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EEIMVR - ESCOLA DE ENGENHARIA INDUSTRIAL

METALÚRGICA DE VOLTA REDONDA


CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA

THAÍS SILVA BATISTA

A INFLAÇÃO NO BRASIL DE 1960 ATÉ 2000 E OS PLANOS


ECONÔMICOS DE 1960 ATÉ O PLANO REAL

VOLTA REDONDA
2023
A inflação é um fenômeno econômico que afeta a estabilidade e o poder de compra
de uma economia. No Brasil, o período compreendido entre 1960 e 2000 foi marcado por
altos índices inflacionários, que geraram instabilidade econômica e impactaram a vida
dos brasileiros. Neste trabalho, vamos explorar a trajetória inflacionária no Brasil ao
longo dessas quatro décadas, identificar os principais fatores que contribuíram para a
inflação e discutir as consequências desse fenômeno.

A CRISE DOS ANOS 60, PAEG E AS REFORMAS E O MILAGRE ECONÔMICO

Na decada de 1960, inumeras mudanças, políticas e econômicas ocorreram e


impactaram a sociedade brasileira. Em termos políticos, o sistema brasileiro
passou de um sistema democratico para o regime militar. Em termos
econômicos, a decada de 1960 inicia-se com uma crise, mas, depois, mudanças
institucionais acontecem e recuperam a economia.

A crise dos anos 1960

0 governo Juscelino Kubistchek termina em 1961 e já em 1963 acontece uma


grande crise econômica brasileira, a primeira na fase industrial. O cenário
econômico brasileiro era o seguinte: queda significativa nos investimentos e
na renda e altas taxas de inflação (mais de 90% ao ano em 1964) herdada do
governo anterior (JK). Essa situação pode ser vista na Tabela 1.

Tabela 1: Situação econômica do Brasil entre 1961e 1965.

Crescimento do Crescimento da
Ano lnflação
PIB produção industrial
1961 8,6 11,1 33,2
1962 6,6 8,1 49,4
1963 0,6 -0,2 72,8
1964 3,4 5,0 91,8
1965 2,4 -4,7 65,7

Fonte: A autora.com base em Abreu (1990).


Como podemos ver, o PIB brasileiro aumentou pouco no período, chegando a
crescer menos de 1% em 1963, assim como a produção industrial, que decresceu
em 1963 e 1965. Por outro lado, a taxa de inflaçã quase dobrou de 1961 a 1965.
A crise mostrada na Tabela 1.1 e explicada por Gremaud, Vasconcellos e Toneto
Junior (2011) em quatro grandes grupos, sendo os dois primeiros (a e b) de
carater político e os dois ultimas (c e d) de carater estrutural.

• lnstabilidade política: o presidente eleito em 1961, Janio


Ouadros, era de um partido, e o vice eleito, Joao Goulart (na epoca
presidente e vice eram eleitos separadamente), era de uma
coligação rival. Após 8 meses de mandato, Janio renuncia ao
cargo e seu vice teve dificuldade em assumir a presidência, tendo
conseguido fazê-lo apenas depois de um período no exterior e da
mudança da forma política presidencialista para a parlamentarista
Após conturbado mandato, é instituído o Golpe Militar em 1964.
O impacto dessa instabilidade polftica era a nao manutenc;:ao de
uma polftica econ6mica consistente.

• Crise do populismo: desde 1030 o Brasil era governado por presidentes


considerados populistas. Ouando chegou o infcio da decada de 1960, as
medidas populistas foram pastas em duvida pelas elites brasileiras.

• Política econômica recessiva de combate a inflação: o governo JK deixou altas


taxas de inflação. Então, até 1967, foi adotada uma política econômica regressiva
para combater a inflação. Dentre as medidas restritivas, podemos citar o controle
dos gastos públicos, a redução do crédito e o combate ao excesso da política
monetária. Além disso, diversos problemas climáticos ocorreram,
prejudicando o setor agrícola e a geração de energia elétrica.

• Crise do PSI, crise cíclica e inadequação institucional: redução do


crescimento econômico que se deve ao esgotamento do processo de
substituição de importações; ou a redução dos investimentos em bens de
capital em razão do excesso de capacidade gerada pela dinâmica do plano
de metas; ou, ainda, falta de reforma institucional para proporcionar um
quadro favorável de investimentos.

PLANO DE AÇÃO ECONÔMICA DO GOVERNO (PAEG) E AS REFORMAS


Com objetivo de superar a crise econômica, o governo Castelo Branco lançou o
Plano de Ação Econômica do Governo (PAEG). Esse plano foi dividido em duas
linhas de atuação políticas conjunturais de combate a inflação e reformas
estruturais, e tinha como objetivos acelerar o ritmo de desenvolvimento
econômico, conter a inflação, amenizar os desequilíbrios setoriais e regionais,
aumentar o investimento e o emprego e corrigir a tendência ao desequilíbrio
externo. Desses objetivos, o combate a inflação era considerado o principal do
plano. Para isso, eram necessárias reformas institucionais. Daí que surgem as duas
linhas de atuação do PAEG.

Medidas de combate à inflação


Como o principal objetivo do PAEG era o combate a inflação, que chegou a
83,2% no anode 1963, primeiramente precisamos compreender o tipo de
inflação da época. A inflação foi diagnosticada como de demanda. Ou seja, os
preços subiam em razão do excesso de demanda, o qual, como explicavam os
militares, ocorreu em virtude das medidas populistas dos governos anteriores,
principalmente em termos de política salarial, da tendância do déficit público
e da expansão do crédito. Para combater o excesso de demanda e
consequentemente solucionar os problemas que causavam a inflação, o PAEG
definiu algumas metas:

• Déficit público: para reduzir o déficit público, houve redução dos gastos
e ampliação das receitas. Para isso, foi feita uma reforma tributária e
aumento das tarifas públicas O impacto dessa medida foi redução do
déficit de 4,2% do PIB em 1963 para 1,1% em 1966.

• Expansão do crédit:o para restringir o crédito, os juros reais da


economia e o passivo das empresas aumentaram. Com isso, diversas
empresas faliram e houve uma onda de fusões e aquisições. As
pequenas e médias empresas dos setores de vestuários, alimentos e
construção civil foram as que mais sofreram com essas medidas.
• Política salarial: a taxa de desemprego foi considerada baixa e,
para conter o salário alto (desemprego baixo, salário alto e vice e
versa), foi lançada a Circular 10 de 1965, na quaI eram decididos
os reajustes de salários. A consequencia foi redução do salário
real.

O impacto das medidas citadas acima foi a redução da taxa de inflação de


91,8% em 1964 para 22% em 1968; no entanto, o crescimento
econômico retraiu no mesmo período.
As reformas do PAEG
Para fazer com que o país voltasse a crescer e aprender a conviver
com taxa de inflação moderada (para o governo militar, a inflaçãao e
um mal inevitável para o desenvolvimento econômico e deve-se
aprender a conviver com ela), algumas reformas foram feitas:

• Reforma tributária: os principais elementos da reforma


tributária foram a introdução da correção monetária;
transformação dos impostos tipo cascata em imposto tipo valor
adicionado; criação de novos impostos, como IPI, ICM e ISS;
redistribuição do espaço tributário entre as três esferas (federal,
estadual e municipal) do governo; criação de fundos de
transferência intergovernamental; e centralização das decisões
tributárias no governo federal.

Como consequências da reforma tributária, podemos citar o


aumento da arrecadação e a centralização da arrecadação e das
decisões tributárias na união.

• Reforma monetária – financeira: o objetivo desta reforma era


criar condições para que a política monetária fosse conduzida
independentemente. Para isso, quatro grupos de medidas foram
tomados:

I. lnstituição da correção monetária e criação das Obrigações


Reajustáveis do Tesouro Nacional (ORTN); assim, as
taxas de juros reais positivas estimulavam a poupança e
ampliavam a capacidade de financiamento da economia,
tendo sido desenvolvido o mercado de tftulos.

II. Criação do Conselho Monetário Nacional (CMN) e do


Banco Central (Bacen) - o CMN passou a ser o órgão
normativo da política monetária; e o Bacen, o executor da
política monetária e o agente fiscalizador do sistema
financeiro.

III. Criação do Sistema Financeiro da Habitação (SFH) e do


Banco Nacional da Habitação (BNH).

IV. Reforma do mercado de capitais - definiu as regras de


atuação dos agentes financeiros, tendo como base o
quadro institucional americano. Assim, os bancos
comerciais deveriam operar no crédito de curto
prazo; as financeiras eram as agentes de crédito ao
consumidor; os bancos de investimentos foram criados na
reforma, ofereceriam crédito de médio e longo prazos e
incentivariam as operações do mercado de capitais;
regulação e subordinação ao Bacen da bolsa de valores,
corretoras e distribuidoras.

• Reforma da polftica externa: tinha como objetivo estimular o


desenvolvimento econômico, evitando pressões sobre o balanço de
pagamentos e, assim, eliminar as distorções criadas pelo Processo de
Substituição de lmportações (PSI). Para atingir esse objetivo, foram
definidas duas linhas de atuação: melhorar o comércio externo, mediante
estimulação e diversificação das exportações via incentivos fiscais, e atrair
capital estrangeiro.

O MIL AG RE E CO NÔ MI CO

Após as reformas institucionais do PAEG, que alteraram todo o quadro


institucional brasileiro, o período compreendido entre 1968 a 1973 foi
marcado pelas maiores taxas de crescimento do produto nacional em
conjunto com relativa estabilidade de preços. Esse período ficou conhecido
como milagre econômico, quando a taxa média de crescimento foi acima de
10% ao ano e com taxa de inflação entre 15% e 20% ao ano, conforme Tabela
2.

Tabela 2: Taxas de crescimento (%) entre 1968 e 1973.


Ano PIB lndustria Agricultura Servigos
1968 9,8 14,2 1,4 9,9
1969 9,5 11,2 6,0 9,5
1970 10,4 11,9 5,6 10,5
1971 11,3 11,9 10,2 11,5
1972 12,1 14,0 4,0 12,1
1973 14,0 16,6 0,0 13,4

Fonte: Gremaud, Vasconcellos e Toneto Junior (2011)

Como podemos ver, o PIB cresceu de 9,8% em 1968 para 14% em 1973, e o
principal responsável pelo crescimento foi o setor industrial, isso porque as
reformas institucionais que foram feitas pelo PAEG e a recessão econômica do
período anterior geraram capacidade ociosa no setor industrial e as condições
necessárias para a retomada da demanda.éAlem disso, a economia mundial
cresceu consideravelmente.
Ao final do PAEG e início do milagre econômico, o diagnóstico da inflação
mudou, antes era o excesso de demanda considerado a variável responsável pelas
altas taxas de inflação. Naquele momento, no entanto, os custos e que foram
definidos como o principal determinante. Com a alteração da causa da
inflação, as políticas de contenção da demanda (monetária, creditícia e fiscal)
foram ficando mais frouxas. Somente a política salarial continuou restritiva,
pois era considerada um elemento do custo. Em 1968 foi criado o Conselho
lnterministerial de Preços (CIP) para controlar o aumento de preços.

A retomada do crescimento econômico, por sua vez, deveria ser feita via
investimentos em setores diversificados, com menor participação do
Estado. Assim, os principais resultados do período foram:

I. Retomada do investimento público em infraestrutura, já que o setor


público se recuperou após a reforma fiscal.

II. Aumento do investimento das empresas estatais, como Petrobrás e


Vale do Rio Doce (atual Vale), e criação de 231 novas empresas
públicas.

III. Aumento da demanda por bens duráveis.

IV. Com a expansão do crédito imobiliário, houve crescimento do


setor de construção civil.

V. Como crescimento do comércio mundial e da melhora nos termos


de troca, houve aumento das exportações.

VI. Os setores de bens de consumo Ieve e a agricultura apresentaram


desempenhos modestos.

VII. Aumento médio de 18,1% ao ano no setor de bens de capital.

VIII. Aumento médio de 13,5% ao ano no setor de bens intermediários.

IX. Elevada participação do Estado nos preços da economia, como


salários, cambio, juros e tarifas, e nas decisões de investimentos.

X. Aumento, significativo, na concentração de renda. A política do


governo militar ficou conhecida como "teoria do bolo", segundo a
quaI era defendido que, primeiro, o país deveria crescer e, somente
depois, os benefícios seriam repartidos, assim como um bolo, que
primeiro cresce e cujos pedaços são depois cortados por nós.
CRESCIMENTO COM ENDIVIDAMENTO

A década de 1970 se inicia, então, com o milagre econômico. Apesar disso, ela
não foi uma década, economicamente falando, estável. Logo no início, em 1973,
aconteceu o choque do petróleo, em razão do qual os preços do barril subiram
muito, tendo sido, também, rompido o acordo mundial que procurava estabilizar
as taxas de câmbio internacionais. O mundo, e claro, reagiu a esses
acontecimentos. Nesta seção veremos como o Brasil se portou diante desse quadro
Além disso, outros acontecimentos marcaram o período.

• II Plano Nacional de Desenvolvimento

Começamos a década de 1970 com o rápido crescimento da economia


brasileira, o que acabou gerando alguns desequilíbrios que impactaram na
inflação e na balança comercial, Para se ter uma ideia, ao final do milagre
econômico a taxa de inflação era de 15% ao ano; em meados da mesma década, a
inflação subiu para 40% ao ano e em 1979 já estava em 77,2% ao ano.

Para piorar a situação, em 1973 os países membros da Organização dos Países


Exportadores de Petr6leo (OPEP) quadriplicaram o preço do barril do petróleo,
desencadeando assim o chamado primeiro choque do petróleo. Sendo o
petróleo um insumo fundamental, o mundo entrou em crise.

Como aumento nos preços no barril de petróleo, o saldo de transação em conta


corrente do balanço de pagamentos brasileiro apresentou déficits, uma vez que
o valor das importações aumentou em razão do preço do petróleo e também em
virtude dos bens de capital e insumos básicos necessários para manter a produção
que foi iniciada durante o milagre econômico. Para pagar este déficit, foi
necessário utilizar as reservas.

Dada a situação apresentada acima, em 1974 começou a se discutir o


que fazer para solucionar os problemas conjunturais A discussão se
situou na dicotomia entre ajustamento ou financiamento.

• Ajustamento: conter a demanda interna e evitar que o choque


externo impactasse em altas taxas de inflação permanentes e
corrigir, assim, o desequilíbrio externo.

• Financiamento: manter crescimento elevado e fazer um


ajuste gradual dos preços relativos. Neste caso, partir-se-ia do
princípio de que a crise seria pequena e rápida.
Após analisar as opções, o então ministro Mario Henrique Simonense
sinalizou a opção pelo ajustamento, controlando a demanda via
controle da liquidez. Porém, como se instaurou uma crise
financeira internacional e houve aumento da assistência à liquidez, a
opção pelo ajustamento não pôde ser levada adiante. Além disso, o
aumento da insatisfação ao Regime Militar fez com que o governo
desistisse de conter a demanda e resolvesse, em 1974, lançar o II
Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND). O II PND foi uma
estratégia de financiamento com ajustes na estrutura de oferta de
longo prazo. Em outras palavras, a estrutura produtiva brasileira
seria alterada para, no longo prazo, reduzir a necessidade de
importações e aumentar as exportações. Porém, até isso ser
alcançado, seria necessário financiar o desequilíbrio externo.

Nesse sentido, o objetivo do II PND era manter o crescimento


econômico por volta de 10% ao ano e o crescimento industrial por volta de
12% ao ano. Analisando a Tabela 3, podemos ver se este fato foi atendido.

Tabela 3: Taxas de crescimento entre 1974 e 1979


lndustri Agricultur
Ano PIB Servi!;()S
a a
1974 9,0 7,8 1,0 9,7
1975 5,2 3,8 7,2 2,9
1976 9,8 12,1 2,4 8,9
1977 4,6 2,3 12,1 2,6
1978 4,8 6,1 -3,0 4,3
1979 7,2 6,9 4,9 6,7
Fonte: Gremaud, Vasconcellos e Toneto Junior (2011).

Como podemos ver na Tabela 3, o objetivo do governo ao lançar o II PND não


foi atingido. De fato, no período analisado, houve aumento do crescimento
econômico, mas a níveis mais baixos do que nos anos anteriores.

Apesar de não ter alcançado, em termos de crescimento econômico, o


resultado esperado, o II PND transformou totalmente as prioridades da
industrialização brasileira do período anterior, de um padrão baseado no
crescimento do setor de bens de consumo duráveis com alta concentração de
renda para o de crescimento baseado no setor produtor de meios de produção
(bens de capital e insumos básicos). Segundo Gremaud, Vasconcellos e
Toneto Junior (2011), esperava-se também:
• Reduzir as importações no setor de bens de capital de 52% para 40%.

• Gerar excedente exportável de US$200 milhões.

• Aumentar a produção de aço de 7 milhões de toneladas para 18 milhões


de toneladas.

• Triplicar a produção de alumínio.

• Aumentar a produção de zinco de 15 mil toneladas para 100 mil.

• Ampliação na produção de minério de ferro - Projeto Carajas.

• Aumentar a capacidade hidroelétrica - Projeto Itaipu.

• lncentivar as ferrovias e hidrovias.

0 II PND tinha a seguinte lógica: se as empresas estatais investissem e


dessem incentivos ao setor de insumos, a demanda gerada estimularia o setor
privado a investir no setor de bens de capital.

Entretanto, dois problemas surgiram para executar o plano apoio político


e financiamento do processo. Para o primeiro problema, a solução foi
modernizar as regiões não industrializadas, como, por exemplo, a
construção da siderurgica em ltaqui na Bahia. O financiamento, por sua
vez, foi feito por empréstimos estrangeiros (o crédito estava fácil em
função dos petrodólares), o que aumentou ainda mais a dívida externa.
A situação da economia brasileira no início da década de 1980 era:

• Economia brasileira vulnerável às condições externas, em razão


do segundo choque do petróleo em 1979 e da reversão nas
condições de financiamento internacional.
• Deterioração da situação fiscal do Estado, com a redução na carga
tributária bruta; aumento das éransferências, como de juros sobre
a dívida; déficit das estatais; déficit no orçamento monetário.
• Pressoes inflacionárias em função do desequilíbrio externo,
choques de oferta e déficits públicos.
• Mudança de governo (de Geisel para Figueiredo).

Com o novo presidente, Figueiredo, a inflação voltou a ser considerada


de demanda, e o ministro Delfim Netto implementou algumas medidas
para combater a inflação e retomar o crescimento econômico. As
principais foram:

I. Controle sobre a taxa de juros.

II. Expansão do crédito para a agricultura.

Ill. Eliminação de alguns incentivos fiscais as exportações.

IV Estímulo à capitação externa.

V Maxidesvalorização de 30% do cruzeiro em dezembro de 1979.

Com as medidas, o principal resultado obtido em 1980 foi a aceleração


inflacionária para os 100% ao ano.

CRISE INTERNACIONAL, RESTRIÇÃO EXTERNA E DESCONTROLE


INFLACIONÁRIO
No início da decada de 1980, o Brasil e os demais países em desenvolvimento
passaram pela chamada crise da dívida externa. Para entender melhor essa crise,
é preciso voltar às decadas anteriores.

Nas decadas de 1960 e 1970, o Brasil passou por períodos de crescimento


econômico significativo O maior crescimento econômico aconteceu entre
1968 e 1973, durante o chamado milagre econômico. Porém, para manter o
ritmo, era necessário tomar empréstimos estrangeiros, que, dada a oferta
abundante, eram, portanto, baratos e fáceis de se conseguir No entanto, com
o tempo, os juros reais desses empréstimos aumentaram consideravelmente,
e a soluçãao foi pedir empréstimo ao Fundo Monetário Internacional (FMI).
O FMI, no entanto, exigiu que os países aderissem a um programa que ficou
conhecido como Consenso de Washington.

O Consenso de Washington tinha como objetivo final a quitação das dívidas


Para que isso ocorresse, era exigido que o país passasse a ter superávits fiscais e
comerciais. E como fazer isso? Cortando gastos públicos, reduzindo a demanda
interna e priorizando as exportações As principais regras, segundo Silva (s. D. ),
eram:
I. Ajuste fiscal.

II. Reforma fiscal e tributária.

III. Abertura comercial e econômica.

IV. Taxa de câmbio de mercado competitivo.

V. lnvestimento estrangeiro direto, eliminando as restrições.

VI. Privatização, com a venda das estatais.

VII. Desregulamentação.

VIII. Direito a propriedade intelectual.

O impacto do Consenso de Washington foi a redução no Produto


lnterno per capita (PIB per capita) e o envio de bilhões de dólares para o
exterior. Ainda assim, a inflação continuava em alta.

É importante observar que, segundo os defensores da ortodoxia,


quando há a recessão econômica e, consequentemente, cortes nos
gastos e demanda menor, automaticamente a inflação é reduzida. No
entanto, não foi isso o que ocorreu. A partir daquele momento se
começou a levantar a hipótese de a inflação ser inercial. Antes de
discutirmos inflação inercial, é preciso entender como o ambiente
inflacionário foi formado no Brasil.

A partir de 1973 houve um significativo aumento da taxa de inflação em


razão dos sucessivos choques externos e internos, tais como o primeiro
e o segundo choques do petróleo (1974 e 1979), dos choques das taxas
de juros internacionais no início da década de 1980, das quebras de safras
(os chamados choques agrícolas), das alterações cambiais, entre outros
fatores (GREMAUD; VASCONCELLOS; TONETO JUNIOR, 2011).

No Brasil, mesmo com o baixo crescimento econô mico e a recessão


econômica, as taxas de inflação continuavam altas. Em outras palavras,
os agentes econômicos conseguiam aumentar os seus preços em qualquer
cenário para poderem preservar a renda, o que fazia com que a inflação
aumentasse ainda mais. Por esse motivo, a inflação não era causada pelo
nível de atividade econômica.

Apesar de não ter afetado a inflação, a recessão do início da década de 1980,


mais exatamente 1981 a 1983, contribuiu para melhorar o balanço de
pagamentos, revertendo o déficit em superávit comercial (5,3%). O déficit
comercial foi revertido porque houve redução, significativa, das importações
em 1981/1983 e aumento das exportações em 1984, já que a economia
mundial se recuperou Além disso, implementaram-se a política de
desvalorização cambial e os projetos de incentivo as exportações durante o II
Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND).

Então, a chamada Nova República (1985-1989) iniciou com o seguinte cenario:

• Econômico: economia em crescimento, conta transaçõoes correntes


do balanço de pagamentos equilibrado, e a taxa de inflação em torno de
200% ao ano.

• Político: politicamente, a década de 1980 começou com um quadro


conturbado, pois Tancredo Neves venceu as eleições, mas adoeceu e
morreu nas vésperas da posse, razão pela qual o vice, Jose Sarney, que
havia sido indicado pela oposição, assumiu o cargo e se tornou
presidente da república, marcando a transição entre o regime militar e
a volta da democracia. Em 1986, aconteceram as primeiras eleições
diretas para governador e para o Congresso Nacional, congresso este que
faria a nova Constituição nacional.

E, como sabemos, em razão de não conseguirmos separar economia de


política, as indefinições e mudanças políticas da época, então, foram
refletidas nas políticas econômicas. Em 1985, o ministro da Fazenda
Francisco Dornelles defendia os choques ortodoxos de combate a
inflação. Por sua vez, o ministro do Planejamento era a favor de choques
heterodoxos. Além da inflação, existiam outras diferenças, como a
análise sobre o déficit público A discussão era se o déficit era causado
por excesso de gastos ou se era um componente financeiro. Cada
concepção trazia medidas distintas de combate ao déficit e a inflação.
Os problemas não acabavam por aí. A expansão econômica ocorrida no ano
de 1984 agravou ainda mais os problemas relacionados a estabilização
econômica, pois, no início de década de 1980, a economia brasileira passou por
forte recessão e, em 1984, com um novo cenário, a capacidade ociosa foi
ocupada sem problemas, razão pela qual empregos foram criados. Entretanto,
a continuidade do crescimento em 1985, em razão do aumento das exportações
com a indexação financeira, cambial e salarial, piorava ainda mais a inflação.

Debates sobre as causas da inflação no Brasil


O maior problema da economia brasileira na década de 1980 era a
inflação, que, mesmo nos períodos menos prósperos da economia,
com baixo crescimento, não se reduzia. A taxa de inflação chegou
a 224% em 1984.
Diante desse cenário era quase um consenso que a correção
monetária criada pelo Plano de Ação Econômica do Governo
(PAEG) era uma variável que dificultava o combate à inflação. Apesar
do consenso sobre a necessidade de fazer a desindexação da economia,
a forma de realizá-la não era consensual.

Segundo Castro (2005), em 1984 existiam quatro propostas de


desindexação, que são:

I. Pacto social: a corrente dos economistas do PMDB e da


UNICAMP defendiam que a inflação era resultado de uma
disputa entre os setores da sociedade por uma participação
maior na renda nacional e, a cada momento em que se
conseguia aumentar a renda, maior era a inflação. A solução
era um país democrata em que empresários e trabalhadores
aceitassem não aumentar os preços.

II. Choque ortodoxo: foi defendido por alguns economistas


da FGV que afirmavam que a inflação no Brasil era igual a de
qualquer outro lugar, sendo causada por excesso de moeda para
financiar os gastos do governo A solução seria realizar bruscos
cortes de gastos, aumento das receitas e tributos, liberação
total dos preços e corte na emissão de moeda e títulos da
dívida.

III. Choque heterodoxo: defendido por Francisco Lopes da


PUC/Rio, tinha como principal solução o congelamento de
preços.

IV. Reforma monetária: defendida por André Lara Resende e


Persia Arida da PUC/ Rio, tinha como solução introduzir uma
moeda indexada que circularia paralelamente à moeda oficial
(cruzeiro, no caso).

Os economistas da PUC/Rio, tanto os que defendiam o choque heterodoxo


quanto os que defendiam a reforma monetária, acreditavam que a inflação
era inercial, ou seja, que a inflação corrente dependia da inflação passada e
que a influência do produto sobre a inflação era muito pequena, por
exemplo 15% de redução do produto reduzia 4% ou 6% da inflação ao ano.
Nesse sentido, a inflação era causada não pela demanda ou oferta, mas sim pela
indexação da economia. Para acabar com a inflação era necessária a
desindexação da economia.

Os planos econômicos na década de 1980 utilizaram o instrumento de


congelamento de preçoos, proposto pela linha heterodoxa.

A seguir, vemos uma discussão do que são ajustes heterodoxos e ortodoxos.


Ajustes heterodoxos e ortodoxos
Embora classificar uma política econômica de ortodoxa ou heterodoxa seja
uma tarefa complexa, com limites nem sempre muito bem definidos,
podemos afirmar que, do ponto de vista dos ortodoxos, a inflação é um
processo no qual a inflação corrente e baseada na inflação esperada Para os
heterodoxos, por sua vez, a inflação atual e formada com base na inflação
passada, ou seja, tern causa inercial.

Em termos do "remédio" que cada linha de pensamento defende, podemos


afirmar que, quando falamos em choques/ajustes heterodoxos, nos
referimos a política econômica para combater a inflação que defende o
congelamento de preços por um determinado período, assim como a
indepêndencia das políticas monetária e fiscal (SANDRONI, 2000).

Já a política econômica ortodoxa defende que, para conter a inflação, e


necessário realizar um corte severo na expansão monetária e reduzir o déficit
público Os preços, por sua vez, devem ser liberados para que consigam
chegar ao equilibrio de mercado. Como resultado, há elevação da taxa de
juros, redução dos gastos públicos (investimentos, contenção do consumo e,
consequentemente, recessão econômica, cuja duração e profundidade
dependem de uma série de fatores (SANDRONI, 2000).

Diante da inflação intensa que diversos países sofreram a partir do final dos anos
1970, a política do choque heterodoxo foi aplicada em vários casos,
destacando-se a Argentina, Israel, Bolivia e Brasil.

As tentativas de estabilização II: Os planos Cruzado, Bresser e Verão

De 1985 a 1994, a principal preocupação brasileira era combater a inflação,


que, como já vimos, chegou a valores percentuais altíssimos Para combater a
inflação e estabilizar a economia tivemos, em nove anos, seis planos
econômicos que tinham como objetivo principal estabilizar a economia
brasileira. Ou seja, percebe-se que, praticamente todo ano, tínhamos novos
programas mal sucedidos, além de dez diferentes ministros da fazenda,
alguns dos quais eram ortodoxos e outros eram heterodoxos.
A cada novo plano econômico novas características lhe eram incorporadas, uma
vez que cada um dos planos objetivava tentar não cometer os mesmos erros
do plano anterior. No entanto, praticamente todos os planos tinham um ponto
em comum, que era o diagnóstico da inflação como inercial e, portanto,
utilizavam o mesmo instrumento o congelamento de preços.
Abaixo, seguem três dos seis planos de estabilização econômica da
segunda metade da década de 1985, que são os planos Cruzado, Bresser
e Verão. Os planos Collor serão discutidos mais à frente.

Plano Cruzado
O primeiro plano de estabilização econômica da década de 1980 foi o
Cruzado, sendo implementado no governo Jose Sarney no dia 27 de
fevereiro de 1986, por meio do Decreto-Lei n. 2.283. Esse plano tinha
como objetivo principal combater a inflação.

As principais medidas adotadas pelo Plano Cruzado foram:

I. Congelamento de preços: com exceção da energia elétrica, que


aumentou 20%, todos os demais preços da economia, incluindo as tarifas
públicas, foram congelados no nível do dia do lançamento do plano,
27/02/1986. Essa medida foi tomada para tentar que a inflação passada
não contaminasse a inflação futura.
II. Mudança na unidade do sistema tributário: a moeda deixou de ser
cruzeiro e passou a ser cruzado (um cruzado era equivalente a mil
cruzeiros).
III. Ativos financeiros substituição da ORTN pela OTN com valores
congelados por 12 meses; para contratos pós-fixados, os juros acima da
correção monetária viraram juros nominais e foram proibidos de serem
indexados com prazo menor do que um ano; a poupança passou a ter
correção trimestral; para contratos pre-fixados, foi introduzida a tablita,
que era uma tabela de conversão com desvalorização diaria de 0,45%.
IV. Congelamento dos salários: os salários foram convertidos pelo poder
de compra dos últimos seis meses, mais 8% para salário acima do mínimo
e 16% para o salário mínimo e depois congelados.
V. Congelamento do salário mínimo em CZ$ 804,00.
VI. Gatilho salarial para reajuste dos salários: toda vez que a inflação chegasse
a 20%, os salários seriam reajustados.
VII. Taxa de câmbio: a taxa de câmbio foi fixada no nível no dia 27/02/1986.
VIII. Alugueis: valores médios dos alugueis foram recompostos via fatores
multiplicativos com base em relações média-pico.
IX. Política monetá: a oferta de moeda deveria ser igual a demanda por
moeda, e a taxa de juros foi a variável escolhida para verificar o grau
de liquidez da economia. O impacto foi a monetização excessiva da
economia, reduzindo-se consideravelmente a taxa de juros. Para se ter
uma ideia disso, em março de 1986 o estoque de moeda aumentou em
80%.

lnicialmente, o impacto das medidas do plano cruzado surtiu efeito. A população


ficou animada com o "término· da inflação”. Porém, esse entusiasmo durou
poucos meses porque os efeitos não foram duradouros, conforme podemos
observar na Tabela 4

Tabela 4: Evolução da taxa de inflação em 1986.


Jan. Fev. Mar. Abr. Maio Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov.
17,7 14,9
5,52 -0,58 0,32 0,53 0,63 1,33 1,09 1,39 2,46
9 8
Fonte: Souza (2009).

Analisando a Tabela 4, verifica-se que, assim que o Plano Cruzado foi


lançado, a taxa de inflação reduziu de 14,98% em fevereiro para 5,51% em
março, e em abril, houve deflação. Porém, no mês de maio, a taxa de
inflação voltou a subir e, a cada mês, se tornou mais alta. Essa volta a
inflação pode ser explicada pelas seguintes razões:

I. Congelamento e o tabelamento de preços não eram possíveis em


produtos não padronizáveis (roupas e moradias).
II. Os preços do setor público foram congelados antes de serem
alinhados.
III. Houve estímulo do consumo e inibição da poupança em virtude da
eliminação da correção monetária e da redução das taxas de juros
nominais, o que fez com que diversos produtos faltassem nas
prateleiras dos supermercados e surgisse um mercado negro.

Para tentar solucionar os problemas da oferta sem abrir mão do


congelamento de preços, o governo tomou algumas medidas, entre elas
a isenção de impostos, os subsídios e a liberação da importação de
produtos alimentícios, o confisco de cabeças do gado entre outras.
Porém, com o tempo, o ágio foi criado e os produtos foram maquiados.

IV. Alguns empresários maquiaram os produtos para escapar do


congelamento e do tabelamento.

IIV. A taxa cambial foi congelada durante nove meses e os preços no


mercado interno se elevaram, pois as importações foram
estimuladas e as exportações desestimuladas, aumentando ainda
mais a dívida externa.

Em 24 de junho, foi lançado um pacote fiscal chamado de cruzadinho,


que implantou o sistema de empréstimos compulsórios para compra
de gasolina, automóveis e passagens aéreas internacionais e, com os
recursos obtidos, o plano de metas do governo seria financiado.
Porém, o pacote fiscal não teve o resultado esperado, uma vez que os
produtos que tiveram aumento de preços não foram contabilizados no
índice de inflação para que o "gatilho" não fosse disparado E a hipótese
do término do congelamento de preços não era aceita, principalmente
em razão das eleições para a Assembleia Constituinte e para os governos
estaduais (GRAMAUD; VASCONCELLOS; TONETO JUNIOR, 2011).

Plano Cruzado II

Após as eleições e com ampla vitória do governo, no dia 21 de novembro


de 1986 o Plano Cruzado II foi lançado com objetivo principal de
controlar o déficit público. Para isso, era necessário aumentar em 4% as
receitas, o que seria feito via aumento das tarifas e dos impostos
indiretos. Segundo Souza (2009), as principais medidas do plano foram:

I. Aumento do Imposto sobre Produtos lndustrializados (IPI) de 80%


para automóveis, 120% para cigarros e 100% para bebidas.
II. Aumento de certos preços administrados como, por exemplo, 60%
para combustível, 35% para telefonia e serviços postais e 60% para
energia eletrica.
III. Retorno da minidesvalorização cambial.

O impacto não foi positivo e a inflação continuava aumentando, conforme


a Tabela 5.

Tabela 5: Evolução da taxa de inflação após o Plano Cruzado II.


1986 1987
Nov. Dez. Jan. Fev. Mar. Abr. Maio Jun
2,46 7,56 12,0 14,1 15,0 20,08 27,58 25,88
4 1
Fonte: Souza (2009).

Conforme podemos ver na Tabela 5, o Plano Cruzado II foi lançado em final de


novembro de 1986, quando a taxa de inflação era de 2,46%. No mês seguinte, a
taxa de inflação passou para 7,56% e, com o passar do tempo, só foi aumentando,
chegando a 25,88% em junho de 1987, sete meses após o lançamento do plano.

Além da inflação, outras variáveis sofreram negativamente, como o aumento da


taxa real de juros - em virtude da incerteza inflacionária, razão pela qual o
crédito ficou restrito - , o desaquecimento da demanda a desestruturação da oferta
em razão do longo período de congelamento de preços; a perda de reservas; e o
anúncio da moratória em fevereiro de 1987. Com isso, o ministro da fazenda
Dilson Funaro caiu e Bresser Pereira assumiu o cargo. E, assim encerra de
forma de desastrosa a tentativa do cruzado. Seu fracasso pode ser atribuído tanto
a problemas de concepção como de execução. A duração excessiva do
congelamento, os fatores que provocam o crescimento descontrolado da
demanda e o descaso pelas contas públicas externas com certeza contribuíram
para esse desfecho (GREMAUD; VASCONCELLOS; TONETO JUNIOR.
2011, p. 430).

O fracasso do Plano Cruzado deixou marcas profundas na economia brasileira.


A primeira diz respeito à introdução de um elemento novo, a expectativa
congelamento, ou seja, toda vez que a taxa de inflação aumentava, os agentes
econômicos esperavam que um novo congelamento fosse ocorrer e acabavam
aumentando os preços dos seus produtos antecipadamente, causando aceleração
inflacionária Em termos políticos, o governo teve a credibilidade reduzida,
já que lançou o Plano Cruzado II uma semana após as eleições e alterou os
índices de preços cinco vezes em pouco tempo.
Porém, o Plano Cruzado deixou algumas lições como, por exemplo, a
necessidade do controle da demanda após a estabilização, a necessidade de
choques neutros no sentido distributivo, impossibilidade de manter o
congelamento de preços por muito tempo, entre outras.

Plano Bresser
Após o fracasso do Plano Cruzado e de diversas sequelas para a economia
brasileira, no dia 16 de junho de 1987 foi lançado um novo plano
econômico, o plano Bresser, com elementos ortodoxos e heterodoxos,
além de características positivas do Plano Cruzado.

Diferente do plano anterior, o objetivo do Plano Bresser era conter a


aceleração inflacionária, promovendo choque deflacionário sem o
"gatilho", além da redução do déficit público. As principais medidas
foram:

I. Congelamento de salários por três meses no nível de 12 de junho de 1987.

II. Congelamento de preços por três meses. Houve, no entanto, aumento de


diversos preços, incluindo os públicos, antes do congelamento.

III. Mudança da base do Índice de Preços ao Consumidor para 15 de junho.


IV. Desvalorização cambial de 9,5% e mini desvalorizações diárias, sem
congelamento.

V. Congelamento de alugueis.

VI. Contratos pós-fixados não foram alterados, ao passo que, para os contratos pré-
fixados, foi introduzida a chamada tablita com desvalorização de 15% ao mês.

VII. Criação de um novo indexador, a unidade referencial de preços (URP) para


correção dos salários dos três meses seguintes. A URP entraria em vigor a partir
de setembro de 1987.

VIII. Políticas monetária e fiscal com taxa real de juros para evitar a especulação com
estoques e o consumo.

O Plano Bresser não conseguiu conter a inflação por muito tempo e, assim
como o Plano Cruzado, somente inicialmente surtiu efeito. Os impactos do
plano foram a recuperação da balança comercial e a queda significativa da
produção industrial. No entanto, ele não conseguiu conter a aceleração
inflacionária conforme podemos verificar na Tabela 6.

Tabela 6: Evolução da taxa de inflação após o Plano Bresser.


Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez
25,88 9,33 4,5 8,02 11,15 14,47 15,89

Fonte: Souza (2009).

Como pode ser verificado na Tabela 6, o Plano Bresser foi criado quando
a taxa de inflação estava em 25,88% ao mês. Após sua implementação, a taxa de
inflação reduziu consideravelmente para 9,33% em julho e 4,5% em agosto.
Porém, a partir de setembro de 1987, ela voltou a aumentar.

O Plano Bresser terminou sem atingir o objetivo principal e com o pedido


de demissão do então ministro Bresser Pereira. O seu lugar foi assumido por
Maílson da Nobrega.

Plano Verão
Maílson da Nobrega assumiu o Ministério da Fazenda em dezembro de 1987
e adotou o que ficou conhecido como política feijão com arroz, já que
nenhuma
mágica seria feita, rejeitando-se, portanto, choques heterodoxos de combate à
inflação. A política do ministro tinha como objetivos estabilizar a inflação a uma
taxa de 15% ao mês e reduzir o déficit operacional de 8% para 4% do PIB.

Para atingir os objetivos, os empréstimos ao setor público foram congelados,


houve contenção salarial e redução do prazo de recolhimento dos impostos, e,
no início de janeiro, a moratoria foi suspensa.
O impacto da política feijão com arroz foi a contenção da inflação para
menos do que 20% ao mês no primeiro semestre, mas, no segundo
semestre, a inflação voltou a subir em razão da recomposição das tarifas
públicas Para agravar mais ainda a situação, as contas da União estavam
desequilibradas, pois a Constituição de 1988 aumentou as transferências
da União para estados e municípios, sem repassar as obrigações. Além
disso, o custo da mão de obra aumentava, o que só fazia aumentar a
inflação, que chegou a 28,8% em dezembro de 1988.

No dia 14 de janeiro de 1989, o Plano Verao foi lançado, tendo sido


mais um plano com elementos heterodoxos e ortodoxos. Os elementos
ortodoxos tinham como objetivo conter a demanda, pela diminuição dos
gastos públicos e da elevação das taxas de juros. Os elementos
heterodoxos, por sua vez, visavam promover a desindexação da
economia; para isso, os preços, novamente, foram congelados. Porém,
desta vez os preços foram congelados após o aumento dos diversos preços
administrados, e a data de comparação dos índices de preços foram
alteradas para o dia 15 de janeiro de 1989. Além dos elementos citados
acima, outras medidas foram tomadas:

I. Reforma monetária: a moeda cruzado foi trocada pelo cruzado


novo e três zeros foram cortados; assim, NCz$ 1,00= CZ$
1.000,00.

II. Salários foram convertidos pela média dos últimos doze meses
mais a aplicação da Unidade Referencial de Preços (URP) de
janeiro.

III. Tablita foi aplicada para contratos pré-fixados.

IV. Desvalorização cambial de 18% do cruzado e, na sequência, a taxa


de câmbio fixa foi adotada em NCz$1,00 = US$ 1,00.

O Plano Verão foi curto e o governo não fez nenhum ajuste fiscal, o
que fez com que os déficits publicos continuassem elevados e
crescentes. Em termos políticos, a negociação com o Congresso para
aprovar cinco anos de mandato do presidente impediu quaisquer medidas
mais severas e, em 1989, aconteceria a primeira eleição direta para
presidente após o golpe militar, motivo pelo qual nenhuma medida
impopular seria aceita. O impacto foi o aumento da inflação para 80%
ao mês no último mês do governo.

A tabela 7 apresenta, de forma resumida, as principais medidas dos planos de


estabilização da economia da Nova Republica, os planos Cruzado, Bresser e
Verão.

Tabela 7: Resumo dos planos de estabilização da Nova Republica.


Medida/Plano Cruzado I Bresser Verão
Causa da inflação lnercial lnercial + demanda lnercial + demanda
Congelados por
Congelados por 11 Congelados em três
Preços tempo
meses fases
indeterminado
1.000 cruzados
1.000 cruzeiros = 1
Moeda = 1 cruzado
cruzado X
novo
Proposta: corte das
Proposta: Proposta despesas e aumento
Políticas monetária e acomodatícia contracionista nas receitas
fiscal Prática: Prática: Prática: não
expansionista expansionista aprovada
pelo congresso
Fixo com base em Desvalorizado em
Câmbio Desvalorização real
28/02 16,38%
lndexador IPC ou
Novo indexador
lndexação Proibida por um ano overnight (o que
URP
fosse maior)
Fonte: Giambiagi e Villela (2005).

Como podemos ver na Tabela 7, os planos Cruzado, Bresser e Verão eram


muito parecidos. Todos adotaram o instrumento heterodoxo de combate a
inflação, que é o congelamento de preços. O que variou foi o tempo desse
congelamento. Outro ponto é a indexação da economia, que permaneceu em
todos os planos.
Por último, o resultado foi o mesmo: inicialmente a inflação foi reduzida, mas
logo depois voltou a aumentar.
O Plano Collor e as reformas estruturais

Em 1989 acontece a primeira eleição direta para presidente da republica após


mais de vinte anos de governo militar (a última eleição direta aconteceu em 1960
quando Janio Quadros foi eleito). O novo presidente e o mais jovem da
história do Brasil, na época com apenas 40 anos, Fernando Collor de Mello, do
Partido da Reconstrução Nacional (PRN), derrotou políticos tradicionais, como
Leonel Brizola do PDT e Luiz Inacio Lula da Silva do PT.

Collor assumiu a presidencia em março de 1990, trazendo grandes esperanças


para o país, com um discurso moderno no qual dizia que seria o "caçador
de marajás”, daria assistência às pessoas menos favorecidas, além de
prometer que solucionaria os problemas da década de 1980. Como afirma
Castro (2005), "e eleito, pelo povo brasileiro, Fernando Collor de Mello, numa
operação de autêntico marketing eleitoral, sem precedentes na história do
Brasil" (CASTRO, 2005, p 141). Porém, entrou para a história como o
primeiro presidente brasileiro a passar por um processo de impeachment,
tendo renunciado, entretanto, antes do resultado.

As reformas estruturais
As reformas feitas por Collor tinham como objetivo romper com o modelo
de crescimento brasileiro anterior. Na época, o crescimento econômico estava
associado a politica de substituição de importações e de incentivo à
exportação. Assim, podemos relembrar, que o modelo do pós-guerra até
início da década de 1990 foi marcado pela participação direta do Estado na
infraestrutura e em setores prioritários - como siderurgia, mineração e
petroquímica - , proteção à indístria nacional e financiamento de novos
projetos, através de crédito relativamente fácil. Já as reformas propostas por
Collor estavam relacionadas à abertura comercial e financeira da economia
brasileira e ao processo de de privatização e essa seria uma condição essencial
para que a economia se estabilizasse, mas não foi bem isso o que aconteceu.

As políticas relacionadas à abertura comercial e as privatizações estavam


inseridas na chamada Política Industrial e de Comercio Exterior (PICE), que foi
lançaada assim que Collor assumiu a presidencia. Porém, na prática, a competição
se tornou mais forte do que a competitividade, com base no resultado das urnas,
no contexto internacional, na população não satisfeita com os serviços públicos
prestados e na crise do Estado.

Dentro da Politica Industrial e de Comercio Exterior (PICE) havia o Plano Nacional de


Desestatização (PND), que tinha como objetivos:

I. Redesenhar/modernizar o parque industrial brasileiro.


II. Estabilizar a economia através do novo parque industrial.
III. Reduzir a dívida pública (os títulos seriam aceitos como moeda de privatização).

Porém, na prática, as privatizações não atingiram as metas otimistas criadas


pelo governo. Segundo Castro (2005), durante os governos Collor e ltamar
Franco, foram privatizadas 33 empresas federais, principalmente nos setores
de siderurgia, petroquímica e fertilizantes, que geraram receita de USS 8,6
bilhões, dos quais USS 3,3 bilhões foram transferidos para o setor privado
como pagamento de parte da dívida.

Castro (2005), para explicar os resultados das privatizações, levanta as


seguintes hipóteses:

I. Muitas empresas públicas não estavam em boas condições


financeiras e não existiam interessados por estas.

II. Havia dificuldade em avaliar os ativos das estatais, após anos de


alta inflação.

III. Havia resistência do público e perda da credibilidade do governo.

IV. De acordo com a Constituição de 1988, alguns setores, como o


de jazidas minerais e o elétrico, não poderiam ser privatizados.

V. Não havia experiência em privatizações mais complexas.

Além dos fatores citados acima, a inflação alta e persistente acabou


virando prioridade, e as privatizações foram deixadas em segundo plano.

Em relação às demais reformas estruturais, podemos citar as intensas


alterações na política de comércio exterior e a adoção da taxa de câmbio
livre, que desenvolveram, ainda mais a política de importações
implementada no final da década de 1980. Como medidas, podemos
citar o término da lista de produtos com emissão de gu1as de
importação e de regimes especiais de importação, menos a Zona Franca
de Manaus, drawback e bens de informática. No lugar, foi implantado
o controle tarifário com alíquotas que diminuem ao longo do tempo e
de forma gradual, para importações de todos os produtos, conforme
Tabela 8.
Tabela 8: Alíquotas de importação de setores selecionados (1990-1994).

Setor 1990 1991 1992 1993 1994


lnsumos industriais basicos 12,6 8,3 6,1 4,8 4,3
Bens de capital 36,0 29,2 25,0 21,0 19,3
Veiculos de passageiros 85,0 59,3 49,3 39,3 34,3
Pee;:as e acess6rios de bens de capital 34,0 27,8 24,3 20,9 19,1
Pee;:as e acess6rios de equip. transporte 39,1 31,5 26,3 21,2 18,6
Out 51,2 40,7 33,5 25,7 19,3

Fonte: Castro (2015).

Analisando a Tabela 8, podemos perceber que a proposta de redução


das tarifas de importações ocorreria de forma lenta e duraria quatro anos.
No entanto, o governo Collor acabou em 1992 com a renúncia do então
presidente.

Os Planos Collor de estabilização econômica

Assim como os demais planos econômicos, Cruzado, Bresser e Verão, o Plano


Collor tinha como preocupação principal o combate à inflação. Porém, em razão
da experiencia dos outros - que tinham fortes características heterodoxas- e do
fracasso deles, surgiu um novo diagnóstico da inflação e justificativas para os
planos anteriores não terem dado certo. A principal justificativa foi a de que
os choques inflacionários do governo Sarney não teriam dado certo em razão
da elevada e crescente liquidez dos haveres financeiros não monetários.

Assim, a possibilidade de mudança levava a reações que não eram a favor das
políticas, o que as tornavam inviáveis; ou seja, a possibilidade rápida da
monetização das aplicações financeiras levava ao aumento da demanda de bens
de consumo, de ativos reais e de risco, razão pela qual a inflação aumentava.
Outra consequência era a desvalorização cambial em razão do aumento da
demanda por produtos importados.

Gremaud, Vasconcellos e Toneto Junior (2011) explicam que a "fuga" dos ativos
financeiros em função da queda na taxa de juros nominal é causa por:

I. llusão monetária: a queda do retorno nominal e a dificuldade de


cálculo das taxas reais de juros elevam a demanda por bens de
consumo.
II. Expectativa e o risco de volta da inflação antecipam o consumo.

III. lnflação alta os preços variam e fazem com que a correção monetária
funcione como um hedge.

Para que os fatos citados acima não ocorressem e para que se evitasse
a especulação, era necessário que o governo mantivesse a taxa de juros
alta e estável. Para isso, é dada a situação do país naquele momento, o
instrumento com o qual o governo contava eram as operações de
mercado aberto ou open market.

A operação de mercado aberto consiste na compra e na venda de títulos


públicos. Com a incerteza da época, o Banco Central formava, com base
na expectativa da inflação, as taxas diárias no overnight, indexando os
ativos. A indexação dos ativos impactava os preços e a taxa de câmbio,
que acabavam sendo indexados, ao que se chama indexação plena ou
"financeirização".
E essa indexação inviabilizava as políticas monetária, fiscal e cambial.
Na visão do governo Collor, os planos econômicos até ali criados não
conseguiram romper com os mecanismos de indexação e, por isso,
fracassaram no quesito combate à inflação.

Para romper com a indexação da economia, o governo Collor tomou


algumas medidas, que são, segundo Gremaud, Vasconcellos e Toneto
Junior (2011):

I. Reforma monetária: consistiu no bloqueio de metade dos


depósitos à vista, 80% das aplicações de overnight e fundos de
curto prazo e 1/3 dos depósitos em poupança. 70% do M4 da
economia foi bloqueado. O objetivo era evitar as pressões de
consumo e fazer com que o banco Central fosse capaz de
realizar política monetária ativa.
II. Reforma fiscal: os objetivos da reforma fiscal eram promover
ajuste fiscal em 10% do PIB, eliminar um déficit projetado de
8% do PIB e gerar um superávit de 2%. Para atingir o objetivo,
o ajuste seria feito via redução do custo de rolagem da dívida
pública, suspensão dos subsídios, incentivos fiscais e isenções,
ampliação da base tributária, tributação das grandes fortunas,
proibição de cheques ao portador e IOF alto sobre o estoque de
ativos financeiros.
III. Reforma administrativa: programa de privatizações, melhorias
dos instrumentos de fiscalização e de arrecadação para reduzir a
sonegação e as fraudes, maior controle sobre os bancos estaduais.
IV. Congelamento de preços e desindexação dos salários em relação à
inflação passada: nova regrade prefixação de preços e salários a
partir de 1 de maio de 1990.
V. Mudança do regime cambial: com objetivo de abrir a economia,
haveria redução qualitativa das tarifas de importação de 40% para
menos de 20% em média em quatro anos.
VI. Contratos e ativos financeiros: não houve alteração nas regras de
indexação.

A principal medida do Plano Collor I foi o confisco da liquidez. Porém, o


impacto imediato foi a desestruturação do sistema produtivo (redução nas
encomendas, demissões, férias coletivas, redução na jornada de trabalho,
redução nos salários etc), o que fez com as condições de emprego e produção
fossem desorganizadas. Com isso, o PIB retraiu 8% no segundo trimestre de
1990.

Com a rejeição da população ao plano econômico e o impacto sobre o PIB, o


medo de uma recessão surgiu, razão pela qual o governo tomou algumas
medidas. Entre estas, podemos citar:

I. Devolução da liquidez da maior parte da população pelas chamadas


"torneirinhas” do Banco Central. Com isso, a liquidez foi retomada,
mas de forma desigual entre os setores econômicos.

II. Relaxamento no controle de preços e salários a partir de maio, o que


levou, junto com a liquidez, ao aumento da inflação.

III. Superávit de 1,2%do PIB.

IV. Não implantação da proposta de demissão dos funcionários públicos,


uma vez que ela não tinha apoio do Congresso.

V. Duras críticas as regras do Programa de Privatização.

VI. Valorização da taxa de câmbio no segundo semestre, o que impactou


em déficit na balança comercial. O governo foi obrigado a intervir no
mercado cambial, desvalorizando, fortemente, o cruzeiro, o que
contribuiu para o aumento da inflação.

Com todas as dificuldades do Plano Collor I, em primeiro de fevereiro


de 1991, um novo plano, desta vez mais heterodoxo, foi criado: o Plano
Collor II, que tinha como objetivo combater a inflação que estava a 20%
ao mês.
Para atingir o objetivo, o Plano Collor II tomou as seguintes medidas:
racionalização dos gastos da administração pública, corte das despesas e
aceleração do processo de modernização do parque industrial
(CASTRO, 2005).

O Plano Collor II propunha, também, acabar com a indexação da


economia, que era a principal causa da inflação. Para isso, o Bônus do
Tesouro Nacional e os fundos de investimento de curto prazo foram
extintos. Foi criado o Fundo da Aplicação Financeira (FAF) que teria
a Taxa Referencial (TR) como rendimento; e alteração na indexação da
TR, que agora era baseada na inflação futura e não mais na passada.

Inicialmente, a taxa de inflação foi reduzida. Entretanto, com tantos


escândalos políticos e com a discussão sobre o impeachment do
presidente Collor, o governo perdeu credibilidade e a inflação voltou
a subir. Após a crise política, em dezembro de 1992, Fernando Collor
de Mello renunciou, e seu vice, Itamar Franco, assumiu a presidência
da república.

Após inúmeras tentativas de combate a inflação da década de 1980, os anos


1990 se iniciam cheios de desafios, não apenas no lado econômico, mas
também no lado político.

Qual era o maior desafio da década de 1990?

Economicamente, passamos por cinco planos econômicos que tinham como


objetivo principal o combate à inflação, nos quais foram utilizados para
execução
os choques heterodoxos, mesmo que, em alguns períodos, choques ortodoxos
estivessem presentes Porém, como sabemos, nenhum dos planos atingiu o
objetivo, e a década de 1990 continuava com o desafio de estabilizar os preços,
sem falar na recessão que a economia brasileira atravessava.

Em 1991, após a substituição da Ministra Zelia Cardoso e com o fim do Plano


Collor II, a política econômica ficou restrita ao controle do fluxo de caixa, ou
seja, redução das despesas, incluindo redução nos investimentos. Naquele
mesmo ano, o congresso aprovou a indexação de impostos, tendo sido lançado
um programa anti-inflacionário com forte restrição do crédito, recuperação das
finanças púbicas e manutenção da taxa de câmbio real. O impacto foi recessão
sem redução da taxa de inflação.

Do ponto de vista externo, em razão das altas taxas de juros e com uma política
cambial definida na manutenção da taxa de câmbio real, combinadas com a
abertura financeira e com um cenário de desaquecimento internacional,
promoveu- se a entrada de capital externo no Brasil e, consequentemente, houve
elevação das reservas (GREMAUD; VASCONCELLOS; TONETO JUNIOR,
2011).

O impacto negativo foi o aumento da dívida pública, uma vez que a entrada
de recursos externos pressionava a expansão monetária e, para que não houvesse
valorização cambial, eram lançaados títulos públicos no mercado.

Em termos políticos, no início da década de 1990 passávamos pela crise política do


impeachment, o que trouxe ainda mais instabilidade a nossa economia. Em dezembro
de 1992, Collor renunciou e em seu lugar assumiu ltamar Franco, que se colocava como
um governo de transição, tornando a política econômica indefinida com troca de
ministros.

Em 1993, Fernando Henrique Cardoso assumiu o Ministério da Fazenda


e começou a gestão do Plano Real. As primeiras medidas foram relacionadas
à melhorias das contas públicas, com a aprovação do Imposto Provisório sobre
Movimentação Financeira (IPMF) e do Plano de Ação lmediata (PAI).

Com a melhoria nas contas públicas, o aumento da indexação e a ausência de


choques, a inflação voltou a ter caráter inercial. De 1993 a 1994, o fluxo de
capitais cresceu, o que ampliou as reservas cambiais brasileiras e, em junho de
1994, o novo plano econômico, o Real, foi lançado.

Principais planos econômicos adotados no Brasil, desde a década de 1960


até o Plano Real em 1994, destacando suas características, objetivos e
resultados.

Plano de Metas (Governo Juscelino Kubitschek, 1956-1961):

Objetivo: Promover o desenvolvimento acelerado da economia brasileira.


Principais medidas: Investimentos em infraestrutura, industrialização e
modernização do país.
Resultados: Aceleração do crescimento econômico, mas com pressões
inflacionárias e desequilíbrios externos.

Plano Trienal (Governo João Goulart, 1963-1964):


Objetivo: Controlar a inflação e promover o desenvolvimento econômico.
Principais medidas: Aumento dos gastos públicos, intervenção estatal na
economia e controle de preços.
Resultados: Insuficiente para conter a inflação, agravando os desequilíbrios
econômicos e políticos.

Plano Cruzado (Governo José Sarney, 1986-1990):

Objetivo: Estabilizar a economia e combater a inflação.


Principais medidas: Congelamento de preços e salários, substituição da moeda,
controle cambial.
Resultados: Inicialmente, sucesso no controle inflacionário, mas a desindexação
da economia e a falta de medidas estruturais levaram ao fracasso do plano e ao
retorno da inflação.
Plano Collor (Governo Fernando Collor, 1990-1992):

Objetivo: Combater a inflação e promover a abertura econômica.


Principais medidas: Bloqueio de ativos financeiros, congelamento de preços e
abertura comercial.
Resultados: Eficaz no controle da inflação a curto prazo, mas com impactos
negativos na economia e problemas políticos, culminando no impeachment do
presidente.

Plano Real (Governo Itamar Franco/Fernando Henrique Cardoso, 1993-


1994):

Objetivo: Estabilizar a economia, controlar a inflação e promover o crescimento


sustentável.
Principais medidas: Introdução da moeda Real, controle rigoroso da política
monetária, programa de privatizações.
Resultados: Sucesso no controle inflacionário, estabilidade econômica,
retomada do crescimento e aumento da confiança no país.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÀFICAS:

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• MOREIRA DA FONSECA BOECHAT, Andréia, Economia Brasileira
Contemporânea.

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