Você está na página 1de 12

ROTEIRO - A crise da Dívida Externa,

tentativa de ajuste e a recessão do início


dos anos 1980(1979-1984)
a) Introdução

Paradoxo do período como um todo: se antes


endividamento externo justificado como forma de
superar constrangimento externo, agora
endividamento vira o próprio constrangimento
externo

- Necessidade de dólares, torna superávit da


balança comercial a questão central
(X – M) – alto – vira preocupação central.

- Sem renegociação da dívida externa, que é o que


de fato acontece, a necessidade de exportar e
conter importação é imediata!

- Assim, a necessidade de desviar capacidade


produtiva interna para exportação, vai reduzir a
produção imediata interna de bens de consumo e
bens de investimento. Em tese, é possível
havendo capacidade ociosa, ampliar produção
1
para exportação sem reduzir produção para
mercado interno, mas no caso do Brasil, como a
necessidade de gerar dólares é enorme e abrupta,
torna-se necessário substituir produção para
mercado interno por produção para
exportação(política dos excedentes exportáveis)

- Assim, há a necessidade de contenção da


demanda de forma a diminuir importações, e de
forma a evitar que capacidade produtiva seja
ocupada em demasia com mercado interno(em
detrimento das exportações). Passa a haver um
viés recessivo deliberado nas políticas, sobretudo
a partir de 1981.

- Como veremos, em parte estimulada pelo


governo e em parte como decorrência da situação
econômica ocorre:
a) Piora na distribuição de renda no
período como um todo que tende a reduzir a
demanda relativa por bens de consumo
b) Queda dos investimentos

- Ambos os fatores, ajudam no objetivo de


produzir “excedentes exportáveis”, mas colocam o
o seguinte dilema: com fica a perspectiva da
2
continuidade do crescimento e desenvolvimento
econômico, do “Brasil potência”, da adequação do
país às mudanças tecnológicas(Terceira Revolução
Industrial?)

Por fim, outros elementos introdutórios importantes:


- A partir de 1979, EUA e mundo em recessão
- América Latina, para quem exportávamos
muito, passa pelo mesmo processo que nós e reduz
exportações.
- Credores privados da dívida são duros na
negociação, e mesmo governo americano não
endossa mais a “hegemonia benigna”

b) 1979: novas dificuldades e a tentativa de


ajuste de Simonsen

Figueiredo assume: clima de maior questionamento,


maior mobilização da sociedade(Anistia, greves do
ABC, etc)

Nov.1979: Mudança na política salarial: agora


reajuste pelo pico e semestral.

3
SIMONSEN vira superministro: cenário Inflação
acelerando...chegaria a 77% em 1979...Problemas
sérios no balanço de pagamentos

Ele propõe Ajuste para conter demanda, mesmo


antes de país levar duas “trombadas” em 1979:
Segundo choque petróleo + FED Volcker(triplica juros
básico dos EUA)

Aí SIMONSEN quer ajuste pesadíssimo...!.

Mas medo da recessão e “fogo amigo” dentro do


governo derrubam Simonsen

c)Segundo Semestre de 1979 e ano de 1980: volta


de Delfim e tentativa de “ajuste heterodoxo”

Nova Estratégia:

Estruturalmente: “III PND”: novos eixos...agricultura,


exportação, energia. Sintomático: não mais indústria
como eixo

4
Conjunturalmente: para Delfim problema das contas
externas não é problema de demanda mas sim de
preços relativos!!!

Inflação deve ser combatida sem recessão: Ajuste


não recessivo...

Assim, política fiscal não é restritiva: incentivo fiscal


exportação, agricultura de um lado, mas corte nos
gastos das estatais em outro.

Mas medida principal: MAXIDESVALORIZAÇÃO de


30%...dólar do dia para noite sobe 30%!

Como lidar com potencial subida da inflação:


- controle de preços

E FUNDAMENTAL: prefixação da correção monetária


e cambial!

1980: GOVERNO impõe correção da inflação e dólar


em 50% no ano!

Todavia não deu certo!!!!Inflação chegaria a 110%!!!


5
Belluzzo e Coutinho chamam essa política de
“Heterodoxia Desastrada”:

- Economia até cresce bem no ano, mas objetivo


principal de superávit comercial é totalmente
fracassado: A inflação efetiva (110%) foi maior que a
desvalorização do câmbio inicial feita pelo
governo(30%) e a correção prefixada do
câmbio(50%): Logo houve estímulo para mais
importações e menos exportações, dado que inflação
cresceu mais que o dólar!

- Ademais, CHOQUE nas EXPECTATIVAS: governo


mexeu no valor dos ativos financeiros(ORTN, o
principal) que eram tidos como protetores da riqueza
contra inflação.

Assim, no ano de 1980: fuga da riqueza para imóveis,


carros, estocagem, ações, dólar
paralelo...instabilidade da riqueza e risco de
HIPERINFLAÇÂO aparecem!

d) 1981/1982: Recessão sem o FMI

6
Dada dívida externa, que no período é pública em
grande medida: Economistas da oposição defedem
renegociação da dívida externa e reforma fiscal...

Mas Delfim em 1981/1983...acata o que Simonsen


queria ter feito antes: ajuste restritivo da demanda!

Políticas Fiscal e Monetária restritivas:

Juro em especial muito como forma de atrair


empréstimo externo

Resultado...queda do PIB: - 4,3%(1981), indústria


desaba....

E situação fiscal piora: queda na


arrecadação(recessão mais “Efeito tanzi), ademais
juros altos oneram dívida pública...

Assim também não vem IED, dada recessão! E


também aumentam remessas ao exterior, o que
piora situação externa do pais.

7
Há leve melhora na Balança comercial...Mas juros
externos sobem ainda mais, país perde reservas...

Exemplos de “Desespero” para fechar as contas


externas:
-Objetivo Macro traz irracionalidade Micro...Por
exemplo, Estatais, precarizadas, inventam projetos
para justificar empréstimos em dólar de todo jeito...
- Empréstimo-ponte de curtíssimo prazo para ir
rolando dívida!

Já no ano de 1982, há tímida recuperação econômica,


país cresce 0,8%. As próprias eleições para
governador depois de muito tempo, suscitam
expansão fiscal no país explica em parte essa tímida
recuperação.

TODAVIA: em 1982 outra “trombada” externa:


moratória do México!

Ate aqui crédito voluntário...depois não mais!

País à beira da moratória!

Aì apela para o Fundo Monetário Internacional(FMI)!!


8
e) 1983: Recessão com FMI

Acordo com FMI: tido como única forma de voltar a


rolar a dívida.

FUNDAMENTAL NO CASO: Inversão na negociação


do acordo: Bancos mais FMI primeiro decidem o
que emprestar...aí país “se vira” depois para
conseguir a todo custo Superávit em transações
correntes.!

Agora, mais do que nunca, necessidade de (X-M)


positivo e alto governa toda a política!

Assim: Outra Maxidesvalorização do câmbio em 30%


e pesados incentivos fiscais para exportação, há uma
política brutal de contenção da demanda interna em
prol dos “excedentes exportáveis”.

Trata-se de “empurrar” a economia toda para


exportar mais!

Ademais, política fiscal restritiva era exigência do FMI


dada dívida pública externa muito alta.
9
Ao mesmo tempo, uma política salarial que expurgou
correção dos salários(INPC) como forma de aumentar
rentabilidade das empresas exportadoras

Resultados: há sim megasuperavit comercial em


1983,país parece tirar “corda do pescoço” ao menos
no curto prazo. Como também consegue-se, no curto
prazo, reduzir déficit público.

Por outro lado, estoque da dívida externa aumenta


dada a desvalorização cambial feita pelo próprio
governo!

Além disso, inflação se acelera para cerca de 200%


em 1983!

E efeito geral sobre atividade econômica é


devastador: PIB cai 2,8% em 1983, PIB per capital cai
10% entre 1981-1983, Produção de bens de K cai 55%
em relação a 1980...

10
- Renda se concentra com aceleração da
inflação...Efeito efetivo dessa aceleração é transferir
renda do salário para lucro empresarial.

Ou seja, o Brasil em poucos anos passa do sonho do


“Brasil-potência” para maior crise econômica até
então de sua história!

f)1984: fim da ditadura e transição para Nova


República

Econômicamente é um ano de recuperação:


crescimento econômico de mais de 5% e novo
megasuperávit da balança comercial(situação
mundial melhora também, o que explica em
parte bom resultado das nossas exportações)

- Para Barros de Castro e outros, bons resultados


teria a ver também com efeitos estruturais ainda
do II PND

- Politicamente, todavia, desgaste do regime:


movimento diretas já, fricções grandes entre
elites e governo. Daí o grande acordo em torno

11
de Tancredo Neves no colégio Eleitoral(PMDB+
racha da antiga Arena – o PFL)

- Ademais: Inflação persiste alta(235%) e com


sua alta, como já mencionamos, a questão da
perda de poder de compra dos salários é questão
central.

- De forma geral, tais questões econômicas e a


insatisfação social reprimida profunda dos anos
de ditadura serão levadas para contexto da
redemocratização a partir de 1985!

12

Você também pode gostar