge aos interesses do campo artístico e se traduz,
principalmente, por uma opção de caráter publicitário.