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Resumo de “A Crise de 1929”, texto 3, por Marichal

As consequências da Primeira Guerra Mundial foram fundamentais para a crise de 1929,


gerando contradições políticas na Europa que impediram de alcançar um novo equilíbrio.

Em 1919 e 1920 o mundo passa por um episódio de grande inflação devido a uma acentuada
demanda global por produtos anteriormente contraída devido as prioridades de guerra. Um
desmantelamento dos mecanismos de regulação do comércio e da produção somada com uma
massa de emissão monetária na guerra e no imediato pós guerra favoreceram a inflação na
Europa.

O retorno a níveis padrões de preço logo depois gerou uma grave contração comercial e
financeira em todo o mundo. Ainda que os Estados Unidos flexibilizassem o crédito, o domínio
da teoria neoclássica econômica ainda era dominante e considerava a deflação e falência
características naturais para a recuperação da economia. Sem ações de baixa nos juros, a
deflação se intensificou e ocorre uma forte recessão entre 1920 e 1921. A Europa e Rússia
também sofreram altíssimas inflações devido a forte impressão monetária.

A Alemanha foi o caso mais grave de hiperinflação de toda a Europa, agravada pelas altíssimas
dívidas de reparações aos vencedores da Primeira Guerra. A dívida gerou reação popular de
repúdio e revolta, gerando conflitos que agravavam a relação entre a Alemanha e os aliados, e
abalou o valor do marco. Ainda que ocorresse um forte aumento de imposto para pagamento
da dívida, ocorre forte oposição sindical para redução. Em meio às dificuldades para estabilizar
os gastos públicos ocorre emissão monetária cada vez mais acelerada gerando em 1922-1923
uma hiperinflação onde os marcos valiam menos que o papel em que eram impressos.

A altíssima inflação destruiu a dívida flutuante do governo (cerca de 50% da dívida pública).
Somado com novas normas monetárias e políticas contracionistas resultou em um déficit
imediato e estancamento da inflação.

A forte pressão europeia sobre o pagamento das reparações alemãs vinha de dívidas de guerra
tomada pela Europa dos Estados Unidos. Keynes propõe a solução de cancelamento e redução
de créditos e indenizações por parte da Europa e Estados Unidos, mas que não foi atendida,
agravando os conflitos entre os países. Dessa forma, em 1924 se dá início ao Plano Dawes que
propunha supervisionar o Banco Alemão pelos aliados em troca de empréstimos e redução do
pagamento de reparações. Assim, os Estados Unidos que financiou o pagamento das
reparações alemãs com europeus na cadeia de empréstimos.

Ocorre o retorno do padrão ouro de muitos países, incentivado pelo Plano Dawes, buscando a
estabilização da economia europeia, prometendo o retorno aos tempos de prosperidade
anteriores à guerra. Esse retorno necessitava de reduções de déficits, estabilização da inflação
e taxas de câmbio e fortalecimento de moedas, gerando fortes políticas contracionistas em
todo o mundo. Países periféricos se voltam ao padrão ouro tendo como âncora da sua moeda a
libra esterlina ou o dólar, fortalecendo a estabilidade do sistema monetário internacional. Os
Estados Unidos, mais fortalecidos que a Grã-Bretanha agora, se torna o novo centro financeiro
internacional.

Um cenário favorável de estabilidade monetária, crescimento do comércio internacional,


indústrias diversas e expansão de empresas multinacionais favoreceu um forte crescimento da
bolsa de valores mundial, sendo o centro desse crescimento a bolsa norte-americana.
Inovações tecnológicas, crescimentos do produto em 4% ao ano e taxas de inflação baixas
gerava forte especulação na bolsa americana.

O cenário passa a mudar, porém, em 1927 com uma queda brusca da Bolsa de Berlim em 1927,
gerando redução dos juros e expansão do crédito para evitar cenários de recessão. Ocorrem
quedas generalizadas em diversas bolsas europeias e falências que gera fuga de capitais para
Nova York. Somado com políticas de acúmulo de ouro da França, isso gerou concentração de
ouro em poucos países gerando pressão de juros e restrição creditícia mundial. A redução de
demanda gerou contração no comércio internacional da América Latina e México.

Em 1929 ocorre a quebra da bolsa de valores de Nova York, gerando fortes quedas em outras
bolsas. Com uma perda gigantesca de capital, o crescimento das empresas ficou extremamente
limitado. Ocorre falências bancárias em diversos países gerando contração de crédito, queda
do consumo e deflação, afetando o comércio internacional com redução do valor das
importações e exportações em 60% entre 1926 e 1932. A queda de preços gerava redução da
receita e inadimplência dos devedores, gerando uma série de pânicos e crises bancárias ao
redor do mundo.

Existem uma série de interpretações sobre os motivos da crise de 1929. Milton Friedman e
Anna Schwartz afirmam que o responsável foi o governo por não adotar políticas anticíclicas
para dar liquidez aos setores e evitar redução de atividade produtiva e possíveis falências.
Peter Temin defende que um movimento de queda nos preços gerou queda nas receitas,
salários e lucros simultaneamente tornando impossível uma recuperação a curto prazo. Bem
Bernanke afirma que a contração de crédito foi responsável principal pela queda na demanda
mundial. Cristina Romer aponta que o aumento da incerteza gerou redução dos investimentos
para empresários e redução na demanda para os consumidores.

Entre 1930 e 1931 ocorre uma forte retirada de depósitos em meio metálico, minando as
reservas dos bancos centrais. Afetados pela falta de liquides, em 21 de setembro a Inglaterra
abandona o padrão ouro e 21 países a acompanham. Os países que optaram pela
desvalorização da moeda e suspensão da conversibilidade experimentaram uma recuperação
mais econômica mais rápida.

Em 1931 ocorre uma reunião para coordenação financeira mundial, que apesar de reduzir
maciçamente a dívida alemã e postergar a dívida europeia não alcançou cooperação entre
políticas monetárias. Se formam blocos monetários resultantes desses conflitos internacionais
e se passa a propagar nos Estados Unidos propaganda anti-europeia devido aos não
pagamentos das dívidas. Ocorre política de limitação da venda de bônus estrangeiro no país e
em 1934 uma série de países suspende os pagamentos das dívidas de guerra os Estados
Unidos.

Com a eleição de Roosevelt em 1933, os Estados Unidos deixa de ser passivo em frente a crise
e entra com políticas de combate à crise e ao desemprego, com flexibilização monetária
aumento do gasto público, criação de postos de trabalho, investimentos em obras públicas e
uma série de criação de agências governamentais e regulações de defesa ao consumidor e ao
comércio americano, experimentando assim uma recuperação da crise de 1929.
Discretamente, os Estados Unidos sai do padrão ouro e desvaloriza a sua moeda.

A Alemanha teve um caminho semelhante aos Estados Unidos no seu processo de recuperação
mas que abriu caminho para a ascensão do nazismo. A política fiscal ortodoxa em um
momento crítico de crise gerou descontentamento político que fortaleceu o nazismo. Com um
grande pacote intervencionista e expansionista, a Alemanha experimentou uma rápida e forte
recuperação e crescimento econômico. Crises em outros países europeus também favoreceram
o crescimento de conflitos e polarizações por toda Europa.

Em 1932 até 1938 a economia mundial tem uma forte recuperação, dada principalmente pela
desvalorização da moeda, suspensão da conversibilidade e políticas expansionistas.

Em decorrência da crise, devido a decisão entre continuar com os serviços da dívida externa ou
atenuar os efeitos da crise, se decide pela suspensão de pagamentos a partir de 1931 com
objetivo de defender sua balança de pagamentos e reservas monetárias. As moratórias
oxigenaram as economias latino-americanas, gerando crescimento e capacidade de
renegociação de dívidas no futuro.

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