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KINDLEBERGER
Por sua vez, Samuelson acreditava que a crise teve raiz numa série de acidentes
históricos, o que para Kindleberger também não é uma explicação satisfatória.
Samuelson traça uma comparação com outras crises que apresentam o mesmo papel de
fatores acidentais, como a de 1840 na Europa. A um nível mais profundo, seria possível
traçar um paralelo entre a crise de 1848 e a depressão de 1929, ambas apresentam falhas
do sistema econômico num estado transicional de um grupo de instituições para outro.
Outra forma de acidente histórico seriam 3 ciclos de diferentes periodicidades por acaso
alcançando fases de depressão simultaneamente.
Para Kindeberger seria preciso entender o locus que originou a depressão, seja
este os EUA, Europa, periferia ou em todos em conjunto; depois entender o que gerou o
problema; e por fim, porque o sistema econômico não conseguiu responder ao problema
pela autorregulação, automaticamente, através do mecanismo de oferta e demanda ou
por resposta macroeconômica através dos sistemas fiscais e monetários. Sendo assim, a
crise poderia ser contida de 2 maneiras: automaticamente ou por políticas públicas, e
para explicar suas consequências é preciso entender a falha das forças automáticas na
economia assim como a falha da máquina de decisões públicas. O autor aponta falha do
padrão ouro, assim como do sistema competitivo no qual, para Smith, cada país
buscando seu próprio interesse atingiria o bem-estar coletivo – o que se prova falho na
medida que as políticas de “empobreça-seu-vizinho” levam a retaliação.
A França não era grande o suficiente para ser forçada a ser responsável, nem
pequena demais para se dar ao luxo da irresponsabilidade. Detinha poder para
desestabilizar, mas não para estabilizar. Ainda que Reino Unido e Estados Unidos
fossem o núcleo ativo do pós-guerra, a posição e as políticas francesas afetaram as
relações internacionais. Dessa maneira, a França foi culpada por prejudicar o sistema
enquanto não tinha capacidade de liderá-lo, sistema que estava no vácuo de uma
potência enfraquecida e outra irresponsável. Um país como a França, deliberadamente
buscando alcançar prestígio ao procurar exercer liderança, sugere que aqueles que estão
buscando resolver os problemas globais muitas vezes estão auto interessados.
Os britânicos se voltam então cada vez mais ao privado, sendo incapazes de lidar
com o bem público, por muito tempo após a guerra economistas britânicos passavam a
lição de que cada país deveria preocupar-se com suas próprias questões sem buscar
interferir em questões externas. Sendo assim, cria-se uma visão de que a depressão foi
resultado do nacionalismo e tarifas, colapso do comércio global, bilateralismo, levando
a conclusão de que no pós-guerra há necessidade de superar o nacionalismo e de buscar
construir um sistema econômico livre com crédito internacional, redução das barreiras
tarifárias e ilegalidade da regulação qualitativa.
Ainda que liderança seja uma palavra com conotação negativa nos anos 1970,
com todo o trauma do nazi fascismo, ainda assim a palavra designa a provisão de uma
responsabilidade de bem público. A necessidade, por exemplo, de limitar a capacidade
de países atrapalharem o interesse geral está hoje virtualmente ligada a algumas das
funções necessárias para estabilizar o sistema econômico global, como os arranjos de
Basle para swaps e créditos de curto-prazo, que servem, na ausência de um banco
central global, como mecanismo de redesconto global em momentos de crise. Nessa
área, assim como nas agências mundiais de manutenção do livre comércio e do livre
fluxo de capital e ajuda externa, liderança se faz necessária na ausência de uma
autoridade delegada.