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SOFIA TOLOSA PRIMO – 2018.1.39.

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RESENHA VIANNA - DUAS TENTATIVAS DE ESTABILIZAÇÃO 1951-1954
O Governo Vargas se apresentou como uma resposta entre as estratégias
governamentais alternativas ao capitalismo brasileiro e teve fortes influências do
governo Dutra. Além disso, também foi influenciado pela inflação, alta dos preços do
café e pelas instabilidades financeiras do país. O projeto do governo Vargas era
dividido em duas etapas: estabilização econômica e empreendimento. Porém, para a
segunda etapa acontecer era extremamente necessário que a primeira fosse bem
executada. Com a vitória de Vargas nas eleições despertou o interesse dos EUA em
investir nos setores de infraestrutura básica brasileira e foram fundamentais para o
sucesso do plano do governo. Primeiro, porque os investimentos asseguravam que a
primeira etapa daria certo e assim, realizar a segunda etapa sem prejuízos
econômicos.
Com o início do mandato de Vargas o mercado reagia com otimismo levando em
consideração a parceria com os EUA somada às altas dos preços do café. Vargas
fixou a taxa de câmbio a 1 dólar igual a 18 cruzeiros e afrouxou os regimes de
concessão de licenças para importar para facilitar as importações. As liberações para
importar se deu por alguns fatores como a inflação interna e o abastecimento precário
do mercado interno, além da escassez de matérias primas no mercado global, do
crescimento das exportações e do câmbio favorável. A inflação da época pode ser
explicada pela expansão dos meios de pagamento e pela acumulação do saldo das
exportações já que não existia uma política fiscal eficiente. Com o aumento das
importações houve uma forte redução nas reservas nacionais em moedas
conversíveis, principalmente do dólar. Em 1951 com a desvalorização cambial os
exportadores passaram a reter estoque e isso fez com que a balança comercial
tivesse um déficit alto e houvesse um boom nas importações. Dessa forma, uma crise
cambial foi desencadeada.
Para melhorar a situação econômica, as prioridades do governo de dar andamento no
projeto e o pensamento ortodoxo precisaram ficar de lado e o governo passou a focar
em reduzir os gastos do governo e aumentar a arrecadação, adotando, assim,
políticas contracionistas. Além disso, havia três impasses para superar durante o
governo: a presença de Ricardo Jafet na presidência do BB já que os ideais divergiam
e era difícil entrar em consenso na governança; o sistema tributário e as dificuldades
de aprovar leis no Congresso; diminuir os gastos do governo. Em 1951 houve uma
redução nos gatos do governo já que houve uma queda nos investimentos e assim, o
setor privado passou a investir mais no país. Dessa forma, houve um aumento
significativo no resultado da União nesse ano devido ao aumento da arrecadação
somado ao crescimento das importações, levando ao primeiro superávit global a União
desde 1926. Porém, no ano seguinte houve mais que o dobro no déficit global da
União por causa do estouro no déficit de São Paulo. Ademais, houve um conflito nas
políticas monetária e fiscal comparada a creditícia, as primeiras foram conduzidas
ortodoxamente enquanto a segunda foi na direção contrária. Enquanto isso, o Banco
do Brasil influenciava na expansão do crédito por motivos como política fiscal, das
necessidades financeiras dos estados e municípios e o aumento das importações.
Dessa forma, como a moeda nacional estava desvalorizada era houve um aumento no
investimento na importação de bens de capital para a substituição de importações de
bens duráveis. Assim, a demanda por importar equipamentos pressionou a expansão
de crédito aumentando seus níveis. Dessa maneira, o PIB cresceu em 4.9% em 1951
e em 1952 cresceu em 7.3%.
Já em 1953, o panorama do governo não estava nada bom, a crise cambial somada à
vitória do 34º presidente estadunidense general Eisenhoewer além da mudança na
governança do BB. Com isso, ambas etapas do projeto do governo Vargas ruíram e
por isso foi abandonada e adotar, então, medidas para estabilizar a economia e fazer
uma reforma no ministério.
Em 1953 surgiu a lei do Mercado Livre que visava a "liberdade de movimentos pelo
mercado livre de câmbio ao capital estrangeiro no país", principalmente para países da
América Latina. Ademais, o CMBEU (A Comissão Mista Brasil-Estados Unidos para o
Desenvolvimento Econômico) teve fim devido a troca do governo norte-americano
(cujo foco era a Guerra Fria e conter gastos) e as tentativas do Banco Mundial de
controlar a política econômica dos países tomadores de crédito. Além disso, houve
uma pequena desavença entre o Eximbank e o Banco Mundial por uma disputa de
interesses para conceder empréstimos. A lei do mercado livre tinha como principal
objetivo possibilitar o escoamento das exportações e diminuir a propensão em
importar. As importações foram reduzidas por medo de ocorrer uma forte
desvalorização cambial. Além disso, no mesmo ano houve a demissão de Jafet do
Banco do Brasil facilitou para que o ministro da Fazenda Lafer pudesse ter maior
influência no BB. Nos primeiros meses do ano os meios de pagamento aumentaram
de 1 bilhão para 7 bilhões de Cruzeiros, comparados ao ano anterior devido aos
enormes gastos com a seca no Nordeste e outros financiamentos na região, bem
como socorro a bancos. Porém, a situação cambial era a fonte principal de
desestabilização, deixando evidente que a lei 1807 falhou e as exportações pioraram.
Apesar da diminuição das importações nesse ano a baixa evolução das exportações
causou um aumento nos atrasos comerciais. Ademais, os atrasos dos pagamentos do
empréstimo dos EUA aumentaram e por isso o Eximbank suspendeu o acordo feito.
Em junho Lafer deixou o ministério e foi substituído por Osvaldo Aranha, devido a uma
reforma ministerial.
Ainda em 53, as dificuldades do governo continuavam aumentando incluindo greve
dos trabalhadores e vitória de Jânio Quadros para prefeito de SP. Desse modo, a
oposição começou a ganhar força e Vargas precisou se organizar para superar essas
dificuldades e aumentar a sustentação política de seu governo.
4. Nova tentativa de estabilização
A primeira providência tomada para tentar corrigir os déficits do governo foi
homogeneizar o câmbio, que antes era dividido em 3 taxas mistas, para uma única.
Depois, houve a implementação do sistema de pauta mínima que permitia a
negociação apenas divisas correspondentes as cotações mínimas fixadas para cada
tipo de mercadoria. A exportação do café teve resultados imediatos, aumentando de
56% para 81% de 1952 a 1953. Com relação ao empréstimo do Eximbank, houve uma
liberação de 60 milhões de dólares como condição de renegociação. O principal
objetivo de Aranha era comprimir o volume de gastos do governo com bens e serviços
e diminuir o ritmo das obras públicas, conter o processo de industrialização e controlar
as importações e estabilizar o cruzeiro. Tendo esses objetivos definidos, restava
definir como resolver dois principais problemas: a situação cambial e o financiamento
do déficit publico sem emitir moeda e nem expandir o crédito. Dessa forma, a instrução
70 de 1953 da Sumoc foi capaz de resolver os dois problemas.
A instrução 70 reestabeleceu o monopólio cambial do BB e os leilões passaram a
funcionar para regular as importações e proteger a indústria entre outros novos meios
de regulamentação que trouxeram primeiros resultados positivos: aumento na
exportação, estabilizou as importações gerando um saldo positivo na balança
comercial, além de elevar a receita do governo. Apesar de quererem realizar uma
política fiscal austera em seu governo, o cenário econômico não permitiu tal feito,
principalmente pelo déficit no orçamento dos estados e municípios. Por outro lado, a
indústria cresceu mesmo com uma queda no PIB, impactado pela agricultura e a
estagnação no setor de serviços.
Já em 1954, as perspectivas para a economia eram boas principalmente pela receita
gerada pelo café e pela renegociação do empréstimo do Eximbank. Dessa forma,
Aranha queria realizar uma política econômica austera e ortodoxa nesse ano. Então,
houve um aumento na necessidade por crédito por parte dos cafeicultores e dos
estados. Assim, Aranha tinha dois problemas a enfrentar: o problema do café e o
aumento de 100% do salário-mínimo proposto por João Goulart e aceito por Vargas.
Somando as dificuldades com as exportações de café e a queda dos preços do
mesmo com as outras dificuldades do cenário da época, podemos entender que o
Programa Aranha estava comprometido e seus objetivos de adotar política monetária
e creditícia restritivas para combater a inflação foram frustradas.
5. A última crise
Para entender a crise de 1954 e o golpe que derrubou Vargas devemos entender dois
pontos: primeiro a incompatibilidade dos desejos da elite com os vieses de uma
democracia e, em segundo, a conjuntura que isolou Vargas e abriu condições para o
sucesso golpe. A população em sua maioria estava insatisfeita com o governo Vargas.
Os trabalhadores estavam descontentes com o governo e, embora o aumento salarial
aumentasse o apoio, não foi suficiente para sustentar o governo. Ademais, a classe
média urbana também estava descontente pelos escândalos de corrupção e falta de
moralidade do governo. Também a classe importadora estava insatisfeita com os
controles de importação e desvalorizações cambiais. Nesse sentido, a indústria, que
foi impactada negativamente pela Instrução 70 que elevava os custos de produção e
fixava o valor do salário-mínimo. Por fim, os cafeicultores, que foram prejudicados pela
queda nas exportações. Todo esse descontentamento fez com que Vargas se isolasse
politicamente e a oposição passou a ganhar cada vez mais força. Dessa forma, em 54
o presidente suicidou-se e isso gerou uma onda antigolpista e fortaleceu o partido de
centro-esquerda PSD-PTB que futuramente elegeria JK.

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