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29/08/2018

Graduação em Relações Internacionais - UFU

Economia Brasileira
Contemporânea II
02/2018

Bruno Benzaquen Perosa


brperosa@gmail.com
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Conjuntura - inicio dos anos 1960


• Entre 1956-62 economia brasileira viveu momento brilhante
(em torno de 8% a.a. de crescimento do PIB) - industrialização
• Investimento em indústria de base e de bens de capital –
“completa” ciclo da PSI (ISI)
• Economia se desenvolveu sob JK - problemas fiscais, inflação
• Efervescência cultural, artística e esportiva
• A partir de 1961 conjuntura política se torna instável
• Polarização das instituições políticas no governo Jango
• Economia começa a desacelerar em 1962 /1963 - cresce apenas
0,6%
• Plano trienal (1963) - tentativa de reduzir desaceleração 2

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Plano trienal (Furtado, 1963)


• Objetivos:
– Garantir taxa de crescimento de 7,0% a.a.
– Reduzir inflação de 25% em 1963 para 10% em 1965
– Garantir aumento de salários com a produtividade
– Reforma agrária - solução de problemas sociais e aumento de
consumo de bens industriais
– Renegociar divida externa e reduzir encargos da divida
• Inflação
– Diagnostico de excesso de demanda devido ao déficit publico
– Medidas “ortodoxas” - corte de despesas, correção de tarifas publicas,
controle de credito e moeda, etc.
• Crescimento
– Plano mais heterodoxo “tradição cepalina” - (PSI) pela ampliação de
mercado interno com melhora na distribuição de renda 3

Fracasso do plano trienal


• Sérios problemas de balanço de pagamento
• Necessidade de financiamento externo - missão San
Tiago Dantas
• Sem apoio dos EUA - visão de esquerda
– Lei de remessas de lucros aprovada no ano anterior
• Pouco êxito na renegociação da dívida
• Jango abandona ortodoxia (ajuste fiscal):
– Aumento de salários (mínimo em 56% e 60% do
funcionalismo)
– Aumento de subsídios ao trigo e petróleo (abolidos em 1963
devido a contenção fiscal)
• Inflação volta a subir – fragiliza posição de Jango 4

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Recessão a partir de 1963


• Forte reversão da situação econômica com:
– queda dos investimentos
– queda da taxa de crescimento da renda
– aceleração da inflação

PRODUTO E INFLAÇÃO: 1961-1965.


Crescimento
Crescimento do Taxa de Inflação
Ano da Produção
PIB (%) (IGP-DI) (%)*
Industrial (%)
1961 8,6 11,1 33,2
1962 6,6 8,1 49,4
1963 0,6 -0,2 72,8
1964 3,4 5,0 91,8
1965 2,4 -4,7 65,7
Fonte: Abreu (1990)
* IPC-RJ

• Por que estaria ocorrendo essa inversão?

• Diversas explicações para reversão do crescimento


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A crise dos anos 60 e suas explicações

Conjunturais Estruturais

Políticas A.Instabilidade política B. Crise do Populismo

D. Estagnacionismo – crise PSI


Econômicas C. Política Econômica E. Crise cíclica endógena de uma
recessiva de combate a economia industrial
inflação F. Inadequação institucional

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A Crise dos anos 60 e suas explicações


1 - Conjuntural Política
Instabilidade política do início dos anos 60:
• O Presidente Jânio Quadros renuncia depois de 8 meses de
mandato e o vice João Goulart enfrenta dificuldades para
assumir.
• Jango assume em um período de grandes turbulências - Brasil
passa para o regime parlamentarista, que dura apenas três anos.
• As trocas de presidentes e ministérios impediam a adoção de
uma política consistente, dificultando o cálculo econômico e
diminuindo os investimentos no país

A Crise dos anos 60 e suas explicações


2 - Estrutural Política
Crise do populismo
• A chamada crise do populismo está na raiz da instabilidade
política e da crise econômica, além de explicar também o golpe
militar de março de 1964.
• Os governos populistas desde a revolução de 1930 deviam
incorporar as massas urbanas como base de apoio político sem
que as concessões fossem exageradas do ponto de vista
patronal e sem estender estas concessões para o campo nem
alterar a estrutura agrária do país
• Existe um limite para esse processo - exige um crescimento
econômico vigoroso somado a um processo de industrialização
da economia
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A Crise dos anos 60 e suas explicações


3 - Conjuntural Econômica
Política Econômica Recessiva de Combate a
Inflação
• Política econômica restritiva que foi adotada até 1967 como
forma de combate à inflação pós Plano de Metas levam à
diminuição da atividade econômica.
• Pode-se destacar dois planos de estabilização: Trienal (62) e PAEG
(64)
• Tais planos de estabilização adotam medidas como o controle dos
gastos públicos, a diminuição do crédito e o combate aos
excessos da política monetária.

A Crise dos anos 60 e suas explicações


4 - Estrutural Econômica

Visão estagnacionista
• A redução nas taxas de crescimento do produto se devem ao
esgotamento do dinamismo do PSI exigindo cada vez mais
recursos financeiros e tecnológicos com retorno cada vez
menores (em termos de geração de emprego e renda).
• Pelo lado da demanda, os novos setores a serem substituídos
possuem economias de escala cada vez maiores, exigindo
uma demanda também cada vez maior para viabilizar.
• Como o PSI é concentrador, o crescimento do mercado não se
faz a taxas suficientes para viabilizar os novos investimentos.

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A Crise dos anos 60 e suas explicações


4 - Estrutural Econômica

Crise cíclica endógena


• A crise dos anos 60 se deve a uma desaceleração dos
investimentos em bens de capital que repercute sobre o
restante da economia.
• A queda destes investimentos se deve ao fato que o
Plano de Metas representara um grande bloco de
investimentos que acabou por gerar excesso de
capacidade produtiva.
• Típica de uma economia industrial ou capitalista.

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A Crise dos anos 60 e suas explicações


4 - Estrutural Econômica

Inadequação institucional
• necessárias reformas institucionais para a retomada dos
investimentos.
• Sem as reformas não havia mecanismos de
financiamento adequados, tanto para o setor público
como para o setor privado
• Outras problemas: estrutura fundiária, acesso à
educação, legislação incompatível com as taxas de
inflação etc.

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Os Governos Militares e o PAEG


• O Golpe militar impõe de forma autoritária uma solução para a
crise política - “ameaça comunista”

• Castelo Branco lança o PAEG (Plano de Ação Econômica do


Governo), tendo como ministros Roberto Campos e Octavio
Gouvêa de Bulhões.
– O governo possui duas linhas de atuação:
à Políticas conjunturais de combate à inflação
à Reformas estruturais

• O controle inflacionário e as formas de conviver com a inflação


eram vistos como pré-condições para a retomada do
desenvolvimento.

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Medidas de combate à inflação do PAEG


• O diagnóstico da inflação: excesso de demanda
• déficit público
• política salarial frouxa (acima da produtividade)
• falta de controle sobre a expansão do crédito
• As principais medidas estabilizadoras do PAEG:
• Redução do déficit público – novas formas de financiamento
e aumento das tarifas públicas - inflação corretiva
• Restrição do crédito e aperto monetário - aumento das taxas
de juros, melhora dos mecanismos de controle
• Política salarial - “Circular 10” leva ao arrocho salarial
(fórmula para ajuste anual)
– Média de últimos 24 meses + aumento de produtividade +
inflação “programada pelo governo”
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Uma nova atitude frente à inflação


Os governantes do regime militar implementaram uma
forma peculiar de lidar com a inflação:
– deve-se aprender a conviver com a inflação
– surge a noção de correção monetária e indexação - inflação
corretiva dos preços relativos.
– Adota-se uma atitude gradualista no combate à inflação -
atenuá-la em 3 anos.
– Deixam-se de lado os tratamentos de choque.
• Falta sustentação política após o golpe para adotar
medidas austeras na área fiscal e monetária e assim
conter a inflação

• Inflação cai - as medidas teriam auferido êxito?


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Por que caiu a inflação?


Este resultado se deve em grande parte à
própria retração nas taxas de crescimento
econômico???
PRODUTO E INFLAÇÃO: 1964-1968.
Crescimento
Crescimento do Taxa de Inflação
Ano da Produção
PIB (%) (IGP-DI) (%)
Industrial (%)
1964 3,4 5,0 91,8
1965 2,4 -4,7 65,7
1966 6,7 11,7 41,3
1967 4,2 2,2 30,4
1968 9,8 14,2 22,0
Fonte: Abreu (1990)
* IPC-RJ
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Economia dando sustentação política


aos militares
• O regime de exceção democrática demandava
garantia da renda (principalmente classe
média)
• Estabilizar a economia era pré-condição para
iniciar uma expansão dos investimentos - se
inicia em 1967
• Desafio do PAEG - estabilizar inflação, sem
levar a economia a recessão e reduzir a renda
– “Mágica” da correção monetária
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Reformas institucionais (estruturais) do


início dos governos militares

As principais reformas instituídas pelo


PAEG foram:
A. Reforma tributária.
B. Reforma monetária-financeira.
C. Reforma do setor externo.

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A Reforma Tributária (1)


Os principais elementos desta reforma foram:
– introdução da correção monetária no sistema tributário.
– transformação dos impostos em cascata em impostos sobre valor
adicionado, como o IPI e o ICM.
– redefinição do espaço tributário entre as diversas esferas do governo.
União - IPI, IR (base ampliada), ITR. Centralização da
Estados - ICM. arrecadação na esfera
federal
Municípios - ISS e IPTU.
– foram criados os fundos de transferência intergovernamentais: os Fundo
de Participação dos Estados e o dos Município (cota-parte)
– Forma de corrigir centralização da arrecadação - percentual
de impostos e retornado a localização de arrecadação
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A Reforma Tributária (2)

• Ainda quanto à questão da arrecadação, devem-se destacar:


• Surgimento de vários fundos parafiscais, como o FGTS e o PIS
(fontes de poupança compulsória para atividades não estatais).
• A chamada inflação corretiva - aumento de tarifas públicas e
retirada de subsídios a vários produtos

• Principais consequências da reforma tributária:


• Aumento da arrecadação e dos impostos
• De 16% PIB em 1963 para 25% do PIB em 1967
• Centralização da arrecadação e das decisões de política tributária
• Sistema continua injusto (impostos regressivo) - beneficiou pessoa
física de renda mais elevada (isenções de IR e manobras de pessoa
jurídica) 21

A Reforma Monetária – Financeira (1)


Objetivos:
– criar condições de condução independente da política
monetária e direcionar os recursos às atividades
econômicas
– Desenvolvimento de um sistema financeiro privado
• Ajudar a financiar processo de industrialização
• Reduzir impacto inflacionário da emissão de moeda pelo governo
– títulos públicos

Esta reforma divide-se em 4 grupos de medidas


1. Instituição da correção monetária (taxas de juros
positivas) e da ORTN
busca-se desenvolver o mercado de títulos públicos e novos instrumento de
financiamento não inflacionários do déficit público 22

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A Reforma Monetária – Financeira (2)


2. Criação do CMN e do Bacen
• CMN: órgão normativo da política monetária
• Bacen: órgão executor da política monetária, fiscalizador do
sistema financeiro

Procurava-se criar condições de independência da política


monetária, mas vários problemas permaneciam:
• Ingerência política na atuação do Bacen (subordinado ao CMN)
• Conta Movimento , permitia ao BB expandir sem limites suas
operações de crédito (não era contabilizada)
• Orçamento Monetário que passou a receber vários gastos de
origem fiscal, com a criação de vários fundos e programas
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A Reforma Monetária – Financeira (3)


3. Criação do SFH (Sistema Financeiro da Habitação) e
do BNH (Banco Nacional da Habitação).
• Objetivo: eliminar déficit habitacional atribuído à
falta de financiamento

4. Reforma do sistema financeiro e do mercado de


capitais
• Baseado no modelo financeiro norte-americano
caracterizado pela especialização e segmentação
do mercado

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A Reforma do Setor Externo


• Objetivos:
– Estimular o desenvolvimento evitando as pressões sobre o Balanço de
Pagamentos.
– Melhorar o comércio externo e atrair o capital estrangeiro.

• Comércio externo
– Exportações: incentivos fiscais e modernização dos órgãos ligados ao comércio
internacional (CACEX e CPA).
– Importações: eliminar os limites quantitativos
– Unificação do sistema cambial e adoção do sistema de minidesvalorizações -
“crowling peg”(1968)

• Atração do capital estrangeiro:


– Renegociação da dívida externa e Acordo de Garantias para o capital
estrangeiro.
– Lei 4131 e resolução 63
• 4.131 (captação direta no exterior) e Resolução 63 (captação externa através da
intermediação de um banco brasileiro)
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Sucesso parcial do PAEG


• Politica fiscal e monetária restritiva junto com arrocho salarial
ajudaram a controlar a inflação (nunca atingiu a meta)
– Seleção de custos que deveriam ser reprimidos e de quais deveriam ser
mantidos ou reajustados

• Aumento de outros “custos básicos” reduziram beneficio para


crescimento econômico
– Impostos e tarifas publicas
– Juros elevado (necessário para conter a inflação)

• Cambio em nível adequado e fraco crescimento em 64-65


permitiu equilíbrio externo

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