Você está na página 1de 3

Abstracionismo

Abstracionismo, ou arte abstrata, ou arte não figurativa, é a tendência preponderante nas artes
plásticas das ultimas décadas deste século. Dentro do condicionamento histórico global onde
atuam os fatores sociais de infra-estrutura, o abstracionismo decorre de pelo menos três causas
imediatas: a necessidade que emerge no artista de expressar-se livremente; a transformação da
vida social em conseqüência da revolução industrial e cientifica; e o conhecimento da estrutura
matemática das obras de artes antigas, submetidas à análise racional que buscava descobrir as
leis permanentes da estética.
O reconhecimento de tais causas não exclui, mas implica a ligação orgânica do abstracionismo
nascente com obras e tendências estéticas anteriores: o célebre quadro de Van Gogh, “Champs
de blé aux corbeaux” (1859; “Campos de trigo dos corvos”), prenuncia a ruptura de Kandinski
com a figura, em 1910; as idéias formuladas por Seurat trinta anos antes da formação do grupo
De Stijl, revelam-se muito próximas das idéias básicas do neo-plasticismo; por outro lado, as
teorias de Chevreul sobre as cores em que se apóia o mesmo Seurat, vão influenciar Robert
Delaunay em sua fase pós-cubista de 1912, quando pinta quadros com o nome de “contrastes
simultâneos”. A tela de Monet “Monte de feno” despertaria em Kandinski o interesse pela
expressão abstrata em arte; toda a corrente abstrato-geométrica que nasce do grupo De Stijl
inspira-se nas obras cubistas de Picasso e Braque, especialmente da fase analítica. O
abstracionismo Russo bebe tanto cubismo quanto no futurismo, que atinge a abstração nas
obras de Severini, Balla e Sofici. O essencial do construtivismo de Pevsner e Gabo está já em
Baccioni. Deve-se ainda registrar nessa marcha para a abstração, os passos dados pelos
fauvistas e pelos expressionistas do Blaue Reiter que, ao mergulharem na subjetividade,
rejeitam a imagem “natural” do mundo e com isso se identificam com o propósito fundamental
da arte abstrata. O século XX não é, porém, o único período da história da arte em que se
registraram manifestações abstratas. Na verdade, tais manifestações se encontram já na pré-
história, no período neolítico, com as primeiras incisões geométricas. Ornamentos abstratos
encontram-se nos vasos da época neolítica chinesa, em toda a arte islâmica, no período
geométrico grego, nas miniaturas irlandesas, na ourivesaria das grandes migrações, na
civilização danubiana da idade do bronze e da Pedra tardia, na idade do ferro germana e
escandinava, nos ornatos gregos, na cerâmica marajoara, nos tecidos, cestos e utensílios de
tribos asiáticas, africanas, americanas, etc.
O tema espiral é encontrado já na decoração de monumentos e túmulos da época megalítica; no
Egito, nas tumbas da XVIII dinastia; em Micena, na Escandinávia, na Irlanda, na China, no
Japão, na Sibéria. Outros temas geométricos como os entrelaçados, as cruzes, o xadrez, o
ziguezague, foram universalmente utilizados.
Na opinião de Wilhelm Worringer a tendência à abstração é o resultado de um desejo obscuro,
inconsciente, do homem quando sente necessidade de separar-se da natureza que lhe parece
hostil, ou quando orgulhoso de sua inteligência e de sua razão, se coloca acima dela e a
despreza. Essa vontade de abstração se opõe no conceito de Worringer, ao sentimento de
empatia ou simpatia pela natureza. A expressão abstrata significaria a perda da vitalidade da
arte em conseqüência de seu desligamento do mundo orgânico. Herbert Read, opondo-se a essa
tese, procura demonstrar que a vitalidade não é característica da arte naturalista ou figurativa,
como se pode verificar, segundo ele no período bizantino e na arte do norte da Europa, durante
o primeiro milênio depois de Cristo, quando o ornamento geométrico linear se mostra tão vital
quanto o ornamento orgânico de outros períodos. Vassili Kandinsk, um dos primeiros pintores
abstratos modernos e o primeiro teórico da nova arte abstrata observa que ao cortar todos os
laços com a natureza, a arte abstrata tende a tornar-se apenas decorativa, a menos que suas
formas e cores sejam ditadas por uma real necessidade interior. Toda cor, para Kandinski,
encerra uma forma ainda mal conhecida mas real, e toda forma tem um conteúdo interior de
que ela é apenas a manifestação exterior. Todas as possibilidades proviam da mesma raiz para
Kandinski: a necessidade interior.

As primeiras obras abstratas de Kandinski datam de 1910, mas seu rompimento definitivo com
a arte figurativa foi precipitado por um fato acidental: ao entrar em seu atelier, depois de ter
pintado ao ar livre, teve a atenção despertada por um quadro “indizivelmente belo, que
esplendia de uma luz interior”. Verificou depois, tratar-se de um quadro seu, posto
inadvertidamente de cabeça para baixo. Essa posição inusitada, que dificultava a identificação
das formas figurativas, opera uma espécie de abstratização e liberara o conteúdo espiritual da
obra. A pintura de Kandinski caracterizada por extraordinária variedade de formas, ritmos e
cores, parte de uma fase inicial prolífera e perturbadora para composições orquestrais mais
controladas, até chegar à sobriedade construtiva das ultimas obras.
Já em seus começos, o abstracionismo revela uma variedade de tendências, que no futuro só se
acentuará. Em 1912, em Paris, Robert Delaunay pinta uma série de quadros abstratos (“Les
fenêtres” e em seguida Rythmes circulaires”) que caracterizam pelo cromatismo intenso,
bebido na mesma fonte cientifica dos impressionistas: a teoria de Chevreul. Essa pintura, longe,
no entanto, de ser a aplicação fria de uma tese, é uma expressão plena de vitalidade e euforia
rítmica. O poeta Apolinaire denominou-a pintura órfica ou orfismo. Além de Sonia Delaunay,
que realiza telas abstratas com os mesmos ritmos circulares e discos cromáticos, transpondo-os
mais tarde para a estampagem de tecidos, influenciaram-se pelo orfismo de Robert Delaunay os
norte-americanos Morgan Russel e Mcdonald-Wright. Seguem a mesma linha impressionista-
abstrata, mas sobre outra designação: sincronismo. Esses artistas precursores da arte abstrata
nos E.U.A. não tiveram discípulos imediatos em seu país.
É nesse mesmo ano que o tcheco Frank Kupka expõe suas primeiras composições abstratas.
Antecipando-se a Delaunay, quando pinta o “Disque de Newton” e de certo modo ao
suprematismo e ao Neoplasticismo, Kupka, inegavelmente um pioneiro do abstracionismo, não
deu conseqüência a suas descobertas, que não se libertaram do sabor ornamental do estilo
moderno de 1900.

No Brasil vários artistas também fizeram parte no abstracionismo. Tais como: Antonio
Bandeira, Iberê Camargo, Ivan Serpa, Milton Dacosta, Lígia Clark, Manabu Mabe e Franz
Kracjberg.
Trabalho de Educação
Artística

“Abstracionismo”

Ana Angélica Brandt

Você também pode gostar