Você está na página 1de 12

Economia Brasileira Contemporânea II

Águida Cristina Santos Almeida


Capítulo 6 – O fim da âncora cambial
 Ao longo do primeiro mandato de FHC, altera-se a
legislação eleitoral permitindo mandatos de reeleição e
desse modo, FHC concorre à reeleição em 1998 e vence
para um novo mandato (1999-2002)
 Nos primeiros dias de 1999, a situação macroeconômica
do país se agravou fortemente, dando continuidade à
crise cambial desencadeada a partir da moratória da
Rússia, em agosto de 1998.
 Apesar das elevadas taxas de juros, o governo não conseguia
conter a saída de capital.
 Além disso, a base de apoio do governo tinha se enfraquecido
e com isso ampliou-se as dificuldades políticas de aprovar as
medidas de ajuste fiscal, impostas pelo FMI.
 Então, logo nos primeiros dias de janeiro (dia 13 de
janeiro) o governo anunciou a mudança da banda
cambial para a cotação do dólar, e com isso o real foi
desvalorizado em 8,2% (com a cotação do dólar
atingindo o limite superior dessa banda).
 Isso deixou claro que estava em andamento um novo
ataque especulativo contra o Real, testando a capacidade
de o Governo sustentar a cotação do câmbio no novo
patamar estabelecido.
 Contudo, no dia 15 de janeiro (ou seja, 2 após a mudança
da cotação da banda cambial), o governo decidiu mudar
a política cambial, deixando o câmbio flutuar livremente,
apostando que o movimento de mercado definiria o nível
de desvalorização cambial adequada.
 Desse modo, até o dia 29 de janeiro, o país já havia
perdido US$ 8 bilhões em reservas, as quais haviam se
reduzido para US$ 27 bilhões.
 Assim, o Plano Real, fortemente dependente da âncora
cambial, soçobrou-se depois de quatro anos e meio:
 De reformas liberais.
 De sucessivas tentativas de ajustes fiscais.
 De um processo de privatização do patrimônio público.
 Do permanente aviso por economistas de distintas
tendências, acerca da necessidade de correção do
caminho que conduziu o país em direção à crise cambial,
sobretudo após as crises da Ásia, do México e da Rússia.
 E assim, ao longo dos meses de janeiro e fevereiro,
assistiu-se a deterioração do quadro econômico, político
e social, sem perspectivas de solução à vista, o que levou
à sensação de que estaria havendo um processo de
instalação de uma profunda “anomia social”, que poderia
desembocar numa grave crise de governabilidade.
 Para viabilizar a aprovação, no Congresso Nacional, do ajuste
fiscal acertado com o FMI, o governo apelou para os antigos
bordões de “união nacional” e “pacto social”, de uso recorrente
em períodos de crise.
 Nesses momentos, as elites econômicas e políticas tentam se
desresponsabilizarem da liderança que tiveram nos processos,
ao mesmo tempo em que conclamam os setores oposicionistas
a aderirem ao mesmo projeto, impondo-lhes o temor de caos
social, político e econômico.
 Porém, ao longo do mês de março, foram-se gestando as
condições para essa recuperação da “credibilidade” do
país.
 Com isso, foi se revertendo o processo de desvalorização do
real e relativizando-se as projeções “pessimistas”, e isso deu
um novo fôlego político ao Governo de FHC.
 Ainda em março os capitais especulativos começaram a
retornar para o país, estimulados:
 Pelas elevadas taxas de juros;
 Pela redução do IOF;
 Pela aprovação do ajuste fiscal no Congresso Nacional.
 O ajuste fiscal foi efetuado por meio do corte de gastos com o
funcionalismo público, suspensão dos concursos públicos, corte
de recursos dos programas sociais, corte nos incentivos fiscais.
 A partir da mudança do regime cambial no início de
janeiro, o principal objetivo da política econômica do
governo passou a ser o de evitar o ressurgimento da
inflação, procurando impedir que o aumento inicial dos
preços dos produtos comercializáveis contaminassem as
expectativas inflacionárias e os preços dos bens não
comercializáveis.
 Para isso, o governo se lançou numa política de
cerceamento da demanda e de atração ao capital
especulativo, adotando:
 Cortes orçamentários;
 Elevação de impostos;
 Elevação da taxa de juros e de outras medidas que sinalizavam
ganhos, no curto prazo, aos capitais especulativos.
 Essas medidas, numa situação de câmbio mais
desvalorizado, tendiam a impactar positivamente a
balança comercial, dado que gerava redução de
importações, ao passo que estimulava às exportações.
 E como ficou o desempenho da economia nos seis
primeiros meses de 1999?
 Marcado por grande instabilidade cambial, e o quadro
de fragilidade interna e externa da economia se manteve.
 Houve a redefinição dos termos do acordo com o FMI,
que implicou em drásticas restrições fiscais.
 Elevação e posterior redução das taxas de juros.
 Aprovação integral das medidas fiscais pelo Congresso
Nacional.
 Maiores facilidades para a entrada dos capitais
especulativos estrangeiros, bem como o seu retorno.
 Sem mais a “âncora cambial”, permaneceu o cenário de
crescente endividamento externo e interno do país e a mais
uma tentativa de “ajuste fiscal”, que viabilizasse o
pagamento dos juros e a remuneração do capital financeiro
internacional e o objetivo era alcançar ao longo do segundo
mandato de FHC:
 A aprovação da reforma tributária.
 O aprofundamento das reformas liberais.
 A reforma trabalhista, com forte flexibilização das relações entre
capital e trabalho.
 Realizar as privatizações da Petrobrás, do Banco do Brasil e da Caixa
Econômica Federal.
 CONTUDO, o cenário de crise política que marcou o
segundo mandato de FHC, brecou a continuidade da
pauta tão almejada pelo mercado.
 Em resumo, a partir da mudança do regime cambial no
início de janeiro, o principal objetivo da política econômica
do governo permaneceu sendo a estabilidade monetária.
Mas nesse caso, o esforço era evitar o ressurgimento da
inflação.
 Para isso o Governo:
 Utilizou-se de cortes orçamentários;
 Da elevação de impostos;
 Da política de juros altos (praticada também no primeiro
mandato).
E no segundo semestre, a política econômica
estabeleceu o TRIPÉ MACROECONÔMICO (câmbio
flutuante X meta de superávit primário X meta de
inflação).
Referência:

FILGUEIRAS, L. História do Plano Real. São


Paulo: Boitempo, 2006

Você também pode gostar